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CINEMÁTICA E DINÂMICA DA PARTÍCULA Luciana Maria Margoti Aplicações das leis de Newton Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar a aplicação das leis de Newton. � Aplicar as três leis de Newton para a solução de problemas que en- volvam força, massa e aceleração. � Construir desenhos e croquis que possibilitem a análise, o cálculo e a resolução de situações que envolvam as três leis de Newton. Introdução Neste capítulo, você vai aprender sobre as leis de Newton e a sua aplicação na compreensão de eventos do cotidiano. As três leis de Newton estão in- seridas na área da física denominada mecânica, ou mecânica newtoniana. Elas compreendem o estudo das forças existentes nos movimentos dos corpos. A relação entre todas as forças envolvidas em um determinado corpo determina seu estado de repouso ou movimento. Com o estudo e a compreensão das leis de Newton, torna-se possível compreender mais a fundo os eventos relacionados a movimento do nosso dia a dia. 1 Conceito Para iniciar o estudo das leis de Newton, deve-se partir do entendimento da grandeza força. O esforço que fazemos para puxar ou empurrar algum objeto é a força. É aquela grandeza capaz de causar uma aceleração no corpo que a recebe. A força é uma grandeza vetorial, pois tem módulo e orientação. Sendo, então, uma grandeza vetorial, sempre será necessário indicar seu módulo, sua direção e seu sentido, para que haja a correta interpretação da ação dela sobre o corpo. A força é medida em quilograma-força [kgf], convencionalmente. Porém, no Sistema Internacional de Unidades (SI), a unidade de força é o newton [N]. A rela- ção que descreve a unidade quilograma-força com a unidade newton é a seguinte: 1 kgf = 9,8 N Ou seja, 1 N equivale a, aproximadamente, 0,10 kgf. Uma ou mais forças podem atuar sobre corpos em repouso ou em movi- mento. Dessa forma, quando mais de uma força atua sobre o mesmo corpo, é necessário determinar a força resultante, ou força total, que incide sobre ele. Essa força total será a soma vetorial de todas as forças que atuam no corpo. Esse é o princípio da superposição para forças. No estudo do movimento, outro aspecto a ser entendido é a inércia, presente em todos os corpos, em repouso ou em movimento. Para que haja mudança na aceleração de um corpo, a força aplicada sobre ele precisa vencer sua inércia. Trata-se da primeira lei de Newton. Sem a atuação de uma força sobre um corpo em movimento, por exemplo, sua inércia faz com que ele continue se movimentando em linha reta. Caso outra força seja capaz de sobrepor a inércia do corpo, ela pode acelerá-lo, aumentando sua velocidade, pará-lo ou, até mesmo, mudar sua direção. Na Figura 1, a força exercida pelo martelo sobre o prego precisa ser maior do que a inércia do prego, para que este seja introduzido na madeira (desprezando-se o atrito envolvido inicialmente). Figura 1. O martelo exerce força sobre o prego, para vencer a inércia do prego e fixá-lo na madeira. Fonte: Adaptada de Fouad A. Saad/Shutterstock.com. Aplicações das leis de Newton2 Quando pensamos em corpos em movimento, além da força e da inércia, é necessário considerar outra grandeza vetorial: o atrito. Normalmente, quando duas superfícies se encontram, uma oferece atrito à outra, principalmente por pequenas irregularidades presentes nas superfícies de contato. O atrito pode ser uma força que dificulta o movimento do corpo, fazendo com que a força aplicada sobre o corpo, para colocá-lo em movimento, precise vencer sua inércia e o atrito. Caso um corpo se movimente sem atrito, ele permanecerá em movimento. O atrito estático é uma força variável; ele sempre vai realizar uma força contrária e de mesmo módulo que aquela que tende a colocar o corpo em movimento, mantendo o corpo em repouso. Quando a força aplicada sobre o corpo para colocá-lo em movimento consegue superar a força de atrito está- tico, o corpo começa a se movimentar. Um corpo caindo no ar está sujeito à resistência do ar, que é o atrito que o meio impele ao corpo (HEWITT, 2009). Embora o atrito possa parecer uma força prejudicial, graças ao atrito, quando corremos ou andamos, somos empurrados para a frente. Caso o atrito não existisse, ficaríamos no mesmo lugar, como se estivéssemos patinando. De acordo com a segunda lei de Newton, a força resultante que age sobre um corpo é igual ao produto de sua massa pela sua aceleração (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2016). Com base nela, é possível definir a força gravita- cional (Fg), que é uma força de atração que um corpo exerce sobre outro corpo. Como exemplo, se pensarmos em um paraquedista (Figura 2) sendo atraído pela gravidade da terra (g) — que será a sua aceleração —, considerando-se sua massa (m) e desprezando-se os efeitos do ar, podemos descrever a força gravitacional como sendo: Fg = mg O peso de um corpo também pode ser descrito com o auxílio da segunda lei de Newton, uma vez que o peso (P) é igual ao módulo da força gravitacional (Fg) que age sobre ele (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2012). P = Fg ou: P = mg 3Aplicações das leis de Newton Figura 2. Paraquedista em queda livre, quando se despreza o efeito do ar. Fonte: Adaptada de Vecton/Shutterstock.com. Já a terceira lei de Newton indica que, quando dois corpos interagem, um exerce sobre o outro uma força de igual módulo e sentido oposto. Podemos pensar nessa lei como forças de ação e reação, como quando um carro se choca com outro. Em módulo, a força de ação que o carro a (Fa) exerce sobre o carro b é igual à força de reação que o carro b (Fb) exerce sobre o carro a: Fa = Fb Vetorialmente, essas forças são contrárias: Aplicações das leis de Newton4 Isaac Newton (1642-1727) foi um físico inglês que publicou, em 1686, sua obra intitulada Princípios matemáticos da filosofia natural, em que apresentou suas três leis. As leis de Newton foram desenvolvidas a partir de suas observações e de estudos sobre as descobertas de outros cientistas, como Galileu e Kepler (HEWITT, 2015). As leis de Newton se aplicam a quase todas as situações que envolvem movimento de corpos. Caso as velocidades dos corpos em análise sejam extremamente altas, aproximando-se da velocidade da luz, as leis de Newton devem ser substituídas pela teoria da relatividade de Einstein. 2 Problemas com as leis de Newton Quando um paraquedista salta no ar, além da força gravitacional (que o puxa para baixo), há a resistência do ar. Porém, como a força gravitacional está diretamente relacionada à massa do corpo, como você verificou na seção anterior, um paraquedista mais pesado, que tenha maior massa corporal (Figura 3), descerá mais rapidamente. Isso porque a força gravitacional do paraquedista mais pesado será maior do que a força gravitacional que atua no paraquedista mais leve. A força resultante em cada um será a diferença entre a força gravitacional e a resistência do ar, fazendo com que o paraquedista de maior massa tenha maior aceleração. 5Aplicações das leis de Newton Figura 3. Forças atuantes em dois paraquedistas com massas corporais diferentes. Fonte: Hewitt (2015, p. 77). Suponha que a massa do paraquedista mais pesado seja 1,5 vezes a massa do paraquedista mais leve. A resistência do ar será representada por R. Como força é igual à massa multiplicada pela aceleração (gravidade), no paraquedista mais leve, teremos: Fg = mg Já para o paraquedista mais pesado, teremos: Fg = (1,5m)g O que explica que a força gravitacional será maior no paraquedista mais pesado. Aplicações das leis de Newton6 Quanto às interações entre forças de ação e reação, diversos são os exemplos que podem ilustrar um pouco melhor a terceira lei de Newton. Nela, considera- -se que, sempre que um corpo exerce força sobre determinada superfície ou outro objeto, o primeiro corpo recebe uma força de reação de mesmo módulo e de sentido oposto. Assim, na Figura 4, você pode observar exemplos cotidianos da terceiralei de Newton. Figura 4. Forças de ação e reação. Fonte: Hewitt (2009, p. 80). Para entender melhor o que é a inércia, você pode fazer um experimento simples em sua casa. Pegue um copo, um pedaço de papel mais firme, que seja maior do que a boca do copo, e uma moeda. Coloque o copo com a boca virada para cima e o papel sobre ele. Sobre o papel, no centro, coloque a moeda. Tente retirar o papel, em um movimento horizontal, de cima da boca do copo. Você vai perceber que, ao aplicar uma força no papel, a moeda não será movida com a mesma velocidade. Isso pode ser explicado pela inércia da moeda, que não recebeu nenhuma força sobre ela, e, assim, o movimento do papel não será capaz de causar igual movimento nela. 7Aplicações das leis de Newton Alguns vetores de força podem não ser visualmente percebidos, mas não podem deixar de ser considerados no momento da resolução de proble- mas. Na próxima seção, você vai verificar como estabelecer, vetorialmente, as forças atuantes em um corpo e determinar os vetores de forças resultantes nos movimentos. 3 Solução para problemas envolvendo as leis de Newton Como a força é uma grandeza vetorial, e diferentes forças podem atuar simul- taneamente sobre um corpo, é necessário pensar em como determinar a força resultante sobre um corpo, a fim de descrever o sentido de seu movimento. Observe a Figura 5, que mostra como se pode determinar a força resultante a partir de duas forças atuando sobre um corpo. Figura 5. Forças resultantes sobre um objeto. Fonte: Hewitt (2015, p. 28). Conhecendo-se a necessidade de operar vetorialmente com as forças apli- cadas sobre um corpo, vamos agora verificar como podem ser construídos diagramas para facilitar a resolução de problemas com a aplicação das três leis de Newton. Por exemplo, quando uma pessoa empurra um caixote sobre o chão, conforme mostra a Figura 6, as forças presentes nessa situação podem ser descritas tanto para o homem quanto para o caixote (KNIGHT, 2009). Aplicações das leis de Newton8 Figura 6. Pessoa empurrando um caixote. Fonte: Knight (2009, p. 186). Primeiramente, vamos traçar um diagrama com as forças que atuam no ho- mem. O homem (H) será representado por um círculo, e nele serão desenhados os vetores das forças atuantes (Figura 7). Inicialmente, a força gravitacional (Fg) está presente, devido à massa do corpo. O atrito causado pelo movimento do pé do homem sobre o chão (que empurra a superfície para trás) fará uma força no elemento homem para a frente (direita) toda vez que ele der um novo passo (Fa). Uma vez que a massa do homem exerce força sobre a terra, a terra oferece uma reação a essa força (Fr). E, por fim, ao empurrar o caixote, o caixote oferece também uma força de reação sobre o homem (Fc). Figura 7. Forças presentes sobre o homem. 9Aplicações das leis de Newton A força total, ou resultante, que atua sobre o elemento homem será descrita pela soma vetorial de todas as forças envolvidas: Para o caixote (C), as forças atuantes estão representadas na Figura 8. Observe que a massa do caixote dará origem a uma força gravitacional (Fg) e, consequentemente, haverá uma força de reação da terra sobre o caixote (Fr). O homem faz força, empurrando o caixote para a direita (Fh), e o atrito se opõe ao movimento do caixote (Fa). Figura 8. Forças presentes sobre o caixote. A resultante, ou força total, das forças que atuam no caixote será descrita pela soma vetorial: Conseguir observar o cenário em que ocorre o movimento e desenhar a atuação das forças, com as orientações e os módulos adequados, garante que você tenha êxito no cálculo da força resultante sobre um corpo. Acompanhe o exemplo a seguir e aprenda mais sobre o tema. Aplicações das leis de Newton10 Descreva as forças atuantes em um corpo parado em um plano inclinado, de acordo com a figura a seguir, e determine a relação da força resultante sobre o bloco. θ Fonte: Adaptada de Richard L. Bowman/Shutterstock.com. A massa do bloco ocasiona o aparecimento da força gravitacional (Fg), que, conse- quentemente, gera a reação da terra sobre o bloco (Fr), perpendicular ao plano em que o bloco está apoiado. Pelo atrito causado no contato das duas superfícies, a força de atrito (Fa) se opõe ao movimento do caixote para baixo. Assim, A força resultante será determinada pela soma vetorial: Ou, em termos dos módulos dessas forças para a componente x: Para a componente y, O vetor resultante será a soma das duas forças anteriores: 11Aplicações das leis de Newton BAUER, W.; WESTFALL, G. D.; DIAS, H. Física para universitários: eletricidade e magnetismo. Porto Alegre: AMGH, 2012. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: mecânica. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016. 1 v. HEWITT, P. G. Física conceitual. 12. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. HEWITT, P. G. Fundamentos de física conceitual. Porto Alegre: Bookman, 2009. KNIGHT, R. Física 3: uma abordagem estratégica. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. 3 v. Aplicações das leis de Newton12