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DOENÇA INFLAMATÓRIA E PARASITOSES INTESTINAIS - Gabriel T G F

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GABRIEL TRENTIM GOMES FARIA TXXII 1 
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS 
Doença infamatória intestinal (DII) é um termo amplo que designa a doença de Crohn 
(DC) e a Retocolite ulcerativa (RCU), caracterizadas pela inflamação crônica do intestino. 
Essas doenças diferem quanto à localização e ao comprometimento das camadas do intestino, mas 
também pela fisiopatogenia. 
Essas doenças crônicas possuem etiologia desconhecida, porém, sabe-se que existe um 
distúrbio na regulação da imunidade da mucosa intestinal (fatores ambientais, alterações 
genéticas e disfunções imunes), onde vai ocorrer um processo inflamatório espontâneo crônico 
provavelmente direcionado contra a microbiota fisiológica. Além disso, segundo dados 
epidemiológicos, a doença inflamatória intestinal está predominante nos países desenvolvidos. 
 O artigo científico Fatores ambientais derivados de exposomas: determinantes chave da 
função gênica na saúde e na doença, do autor C. Fiocchi, revela que exercícios físicos, infecções, 
alterações climáticas, poluição, estado psicológico, tabagismo, entre outros, podem contribuir para 
o surgimento da DC e RCU. 
 
RETOCOLITE ULCERATIVA (RCU) 
A RCU é uma doença intestinal caracterizada pelo surgimento INEXPLICADO (idiopático) de 
LESÕES INFLAMATÓRIAS que ascendem de maneira uniforme (homogênea) pela mucosa do 
cólon. 
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PARASITOSES INTESTINAIS 
 
GASTROENTEROLOGIA 
 
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 3 princípios básicos da RCU /conceitos fundamentais para a compreensão das DII e, 
principalmente, para sua distinção da doença de Crohn: 
✓ A RCU é uma doença EXCLUSIVA do Cólon. 
✓ A RCU é uma doença predominante da Mucosa. 
✓ A RCU é tipicamente “ascendente” e uniforme (começa no reto). 
 O aspecto macroscópico da mucosa colônica varia desde o normal até o completo 
desnudamento: 
✓ Desaparecimento do padrão vascular típico do cólon (precoce). 
✓ Hiperemia, edema, mucosa friável, erosões, ulcerações e exsudação de muco, pus 
ou sangue. 
✓ Formação de Pseudopólipos: 15 a 30% dos casos. 
✓ Mucosa pálida, atrófica, com aspecto tubular (cronicidade) 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 A RCU geralmente se apresenta como episódios de DIARREIA INVASIVA (sangue, muco 
e pus), que variam de intensidade e duração e são intercalados por períodos assintomáticos. 
 Sintomas de colite ulcerativa consistem em 
diarreia sanguinolenta e dor abdominal, 
acompanhada muitas vezes de febre e 
sintomas gerais nos casos mais graves. 
 Na maior parte das vezes, o início dos 
sintomas é insidioso (o diagnóstico é feito 
em média após 9 meses do início do quadro), 
com: crescente urgência para defecar 
(refletindo a diminuição da complacência do 
reto inflamado), leves cólicas abdominais baixas (tenesmo), aparecimento de sangue e 
muco nas fezes, diarreia. 
 A anormalidade laboratorial mais comum é a anemia ferropriva por perda crônica de 
sangue; 
 Colites extensas podem haver hipoalbuminemia devido à perda de proteína por exsudação 
a partir de um cólon inflamado; 
 Em pacientes “mais inflamados sistemicamente” costuma haver leucocitose com desvio. 
 
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 Manifestações extra intestinais da RCU são mais frequentes nas formas extensas da 
doença 
 Cirurgia na RCU: 25–30% dos pacientes podem precisar cirurgia se o tratamento médico 
não for completamente bem-sucedido, ou na presença de displasia. As opções de cirurgia 
são: 
✓ Proctocolectomia total mais ileostomia permanente. 
✓ Anastomose da bolsa ileal/anal (IPAA). 
✓ Pode ser considerada ressecção segmentar para neoplasmas localizados nos 
pacientes idosos, ou com comorbidade extensa. 
 
DOENÇA DE CROHN (DC) 
A Doença de Crohn (DC) agride toda a parede intestinal (inflamação transmural), pode 
ocorrer em qualquer parte do tubo digestivo, da boca ao ânus, com predileção pela região ileal 
ou ileocecal. A DC geralmente se inicia com a FORMAÇÃO DAS ÚLCERAS AFTOIDES: 
pequenas ulcerações da mucosa que 
caracteristicamente se desenvolvem sobre as 
Placas de Peyer, no intestino delgado, ou sobre 
aglomerados linfoides no cólon. Estas 
ulcerações aftoides podem evoluir de 2 maneiras: 
 Extensão lateral de forma linear, retilínea. 
 Aprofundamento através das camadas da 
parede intestinal, resultando em fístulas para o 
mesentério e órgãos vizinhos 
Possui predileção por pacientes jovens (20-40 anos), um pouco mais comum em mulheres 
e o quadro clínico é caracterizado por dor abdominal intensa, diarreia, emagrecimento e outros 
sintomas associados (mal-estar, letargia, náuseas, vômito e febre). Ademais, atinge todas as 
camadas intestinais, há presença de granulomas e possui caráter descontínuo. 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 Sintomas da DC variam em função de sua localização no trato gastrointestinal: 
 
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 As manifestações de uma colite de Crohn são muito semelhantes às da colite ulcerativa 
(RCU), já descritas acima; 
 O acometimento extenso e crônico do intestino delgado geralmente cursa com síndrome 
disabsortiva grave, seguida por desnutrição e debilidade crônica; 
 A DC gastroduodenal imita a doença ulcerosa péptica. 
 As características clínicas mais comuns da doença de Crohn são as de uma ileocolite: 
✓ Diarreia crônica invasiva associada à dor abdominal; 
✓ Sintomas gerais como febre, anorexia e perda de peso; 
✓ Massa palpável no quadrante inferior direito 
✓ Doença perianal 
 3 formas (fenótipos) distintos: 
✓ Inflamatório, estenosante e fistulizante 
 No diagnóstico da DC: maioria = forma inflamatória 
 Formas estenosantes e fistulizantes: com a evolução da doença 
 20-30% dos pacientes apresentam lesões perianais ao diagnóstico 
 15-20% apresentam ou tiveram fístulas 
 Ileocolite, presente em 70-75% dos casos 
 O reto está preservado em 50% desses pacientes, o que raramente ocorre na RCU (dado 
importantíssimo para o diagnóstico diferencial); 
 Um terço dos pacientes com DC tem doença perianal (fístulas, fissuras, abscessos). Este 
fato pode distinguir a colite de Crohn da RCU. 
 Complicações (35% pacientes com DC) 
✓ Incontinência, estenose anal, fístulas anorretais, abscessos perirretais. 
 70-75% dos pacientes com DC precisam de cirurgia em algum momento para aliviar os 
sintomas se o tratamento medicamentoso fracassar ou para corrigir complicações, 
entretanto, a cirurgia rara vez é curativa na DC. 
DOENÇA DE CROHN X RETOCOLITE ULCERATIVA 
Principais critérios para diferenciação entre Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn: 
 Localização do acometimento (Difuso, Colônico limitado etc.). 
 Padrão de acometimento da Mucosa (Contínuo, salteado 
etc.). 
 Envolvimento ou não de planos profundos na parede 
intestinal. 
 Envolvimento do Canal Anal (exclusivo da DC). 
 Presença de Granulomas não Caseosos. 
 Presença de Fístulas. 
 Marcadores bioquímicos: 
✓ PCR, albumina, Hb/Ht, leucócitos, plaquetas 
 Marcadores biológicos: 
 
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✓ Calprotectina fecal 
TRATAMENTO PARA AS DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS 
 Derivados salicílicos 5-ASA (sulfassalazina, mesalasina) 
 Corticoesteróides (prednisona, hidrocortisona e budesonida) 
 Antibióticos (metronidazol, ciprofloxacina) 
 Imunosupressores (azatioprina, 6-MP, MTX, ciclosporina, tacrolimus) 
 Terapia biológica 
 AntiTNF: infliximabe, adalimumabe, certolizumabe 
 Anti-integrina: vedolizumabe 
 Anti-interleucina: ustekinomabe – Ainda não disponível no BR para DII 
 Inibidores da JAK (tofacitinibe) – Ainda não disponível no BR para DII 
PARASITOSES INTESTINAIS 
 
As infecções parasitárias intestinais têm sido um problema de saúde pública, 
particularmentenos países em desenvolvimento, onde mais de dois bilhões de pessoas são 
afetadas. A marginalização social e a falta de assistência médica adequada aumentaram a 
vulnerabilidade dessa população a outras patogenicidades e morbidades associadas às infecções 
parasitárias. Além disso, más condições de vida, falta de saneamento e acesso limitado a água 
potável têm desempenhado um papel importante na aquisição dessas parasitoses, que se tornam 
mais frequentes à medida que as condições socioeconômicas diminuem. 
EPIDEMIOLOGIA NO MUNDO E NO BRASIL 
 Globalmente, o número de casos confirmados é alto. Estima-se que 1,5 bilhão de indivíduos 
estejam infectados com Ascaris lumbricoides, 1,3 bilhão com Trichuris trichiura, 1,05 bilhão 
com ancilostomídeos, 200 milhões com o complexo Entamoeba histolytica/dispar e 400 
milhões com Giardia duodenalis. 
 
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 Atualmente, o Ascaris lumbricoides é a infecção parasitária mais prevalente, afetando cerca 
de 30% da população do continente americano. 
 A América Latina e o Caribe abrigam cerca de 210 milhões de pessoas que vivem abaixo da 
linha da pobreza e são gravemente afetadas por infecções parasitárias devido à falta de 
saneamento eficaz 
EPIDEMIOLOGIA NO MUNDO 
 50% está infectada por parasitas (Penna, 2002) 
 25% tem ascaridíase (Motta et al., 2000) 
 0,5 a 20% tem giardíase (Motta et al., 2000) 
 500 milhões têm amebíase (Motta et al., 2000) 
EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL 
 30,9% das crianças apresentam parasitose, mais comumente ascaridíase, giardíase e 
tricuríase. 
 Poliparasitismo em 13,1% (Bresolin et al., 1996). 
FATORES DE RISCO 
 Fatores socioeconômicos e comportamentais – incluindo maior exposição a 
contaminantes, baixos padrões de higiene pessoal, desnutrição, problemas de mobilidade, 
distúrbios psicológicos e estresse – podem tornar 
alguns grupos populacionais, como presidiários, mais 
propensos a infecções parasitárias. 
 Além disso, estilos de vida sedentários e uso de 
drogas, entre outras práticas prejudiciais, podem 
agravar os problemas de saúde recorrentes dos 
presos, como doenças respiratórias, sexualmente 
transmissíveis e parasitárias. 
INTRODUÇÃO 
CONCEITO 
 As parasitoses intestinais são doenças cujos agentes etiológicos são helmintos ou 
protozoários, os quais, em pelo menos uma das fases do ciclo evolutivo, localizam-se 
no aparelho digestivo do homem, podendo provocar diversas alterações patológicas. 
TIPOS DE PARASITOSES 
 HELMINTOS: Trematódeos (Schistosoma Mansoni), Cestódeos (Taenia solium e Taenia 
saginata), Nematódeos (Ascaris lumbricoides, Enteróbios vermiculares, Ancilostomatídeos). 
 PROTOZOÁRIOS: Giardia duodenalis, Entamoeba histolytica. 
 
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DIAGNÓSTICO 
QUANDO SUSPEITAR 
 Distúrbio gastrointestinal crônico 
 Prurido anal 
 Eosinofilia sanguínea em criança não alérgica 
DIAGNÓSTICO 
 Pensar SEMPRE em parasitose 
 Recomendável solicitar exame e técnica diagnóstica. 
 Eosinofilia: normalmente indica esquistossomose, ascaridíase, ancilostomíase e 
estrongiloidíase 
COMPROVAÇÃO 
 Exame protoparasitológico, anal “swab” 
 Dois exames: 1º com fezes normais; 2º fezes diarreicas (purgativo). 3° exames em dias 
alternados – soluções conservadoras. 
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS 
 Exame das fezes (EPF): 
✓ Amostras repetidas em dias diferentes aumenta a sensibilidade em 20%. 
▪ Métodos: (1) - direto a fresco, (2) - hematoxilina férrica, (3) - faust et. Al, (4) - 
hoffaman, pons e janer ou luts, (5) - richie ou formol-éter, (6) - rugai et. Al, (7) 
- baerman/moraes (8) - wills, (9) - swab anal ou método da fita durex (scotch 
lápe test), (10) - kato-kats, (11) - tamização das fezes. 
 LEUCOGRAMA: eosinofilia (A. lumbricoides, S. stercoralis e S. mansoni) ou anemia (muito 
intensa → ancilostomídeos ou tricocefalíase) 
 EDA/colonoscopia 
 Aspirado e biópsia duodenal (Giárdia, Cryptosporidium, Isospora, Strongyloides 
stercoralis, S. mansoni) 
 Biópsia retal 
 Sorologia 
 Reações imunológicas (Entamoeba histolytica giardia lamblia) 
✓ ELISA 
✓ Imunofluorescência direta 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
 Inespecíficas 
 G.I: dor abdominal, flatulência, distensão abdominal e diarreia. 
 Diarreia crônica = investigar doenças parasitárias como causa principal ou associada. 
 
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 Sistêmicas: anemias, edema hipoproteico, febre, e má absorção intestinal, perda de peso, 
deficiência de vitaminas lipossolúveis e retardo do crescimento. 
 Complicações: obstruções abdominais, icterícia obstrutiva, colangite e abscessos 
hepáticos. 
DADOS CHAMATIVOS NAS PARASITOSES INTESTINAIS 
 MANIFESTAÇÕES DIGESTIVAS: Diarreia, constipação, diarreia-constipação, anorexia, 
dispepsia, dores abdominais, prurido anal ou vulvar, náuseas ou vômitos, manifestações 
biliares, pancreatite – apendicite, suboclusão intestinal (A. lumbricoides). 
 MANIFESTAÇÕES PULMONARES E ALÉRGICAS: Tosse espasmódica, Síndrome de 
Löffler, prurido, urticária, Edema de Quincke, tosse paroxística, dispneia asmatiforme. 
 
ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS E SINAIS GERAIS 
 Alterações do comportamento, humor, febre, anorexia, astenia, anemia 
ABSCESSOS HEPÁTICOS 
 E. histolytica: Pode promover lise celular e invadir a mucosa intestinal → circulação 
mesentérica (trofozoítos) → fígado (necrose e abscesso) febre, dor abdominal, calafrios, 
vômitos e perda de peso. 
PARASITOSES INTESTINAIS 
Disenteria 
 E. histolytica 
 Trofozoítos – formação de microabcessos → diarréia mucossanguinolenta, tenesmo, dor 
abdominal e vômitos. 
Anemia Ferropriva 
 Nutrição inadequada ou espoliação causada pelos parasitas Intenso – A. duodenale e N. 
americanos 
Síndromes disabsortivas 
 Crianças 
 Giardia lamblia – atrofia vilositária com infiltrado inflamatório mucoso 
 
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Pruridos anal e vaginal 
 Oxiuríase – E. vermicularis 
 Postura de ovos, à noite 
Diarreia dos viajantes 
 50 milhões de pessoas/ano viajam dos países industrializados para os países em 
desenvolvimento – 8 a 19% consultam seus médicos na volta da viagem 
 Não contato prévio com inúmeros patógenos 
Doenças inflamatórias pélvicas 
 Principalmente crianças 
 E. vermicularis pode progredir até a trompa e o peritônio (salpingite, salpingo-ooforite, 
abscesso tubo-ovariano e granulomas de vulva, vagina, útero, trompas e ovários, peritonites 
e granulomas pélvicos) 
Neurocisticercose 
 T. solium no SNC → hidrocefalia e 
epilepsia 
Pacientes imunodeprimidos 
 Infecção por HIV, quimioterapias e uso de 
corticóides 
 G. lamblia e S. stercoralis 
 Criptosporídeos e Isosporídeos 
Icterícia obstrutiva e pancreatite 
 A. lumbricoides 
Prolapso retal em crianças 
 Trichuris trichiura (diarréia mucossanguinolenta, tenesmo, dor abdominal e prolapso retal) 
 Crianças

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