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Autora: Profa. Eliza Regina Ferreira Braga Machado de Azevedo Colaboradores: Prof. Cristiano Schiavinato Baldan Profa. Marília Tavares Coutinho da Costa Patrão Fisioterapia Aplicada à Dermatofuncional Professor conteudista: Eliza Regina Ferreira Braga Machado de Azevedo Possui graduação em Fisioterapia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp) (2005), especialização em Fisioterapia Aplicada à Neurologia Adulto na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (2007), mestrado (2011) e doutorado (2015) em Ciências pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Atua como docente do curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP) desde 2017 e do curso de especialização em Fisioterapia Neurofuncional da Faculdade Inspirar, unidades Bauru e São José do Rio Preto, desde 2018. É professora convidada do curso de especialização em Neurofuncional Adulto da Unicamp desde 2017. Na UNIP, ministra aulas no campus Swift-Campinas das disciplinas Fisioterapia Aplicada à Saúde da Mulher, Fisioterapia Aplicada à Dermatofuncional, Primeiros Socorros, Recursos Terapêuticos Manuais e Fisioterapia Aquática. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A994f Azevedo, Eliza Regina Ferreira Braga Machado de. Fisioterapia Aplicada à Dermatofuncional / Eliza Regina Ferreira Braga Machado de Azevedo. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 120 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Envelhecimento. 2. Complicações. 3. Cirurgias. I. Título. CDU 616.5 U514.43 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Jaci Albuquerque de Paula Larissa Wostog Sumário Fisioterapia Aplicada à Dermatofuncional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 SISTEMA TEGUMENTAR E LESÕES ELEMENTARES EM DERMATOLOGIA ................................... 13 1.1 Anátomo-histofisiologia do sistema tegumentar ................................................................... 13 1.2 Lesões elementares em dermatologia.......................................................................................... 20 1.2.1 Alterações de cor .................................................................................................................................... 20 1.2.2 Elevações edematosas .......................................................................................................................... 24 1.2.3 Formações sólidas ................................................................................................................................... 24 1.2.4 Coleções líquidas ..................................................................................................................................... 26 1.2.5 Alterações de espessura ....................................................................................................................... 28 1.2.6 Perdas teciduais ....................................................................................................................................... 29 2 AFECÇÕES INESTÉTICAS FACIAIS ............................................................................................................... 30 2.1 Envelhecimento cutâneo .................................................................................................................. 31 2.1.1 Envelhecimento cronológico ............................................................................................................. 31 2.1.2 Fotoenvelhecimento .............................................................................................................................. 31 2.2 Rugas ......................................................................................................................................................... 32 2.3 Abordagem fisioterapêutica ............................................................................................................. 34 2.3.1 Avaliação .................................................................................................................................................... 34 2.3.2 Lifting .......................................................................................................................................................... 35 2.3.3 Cinesioterapia facial .............................................................................................................................. 36 2.3.4 Peeling químico ....................................................................................................................................... 37 2.3.5 Peeling físico ............................................................................................................................................. 38 3 SISTEMA LINFÁTICO E DISTÚRBIOS LINFÁTICOS ................................................................................. 39 3.1 Anátomo-histofisiologia do sistema linfático .......................................................................... 39 3.2 Linfedema ................................................................................................................................................ 42 3.2.1 Classificação do linfedema ................................................................................................................. 43 3.2.2 Avaliação do linfedema ........................................................................................................................ 44 3.2.3 Estadiamento do linfedema ............................................................................................................... 46 3.3 Abordagem fisioterapêutica no linfedema ................................................................................ 47 4 ANÁTOMO-HISTOFISIOLOGIA DO TECIDO SUBCUTÂNEO ................................................................ 51 4.1 Tecido adiposo ....................................................................................................................................... 52 4.1.1 Tecido adiposo branco .......................................................................................................................... 52 4.1.2 Tecido adiposo marrom ........................................................................................................................ 53 4.1.3 Tecido adiposo visceral e subcutâneo ............................................................................................ 54 Unidade II 5 AFECÇÕES INESTÉTICAS CORPORAIS ......................................................................................................59 5.1 Fibroedemageloide ............................................................................................................................... 59 5.1.1 Fases do FEG .............................................................................................................................................. 61 5.1.2 Avaliação do FEG ..................................................................................................................................... 61 5.1.3 Classificação do FEG .............................................................................................................................. 62 5.2 Obesidade e sobrepeso ....................................................................................................................... 63 5.2.1 Tipos de obesidade ................................................................................................................................. 63 5.3 Adiposidade localizada ....................................................................................................................... 64 5.4 Métodos de avaliação da composição corporal ...................................................................... 65 5.5 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................ 68 5.5.1 Massagem .................................................................................................................................................. 68 5.5.2 Corrente diadinâmica ............................................................................................................................ 68 5.5.3 Correntes excitomotoras...................................................................................................................... 69 5.5.4 Endermologia ........................................................................................................................................... 69 5.5.5 Ultrassom ................................................................................................................................................... 70 5.5.6 Radiofrequência ...................................................................................................................................... 71 5.5.7 Carboxiterapia .......................................................................................................................................... 71 5.5.8 Criolipólise ................................................................................................................................................. 72 5.6 Estrias ........................................................................................................................................................ 73 5.6.1 Teorias da etiologia ................................................................................................................................ 74 5.6.2 Recursos terapêuticos ........................................................................................................................... 74 6 FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO CUTÂNEA ............................................................................................. 77 6.1 Distúrbios cicatriciais .......................................................................................................................... 79 6.2 Abordagens terapêuticas no reparo tecidual ............................................................................ 80 6.2.1 Tratamento cirúrgico e terapia medicamentosa ........................................................................ 80 6.2.2 Laser de baixa intensidade .................................................................................................................. 80 6.2.3 Ultrassom ................................................................................................................................................... 82 6.2.4 Massagem .................................................................................................................................................. 82 6.2.5 Outras técnicas ........................................................................................................................................ 83 7 FISIOTERAPIA EM QUEIMADOS .................................................................................................................. 84 7.1 Classificação das queimaduras ....................................................................................................... 85 7.2 Períodos da queimadura .................................................................................................................... 89 7.3 Complicações ......................................................................................................................................... 89 7.3.1 Infecções .................................................................................................................................................... 89 7.3.2 Complicações pulmonares .................................................................................................................. 89 7.3.3 Complicações metabólicas .................................................................................................................. 90 7.3.4 Complicações cardiovasculares ......................................................................................................... 91 7.3.5 Ossificação heterotópica ...................................................................................................................... 91 7.3.6 Neuropatia ................................................................................................................................................. 91 7.3.7 Cicatrizes patológicas ........................................................................................................................... 92 7.4 Abordagem fisioterapêutica ............................................................................................................. 92 7.4.1 Metas e objetivos .................................................................................................................................... 92 7.4.2 Intervenção hospitalar e ambulatorial ........................................................................................... 93 8 CIRURGIAS PLÁSTICAS FACIAIS E CORPORAIS.................................................................................... 99 8.1 Cirurgias faciais ...................................................................................................................................100 8.2 Cirurgias corporais .............................................................................................................................100 8.2.1 Mamoplastia ...........................................................................................................................................100 8.2.2 Abdominoplastia ...................................................................................................................................102 8.2.3 Lipoaspiração ..........................................................................................................................................103 8.2.4 Lipoenxertia .............................................................................................................................................103 8.3 Fisioterapia pré-operatória .............................................................................................................103 8.4 Fisioterapia pós-operatória ............................................................................................................104 8.4.1 Estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) .................................................................104 8.4.2 Estimulação elétrica neuromuscular (NMES) ............................................................................1058.4.3 Crioterapia ...............................................................................................................................................105 8.4.4 Massagem ................................................................................................................................................106 8.4.5 Ultrassom .................................................................................................................................................109 8.4.6 Laser ........................................................................................................................................................... 110 8.4.7 Endermologia ......................................................................................................................................... 110 9 APRESENTAÇÃO Caro aluno, Seja bem-vindo à disciplina Fisioterapia Aplicada à Dermatofuncional, considerada uma especialidade da fisioterapia que atua na prevenção, promoção e recuperação do sistema tegumentar. Para isso, este livro-texto abrange o conhecimento das disfunções dermatológicas e funcionais faciais e corporais sobre os aspectos físico, estético e funcional que afetam direta ou indiretamente o sistema tegumentar e os sistemas correlatos, além de integrar conteúdos e recursos terapêuticos para o desenvolvimento da atuação fisioterapêutica na área. Para isso, serão discutidos o sistema tegumentar, as lesões elementares em dermatologia, as afecções inestéticas faciais e corporais, o sistema linfático e seus distúrbios, a fisiologia da cicatrização cutânea e dos queimados e, por último, as cirurgias plásticas. Destacamos também que em todas as afecções e patologias apresentadas serão discutidos a atuação do fisioterapeuta e os recursos que podem ser utilizados por esse profissional. Portanto, o objetivo geral da disciplina é prover aos alunos conhecimento e capacidade para detectar, diferenciar, avaliar e elaborar programas de tratamento fisioterapêutico utilizando recursos terapêuticos manuais e eletrotermofototerápicos nas disfunções dermatológico-funcionais faciais e corporais, bem como compreender os mecanismos de tais recursos sobre a fisiopatologia de cada afecção e elaborar planos de tratamento, observar e questionar a evolução terapêutica do quadro clínico de cada paciente com embasamento científico. Entre os objetivos específicos estão: • proporcionar ao aluno o conhecimento teórico-prático direcionado às disfunções dermatológico-funcionais faciais e corporais de forma ampla; • capacitar o aluno para a realização de avaliação/diagnóstico e planejamento terapêutico para orientação, prevenção e tratamento para pacientes com distúrbios dermatológico-funcionais; • determinar as afecções inestéticas faciais e corporais mais comuns na prática clínica e relacionar seus respectivos fatores etiológicos; • compreender o mecanismo de ação dos recursos eletrotermofototerapêuticos sobre a fisiopatologia das afecções às quais são destinados; • utilizar adequadamente as ferramentas empregadas na mensuração da evolução clínica do paciente; • estimular busca, leitura e interpretação crítica dos achados da literatura científica nacional e internacional, por meio de artigos científicos; • destacar a importância do fisioterapeuta como membro da equipe multidisciplinar; 10 • discutir as queixas estéticas como um problema de saúde; • compreender os fatores que representam diagnóstico diferencial ou insucesso do tratamento. Ao fim da disciplina, o aluno deverá ser capaz de desenvolver e planejar programas de prevenção e tratamento das afecções dermatológicas, possuir conhecimento especializado seguindo os preceitos científicos na área de dermatofuncional, integrando conhecimentos básicos aos das disfunções tratadas na área para ampliar as habilidades intelectuais com análise crítica. Além de ter formação diversificada do ponto de vista técnico-científico, o aluno terá uma visão geral e crítica da profissão como um todo, de forma que possa intervir de modo eficiente no campo de atuação da dermatofuncional, estando em consonância com as diretrizes e normas estabelecidas por órgãos reguladores e associações oficiais. O aluno também estará capacitado para respeitar o princípio bioético de autonomia, beneficência e não maleficência do paciente de decidir sobre a sua pessoa e seu bem-estar, em especial quando se tratar de disfunções dermatofuncionais, zelar pela provisão e manutenção de adequada assistência ao seu paciente, amparado e pautado nas melhores práticas baseadas em evidência e considerando os preceitos do código de ética da profissão em todas as circunstâncias. INTRODUÇÃO Em 2009, o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) publicou a Resolução n. 362/2009, que reconhece a dermatofuncional como uma especialidade da fisioterapia, podendo ser exercida exclusivamente pelos profissionais da área. A atuação do fisioterapeuta especialista em dermatofuncional contempla aspectos físicos, estéticos e funcionais, faciais e corporais que afetam direta ou indiretamente o sistema tegumentar e sistemas correlatos. No presente livro-texto, o aluno, inicialmente, compreenderá sobre anatomia, histologia e fisiologia do sistema tegumentar e das lesões elementares da dermatologia, parte fundamental para o entendimento de toda disciplina. Após esse entendimento inicial, estudaremos algumas patologias específicas e como a fisioterapia pode atuar no tratamento dessas afecções, incluindo a utilização dos recursos terapêuticos. Para compreender e tratar as afecções inestéticas faciais, o aluno precisa, inicialmente, saber como ocorre o envelhecimento cutâneo, quais fatores influenciam nesse envelhecimento e a classificação das rugas. Após isso, estudaremos como a fisioterapia pode atuar na prevenção e no tratamento das rugas faciais, utilizando a cinesioterapia facial, os peelings e o eletrolifting. Então estudaremos todo o sistema linfático, iniciando por sua anatomia e a fisiologia da microcirculação, em sequência, serão discutidos os distúrbios linfáticos, descrevendo como ocorrem os edemas e linfedemas, citando as diferenças entre eles e sua fisiologia e etiologia. Por último, discutiremos a linfoterapia, ou seja, os recursos utilizados na fisioterapia para o tratamento dessas patologias. 11 Após o sistema linfático, será descrita toda a anátomo-histofisiologia do tecido subcutâneo, dando enfoque aos tipos de tecido adiposo para, posteriormente, estudar as afecções inestéticas corporais, como fibroedemageloide, adiposidade localizada e estrias, incluindo quais recursos terapêuticos podem ser utilizados para tratar tais afecções. Na área de dermatofuncional também é muito importante que o fisioterapeuta saiba tratar os distúrbios cicatriciais e conheça todos os recursos terapêuticos que podem ser utilizados no seu tratamento, mas para isso o profissional deve entender como ocorre todo o processo cicatricial e suas fases. Outro importante campo de atuação do fisioterapeuta nessa área são os queimados, portanto, serão discutidas a classificação dos tipos de queimaduras juntamente a todos os aspectos patológicos e complicações geradas pela lesão. Além disso, é importante ter conhecimento da abordagem fisioterapêutica na fase hospitalar e ambulatorial desses pacientes, sabendo que nós temos um papel muito importante na equipe multidisciplinar na sua reabilitação. Por último, serão abordadas as cirurgias plásticas faciais e corporais e os respectivos tratamentos fisioterapêuticos no pré e no pós-operatório, incluindo a importância do nosso trabalho para evitar complicações a esses pacientes. Bons estudos. 12 13 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Unidade I 1 SISTEMA TEGUMENTAR E LESÕES ELEMENTARES EM DERMATOLOGIA Iniciaremos este livro-texto estudando a anátomo-histofisiologia do sistema tegumentar, uma vez que são a base da disciplina. O sistema tegumentar é formado por epiderme,derme, hipoderme e anexos da pele, que serão descritos a seguir. Após essa parte inicial, discutiremos as lesões elementares em dermatologia, ou seja, lesões básicas que ocorrem nesse sistema. 1.1 Anátomo-histofisiologia do sistema tegumentar Antes de estudar o sistema tegumentar, suas estruturas, divisões e funções é importante conhecer a histologia dos tecidos que formam essa organização. O primeiro deles é o tecido epitelial, composto por células intimamente unidas, com pequena quantidade de material intracelular e que estão em constante renovação, ou seja, as células apresentam uma vida limitada e são empurradas em direção à superfície para substituírem as camadas antigas que são descamadas. Entre as funções do tecido epitelial estão o revestimento de superfícies, a absorção de secreção e a função sensorial. O segundo tecido que compõe o sistema tegumentar é o conjuntivo, que diferentemente do tecido epitelial é formado por células separadas umas das outras e contém muito material intracelular. É um tecido com grande capacidade de renovação, por apresentar fibras colágenas, elásticas e reticulares. Entre as funções desse tecido estão sustentação, defesa, preenchimento, nutrição, transporte e reparação. Além disso, o tecido conjuntivo pode ser classificado em três tipos: • Tecido conjuntivo frouxo: responsável por apoiar e nutrir as células epiteliais, apresentando uma consistência delicada, flexível e pouco resistente a trações. É encontrado na pele, em mucosas e glândulas. • Tecido conjuntivo denso: possui maior número de fibras colágenas e é subdividido em dois tipos, tecido conjuntivo denso irregular, que é resistente a trações em qualquer direção (exemplo: derme), e tecido conjuntivo denso regular, que resiste a trações em um único sentido, pois os feixes de colágeno se apresentam em um sentido (exemplo: tendões). • Tecido conjuntivo de propriedades especiais: tecidos específicos, como o tecido adiposo, o tecido mucoso, o tecido reticular e o tecido elástico. Como citado anteriormente, o tecido conjuntivo possui fibras colágenas, elásticas e reticulares. As fibras colágenas ou colágeno são consideradas as proteínas mais abundantes do corpo, sendo responsáveis por 30% do total de todas as proteínas e apresentando a função de fornecer resistência e integridade estrutural aos tecidos e órgãos e estarem relacionadas ao processo cicatricial. Já as fibras 14 Unidade I elásticas são compostas basicamente por elastina, sendo, portanto, mais resistentes que o colágeno, pois cedem a pequenas trações, mas têm a capacidade de retornar à posição original, suportando grandes trações; entretanto, a pele apresenta pouca quantidade dessas fibras. Por último, as fibras reticulares, que formam uma estrutura semelhante a uma rede, pois elas são anastomosadas umas às outras. Além disso, são curtas, finas, inelásticas e abundantes. Portanto, esses são os tecidos que compõem o sistema tegumentar, formado por pele, hipoderme e anexos, e que exerce funções de proteção, excreção, regulação térmica, sensibilidade e produção de vitamina D. A partir de agora, estudaremos separadamente as estruturas do sistema tegumentar e suas funções. A pele é o maior órgão do nosso corpo, sendo responsável por cerca de 8% do nosso peso corporal e dividida em duas camadas: a epiderme e a derme (figura a seguir). A epiderme é a camada mais superficial da pele, composta de células epiteliais intimamente unidas. Já a derme é mais profunda e composta de tecido conjuntivo denso e irregular. O limite entre essas duas camadas não é regular, sendo que os dois tecidos se ajustam entre si e formam as chamadas e papilas dérmicas, observadas na figura 2. Epiderme Derme 100 um Figura 1 – Epiderme e derme Adaptada de: https://bit.ly/3pxEp3K. Acesso em: 7 dez. 2021. 15 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Epiderme Papilas dérmicas Glândula sebácia Vaso sanguíneo Folículo piloso Glândula sudorípara Derme Hipoderme Figura 2 – Papilas dérmicas, divisão entre epiderme e derme Adaptada de: https://bit.ly/31yIwEM. Acesso em: 7 dez. 2021. Observação A superfície da pele é formada por uma fina película que tende à acidez e realiza uma grande dispersão calórica e evaporação, apresentando, portanto, um papel muito importante na nossa termorregulação. A cor da nossa pele é determinada por pigmentos como o caroteno ou pró-vitamina A e a melanina, sendo esta mais importante, por apresentar uma função protetora contra os raios ultravioleta (UV). A melanina é um pigmento escuro produzido pelos melanócitos, que migra para a epiderme e transfere pigmento às células. Portanto, a diferença de coloração das peles não ocorre pelo número de melanócitos, mas, sim, pela quantidade de melanina produzida e distribuída por eles, sendo que pessoas com pele negra possuem grande quantidade de melanina em todas as camadas da epiderme. Além de proporcionar coloração à pele, a melanina também apresenta a função de filtrar os raios UV e, consequentemente, proteger a pele contra queimaduras solares. Existem duas patologias bastante conhecidas que ocorrem por algum problema na melanina. A primeira é o vitiligo, uma patologia sem etiologia conhecida, mas com teorias de doença autoimune, 16 Unidade I na qual ocorre a despigmentação da pele devido à destruição dos melanócitos. Já na segunda patologia, o albinismo, os portadores apresentam deficiência na produção da melanina, portanto não só pele é afetada, mas também pelos, cabelos e olhos possuem ausência de pigmentação. Exemplo de aplicação Mas o que acontece com uma pessoa quando ela se expõe ao sol? Como ocorre o escurecimento da pele? Como explicado anteriormente, a melanina tem uma ação protetora contra os raios UV, e o escurecimento da pele através da exposição solar ocorre através de um fenômeno biofísico, no qual a exposição solar leva a um escurecimento rápido de parte da melanina preexistente. Mas, além disso, ocorre a aceleração dos processos de biossíntese de melanina, ou seja, como barreira de defesa, o corpo passa a produzir mais melanina para proteção. Entretanto, essa quantidade de produção varia e é limitada, sendo que peles mais claras seguem produzindo menos melanina, e devido a isso, ocorrem as queimaduras solares, quando os raios UV excedem a quantidade que pode ser bloqueada pela melanina. Entre as funções da nossa pele estão: • localização do sentido do tato, mediador de sensações; • proteção, que cria uma barreira entre o organismo e o ambiente; • regulação de pressão, fluxo sanguíneo e linfático; • regulação de temperatura; • metabolismo e armazenamento de gordura; • síntese de vitamina D. A epiderme é a camada mais superficial da pele, formada por um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e avascular, ou seja, na epiderme não há vasos sanguíneos e sua vascularização é realizada pelos leitos capilares da derme. A espessura da epiderme varia de acordo com o local de revestimento do corpo, sendo mais espessa na palma das mãos e na planta dos pés, e pressões contínuas ou fricção num local, formando as calosidades, que basicamente são camadas mais espessas de epiderme. Como podemos observar na figura a seguir, nossa epiderme é formada por cinco camadas, explicadas a seguir: • Camada córnea: é a mais superficial, formada por células cornificadas, ou seja, vários planos de células mortas e intimamente unidas, portanto, são continuamente eliminadas por abrasão e constantemente substituídas, sendo renovadas a cada 14 dias. Essa camada recobre toda a superfície do corpo para proteger e restringir a perda de água. Entretanto, com a idade, esse 17 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL estrato se torna funcionalmente deficiente, e devido a isso idosos possuem pele mais seca, pois não retêm a água com eficiência. • Camada lúcida: não é facilmente observada, sendo mais proeminente nas áreas em que a pele é mais espessa, podendo até estar ausente em alguns locais. Forma umalinha clara, brilhante e homogênea. • Camada granulosa: formada por células achatadas e com sinais de atrofia, ou seja, já em degeneração. As terminações nervosas chegam até esse estrato. • Camada espinhosa: formada por células com aspecto espinhoso, resistentes ao atrito por possuir filamentos de queratina, é importante para a manutenção das células da epiderme. • Camada basal ou germinativa: é a mais profunda, responsável por gerar novas células, sendo que estas partem da camada basal e são deslocadas para a periferia em um período de 21 a 28 dias. Nessa camada estão os melanócitos. Estrato córneo Estrato lúcido Estrato granuloso Estrato espinhoso Estrato germinativo Figura 3 – Camadas da epiderme Disponível em: https://bit.ly/3y2vYRJ. Acesso em: 7 dez. 2021. Além da epiderme, a pele é composta da derme, que é formada por uma espessa camada de tecido conjuntivo que se apoia na epiderme e se comunica com a hipoderme. Além de conter glândulas especializadas, órgãos de sentido e músculo eretor do pelo, a derme é suprida com vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. Assim como a epiderme, sua espessura também varia de acordo com a parte 18 Unidade I do corpo, mas em geral possui cerca de 2 mm. Apresenta duas camadas, que podem ser observadas na figura a seguir, sendo elas: • Camada papilar: formada pelas papilas dérmicas, que apresentam a função de aumentar a superfície de contato entre derme e epiderme, gerando maior resistência à pele. Além disso, essa camada é rica em suprimentos sanguíneos e receptores sensoriais. • Camada reticular: mais espessa, contém fibras elásticas e poucos capilares. Epiderme Camada papilar Camada reticular Figura 4 – Camadas da derme Adaptada de: https://bit.ly/3lEoUWM. Acesso em: 7 dez. 2021. Abaixo da pele, encontramos o tecido em que ela repousa, chamado hipoderme ou tela subcutânea. Esse tecido conecta frouxamente a pele com a fáscia dos músculos subjacentes, permitindo que a contração dos músculos ocorra sem que a pele seja repuxada, portanto, é importante para fixar a pele e as estruturas adjacentes. Além disso, a hipoderme pode apresentar uma camada variável de tecido adiposo, sendo que em indivíduos obesos ocorre o depósito de lipídeos nessa camada. É importante ressaltar que ela não faz parte da pele e tem como funções ser um reservatório energético e um isolante térmico, modelar a superfície corporal e auxiliar na fixação de órgãos. Nossa pele possui elasticidade e é ela que permite os movimentos do nosso corpo, sendo que a tensão e a elasticidade variam de direção conforme a região do corpo. Isso ocorre não só pela variação da direção das fibras colágenas e elásticas da derme, mas também são determinadas pelas linhas de fenda, ou seja, as tensões são direcionadas de acordo com a direção das linhas, que no tronco são transversais; nos membros longitudinais e nas linhas articulares, elas variam (figura a seguir). Essas linhas têm importante papel na cicatrização cutânea, sendo que lesões paralelas geram cicatrizes mínimas, e lesões transversais geram cicatrizes maiores. 19 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Figura 5 – Linhas de fenda Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 20). Outras estruturas importantes do sistema tegumentar são os anexos da pele, ou seja, os pelos, as unhas e as glândulas. Os pelos têm origem no folículo piloso (uma invaginação da epiderme), sendo que somente suas hastes são visíveis exteriormente e apresentam basicamente a função de proteção, dificultando a dispersão do calor. Estão distribuídos por quase todo o corpo e têm desenvolvimento diferente de acordo com a parte do corpo que recobre. Glândulas sebáceas são numerosas, mas de menor volume nas regiões onde os pelos são mais abundantes. Situam-se na derme e têm a função de lubrificar a pele, além de apresentar uma ligeira ação bactericida. As glândulas sudoríparas estão presentes em quase todo o corpo, mas seu número varia de acordo com a região, sendo que ele diminui com o avanço da idade. O sistema nervoso simpático é o responsável por sua estimulação e consequentemente pela excreção de suor, sendo que a quantidade de suor depende da temperatura e da umidade do meio, da atividade muscular e de condições que causem fadiga. A unha é formada pelas camadas mais externas da epiderme, camadas córnea e lúcida. A extremidade proximal da unha é a cutícula, uma estreita prega de epiderme. Geralmente a coloração rosada é devido à rede de capilares abaixo dela, sendo composta de células bastante compactadas e ricas 20 Unidade I em queratina dura aderida à epiderme. A unha cresce a partir de uma matriz celular situada junto a raiz, cerca de 1 mm por semana. 1.2 Lesões elementares em dermatologia As lesões elementares em dermatologia são partes fundamentais do exame físico dermatológico, e a descrição dessas lesões permite que se direcione o diagnóstico das doenças dermatológicas a partir do reconhecimento das lesões da pele, sendo que as alterações no sistema tegumentar podem ocorrer devido a várias causas, como processos inflamatórios, degenerativos, circulatórios e neoplásicos, distúrbios de metabolismo e defeitos de formação. Portanto, devido a isso, as lesões elementares podem ser classificadas em grupos básicos de alterações individualizadas da pele: • alterações de cor; • elevações edematosas; • formações sólidas; • coleções líquidas; • alterações de espessura; • perdas teciduais. A seguir, discutiremos todas as lesões elementares dividindo-as de acordo com essa classificação. 1.2.1 Alterações de cor São lesões que causam mudança de cor na pele do paciente (sendo a mais comum a mancha ou mácula) sem relevo ou depressão. Já as manchas vasculossanguíneas ocorrem por vasodilatação, vasoconstrição ou pelo extravasamento de hemácias, e podem ser classificadas em: • eritema: apresenta cor vermelha devido à vasodilatação e desaparece com pressão digital (figura a seguir); • cianose: eritema arroxeado que ocorre por congestão venosa ou passiva com diminuição de temperatura; • rubor: eritema rubro consequente da vasocongestão ativa ou arterial com aumento de temperatura; • enantema: eritema localizado nas mucosas, por exemplo, quando a garganta está inflamada; • exantema: eritema generalizado, pelo corpo todo, agudo e com curta duração; 21 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL • lividez: mancha de cor lívida, do chumbo pálido ao azulado, com temperatura fria, que ocorre por isquemia; é presente nos cadáveres; • telangiectasia: lesão filamentar, sinuosa, que ocorre devido à presença de capilares dilatados na derme; • púrpura: mancha vermelha que não desaparece com pressão e ocorre devido ao extravasamento de hemácias na derme. Sua evolução torna-se arroxeada e verde-amarelada; é a famosa mancha roxa de pancada; • petéquia: são várias púrpuras de até 1 cm cada; • equimose: púrpura maior que 1 cm, como pode ser observado na figura 7. Figura 6 – Eritema Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 14). 22 Unidade I Figura 7 – Equimose Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 14). Outras lesões por alteração de cor são as manchas pigmentares que resultam de ausência, diminuição ou aumento da melanina ou outros pigmentos da pele. São classificadas em: • leucodermias: lesões com manchas brancas, que podem ocorrer por acromia, quando há ausência de melanina, como no caso do vitiligo, demonstrado na figura a seguir, e hipocromia, quando ocorre a diminuição da melanina; • hipercromia: lesão de cor variável, causada pelo aumento de melanina ou outro pigmento. A mancha melodérmica ou melasma, demonstrada na figura 9, é bastante comum e ocorre pelo aumento de melanina. 23 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Figura 8 – Vitiligo Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 15). Figura 9 – Melasma Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 15). 24 Unidade I 1.2.2 Elevações edematosas São elevações circunscritas causadas por edema na derme ou hipoderme, podendo ser classificadas,como: • urticária: elevação efêmera, irregular, de tamanho e cor variável do branco-róseo ao vermelho, pruriginosa, que resulta do extravasamento de plasma com formação de edema dérmico (figura a seguir); • angioedema: área de edema circunscrito que pode ocorrer no subcutâneo, causando tumefação, característico dos edemas alérgicos. Figura 10 – Urticária Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 18). 1.2.3 Formações sólidas Essas alterações podem atingir epiderme, derme ou hipoderme e resultam de processos inflamatórios ou neoplásicos, podendo ser classificadas como: • pápula: lesão sólida e elevada com menos de 1 cm de diâmetro; • placa papulosa: lesão elevada e plana na superfície, maior que 1 cm, que pode apresentar superfície descamativa ou com característica de crosta, como ocorre na psoríase, demonstrada na figura a seguir; 25 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL • nódulo: lesão sólida, elevada ou não, com até 3 cm de tamanho; é característico de processos patológicos, podendo estar localizado na derme, epiderme ou hipoderme (figura 12); • tumor: formação sólida, elevada ou não, maior que 3 cm; termo utilizado em processos neoplásicos; • verucosidade: alteração de superfície dura, inelástica e amarelada que ocorre por aumento da camada córnea. Figura 11 – Placa papulosa Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 17). Figura 12 – Nódulo Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 17). 26 Unidade I 1.2.4 Coleções líquidas Lesões com conteúdo líquido que pode ser serosidade, sangue ou pus, classificadas em: • vesículas: apresentam até 1 cm e seu conteúdo claro (seroso) pode se tornar purulento (turvo) ou hemorrágico (rubro), como na figura a seguir; • bolhas: apresentam as mesmas características das vesículas, mas são maiores que 1 cm, como demonstrado na figura 14; • pústula: elevações de até 1 cm que contêm pus; • abcesso: coleção de pus na pele ou subcutânea, com tamanho variável, podendo apresentar rubor, calor e dor (figura 15); • hematoma: coleção de sangue na pele ou subcutânea, de tamanho variável. Difere-se da equimose por haver alteração de espessura. Figura 13 – Vesículas Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 17). 27 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Figura 14 – Bolhas Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 17). Figura 15 – Abcesso Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 18). 28 Unidade I 1.2.5 Alterações de espessura As alterações de espessura são classificadas em: • queratose: espessamento da pele, duro, inelástico, amarelado e de superfície áspera, causada pelo aumento da espessura da camada córnea; • liquenificação: espessamento da pele com aumento dos sulcos e da cor da própria pele com aspecto quadriculado, como demonstrado na figura a seguir; • edema: aumento da espessura, depressível, com cor da própria pele ou rósea, caracterizado pelo acúmulo de líquido na derme e/ou hipoderme e presença do sinal de cacifo; • infiltração: aumento de espessura e consistência da pele com menor evidência dos sulcos e acompanhada de eritema leve; • esclerose: alteração de espessura com aumento da consistência da pele que resulta de fibrose do colágeno; • atrofia: diminuição da espessura da pele, localizada ou difusa, que ocorre devido à diminuição no número e no volume dos constituintes teciduais; • cicatriz: lesão lisa, plana, saliente ou deprimida, sem sulcos, poros e pelos, resultante de reparação tecidual. Figura 16 – Liquenificação Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 19). 29 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL 1.2.6 Perdas teciduais São lesões causadas pela eliminação exagerada ou destruição dos tecidos cutâneos: • escama: caracterizada por apresentar uma massa laminada que se desprende da superfície cutânea, devido à alteração da queratinização; • erosão: perda tecidual superficial que atinge só a epiderme; • escoriação: erosão linear (figura a seguir); • ulceração: perda de epiderme e derme, podendo eventualmente atingir a hipoderme e outros tecidos; úlceras são ulcerações persistentes e crônicas, como pode ser visto na figura 18; • fissura: perda linear da epiderme e derme em contorno de orifícios ou áreas de pregas ou dobras de pele; • crosta: resulta do dessecamento de serosidade, pus ou sangue misturado a restos epiteliais; apresenta cor amarela, esverdeada ou vermelha-escura, que se forma em área de perda tecidual; • necrose: ocorre a perda tecidual devido à morte do tecido. Figura 17 – Escoriação Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 19). 30 Unidade I Figura 18 – Úlcera Fonte: Chiang e Verbov (2014, p. 20). Saiba mais Para aprender mais e visualizar outras lesões elementares em dermatologia, acesse: RODRIGUES, D. A. et al. II – Lesões elementares no exame dermatológico. In: RODRIGUES, D. A. et al. Atlas de dermatologia em povos indígenas. São Paulo: FapUnifesp, 2010. Disponível em: https://bityli.com/W1dkWS. Acesso em: 9 dez. 2021. 2 AFECÇÕES INESTÉTICAS FACIAIS Afecções inestéticas são alterações que projetam uma imagem desagradável, sendo que na face essas afecções são causadas, principalmente, pelo envelhecimento cutâneo. 31 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL 2.1 Envelhecimento cutâneo O envelhecimento é um processo biológico complexo que representa a última das três fases do ciclo de vida do organismo, sendo as duas primeiras a infância e a maturidade. Além disso, o envelhecer é um processo natural e contínuo que fica mais evidente após a terceira idade e está intimamente ligado à qualidade de vida à qual o organismo foi submetido. No envelhecimento ocorrem alterações celulares e moleculares, através da diminuição progressiva da capacidade de homeostase do organismo, levando à senescência e à apoptose celular. Existem dois tipos de envelhecimento: o cronológico ou intrínseco e o fotoenvelhecimento ou extrínseco. A seguir, discutiremos melhor os dois diferentes tipos. 2.1.1 Envelhecimento cronológico Com o envelhecimento fisiológico, a produção das fibras de colágeno e elastina diminuem em conjunto com a capacidade de renovação celular, que provocam a diminuição da firmeza e tonicidade da pele, gerando atrofia e rugas finas, inicialmente. Além disso, ocorre a diminuição da atividade das glândulas sudoríparas, tornando, assim, a pele mais seca ou ressecada, e a diminuição da microcirculação sanguínea, que reduz a vitalidade e a luminosidade da pele. Portanto, o processo de envelhecimento cronológico acentua as rugas de expressão (entenda melhor ainda nesta Unidade), que tendem a ficar mais profundas e marcadas. 2.1.2 Fotoenvelhecimento O fotoenvelhecimento é causado pela exposição aos raios solares, ultravioletas A (UVA 1 e 2) e ultravioletas B (UVB), sendo que os raios UVB e UVA2 penetram nas camadas mais superficiais, epiderme e derme camada superior, e os raios UVA1 atingem a derme profunda. Os raios UVA são mais longos, e por isso penetram mais profundamente a pele. Eles são intensos durante todo o ano, não variando de acordo com a estação, sendo os responsáveis pelo aparecimento de manchas, causas de envelhecimento cutâneo pela alteração das fibras de colágeno e elastina e fotoalergia. A longo prazo, causam rugas, flacidez e câncer de pele em consequência do efeito acumulativo dos raios, devido à exposição solar. Já os raios UVB atingem a pele mais superficialmente, mas são mais intensos que os raios UVA. Esses raios são parcialmente absorvidos pela camada de ozônio e, durante o verão, possuem maior intensidade, sendo responsáveis pelas queimaduras solares e pelo vermelhidão da pele após exposição solar, além de causarem predisposição ao câncer de pele. Portanto, os principais responsáveis pelo fotoenvelhecimento são os raios UVA, que produzem radicais livres e alteram as células a longo prazo, causando a modificação da orientação das fibras colágeno e de elastina e, assim, provocando o relaxamento e a perda da tonicidade da pele e o 32 Unidade I aparecimento das rugas. Além disso, esses raios podem causar intolerâncias solares ou alergias solares, comolucite estival, desordens pigmentares, cloasma ou manchas e desenvolvimento de câncer de pele. Observação A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005) criou uma escala para interpretar os níveis de radiação solar e consequentemente mensurar a exposição a essa radiação. A escala é pontuada de 0 a 14, sendo 14 o maior nível de exposição: de 0 a 2, baixa radiação; de 3 a 5, moderada radiação; de 6 a 7, alto índice de radiação; de 8 a 10, muito alto; e de 11 a 14, extrema radiação. Quando falamos de envelhecimento, a prevenção é o mais indicado, sendo que no caso do fotoenvelhecimento essa prevenção é realizada através da utilização de protetores solares diariamente. 2.2 Rugas As rugas são linhas e depressões que se formam na pele com o envelhecimento. Elas aparecem principalmente nas áreas que são mais expostas ao sol, como rosto, pescoço, colo, mãos e braços, mas se iniciam pelo aparecimento das marcas do envelhecimento cronológico em áreas de maior expressão facial. O fenômeno do envelhecimento causa um declínio das funções do tecido conjuntivo, sendo que o colágeno se torna mais rígido, a elastina perde sua elasticidade natural, as camadas de gordura sob a pele perdem a uniformidade e há uma menor velocidade de troca e oxigenação dos tecidos, que provoca a desidratação da pele. Todos esses fenômenos dão origem às rugas. Além disso, não há como evitar a expressão dos nossos sentimentos através da mímica facial, e o movimento constante e repetitivo da musculatura do rosto leva à formação das rugas, naturalmente. Existem alguns fatores de risco que predispõem ao aparecimento das rugas, entre eles estão o tabagismo, a exposição à poluição, o excesso de exposição solar, o consumo de alimentos com muito açúcar e gordura, o sedentarismo, a falta de hidratação da pele e a baixa ingestão de água. As rugas podem ser classificadas segundo a avaliação clínica em: • Rugas finas ou superficiais: comum em pessoas de pele clara com pouco mais de 30 anos. Há diminuição ou perda das fibras elásticas na derme papilar, apresentando um aspecto quebradiço. • Rugas profundas: são decorrentes da exposição solar e do envelhecimento cronológico, ocorrendo perda intensa de colágeno e afinamento da derme. Presente em pessoas acima de 45 anos. Além dessa classificação apresentada, as rugas também podem ser divididas em três categorias: 33 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL • Rugas dinâmicas ou linhas de expressão: são as primeiras a serem notadas e não aparecem ao repouso, sendo decorrentes dos movimentos repetitivos. Comuns na região da testa, entre as sobrancelhas e em volta dos olhos. • Rugas gravitacionais: decorrem da flacidez do envelhecimento facial, devido à redução das fibras colágeno e elastina. Aparecem em conjunto com a flacidez dos músculos da face e culminam com a ptose da estrutura da face, notada, principalmente, no ângulo da mandíbula. • Rugas estáticas: são mais profundas e visíveis mesmo sem movimento facial, podendo sofrer influências de fatores genéticos, da espessura da pele e da exposição solar. São mais comuns em pessoas mais velhas. A figura a seguir indica as principais alterações da pele da face e do pescoço em diferentes faixas etárias. Entre essas alterações, podemos destacar: • rugas glabelares e transversais na região frontal; • ptose das pálpebras e bolsas gordurosas nas pálpebras na região orbital; • exacerbação do ângulo nasolabial, queda da ponta do nariz e rugas transversais na região nasal; • apagamento da eminência malar, ptose facial; • rugas periorais (código de barras) e queda do ângulo labial na região perioral; • apagamento da linha mandibular e pregas submandibulares. De 20 a 25 anos - Linhas orbiculares visualizadas com a expressão facial De 45 a 55 anos - Rugas periorbiculares, frontais e glabelares - Acentuação do sulco nasogeniano - Pregas transversais na região do pescoço - Formação de bolsas gordurosas nas pálpebras inferiores Acima de 55 anos - Acentuação das rugas e pregas - Atenuação da eminência malar - Depressão do sulco nasolabial - Ptose facial Figura 19 – Alterações do envelhecimento cutâneo em diferentes faixas etárias Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 290). 34 Unidade I As rugas não podem ser evitadas, mas é possível adiar seu aparecimento e prevenir o envelhecimento precoce da pele com alguns hábitos, como: usar protetor solar com fator de proteção solar (FPS) igual ou maior do que 30, parar de fumar, hidratar a pele diariamente, ter uma alimentação balanceada, rica em alimentos de origem vegetal e bem coloridos, e com pouco consumo de gorduras saturadas e açúcares, e beber bastante água. 2.3 Abordagem fisioterapêutica O tratamento das rugas apresenta um caráter mais preventivo do que curativo, já que o envelhecimento é um processo fisiológico que não pode ser evitado. Entretanto, com os tratamentos nós podemos retardar o aparecimento das rugas. 2.3.1 Avaliação A avaliação das rugas pode ser realizada utilizando duas escalas principais: a de Lapierre e Pierard, que ordena as rugas em três diferentes graus de acordo com a classificação, apresentada no quadro 1, e a classificação de Glogau, que avalia o fotoenvelhecimento, apresentada no quadro 2. Quadro 1 – Escala de Lapierre e Pierard Classificação Característica da ruga Grau I Rugas de expressão: sem alterações dermoepidérmicas Grau II Rugas finas ou com ondulações: adelgaçamento dermoepidérmico Grau III Rugas gravitacionais: modificação da estrutura dermoepidérmica e muscular Quadro 2 – Classificação de Glogau Classificação Características 1 – Fotoenvelhecimento precoce Discretas alterações na pigmentação da pele Sem ceratoses (lesões na pele) Idade: 20-30 anos 2 – Fotoenvelhecimento precoce a moderado Lentigos senis (manchas relacionadas ao sol) precoces visíveis Ceratoses palpáveis, mas não visíveis Idade: 30-40 anos. 3 – Fotoenvelhecimento avançado Discromias (manchas) muito aparentes Ceratoses visíveis Idade: 50-60 anos 4 – Fotoenvelhecimento grave Pele amarelo-acinzentada Muitas ceratoses Idade: 60-70 anos A seguir, serão apresentadas algumas técnicas fisioterapêuticas para tratamento e prevenção das rugas. 35 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL 2.3.2 Lifting Lifting, palavra inglesa, significa “levantamento”, e é exatamente essa a ideia da técnica, produzir um levantamento da pele e estruturas adjacentes com o fim de prevenir rugas, flacidez e envelhecimento cutâneo. O lifting, também chamado de eletrolifting, é um tratamento que visa à atenuação de rugas e linhas de expressão através da corrente galvânica, uma corrente contínua microamperada que atua no nível celular para restaurar a camada colágena e estimular a produção de elastina, produzindo efeitos como lesão tecidual, hiperemia e edema local, além de uma maior sensibilidade a dor. Nas correntes contínuas os elétrons se direcionam para um sentido e constantemente, não ocorrendo oscilações de polaridade. O profissional é quem seleciona a polaridade do tratamento (seja positivo ou negativo) e esta se mantém durante todo o tempo determinado. Entre as indicações da corrente estão melhorar e/ou atenuar linhas de expressão, cicatrizes de acne e estrias. Já entre as contraindicações estão pessoas com problemas cardíacos, portadores de marca-passo, distúrbios de sensibilidade, propensão a queloide, pessoas que apresentam neoplasias, varizes, feridas abertas, inflamações ou lesões no local da aplicação, vitiligo, psoríase, próteses metálicas no local da aplicação, bem como hipertensão arterial, hipotensão e diabetes descompensados. Para aplicação do lifting, a pele deve estar higienizada, esfoliada com esfoliante físico e tonificada com loção antisséptica, sendo o uso de anestésico opcional. Então é colocado o dispositivo para fechar a corrente entre os polos e aplicado álcool 70% na região do tratamento, realiza-se a técnica escolhida, que discutiremos a seguir, e por último, finaliza-se aplicando o protetor solar.Na realização de todas as técnicas é utilizado um eletrodo ativo com ou sem agulha, que será sempre conectado ao polo negativo. O eletrodo passivo, que geralmente é uma placa de metal coberta por uma esponja ou um bastonete, ficará em contato constante com o paciente, fechando o campo elétrico. Para a aplicação da técnica, as rugas e linhas de expressão devem ser estimuladas de forma individual até que seja obtida uma hiperemia em todo trajeto da ruga, sendo que a estimulação pode ser realizada de três maneiras diferentes: deslizando a agulha dentro do canal da ruga, penetrando a agulha em pontos adjacentes e no interior da ruga ou realizando a escarificação, ou seja, um deslizamento no interior do canal da ruga com a ponteira ou agulha posicionada a 90°. Portanto, o eletrolifting pode ser aplicado de forma invasiva ou não invasiva. A intensidade da corrente sempre deve ser baixa, variando de acordo com o método escolhido. No método não invasivo, utilizando a caneta sem agulha no método de deslizamento, selecionamos uma intensidade de 300 microamperes, e no método invasivo sempre devemos diminuir a intensidade, selecionando de 180 a 200 microamperes, no máximo. Na figura a seguir, pode-se observar uma técnica de aplicação do eletrolifting em diferentes áreas do rosto. 36 Unidade I O lifting tem como objetivo suavizar, atenuar e eliminar alterações das linhas de expressão, que se formam na face devido à contração dos músculos, causando uma lesão tecidual em que, junto com os efeitos da corrente, gere um processo inflamatório que será seguido pelo reparo tecidual. Portanto, essa corrente age sobre os nervos vasomotores, causando maior vascularização e consequentemente uma hiperemia local, ou seja, uma inflamação local e controlada. Essa lesão das células obriga o organismo a produzir uma ação reparadora, através da estimulação de fibroblastos, que realiza síntese de colágeno e elastina, e a produção de um tecido fibroso, que preenche os espaços de rugas, estrias e cicatrizes de acne. A) C) B) D) Figura 20 – Diferentes áreas de aplicação do lifting: A) região glabelar; B) região nasal; C) região frontal; D) região orbital Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 297). Lembrete Nas correntes contínuas, os elétrons se direcionam para um sentido e constantemente, não ocorrendo oscilações de polaridade, que deve ser selecionada pelo profissional conforme o tipo de tratamento (seja positivo ou negativo), e essa polaridade se mantém durante todo o tempo determinado. 2.3.3 Cinesioterapia facial Os exercícios faciais são extremamente importantes para a manutenção do tônus e consequentemente dos contornos faciais, sendo interessante realizar exercícios resistidos, podendo 37 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL ser utilizada a resistência manual ou mecânica aplicadas de forma alternada, simultânea ou em padrões de diagonais, como prescrito no programa de facilitação neuromuscular proprioceptiva. A figura a seguir demonstra alguns exemplos de exercício com resistência manual. Figura 21 – Exercícios para face utilizando resistência manual Fonte: Guirro e Guirro (2002, p. 299). 2.3.4 Peeling químico Para realização dos peelings químicos são aplicados ácidos sobre a pele, com o objetivo de retirar as camadas danificadas da pele e promover o crescimento de uma camada lisa, através de uma descamação controlada de várias camadas de células danificadas. Essa descamação controlada pode ser obtida através de três tipos de peeling químico: • Peeling químico superficial: remove a camada mais externa da pele, sendo ótimo para clarear manchas e retirar marcas de acne ou rugas superficiais. • Peeling químico médio: são utilizados ácidos que removem a camada externa e média da pele, para tratar cicatrizes de acne e rugas mais profundas. 38 Unidade I • Peeling químico profundo: remove as camadas de pele até ao nível interno, sendo recomendado para casos de pele danificada pelo sol e outras cicatrizes, como as de acne ou acidentes. Os peelings químicos têm como objetivos acelerar o processo de renovação celular a partir das camadas mais profundas da pele e eliminar as camadas mais superficiais e envelhecidas, trazendo como benefícios redução das cicatrizes de acne e de acidentes, renovação das camadas de pele, redução das manchas de idade ou sol e eliminação de rugas e linhas de expressão. Existem alguns vários tipos de ácidos que podem ser utilizados nos peelings químicos, sendo os mais comuns: • ácido glicólico, que permite realizar peelings superficiais (concentração de 30% a 50%), médios (50% a 70%) e profundos (maior que 70%); • ácido tricloroacético (TCA), que também permite realizar peelings superficiais (concentração 10%), médios (10% a 30%) e profundos (30% a 50%); • Blue Peel®, combinação de ácido tricloroacético misturado com uma substância azul, que fica bem visível, permitindo saber com maior facilidade a profundidade da ação do medicamento e evitando futuras complicações; • peeling de fenol tamponado ou modificado (atenuado), que pode ser muito superficial, superficial, médio, profundo. Entretanto, o fenol é tóxico, tanto para as partes cardíaca, hepática e nefrológica, por isso o paciente precisa ser monitorado durante o procedimento. Todos os peelings químicos são realizados em consultório, com monitorização do profissional, sem necessidade de anestesia. O tempo de aplicação varia de acordo com o tipo e o objetivo. 2.3.5 Peeling físico Existem dois tipos de peeling físico, o de diamante e o de cristal, sendo que ambos ainda podem ser associados ao peeling químico. O peeling de diamante é realizado através de uma ponteira de caneta que possui uma lixa diamantada, sendo um método indicado para peles mais novas e sensíveis que não necessitam de uma esfoliação abrasiva, por ser mais superficial e atingir somente a epiderme. O aparelho funciona como se fosse uma lixa, retirando as células mortas da camada mais superficial e estimulando a produção de colágeno e elastina. Ele é indicado para pessoas com pele oleosa, sendo eficaz no combate de acne, cicatrizes, manchas na pele, sardas, pequenas rugas, poros dilatados e podendo ser aplicado no rosto, no colo, no pescoço, nos braços e nas costas. É uma técnica indolor, que provoca uma descamação muito suave da pele sem dor ou ardência. Além disso, não possui efeitos indesejáveis e, portanto, pode ser realizado em qualquer época do ano, 39 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL tomando-se apenas o cuidado de evitar exposição solar e utilizar protetor solar diariamente após a aplicação. O peeling de diamante é contraindicado em casos de peles muito sensíveis ou inflamadas e acnes graus III, IV e V. Já o peeling de cristal é recomendado para peles mais velhas e que necessitam de uma esfoliação mais profunda, sendo que a ponteira do equipamento libera e aspira os cristais (óxido de alumínio) pelo próprio equipamento a vácuo. Portanto, por realizar uma esfoliação mais profunda, o peeling de cristal é muito utilizado para combater cicatrizes de acne, rugas finas ou manchas, pois apresenta como benefícios remover manchas na pele, atenuar cicatrizes deixadas pela acne, minimizar e/ou eliminar rugas e linhas de expressão, diminuir poros dilatados e reduzir marcas de estrias. 3 SISTEMA LINFÁTICO E DISTÚRBIOS LINFÁTICOS 3.1 Anátomo-histofisiologia do sistema linfático O sistema linfático é um sistema anexo ao sistema venoso formado pelos capilares linfáticos, vasos pré-coletores, vasos coletores, linfonodos, ductos torácico e linfático direito e pelos órgãos linfoides, tonsilas, baço e timo, como pode ser observado na figura a seguir. Tonsilas Timo BaçoFígado Figura 22 – Sistema linfático Adaptada de: https://bit.ly/305vePs. Acesso em: 7 dez. 2021. 40 Unidade I Diferente do sistema sanguíneo, o sistema linfático não apresenta um órgão central bombeador, mas também possui funções importantes como retornar o líquido intersticial para a corrente sanguínea,destruir microrganismos e partículas estranhas da linfa e apresentar respostas imunes específicas, como a produção de anticorpos. O sistema linfático representa uma via acessória, através da qual o líquido consegue fluir dos espaços intersticiais para dentro do sangue, além de transportar proteínas e grandes partículas para longe dos espaços teciduais, as quais não poderiam ser removidas por absorção direta e penetrar no capilar sanguíneo. Quando esse líquido intersticial penetra nos capilares linfáticos e entra no sistema linfático, passa a ser denominado linfa, que nada mais é que um líquido que apresenta uma composição bem semelhante ao plasma, com água, eletrólitos e quantidades variáveis de proteínas plasmáticas, apenas não apresentando células sanguíneas. O sistema linfático drena normalmente de 2 a 3 litros de linfa por dia (120 mL/hora), através dos canais linfáticos, sendo que a rede de circulação linfática é mais ampla que a sanguínea, estando presente na maior parte do corpo, porém transporta apenas 10% do volume de líquidos filtrados pelos capilares arteriais. A maior parte da linfa em nosso organismo é produzida pelo fígado e pelos intestinos, com concentração de 2% a 6% de proteína. Toda a drenagem do líquido intersticial se inicia nos capilares linfáticos, que são formados por uma camada de células endoteliais sobrepostas umas às outras, e quando uma pressão é exercida fora desses capilares, eles permitem que o líquido penetre em seu interior e, então, uma vez dentro dos capilares, a linfa não volta ao espaço intercelular. Além disso, a partir dos capilares, o sistema linfático e suas estruturas formam uma válvula funcional de sentido único, ou seja, a linfa é percorrida em um único sentido. A linfa, então, após passar pelos capilares linfáticos, será drenada pelos vasos pré-coletores, que são envolvidos internamente por tecido conjuntivo, elementos elásticos e musculares e, portanto, realizam contratibilidade e distensão dos vasos. Depois, a linfa é bombeada até os vasos coletores, que apresentam uma estrutura bastante semelhante às veias, com as três camadas, túnica íntima, média e adventícia, mas também possuem válvulas proximais e distais chamadas linfangions, que são as unidades motoras do sistema linfático com contratibilidade própria, através de uma contração autônoma e rítmica, e permitem que a linfa caminhe em um único sentido. Então a linfa é impulsionada por contração da musculatura lisa da parede dos vasos e essas contrações impulsionam o fluido através dos vasos linfáticos, chamados de coletores, os vasos de maior calibre que formam os ductos torácico e linfático direito. O ducto torácico é o principal coletor da linfa. Inicia-se na parte inferior do abdome, na cisterna do quilo, uma estrutura situada anteriormente à 2ª vértebra lombar, onde desembocam os vasos do quilo intestinal, e termina no pescoço. Recebe linfa dos membros inferiores, do hemitronco esquerdo, do pescoço, da cabeça e do membro superior esquerdo. 41 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Já o ducto linfático direito recolhe linfa do membro superior direito, hemitórax direito, pescoço, face e cabeça. Na figura a seguir, pode-se observar o local de drenagem da linfa dos dois ductos. Drenagem pelo ducto linfático direto Drenagem pelo ducto torácico Figura 23 – Drenagem dos ductos Adaptada de: https://bit.ly/3Ipvz0H. Acesso em: 7 dez. 2021. Além das estruturas citadas anteriormente, o sistema linfático possui formações que se dispõem ao longo do sistema chamados de linfonodos. Os linfonodos são numerosos e distribuídos ao longo do corpo, podendo ser superficiais, anexos à tela subcutânea, e profundos, abaixo de fáscias musculares, cavidade abdominal e torácica. Os linfonodos têm a função de regular a corrente linfática e filtrar as impurezas da linfa, formando grupos ou cadeias, também chamado de gânglios linfáticos na região de axilas, virilhas, pescoço, pernas e regiões profundas do corpo (figura a seguir). Quando apresentamos qualquer infecção na pele ou nos membros, os linfonodos são de extrema importância para impedir a proliferação do processo infeccioso, os microrganismos e detritos de células mortas provenientes da infecção são retirados pelos linfonodos e 42 Unidade I destruídos por células especializadas em fagocitose. Portanto, quando há presença de infecção, aumenta a sobrecarga de trabalho dos linfonodos e consequentemente o número de células de defesa, com isso, a filtragem da linfa fica mais restrita, e o fluxo, retardado. E devido à sobrecarga, os linfonodos próximos à região de infecção aumentam de tamanho e sensibilidade, formando o que chamamos de íngua. Gânglios linfáticos Figura 24 – Linfonodos inguinais Adaptada de: https://bit.ly/3lJuc37. Acesso em: 7 dez. 2021. O fluxo linfático ou circulação linfática depende de fatores intrínsecos e extrínsecos, como: a força da gravidade, as vias acessórias de fluxo, a pulsação das artérias próximas aos vasos linfáticos, os movimentos passivos e a contração muscular, o peristaltismo visceral, os movimentos respiratórios e as alterações térmicas. Lembrete A linfa é absorvida nos capilares linfáticos, então é transportada até os vasos pré-coletores e depois coletores, chegando aos linfonodos, onde será filtrada e encaminhada aos ductos linfático direito e torácico para depois ser lançada na circulação sanguínea e recomeçar o circuito como plasma sanguíneo. 3.2 Linfedema Você já deve ter ouvido falar sobre o linfedema em algumas disciplinas do curso, certo? É importante falar sobre esse assunto nesta disciplina também, e é bom para ajudar a relembrar. A obstrução do fluxo da linfa de dada área tem como consequência o acúmulo, nessa área, de quantidades anormais de líquido tecidual formando o chamado linfedema. Portanto, este é causado 43 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL por uma insuficiência de drenagem, devido a um obstáculo nos coletores ou gânglios linfáticos, seja por uma causa inflamatória, tumoral ou parasitária. É uma patologia multifatorial que pode se desenvolver em qualquer tecido em que haja desequilíbrio entre o nível de filtração por capilares e drenagem linfática. Também é considerada uma síndrome complexa, de etiologia variada, com manifestações clínicas diversas que causam profundas alterações do membro acometido e repercussões funcionais, estéticas e psicossociais, devido à insuficiência linfática. Além disso, o edema linfático tem características diferentes dos outros tipos de edema, pois o aumento da concentração de proteínas no meio vascular causado pelo seu extravasamento e não absorção gera alteração da pressão osmótica e acarreta a presença definitiva de fluído no interstício, o que constitui o linfedema. Uma linfa com altas concentrações de proteínas e um sistema linfático com diminuição dos vasos linfáticos proporcionam a proliferação e a cultura de germes, o que facilita o aparecimento de infecções. A presença de proteínas também facilita o desenvolvimento de fibrose nos tecidos, o linfedema fica mais duro e menos responsivo à drenagem postural. Na figura a seguir, pode-se observar um linfedema de membro inferior unilateral. Figura 25 – Linfedema em membro inferior Disponível em: https://bit.ly/3pwBQPv. Acesso em: 7 dez. 2021. 3.2.1 Classificação do linfedema O linfedema pode ser classificado como primário ou secundário. O linfedema primário é mais raro e pode ser precoce ou congênito, sendo que o precoce ocorre mais no início da puberdade em mulheres com desequilíbrio hormonal, apesar de ser idiopático. Já o congênito pode ser hereditário, causado 44 Unidade I pela doença de Milroy, no qual se desenvolve um linfedema congênito familiar, devido à insuficiência valvular, à diminuição do número de vasos linfáticos e à linfangiectasia (dilatação dos vasos linfáticos); ou pode ser congênito simples, em que ocorrem características idênticas à doença de Milroy, mas não há o padrão hereditário. O linfedemasecundário, como demonstrado na figura a seguir, pode ser causado por várias patologias, como lesões teciduais locais (por exemplo, queimaduras), filariose, recidivas de erisipela, tumores, ressecções cirúrgicas de gânglios ou vasos linfáticos, estase venosa (tromboflebite) ou fibrose pós-radioterapia. Figura 26 – Linfedema secundário de membro superior Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 708). 3.2.2 Avaliação do linfedema A avaliação do linfedema é realizada através do exame físico e de exames complementares. Inicialmente, deve-se realizar a inspeção dos membros observando se há alguma alteração ortopédica, limitação na amplitude de movimento (ADM), coloração dos membros, aspecto da pele, presença ou não de cicatrizes, presença de linfocistos e localização do edema, comparando partes anterior e posterior dos membros. Após essa inspeção inicial, deve-se realizar a palpação dos membros percebendo a consistência, a extensão e a temperatura do edema, além do trofismo muscular e verificando se o paciente tem dor à palpação. Nessa etapa da avaliação, deve-se estar muito atento à consistência do edema, pois quanto mais duro, mais presença de fibrose, e à temperatura, que, quando alta, pode indicar infecção. 45 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL O exame físico continua através da realização da perimetria dos membros, sendo este o exame mais utilizado na prática clínica, devido a sua fácil aplicabilidade. Além disso, só será necessário ter uma fita métrica flexível, graduada em centímetros (cm) para realizar uma medição padronizada de vários pontos da circunferência dos membros, considerando 5, 10 e 15 cm para cima e para baixo da prega do cotovelo e do joelho de ambos os lados. Então os valores de cada membro em cada um dos pontos de avaliação serão comparados entre si e quando houver diferenças acima de 2 cm na comparação entre os lados afetado e não afetado, o resultado será considerado significativo para o diagnóstico de linfedema. Outro método de avaliação bastante utilizado é a volumetria, no qual mede-se o membro afetado em volume. Para essa avaliação, é necessário um recipiente específico, graduado em mililitros (mL) que possua um local para o extravasamento da água. Devemos então, submergir o membro afetado no recipiente com água para que seja obtido o nível de deslocamento do líquido, ou seja, medir a quantidade de água extravasada, como pode ser observado na figura a seguir. O mesmo procedimento deve ser repetido com o membro contralateral, sendo que uma diferença maior ou igual a 200 mL entre os membros caracteriza clinicamente a presença de linfedema. Figura 27 – Volumetria de membro inferior Fonte: O’Sullivan e Schmitz (2010, p. 713). O exame complementar e padrão ouro para diagnosticar a presença ou não de linfedema é a linfocintilografia, um exame de imagem em que é realizada uma cintilografia do sistema linfático. Tal exame permite a visualização das estruturas linfáticas, analisando a quantidade de vias linfáticas disponíveis e o tempo que a linfa demora para percorrer tais vias, ou seja, o fluxo linfático. Isso ocorre através da captação de imagens dos vasos linfáticos após injeção subcutânea ou intradérmica de pequenas quantidades de macromoléculas acopladas ao material radioativo (contraste). Na figura a seguir, pode-se observar um exame de linfocintilografia com presença de linfedema. 46 Unidade I A) B) Figura 28 – Linfocintilografia com presença de linfedema Adaptada de: https://bit.ly/3owR8V4. Acesso em: 7 dez. 2021. 3.2.3 Estadiamento do linfedema Segundo o consenso da Sociedade Internacional de Linfologia (INTERNATIONAL SOCIETY OF LYMPHOLOGY, 2016), o linfedema pode ser dividido em quatro estágios, como também está demonstrado nas figuras 29 e 30. • Estágio 0: linfedema classificado como latente ou subclínico, pode perdurar por vários meses ou anos até o edema aparecer. Nesse estágio, o edema não é evidente, apesar do transporte linfático estar prejudicado. • Estágio 1: representa um acúmulo de fluido relativamente rico em proteínas, que se desenvolve após atividades físicas e no final do dia, mas que desaparece com a elevação do membro (drenagem postural). O edema nesse estágio é macio e facilmente deformável. • Estágio 2: a elevação do membro não reduz o edema e a depressão tecidual pode ou não estar presente, dependendo da existência da fibrose. O edema é resistente e com uma consistência mais dura. • Estágio 3: são mais graves, com alto grau de fibrose. Inclui elefantíase linfostática e alterações cutâneas, como deposição de gordura, linfocistos e eczema. 47 FISIOTERAPIA APLICADA À DERMATOFUNCIONAL Estágio 0 Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Figura 29 – Estágios do linfedema de membros superiores Adaptada de: https://bit.ly/3ounvng. Acesso em: 7 dez. 2021. Estágio 0 Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Figura 30 – Estágios do linfedema de membros inferiores Adaptada de: https://bit.ly/3Io2nHv. Acesso em: 7 dez. 2021. 3.3 Abordagem fisioterapêutica no linfedema O tratamento do linfedema está baseado em técnicas já bastante aceitas e bem descritas na literatura mundial, conhecidas como complex physical therapy (CPT), ou, no Brasil, terapia física complexa (TFC) ou linfoterapia. Esse tratamento consiste na utilização de várias técnicas conjuntamente, dependendo do estadiamento do linfedema, sendo que é basicamente dividido em duas fases e utiliza seis passos. A primeira fase ou intensiva é realizada com o objetivo de mobilizar o excesso de líquido e reduzir o volume do membro. Já a segunda fase ou manutenção tem como objetivos manter e controlar o linfedema e impedir um novo acúmulo de líquidos. Os seis passos utilizados para o tratamento do linfedema são: 48 Unidade I cuidados com a pele, drenagem linfática manual, enfaixamento compressivo, cinesioterapia, contensão elástica e automassagem. Os cuidados com a pele incluem a boa higiene e hidratação do membro, utilizando, preferencialmente, produtos com pH neutro e a proteção do membro, para evitar cortes, ferimentos ou queimaduras no membro acometido. Tais medidas devem ser adotadas para prevenir o aparecimento de inflamações e infecções. A drenagem linfática manual é uma técnica complexa de massagem, com manobras manuais do terapeuta, específicas, de baixa pressão, suaves, rítmicas e lentas, que atuam sobre o sistema linfático superficial, drenando o excesso de líquido e proteínas acumulados no interstício, nos tecidos e dentro dos vasos. Para realização da drenagem, as manobras devem ser realizadas de proximal para distal seguindo a anatomia linfática do corpo e utilizando dois processos, o de evacuação, em que são realizadas manobras na região dos linfonodos com o intuito de liberar as vias linfáticas que receberão o líquido do edema, e o processo de captação, realizado na região edemaciada para absorver e drenar o líquido acumulado, ou seja, fazer o carregamento da linfa. É importante salientar que a drenagem linfática é contraindicada nos casos de processos inflamatórios ou infecciosos agudos, arritmias cardíacas graves, edemas de origem renal ou cardíaca e insuficiência renal ou cardíaca. Observação Atenção quando um paciente apresentar um linfedema devido à ressecção dos linfonodos ou gânglios linfáticos. Nesse caso, não adianta realizar manobras de evacuação nesse local nem de captação direcionando para esse mesmo local. Devemos evacuar a região de linfonodos mais próximos e direcionar a captação também para esse local. Por exemplo, mulheres que realizam mastectomias com linfadenectomia axilar do mesmo lado, a evacuação deve ser realizada na axila contralateral e na virilha do mesmo lado, e as manobras de captação também devem seguir esse sentido. O enfaixamento compressivo é realizado com ataduras de baixa elasticidade com a finalidade de manter e melhorar a absorção do fluxo linfático através do aumento da pressão tecidual. Além disso, ele também previne o acúmulo de líquidos e, portanto, deve ser realizado