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Anestesiologia - Anestésicos Injetáveis

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ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA 
CONTEÚDO 1 
ANESTÉSICOS INJETÁVEIS 
São fármacos que promovem a depressão do SNC de forma dose-dependente e reversível, resultando na perda das 
capacidades de percepção de estímulos dolorosos e respostas a estes estímulos. Associações de fármacos muitas vezes são 
necessárias para equilibrar as funções vitais. Promovem depressão mental e exige analgésicos, pois não possuem grande 
efeito no controle da dor. 
Função dos anestésicos injetáveis 
 Indução anestésica: promover inconsciência (anestesia geral); 
 Manutenção anestésica: para infusão contínua. Primeiro realiza-se uma aplicação em bolus e após, a infusão 
contínua para manter a concentração plasmática, mantendo o paciente em depressão mental; 
 Anestésicos gerais intravenosos não possuem ação analgésica, por mais que o animal esteja inconsciente, ainda há 
percepção da dor; 
 Contenção química: facilitar manipulações em animais extremamente estressados; 
 Utilização única: pode-se utilizar de forma única, sem associações, para procedimentos menores, como colocações 
de sonda esofágica p. ex. por ser um procedimento rápido. 
Objetivos da anestesia geral injetável 
 Hipnose 
 Estabilidade hemodinâmica e pulmonar 
 Analgesia 
 Miorrelaxamento 
 Recuperação rápida e tranquila 
Vantagens 
São fármacos de baixo custo, dispensam o uso de equipamentos sofisticados, exceto bombas de infusão para manter uma 
adequada concentração plasmática, caso necessário. De todo modo, necessita-se apenas de seringa e um acesso intravenoso 
para administração dos fármacos. São de prática aplicação, não produzem poluição ambiental, diferentemente da anestesia 
inalatória, assim como também não há sobrecarga pulmonar. Causam menos estresse durante indução e a recuperação é 
mais tranquila quando comparada a outros anestésicos. 
Desvantagens 
Não superficializam de forma rápida e não possuem agonistas para reverter seus efeitos. Deve-se aguardar o fármaco ser 
metabolizado para que seus efeitos sejam revertidos. Algumas reversões podem ser realizadas sobre os efeitos, e não sobre 
o fármaco, como emprego de Atropina para elevação da frequência cardíaca. 
A eliminação depende da integridade orgânica (hepática e renal), por este motivo alguns pacientes acordam mais 
rapidamente que os outros. Pacientes que possuem sobrepeso e/ou alteração na metabolização e excreção levam maiores 
períodos de tempo para despertar. 
A recuperação pode ser prolongada com o uso de Tiopental, demorando horas para ser excretado, diferentemente do 
Propofol que é metabolizado e excretado mais rapidamente. 
Causam depressão cardiorrespiratória devido a depressão acentuada no SNC. 
CLASSIFICAÇÃO DOS ANESTÉSICOS INJETÁVEIS 
1. BARBITÚRICOS (Tiopental, Pentobarbital) 
Foram sintetizados em 1882. Agem por grande período de tempo, tardando a recuperação anestésica 
Mecanismo de ação: 
 Potencializam a ação do GABA; 
 Diminuem a condutância de íons de potássio, sódio e cálcio (hiperpolarização celular); 
 Diminuem a ligação e seletividade da acetilcolina para se ligar ao receptor e transmitir informação. 
Farmacodinâmica: 
a. SNC – depressão do córtex e tálamo levando desde a hipnose até o choque bulbar; Efeito anticonvulsivante 
(utilização em pacientes que são intoxicados ou que apresentem crises convulsivas repentinas. Pode-se utilizar 
como infusão contínua para controle das crises, porém causa acentuada depressão respiratória); Redução do 
consumo de O² cerebral pela diminuição das atividades cerebrais (benéfico para cérebro em crises convulsivas); 
Redução do fluxo sanguíneo cerebral; Redução da pressão intracraniana (utilização em traumas cranioencefálico 
para gerar coma induzido, diminuindo a atividade cerebral e promovendo a proteção neuronal); Depressão do 
centro termorregulador (leva à hipotermia). 
b. SISTEMA HEMODINÂMICO – redução do debito cardíaco; Inotropismo negativo (diminui força de contração); 
Hipotensão em certo grau; Redução do fluxo sanguíneo coronariano (maléfico para o miocárdio); Redução do 
consumo de O² pelo miocárdio; Redução da pressão venosa central (reduz retorno venoso) e Queda na pressão 
arterial. 
c. CENTRO RESPIRATÓRIO – depressão do centro bulbar dose-dependente; Hipoventilação (diminuição na 
frequência e amplitude). A superdose pode levar a paralisia e morte. 
d. BULBO OCULAR – causa midríase inicialmente (dilatação) e miose (contração) em seguida; Redução da pressão 
intraocular. 
e. SISTEMA DIGESTÓRIO – Redução do peristaltismo e tônus; Diminuição das secreções gástricas. 
f. SISTEMA URINÁRIO – Hipotensão e vasoconstrição renal; Redução da filtração glomerular; Redução do volume 
urinário (aumento ADH). 
g. REPRODUTOR FEMININO – Redução do tônus uterino; Depressão fetal (atravessa barreira hematoencefálica) 
fazendo que com nasça morto ou com parada respiratória; Malformação congênitas (não indicado para cesáreas). 
São fármacos altamente lipossolúveis, onde se depositam no tecido adiposo e levam mais tempo para serem excretados, 
principalmente em animais obesos. O efeito cumulativo (via infusão continua) pode levar ao retardo na recuperação 
da temperatura por maior tempo. 
A metabolização é exclusivamente hepática e a excreção renal. 
Na medicação pré-anestésica (MPA), estes fármacos potencializam 40-60% o emprego dos fenotiazínicos. Com 
benzodiazepínicos há potencialização intensa, podendo levar a apneia. 
A aplicação destes fármacos por via extravascular pode levar à dor, inflamação e necrose dos tecidos. 
Cerca de 70-85% do fármaco se liga a proteínas plasmáticas (albumina), sendo assim torna-se necessário reduzir a 
dose em pacientes com hipoproteinemia. 
Dentre as vantagens, pode-se citar o baixo custo e a ação em manter os planos anestésicos; as desvantagens incluem 
a lenta biotransformação, efeito cumulativo, metabolização exclusivamente hepática (não indicado para idosos e 
neonatos) e por atravessar a barreira hematoencefálica. É um fármaco seguro se bem utilizado, mas pelas questões de 
desvantagens vem sendo substituído pelo Propofol. Ainda é bem utilizado em procedimentos de eutanásia. 
Posologia 
 Tiopental (Thionembutal) 
 Pequenos animais: 7 – 12,5mg/kg com medicamentos pré-anestésicos; 20 – 25mg/kg sem medicamentos pré-
anestésicos. 
 Grandes animais: 5mg/kg com medicamentos pré-anestésicos; 10mg/kg sem medicamentos pré-anestésicos. 
Período de latência: 10-20 segundos, desprovido de analgesia. 
 Pentobarbital (Hypnol) 
 Pequenos animais: 15mg/kg com medicamentos pré-anestésicos; 30mg/kg sem medicamentos pré-
anestésicos. 
 
2. ALQUIFENÓIS (Propofol) 
São derivados fenólicos. Possuem baixa solubilidade em água. São veiculados em emulsão glicoproteica aquosa 
(aspecto leitoso) composta por óleo de soja, glicerol e fosfolipídio de ovo purificado e devem ser armazenados sob 
refrigeração. 
São utilizados principalmente para procedimentos curtos, ambulatoriais e cirurgias de longa duração. Se administrado 
por via intravenosa de forma rápida, pode levar a apneia transitória. 
Mecanismo de ação 
 Potencializam a ação do GABA; 
 Diminuem a atividade metabólica cerebral. 
Farmacodinâmica 
SNC – depressão do córtex e tálamo levando desde a hipnose ao choque bulbar; Redução do fluxo sanguíneo cerebral, 
Redução da PIC; Efeito miorrelaxante adequado; Efeito anticonvulsivante (em infusão contínua) 
SISTEMA CARDIOVASCULAR – redução do débito cardíaco; Hipotensão em até 40% dos pacientes; Mínimas 
alterações na frequência cardíaca; Redução da resistência vascular periférica; Inotropismo negativo; Aumento do fluxo 
sanguíneo coronariano. Não é tão seguro quanto o Etomidato. Pode gerar mínimas alterações na frequência cardíaca 
mas reduz a força de contração. 
SISTEMA RESPIRATÓRIO – apneia velocidade dependente e bradipneia. A aplicação deve ser feita de forma lenta 
(1-2min), observando os reflexos e perda da consciência. Se não houver apneia, pode haver bradipneia. 
FarmacocinéticaDistribuição: cerca de 97 – 99% está ligado a proteínas plasmáticas (doses reduzidas em animais com hipoproteinemia), 
não possui efeito cumulativo e rápida recuperação anestésica. 
Biotransformação: sua vantagem está na biotransformação, onde, além da via hepática, também ocorrem via plasmática, 
pulmonar e renal (seguro para hepatopatas). 
A excreção ocorre via renal através da eliminação de metabólitos inativos. 
Posologia 
 Propofol (Propovan, Propovet) 
 Pequenos animais: 3 – 4mg/kg com medicações pré-anestésicas; 6 – 7mg/kg sem medicações pré-anestésicas. 
Geralmente utiliza-se 4mg/kg ao efeito, onde observa-se os efeitos, não introduzindo todo o fármaco necessário. 
Um estudo em felinos, concluiu que os animais que ficavam anestesiados com propofol em infusão contínua por mais 
de 3 dias (coma induzido), faziam lesão oxidativa das hemácias, cursando com anemia no pós-operatório. 
Cálculo de infusão do propofol 
Ex. paciente com 5kg 
Dose bolus: 4mg/kg 
Dose infusão: 0,4mg/kg/min 
Concentração: 10mg/ml 
 
Bolus: 5 x 4 / 10 = 2ml – administrar em no max. 2 minutos. 
Infusão: 5 x 0,4 / 10 = 0,2ml/min ou 12ml/hr = 12ml/hr x 20gts = 240gts/hr / 60 = 4gts/min. 
Cuidados ao administrar 
Dose reduzida em paciente sépticos, geriátricos ou com comprometimentos importantes. Necessidade de analgésico 
suplementar e aplicação com velocidade lenta ao efeito. 
3. COMPOSTOS IMIDAZÓLICOS (Etomidato) 
Foram sintetizados em 1975. Hidrossolúvel mais instável em solução aquosa. Rápido período de latência (30seg). 
Pode provocar dor no momento da aplicação. Também pode haver mioclonias (movimentos musculares involuntários), 
por este motivo deve-se associar benzodiazepínicos para haver miorrelaxamento (Dizepam não pode ser feito na mesma 
seringa, Midazolam pode ser feito na mesma seringa). 
É um fármaco bom e seguro, entretanto para animais de grande porte é requerido um grande volume de aplicação. 
Farmacodinâmica 
SNC – depressão do córtex e tálamo levando desde hipnose até o choque bulbar; Redução do consumo de O² cerebral; 
Redução do fluxo sanguíneo cerebral e pressão intracraniana; Depressão do centro termorregulador; Reduz 
metabolismo cerebral em 50%. Agente indutor ideal para neurocirurgias, pós trauma cranioencefálico ou 
politraumatismo. 
SISTEMA CARDIOVASCULAR – alterações discretas (seguro); Manutenção da pressão arterial; Aumento discreto 
da FC, VS e DC; Redução da resistência vascular periférica (discreta vasodilatação). Seguro para neurocirurgias e 
pacientes cardiopatas. Utilizado em pacientes com cardiopatias graves, também pode ser utilizado em pacientes em 
sepse grave, pelas alterações mínimas no miocárdio. 
SISTEMA RESPIRATÓRIO – aumento da frequência respiratória. 
OUTROS EFEITOS – reduz a pressão intraocular; Redução do peristaltismo; Dor no local da aplicação em 23% dos 
casos; Aumento de secreções após cessar administração, causando náusea e vômito no pós-operatório em 40% dos 
casos; Inibe a síntese de cortisol (indicação para pacientes com hiperadrenocorticismo). 
Farmacocinética 
Cerca de 65-75% está ligado a proteínas plasmáticas, possui alta lipossolubilidade e não produz efeito cumulativo 
(rápida biotransformação). A biotransformação é hepática. A excreção ocorre via renal (85%) e biliar (13%). 
Posologia 
 Etomidato (Etomidate) 
 Pequenos animais: 1 – 3mg/kg com uso de medicações pré-anestésicas. 
Não é um bom indutor anestésico se não for utilizado medicações pré-anestésicas. 
4. DISSOCIATIVOS (Cetamina)