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avassalador, ou então violentamente sensual; o instinto, segundo a lição de Rousseau, é 
nimbado de inocência, e chega-se a entender o amor como um absoluto, uma espécie de 
religião depuradora e exaltante que a sociedade não tem o direito de tolher; a poesia dá 
vazão ao tumulto interior, torna-se expansiva e confidencial, tende a confundir-se com a 
vida; por outro lado, procura-se uma linguagem nova, não só impressionante, excessiva, 
de tintas violentas, mas capaz de traduzir imediata e fielmente o próprio fluxo subjetivo 
(aqui oscila-se entre a espontaneidade emocional e a declamação espetacular); 
reagindo-se contra o racionalismo iluminístico, exprime-se a nostalgia do maravilhoso 
ou do pitoresco folclórico (lendas, contos de fadas, velhos usos e tradições); enfim, o 
gosto da paisagem diferente e do maravilhoso etnográfico leva aos primeiros assomos 
de exotismo (entre nós o exotismo brasílico).
Estes aspetos, que naturalmente se entrelaçam, abrangem a maior parte, e a mais 
significativa, do que virá a ser o Romantismo; mas surgem, por ora, associados, não raro 
de modo paradoxal, quer ao neoclassicismo (figuração mitológica, alegoria, imitação, 
adoção de modelos greco-latinos e quinhentistas), quer ao iluminismo (afirmações de 
deísmo, endeusamento da Razão e da Liberdade). Note-se que, rigorosamente, não há 
Pré-Romantismo, pois não se trata de um movimento uno e de diretrizes conscientes, 
mas sim pré-românticos, cada um com a sua feição individual e combinando de modo 
sui generis ingredientes neoclássicos e pré-românticos. Só depois do Romantismo seria 
possível tomar consciência de como este movimento se anunciou e foi elaborando no 
séc. XVIII, ante litteram.
COELHO, Jacinto do Prado, Dicionário de literatura. 3ª ed. Porto: Figueirinhas, 1979, 
3º vol. Disponível em: http://www.faroldasletras.pt/pre-romantismo.html [17] Acesso em 
29/09/2018
As duas faces de sua poética revelam um sensível talento capaz de se expressar tanto 
sob as diretrizes do Arcadismo, quanto pela emoção altamente subjetiva do pré-
romantismo. Fez diversas traduções: do latim, a Arte Poética, de Horácio; do alemão, textos 
de Christoph Wieland; do inglês, o Ensaio sobre a Crítica, de Alexander Pope; e do francês, 
textos de Lamartine. A sua poesia foi reunida nos seis volumes de Obras Poéticas da 
Marquesa de Alorna (1844). 
Sob a perspectiva árcade, a poesia de Alcipe traz referências da cultura greco-latina e 
realiza a exaltação da natureza como fonte de equilíbrio, harmonia e da racionalidade, como 
exemplifica o soneto a seguir apresentando a natureza como refúgio aprazível de 
tranquilidade também enriquecido por várias alusões a figuras mitológicas como Saturno, 
Cípria, Bóreas, Fortuna e Délio. O elogio à simplicidade da vida material completa o quadro:
Deitei-me sobre a fresca relva um dia,
E dando a um sono leve alguns instantes
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