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ON-LINE OABOAB Sumário 8. DIREITO ELEITORAL 1 CAPÍTULO 1 ........................................................................................................................................................... 1 1. CONCEITO .................................................................................................................................................................................................... 1 2. OBJETO E FONTE .......................................................................................................................................................................................... 1 3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA ....................................................................................................................................................................... 1 4. PRINCÍPIOS DO DIREITO ELEITORAL .......................................................................................................................................................... 1 CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................................................... 3 1. DIREITOS POLÍTICOS ................................................................................................................................................................................... 3 2. ALISTAMENTO ELEITORAL .......................................................................................................................................................................... 3 3. DOMICÍLIO ELEITORAL ............................................................................................................................................................................... 3 4. JUSTIFICATIVA DE AUSÊNCIA E SANÇÕES QUANTO AO DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES ELEITORAIS ........................................... 5 5. DIREITOS POLÍTICOS ATIVOS ..................................................................................................................................................................... 7 6. DIREITOS POLÍTICOS PASSIVOS ................................................................................................................................................................. 9 7. ESCOLHA DOS CANDIDATOS E PEDIDO DE REGISTRO DE CANDIDATURA .............................................................................................. 14 8. DOS PARTIDOS POLÍTICOS E COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS ...................................................................................................................... 14 9. FIDELIDADE PARTIDÁRIA ......................................................................................................................................................................... 16 CAPÍTULO 3 ..........................................................................................................................................................18 1. SISTEMAS ELEITORAIS: CONCEITO ........................................................................................................................................................... 18 2. NULIDADE DOS VOTOS E CONVOCAÇÃO DE NOVAS ELEIÇÕES ............................................................................................................... 21 CAPÍTULO 4 ..........................................................................................................................................................22 1. CRIMES ELEITORAIS E O PROCESSO PENAL NOS CRIMES ELEITORAIS ................................................................................................. 22 CAPÍTULO 5 .........................................................................................................................................................23 1. PROPAGANDA POLÍTICA ............................................................................................................................................................................ 23 2. HORÁRIO RESERVADO AO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ................................................................................................................. 28 3. ABUSOS E O DIREITO DE RESPOSTA ........................................................................................................................................................ 28 4. CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS EM CAMPANHAS ELEITORAIS ..................................................................................... 29 CAPÍTULO 6 ..........................................................................................................................................................30 1. FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS ELEITORAIS ....................................................................................................................................... 30 2. LIMITES DE GASTOS COM CAMPANHAS ELEITORAIS E O USO DE RECURSOS PRÓPRIOS NAS CAMPANHAS ELEITORAIS ................. 33 3. CRUZAMENTO DE INFORMAÇÕES ENTRE O TSE E RFB ............................................................................................................................ 33 4. PRESTAÇÃO DE CONTAS ........................................................................................................................................................................... 34 5. GASTOS EM CAMPANHA E SUA CONTABILIZAÇÃO ................................................................................................................................... 34 6. REPRESENTAÇÃO (ABUSOS) E RECLAMAÇÕES RELATIVAS À ARRECADAÇÃO E GASTOS DE RECURSOS E CONTRA CAPTAÇÃO IRREGULAR DE SUFRÁGIO ........................................................................................................................................................................ 34 IIISUMÁRIO CAPÍTULO 7 ..........................................................................................................................................................35 1. AÇÕES E RECURSOS ELEITORAIS ............................................................................................................................................................. 35 CAPÍTULO 8 ..........................................................................................................................................................37 1. JUSTIÇA ELEITORAL .................................................................................................................................................................................. 37 2. ÓRGÃOS DA JUSTIÇA ELEITORAL E SUA COMPOSIÇÃO ........................................................................................................................... 37 3. REFLEXOS DO NOVO CPC: BREVES COMENTÁRIOS ................................................................................................................................. 38 CAPÍTULO 9 ..........................................................................................................................................................39 1. IMPEACHMENT .......................................................................................................................................................................................... 39 9. DIREITO FINANCEIRO E ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA 43 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................................. 43 2. LEIS ORÇAMENTÁRIAS: PPA, LDO, LOA .................................................................................................................................................... 44 3. RECEITAS ...................................................................................................................................................................................................56 4. DESPESAS .................................................................................................................................................................................................. 60 5. EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA ...................................................................................................................................................................... 71 6. OPERAÇÕES DE CRÉDITO .......................................................................................................................................................................... 74 7. DÍVIDA PÚBLICA ........................................................................................................................................................................................ 75 8. PRECATÓRIOS ........................................................................................................................................................................................... 77 9. FISCALIZAÇÃO DA GESTÃO FISCAL ........................................................................................................................................................... 79 10. TRANSPARÊNCIA ....................................................................................................................................................................................... 82 11. ESTRUTURA DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL – LRF .................................................................................................................... 84 10. DIREITO PREVIDENCIÁRIO 87 1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO ......................................................................................................................... 87 2. A PREVIDÊNCIA SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ............................................................................................................................. 88 3. FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL .............................................................................................................................................. 91 4. CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURIDADE SOCIAL ..................................................................................................................................... 102 5. DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS ................................................................................................................ 112 6. OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS ..................................................................................................................................................................... 117 7. RECOLHIMENTO FORA DO PRAZO DAS CONTRIBUIÇÕES E OUTRAS INFRAÇÕES À LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA .......................... 119 8. RECURSOS DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS ..................................................................................................................................... 121 9. PLANO DE BENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL .................................................................................................. 122 Capítulo 1 1. CONCEITO O Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público que visa a tutelar e a regular, respectivamente, o direito ao sufrágio e o exercício da soberania popular. Além disso, organiza e dis- ciplina o processo eleitoral de forma a concretizar os direitos políticos. Assim, fundamental observar a relação intrínseca que este ramo possui com a manutenção da democracia (chamada por alguns autores como “antecedente lógico do Direito Eleitoral”), justamente pelos mecanismos que proporciona. 2. OBJETO E FONTE O objeto, do ponto de vista jurídico, é trazer adequadas formas de exercício dos direitos políticos e seus reflexos no processo eleitoral. Esta finalidade traz intensas mudanças legislativas a este ramo do Direito Público, que o faz um dos que mais sofre alterações legislativas, no intento lógico de aperfeiçoamento e adequação à demanda real da sociedade. Por exemplo, hoje no Brasil percebemos o processo eleitoral 100% eletrônico, informatizado (urnas eletrônicas, apuração no mesmo dia da eleição, acesso às informações dos candidatos via internet etc.) e a cada eleição novas leis e regramentos. Quanto às fontes do Direito Eleitoral podemos dividi-las em primárias e secundárias: Por Fontes Primárias (Diretas) do Direito Eleitoral pode- ríamos compreender, dentre outras: a) Constituição Federal. Fonte maior do Direito Eleitoral Brasi- leiro, pois é nela que se funda o processo de validação jurídica de todas as outras normas, ou seja, é na Constituição Federal que as demais normas encontram seu pressuposto de validade (dogmática jurídica). Além disso, o Texto Constitucional trata, especificamente, nos arts. 14 ao 17 e arts. 118 ao 121 sobre matéria ligada ao nosso objeto de estudos. b) Código Eleitoral (Lei 4.737/1965) c) Lei das Eleições (Lei 9.504/1997) d) Lei Orgânica dos Partidos Políticos (LOPP – Lei 9.096/1995) e) Lei das Inelegibilidades (LC 64/1990) com as alterações trazidas pela Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010) Por Fontes Secundárias (Indiretas ou Subsidiárias) do Direito Eleitoral podemos compreender, dentre outras: a) Resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. Trata-se de ato normativo do órgão Pleno do Tribunal Superior Eleitoral, com competência fixada pelo parágrafo único do art. 1º e art. 23, ambos do Código Eleitoral, com a limitação do art. 105 da Lei das Eleições. b) Consultas. Esta fonte, bastante peculiar, refere-se às consultas a serem direcionadas ao Tribunal Superior Eleitoral, acerca de matéria eleitoral, sempre em tese (não em caso concreto, pois admitiria a condição de pré-julgamento da questão duvidosa), a ser formulada por autoridade com jurisdição federal ou por órgão nacional de partido político (conforme art. 23, XII, do Código Eleitoral). Importante dizer que as respostas serão dadas também em tese, não olvidando-se que NÃO POSSUEM CARÁTER VINCULANTE, podendo ou não ter seu conteúdo confirmado por uma decisão na Justiça Eleitoral. Por fim, cabe esclarecer, também, que as consultas poderão ser direcionadas aos Tribunais Regionais Eleitorais, conforme depreendemos da leitura do art. 30, VIII, do Código Eleitoral, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem feitas, também em tese, por autoridade pública ou partido político. c) Código Civil. De modo geral, quanto a capacidade das pes- soas, conceituação de bens públicos, numa leitura conjunta de dispositivos que venham a exigir complementação. d) Código de Processo Civil. Contagem de prazos, diretrizes recursais. Aplicação subsidiária ao processo eleitoral. e) Código Penal. Parte Geral do Código Penal, especificamente sobre questões ligadas a tempo e lugar do crime, concurso de agentes etc. f) Código de Processo Penal. Será aplicado subsidiariamente ao processo penal eleitoral, conforme dispõe neste sentido o art. 364 do Código Eleitoral: “No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhes forem conexos, assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal.”. 3. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA Cabe privativamente à União legislar sobre matéria eleito- ral (inteligência do art. 22, I, da CF). Bem podemos observar, como exemplo, as legislações (fontes secundárias) que nos referimos no item anterior. O Presidente da República, bem como o Tribunal Superior Eleitoral, poderão expedir instruções que julgarem convenien- tes à boa execução das leis eleitorais (art. 84, IV, da CF e art. 23, IX, da Lei 4.737/1965). Medida provisória não pode dispor sobre direitos políticos, direito eleitoral e partidário, conforme dispõe o art. 62, § 1º, I, “a”, da CF. Quanto às leis delegadas também observamos a impossibilidade de possuírem como objeto direitos eleitorais e políticos, disposição também encontrada naCF (art. 68, § 1°, II). 4. PRINCÍPIOS DO DIREITO ELEITORAL Primeiramente é necessário relembrar a conceituação de que os princípios são alicerces do ordenamento jurídico, servindo como inspiração à elaboração e interpretação das normas, trazendo em sua essência não só uma característica filosófica, mas alta carga valorativa. Em especial, no Direito Eleitoral, assumem importância fundamental nos casos de lacuna ou omissão da lei. Ainda que a doutrina cuide de explorar características e classificações dos princípios, bem como elencar inúme- ros outros já conhecidos em diversos ramos (princípios da oralidade, contraditório, isonomia, identidade física do juiz, 8. Direito eleitoral Savio Chalita Savio Chalita2 publicidade etc.) trataremos aqui, de maneira objetiva, dos mais recorrentes: Princípio da anualidade eleitoral: também podemos encontrá-lo na nomenclatura de “princípio da anterioridade da lei eleitoral”, “antinomia eleitoral” ou “conflito de leis no tempo”. É a expressão do princípio do rules of game (traz a ideia de que não se pode mudar as “regras do jogo” durante o campeonato). O art. 16 da CF consolida o princípio da anualidade ao dispor que “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”. Por este princípio, toda lei que vier a alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, porém apenas será aplicada ao pleito que correr até um ano após a data de sua vigência. Segundo o STF, a concepção de lei abrangeria tanto leis infraconstitucionais quanto leis constitucionais (Emendas Constitucionais). Importante mencionar, também, que este princípio deverá ser observado no caso de alteração de jurisprudência pelos Tribunais. Trata-se de um direito fundamental do cidadão-eleitor, cidadão-candidato e dos próprios partidos políticos. Cabe mencionar que tal princípio, não obstante ostente a condição de cláusula pétrea implícita (ADI 3685/DF) a EC 107/2020, que tratou sobre o adiamento das eleições em razão da pandemia COVID-19, estabeleceu em seu art. 2º que “não se aplica o art. 16 da Constituição Federal ao disposto nesta Emenda Constitucional”. Isto porque referida emenda tratou de postergar a realização das eleições municipais de 2020, tendo sido publicada em 2 de julho de 2020, ou seja, a 3 meses das eleições (que em regra, ocorreriam no primeiro domingo de outubro de 2020). Ocorre que esta disposição visou tão somente esclarecer que o constituinte reformador não desconhece a necessidade de observância ao princípio da anualidade, no entanto, dadas as circunstâncias, a alteração do processo eleitoral foi medida necessária e que, mesmo diante dos ajustes necessários, atingiu a todos de modo equilibrado, sendo esclarecido acerca dos prazo vencidos e vincendos (art. 1º, EC 107/2020). Princípio da vedação da restrição de direitos políti- cos: este princípio possui conceituação semelhante ao do já conhecido in dubio pro reo, amplamente abordado no Direito Processual Penal, uma vez que traz a ideia de que não poderá o intérprete da lei estender interpretação da norma, de maneira a aumentar restrição de direitos políticos ao indivíduo (seja do candidato ou do eleitor). Diante da dúvida deverá o julgador (juiz ou tribunal) prezar pela não restrição de direitos políticos. Princípio da democracia: é direito que se situa na 4ª dimensão de direitos fundamentais, juntamente com o direito à informação e ao pluralismo. A democracia situa-se como princípio insculpido na Constituição Federal de 1988, condi- ção para os fundamentos estabelecidos no art. 1°. Também, fundamento das sociedades ocidentais reproduzida em grande valor na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 (artigo XXI) e no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 1966 (artigo 25). Existem três espécies de regimes democráticos: a) democracia direta, onde o povo atua diretamente no exercício da parcela do poder soberano popular; b) democracia representativa, onde o povo escolhe seus representantes para atuação em seu nome e em defesa de seus interesses; e por fim, c) democracia semidireta ou participativa, num verdadeiro sistema híbrido composto tanto da atuação direta do cidadão através de limitados ins- trumentos de atuação, como também indiretamente através de candidatos eleitos para cargos públicos eletivos em todos os entes da federação. A democracia participativa ou semidireta foi adotada pela Constituição vigente em nosso país, sendo disposta logo no art. 1° da Constituição Federal, em necessária leitura conjunta com o art. 14, CF, trazendo como instrumentos diretos (o exercício do voto que se dá de forma direta, a lei de inicia- tiva popular e as consultas populares através do plebiscito e referendo), e indiretos (através da escolha de representantes, através do voto). Princípio da democracia partidária: como vimos, a democracia remonta a concepção grega de “o poder ao povo”. Desta forma podemos compreender a efetividade da demo- cracia implantada sob 3 óticas distintas: Democracia direta, indireta e semidireta (ou temperada). A democracia direta é ilustrada pela organização, deveras eficiente, observada em Atenas durante os séculos V e VI, onde efetivamente os cidadãos participavam das decisões, o chamado autogoverno, completamente inviável se pensarmos nossa realidade. Na democracia indireta os cidadãos elegem seus repre- sentantes, que investidos em um mandato específico, desem- penharão a respectiva função pública, representando seu eleitorado até o final do seu mandato. Na democracia semidireta ou temperada ocorre um tem- peramento, como sugere sua classificação, sendo o modelo que experimentamos no Brasil. Aqui os cidadãos não encerram participação na vida pública simplesmente na escolha de seus representantes, mas têm a seu dispor outros instrumentos representativos como a participação em plebiscitos, referendos e iniciativa popular. Contudo, tanto na democracia indireta como na semidi- reta (adotada no Brasil), necessariamente percebemos a figura do partido político (criado e difundido pelos movimentos socialistas na Inglaterra) como um intermediário ao complexo funcionamento do sistema democrático. Princípio da celeridade da justiça eleitoral: quando tratamos de Direito Eleitoral, especificamente quanto aos mandatos, exigências e etc., verificamos a questão temporal como grande constante. Por esta razão, o Poder Judiciário (Justiça Eleitoral) tratará com maior prioridade, aos demais casos, as questões que tratem acerca de matéria eleitoral, com exceção da natural prioridade do habeas corpus e mandado de segurança. Como reflexo deste princípio na norma eleitoral, podemos destacar o prazo de 3 dias para a interposição da maioria dos Recursos (art. 258 do Código Eleitoral), o prazo de 24 horas para recorrer às instâncias superiores no caso de decisão sobre o exercício do direito de resposta (art. 58, § 5º, da Lei das Eleições), a irrecorribilidade da decisões do Tribunal Supe- rior Eleitoral (observadas as exceções: art. 121, § 3º, da CF), bem como a preclusão instantânea, salvo matéria de ordem constitucional ou legal de ordem pública (concluída uma fase, dentre as previstas a um assunto hipotético – registro de candidatura, propaganda eleitoral, votação etc., não se pode mais impugnar ocorridos pretéritos). 38. Direito eleitoral Capítulo 2 1. DIREITOS POLÍTICOS O regime de governo é o “termômetro” que indicará qual o nível (e quais as formas, meios, mecanismos e instru- mentos disponíveis) de participação popular comportadas pelo Estado. Na autocracia, regime de governo já extinto no Brasil, todo o governo é exercido por uma só pessoa. Há aqui a figura do absolutismo, completamente avesso à democracia, pois acima do soberano não há qualquer preceito legal, norma máxima, carta magna ou algo parecido. O Brasil, em diversos momentos, sofreuna carne do povo as consequências deste regime. Mesmo regimes que, em tese, atuavam dentro da legalidade, faticamente tinham nódoas absolutistas (governo de Getúlio Vargas entre 1937 e 1945, ditadura militar, reinado de D. Pedro I). No Brasil, vivemos sob o Regime Democrático, com- preendido como um princípio constitucional “sensível” (art. 34, VII, “a”, da CF), dada sua natureza de garantir ao povo participações efetivas nas decisões do Estado. Premissa é considerar que, de modo restrito e técnico (exercício direto e indireto da democracia), exercerá direito político aquele que mantenha vínculo político com a nação. Ou seja, aquele alistado junto a justiça eleitoral (que tenha feito seu alistamento eleitoral, possuindo título eleitoral). Assim, quando mencionarmos ou fizermos referência à “cidadão”, será todo aquele que cumpra com esta circunstância de vínculo. Para lembrar: Nacionalidade: vínculo jurídico mantido pelo indiví- duo com relação ao estado. Os critérios que, se cumpridos, garantirão este vínculo são estabelecidos pelo estado (sobe- rania nacional). Cidadania: vínculo político. É estabelecido a partir do alistamento eleitoral junto à justiça eleitoral. Poderá se alistar nacional (nato, naturalizado e o quase nacional1). Também é chamado de “nacional qualificado”. Ou seja, nacional qualificado pelo vínculo político. 2. ALISTAMENTO ELEITORAL1 O Código Eleitoral, em seu art. 43 e seguintes, dispõe sobre a forma que se dará o alistamento eleitoral. O alistando deverá apresentar em cartório (Eleitoral ou outro local previa- mente designado) o Requerimento de Alistamento Eleitoral (RAE) além de documento de identificação, certificado de quitação militar (eleitores do sexo masculino). Atualmente, o TSE ainda conta com o alistamento por processamento ele- trônico, pelo qual o alistando tem a opção de preenchimento de formulário “on-line” e apresentação junto à unidade da Justiça Eleitoral em até 5 dias (Resolução 21.538/2003 do TSE). Importante observação, já explorada em concursos, é sobre o prazo estabelecido pelo art. 91 da Lei 9.504/1997, que prescreve o não recebimento de qualquer requerimento de 1. o tratado da amizade (Decreto 3.927/2001) celebrado entre Brasil e Portugal, em 22.04.2000 (por ocasião das comemorações de 500 anos do descobrimento do Brasil), estabelece que ao português residente ininterruptamente no Brasil por 3 anos, havendo recipro- cidade, será garantido o exercício de direitos políticos (situação que suspenderá a possibilidade de exercício destes mesmos direitos em seu país de origem). alistamento eleitoral no interregno de 150 dias antecedentes à data da eleição. Isso traz alguns questionamentos, também já abordados em prova. Colacionamos o exemplo do jovem que irá com- pletar 16 anos poucos dias antes das eleições, mas pretende exercer seu direito de alistar-se e votar. A solução é simples e pacífica: o jovem deverá requerer sua inscrição ainda antes de completar seus 16 anos, desde que, na data da eleição, possua completa a idade mínima necessária. Discussões acaloradas na jurisprudência se deram em razão da obrigatoriedade ou não dos deficientes físicos vota- rem e também dos índios (integrados e não integrados). O atual entendimento do TSE paira sobre a obrigatorie- dade do voto ainda quanto aos deficientes físicos, podendo estes requerer seja registrada sua deficiência no cartório eleitoral de seu domicílio, para que no pleito seguinte sejam tomadas as providências necessárias de acessibilidade. Ou, ainda, em razão da Resolução 21.920/2004, poderá deficiente requerer ao juiz que seja registrado o chamado FASE 396, que impossibilitará que sejam geradas multas diante do seu não comparecimento ao local de votação na data da eleição. Quanto aos índios a discussão é outra. Para todos eles o alistamento e voto são compreendidos como facultativos, porém, caso queiram exercer este direito, as exigências são separadas entre os índios integrados e não integrados. Dos primeiros é exigida a quitação militar, conforme Resolução do TSE 20.806/2001, o que não ocorre em relação aos não integrados. Transferência – A transferência da inscrição eleitoral de um domicílio eleitoral a outro é facultativa, porém, se reque- rida, deverá o eleitor estar quite com a Justiça Eleitoral, além de declarar residência mínima de 3 meses, permanência mínima de 1 ano no domicílio eleitoral anterior, anterioridade superior a 150 dias das eleições (art. 91 da Lei 9.504/1997). Essas regras não serão necessárias caso a transferência seja de funcionário público civil, militar ou autárquico (ou sua família). Deverá ser obedecido procedimento próprio disposto ao longo dos arts. 55 e seguintes do Código Eleitoral. O juiz do novo domicílio poderá deferir ou indeferir o pedido de transferência, devendo ser a decisão publicada (normalmente na primeira quinzena de cada mês) para que só então sejam cabíveis os recursos: Transferência Deferida – Caso o juiz eleitoral do novo domicílio tenha entendido estarem presentes os requisitos, e então deferido a transferência, poderá o Ministério Público ou partido político recorrer perante o TRE em até 10 dias alegando suas razões, sejam elas inconsistências ou irregula- ridades observadas. Transferência Indeferida – O eleitor (interessado) terá o prazo de até 5 dias para recorrer perante o TRE alegando suas razões. Nesta situação, o Ministério Público terá participação como custos legis, devendo ter vistas do processo. 3. DOMICÍLIO ELEITORAL Como observado anteriormente, a inscrição ou trans- ferência do eleitor define seu domicílio eleitoral, local onde reside ou mantém moradia, podendo compreender até mesmo duas localidades, conforme dispõe o art. 42 do Código Elei- toral (situação em que o interessado deverá optar por uma), uma vez que o conceito aqui é diferente do domicílio civil, Savio Chalita4 possuindo maior “flexibilidade e elasticidade” a domicílio eleitoral, identificando-o com a residência e o lugar onde o interessando mantenha vínculos, sejam eles políticos, sociais, patrimoniais, afetivos ou de trabalho. O Tribunal Superior Eleitoral, em reiterados julgados, consolidou 3 (três) espécies de vínculos que um cidadão pode manter a fim de caracterizar domicílio eleitoral: a) Familiar; b) Patrimonial; c) Afetivo, social ou Comunitário. Quanto ao vínculo Familiar, podemos compreender como sendo aquela localidade onde seja o domicílio do genitor do cidadão em questão (TSE, AgRg em Ag 4.788/MG). O vínculo Patrimonial, como o próprio nome sugere, a localidade onde o cidadão seja proprietário de imóvel, ainda que não resida nele (TSE, REsp 10.972/SE). Por fim, o Vínculo Afetivo, Social ou Comunitário refere-se à localidade onde o candidato (cidadão que exerce seus direitos políticos passivos), nas eleições imediata- mente anteriores, obteve maior parte da sua votação (TSE, REsp16.397/AL). Importante reflexão reside em compreendermos a dife- rença sensível entre o Domicílio Eleitoral (Código Eleitoral) e o Domicílio Civil (Código Civil), objeto de recorrentes dúvidas e confusão quanto ao conceito de cada um. Os arts. 70 e seguintes do Código Civil dispõem que Domicílio será o lugar em que a pessoa natural estabeleça sua residência com a intenção manifesta de permanecer, centralizar sua vida, fixar suas atividades e negócios. Ou seja, é exigido o animus de permanência na localidade, princípio este exigido até mesmo na hipótese de o cidadão possuir diversas residências, pois poderá ser considerado domicílio qualquer uma delas, desde que o cidadão nelas viva, mesmo que alternadamente. Exemplo: Samya é advogada e trabalha em um escritório de advo- cacia no município de Campos do Jordão/SP. No entanto, reside na cidade de Lorena/SP, de onde se desloca diaria- mente para seu trabalho. Ainda, duas vezes na semana, dá aulas de Direito Eleitoral na cidade de São Paulo/SP. Com vistas ao que dispõe o Código Civil, arts. 70 e seguintes,qualquer uma das localidades (escritório de advocacia em Campos do Jordão/SP; local onde mora com seus pais, Lorena/SP; universidade que leciona Direito Eleitoral, São Paulo/SP) pode ser considerada seu domicílio, pois mantém, em cada uma delas, uma intenção de permanência, seja em razão de fixar sua residência (moradia com os pais) ou mesmo por desenvolver suas atividades profissionais. Por outro lado o art. 42 do Código Eleitoral dispõe que Domicílio Eleitoral será o lugar de residência ou moradia do cidadão, e, quando possuir mais de uma, poderá ser conside- rado domicílio eleitoral qualquer uma dessas localidades. Ou seja, diferentemente do que nos traz o Código Civil, o Código Eleitoral dispensa a necessidade de animus de permanência, sendo admitida maior flexibilidade ao conceito. A propósito, como vimos pouco antes, o próprio TSE já admitiu vínculos próprios (familiar, patrimonial, social), o que evidencia ainda mais este caráter flexível do conceito de domicílio pela ótica do Código Eleitoral. Exemplo: (adotando a ideia do exemplo anterior) Samya, advogada atuante em Campos do Jordão/SP, considerou estabelecer residência fixa nesta cidade para evitar o desgastante deslo- camento diário entre a casa de seus pais, em Lorena/SP, e o escritório. Neste caso, passou a não ter mais qualquer vínculo de moradia ou emprego com a cidade de Lorena/SP. Também, como forma de investir um dinheiro que ganhou de seu pai, comprou um apartamento na cidade do Rio de Janeiro/RJ, que está atualmente locado a um inquilino. Podemos dizer que Samya pode optar, a título hipotético de estabelecer seu domicílio eleitoral, as cidades de Lorena/SP (vínculo familiar), Campos do Jordão/SP (onde fixou moradia e desenvolve suas atividades profissionais – também é seu domicílio civil) ou mesmo Rio de Janeiro/RJ (vínculo patrimonial). Importante observação deve ser lançada quando tratar- mos de domicílio necessário, quais sejam os dos servidores públicos e militares, referenciando o local onde desenvolvem suas atividades em caráter permanente. Outra observação dá-se quanto à disposição do Decreto- -Lei 201/1967 ao disciplinar a possibilidade de cassação de mandato de vereador que vier a fixar residência fora do município em que exerce função eletiva. 3.1 Circunscrição, zonas e seções eleitorais Breves conceitos para melhor compreensão do que deve ser considerado ante a circunscrição, zonas e seções eleitorais. Circunscrição Eleitoral – É cada ente da federação ao qual todo o procedimento eleitoral, comportado pelos limites políticos,2 estará vinculado. Zona Eleitoral – Toda circunscrição é dividida em zonas eleitorais, as quais poderão abranger um ou mais municípios. Também é possível que em um mesmo município exista mais de uma zona eleitoral. O art. 23, VIII, do Código Eleitoral dispõe que será competência do TSE aprovar a divisão dos Estados em zonas eleitorais ou a criação de novas zonas. De maneira específica, a Resolução TSE 19.994/1997 estabelecia normas para a criação e desmembramento de zonas eleitorais, tendo sido revogada pela Resolução 23.422/2014, que muito embora trate sobre o mesmo tema, deixou de mencionar especificamente quanto ao “desmembramento das zonas eleitorais”. Ainda em referência legislativa, a divisão da circunscrição em zonas eleitorais, bem como a criação de novas zonas são de competência privativa dos Tribunais Regionais Eleitorais (a serem submetidas à aprovação do TSE, conforme art. 23 do CE, abordado no parágrafo anterior), conforme disciplina o art. 30, IX, do Código Eleitoral. Seção Eleitoral – Dentro de cada zona eleitoral haverá seções eleitorais, que serão subdivisões funcionais, onde efe- tivamente serão coletados os votos. As seções são organizadas à medida que são deferidos os pedidos de inscrição, não possuindo mais de 400 eleitores na capital e de 300 nas demais localidades, não podendo também possuir menos de 50 eleitores (art. 117 do Código Eleitoral). 2. limites políticos compreendem as faixas limítrofes que dividem os entes. 58. Direito eleitoral Importante mecanismo de fiscalização é concedido aos partidos que poderão nomear dois delegados (por partido ou coligação) para cada zona eleitoral (no caso de municí- pios com mais de uma zona eleitoral, poderão ser nomeados dois delegados para cada zona) e dois fiscais para cada seção eleitoral (art. 131 do CE). Os fiscais e delegados não poderão ser escolhidos entre aqueles que, nomeados por juiz eleitoral, façam parte da mesa receptadora da sessão, nem entre as pessoas menores de 18 anos. 4. JUSTIFICATIVA DE AUSÊNCIA E SANÇÕES QUANTO AO DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES ELEITORAIS Já sabemos que o voto é obrigatório para determinado grupo de pessoas e facultativo a outros, razão pela qual torna sensata a ideia de que o descumprimento acarretaria alguma espécie de sanção. Atenção: De fato, o texto do art. 14, CF, não deixa dúvidas quanto ao fato de que VOTO e ALISTAMENTO são obrigatórios no Brasil. No entanto, a interpretação não conduz para este mesmo sentido. Diante da impossibilidade de votar o cida- dão deverá justificar sua ausência à seção eleitoral (e não justificar o seu “não votar”). O eleitor regularmente inscrito poderá justificar sua ausência quando diante de situações em que esteja impossi- bilitado de comparecer à sua seção eleitoral, podendo assim proceder no prazo máximo de 60 dias após o pleito (quando o eleitor encontrava-se no país). Estando o eleitor no exterior no dia das eleições, o prazo será de 30 dias a contar do seu retorno. Importante observar a possibilidade de eleições no exterior, cabível apenas para a escolha do Presidente e Vice- -Presidente da República, as quais serão realizadas perante os consulados e embaixadas brasileiras e organizadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. Porém, é necessário um mínimo de 30 eleitores inscritos num prazo de até 30 dias antes do pleito. A reforma eleitoral de 2015 (Lei 13.165/2015), alargou possibilidades ao voto em trânsito, outra modalidade de cumprimento da obrigação. O eleitor que, na data da elei- ção, estiver em trânsito no território nacional, poderá votar em urnas especialmente instaladas nas capitais dos estados ou municípios com mais de cem mil eleitores previamente alistados. Para tanto, deverá obedecer às regras estabelecidas pelo art. 233-A do Código Eleitoral (incluindo parágrafos e incisos), são elas: a) habilitação perante a Justiça eleitoral com anterioridade de 45 dias, indicando o local que pretende votar; b) se a localidade não for dentro de seu estado federativo, o eleitor apenas poderá votar para o cargo de Presidente da República; c) se a localidade for dentro do estado federativo do eleito, o voto em trânsito poderá ocorrer à eleição para Presidente da República, Governador, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital (não há possibilidade de voto em trânsito nas eleições municipais). A reforma eleitoral, quanto ao mesmo dispositivo (§ 2° ao 4°, art. 233-A, Código Eleitoral), ainda dispôs que os membros das Forças Armadas, os integrantes dos órgãos de segurança pública a que se refere o art. 144 da Constituição Federal, bem como os integrantes das guardas municipais mencionados no § 8º do mesmo art. 144, poderão votar em trânsito se estiverem em serviço por ocasião das eleições (percebam a condicionante de “estar em serviço por ocasião das eleições”. Ou seja, não basta estar em serviço tão somente). E quanto aos eleitores que se encontram presos (cum- prindo pena ou provisoriamente)? A resposta é simples: os presos que se encontram em penitenciária cumprindo pena (com condenação transitada em julgado) possuem seus direitos políticos suspensos, como bem dispõe o art. 15, III, da CF. Sendo assim, não poderão votar e logicamente o não comparecimento à sua seção não acarretará qualquer sanção (sendo dispensável justificativa por ausência). Porém, os presos provisóriose os adolescentes internados ainda não possuem seus direitos políticos suspen- sos, podendo exercer seu direito ao voto. O TSE, através da Resolução 23.219/2000, estabeleceu a possibilidade de criação de seções eleitorais especiais dentro dos estabelecimentos prisionais e unidades de internação, como forma de garantir o direito de voto a estes eleitores (neste caso, deverá ser obedecido um mínimo de 20 eleitores). Os presos provisórios/internos que não realizarem a transferên- cia/inscrição no prazo estabelecido pela lei não poderão votar na seção especial, porém terão a oportunidade de justificar sua ausência normalmente (na própria seção especial). Por outro lado, muitos eleitores acabam perdendo o prazo estipulado para justificativa da ausência no pleito eleitoral, acabando por experimentar algumas sanções em razão do descumprimento desta obrigação. O art. 7° do Código Eleitoral enumera algumas destas sanções, dispondo que o eleitor que deixar de votar e não se justificar no prazo estabelecido (60 dias aos eleitores que se encontrarem no Brasil e 30 aos que estiverem no estrangeiro, como já exposto) incorrerá em multa que irá variar de 3% a 10% sobre o valor correspondente a 33,02 UFIRs3. No momento da votação é fornecido ao eleitor o com- provante de comparecimento à seção, que servirá de prova de sua quitação no pleito. Sem a prova de que votou ou mesmo pagou a multa respectiva (em razão do não comparecimento ou justificativa em prazo hábil), o eleitor não poderá: I – inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir-se ou empossar-se neles; II – receber vencimentos, remuneração, salário ou proven- tos de função ou emprego público, autárquico ou para estatal, bem como fundações governamentais, empresas, institutos e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvencionadas pelo governo ou que exerçam serviço público delegado; III – participar de concorrência pública ou administrativa da União, Estados, Distrito Federal ou municípios (ou das respectivas autarquias); IV – obter empréstimos em qualquer estabelecimento bancário ou de crédito mantido pelo governo ou cuja admi- nistração este participe; 3. a unidade UFir foi extinta com a vigência da lei 10.522/2002. o tSe, através da resolução 21.538, no art. 85, determinou a permanên- cia de seu uso como base de cálculo adotando o seu último valor vigente até que seja aprovado novo parâmetro valorativo (o último valor atribuído à UFir foi de r$ 1,0641). Savio Chalita6 V – obter passaporte ou carteira de identidade; VI – renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo; VII – praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda. O art. 7º, Código Eleitoral, estabelece que o eleitor que deixar de votar e não se justificar perante o juiz eleitoral até 30 (trinta) dias após a realização da eleição, incorrerá na multa de 3 (três) a 10 (dez) por cento sobre o salário mínimo da região, imposta pelo juiz eleitoral e cobrada na forma prevista no art. 367 do mesmo Código. Em complemento, o § 1º estabelece que sem a prova de que votou na última eleição, pagou a respectiva multa ou de que se justificou devidamente, não poderá o eleitor: I – inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir-se ou empossar-se neles; II – receber vencimentos, remuneração, salário ou proven- tos de função ou emprego público, autárquico ou para estatal, bem como fundações governamentais, empresas, institutos e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvenciona- das pelo governo ou que exerçam serviço público delegado, correspondentes ao segundo mês subsequente ao da eleição; III – participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos Estados, dos Territórios, do Distrito Federal ou dos Municípios, ou das respectivas autarquias; IV – obter empréstimos nas autarquias, sociedades de economia mista, caixas econômicas federais ou estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, ou de cuja administração este participe, e com essas entidades celebrar contratos; V – obter passaporte ou carteira de identidade; VI – renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo; VII – praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda; (...) § 4º O disposto no inciso V do § 1º não se aplica ao eleitor no exterior que requeira novo passaporte para identificação e retorno ao Brasil. (Incluído pela Lei 13.165/2015). Neste ponto, o § 4° do art. 7° do Código Eleitoral, inserido pela Lei 13.165/2015, estabelece que o disposto quanto a “obter passaporte ou carteira de identidade” não se aplica ao eleitor no exterior que requeira novo passaporte para identifica- ção e retorno ao Brasil. Assim, inaugura, a nova lei, novo dispositivo visando assegurar o direito de brasileiro (nato ou naturalizado) de regressar ao país de origem, qual seja o Brasil. 4.1 Cancelamento da inscrição eleitoral O art. 71 do CE elenca as causas de cancelamento da inscrição do eleitor, quais sejam, a infração aos arts. 5° e 42 do Código Eleitoral, a suspensão ou perda dos direitos políticos, a pluralidade de inscrições, o falecimento do eleitor e deixar de votar em 3 eleições consecutivas. Ocorrendo qualquer das causas ensejadoras do cancela- mento, este se dará ex officio pelo juiz eleitoral ou a requeri- mento do Ministério Público, de delegado de partido ou de qualquer eleitor. No caso dos maiores de 18 anos que forem privados temporária ou definitivamente de seus direitos políti- cos, a autoridade que impuser a pena comunicará o fato ao juiz eleitoral ou ao Tribunal Regional Eleitoral da circunscrição em que residir o réu. Os oficiais de Registro Civil enviarão até o 15° dia de cada mês a relação dos óbitos de cidadãos alistáveis do mês anterior, para que seja dado prosseguimento no cancelamento das inscrições. Até que seja findo o processo de cancelamento da ins- crição, o eleitor então inscrito poderá votar normalmente. Porém, os votos (se considerados suficientes para tal) poderão ser considerados nulos caso venham a alterar o quadro final das eleições, caso se firme a exclusão. 4.2 Suspensão e perda dos direitos políticos O art. 15 da Constituição Federal veda a cassação de direitos políticos. Porém, determina casos em que se dará a perda ou suspensão destes direitos: cancelamento da natu- ralização por sentença transitada em julgado; incapacidade civil absoluta; condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (art. 5°, VIII, da CF) e improbidade administrativa (art. 37, § 4°, da CF). De maneira geral encontramos duas hipóteses de perda dos direitos políticos: perda da nacionalidade brasileira por adquirir outra voluntariamente e cancelamento da naturali- zação por sentença transitada em julgado. As demais podem ser classificadas como casos de suspensão, dado o caráter temporário que irão assumir. Cancelamento da naturalização – O dispositivo encon- trado no art. 15, I, da CF apresenta hipótese de perda dos direitos políticos na situação de cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado em razão de exercício de atividade nociva ao interesse nacional (art. 75, Lei 13.445/17). A mesma regra de perda dos direitos políticos é válida aos brasileiros que tiverem declarada a perda da sua nacionalidade em razão da aquisição voluntária de outra. Excetuam-se a este último caso o reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira e a situação de imposição de naturalização pela lei estrangeira ao brasileiro residente no exterior, como condição para permanência e exercício de direitos civis. Para o caso de perda da nacionalidade em razão de cancelamento da naturalização, a reaquisição será exceção,a depender do regular trâmite de ação rescisória em face da sentença transitada em julgado que decidiu pelo cancelamento da naturalização. Incapacidade Civil Absoluta – A disposição do art. 15, II, da CF apresenta-se como hipótese de suspensão dos direitos políticos, sendo que apenas ocorrerá quando reco- nhecida por sentença transitada em julgado, salvo nos casos de menores de 16 anos, uma vez que a incapacidade absoluta é legalmente prevista. O art. 3° do Código Civil dispõe que são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 anos e os que, por enfermidade ou deficiência mental, não possuírem o necessário discernimento para a prática de atos da vida civil, ou mesmo aqueles que por causa transitória não puderem exprimir sua vontade. No entanto, com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com Deficiência, que alterou significativamente os dispositivos atinentes à capacidade civil das pessoas, extinguiu-se a figura 78. Direito eleitoral da incapacidade civil superveniente. Ou seja, os únicos a serem compreendidos como INCAPAZES são os menores de 16 anos de idade (cuidado!). Condenação Criminal – O dispositivo constitucional do art. 15, III, faz menção à condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos. Ou seja, no caso de sentença irrecorrível que venha a condenar o indivíduo, seus direitos políticos serão suspensos, não sendo necessário que tal disposição venha expressa na sentença, vez que já é pacífico no STF que o art. 15, III (que dispõe sobre a condenação criminal como causa de suspensão dos direitos políticos), enquadra-se no perfil de preceito autoaplicável. Diz-se suspensão dos direitos, pois a restrição irá cessar com o cumprimento da pena ou extinção, conforme inteli- gência da Súmula 9 do TSE. Recusa de cumprir obrigação – O art. 15, IV, da CF dis- põe outra causa de suspensão dos direitos políticos, qual seja a recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (art. 5°, VIII, da CF). Improbidade Administrativa – Prevista no art. 15, V, da CF. Nos termos do art. 37, § 4°, também da CF, o tempo de suspensão dos direitos políticos, neste caso, está previsto em legislação especial, qual seja, a Lei 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa). Como na hipótese da conde- nação criminal, e para afastar abuso e ilegalidade, a situação demanda o trânsito em julgado da sentença. Observação importante se faz quanto à inelegibilidade prevista no art. 1°, I, “l”, da LC 64/1990, onde é suficiente que haja condenação por órgão colegiado por ato doloso de improbidade administrativa importando lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito. 5. DIREITOS POLÍTICOS ATIVOS A Constituição Federal, como já mencionado, adotou a chamada DEMOCRACIA SEMI DIRETA, ECLÉTICA ou MISTA. Significa compreender uma leitura conjunta entre o parágrafo único do art. 1º, CF e o art. 14, CF. Ou seja: na forma indireta, temos a atuação do cidadão através de representantes eleitos (falaremos aqui em DIREITOS POLÍTICOS PASSIVOS). Parlamentares e chefes de executivo exercem mandato imbuídos de representatividade. Quando eleitos, diplomados e empossados, temos por completa a forma de outorga de poderes que os cidadãos conferem para que atuem em nome da coletividade. Certo é que esta representatividade não corresponde à von- tade de todos os cidadãos, mas à maioria deles, a partir de crité- rios de apuração de votos (sistemas Majoritário e Proporcional) Quanto à forma de exercer a democracia em sua forma direta (aqui, o conceito que trabalharemos será o dos DIREI- TOS POLÍTICOS ATIVOS), o texto constitucional indica que será exercida pelo sufrágio universal, pelo voto direto e secreto e ainda através de plebiscito, referendo e iniciativa popular. Art. 14. a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: i – Plebiscito ii – referendo iii – iniciativa popular. O conceito de soberania popular contido no caput do art. 14, CF, deve ser interpretado com a de que a titularidade máxima do poder pertence ao povo. Ou seja, todo o poder emana do povo que irá, então, exercê-lo através do sufrágio universal, voto, plebiscito e referendo. Por SUFRÁGIO podemos compreender o direito público subjetivo do cidadão de participar das decisões tomadas pelo estado. Esse direito pode ser classificado como RESTRITO ou UNIVERSAL a depender das exigências que se faça para possibilitar seu exercício. Não está, portanto, relacionado tão somente aos exercícios direitos políticos ativos (embora nesse título), mas aos direitos políticos de uma forma ampla (direitos políticos ativos e passivos). No SUFRÁGIO RESTRITO há condições que não são facilmente satisfeitas pelos cidadãos. Aqui podemos localizar o sufrágio Capacitário e o censitário. Sufrágio Capacitário: relaciona-se com a capacidade intelectual, com a instrução recebida, com o grau de esco- laridade ou conhecimento técnico que o cidadão possua. A título de um precário exemplo, imaginemos que em uma nação que adote o sufrágio restrito Capacitário, só poderá ser considerado cidadão aquele que apresentar conclusão de nível superior quanto à sua escolaridade. Perceba, caro leitor, que nessa situação há uma evidente exclusão de parcela desfavo- recida, represando grandes possibilidades nas mãos de uma minoria privilegiada. Sufrágio Censitário: nessa classificação, muito traba- lhada em aulas sob o mnemônico “cen$itário”, indica que para ser considerado cidadão é necessário cumprir com um padrão mínimo preestabelecido de condição financeira (por isso o “$”). Ou seja, também em um precário exemplo, seria admitir que para exercer seus direitos políticos em uma determinada nação o cidadão tivesse que apresentar sua declaração de renda demonstrando possuir condições financeiras. Sufrágio Restrito Cen$itário Capacitário Por outro lado o SUFRÁGIO UNIVERSAL, conceito adotado pelo Brasil e que impõe compreender que é outorgada a condição de eleitor àqueles que reúnam a capacidade civil prevista no ordenamento além de requisitos básicos legais, sem que sejam exigidas condições mínimas econômicas, posturas religiosas, grau mínimo de instrução escolar ou qualquer aspecto que venha a discriminar o indivíduo ou a criar difíceis ou complexos requisitos. 5.1. O VOTO O VOTO pode ser conceituado como um direito subjetivo compreendido como instrumento do sufrágio. É a concreta manifestação de escolha por parte dos cidadãos quando chama- dos a manifestar opção de representação durante um processo Savio Chalita8 eleitoral, razão pela qual se conceitua como forma DIRETA de exercício democrático. Algumas características acerca do voto são encontradas no próprio texto constitucional. Vejamos: Secreto Universal Obrigatório* Periódico VOTO Direto Direto: o eleitor vai pessoalmente à sua seção eleitoral, não há intermediários nem é possível que se outorgue a ter- ceiro a atribuição de manifestar sua vontade (o que, inclusive, comprometeria a características seguinte). Portanto um ato personalíssimo. Secreto: historicamente o Brasil enfrentou os famosos “votos de cabresto”. Atualmente, ainda que casos criminosos sejam identificados, nosso ordenamento prevê o voto secreto, de maneira a preservar a convicção íntima de cada cidadão. Cabe destacar que por ocasião da Lei 13.165/15, o Congresso Nacional aprovou a inserção do art. 59-A na Lei das Eleições (Lei 9.504/1997). O dispositivo criou a obrigação de que no processo de votação eletrônica houvesse uma impressora para que rea- lizasse o registro físico (impressão) de cada voto, que seria depositado automaticamente após o eleitor conferir que a impressão corresponderia à sua escolha (não seria possível qualquer contato físico com o material impresso) em uma urna lacrada, o que possibilitaria futura auditoria dos resultados. Posteriormente, quando enviadoà sanção presidencial, sob a natureza de controle de constitucionalidade (controle jurídico) a presidenta da república vetou tal dispositivo sob a alegação de que tal procedimento permitiria a ocorrência de violação ao sigilo do voto. Ocorre que o Congresso Nacional, após votação nesse sentido, derrubou o veto presidencial trazendo vigor à dispo- sição, que deveria ser implantada para a eleição presidencial de 2018. Em razão dos apontamentos quanto à temerária possibilidade de afronta ao sigilo da votação, a PGR, através da ADI 5889, conseguiu deferimento de medida liminar que suspendeu a eficácia da norma até decisão final acerca do assunto. Até a data de fechamento desta edição não houve qualquer modificação desta decisão, sequer perspectiva de pauta para o julgamento da Ação Direta. Universal: todos são titulares do sufrágio (direito subje- tivo), homens, mulheres, negros, brancos etc., sendo neces- sário apenas o preenchimento de requisitos básicos previstos em nosso ordenamento (art. 14, CF). Esta possibilidade ampla de participação dá origem ao próprio conceito “universal”. Periódico: as eleições ocorrerão a cada 4 anos, com man- datos eletivos de 8 anos para senador e 4 anos para todos os demais cargos. Nosso ordenamento autoriza única reeleição para os cargos do Poder Executivo e não impõe limites aos do Poder Legislativo. No caso dos Senadores, relevante mencionar que embora o mandato seja de 8 anos, a cada 4 será realizada a renovação da representação de estados e DF de 1/3 e 2/3, conforme § 2º, art. 46, CF (cada estado possui representação de 3 senadores, no total. Portanto, a alternância será sempre de 1 ou 2 a cada eleição presidencial). Obrigatoriedade: atualmente o voto no Brasil é obri- gatório (caput, art. 14, CF) muito embora seja certo que sua obrigatoriedade recai quanto ao comparecimento às urnas e não ao voto em si considerado. Isto porque é possível que o eleitor “anule” o seu voto como expressão de vontade, de repúdio ou manifestação. Importante também a consignação que o art. 60, §4º, CF, estabelece as chamadas cláusulas pétreas. Ou seja, disposi- ções protetivas contidas em nosso texto constitucional que mesmo diante do Poder Constituinte Derivado Reformador não poderá ser alterado de forma tendente a abolir o que ali o Constituinte relacionou. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. É de importante alerta o destaque feito acima. Dentre as características relacionadas pelo protetivo rígido constitucio- nal, especificamente quanto ao voto temos que a característica da OBRIGATORIEDADE não é cláusula pétrea, podendo ser alterada por meio de EC (alteração formal da constituição). 5.2. Plebiscito e referendo A Constituição ainda indica outras formas de exercício direto da democracia, indicando as consultas populares e a lei de iniciativa popular. Quanto às consultas, temos o Plebiscito e o Referendo como formas de possibilitar a participação dos cidadãos nas tomadas de decisão pelo Estado de forma direta, sem intermediário. O caput do art. 2º da Lei Federal 9.709/1998 define ple- biscito e referendo como “consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa”. Plebiscito: é convocado com anterioridade ao ato legisla- tivo ou administrativo, cabendo ao povo, aprovar ou denegar o que tenha sido submetido à consulta (art. 2°, § 1°, da Lei 9.709/1998). Será de observância obrigatória quando na incorporação, subdivisão, anexação, criação de novos estados e municípios (art. 18 §§ 3º e 4º, CF). Também poderá ser convo- cado em razão de relevância nacional (art. 3°, Lei 9.709/1998). Referendo: referendo é a convocação feita posterior- mente ao ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar o ato através da consulta (art. 2°, § 2°, da Lei 9.709/1998). Em regra, será uma consulta facultativa a ser convocada em caso de relevância nacional (art. 3°, Lei 9709/1998), a menos que prevista expressamente no texto legislativo. 98. Direito eleitoral Como exemplo temos o Estatuto do Desarmamento (a propósito, até o fechamento desta edição, foi a última opor- tunidade em que fomos convocados a nos manifestar nesta modalidade), onde em seu art. 35, § 1º, condicionou a entrada em vigor de seu caput ao resultado de referendo popular. Tal dispositivo dispunha a norma “É proibida a comercialização e arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6° desta Lei”. Assim, com o resultado “NÃO” tendo sido vencedor na consulta, não temos em vigor tal proibição. Importante observação é que as duas espécies de consultas populares são, na verdade, consultas aos cidadãos, uma vez que é imprescin- dível a inscrição eleitoral para poder votar, tanto no plebiscito quanto no referendo. E, desta forma, aplicam-se as mesmas regras dispostas no art. 14, § 1°, I e II, da CF: obrigatoriedade do voto aos maiores de dezoito anos e facultatividade aos analfabetos, maiores de setenta anos e maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. Na mesma linha de raciocínio é possível verificar que cada eleitor obedecerá a sua zona e sessão eleitoral (princi- palmente nos casos em que o plebiscito interessar a Estados determinados – art. 4° da Lei 9.709/1998), os brasileiros residentes no exterior não votam (afinal, a resposta à estas consultas – Plebiscito e Referendo – são feitas através do exercício de aposição de voto no “SIM” ou “NÃO”) e os que no exterior estiverem será necessária a justificativa quando do regresso. Quanto ao resultado das consultas: o resultado das duas formas de consulta vincula o poder público? A resposta, entendemos, deve ser afirmativa. Isso porque estamos diante de situação onde o titular do poder se manifesta (o povo), sendo que contrariar o que foi decidido só se for por via idêntica (ou seja, através de outra consulta, na modalidade escolhida anteriormente). 5.3. Iniciativa popular A iniciativa popular é perfeitamente conceituada pelo art. 13 da já referida Lei 9.709/1998, como a apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por 5 Estados, com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um deles. O projeto de lei originário de iniciativa popular deverá “circunscrever-se a um só assunto” (art. 13, § 1°, da Lei 9.709/1998), não podendo ser rejeitado pela Casa por vício de forma, cabendo ao órgão competente da Câmara providenciar as correções de eventuais impropriedades técnicas (legislativas ou de redação). É possível que as Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais tragam previsão, em seus textos legais (Constitui- ção Estadual e Lei Orgânica, respectivamente), da iniciativa popular referentes às suas competências. No Brasil não é possível PEC (Proposta de Emenda Cons- titucional) de origem por iniciativa popular. Não que sejamos contra (muito pelo contrário, seria uma forma de garantir que mudanças substanciais pudessem ser originadas diretamente), mas atualmente não há tal possibilidade em vigor, ainda que amplamente criticado pela doutrina e jurisprudência. 6. DIREITOS POLÍTICOS PASSIVOS Quanto aos direitos políticos passivos devemos compre- ender aqueles relacionados à atuação em posição de quem busca candidatar-se a cargo público eletivo (e não simples- mente no ato de votar). Para candidatar-se a qualquer cargo o cidadão deverá cumprir com as CONDIÇÕES DE ELEGI- BILIDADE e NÃO INCORRER NAS HIPÓTESES DE INE- LEGIBILIDADE (constitucionais ou infraconstitucionais). Além disso, filiado a um partido político (considerando que no Brasil não se admite as candidaturas avulsas – art. 11, § 14, Lei das Eleições – e que a filiação é umacondição de elegibi- lidade estabelecida) e devidamente escolhido em convenção partidária. Tudo conforme veremos em sequência. 6.1. Condições de elegibilidade Trata-se de condições a serem cumpridas pelo cidadão que pretenda concorrer a cargo público eletivo. A Constituição Federal disciplina as chamadas condições de elegibilidade no art. 14, § 3°. São elas: Nacionalidade brasileira – Com inteligência do art. 12, CF, são considerados brasileiros natos os nascidos no Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que não estejam a serviço de seu país de origem, bem como os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileiros, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil. São considerados brasileiros naturalizados aqueles que, na forma da lei, venham a adquirir a nacionali- dade brasileira, sendo exigido residência por um ano ininter- rupto e idoneidade moral aos originários de países de língua portuguesa e residência há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal aos estrangeiros de qualquer outra nacionalidade, desde que assim requeiram. Importante mencionar que a regra constitucional (art. 12, CF) é da impossibilidade de tratamento com distinção entre brasileiros natos e naturalizados, exceto se tal situação venha estabelecida na própria constituição. É exatamente o que acontece quanto ao cargo de Presidente e Vice-Presidente da República (art. 12. §3º, CF), onde há um critério objetivo para ocupar o cargo, qual seja, o de ser BRASILEIRO NATO. Atenção! Não podemos confundir CONDIÇOES DE ELEGIBI- LIDADE com CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DO CARGO. As condições de elegibilidade deverão ser cumpridas por aqueles que intentam concorrer em um pleito eleitoral. Ou seja, somente poderão ser exigidas quando para este claro propósito, o que é aferido nos autos de um pedido de registro de candidatura (RCan). Por outro lado, as condições de cargo devem ser obser- vadas em qualquer situação de sua ocupação, seja via eleição ou mesmo através da linha de substituição, que no caso de presidente da república está indicada no art. 80, CF. Exemplo: Gabriel é candidato à presidente da república. Para que se oficialize esta condição, dentre outras situações a serem observadas, deverá comprovar cumprir as condições de ele- gibilidade do art. 14, § 3º, CF. Dentre elas, e com o propósito pedagógico deste exemplo, ser brasileiro nato (condição para o cargo) e ter a idade mínima de 35 anos (condição de elegibilidade). Savio Chalita10 José, brasileiro nato, foi eleito Deputado Federal pelo estado de São Paulo. Como condição imposta para concorrer a este cargo, comprovou possuir na data da posse a idade mínima de 21 anos (condição de elegibilidade). Vamos analisar alguns pontos: José, caso seja eleito presidente da Câmara dos deputados (segundo o art. 80, após o vice-presidente da república, é quem substituirá o presidente da república em caso de impedimento ou vacância), poderá assumir o cargo de presidente da repú- blica caso seja necessário ante situação de impedimento ou vacância do titular e vice? Resposta: Sim! Isto porque o critério etário é apenas condição de elegibilidade e não para o exercício de cargo. Admitindo que José seja brasileiro naturalizado, a resposta permaneceria positiva? Resposta: Não. Isso porque ser brasileiro nato não é condição de elegibilidade, mas sim pressuposto objetivo para poder exercer o cargo de presidente da república. Pleno Exercício dos Direitos Políticos – O cidadão não poderá estar com seus direitos políticos suspensos ou tê-los perdido. Importante lembrar que o art. 15, CF, estabelece que é vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão se dará nos casos: I – cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II – incapacidade civil absoluta; III –condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou pres- tação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. Atenção: Se, hipoteticamente, um cidadão vier a ser condenado por crime de lavagem de dinheiro, tendo sido confirmada tal decisão em âmbito do tribunal (segunda instância), mas ainda sem o trânsito em julgado, temos o seguinte cenário: a) Não há suspensão dos direitos políticos, situação que só acontecerá quando houver o trânsito em julgado. Por este único ponto, não haveria limitação em se candidatar a algum cargo público eletivo. b) Há latente hipótese de inelegibilidade, que tem relação com necessária situação negativa a ser cumprida pelo cidadão. A LC 64/1990, em seu art. 1°, I, e, item 6, estabelece que a decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, quanto ao crime de lavagem de dinheiro, imporá inelegibilidade de 8 anos após o cumprimento da respectiva pena. Alistamento Eleitoral – A Resolução TSE 21.538/2003, em seu art. 15, dispõe que “o brasileiro nato que não se alistar até os 19 anos ou naturalizado que não se alistar até um ano depois de adquirida a nacionalidade brasileira incorrerá em multa imposta pelo juiz eleitoral e cobrada no ato da inscrição”. Ou seja, o alistamento é imprescindível para que o cidadão possa vir a se candidatar a qualquer cargo político eletivo. Domicílio Eleitoral na Circunscrição – O art. 42 do Código Eleitoral conceitua domicílio eleitoral como sendo o lugar de residência ou moradia do requerente (como já visto em itens anteriores) e, na situação em que o alistando possuir mais de um, poderá ser considerado domicílio qualquer um deles. Também é importante relembrar os aspectos próprios que a transferência do domicílio eleitoral acarretará ao interessado. Diz-se isso porque o requerimento deve ser realizado no cartório eleitoral do novo domicílio em até 151 dias antes da eleição, tenha já ultrapassado 1 ano da inscrição anterior e residência mínima de 3 meses no novo domicílio, atestada pela autoridade policial e provado por outros meios. Ou seja, nos 150 dias anteriores à eleição, nenhum pedido de inscrição ou transferência será recebido (art. 91 da Lei 9.504/1997 e art. 55 Código Eleitoral). Filiação Partidária – A Lei 9.096/1995 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos) dispõe que os brasileiros natos e naturali- zados que gozam de seus direitos políticos deverão requerer filiação aos partidos políticos e terem tal solicitação deferida até 6 meses antes das eleições pretendidas (considera-se a data da eleição o primeiro domingo de outubro do ano eleitoral). Os partidos políticos enviarão à Justiça Eleitoral, na segunda semana dos meses de abril e outubro (de cada ano), uma lista com as novas filiações do partido. Caso isso não ocorra, a validade das filiações fica assegurada pela última lista enviada, podendo ainda o interessado comprovar por outros meios sua filiação, conforme Súmula 20 do TSE.4 A reforma de 2017 (Lei 13.488/2017), em igual sentido, indica o prazo de 6 meses anteriores às eleições como o lapso mínimo a ser cumprido para que o cidadão tenha, até este momento, filiação partidária deferida e domicílio eleitoral na circunscrição onde se pretenda concorrer a cargo público eletivo. Atenção: No Brasil não é possível a chamada “candidatura avulsa”, onde o cidadão busca concorrer cargo público eletivo sem que esteja filiado a algum partido político. Isto porque a Constituição Federal é clara ao estabelecer quais são as condições de elegibilidade a serem satisfeitas, e, dentre elas, está a filiação a partido político (Art. 14, § 3º, V, CF). O constituinte não deixou espaço à norma infraconstitucional criar as condições, mas optou por estabelecê-las claramente. Importante destacar que pende de julgamento no STF do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1054490, com repercussão reconhecida, de relatoria do Min. Luis Roberto Barroso. Idade Mínima – A Constituição traz algumas idades mínimas a serem obedecidas a pretendentes a diferentes car- gos eletivos.São elas: 35 anos para Presidente da República e Vice e Senador; 30 anos para Governador de Estado e Distrito Federal e respectivo Vice; 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; 18 anos para Vereador. Vale salientar que a condição de elegibilidade etária é verificada tendo por referência a data da posse no cargo eletivo (art. 11, § 2º, da Lei 9.504/1997), com exceção inaugurada pela minirreforma eleitoral de 2015, que estabelece que quando a idade mínima for fixada em 18 anos (como para o cargo de vereador) a aferição será feita na data limite para o pedido de registro de candidatura (neste ponto, considera-se a data limite até vinte dias antes da data 4. Súmula 20 do TSE: “a prova de filiação partidária daquele cujo nome não constou da lista de filiados de que trata o art. 19 da lei 9.096/1995, pode ser realizada por outros elementos de convicção, salvo quando se tratar de documentos produzidos unilateralmente, destituídos de fé pública”. 118. Direito eleitoral das eleições – inteligência do art. 16 da Lei das Eleições). Reafirmamos que quanto aos demais cargos, onde a idade a ser observada será superior à de 18 anos, a regra permanece a mesma (aferição será feita na data da posse). Interessante observação é feita quanto ao alistamento do militar que pretende eleger-se, situação onde a Constituição dispõe que deverão ser atendidas algumas condições como: a) se o militar contar com menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; b) se o militar contar com mais de 10 anos de serviço será agregado pela autoridade superior e se for eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. 6.2. Inelegibilidades Podemos compreender inelegibilidade como a impossi- bilidade de o cidadão exercer seus direitos políticos passivos (exercer cargo público eletivo) em razão de circunstâncias impeditivas elencadas na Constituição Federal e também pela Lei Complementar 64/1990, com as alterações acertadas da Lei Complementar 135/2010 (Lei da Ficha Limpa). Desse modo, podemos dizer que as hipóteses de inele- gibilidades são divididas entre hipóteses constitucionais e hipóteses infraconstitucionais. 6.2.1 Hipóteses constitucionais As hipóteses constitucionais estão previstas no art. 14, §§ 4º ao 7º, CF, que dispõem serem inelegíveis cidadãos que se encontrem nas seguintes situações: a) Inalistáveis: o art. 14, § 2º, da Constituição Federal dispõe que são inalistáveis os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. Pode-se, ainda, considerar inalistáveis os que tiveram seus direitos políticos perdidos ou suspensos. O inalistável não preenche todas condições de elegibilidade (art. 14, § 3º, III, da CF) e, conse- quentemente, é naturalmente inelegível. b) Analfabetos (art. 14, § 4º, da CF): Não há um critério unânime para se determinar o que é um “analfabeto”. Mas são considerados “analfabetos” aqueles que não dominam a escrita e a compreensão de textos, ainda que singelos, em seu próprio idioma. De outro lado, o domínio em algum grau justifica o status de alfabetizado ou semialfabetizado. Para fins eleitorais, pouca instrução não pode ser considerada como analfabetismo. Alguns juízes fazem ditados para aferir se o candidato é alfabetizado ou não, porém não há respaldo jurídico para este método, sendo, inclusive, combatido por violar o princípio da dignidade da pessoa humana (TSE, REsp 21.707/PB, Rel. Humberto Gomes de Barros). A jurisprudência tem admitido as seguintes premissas para se considerar inelegível um candidato em razão da hipó- tese de analfabetismo: I. Não demonstre habilidades mínimas (leitura e escrita) (TSE, REsp 13.180/1996); II. É incapaz de esboçar sinais gráficos compreensíveis (REsp 10.499/1992); III. Não mostre aptidão para leitura (REsp 10.845/1992); IV. Não tenha êxito na prova a que se submeteu, mesmo já tendo exercido a vereança (REsp 21.958/2004). De maneira sintética o art. 14, § 1º, II, “a”, da Constituição Federal dispõe que o alistamento e voto são facultativos aos analfabetos (faculta-se o exercício dos direitos políticos ativos), ou seja, trata-se de um direito prerrogativa (lembrando que para os alistáveis, trata-se de um direito-dever). De outro lado, os analfabetos não podem exercer seus direitos políticos passivos (não podem ser votados), conforme hipótese de inelegibilidade constitucional do art. 14, § 4º, da Constituição Federal. Observação importante: a condição de analfabeto pode ser, logicamente, provisória, uma vez que o indivíduo pode vir a ser alfabetizado, afastando esta hipótese de inelegibilidade. c) Inelegibilidade reflexa, relativa ou por vínculo de paren- tesco: a Constituição Federal também dispõe que “são inelegí- veis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição” (§ 7º do art. 14 da CF). Nesse cenário, é imperioso destacar e relembrar alguns conceitos pontuais: Cônjuge e Companheiros (União Estável): Compre- ende-se por cônjuge também o companheiro/convivente na constância da União Estável (registrada ou reconhecida judicialmente), incluindo também os casais de mesmo sexo, não havendo qualquer distinção. Atenção! Súmula Vinculante 18: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibi- lidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal. Parentes Consanguíneos e Afins ou por Adoção até o 2º Grau: Parentes consanguíneos até o 2º grau de um cida- dão compreendem os seus os avós, pais, irmãos, filhos (não havendo distinção entre adotivos e não adotivos) e netos. Parentes por afinidade até o 2º grau de um cidadão com- preendem o sogro, sogra, sogro-avô, sogra-avó, genro, nora, genro-neto, nora-neta, cunhado e cunhada. d) Militares: quanto ao § 8º do art. 14 da CF, ao dispor sobre a inelegibilidade dos militares, ressaltamos objetivamente o intento do Constituinte: Militares com menos de 10 anos de serviço: Deverá afastar-se da carreira, deixando de integrar os quadros efetivos das Forças Armadas. Militares com mais de 10 anos de serviço: Será agre- gado pela autoridade superior. Se eleito, passará, no ato da diplomação, à inatividade (reserva). Se não eleito, retornará às atividades originais. e) Limite à recondução ao cargo de chefia do Executivo: por fim, destacamos especial atenção aos §§ 5º e 6º do art. 14 da CF que, nitidamente, tratam de estabelecer a possibilidade de uma única recondução ao cargo de chefe do Executivo, não limitando aos ocupantes de cargos legislativos, e trazendo a ideia do que conceituamos como desincompatibilização.5 Vejamos: a) Os chefes do Executivo, para concorrerem a outros cargos, devem renunciar aos seus mandatos até 6 meses antes do pleito. 5. art. 14, § 6º, da CF: “Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito”. Savio Chalita12 b) Os chefes do Executivo, concorrendo à reeleição (mesmo cargo), não precisam renunciar aos seus mandatos por falta de previsão legal, muito embora seja incoerente à lógica de se tutelar a lisura das eleições, uma vez que a previsão de desincompatibilização até 6 meses anteriores ao pleito intenta evitar o abuso do poder em razão de função frente a chefia do Executivo. Importante: Titular e Vice são cargos diferentes, no entanto, quem ocupar o cargo de TITULAR por dois man- datos consecutivos ficará impedido de candidatar-se a VICE, consecutivamente, pois haveria a possibilidade de se tornar TITULAR nas hipóteses de Substituição (caráter temporário,