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JAQUES FLORES E UM DIÁLOGO COM A OBRA CULTURA AMAZÔNICO: UMA POÉTICA DO IMAGINÁRIO, DE JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO 
Alann lima da costa
Ingrid Carolaine Silva de Sousa
Discorrer sobre a Amazônia, é descrever minuciosamente os detalhes plurais que marcam este espaço geográfico. E estes detalhes se revelam nos aspectos naturais, culturais, sociais, políticos, econômicos, antropológicos e históricos. Dessa forma, percebesse que a Amazônia não se restringe a uma homogeneidade, mas sim, a uma heterogeneidade sociocultural, que de forma geral, expressa um caráter singular da nação brasileira, que é a sua diversidade sociocultural. Neste trabalho será analisada a obra Cultura Amazônica: uma poética do imaginário, de João de Jesus Paes Loureiro, cujo se construirá um diálogo com autor paraense Jaques Flores, considerando pontos em comuns da obra com as perspectivas literárias do autor em destaque.
A obra Cultura Amazônica: uma poética do imaginário, de João de Jesus Paes Loureiro, publicada em 1995, pela editora Cejup, aborda na parte introdutória do livro, o contexto histórico amazônico, onde a princípio a região norte, não era vista com tanto interesse econômico, por parte de Portugal, embora houvesse a necessidade de manter o controle territorial, como forma de prevenir invasões estrangeiras. Nessa perspectiva, Portugal para investir o mínimo de atenção politico-administrativa na região norte, dividiu a nação brasileira em dois estados: província do Brasil, priorizada pelo intenso lucro através das atividades econômicas, como cana-de-açúcar e atividades de subsistência; e província do Maranhão e Grão Pará. Ao longo de toda essa historicidade, o Para e Maranhão se separou, e os interesses econômicos ganharam novos rumos, tais como a extração do ouro e minério no centro, no século XVII, a exploração das drogas do sertão na Amazônia no século XVII, e o ciclo da borracha no século XVIII, ainda na mesma região.
Toda essa movimentação econômica, gradativamente interferiu na composição sociocultural da região norte, pois além dos nativos, outros personagens foram se chegando a região norte, como pretos escravizados, portugueses, nordestinos, mestiços, compondo a miscigenação sociocultural. À medida que o tempo foi seguindo, a Amazônia, foi se tornando cenário, de muitos personagens que utilizavam os recursos naturais para a subsistência, para sobrevivência e até mesmo como ambiciosa forma de lucro. 
No mundo amazônico, se destacam pescadores, coletores de castanhas, seringueiros, garimpeiros, grileiros, lavradores, vaqueiros, fazendeiros, comerciantes, artesãos, biscateiros, e entre tantos outros. Toda essa diversificação de personagens propiciou uma relação profunda entre a cultura e a natureza, experiências e vivências que contribuíram para as recriações imaginárias, para as tradições, para a arte culinária, para os saberes e crenças, e de forma geral, para as expressões culturais, que nascem no homem e, ao mesmo tempo, o gera e o recria em seu espaço sociocultural.
Analisando a obra de João de Jesus Paes Loureiro, e relacionado com o autor Luiz Teixeira Gomes, de pseudônimo Jaques Flores, percebe-se traços comuns, sobre o aspecto cultural amazônico. Na obra de Paes Loureiro, é abordado que na Amazônia, o espaço urbano e rural compreende dois meios relevantes na construção de saberes e culturas. Geralmente, quando se analisa a biografia de Jaques Flores, este era um homem vívido, um homem experiente que costumava frequentava os bares, bancas de açaí, praças, Ver-o-Peso, e os mais diversos ambientes na capital paraense. Além disso, Jaques Flores visitou vilas praianas e comunidades no interior amazônico.
Paes Loureiro (p.55, 1995) expõe a cultura na perspectiva urbana, rural e também a de origem rural-ribeirinha, onde destaca os traços característicos predominante em cada uma, como se pode analisar no trecho:
A cultura urbana se expressa na vida das cidades principalmente naquelas de porte médio e nas capitais do Estado da região. Nas cidades as trocas simbólicas com outras culturas são mais intensas [..]. No ambiente rural, especialmente o ribeirinho, a cultura mantém sua expressão mais tradicionalmente ligada à conservação dos valores decorrentes de sua história. A cultura está mergulhada num ambiente onde predomina a transmissão oralizada. Ela reflete de forma predominante a relação do homem com a natureza e se apresenta imersa numa atmosfera em que o imaginário privilegia o sentido estético dessa realidade cultural.
Analisando este trecho, é relevante abordar que Jaques Flores, se apresentou como um homem simples que por onde andava, experimentava e relatava suas experiências cotidianas, e tais experiências abarcavam os aspectos urbanos e rurais, seja no contato com colegas jornalistas (tais como sua primeira experiência ao conhecer Antônio de Santana Castelo Branco, renomado jornalista Piauiense) e outros escritores renomados, como Abguar Bastos, Bruno de Menezes, de Campo Ribeiro, Rodrigo Pinagé, Paulo Oliveira entre outros. Da mesma forma, o contato com os mais diversos personagens, tais como caboclos, ribeirinhos, pescadores, curandeiros, pessoas simples possibilitaram uma amplitude de conhecimentos, saberes e boas histórias.
Ainda de acordo com a obra de Paes Loureiro (1995), é relevante destacar a respeito do caráter poético que é concebido sobre a relação à natureza. É compreendido que sob a vista da natureza amazônica, o imaginário espermático fecunda as ideias, concebe os sonhos, o poético, a recriação, a transformação daquilo que parece tão banal em algo singular. Assim, compreendemos que há um mundo amazônico que parece desconhecido, mas é encontrada na sensibilidade, na verdadeira experiência entre o homem e a natureza. E assim, Jaques Flores soube experimentar bem isso, pois na voz de Geogenor Franco, Jaques era um verdadeiro entusiasta de tudo que tivesse relação com a cultura e a arte Paraense, Jaques escrevia o que vivenciava, seus olhos eram sensíveis à vida amazônica, aos costumes, as tradições, as lendas, a culinária e remédios da terra, a vida social, aos saberes e crenças.
Portanto, o presente trabalho levanta uma relação forte entre a obra de Paes Loureiro e o autor Jaques Flores, onde ambos buscam valorizar, sobretudo, as riquezas que a região amazônica apresenta, e que nos leva a refletir que a Amazônia é como uma enorme biblioteca, formada de inúmeros personagens, tais como caboclos, ribeirinhos, pescadores, lavradores, pessoas simples, intelectuais, dotados de inúmeros conhecimentos, vivências e experiências cotidianas, concebidas pelo imaginário, pela cultura que transcende o banal, o natural, e que nos leva as ideias, as reflexões, as recriações.
 
REFERÊNCIAS
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura amazônica: uma poética do imaginário. Belém: cejup, 1995.
FLORES JAQUES (LUIZ TEIXEIRA GOMES, 1898-1962). Panela de Barro/ Jaques Flores- 3º ed.- Bragança: Para.grafo editora, 2020.