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TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL CAUSAS EXTINTIVAS DE PNIILIDADE

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TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL
DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Com a prática da infração penal, surge para o Estado o direito de punir, ou seja, a punibilidade, que nada mais é do que a possibilidade jurídica de o Estado impor a sanção ao autor do delito.
O legislador, entretanto, estabelece uma série de causas subsequentes que extinguem essa punibilidade, impossibilitando, pois, a imposição da pena. O art. 107
do Código Penal
Esse rol, entretanto, não é taxativo, pois existem várias outras causas extintivas da punibilidade descritas na Parte Especial do Código e em outras leis:
a) morte da vítima em crimes de ação privada personalíssima (art. 236, parágrafo único);
b) o ressarcimento do dano antes da sentença transitar em julgado no crime de peculato culposo (art. 312, § 3º);
c) a homologação da composição quanto aos danos civis nos crimes de menor potencial ofensivo de ação privada ou pública condicionada à representação (art. 74, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95);
d) o término do período de prova da suspensão condicional do processo sem que o agente tenha dado causa à revogação do benefício (art. 89, § 5º, da Lei n.
9.099/95);
e) aquisição superveniente de renda na contravenção de vadiagem (art. 59,
parágrafo único, da LCP);
f) pagamento do valor do cheque emitido sem provisão de fundos antes do
recebimento da denúncia (art. 171, § 2º, VI, do CP e Súmula n. 554 do STF);
g) pagamento do tributo, inclusive acessórios, antes ou em qualquer fase da
persecução, nos crimes contra a ordem tributária da Lei n. 8.137/90 (arts. 9º, § 2º,
da Lei n. 10.684/2003 e 69 da Lei n. 11.941/2009);
h) pagamento integral das contribuições sociais, inclusive acessórios, antes ou em
qualquer fase da persecução penal, nos crimes dos arts. 168-A e 337-A do Código
Penal (arts. 9º, § 2º, da Lei n. 10.684/2003 e 69 da Lei n. 11.941/2009);
i) o efetivo cumprimento do acordo de leniência (colaboração) nos crimes contra a
ordem econômica elencados na Lei n. 8.137/90, desde que da colaboração tenha
resultado: I — a identificação dos demais envolvidos na infração; e II — a
obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação (arts. 86 e 87, parágrafo único, da Lei n. 12.529/2011). Tal regra
aplica-se também a outros crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais
como os tipificados na Lei n. 8.666/93 e os de associação criminosa (art. 288 do
CP, com a redação dada pela Lei n. 12.850/2013) com aqueles relacionados;
j) a efetiva e espontânea entrega de arma de fogo não registrada às autoridades
(art. 32 da Lei n. 10.826/2003). Em tal caso, extingue-se a punibilidade do crime
de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei n. 10.826/2003).
O reconhecimento de uma causa extintiva da punibilidade é matéria de ordem pública e, por isso, pode ser decretada em qualquer fase do inquérito ou da ação penal e em qualquer grau de jurisdição, de ofício ou em razão de provocação das
partes (art. 61 do CPP). Somente o juiz pode decretá-las e contra a decisão que deferir ou indeferir seu reconhecimento cabe recurso em sentido estrito (art. 581, VII e VIII, do CPP). Poderá, ainda, ser impetrado habeas corpus (art. 648, VII, do CPP).
CLASSIFICAÇÃO
1) Quanto às infrações penais a que são aplicáveis, as causas extintivas podem ser:
a) Gerais: alcançam todo e qualquer tipo de infração. Exs.: a morte do agente e a abolitio criminis.
A prescrição é cabível em todos os crimes, exceto para um pequeno rol de delitos definidos como imprescritíveis no texto constitucional (racismo e crimes praticados por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
o Estado Democrático). Também a anistia, a graça e o indulto podem ser concedidos aos crimes em geral, salvo aos de natureza hedionda, ao terrorismo, ao tráfico de drogas e ao crime de tortura (art. 5º, XLIII, da Constituição Federal).
b) Especiais: aplicam-se apenas a determinados delitos. Incluem-se nesta categoria a retratação, o perdão judicial, a renúncia, o perdão do ofendido, a perempção e a decadência.
c) Específicas: cabem em uma única infração penal. Não estão previstas na Parte Geral do Código, e sim em dispositivos determinados da Parte Especial ou de leis especiais. Exs.: a reparação do dano no crime de peculato culposo (art. 312, § 3º,
do CP); a aquisição posterior de renda na contravenção de vadiagem (art. 59,parágrafo único, da LCP).
Quanto ao alcance em relação às pessoas envolvidas no crime:
a) Comunicáveis: beneficiam todos os envolvidos na infração (autores ou partícipes). Exs.: renúncia, perempção, abolitio criminis etc.
b) Incomunicáveis: aplicam-se somente ao agente que se enquadra na situação prevista em lei, não se estendendo aos comparsas. Ex.: a morte de um dos criminosos
Quanto à causa que fundamenta a causa extintiva:
a) Naturais: quando a causa extintiva se baseia em um fato natural, como, por exemplo, a morte do agente ou o decurso do tempo na prescrição.
b) Políticas: existem porque o legislador entende que certos comportamentos devem fulminar o jus puniendi. Exs.: perdão do ofendido ou retratação do agente; indulto por parte do Presidente da República; perdão judicial etc.
Quanto à exigência de algum ato por parte do autor do crime para a extinção da punibilidade:
a) Incondicionadas: quando a extinção da punibilidade independe de ato do agente. Exs.: prescrição, perempção, renúncia, decadência, perdão judicial etc.
b) Condicionadas: quando está vinculada a algum ato do autor da infração: Exs.: retratação do agente, reparação do dano no peculato culposo, cumprimento das condições na suspensão condicional do processo, pagamento do tributo nos crimes
contra a ordem tributária etc.
EFEITOS DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Dependendo do momento em que ocorre a causa extintiva, seus efeitos podem ter maior ou menor intensidade.
a) Se verificadas antes do trânsito em julgado da sentença condenatória: impedem a própria prolação da sentença ou afastam todo e qualquer efeito da sentença já
prolatada, mas ainda não transitada em julgado. Incluem-se nesta categoria a prescrição da pretensão punitiva, a decadência, o perdão, a perempção, a renúncia,
a retratação, dentre outros. O réu, portanto, mantém-se primário.
b) Se ocorridas após o trânsito em julgado da sentença condenatória: afastam somente a necessidade do cumprimento da pena, se ainda não iniciada, ou de seu restante. É o caso da prescrição da pretensão executória. Caso o réu cometa
posteriormente outro crime, será considerado reincidente, se ainda não transcorridos os 5 anos a que se refere o art. 64, I, do Código.
A anistia e a abolitio criminis quando ocorrem após a condenação definitiva, devido à sua natureza, apagam todos os seus efeitos, exceto os extrapenais (obrigação de indenizar as vítimas, por exemplo).
CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE EM ESPÉCIE
Morte do agente (art. 107, I, do CP)
a regra constitucional segundo a qual nenhuma pena passará da pessoa do condenado (art. 5º, XLV), dispõe o art. 107, I, do Código Penal que a morte do agente extingue sua punibilidade. É evidente que esta causa extintiva pode se verificar a qualquer momento: antes ou durante a ação penal, bem como após a
condenação definitiva (antes ou depois do início do cumprimento da pena).
Devido ao seu caráter pessoal, é incomunicável aos comparsas no caso de concurso de agentes. Assim, ainda que morra o autor direto do crime, continuam puníveis os partícipes, uma vez que estes permanecem vivos
A Constituição Federal, em seu art. 5º, XLV, dispõe que a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens poderão, nos termos da lei, ser estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até os limites da herança.
De acordo com o art. 62 do Código de Processo Penal, o juiz só pode decretar a extinção da punibilidade à vista de certidão de óbito original juntada aos autos,depois de ouvido o Ministério Público
Não basta, portanto, o mero atestado de óbito
assinado pelo médico, sendo necessária a competente certidão expedida peloCartório de Registro Civil.
No caso de morte presumida em razão da declaração de ausência (art. 6º, do Código Civil), não pode ser declarada a extinção da punibilidade fundada no
dispositivo em análise, por falta de amparo legal, na medida em que faltará documento essencial exigido por lei para a decretação — a certidão de óbito. Assim, nos casos de ausência, que é decretada para fins patrimoniais (nomeação de curador
para administração dos bens do ausente e abertura de sucessão), deve ser aguardado o decurso do lapso prescricional.
Já nos casos de morte presumida decorrentes da extrema probabilidade de morte de quem estava em perigo de vida (naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe — art. 7º, I, do Código Civil) ou desaparecido em
campanha ou feito prisioneiro e não reencontrado até dois anos após o término da guerra (art. 7º, II, do Código Civil), o art. 88 da Lei de Registros Públicos (Lei n.
6.015/73), bem como seu parágrafo único, permite que o juiz determine o assento de óbito, após o devido procedimento de justificação, fixando, inclusive, a data provável do falecimento. Nestes casos, portanto, é expedida certidão de óbito, sendo viável a declaração da extinção da punibilidade
Extinção da punibilidade decretada em razão de certidão de óbito falsa
Parte da doutrina entende que, se ficar constatada a falsidade da certidão após o trânsito em julgado da decisão declaratória da extinção da punibilidade, esta não mais poderá ser revista, por ser vedada a revisão criminal pro societate, restando apenas a
possibilidade de punir o responsável pela falsificação e pelo uso do documento público falso (arts. 297 e 304 do CP). Em outras palavras, uma pessoa que estivesse condenada a enorme pena por diversos homicídios poderia ficar impune por tais
delitos, respondendo apenas pelo crime de uso de documento falso, cuja pena é extremamente menor.
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