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2_Direitos_e_garantias_fundamentais_da_crianca_e_do_adolescente_35

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ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Por Bruna Daronch
 
SUMÁRIO
1 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO ECA	4
1.1 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL:	4
1.2 DEFINIÇÃO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE:	4
1.3 DIFERENÇA DE TRATAMENTO ENTRE CRIANÇA E ADOLESCENTE:	4
1.3.1 Colocação em Família Substituta:	5
1.3.2 Consequências pela Prática de Atos Infracionais:	5
1.3.3 Viagens Nacionais:	5
2. DIREITO À VIDA	5
2.1 Proteção Jurídica do Embrião:	6
2.2 Aborto e antecipação terapêutica de parto de feto anencéfalo (ADPF 54/2012):	7
3. DIREITO À SAÚDE	8
3.1 Direitos da Mãe/Gestante - Lei nº 13.257/2016:	8
3.2 Obrigações dos Estabelecimentos de Saúde:	8
3.3 Direitos da Criança e do Adolescente:	9
4. DIREITOS À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE – ARTS. 15 A 18 DO ECA.	9
4.1 Toque de Recolher:	9
4.2 Rolezinho:	11
4.3 Integridade Física, Psíquica e Moral, com Proteção à Imagem, Identidade, Autonomia, Valores, Ideias, Crenças, Espaço e Objetos Pessoais:	11
4.4 Lei do Menino Bernardo (Lei nº 13.010/2014 – também denominada “Lei da Palmada”):	14
5 DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER (ARTS. 53 A 59 DO ECA)	14
5.1 Direitos sociais e políticas públicas:	15
5.2 Educação básica e educação superior:	15
5.3 Judicialização, Discricionariedade, Reserva do Possível (STJ – Resp 1.185.474 – 2010, Min. Humberto Martins), Mínimo Existencial, Creches e o STF (RE 436.996 – 2005 – Rel. Min. Celso de Mello):	15
5.4 Critério do Georreferenciamento:	16
5.5 Crianças com Deficiência:	16
5.6 Dever dos Pais Matricularem seus Filhos:	16
5.7 Deveres de Comunicação de Maus Tratos:	16
6. DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO (ARTS. 60 A 69 DO ECA)	16
7 PREVENÇÃO E AUTORIZAÇÃO PARA VIAGEM (ARTS. 70 A 85 DO ECA)	18
7.1 Bebidas Alcoólicas:	19
7.2 Hospedagem:	20
8. VIAGENS NACIONAIS/DOMÉSTICAS (ART. 83 DO ECA)	20
8.1 Adolescentes:	20
8.2 Crianças:	20
9. VIAGENS INTERNACIONAIS/AO EXTERIOR (ART. 84 DO ECA E RESOLUÇÃO Nº 131 DO CNJ)	21
10. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	22
11. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA	22
ATUALIZADO EM 09/03/2022[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ] 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
	1 DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO ECA
1.1 DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL:
Segundo essa doutrina, crianças e adolescentes gozam dos mesmos direitos destinados aos adultos e tantos outros em função do estágio peculiar de pessoas em desenvolvimento físico, psíquico e moral.
1.2 DEFINIÇÃO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE:
Criança - pessoa com até 12 (doze) anos incompletos.
Adolescente - pessoa entre 12 (doze) anos completos e 18 (dezoito) anos incompletos.
Para o Estatuto da Juventude, temos o jovem como sendo a pessoa que tem entre 15 (quinze) anos completos e 29 (vinte e nove) anos completos (30 incompletos).
Assim, denomina-se jovem adolescente ou adolescente jovem a pessoa entre 15 (quinze) anos completos e 18 (dezoito) incompletos, para os quais há aplicação concomitante do ECA e do Estatuto da Juventude. Portanto, há uma dupla proteção.
Noutro quadrante, quem tem entre 18 (dezoito) anos e 29 (vinte e nove) anos será jovem ou jovem adulto. A partir de 30 (trinta) anos, é só adulto.
1.3 DIFERENÇA DE TRATAMENTO ENTRE CRIANÇA E ADOLESCENTE:
Importante notar que na legislação internacional não existe essa distinção, considerando-se criança toda pessoa menor de 18 (dezoito) anos de idade, como regra. Assim, não há referência a adolescente. 
No entanto, o Direito Brasileiro, na própria CF/88, estabelece a distinção entre criança e adolescente. 
1.3.1 Colocação em Família Substituta:
São modalidades de família substituta - guarda, tutela e adoção. Deve a criança ser ouvida e ter sua opinião considerada. O adolescente, por sua vez, além de ouvido e ter a opinião considerada, deve também consentir - forma especial de capacidade civil concedida ao adolescente para tomada de decisão acerca da colocação em família substituta.
1.3.2 Consequências pela Prática de Atos Infracionais:
Quando praticado por adolescente, o ato infracional – conduta descrita em lei como crime ou contravenção penal – sujeita-se a regramento especial, podendo haver tanto a aplicação de medida de proteção quanto de medida socioeducativa.
A prática de ato infracional por criança impõe a aplicação tão somente de medida de proteção.
1.3.3 Viagens Nacionais:
Em regra, crianças e adolescentes não podem viajar sozinhas. 
#SELIGANATABELA
	DIFERENÇAS DE TRATAMENTO
	CRIANÇA
	ADOLESCENTE
	Colocação em Família Substituta
	Ser ouvida e ter sua opinião considerada.
	Além de ser ouvido e ter a sua opinião considerada, deve haver consentimento.
	Consequências pela Prática de Ato Infracional
	Sujeita-se a medida de proteção.
	Sujeito à medida de proteção e a medida socioeducativa.
	Viagens Nacionais
	Em regra, a criança não viaja sozinha.
*Lei 13.812/2019 Determinou que as mesmas restrições impostas para viagens nacionais de crianças também devem ser estendidas para adolescentes menores de 16 anos.
	 Pode viajar sozinho SE tiver 16 anos ou mais.
*AUTORIZAÇÃO PARA VIAGEM DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES #AJUDAMARCINHO
O Estatuto da Criança e do Adolescente impõe, em seus arts. 83 a 85, algumas restrições para que as crianças e adolescentes façam viagens desacompanhados dos pais.
A Lei nº 13.812/2019 promoveu importante alteração nessas regras. Vejamos:
Veja abaixo o resumo dos arts. 83 a 85 do ECA:
	Viagem NACIONAL
	Situação
	É necessária autorização?
	Criança e adolescente menor de 16 anos viajar com o pai e a mãe.
	NÃO
	Criança e adolescente menor de 16 anos viajar só com o pai ou só com a mãe.
	NÃO
	Criança e adolescente menor de 16 anos viajar com algum ascendente (avô, bisavô).
	NÃO
(nem dos pais nem do juiz)
	Criança e adolescente menor de 16 anos viajar com algum colateral, maior de idade, até 3º grau (irmão, tio e sobrinho).
	NÃO
(nem dos pais nem do juiz)
	Criança e adolescente menor de 16 anos viajar acompanhada de uma pessoa maior de idade, mas que não seja nenhum dos parentes acima listados (ex: amigo da família, chefe de excursão, treinador de time).
	SIM
Será necessária uma autorização expressa do pai, mãe ou responsável (ex: tutor) pela criança.
	Criança e adolescente menor de 16 anos viajar sem estar acompanhada por uma pessoa maior de idade.
	SIM
Será necessária uma autorização do juiz da infância e juventude.
	Criança e adolescente menor de 16 anos viajar desacompanhada de parentes para comarca vizinha, localizada dentro do mesmo Estado, ou para comarca que pertença à mesma região metropolitana.
	NÃO
(nem dos pais nem do juiz)
	Adolescente maior de 16 anos viajar desacompanhado de pais, responsável, parente ou qualquer outra pessoa.
	NÃO
Adolescentes maiores de 16 anos podem viajar pelo Brasil sem autorização.
	2. DIREITO À VIDA
	O direito à vida está previsto no art. 5º, caput, da CF/88, e no art. 7º do ECA, merecendo destacar aqui este último.
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
	José Afonso da Silva ensina que nós temos dimensões do direito à vida, quais sejam:
	A) Existência: existe um direito de nascer e permanecer vivo.
	B) Integridade/dignidade: nós temos a integridade física - que se subdivide em integridade corpórea e integridade psíquica - e integridade moral.
2.1 Proteção Jurídica do Embrião:
Tema que agitou a discussão sobre as pesquisas com células-troncoembrionárias (ADI 3510/2008).
Células-tronco têm por característica principal a capacidade de se transformar em qualquer tecido do corpo humano e de se multiplicar, motivo pelo qual a ciência médica crê em sua aptidão para a cura de doenças degenerativas e outras tantas consideradas incuráveis. Podem ser adultas, quando já depositadas em tecidos do corpo humano, ou embrionárias, isto é, extraídas dos embriões - organismo formado a partir da união do óvulo com o espermatozoide. Neste último caso, o embrião deixa de existir a partir da extração das células-tronco. 
A ciência médica assevera, ainda, que as células-tronco embrionárias são dotadas de maior potencial de cura/regeneração.
Nesse contexto, questionou-se a legalidade da extração das células-tronco em contraposição ao direito à vida, eis que, se considerado como um organismo vivo, seria digno de proteção estatal.
Em 2005, foi editada então a lei nacional de biossegurança, com o escopo de autorizar a pesquisa com células-tronco embrionárias depositadas em clínicas de fertilização, consideradas inviáveis ou ultrapassado o período de depósito seguro, sempre com a concordância dos doadores do material genético. E, questionada a sua constitucionalidade por meio da ADI 3510/2008, foi decidido pelo STF que, no que tange à existência, poderia ser considerada uma violação ao direito à vida do embrião. No entanto, no tocante à dimensão da integridade, deveria ser privilegiado o direito à vida das pessoas beneficiadas com o tratamento viabilizado a partir de pesquisas realizadas com a extração de células-tronco embrionárias. Em outros termos, entre a dimensão da existência, que protege o embrião, e a dimensão da integridade física e psíquica das pessoas eventualmente beneficiadas, deu-se preferência à segunda hipótese. Assim, a referida ADI foi julgada improcedente.
2.2 Aborto e antecipação terapêutica de parto de feto anencéfalo (ADPF 54/2012):
No Brasil, o aborto é crime. Porém, em duas situações o Código Penal brasileiro autoriza a interrupção da gestação, isto é, no aborto necessário, quando em risco a vida da gestante sobre o potencial de vida do feto, e no aborto sentimental ou humanitário, em relação a mulheres vítimas de violência sexual.
De forma grosseira, pode-se afirmar que a anencefalia corresponde à ausência de cérebro. Não obstante, tecnicamente se trata de um defeito de fechamento do tubo neural que inviabiliza a vida extrauterina.
Em decorrência de diversos pedidos para antecipação terapêutica de parto, a questão chegou até o STF com o questionamento se a interrupção da gestação deveria ser punida como aborto. O pedido constante da ADPF 54 consistia na declaração de inconstitucionalidade de qualquer interpretação que tipificasse a conduta como aborto criminoso. E, nesse julgamento, foi declarada a inconstitucionalidade de qualquer interpretação que levasse à criminalização da interrupção nos casos de anencefalia. Assim, em apertada síntese, concluiu-se que o feto anencéfalo não goza da mesma proteção à vida dada aos demais fetos, face à ausência de potencialidade de sobrevida.
Mais recentemente, em sede de controle difuso de constitucionalidade, por meio do HC 124.306/RJ, o STF entendeu que a interrupção voluntária da gestação até o terceiro mês - período no qual não está formado o córtex cerebral, fator que inviabiliza a vida extrauterina - não deve ser tipificada como crime de aborto. Em outros termos, concluiu-se que a referida conduta não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1998. Nesse caso foi considerado além do direito em potencial do feto, a capacidade reprodutiva da mulher e o direito ao planejamento familiar. Fala-se ainda na proteção da integridade psíquica da mulher, eis que obrigá-la a manter a gestação de um feto anencéfalo, sem possibilidade de sobrevivência extrauterina, é uma crueldade.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: “Tal como a Suprema Corte dos EUA declarou no caso Roe v. Wade, o interesse do Estado na proteção da vida pré-natal não supera o direito fundamental da mulher realizar um aborto [...] praticamente nenhum país democrático e desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante a fase inicial da gestação como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália. Nada obstante isso, para que não se confira uma proteção insuficiente nem aos direitos das mulheres, nem à vida do nascituro, é possível reconhecer a constitucionalidade da tipificação penal da cessação da gravidez que ocorre quando o feto já esteja mais desenvolvido. 
De acordo com o regime adotado em diversos países (como Alemanha, Bélgica, França, Uruguai e Cidade do México), a interrupção voluntária da gestação não deve ser criminalizada, pelo menos, durante o primeiro trimestre da gestação. Durante esse período, o córtex cerebral – que permite que o feto desenvolva sentimentos e racionalidade – ainda não foi formado, nem há qualquer potencialidade de vida fora do útero materno. Por tudo isso, é preciso conferir interpretação conforme a Constituição ao arts. 124 e 126 do Código Penal, para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. No caso em exame, como o Código Penal é de 1940 – data bem anterior à Constituição, que é de 1988 – e a jurisprudência do STF não admite a declaração de inconstitucionalidade de lei anterior à Constituição, a hipótese é de não recepção (i.e., de revogação parcial ou, mais tecnicamente, de derrogação) dos dispositivos apontados do Código Penal.” (STF. HC 124.706. Voto-vista do Ministro Luís Roberto Barroso. 29/11/2016).
*#SELIGA A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada pela própria gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126) não é crime. É preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade. STF. 1ª Turma. HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/11/2016 (Info 849).
Vamos entender o julgado: INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ NO PRIMEIRO TRIMESTRE DA GESTAÇÃO
Requisitos para que a tipificação de uma conduta seja compatível com a Constituição
Segundo o Min. Roberto Barroso, para ser compatível com a Constituição, a criminalização de uma conduta exige o preenchimento de três requisitos:
a) este tipo penal deverá proteger um bem jurídico relevante;
b) o comportamento incriminado não pode constituir exercício legítimo de um direito fundamental; e
c) deverá haver proporcionalidade entre a ação praticada e a reação estatal.
Em outras palavras, se determinada conduta for prevista como crime, mas não atender a algum desses três requisitos, este tipo penal deverá ser considerado inconstitucional.
A conduta de praticar aborto com consentimento da gestante no primeiro trimestre da gravidez não pode ser punida como crime porque não preenche o segundo e terceiro requisitos acima expostos (letras "b" e "c").
Os arts. 124 e 126 do CP protegem um bem jurídico relevante (a vida potencial do feto). No entanto, a criminalização do aborto antes de concluído o primeiro trimestre de gestação viola diversos direitos fundamentais da mulher, além de não observar suficientemente o princípio da proporcionalidade.
A criminalização da interrupção voluntária da gestação ofende diversos direitos fundamentais das mulheres, com reflexos sobre a sua dignidade humana.
A mulher que realiza um aborto, o faz por se encontrar diante de uma decisão trágica e não precisa que o Estado torne a sua vida ainda pior, processando-a criminalmente.
Desse modo, a mulher que realiza aborto age de forma legítima, sendo também, por via de consequência, legítima a conduta do profissional de saúde que a viabiliza.
Verifiqueabaixo os argumentos invocados pelo Min. Relator Roberto Barroso:
VIOLAÇÃO A DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES
Violação à autonomia da mulher
A criminalização viola, em primeiro lugar, a autonomia da mulher, que corresponde ao núcleo essencial da liberdade individual, protegida pelo princípio da dignidade humana (art. 1º, III, da CF/88).
Autonomia significa a autodeterminação das pessoas, isto é, o direito de elas fazerem suas escolhas existenciais básicas e de tomarem as próprias decisões morais sobre o rumo de sua vida.
Todo indivíduo – homem ou mulher – tem assegurado um espaço legítimo de privacidade dentro do qual lhe caberá viver seus valores, interesses e desejos. Neste espaço, o Estado e a sociedade não têm o direito de interferir.
Quando se trata de uma mulher, um aspecto central de sua autonomia é o poder de controlar o próprio corpo e de tomar as decisões a ele relacionadas, inclusive a de cessar ou não uma gravidez.
Como pode o Estado – isto é, um Delegado de Polícia, um Promotor de Justiça ou um Juiz de Direito – impor a uma mulher, nas semanas iniciais da gestação, que leve esta gestação até o fim mesmo contra a sua vontade? Isso significaria considerar como se este útero estivesse a serviço da sociedade, e não de uma pessoa autônoma, no gozo de plena capacidade de ser, pensar e viver a própria vida.
Violação do direito à integridade física e psíquica
Em segundo lugar, a criminalização do aborto afeta a integridade física e psíquica da mulher.
A integridade física é abalada porque é o corpo da mulher que sofrerá as transformações, riscos e consequências da gestação. Aquilo que pode ser uma bênção quando se cuide de uma gravidez desejada, transmuda-se em tormento quando indesejada.
A integridade psíquica, por sua vez, é afetada pelo fato de ela estar sendo obrigada a assumir uma obrigação para toda a vida, exigindo renúncia, dedicação e comprometimento profundo com outro ser. Também aqui, o que seria uma bênção se decorresse de vontade própria, pode se transformar em provação quando decorra de uma imposição heterônoma. Ter um filho por determinação do direito penal constitui grave violação à integridade física e psíquica da mulher.
 Violação aos direitos sexuais e reprodutivos da mulher
A criminalização viola, também, os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que incluem o direito de toda mulher de decidir sobre se e quando deseja ter filhos, sem discriminação, coerção e violência, bem como de obter o maior grau possível de saúde sexual e reprodutiva.
A sexualidade feminina atravessou milênios de opressão.
O direito das mulheres a uma vida sexual ativa e prazerosa, como se reconhece à condição masculina, ainda é objeto de tabus, discriminações e preconceitos.Parte dessas disfunções é fundamentada historicamente no papel que a natureza reservou às mulheres no processo reprodutivo.
O reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres como direitos humanos percorreu uma longa trajetória, que teve como momentos decisivos a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD), realizada em 1994, conhecida como Conferência do Cairo, e a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em 1995, em Pequim. A partir desses marcos, vem se desenvolvendo a ideia de liberdade sexual feminina em sentido positivo e emancipatório. A criminalização do aborto afeta a capacidade de autodeterminação reprodutiva da mulher, ao retirar dela a possibilidade de decidir, sem coerção, sobre a maternidade, sendo obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada.
 
Violação à igualdade de gênero
A punição do aborto traduz-se, ainda, em quebra da igualdade de gênero.Na medida em que é a mulher que suporta o ônus integral da gravidez, e que o homem não engravida, somente haverá igualdade plena se a ela for reconhecido o direito de decidir acerca da sua manutenção ou não. "Se os homens engravidassem, não tenho dúvida em dizer que seguramente o aborto seria descriminalizado de ponta a ponta" (Min. Ayres Britto, na ADPF 54-MC, j. 20.10.2004).
 Discriminação social e impacto desproporcional sobre mulheres pobres
A tipificação penal do aborto produz também discriminação social, já que prejudica, de forma desproporcional, as mulheres pobres, que não têm acesso a médicos e clínicas particulares, nem podem se valer do sistema público de saúde para realizar o procedimento abortivo.
Por meio da criminalização, o Estado retira da mulher a possibilidade de submissão a um procedimento médico seguro. Não raro, mulheres pobres precisam recorrer a clínicas clandestinas sem qualquer infraestrutura médica ou a procedimentos precários e primitivos, que lhes oferecem elevados riscos de lesões, mutilações e óbito.
Em suma
A criminalização da interrupção da gestação no primeiro trimestre vulnera o núcleo essencial de um conjunto de direitos fundamentais da mulher. Trata-se, portanto, de restrição que ultrapassa os limites constitucionalmente aceitáveis.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Funções do princípio da proporcionalidade nos crimes e penas. O legislador, ao definir crimes e penas, deverá fazê-lo levando em consideração dois valores essenciais:
· o respeito aos direitos fundamentais dos acusados;
· a necessidade de garantir a proteção da sociedade, cabendo-lhe resguardar valores, bens e direitos fundamentais dos indivíduos.
Assim, o princípio da razoabilidade-proporcionalidade funciona com uma dupla dimensão, tendo por objetivo proibir os excessos e também a insuficiência.
Divisão do princípio da proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade divide-se em três subprincípios:
a) subprincípio da ADEQUAÇÃO: no qual deve ser analisado se a medida adotada é idônea (capaz) para atingir o objetivo almejado;
b) subprincípio da NECESSIDADE: consiste na análise se a medida empregada é ou não excessiva; e
c) subprincípio da PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO: representa a análise do custo-benefício da providência pretendida, para se determinar se o que se ganha é mais valioso do que aquilo que se perde.
 Subprincípio da adequação
Aqui, deve-se analisar se os tipos penais previstos nos arts. 124 e 126 do CP protegem realmente o feto. A medida adotada (punir o aborto consensual) é idônea para proteger o feto?
O STF entendeu que não.
De acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) a criminalização não produz impacto relevante sobre o número de abortos. As taxas de aborto nos países onde esse procedimento é permitido são muito semelhantes àquelas encontradas nos países em que ele é ilegal.
Atualmente, existem medicamentos que são facilmente encontrados e que a mulher, ao usá-los, consegue interromper a gravidez sem que o Poder Público tenha meios para tomar conhecimento e impedir a sua realização.
Desse modo, a criminalização não gera uma diminuição na quantidade de abortos. Eles continuam sendo realizados constantemente, de forma clandestina e perigosa para a saúde da mulher. Por outro lado, se não houvesse a punição haveria a possibilidade de estes procedimentos serem realizados de forma segura e sem tantos riscos.
Na prática, portanto, a criminalização do aborto é ineficaz para proteger o direito à vida do feto. Do ponto de vista penal, ela constitui apenas uma reprovação “simbólica” da conduta.
Subprincípio da necessidade
Aqui, a pergunta a ser analisada e respondida é a seguinte: existe meio alternativo à criminalização que proteja igualmente o direito à vida do nascituro, mas que produza menor restrição aos direitos das mulheres?
O Min. Roberto Barroso defendeu que sim.
Há instrumentos que são eficazes à proteção dos direitos do feto e, simultaneamente, menos lesivos aos direitos da mulher.
Uma política alternativa à criminalização implementada com sucesso em diversos países desenvolvidos do mundo é a descriminalização do aborto em seu estágio inicial (em regra, no primeiro trimestre), desde que se cumpram alguns requisitos procedimentais que permitam que a gestante tome uma decisão refletida.
É assim, por exemplo, na Alemanha, em que agrávida que pretenda abortar deve se submeter a uma consulta de aconselhamento e a um período de reflexão prévia de três dias.
Procedimentos semelhantes também são previstos em Portugal, na França e na Bélgica.
Além disso, o Estado deve atuar sobre os fatores econômicos e sociais que dão causa à gravidez indesejada ou que pressionam as mulheres a abortar.
As duas razões mais comumente invocadas para o aborto são a impossibilidade de custear a criação dos filhos e a drástica mudança na vida da mãe (que a faria, p. ex., perder oportunidades de carreira).
Nessas situações, é importante a existência de uma rede de apoio à grávida e à sua família, como o acesso à creche e o direito à assistência social.
Além disso, muitas gestações não programadas são causadas pela falta de informação e de acesso a métodos contraceptivos. Isso pode ser revertido, por exemplo, com programas de planejamento familiar, com a distribuição gratuita de anticoncepcionais e assistência especializada à gestante e educação sexual. Logo, a criminalização do aborto também não é aprovada no teste relacionado com o subprincípio da necessidade.
Subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito
As restrições aos direitos fundamentais das mulheres decorrentes da criminalização são ou não compensadas pela proteção à vida do feto? O fato de as mulheres serem privadas do direito de abortar gera uma maior proteção ao feto? STF entendeu que não.
Conforme demonstrado, a tipificação penal do aborto produz um grau elevado de restrição a direitos fundamentais das mulheres. Por outro lado, a criminalização do aborto promove um grau reduzido (se algum) de proteção dos direitos do feto, uma vez que não tem sido capaz de reduzir o índice de abortos.
Dessa forma, não há proporcionalidade em sentido estrito em se manter a punição do aborto consentido nos três primeiros meses da gravidez.
Praticamente nenhum país democrático e desenvolvido do mundo trata a interrupção da gestação durante a fase inicial da gestação como crime, aí incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.
Primeiro trimestre da gravidez
Vale ressaltar que, pela decisão do STF, só não será punido o aborto consentido (realizado pela mulher ou por terceiro com sua concordância) e desde que feito nos três primeiros meses da gravidez.
Se for realizado após o primeiro trimestre, continua sendo crime.
Por que este critério de três meses?
Existe uma intensa e polêmica discussão sobre quando se inicia a vida e qual é o status jurídico do embrião durante a fase inicial da gestação. Dentre outras, há duas posições principais e antagônicas em relação a isso:
1ª) de um lado, os que sustentam que existe vida desde a concepção, desde que o espermatozoide fecundou o óvulo, dando origem à multiplicação das células.
2ª) de outro lado, estão os que sustentam que antes da formação do sistema nervoso central e da presença de rudimentos de consciência (o que geralmente se dá após o terceiro mês da gestação) não é possível ainda falar-se em vida em sentido pleno.
Não há solução jurídica para esta controvérsia. Ela dependerá sempre de uma escolha religiosa ou filosófica de cada um a respeito da vida. Porém, existe um dado científico que é inquestionável: durante os três primeiros, meses o córtex cerebral (que permite que o feto desenvolva sentimentos e racionalidade) ainda não foi formado nem há qualquer potencialidade de vida fora do útero materno. Assim, não há qualquer possibilidade de o embrião subsistir fora do útero materno nesta fase de sua formação. Ou seja: ele dependerá integralmente do corpo da mãe.
Justamente com base nessas premissas científicas, diversos países do mundo adotam como critério que a interrupção voluntária da gestação não deve ser criminalizada, desde que feita no primeiro trimestre da gestação. É o caso da Alemanha, Bélgica, França e Uruguai.
ESCLARECIMENTOS SOBRE OS EFEITOS DA DECISÃO COMENTADA
Tão logo esta decisão foi proferida, surgiram várias notícias na imprensa no sentido de que o STF teria descriminalizado o aborto realizado nos três primeiros meses de gravidez. Esta afirmação não é tecnicamente correta. Vamos entender os motivos.
No caso concreto, o STF analisava um habeas corpus impetrado por dois médicos que foram presos em flagrante no momento em que supostamente estariam realizando um aborto com o consentimento da gestante (art. 126 do CP). No HC impetrado, os pacientes buscavam a liberdade provisória.
O Min. Roberto Barroso, ao analisar o writ, entendeu que não estavam presentes os pressupostos da prisão preventiva. Um desses pressupostos é a existência de crime, o que é exigido na parte final do art. 312 do CPP:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Segundo o Ministro, não havia motivo para a prisão preventiva, considerando o fato de que a gravidez da mulher estava ainda no primeiro trimestre, razão pela qual a punição prevista nos arts. 124 e 126 do CP não seria compatível com a Constituição Federal, ou seja, não teria sido recepcionada pela atual Carta Magna.
Por conta disso, o Ministro concedeu a ordem de habeas corpus para afastar a prisão preventiva dos pacientes, concedendo-lhes liberdade provisória.
É importante, no entanto, pontuar três observações:
1) Esta decisão foi tomada pela 1ª Turma do STF (não se sabe como o Plenário decidiria);
2) A discussão sobre a criminalização ou não do aborto nos três primeiros meses da gestação foi apenas para se analisar se seria cabível ou não a manutenção da prisão preventiva;
3) O mérito da imputação feita contra os réus ainda não foi julgado e o STF não determinou o "trancamento" da ação penal. O habeas corpus foi concedido apenas para que fosse afastada a prisão preventiva dos acusados.
Obviamente, esta decisão representa um indicativo muito claro do que o STF poderá decidir caso seja provocado de forma específica sobre o tema, tendo o Min. Roberto Barroso proferido um substancioso voto que foi acompanhado pelos Ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Os demais Ministros da 1ª Turma (Marco Aurélio e Luiz Fux) não se comprometeram expressamente com a tese da descriminalização e discutiram apenas a legalidade da prisão preventiva.
Dessa forma, existem três votos a favor da tese, não se podendo afirmar que o tema esteja resolvido no STF. Ao contrário, ainda haverá muita discussão a respeito.
#JÁCAIU: (TJRJ-2016-VUNESP). A anencefalia, de acordo com entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF (arguição de descumprimento de preceito fundamental), ajuizada pela Confederação dos Trabalhadores na Saúde - CNTS, sob relatoria do Ministro Marco Aurélio de Mello permite a antecipação terapêutica do parto, com proteção à vida da mãe, a exemplo do aborto sentimental, que tem por finalidade preservar a higidez física e psíquica da mulher, conclusão que configura interpretação do Código Penal de acordo com a Constituição Federal, orientada pelos preceitos que garantem o Estado laico, a dignidade da pessoa humana, o direito à vida e a proteção à autonomia, da liberdade, da privacidade e da saúde. (V)
	
	3. DIREITO À SAÚDE
	3.1 Direitos da Mãe/Gestante - Lei nº 13.257/2016:
A chamada Lei da Primeira Infância protege não apenas a criança, mas também a mãe/gestante. E, embora tenha procedido a diversas alterações no ECA, possui autonomia.
O ECA garante à mãe um atendimento integral, desde o período pré-natal até o pós-natal, incluindo ainda o atendimento àquelas que pretendam entregar a criança à adoção. 
(*) ATUALIZADO EM 30/11/2021: #ATENÇÃO: O Enunciado 14 do FONAJUV que tratava do direito ao sigilo quanto à entrega à adoção, foi revogado em 2014. Enunciado 14: (REVOGADO no XV FONAJUV – Aracaju/2014).
3.2 Obrigações dos Estabelecimentos de Saúde:
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentosde atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já existente.. 
3.3 Direitos da Criança e do Adolescente:
A) Atendimento integral;
B) SUS e assistência odontológica;
C) Vacinação;
D) Medicamentos e próteses;
E) Direito a acompanhante à criança ou adolescente internado;
F) Que maus tratos sejam comunicados imediatamente ao Conselho Tutelar.
	4. DIREITOS À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE – ARTS. 15 A 18 DO ECA.
	4.1 Toque de Recolher: 
Foram instituídos em alguns municípios, em especial do Estado de São Paulo (Ex.: Cajuru e Fernandópolis) portarias editadas por magistrados e leis municipais estabelecendo o toque de recolher, com determinação de horário e idade da criança/adolescente, restringindo o direito de ir e vir desacompanhado nas vias públicas, sob pena de apreensão pelo Conselho Tutelar ou outros órgãos públicos locais, e encaminhamento aos pais ou responsáveis.
Diversas decisões foram exaradas no sentido de que tais portarias e leis municipais violavam a liberdade e o direito de ir e vir das crianças e adolescentes, bem como extrapolavam o direito de os juízes emitirem portarias restringindo a frequência em relação a lugares e crianças/adolescentes determinados, isto é, eram por demais genéricas.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: “ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS. TOQUE DE RECOLHER. SUPERVENIÊNCIA DO JULGAMENTO DO MÉRITO. SUPERAÇÃO DA SÚMULA 691/STF. NORMA DE CARÁTER GENÉRICO E ABSTRATO. ILEGALIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. Trata-se de Habeas Corpus Coletivo "em favor das crianças e adolescentes domiciliados ou que se encontrem em caráter transitório dentro dos limites da Comarca de Cajuru-SP" contra decisão liminar em idêntico remédio proferida pela Câmara Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 2. Narra-se que a Juíza da Vara de Infância e Juventude de Cajuru editou a Portaria 01/2011, que criaria um "toque de recolher", correspondente à determinação de recolhimento, nas ruas, de crianças e adolescentes desacompanhados dos pais ou responsáveis: a) após as 23 horas, b) em locais próximos a prostíbulos e pontos de vendas de drogas e c) na companhia de adultos que estejam consumindo bebidas alcoólicas. A mencionada portaria também determina o recolhimento dos menores que, mesmo acompanhados de seus pais ou responsáveis, sejam flagrados consumindo álcool ou estejam na presença de adultos que estejam usando entorpecentes. 3. O primeiro HC, impetrado no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, teve sua liminar indeferida e, posteriormente, foi rejeitado pelo mérito.
4. Preliminarmente, "o óbice da Súmula 691 do STF resta superado se comprovada a superveniência de julgamento do mérito do habeas corpus originário e o acórdão proferido contiver fundamentação que, em contraposição ao exposto na impetração, faz suficientemente as vezes de ato coator (...)" (HC 144.104/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe2.8.2010; cfr. Ainda HC 68.706/MS, Sexta Turma, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 17.8.2009 e HC 103.742/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 7.12.2009). 5. No mérito, o exame dos considerandos da Portaria 01/2011 revela preocupação genérica, expressa a partir do "número de denúncias formais e informais sobre situações de risco de crianças e adolescentes pela cidade, especificamente daqueles que permanecem nas ruas durante a noite e madrugada, expostos, entre outros, ao oferecimento de drogas ilícitas, prostituição, vandalismos e à própria influência deletéria de pessoas voltadas à prática de crimes". 6. A despeito das legítimas preocupações da autoridade coatora com as contribuições necessárias do Poder Judiciário para a garantia de dignidade, de proteção integral e de direitos fundamentais da criança e do adolescente, é preciso delimitar o poder normativo da autoridade judiciária estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em cotejo com a competência do Poder Legislativo sobre a matéria. 7. A portaria em questão ultrapassou os limites dos poderes normativos previstos no art. 149 do ECA. "Ela contém normas de caráter geral e abstrato, a vigorar por prazo indeterminado, a respeito de condutas a serem observadas por pais, pelos menores, acompanhados ou não, e por terceiros, sob cominação de penalidades nela estabelecidas" (REsp 1046350/RJ, Primeira Turma, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJe 24.9.2009). 8. Habeas Corpus concedido para declarar a ilegalidade da Portaria 01/2011 da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Cajuru.” (STJ - HC: 207720 SP 2011/0119686-3, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 01/12/2011, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 23/02/2012)
A Juíza da Vara de Infância e Juventude editou Portaria que criaria um "toque de recolher", correspondente à determinação de recolhimento, nas ruas, de crianças e adolescentes desacompanhados dos pais ou responsáveis: a) após as 23 horas, b) em locais próximos a prostíbulos e pontos de vendas de drogas e c) na companhia de adultos que estejam consumindo bebidas alcoólicas. A mencionada portaria também determina o recolhimento dos menores que, mesmo acompanhados de seus pais ou responsáveis, sejam flagrados consumindo álcool ou estejam na presença de adultos que estejam usando entorpecentes. A portaria em questão ultrapassou os limites dos poderes normativos previstos no art. 149 do ECA. Ela contém normas de caráter geral e abstrato, a vigorar por prazo indeterminado, a respeito de condutas a serem observadas por pais, pelos menores, acompanhados ou não, e por terceiros, sob cominação de penalidades nela estabelecidas. A despeito das legítimas preocupações da autoridade coatora com as contribuições necessárias do Poder Judiciário para a garantia de dignidade, de proteção integral e de direitos fundamentais da criança e do adolescente, é preciso delimitar o poder normativo da autoridade judiciária estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em cotejo com a competência do Poder Legislativo sobre a matéria. STJ. 2ª Turma. HC 207720/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 01/12/2011.
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: São constitucionais o art. 16, I, o art. 105, o art. 122, II e III, o art. 136, I, o art. 138 e o art. 230 do ECA. Tais dispositivos estão de acordo com o art. 5º, caput e incisos XXXV, LIV, LXI e com o art. 227 da CF/88. Além disso, são compatíveis com a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a Convenção sobre os Direitos da Criança, as Regras de Pequim para a Administração da Justiça de Menores e a Convenção Americana de Direitos Humanos. STF. Plenário. ADI 3446/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7 e 8/8/2019 (Info 946).
4.2 Rolezinho: 
Em julgamento realizado pelo STJ, no bojo de HC impetrado pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, a ordem foi concedida de ofício para a anulação da portaria editada pelo juiz da infância de Ribeirão Preto, a qual proibia crianças e adolescentes, a partir de certa idade, a frequência desacompanhada aos shoppings centers locais, sob o argumento de violação frontal ao direito de liberdade de ir e vir, bem como em função do preconceito em relação àqueles que não possuíam condições financeiraspara usufruir de outras formas de lazer, diversão e brincadeiras.
4.3 Integridade Física, Psíquica e Moral, com Proteção à Imagem, Identidade, Autonomia, Valores, Ideias, Crenças, Espaço e Objetos Pessoais: 
Essa proteção decorre da previsão do art. 5º da CF/88 que protege a integridade física, psíquica e moral, a imagem, etc.
A) Veiculação de imagem e de nome em meio de comunicação: 
É vedada, inclusive, a veiculação de iniciais dos adolescentes que possivelmente cometeram atos infracionais. Além disso, veda-se a exposição de imagens de crianças e adolescentes que são vítimas. Quando em colisão com os outros direitos fundamentais, cabe a ponderação entre os direitos fundamentais, como a liberdade de informação.
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
*(Atualizado em 07.06.2020): DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO: O art. 78 do ECA prevê o seguinte: Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo. Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegidas com embalagem opaca. Esse dever de zelar pela correta comercialização de revistas pornográficas, em embalagens opacas, lacradas e com advertência de conteúdo, não se limita aos editores e comerciantes, mas se estende a todos os integrantes da cadeia de consumo, inclusive aos transportadores e distribuidores. STJ. 1ª Turma. REsp 1.584.134-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666).
“DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. DIREITOÀ INFORMAÇÃO E À DIGNIDADE. VEICULAÇÃO DE IMAGENS CONSTRANGEDORAS. É vedada a veiculação de material jornalístico com imagens que envolvam criança em situações vexatórias ou constrangedoras, ainda que não se mostre o rosto da vitima. A exibição de imagens com cenas de espancamento e de tortura praticados por adulto contra infante afronta a dignidade da criança exposta na reportagem, como também de todas as crianças que estão sujeitas a sua exibição. O direito constitucional à informação e à vedação da censura não é absoluto e cede passo, por juízo de ponderação, a outros valores fundamentais também protegidos constitucionalmente, como a proteção da imagem e da dignidade das crianças e dos adolescentes (arts. 5º, V, X, e 227 da CF). Assim, esses direitos são restringidos por lei para a proteção dos direitos da infância, conforme os arts. 15, 17 e 18 do ECA.” (STJ. REsp 509.968-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 06/12/2012).
É vedada a veiculação de material jornalístico com imagens que envolvam criança em situações vexatórias ou constrangedoras, ainda que não se mostre o rosto da vítima. O MP detém legitimidade para propor ação civil pública com o intuito de impedir a veiculação de vídeo, em matéria jornalística, com cenas de tortura contra uma criança, ainda que não se mostre o seu rosto. STJ. 3ª Turma. REsp 509968-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 6/12/2012.
A conduta de emissora de televisão que exibe quadro que, potencialmente, poderia criar situações discriminatórias, vexatórias, humilhantes às crianças e aos adolescentes configura lesão ao direito transindividual da coletividade e dá ensejo à indenização por dano moral coletivo. Caso concreto: existia um programa de TV local no qual o apresentador abria ao vivo testes de DNA e acabava expondo as crianças e adolescentes ao ridículo, especialmente quando o resultado do exame era negativo. As crianças e adolescentes não participavam do programa, apenas seus pais. No entanto, o apresentador utilizava expressões jocosas e depreciativas em relação à concepção dos menores. STJ. 4ª Turma. REsp 1517973-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2017 (Info 618).
B) Abuso sexual e pedofilia:
Existem várias classificações sobre o que se entende por abuso sexual. 
Predomina a classificação segundo a qual o abuso sexual se subdivide em violência e exploração. A violência sexual é o ato mediante força física, ou algum artifício ardiloso, implica em um ato abusivo contra criança ou adolescente. São especialmente os crimes de natureza sexual (ex: estupro).
Na exploração não necessariamente há a violação à integridade corporal da criança e do adolescente, pois na exploração o que se tem, na maioria das vezes, é a exploração da imagem. É o que ocorre quando são tiradas fotografias de crianças e adolescentes, especialmente o que ocorre no âmbito da pornografia infantil.
#OLHAOGANCHO: A pornografia e a pedofilia se distinguem, já que a pornografia é uma forma de exploração/abuso em face de criança e adolescente, se traduzindo em prática. A pedofilia, por sua vez, não necessariamente desencadeia uma prática abusiva, mas ela é um distúrbio/doença segundo o qual adultos sentem atração sexual por crianças e adolescentes. Ocorre que a pedofilia não necessariamente gera o abuso sexual, pois pode ter alguém que tenha essa doença e jamais pratique um ato de abuso sexual em face de criança e adolescente. Da mesma forma pode ser que alguém tenha esse distúrbio e pratique um ato de violência sexual, um ato de exploração sexual, um ato de pornografia infantil. Então, perceba que não há ligação entre a pedofilia e os atos de abuso, tanto na modalidade de violência quanto na moralidade de exploração. Por isso que se diz doutrinariamente que não se deve tratar a pedofilia como uma questão de segurança pública, mas sim como uma questão de saúde pública. Importante perceber que pode ser que um indivíduo que não seja pedófilo e pratique atos abusivos com relação à criança e adolescente.
C) Bullying (Lei nº 13.185/2015): 
A Lei nº 13.185/2015 institui o programa de combate à intimidação sistemática.
As características da prática do bullying são:
- Ato de violência física ou psíquica: A violência psíquica pode ocorrer, por exemplo, com o isolamento proposital/intencional da vítima;
- Intencional e repetitivo: Ninguém pratica bullying sem querer e deve ser repetitivo. 
- Sem motivo evidente: A violência geralmente ocorre por ter a vítima um padrão comportamental ou características destoantes da maioria;
- Por indivíduo ou grupo;
- Que causa dor ou angústia;
- Em relação de desequilíbrio de poder entre as partes.
Para caracterizar o bullying tem que haver a conjugação de todos esses elementos acima. Não basta haver a configuração de apenas um elemento.
“Bullying” vem do inglês, e significa acossar, violentar, intimidar. A pessoa que realiza a prática é chamada de “bully”.
O bullying pode vir a ter repercussões em outras áreas do direito. Quando, por exemplo, causar uma lesão corporal, pode se configurar ato infracional se o praticante for menor de idade, levando à aplicação de uma medida socioeducativa.
O objetivo da lei foi trazer à luz essa prática para que, por meio de políticas públicas direcionadas, se consiga alcançar uma melhoria no combate ao bullying.
4.4 Lei do Menino Bernardo (Lei nº 13.010/2014 – também denominada “Lei da Palmada”): 
Tem o objetivo de alertar para necessidade de se ouvir crianças e adolescentes com relação a atos de violência praticada, sobretudo, em casa. É uma questão polemica, pois se refere à interferência do Estado nas relações familiares, no âmbito da vida privada.
A lei veda duas condutas, de forma absoluta: a) Castigo físico: é toda conduta que gere sofrimento físico ou lesão e b) Tratamento cruel ou degradante: é toda conduta que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize criança e adolescente.
A ideia fundamental dessa Lei é o seguinte: O castigo físico e o tratamento cruel e degradante não são aceitáveis como recursos para correção, educação e disciplina de crianças e adolescentes.
Qual é a consequência diante da constatação de um castigofísico ou tratamento cruel de criança e adolescente? Os pais podem ser punidos, mas mesmo antes da edição da lei nº 13.010/14 já poderiam. Se praticassem ato de castigo físico que gerasse lesão corporal, já poderiam ser responsabilizados criminalmente.
A Lei Menino Bernardo cria uma série de medidas de proteção a serem adotadas quando da evidência de tratamento cruel ou degradante dos pais contra seus filhos, que oferecem orientação a pais e familiares. Exemplo: encaminhamento para programa de orientação e apoio a familiar, encaminhamento para tratamento médico, etc.
Essas medidas são aplicadas pelo Conselho Tutelar. Toda a gestão da Lei ocorre fora do Poder Judiciário.
O CC/02 já previa a perda do poder familiar com base na ideia de castigo imoderado. A lei Menino Bernardo cria um microssistema de proteção em face de castigos físicos e tratamentos cruéis e degradantes, e possibilita a hipótese de perda de poder familiar não apenas com base na ideia de castigo imoderado, mas de qualquer castigo físico e tratamento cruel e degradante. É a ideia de proibição/vedação absoluta do castigo físico, ainda que possa ser considerado moderado.
	5 DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER (ARTS. 53 A 59 DO ECA)
Trata-se dos direitos sociais, os quais integram a segunda dimensão/geração de direitos fundamentais, estes exigem prestações positivas do Estado, a intervenção do Estado na vida das pessoas para garantir o mínimo de igualdade diante de relações sociais desiguais (art. 6º da CF/88).
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
A implementação desses direitos se dá por meio de políticas públicas, sendo responsáveis por essa implementação, na maioria dos casos, todos os entes federativos em solidariedade.
5.1 Direitos sociais e políticas públicas:
O direito à educação deve ser estudado à luz da CF (mudanças trazidas especialmente pela EC nº 59/09), da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e do ECA (fonte menos atualizada nesse quesito).
5.2 Educação básica e educação superior:
A) Educação básica subdivide-se em:
- Educação infantil (atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade – redação dada pela Lei 13.306/2016) com atuação dos municípios;
- Ensino fundamental (1º a 9º ano, até os 14 anos), com atuação do município e estado;
- Ensino médio (3 anos de duração, até os 17 anos), com atuação dos estados.
*#NOVIDADELEGISLATIVA #DIZERODIREITO: A Lei nº 13.716/2018 acrescentou um artigo à LDB dizendo que se o aluno da educação básica tiver que ser internado para fazer algum tratamento de saúde, seja em regime hospitalar, seja em regime domiciliar, este aluno deverá continuar recebendo atendimento educacional durante o período de internação.
Veja a redação do dispositivo que foi inserido:
Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, durante o período de internação, ao aluno da educação básica internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, conforme dispuser o Poder Público em regulamento, na esfera de sua competência federativa.
O que significa educação básica?
A educação básica compreende a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio.
Como esse atendimento educacional pode ser prestado no hospital?
A doutrina especializada em pedagogia afirma que isso pode ocorrer de várias formas. Exs: professores contratados pelo hospital, professores cedidos pelas Secretarias de Educação, professores que estejam participando de projetos de pesquisa e extensão ou então professores pertencentes aos projetos de voluntariado.
O atendimento pode ser exclusivamente no leito ou em salas de aula existentes nas unidades de internação.
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Não é possível, atualmente, o ensino domiciliar (homeschooling) como meio lícito de cumprimento, pela família, do dever de prover educação. Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. A CF/88, apesar de não o prever expressamente, não proíbe o ensino domiciliar. No entanto, o ensino domiciliar não pode ser atualmente exercido porque não há legislação que regulamente os preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de ensino. Assim, o ensino domiciliar somente pode ser implementado no Brasil após uma regulamentação por meio de lei na qual sejam previstos mecanismos de avaliação e fiscalização, devendo essa lei respeitar os mandamentos constitucionais que tratam sobre educação. STF. Plenário. RE 888815/RS, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/9/2018 (repercussão geral) (Info 915). #IMPORTANTE[footnoteRef:2] [2: *(Atualizado em 09/03/2022): #JÁCAIU! MPGO/2022, banca FGV:
A educação básica obrigatória é direito indisponível assegurado em sede constitucional a crianças e adolescentes em idade escolar (Art. 208, I, da Constituição da República de 1988).
Nesse particular, à luz da interpretação empreendida pelo Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que:
A) a Constituição da República de 1988 veda o ensino domiciliar, prática que subverte a ideia de solidariedade entre a família e o Estado como núcleo principal à formação educacional de crianças e adolescentes;
B) o ensino domiciliar é um direito público subjetivo do aluno e de sua família, extraído da precedência do papel da família e da subsidiariedade do papel estatal na formação educacional de crianças e adolescentes; 
C) o ensino domiciliar não é um direito público subjetivo do aluno ou de sua família, porém não é vedada sua criação por meio de lei federal, editada pelo Congresso Nacional, na modalidade “utilitarista” ou “por conveniência circunstancial”, desde que observadas as exigências constitucionais relativas à educação; (GABARITO)
D) o ensino domiciliar é um direito público subjetivo do aluno e de sua família, sendo autoaplicável nas modalidades “utilitarista” e “por conveniência circunstancial” e dependente de regulamentação nas espécies unschooling radical (desescolarização radical), unschooling moderado (desescolarização moderada) e homeschooling puro;
E) é inconstitucional a legislação que regulamenta o ensino domiciliar, prática que aprofunda a separação anti-isonômica das classes sociais em matéria educacional e desvaloriza o convívio entre as crianças como parte essencial do processo educativo. ] 
B) Educação superior: cursos superiores, tecnólogos, etc. – com atuação da União.
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.
*#NOVIDADELEGISLATIVA. LEI Nº 13.845, DE 18 DE JUNHO DE 2019 - Dá nova redação ao inciso V do art. 53 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para garantir vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à escola.
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório.
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude.
*(Atualizado em 21/03/2021) DEOLHONAJURIS A Justiça da Infância e da Juventude tem competência absoluta para processar e julgar causas envolvendo matrícula de menores em creches ou escolas, nos termos dos arts. 148, IV, e 209 da Lei nº 8.069/90. STJ. 1ª Seção. REsp 1.846.781/MS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 10/02/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1058) (Info 685).[footnoteRef:3] [3: *(Atualizado em 09/03/2022): #JÁCAIU! MPGO/2022, banca FGV:
Ao ensejo de apontar o problema da oferta insuficiente de vagas em creches na Comarca de Goiânia (GO), o Ministério Público Estadual ajuizou ação civil pública em face do referido Município com o fito de assegurar a três crianças carentes menores de 6 anos o atendimento em creche municipal. Distribuída a uma das Varas de Fazenda Pública Municipal da Capital – juízo privativo reservado ao ente federativo arrolado no polo passivo –, a demanda se fundou no alegado direito público subjetivo de crianças menores de 6 anos ao atendimento em creche e pré-escola, conforme norma constitucional reproduzida no Art. 54, IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº 8.069/1990).
Diante do caso hipotético assim formulado, à luz da Constituição da República de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar que o membro do Parquet responsável pelo ajuizamento da ação: 
D) acertou ao afirmar a legitimidade ad causam do Ministério Público e a existência do direito público subjetivo à educação, bem como sua exigibilidade em juízo, mas se equivocou quanto à competência, uma vez que o ECA estabelece a competência absoluta do Juízo da Infância e da Juventude para processar e julgar demandas que visem proteger direitos individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, independentemente de o menor encontrar-se ou não em situação de risco ou abandono; (GABARITO)] 
5.3 Judicialização, Discricionariedade, Reserva do Possível (STJ – Resp 1.185.474 – 2010, Min. Humberto Martins), Mínimo Existencial, Creches e o STF (RE 436.996 – 2005 – Rel. Min. Celso de Mello):
Atualmente, o Poder Judiciário tem se tornado protagonista da implementação de políticas públicas, determinando a realização de direitos sociais. Fundamenta-se no neopositivismo, no neoconstitucionalismo, em tratados internacionais de direitos humanos, etc. Mas, precisamos conhecer os argumentos contrários (corrente minoritária) e favoráveis (corrente majoritária) a essa discussão.
• Argumentos contrários:
1) Princípio da separação ou tripartição de poderes. Art. 2º da CF/88. Normalmente quem implementa políticas públicas é o executivo, com base na legislação criada, como função típica, pelo legislativo. O papel do Judiciário, portanto, é o de fiscalizar a realização desses direitos. Com base nisso, não seria razoável que o judiciário substituísse a função do executivo de implementação das políticas públicas.
2) Ao determinar a realização de determinada política, o judiciário está interferindo sobre a discricionariedade administrativa, que é a possibilidade de o administrador optar por realizar determinada política pública em detrimento de outra, alocando os recursos conforme juízo de conveniência e oportunidade.
3) A reserva do possível: Ideia segundo a qual as decisões relacionadas à implementação de políticas públicas têm uma limitação fática, que é a limitação de recursos disponíveis.
• Argumentos favoráveis:
1) A necessidade de garantir a dignidade da pessoa humana, como um princípio regente da ordem constitucional, que exige que todos os direitos fundamentais sejam efetivados.
2) Além disso, o Estado deve garantir o mínimo existencial, o mínimo de direitos que garanta a dignidade aos indivíduos;
3) Normatividade da Constituição: aquilo que a CF prevê deve ser implementado.
5.4 Critério do Georreferenciamento:
Determina que as crianças têm o direito de estudar em escolas próximas ao seu local de residência. 
No âmbito o REsp nº 1.175.445 foi discutido no STJ se a criança teria o direito de continuar estudando em escola que se tornou mais distante de sua residência em referência a outra. Conforme decisão, não se trata de um direito absoluto (o critério de georreferenciamento), mas é um direito subjetivo da criança.
5.5 Crianças com Deficiência:
Atualmente há uma concepção humanística em relação às pessoas com deficiências, predominando a ideia de que não são estas que devem se adaptar à sociedade, mas a sociedade que deve ser adaptar a elas. 
Com relação às crianças com deficiência, elas devem ser matriculadas, preferencialmente, na rede regular de ensino. Se for considerado razoável para a criança, e ela quiser, a escola tem a obrigação de aceita-la.
5.6 Dever dos Pais Matricularem seus Filhos:
O ECA prevê expressamente o dever dos pais matricularem seus filhos na escola. O debate envolvendo a educação domiciliar – homeschooling – chegou ao STF em 2015 (RE 888.815 -2015 – Rel. Min. Roberto Barroso – Repercussão geral) e foi julgado em 2018:
	#DEOLHONAJURIS: Não é possível, atualmente, o ensino domiciliar (homeschooling) como meio lícito de cumprimento, pela família, do dever de prover educação. Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. A CF/88, apesar de não o prever expressamente, não proíbe o ensino domiciliar. No entanto, o ensino domiciliar não pode ser atualmente exercido porque não há legislação que regulamente os preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de ensino. Assim, o ensino domiciliar somente pode ser implementado no Brasil após uma regulamentação por meio de lei na qual sejam previstos mecanismos de avaliação e fiscalização, devendo essa lei respeitar os mandamentos constitucionais que tratam sobre educação. STF. Plenário. RE 888815/RS, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/9/2018 (repercussão geral) (Info 915). #IMPORTANTE
5.7 Deveres de Comunicação de Maus Tratos:Os dirigentes dos estabelecimentos educacionais têm o dever de comunicar eventuais maus tratos percebidos relativamente a crianças e adolescentes aos conselhos tutelares.
	6. DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO (ARTS. 60 A 69 DO ECA)
A CF prevê no artº 7, XXXIII, a idade mínima para o trabalho de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.
Considera-se trabalho proibido todo aquele que viole alguma norma da CF, CLT ou LDB, assim como dos tratados internacionais, e das demais normas infraconstitucionais. É considerado trabalho proibido todo aquele desempenhado por menor de 16 anos e, entre 16 e 18 anos, todo aquele que for perigoso, insalubre ou noturno. É importante saber que a expressão “trabalho infantil” é sinônimo de trabalho ilícito, proibido, isto é, tem uma conotação pejorativa, é um trabalho inconstitucional, é trabalho que viola direitos de crianças e adolescentes. 
Vejamos, então, as formas lícitas de trabalho:
- Aprendizagem: constitui-se em uma formação técnico-profissional metódica. O grande objetivo da aprendizagem é formar técnica e profissionalmente o adolescente a partir de técnicas de trabalho ensinadas por meio de ferramentas pedagógicas. 
Essa forma especial de trabalho permite que o indivíduo ingresse no mercado a partir dos 14 anos. A ideia de se excepcionar a idade mínima para o trabalho a partir dos 14 anos é no sentido de que na aprendizagem nós temos uma atividade que é muito mais educativa do que uma atividade de exploração de mão-de-obra. 
Existem várias espécies de aprendizagem: empresarial; no âmbito das entidades de ensino. Mas para fins de provas de concursos estaduais e que não sejam do âmbito trabalhista, esses detalhamentos da legislação específica não são relevantes. 
- Estágio: configura-se como ato educativo escolar supervisionado. Tem regramento totalmente próprio. Não é registrada sob contrato de trabalho, mas de termo de compromisso. 
A doutrina classifica o estágio em duas espécies: a) estágio obrigatório; b) estágio não obrigatório.
O estágio obrigatório é aquele que o indivíduo precisa cumprir para concluir alguma etapa da sua educação formal, é um elemento do projeto pedagógico. 
O estágio não obrigatório é aquele que não é necessário para que o indivíduo conclua a etapa educacional.
Quanto à remuneração, sendo o estágio obrigatório, não há obrigatoriedade de pagamento da atividade; se, do contrário, o estágio não for obrigatório, é obrigatório que seja concedida remuneração.
- Trabalho Educativo: é aquele em que as exigências pedagógicas prevalecem ao aspecto produtivo. É um ponto polêmico na doutrina. Há previsão no ECA. 
Há doutrinadores que ligam o trabalho educativo ao trabalho artístico. Há aqueles que entendem que o trabalho educativo é uma atividade que sequer poderia ser chamado de trabalho. Há ainda aqueles que entendem que trabalho educativo é inconstitucional, porque viola os preceitos de proteção aos direitos dos trabalhadores. Então, não há coesão na doutrina quanto ao entendimento de sua natureza.
Mas basta saber que o trabalho educativo é aquele em que as exigências pedagógicas prevalecem sobre o aspecto produtivo. Exemplo: uma criança que ensaia com uma orquestra. Prioritariamente, ela está aprendendo a ser um músico, aprendendo uma profissão, e apenas em caráter eventual a orquestra que ela faz fará uma apresentação remunerada e distribui os ganhos entre os músicos. Então, essa distribuição eventual de remuneração não desnatura o que se chama de trabalho educativo. Prevalece o entendimento que esta é uma espécie de trabalho educativo.
- Trabalho normal: é o trabalho que não se enquadra nas hipóteses anteriores. Para criança não é licito o trabalho normal. Apenas para adolescentes a partir dos 16 anos pode haver trabalho normal, respeitadas as vedações legais. Portanto, não é para qualquer adolescente, somente a partir dos 16 anos será possível trabalho normal.
	7 PREVENÇÃO E AUTORIZAÇÃO PARA VIAGEM (ARTS. 70 A 85 DO ECA)
Existe uma política de prevenção em face daquilo que é exposto para crianças e adolescentes, apesar da vedação constitucional à censura. Isso engloba:
1. Diversões e espetáculos públicos
2. Rádio e TV
3. Publicações e vídeos
4. Classificação indicativa e infração administrativa do art. 254 do ECA “proibição de transmissão em horário diverso do autorizado”.
A classificação indicativa é constitucional, mas não se confunde com censura, segundo entendimento do STF.
Apesar de haver a classificação indicativa, o programa irá passar e o espetáculo vai ser exibido e há a possibilidade de se desrespeitar o aviso contido na classificação indicativa. Então, não há censura que impossibilite a divulgação, a veiculação daquela mensagem artística, de modo que o STF entende que a classificação indicativa não viola a proibição à censura estabelecida na Constituição Federal. 
No ECA, há um dispositivo que aduz que em horário próprio para transmissão de conteúdo voltado a crianças e adolescentes, não se pode transmitir conteúdo inadequado a essa faixa etária. E há uma infração administrativa que permite, inclusive, a proibição da transmissão (art. 254 do ECA). 
O STF decidiu que essa infração é inconstitucional, pois proibir a transmissão equivaleria a censura (STF – ADI 2.404 – 2016, Rel. Min. Dias Toffoli).
#AJUDAMARCINHO: É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. "Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias." O Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória). STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 31/8/16 (Info 837).
O que foi decidido? A ADI foi julgada procedente? SIM. O STF julgou a ADI procedente e decidiu que: É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016 (Info 837).
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ Classificação indicativa dos programas de rádio e TV Emissora de TV pode ser condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão da exibição de filme fora do horário recomendado pelo Ministério da Justiça. Segundo decidiu o STF, é inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. Assim, o Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória) (STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016). Vale ressaltar, no entanto, que a liberdade de expressão, como todo direito ou garantia constitucional, exige responsabilidade no seu exercício, de modo que as emissoras deverão resguardar, em sua programação, as cautelas necessárias às peculiaridades do público infanto juvenil. Logo, a despeito de ser a classificação da programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários diversos daquele recomendado, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à programação sadia, previsto no art. 221 da CF/88. Diante disso, é possível, ao menos em tese, que uma emissora de televisão seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão da exibição de filme fora do horário recomendado pelo órgão competente, desde que fique constatado que essa conduta afrontou gravemente os valores e interessescoletivos fundamentais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.463-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2019 (Info 663).
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: Compete à Justiça Comum Estadual (juízo da infância e juventude) apreciar os pedidos de alvará visando a participação de crianças e adolescentes em representações artísticas. Não se trata de competência da Justiça do Trabalho. O art. 114, I e IX, da CF/88 não abrange os casos de pedido de autorização para participação de crianças e adolescentes em eventos artísticos, considerando que não há, no caso, conflito atinente a relação de trabalho. Trata-se de pedido de conteúdo nitidamente civil. STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/9/2018 (Info 917). #IMPORTANTE
7.1 Bebidas Alcoólicas:
A Lei nº 13.106/2015 alterou o art. 243 do ECA e revogou o art. 63 da LCP. Havia contradição entre os crimes previstos pelo ECA e previsão da LCP, pois o primeiro se referia apenas a oferecimento de substância que cause dependência, enquanto o segundo mencionava expressamente o oferecimento de bebida alcoólica.
Em 2015, foi publicada a Lei 13.106 que alterou o art. 243 do ECA. Antes, vender bebida alcoólica à criança ou adolescente era mera contravenção penal; após a lei, é considerado crime.
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica: 
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. 
#OLHAOGANCHO: Conforme autoriza o art. 149 do ECA, o juiz pode disciplinar, por portaria, a entrada e permanência de criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsáveis em estádios, bailes, boates, teatros etc. No entanto, essa portaria deverá ser fundamentada, caso a caso, sendo vedada que ela tenha determinações de caráter geral (§ 2º do art. 149). STJ. 1ª Turma. REsp 1292143-SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/6/2012.
7.2 Hospedagem:
Somente podem se hospedar em hotéis, motéis, etc. crianças e adolescentes acompanhados por um dos pais ou por maiores expressamente autorizados.
	8. VIAGENS NACIONAIS/DOMÉSTICAS (ART. 83 DO ECA)
8.1 Adolescentes:
*Com a redação dada pela Lei. 13.812/2019[footnoteRef:4], adolescentes, a partir dos 16 anos, em viagens domésticas podem circular livremente dentro do território nacional, desacompanhadas e sem necessidade de expressa autorização. Porém, os pais podem proibir que o adolescente viaje, comunicando as autoridades. Isso faz parte do exercício do poder familiar. [4: Para mais comentários sobre a lei, vide: https://www.dizerodireito.com.br/2019/03/ola-amigos-do-dizer-o-direito-foi.html] 
Adolescentes menores de 16 anos, deverão obter expressa autorização judicial, salvo quando se tratar de comarca contígua à de sua residência se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana ou se estiver acompanhado.
8.2 Crianças:
A) Desacompanhadas, com autorização judicial;
B) Desacompanhadas, com autorização expressa de pelo menos um dos pais (qualquer idade).
C) Desacompanhadas, sem autorização, para comarca contígua, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana (muito comum para estudo).
D) Acompanhadas, de ao menos um dos pais ou responsável;
E) Acompanhadas de ascendente ou colateral maior até o terceiro grau (com documentação comprovando o vínculo) ou de adulto expressamente autorizado pelos pais.
- Ascendente ou colateral é parente: Basta comprovação documental. (+ ser adulta).
- Quando se tratar de não parente: Exige-se a documentação de autorização (+ ser adulta).
#IMPORTANTE: Em relação ao ascendente é importante atentar para a contagem do grau de parentesco.
#ATENÇÃO: Não podem se hospedar sem autorização expressa ou presença de ao menos um dos pais (ainda que acompanhados de parente maior).
*#ATENÇÃO #NOVIDADELEGISLATIVA: Alteração do art. 83 do ECA:
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
b) a criança estiver acompanhada:
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por dois anos.
Lei nº 13.812, de 16.3.2019 - Institui a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, cria o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente):
Art. 14. O art. 83 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora da comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos estiver acompanhado:
...........................................................................................................” (NR)
	9. VIAGENS INTERNACIONAIS/AO EXTERIOR (ART. 84 DO ECA E RESOLUÇÃO Nº 131 DO CNJ)
Para viagens internacionais ou ao exterior o tratamento de crianças e adolescentes é rigorosamente o mesmo. Sobre o tema, fazer análise do art. 84 do ECA com a Resolução 131 do CNJ.
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente:
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida.
A) Desacompanhados, com autorização judicial.
B) Desacompanhados, com autorização de ambos os pais por documento com firma reconhecida (por semelhança). Essa hipótese foi prevista pela Resolução 131 do CNJ. Lendo só o art. 84 do ECA não se chega a esta conclusão. Se apenas um dos pais estiver disposto a autorizar, deve ser buscado o suprimento judicial.
C) Acompanhado de ambos os pais.
D) Na presença de um dos pais, desde que haja autorização expressa do outro, por documento com firma reconhecida. 
E) Acompanhados de terceiros maiores e capazes com autorização de ambos os pais por documento com firma reconhecida.
*A Lei nº 13.726/2019[footnoteRef:5] promoveu importante alteração nas regras referentes às restrições para que as crianças e adolescentes façam viagens desacompanhados dos pais. Vale a pena ler o seu arrigo 3º, que dispõe: [5: Para mais informações, vide comentários: https://www.dizerodireito.com.br/2018/10/comentarios-lei-137262018-lei-da.html] 
Art. 3º Na relação dos órgãos e entidades dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios com o cidadão, é dispensada a exigência de:
I - reconhecimento de firma, devendo o agente administrativo, confrontando a assinatura com aquela constante do documento de identidade do signatário, ou estando este presente e assinando o documento diante do agente, lavrar sua autenticidade no próprio documento;
II - autenticação de cópia de documento, cabendo ao agente administrativo, mediante a comparação entre o original e a cópia, atestar a autenticidade;
III - juntada de documento pessoal do usuário, que poderá ser substituído por cópia autenticada pelo próprio agente administrativo;
IV - apresentação de certidão de nascimento, que poderá ser substituída por cédula de identidade, título

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