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Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo Apresentação Em uma sociedade cada vez mais complexa e desafiadora, tem-se a capacidade de constantemente aprender, perceber situações novas, pensar e tomar decisões que exigem muito mais dos processos mentais, podendo gerar experiências com significados negativos e positivos. No entanto, por vezes, há um foco naquilo que é negativo, havendo resistência e/ou dificuldade para dimensionar o que pode ser positivo no sentido de ressignificarmos a nossa existência. Nesse caminho, no âmbito da psicologia enquanto ciência do comportamento e dos processos mentais humanos e enquanto profissão que engloba a aplicação de diferentes conhecimentos científicos, traduzidos em técnicas e abordagens de intervenção, o psicólogo pode diagnosticar, conceitualizar, acolher e contribuir para o desenvolvimento de estratégias que respondam a essas e a outras questões do indivíduo, na medida em que seu ciclo vital se desenrola. Em que pese a multiplicidade de abordagens e técnicas para o campo de atuação do profissional psicólogo, é importante destacar as contribuições da terapia cognitivo-comportamental para diferentes contextos. A prática de intervenções cognitivas e comportamentais sobre transtornos emocionais, que se inicia com Aaron Beck, na década de 1960, por meio de estudos sobre o processamento desajustado de informações (cognição) em quadros de ansiedade e depressão, contribui muito para o trabalho do psicólogo. Com base nessas pesquisas, Beck propõe uma terapia cognitiva orientada para alterar essas cognições desestruturadas, diminuindo a intensidade de seus sintomas, buscando estabelecer relações entre cognição e comportamento. Assim, o foco se volta para essas atividades cognitivas que geram emoções e respostas psicológicas disfuncionais, e a terapia auxilia no reconhecimento desses esquemas como influenciadores de autoestima e do próprio comportamento por meio, por exemplo, do estabelecimento de uma relação terapêutica colaborativa. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer de que forma a atuação do profissional de psicologia pode contribuir para reestruturar cognitivamente essas experiências, em vários contextos vivenciais, por meio de abordagens ou técnicas que fazem examinar os pensamentos de modo mais realista e adequado às aspirações de cada indivíduo. Também vai saber como se desenvolve hoje, no Brasil, a pesquisa nessa área. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer boas práticas para atuação no campo da terapia cognitivo-comportamental.• Descrever diferentes contextos de atuação profissional para o psicólogo que usa a abordagem cognitivo-comportamental. • Mapear a pesquisa científica em terapia cognitivo-comportamental. • Desafio Dores psicológicas afetam cada vez mais as pessoas, e a falta de informação sobre tais dores, de modo geral, faz com que não tenham, por vezes, um tratamento capaz de romper com o conformismo, especialmente quando não recorrem à ajuda profissional adequada. Dentre as múltiplas disfuncionalidades e transtornos, em termos teóricos, a fobia social, ou transtorno de ansiedade social (TAS), pode ser compreendida como o medo excessivo e persistente, reconhecido como irracional, de situações sociais ou de desempenho (falar ou comer em público) nas quais o indivíduo é submetido a pessoas (estranhas ou não) ou ao seu provável julgamento. Os psicólogos em atuação clínica e com formação em terapia cognitivo-comportamental podem desenvolver diferentes planejamentos terapêuticos para indivíduos com esse tipo de acometimento, contemplando avaliação, psicoeducação, identificação de pensamentos disfuncionais, reestruturação cognitiva, exposição gradual, treinamento de habilidades sociais, prevenção e manutenção do progresso. A TCC trabalha diretiva e colaborativamente na reestruturação cognitiva que, antes da intervenção, causou algum tipo de sofrimento psicológico no indivíduo. Pensamentos automáticos e/ou crenças distorcidas impedem esse indivíduo de ser protagonista em sua vida, identificando e buscando o seu bem-estar, ou seja, geram comportamentos disfuncionais. Por isso, esse ciclo pensamento- emoção-comportamento precisa ser reconstruído quando, fundado em sofrimento, impede o indivíduo de desenvolver até as suas habilidades sociais. Analise o caso descrito a seguir: Você é o terapeuta de Fernanda e busca ressignificar os padrões de pensamento da paciente nessa situação específica de falar em público (queixa). Sabendo que, nesse processo, o comportamento confirma o pensamento, como faria isso por meio do mesmo esquema? Infográfico Várias abordagens, em psicologia, podem auxiliar a trabalhar com um único problema. As terapias comportamentais, como modos de intervenção, operam com modelos empíricos e mediações fundadas em evidências. Suas influências, concordâncias e divergências são fundamentais na escolha, pelo profissional, da modalidade de tratamento indicada para problemas específicos. Neste Infográfico, você identificará essas semelhanças e diferenças e verá como elas influenciam na definição do tratamento. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/7372eb67-2f19-4d74-9707-c41379188159/3cafb7dc-699c-4e6d-a0fa-de49ffce0445.jpg Conteúdo do livro Desde o seu surgimento, entre as décadas de 1960 e 1970, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) vem se desenvolvendo de forma constante e crescente no Brasil e no mundo, tanto na pesquisa científica quanto na prática profissional. Ela se constitui em uma base robusta para atuação, com procedimentos e técnicas de diagnóstico e de intervenção com embasamento em evidências e que geram resultados importantes para indivíduos com dificuldades em suas vivências em diferentes contextos. A TCC é um modelo de psicoterapia com base na premissa geral de que a forma como o indivíduo organiza as suas experiências influencia no modo como ele sente e vai se comportar. Dessa forma, parte da concepção de que cognições influenciam emoções e comportamentos, gerando muitos dos problemas emocionais, como depressão, transtornos alimentares, de sono, de ansiedade, para citar alguns. Esses problemas também são oriundos dos contextos vivenciais dos pacientes que a ela recorrem (além de fatores genéticos, biológicos, por exemplo), aprisionados aos seus sofrimentos emocionais. O repertório da TCC, dessa forma, pode tanto orientar práticas clínicas em diferentes contextos de atuação para o profissional psicólogo, como hospitais, escolas, empresas e clínicas de saúde mental, quanto ser elicitado como objeto de diferentes pesquisas científicas. No capítulo Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai identificar, na reconhecida eficácia da TCC, a importância da relação empírico-colaborativa entre psicoterapeuta e cliente no processo terapêutico, os vários contextos em que ela é utilizada para solução de diferentes transtornos psicológicos e como as pesquisas em TCC desafiam o estudo do comportamento humano, ampliando e criando estratégias de tratamento. Boa leitura. TERAPIA COGNITIVO- -COMPORTAMENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer boas práticas para atuação no campo da terapia cognitivo- -comportamental. > Descrever diferentes contextos de atuação profissional para o psicólogo que usa a abordagem cognitivo-comportamental. > Mapear a pesquisa científica em terapia cognitivo-comportamental. Introdução Desde que foi introduzida por Aaron Beck, na década de 1960, a terapia cognitivo- -comportamental (TCC) passou a ser amplamente utilizada como abordagem eficaz para reestruturação cognitiva, atualização comportamental e resolução de problemas, por exemplo. Pode, portanto, ser utilizada em diferentes contextos, bem como mobilizar competênciasprofissionais específicas. Na prática, quando se considera o contexto da atuação clínica, emerge uma série de questões que, às vezes, transcendem a direta relação terapêutica, como encaminhamentos, supervisão e relação com outros profissionais. Em uníssono, é importante considerar que o campo de atuação do psicólogo é cada vez mais abrangente, contemplando clínicas de saúde mental, hospitais, escolas, univer- sidades, empresas, sistema prisional, centros de atenção psicossocial (CAPS) e postos de saúde, pesquisa acadêmica, etc. Terapia cognitivo- -comportamental e atuação do psicólogo Alice Nogueira de Moura Neste capítulo, você vai ler sobre boas práticas profissionais para atuação no campo da TCC. Especificamente, você verá a amplitude de sua aplicação em diferentes ambientes e finalidades, bem como a evolução das pesquisas científicas na área. Terapia cognitivo-comportamental em prática Na prática, a atuação do psicólogo que utiliza a terapia cognitivo-comporta- mental (TCC) vai muito além da relação direta com o cliente. Entre a escolha por essa abordagem, a especialização e o encontro com o cliente, com estabe- lecimento de vínculo, o campo de trabalho do profissional psicólogo abrange uma série de questões, ações e decisões que devem estar alinhadas tanto com os princípios éticos que orientam a atuação do profissional em saúde mental quanto com as questões específicas da TCC. Nesta seção, você lerá sobre a TCC na prática clínica do psicólogo, como relação terapêutica, bem como sobre as competências sociais e técnicas necessárias a encaminhamentos, acordos sobre pagamento das sessões, relações com outros profissionais de saúde mental no mercado, treinamento e supervisão. Nas últimas décadas, em função de sua base em evidências e de seus elevados índices de validação científica, a TCC tem se destacado por sua eficácia no tratamento de variados transtornos emocionais (RANGÉ; PAVAN- -CÂNDIDO; NEUFELD, 2017). Porém a literatura vem registrando um hiato entre as pesquisas empíricas testadas e a prática clínica atual, o que ressalta a questão de sua aplicabilidade. Em função disso, surge a preocupação sobre o processo de formação e treinamento de terapeutas como forma de assegurar requisitos para o avanço das devidas competências profissionais, ainda que ela seja embrionária em nível nacional e latino-americano (SCOTTON; BARLETTA; NEUFELD, 2021). Com relação à competência geral, um conceito bastante utilizado é a com- binação de conhecimentos, habilidades e atitudes (CHAs), que se manifestam por meio do desempenho profissional e podem ser aprendidos. Essa associa- ção (CHAs) consiste, respectivamente (SCOTTON; BARLETTA; NEUFELD, 2021): � no entendimento dos princípios teóricos e seus objetivos (saber por que fazer); � na capacidade de utilizar produtivamente o conhecimento (saber como fazer); Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo2 � nos aspectos sociais e afetivos referentes ao nível de aceitação e rejeição do indivíduo em relação aos outros (querer fazer). Já com relação à competência clínica, Barreto e Barletta (2010) afirmam que as competências teórica, técnica, interpessoal e ética são os componentes basilares da formação de um bom psicoterapeuta. Ainda segundo os autores, também a maturidade emocional do terapeuta é um elemento fundamental no desenvolvimento de habilidades terapêuticas para que sua ansiedade, por exemplo, não prejudique a eficácia do tratamento, uma vez que seus pensamentos e sentimentos não podem se tornar obstáculos nesse processo (BARLETTA; FONSECA; DELABRIDA, 2012). Alguns estudos identificam duas clas- ses de competências, técnicas e interpessoais, enquanto outros distinguem competências gerais (as que todo terapeuta deve ter, independentemente da abordagem) de competências específicas (resultantes da prática de cada abordagem teórica) (KAPLOWITZ; SAFRAN; MURAN, 2011). Na prática clínica, a questão do encaminhamento de clientes entre psi- cólogos está associada à competência profissional. Dobson e Dobson (2010, p. 215) explicam que, para “obter e aceitar encaminhamentos, é preciso ter em mente o ambiente em que você trabalha, o treinamento que recebeu, a clientela e os tipos de problemas com que você lida com competência”. Como avaliar, contudo, os limites para a mobilização da competência profissional? É possível que o psicólogo estabeleça fronteiras para seu trabalho limitando-o a: � uma faixa etária específica, como crianças, adolescentes, adultos ou idosos; � uma modalidade, presencial e/ou on-line; � problemas específicos, como transtornos alimentares, casais ou de- pendência química, por exemplo. Essa clareza é importante para que o profissional não aceite encaminha- mentos ou receba clientes cujo tratamento demande uma formação diferente e/ou supervisão específica. Para o psicólogo que deseja fazer atender on-line, é obrigatório o cadastro no e-Psi, por meio do site do Conselho Federal de Psicologia (CFP). A partir de um cadastro simplificado, o profissional pode atuar utilizando algum tipo de tecnologia da informação e comunicação (TICs) para prestar serviços psicológicos (CFP, 2020). No site também é possível consultar a lista dos profissionais devidamente cadastrados no e-Psi. Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo 3 A supervisão ocorre quando o psicólogo formado ou em processo forma- tivo conta com a orientação de um professor, outro profissional com mais experiência clínica, ou mesmo de um grupo de profissionais para discutir seus casos, considerando as especificidades diagnósticas e terapêuticas com as quais ele pode se deparar. O supervisor também pode auxiliar seu supervisando em relação a questões emocionais individuais e à relação terapêutica, quando necessário. Um exemplo da relação de supervisão no processo formativo no âmbito da TCC seria a prática de supervisão em uma clínica-escola. Segundo Sousa e Padovani (2015, p. 463), “o aluno deve ser treinado para entender a relação entre as crenças, as emoções, os comporta- mentos, a fisiologia, o ambiente e os problemas apresentados pelo paciente, isto é, desenvolver a habilidade de fazer a conceitualização de pacientes”. Outra questão importante diz respeito à comunicação do profissional de saúde mental com seu mercado. Quando atua em clínica particular, após mapear suas competências e tomar decisões, é importante que o psicó- logo informe suas capacidades por meio de diferentes meios, como sites e cartões de visita, demarcando um nicho de atuação: potenciais clientes e colegas (ou instituições) que recebem ou emitem encaminhamentos. Esse tipo de avaliação contribui sobremaneira para a eficiência da clínica em TCC. Nas palavras de Dobson e Dobson (2010, p. 219), “construir uma boa terapia cognitivo-comportamental inclui desenvolver excelentes habilidades de comunicação e discutir claramente os serviços que você oferece e não oferece aos seus clientes”. A essa altura, cabe questionar: como aprender essas habilidades consi- deradas essenciais para o terapeuta clínico da TCC? Para diminuir as lacunas entre a pesquisa e a prática correntes, Barletta, Fonseca e Nobre-Sandoval (2018) ressaltam a relevância da análise sobre a prática terapêutica, além da exigência de sistematização da avaliação do ensino em TCC e da prática clínica. Conforme Dobson e Dobson (2010, p. 185): Tanto o cliente quanto o terapeuta trazem seus atributos e história para a sala da terapia, local em que conjuntamente tentam resolver problemas. Esse processo de resolução de problemas envolve o cliente e o terapeuta como indivíduos, questões de relacionamento e métodos de tratamento; todos são necessários, mas nenhum é suficiente. Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo4 Toda aliança terapêutica é fundamental para a prática terapêutica. Sem ela, não há como estabelecer as condições necessárias para aprender, executar e mobilizar as técnicas utilizadas em psicoterapia.Mais do que um acordo, é um vínculo por meio do qual são trabalhadas as demandas do paciente. Dobson e Dobson (2010) esclarecem que a TCC é um processo colaborativo, que compreende relacionamento e uma série de atividades ou intervenções que devem coexistir para se atingir o resultado clínico. Wright et al. (2019) chamam de empirismo colaborativo essa aliança terapêutica, muito específica da TCC, orientada para a modificação cognitiva e comportamental. Não é algo simples, porque cada cliente exige decisões clínicas peculiares para o caso. Essa colaboração participativa e ativa instiga o paciente a se tornar efetivo no processo terapêutico. Wright et al. (2019) também ressaltam que, se o vínculo terapêutico, em outros tipos de psicoterapia, tem confirmado o resultado do tratamento, na TCC também se observa que a peculiaridade da aliança terapêutica cognitivo- -comportamental tem influência direta e decisiva nos resultados exatamente pelo tipo empírico-colaborativo dessa aliança. Em suas palavras, “o terapeuta envolve o paciente em um processo altamente colaborativo no qual existe uma responsabilidade compartilhada pelo estabelecimento de metas e agendas, por dar e receber feedback e por colocar em prática os métodos de TCC na vida cotidiana” (WRIGHT et al., 2019, p. 33). Nesse contexto, a ação deve ser inerente ao terapeuta cognitivo-com- portamental. Ele precisa dela para “estruturar a terapia, dar compasso às sessões para aproveitar ao máximo o tempo disponível, desenvolver uma formulação de caso sempre em evolução e implementar os métodos de TCC” (WRIGHT et al., 2019, p. 34). Os registros de humor, queixa, revisão da sessão anterior e da semana, feedback, etc., também constituem uma agenda importante nas sessões estruturadas da TCC, pois, com o passar do tempo, o terapeuta estimula o paciente a participar delas ativamente, contribuindo para sua elaboração. Outra característica importante do terapeuta é a de orientador colabo- rativo, incentivando o paciente a se envolver integralmente no processo de aprendizagem, já que esse processo jamais é passivo, mas um trabalho conjunto, entre terapeuta e paciente, visando à aquisição de conhecimentos que serão postos em ação em situações reais (BECK, 2022). Se empatia, afeto e atenção são elementos fundamentais em qualquer processo terapêutico, na Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo 5 TCC favorecem o desenvolvimento da colaboração entre terapeuta e paciente, que é primordial, já que o exercício de se colocar no lugar do paciente facilita a identificação das dificuldades que ele possa enfrentar durante o tratamento (BECK, 2022). Isso, contudo, não deve impedir a objetividade necessária para identificar cognições e padrões de comportamentos disfuncionais. Na TCC, empatia não é apenas preocupação com o paciente, mas in- tensa busca de soluções para diminuir seu sofrimento e instrumentá- -lo para o enfrentamento de seus problemas vivenciais. Wenzel (2018, p. 14) chama a atenção para o grau de eficiência e efetividade de um tratamento. O grau de eficiência seria a aplicação de um tratamento de- corrente de resultados positivos sob circunstâncias promissoras e altamente controladas. Já o grau de efetividade seria a “aplicação de um tratamento [que] resulta em desfechos positivos em contextos da vida real, sob circunstâncias do mundo”. Em relação a pesquisas sobre esses dois graus de aplicação em TCC, a autora declara que “a TCC é generalizável para ambientes clínicos reais com terapeutas e clientes da vida real, o que, por meio de divulgação, aumentará a acessibilidade dessa abordagem psicoterapêutica para os indivíduos em busca de tratamento por todo o mundo” (WENZEL, 2018, p. 14). Assim, ainda que se reconheça a necessidade de métodos precisos e eficientes de avaliação da competência da TCC, esse progresso tem se mos- trado limitado por causa da ausência de consonância da área, em função da complexidade e das variadas dimensões inter-relacionadas para se estabelecer as competências do terapeuta (MUSE; MCMANUS, 2016). Outros aspectos são apontados por Scotton, Barletta e Neufeld (2021): � modelos e frameworks recentes de supervisão clínica em TCC; � concepções equivocadas sobre a função da supervisão clínica; � incentivo recente para a formação do supervisor clínico; � falta de estabelecimento de metas educativas em treinamento e su- pervisão clínica. Segundo as autoras, também se deve levar em consideração o contexto do qual a supervisão e o treinamento fazem parte, como questões instrucionais, público-alvo e questões culturais (SCOTTON; BARLETTA; NEUFELD, 2021). Os estudos sobre essas lacunas continuam. Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo6 Nesta seção, você viu que elementos não específicos e específicos com- põem a aliança de trabalho tão importante entre terapeuta e cliente em qualquer abordagem, mas principalmente na TCC. Também viu as competências heterogêneas que o profissional psicólogo precisa desenvolver e mobilizar em sua rotina profissional, como as de empreendedor (o que inclui publicidade) e de gestor de relações de trabalho, que transcendem a relação direta com seu cliente, no escopo da aliança terapêutica. A seguir, você lerá sobre os campos de atuação do terapeuta e como eles vêm se ampliando em função da eficácia e popularidade da TCC no enfren- tamento de diferentes problemas psicológicos. Profissionais que trabalham com a TCC têm explorado variados campos de trabalho, bem como coordenado pesquisas experimentais para apontar modelos de intervenção específicos. A atuação do terapeuta cognitivo- comportamental Desde o surgimento da TCC, novas gerações de terapeutas e pesquisadores coordenaram investigações básicas do modelo conceitual da psicopatologia e, em sua aplicação, deslocaram a TCC para além do indício de transtornos psiquiátricos. Nesta seção, você verá que o profissional de TCC, além de atuar em clínicas, também pode atuar em hospitais, escolas e organizações, bem como oferecer consultorias e treinamentos. Isso porque a aplicação da TCC pode se dar em qualquer tipo de interação humana. Inicialmente, é fundamental destacar que as principais abordagens te- rapêuticas elaboradas ao longo do tempo compreendiam os estudos do comportamento dos indivíduos e suas percepções, e que as várias TCCs comungam princípios, mas também compartilham diferenças importantes, parte delas decorrentes das distintas formações e bases teóricas de seus mentores (KNAPP; BECK, 2008; BECK, 2022). É de Wright et al. (2019, p. 34) a afirmação sempre atual de que “um estilo saudável de pensamento pode reduzir a angústia ou dar uma maior sensação de bem-estar”, pois esse é um tema comum entre muitas gerações e culturas. Essa afirmação confirma o que as TCCs têm em comum: a compreensão de que os sintomas e os com- portamentos inadaptados são mediados pela cognição. Por isso o tratamento precisa acontecer pela modificação de pensamentos e crenças inadequados. Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo 7 Em uma tarefa desenvolvida para crianças visando a identificar eventos estressores de curta e longa duração e a orientá-las na reestruturação cognitiva, pede-se que a criança liste seus problemas e depois identifique se esses problemas ocorrem/ocorrerão “por enquanto” ou “para sempre”. Posteriormente, ajuda-se a criança a compreender essas diferenças e a reagir emocionalmente de forma positiva, desenvolvendo suas habilidades sociais (GONÇALVES et al., 2021). Se a ênfase da TCC foi dada, primeiramente, ao tratamento da depressão, Wenzel (2018) ressalta que tanto a terapia cognitiva de Aaron Beck quanto a de Albert Ellis ampliaram seu tratamento para transtornos de ansiedade, raiva, abuso de substâncias, transtornos alimentares, transtornos da personalidade e comportamento suicida. Atualmente, a TCC também desenvolve tratamento au- xiliar para casos psiquiátricos graves, como transtorno bipolar e esquizofrenia.Wenzel (2018) também reforça a adaptação da TCC para o tratamento de pacientes que não necessariamente haviam sido diagnosticados com proble- mas de saúde mental, mas com outros problemas, como doenças médicas, dor crônica, obesidade e disfunção sexual. Ela também corrobora a adequação da TCC a todo tipo de sofrimento, emocional ou não, ou de adaptação, ou mesmo a abordagens de enfrentamento ineficientes. Steven Hayes, principal nome associado à terapia de aceitação e compro- misso (TAC), é apontado como o responsável por divulgar a ideia da evolução da TCC em três gerações, ou ondas, consecutivas. O Quadro 1 resume esse percurso, que vai se ampliando e diversificando (WENZEL, 2018). Quadro 1. Terapias comportamentais e cognitivas no tempo Primeira onda (1950) Foco no comportamento observável, não no pensamento. Mudanças de comportamento por meio de condicionamento clássico e aprendizagem operante. Segunda onda (1960) Foco nos componentes cognitivos. Modelo que reúne técnicas comportamentais e cognitivas. Mudança de comportamentos disfuncionais por meio de intervenção terapêutica. Terceira onda (1990) Foco além dos resultados, considerando o contexto e as funções dos fenômenos psicológicos. Fundamentada em abordagem empírica e princípios, com variados modelos de intervenção (foco nos princípios de aceitação, mindfulness e consciência plena, livre de julgamentos). Mudança de comportamento mais voltada, e ampliada, para os sofrimentos humanos. Fonte: Adaptado de Beck (2022) e Wenzel (2018). Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo8 Essa ampliação, principalmente representada pela chamada terceira onda, muda o foco do conteúdo para o processo por meio do qual o indivíduo vive. As transformações realizadas pelas fases anteriores não são rejeitadas, mas ampliadas e interconectadas (HAYES, 2004). Mais especificamente, essa terceira geração, ou onda, foi definida por Hayes da seguinte forma: [... ] enraizada numa abordagem empírica e focada em princípios, a 3ª onda de terapias cognitivo-comportamentais é particularmente sensível ao contexto e às funções dos fenômenos psicológicos, não somente nas suas formas, e assim tende a enfatizar estratégias de mudança contextuais e experienciais em adição às estratégias mais diretas e didáticas (HAYES, 2004, p. 658). Wenzel (2018), ao se referir a essa ampliação, ressalta que uma caracte- rística relevante que diferencia as TCCs da terceira geração daquelas mais tradicionais é a mudança de foco: do conteúdo para o funcionamento. A preocupação de muitos terapeutas que trabalham com psicoterapias contextu- ais volta-se mais para a mudança da relação da própria pessoa com a própria cognição pelo processo por meio do qual uma pessoa constrói e vive sua vida. Mas ela também destaca que especialistas da área divergem a respeito da dimensão da representatividade dessas abordagens como uma nova onda e sobre até que ponto devem ser integradas ao conjunto das TCCs, já que seriam muito diferentes. Contudo, não nega a grande influência que exercem inclusive em terapeutas cognitivo-comportamentais mais tradicionais. Assim, a TCC, hoje, é aplicada em vários contextos, seja no atendimento individual (como em casos de depressão, ansiedade, fobias, transtorno bipolar, etc.), seja em grupos, terapia de casais e familiar, e na educação, integrando-se a outras atividades, como terapia ocupacional e fisioterapia. Cada vez mais, portanto, adapta-se para o tratamento de todo tipo de sofrimento emocional e dificuldades de adaptação que os indivíduos possam ter, transcendendo o contexto de psicoterapia individual (BECK, 2022). Um exemplo que vai além da clínica individual ou grupal é a intervenção da TCC nas empresas. A visão fraturada de indivíduo, que atua como um cola- borador dentro da empresa e outro fora dela, há muito foi ultrapassada pelo reconhecimento da influência de pensamentos e emoções dos colaboradores em sua atividade laboral, ou seja, da relação entre o que pensavam e como se sentiam com o que realizavam no trabalho, sistemicamente. Por sua objetividade e diretividade, a TCC possibilita que o profissional de psicologia identifique as crenças presentes na empresa e utilize técnicas que aumentem o desempenho de todos os envolvidos. Essas técnicas identificam estímulos indutores de estresse, ansiedade ou pressão, avaliam emocional- Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo 9 mente os colaboradores, estimulam mudanças no estilo de vida, auxiliam no domínio de suas emoções e ajudam em treinamentos de solução de conflitos (BECK, 2022). Assim, a TCC em empresas aumenta a produtividade e o com- prometimento e diminui a rotatividade dos colaboradores, possibilitando a satisfação cognitiva no ambiente laboral. As vantagens da TCC em ambiente empresarial começam pela própria saúde do colaborador em saber identificar e buscar qualidade de vida e crescimento profissional. Em nível grupal, a TCC forma habilidades im- portantes para todos os que estruturam a empresa na obtenção de resultados, estabelecendo relações de maneira positiva, de modo que os colaboradores identifiquem suas emoções e reações, para um ambiente organizacional mais saudável (BECK, 2022). Outro contexto de intervenção é o ambiente hospitalar, que, por suas demandas (como trabalho multidisciplinar efetivo, comunicação clara, objetiva e assertiva com as equipes de trabalho, foco na resolução de problemas, etc.), exige uma abordagem ativa, diretiva, breve, de autogestão e capaz de esta- belecer relações de colaboração entre pacientes e equipe de saúde (ALMEIDA; MALAGRIS, 2015). Um paciente, por exemplo, pode identificar soluções alter- nativas para enfrentar a enfermidade com a ajuda da TCC pelo atendimento tanto individual quanto em grupo, uma vez adaptado às especificidades da instituição e dos pacientes. Além do mais, a família também pode e deve ser amparada nesse processo, compreendendo a importância do tratamento e estabelecendo uma relação mais positiva com o cenário hospitalar. Por fim, no contexto escolar, a TCC pode trabalhar, por exemplo, com (ALVES, 2018): � as crenças do educador sobre seu papel e desempenho no processo educacional; � crianças ou adolescentes vítimas de violência, ressignificando suas percepções sobre situações afetivas e comportamentais; � a preparação dos alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou vestibular, diminuindo a ansiedade e o estresse decorrentes desses eventos; � a interdisciplinaridade, contribuindo, com outras áreas e ciências, para o diálogo sobre a aprendizagem. Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo10 O campo da TCC também se volta para aspectos sensíveis à cultura dos indivíduos, adaptando cada vez mais as estratégias de inter- venção a fatores ambientais externos, como problemas e tensões a serem enfrentados e ressignificados (p. ex.: racismo) (BECK, 2022). Nesta seção, você viu o quanto a aplicação da TCC se expandiu do trata- mento da depressão e de casos psiquiátricos mais graves para todo e qualquer sofrimento humano, emocional ou não, o que, por consequência, cada vez mais amplia sua área de atuação para qualquer tipo de interação humana, em diferentes contextos. A seguir, você verá que seu controle metodológico e sua eficácia como intervenção terapêutica impulsionam novos estudos e pesquisas. Pesquisa científica na terapia cognitivo- comportamental A TCC, ao longo do tempo, tem construído, desenvolvido e conservado um programa de pesquisas de largo alcance e com diferentes intervenções. O que você vai ver a seguir é o interesse crescente no modelo cognitivo de intervenção motivado pelo grande número de resultados de pesquisa com evidências de eficácia desse modelo de tratamento psicoterápico. Assim como a abordagem cognitiva de Aaron Beck representou um marco na virada teórica na compreensão e no tratamento de transtornos emocionais, o cons- tante progresso na pesquisa e na práticadas TCCs contribui para avanços contínuos (BECK, 2022). As TCCs têm se tornado um segmento das práticas psicológicas no Brasil, mas o contexto que fomentou condições para seu advento e desenvolvi- mento foi diferente no país. O Brasil acompanhou as tendências mundiais de insatisfação com os modelos psicanalítico e comportamental, direcionando os interesses teóricos e clínicos para a aplicabilidade da teoria cognitiva na psicologia clínica. Por consequência, desenvolveu-se uma variedade de modelos e técnicas cognitivo-comportamentais, cujo crescimento e propa- gação podem ser observados no cenário mundial (DOBSON; SCHERRER, 2004; KNAPP et al., 2004). A prática e a pesquisa da TCC no Brasil, de acordo com Rangé et al. (2011), assim como a difusão da teoria e de suas técnicas, começaram logo com as primeiras proposições do americano Aaron Beck e seus colaboradores, nos Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo 11 anos 1960, muito em função da tradução de literatura especializada, por meio de livros ou produções textuais de congressos. Já com uma produção científica substancial, os terapeutas brasileiros começaram a participar significativa- mente do Congresso Mundial de Terapias Cognitivas e Comportamentais, e a formação, em 1998, da Sociedade Brasileira de Terapias Cognitivas (SBTC), hoje Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC), impulsionou as pesquisas e contribuiu para o crescimento das TCCs no Brasil. Rangé et al. (2020, p. 9) também esclarecem que: A efetividade da TCC é apoiada pelo The National Institute of Health Care and Excelence (NICE), que é o sistema britânico de orientação da população no que diz respeito a tratamentos efetivos; pelo National Institute of Mental Health (NIMH), dos EUA; pelo Institut National de La Santé et de La Recherche Médicale, da França, e por muitos outros centros de pesquisa clínica do mundo. Rangé et al. (2011) ainda assinalam três aspectos que contribuíram para consolidar e difundir a TCC no país: � a confiabilidade nos resultados da pesquisa clínica; � a publicação da produção científica em revistas especializadas; � a popularidade alcançada na mídia com a comunicação, para os leigos, de seus princípios. Também é de Rangé et al. (2011) a afirmação de que tratamentos com base na aplicação de métodos e descobertas científicas na prática clínica rotineira fazem da pesquisa clínica um elemento primordial na tomada de decisões clínicas. Com o surgimento da TCC no Brasil no fim dos anos 1960, em uníssono ao questionamento sobre a efetividade dos modelos psicodinâmicos, abre- -se um olhar importante para a investigação dos elementos cognitivos do comportamento humano. Por consequência, tem início a integração entre os modelos cognitivo e comportamental a partir dos anos de 1970, mas só entre o fim da década de 1980 e o início da década de 1990 é que, como movimento, esses dois modelos se integram com estudos sobre a ansiedade. No mesmo período, cresce a popularidade das terapias cognitivas no país. Foram pre- dominantes as vertentes construtivista e cognitivo-comportamental em São Paulo, e de reestruturação cognitiva e cognitivo-comportamental no Rio de Janeiro (RANGÉ et al., 2011). Os estudos iniciais de Aaron Beck fecundaram o campo para a realização de diferentes pesquisas e publicações. Até hoje, isso representa a qualidade Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo12 do pensamento e da prática psicoterápica, muito em função da validação de sua eficácia, que a reveste de importância e confiabilidade. Além disso, seu modelo é realizável e reproduzível para várias categorias de profissionais (como educadores, empresários e terapeutas ocupacionais), principalmente para aqueles que precisam se adaptar a contextos e necessidades. A varie- dade de técnicas (como psicoeducação, registro de pensamentos disfuncio- nais, enfrentamento do estresse, habilidades sociais, etc.) tanto individuais quanto grupais, trabalhando com habilidades de relacionamento, redução de estresse, resolução de problemas, ajustamento social, etc., corrobora isso e possibilita um controle maior sobre as situações-problema (CORDIOLI; TECHE; GOMES, 2019). Outro aspecto importante está relacionado a um campo de estudo con- temporâneo e em rápida expansão, que é a aplicação da TCC pela internet (TCCi) (ANDERSSON et al., 2014). Wenzel (2018, p. 12) esclarece que: A TCCi inclui o conteúdo tradicional, como psicoeducação; “lições” em aumento sequencialmente progressivo para ajudar os clientes a adquirir a habilidade de modificar pensamentos, emoções e comportamentos que não ajudam; e tarefas de casa para consolidar a aprendizagem e permitir a prática do que foi aprendido. Os programas TCCi geralmente são regulares para reproduzir o ritmo de desenvolvimento da TCC tradicional. Segundo Wenzel (2018), suporte e orientação ao terapeuta são viabilizados por e-mail, bate-papo, vídeo e/ou consultas telefônicas, com a intenção de facilitar o envolvimento e conter o abandono do tratamento. Entre as numerosas vantagens da TCCi, estão: � disponibilidade permanente de acesso; � sequência de características interativas atraentes; � fidelidade; � confiabilidade e validade da abordagem psicoterapêutica. Sua eficácia é bastante estudada e comprovada, sobretudo se comparada a nenhum tratamento ou ao tratamento tradicional, e em casos de depressão severa com ideação suicida contínua (WENZEL, 2018). As pesquisas sobre terapia comportamental continuam sendo um desafio para o estudo do comportamento humano, pois é uma área em que terapeuta e paciente trabalham em conjunto na aplicação dos princípios básicos do comportamento e na verificação de quaisquer mudanças originadas ou não desses princípios. Além desse desafio, há o de vencer a hegemonia de ou- tras abordagens no país, como a psicanalítica, por exemplo, e, na estrutura Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo 13 curricular dos cursos de psicologia, os modelos clássicos da área (NEUFELD; XAVIER; STOCKMANN, 2010). Wenzel (2018) destaca o constante desafio a ser enfrentado no que se refere a treinamento e a ensino e supervisão como competências em TCC. Sobre o treinamento, Barletta et al. (2023) apontam que há uma enorme necessidade de difundir e analisar estratégias para a eficiência de treinamentos e supervisão em psicoterapias embasadas em evidências, destacando dois obstáculos: � profissionais que querem trabalhar com essas terapias, que são con- vocados como treinadores e supervisores, mas que nunca tiveram treinamento em métodos educacionais baseado em evidências; � profissionais que reproduzem suas experiências de treinamento sem considerar estratégias e técnicas mais atualizadas. Assim, quando, a essa realidade, somam-se as necessidades de tecnologia e de competência cultural, há ausência de informações precisas sobre a evolução de programas de treinamento e supervisão mais efetivos. Segundo Barletta et al. (2023), a supervisão é a pedra fundamental do tratamento clínico e o elemento essencial para interpretar e compreender as habilidades práticas aprendidas em sala de aula e aplicar técnicas em simulações de atendimentos reais. Supervisores e supervisionados esta- belecem uma aliança de supervisão na qual se promove um engajamento emocional mais adequado, auxiliando a aprendizagem de se aproximar e proceder perante situações novas com curiosidade e pensamento crítico. Contudo, mesmo a TCC sendo farta em tradição de evidências empíricas, há escassez de produção científica sobre o efeito mediador e moderador na supervisão e no treinamento (BARLETTA et al., 2023). Estudos mais recentes apontam que a supervisão clínica é um fe- nômeno mais complexo do que se analisava inicialmente, havendo uma ausência de rigor conceitual e de evidência empírica que fundamente o tema. Um estudo de revisão foi realizado por Ellis (2010; ELLIS et al., 2014) desmascarando alguns mitos sobre a supervisãoe chamando atenção para a função e o propósito dos modelos de supervisão na formação profissional, o que também ajuda bastante os novos profissionais em TCC. Assim, ainda que haja discussões sobre a validade de determinados mo- delos, essas discussões e divergências só vêm enriquecendo o campo da prática e da pesquisa, porque o mantém em movimento para novas aplicações Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo14 e tecnologias, já que cada modelo tem as próprias indicações e restrições. Esse campo, no futuro, parece intentar a busca mais de aproximações do que divergências. Como aponta Rangé et al. (2020, p. 9), “talvez a orientação de práticas baseadas em evidências deva ser um norte de uma prática mais efetiva para o bem-estar da população”. Na abertura do Seminário da Federação Latino-Americana de Psicote- rapias Cognitivas e Comportamentais (Sialapcco) de 2021, a presidente da Federação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais (Alapcco), professora Dra. Carmem Beatriz Neufeld, apontou que os desafios comuns da psicologia latino-americana consistem (II SIALAPCCO 2021, 2022): � na atitude apenas receptiva dos profissionais frente ao conhecimento que vem do exterior; � na divulgação insuficiente da prática baseada em evidências; � no foco na intuição ou em inferências do terapeuta; � na ausência de investimentos regulares em capacitação e supervisão. Em contrapartida, suas expectativas para a psicologia incluem (II SIALAPCCO 2021, 2022): � tolerância entre os vários enfoques teóricos; � avanço da prática baseada em evidências e das intervenções fundadas em processos, orientadas por conceitos cognitivos e/ou análises funcionais, focadas no bem-estar das pessoas, não no gosto pessoal do terapeuta, prática baseada no social e cultural; � prática voltada para a democratização do conhecimento e de acesso à saúde, com o protagonismo das pessoas em suas vidas. Neste capítulo, você leu sobre a atuação do profissional em saúde mental no campo da TCC. Em detalhes, viu como a aliança terapêutica na TCC extra- pola os aspectos formais, que existem em qualquer psicoterapia, por meio de seu processo empírico-colaborativo. Você também viu como a prática profissional do psicólogo se expande para além da relação direta com seu cliente, contemplando outras decisões e atuações que mobilizam diferentes competências sociais. Além disso, foram abordados diferentes contextos para utilização da TCC, como empresas e escolas, com base na objetividade e diretividade do tratamento de todo tipo de sofrimento emocional e dificuldades de adap- tação, ultrapassando o contexto de psicoterapia individual no consultório. Por fim, você viu que as pesquisas em sua área de atuação continuam sendo um desafio para o estudo do comportamento humano em uma sociedade Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo 15 sempre em movimento, na busca por protagonismo e pelo bem-estar das pessoas em suas vidas. Referências ALMEIDA, R. A.; MALAGRIS, L. E. N. Psicólogo da saúde no hospital geral: um estudo sobre a atividade e a formação do psicólogo hospitalar no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 35, n. 3, p. 754-767, 2015. ALVES, J. M. (org.). Abordagens cognitivo-comportamentais no contexto escolar. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2018. ANDERSSON, G. et al. Guided internet-based vs. face-to-face cognitive behavior therapy for psychiatric and somatic disorders: a systematic review and meta-analysis. World Psychiatry, v. 13, n. 3, p. 288-295, 2014. ANDRETTA, I.; OLIVEIRA, M. S. (org.). Manual prático de terapia cognitivo-comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. BARLETTA, J. B. et al. 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Terapia cognitivo-comportamental e atuação do psicólogo18 Dica do professor Reconhecer as contribuições da terapia cognitivo-comportamental (TCC) no controle de pensamentos suicidas é poder quebrar a sequência cognitiva (pensamento-emoção- comportamento) que eles formam e buscar estratégias dessa terapia no tratamento desses pacientes. Nesta Dica do Professor, você verá como a terapia cognitivo-comportamental pode diminuir esse sofrimento psicológico. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/2785afee21df4a519390a18d861c97f6 Exercícios 1) A prática clínica abrange uma série de decisões e ações ao profissional psicólogo no âmbito das relações com o seu contexto, incluindo instituições, pares ou futuros clientes. Ao atuar em clínica particular, após mapear suas competências e tomar decisões, é importante para o psicólogo que utiliza a terapia cognitivo-comportamental informar e publicizar suas capacidades. Isso inclui: A) aumentar o número de clientes sem restrições ou direcionamento para um nicho de atuação específico. B) atender presencialmente, pois o Conselho Federal de Psicologia ainda não regulamentou atendimento on-line para psicólogos. C) demarcar um nicho de atuação específico, informando quais problemas e populações atende para atrair potenciais clientes e colegas. D) a divulgação de seus conhecimentos teóricos e técnicos, enfatizando sua superioridade em relação a outros profissionais. E) utilizar apenas a comunicação pessoal e boca a boca para atrair novos clientes, evitando a divulgação on-line. Uma das práticas que constituem a relação entre profissionais de saúde mental é a supervisão, pois ela é uma atividade profissional diferente de outras atuações do psicólogo e exige competências próprias. Por isso, considera-se necessário o treinamento do supervisor tanto em competências específicas para essa prática quanto em competências clínicas. Sobre a supervisão, acompanhe o diálogo a seguir: Supervisionado: Olá, bom dia! Hoje, eu gostaria de discutir um caso que estou atendendo há algumas semanas. É uma cliente que apresenta sintomas de ansiedade social e tem dificuldades em interagir com outras pessoas em ambientes sociais. Supervisor: Bom dia! Claro, podemos discutir o caso. Fale um pouco mais sobre essa cliente e como tem sido o tratamento até o momento. Supervisionado: [...] ela é uma mulher de 30 anos, e sua ansiedade social tem sido bastante debilitante para ela. Ela evita situações sociais, mesmo em contextos mais informais, e isso 2) tem afetado seu trabalho e relacionamentos pessoais. Inicialmente, trabalhamos na identificação de seus pensamentos automáticos negativos durante as interações sociais. Supervisor: Foi um bom início [...], identificar os pensamentos automáticos é fundamental na TCC. Ela tem sido receptiva com o tratamento, de forma geral? Ela está conseguindo aplicar as estratégias que vocês trabalham nas sessões? [...] A supervisão clínica na terapia cognitivo-comportamental (TCC) é um processo: A) voltado apenas para psicólogos em formação, não sendo relevante para profissionais experientes. B) que deve ocorrer apenas em situações de dificuldades e desafios no atendimento ao cliente. C) no qual o supervisor desconsidera as experiências pessoais do supervisionado para focar apenas aspectos técnicos. D) colaborativo, em que o supervisor e o supervisionado trabalham em conjunto para discutir casos, técnicas terapêuticas e aprimorar habilidades. E) no qual o supervisor deve se limitar a oferecer respostas prontas e soluções para os problemas apresentados pelo supervisionado. 3) Na prática clínica em terapia cognitivo-comportamental, por meio da técnica mindfulness, ou atenção plena, o terapeuta ensina o cliente a cultivar uma atitude de curiosidade e aceitação em relação aos seus pensamentos, emoções e sensações físicas no momento presente, sem julgamentos e atravessamentos. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o cliente está enfrentando ansiedade social e medo de falar em público. Durante a terapia, ele pratica mindfulness, concentrando-se no momento presente e observando suas sensações corporais, pensamentos e emoções relacionados a essa situação. Ele não julga essas experiências, apenas as observa com curiosidade e aceitação. Ao praticar regularmente, ele desenvolve uma maior consciência de seus padrões de pensamento e emoções em relação à ansiedade social. Com o tempo, o cliente se torna menos identificado com seus pensamentos ansiosos e ganha mais controle sobre suas respostas emocionais. Isso permite que ele enfrente a ansiedade social de maneira mais adaptativa, reduzindo seu impacto negativo e permitindo uma abordagem mais tranquila e equilibrada ao falar em público. No percurso histórico de evolução da TCC em três ondas, é possível situar a utilização da técnica de mindfulness na: A) primeira onda, que foca modelos cognitivos e técnicas comportamentais. B) primeira onda, porque foca no condicionamento clássico. C) segunda onda, especialmente relacionada ao princípio da aceitação. D) segunda onda, fundamentada em abordagem empírica. E) terceira onda, que considera contexto e funções dos fenômenos psicológicos. 4) A TCCi, ou terapia cognitivo-comportamental pela internet, é uma modalidade de tratamento psicoterapêutico que utiliza recursos on-line para fornecer suporte terapêutico e intervenções com base nos princípios da TCC. Essa abordagem terapêutica utiliza a tecnologia da internet paraoferecer psicoterapia de forma acessível e flexível, permitindo que os pacientes tenham acesso ao tratamento em qualquer lugar e a qualquer momento. Sobre a TCCi, assinale a alternativa correta: A) É uma modalidade que não requer supervisão, tornando o tratamento mais acessível e econômico. B) Substitui a presença do terapeuta por um sistema de computador que conduzirá as sessões e interações com o paciente. C) Oferece apenas psicoeducação, sem a possibilidade de interação com o terapeuta, de modo síncrono. D) Postula a aplicação associada dos princípios básicos do comportamento em conjunto com outras abordagens terapêuticas, como a psicanálise. E) Possibilita o acesso permanente, oferece interação atrativa e inclui suporte e orientação do terapeuta em diferentes meios de comunicação. Desde os anos 1960, quando foi introduzida no campo teórico e prático da psicologia, a TCC experimenta avanços importantes. Inicialmente desenvolvida por Aaron Beck, a TCC representou uma mudança teórica significativa na compreensão e no tratamento de transtornos emocionais, concentrando-se na relação entre pensamentos, emoções e comportamentos. Desde então, a abordagem cognitivo-comportamental tem se consolidado como uma das principais correntes terapêuticas, sendo amplamente aplicada em diversos contextos e transtornos psicológicos, incluindo depressão, ansiedade, fobias, transtorno bipolar, entre outros. 5) Sobre pesquisa e prática em TCC, assinale a alternativa correta: A) Ainda precisa avançar para ser reconhecida como uma abordagem com base em evidências. B) No Brasil, somente a partir dos anos 2000 avançamos em direção à integração do modelo cognitivo com o comportamental. C) A difusão da TCC no Brasil está relacionada com a tradução e publicização de seus princípios ao senso comum. D) Na TCC, o terapeuta é responsável por conduzir o processo terapêutico, o papel do paciente deve ser passivo nesse sentido. E) A TCC pode ser utilizada em clínicas e hospitais, mas ainda não demonstra eficácia para o contexto da escola. Na prática Pesquisa e prática clínica demonstram a eficácia da TCC no enfrentamento da ansiedade, com ou sem prescrição medicamentosa. O aumento da consciência do paciente a respeito de seus pensamentos automáticos e de suas crenças elementares e encobertas, sob a orientação do terapeuta, faz com que esse paciente avalie seu modo disfuncional de perceber os acontecimentos e que atua sobre suas emoções e seus comportamentos. Neste Na Prática, você conhecerá um caso sobre ansiedade que se torna um transtorno, e veja como é possível lidar com isso por meio da TCC. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental Jesse Wright aborda no vídeo a modificação de pensamentos automáticos. Todos nós os temos, pois não são exclusividade de pessoas com depressão, ansiedade ou outros transtornos emocionais. Como terapeutas, é importante reconhecê-los e utilizar outros processos cognitivo- comportamentais para aumentar a empatia com os pacientes e melhorar nossa consciência sobre como poderiam influenciar a relação terapêutica. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Terapia cognitivo-comportamental de alto rendimento para sessões breves: guia ilustrado O autor aborda neste livro um elemento importante do processo terapêutico: o tempo. E o que é mais interessante: o tempo no sistema de saúde, considerado um desafio para o atendimento em psicoterapia. Nos capítulos 1 e 2, você verá as características e a aplicação das chamadas terapias breves em TCC, que podem auxiliar no atendimento em ambulatórios públicos na rede de saúde. Um novo cenário para nós, psicólogos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Vencendo a ansiedade e a preocupação com a terapia cognitivo- comportamental – Manual do paciente Nesta obra, os autores elaboraram o primeiro manual de estratégias práticas e acompanhamento à terapia cognitiva guiada para trabalhar com a ansiedade. O Capítulo 1 (Indicações e formatos para sessões breves de TCC) trata de possíveis situações clínicas nas quais sessões breves de TCC podem ser utilizadas. O que chama a atenção nesse capítulo é exatamente a variedade de ambientes e a multidisciplinaridade, além da discussão de casos nos quais se pode observar os seus resultados. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! https://www.youtube.com/embed/EcRawwCuvYk