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Historiografia Colonial Brasileira

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Prévia do material em texto

HISTORIOGRAFIA 
BRASILEIRA
Unidade 2
Historiografia 
colonial brasileira
CEO 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial 
ALESSANDRA FERREIRA
Gerente Editorial 
LAURA KRISTINA FRANCO DOS SANTOS
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoria 
FÁBIO RONALDO DA SILVA
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Fábio Ronaldo da Silva
Olá. Sou pós-doutorando em História pelo PPGH/UFCG. 
Sou doutor em História pelo PPGH/UFPE. Possuo o título de 
mestre em História pelo PPGH/UFCG. Já atuei como professor 
substituto do curso de Jornalismo da UEPB, assim como lecionei no 
curso de Publicidade e Propaganda da Cesrei. Além disso, ministro 
aulas no curso de Comunicação Social das FIP e no curso de 
Produção em Audiovisual da Facisa/Cesed. Tenho especialização 
em Programação Visual, além de formações em Comunicação 
Social, pela UEPB, e História, pela UFCG. Atualmente, exerço o 
papel de pesquisador colíder do Grupo de Pesquisa/DGP-CNPq 
História e Memória da Ciência e Tecnologia. Minhas pesquisas 
estão concentradas nas áreas de Comunicação e de História, com 
foco especial nos temas de estudos de gênero, sexualidades, 
velhices, imprensa homoerótica, homossexualidades, imagem, 
cinema, história oral, arquivo jornalístico, memória e novas 
tecnologias da informação. Tenho uma paixão profunda pelo que 
faço e sinto grande satisfação em compartilhar minha experiência 
de vida com aqueles que estão começando em suas respectivas 
carreiras. Por essa razão, recebi o convite da Editora Telesapiens 
para fazer parte de seu grupo de autores independentes. Estou 
extremamente contente em poder oferecer minha ajuda durante 
essa fase de intenso estudo e dedicação. Saiba que pode contar 
comigo!
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ÍC
O
N
ESEsses ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem nos seguintes casos:
OBJETIVO
No início do 
desenvolvimento 
de uma nova 
competência. DEFINIÇÃO
Caso haja a 
necessidade de 
apresentar um novo 
conceito.
NOTA
Quando são 
necessárias 
observações ou 
complementações. IMPORTANTE
Se as observações 
escritas tiverem que 
ser priorizadas.
EXPLICANDO 
MELHOR
Se algo precisar ser 
melhor explicado ou 
detalhado. VOCÊ SABIA?
Se existirem 
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo.
SAIBA MAIS
Existência de 
textos, referências 
bibliográficas e links 
para aprofundar seu 
conhecimento.
ACESSE
Se for preciso acessar 
sites para fazer 
downloads, assistir 
vídeos, ler textos ou 
ouvir podcasts.
REFLITA
Se houver a 
necessidade de 
chamar a atenção 
sobre algo a 
ser refletido ou 
discutido.
RESUMINDO
Quando for preciso 
fazer um resumo 
cumulativo das últimas 
abordagens.
ATIVIDADES
Quando alguma 
atividade de 
autoaprendizagem 
for aplicada. TESTANDO
Quando uma 
competência é 
concluída e questões 
são explicadas.
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SU
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Historiografia do período colonial no Brasil ................................9
Principais correntes historiográficas do período colonial ....................................... 9
Eventos-chave e figuras protagonistas da colonização .........................................14
Resistência e movimentos sociais ...............................................................16
Relação com os povos indígenas .................................................................17
Processos históricos determinantes: economia, sociedade e cultura ..............19
Sociedade colonial: hierarquias, dinâmicas sociais e tensões ............20
Cultura colonial: sincretismo, religiosidade e expressões artísticas..22
Interpretações sobre a chegada dos portugueses ....................26
Narrativas tradicionais versus revisões contemporâneas ....................................26
A chegada dos portugueses sob a ótica indígena...................................................31
Transformações culturais e sociais .............................................................34
Interesses geopolíticos e o contexto internacional na época .............................36
Abordagens historiográficas sobre sociedade colonial ............39
Dinâmicas da escravidão: abordagens historiográficas sobre a experiência 
afro-brasileira .....................................................................................................................39
Cultura e religiosidade afro-brasileira no período colonial ..................42
Inter-relações e tensões sociais ...................................................................44
Estruturas e relações de poder no período colonial ..............................................45
Dinâmicas sociais e estratificação ...............................................................48
Resistência e contestação ao poder colonial ...........................................50
Culturas indígenas e seu legado resiliente ................................................................52
Métodos utilizados para reconstruir a história colonial do 
Brasil ................................................................................................55
Fontes primárias na reconstrução da história colonial .........................................55
Documentos oficiais ........................................................................................56
Relatos de eventos e transações .................................................................58
Desafios e limitações .......................................................................................60
A importância dos relatos pessoais ............................................................................61
Vieses e limitações dos relatos pessoais ...................................................65
Contribuição à historiografia ........................................................................66
Iconografia e cultura material .......................................................................................68
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Você sabia que a área da historiografia colonial 
brasileira é uma das mais ricas e complexas na historiografia 
nacional e será responsável pela geração de novas perspectivas 
e abordagens sobre o nosso passado nos próximos anos? Isso 
mesmo. A área da historiografia colonial faz parte da cadeia 
fundamental de construção de nossa identidade como nação. Sua 
principal responsabilidade é investigar, analisar e reinterpretar 
eventos, figuras, relações de poder, dinâmicas sociais e culturais 
que moldaram séculos de nossa história. De resistências 
sociais à influência indígena e africana, do sincretismo religioso 
às complexas relações de poder e escravidão, das narrativas 
tradicionais às revisões contemporâneas, das fontes primárias aos 
relatos pessoais e à rica iconografia e cultura material da época. 
Cada fragmento é uma peça no vasto mosaico que é a história 
colonial brasileira. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você 
vai mergulhar neste universo!
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Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo 
é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências 
profissionais até o término desta etapa de estudos:
1. Identificar os principais eventos, atores e processos 
históricos do período colonial no Brasil, por meio da 
análise e do estudo da historiografia existente.
2. Distinguir as diversas interpretações sobre a chegada 
dos portugueses e o início da colonização no Brasil.
3. Discernir sobre as abordagens historiográficas da 
sociedade colonial, incluindo a escravidão, as relações 
de poder e as culturas indígenas.
4. Entender as fontes e os métodos utilizados pelos 
historiadores para reconstruir a história colonial 
brasileira, bem como o estudo e a análise de documentos 
oficiais, cartas, diários, relatos de viajantes, registros 
paroquiais, iconografia, entre outros.
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Historiografia do períodocolonial no Brasil
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz 
de identificar os principais eventos, atores e 
processos históricos do período colonial no Brasil, 
por meio da análise e do estudo da historiografia 
existente. E então? Motivado para desenvolver 
esta competência? Vamos lá. Avante!
Principais correntes 
historiográficas do período 
colonial
Quando nos voltamos para o período colonial brasileiro, 
enfrentamos uma rica diversidade de interpretação ao longo dos 
séculos. A historiografia tradicional, por exemplo, teve grande 
foco em documentos oficiais, crônicas e relatos de viajantes, 
muitas vezes dando voz apenas aos protagonistas europeus. 
Essa tendência pode ser observada em trabalhos clássicos como 
o de Frei Vicente do Salvador, que, em sua “História do Brasil” 
(1627), apresenta um relato detalhado da colonização a partir da 
perspectiva dos colonizadores.
A historiografia tradicional, frequentemente associada 
aos primeiros séculos da colonização brasileira, foi inserida 
em um contexto no qual a história era vista, em grande medida, 
como um registro factual e linear dos eventos. Essa abordagem 
enfatizava a narrativa dos grandes feitos, dos descobrimentos 
e dos atos das elites, colocando em segundo plano a vida e as 
experiências dos grupos subalternos.
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Uma das principais características dessa historiografia é a 
forte dependência de documentos oficiais, como cartas, crônicas 
e relatos de viajantes europeus. As obras desse período buscavam 
estabelecer uma narrativa de “descobrimento” e “civilização”, sob 
a perspectiva da metrópole portuguesa.
EXEMPLOS: um exemplo emblemático é a “História da 
América portuguesa” (1730), de Sebastião da Rocha Pita, 
que narra a história da colonização portuguesa na América, 
destacando os feitos dos colonizadores e a contribuição 
religiosa da Igreja Católica.
A linearidade da narrativa e a predominância do ponto 
de vista europeu não significam, contudo, que os escritos dessa 
época sejam desprovidos de valor. Muitas das obras tradicionais 
fornecem detalhes preciosos sobre o cotidiano colonial, uma 
organização social e as relações de poder. Nesse sentido, a 
obra de Gabriel Soares de Sousa, “Tratado descritivo do Brasil” 
(1587), surge como um dos registros mais detalhados do Brasil 
seiscentista, contemplando desde a fauna e a flora até os trajes 
indígenas.
No entanto, é inegável que essa perspectiva tradicional 
apresenta limitação, principalmente por não contemplar as 
vozes e experiências de grupos como indígenas e africanos 
escravizados. Como destaca Dias (2005), a historiografia sobre 
a colonização brasileira por muito tempo esteve atrelada a uma 
visão eurocêntrica, negligenciando outros protagonistas e suas 
resistências.
A partir das últimas décadas do século XX, a historiografia 
brasileira, assim como a historiografia global, viu surgir uma série 
de correntes revisionistas e novas abordagens metodológicas. O 
revisionismo e a chamada “nova história” buscaram questionar 
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e reconfigurar narrativas completas, utilizando novas fontes e 
abordagens analíticas.
No campo do revisionismo brasileiro, um exemplo 
notável é a obra de Evaldo Cabral de Mello. Em seus estudos 
sobre o Nordeste colonial, como “Negócios e ócios: histórias 
da apropriação” (1997), ele desafiou visões tradicionais sobre a 
economia açucareira, argumentando que havia uma complexidade 
econômica e social maior do que se supunha anteriormente.
A “nova história”, influenciada pelas correntes europeias, 
trouxe para o centro do debate metodologias que enfatizavam 
a análise das mentalidades, do cotidiano e das micro-histórias. 
Alain Corbin, Roger Chartier e Carlo Ginzburg foram referências 
internacionais que inspiraram historiadores brasileiros. No 
contexto nacional, Manolo Florentino e José Roberto Góes (1997) 
se destacaram ao estudar o cotidiano dos escravos urbanos e 
a vida dos pequenos comerciantes no Brasil colonial, utilizando 
fontes de recursos e notariais de forma inovadora.
Outro campo fértil dessa abordagem foi a “história das 
sensibilidades”, que explora as inscrições e emoções das pessoas 
do passado. Mary Del Priore, em “Histórias íntimas” (2011), 
mergulhou nas experiências amorosas e afetivas dos brasileiros 
dos séculos passados, oferecendo uma leitura rica e humana da 
história.
A combinação do revisionismo com a nova história 
ampliou as possibilidades interpretativas, dando voz a 
personagens silenciados e enriquecendo a compreensão da 
complexa diversidade social e cultural do período colonial 
brasileiro.
A emergência da historiografia marxista no Brasil, 
sobretudo a partir da segunda metade do século XX, inaugurou uma 
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profunda revisão interpretativa sobre a formação econômica e 
social do país. Influenciados pelo pensamento marxista, diversos 
historiadores procuraram examinar a estrutura econômica da 
colônia à luz das relações de classe e dos modos de produção.
Um dos pioneiros nesse campo foi Caio Prado Jr., que, em 
sua obra “Formação do Brasil contemporâneo” (1942), propõe 
uma interpretação econômica da colonização. Ele argumentou 
que a colonização portuguesa tinha um “sentido eminentemente 
econômico”, ou seja, estava centrado na exploração e na 
transferência de riqueza para a metrópole, principalmente por 
meio do sistema latifundiário e da escravidão.
Os marxistas também deram particular atenção à 
centralidade da escravidão na economia colonial. Fernando Novais, 
em “Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial” (1979), 
examina a dinâmica da economia colonial dentro do contexto do 
sistema colonial atlântico. Ele argumenta que a dependência do 
trabalho escravo e a exportação de produtos primários foram 
desenvolvidos para a manutenção do sistema mercantilista.
IMPORTANTE
Ainda que enriquecedora, a historiografia 
marxista não ficou isenta de críticas. Enquanto 
ofereceram ferramentas valiosas para analisar a 
estrutura econômica da colônia, alguns estudiosos 
argumentaram que essa abordagem poderia 
reduzir a complexidade da realidade colonial a 
meras relações desanimadas, negligenciando os 
aspectos culturais e sociais.
Também relevante é a contribuição de Jacob Gorender, 
particularmente em seu livro “O escravismo colonial” (1978). 
Gorender analisa a escravidão como um modo de produção 
específico, integrando as relações sociais inerentes à sociedade 
escravocrata brasileira em sua totalidade.
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A partir da segunda metade do século XX, a historiografia 
brasileira experimentou uma virada cultural e antropológica, 
movimento que influenciou profundamente os estudos sobre o 
período colonial. Ao invés de focar exclusivamente nas estruturas 
e políticas, os historiadores seguiram a dar atenção especial às 
expressões culturais, práticas cotidianas e relações interculturais 
que moldaram a formação da sociedade colonial.
Um marco dessa virada é o trabalho de Sérgio Buarque 
de Holanda, especialmente em “Raízes do Brasil” (2015). Buarque 
de Holanda suportou o conceito de “homem cordial”, buscando 
entender as peculiaridades da formação social brasileira por meio 
de uma análise das mentalidades e dos comportamentos, e não 
apenas por meio de hemorragias ou políticas.
Em uma visão mais antropológica, Darcy Ribeiro, em 
“O povo brasileiro” (1995), recomendou uma interpretação da 
história brasileira centrada nos processos de mestiçagem e nas 
“matrizes culturais” que originaram o povo brasileiro. Por meio 
de uma abordagem etno-histórica, Ribeiro destacou o papel dos 
indígenas, africanos e europeus na formação de uma identidade 
nacional plural e complexa.
Outra contribuição relevante é a de Laura de Mello e 
Souza, em “Desclassificados do ouro” (1982), em que ela investiga 
a religiosidade popular no período colonial, incluindo práticas 
mágicas, feitiçaria e heresias. Esse estudoreflete a crescente 
atenção dada às práticas e crenças cotidianas, e não apenas às 
instituições e elites.
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Eventos-chave e figuras 
protagonistas da colonização
As grandes navegações do final do século XV e início do 
século XVI não podem ser compreendidas sem um olhar para 
as transformações que vinham ocorrendo na Europa. A busca 
por rotas alternativas para as Índias, motivada tanto por fatores 
econômicos quanto religiosos, desencadeou uma série de viagens 
exploratórias pelo mundo (Fausto, 1995).
A Renascença, movimento cultural que floresceu no 
continente europeu, trouxe consigo uma nova forma de ver 
o mundo. Era um período de ressurgimento intelectual, com 
destaque para as ciências e as artes. Simultaneamente, o 
crescimento do comércio estimulou a busca por novas rotas 
mercantis, especialmente para contornar os domínios árabes nas 
rotas tradicionais das especiarias. As palavras de Sérgio Buarque de 
Holanda explicaram essa realidade: “Na verdade, a descoberta do 
Brasil insere-se na expansão ultramarina europeia, cujas origens 
se fornecem ao desejo de superar a intermediação muçulmana no 
tráfico de produtos de luxo da Ásia” (Holanda, 2015).
O protagonista dessa descoberta, Pedro Álvares Cabral, foi 
parte de uma expedição portuguesa que, oficialmente, tinha como 
objetivo chegar às Índias. Contudo, ao desviar sua rota, aportou 
em terras desconhecidas, em abril de 1500, marcando, assim, o 
início da história do Brasil como uma colônia portuguesa (Prado 
Júnior, 1942). Sobre a figura de Cabral, não podemos negligenciar 
os debates que questionam se a chegada foi um mero acidente 
de navegação ou um ato premeditado, embasado por possíveis 
informações anteriores sobre a existência de terras ao ocidente 
(Boxer, 1969).
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Imagem 2.1 – Pedro Álvares Cabral
Fonte: Freepik
E, assim, com os primeiros contatos com os nativos e a 
celebração de uma missa em terras brasileiras, iniciou-se um 
capítulo repleto de transformações, encontros e desencontros 
que moldariam o futuro de uma nação.
A formação territorial do Brasil não se limitou ao 
litoral avistado por Cabral em 1500. A expansão para o interior 
do continente foi resultado de uma série de dinâmicas que 
envolveram tratados internacionais, expedições exploratórias e, 
indubitavelmente, conflitos.
O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, foi um dos 
primeiros instrumentos que tentou definir limites entre as terras 
conquistadas por portugueses e espanhóis. Estabelecido pelo 
papa Alexandre VI, o tratado previa que as terras a oeste de uma 
linha imaginária pertenceriam à Espanha, enquanto as terras a 
leste seriam de Portugal. Contudo, como observa Oliveira Lima, 
“a linha de Tordesilhas, embora uma referência inicial, era uma 
abstração, pois as verdadeiras fronteiras seriam decididas não por 
acordos, mas pela ocupação efetiva” (Lima, 1920).
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VOCÊ SABIA?
A formação territorial do Brasil colonial é um 
mosaico complexo, formado por acordos 
diplomáticos, expedições audaciosas e conflitos 
intensos, que, juntos, tecem o campo da expansão 
e da definição das fronteiras do país.
As entradas e bandeiras foram expedições fundamentais 
para a extensão do território brasileiro. Essas iniciativas foram 
compostas, principalmente, por bandeirantes paulistas, que, 
motivados pela busca de metais preciosos, pelo apresamento de 
indígenas e pelo desejo de aventura, seguiram para o interior do 
continente. Raposo Tavares é uma das figuras emblemáticas desse 
movimento, sendo responsável por uma das maiores expedições 
que partiram de São Paulo em direção ao Amazonas, consolidando 
o domínio do português em vastas áreas.
Além das expedições, é essencial mencionar os conflitos 
decorrentes da expansão. A Guerra dos Emboabas, por exemplo, 
foi uma disputa territorial e econômica entre paulistas e 
portugueses pelo domínio das minas de ouro na região de Minas 
Gerais. Conflitos como esse demonstram que o processo de 
expansão territorial estava repleto de disputas e rivalidades, tanto 
internas quanto externas (Furtado, 2007).
Resistência e movimentos sociais
A colonização do Brasil, marcada por processos de 
exploração, imposição cultural e sistemas de trabalho forçado, 
não se deu sem resistência. Desde os primeiros momentos da 
colonização até o final do período colonial, diversos grupos, dos 
indígenas aos escravizados africanos, protagonizaram movimentos 
de resistência que desafiaram a ordem estabelecida.
Os indígenas, frequentemente retratados como passivos 
ou dóceis nos relatos dos primeiros colonizadores, foram, na 
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verdade, atores de resistência tenaz contra a invasão de suas 
terras e contra as tentativas de catequização. Eles frequentemente 
abandonavam as aldeias manipuladas pelos jesuítas (as chamadas 
“missões”) ou resistiam à escravização por meio de revoltas e 
fugas. No entanto, é necessário notar que a resistência indígena 
foi diversificada e complexa, variando entre grupos e regiões 
(Monteiro, 1994).
Os africanos escravizados e seus descendentes foram, 
sem dúvida, um dos grupos mais resistentes durante o período 
colonial. A formação de quilombos, comunidades autônomas de 
pessoas fugitivas da escravidão, foi uma das manifestações mais 
emblemáticas dessa resistência. O Quilombo dos Palmares, sob 
a liderança de Zumbi, tornou-se um símbolo poderoso da luta 
contra a opressão e da busca pela liberdade (Gomes, 2006).
Ao longo do período colonial, também houve movimentos 
de caráter político e social, como as revoltas coloniais, que 
objetivavam maior autonomia ou mesmo independência em 
relação à metrópole. Entre essas, podemos citar a Revolta de 
Beckman, a Guerra dos Emboabas e a Conjuração Mineira 
(Furtado, 2003).
Essas manifestações de resistência mostram que o 
período colonial brasileiro não foi apenas marcado por submissão 
e opressão, mas também por lutas, desafios e pela busca incessante 
por autonomia e liberdade por parte de diferentes grupos sociais.
Relação com os povos indígenas
A chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, marcou 
o início de um complexo processo de proteção entre europeus 
e os diversos povos indígenas que habitavam o território. Essas 
relações não foram emocionantes, sendo influenciadas por 
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interesses médicos, estratégias de dominação e também por 
trocas culturais e alianças estratégicas.
IMPORTANTE
É crucial compreender que a relação entre 
colonizadores e indígenas foi dinâmica e 
multifacetada, envolvendo conflitos, alianças, 
trocas culturais e resistências, moldando 
profundamente a história e a cultura brasileira.
Inicialmente, os indígenas foram fundamentais para a 
sobrevivência dos primeiros colonizadores, ensinando técnicas de 
cultivo, pesca e sobrevivência nas florestas. Entretanto, a relação 
logo tomou contornos de exploração. No contexto da economia 
de escambo, indígenas forneciam madeira, peles e outros 
produtos em troca de objetos europeus. Esta relação, contudo, 
foi logo suplantada pela escravidão indígena, especialmente nas 
atividades açucareiras (Almeida, 1997).
A Igreja Católica, por meio dos jesuítas, teve um papel 
central na relação com os indígenas durante os primeiros séculos 
da colonização. Com o objetivo de evangelização, os jesuítas 
criaram as missões, que reuniram comunidades indígenas sob 
uma estrutura teocrática. Essas missões muitas vezes serviram 
como espaços de proteção contra a escravidão, mas também 
foram cenários de aculturação, em que as tradições indígenas 
eram suprimidas em favor das normas e valores europeus (Leite, 
1938).
À medida que a expansão territorial avançava, muitos 
grupos indígenas foram deslocados ou exterminados, seja pela 
violência direta, seja pelas doenças trazidas pelos europeus. 
Contudo, outros grupos buscaram estratégias de resistência e 
negociação.Algumas nações, como os Guaranis, por exemplo, 
estabeleceram alianças com os colonizadores em determinados 
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contextos, enquanto em outros momentos optaram pela 
resistência armada (Metraux, 1926).
Processos históricos determinantes: 
economia, sociedade e cultura
Compreender a economia colonial brasileira exige um 
mergulho nos ciclos biológicos que sustentaram a colônia ao longo 
de três séculos. Esses ciclos, com suas características peculiares, 
representaram não apenas diferentes momentos psicológicos, 
mas também refletiram mudanças políticas, sociais e culturais.
O primeiro ciclo econômico da colônia foi o do pau-brasil. 
Logo após a chegada dos portugueses, essa madeira de cores 
vermelhas se tornou o primeiro produto de exploração. Usando 
o sistema de feitorias e contando com o trabalho indígena, os 
portugueses extraíram a madeira para a produção de corantes 
na Europa. Como bem coloca Boxer (1969, p. 45), o pau-brasil 
representou a primeira interação econômica entre a colônia e a 
metrópole, delineando o caráter extrativista que marcaria boa 
parte da história colonial brasileira.
No século XVI, o Brasil colonial passou a se centrar na 
produção de açúcar. O clima favorável do litoral nordestino, 
sobretudo em Pernambuco e na Bahia, aliado às técnicas agrícolas, 
fez desta região o principal polo açucareiro. A estruturação dos 
engenhos, grandes propriedades monocultoras, determinou não 
apenas a dinâmica da produção, mas também as relações sociais 
da época. A obra de Prado Júnior (1942) é crucial para entendermos 
essa fase, ressaltando que o “modo de produção escravista” foi o 
pilar desse ciclo.
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Ao final do século XVII e ao longo do século XVIII, as 
atenções se sucederam para as regiões de Minas Gerais, Goiás e 
Mato Grosso devido às descobertas de jazidas de ouro. A corrida 
do ouro transformou a dinâmica colonial, gerando migrações 
internas e estabelecendo novas vilas e cidades. Furtado (2007) 
destaca a importância desse ciclo na formação do mercado interno 
colonial e na intensificação da escravização.
Ao longo desses ciclos, a economia colonial manteve uma 
característica marcante: a dependência em relação à metrópole. 
Sodré (1962) aborda essa relação, destacando a estrutura colonial 
de exploração, na qual a colônia tinha como principal papel 
fornecer matérias-primas para Portugal, enquanto era obrigada a 
consumir os produtos manufaturados europeus.
Ao analisar esses ciclos, torna-se evidente que a economia 
colonial foi profundamente marcada por relações de dependência 
e de exploração, configurando o que muitos historiadores chamam 
de “colonialismo de exploração”. Em cada ciclo, vemos refletidas 
não apenas decisões de motivação, mas também estruturas 
sociais, de autoridade e de tensão que seriam fundamentais na 
formação do Brasil.
IMPORTANTE
Nosso entendimento desses processos é 
enriquecido por análises historiográficas 
que nos permitem enxergar além dos fatos, 
compreendendo as estruturas e dinâmicas 
subjacentes à economia colonial.
Sociedade colonial: hierarquias, 
dinâmicas sociais e tensões
A sociedade colonial brasileira era complexa e 
multifacetada. Caracterizada por marcantes hierarquias sociais, 
ela foi moldada não apenas pelos fatores femininos, mas também 
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por culturais e políticas. Diferentes grupos sociais coexistiram, por 
vezes em harmonia, mas, muitas vezes, em conflito, delineando 
um quadro social repleto de tensão e de dinâmicas próprias.
Imagem 2.2 – Hierarquia da sociedade colonial
Brancos não 
proprietários, mestiços 
e, eventualmente, alguns 
indígenas e negros livres
Escravizados
Senhores 
de engenho 
e grandes 
proprietários de 
terras
Fonte: Elaborado pela autoria (2023)
No topo da pirâmide social estavam os “senhores de 
engenho” e os grandes proprietários de terras e minas. Estes, 
predominantemente portugueses ou descendentes diretos, 
detinham o poder econômico e político nas áreas coloniais. Como 
Holanda (2015) detalha, essa elite agrária e mineradora moldou 
significativamente as relações sociais e políticas da colônia.
Abaixo deles estavam os brancos não proprietários, os 
mestiços e, eventualmente, alguns indígenas e negros livres. 
Esse grupo, devido à sua diversidade, ocupava diversas funções, 
desde artesãos e comerciantes até administradores menores. 
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As dinâmicas entre os grupos eram permeadas por questões de 
poder, riqueza e, claro, cor da pele.
A base da pirâmide era social formada pelos escravizados, 
em sua maioria africanos e seus descendentes. Eles eram a força 
de trabalho em engenhos, fazendas e minas. Como bem ressalta 
Florentino (1997), esses escravizados, apesar das adversidades, 
desenvolveram estratégias de resistência e construíram sua 
própria cultura, influenciando fortemente a formação da sociedade 
brasileira.
A coexistência desses diferentes grupos gerou múltiplas 
tensões. Revoltas e insurreições, como a Revolta dos Malês e a 
Revolta de Beckman, evidenciam os conflitos latentes na sociedade 
colonial. Jancsó (2000) destaca que essas revoltas, embora, por 
vezes, compulsórias, evidenciam o descontentamento de certos 
setores da população com a ordem estabelecida.
Outro ponto de tensão era a relação entre nativos 
e colonizadores. A resistência indígena, materializada, por 
exemplo, nas Confederações dos Tamoios, contrastava com os 
empreendedores missionários, principalmente dos jesuítas, que 
buscavam “pacificar” e converter os indígenas, conforme ilustrado 
por Leite (1938).
Cultura colonial: sincretismo, 
religiosidade e expressões artísticas
O Brasil colonial foi palco de intensas trocas culturais. 
Diferentes povos, trazendo suas tradições, religiões e manifestações 
artísticas, coexistiram e interagiram em terras brasileiras, dando 
origem a uma cultura rica, plural e, muitas vezes, sincrética.
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 • Sincretismo e religiosidade
Desde o início da colonização, a interação entre os povos 
indígenas, africanos e europeus gerou um ambiente propício para 
o sincretismo religioso. O candomblé é uma das manifestações 
mais evidentes desse sincretismo, combinando elementos das 
religiões africanas, indígenas e do catolicismo. Prandi (2001) 
analisa esse fenômeno, detalhando como rituais e crenças de 
origens tão distintas se fundiram e se reinventaram no território 
brasileiro.
Ao mesmo tempo, a Igreja Católica teve papel 
preponderante na formação cultural da colônia. Missões jesuíticas 
buscavam evangelizar os indígenas, mas, ao mesmo tempo, 
absorviam elementos das culturas locais. Boxer (2002) destaca 
a atuação dos jesuítas e do seu papel na formação da cultura 
religiosa brasileira.
 • Expressões artísticas
A arte colonial brasileira é marcada pela confluência de 
influências. Na arquitetura, o barroco mineiro, com suas igrejas 
ornadas e esculturas específicas, é um reflexo do encontro da 
estética europeia com a mão de obra e a criatividade nacional. 
Bury (2006) explora essa interação, destacando a representação 
máxima dessa fusão artística na figura de Aleijadinho.
A música, por sua vez, também foi palco de fusões. Lundu 
e modinhas, por exemplo, são expressões que mesclam ritmos 
africanos, europeus e indígenas, criando um som genuinamente 
brasileiro. Tinhorão (1998) destaca a rica diversidade musical do 
período colonial e sua influência na música brasileira posterior.
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SAIBA MAIS
Amplie ainda mais os seus estudos lendo o artigo: 
“O ‘Brasil-Colônia’ em perspectiva historiográfica”. 
Nele é retratada uma entrevista com o historiador 
João Fragoso, na qual são discutidos pontos 
relevantes sobre os desafios atuais do campo 
da história econômica por meio de estudos 
contemporâneos sobre história colonial. Para ter 
acesso, basta clicar aqui.
https://www.cafehistoria.com.br/entrevista-com-joao-fragoso/25HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a historiografia não é 
apenas o registro do que aconteceu, mas, sim, uma 
interpretação desses eventos à luz das correntes 
de pensamento e paradigmas de cada época. 
Assim, ao analisarmos as principais correntes 
historiográficas do Período Colonial, enfatizamos 
que a história do Brasil colonial foi interpretada e 
recontada de diferentes formas ao longo do tempo, 
desde abordagens tradicionais até perspectivas 
marxistas, culturais e antropológicas, revisionistas 
e da nova história. O período colonial brasileiro 
não foi estático, mas marcado por eventos-chave e 
figuras protagonistas que moldaram o destino da 
nação. Desde a chegada dos portugueses, em 1500, 
passando pela expansão territorial, a complexa 
economia colonial, com seus ciclos psicológicos, até 
os movimentos sociais e a relação intrincada com os 
povos indígenas, exploramos os principais episódios 
e personalidades que deixaram sua marca nessa era. 
Por último, mergulhamos nos processos históricos 
determinantes que estruturaram a economia, a 
sociedade e a cultura do Brasil colonial. Entendemos 
como os ciclos econômicos, como o da cana-de-
açúcar e do ouro, influenciaram a organização social, 
estabelecendo obediências e dinâmicas específicas. 
Além disso, apreciamos a rica diversidade cultural 
resultante do sincretismo, da religiosidade e das 
manifestações artísticas da época, evidenciando 
quão multifacetada era a cultura colonial. Espero 
que, com esta jornada pelo primeiro capítulo, você 
tenha ampliado sua visão sobre a historiografia do 
período colonial brasileiro e esteja pronto para os 
próximos desafios que virão em nossa caminhada 
pela história do Brasil.
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Interpretações sobre a chegada 
dos portugueses
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
distinguir as diversas interpretações sobre a 
chegada dos portugueses e o início da colonização 
no Brasil. E então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Vamos lá. Avante!
Narrativas tradicionais versus 
revisões contemporâneas
O ato de revisitar e compreender as narrativas históricas 
não é apenas um exercício acadêmico, mas uma prática necessária 
para a construção e a consolidação da identidade de um povo e 
de uma nação. Como afirmou o historiador francês Marc Bloch: 
“A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância 
do passado” (Bloch, 2001, p. 58). Portanto, entender a forma 
como os eventos são narrados e recontados ao longo do tempo 
é fundamental para a compreensão do presente e a projeção do 
futuro.
Nesse contexto, a história da chegada dos portugueses ao 
Brasil não está isenta de interpretações e reinterpretações. Em um 
primeiro momento, podemos identificar as narrativas tradicionais, 
aquelas que, por muito tempo, formaram a base do entendimento 
comum sobre esse período. Essas narrativas, muitas vezes, são 
impregnadas de uma visão eurocentrista e triunfalista, em que o 
“descobrimento” é visto quase como um feito heroico e civilizatório.
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Imagem 2.3 – História da chegada dos portugueses ao Brasil
Fonte: Freepik
Por outro lado, as últimas décadas foram marcadas 
por intensos debates acadêmicos e por uma série de revisões 
contemporâneas. Esses novos olhares trazem à tona vozes 
até então marginalizadas, como as dos povos indígenas e dos 
negros escravizados, questionando e reconstruindo a narrativa 
dominante. Como José Carlos Reis destaca, “a historiografia não é 
uma simples descrição do passado, mas uma interpretação, fruto 
de escolhas e posicionamentos do historiador” (Reis, 2007, p. 45).
IMPORTANTE
A dualidade entre essas narrativas é mais que 
uma disputa por versões do passado. Ela reflete 
as mudanças sociais, políticas e culturais pelas 
quais o Brasil passou e ainda passa. As narrativas 
históricas não são estáticas; elas evoluem à medida 
que novas perspectivas são introduzidas e que 
novas vozes são ouvidas.
Vejamos um pouco mais sobre cada uma delas.
O processo de construção das narrativas tradicionais em 
torno da chegada dos portugueses ao Brasil está atrelado, em 
grande medida, à própria formação do Estado-nação brasileiro 
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e ao desenvolvimento de um sentimento nacionalista. Essas 
narrativas emergiram em um contexto no qual a nação buscava 
consolidar sua identidade, muitas vezes à custa da simplificação e 
da glorificação de eventos passados.
A “descoberta do Brasil”, como amplamente ensinada 
em escolas e difundida em livros didáticos durante séculos, foi 
retratada como um marco heroico de Pedro Álvares Cabral e 
sua esquadra. O termo “descoberta”, em si, já carrega uma visão 
eurocentrista, sugerindo que o território brasileiro só passou a 
existir para a história a partir da chegada dos europeus. Freyre 
(2006) é um dos autores que, em sua obra “Casa-grande & Senzala”, 
oferece uma visão idílica da colonização portuguesa, exaltando a 
miscigenação como característica positiva e formadora da nação.
As narrativas tradicionais também tendem a minimizar 
os conflitos e as resistências dos povos indígenas. Estes são, 
frequentemente, retratados como seres dóceis, inocentes e, em 
alguns casos, até mesmo como “selvagens” que necessitavam da 
“civilização” trazida pelos colonizadores. Essa perspectiva reflete 
uma visão etnocêntrica, em que o indígena é visto a partir de um 
prisma europeu, desconsiderando suas complexas estruturas 
sociais, culturais e políticas. Buarque de Holanda (2015), em 
“Raízes do Brasil”, aborda a formação da sociedade brasileira 
sob uma perspectiva que, ainda que crítica em alguns aspectos, 
enquadra-se nas narrativas tradicionais.
Além disso, tais narrativas frequentemente glorificam os 
feitos colonizadores, negligenciando as tensões, explorações e 
brutalidades que também marcaram o período. O processo de 
colonização é, em muitas dessas narrativas, simplificado, omitindo-
se episódios de resistência, conflitos e subjugações.
Com o avanço dos estudos historiográficos e de uma 
maior conscientização sobre a diversidade e a complexidade dos 
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processos históricos, as revisões contemporâneas têm desafiado 
as narrativas tradicionais sobre a chegada dos portugueses e o 
início da colonização no Brasil.
IMPORTANTE
Essas revisões surgem em um contexto de 
questionamento global de visões eurocêntricas e 
coloniais e do reconhecimento da necessidade de 
se incorporar vozes historicamente marginalizadas.
Uma das principais críticas às narrativas tradicionais é a 
própria noção de “descoberta”. Historiadores contemporâneos, 
como Schwartz (1993), argumentam que o termo reforça uma 
visão unilateral e eurocentrista da história, ignorando a presença 
e a cultura dos povos indígenas que habitavam o território há 
milênios.
O olhar contemporâneo também busca resgatar a agência 
dos povos indígenas durante a colonização. Contrapondo-se à visão 
de passividade ou até mesmo de “invisibilidade”, estudos recentes 
destacam a resistência, as alianças, negociações e estratégias de 
sobrevivência dos indígenas diante da invasão europeia. Monteiro 
(1994) é um exemplo de autor que se debruça sobre a resistência 
indígena, desmistificando a ideia de que os nativos aceitaram 
pacificamente a dominação.
Há também uma crescente atenção à interculturalidade 
da colonização. Os contatos entre portugueses e indígenas não 
foram meramente de subjugação ou aculturação, mas também de 
trocas. Gomes (1996) enfatiza como as fronteiras culturais foram 
locais de encontro, em que ambas as partes modificaram e foram 
modificadas.
Ao abordar as narrativas tradicionais e as revisões 
contemporâneas sobre a chegada dos portuguesese o início da 
colonização do Brasil, é fundamental identificar não apenas as 
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distinções, mas também os pontos em comum. A historiografia, 
sendo uma disciplina em constante evolução, não descarta 
completamente versões anteriores, mas busca expandi-las, 
complementá-las e, em alguns casos, corrigi-las. Vejamos as 
principais convergências e divergências entre elas:
 • Convergências
 • A importância do período colonial: tanto as narrativas 
tradicionais quanto as contemporâneas reconhecem 
a relevância do período colonial na formação da 
sociedade brasileira. Aspectos como economia, cultura 
e relações sociais têm suas raízes neste período.
 • O papel dos portugueses: ambas as perspectivas 
concordam que os portugueses desempenharam 
um papel crucial na formação do Brasil colonial. As 
diferenças estão, principalmente, em como esse papel 
é interpretado e em que contextos.
 • Divergências
 • Visão dos povos indígenas: enquanto as narrativas 
tradicionais tendem a colocar os indígenas em um 
papel passivo ou mesmo secundário, as revisões 
contemporâneas buscam reverter essa perspectiva, 
destacando a agência, resistência e contribuições 
desses povos à história brasileira.
 • Terminologia e conceitos: termos como “descoberta” 
e “conquista”, frequentemente usados em narrativas 
tradicionais, são questionados e até rejeitados 
por abordagens contemporâneas devido às suas 
conotações eurocêntricas e imperialistas.
 • Interculturalidade: enquanto narrativas mais antigas 
podem retratar a colonização como um processo 
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unilateral de imposição da cultura portuguesa sobre 
os nativos, as revisões contemporâneas enfatizam 
a interculturalidade, as trocas e a formação de uma 
cultura híbrida.
A chegada dos portugueses sob a 
ótica indígena
O encontro entre os portugueses e os indígenas no Brasil 
não foi somente um choque de culturas, mas um entrelaçamento 
de histórias e destinos. Uma análise cuidadosa revela as 
complexidades e nuances desse primeiro contato, principalmente 
quando examinamos a perspectiva dos povos nativos.
Os registros dos primeiros contatos descrevem os 
indígenas curiosos com a chegada daqueles homens tão diferentes. 
Essa curiosidade, entretanto, era permeada por uma mistura de 
fascínio e apreensão. Segundo o cronista português Pero Vaz de 
Caminha, em sua célebre “Carta do achamento do Brasil” (1500), 
ao desembarcar, os portugueses foram recebidos com sinais de 
paz, mas também com uma clara cautela por parte dos indígenas 
(Caminha, 1500).
No entanto, ao olharmos para narrativas orais e mitos 
indígenas, percebemos que essas memórias se expandem e se 
transformam. Muitos grupos indígenas, como os Tupinambá, 
descreveram os portugueses como “maíra” – seres míticos que 
possuíam habilidades sobrenaturais, mas também podiam ser 
perigosos (Viveiros de Castro, 1992).
Os “homens barbudos”, como frequentemente eram 
chamados, não se enquadravam completamente na cosmologia 
indígena. A visão dos navios, grandes “casas flutuantes”, e dos 
homens com roupas que cobriam quase todo o corpo, causou 
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espanto. O mito dos “homens barbudos” que vieram do mar 
é, portanto, uma representação simbólica dessa tentativa de 
compreender e contextualizar esses novos visitantes dentro da 
cosmogonia indígena.
O poeta e líder indígena Ailton Krenak, em seus relatos e 
escritos, argumenta que, para muitos povos indígenas, a chegada 
dos europeus foi como um “fim do mundo”, uma ruptura drástica 
que desafiou e transformou suas concepções de mundo (Krenak, 
2019). Nesse sentido, as narrativas míticas não são apenas 
histórias fantasiosas, mas tentativas de compreender e de dar 
sentido àquele momento transformador.
O primeiro contato, portanto, não foi uma simples troca ou 
encontro, mas um complexo processo de negociação cultural, em 
que os indígenas tentaram, por meio de seus próprios sistemas 
simbólicos e narrativos, entender e se relacionar com esses novos 
“outros”.
As relações iniciais entre os portugueses e os povos 
indígenas não se limitaram ao mero espanto ou à tentativa de 
contextualização. Muito rapidamente, as interações práticas se 
tornaram cruciais para o sucesso da exploração portuguesa e para 
a sobrevivência e autonomia de diversos grupos indígenas.
IMPORTANTE
As relações iniciais entre portugueses e indígenas 
foram marcadas por uma interdependência 
complexa, em que cooperação e conflito 
coexistiam, moldando os primeiros capítulos da 
história brasileira.
Para os portugueses, o território brasileiro era vasto, 
desconhecido e repleto de desafios geográficos. A selva densa, os 
rios caudalosos e a fauna e a flora desconhecidas transformavam 
a exploração em uma empreitada arriscada. Dada essa realidade, 
os povos indígenas, com seu profundo conhecimento da terra, 
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tornaram-se parceiros imprescindíveis. Muitos grupos indígenas 
atuaram como guias, conduzindo os portugueses por trilhas e 
caminhos fluviais e ajudando-os a encontrar recursos valiosos 
(Monteiro, 1994).
Essa cooperação estendia-se ao campo da linguagem. 
Os indígenas desempenharam um papel fundamental como 
intérpretes. O “língua” – termo utilizado para se referir aos 
intérpretes indígenas – era, muitas vezes, a ponte comunicativa 
entre os portugueses e diferentes tribos, facilitando não só o 
diálogo, mas também as negociações comerciais e políticas 
(Fausto, 1995).
No entanto, essa relação era recíproca. Enquanto os 
portugueses buscavam guias e intérpretes, os indígenas viam nas 
alianças com os europeus uma oportunidade para potencializar 
suas próprias disputas tribais. Muitas vezes, grupos indígenas 
buscavam a parceria dos portugueses para obter vantagens sobre 
tribos rivais, seja por meio do acesso a armas de fogo ou pela 
proteção militar (Schwartz, 1993).
O comércio entre portugueses e indígenas também 
floresceu. Itens como espelhos, facas e miçangas eram trocados 
por produtos locais, como o pau-brasil e alimentos. Porém, 
mais do que uma simples troca de mercadorias, esse comércio 
representava um intercâmbio cultural, em que valores, desejos e 
aspirações eram negociados e redefinidos (Monteiro, 1994).
Apesar das alianças e interações pacíficas, a relação 
entre os indígenas e os colonizadores portugueses foi, em 
muitos momentos, marcada por resistência e confronto. Os 
povos indígenas, reconhecendo as ameaças que os portugueses 
representavam para suas terras, culturas e sua autonomia, 
desenvolveram diversas estratégias de resistência contra os 
invasores.
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A guerrilha foi uma das táticas mais eficazes utilizadas 
pelos indígenas. Familiarizados com o território e usando 
o elemento-surpresa a seu favor, os guerreiros indígenas 
frequentemente lançavam ataques rápidos contra expedições 
portuguesas, desorientando e causando baixas significativas 
nos colonizadores. Esses ataques, muitas vezes, eram realizados 
em locais estratégicos, como passagens de rios e trilhas, 
desestabilizando as tentativas portuguesas de avanço e de 
estabelecimento (Souza, 2003).
Outra estratégia comum era a criação de refúgios em 
locais de difícil acesso, como áreas montanhosas, cavernas ou 
florestas densas. Esses refúgios eram verdadeiros redutos de 
resistência, em que os indígenas podiam se reorganizar, planejar 
novos ataques e se proteger dos avanços colonizadores (Cunha, 
1987).
No entanto, talvez o aspecto mais notável da resistência 
indígena tenha sido a capacidade de formar alianças entre 
diferentes grupos. Reconhecendo o poder e a ameaça que os 
portugueses representavam, muitas tribos, antes rivais, uniram-se 
em confederações para enfrentar o inimigo comum. Essas alianças 
ampliavam o poder militar e estratégico dos indígenas, permitindo 
a coordenação de ataques e a troca de informações valiosas sobre 
os movimentos dos colonizadores (Almeida,1997).
Transformações culturais e sociais
O encontro entre os indígenas e os colonizadores 
portugueses desencadeou uma série de transformações culturais 
e sociais sem precedentes. Diferentemente do confronto direto 
e violento, essas transformações foram processos mais sutis e 
complexos que, ao longo do tempo, moldaram a identidade e as 
tradições das comunidades envolvidas.
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Imagem 2.4 – Transformações culturais
Fonte: Freepik
 • Língua e comunicação: um dos primeiros desafios do 
encontro entre os dois grupos foi a barreira linguística. 
Nesse cenário, o tupi, língua falada por diversos grupos 
indígenas, tornou-se uma linguagem franca na costa 
brasileira. O surgimento da língua geral, ou “nheengatu” 
– uma simplificação do tupi –, foi um resultado dessa 
interação, permitindo uma comunicação mais fluida 
entre portugueses e indígenas (Fernandes, 1999).
 • Religiosidade e sincretismo: a tentativa de catequização 
dos indígenas pelos missionários jesuítas também 
trouxe consigo a fusão de crenças e práticas religiosas. 
Enquanto alguns indígenas adotaram aspectos do 
catolicismo, muitos incorporaram os santos católicos 
ao seu panteão tradicional. Esse sincretismo religioso é 
evidente até hoje em celebrações e festas tradicionais 
(Silva, 2002).
 • Organização social – o modo de vida comunal 
dos indígenas foi profundamente afetado pela 
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introdução do sistema de “aldeamentos”. Estes eram 
assentamentos geridos por missionários, nos quais os 
indígenas eram incentivados a se fixar, cultivar a terra 
e adotar costumes europeus. A consequência disso foi 
uma mudança nas dinâmicas de poder, nas relações 
familiares e na organização social tradicional (Gomes, 
1996).
 • Arte e expressão: a influência mútua entre indígenas e 
portugueses também se manifestou nas artes. A música, 
a dança, a pintura e a escultura refletiam essa fusão 
cultural. Por exemplo, a arte plumária indígena, que 
originalmente tinha significados religiosos e guerreiros, 
passou a ser incorporada em rituais e vestimentas 
católicas (Oliveira, 2010).
Essas transformações culturais e sociais não foram 
unidirecionais. Ambos os grupos – indígenas e portugueses – 
foram transformados, reconfigurando suas identidades e seus 
modos de vida à luz de novas realidades e interações.
Interesses geopolíticos e o 
contexto internacional na época
No limiar da era moderna, a Europa viu-se envolvida 
em uma série de transformações que impulsionaram nações à 
exploração dos oceanos. Essa ânsia de ultrapassar fronteiras 
marítimas foi impulsionada por interesses econômicos, políticos e 
estratégicos, levando ao que ficou conhecido como a “corrida das 
navegações”.
No século XV, Portugal e Espanha lideraram a corrida das 
navegações em busca de rotas alternativas às Índias, fugindo da 
intermediação árabe no comércio de especiarias. Essa corrida não 
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foi apenas uma busca por rotas comerciais, mas também uma 
afirmação do poderio marítimo de ambas as nações (Boxer, 2002).
Na tentativa de evitar conflitos por territórios recém-
descobertos, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de 
Tordesilhas (1494), estabelecendo uma divisão das novas terras. 
Esse tratado não apenas definia territórios, mas demonstrava a 
influência da Igreja Católica nas decisões geopolíticas da época 
(Prado Jr., 1942).
O interesse europeu nas novas terras não era meramente 
exploratório. Havia um desejo de acesso a riquezas, seja por 
meio da extração direta (como o pau-brasil) ou por meio de rotas 
comerciais. Além disso, o controle de territórios nas Américas se 
tornou símbolo de poder e de influência global (Fausto, 1995).
Apesar do Tratado de Tordesilhas, o século XVI foi marcado 
por conflitos entre potências europeias nas Américas. A França, 
por exemplo, desafiou a autoridade ibérica com sua presença no 
Brasil, como na França Antártica. A complexa rede de alianças e 
de rivalidades moldou a política colonial nas Américas (Schwartz, 
1988).
Os interesses geopolíticos europeus nas Américas 
tiveram consequências duradouras para os povos indígenas e 
o desenvolvimento das colônias. A colonização não foi apenas 
uma transferência de população, mas um projeto geopolítico e 
econômico que remodelou as Américas (Mota, 2000).
Ao longo do período colonial, o equilíbrio de poder entre 
as potências europeias na América oscilou, mas os interesses 
geopolíticos sempre estiveram no cerne das decisões tomadas 
por essas metrópoles.
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza 
de que você realmente entendeu o tema de 
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que 
vimos. Você deve ter aprendido que as narrativas 
tradicionais versus as revisões contemporâneas nos 
ensinam a importância de questionar e revisitar 
as histórias que foram contadas ao longo dos 
anos. Enquanto as versões tradicionais costumam 
apresentar uma chegada pacífica e heroica dos 
portugueses, as revisões contemporâneas buscam 
aprofundar-se em perspectivas mais diversas e 
críticas, considerando múltiplas vozes e fontes. Ao 
explorar a chegada dos portugueses sob a ótica 
indígena, percebemos que os primeiros contatos 
não foram simples ou unilaterais. Os indígenas 
tinham suas próprias interpretações sobre aqueles 
“homens barbudos” que surgiram do mar. Ao 
longo do tempo, esses encontros se traduziram 
em relações de aliança, comércio, conflito e 
resistência, mostrando a riqueza de perspectivas 
que podem ser encontradas quando se amplia o 
foco do estudo. E não podemos esquecer que a 
chegada dos portugueses ao Brasil não ocorreu 
em um vácuo. Os interesses geopolíticos e o 
contexto internacional da época nos mostram 
que as navegações estavam inseridas em um jogo 
global de poder. A busca por novas terras, rotas 
comerciais e riquezas naturais estava intimamente 
ligada à rivalidade entre as potências europeias 
e aos tratados que buscavam definir esferas de 
influência. Agora, com essa bagagem em mãos, 
estamos prontos para seguir em nossa jornada, 
explorando ainda mais profundamente os 
meandros da historiografia brasileira. Nós nos 
vemos no próximo capítulo!
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Abordagens historiográficas 
sobre sociedade colonial
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
discernir sobre as abordagens historiográficas 
da sociedade colonial, incluindo a escravidão, as 
relações de poder e as culturas indígenas. E então? 
Motivado para desenvolver esta competência? 
Vamos lá. Avante!
Dinâmicas da escravidão: 
abordagens historiográficas sobre a 
experiência afro-brasileira
A história da escravidão no Brasil colonial é 
profundamente interligada à formação econômica e social do 
país. Não é possível falar da colonização brasileira sem se referir à 
experiência africana, tão enraizada nas dinâmicas que moldaram 
a identidade nacional.
O Brasil foi o último país do ocidente a abolir a escravidão, 
em 1888, uma mancha que perdura até os dias de hoje, mas como 
se deu a introdução da escravidão em terras brasileiras? Para 
entender isso, é preciso recuar no tempo e mergulhar no contexto 
das Grandes Navegações.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, já 
tinham conhecimento e experiência no tráfico transatlântico de 
escravizados africanos, especialmente por meio de suas feitorias na 
costa africana (Mota, 2004). O interesse inicial não era estabelecer 
a escravidão, mas, diante das potencialidades econômicas da terra 
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descoberta, os colonizadores viram na mão de obra escravizada 
africana uma solução para a falta de mão de obra.
No século XVI, com a introdução da cultura açucareira, 
tornou-se evidente a necessidade de uma força de trabalho 
intensiva e constante. A escravidão indígena, apesar de ter sido 
a primeira alternativa,enfrentou resistências e limitações, como 
a atuação dos jesuítas em defesa dos indígenas (Freitas, 2007). 
Assim, os africanos escravizados tornaram-se a principal mão 
de obra nas plantações de açúcar e, posteriormente, em outras 
atividades econômicas.
A dimensão desse tráfico pode ser percebida em 
números. Estima-se que cerca de 4,9 milhões de africanos foram 
trazidos ao Brasil entre os séculos XVI e XIX, o que faz do Brasil 
o país que mais recebeu africanos escravizados nas Américas 
(Slenes, 2007).
VOCÊ SABIA?
O impacto da escravidão não se limitou à economia. 
A presença africana influenciou fortemente a 
cultura, a religião e a sociedade brasileiras, criando 
um mosaico de tradições e de práticas que ainda 
se refletem na atualidade.
Na historiografia brasileira, o tema da escravidão, por seu 
peso e sua importância, recebeu diversas interpretações ao longo 
dos anos. Em uma abordagem mais tradicional, existem algumas 
vertentes que predominaram até meados do século XX.
Inicialmente, os trabalhos sobre a escravidão eram 
muito influenciados por uma visão eurocêntrica e paternalista. 
Afirmava-se que a escravidão no Brasil tinha sido “mais branda”, 
se comparada à de outros países americanos, especialmente 
os Estados Unidos. Essa perspectiva foi amplamente divulgada 
por autores como Gilberto Freyre, em sua obra “Casa-grande & 
Senzala” (2006). Segundo essa visão, o caráter miscigenador da 
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sociedade brasileira e a alegada benevolência dos senhores teriam 
atenuado a violência da escravidão (Freyre, 2006).
A noção de que a escravidão brasileira teria sido “benigna” 
ou “amena” encontrou respaldo em muitos trabalhos que se 
seguiram. Essa abordagem valorizava os aspectos culturais 
da mistura de raças, mas negligenciava as crueldades e a 
desumanização intrínsecas ao sistema escravagista.
Outra vertente tradicional, embora crítica da primeira, 
baseava-se em análises mais econômicas. Nessa perspectiva, a 
escravidão era vista quase que exclusivamente como um sistema 
de trabalho vinculado à produção açucareira e, mais tarde, ao 
café. Autores como Caio Prado Júnior, em sua “Formação do Brasil 
contemporâneo” (1942), abordaram a escravidão focando na sua 
relação com o modo de produção e com as relações de classe, 
sem se aprofundar nas vivências e resistências dos escravizados.
No último terço do século XX, a historiografia brasileira 
vivenciou uma reviravolta significativa na forma como tratava 
a escravidão, impulsionada, em grande medida, pelas visões 
revisionistas.
IMPORTANTE
Essas visões revisionistas, inspiradas por 
movimentos sociais, demandas por direitos civis e 
novas abordagens acadêmicas, trouxeram à tona 
a experiência, resistência e agência dos próprios 
escravizados.
Em contraposição à ideia de um escravo passivo, aceitando 
seu destino sem resistir, surgiu uma abordagem que valoriza a 
capacidade dos escravizados de agir e influenciar o mundo à 
sua volta. Stuart Schwartz, em “Segredos internos: engenhos e 
escravos na sociedade colonial” (1988), por exemplo, destaca 
a importância dos escravizados nas formações culturais e nas 
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resistências cotidianas, mostrando que a escravidão no Brasil era 
tudo, menos estática (Schwartz, 1988).
Outra figura notável nessa revisão é Sidney Chalhoub, 
que, em “Visões da liberdade” (1990), examina o período final da 
escravidão no Brasil, focando na cidade do Rio de Janeiro. Chalhoub 
ilumina as táticas usadas pelos escravizados para negociar, resistir 
e até mesmo alcançar a liberdade em uma sociedade que se 
esforçava para mantê-los subjugados. Suas análises mostram 
que, ao invés de vítimas indefesas, muitos escravizados eram 
protagonistas ativos de suas histórias, usando todos os meios 
disponíveis para desafiar e subverter o sistema (Chalhoub, 1990).
Adicionalmente, essas novas perspectivas também 
destacaram formas de resistência coletiva, como os quilombos. 
Em “Rebeliões da senzala” (1987), Clóvis Moura ressalta o 
papel crucial dos quilombos, especialmente Palmares, como 
focos de resistência e de alternativas ao sistema escravagista, 
argumentando que eles representavam verdadeiros desafios ao 
status quo colonial (Moura, 1987).
Essas visões revisionistas transformaram profundamente 
a compreensão da escravidão no Brasil, reconhecendo a 
profundidade, complexidade e humanidade da experiência 
escravizada, além de sua capacidade de resistência.
Cultura e religiosidade afro-brasileira 
no período colonial
A cultura e a religiosidade afro-brasileira têm raízes 
profundas no período colonial, constituindo um complexo 
mosaico de tradições, crenças e rituais transportados da África e 
reconfigurados no Novo Mundo. Essa rica tapeçaria cultural tornou-
se uma parte integral da identidade brasileira, influenciando desde 
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as festas populares até as práticas religiosas que persistem até os 
dias de hoje.
A chegada dos escravizados africanos ao Brasil trouxe 
consigo uma diversidade de etnias, cada uma com suas próprias 
tradições e crenças. No entanto, a brutal realidade da escravidão, 
muitas vezes, forçava essas diferentes comunidades a interagir 
e, por necessidade, a adaptar-se ao novo ambiente, mesclando e 
reinterpretando suas tradições ancestrais. No entanto, conforme 
destaca Nei Lopes, em “Enciclopédia brasileira da diáspora 
africana” (2004), esse processo não foi apenas de perda, mas 
também de resiliência e criação de novas formas culturais (Lopes, 
2004).
Imagem 2.5 – Religiões afro-brasileiras
Fonte: Freepik
Uma das manifestações mais evidentes dessa resiliência 
cultural é a formação das religiões afro-brasileiras, como o 
candomblé e a umbanda. Enquanto o candomblé se manteve 
mais fiel às tradições de culto aos orixás, incorporando elementos 
das religiões iorubá, fon e banto, a umbanda refletiu uma maior 
síntese, com o catolicismo popular e o espiritismo. Roger Bastide, 
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em “O candomblé da Bahia” (1978), descreve como essas religiões 
não apenas sobreviveram, mas também prosperaram e resistiram 
à repressão e ao sincretismo forçado (Bastide, 1978).
EXEMPLOS: a música e a dança também são testemunhos 
da persistência cultural afro-brasileira. O samba, por 
exemplo, tem suas origens nas batidas e nos ritmos 
africanos, evoluindo e se adaptando ao ambiente colonial 
e, posteriormente, imperial brasileiro. José Ramos 
Tinhorão, em “História social do samba” (1997), discute a 
trajetória do samba desde suas raízes afro-brasileiras até 
seu estabelecimento como símbolo nacional (Tinhorão, 
1997).
Inter-relações e tensões sociais
A sociedade colonial brasileira, com sua estrutura 
heterogênea, era marcada por uma complexa rede de inter-
relações e consequentes tensões sociais. Os desequilíbrios de 
poder, a diversidade étnica e as disparidades socioeconômicas 
geraram uma intricada dinâmica social que ainda reverbera na 
formação da identidade nacional brasileira. Vejamos um pouco 
mais.
 • Desigualdades e hierarquias: na estrutura colonial, a 
posição socioeconômica era estreitamente ligada à 
raça e à origem. Os portugueses e seus descendentes 
diretos, os chamados “brancos”, ocupavam o topo da 
hierarquia, enquanto os africanos escravizados e os 
indígenas eram relegados às posições mais baixas. 
Entre esses extremos, havia uma série de categorias 
intermediárias, como os mulatos, mestiços e pardos. 
Em sua obra “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de 
Holanda (2015) destaca como a mobilidade social era 
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limitada e a posição racial e de origem determinava 
grande parte das oportunidades disponíveis.
 • Conflitos e resistência: a desigualdade intrínseca da 
sociedade colonial levou a numerosos conflitos. Os 
quilombos, como o famoso Quilombo dos Palmares, são 
exemplos notáveis de resistência à ordem estabelecida. 
Darcy Ribeiro, em “O povo brasileiro”(1995), descreve 
como essas comunidades autônomas representavam 
uma rejeição direta ao sistema colonial e à escravidão 
(Ribeiro, 1995).
 • Relações interétnicas: em meio às tensões, houve 
também momentos de colaboração e de mesclagem 
cultural. Casamentos inter-raciais, embora vistos 
com reservas por certos segmentos da sociedade, 
ocorriam e resultavam em uma complexa tapeçaria de 
identidades mestiças. Além disso, a culinária, a música 
e a religião também refletem essa interação, com 
elementos indígenas, africanos e europeus convergindo 
e coexistindo.
Estruturas e relações de poder no 
período colonial
Com a chegada dos portugueses, em 1500, iniciou-se um 
complexo processo de colonização que levou à formação do Brasil 
colonial, cujas estruturas e dinâmicas de poder continuariam 
a influenciar a nação até os dias atuais. Como menciona Freyre 
(2006), o Brasil foi, desde o início, fruto de um encontro entre 
culturas distintas, cujas relações se baseavam no domínio e na 
exploração, estabelecendo um sistema socioeconômico peculiar 
que definiu a trajetória brasileira durante os séculos seguintes.
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O sistema colonial adotado pelos portugueses no Brasil 
foi profundamente influenciado pelo mercantilismo europeu do 
século XVI. Essa política econômica, predominante entre os países 
europeus da época, buscava o acúmulo de metais preciosos, 
a promoção do equilíbrio favorável na balança comercial e a 
autossuficiência do Estado (Furtado, 2007).
Nesse contexto, a colônia deveria ser uma fonte de 
matérias-primas para a metrópole e um mercado consumidor 
para seus produtos industrializados. O Brasil, com suas vastas 
terras férteis e seus recursos naturais, encaixava-se perfeitamente 
nesse esquema. A monocultura, principalmente a do açúcar e, 
mais tarde, do ouro e do café, tornou-se a principal atividade 
econômica, garantindo grandes lucros para a Coroa portuguesa e 
para os proprietários de terras brasileiros (Prado Jr., 1994).
Politicamente, o sistema colonial foi marcado pela 
centralização do poder nas mãos da metrópole. Portugal exerceu 
um controle rígido sobre a colônia, determinando o que poderia 
ser produzido, comercializado e até mesmo quem poderia se 
estabelecer no território brasileiro. Essa estrutura hierárquica de 
poder visava a manter a ordem e maximizar os lucros da Coroa, 
muitas vezes à custa dos interesses e do bem-estar da população 
colonial (Mota, 2000).
IMPORTANTE
A economia e a política do período colonial estavam 
intrinsecamente ligadas, formando um sistema 
que, embora rentável para a metrópole e uma elite 
colonial, perpetuou desigualdades e injustiças que 
ainda reverberam no Brasil contemporâneo
O aparato institucional no período colonial era um reflexo 
da necessidade da metrópole portuguesa de administrar, controlar 
e, sobretudo, explorar as vastas terras do Brasil. Múltiplas 
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instituições surgiram para efetivar esse controle e para garantir 
que os interesses da Coroa estivessem sempre em primeiro plano.
 • Capitanias hereditárias: uma das primeiras tentativas de 
colonizar e administrar o Brasil foi por meio do sistema 
de capitanias hereditárias. Implementado em 1534, 
esse modelo dividia o território brasileiro em faixas 
de terra que eram doadas a donatários, que, em troca, 
deveriam se responsabilizar pela colonização e defesa 
de sua área (Boxer, 1969). A ideia era descentralizar a 
administração e os custos da colonização, porém, devido 
a vários fatores, incluindo resistência indígena e falta 
de recursos, apenas algumas capitanias prosperaram, 
como a de Pernambuco e São Vicente.
 • Governo-geral: vendo a ineficiência do sistema de 
capitanias, a Coroa portuguesa instituiu o governo-
geral em 1548. Essa foi uma tentativa de centralizar a 
administração colonial e de solucionar os problemas 
enfrentados pelas capitanias. O governador-geral 
tinha poderes administrativos, militares e judiciais, 
supervisando o funcionamento das capitanias e 
representando diretamente os interesses do rei 
(Fausto, 1995).
 • Câmaras municipais: eram órgãos de poder local e 
tinham responsabilidades como a administração dos 
recursos, manutenção da ordem e regulação dos 
preços. Geralmente, eram dominadas por membros 
da elite local, os “homens bons”, que utilizavam sua 
influência para garantir seus interesses (Schwartz, 
1988).
 • Jesuítas e missões: a Igreja Católica, por meio da 
Companhia de Jesus, desempenhou um papel 
fundamental na colonização. Os jesuítas buscavam 
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converter os indígenas ao cristianismo e os agrupavam 
em missões. Essas instituições, além de religiosas, 
tinham um caráter educativo e civilizatório. Contudo, 
também representavam uma forma de controle sobre 
a população indígena, assegurando que ela estivesse 
alinhada aos interesses da Coroa e da Igreja (Bethell, 
1998).
Cada uma dessas instituições teve suas particularidades 
e enfrentou seus próprios desafios ao longo do período colonial. 
No entanto, o objetivo subjacente era sempre o mesmo: garantir 
a efetiva colonização e a exploração do Brasil em benefício da 
metrópole.
Dinâmicas sociais e estratificação
O contexto colonial brasileiro foi palco de intensas 
transformações e de interações socioculturais, sendo determinante 
na formação da identidade nacional. O ambiente social era 
marcado por uma complexa teia de relações que se manifestava 
por meio de uma intricada estratificação.
Imagem 2.6 – Elite colonial
Fonte: Freepik
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Como podemos observar a seguir:
 • A elite colonial: no topo da hierarquia social estavam 
os grandes proprietários de terras e os senhores 
de engenho. Eram, em sua maioria, portugueses 
ou descendentes diretos, que detinham o controle 
econômico e político nas regiões em que atuavam. Essa 
elite gozava de privilégios concedidos pela Coroa e, 
frequentemente, tinha suas posições reforçadas pelo 
casamento e pelas alianças familiares (Freyre, 2006).
 • Mestiçagem e surgimento das castas: o encontro entre 
europeus, indígenas e africanos deu origem a uma gama 
variada de mestiçagens. Surgiram, assim, designações 
como mulatos (descendentes de brancos e negros), 
mamelucos (descendentes de brancos e indígenas) e 
cafuzos (descendentes de negros e indígenas). Cada 
grupo ocupava uma posição específica no espectro 
social e a miscigenação tornou-se uma característica 
marcante da sociedade colonial (Ribeiro, 1995).
 • Escravizados e libertos: no âmago da sociedade estavam 
os escravizados africanos e seus descendentes. Estes, 
além de constituírem a principal mão de obra da 
economia colonial, influenciaram profundamente a 
cultura brasileira. No entanto, entre os escravizados, 
havia graduações: enquanto alguns trabalhavam nas 
duras atividades dos engenhos, outros desempenhavam 
funções urbanas e podiam até mesmo comprar sua 
alforria. Uma vez libertos, alguns conseguiam ascender 
socialmente, tornando-se artesãos, comerciantes ou 
até mesmo proprietários de escravos (Gomes, 2005).
 • Indígenas: os povos originários, após o contato, 
encontraram-se subjugados, sendo, muitas vezes, 
escravizados, catequizados ou exterminados. Suas 
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terras e seus recursos foram expropriados. No 
entanto, resistiram e se adaptaram, contribuindo para 
a formação cultural e social do país (Monteiro, 1994).
A dinâmica social no período colonial brasileiro não 
pode ser compreendida sem levar em conta essa estratificação. 
Ela é fundamental para entender as tensões, os conflitos e as 
negociações que marcaram a história e a formação do povo 
brasileiro.
VOCÊ SABIA?
O encontro entre europeus, indígenas e africanos 
resultou em uma diversidade de grupos mestiços, 
como mulatos, mamelucos e cafuzos, cada um 
com uma posição específica no espectro social. 
Essa miscigenação não apenas moldou a estrutura 
social, mas tambémteve um impacto profundo na 
cultura e na identidade brasileira.
Resistência e contestação ao poder 
colonial
A estruturação do sistema colonial, que concentrava 
poder e riquezas nas mãos de uma elite, inevitavelmente deu 
origem a uma série de resistências e contestações. As injustiças, 
as opressões e as desigualdades fomentaram diversas formas de 
revolta e de resistência ao sistema estabelecido pela metrópole.
Vejamos:
 • Quilombos: fortalezas de liberdade – os quilombos 
eram comunidades formadas, na maioria das vezes, 
por escravos africanos fugidos. O mais célebre deles, o 
Quilombo dos Palmares, localizado no atual estado de 
Alagoas, tornou-se símbolo da resistência negra contra 
a escravidão e o sistema colonial. Sob a liderança 
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de Zumbi, Palmares resistiu por quase um século 
aos ataques portugueses, sendo um marco de luta e 
autonomia (Gomes, 1996).
 • Revoltas nativas: a opressão sobre os povos indígenas, 
que envolvia escravização e catequização forçada, 
gerou diversos levantes. Um dos mais notáveis foi a 
Confederação dos Tamoios, que uniu diversas tribos 
contra os portugueses e seus aliados indígenas 
(Monteiro, 1994).
 • Movimentos de emancipação: ao longo do período 
colonial, ocorreram diversas revoltas que buscavam 
maior autonomia ou até mesmo a independência de 
algumas regiões. A Revolta de Beckman, a Guerra dos 
Emboabas e a Revolta dos Mascates são exemplos de 
conflitos que tinham como pano de fundo as tensões 
entre os interesses locais e as imposições da metrópole 
(Prado Jr., 1942).
 • Contestação religiosa: o sistema colonial estava 
estreitamente ligado à Igreja Católica. No entanto, 
práticas religiosas africanas e indígenas resistiram 
e se mesclaram ao cristianismo. Também surgiram 
movimentos que questionavam a autoridade 
eclesiástica, como o sebastianismo e o messianismo, 
que, em alguns momentos, tiveram conotações de 
resistência ao poder colonial (Slenes, 2007).
Esses movimentos de resistência e de contestação revelam 
a complexidade e as contradições do período colonial brasileiro. 
Eles desafiaram a ordem estabelecida e, em muitos casos, 
conseguiram redefinir o curso da história brasileira.
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Culturas indígenas e seu legado 
resiliente
As culturas indígenas são parte integral da diversidade 
sociocultural do Brasil. Embora o período colonial tenha 
sido marcado por tentativas sistemáticas de desalojamento, 
escravização e assimilação desses povos, sua presença e influência 
persistiram e resistiram ao longo dos séculos, deixando legados 
indeléveis no país.
 • Diversidade linguística e cultural: ao contrário 
da narrativa homogeneizadora frequentemente 
apresentada, a paisagem indígena brasileira é de 
vasta diversidade. Na época do descobrimento, 
estima-se que havia mais de 1.000 línguas indígenas 
faladas, refletindo uma multiplicidade de culturas e de 
sociedades (Luciano, 2019).
 • Saberes tradicionais e ecologia: o conhecimento 
indígena sobre terra, plantas e animais é resultado de 
milhares de anos de observação e de interação. Esse 
saber é intrínseco à manutenção da biodiversidade 
e à sustentabilidade ecológica. Eles entendiam, por 
exemplo, técnicas de queimada controlada que evitavam 
grandes incêndios e promoviam a regeneração do solo 
(Diegues, 2000).
 • Relações sociais e organização: algumas sociedades 
indígenas, como os Tupinambás e os Guaranis, 
possuíam sistemas complexos de organização social, 
com hierarquias, cerimônias e rituais elaborados. Essas 
práticas resistiram em certa medida, adaptando-se e 
influenciando a formação da cultura brasileira (Fausto, 
1995).
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 • Resistência e legado: apesar das inúmeras adversidades, 
os povos indígenas não só resistiram como também 
se adaptaram, seja por meio de alianças estratégicas, 
migrações ou de resistência armada. Além disso, suas 
influências são observadas na gastronomia, na língua, 
nas artes e em muitos outros aspectos do dia a dia 
brasileiro (Oliveira, 2010).
O legado resiliente das culturas indígenas ressalta a sua 
centralidade na história brasileira. Mais do que meros atores 
passivos, os indígenas foram e continuam sendo protagonistas 
ativos na construção e na resistência cultural do Brasil.
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RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu 
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de 
que você realmente entendeu o tema de estudo 
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a experiência afro-
brasileira na colônia foi complexa e multifacetada. 
A historiografia tradicional, muitas vezes, retratou 
os escravizados de forma monolítica, mas as 
visões revisionistas têm destacado a resistência 
e as contribuições culturais desse grupo, que 
deixaram marcas indeléveis na formação do Brasil. 
Viu que o poder colonial não era apenas uma 
extensão da metrópole em terras brasileiras. Era 
uma construção única, influenciada por dinâmicas 
locais e internacionais. As instituições coloniais 
desempenhavam papéis vitais na manutenção 
desse poder, enquanto as estratificações sociais 
mostravam um panorama de hierarquias 
de relações tensas entre diferentes grupos. 
Compreendeu que as culturas indígenas são parte 
integral da diversidade sociocultural do Brasil e 
que deixou marcas indeléveis no país. Esperamos 
que, com essa jornada, você possa entender a 
sociedade colonial brasileira de uma maneira 
mais rica e matizada, reconhecendo as diversas 
camadas e nuances que a historiografia, em sua 
constante evolução, tem trazido à luz.
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Métodos utilizados para 
reconstruir a história colonial 
do Brasil
OBJETIVO
Ao término deste capítulo, você será capaz de 
entender as fontes e os métodos utilizados pelos 
historiadores para reconstruir a história colonial 
brasileira, bem como o estudo e a análise de 
documentos oficiais, cartas, diários, relatos de 
viajantes, registros paroquiais, iconografia, entre 
outros. E então? Motivado para desenvolver esta 
competência? Vamos lá. Avante!
Fontes primárias na reconstrução 
da história colonial
As fontes primárias são como portais mágicos que nos 
permitem observar diretamente o passado, oferecendo uma 
visão sem filtros dos eventos, das mentalidades e nuances de uma 
época. E o que exatamente são essas fontes e por que são tão 
importantes para a reconstrução da história colonial brasileira?
De forma simples, uma fonte primária é qualquer 
documento ou registro criado no momento ou muito próximo ao 
evento que está sendo estudado (Marques, 1994). Ela se contrapõe 
às fontes secundárias, que são interpretações e análises de tais 
eventos, realizadas posteriormente, muitas vezes por historiadores 
que analisam as fontes primárias.
Estas fontes originais são consideradas a matéria-prima 
da pesquisa histórica. E é fácil entender o motivo. Imagine tentar 
compreender o processo de colonização brasileira sem acessar 
diretamente as cartas enviadas pelos colonizadores, os decretos 
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oficiais, os diários dos missionários ou os registros de transações 
comerciais? Difícil, não é? (Cardoso, 2003)
As fontes primárias nos oferecem uma perspectiva única, 
um vislumbre direto da vida como ela era. Elas não passaram pelo 
filtro da interpretação posterior, pelo menos não inicialmente. 
E essa imediatidade nos permite um acesso mais direto à 
mentalidade e à visão de mundo daqueles que viveram na época 
colonial (Ferreira, 2002).
EXEMPLO: por exemplo, ao analisarmos uma carta 
pessoal de um senhor de engenho para um amigo em 
Portugal, podemos perceber suas preocupações diárias, 
sua relação com os escravizados, suas opiniões sobre 
as políticas da Coroa. Por meio desses fragmentos do 
cotidiano, somos capazes de construir uma imagem mais 
ampla da sociedade da época (Silva, 1998).
No entanto, é fundamental