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Caso 10 - Hipertensão Arterial Sistêmica 1. Controle da PA a longo prazo Fisiologia Básica - Rui Curi ● Pressão sanguínea - Definido como a força dividida pela unidade de área, sendo no corpo humano entendida como a força que o volume sanguíneo exerce contra a parede dos vasos, por unidade de área, responsável pelo fluxo que mantém a circulação sanguínea. - No ventrículo esquerdo há uma pressão aproximada de 120 mmHg, enquanto no átrio direito há uma pressão de 5 mmHg, que permite o fluxo sanguíneo entre estas cavidades. PSA = DC x RVP - A pressão corporal é chamada de arterial devido a importância das artérias e arteríolas na resistência do fluxo, devido a quantidade de fibras elásticas e musculares lisas que controlam a variação do diâmetro do vaso. - Sua regulação depende de mecanismos que atuam em curto, médio e longo prazo. - Os fatores que influenciam a PA são: eficiência da bomba cardíaca (força de contração e frequência cardíaca), resistência vascular periférica total e volume sanguíneo, influenciando também no controle da mesma. ● Controle neural da pressão arterial (curto prazo) - Desencadeamento de respostas rápidas para controle. - Mecanorreceptores: sensíveis à deformação mecânica dos vasos e câmaras ventriculares. Chamados de barorreceptores (curvatura da aorta e seio carotídeo), localizados na região de alta pressão arterial, ativados quando ocorre um aumento rápido e intenso da pressão. - Quando os barorreceptores são ativados constantemente, se adaptam ao novo nível pressórico, assumindo um novo nível de PA como normal. ● Mecanismos humorais de controle da PA (médio e longo prazo) - Dependem da síntese e secreção de hormônios Bruna Bergamo - 57 1. Liberação de catecolaminas pela medula da adrenal - Ativação da glândula suprarrenal (adrenais) quando há maior necessidade de fluxo sanguíneo perante esforço, pós ativação do Sistema Nervoso Simpático. - Adrenal: glândulas endócrinas, localizadas acima dos rins, responsáveis pela liberação de hormônios em resposta ao estresse, como cortisol, aldosterona, androgênios e catecolaminas (epinefrina 90% e norepinefrina 10% - células cromafins) Epinefrina → receptores beta-adrenérgicos → via adenilato ciclase → ATP clivado em AMPc → diminuindo a afinidade das proteínas contráteis ao cálcio → hiperpolarização da membrana celular da musculatura lisa → vasodilatação Epinefrina → síntese e liberação de óxido nítrico → adrenoceptores beta 1/2/3 → vasodilatação → aumento do fluxo sanguíneo Norepinefrina → receptores alfa-adrenérgicos dos vasos sanguíneos → aumento da resistência vascular periférica total → aumento da PA Norepinefrina → diminuição na capacitância venosa (estiramento sem aumentar a pressão) + aumento do retorno venoso → aumento do débito cardíaco → aumento da PA Norepinefrina → liga-se aos receptores alfa-adrenérgicos das arteríolas → ativação da via da fosfolipase C → diacilglicerol e inositol trifosfato → contração da musculatura lisa vascular → aumento da resistência vascular periférica → aumento da PA Norepinefrina → receptores beta-adrenérgicos do coração → aumento da frequência cardíaca + contratilidade → aumento do débito cardíaco → aumento da PA Bruna Bergamo - 57 2. Vasopressina (VP) - Conhecida como arginina vasopressina ou hormônio anti-diurético (ADH) - Nonapeptídeo sintetizado pelos corpos celular dos neurônios magnocelulares do núcleo paraventricular do hipotálamo e supraóptico, transportados pelos prolongamentos axonais até o lobo posterior da hipófise (neuro-hipófise), onde o ADH fica armazenado até sua liberação na corrente sanguínea. - Liberação devido ao aumento na osmolaridade plasmática, hipovolemia e diminuição constante da PA. - Receptores: V¹ da musculatura lisa dos vasos arteriais e V² nos rins. Desidratação/consumo excessivo de sal → aumento da concentração plasmática de Na+ → aumento da osmolaridade plasmática → órgãos circunventriculares (CVOs) → alterações dos osmorreceptores do hipotálamo (sem barreira hematoencefálica) → neurônios magnocelulares do PVN e SON → síntese de VP pelos terminais axonais na neuro-hipófise VP → ligação nos receptores V¹ das artérias → proteína G → ativação da fosfolipase C → inositol trifosfato (IP³) e diacilglicerol → proteína quinase C → aumento da concentração de Ca²+ intracelular → contração do músculo liso → aumenta RVP → aumento da PA VP → fechamento dos canais de K+ sensíveis a ATP + inibição da via do óxido nítrico + potenciação das vias adrenérgicas e vasoconstritores VP → membrana basolateral dos túbulos coletores renais → receptores V² nos rins → ativação de proteínas G → liberação de AMPc → ativação das quinases A → fosforilação de proteínas → transporte de vesículas intracelulares com aquaporinas de tipo 2 - AQP2 (canais de água) → fusão das AQP2 à membrana apical das células dos túbulos coletores → aumenta a permeabilidade das paredes à água → reabsorção de água → maior concentração da urina + aumento do volume sanguíneo circulante → aumento da PA VP → aumento da reabsorção de NaCl pela alça de Henle espessa → aumento da osmolaridade intersticial → aumenta o gradiente osmótico → favorece a absorção de água pelo ducto coletores → aumento do volume sanguíneo circulante → aumento da PA 3. Rins - Natriurese/ diurese pressórica = acoplamento entre os mecanismos de ajustes renais e hemodinâmicos - Volume do líquido extracelular (LEC) = plasma sanguíneo (constante) + líquido intersticial → alterações no volume podem acarretar em alterações no volume plasmático e consequentemente, da PA. - Controle do volume circulante efetivo: circula no leito arterial e perfunde nos órgãos. (30% do volume circulante total) - Controle do volume do LEC: regulação do conteúdo de Na+ corporal → balanço de sódio + controle da osmolaridade extracelular → balanço de água Aumento da ingestão de Na+ → aumento da osmolaridade plasmática → ativação de osmorreceptores → aumento da sensação de sede + aumento das vias de liberação Bruna Bergamo - 57 de VP → aumento da reabsorção de água → normalização da osmolaridade do LEC → aumento do volume do LEC Manutenção do volume de LEC Natriurese pressórica: aumento da pressão de perfusão sanguínea renal → aumenta excreção de Na+ Diurese pressórica: aumento da PA → aumento na taxa de filtração glomerular → aumento da carga filtrada de Na+ → aumento da excreção de Na+ e água - Regulação a longo prazo da PA: capacidade excretora renal ajustada às necessidades de manutenção do equilíbrio de fluidos corporais, quando há uma alteração no volume de LEC em curto prazo, há alterações cardiovasculares, mas em longo prazo há um mecanismo de feedback rim-fluidos corporais, por meio =, principalmente da taxa de filtração glomerular (TFG), controlada pela PA, VP, peptídeo natriurético atrial (PNA), prostaglandinas, fatores derivados do endotélio e sistema renina-angiotensina-aldosterona 4. Sistema renina-angiotensina-aldosterona - Controle da PA a longo prazo, devido a ação vasoconstritora da ANG II e a influência da mesma para liberação de aldosterona, importante para reabsorção renal de Na+ e água. - Aparelho justaglomerular (AJG): estrutura do néfron, formada pelas arteríola aferente e eferente renal + componente tubular chamado de mácula densa, que é um conjunto de células epiteliais que armazenam a enzima renina Causas de liberação da renina: Queda do volume circundante → queda da perfusão renal → barorreceptores das células granulares da arteríola aferente renal desativados → liberação de renina pelo AJG → aumento compensatório da PA (maneira oposta funciona da mesma maneira) Queda da PA → ativação dos barorreceptores arteriais → ativação de centros bulbares → aumento da atividade nervosa simpática → liberação de renina (bloqueio de beta adrenérgicos inibe a liberação de renina) Diminuição do volume circundante efetivo → queda na taxa de filtração glomerular → diminuição na concentração de NaCl no núcleo na mácula densa → aumento da liberação de renina pelo AJG Renina → circulação sanguínea → fígado → clivagemdo angiotensinogênio → angiotensina I → porção luminal do endotélio vascular abundante no pulmão (tosse) → enzima conversora de angiotensina (ECA) → remoção de dois aminoácidos da porção C-terminal da ANG I → angiotensina II Bruna Bergamo - 57 Angiotensina II - Circulação sistêmica → liga-se aos receptores subtipo AT¹ na musculatura lisa dos vasos → ativa proteína G → ativação da fosfolipase C → trifosfato e diacilglicerol → ativação da quinase C → aumento na concentração intracelular de Ca2+ → vasoconstrição → aumento da PA - Vasoconstrição da arteríola eferente renal → sangue com passagem lentificada → aumento da filtração glomerular → queda da pressão hidrostática nos capilares peritubulares subsequentes → aumento da reabsorção de Na+ - Hipertrofia e remodelamento da musculatura lisa vascular e estriada cardíaca, aumentando o inotropismo (força de contração cardíaca) e cronotrópicos (aumento da frequência cardíaca) - Liberação de VP pela neuro-hipófise → aumento dos efeitos vasoconstritores e renais. - Órgãos circunventriculares → receptores para angiotensina II → conexão com hipotálamo, sistema límbico e tronco encefálico → estímulo dos centros da sede e apetite pelo sal - Células da zona glomerulosa do córtex das glândulas adrenais → rins → facilita a reabsorção de Na+ nos ductos e túbulos coletores renais → reabsorção de água → aumento do volume circulante efetivo → aumento da PA - SNP → receptores AT¹ → facilita a neurotransmissão noradrenérgica das fibras pós ganglionares simpáticas → aumento da liberação + diminuição da recaptação de norepinefrina → aumento da atividade nervosa simpática - SNC → receptores AT¹ → bulbo ventrolateral rostral → neurônios pré motores simpáticos → coluna intermediolateral da medula → aumenta a atividade simpática dos vasos arteriais → aumento da resistência periférica total → aumento da PA - Núcleo do trato solitário → diminuição da sensibilidade barorreflexa → impede a bradicardia reflexa ao aumento da PA - ECA: inativa a bradicinina → diminuição da tosse (inibidores de ECA causam tosse) Receptores da Angiotensina II: - AT1 apresenta maior densidade nas células musculares dos vasos, pulmões, fígado, rins, coração e Aorta - AT2 são mais abundantes em tecidos de desenvolvimento fetal, em pequenas quantidades em tecidos adultos dos rins, adrenais, coração, cérebro, útero e ovários. ● Aldosterona: - Aumento da absorção de sódio e liberação de potássio Epitélio do rim por difusão → citoplasma → receptor mineralocorticoide → complexo → núcleo → transcrição de DNa→ Rna mensageiros para transporte de sódio → traduzidos pelos ribossomos → enzimas e transportes de membrana para transporte de sódio → aumento da absorção de sódio ECA: inativa a bradicinina → diminuição da tosse (inibidores de ECA causam tosse) Bruna Bergamo - 57 5. Peptídeo natriurético atrial - Distensão das paredes atriais → miócitos cardíacos atriais → aumento do fluxo sanguíneo renal e filtração glomerular → elevação do coeficiente ultrafiltração glomerular → excreção de água e sódio - Receptores ANPA e ANPB → guanilato ciclase da musculatura lisa vascular → vasodilatação - Aumento da taxa de filtração glomerular → diminuição na liberação de renina → aumento da excreção de Na+ e água - Bloqueio da liberação da VP, ANG II e aldosterona → diminuição da PA → aumento da permeabilidade capilar Bruna Bergamo - 57 Bruna Bergamo - 57