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DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA Prof.a Nathália Delgado B. da Silva DIDÁTICA Marília/SP 2022 “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 SUMÁRIO CAPÍTULO 01 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO 09 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 13 08 21 31 38 47 55 63 75 82 92 100 110 119 A DIDÁTICA E SUAS ORIGENS: CONTEXTO GERAL A DIDÁTICA E SUAS ORIGENS: CONTEXTO BRASILEIRO DIDÁTICA: CONCEITOS E CONCEPÇÕES ATUAIS A DIDÁTICA E O PAPEL DO PROFESSOR TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E SEUS REFLEXOS NA DIDÁTICA: PARTE I TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E SEUS REFLEXOS NA DIDÁTICA: PARTE II A DIDÁTICA E SEUS PRESSUPOSTOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS DE DIDÁTICA E EDUCAÇÃO INFANTIL A DIDÁTICA E SEUS PRESSUPOSTOS NO ENSINO FUNDAMENTAL SALA DE AULA E DIDÁTICA PRÁTICAS DIDÁTICAS PRÁTICAS DIDÁTICAS ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO REMOTO DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 SUMÁRIO CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 15 129 138 PORQUE A DIDÁTICA ESTÁ AQUI? FINALIZANDO DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 INTRODUÇÃO Olá querido aluno! Eu sou a professora Nathália e irei te acompanhar na presente disciplina! Te garanto desde já que ela é muito importante para a sua formação profissional e também pessoal! Nós vamos refletir bastante, ok? Problematizar, criticar, apontar, pois o meu intuito é que você tenha contato com os conteúdos formais, porém, que saiba articulá-los com a sua prática, experiências pessoais e conhecimentos prévios! Com toda a certeza você já ouviu a palavra didática por aí…ela está bem presente na nossa realidade como um todo, ultrapassando os limites da educação. Isso é interessante e o melhor ainda é que você verá, no decorrer da disciplina, que tem muito a aprender, pois esse campo de estudos está muito além de sua concepção no senso comum. A didática é ampla e complexa, não é só uma técnica! Você irá estudar o seu surgimento histórico a nível macro, contextualizando no decorrer do mundo e também de nosso país. Posteriormente, refletirá o conceito de didática em sua concepção atual, que, aliás, será a base de toda a disciplina. Para além deste conhecimento básico, conhecerá as tendências pedagógicas, que também trazem elementos didáticos próprios e peculiares. De modo específico, entenderemos os pressupostos didáticos para a educação infantil e ensino fundamental, refletindo estratégias, ferramentas, conteúdos, organização do trabalho do professor e alunos frente a estes contextos. Articulando teoria e prática, conheceremos algumas práticas didáticas que são vivências diferenciadas em sala de aula com possibilidades para diferentes níveis de ensino. Já ouviu falar em sequência didática ou aula aberta? São alguns exemplos do que iremos estudar! Para finalizar falaremos sobre o ensino remoto, uma realidade presente e necessária na nossa educação! A didática também está presente neste contexto, que aliás é muito rico! Aproveitem a disciplina, tenho certeza que ela irá te surpreender, além de garantir bases importantíssimas para toda a sua formação profissional e acadêmica! Prof.Dra. Nathália Delgado DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 CAPÍTULO 1 A DIDÁTICA E SUAS ORIGENS: CONTEXTO GERAL 1.1 Introdução Você sabia que é recente a escola como espaço formalizado para transmissão do saber? Damis (2014) aponta que a instituição deste espaço como direito do cidadão, dever do Estado e transmissor de um conhecimento sistematizado, ocorreu aproximadamente, a pouco mais de dois séculos. Precisamos entender essa parte da história, para posteriormente situar a didática nesse contexto. Afinal, já vou te adiantar que ela relaciona-se com educação, escola e processo ensino aprendizagem. Mas, com toda a certeza é bem mais ampla do que você acredita que ela seja ou que comumente é mencionada no senso comum. Nesta primeira aula nós vamos discutir e entender o processo de origem da didática, indo de seus primórdios até meados da década de 1990. Aproveitem o aprendizado! Boa aula!!! 1.2 Breve histórico Na Antiguidade e Idade Média a divisão de trabalho pautava-se em trabalho escravo, homens livres ou nobres e tratando-se da educação, era um privilégio restrito a poucos. Aliás, a educação neste contexto visava transmitir as visões de mundo que atendiam às necessidades da época, buscando desenvolver habilidades de organização racional do pensamento e de erudição. Nestes períodos, os nomes marcantes e que estudamos até os dias atuais, são de Sócrates, Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino. Cada um com seus pressupostos, desenvolveram e difundiram concepções de educação. Vale ressaltar que na Idade Média havia o predomínio da visão cristã, assim, a educação enfatizou a formação do homem como ser imperfeito em busca da perfeição, visando retirá-lo da condição de pecador e levando-o à salvação da alma. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 A autoridade moral, filosófica e religiosa do mestre, a disciplina e a verdade religiosa transmitidas tinham como referência uma visão de Deus que premiava os bons com o céu e castigava os maus com o inferno. Os princípios fundamentais desse modelo de educação podem ser encontrados, por exemplo, na obra de Santo Tomás de Aquino e na Ratio Studiorum dos jesuítas (DAMIS, 2014, p.16). Como o nosso foco é a didática, vamos nos ater aos seus elementos no histórico da educação. Em 1657, no contexto de transição da sociedade feudal, Comênio escreveu a Didáctica Magna que até hoje é um marco entre seus escritos, isto porque, ficou conhecida como um tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. Mas quem foi o Comênio? Ele era bispo, professor e reitor, criticava o dogmatismo da igreja católica e da sociedade que perseguiu o protestantismo. Para ele, a causa das guerras das chagas da humanidade é a ignorância humana, e o remédio para a cura será encontrado na educação de todos os povos (DAMIS, 2014, p. 16). Na imagem abaixo, você pode conhecer o Comênio, o pai da Didática! Título: Comênio Fonte:novaescola.org.br É importante compreender quem era Comênio, pois isso interfere diretamente em sua visão acerca da educação e consequentemente, da didática. Posteriormente ele tornou-se o “pai da didática”, justamente por, naquele momento, trazer algo que era inovador e inserir essa temática na discussão. Quando falamos em didática o seu nome sempre está atrelado! Aliás, você verá nas aulas a palavra “Comênio”, “didática” e “Didática Magna”, escritas de diferentes maneiras pois respeitamos a forma que os autores a registraram. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 Analisando a Didáctica Magna após todo o avanço sobre o tema, hoje vemos que ela foi inovadora, porém, limitada, pois o conceito de didática, como vocês verão no decorrer das aulas, é bem mais amplo, não restringindo-se a formasde ensinar, conforme exposto e refletido neste escrito. A concepção de didática anunciada na sua obra, veicula-se ao processo de instruir, desta forma, a Didáctica Magna buscou estruturar um método para reformar a escola e criticar as práticas educativas vigentes, no entanto, vale ressaltar, que não desvincula- se da base religiosa que marca esta época. Segundo Albuquerque (2002) a Didática Magna expressa duas principais características: preocupação da reforma da fé cristã e surgimento dos tempos modernos. Para a autora, os escritos deste livro a partir do princípio de ensinar tudo a todos, visa economia de tempo e fadiga, ou seja, o fim do mundo está próximo e por isso é necessária a conversão verdadeira de todos os homens. E por qual motivo a didática articula-se com tais pressupostos? A didática que se baseava, para Comenius, numa piedade profunda, servia, por outro lado, para a consolidação do projeto de uma burguesia como classe em ascendência. Racionalidade, eficiência e procedimentos seguros para atingir metas propostas são princípios norteadores do modo de produção burguês (ALBUQUERQUE, 2002, p. 40). A autora vai além, mencionando ainda, que a burguesia abandonou a fundamentação teológica da didática magna e se apropriou de seus procedimentos didáticos- metodológicos para atingir as suas próprias finalidades. Ou seja, fez uso de acordo com seus interesses, mesmo que limitando suas nuances. Independente das visões acerca da Didática Magna, é relevante situar e que você compreenda que ela foi um marco histórico, bem como, destinava à didática o papel de instrução, propondo uma reforma da escola, do ensino e da cristandade. Segundo escritos do próprio Comênio: A proa e a popa da nossa Didáctica será investigar e descobrir o método segundo o qual o professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais: nas escolas haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil, e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atractivo e mais sólido progresso; Na cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, mais paz, mais tranquilidade (COMÊNIO, 1976, p. 44 apud DAMIS, 2014, p. 17). DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Para ele, a escola é uma oficina de homens, devendo encaminhar os alunos para a instrução e bons costumes. Quando trata da arte de ensinar tudo a todos, ele apoia- se nas letras, nas ciências, nas virtudes e nas religiões. Ao compreender a escola e o processo ensino aprendizagem, Comênio articula suas práticas as da natureza comparando o professor ao jardineiro por exemplo, propondo que este deve semear habilmente na mente dos jovens as sementes que vão ensinar e assim regar as suas plantas. É uma figura de linguagem que coloca os alunos em processo de construção de conhecimento e o professor como responsável como tal. Conforme mencionado, a Didática Magna criticava as práticas educativas de seu tempo, propondo um tratado universal de ensinar tudo a todos! Pensando com a cabeça de hoje, será que isso é possível? Vamos problematizar a ideia de Comênio? Ao modo que ele propõe algo visando ensinar “tudo a todos”, ele insere os indivíduos nos mesmos pressupostos, ou seja, como se fosse possível estabelecer uma receita universal que atendesse as diferentes especificidades. Se ele estivesse certo, nossos problemas estariam acabados, não é? Era só aplicar o seu manual e não haveria mais problemas de aprendizagem, dentre tantos outros. Outra questão a ser refletida: é saudável inserir todos os alunos nas mesmas práticas de aprendizagem? Hoje já constatamos que há aqueles que possuem mais facilidade de aprender pela via oral, outros pela via visual, dentre outros. Quando eu penso em uma prática única, eu estou desconsiderando estas especificidades, de modo a exigir que todos aprendam da mesma maneira. Essa realidade não é muito diferente do que acontece hoje nas realidades escolares, mas ainda que haja um padrão existe o entendimento das especificidades e o compromisso em considerá-las. Estas reflexões são relevantes para que a gente tenha o senso crítico sobre os escritos do Comênio, mas, é importante reforçar o quanto eles foram importantes naquele contexto histórico. E por este motivo tornou-se um marco. Quando falamos da didática no senso comum, por exemplo, mesmo sem estar na Área da educação e afins, ela é vinculada com maneiras de ensinar, com receitas, fórmulas e manuais. Isto é consequência, deste histórico, que a fez surgir com essa finalidade. Este entendimento está errado? Não! Como vocês verão no decorrer da disciplina, a didática associa-se a esta nuance, mas, ela não para por aí, o seu conceito é mais ampliado! Mas vamos com calma, ok? O seu conhecimento sobre a didática vai sendo construído e aprimorado no decorrer das aulas. Outro nome marcante da época, especificamente no século XVIII, foi de Rousseau. Ele estabelece críticas ao Comênio, apontando que seus ensinamentos serviram à DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 burguesia a partir de suas adaptações e vai além, possuindo um conceito de educação diferente do autor supracitado. Para Rousseau, a educação nos deve dar tudo o que não temos ao nascer e de que necessitamos quando adulto, nunca ultrapassando ou antecipando o desenvolvimento natural do homem (DAMIS, 2014, p. 22). A partir destes elementos, há os seguintes princípios didáticos: 1) Respeitar o desenvolvimento natural dos indivíduos; 2) Controlar as influências dos homens, interferindo o mínimo possível; 3) Não impor conteúdos, mas arranjar situações em que o aluno tenha possibilidade de descobrir por conta própria. Ao modo que considera o desenvolvimento natural dos indivíduos, as influências externas ficam em segundo plano, fator mais evidente no segundo item, onde é dito de forma direta acerca do controle das influências. O terceiro item pode ser bastante controverso, pois aponta para o aprendizado espontâneo, ou seja, não há a imposição de conteúdos, de modo que o professor crie situações para que o aluno faça descobertas. Ao modo que insere os conteúdos em segundo plano, há a relativização da relevância dos conteúdos escolares, por este motivo esse item torna-se polêmico. Mas, daí a importância da gente explorar diferentes vertentes, para também refletir por várias perspectivas. Nesta perspectiva, o indivíduo vai se educando de forma autônoma, de modo que haja a menor interferência possível, pois, em primeiro plano é valorizado o seu desenvolvimento natural. Vamos conhecer o Rousseau? Título:Rousseau Fonte: infoescola.com.br DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 Uma questão para a gente refletir neste momento: será que não podemos respeitar o desenvolvimento e ao mesmo tempo trazer os conteúdos escolares em primeiro plano? Ou até mesmo, respeitar o desenvolvimento e ainda assim interferir no processo ensino aprendizagem? Tais indagações são para que você reflita os itens também com posicionamentos diferentes. Neste momento, não estamos discutindo o que é certo ou errado, mas problematizando, pensando sobre as questões. O histórico vai mostrar a valorização de diferentes perspectivas, por isso é relevante conhecê-lo. As reflexões atuais sobre a didática, nada mais são do que fruto do seu processo de construção! Cada perspectiva traz um pano de fundo diferente acerca da educação e seus elementos. Desta maneira, reparem que há diferentes questões que ficam em primeiro ou segundo plano no processo ensino aprendizagem. Ao modo que os meios de produção vão ficando mais complexos e o capitalismo vai tornando-se cada vez mais sólido, as relações sociais e de trabalho vão modificando- se e consequentemente as relações na escola também. Damis (2014) aponta que as relações de trabalho caminham agora para instituir uma sociedade voltada para a produtividade e o consumo. Destamaneira, se na Idade Média a educação escolar era privilégio da igreja e atendia às suas necessidades, neste contexto posterior, a Educação entra como dever do Estado e direito do cidadão. O conhecimento científico passa a tornar-se evidência, antagonizando com o conhecimento que antes era de base religiosa. Um nome que marcou este contexto foi o de Herbart, sendo considerado o pai da ciência moderna da educação. Aliás, ele iniciou o processo de sistematização da ciência pedagógica. Nesse momento, a conversão da prática educativa em ciência formal tem seu fundamento na atividade subjetiva do homem e suas bases teóricas encontram-se nos estudos de psicologia e filosofia [...] A ação pedagógica, por meio da atividade subjetiva da criança, penetra no mais íntimo de formação do espírito de um ser que vem ao mundo desprovido de vontade e incapaz de decidir sobre suas ações (DAMIS, 2014, p. 19). O escrito acima enfatiza o papel da ciência como fundamento na educação, além de também expor o entendimento acerca das relações adulto e criança no processo ensino aprendizagem. Herbart insere a figura do adulto como primordial, inserindo a educação moral como responsável por desenvolver a alma da criança. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 Fazendo uma ponte entre esse posicionamento e o anterior, há uma diferença clara e que neste momento você precisa comparar: enquanto Rousseau aponta para o desenvolvimento natural do indivíduo, Herbart traz a figura do adulto como primordial ao tratar da criança, ou seja, ele pode até considerar as questões próprias do indivíduo, mas, em primeiro plano pontua uma relação externa para o favorecimento da aprendizagem. O autor justifica que a criança e seu desenvolvimento do caráter possui três estágios, sendo eles: 1) sensação e percepção; 2) memória e imaginação; 3) julgamentos e conceitos universais. A partir de tal entendimento, o ensino herbartiano colocará maior ênfase na literatura e na história, sendo papel do educador tornar claras as representações que são trazidas à mente do aluno, de modo a: [...] desenvolvê-las desde o nível de sensações e percepções, passando pelo da imaginação e da memória até chegar ao pensamento conceitual e ao julgamento. Torna-se fundamental para o educador: encaminhar a maior parte de suas reflexões para o que ensina, tornando-o acessível à criança e dirigindo suas esperanças para que a humanidade pode realizar (DAMIS, 2014, p. 20). A educação moral é inserida neste contexto para além dos aspectos exteriores das ações dos homens, sendo vista como meio para o desenvolvimento da criança e da sua inteligência. A educação moral tem, pois, por fim fazer com que as ideias de justiça e do bem, em todo seu rigor e pureza, cheguem a ser os objetos propriamente ditos da vontade [...] (DAMIS, 2014 p. 20). Vamos conhecer o Herbart? Título: Herbart Fonte: infoescola.com.br DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 ANOTE ISSO A partir de tais pressupostos, Herbart desenvolveu um esquema de cinco passos formais a serem seguidos pelo professor na instrução: 1) O professor recorda os conhecimentos já aprendidos; 2) O novo conhecimento é apresentado; 3) Compara-se o novo conhecimento ao velho, encaminhando a assimilação; 4) Passo da generalização; 5) Efetiva-se a aplicação em exercícios. É interessante você analisar os passos pois eles são bastante atuais! A partir do momento em que se recorda os conhecimentos aprendidos, o professor considera os conhecimentos prévios dos alunos, ou seja, fator relevante pois não os considera como uma folha em branco. O processo como um todo também mostra-se a favor do aluno, pois, as etapas são construtivas interligando-se e finalizando com a aplicação de exercícios, que de modo geral são considerados instrumentos de finalização e reforço de conteúdo. Percebem como a concepção de educação e aprendizagem vai se modificando com o decorrer dos anos e contexto histórico e social? Vale salientar que as expressões mencionadas acerca dos autores, são ideias gerais de suas bases de pensamento, pois, para a disciplina, você compreender as concepções gerais já é o suficiente. Mas, vale a pena inteirar-se de forma mais esmiuçada pelos diferentes posicionamentos. Essa concepção do momento, baseada em Herbert, pode ser considerada um avanço frente à concepção anterior, justamente por articular o conhecimento científico às bases educacionais e não mais o conhecimento religioso. A partir do momento em que se valoriza o conhecimento científico são exploradas as hipóteses, comprovações, trabalho estratégico, pesquisa, metodologia, pressupostos antagônicos do conhecimento religioso, que tem por base apenas a fé. Albuquerque (2002) menciona que a valorização do conhecimento científico estava atrelada ao fato de preparar a elite para difundir seus pensamentos às camadas populares, além de preparar a escola como ambiente eficiente. Nesse contexto surge um movimento conhecido como Escola Nova, que vem contrapor-se às ideias anteriores, acusando a escola de não científica e tradicional ineficiente. A partir do entendimento de Albuquerque (2002), a Escola Nova tentava DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 ser científica e adotando o procedimento de laboratório: atividade, problemas, dados hipóteses e experimentação, fazendo da pesquisa o procedimento didático. Assim, há a intenção de renovação da escola, estando em evidência a base de pensamento de Dewey. Para ele, a ideia de progresso, distanciou a capacidade original da criança dos ideais e dos costumes dos adultos, desta maneira, a escola nova deve direcionar o crescimento infantil para: melhor compreender o significado do que é aprendido e desenvolver aptidões adequadas à vida na qual faz parte (DAMIS, 2014). Vamos conhecer o Dewey? Título: Dewey Fonte:novaescola.org.br A relação professor e aluno também apresenta elementos específicos, pautando-se na figura do professor como aquele que torna o ensino mais atraente, não limitando- se apenas na transmissão de conteúdos, devendo também facilitar a aprendizagem e desenvolver aptidões nos mesmo. Aliás, Dewey criticava o modelo de ensino pautado na figura do professor como fonte de transmissão de conhecimento. Sua concepção de ensino está fundada no princípio de que a mente e a inteligência humanas evoluem com base em situações práticas e sociais de vida (DAMIS, 2014, p. 23). Desta maneira, defende o ensino focado no aluno, devendo haver experiências que garantam interesse dele nas atividades. Há cinco passos que expressam seus pressupostos, sendo eles: 1) A atividade do aluno; 2) Definição de uma problemática de estudos; 3) Coleta de dados; 4) Elaboração de hipóteses; 5) Experimentação. Acerca do contexto social do momento, é importante relembrar que ao modo que o trabalho e suas condições vão sendo modificadas, também alteram-se as necessidades da mão de obra para executá-lo. Desta forma, o foco do ensino e da educação recaem no desenvolvimento de atividades em que o aluno aprenda habilidades, atitudes e DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 conhecimentos científicos. As preocupações da didática e seus elementos vão se alterando de acordo com o contexto. No século XX outro elemento é inserido em destaque no ato de ensinar: ambiente favorável. Tendo por base o conhecimento de Skinner, a organização de um ambiente favorável modela o comportamento do aluno, tendo em vista adaptá-lo e ajustá-lo ao ambiente e à vida social. Para Skinner a escola precisa desenvolver, com urgência, uma tecnologia do comportamento para desenvolver os problemas postos pelo progresso, uma vez que o efeito do ambiente no comportamento foi desconhecido por muito tempo. Para ele, é possível perceber com facilidade que os organizamos interferem no ambiente (DAMIS, 2014, p.24). Percebe que até então a questão do ambiente não entrava nas reflexões ou preocupações? Neste momento, o ambiente não é apenas um cenário, mas sim um contexto atuante com suas devidas interferências, servindo para realizar uma seleção natural. O ambiente é visto como fundamento de formação e de manutenção de qualquer tipo de comportamento. E, por meio de sua manipulação, obtêm-se consequências específicas de condicionamento de comportamentos desejáveis (DAMIS, 2014, p. 25). Vamos conhecer o Skinner? Título: Skinner Fonte:novaescola.org.br Ao modo que segue tais pressupostos, essa linha de pensamento atua por meio de punições e recompensas como garantia de que os objetivos sejam alcançados. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 ANOTE ISSO A partir de tal perspectiva e considerando a sistemática do ambiente, a atividade do aluno para aprender será direcionada para se obter as respostas desejadas. Desta maneira há algumas questões base, como: 1) Que comportamento deve ser estabelecido?; 2) Quais os reforçadores que estão à disposição?; 3) Com que respostas é possível contar para iniciar um programa de aproximação sucessiva que levará a forma final do comportamento?; 4) Como podem ser esquematizados com mais eficiência os reforços para manter o comportamento fortalecido? Estas e outras indagações direcionam essa linha de pensamento. Fez-se questão de inseri-las neste momento, para que de forma mais exemplificada você possa compreender os escritos de Skinner, que também marcaram época. Hoje há várias críticas sobre ele, principalmente por ser sistemático e poder expressar percepções limitadas, mas, como estou sempre reforçando por aqui, é relevante você compreender que marcou época e teve sua importância na história da didática e da educação. Refletindo o contexto social vive-se um acentuamento da ciência e tecnologia, distanciando cada vez mais a humanidade do trabalho manual, havendo desta maneira, novos ritmos de vida e consequentemente uma nova visão de mundo. Todos esses pressupostos acerca da educação, papel do professor, aluno e processo ensino e aprendizagem, podem ser criticados com os olhares atuais, aliás, o conhecimento avança! Mas de qualquer forma, os aspectos que concebemos hoje acabam por considerar parte dos elementos difundidos por esses e outros indivíduos que marcaram suas épocas. É neste contexto, que no final do século XX e início do século XXI, Perrenoud introduz uma nova dimensão ao processo ensino aprendizagem e trabalho na escola: a formação de competências, que aliás, também faz parte do trabalho do professor. Para ele, o professor deve criar situações favoráveis para o aprendizado e utilizar métodos ativos de ensino, ou seja, aqueles em que o aluno não assume postura passiva. Tudo isso visando o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes. Desta forma, ao invés de uma postura onde há a transmissão de conteúdos, por parte do professor, este servirá como instrumento para resolver questões, preparar e tomar decisões. Assim, entende-se que há uma nova relação entre o professor e o conhecimento. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 Ensinar praticando mais e mais não é suficiente, é preciso criar situações para o aluno confrontar-se com dificuldades específicas, bem dosadas, aprendendo a superá-las. Devem-se criar situações que exijam alcançar uma meta, resolver problemas, tomar decisões e regular a aprendizagem, colocando o aluno em confronto com problemas numerosos, complexos e realistas, visando mobilizar diversos tipos de recursos cognitivos (DAMIS, 2014, p. 26). Reparem que no decorrer dos anos, ao modo que mudam a relação entre professor, aluno, escola e conhecimento a didática também passa a ter necessidades diferentes, porém, sendo sempre norteada por estes itens básicos. Refletindo a educação por essa linearidade histórica e articulando com o contexto social, podemos observar que ela e suas concepções foram modificando o modo que o trabalho foi sendo concebido de maneira mais produtiva, tecnológica, dentre outros. Ou seja, ao modo que o trabalho foi se complexificando, no sentido de ampliar suas nuances, houve a necessidade da educação acompanhar, de modo que suas prioridades também foram alternando-se. É relevante compreender que essa interferência do nível macro ao micro acontece em diferentes âmbitos, para além da educação. Por isso, ao estudar os aspectos educacionais em evidência, é importante situar em que contexto social ela faz parte, pois os elementos sempre são articulados e conforme mencionado, valendo para outros âmbitos também! Tal interferência nos faz refletir acerca da neutralidade dos elementos. Ou seja, a valorização da educação sob determinado aspecto representa o interesse de um grupo, certo? São questões que nem sempre são levantadas ou nos passam despercebidas, mas que sempre que possível devemos considerar! Analise a visão do autor sobre isso , muito pertinente: Se pensar na história da didática, concluir-se à que negar o seu conteúdo instrumental, normativo e pretensamente neutro é, de certa forma, negar a própria disciplina [...] Desde seu primeiro momento, a didática organizou-se como um corpo de doutrina, de prescrição. Lembre-se que Comênio definiu sua Didática Magna, que inaugurou a disciplina como um artifício universal para ensinar tudo a todos. A partir daí, a didática, em sua produção intelectual e ensino, outra coisa não tem sido senão um conjunto de normas, recursos e procedimentos que devem informar e orientar a atuação dos professores (DAMIS, 2014 p. 26). DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 Concluímos a aula trazendo esses apontamentos acerca da neutralidade, justamente para você ampliar o olhar ainda mais sobre os aspectos discutidos. Aliás, retomaremos esta questão com maior ênfase em aulas posteriores! Nesta aula nós estudamos as origens da didática em seus aspectos gerais, ou seja, envolvendo os pensadores e seus escritos que marcaram época nos diferentes contextos. Na próxima aula nós iremos contextualizar a didática no histórico da educação brasileira! Até a próxima! DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 CAPÍTULO 2 A DIDÁTICA E SUAS ORIGENS: CONTEXTO BRASILEIRO 2.1 Introdução Na aula passada nós estudamos a didática em seu histórico geral e na presente aula vamos contextualizá-la em articulação com a educação no Brasil. É importante que no início da disciplina você tenha contato com as bases educacionais seja no âmbito mundial como em seu próprio país. São tais pressupostos que te garantirão bases para as demais aulas e conteúdos da disciplina. Desta maneira, terá contato com as nuances acerca da educação em suas relações com a didática! Boa aula! 2.2 Breve histórico Quando pensamos nos primórdios da educação brasileira de forma recorrente nos vem à cabeça: os jesuítas! Isto porque, nós estudamos sua chegada no país desde a educação básica, também na disciplina de história da educação, entre outros. É justamente por eles que iremos começar nossa abordagem histórica articulando educação brasileira e a didática. Antes de mais nada, vamos situar em qual contexto estamos? Período do Brasil colônia, onde os jesuítas e sua educação estavam atrelados à coroa portuguesa, ou seja, a grosso modo podemos compreender desde já que era uma educação voltada aos interesses dos colonizadores, ou seja, portugueses e sendo difundida por meio dos jesuítas. Para quem destinava essa educação? Aos filhos dos colonos e senhores do engenho, bem como aos índios e escravos, que eram subjugados e deveriam aprender o cristianismo e ideologia dos colonizadores. Vale constar que os escravos eram a classe trabalhadora neste momento, desta forma, era mais escasso seu contato com DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADECATÓLICA PAULISTA | 22 essa educação. Vale ressaltar também, que a educação destinada aos filhos da elite tinham um propósito diferenciado daquela educação destinada aos demais. O plano de educação dos jesuítas ficou conhecido como Ratio Studiorum. Alguns detalhes merecem destaque: a língua latina e os autores clássicos latinos eram indispensáveis, já a língua materna foi sendo suprimida e autores pagãos não constavam. Os retratos abaixo ilustram algumas vivências dos jesuítas em solo brasileiro. Título: jesuítas em solo brasileiro Fonte: mundoeducação.com.br DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 Acerca da maneira e forma de ensinar, os papéis eram bem delimitados, onde o professor era o único detentor do saber e o aluno o receptáculo. A memorização era a estratégia de aprendizagem, o método de instrução que baseava-se na memorização palavra por palavra e do conteúdo a ser aprendido. Havia aliás o lema repetitio mater studiorum, que significa: a repetição é a mãe da aprendizagem (ALBUQUERQUE, 2002). Ainda sobre o método de instrução, a autora aponta para o fato de haver a necessidade dos alunos decorarem os conteúdos que sistematicamente são revisados pelo professor. A ideia concebida para defesa dessas práticas é a de que a partir de então os conteúdos são impressos na memória tornando-se parte da inteligência dos alunos, que aliás, também deveriam ser isolados de experiências exteriores para que não tirassem sua atenção. Olhe só que interessante e oposto do que vemos atualmente: isolar o aluno das experiências externas, sendo que hoje, a defesa é de que justamente os conteúdos escolares articulem-se com as vivências dos alunos para que haja maior interesse e motivação. É que neste caso, como há uma base religiosa, há também a preocupação com questões nomeadas como mundanas, assim, o conhecimento que era admitido enquanto útil e necessário era somente os advindos dos jesuítas e afins. Em 1759 há uma mudança nesta educação, quando Marquês de Pombal a assume no lugar dos jesuítas, desta forma, o ensino que antes era organizado em forma de curso, passa a ser composto por aulas avulsas. Para alguns autores essa mudança representa um retrocesso. A partir de então, algumas mudanças vão ocorrendo, em 1800, por exemplo, com a vinda da corte Portuguesa há a necessidade de outras formações, havendo adaptações das escolas. Por muito tempo a igreja continuou como provedora das instituições de ensino, estando estas também articuladas com as classes dominantes. Durante o Império e Primeira República, o país continuava com a força de trabalho escrava que também passou a ser composta por imigrantes e no fim do império a força de trabalho livre que também não exigia qualificação. Com a nova Constituição de 1891, na fase republicana, o ensino secundário era responsabilidade da União e o ensino primário dos estados, bem como, da formação de professores. Albuquerque (2014) aponta que o estado de São Paulo foi pioneiro na preocupação com a educação pública, pois, logo em 1893 organizou o seu ensino primário de forma regulamentada juntamente com a formação de professores. Muitos estados mandavam seus professores para lá ou convidavam tais professores para seus estados para auxiliar na organização de seus sistemas de ensino. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 Lembram quando na primeira aula mencionamos sobre o Herbart? Ele teve sua importância na educação, destacando-se em determinado período histórico e sua influência também recai no estado de são paulo pois os responsáveis pela organização de seus sistemas de ensino haviam estudado nos Estados Unidos com tal base de pensamento. No entanto, há estados que agem de forma independente, conforme consta a seguir. Os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e o Distrito Federal, organizaram, independentemente da influência paulista, seus próprios sistemas escolares. Estes eram mais fiéis à tradição da influência francesa, procurando os fundamentos teóricos de suas respectivas organizações na versão francesa da pedagogia européia (ALBUQUERQUE, 2014, p. 46). Vale mencionar que neste contexto a educação atende prioritariamente a camada urbana da sociedade e a população rural fica com um ensino mais improvisado. Neste momento, é importante você se situar da educação e suas nuances nos diferentes contextos históricos do país, refletindo a maneira que ela se apresenta. É o conhecimento prévio necessário para que você tenha a base para os demais conteúdos da aula. Além do fato de você conseguir articular a educação no contexto geral, conforme exposto na aula passada, com a educação em nosso país, foco desta aula. No início de 1900, em meados de 1915, refletiu-se no Brasil novas condições políticas e econômicas, consequências do término da primeira guerra mundial. Consequentemente, há interferências na educação e na didática. Na década de 1920, por exemplo, surge a influência da Escola nova, vimos sobre ela na primeira aula, lembra? Desta maneira, ao modo que estas ideias concretizavam-se em alguns estados, outros tinham diferentes encaminhamentos. Neste contexto, há uma crescente urbanização, ou seja, as camadas rurais estão chegando mais às cidades, fazendo com que haja a necessidade de mais escolas, daí surge a problemática: quantidade versus qualidade. A didática nos contextos supracitados é compreendida como um conjunto de regras e instruções, visando situar os professores na sua atuação e também segregando teoria e prática. A década de 1930 merece destaque pois traz elementos representativos para a educação como sistema de ensino e também para a didática. Estamos em um contexto DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 de industrialização e mudanças políticas e na educação há a criação do Ministérios da Educação, bem como, a defesa do ensino público e gratuito. Em 1934 especificamente, a Constituição garante avanços educacionais ao prever, por exemplo, a obrigatoriedade do ensino primário, a necessidade do Plano Nacional de Educação e regulamentar quotas fixas para a Federação, estados e municípios. Olhe só como era a nossa CF/1934. Título: Constituição Federal,1934 Fonte:jus.com.br Há nesta década e na posterior, uma série de acontecimentos que não vamos nos ater aqui para não perder o foco ou entrar nos conteúdos de outra disciplina, mas há avanços, retrocessos e vários aspectos educacionais que são relevantes. Na década de 1950 merece destaque a escola nova que era a base de pensamento que permeia a didática naquele momento. Visando combater o ensino tradicional e valorizar a criança, os seus pressupostos são: individualização, liberdade, iniciativa e autonomia, o aprender fazendo e o aprender a aprender. De base psicológica, as diferenças individuais são valorizadas, bem como as técnicas que focam os indivíduos, desta maneira, há quem critique essa perspectiva por desconsiderar ou deixar em segundo plano o contexto social e suas articulações com o processo ensino aprendizagem e produção de conhecimento. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 Acerca das influências desta perspectiva, Albuquerque (2014) afirma que chegou às legislações educacionais e nos cursos de formação para o magistério, além de acabar por reforçar o caráter prático e técnico do processo ensino aprendizagem. Na aula passada, ao tratar da Didática Magna vimos que ela inseriu a didática como arte de instruir, como técnica, lembra? No parágrafo anterior, quando falamos no caráter prático e técnico há forte influência desta concepção de didática fomentada por Comênio. Até a década de 1960 há o predomínio de perspectivas humanistas, que vão perdendo forças no decorrer dos anos, de modo que, o período entre 1960 e 1968 remetem-se a uma crise na pedagogia Nova, segundo Albuquerque (2014). A partir do contextomilitar e tecnocrata, a autora aponta que a didática continua focando a individualidade, liberdade e experimentação, porém, sendo acrescentados agora e com ênfase, à produtividade, eficiência, racionalização, entre outros. Há também a visão da didática como estratégia para o alcance do processo ensino aprendizagem, ou seja, o professor e o aluno passam a ficar em segundo plano e o centro do ensino agora é a técnica. Nessa perspectiva a didática é o processo que define o que e como os professores e alunos devem fazer. Observe e analise a imagem abaixo: Título: educação tecnicista Fonte: novaescola.org.br A imagem é bem representativa do que seja a educação na perspectiva tecnicista. Os alunos estão em uma esteira, simulando um processo de produção, ou seja, ao modo que não considera seus conhecimentos, parte-se de uma educação e formação igual para todos, além do fato desta formação objetivar a inserção social apenas. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 A ferramenta que a professora utiliza na aluna, está ali para mostrar a relevância dos instrumentos nessa perspectiva, afinal, professor e aluno estão em segundo plano, conforme mencionado. O importante são as técnicas, os instrumentos para aprendizagem, que claro, serão direcionados pela figura do professor. Reparou que todos os alunos possuem a cabeça cortada? É para demonstrar o processo de alienação em sala de aula, na qual o professor insere o conteúdo. Se os alunos fossem minimamente ativos ou relevantes nessa perspectiva, não precisaria abrir suas cabeças, certo? Aconteceria o diálogo, discussão, debates, dentre outras práticas nesse sentido. Escola enquanto linha de produção, enquanto reprodutora, visando uma formação passiva, pois ao modo que não há incentivo ao diálogo ou não há a consideração dos alunos como atuantes no processo ensino e aprendizagem, sua inserção social vai reproduzir tais elementos. Estes aspectos não são somente da educação de cunho tecnicista, ok? Você entenderá melhor no decorrer da disciplina. Reflita comigo: Não é mais difícil garantir um indivíduo crítico e ativo socialmente se é propiciada para ele uma educação onde ele não possui voz ativa, onde não há estímulo a ele problematizar as situações, não havendo essas opções? Para a gente como sociedade é ruim termos pessoas com uma formação passiva, pois quem irá lutar pelos nossos direitos? Quem vai questionar as estruturas? Enfim, para você refletir para além e de forma articulada com questões práticas e sociais. Retomando, a didática é concebida neste momento como ferramenta, maneira de executar, pois ao modo que passa a ser utilizada como estratégia, tornando-se primeiro plano em detrimento dos alunos e professores, o olhar para ela é estritamente técnico. Portanto, o professor assume o papel de executor, visto que, ele será o responsável em executar os objetivos instrucionais, as estratégias de ensino e os modelos de avaliação. O formalismo didático era observado nitidamente através dos planos elaborados segundo normas prefixadas pelos cânones didáticos; quando muito o discurso dos professores é afetado, mas a prática pedagógica permanecia a mesma (ALBUQUERQUE, 2014, p. 53). Essa prática de cunho tecnicista recebe a mesma crítica da escola nova, de uma perspectiva que não considera os contextos: social e contextual, havendo uma desvinculação dos fins a que servem a educação, ou seja, não há essa preocupação. Sforni (2015), pontua que até mesmo os problemas educacionais são tratados de maneira técnica e assim a didática assume papel fundamental na formação de professores pois era considerada: neutra, objetiva e racional. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 Na década de 1970, a didática assume o discurso reprodutivista, isto porque há por parte dos professores, um pessimismo didático. A escola estava sendo considerada como um aparelho do estado e reprodutora das condições, assim, havia a sensação de que não valeria a pena melhorar o ensino. Acerca deste contexto social: [...] a educação é requisitada para atender tanto as demandas do crescimento econômico, como os impactos do fato de esse crescimento estar concentrado em poucas mãos. Nesse contexto, o lema do governo era “segurança e desenvolvimento” e a educação deveria atender a esses dois aspectos: a segurança via formação moral e cívica, propaganda anticomunista, desenvolvimento via expansão do sistema educacional, combate à evasão e repetência para que fosse elevada a produtividade do sistema escolar (SFORNI, 2015, p. 89). Em contraponto, na década de 1980, principalmente após a ditadura militar, há olhares mais otimistas, bem como, busca pelos direitos e conquistas políticas, tanto por parte dos professores, quanto de outras classes. Assim, há também novos rumos para a educação e a didática. Em 1982, por exemplo, a Pontifícia Universidade Católica, PUC/RJ, realizou um seminário tendo como tema a didática, visando discutir o ensino e seus elementos. As constatações não foram muito positivas, porém, vamos analisá-las ponto a ponto pois refletem a didática até o momento, ou seja, desde os seus primórdios no país. 1) A didática não possuia conteúdo próprio, constituindo-se em um conjunto de informações fragmentadas; 2) Apresentava-se desarticulada entre teoria e a prática, caracterizando-se pelo consumismo de teorias importadas; 3) Reduzia-se ao aspecto instrucional; 4) Tinha como pressuposto implícito a afirmação da neutralidade científica e técnica; 5) Desarticulava-se das disciplinas de fundamentos da educação; 6) Não havia integração entre suas dimensões técnica, humana e política. Tais pontos resumem o que foi sendo difundido acerca da Didática até então. É importante você observar neste momento que até a década de 1980, ainda não havia um corpo denso que delimite seus pressupostos, ou seja, falamos em didática, mas, ela apresenta-se de forma diversa, às vezes técnica, priorizando o contexto político do momento, não integrando elementos políticos na educação, dentre outros, conforme salientado acima e visto no decorrer da aula. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 É a partir da década de 1990 que a didática passa a estabelecer-se de maneira mais sólida e com objetivos mais definidos. Ao modo que a nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB/1996, preocupa-se como uma educação de qualidade, contextualizada, dentre outros aspectos que até hoje estão vigentes, a didática precisa articular-se com tais elementos. A educação agora, passa a ser concebida com um papel transformador, além de estar intimamente relacionada com os diferentes contextos. Ou seja, eu compreendo que a vida do meu aluno interfere em sua educação, bem como, que a economia do país também. Assim, há uma rede de relações a serem consideradas ao pensar tanto a educação, de modo geral, como a educação particular do indivíduo, pois ambos recebem influências. Observe a imagem abaixo: Título: educação transformadora Fonte: novaescola.org.br Na imagem nós vemos a figura de um adulto e seis crianças, bem como, mapas mentais que trazem diversos elementos. A ilustração está aqui para demonstrar uma forma de educação diferente, antagônica àquela baseada na imagem anterior, por exemplo. Neste momento, o professor está ao lado dos alunos, os alunos possuem pensamento, o que representa também voz ativa e de forma consequente, posicionamento e senso crítico. Todos os elementos expressos no mapa mental, estão aqui para demonstrar que os indivíduos são plurais com diferentes necessidades e demandas e que seu processo escolar não pode perder estes elementos de vista, afinal, como desvincular educação com o social? DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 A imagem representa os pontos valorizados pela educaçãode hoje! Claro, que não há como definir de modo exato todos os elementos que ela contempla, pois a educação também é prática e possui aspectos que não conseguimos antecipar. Ao modo que a educação valoriza tais elementos, a didática passa a estar articulada como uma educação transformadora, de trabalhar para além dos métodos e técnicas, procurando associar escola-sociedade, teoria-prática, conteúdo-forma, técnico-político, ensino-pesquisa, professor-aluno (ALBUQUERQUE, 2014, p. 56). Lembram que em períodos anteriores o professor e sua função ficavam em segundo plano, em detrimento do método? E a didática assim priorizando quesitos técnicos? Agora o professor possui papel primordial, devendo estar atento, por exemplo, também aos meios mais coerentes a serem utilizados, visto que, há a preocupação com a qualidade da educação. Para além do como ensinar, também espera-se que o professor saiba que esta prática está associada com um contexto e que também tenha intencionalidade em suas ações, bem como, entenda cada aluno em sua especificidade. Desta forma, o processo ensino aprendizagem, a educação e a didática são mais amplos e complexos, principalmente quando comparados aos períodos anteriores. Na fala a seguir a autora expõe muitos bem acerca dos anos passados. A visão unilateral sobre o processo ensino-aprendizagem esteve presente na Didática de inspiração escolanovista, bem como na Didática de base tecnicista, mas cada uma focou um dos aspectos do ensino, a primeira os aspectos psicológicos e a segunda os meios, recursos e produtos do ensino. Apesar de muito diferentes, essas duas abordagens não consideraram a dimensão política do ato educativo. As condições socioeconômicas e estruturais não foram levadas em consideração por nenhuma delas (SFORNI, 2015, p. 95). Acerca dos elementos da didática, na visão após anos 1990, há vários outros a serem considerados, no entanto, como trata-se do olhar atual, iremos explorá-los em outras aulas, ok? O importante é você compreender neste momento o grande passo que a didática dá no Brasil principalmente a partir da década de 1990, tornando-se mais ampla e considerando mais aspectos. Na próxima aula continuaremos com essa discussão, focando a didática em seus conceitos e concepções atuais! Até a próxima! DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 CAPÍTULO 3 DIDÁTICA: CONCEITOS E CONCEPÇÕES ATUAIS 3.1 Introdução Tomando por base as aulas anteriores, já sabemos que a didática relaciona-se com a educação, processo ensino e aprendizagem, escola, professores e alunos, certo? Vimos que no decorrer dos anos ela esteve atrelada a tais aspectos e focando diferentes nuances, sendo influenciada pelo contexto político e econômico, ou até mesmo com as preocupações da educação de cada época. Tratando-se do Brasil, vimos que as correntes técnicas e humanistas se sobressaíram, possuindo elementos independentes que as caracterizam, porém, também possuindo um núcleo em comum: a não preocupação e articulação da educação e didática com fatores externos e afins. É a partir da década de 1990 que tais necessidades vêm à tona, ou seja, que o olhar sobre a didática passa a ser mais específico, havendo a necessidade por parte dos autores de situar e definir esse campo de estudos. Na presente aula nós iremos estudar a didática a partir de suas concepções e conceitos atuais, refletindo os diferentes pontos levantados pelos autores e buscando compreender sua importância na educação! Boa aula!! 3.2 Compreendendo a didática Antes de pensar a didática propriamente dita, vamos refletir o conceito de Pedagogia, considerando que esta é uma área do conhecimento que tem por objetivo as práticas educativas em diferentes modalidades. Aliás, não vamos limitar as práticas educativas ao “como” ou “porque motivo” se faz, mas preocupando-se também em orientar o caráter educativo com as finalidades sociais e políticas. Ou seja, se faz desta forma para que se chegue a tal objetivo, ou aquele outro. Neste momento, mesmo que em DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 outras palavras, estamos nos referindo a práticas e processos contextualizados, com intenções. E onde a didática articula-se a estas questões? Segundo Libâneo (2017), pedagogia e didática formam uma unidade, se correspondem, mas não são idênticas, ou seja, possuem características próprias, ainda que estejam articuladas. Pode-se afirmar que todo trabalho didático é pedagógico, mas, nem todo trabalho pedagógico é didático. A didática nesse ponto de vista constitui-se como prática que realiza objetivos e intervenções em situações específicas de ensino e aprendizagem com suas devidas finalidades sociais, pedagógicas e com seus devidos princípios e condições. Se é vinculada ao processo ensino e aprendizagem, bem como, considera o contexto de tais elementos, entende-se que a didática visa a formação intelectual e moral dos alunos. Vamos fazer um parêntese: se a gente pensar agora a didática como disciplina da faculdade, dos cursos de graduação, por exemplo, ela está presente nos diferentes cursos de licenciatura, isto porque, estes estão relacionados com a prática pedagógica, ou seja, ministrar aula, experiência docente. Assim, entende-se que há uma base de pensamento necessária que possa orientar futuros profissionais da educação sobre sua atuação nesse campo e o que une todas as áreas? A didática. Percebe como ela é relevante? Seja como conceito na educação, ou seja como disciplina? Aliás, elas estão imbricadas, pois trata-se de uma didática só! Então, é importante você compreender neste momento que discutimos a didática como conceito na educação, mas, também discutimos ela como disciplina pois ela é tudo isso! A explicação a seguir define muito bem o termo, reflita: A didática consiste na sistematização de conhecimentos e práticas referentes aos fundamentos, condições e modos de realização do ensino e da aprendizagem dos conteúdos, habilidades, valores, visando ao desenvolvimento das capacidades mentais e à formação da personalidade dos alunos (LIBÂNEO, 2017, p. 15). Observe que na explicação supracitada, o autor foca o que seja a didática, bem como, expõe também onde ela quer chegar, ou seja, não limita o conceito a sua forma prática ou técnica, mas insere um objetivo final: visando desenvolvimento das capacidades mentais e à formação da personalidade. Se a didática visa tal desenvolvimento, eu posso afirmar que ela refere-se à educação? Sim! E que ela refere-se ao processo ensino-aprendizagem? Também, ela está articulada a tudo isso e hoje também às consequências e intenções, logo que DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 visa o desenvolvimento de capacidades mentais, dentre outros. Não foca na técnica ou só nas práticas por elas mesmas, mas destas articuladas aos seus fins. A partir de tais pressupostos, o núcleo da didática então é a mediação entre o aluno e o conhecimento, suas aprendizagens, em situações concretas. Desta maneira, o papel do professor também é bem definido e articula-se diretamente com a didática, pois, também é sua função servir como mediador entre o aluno e o conhecimento, não é mesmo? Assim, a didática relaciona-se com professor e aluno de diferentes maneiras. Enquanto media o conhecimento entre o aluno, serve de instrumento para o professor, serve como base. O ponto em comum são os objetivos a que serve. Libâneo (2017) pontua quatro focos da didática: 1) os conteúdos dos saberes a ensinar; 2) a ativação das capacidades intelectuais dos alunos; 3) o ambiente sociocultural e institucional para o ensino; 4) organização das situações didáticas com os meios adequados. Refletindo os itens mencionados conseguimos ligar diretamente o item dois com os alunos, pois trata de sus capacidades intelectuais, o item número um com osprofessores, pois versa sobre os conteúdos e saberes a serem ensinados e os itens três e quatro com ambos, pois, tratam do ambiente e das situações que os englobam. Todos estão articulados e devem caminhar de forma inerente, mas relacionamos a um e a outro, simplesmente para ter um olhar específico sobre eles. Lembra lá na primeira aula quando estudamos que a didática tratava das maneiras de ensinar, assim como prevê o senso comum, porém, que não se limitava a isso? Pois é, como vem sendo demonstrado, ela é bem mais ampla! Ela investiga o processo ensino aprendizagem em conjunto, articulando as interações entre ensino e estudo, ensino e desenvolvimento intelectual (LIBÂNEO, 2017). Baseados nessa concepção contemporânea, há autores que mencionam haver o triângulo didático, ou seja, a tríade que a compõe, sendo: o professor o aluno e a matéria. No entanto, vale ressaltar que estes elementos não devem ser encarados de maneira estática ou burocrática, havendo uma rede de relações e interações entre eles, conforme exposto a seguir: [...] a relação dinâmica entre três elementos constitutivos do ato didático - o professor, o aluno, a matéria - forma as categorias da didática: para que ensinar? O que ensinar? Quem ensina? Para quem se ensina? Como se ensina? Sob que condições se ensina e se aprende? Tais categorias formam, por sua vez, o conteúdo da didática (LIBÂNEO, 2017, p. 17). DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 São tais indagações que unem a tríade, bem como, que tornam a didática ainda mais complexa. Por exemplo, se o seu foco fosse apenas o agrupamento de conteúdos, não haveria a necessidade de articulá-la com as questões que dizem respeito a quem se ensina, ou para que e o que ensinar. Quando vimos a sua trajetória nos capítulos anteriores, ficou evidente que estas preocupações foram sendo aglutinadas com o passar dos anos, fazendo com que sejam preocupações atuais e contemporâneas. Este ponto é muito positivo, pois demonstra o quanto o conhecimento avançou, ou seja, não ficou estagnado com os elementos passados, acompanhando a educação como um todo. ANOTE ISSO Visto os questionamentos que ligam essa tríade da didática, vamos compreender cada um deles? Eles são bastante relevantes para a disciplina e para a educação como um todo, além de também deixar o nosso olhar mais crítico sobre o conteúdo. 1) Para que ensinar: Traz os problemas da educação em geral, ou seja, o que se espera da escola e do ensino, quais os seus objetivos. Para refletir além: que objetivos definir em uma sociedade cheia de desigualdades e com esse fato interferindo na educação? 2) O que ensinar: Remete-se à seleção dos conteúdos, mas estes de forma interligada aos objetivos educacionais, de modo que o ensino não fique descontextualizado. Essa análise implica também a seleção de acordo com a faixa etária adequada; 3) Quem ensina?: Diz respeito aos agentes que ensinam, sejam eles professores, familiares, dentre outros; 4) Como ensinar?: Refere-se aos meios e estratégias, aos métodos utilizados. Este ponto é relevante estar articulado com os objetivos, além, da consideração nas especificidades dos alunos e comunidade escolar (LIBÂNEO, 2017). Há uma série de elementos a serem refletidos em cada item. Eles ficaram sintetizados de forma mais explicativa, mas, é importante situar que seus fundamentos não se esgotam nas linhas supracitadas. Urban (2009) nos faz uma consideração relevante, mencionando que a didática hoje possui o compromisso de buscar práticas pedagógicas que promovam um ensino eficiente com significado efetivo aos educandos e contribuindo com a transformação DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 social. Aliás, ela remete-se a didática como uma ciência do ensino, no sentido de ser essa a sua especificidade: o ato de ensinar. A fala da autora vai ao encontro dos elementos supracitados pois trata a didática e o processo ensino aprendizagem de forma contextualizada e com intencionalidades, ao modo que menciona o significado efetivo e a transformação social. Ou seja, eu ensino com intenções e objetivos e independente do meu conteúdo e maneira de ensinar eu foco a transformação. Consegue perceber a relevância que tais elementos possuem? Se eu busco transmitir conteúdos por eles mesmos, eu não tenho responsabilidade acerca de suas consequências, sendo assim, uma maneira burocrática de ensinar. Eu transmito conteúdos para os meus alunos e não me preocupo se estão aprendendo ou se são relevantes para eles, as implicações de tais conteúdos no contexto social, entre outros. Ao modo que a didática valoriza o processo ensino aprendizagem com suas devidas contextualizações e intencionalidade essa forma burocrática de ensinar fica obsoleta, dando espaço a uma aprendizagem significativa e real. Comparando as reflexões e discussões, acerca da didática, antes e após a década de 1990, o principal fator a ser observado é justamente a valorização de seus elementos de maneira articulada e complexa. Se antes a educação e o processo ensino aprendizagem baseava-se na figura central do professor com suas técnicas específicas, hoje considera- se diversos elementos, que aliás, você estudará com mais detalhes na aula seguinte, que trataremos do trabalho pedagógico do professor. Libâneo (2001) conceitua a didática como a disciplina que estuda o processo de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas da aula se relacionam entre si de modo a criar as condições e os modos de garantir aos alunos uma aprendizagem significativa. Vamos compreender o conceito do autor em detalhes? Em um primeiro momento ele foca a didática como disciplina que estuda os processos de ensino, ou seja, processo ensino aprendizagem. Posteriormente, ele agrega ao conceito, evidenciando que há objetivos, conteúdos, métodos, ou seja, elementos específicos que o compõem e mais do que isso, que visam garantir aos alunos aprendizagem significativa. Amplo e complexo não é mesmo? Podemos então tratar a didática como um simples método de ensino? Não! Podemos tratar a didática apenas como conjunto de ações do professor? Também não! Porque ela refere-se às ações, aos métodos, mas também com objetivos e estratégias com uma DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 intencionalidade, proporcionar desenvolvimento, um processo ensino e aprendizagem eficaz. Podemos dizer, então, que o processo didático, é o conjunto de atividades do professor e dos alunos sob a direção do professor, visando à assimilação ativa pelos alunos dos conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes, desenvolvendo suas capacidades e habilidades intelectuais. Nessa concepção de didática, os conteúdos escolares e o desenvolvimento mental se relacionam reciprocamente, pois o progresso intelectual dos alunos e o desenvolvimento de suas capacidades mentais se verificam no decorrer da assimilação ativa dos conteúdos. Portanto, o ensino e a aprendizagem (estudo) se movem em torno dos conteúdos escolares visando o desenvolvimento do pensamento (LIBÂNEO, 2001, p. 03). Assim, podemos afirmar que a didática relaciona-se ao processo ensino e aprendizagem, de modo geral, estabelecendo também funções específicas aos professores e alunos, de modo que ambos são sujeitos ativos nesse processo. Aliás, propiciar o desenvolvimento de ambos, professor e aluno, é tarefa constante da didática, que está sempre buscando novas respostas para tal. Segundo o autor supracitado, o pensamento didático mais avançado, apoia-se nas seguintes proposições acerca do processo ensino e aprendizagem: 1) papel ativo do sujeito na aprendizagem escolar; 2) formação de sujeitos capazes de desenvolver pensamento autônomo, crítico e criativo; 3) desenvolvimento de competências cognitivas do aprender a aprender; 4) aprendizagem interdisciplinar; 5) construção deconceitos articulados com as representações dos alunos. Os itens são autoexplicativos, mas vamos refleti-los para um melhor entendimento. O autor está afirmando que as tendências e estudiosos mais contemporâneos da didática, pontuam elementos primordiais em que ela se preocupa, ou seja, são básicos ao processo ensino aprendizagem, aos métodos, à organização do trabalho do professor, e todos os pressupostos que a didática contempla. Há uma base de pensamento que insere o aluno como sujeito ativo, ou seja, indivíduo que também possui conhecimentos e que estes devem ser articulados aos conteúdos escolares, para que assim desenvolvam-se como sujeitos críticos e autônomos. Consequentemente, ao modo que estabelecem relações, problematizam, estes também ficam cientes do aprender a aprender, ou seja, compreender a maneira que os processos interferem em si. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 Para além do aluno, ao tratar da aprendizagem interdisciplinar é justamente o fato de não tratar o ensino de maneira burocratizada, ou seja, separado por gavetas, por conteúdos que não se articulam, pois, na vida os conteúdos estão acontecendo de maneira inerente e assim, os indivíduos precisam reconhecê-los. O processo de ensino e aprendizagem teria, então, como referência, o sujeito que aprende, seu modo de pensar, sua relação com o saber e como constrói e reconstrói conceitos e valores, ou seja, a formação de sujeitos pensantes implicando estratégias interdisciplinares de ensino para desenvolver competências do pensar e do pensar sobre o pensar (LIBÂNEO, 2001, p. 07). Quanto conteúdo não é mesmo? Da década de 1990 para cá a didática e seus pressupostos ampliaram bastante, de modo a deixar as suas concepções mais completas e complexas. Neste momento, valoriza-se suas bases técnicas, ou seja, que ela organiza metodologias e conteúdos, no entanto, sem perder de vista os outros elementos que a compõem. Sem desconsiderar sua rede de relações, articulações e propósitos, aliás, são estes aspectos que a diferenciam da visão da didática em anos anteriores. Tendo discutido os principais aspectos da didática na sua forma contemporânea, encerramos a presente aula. Na aula seguinte discutiremos de maneira mais esmiuçada a didática em articulação com o trabalho pedagógico do professor . Até a próxima! DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 CAPÍTULO 4 A DIDÁTICA E O PAPEL DO PROFESSOR 4.1 Introdução Vimos nas aulas anteriores que a didática articula-se com o processo ensino aprendizagem e desta forma, está intimamente relacionado aos professores e alunos. Na presente aula vamos estudar as articulações entre a didática, o professor e o seu trabalho pedagógico, considerando a didática em seus conceitos atuais e contemporâneos. É uma reflexão que te acrescenta para a formação e também que visa aprimorar o seu fazer pedagógico, pois vamos refletir o professor e o seu fazer docente! Aproveite a aula! 4.2 Articulando a didática o professor e o fazer pedagógico. Cabe aos professores, independente de vertente educacional ou área de pesquisa, o papel de ensinar. Esta é a sua atividade principal e a sua função: ensinar os alunos. Para além de dom ou levar jeito é preciso que você compreenda já no início da discussão de que para ser professor é necessário os fundamentos necessários, por este motivo fazemos uma graduação que nos habilite a ser professor. Quando alguém diz que fulano tem o dom, pode até ser um elogio pelo fato de levar jeito, mas, dom não é suficiente, para ser professor precisamos ter as devidas fundamentações, aportes teóricos e práticos, responsabilidades, estratégias, dentre tantos outros fatores que implica o processo ensino e aprendizagem que é o centro do trabalho pedagógico do professor. A prática profissional de professores não é uma mera atividade técnica, não se constitui como mero fazer resultante de habilidades técnicas, mas como atividade teórica e prática, uma atividade prática que é sempre teórica, pensada, e um movimento do pensamento, do que resulta uma prática pensada (LIBÂNEO, 2017, p. 30). DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Urban (2009) aponta que o trabalho do professor é uma constante ação, reflexão, reflexão e ação. Aliás, é assim que deve ser considerado, enquanto prática consciente, investigativa e com intencionalidade. A intencionalidade remete-se ao fato de objetivos, ações fundamentadas, ou seja, todas as minhas ações com os alunos possuem intenções, há propostas específicas. Desta maneira, há também um planejamento com as minhas possíveis ações, hipóteses e ponto de partida e chegada. Por este motivo, estando na educação o planejamento é tão relevante. Ao modo que se põe como crítico e reflexivo, o professor consegue atuar de maneira ativa na sociedade, pois, por meio de um ensino contextualizado, está alinhando os seus objetivos educacionais com algo maior. Lembra que a gente estudou em aulas passadas que os contextos estão articulados? Desta forma, o professor não pode perder isso de vista. Na prática, como seria? Seria estabelecer conexões entre os conteúdos escolares e a realidade dos alunos, bem como, com as situações na qual estão expostos, com os seus interesses também. Tornando assim, o ensino mais atrativo e menos burocrático. Além de dominar os conteúdos, o professor também necessita saber as estratégias para trabalhá-lo, estar ciente dos processos e recursos metodológicos para uma melhor partilha de seus conhecimentos (URBAN, 2009). Há quem defenda que o professor está em constante formação, sendo sua prática uma formação continuada em serviço, isto porque, o ambiente real de sala de aula o expõe a diferentes situações e desta maneira ele está em constante reflexão. Faz sentido, não é? Nos apropriamos da teoria, fazemos nosso planejamento como professor, mas quando vamos para a sala de aula temos a realidade para encarar com novos elementos e situações adversas que nem sempre são passíveis de antecipação. Aliás, para além da formação continuada em serviço, o professor também deve se manter em constante atualização, de modo a acompanhar o conhecimento e estar sempre atualizado. Por isso, é necessário que a formação do professor seja continuada, começando nas instituições de formação inicial e se estendendo ao longo da vida profissional com práticas de atualização constante. Concomitante à formação inicial (formal), a formação contínua deve estender-se a escola (URBAN, 2009, p. 34). DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 Em poucos parágrafos, quantos elementos já foram evidenciados sobre o professor e sua função, não é mesmo? Realmente a sua prática é complexa e demanda uma série de fatores, sendo de extrema responsabilidade você ser o profissional com o intuito de educar. O trabalho pedagógico do professor é extenso e demanda todos os pontos já mencionados, além de outros que ainda vamos ponderar, e tantos outros que poderão surgir nas demandas práticas. Desta maneira podemos afirmar que não é tarefa fácil delimitar o papel do professor, até porque ele também está vinculado ao que se espera no contexto social e econômico, porém, conforme mencionado anteriormente, vamos nos ater às peculiaridades gerais, necessárias a este profissional independente de sua formação, corrente teórica, dentre outros. A autora supracitada faz uma fala relevante a este respeito, pontuando que ser um professor ideal ou possuir uma educação ideal não é tarefa fácil, justamente pois tais características são adaptáveis ao período histórico, à realidade da escola, ao tipo de ser humano que se deseja formar, dentre outros. Desta forma, ainda que pareça algo simples o fato do professor ensinar, há uma série de elementos que estão por trás desse pressuposto. Para além dos motivos mencionados, há também o fatode que ensinar, neste caso, não refere-se a uma atividade técnica, sem significado, ou ação resultante de habilidades técnicas, mas sim como atividades teórica e prática, uma prática que é sempre teórica, pensada, e um movimento do pensamento, do que resulta uma prática pensada (LIBÂNEO, 2017). Mas o que essa fala do autor significa? Que as ações do professor, que o seu fazer pedagógico, suas práticas, baseiam-se na teoria, pois devem ser fundamentadas e que os seus fundamentos, suas bases teóricas, também baseiam-se nas práticas, desta maneira é uma via de mão dupla e um trabalho polivalente que não desconsidera nenhuma nem outra vertente. O trabalho do professor é apenas teórico? Não! É apenas prático? Também não! O trabalho do professor contempla a dupla: teórico e prático. Não se trata de tecnicismo, mas de relação entre a prática de ensino e o princípio teórico-científico que lhe dá suporte. A reflexão sobre a prática não resolve tudo, nem a experiência refletida. São necessárias estratégias, procedimentos, modos de fazer, com o suporte do conhecimento teórico, que ajudam a orientar com mais competência a aprendizagem dos alunos (LIBÂNEO, 2017, p.35). DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 O autor supracitado faz um apontamento muito interessante relacionando o ser professor com as categorias que contemplam a didática. Ele aponta que os elementos constitutivos da didática são os mesmos que definem os conteúdos das práticas docentes, assim, ambos estão intimamente relacionados. Desta maneira, prevê quatro requisitos aos profissionais professores. O primeiro requisito diz respeito ao domínio dos conteúdos da matéria, pois é através de tal domínio que o professor será capaz de organizar a sua disciplina de modo a favorecer os alunos. O segundo requisito refere-se a apropriação de metodologias de ensino, sendo elas que facilitarão o desenvolvimento de seu trabalho. O primeiro e o segundo requisitos são alinhados, pois a partir do momento em que você domina os conteúdos, automaticamente há questões metodológicas alinhadas àqueles conteúdos. Pensando na prática especificamente, cada conteúdo alinha-se a uma forma de trabalho, já parou para pensar? Se você for ensinar cálculos, por exemplo, deverá utilizar estratégias diferentes do professor que for ensinar história ou língua portuguesa, dentre outros. Por isso a premissa de que determinados conteúdos alinham mais ou menos a determinadas metodologias. Por este motivo quando estamos no papel de aluno pode acontecer de muitas vezes não nos adequarmos na maneira que o professor rege suas aulas, mesmo que o conteúdo nos agrade, ou vice versa. Provavelmente você já ouviu alguém dizer: “eu gosto da matéria do fulano, mas não da maneira que ele dá aula” ou “eu não gosto da matéria do fulano, mas a maneira que ele dá aula me agrada”. Agora estando no papel do professor, é muito mais fácil entender o porquê optamos por determinada postura frente a determinados conteúdos e vice-versa. Daí também a relevância de, em alguns casos, situar os alunos sobre a sua forma de dar aula, por exemplo, explicar as atividades que serão feitas e os motivos que adequam-se ao conteúdo, trocar ideias no término, mensurar o que deu ou não certo. Vale a pena situar, que aqui estamos partindo do pressuposto de que o professor possui autonomia em sala de aula, mas há casos, dependendo da instituição de ensino, que o professor deve seguir um roteiro previamente planejado pela escola, ou seja, já há metodologias próprios para determinados conteúdos e vice e versa. Retomando os requisitos, o terceiro está alinhado aos alunos e suas demandas e características individuais. Ao modo que o professor as conhece, fica mais fácil trabalhar de modo com que atinjam as capacidades almejadas e necessárias. Aliás, conhecer o aluno é o pontapé inicial para os demais requisitos também, analise a seguinte fala do autor: DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 O conhecimento dos alunos é necessário para análise dos conteúdos e organização do plano de ensino. É o momento em que o professor formula tarefas de aprendizagem com suficiente atrativo para canalizar os motivos dos alunos para o conteúdo. Esta é a maneira de ligar o conteúdo e o desenvolvimento da personalidade (LIBÂNEO, 2017, p.37). Se o objetivo final da educação e do professor é a aprendizagem, diz respeito aos conhecimentos dos alunos, certo? Assim, eles são o pontapé inicial do processo e também o ponto de chegada. Já tinha parado para pensar nisso? Este é um conhecimento muito relevante e que você irá levar para a toda a sua formação! Lembre sempre disso! Já o quarto requisito diz respeito ao conhecimento do professor acerca das práticas socioculturais e institucionais em que os alunos estão envolvidos, ou seja, o contexto e a forma que ele atua na motivação dos alunos. A este respeito: Não basta obter o conhecimento teórico e os meios pedagógicos- didáticos para melhorar e potencializar a aprendizagem dos alunos, é preciso considerar os contextos concretos em que se dá a formação. Não se pode separar as pessoas que atuam e o mundo social da sua atividade (LIBÂNEO, 2017, p.39). Esta questão do contexto vai ao encontro do que mencionamos anteriormente da articulação entre contexto macro e micro, no que diz respeito à escola e ao meio em geral e também dos conteúdos em relação à realidade dos alunos. Quanto mais próximo de sua realidade, mais atrativo ele será. É mais fácil decorar a letra da música ou a matéria da escola? Geralmente é a letra da música e existe uma razão para tal e está associada com nossos interesses e gostos particulares. Já os conteúdos escolares chegam até nós de forma burocratizada e imposta, por isso a necessidade de torná-los mais leves e orgânicos aos alunos. O quinto e último requisito diz respeito às convicções ético-políticas, que norteiam o papel educativo do professor, que dão a base para ela situar os alunos e inseri-los como sujeitos ativos sociais. Não se trata de conduzir os alunos por meio de suas aspirações, mas, orientá-los de maneira crítica sobre a realidade que estão inseridos e suas devidas possibilidades. 4.3 Refletindo o fazer pedagógico Neste momento vamos prosseguir com o conteúdo focando ainda mais o trabalho do professor, ou seja, o seu fazer pedagógico. DIDÁTICA PROF.a NATHÁLIA DELGADO B. DA SILVA FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 Para iniciar, vamos esclarecer: qualquer professor tem por ação o fazer pedagógico? A resposta é sim, pois o pedagógico no caso, não está relacionado ao curso de pedagogia, mas, a um fazer com fins educacionais, um fazer com intencionalidades, pretensões. Por este motivo falamos que o professor tem por especificidade da função o fazer pedagógico. Libâneo (2017) aponta que o fazer pedagógico é dialético e dialógico, vamos entender a que se remetem? O dialético está relacionado ao conjunto de ações e operações realizadas, já o dialógico remete-se à parte de comunicação entre os sujeitos. Lembrando que se estamos falando de dois pontos presentes no fazer pedagógico, estamos nos referindo às ações do professor e que articulam-se ao processo ensino e aprendizagem e a didática. Tanto a forma dialética quanto a dialógica são meios para aprender o mundo e conhecê-lo, ambos são instrumentos mediadores da realidade. Ou seja, eu como professor organizo o meu trabalho pedagógico de maneira dialógica, como uma via de mão dupla entre eu e os alunos, partindo de seus conhecimentos prévios junto ao conhecimento formal e de maneira articulada também opto por vivências dialéticas, ou seja, articulando os contextos, refletindo suas contradições, especificidades, dentre outros. Tais aspectos estão presentes em todos os fazeres pedagógicos, pois são gerais, certo? Independente do nível de ensino, conteúdo, objetivo, há o diálogo e também há um conjunto de ações específicas.