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W BA 06 63 _v 1. 0 O PAPEL DO PSICÓLOGO NAS ORGANIZAÇÕES © 2019 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Lucilene Tofoli Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Baptista, Rogério Rodolfo B222o O papel do psicólogo nas organizações/ Rogério Rodolfo Baptista, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019. 105 p. ISBN 978-85-522-1499-1 1. Psicologia organizacional e do trabalho. 2. Educação corporativa. I. Baptista, Rogério Rodolfo. II. Título. CDD 370 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ http://www.kroton.com.br SUMÁRIO Apresentação da disciplina.........................................................................4 O mundo do trabalho e as relações trabalho-subjetividade-saúde do trabalhador ....................................................................................................5 A história da psicologia organizacional e do trabalho ............................25 As áreas da psicologia organizacional e do trabalho ..............................44 Papéis e funções do psicólogo organizacional ........................................63 Conceitos e perspectivas de estudo em Psicologia Organizacional e do Trabalho........................................................................................................81 A ética na atuação do psicólogo organizacional e do trabalho..............102 Organizações e perspectivas em Psicologia Organizacional e do Trabalho ......................................................................................................123 3 Apresentação da disciplina A disciplina “o papel do psicólogo nas organizações” aborda alguns dos principais temas relacionados ao papel, funções e atividades do psicólogo nas organizações e nos contextos de trabalho. Nessa disciplina, será abordado inicialmente o conceito de trabalho, sua evolução histórica e as implicações no trabalho do psicólogo. Em seguida, será apresentado um breve resumo da história da psicologia organizacional e do trabalho, tanto no contexto internacional quanto no Brasil. Também serão definidos os principais campos de atuação do psicólogo organizacional, que podem ser divididos em três grandes áreas: psicologia organizacional, psicologia do trabalho e gestão de pessoas. Os quatro níveis de atuação (operacional, tático, estratégico e político) do psicólogo também são temas importantes para compreender o papel do psicólogo. A pesquisa em psicologia organizacional e do trabalho, com os métodos empregados e os principais temas abordados nas últimas décadas; a questão da ética do psicólogo nos contextos de trabalho e organizações é um dos temas abordados. Por fim, serão discutidos temas atuais sobre os estudos das organizações, como os novos modelos de gestão e tendências nos estudos organizacionais. rakel Realce rakel Realce O mundo do trabalho e as relações trabalho-subjetividade- saúde do trabalhador Autor: Rogério Rodolfo Baptista Objetivos • O conceito de trabalho e suas diferentes concepções. • Compreender as relações entre o trabalho, subjetividade e a saúde do trabalhador. • Identificar as relações entre as concepções atuais sobre o trabalho e a relação com a psicologia organizacional. 1. Introdução aos temas trabalho e subjetividade “O trabalho enobrece o homem” e “primeiro o trabalho e depois o prazer” são duas expressões muito utilizadas em nossa sociedade. Mas que significados estão inseridos nessas máximas cotidianas? A primeira faz-nos pensar que o trabalho é algo que pode ser necessário às pessoas, que vai além de ser somente um meio de sobrevivência, ela nos remete à necessidade do trabalho como significante para que a pessoa se torne “alguém” e faça com que seja diferente de outros. O trabalho, para muitas pessoas, é uma das partes mais importantes da vida. Seria isso mesmo? Como conceituamos o trabalho? De que trabalho estamos falando? O trabalho, ao mesmo tempo pode ser algo que se constitui como fonte e meio de construção de nossas identidades, mas também pode ser algo que degrada, causa sofrimento e degrada o ser humano. Por outro lado, a segunda expressão coloca o trabalho como uma obrigação a ser cumprida, que exalta a importância do trabalho, e supõe ser oposto ao prazer, como se ele não pudesse existir fora do trabalho. Conhecemos pessoas que fazem seu trabalho com muito prazer e satisfação e pessoas que contam os minutos para que o dia de trabalho acabe, e ainda, outros que quando se aposentam reinventam o trabalho. Nessa aula, trataremos de como o trabalho pode ser central na vida, como ele pode ser fonte de prazer e significação positiva e, ao mesmo tempo, fonte de sofrimento, e como a psicologia pode contribuir para a compreensão e intervenção no processo trabalho-subjetividade- saúde. Primeiro começaremos entendendo o significado do trabalho e sua evolução histórica, depois como o trabalho pode contribuir ou não para a saúde e bem-estar das pessoas e, finalmente, como a psicologia pode contribuir para essa discussão e ação. Venha conosco! 6 rakel Realce rakel Realce 2. Concepções sobre o trabalho e as implicações sobre a subjetividade A palavra trabalho se origina do latim das palavras tripalium, trabicula, que são associadas à tortura, mas será que devemos necessariamente ao sofrimento ou ele pode ter outras questões associadas? O trabalho possui uma variedade de significados e sentidos. Nesse tópico, iremos estudar a construção histórica e os diferentes significados de trabalho. As concepções desenvolvidas na história da sociedade vão além dos sentidos pessoais que atribuímos ao trabalho. Para compreendermos como se deu a construção dos significados atuais do trabalho, faremos uma retrospectiva desse assunto. Os primeiros relatos próximos à concepção sobre trabalho humano como entendemos hoje remonta ao ano 8.000 a.C., quando a humanidade estava se organizando em comunidades e culturas. Com base na agricultura no Oriente Médio, na China, na Índia e no norte da África. Nessas sociedades, o trabalho era basicamente realizado por escravos. A construção das concepções sobre o trabalho está mais descrita na Antiguidade e associada ao pensamento grego e romano. Como presente no pensamento de Platão e de Aristóteles, o trabalho era visto como degradante, reservado aos escravos, pois exalavam a ociosidade como um princípio importante para o homem livre, o cidadão, que devia ser poupado do trabalho. A filosofia clássica caracterizava o trabalho como degradante, inferiore desgastante. A concepção do trabalho se restringia às atividades braçais e manuais e as atividades dos cidadãos deveriam ser restritas à política e às artes, que não eram consideradas trabalho. Aristóteles entendia a escravidão como natural e era legitimada na estrutura da sociedade. No Império Romano, o trabalho também era atividade de escravos e se sustentava pelas guerras e conquistas. Precisamos compreender que eram sociedades baseadas na escravidão. Hoje, podemos notar ainda presente resquícios dessa concepção, onde o trabalho manual é 7 desvalorizado e o trabalho intelectual é exaltado (BORGES; YAMAMOTO, 2014: 28). Na Idade Média se dá o surgimento do capitalismo, e dá-se início à mudança da reflexão sobre o trabalho. Essa mudança de concepção do trabalho reflete em mudanças concretas na organização da sociedade e do trabalho. Marx coloca que essa mudança ocorre devido ao grande número de operários, estendendo seu campo de ação e fornecendo produtos em grande quantidade, e à eliminação das diferenças individuais, passando o capitalista a lidar com o operário médio ou abstrato, que coincide com o surgimento da manufatura e da necessidade de buscar compreensões que legitimassem a nova organização social. Nesse novo modelo, o capitalista possui os meios de produção, e basta aos operários vender sua mão de obra, que ocupa a posição de uma mercadoria. O trabalho passa a ter um valor de uso e um valor de troca. Como valor de uso, podemos entender que o trabalho tem seu valor como uma utilidade, para o trabalhador e para o capitalismo, e que como valor de troca, o trabalhador começa a vender sua força para que obtenha os recursos para sua sobrevivência, alienando-se do que produziu. O capitalista busca a mais-valia, ou seja, sempre ganhar mais como trabalho do operário quanto possível. Para que consiga isso, no início prolonga as jornadas de trabalho, chamada de exploração extensiva. Esse aumento da jornada de trabalho apresentava limitações por causa do próprio limite orgânico dos trabalhadores, assim o capitalista buscou aprimorar suas formas de ter mais lucros (BORGES; YAMAMOTO, 2014: 30). Adam Smith (economista do século XVII) atribuiu um relevante valor social ao trabalho e ao seu parcelamento, defendendo que a manufatura aumentaria a abundância geral, sendo um grande defensor da produtividade e para que isso acontecesse seria necessária a especialização e segmentação do trabalho, dando início à divisão do trabalho como um princípio importante, que depois seria amplamente utilizada nas etapas posteriores do capitalismo. Ele considerava 8 divisão do trabalho uma consequência da propensão da natureza humana para permutar, negociar e trocar bens, e das faculdades da razão e da linguagem. Essa visão contribuiu para uma hierarquização, desvalorizando o trabalho do serviço público, considerado improdutivo, e reforçou a concepção de instrumentalidade econômica do trabalho, em que esta valia tanto mais quanto aumentavam os rendimentos do detentor do capital, contribuindo com a visão do homus economicus. Esse modelo de produção afetou profundamente a sociedade. Umas das consequências foi a separação da vida privada e o trabalho. No âmbito da fábrica, surgiram as funções de direção e supervisão para fiscalizar e controlar o trabalho (BORGES; YAMAMOTO, 2014: 32). A reforma protestante também causou um grande impacto no mundo do trabalho. Max Weber (1967) defendeu que o protestantismo provocou uma nova visão sobre as relações entre o trabalho e a vida em seu livro “a ética protestante e o espírito do capitalismo”. O luteranismo criou a noção de vocação, que consistia em um chamado de Deus para a realização de um trabalho secular ou uma missão, dando ao trabalho um status de missão pessoal e espiritual, exaltando o trabalho para a glorificação de Deus e, ao mesmo tempo, reprovando a ociosidade, incutindo que quanto mais duro se trabalha, mais se prova ser merecedor da graça divina. A essa visão se deu o nome da fase de “glorificação do trabalho”. (BORGES; YAMAMOTO, 2014: 31) Segundo Marx, o trabalho tem dois sentidos: de um lado produz a própria condição humana e de outro representa um eixo da história da humanidade. Em relação ao primeiro, o trabalho é a expressão do seu próprio ser, diferenciando-o dos demais animais e no segundo representa a noção de que a história da humanidade é a história das relações de trabalho. O trabalho possui sete características principais: a) alienante, porque o trabalhador desconhece o próprio processo produtivo e o valor que agrega ao produto, além de não se identificar com os produtos de seu trabalho; b) explorador, devido aos objetivos de produção da mais-valia vinculada ao processo de acumulação do 9 rakel Realce rakel Realce capital; c) humilhante, porque afeta negativamente a autoestima; d) monótono em sua organização e conteúdo da tarefa; e) discriminante, porque classifica os homens na medida em que classifica os trabalhos; f) embrutecedor, porque, longe de desenvolver as potencialidades, inibe ou nega sua existência por meio do conteúdo pobre, repetitivo e mecânico das tarefas; e g) submisso, pela aceitação “passiva” das características do trabalho e do emprego, pela imposição da organização interna do processo de trabalho, pelas relações sociais mais amplas e, especialmente, pela força do exército industrial de reserva (BORGES; YAMAMOTO, 2014: 34). Podemos resumir as concepções sobre o trabalho apresentadas até aqui em três tipos: o pensamento greco-romano, a do capitalismo liberal (ética do trabalho) e a concepção marxista. As concepções sobre o trabalho sofreram mudanças importantes com o avanço do capitalismo. Num cenário onde capitalismo caminha para uma economia livre de mercado e do modelo monopolista e/ou oligopolista, novas circunstâncias econômicas e sociais surgem e influenciam a concepção sobre trabalho. Nesse contexto, surge “administração científica”, que tem entre seus expoentes Taylor e Fayol. PARA SABER MAIS Frederick Taylor (1856 – 1915) formou-se engenheiro mecânico estudando à noite. Escreveu o livro “Os Princípios da Administração Científica”, publicado em 1911. É considerado o pai da administração moderna e criou a teoria da Organização Racional do Trabalho (ORT), cujos princípios são: análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos; estudo da fadiga humana; divisão do trabalho e especialização do operário; desenho de cargos e tarefas; incentivos salariais e prêmios; conceito de homo economicus; boas condições de trabalho; padronização e supervisão funcional. 10 rakel Realce rakel Realce rakel Realce Taylor defendia que os principais objetivos da administração era assegurar o máximo de prosperidade ao capitalista (através do lucro) e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado (através de altos salários). Ele propôs a assunção de métodos científicos para lidar com as questões da administração e gestão das empresas e não somente a experiência prática, adotando métodos de tempos e movimentos para eliminar movimentos desnecessários e substituir os lentos e ineficientes por rápidos. Do ponto vista do trabalho, suas ideias influenciaram diretamente a forma de organização do trabalho. Ele levou a divisão do trabalho para um outro patamar, onde o trabalho de cada empregado deveria ser minuciosamente planejado pela direção da empresa, sendo que ao operário lhe caberia somente a execução, sendo poupado de pensar e obedecendo as normas. Com objetivo de aumentar a produtividade, Taylor propôs a seleção científica, baseada num perfil de tarefas e do próprio trabalhador e o treinamento sistemático na função, visando eliminar desperdícios de tempo e movimentos. Também podemos citar como um princípio importante a supervisão imediata, ou seja, a legitimação da figura do “chefe”, uma pessoa que deveria comandar e dar ordens explícitas sobre as tarefas para cada empregado.Todo esse trabalho estava aliado ao incentivo salarial. Ele acreditava que, quanto mais o empregado fosse recompensado pelo seu esforço de produtividade, mais deveria ganhar, assim os empregados começam a desejar cada vez mais a produtividade, levando muitas vezes a esforços exagerados e autodestrutivos. Uma das principais consequências é que radicalizou a monotonia e a cisão entre o pensamento e a execução das tarefas, e ampliou a mais-valia relativa. Junto com Taylor, temos também as contribuições de Fayol (1841-1925), que se preocupava mais com a organização como um todo, mais especificamente com as funções de gerenciamento. Em resumo, podemos compreender as influências deles em quatro características da concepção de trabalho: formalista (da empresa), que consiste em perceber a empresa como um conjunto de cargos hierarquizados; mecanicista (do operário), que defende uma acomodação das 11 rakel Realce personalidades às necessidades organizacionais; naturalista (da organização do trabalho), que defende que o parcelamento das tarefas é uma tendência natural e não uma construção social; e hedonista (da motivação), que tenta prever o comportamento, vinculando-o exclusivamente à remuneração do trabalho (BORGES; YAMAMOTO, 2014: 37). ASSIMILE Mais-valia relativa: ocorre quando tenta-se ampliar a produtividade física do trabalho pela via da mecanização. Essa forma de produção de mais-valia relativa é um modo de incrementar a produção do excedente a ser apropriado pelo capitalista. O capitalista obriga o trabalhador a trabalhar em um ritmo tal que, sem alterar a duração da jornada, produzem mais mercadorias e mais valor do que sem essa mecanização. Em paralelo ao movimento de Taylor e Fayol, surge também o movimento que ficou conhecido por fordismo, devido ao fato de ser liderado por Henry Ford. Suas contribuições consistiram em inovações tecnológicas (mecanização) e econômicas (produção em massa que influenciou as relações de consumo), tendo desdobramentos tanto na organização do trabalho quanto na gestão de pessoal. Esse modo de organizar o trabalho modificou seu ritmo , colocando as pessoas na cadência das máquinas. Ford também instituiu o five dollar day, uma política de remuneração que tinha como objetivos aumentar o poder de consumo das pessoas e possibilitar o acesso aos bens produzidos (o automóvel) e garantir que os funcionários tivessem uma boa renda, evitando problemas com sindicatos, muito comuns nessa época. Também visava resolver problemas de indisciplina, absenteísmo, 12 rotatividade, desinteresse pela produção e dificuldades de comunicação e adaptação dos imigrantes. Outro aspecto importante é que o pagamento dependia não só da sua produção como também de seus hábitos de vida em geral. Ford institui uma forma de vigilância da vida do empregado com visitas à sua casa. Os funcionários eram avaliados quanto sua dedicação à família, aos cuidados com a casa, à aplicação do salário, aos hábitos de poupança, ao uso de bebidas alcoólicas, entre outros aspectos (BORGES; YAMAMOTO, 2014: 38). Outra fase importante é a fase Gerencialista, alicerçada ao estado do bem-estar. Não era mais possível se administrar somente requerendo os esforços físicos do trabalhador, mas precisava também de sua mente, para Borges e Yamamoto (2014: 43) a concepção gerencialista do trabalho diferencia-se da capitalista tradicional no que se refere à base de poder (de controle do trabalho), que deixa de ser exclusivamente a propriedade e busca outras formas de legitimação. Passa a necessitar da aprovação daqueles sobre quem é exercida a autoridade (o trabalhador) e requer o desmantelamento da base de poder anteriormente estabelecida. O gerencialismo cria novas demandas, é preciso saber como liderar, motivar, combater a rotatividade, desenvolver gestores, como negociar, como comunicar, entre outras questões. Em resumo, esse modelo trouxe uma nova concepção de trabalho, distanciando a noção clássica de sucesso como consequência do trabalho duro, mas mantendo o papel instrumental para fins econômicos e salariais. Outro movimento que influenciou as formas de trabalho foi o Toyotismo (nome referente à implantação ter ocorrido na fábrica da Toyota no Japão). É um sistema de produção de mercadorias com vista à flexibilização na fabricação de produtos e veio como substituído ao modelo Fordista. O modelo foi desenvolvido de 1948 a 1975. Esse modelo possui basicamente os seguintes traços (ANTUNES, 2002: 54): a. É uma produção mais vinculada à demanda, visando atender às exigências mais individualizadas, diferente do da produção em 13 série aplicado pelo Fordismo, tornando-a mais variada e bastante heterogênea. b. Fundamenta-se no trabalho do operário em equipe, com multivariedade de funções, rompendo com o caráter parcelado do Fordismo. c. Adota um modelo de produção flexível, que possibilita ao empregado operar várias máquinas simultaneamente, alterando a relação homem/máquina do Fordismo. d. Adota o princípio just in time para melhor aproveitamento do tempo de produção. e. Utiliza o sistema kanban, placas ou senhas de comando para reposição de peças e de estoque. Os estoques são mínimos. f. Tem uma estrutura horizontalizada, se preocupando somente com seu produto. As demais tarefas são terceirizadas. g. Organiza os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), constituído por grupos de trabalhadores que são instigados para discutir seu trabalho e desempenho, visando melhorar a produtividade, sendo um importante instrumento para utilizar a capacidade intelectual e cognitiva do trabalhador, que o Fordismo desprezava. h. Implantação do “emprego vitalício” para uma parcela dos trabalhadores (25 a 30% do total). O processo implantado pelo Toyotismo promoveu ainda mais a intensificação da exploração do trabalho. Se por um lado os empregados poderiam participar mais, dando ideias, por outro a empresa poderia se apropriar desse conteúdo e utilizar para aumentar a produtividade e intensificação do trabalho. Essas mudanças significaram a diminuição ou mesclagem do modelo taylorista de participação dentro da ordem e do universo da empresa, pelo envolvimento manipulatório (ou cooptado), pela eliminação da organização autônoma dos trabalhadores e pela sociabilidade moldada pelo sistema de mercadorias. Esses modelos abriram espaço para novas formas de intensificação do trabalho com um apelo pelo envolvimento do trabalhador e ao discurso da 14 participação, muito comum hoje nas organizações. Trazendo também mecanismos de maior controle, onde a dominação ocorre de maneira inconsciente. Esperam que o trabalhador realize determinadas ações de forma autônoma porque se identifica com os objetivos e os valores das empresas e não mais pelo controle estrito da supervisão. O controle é interiorizado culturalmente e passa a ser tomado por autocontrole (HELOANI, 2007: 94). Nos dias atuais, temos que PAGÉS (1993:78) chamou de empresas hipermodernas representantes da evolução atual do capitalismo. São organizações que possuem sistemas que viabilizam a intermediação entre suas ações de exploração e dominação e as vantagens e benefícios oferecidos aos indivíduos, de tal forma que essa contradição é minimizada e os que nela trabalham até colaboram para sua própria submissão. Ela se dá basicamente através de quatro mecanismos: através da abstração, que a partir das recompensas financeiras e benefícios instaura uma lógica mercantil no conjunto das relações sociais, levando o indivíduo a separá-lo de sua realidade pessoal e social, renunciando à sua identidade pessoal e social para se identificar com o modelo proposto pela empresa; através da objetivação, quando submete a pessoa a um mundo de números, indicadores e outras racionalizações, desconsiderando a subjetividade presente nas relações sociais; através da desterritorialização, fazendo com que o indivíduo enxergue a corporaçãocomo um mundo à parte, levando-o a esquecer de sua história, ou ao menos, submetê-la aos interesses da organização e da individualização, induzindo uma exacerbada competitividade dentro da organização com objetivo de gerar aumento da produtividade, levando as pessoas à luta por seu próprio espaço, por seu próprio reconhecimento em detrimento à harmonização ou à saudável convivência com seus colegas de trabalho. Duas novas concepções sobre o trabalho estão presentes nas discussões atuais, uma designada “ética do lazer” e outra “laços sociais”, ambas possuem coisas em comum, mas também 15 diferenciações importantes que atingem os trabalhadores. Faremos um resumo das principais características de cada. A concepção da “ética do lazer” parte da crítica ao trabalho sob o taylorismo- fordismo, nessa visão, considera-se impossível a superação da alienação no trabalho, sendo que o trabalhador é incapaz de se conceber como parte do coletivo, não podendo exercer o poder para a mudança, causando o aumento da exclusão social, fazendo com que o trabalho perca sua importância na construção da identidade dos trabalhadores. A ação política e transformadora da sociedade não tem mais o trabalho como eixo central. Os movimentos sociais substituíram o movimento trabalhista em seu papel revolucionário. Na concepção “laços sociais” há uma crescente diversidade de modos de produzir nos dias atuais com diversificação de profissões e de atividades do trabalho, levando a uma flexibilização constante. Ocorre em uma sociedade onde há o individualismo de massa e fragmentação, onde as instituições perderam sua força. O mercado de trabalho é caracterizado pela precarização e desestabilização e há a diminuição das relações de trabalho com base no salário. Estamos numa transição do modelo predominantemente industrial para a chamada sociedade do conhecimento, na qual a informação regular traz desenvolvimento. O trabalho se constitui como um dos principais elementos de organização da sociedade, de integração social e de laço social. Nessa visão, há a redescoberta democrática do trabalho, valorizando a dignidade humana, e o trabalho segue implicado no processo de construção da identidade. 3. O trabalho, subjetividade e saúde do trabalhador Abordaremos agora as relações entre o trabalho, subjetividade e saúde do trabalhador. Uma questão importante é a discussão de qual é o lugar que subjetividade ocupa atualmente nas organizações. 16 É comum o estudo de temas como motivação, liderança, trabalho em equipe, talentos, gestão de pessoas, cultura organizacional, clima organizacional, esses temas são tão relevantes, mas o que mais podemos estudar? (LANCMAN; UCHIDA, 2003: 81). Para isso, utilizaremos como referência uma abordagem conhecida como Psicodinâmica do trabalho. A Psicodinâmica do Trabalho foi fundada por Christophe Dejours, doutor em Medicina, especialista em medicina do trabalho e em psiquiatria e psicánalise. Em seu percurso teórico, incialmente estava vinculado à abordagem francesa conhecida como Psicopatologia do Trabalho, que buscava o nexo causal entre determinadas organizações e condições de trabalho e o adoecimento mental. Esperava-se em que dadas certas condições ambientais, as pessoas iriam necessariamente adoecer psiquicamente. Mas Dejours, partindo do trabalho de campo e estudando situações concretas de trabalho, observava que frequentemente isso não ocorria, mas sim um estado de normalidade. Buscava compreender como os trabalhadores conseguiam manter certo equilíbrio, mesmo submetidos a condições de trabalho desestruturantes. O ponto de partida das pesquisas de Dejours passa a ser não mais o que adoece o trabalhador, mas como ele continua são apesar das adversidades. Para Dejours, o trabalho pode ser fatigante ou equilibrante. Ele se torna fatigante quando a energia pulsional não acha descarga no exercício do trabalho e se acumula no aparelho psíquico, ocasionando um sentimento de desprazer e tensão. E será equilibrante quando o trabalho é livremente escolhido ou livremente organizado oferecendo vias de descarga mais adaptadas às necessidades do sujeito. Assim, a organização do trabalho que não permite certo grau de autonomia ante o planejado (trabalho prescrito) e o efetivamente realizado 17 rakel Realce rakel Realce (trabalho real) pode ser gerador de sofrimento e desprazer. Na verdade, a própria definição de Dejours sobre o trabalho revela sua concepção; para ele, é no espaço entre o trabalho prescrito e o trabalho real que pode ocorrer ou não a sublimação e a construção da identidade no trabalho. Trabalhar é preencher a lacuna entre o prescrito e o real. Ora, o que é preciso fazer para preencher esta lacuna não tem como ser previsto antecipadamente. O caminho a ser percorrido entre o prescrito e o real deve ser, a cada momento, inventado ou descoberto pelo sujeito que trabalha. (DEJOURS, 2004:28) Ao realizar o trabalho, a pessoa não segue exatamente as regras (prescrito) na maioria das vezes, mesmo que por ínfima mudança, ele faz algo diferente de outra pessoa se fosse fazer a mesma coisa. Essa maneira de “burlar” as regras do trabalho prescrito é chamada por Dejours de inteligência astuciosa, que é fundamentalmente transgressiva e visa servir de via para a descarga psíquica do sujeito. Este tipo de inteligência requer um ajustamento das relações entre as prescrições das tarefas e obstáculos impostos pela organização do trabalho e a inteligência originada da experiência real do trabalhador e da sua concepção sobre a atividade. Ela é fundamental para o trabalhador, para sua dinâmica psíquica, que junto com o espaço para discussão, contribue para o bem-estar do trabalhador. Quando isso é cada vez menos permitido, mais o sofrimento pode estar presente (MENDES, 1995). O sofrimento, considerado inerente ao processo de trabalho e assim impossível de ser eliminado, não é necessariamente patogênico, mas pode vir a tornar-se quando todas as possibilidades de adaptação ao 18 trabalho para colocá-lo em concordância com o desejo individual forem utilizadas e as demais possibilidades estiverem bloqueadas. Contra a angústia do trabalho, assim como contra a insatisfação, os trabalhadores elaboram estratégias defensivas, de maneira que o sofrimento não é imediatamente identificável. Os trabalhadores não são passivos em relação à organização do trabalho, mas são capazes de se proteger elaborando defesas que escondem (mascaram, ocultam) ou evitam o sofrimento que os acomete, mas nem todos são capazes de se livrar dos transtornos, pois o adoecimento pode acontecer por causa de uma retenção da energia pulsional, gerada em uma situação de trabalho que impede a descarga adequada da carga (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET,1994: 57). Os trabalhadores podem apresentar mecanismos de defesa individuais, como se isolar do grupo, ou estratégias de defesa coletivas, como menosprezar o perigo ou ridicularizar colegas que sofreram acidentes; essas têm como função adaptar o sujeito às pressões de trabalho com o objetivo de enfrentar o sofrimento. Essas estratégias visam tentar manter o equilíbrio entre o que se sente e o que se faz e vive. O trabalho não é apenas uma atividade; ele é, também, uma forma de relação social, o que significa que ele se desdobra em um mundo humano caracterizado por relações de desigualdade, de poder e de dominação. Apenas uma pequena parte do trabalho real é visível aos olhos da prescrição e da organização do trabalho. A maior parte dele consiste em uma infinidade de comportamentos, sentimentos, pensamentos e atitudes não reconhecidos formalmente nem pela hierarquia, nem pelos consumidores, nem pelos pares, portanto, invisíveis (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET,1994: 73). A figura 1 apresenta esses conceitos de forma esquemática. 19 t ' Figura1 Trabalho prescrito Inteligência astuciosa Trabalho real Trabalho fa�gante Estratégias denfensivas e mecanismos de defesa Trabalho equilibrante Bem-estar e sa�sfação Fonte: elaborado pelo autor. 4. Conclusão Nessa aula, dialogamos sobre as diversas concepções de trabalho, sua evolução histórica e suas relações com a subjetividade e saúde do trabalhador. Apresentamos também uma visão sobre a relação saúde-trabalho nas relações de trabalho. Pode-se notar que nossas concepções sobre o trabalho estão encharcadas de ideologias que foram sendo acumuladas na história. O psicólogo deve estar consciente desses significados e como eles interferem na sua atuação profissional. 20 TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: Você é o psicólogo(a) responsável pelo serviço de apoio ao trabalhador de um órgão público na área da saúde. Um supervisor procurou o serviço com queixas de um servidor. Ele reclama que o servidor só chega atrasado, não interage com os com seus pares, está se isolando de todos, responde de forma ríspida aos questionamentos, reclama que o trabalho é chato e monótono, que não é respeitado e é visto como se fosse uma “máquina de trabalhar”. O supervisor diz que o trabalho é assim mesmo, que ele que escolheu trabalhar ali e não é problema dele, que o papel do supervisor é fazer as pessoas trabalharem direito, afinal é cobrado disso todos os dias pelo gerente. O servidor foi procurado para conversar e disse que está insatisfeito com a supervisão e a forma que é tratado, que, pra ele, o trabalho é fundamental para sua vida, pois investiu muito para chegar até ali e quer respeito, quer participar das decisões sobre seu trabalho, mas não tem espaço para isso. Agora reflita: Quando falamos sobre o trabalho no cotidiano, tendemos a revelar, de maneira implícita ou não, as concepções sobre o trabalho que incorporamos em nossa história pessoal. Com base nos relatos fictícios, descreva quais são as concepções sobre o trabalho presentes nos discursos do supervisor e do trabalhador. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. As concepções sobre o trabalho variaram no decorrer da história. Em cada época tivemos pessoas que influenciaram nessas visões. Assinale a alternativa 21 abaixo que identifica corretamente a concepção de trabalho com seu respectivo autor: a. Para Taylor, o trabalho deveria ser equilibrado, ou seja, prazeroso e criativo, onde cada pessoa deveria escolher livremente a forma de realizá-lo. b. Para Marx, o trabalho ao mesmo tempo produz a própria condição humana e representa um eixo da história da humanidade. c. Para Adam Smith, o trabalho ocorre no espaço entre o trabalho prescrito e o trabalho real, onde pode ocorrer ou não a sublimação e a construção da identidade no trabalho. d. Para Ford, o trabalho é alienante, porque o trabalhador desconhece o próprio processo produtivo e o valor que agrega ao produto, além de não se identificar com os produtos de seu trabalho. e. Para Dejours, o trabalho deve possuir uma natureza mecanicista, pois deve haver uma acomodação das personalidades às necessidades organizacionais. 2. O Toyotismo foi implantado inicialmente na fábrica da Toyota no Japão. É considerado um dos princípios do Toyotismo: a. Organizar os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs). b. Fazer a análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos. c. Promover a divisão do trabalho e especialização do operário. d. Fornecer supervisão funcional constante. e. Realizar estudos da fadiga humana. 22 3. Dejours trouxe uma nova visão sobre as relações entre trabalho e saúde. Sobre suas construções teóricas, é correto afirmar que: a. O trabalho equilibrante ocorre quando a energia pulsional não acha descarga no exercício do trabalho e se acumula no aparelho psíquico, ocasionando um sentimento de desprazer e tensão. b. O trabalho prescrito é a tarefa efetivamente realizada. c. Trabalhar é preencher a lacuna entre o trabalho fatigante e o real. d. Dejours procurava compreender como os trabalhadores conseguem manter certo equilíbrio, mesmo submetidos a condições de trabalho desestruturantes. e. A inteligência astuciosa está relacionada ao cumprimento estrito das normas de trabalho. Referências Bibliográficas ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 6. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. 258 p. BORGES, Livia de Oliveira; YAMAMOTO, Oswaldo H. Mundo do trabalho: Construção histórica e desafios contemporâneos. In: ZANELLI, José Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; BASTOS, Antônio Vergílio Bittencourt. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Cap. 1. p. 25-94. DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E.; JAYET, C. Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. DEJOURS, Christophe. Subjetividade, trabalho e ação. Prod. [online]. 2004, vol.14, n.3, pp.27-34. ISSN 0103-6513. HELOANI, Roberto. Gestão e Organização no Capitalismo Globalizado: História da Manipulação Psicológica no Mundo do Trabalho. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2007. 23 LANCMAN, Selma; UCHIDA, Seiji. Trabalho e subjetividade: o olhar da Psicodinâmica do Trabalho. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, n. 6, p.79-90, 2003. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1516-37172003000200006 >. Acesso em: 17 fev. 2019. MENDES, Ana Magnólia Bezerra. Aspectos psicodinâmicos da relação homem- trabalho: as contribuições de C. Dejours. Psicologia: Ciência e Profissão, [s.l.], v. 15, n. 1-3, p.34-38, 1995. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1414- 98931995000100009. PAGÉS, Max et al. O poder das organizações. São Paulo: Atlas, 1993. Gabarito Questão 1 – Resposta: B Resolução: Para Marx, o trabalho é fundamental para a formação humana, está na gênese sua identidade e isso nos diferencia de todos os outros seres. Por outro lado, ele também representa o momento histórico da humanidade, pois é determinado pelas condições sociais e econômicas que vivemos. Questão 2 – Resposta: A Resolução: Os CCQs – Círculos de Controle de Qualidade–é uma estratégia importante para o Toyotismo; ele visa à participação das pessoas na solução de problemas do cotidiano e também faz com que os operários foquem sua atenção em problemas que a empresa deseja e não em outras questões. Questão 3 – Resposta: D Resolução: Dejours começou a perceber que aparentemente nem todos adoeciam e começou a se preocupar porque isso acontecia. Ampliou sua visão sobre esses fenômenos. 24 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172003000200006 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172003000200006 http://dx.doi.org/10.1590/s1414-98931995000100009 http://dx.doi.org/10.1590/s1414-98931995000100009 A história da psicologia organizacional e do trabalho Autor: Rogério Rodolfo Baptista Objetivos • Apresentar os mais importantes marcos históricos da psicologia organizacional e do trabalho. • Refletir criticamente sobre os impactos dos acontecimentos sobre a história da psicologia organizacional e do trabalho. • Compreender as influências dos acontecimentos históricos para as atuais concepções e relações da psicologia organizacional e do trabalho. 1. Da psicologia organizacional e do trabalho A psicologia organizacional e do trabalho é umas áreas mais importantes da psicologia nos dias atuais. A psicologia organizacional é a segunda maior área de atuação do psicólogo, segundo pesquisa realizada pelo CFP – Conselho Federal de Psicologia em 1988 (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 1988). Já em 2000, foi tida como a terceira área onde concentra mais profissionais, com 12.4% dos psicólogos registrados(WHO & CFP, 2001). Ela se constitui um campo muito importante na atuação e pesquisa na psicologia atual. A psicologia organizacional e do trabalho pode ser entendida como campo de compreensão e intervenção sobre o trabalho e as organizações, visando analisar a interação das múltiplas dimensões que caracterizam pessoas, grupos e organizações, com a finalidade de construir estratégias e procedimentos que promovam, preservem e reestabeleçam o bem-estar das pessoas (ZANELLI; BORGES- ANDRADE; BASTOS, 2014: 98). A psicologia organizacional refere-se ao desenvolvimento e à aplicação de princípios científicos no ambiente de trabalho. (SPECTOR, 2006:5). Segundo Spector (2006:5), a psicologia organizacional contém duas grandes divisões: a industrial (ou seja, recursos humanos) e a organizacional; já para Zanelli Borges-Andrade; Bastos (2014: 102) a Psicologia Organizacional tem três grandes áreas de preocupações: o trabalho, a organização e a gestão de pessoas. Nessa aula, compreenderemos como a psicologia organizacional tomou a forma atual, quais são os fatores que influenciaram na construção desse campo do conhecimento e suas implicações no cenário atual da profissão. 2. História da psicologia organizacional e do trabalho As origens da psicologia organizacional remontam às experiências da psicologia experimental no final do século XVIII, no início da psicologia 26 rakel Realce científica. Em 1899, o fisiologista Luigi Patrizi cria o laboratório para o estudo da fadiga em Modena, na Itália. Na Alemanhã, Kraeplin e na Itália, Mosso criam laboratórios para estudar aspectos psicofisiológicos relacionados à carga de trabalho. Já na França, Lahy utilizou-se de testes na seleção de trabalhadores (DALBOSCO; ROSA; PISONI, 2019). Nos Estados Unidos da América, temos dois grandes expoentes da psicologia organizacional, considerados os fundadores dessa ciência, Hugo Münsterberg e Walter Dill Scott. Ambos eram professores universitários e psicólogos experimentais, se interessavam por um campo aplicado da psicologia emergente, os problemas organizacionais. Münsterberg estava especialmente interessado na seleção de funcionários e no uso de novos testes psicológicos. Seu trabalho foi fortemente influenciado por Taylor, considerando três aspectos principais: o melhor homem, o melhor trabalho e o melhor resultado. Ele publicou o que foi considerado o primeiro compêndio sobre psicologia organizacional, intitulado de Psychology and Industrial Efficiency (1913). Já Scott publicou The Teory of Advertising (1903), cujo interesse principal era a psicologia da publicidade. A principal área de interesse de Scott era a aplicação do conhecimento científico a problemas de negócios. Alguns de seus métodos de seleção de pessoal incluíam testes para medir certas características desejáveis e escalas de classificação para avaliar candidatos em habilidades e atributos necessários (aparência, comportamento, limpeza, julgamento, precisão). Em 1919, Scott e seus associados fundaram a Scott Company Engineers and Consultants in Industrial Personnel, e prestaram serviços para mais de 40 empresas industriais em seu primeiro ano (SPECTOR; 2006:9). Como já havia referido, nessa época, uma das principais influências da psicologia organizacional foi o trabalho de Frederick W. Taylor, que desenvolveu a administração cientifica, como estudamos na 27 primeira aula. Nesse sentido, as preocupações principais da psicologia organizacional na época estava em proporcionar ferramentas práticas para a adaptação do homem ao trabalho e aumentar sua produtividade. Os temas principais giravam em torno de: análise cargos e do trabalho; redução e controle da fadiga humana; como selecionar os funcionários mais adequados às tarefas, segundo as características exigidas para o desempenho do cargo; como treinar melhor os funcionários para o desempenho de tarefas e como recompensar e incentivar os funcionários para uma maior produtividade. Outra influência importante da época foi o casal Frank e Lilian Gilbreth. Ele um engenheiro e ela uma psicóloga, que estudaram como desempenhar eficientemente as tarefas numa fábrica. Eles se ocuparam de estudos sobre tempo e movimentos, que envolveram medição e a sincronização de ações executadas pelas pessoas durante as tarefas, com o objetivo de desenvolver uma maneira mais eficiente de trabalhar. Eles aperfeiçoaram novas técnicas, que visavam a melhor forma de projetar a tecnologia para as pessoas. Eles foram responsáveis pelo início do que se tornaria o campo fator humano na psicologia organizacional. Outros fatos interessantes sobre o casal são que ela foi considerada a primeira pessoa a receber o título de Ph.D. em psicologia organizacional em 1915, e que eles serviram de inspiração para o filme Cheaper by the Dozen (no Brasil uma versão posterior foi nomeado de “doze é demais”), que conta suas vidas como atarefados pais de 12 crianças (SPECTOR; 2006:9). As guerras mundiais trouxeram forte impacto para o desenvolvimento da psicologia organizacional. O Exército americano sempre foi um dos principais campos para os psicólogos organizacionais da época. Na primeira guerra mundial, em 1917, um grupo de psicólogos, liderado por Robert Yerkes, criou os testes Army Alpha e Army Beta para medir a habilidade mental dos soldados e ajudar as forças armadas a alocá- los nas melhores posições dentro das tropas. Esses testes serviram de 28 fundamento para aplicação de testes em massa nos EUA, que depois foram utilizados na área educacional e no ambiente de trabalho. No período entre guerras, a psicologia expandiu-se na maioria das áreas de como é conhecida hoje. As organizações cresciam e novas demandas surgiam, a psicologia organizacional aproveitou e se inseriu nessas oportunidades. Muitos psicólogos americanos se interessaram pela nova área e começaram a estudá-la e atuar no campo profissional, trabalhando em empresas ou constituindo consultorias específicas na área. A Phychological Corporation, de James Mckeen Cattell, foi uma das principais e existe até os dias de hoje (SPECTOR; 2006:10). George Elton Mayo, em 1933, publicou o livro The Human Problems of Industrial Civilization. O livro se originou de estudos coordenados por ele entre 1924 e 1927, numa fábrica da Western Electric Company, localizada no bairro de Hawthorne (Chicago – EUA). Originalmente, esses estudos tinham como objetivo estudar a influência do nível de iluminação sobre a produtividade dos trabalhadores. Os estudiosos que dirigiam a pesquisa ocupavam uma sala especial onde os níveis de iluminação eram alterados, porém, os pesquisadores perceberam que, durante a pesquisa, quando o nível de produtividade aumentava, isso tinha pouca relação com o nível de produtividade. Foram pesquisados vários fatores que poderiam influenciar o nível de produtividade, e chegaram à conclusão que a simples presença da equipe de pesquisadores fazia com que o comportamento dos trabalhadores fosse alterado. O fato de estarem participando fazia com que o trabalhador mudasse seu comportamento; esse fenômeno ficou conhecido como efeito Hawthorne; dessa forma concluí-se que, qualquer que seja o motivo, parecia claro que os fatores sociais podem ser mais importantes que os fatores físicos no desempenho das pessoas no trabalho (SPECTOR; 2006:11). 29 PARA SABER MAIS Os estudos de Hawthorne foram realizados entre 1924 e 1932 em uma fábrica da Western Electric Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorne, que inicialmente procurava verificar os efeitos da luminosidade sobre o desempenho do trabalhador. Contudo, com o desenvolvimento, percebeu-se que os fatores sociais interferiam mais que as condições ambientais na produtividade das pessoas. Esses fatores foram: a integração social; comportamento social do empregado; recompensas e sanções sociais; grupos informais; relações humanas; a importância do conteúdo do cargo e ênfase nos aspectos emocionais.Os elementos do contexto macrossocial, político, econômico e cultural impuseram desafios e oportunidades para a psicologia organizacional. Na segunda guerra mundial, muitos psicólogos contribuíram para os esforços de guerra. Muitos estudos e trabalhos surgiram na área de seleção de soldados, treinamento, aspecto moral avaliação de desempenho, desenvolvimento de equipes e projetos de equipamentos. Até esse momento, a Associação Americana de Psicologia–APA -, dava ênfase à psicologia experimental somente, contudo, após a segunda guerra, a APA criou a divisão 14 da Psicologia Comercial e Industrial em 1944. As empresas privadas demonstraram um grande interesse em psicologia organizacional, implementando muitos procedimentos, como os testes psicológicos. Também podemos separar a evolução da psicologia organizacional em três momentos: o primeiro período vai até 1945, o segundo de 1945 a 1960 e o terceiro de 1960 em diante. O primeiro período é caracterizado pelo surgimento da psicotécnica, dos testes psicológicos como 30 ferramenta para a seleção de pessoas, além de abordagens e métodos como a análise e intervenção com foco em pequenos grupos e métodos de treinamento. De 1945 a 1960 surge o período chamado “expansão e consolidação pós-guerra”, que se caracterizou pela reconstrução da economia, da expansão das industrias de base, de novos mercados, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Esse cenário possibilitou que surgissem novos campos de trabalho para o psicólogo, como trabalhar com elaboração de postos de trabalho, seleção, treinamento, inserção de novas tecnologias, aquisição de habilidades, motivação e desenvolvimento organizacional. Esse período se estabeleceu com a nomenclatura de psicologia organizacional. (DALBOSCO; ROSA; PISONI, 2019) No final dos anos 50, Douglas McGregor, professor do Massachusetts Institute of Technology–MIT–realizou estudos comparativos das dimensões da subjetividade ao apresentar a análise de duas categorias, X e Y, existentes no campo de gestão do comportamento das pessoas na esfera da produção. Em resumo, a teoria X funda-se na ideia de que as pessoas são sempre preguiçosas, desobedientes, sem ambição e evitam responsabilidades, por isso precisam ser controladas, vigiadas e, quando necessário, penalizadas. Já a teoria Y, vê as pessoas como empreendedoras, que buscam reconhecimento e dispostas ao trabalho. Essas visões foram construídas com base nas respostas de centenas de gestores que participaram da pesquisa. Outro fator foi que McGregor verificou que o atendimento de uma necessidade básica gera um efeito que logo passa e para que algo seja motivador vai depender de intervenções na esfera da subjetividade, como reconhecimento do empenho e disponibilização de meios para autorrealização, assim o comprometimento surgiria somente a partir do estabelecimento de uma relação de confiança entre a empresa (gestores) e funcionários. Também afirmava que é possível alinhar interesses corporativos e interesses pessoais de autorrealização dos trabalhadores. 31 ASSIMILE As teorias X e Y de Douglas MacGregor foram um marco na história da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Elas delinearam uma nova visão sobre os fenômenos organizacionais. Elas são mais abrangentes do que usualmente é divulgado nos livros de administração (pois somente enfocam a questão das diferenças entre os dois tipos de percepção dos gestores), demonstrando a importância de uma gestão de pessoas coerente e saudável nas organizações. Nas décadas de 70 e 80 surge um novo modelo de relações de trabalho e crescem as críticas aos testes psicológicos e o desafio de ir além do âmbito individual da análise. Nessa época, as questões humanistas passaram a dominar esse campo da psicologia, voltando para questões como a satisfação. A proposta era tornar as relações menos conflituosas no ambiente de trabalho. Também se inicia a concretização de programas de Qualidade de Vida no Trabalho–QVT -, a mudança de modelos de gestão de controle para compromisso e envolvimento, o foco não mais em pequenos grupos e cresce o debate sobre questões éticas. (DALBOSCO; ROSA; PISONI, 2019) No Brasil, o desenvolvimento da psicologia organizacional está ligado ao desenvolvimento da psicologia geral e ao processo de industrialização que o país passou no início do século XX. A regulamentação da profissão de psicólogo só ocorreu na década de 60, porém a psicologia organizacional já estava bem consolidada nessa época. Alguns fatos históricos contribuíram para isso. No Brasil, no início do século XX, houve a instalação de um grande número de multinacionais, aumentando a competividade entre as empresas, com crescimento das fábricas, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, montadoras 32 de automóveis e grandes linhas de produção. Com esse crescimento, surgem duas grandes necessidades: por um lado, a mão de obra era desqualificada e os produtos eram de baixa qualidade. Dessa forma, surge a tentativa de racionalização do trabalho e o uso das técnicas, oriundas principalmente dos Estados Unidos, eram utilizadas com empolgação, abrindo espaço para a atuação de psicólogos nas indústrias, principalmente no campo da seleção de pessoal e aplicação de testes psicológicos. Léon Walther foi um dos primeiros a contribuir para esse campo no Brasil. Seu livro Tecno-psicologia do trabalho industrial, lançado em 1929, foi um marco nessa área. Em 1927 ministrou, em parceria com a Associação Comercial, cursos sobre aplicação de testes psicológicos em Belo Horizonte e em São Paulo. Em 1931, foi fundado o Instituto de Organização e Racionalização do Trabalho–IDORT -, existente até os dias atuais, que atuava em diferentes áreas, como seleção e educação profissionais, de organização psicológica do trabalho, de higiene do trabalho, de orientação profissional, e de estudos de legislação e estatística ligadas ao trabalho (GONÇALVES, 2000). Vale ressaltar que Henry Piéron também contribuiu para essa área no Brasil. Ele criou o Instituto Nacional de Orientação Profissional (INOP) na França, que se tornou o Instituto Nacional de Trabalho e Orientação Profissional (INETOP), em 1942. No Brasil, ajudou a difundir a psicotécnica. Esteve por aqui em várias épocas, realizando cursos no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde ministrou um curso no Laboratório de Psicologia da Escola Normal, sob a responsabilidade dos professores Lourenço Filho e Noemy Silveira Rudolfer e também ministrou cursos no Serviço de Seleção Ferroviário, dirigido pelo Prof. Roberto Mange. (HENRI... 2019). Em 1925, no antigo Instituto de Psicologia de Pernambuco, criado por Ulysses Pernambuco (neurologista e psiquiatra), foram realizados estudos de psicologia aplicada. Em 1929, o instituto passou a se chamar Instituto de Seleção e Orientação Profissional de Pernambuco. Até a década de 50, os principais campos de aplicação 33 da psicologia organizacional eram: treinamento; fadiga e monotonia; luminosidade e ventilação; testes de seleção de pessoal; estudos de tempo e movimento; turnos de trabalho; segurança; disciplina; liderança e supervisão; relações interpessoais; atitudes dos empregados; moral no trabalho; avaliação de executivos; relações homem-máquina; entrevistas e aconselhamento. Nos anos 90, os avanços tecnológicos transformaram o ambiente de trabalho. Na nova sociedade do conhecimento, o ritmo ditado pela era digital é intenso e vem modificando as profissões e funções dentro da organização. A globalização também trouxe novos desafios para a psicologia organizacional. As empresas começam a mostrar a necessidade da presença de psicólogos para o desenvolvimento corporativo (PSICOLOGIA, 2007). Em suma, podemos dizer que a psicologia organizacional e do trabalho possui três grandes fases: a primeira, quando é denominada de Psicologia Industrial, que vai até a década de 30, cuja ênfase foi a psicotécnica, a seleção e colocação de pessoal;a segunda fase foi a da Psicologia Organizacional, onde a ênfase era a produtividade das empresas, a ampliação do foco de atuação do psicólogo e o trabalho com grupos; a terceira fase é a Psicologia do Trabalho, com uma maior ampliação do foco, com ênfase nas questões de saúde na preocupação para além das organizações. Essas fases não se excluem, mas se completam em suas atividades, e hoje, elas convivem em diversas teorias e formatos de atuação (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014:558). 3. Desenvolvimento teórico e atuação da psicologia organizacional e do trabalho Sobre o campo de atuação, em uma pesquisa realizada com 4000 psicólogos, também em 2010, e depois analisada por Borges-Andrade 34 rakel Realce rakel Realce rakel Realce e Pagotto (2010), verificou-se que 83% dos psicólogos que atuam no campo da psicologia organizacional são mulheres, 49% são residentes no sudeste, 23% no sul, 17% no nordeste e 10% no centro-oeste do país, trabalhando em escritórios, consultórios ou residências, empresas privadas e órgãos públicos (8%). Metade tem vínculos assalariados e trabalho autônomo, muitos combinando o trabalho na psicologia organizacional e psicologia clínica. Entre as atividades realizadas pelos psicólogos, destacam-se, de modo cumulativo, a aplicação de testes psicológicos e psicodiagnósticos (61%), avaliação de desempenho (53%) e diagnóstico organizacional (50%), seguidos de atividades relacionadas à gestão (23%), análise de função ou ocupacional (22%) e recrutamento e seleção (19%), aplicações referentes à dinâmica de grupo (16%), ao desenvolvimento de grupos e equipes (16%), à reabilitação profissional (13%), análise de cargos e salários (13%) e intervenção organizacional (12%) (BORGES-ANDRADE; PAGOTTO, 2010). Desde o início da Psicologia Organizacional, sua produção teórica também esteve ligada às universidades. No princípio, as universidades, principalmente em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Pernambuco, fizeram as primeiras pesquisas e experiências em psicologia organizacional, no campo da psicometria. Com o passar do tempo, o campo se desenvolveu principalmente nos programas de pós- graduação stricto sensu nas formações de mestrado e doutorado. Em um levantamento feito em 2010, verificou-se que muitas universidades possuíam áreas de concentração ou linhas de pesquisa em temáticas relacionadas com a psicologia organizacional e do trabalho. Dentre essas universidades podemos citar: Pontifícia Universidade Católica de Goiás; Universidade de Brasília; Universidade de Fortaleza; Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto); Universidade de São Paulo (São Paulo); Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Universidade Federal da Bahia; Universidade Federal de Minas Gerais; Universidade Federal de Santa Catarina; Universidade Federal de São João del Rei; Universidade Federal de Uberlândia; Universidade Federal do Ceará; Universidade 35 Federal do Rio Grande do Norte; Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Universidade Metodista de São Paulo; Universidade Salgado de Oliveira; Universidade São Francisco; Universidades Federais da Paraíba e Rio Grande do Norte (BORGES-ANDRADE; PAGOTTO, 2010). Com crescimento da psicologia organizacional e o aumento de pesquisadores, surgem instituições que foram e são fundamentais para o desenvolvimento do campo da psicologia organizacional no Brasil. A SBPOT (Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho) foi fundada em 26 de junho de 2001, com apenas 60 pesquisadores e hoje é uma das principais referências no Brasil e no mundo referente ao campo. A SBPOT promove bianualmente o CBPOT – Congresso Brasileiro de Pscicologia Organizacional e do Trabalho– que na edição de 2018 foi realizado em Goiânia-GO. Também temos a ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia) que foi fundada em 1983, durante a XXXV Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada em Belém do Pará, que contribui grandemente no desenvolvimento do campo da psicologia organizacional e do trabalho no Brasil (BORGES-ANDRADE; PAGOTTO, 2010). A pesquisa em POT – Psicologia Organizacional e do Trabalho–é relativamente recente no Brasil. Nas décadas de 70 e 80, as principais referências eram estrangeiras, hoje já temos uma extensa produção científica na área, nos mais variados temas. Vários artigos científicos já foram publicados sobre quais são as temáticas mais pesquisadas na área, os chamados estudos do Estado da Arte, que trazem uma visão panorâmica das pesquisas realizadas em um determinado período. Destacamos alguns desses levantamentos e suas conclusões: O primeiro estudo foi o de Bastos, França, Pinho e Pereira (1997), que concluiu que os principais temas estudados foram a cultura organizacional e o impacto de novas tecnologias, seguidos de processos decisórios, motivação e produtividade, percepções, estresse e saúde; poder e conflito. Observou-se também, a redução de estudos sobre funções 36 de RH (avaliação de desempenho, recrutamento e seleção, cargos e salários) e o aumento de estudos sobre políticas de RH (como, por exemplo, qualidade de vida no trabalho, qualificação, gestão de competências, programas de qualidade e gestão participativa) (CAMPOS et al., 2011). No mesmo ano, outro trabalho no campo de estudo do comportamento organizacional, realizado por Borges-Andrade et. (1997) Al. verificou que as principais temáticas foram: a percepção, comunicação, comprometimento, desempenho, comportamento gerencial e organização do trabalho. Um terceiro estudo realizado por Tonelli, Caldas, Lacombe e Tinoco (2003), nos principais periódicos científicos brasileiros sobre a temática de Recursos Humanos, concluiu que as temáticas mais estudadas foram trabalho e saúde, relações no trabalho, liderança e poder, satisfação e motivação, políticas da área e funções de Recursos Humanos (CAMPOS et al., 2011). Em outro estudo realizado em 2009, a partir do levantamento de artigos publicados na área de Psicologia organizacional e do trabalho no ano de 1998 ao mês de maio de 2009, por Campos et al. (2011), com 116 artigos, concluiu-se alguns dados interessantes. Dos artigos analisados, o maior número de publicações foi no Estado de São Paulo, com 44 artigos, seguido do Rio Grande do Sul (16), Rio de Janeiro (15) Distrito Federal (10) e com apenas uma publicação nos Estados da Bahia e do Piauí. No ano de 2001, ocorreu um aumento significativo no número de publicações em relação aos anos anteriores, e que nos anos de 2002, 2005, 2006 e 2008 também foi bem produtivo para área. Isso deve-se ao fato de que houve um aumento de formação de mestres e doutores nos programas de pós-gradução no mesmo período. Quanto às temáticas, aferiu-se que os assuntos mais pesquisados foram: significado do trabalho/imagem profissional/subjetividade; relações no trabalho/liderança/poder; condições de trabalho; modelo teórico/ modelo RH; desemprego; clima e cultura; empregabilidade; assédio moral; trabalho comunitário/ONGs/cooperativa; satisfação/motivação; recrutamento e seleção; comunicação; dinâmica de grupo; treinamento 37 1913 Münsterberg lança o livro Psychology and Industrial Efficiency 1899 Luigi Patrizi Cria laboratório da Fadiga 1924 Inicia os estudos de Hawthorne 1917 Criação dos testes Army Alpha e Army Beta 1925 (BR) Fundação do Instituto Pernambuco 1931 (BR) Fundação do IDORT Década de 50 Décadas de Douglas 90 (BR) MacGregor Ampliação da Estudos Relações Humanas 1939-1945 21 guerra mundial e novos usos da POT nas forças armadas Décadas de 70 e 80 Novas atuações da POT área 2001 (BR) Fundação da SBPOT e desenvolvimento e avaliação de desempenho (em ordem de frequência). Campos et al. (2011). Esses estudos refletem a preocupação dos profissionais da área quanto a esses temas e, de certa forma, estão alinhados com a perspectiva anterior de pesquisartemas com relevância em comportamento organizacional mais que em temas mais comuns de recursos humanos. Em outro estudo mais recente (NASCIMENTO; BORGES-ANDRADE; PORTO: 2016), especificamente no terceiro setor, constatou-se também novos temas de interesse de pesquisa, dentre eles, as interações sociais nas equipes e nas organizações de trabalho; afeto no trabalho; significado do trabalho; dos seus produtos e identidade no trabalho; bem-estar e saúde no trabalho; aprendizagem natural/induzida no trabalho e sua transferência para outros indivíduos e outros desempenhos; contratos psicológicos; cognição no trabalho; tomada de decisão (gerencial, técnica e líderes) e julgamentos (sobre subordinados, pares e superiores de trabalho); motivação no trabalho; cultura organizacional; comportamento de fuga e esquiva no trabalho. Esse estudo demonstrou a ampliação do interesse em novos temas como o afeto, significado e cultura organizacional, que tem sido uma tendência nos congressos atuais. Figura 1–Breve Linha do Tempo da História da POT Fonte: elaborado pelo autor. 38 4. Considerações finais Como pudemos acompanhar a POT – Psicologia Organizacional e do Trabalho -, como é hoje conhecida, passou por várias transformações ao longo da história. Sua origem está associada ao próprio surgimento das organizações como hoje conhecemos. Do ponto de vista da aplicação e construção do conhecimento, ela estava ligada às ideias da administração científica e aos problemas de organização da época, como a seleção de pessoal, verificação de habilidades, testes psicológicos e avaliação de desempenho, período que ficou conhecida como Psicologia Industrial. Mas, como o passar do tempo, houve uma ampliação do seu campo de trabalho; passou a intervir mais em outros aspectos organizacionais como formação de líderes, diagnóstico organizacional, gestão de pessoas. Do ponto de vista de pesquisa, amplia-se o paradigma e começam interesses no campo do comportamento organizacional micro, meso e macroorganizacional, incluindo desde personalidade, tomada de decisão, motivação no trabalho, significado no trabalho e outros temas como vimos anteriormente, período onde de concretizou com o nome de Psicologia Organizacional. Sua evolução continua, novas demandas surgem, sejam sociais, econômicas ou tecnológicas, ampliando mais uma vez suas perspectivas, agora com preocupações como gestão do estresse no trabalho, qualidade de vida no trabalho, saúde do trabalhador, afetos e vai além das organizações tradicionais (empresas), se preocupando mais com as relações de trabalho como um todo. Nesse período, se concretiza o campo da Psicologia do Trabalho. Hoje, ela continua em evolução frente aos novos desafios que se apresentam. TEORIA EM PRÁTICA Faça uma pesquisa sobre a história da POT no Brasil: A SBPOT é a principal entidade da psicologia organizacional e do trabalho no Brasil. Ela congrega os principais esforços da área no Brasil, com a produção teórica recente da área, 39 eventos, formações, assuntos e temas da área. Acesse o site da SBPOT e procure na aba Eventos como foram os congressos, se atentando em quais foram os principais temas abordados. Após essa pesquisa, relacione suas informações com a história da psicologia organizacional e do trabalho. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Segundo Zanelli; Borges-Andrade; Bastos (2014: 102), a psicologia organizacional tem três grandes áreas de preocupação, que são: a. o trabalho, a sociedade e a gestão de pessoas. b. o trabalho, a organização e a gestão de pessoas. c. a sociedade, a subjetividade e o trabalho. d. a organização, o trabalho e a subjetividade. e. a sociedade, o trabalho e a gestão de pessoas. 2. No início da psicologia organizacional, uma das principais influências foi: a. Frederick W. Taylor. b. Karl Marx. c. Max Weber. d. Immanuel Kant. e. Christophe Dejours. 40 3. Um importante marco da psicologia organizacional brasileiro foi a fundação de uma entidade em São Paulo em 1931, esse foi: a. IDORT (Instituto de Organização e Racionalização do Trabalho). b. SBPOT (Sociedade Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho). c. ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós- graduação em Psicologia). d. APA (Associação de Psicologia Americana). e. INOP (Instituto Nacional de Orientação Profissional). Referências Bibliográficas A CONTRIBUIÇÃO de Henri Piéron no desenvolvimento da psicologia científica e da orientação profissional. 2014. Disponível em: <https://pupitre.hypotheses.org/ files/2014/05/COLLOQUE-PIERON-Version-en-Portugais.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2019. BASTOS, A. V. B., FRANÇA, A., PINHO, A. P. M., & Pereira, L. Pesquisa em comportamento organizacional no Brasil: O que foi divulgado nos nossos periódicos científicos? In: Sociedade Interamericana de Psicologia (Org.), Anais, XXVI Congresso Interamericano de Psicologia (p. 52). São Paulo: 1997. BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; PAGOTTO, Cecília do Prado. O Estado da Arte da Pesquisa Brasileira em Psicologia do Trabalho e Organizacional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 26, p.37-50, 2010. Disponível em: <http://www.scielo. br/pdf/ptp/v26nspe/a04v26ns.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2019. BORGES-ANDRADE, J. E., OLIVEIRA-SOUZA, C. M., PILATI, R., NONATO, A. J., SILVINO, A. M. D., GAMA, A. L. G. 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O trabalho como uma categoria ampla, as organizações com todos seus aspectos e os processos de gestão de pessoas nas organizações. Questão 2 Resposta: A Resolução: Taylor foi uma das principais influências da psicologia organizacional em seu início. A administração científica colocou várias questões para a psicologia organizacional e suas demandas. Questão 3–Resposta: B Resolução: O IDORT atuava em diferentes áreas ligadas ao trabalho e ajudou a impulsionar a psicologia organizacional no Brasil. 43 As áreas da psicologia organizacional e do trabalho Autor: Rogério Rodolfo Baptista Objetivos • Descrever o processo da constituição da psicologia organizacional e do trabalho como área de conhecimento e campo de aplicação. • Compreender como se constitui o modelo clássico de atuação e produção de conhecimento na área. • Apresentar as principais áreas de atuação e produção de conhecimento em Psicologia Organizacional e do Trabalho. • Apresentar as relações da Psicologia Organizacional e do Trabalho com outros campos do conhecimento científico. 1. Construção da Psicologia como área de atuação profissional e pesquisa Nesse tópico, faremos uma breve descrição da história da psicologia organizacional e do trabalho, agora sob a luz da formação das subáreas desta disciplina. No cenário internacional, as origens da psicologia organizacional remontam à criação do laboratório para o estudo da fadiga, na Itália, em 1899, por Luigi Patrizi e a criação do laboratório de estudos psicofisiológicos, na Alemanhã, 1990, por Kraplin, que pesquisou a fadiga e a carga de trabalho. Esses foram considerados os primeiros estudos da nascente psicologia em relação ao trabalho, portanto, com um viés experimental. Em seguida, temos os estudos de Lahy, na França, que começou a utilizar testes para seleção de pessoal em funções como datilógrafos, motoristas de trem, operadores de telefone. Ainda temos outros eventos que ajudaram a definir a psicologia organizacional em seu início, como a produção de conhecimento de Walter Dill Scott que, em 1913, publicou um livro sobre a questão da eficiência dos trabalhadores na indústria e de Hugo Munsterberg, que publicou um livro, em 1909, sobre a aplicação da psicologia na indústria e na propaganda. Nesse momento, havia um contexto histórico e social, que influenciava fortemente para que a psicologia fornecesse soluções para a produtividade e adaptação do homem ao trabalho. Os assuntos dominantes eram: a seleção de pessoal e o uso de testes psicológicos, a avaliação do desempenho do trabalhador. Podemos separar a construção histórica da psicologia organizacional em quatro grandes períodos: o primeiro período, que se caracteriza pela definição do campo da psicologia organizacional, que vai até 1945; o segundo período, chamada de “expansão e consolidação pós-guerra”, que vai de 1945 a 1960; o terceiro período, que compreende de 1960 a 1970 e o quarto período que vai de 1970 a 2010. Segue uma análise de cada período, levando em consideração três aspectos: O contexto social, político, econômico e cultural onde ocorreu, gerando desafios no campo 45 científico e profissional; como a psicologia respondeu a esses desafios, desenvolvendo ações e produtos e, por último, quais abordagens teóricas, procedimentos, métodos e áreas, caracterizaram esse período, em reposta as essas demandas (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES: 2014, 553). O primeiro período, até 1945, foi marcado por grandes mudanças macrossociais, como a segunda revolução industrial, gerando um forte processo de industrialização, o avanço tecnológico, com a criação de máquinas e novos métodos de trabalho, a pressão por reformas sociais e a luta contra a exploração do trabalho, impulsionado pelo marxismo (com as crescentes formas de governo socialistas ao redor do mundo); a Primeira Guerra Mundial, que impulsionou a indústria bélica mundial. Esse conjunto de fatores gerou muitas demandas para a psicologia organizacional, que era uma ciência emergente e estava muito ligada às ideias da Administração Científica de Taylor, como a necessidade de capacitação de trabalhadores, racionalização do trabalho e a própria aplicação da psicologia no contexto do trabalho, uma questão ainda em construção. Os psicólogos do início do século XX começaram a criar métodos e produtos para atender essas demandas, como o uso de testes psicológicos para a seleção de pessoas e o conceito de Human Engineering (o desenho de equipamentos para o uso humano, incluindo armamentos). Nesse período, cresceu muito a psicologia aplicada às indústrias, a Psicometria, os métodos de seleção de pessoal, os métodos de treinamento e as abordagens com foco na intervenção de pequenos grupos (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES: 2014, 554). O segundo período, de 1945 a 1960, foi caracterizado pelo pós-guerra mundial, no qual havia uma necessidade de reconstrução da economia em muitos países, a reintegração de veteranos (nos EUA – Estados Unidos da América–e outros países) na sociedade, e um crescimento econômico impulsionado pela retomada da indústria e reconstrução de cidades. Também foi o período do estabelecimento do Estado de Bem-estar Social e da Guerra Fria (que se refere ao período histórico, 46 entre o final da segunda guerra mundial o final da União Soviética) de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética. Esse contexto ajudou a consolidar a aplicação da psicologia nas organizações como uma disciplina importante e útil para sua manutenção e desenvolvimento. A psicologia aplicada às organizações se firma como Psicologia Organizacional e do Trabalho e não mais como Psicologia Industrial. A psicologia organizacional e do trabalho amplia sua atuação em contextos mais amplos da organização, desenvolvendo, além da seleção de pessoal (que se solidifica como atividade central da psicologia organizacional), o desenho de postos de trabalho, introdução a novas tecnologias e desenvolvimento organizacional. Há desenvolvimento de ações e teorias ligadas à aprendizagem, aquisição de habilidades, métodos de ensino, treinamento gerencial e motivação (como a teoria da hierarquia das necessidades de Maslow e a teoria X e Y de McGregor) (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES: 2014, 554). PARA SABER MAIS O Estado de Bem-estar Social (Welfare State) é uma ideologia política