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Ana karla santos rocha
CRIME DE MAUS TRATOS AOS ANIMAIS E A RESPONSABILIDADE PENAL AO INFRATOR
Cidade
AnoTeixeira de Freitas
2024
ANA KARLA SANTOS ROCHA
CRIME DE MAUS TRATOS AOS ANIMAIS E A RESPONSABILIDADE PENAL AO INFRATOR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito. 
Orientador: Thalita Bassan
Teixeira de Freitas
2024
ana karla santos rocha
CRIME DE MAUS TRATOS AOS ANIMAIS E A RESPONSABILIDADE PENAL AO INFRATOR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera de Teixeira de Freitas- BA como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito.
BANCA EXAMINADORA
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)
Teixeira de Freitas, XX de maio de XXXX
AGRADECIMENTOS 
Dedico este trabalho a Jesus por ser refúgio em dias escuros e difíceis e por ter colocado em meu caminho pessoas e oportunidades para que eu pudesse prosseguir. 
Aos meus pais por trabalharem para que esse sonho se concretizasse e todos os familiares em especial os meus avós, que sempre acreditaram em mim e amigos que estavam próximos e direta ou indiretamente me auxiliaram nessa jornada.
Aos que não acreditaram e me desanimaram, obrigada por terem me dado o combustível que eu precisava para chegar até aqui.
 "A humanidade não pode progredir enquanto a crueldade para com os animais for uma parte do nosso caráter." - Gandhi
Rocha, Ana Karla Santos. Crime de maus tratos aos animais e a responsabilidade penal ao infrator. 2024. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Anhanguera, Teixeira de Freitas, 2024.
RESUMO
Esta revisão bibliográfica examina o crime de maus-tratos aos animais no âmbito penal, avaliando a Lei nº 14.064 de 2020 investigando suas definições legais, formas de manifestação, implicações sociais, jurídicas, bem como os desafios enfrentados na prevenção e punição. Fontes como legislação pertinente, estudos sociológicos e psicológicos, e análises sobre a relação entre crueldade animal na infância e violência contra humanos são exploradas para oferecer uma visão abrangente do tema.
Palavras-chave:	Maus-tratos aos animais. Responsabilidade penal. Bem-estar animal. Legislação. Sociedade.
ROCHA, Ana Karla Santos. Crime of animal abuse and criminal liability for the ofender. 2024. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Direito – Anhanguera, Teixeira de Freitas, 2024.
ABSTRACT
This bibliographical review examines the crime of animal abuse in the criminal sphere, investigating its legal definitions, forms of manifestation, social and legal implications, as well as the challenges faced in prevention and punishment. Sources such as relevant legislation, sociological and psychological studies, and analyzes of the relationship between animal cruelty in childhood and violence against humans are explored to offer a comprehensive view of the topic.
Keywords: Animal abuse. Criminal Liability. Animal welfare. Legislation. Society.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
ONGs	Organizações não governamentais
CRMV Conselho Nacional de Medicina Veterinária 
NCADV National Coalition Against Domestic Violence 
TEPT Transtorno de estresse pós traumático
ASPAAN Associação Protetora e Amiga dos Animais
15
SUMÁRIO
1.	INTRODUÇÃO	13
2.	EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL	16
3.	Definição e Tipificação Legal de Maus-Tratos aos Animais	20
4.	Formas e Consequências dos Maus-Tratos aos Animais	24
5.	MAUS TRATOS AOS ANIMAIS E OS VÍNCULOS COM A VIOLÊNCIA INTERPESSOAL	27
6.	DESAFIOS NA PREVENÇÃO E PUNIÇÃO	30
7.	4.2 DIFICULDADES NA APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO	33
8.	4.3 SUBNOTIFICAÇÃO DE CASOS	36
9.	4.4 ESTRATÉGIAS PARA SUPERAR OS DESAFIOS	39
10.	CONSIDERAÇÕES FINAIS	42
REFERÊNCIAS	45
	
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, tem havido uma crescente conscientização e preocupação em relação ao tratamento ético e compassivo dos animais. Nesse contexto, o crime de maus-tratos aos animais emerge como uma questão de grande relevância, tanto do ponto de vista ético quanto jurídico. Este crime, caracterizado pela violência, negligência ou abuso contra seres vivos não humanos, é motivo de preocupação em muitas sociedades ao redor do mundo.
“Podemos julgar o coração de um homem pela forma como ele trata os animais.” A assertiva proposta por Immanuel Kant, filósofo alemão e precursor da Filosofia Crítica, sugere que a conduta humana está estreitamente entrelaçada com a convivência junto aos animais. Diante disso, surge a preocupação em relação aos atos de crueldade e ao abandono. Tudo isso tem levado a sociedade a ponderar e estabelecer normas mais rigorosas de salvaguarda para os mesmos.
A relação entre seres humanos e animais é complexa e multifacetada, e o tratamento dispensado aos animais pode servir como um reflexo da ética e compaixão de uma sociedade (Ascione, 2007). A compreensão abrangente deste tema é essencial para promover uma discussão informada e eficaz sobre como proteger os direitos dos animais e punir aqueles que os violam. Este tema não apenas reflete uma mudança nas atitudes sociais em relação aos animais, mas também destaca a evolução do sistema jurídico em reconhecer e abordar questões relacionadas à proteção dos seres vivos que compartilham nosso planeta.
O crime de maus-tratos aos animais transcende fronteiras geográficas e culturais, assumindo diversas formas que vão desde a negligência e abandono até a violência física deliberada, todos esses atos não apenas causam sofrimento e dor aos animais envolvidos, mas também levantam questões éticas e morais fundamentais sobre nossa relação com outras espécies e nossa responsabilidade para com elas.
Neste contexto, a imposição de responsabilidade penal aos infratores desempenha um papel crucial. A legislação penal, ao punir aqueles que cometem atos de crueldade contra os animais, busca não apenas dissuadir tais comportamentos, mas também afirmar os valores fundamentais de compaixão, respeito e empatia em nossa sociedade.
Esta monografia propõe-se a analisar de forma abrangente o crime de maus-tratos aos animais, com base na Lei nº 14.064 de 2020, explorando suas várias dimensões legais, éticas e sociais, e examinando os mecanismos de responsabilização penal disponíveis para lidar com essa forma de violência por meio de uma análise crítica da legislação atual, jurisprudência relevante e discussões teóricas pertinentes, busca-se não apenas compreender os desafios enfrentados na aplicação efetiva da lei, mas também propor possíveis caminhos para aprimorar a proteção legal dos animais e promover uma convivência mais harmoniosa entre as diferentes espécies que habitam nosso mundo.
A metodologia utilizada nesta monografia envolveu uma abordagem interdisciplinar para compreender o crime de maus-tratos aos animais e a responsabilidade penal dos infratores, esta pesquisa será conduzida por meio de uma revisão sistemática da literatura, que incluirá análise de artigos acadêmicos, relatórios governamentais, legislação pertinente e outras fontes relevantes sobre o tema. A análise dos dados será realizada por meio de uma abordagem qualitativa, visando identificar padrões, tendências e lacunas na literatura existente. 
Foi realizada uma revisão bibliográfica abrangente da literatura acadêmica, incluindo artigos, livros, relatórios de organizações não governamentais (ONGs) e jurisprudências relevantes, além de notícias, foi feita uma análise legal onde serão examinadas as leis nacionais relacionadas aos maus-tratos aos animais, com foco nas definições legais, penalidades e jurisprudência relevante. Casos judiciais significativos foram estudados para ilustrar a aplicação prática da legislação.
Dentro da abordagem ética e moral foram exploradas as teorias éticas que fundamentam a discussão sobre osdireitos dos animais e a moralidade dos maus-tratos. Isso envolve uma análise crítica das diferentes perspectivas filosóficas sobre a relação entre humanos e animais. Também foram consideradas as influências sociais, culturais e econômicas que moldam as atitudes em relação aos animais e afetam a prevalência dos maus-tratos e um estudo Psicológico onde foi revisado artigos e pesquisas que examinam os motivos por trás dos atos de crueldade animal e os padrões comportamentais dos infratores e consideradas as relações entre maus-tratos aos animais com a violência doméstica, violência aos animais na infância e comportamento criminoso mais amplo.
No capítulo 3 está disposto a definição e Tipificação legal dos maus tratos aos animais, onde foi abordado as disposições da Lei de Crimes Ambientais e outras legislações pertinentes e analisados os critérios que caracterizam os maus-tratos, bem como as penalidades previstas para os infratores.
O capitulo 7 foi explorado as formas e consequências dos maus-Tratos e suas diferentes formas, desde a negligência até a crueldade explícita e também foi discutido as consequências desses atos para os animais, para a sociedade e para os perpetradores, destacando-se os vínculos entre a crueldade animal e a violência interpessoal. , serão examinados os desafios enfrentados na prevenção e punição dos maus-tratos aos animais (Liddick, 2018). Questões como falta de conscientização, dificuldades na aplicação da legislação e subnotificação de casos serão abordadas, assim como possíveis estratégias para superar esses desafios.
Foi realizada uma avaliação dos impactos dos maus-tratos nos animais e na sociedade, considerando os efeitos físicos, emocionais e psicológicos nos animais afetados, bem como o custo social e econômico dos maus-tratos, além de ter sido ofertado através de estudos algumas propostas de Prevenção, incluindo iniciativas de educação pública, campanhas de conscientização e programas de aplicação da lei.
Esta metodologia permitirá uma abordagem abrangente e multidimensional do tema, integrando diversas perspectivas disciplinares para uma compreensão mais completa do crime de maus-tratos aos animais e das formas de responsabilização penal dos infratores.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL
Voltando aos primórdios da história do Brasil, podemos notar que naqueles tempos antigos, quando as vastas florestas e rios imponentes eram o lar de povos indígenas, a relação com a natureza era de respeito e harmonia, No século XVI, o francês René Descartes sustentou a teoria mecanicista segundo a qual os animais seriam simples máquinas, cuja única diferença em relação ao homem seria o fato deste possuir alma, enquanto aqueles, por serem meros objetos mecânicos, não a possuiriam, logo, seriam insensíveis a qualquer dor e sofrimento que lhes fossem impostos, pois estas sensações só residiriam na alma, monopólio do ser humano. 
No início da colonização, não havia leis específicas para proteger o meio ambiente. A prioridade era explorar os recursos naturais em busca de riquezas, sem pensar nas consequências para a natureza ou para as comunidades locais. Árvores eram derrubadas, rios eram poluídos, e a fauna era caçada sem controle, podemos assim dizer que a preocupação com o futuro é exclusiva das novas gerações
Com o passar dos séculos, essa exploração desenfreada começou a cobrar seu preço, o desmatamento descontrolado levou à perda de biodiversidade, as águas foram contaminadas, e os ecossistemas foram degradados. Aos poucos, a sociedade começou a perceber que era preciso agir para proteger o ambiente ou isso traria consequências graves que afetariam nossa sobrevivência no planeta.
Foi nesse contexto que surgiram as primeiras leis ambientais no Brasil. No final do séc	ulo XX, movimentos sociais, cientistas e ativistas ambientais pressionaram por mudanças, e o país começou a adotar uma abordagem mais consciente em relação ao meio ambiente. A Constituição de 1988 foi um marco nesse processo, reconhecendo o meio ambiente como um direito fundamental e estabelecendo bases sólidas para a proteção ambiental
A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 225 afirma que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Em seu parágrafo primeiro, inciso IV, afirma que para assegurar a efetividade desse direito, incube ao Poder Público, proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
Em 1978 a UNESCO, em Bruxelas, Bélgica, editou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais e mais recentemente realizou-se em Cuernavaca, Estado de Morelos, México, em 1997, o Primeiro Encontro Nacional pelos Direitos dos Seres Vivos, uma verdadeira tomada de posição pela dor e sofrimento que os seres humanos impõem aos animais.
Diz a Declaração Universal dos Direitos dos Animais em seu art. 2º que cada animal tem o direito ao respeito.
 b) O homem, enquanto espécie animal não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou explorá-los, violando este direito. Ele tem o dever de colocar a sua consciência a serviço dos outros animais 
(c) Cada animal tem o direito à consideração, à cura e à proteção do homem. O artigo 3o prevê:
 a) Nenhum animal deverá ser maltratado e submetido a atos cruéis.
 b) Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor nem angústia. (BRASIL, 2020).
No contexto animal, os mesmos eram vistos apenas como recursos a serem explorados, assim como Fauna e flora e não eram levadas em consideração seu bem-estar ou direitos. Suas vidas eram muitas vezes marcadas por crueldade e exploração, antes para sobrevivência humana, e hoje em fazendas, laboratórios ou em espetáculos de entretenimento.
Porém, a medida em que os anos passavam, a consciência sobre o sofrimento animal cresceu, impulsionada por movimentos sociais, avanços científicos e uma crescente empatia pela vida não humana. Foi assim que surgiram as primeiras vozes a favor dos direitos dos animais no Brasil, clamando por mudanças e justiça.
Um marco importante nessa jornada foi a promulgação da Constituição de 1988, que reconheceu o meio ambiente como um bem de uso comum do povo e determinou a proteção da fauna e da flora. Essa inclusão abriu caminho para uma legislação mais abrangente e protetora dos animais e com o passar dos anos, leis específicas foram sendo criadas para combater o abuso e a crueldade contra os animais. 
A Lei de Crimes Ambientais, por exemplo, estabeleceu punições para maus-tratos e abandono, enquanto a Lei de Proteção Animal regulamentou práticas como a criação, transporte e abate de animais.
Porém, Na redação do artigo 32 da lei 9.608 não se fazia distinção entre as espécies tuteladas, até que em 2020, após a recorrência de inúmeros casos de agressão principalmente nos centros urbanos, foi proposto pelo Deputado Fred Costa a ‘’Lei Sansão’’ n º 14.604 que especificou na redação as penalidades de agressão contra cães e gatos, ou seja, animais domésticos, a lei foi batizada em homenagem ao cachorro Sansão, um pitbull que teve as patas traseiras decepadas em Minas Gerais, um caso que gerou grande comoção social e destacou a necessidade de punições mais severas para crimes de crueldade contra animais. A referente lei especifica que;
 
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§1ºA Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibiçãoda guarda. (Incluído pela Lei nº 14.064, de 2020).
§2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. (BRASIL, 2020).
A justificativa do projeto de lei, entre outros motivos, baseou-se na necessidade de uma maior proteção aos animais domésticos, maiores vítimas de agressões por meio do rigor da lei, uma vez que o crime era considerado de menor potencial ofensivo e punido com pena de multa e detenção que não comportava.
Segundo o autor dessa Lei:
Os animais não possuem meios de se defender, não são capazes de procurar os seus direitos. A única maneira para que tais crimes sejam evitados é o empenho da sociedade, que não deve aceitar tamanha barbaridade, exigindo que as regras que visam reprimir esses crimes sejam cada vez mais rigorosas. Outrossim é fundamental que estabelecimentos comerciais e rurais que permitam a ocorrência de tais pecados sejam devidamente apenados, na medida da gravidade do delito praticado (COSTA, 2020).
Além disso, a conscientização pública sobre a importância do respeito aos animais vem crescendo, impulsionando mudanças culturais e comportamentais. Cada vez mais pessoas estão adotando estilos de vida que priorizam o bem-estar animal, optando por uma alimentação mais ética, apoiando causas de proteção animal e adotando práticas de cuidado responsável com seus companheiros de quatro patas.
 Como aponta Tagore Trajano de Almeida Silva (2009) ‘’Já é hora de os seres-humanos ao buscarem cada vez mais uma sociedade evoluída começar pela forma de como os animais domésticos são tratados, respeitando seus valores como seres vivos, e como parte do funcionamento do ecossistema como um todo’’.No entanto, os desafios ainda são muitos. O abandono de animais, a exploração em atividades como a pecuária e a experimentação animal, e o comércio ilegal de espécies silvestres continuam sendo problemas que exigem nossa atenção e ação.
A evolução dos direitos dos animais no Brasil é uma história em constante desenvolvimento, impulsionada pelo amor, compaixão e respeito por todas as formas de vida. Cada passo dado em direção à proteção dos animais é uma vitória para a justiça e a bondade, e nos lembra da nossa responsabilidade compartilhada de cuidar e preservar o mundo que compartilhamos com nossos amigos de outras espécies. Que possamos continuar avançando nessa jornada, construindo um futuro mais compassivo e justo para todos os seres vivos.
Desde então, a legislação ambiental brasileira tem evoluído continuamente, com a promulgação de leis específicas para diferentes aspectos da proteção ambiental, como o desmatamento, a conservação da biodiversidade, o controle da poluição e a gestão dos recursos naturais. Essas leis são resultado de um esforço conjunto de governos, sociedade civil e instituições ambientais, que reconhecem a importância de preservar e conservar nosso patrimônio natural para as gerações futuras.
No entanto, os desafios ainda são muitos. O desmatamento ilegal, a poluição, as mudanças climáticas e a degradação dos ecossistemas continuam representando ameaças ao meio ambiente brasileiro. Por isso, é fundamental que todos nós assumamos a responsabilidade de proteger e cuidar da natureza, respeitando sua diversidade e interconexão.
Definição e Tipificação Legal de Maus-Tratos aos Animais
Os maus-tratos aos animais representam uma violação significativa do bem-estar animal e são reconhecidos como um problema sério e preocupante em muitos países ao redor do mundo, inclusive no Brasil. 
O maus-tratos aos animais compreendem uma ampla gama de comportamentos prejudiciais e abusivos que resultam em sofrimento, dor ou lesões aos animais. Esses comportamentos podem incluir (mas não se limitam) a espancamento, mutilação, abandono, confinamento em condições inadequadas, privação de comida e água, exposição a condições ambientais extremas e negação de cuidados veterinários adequado. É importante reconhecer que os maus-tratos podem ocorrer tanto por comissão quanto por omissão, onde os animais são prejudicados devido à negligência ou falta de cuidados devidos.
No Brasil, a tipificação legal dos maus-tratos aos animais está estabelecida na Lei nº 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais. O artigo 32 dessa legislação caracteriza como crime o ato de "praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos".
O artigo 32 da Lei 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, estabelece o seguinte:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. (Brasil, 1998).
Esse artigo estabelece punições para quem comete atos de abuso, maus-tratos, ferimento ou mutilação de animais, seja qual for sua origem (silvestres, domésticos, nativos ou exóticos). Além disso, prevê aumento da pena caso o animal venha a óbito em decorrência desses atos, e também para aqueles que realizam experiências dolorosas ou cruéis em animais vivos, mesmo que para fins didáticos ou científicos, quando houver alternativas disponíveis.
Além da legislação nacional, muitos Estados e municípios do Brasil possuem leis e regulamentos específicos que tratam dos maus-tratos aos animais, visando proteger seu bem-estar e garantir sua segurança, um exemplo deles é a lei Nº 17.497, de 27 de dezembro de 2021, no Estado de São Paulo propostas pelos Deputados Delegado Bruno Lima e Vinícius Camarinha que institui o Código de Proteção aos Animais do Estado, instituindo o Programa de Proteção e Bem-Estar dos Animais Domésticos e também aumenta as penalidades para maus-tratos animais no Estado.
Em resumo, a definição e tipificação legal de maus-tratos aos animais no Brasil visam coibir condutas prejudiciais e promover o respeito e a proteção aos seres vivos não humanos. Essas normas refletem a preocupação crescente da sociedade em relação ao tratamento ético e compassivo dos animais, e representam um avanço significativo na legislação ambiental do país.
Para uma compreensão abrangente dos maus-tratos aos animais, é fundamental analisar diversas perspectivas, de acordo com o presidente da Comissão de Bem-Estar Animal, Cássio Ribeiro, em entrevista para o G1, embora a Constituição Federal e a Lei de Crimes Ambientais (1998) já vetassem práticas cruéis, abusivas e de maus-tratos contra animais, a ausência de definições claras dificultava o enfrentamento dessa violência.
No entanto nessa mesma época em 2018 houve uma atualização da resolução pelo conselho federal de medicina veterinária (CFMV) publicada no Diário Oficial da União no qual Conceito de violência contra animais foi definido pela 1ª vez. 
Art. 3º Para os fins desta Resolução, entende-se por maus-tratos as ações diretas ou indiretas caracterizadas por agressão física ou psicológica, abuso, negligência, ou qualquer outra forma de ameaça ao bem-estar de um indivíduo. (Brasil, 2018).
Com essas definições mais especificadas se torna mais fácil identificar os diferentes tipos de negligencia e violência para com os animais, tanto para o médico veterinário quanto para as autoridades e peritos que vão atuar nesses casos e tem sido de grande utilidade no enfrentamento e tomada de medidas contra o crime.
Dentro da alteração da resolução, foram definidos os significados precisos dos termos; maus tratos, abuso e crueldade da seguinte forma; 
Maus-tratos: Qualquer ato, direto ou indireto, comissivo ou omissivo, que intencionalmente ou por negligência, imperícia ou imprudência, provoque dor ou sofrimento desnecessários aos animais.
Crueldade: Qualquer ato intencional que provoque dor ou sofrimento desnecessários nos animais, bem como intencionalmente impetrar maus tratos continuamente aos animais
Abuso: "Qualquer atointencional, comissivo ou omissivo, que implique no uso despropositado, indevido, excessivo, demasiado, incorreto de animais, causando prejuízos de ordem física e/ou psicológica, incluindo os atos caracterizados como abuso sexual. (Brasil, 2018)
Ademais, neste mesmo ano o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 32, estabeleceu que "praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos" configura crime passível de detenção e multa. Essa legislação reflete a preocupação do ordenamento jurídico em coibir qualquer forma de crueldade contra os animais de todas as espécies, não só domésticos e impor sanções aos infratores.
As leis que tratam dos maus-tratos aos animais variam em complexidade e rigor em diferentes países. No entanto, é possível identificar alguns elementos comuns em muitas legislações. Segundo Fernando Mendes, professor de Direito Penal, "as leis de proteção animal geralmente estabelecem os tipos de comportamentos considerados abusivos, as penalidades correspondentes e os direitos dos animais". Isso inclui disposições sobre cuidados básicos, como alimentação adequada, abrigo e acesso a cuidados veterinários.
A eficácia das leis de proteção animal também depende da capacidade das autoridades de fazer cumprir a lei e da conscientização pública sobre a importância do bem-estar dos animais. Como observa João Paulo Guedes, especialista em Direito Ambiental, "a fiscalização e a punição dos infratores são fundamentais para garantir o cumprimento das leis e a proteção efetiva dos animais".
Uma comparação das legislações sobre maus-tratos aos animais em diferentes países revela uma ampla variedade de abordagens e enfoques. Por exemplo, enquanto alguns países têm leis abrangentes que proíbem explicitamente todas as formas de maus-tratos aos animais, outros podem ter leis mais limitadas ou menos rigorosas, refletindo diferenças culturais, políticas e econômicas.
Segundo David Favre, professor de Direito Animal, "a existência de leis contra maus-tratos aos animais é um passo importante, mas a aplicação consistente da lei e a conscientização pública são igualmente essenciais para garantir a proteção efetiva dos animais". Portanto, é necessário um esforço conjunto de governos, organizações e indivíduos engajados na proteção dos animais para promover uma cultura de respeito e compaixão pelos seres não humanos.
Formas e Consequências dos Maus-Tratos aos Animais
Os maus-tratos aos animais abrangem uma ampla gama de comportamentos prejudiciais que causam sofrimento físico e psicológico aos seres não humanos. A negligência, por exemplo, é uma forma comum de maus-tratos, caracterizada pela falta de cuidados básicos, como alimentação adequada, abrigo e assistência veterinária. Conforme observado por Ascione (1999) ‘’a negligência pode ser tão prejudicial quanto o abuso físico, pois priva os animais de suas necessidades básicas de sobrevivência e bem-estar’’.
Além da negligência, os animais também podem ser vítimas de abuso físico direto, que inclui agressões físicas, espancamentos, chutes e outros atos de violência. 
Segundo Dadds et al. (2019), o abuso físico pode resultar em lesões graves, traumas físicos e até mesmo a morte dos animais. Outras formas de maus-tratos incluem o confinamento inadequado, como manter os animais em espaços apertados ou sem acesso adequado ao ar livre, a exploração para entretenimento humano, como em circos e rinhas, a mutilação, como o corte de caudas e orelhas sem anestesia, e o abandono, que expõe os animais a riscos significativos de fome, desidratação e predadores.
O Decreto 24.645/34, que estabelece regras de proteção aos animais apresenta um rol de condutas omissivas que representam abuso e maus-tratos, são elas:
Deixar o animal por mais de 12 horas sem água e alimento; deixar de revestir com couro ou material com idêntica qualidade de proteção as correntes atreladas aos animais de tiro; deixar de ordenar as vacas por mais de 24 horas, quando utilizadas na exploração de leite etc. Entretanto é possível fazer uma distinção. (BRASIL, 1934).
O mau uso, ou abuso, liga-se a atividade que é imposta aos animais: trabalho excessivo, além das forças do animal, imposição de trabalho á fêmea em estado adiantado de prenhez; imposição de trabalho a animal jovem, ainda sem condições para tal atividade, utilização em rodeios, impondo aos animais, mediante emprego de aparelhos, sofrimento físico e mental, e, assim, mostrar-se não amestrado; emprego exagerado de castigos, para fins de adestramento etc.
Ferir é cortar, machucar, sendo a ação do que exagera no açoitamento de um burro ou cavalo, por exemplo. Mutilar é cortar partes do corpo do animal. As duas condutas demonstram um grau de maior reprovabilidade em face da prática de maus-tratos. O abuso psicológico também é um debate dentro das múltiplas formas de agressão, neles incluem-se ameaças, confinamento em espaços inadequados e privação social são formas de abuso psicológico que podem levar a traumas emocionais. Animais submetidos a essas condições muitas vezes desenvolvem comportamentos anormais, como agressividade ou medo extremo.
Um exemplo desses abusos que resultou em um comportamento extremamente agressivo de um animal e levou a morte, foi o incidente com a baleia Tilikum no SeaWord, em 2010. Tilikum foi uma orca que se tornou notoriamente conhecida devido a vários incidentes fatais envolvendo treinadores no SeaWorld. Capturada em 1983 perto da Islândia, Tilikum passou a maior parte de sua vida em cativeiro, sendo utilizada como atração para turistas, durante uma dessas apresentações do tanque, a jovem treinadora foi puxada pela orca e arrastada para o fundo enquanto os visitantes assistiam horrorizados a cena, a mesma faleceu por múltiplas fraturas e afogamento. Esse trágico incidente envolvendo Tilikum e a treinadora em 2010 destacou as consequências do cativeiro para orcas, levando a uma maior conscientização pública sobre os impactos negativos dessas práticas. Segundo Naomi A. Rose, "O ataque fatal de Tilikum a Dawn Brancheau em 2010 evidenciou as graves consequências psicológicas que o cativeiro pode ter sobre orcas, levando a comportamentos agressivos e imprevisíveis" (Rose, 2011).
As consequências dos maus-tratos aos animais são profundas e afetam não apenas os animais diretamente envolvidos, mas também a sociedade em geral. Para os animais, as consequências podem ser devastadoras, incluindo sofrimento físico e emocional, lesões graves, doenças, deficiências permanentes e até mesmo a morte prematura. Conforme destacado por Arluke e Luke (1997) ‘’os animais que são vítimas de maus-tratos podem desenvolver problemas comportamentais graves, como agressividade, medo, ansiedade e depressão, que afetam sua qualidade de vida e sua capacidade de interagir com humanos e outros animais’’.
Os maus-tratos podem se manifestar de várias maneiras, incluindo abuso físico, negligência e exploração para fins lucrativos. Abuso físico é a forma mais visível de crueldade, que envolve agressões como espancamentos, mutilações e envenenamento. Negligência, por sua vez, refere-se à falta de cuidados básicos, como alimentação, água e abrigo adequados. Como descrito por Beirne (2004), "o abuso de animais inclui uma ampla gama de comportamentos que vão desde a negligência até a violência intencional" (p. 361).
Além disso, muitos animais são explorados para entretenimento ou trabalho exaustivo. Em casos de exploração, animais de grande porte, como cavalos e bovinos, são frequentemente forçados a realizar atividades desgastantes sem as condições adequadas, resultando em lesões severas. "Os equinos são submetidos a trabalhos desgastantes como puxar carroça, deixando lesões principalmente nas regiões lombar, membros e patas" (Oliveira, 2022).
Além das consequências para os animais, os maus-tratos também existem os impactos significativos na sociedade. Estudos têm demonstrado que indivíduos que cometem atos de crueldade contra animais têm maior probabilidade de apresentar comportamentoviolento em relação a outros seres humanos. Segundo Hensley et al. (2013), a crueldade animal é um indicador de risco para a violência interpessoal e está frequentemente associada a crimes mais graves, como violência doméstica, abuso infantil e homicídio.
Como aponta o ministro Ricardo Lewandowski, a crueldade contra os Animais é uma prática inaceitável, vejamos:
Proibiram-se agora as touradas em Barcelona. A Europa está
preocupada com o tratamento desumano, cruel e degradante
que se dá aos animais domésticos, sobretudo nos abatedouros e também nos criadouros. Por quê? Porque está em jogo exatamente esse princípio básico da dignidade da pessoa humana. Quando se trata cruelmente ou deforma degradante um animal, na verdade está se ofendendo o próprio cerne da dignidade humana (LEWANDOWSKI, 2011, p.326).
Combater os maus-tratos aos animais exige um esforço conjunto de autoridades, organizações de proteção animal e sociedade civil. A conscientização sobre as formas e consequências do abuso é fundamental para promover mudanças. Como destacou a advogada Karen Emília Anoniazi Wolf, "a falta de dispositivos legais que garantam a possibilidade de um animal ingressar em juízo para reivindicar direitos limita a efetividade das proteções existentes" (Wolf, 2024).
MAUS TRATOS AOS ANIMAIS E OS VÍNCULOS COM A VIOLÊNCIA INTERPESSOAL
A conexão entre a crueldade animal e a violência interpessoal é um tema de grande interesse e preocupação para pesquisadores e profissionais das áreas da saúde, direito e bem-estar animal. Estudos têm mostrado que indivíduos que maltratam animais são mais propensos a cometer atos violentos contra parceiros íntimos, membros da família e outras pessoas. Segundo Tallichet et al. (2016), a crueldade animal muitas vezes serve como um indicador precoce de comportamento violento e pode ser um sinal de alerta para intervenção e prevenção de crimes mais graves.
Os maus-tratos aos animais são um problema ético, social e legal significativo, que frequentemente coexiste com outras formas de violência, incluindo a violência interpessoal. Estudos psicológicos e criminológicos têm demonstrado que há uma correlação significativa entre a crueldade para com os animais e comportamentos violentos contra seres humanos. 
Diversos estudos psicológicos têm investigado ao decorrer dos anos a conexão entre maus-tratos aos animais e violência interpessoal. Um estudo seminal de Ascione (1998) identificou que indivíduos que abusam de animais muitas vezes exibem comportamentos agressivos e violentos contra pessoas. Esse estudo encontrou que crianças que cometem crueldades contra animais estão mais propensas a desenvolver comportamentos violentos na adolescência e na vida adulta.
A teoria da "escalada da violência" sugere que a crueldade contra animais pode ser um estágio inicial no desenvolvimento de comportamentos violentos mais graves. Bandura (1977) em sua teoria da aprendizagem social argumenta que a violência é um comportamento aprendido, e que o abuso de animais pode servir como um "treino" para futuros atos de violência contra seres humanos. Crianças que testemunham ou participam de abusos contra animais podem aprender a desvalorizar a vida e a empatia, habilidades cruciais para interações sociais saudáveis.
A compreensão dos vínculos entre a crueldade animal e a violência interpessoal é essencial para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e intervenção. Como destacado por Henry (2016), a intervenção precoce nos casos de crueldade animal pode ajudar a interromper a escalada da violência e proteger potenciais vítimas, incluindo animais e seres humanos. Dados empíricos corroboram essas teorias, um exemplo disso é um estudo realizado por Arluke, Levin, Luke e Ascione (1999) descobriu que 70% das pessoas que cometeram crimes violentos contra animais também tinham registros de outros crimes violentos. Outro dado alarmante vem da National Coalition Against Domestic Violence (NCADV), que relatou que 71% das mulheres em abrigos para vítimas de violência doméstica afirmaram que seus parceiros ameaçaram ou feriram seus animais de estimação como forma de controle e intimidação. Esses dados sugerem que a violência contra animais não é um comportamento isolado, mas parte de um padrão mais amplo de comportamento violento.
Os perpetradores dos maus-tratos a animais frequentemente exibem características de desordens psicológicas, como o transtorno de personalidade antissocial e psicopatia, um grande exemplo de um perpetrador de maus tratos aos animais na infância e que foi também um assassino em série no Brasil é o famoso Pedrinho Matador, que afirma que na sua infância matava pacas e macacos e bebia seu sangue, por pura diversão. 
As vítimas de maus-tratos a animais também sofrem abalos psicológicos muitas vezes, experimentam traumas significativos, que vai necessitar de um tratamento psicológico. Crianças que testemunham a violência contra seus animais de estimação podem sofrer de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade e depressão. Além disso, essas experiências podem moldar negativamente suas percepções sobre relações interpessoais e violência, potencialmente normalizando tais comportamentos.
O estudo das formas e consequências dos maus-tratos aos animais é essencial para entender a complexidade desse problema e suas ramificações para a sociedade. 
A crueldade animal não só causa sofrimento desnecessário aos animais, mas também representa um sério risco para a segurança pública e o bem-estar humano. Portanto, é fundamental adotar uma abordagem abrangente para prevenir e combater os maus-tratos aos animais, reconhecendo sua interconexão com outros tipos de violência e promovendo uma cultura de respeito e compaixão por todas as formas de vida.
A colaboração entre várias disciplinas, incluindo psicologia, criminologia, direito e serviço social, é essencial para abordar a complexa interseção entre maus-tratos a animais e violência interpessoal. Profissionais dessas áreas podem trabalhar juntos para desenvolver e implementar estratégias de prevenção, intervenção e tratamento mais eficazes.
A relação entre maus-tratos a animais e violência interpessoal é bem documentada e complexa. Compreender essa conexão é crucial para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e intervenção que protejam tanto os animais quanto os seres humanos. Investir em intervenção precoce, políticas robustas e colaboração interdisciplinar pode ajudar a quebrar o ciclo de violência e promover uma sociedade mais compassiva e segura para todos os seres vivos.
DESAFIOS NA PREVENÇÃO E PUNIÇÃO
Um dos principais desafios na luta contra os maus-tratos aos animais é a falta de conscientização sobre a gravidade do problema e sobre os direitos dos animais. Muitas pessoas ainda não reconhecem plenamente que os animais merecem ser tratados com dignidade e respeito, e que os maus-tratos a eles infligidos constituem uma séria violação de seus direitos. Como resultado, a complacência e a inação podem se instaurar, dificultando os esforços de prevenção e intervenção.
A prevenção e a punição penal dos maus-tratos aos animais enfrentam inúmeros desafios, apesar de avanços legislativos significativos. A efetiva implementação das leis e a conscientização da sociedade são pontos críticos que necessitam de atenção constante. Neste contexto, é fundamental analisar os principais obstáculos e propor soluções para a superação dessas barreiras. Conforme ressaltado por Liddick (2018), a falta de conscientização não só pode levar à perpetuação dos maus-tratos, mas também pode contribuir para a subnotificação de casos, uma vez que as vítimas podem não reconhecer o abuso ou sentir-se incapazes de denunciá-lo. É fundamental, portanto, promover campanhas de conscientização pública e programas educacionais que destaquem a importância do respeito aos direitos dos animais e incentivem a denúncia de casos de maus-tratos.
Um dos maiores desafios na prevenção e punição dos maus-tratos aos animais é a falta de recursos e infraestrutura adequados. Muitas vezes,as delegacias de polícia e os órgãos de fiscalização ambiental não possuem equipes especializadas ou equipamentos necessários para atender denúncias e investigar casos de crueldade animal. Conforme destaca Oliveira (2022), "a ausência de recursos adequados compromete a capacidade das autoridades de investigar e responder eficazmente aos casos de maus-tratos, deixando muitos incidentes sem a devida atenção".
Outro desafio persistente na luta contra os maus-tratos aos animais é a resistência cultural, em muitas sociedades, práticas arraigadas e crenças tradicionais perpetuam formas de crueldade que são consideradas normais ou aceitáveis por parte da população, essa resistência cultural dificulta os esforços para promover o bem-estar animal e implementar medidas eficazes de prevenção e punição.
As tradições culturais desempenham um papel significativo na forma como os animais são tratados em diferentes partes do mundo. Em algumas comunidades, atividades como touradas, rinhas de galos e festivais que envolvem o uso de animais são consideradas parte integrante da identidade cultural e são protegidas por leis ou toleradas pela sociedade.
Um exemplo claro de resistência cultural é as famosas vaquejadas, prática esportiva e cultural na qual um boi é solto em uma pista e dois vaqueiros, montados em cavalos, tentam derrubar o animal pelo rabo de todas as maneiras possíveis provocando o estresse do animal. Referida pratica foi considerada ilegal no Ceará em 2016, o tribunal considerou que a prática impõe sofrimento aos animais e, portanto, fere princípios constitucionais de preservação do meio ambiente e proteção da fauna. 
Após a decisão da Suprema Corte, o Congresso aprovou a emenda constitucional que liberou a vaquejada, considerando como não cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais. O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal afirmou na ação que a emenda promulgada pelo Congresso teve como motivação contornar a decisão do STF e que as vaquejadas são eventos causam danos aos animais.
 Conforme observado por Liddick (2018), "as atitudes culturais em relação aos animais variam amplamente, e em muitos lugares, o tratamento cruel de animais é visto como uma prática tradicional".
A resistência cultural pode influenciar a legislação e dificultar a implementação de leis de proteção animal. Em muitos casos, a pressão política e social de grupos que defendem práticas tradicionais impede a aprovação de medidas legislativas mais rigorosas ou compromete sua aplicação efetiva. Como destacado por Beirne (2004), "a legislação sobre maus-tratos aos animais muitas vezes reflete as normas culturais dominantes, o que pode resultar em lacunas na proteção legal".
Para superar a resistência cultural aos maus-tratos aos animais, é essencial investir em educação e sensibilização. Campanhas educativas que destacam o impacto negativo das práticas cruéis nos animais e na sociedade podem ajudar a mudar atitudes e comportamentos arraigados. Conforme ressaltado por Oliveira (2022), "a conscientização pública é fundamental para desafiar as percepções culturais arraigadas e promover uma mudança de mentalidade em relação ao tratamento dos animais".
Além da educação, o envolvimento comunitário é fundamental para abordar a resistência cultural aos maus-tratos aos animais. Trabalhar em parceria com líderes locais, organizações comunitárias e grupos religiosos pode ajudar a promover uma cultura de respeito e compaixão pelos animais. Como sugere Atayde (2022), "o engajamento da comunidade é essencial para desafiar as normas culturais prejudiciais e promover práticas mais humanitárias".
A resistência cultural aos maus-tratos aos animais é um desafio complexo que requer uma abordagem multifacetada. Através da educação, sensibilização e envolvimento comunitário, é possível promover uma mudança de mentalidade e construir uma sociedade mais compassiva e consciente do bem-estar animal.
DIFICULDADES NA APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO
Um desafio significativo na prevenção e punição dos maus-tratos aos animais é a aplicação eficaz da legislação existente. Embora muitos países possuam leis que proíbem explicitamente os maus-tratos aos animais, a eficácia dessas leis pode ser comprometida por uma série de fatores. Dentre eles, destacam-se a falta de recursos e de treinamento adequado para os profissionais envolvidos na aplicação da lei, bem como a falta de cooperação entre as agências responsáveis pela fiscalização e punição dos infratores.
A interpretação inconsistente da legislação também pode ser um obstáculo à efetiva aplicação da lei, levando a disparidades na identificação e punição dos agressores. Conforme apontado por Podberscek et al. (2000), a falta de clareza nas definições legais de maus-tratos pode gerar confusão e dificultar a identificação e persecução dos infratores. Portanto, é essencial investir em programas de capacitação para os profissionais da área jurídica e da aplicação da lei, garantindo que eles estejam devidamente preparados para lidar com casos de maus-tratos aos animais de forma eficaz e consistente;
Na era moderna, os animais de estimação são classificados como membros da família para boa parte da população, porém ainda há rejeição por parte de certa parte da sociedade, segundo a World Veterinary Association (2016), existem cerca de 200 milhões de cães abandonados no mundo e, no Brasil, 30 milhões de animais vivem em estado de abandono. As denúncias de abandono são variadas, como, por exemplo, o fato de estarem doentes, idosos, o custo para manter estes animais e até mesmo o fato de já não verem mais utilidade para os animais. 
É oportuno falar de um caso ocorrido em 2021, quando o Tribunal de Justiçado Estado do Paraná reconheceu a capacidade dos animais serem parte de demandas judiciais, um avanço histórico na efetivação dos direitos dos animais no que tange a área judicial, a ação foi ajuizada pelas advogadas Evelyne Paludo e Waleska Mendes Cardoso, da ONG Sou Amigo, em nome de Spyke, um golden retriver, e Rambo, um pointer – ambas vítimas de maus-tratos comprovados, o caso tramita sob autos de nº 0059204- 56.2020.8.16.0000 no Tribunal de Justiça do Paraná, sendo decidido pela 7º Camêra Cível, no dia 23/09/2021 (TJ-PR, 0059204-56.2020.8.16.0000, 2021). 37 Em 2017, a corte não conheceu de pedido de habeas corpus de nº 393.747 (STJ, HC 393747/RJ, 2017) que solicitava a redução da pena-base para um homem condenado a três anos e dois meses de detenção em regime inicial semiaberto em razão de tratamento cruel de três cavalos. Segundo os autos, os animais eram vítimas decorrentes de maus-tratos, que culminaram na morte de um cavalo. O relator, ministro Jorge Mussi, destacou que a jurisprudência do STJ autoriza a fixação da pena-base acima do mínimo legal, quando fundamentada com elementos concretos extraídos dos autos. Nesse contexto, conclui-se que as penas passaram a ser tratadas de uma forma mais severa, alterando a forma de julgamento de diversos outros processos. 
Esse caso foi um marco vanguardista. Por não existir no Brasil nenhum dispositivo de lei que garanta a possibilidade de um animal ingressar em juízo e reivindicar direitos como pessoa humana, esse precedente que saiu do Tribunal de Justiça do Paraná é vanguardista por assegurar que isso pode acontecer" (Wolf, 2024).
Por esse motivo, é importante conscientizar o público de que não haverá proteção real aos animais, desde que não haja sanções para coibir a crueldade e medidas que visem a efetivação destas sanções, como por exemplo a instituição de delegacias voltadas para a proteção exclusiva do meio-ambiente e animais em todos os municípios brasileiros. 
Além disso, há uma escassez de recursos e treinamento especializado para os profissionais que lidam com esses casos. Muitas delegacias e autoridades locais não possuem equipes capacitadas para investigar e processar adequadamente crimes contra animais, principalmente em regiões menores onde se trabalham um número restrito de autoridades, como nos interiores das cidades.Isso leva a uma investigação superficial e, muitas vezes, à impunidade dos agressores. Arluke et al. (1999) destacam que "há uma correlação direta entre a crueldade para com os animais e outros comportamentos antisociais”, o que sublinha a importância de uma intervenção adequada e bem-informada.
Outro desafio significativo é a falta de conscientização e sensibilidade da sociedade em relação à gravidade dos maus-tratos aos animais. Apesar de avanços em campanhas educativas, ainda existe uma parcela considerável da população que não reconhece a crueldade contra animais como um problema sério. Bandura (1977) argumenta que "a violência é um comportamento aprendido por meio de processos de imitação e reforço”. Portanto, atitudes permissivas ou indiferentes em relação à crueldade animal podem perpetuar ciclos de violência mais amplos.
A fragilidade das penas previstas na legislação atual também é uma questão crítica. Embora o Art. 32 da Lei de Crimes Ambientais preveja penas para quem praticar atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais, muitas vezes essas penas são consideradas leves. O artigo estabelece que a pena é "detenção, de três meses a um ano, e multa" , o que não reflete a gravidade do crime em muitos casos. Esse aspecto pode desincentivar a denúncia e a perseguição judicial dos casos de maus-tratos.
Por fim, a integração insuficiente entre as diversas esferas de governo e as ONGs que atuam na proteção animal dificulta a implementação de ações coordenadas e eficazes. A Presidente da Associação Protetora e Amiga dos Animais (ASPAAN), Lessandra Maione, ressalta a importância do trabalho conjunto: "trabalhamos em projetos de educação, participamos de comitês de ética e colaboramos com instituições como o Ministério Público e Meio Ambiente”. A falta de uma abordagem integrada pode resultar em esforços fragmentados e menos eficazes na proteção dos animais.
Superar essas dificuldades exige um compromisso contínuo e coordenado entre governo, autoridades policiais, ONGs e a sociedade civil. É essencial investir em educação e conscientização, aumentar os recursos e treinamentos para os profissionais envolvidos, fortalecer as punições previstas na legislação e fomentar uma maior colaboração entre todas as partes interessadas. Somente assim poderemos garantir que a legislação de proteção animal seja efetivamente aplicada e que os direitos dos animais sejam respeitados e protegidos. Necessário se faz a criação políticas que sejam capazes de alertar e conscientizar toda a população de que os animais possuem direitos e merecem ser amparados pela lei, sendo tratando como um ser digno.
SUBNOTIFICAÇÃO DE CASOS
A subnotificação de casos de maus-tratos aos animais é um problema grave que prejudica a avaliação precisa da extensão do problema e a implementação de medidas eficazes de prevenção e intervenção. Muitas vítimas de abuso animal sofrem em silêncio, com medo de represálias ou por falta de confiança nas autoridades. Além disso, a falta de conscientização sobre os recursos disponíveis e sobre os direitos dos animais pode contribuir para a subnotificação, uma vez que as vítimas podem não saber onde buscar ajuda ou como denunciar os abusos sofridos.
A subnotificação de casos é um problema complexo e multifacetado que impede a implementação eficaz de políticas de proteção animal e a promoção do bem-estar animal. Este fenômeno ocorre por diversas razões, incluindo a falta de conscientização pública, a escassez de recursos para monitoramento e denúncia, além de lacunas nas estruturas legais e institucionais. A análise dessa questão é essencial para entender os desafios enfrentados na proteção dos animais e para desenvolver estratégias que possam melhorar a detecção, a denúncia e a punição de tais crimes.
Um dos principais fatores que contribuem para a subnotificação é a falta de conscientização e educação sobre os direitos dos animais e o que constitui maus-tratos. Muitas pessoas não estão cientes de que certas práticas comuns, como manter animais em espaços inadequados ou negar-lhes cuidados veterinários, configuram maus-tratos. Além disso, a ausência de programas educativos robustos nas escolas e na comunidade sobre a importância do bem-estar animal contribui para a perpetuação da ignorância e da negligência, o medo de retaliação também desempenha um papel significativo na subnotificação. Indivíduos que testemunham maus-tratos frequentemente hesitam em denunciá-los por medo de represálias dos perpetradores, especialmente em comunidades pequenas ou rurais onde todos se conhecem, esse medo é exacerbado pela percepção de que as autoridades não tomarão medidas efetivas ou que as denúncias serão tratadas com indiferença.
A falta de recursos e de estruturas adequadas para lidar com denúncias de maus-tratos é outro obstáculo significativo. Muitas vezes, órgãos responsáveis pela proteção animal, como as delegacias especializadas e as organizações de bem-estar animal, operam com recursos limitados e enfrentam dificuldades logísticas para investigar e responder às denúncias. Essa limitação impede uma resposta rápida e eficaz, desestimulando as pessoas a reportarem casos de maus-tratos.
Barreiras culturais e sociais também contribuem para isso, em algumas culturas, o tratamento cruel dos animais pode ser considerado aceitável ou tradicional, o que dificulta a mudança de atitudes e comportamentos. Além disso, a falta de empatia e a desvalorização da vida animal podem levar as pessoas a não verem a necessidade de denunciar abusos.
A subnotificação de casos de maus-tratos tem várias consequências graves. Em primeiro lugar, permite que os abusadores continuem suas práticas impunes, perpetuando o ciclo de violência e sofrimento. Além disso, a falta de dados precisos sobre a incidência de maus-tratos dificulta a formulação de políticas públicas eficazes e a alocação de recursos adequados para a proteção animal. Sem uma compreensão clara da extensão do problema, é impossível desenvolver estratégias de intervenção adequadas.
Em grandes centros urbanos, a subnotificação de casos de maus-tratos é particularmente problemática. Apesar da maior conscientização e da presença de organizações de proteção animal, muitos casos ainda não são reportados devido à desconfiança nas autoridades ou à percepção de que os recursos de proteção estão sobrecarregados. Por exemplo, em muitas cidades, os abrigos para animais operam além de sua capacidade, o que desencoraja a denúncia de novos casos por medo de que os animais não possam ser adequadamente acolhidos e tratados.
Nas comunidades rurais, a subnotificação é exacerbada por fatores como a falta de acesso a serviços de proteção animal e a prevalência de práticas tradicionais que não são vistas como abusivas. A distância geográfica e a falta de infraestrutura adequada dificultam a investigação e a intervenção em casos de maus-tratos, resultando em muitos casos não denunciados e não resolvidos.
Fortalecer as estruturas de denúncia é crucial para aumentar a taxa de notificação. Isso pode incluir a criação de linhas diretas anônimas para denúncias, o treinamento de policiais e outros funcionários públicos para lidar com casos de maus-tratos e a alocação de mais recursos para as delegacias especializadas em crimes contra animais. Facilitar o processo de denúncia e garantir a proteção dos denunciantes pode ajudar a superar o medo de retaliação.
A implementação de leis mais rígidas e a garantia de que elas sejam aplicadas efetivamente também são fundamentais. Isso inclui penas mais severas para crimes de maus-tratos e a garantia de que os infratores sejam levados à justiça. A aplicação rigorosa das leis pode servir como um dissuasor para potenciais abusadores e demonstrar à comunidade que os maus-tratos aos animais são levados a sério.
Colaborar com ONGs e comunidades locais pode ajudar a identificar e resolver casos de maus-tratos mais rapidamente. As ONGs muitas vezes têm o conhecimento e os recursos para ajudar na investigação e na intervenção, enquanto as comunidades locais podem fornecerinformações valiosas e apoio. Trabalhar em parceria pode aumentar a eficácia das respostas a denúncias e melhorar o bem-estar animal.
A subnotificação de casos de maus-tratos aos animais é um desafio significativo que requer uma abordagem multifacetada para ser superado. Educação, conscientização, fortalecimento das estruturas de denúncia, implementação de leis mais rígidas e colaboração com ONGs e comunidades são estratégias essenciais para abordar esse problema. Ao enfrentar a subnotificação de maneira eficaz, podemos proteger melhor os animais e promover uma sociedade mais justa e compassiva.
Para combater a subnotificação de casos, é fundamental promover uma cultura de denúncia e responsabilização, garantindo que as vítimas se sintam seguras e apoiadas ao relatar os maus-tratos sofridos. Isso pode envolver a criação de linhas diretas de denúncia, a disponibilização de recursos de apoio às vítimas e o desenvolvimento de programas de conscientização pública sobre os direitos dos animais e os serviços disponíveis para protegê-los.
 ESTRATÉGIAS PARA SUPERAR OS DESAFIOS
Para superar os desafios na prevenção e punição dos maus-tratos aos animais, é necessário adotar uma abordagem abrangente e colaborativa que envolva múltiplos setores da sociedade. Estratégias como campanhas de conscientização pública, programas educacionais sobre bem-estar animal e treinamento para profissionais da aplicação da lei podem ajudar a aumentar a conscientização sobre o problema e fortalecer a capacidade de identificação e punição dos infratores.
Como afirmou Nelson Mandela, 'A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo' (Mandela, 2003).", por isso é essencial que a conscientização sobre os direitos dos animais comece desde cedo, principalmente nas escolas, onde crianças podem aprender sobre a importância de tratar os animais com respeito e dignidade. Podem ser ofertadas campanhas de conscientização pública, utilizando mídias sociais, televisão e outros meios de comunicação, também são fundamentais para educar a população sobre os maus-tratos e como denunciá-los.
No ano de em 2023 foi proposto na Câmara de deputados proposta de projeto que tornaria obrigatório estudo de Direito Animal em escolas de ensino fundamental e médio, o Projeto de Lei 815/23 conceitua Direito Animal como a disciplina da área de ciências humanas e sociais aplicadas dedicada a estudar os animais não humanos como sujeitos de direitos, reconhecendo a sua natureza biológica e emocional, bem como a sua senciência (capacidade de sentir). 
Conforme o texto proposto na redação do Projeto de Lei, os conteúdos referentes a Direito Animal serão ministrados em todo o currículo escolar, essa medida é inserida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
É imprescindível tornar obrigatório o estudo da disciplina Direito Animal, tomando como norte a compreensão e o respeito do ambiente natural como indispensável para a vida em sociedade, bem como o fortalecimento dos laços de solidariedade humana em prol da preservação do meio ambiente, na busca de uma sociedade mais justa e solidária, defendeu o deputado Célio Studart (PSD-CE), autor da proposta (Agência Câmara de Notícias, 2022).
Além disso, é fundamental fortalecer as leis existentes de proteção animal, garantindo que sejam claras, abrangentes e aplicáveis. Isso pode incluir a revisão periódica das legislações, o aumento das penalidades para os infratores e o estabelecimento de medidas de proteção e assistência para as vítimas de maus-tratos. Embora existam leis que protejam os animais, muitas das vezes elas não são rigorosamente aplicadas, deverão ser estudadas criação de legislações mais severas e específicas, que contemplem punições exemplares para os infratores, além disso, é importante que haja um sistema de monitoramento e fiscalização eficiente para garantir que essas leis sejam cumpridas.
Os desafios na prevenção e punição dos maus-tratos aos animais são complexos e multifacetados, mas não são insuperáveis. Com o comprometimento e a colaboração de governos, organizações da sociedade civil, profissionais da aplicação da lei e cidadãos engajados, é possível promover uma abordagem mais eficaz na proteção dos animais contra a crueldade e na promoção do bem-estar animal. Investir na conscientização, capacitação e fortalecimento das leis de proteção animal é essencial para garantir que os direitos dos animais sejam respeitados e protegidos em toda a sua plenitude.
O envolvimento da comunidade é vital e importante para combater os maus-tratos aos animais. Grupos de voluntários e ONGs podem desempenhar um papel crucial, resgatando animais em situação de risco, promovendo campanhas de adoção responsável e oferecendo abrigo temporário. A comunidade deve ser incentivada a participar ativamente, com denúncias contra casos de abuso e maus-tratos. 
Médicos veterinários, policiais, agentes de saúde e outros profissionais que lidam diretamente com animais e seres humanos devem receber treinamento específico sobre como identificar e lidar com casos de maus-tratos. Esse conhecimento técnico é essencial para garantir que os animais recebam o tratamento adequado e que os casos de abuso sejam devidamente investigados e punidos.
A colaboração entre diferentes setores da sociedade pode amplificar os esforços para proteger os animais e as parcerias entre governos, ONGs, instituições acadêmicas e o setor privado podem resultar em programas e iniciativas mais abrangentes e eficazes. Por exemplo, programas de castração e vacinação em massa podem ser realizados em parceria com clínicas veterinárias e universidades.
Uma maneira de combater o abandono e os maus-tratos é promover a adoção responsável, principalmente de animais em situação de rua, as campanhas de adoção devem ser acompanhadas de orientações sobre os cuidados necessários para manter os animais saudáveis e felizes. Além disso, a castração deve ser incentivada para controlar a população desses animais.
Por fim, talvez o mais importante seja incentivar a empatia. Animais, assim como humanos, sentem dor, medo e alegria. Cultivar a empatia nas pessoas, ajudando-as a entender e respeitar as emoções e necessidades dos animais, é um passo fundamental para criar uma sociedade mais justa e compassiva.
Esse caminho de superação requer a união de educação, legislação, envolvimento comunitário, capacitação profissional, parcerias estratégicas e promoção da empatia. Ao adotar essas estratégias de forma integrada e comprometida, podemos construir um futuro onde os animais sejam tratados com o respeito e a dignidade que merecem. Cada ação conta, e juntos podem ser feitas a diferença.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término desta monografia, é possível perceber a complexidade e a urgência em lidar com a questão dos maus-tratos aos animais. Ao longo deste estudo, exploramos diversas dimensões desse problema, desde suas definições legais até suas formas, consequências e os desafios enfrentados na prevenção e punição. Ficou claro que os maus-tratos aos animais não são apenas uma questão moral, mas também uma preocupação de saúde pública, segurança e bem-estar social. A violência contra os animais reflete não apenas uma falta de empatia e respeito pelas criaturas vivas, mas também pode ser um indicador de comportamento violento e desequilíbrios sociais mais amplos.
As formas de maus-tratos aos animais são variadas e abrangem desde a negligência até a crueldade explícita. Esses atos de violência têm sérias consequências não apenas para os animais diretamente afetados, mas também para a sociedade em geral. Os animais vítimas de maus-tratos frequentemente sofrem danos físicos, emocionais e psicológicos que afetam sua qualidade de vida e sua capacidade de interagir com humanos e outros animais.
Além disso, há uma clara correlação entre a crueldade animal e a violência interpessoal. Indivíduos que cometem atos de crueldade contra animais têm maior probabilidade de apresentar comportamento violento em relação a outros seres humanos. Portanto, a prevenção dosmaus-tratos aos animais não é apenas uma questão de proteger os animais, mas também de proteger a sociedade como um todo.
No entanto, apesar da gravidade desse problema, enfrentamos uma série de desafios na prevenção e punição dos maus-tratos aos animais. A falta de conscientização sobre o problema, as dificuldades na aplicação da legislação existente e a subnotificação de casos são apenas algumas das barreiras que dificultam a eficácia dos esforços de proteção animal.
Para superar esses desafios, é necessário um esforço coordenado e colaborativo que envolva governos, organizações da sociedade civil, profissionais da aplicação da lei e a sociedade em geral. Campanhas de conscientização pública, programas educacionais, treinamento para profissionais da área jurídica e da aplicação da lei, bem como medidas de proteção e assistência para as vítimas de maus-tratos, são algumas das estratégias que podem ser adotadas para promover uma cultura de respeito e compaixão por todas as formas de vida.
Em última análise, este estudo visa contribuir para uma maior conscientização e ação em prol dos direitos dos animais, inspirando mudanças individuais e coletivas que promovam o bem-estar dos animais e da sociedade como um todo. Somente através do reconhecimento e da proteção dos direitos dos animais podemos construir um futuro mais justo, compassivo e sustentável para todas as espécies.
Ao longo do presente trabalho buscou-se apresentar fundamentos que condizem com a proposta defendida, sendo esta, a possibilidade de os animais domésticos terem sua tutela efetivada e garantida pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, em especial no Código Penal, inserido nessa temática, defende-se que os animais são seres passíveis de direitos, afastando a ideia de que o animal doméstico é apenas um meio para determinado fim. No decorrer do trabalho foi possível observar que desde os tempos passados o ser-humano utilizava os animais visando apenas o seu próprio ganho, com a ideia de que o homem é superior as demais espécies. Com a evolução da sociedade, felizmente, esse pensamento foi se alterando por pessoas que começaram a lutar pelos direitos dos animais. 
No Brasil, são inúmeros os casos de maus-tratos contra os animais, fazendo assim com que tenha a reformulação e criação de novas leis que defendam os animais. Já existem doutrinas que reconhecem os animais domésticos como sujeitos de direitos, porém, para os códigos de leis os animais ainda são considerados seres semoventes.
 Oportuno falar que já tramita no senado o Projeto de Lei 27/2018, que visa alterar a natureza jurídica dos animais. Ressalta-se a necessidade de o ordenamento jurídico Brasileiro estar acompanhado das mudanças jurídicas que ocorrem em todo o mundo, onde grande parte dos países já garantem a proteção efetiva dos animais. 
Garantia esta elencada em nossa Constituição Federal de 1988, que reconhece o valor do animal, e reforçada por outros dispositivos de lei, como a lei de Crimes Ambientais Nº 9.605/1988, e a Lei Federal nº 14.064/2020 “Lei Sansão”. Observa-se que embora existam inúmeros dispositivos de leis voltados para a defesa dos animais, sua eficácia é relativamente baixa, pois ainda ocorre um grande número de crimes de maus-tratos, onde boa parte das demandas são deixadas de lado pelo sobre carregamento policial, ou muitas 39 vezes pela falta de fiscalização contra os animais domésticos e até mesmo pelo descaso para com os animais. Nessa temática, é imprescindível que o homem saiba conviver respeitosamente com os animais, respeitando as leis e as dinâmicas estabelecidas pela vivência em sociedade para o melhor funcionamento de nossas cidades. É extremamente necessário o desenvolvimento de ações de conscientização dos direitos dos animais, novas políticas públicas de defesa e proteção aos animais, auxiliando as associações no combate ao abandono e maus-tratos, buscando um meio ambiente equilibrado e a convivência harmoniosa entre as espécies
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