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TCC COMPLETO FINAL

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
LEONARDO VIEIRA GAMA 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES FAMILIARES COMO PREDITORES DE ESQUEMAS INICIAIS 
DESADAPTATIVOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
2023 
 
 
LEONARDO VIEIRA GAMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES FAMILIARES COMO PREDITORES DE ESQUEMAS INICIAIS 
DESADAPTATIVOS 
 
 
 
Monografia apresentada a Universidade do 
Norte como requisito parcial para obtenção do 
título de Bacharel em Psicologia. 
Orientador (a): Prof. Edvania Oliveira Barbosa 
Coorientador (a): Prof. Silene Moreira de Souza 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MANAUS 
 2023 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Expresso minha profunda gratidão a Deus, que em toda minha jornada esteve comigo 
dando-me forças e sabedoria para percorrer esse caminho, proporcionando desde o início da 
graduação todos os subsídios para que eu fosse bolsista integral, facilitando minha dedicação 
exclusiva aos estudos. 
Além disso, agradeço também a minha família que sempre acreditou em mim e no meu 
potencial, oferecendo ajuda dentro das possibilidades individuais. Reconheço o valor de seu 
apoio, especialmente nos momentos em que a minha própria crença em mim mesmo estava 
abalada. 
Sou grato em especial a minha avó, Conceição, que foi meu pilar para trilhar esse 
caminho, obrigado por ser minha rede de apoio e me permitir não me preocupar com nada que 
não fosse a psicologia, seu amor manifestado em forma de atos de serviço foi imprescindível. 
Agradeço também a minha mãe, Dyanna Dark, que me inspirou a lutar por minhas 
próprias conquistas; suas escolhas profissionais me incentivaram a entender que nunca será 
tarde para (re}começar um sonho. Também dedico esse reconhecimento ao meu pai, Reigre, 
que desde a minha infância me incentivou e compartilhou dos meus sonhos. Onde quer que 
esteja, sei que ele está orgulhoso de mim; este é por você. 
Agradeço igualmente aos meus amigos que sempre foram suporte para os dias maus, 
sempre ouvindo-me, consolando-me e oferecendo suporte financeiro e emocional. Vocês fazem 
parte disso. Obrigado por entenderem a minha ausência durante os dias tempestuosos. 
Gostaria expressar minha profunda gratidão à minha dedicada parceira e dupla 
acadêmica, Rayandra Mafra, que me proporcionou apoio constante, contribuindo para tornar 
meus dias mais vibrantes. Minha jornada acadêmica não teria sido tão gratificante sem a 
presença e o suporte incansável dela ao longo destes cinco anos. 
Agradeço a minha orientadora Edvania Barbosa por todas as supervisões, orientações e 
conselhos destinados a mim, obrigado pela paciência de ensinar de forma mansa e tranquila, 
assim como por depositar em mim a confiança de realizar um bom trabalho. Seu bom humor, 
simplicidade, carisma e disposição fizeram esse fim de jornada ser repleto de risadas e bons 
momentos. A docência te escolheu, porque ser educador é antes de tudo gostar de pessoas, 
gostar de histórias e poder disseminar conhecimento em suas diversas maneiras, contextos e 
oportunidades. Tua atuação transcendeu a sala de aula e envolveu acima de tudo personificar a 
própria narrativa, sendo vitrine da própria história, que mesmo não contada, foi lida. E eu te li, 
 
 
li em cada supervisão e aula ministrada, cada ajuste e conselho oferecido; e tudo isso me deram 
gás para seguir com animação e euforia a profissão que escolhi, mantendo o olhar ético, 
empático e principalmente humano. Espero que eu seja possibilidade para outras pessoas assim 
como você foi para mim. 
 Estendo meus agradecimentos a todos os meus professores, cujas contribuições, tanto 
diretas quanto indiretas, desempenharam um papel fundamental em minha formação. É graças 
a eles que desenvolvi uma paixão duradoura pela psicologia. Agradeço a cada um por seu papel 
crucial em minha jornada acadêmica e profissional. 
Manifesto minha sincera gratidão ao profissional de psicologia, Wendell Scott, que 
desempenhou um papel fundamental em minha jornada, sendo não apenas um terapeuta, mas 
também um refúgio de conforto, afeto e compreensão. Chegar até aqui vivo talvez não fosse 
possível sem você. Agradeço por sua habilidade em ouvir e por enxergar em mim aspectos que 
muitas vezes não reconheci durante esses anos. 
E por fim, expresso minha apreciação a mim mesmo, que mantive a perseverança e a 
resiliência que cresceram ao longo desses anos de desafios. Não foi uma tarefa fácil manter -me 
firme diante de tantos momentos em que a tentativa de desistir era forte. Agradeço a minha 
própria determinação por não ceder diante das adversidades e persistir, mesmo quando meus 
pensamentos insistiram em apontar para a opção de abandonar. 
Agradeço a todos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O princípio grandioso e determinante, 
para o qual converge diretamente cada 
argumento 
exposto nestas páginas, consiste na 
importância absoluta e essencial do 
desenvolvimento humano em sua mais rica 
diversidade. 
 
Wilhelm Von Humboldt 
 
 
RESUMO 
 
A família, desde a sua formação até a contemporaneidade, desempenha papel crucial na 
formação da personalidade. A psicologia, notadamente a Terapia do Esquema (TE), explora os 
Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs), padrões disfuncionais e cognitivos originados na 
infância, sendo identificado dezoito tipos na literatura. Estudos recentes correlacionam estilos 
parentais (EP) ao desenvolvimento de EIDs, gerando questionamentos sobre as demandas nas 
relações familiares que propiciam a formação desses padrões disfuncionais. Desta forma, o 
objetivo principal da monografia foi explorar como as relações familiares predizem a ativação 
de EIDs, enquanto os objetivos específicos incluíram a investigação da relação entre 
configurações familiares e EIDs, a diferenciação de tipos de família e estilos parentais, além de 
demonstrar a causalidade entre esses elementos, com ênfase nas consequências na vida adulta. 
A metodologia utilizada compreendeu uma abordagem qualitativa e de caráter exploratório, 
sendo utilizado procedimentos técnicos de investigação de uma pesquisa bibliográfica. Em 
síntese, os dados da pesquisa preencheram lacunas na compreensão da relação entre família e 
EIDs, contribuindo para discussões e um entendimento mais aprofundado dessa relação. Por 
fim, constata-se, mediante a análise da literatura, que as relações familiares exercem uma 
influência significativa na configuração dos EIDs. Tais EIDs, por sua vez, acarretam 
implicações relevantes na vida adulta, manifestando-se por meio de psicopatologias, 
comportamentos disfuncionais e problemas emocionais. Este achado ressalta a correlação 
intrínseca entre as relações familiares, a formação de EIDs e as consequências posteriormente 
observadas na saúde mental e emocional na fase adulta. 
 
Palavras chaves: Família; Terapia do Esquema; Esquemas Iniciais Desadaptativos; Estilos 
Parentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The household, from the beginning to contemporaneity, plays a crucial role in the formation of 
personality. Psychology, specifically Schema Therapy (ST), explores Early Maladaptive 
Schemas (EMS), dysfunctional and cognitive patterns that originate in childhood, of which 
eighteen types were identified in the literature. Recent studies correlate parenting styles with 
the development of EMS, raising questions about the demands on family relationships that lead 
to the formation of these dysfunctional patterns. In this way, the main objective of the 
monograph was to describe how family relationships predict the activation of EMS, while the 
specific objectives included the investigation of the relationship between family configurations 
and EMS, the differentiation of family types and parenting styles, as well as demonstrating the 
causality betweenthese elements, with emphasis on the consequences in adult life. The 
methodology used comprised qualitative and exploratory-descriptive approach, using technical 
investigation procedures from a bibliographical research. In summary, the research data filled 
gaps in the understanding of relationship between family and EMS. Finally, it was found, 
through the literature analysis, that family relationships exert significant influence on the 
configuration of EMS. These EMS, in turn, had relevant implications in adult life, manifesting 
themselves through psychopathologies, dysfunctional behaviors and emotional damages. This 
results highlights the intrinsic correlation between family relationship of EMS and the outcome 
subsequently seen on cerebral and heart health in adulthood. 
 
Keywords: Family; Schema Therapy; Early Maladaptive Schema; Parenting Styles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Perspectiva ecológica do desenvolvimento humano 25 
Figura 2 – Configuração dos estilos parentais 30 
Figura 3 – Gráfico de levantamento de dados dos artigos coletados 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Configurações familiares reconhecidas no Brasil 16 
Quadro 2 - Domínios e seus respectivos EIDs 21 
Quadro 3 - A influência familiar no desenvolvimento humano: teorias e impactos 26 
Quadro 4 - Caraterização de alguns estudos sobre EIDs e sua relação com TUS 35 
Quadro 5 - Caraterização de alguns estudos sobre EIDs e sua relação com depressão 37 
Quadro 6 - Caraterização de alguns estudos sobre EIDs e sua relação com conflitos 
conjugais 39
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
CF. Constituição Federal 
DO. Domínios esquemáticos 
DSM. Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos Mentais 
EID. Esquema Inicial Desadaptativo 
EIDs. Esquemas Iniciais Desadaptativos 
EP. Estilos Parentais 
MBDH. Modelo Bioecológico do Desenvolvimento Humano 
TCC. Terapia Cognitivo Comportamental 
TE. Terapia do Esquema 
TO. Teoria do Apego 
TUS. Transtorno por Uso de Substância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 11 
2. AS RELAÇÕES FAMILIARES E ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS.... 13 
 2.1.Conceituação de família................................................................................................. 14 
 2.2.A disposição familiar brasileira ..................................................................................... 15 
 2.3.Pressupostos teóricos da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) ........................... 17 
 2.4.Aspectos históricos e contextuais. ................................................................................. 17 
 2.5.Terapia do esquema: origens e conceitos. ..................................................................... 19 
 2.6.Esquemas Iniciais desadaptativos .................................................................................. 20 
3. DIFERENTES CONFIGURAÇÕES FAMILIARES E A PRESENÇA DE 
ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS .................................................................... 22 
 3.1.Família Nuclear.............................................................................................................. 22 
 3.2.Família Monoparental .................................................................................................... 23 
 3.3.Família Reconstituída .................................................................................................... 23 
 3.4.Aspectos filogenéticos e ontogenéticos no desenvolvimento de EIDs .......................... 24 
4. A DIFERENÇA ENTRE ESTILOS PARENTAIS E DIVERSOS TIPOS DE 
FAMÍLIA.................................................................................................................................28 
 4.1.Estilos parentais ............................................................................................................. 28 
 4.2.Modelo clínico de estilos parentais de Jeffrey Young ................................................... 31 
 4.3.A família de origem de cada domínio esquemático....................................................... 32 
5. AS CONSEQUÊNCIAS DOS ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS EM 
ADULTOS ............................................................................................................................... 34 
 5.1.Transtorno por Uso de Substância (TUS) ...................................................................... 34 
 5.2.Transtornos Depressivos ................................................................................................ 36 
 5.3.Conflito conjugal ........................................................................................................... 37 
 5.4.Outros transtornos e disfuncionalidades ........................................................................ 39 
6. METODOLOGIA .............................................................................................................. 40 
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 42 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 46 
9. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 48 
 
 
11 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho de conclusão do curso de psicologia, da Universidade do Norte, teve 
como foco principal descrever, explorar e correlacionar a família e sua influência na ativação 
de Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs). 
A família existe desde a antiguidade, passando por várias mudanças e reformulações até 
a contemporaneidade, advindas das alterações na cultura, valores e costumes. Sendo assim, 
observou-se que a contribuição da instituição familiar é de grande valia na formação da 
personalidade do indivíduo a partir do compartilhar de experiências cotidianas. 
Atualmente no Brasil, existem significativas formas de configurações familiares, 
abrangendo não somente à família nuclear, o modelo mais antigo de família, mas também novas 
relações que foram não somente surgindo com o tempo, mas ganhando reconhecimento de que 
também são família, como por exemplo, família recasada, extensa, homoafetiva, entre outros. 
A literatura tem mostrado a relação entre a família e todas as suas nuances e o 
surgimento de esquemas remotos. Quando se fala desse termo, é importante compreender que 
ele deriva do conceito de “esquema mental”, criado por Beck. Ele discorreu que os esquemas 
são uma forma de guia interpretativo e resolutivo de problemas que visam explicar e entender 
a realidade e as experiências na qual o sujeito vive. 
O “esquema remoto” ou “Esquema Inicial Desadaptativo” - EID foi teorizado por 
Jeffrey Young, postulador da Terapia do Esquema (TE), sendo uma vertente teórica que amplia 
os tratamentos e conceitos de Aaron Beck, criador da Terapia Cognitivo Comportamental 
(TCC). Na TE, é argumentado que durante o desenvolvimento, é fundamental satisfazer as 
necessidades emocionais fundamentais de cada indivíduo, especialmente durante a infância. A 
falta dessas necessidades pode contribuir para a formação do EID. 
Os EIDs são esquemas emocionais que envolvem memórias, sensações e emoções 
disfuncionais que se originam na infância principalmente dentro do contexto familiar, a partir 
de um padrão de pensamento, cognição e percepção negativo e desadaptativo sobre si mesmo 
ou sobre a relação com outraspessoas (Young et al., 2008) 
Os esquemas iniciam-se na infância ou adolescência como retrato do ambiente da 
criança, fundamentadas na realidade. Young diz que a forma como a criança interpreta o 
ambiente que ela vive é consideravelmente preciso, se perpetuando até a vida adulta, mesmo 
que suas percepções tenham se tornado inadequadas. Esses esquemas podem ser disfuncionais 
e as estratégias desadaptadas para enfrenta-los frequentemente estão associados a sintomas de 
ansiedade, depressão, uso de substâncias, entre outras psicopatologias, tendo como 
12 
 
 
 
consequência problemas nas relações conjugais, dificuldades no desempenho escolar e 
acadêmico, comportamentos erráticos e disfuncionais, entre outros. 
Young descreve os EIDs em dezoito tipos, sendo eles: Abandono; desconfiança; 
privação emocional; defectividade; isolamento social; dependência; vulnerabilidade a danos e 
doenças; self subdesenvolvido; fracasso; grandiosidade; autodisciplina insuficiente; 
subjugação; autosacrifício; busca de aprovação; negativismo; inibição emocional; crítica 
exagerada e caráter punitivo, divididos em cinco categorias de necessidades não atendidas, 
chamados de domínios de esquema (DE). 
Além disso, estudos recentes demonstraram a correlação entre “Estilos Parentais” (EP) 
e o desenvolvimento de EIDs, o que se remete a questionamentos relacionados às demandas 
vivenciadas nas relações familiares que predispõem o indivíduo a desenvolver tais esquemas. 
A monografia foi organizada em quatro capítulos, sendo o primeiro contextual e 
histórico discorrendo sobre família, Terapia Cognitivo Comportamental e Terapia do Esquema. 
O segundo abordou as configurações familiares, como nuclear, monoparental e 
recasada, além dos aspectos ontogenéticos e filogenéticos no desenvolvimento de EIDs. 
O terceiro diferenciou EP (autoritativo, permissivo e negligente) em tipos de famílias, 
destacando características específicas descritas pelos estilos parentais de Young. 
O último capítulo discutiu quais foram as implicações dos EIDs em adultos, retratando 
sobre transtornos mentais, padrões de comportamento disfuncionais e erráticos. 
Visando abordar a problemática sobre quais as consequências do desenvolvimento de 
EIDs em adultos e o papel da família nesse processo, este trabalho justificou-se pela relevante 
influência da família, pois, apesar de importante e frequentemente mencionada, a relação entre 
família e esquemas têm sido insuficientemente pesquisadas e aplicadas. Ademais, compreender 
o que a literatura descreve a respeito deste tema contribuirá para futuras discussões de 
intervenções na prática psicológica. 
Nesse sentido, o objetivo geral desta pesquisa foi de explorar e descrever como as 
relações familiares influenciavam na ativação de EIDs e em destaque, demonstrando por meio 
de estudos transversais a relação causal entre estes dois objetos de estudo, verificando se há 
consequências entre indivíduos adultos. 
A metodologia utilizada compreendeu uma abordagem qualitativa e de caráter 
exploratório e descritivo, a partir de uma revisão bibliográfica, apresentando uma visão geral 
sobre conceitos e modelos teóricos selecionados sobre a família e as relações desta com os EIDs 
e o que a literatura tem discutido sobre isso. 
13 
 
 
 
2. AS RELAÇÕES FAMILIARES E ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS 
 
O conceito de família iniciou-se depois do seu surgimento, passando por muitas 
transformações, tanto em sua estrutura interna, com mudanças na composição e nas relações 
entre seus membros, quanto nas normas sociais externas que a cercavam (Oliveira, 2009). 
Em outros tempos, a família era conectada por afinidades de interesse próprio, onde 
cada integrante preocupava-se apenas com si mesmo, seu status e qual proveito poderia retirar 
daquelas pessoas que estavam infortunadamente ligados a laços sanguíneos. As relações entre 
os integrantes consanguíneos eram apenas de honra, patrimônio, status e autopreservação 
(Ariès, 2014). 
 Conforme descrito por Ariès (2014), as crianças desempenhavam papéis ativos na 
sociedade, algumas com poder e influência, enquanto outras, menos favorecidas, eram 
consideradas força de trabalho para a subsistência familiar, frequentemente com direitos 
negados. Muitas eram enviadas para aprender em outras residências, denominadas 
"aprendizes". Naquela circunstância, não existia uma demarcação nítida entre o âmbito pessoal 
e a vida cívica, sendo todas as atividades executadas de modo público para fortalecer os 
privilégios da família. 
Nesse contexto, as fronteiras entre família e sociedade eram altamente interconectadas, 
existindo apenas na realidade moral e social mais do que sentimental, onde os laços afetivos 
eram pouco valorizados (Ariès, 2014). O autor supracitado, relata que: 
 
Os progressos do sentimento da família seguem os progressos da vida privada e da 
intimidade doméstica. O sentimento da família não se desenvolve quando a casa está 
muito aberta para o exterior: ele exige um mínimo de segredo. Por muito tempo, as 
condições da vida quotidiana não permitiram esse entrincheiramento necessário da 
família, longe do mundo exterior. Um dos obstáculos essenciais foi sem dúvida o 
afastamento das crianças, enviadas para outras casas como aprendizes, e sua 
substituição em sua própria casa por crianças estranhas. 
A história aqui esboçada, sob um certo ponto de vista, surge como a história da 
emersão da família moderna acima de outras formas de relações humanas que 
prejudicavam seu desenvolvimento. Quanto mais o homem vive na rua ou no meio de 
comunidades de trabalho, de festas, de orações, mais essas comunidades 
monopolizam não apenas seu tempo, mas também seu espírito, e menor é o lugar da 
família em sua sensibilidade (Ariès, 2014, p.232) 
 
Conforme Ariès (2014), quando o estado se enfraquece, a família assume a posição de 
principal fuga para indivíduos. No entanto, à medida que as instituições políticas passam a 
oferecer proteção adequada, a dependência das pessoas em relação à família diminui, e os 
vínculos de consanguinidade perdem relevância. A trajetória das famílias é caracterizada por 
14 
 
 
 
períodos de transformação, que podem tanto fortalecer os laços familiares quanto separá-los. A 
transformação do conceito da estrutura familiar medieval para a organização familiar do século 
XVII e para o conceito de família contemporânea foi, por muito tempo, restrita aos indivíduos 
de origem nobre e da burguesia. Com a introdução da educação formal, da privacidade e a 
valorização da convivência entre pais e filhos, promovida por instituições, especialmente a 
Igreja, corroborou para o estabelecimento da família nucelar e a vida familiar expandiu-se, 
abrangendo toda a sociedade. 
Com o passar do tempo, a família foi sofrendo transformações e mudanças, readaptando 
os laços que antes eram fragilizados para relações preditadas por afetos e sentimentos e não 
apenas por consanguinidade. Ao decorrer do tempo, as configurações familiares foram sendo 
reconhecidas pela sociedade (Teruya, 2000). 
Em vista de todo o contexto do surgimento familiar supradito, chegou-se à conclusão 
de que a família burguesa e medieval tiveram uma relação mais de honrar o nome e os interesses 
envolvidos do que por laços afetivos, vale ressaltar que as famílias pobres apesar de terem outra 
configuração, ainda sim possuíam uma relação restrita entre os pares, sendo afetadas pelo meio 
social e pela época vigente. 
Por fim, o modelo de família nuclear surge desse momento histórico citado acima, sendo 
a mesma constituída por homem, mulher e filhos. Esse formato de família, perpetuou-se como 
a única possível durante muito tempo e até nos dias atuais essa configuração perdurou e teve 
predominância sobre as outras formas de família que surgiram ao longo do tempo, mesmo sendo 
reconhecidas pela sociedade (Oliveira, 2009). 
 
2.1. Conceituação de família 
 
O conceito defamília é abrangente e diversificado, com vários estudos se dedicando a 
explorar esse tema. Cada pesquisa aborda a família a partir de uma perspectiva particular, 
podendo definir a família com base em fatores socioeconômicos, religiosos, culturais, étnicos 
e outros. Em diferentes momentos históricos e contextos, a família é moldada e demonstra 
flexibilidade. Devido a essa constante evolução, semelhante à sociedade em que está inserida, 
é difícil estabelecer uma única definição de família, uma vez que essa concepção está 
intrinsecamente ligada ao ambiente em que a família se encontra. 
Porreca (2004, p.13 apud Oliveira, 2009, p.26) discorre sobre o conceito de família 
enquanto contexto sociobiológico: 
15 
 
 
 
 
A família, enquanto unidade de reprodução social e biológica, constitui-se também 
como unidade de cooperação econômica e de consumo coletivo de bens materiais e 
simbólicos. As possibilidades de consumo estão relacionadas à heterogeneidade dos 
atributos sociais de seus integrantes, como idade, grau de escolaridade, ocupação, 
forma de inserção no mercado de trabalho, e repertório cultural, que, conjuntamente, 
conferem a cada um deles possibilidades diferenciadas de auferirem determinado 
rendimento. 
 
Conforme abordado por Bessa (2018), a influência da família desempenha uma função 
crucial na existência de um indivíduo, uma vez que é nesse contexto que ele experimenta seus 
momentos mais marcantes, quer sejam positivos ou negativos. Muitos dos questionamentos 
contemporâneos estão intrinsecamente ligados à influência da família na formação do 
indivíduo. A definição da família é complexa, dada a carga de valores psicológicos, jurídicos e 
sociais associados a essa instituição. Portanto, é crucial abordar com cuidado a delimitação 
teórica desse conceito. 
Para Gagliano e Filho (2023), a família é o principal impulsionador das maiores alegrias 
e, ao mesmo tempo, é nela que se enfrenta as maiores tristezas, decepções, traumas e medos. 
Para os autores, muitos dos desafios hodiernos têm origem no passado, especialmente na 
criação familiar, o que influencia também nos relacionamentos futuros, estando profundamente 
ligados à família e a dependência dela em diversos aspectos. 
 
2.2. A disposição familiar brasileira 
 
Os estudos que se debruçaram a entender as famílias brasileiras, estão relacionados a 
dois pilares conceituais específicos: o primeiro que se iniciou a partir do surgimento da família 
patriarcal, representando a configuração historicamente mais antiga do Brasil e a outra, a 
contraposição desse modelo antigo (Teruya, 2000). 
O primeiro modelo de família brasileira, esteve sob o comando de homens, com papéis 
de gêneros e parentalidade bem divididos, em vista do poder masculino. Nesse modelo, o 
homem controla todas as decisões sociais, econômicas e morais, relacionadas ao resto dos 
integrantes da família, podendo se estender para agregados, escravos e parentes. Dessa forma, 
percebe-se o favorecimento do homem como autoridade suprema e a subjugação da mulher e 
do restante dos pares. Esse modelo perdura até os dias atuais (Verza; Sattler; Strey, 2015). 
O segundo modelo representava a revisão da configuração patriarcal, com algumas 
mudanças, tendo em vista que no Brasil, existiram outras formas de organização familiar, 
16 
 
 
 
refletindo a necessidade de sobrevivência dentro de um país estratificado socialmente (Verza; 
Sattler; Strey, 2015). 
Levou-se um tempo para que o estado reconhecesse essas outras organizações como 
família. Dito isso, a Constituição Federal Brasileira (CF, 1988, p.131), discorreu sobre o 
entendimento de família e os seus direitos. No Artigo 226, regido pelo inciso 1º diz que “A 
família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. Todavia, o modelo de família 
que tem total proteção do estado é a formada por duas pessoas de gêneros opostas, que 
consensualmente decidiram se unir perante a lei, sendo essa forma a única de ser reconhecida 
pela lei maior, desse modo, as famílias que foram surgindo após a constituição, não estão 
presentes dentro da carta magna. 
No Quadro 1 estão alguns modelos de família que foram surgindo na atualidade, que 
não estão na CF, mas que são devidamente reconhecidos pela jurisprudência e doutrinadores 
do ornamento jurídico brasileiro (Silva; Bolze, 2016). 
 
Quadro 1: Configurações familiares reconhecidas no Brasil 
Modelos de família Conceito 
Família Nuclear Composta por pai, mãe e filhos 
Família Informal: Formada pela união estável 
Família Monoparental Formado por um dos pais com seu filho (ex: mãe solteira e seu filho) 
Família Anaparental Ausência dos pais, compostas unicamente pelos irmãos 
Família Homoafetiva Composta por pares do mesmo gênero 
Família matrimonial Decorrente do casamento 
Família Reconstituída Formada por pessoas que já tiveram outras famílias (ex: pais separados que 
casam novamente e constituem outra família) 
Família Unipessoal Formada por uma única pessoa (ex: viúva) 
Fonte: Próprio (2023) 
 
Por fim, a família e seu funcionamento sofreu bastante mudanças e adequações durante 
sua formação. Atualmente, há múltiplas perspectivas para compreender o que constitui uma 
família e seu impacto na vida de cada indivíduo. 
Nesse cenário, destaca-se a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) como uma 
abordagem de relevância para a compreensão do comportamento humano, investigando as 
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crenças de cada indivíduo arraigadas desde a infância, muitas vezes, originados no contexto 
familiar e que perduram durante todo o seu desenvolvimento. Logo, a análise da TCC é crucial 
para uma compreensão mais aprofundada desses aspectos (Beck, 2014). 
 
2.3. Pressupostos teóricos da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) 
 
A terapia cognitiva comportamental baseia-se na abordagem multidisciplinar 
biopsicossocial, que compreende o ser humano de forma biológica, psicológica e social em um 
aspecto indissociável, para entender fatos e acontecimentos da psicologia humana, focando nas 
questões cognitivas dos transtornos psicológicos (Bahls; Navolar, 2004). 
Segundo Beck (2007), os sentimentos e comportamentos dos indivíduos são motivados 
pela assimilação da eventualidade, conforme a terapia cognitiva, que é embasada pelos padrões 
cognitivos. Em conformidade com a TCC, o sujeito responsabiliza os eventos, pessoas, 
emoções e vários outros aspectos da própria vida e como isso o afeta, internalizando e agindo 
de maneira que a cognição, que é a forma como elabora-se os pensamentos fomentam múltiplas 
suposições sobre o futuro e sobre si mesmo (Beck, 2014). 
A TCC é uma vertente que continua com os pressupostos da Terapia Cognitivista, 
acrescentando o fator comportamental que são as ações, como consequência para a cognição. 
Levando em conta a ação, o comportamento e como influencia nos padrões de pensamento e 
emoções dos indivíduos (Wright et al., 2019). Dessa forma, se uma dessas condições forem 
modificadas, podem-se alterar as demais. 
A TCC trabalha com alguns pressupostos relacionados aos pacientes, uma dessas 
suposições é que o paciente ao procurar tratamento, está interessado em diminuir os sintomas, 
a desenvolver aptidões, a solucionar os obstáculos recentes e, assim sendo, com um pequeno 
incentivo e um reforço positivo, realize as técnicas fundamentais para o tratamento. Outra 
premissa é que com um pouco de prática se possa acessar e relatar as cognições e emoções para 
o terapeuta. Por fim, a TCC pressupõe que o paciente tenha uma dificuldade facilmente 
identificável (Young et al., 2008). 
 
2.4. Aspectos históricos e contextuais. 
 
A abordagem foi criada por Aaron Beck, psiquiatra e professor, na década de 1960, nos 
Estados Unidos. Ele usava a psicanálise como forma de trabalho com seus pacientes 
18 
 
 
 
depressivos, todavia, ao longo de suas pesquisas tentou comprovar empiricamente a eficácia da 
teoria criada por Freud, querelatava sobre a hostilidade voltada para si, do paciente depressivo, 
sendo o pilar do sofrimento (Leahy, 2004). A partir disso, Beck começou a desenvolver uma 
nova teoria experimental da depressão. 
O psiquiatra observou que os conteúdos dos sonhos dos pacientes se assemelham aos 
seus pensamentos quando estavam acordados, como autocríticas, pensamentos negativos e 
pessimistas. A partir desses estudos, Beck desenvolveu um instrumento para medir a gravidade 
dos sintomas depressivos (Beck et a1., 1961 apud Leahy, 2004), chamado de inventário de 
Beck, sendo amplamente utilizado até os dias atuais para mensurar os sintomas depressivos. O 
inventário de Beck verifica não somente as mudanças de humor, mas também processos 
psicológicos básicos, como motivação, questões físicas e cognitivas (Leahy, 2004; Anunciação; 
Caregnato; Silva, 2019). 
Por conseguinte, os estudos da TCC começaram a tomar forma, baseado no tratamento 
e análise de pacientes depressivos, com o surgimento de conceitos como “distorções 
cognitivas”, “pensamentos automáticos” e a relação da cognição com a emoção (Leahy, 2004). 
Hodierno a isso, outros autores também começaram a discorrer sobre a TCC e outras formas de 
terapia cognitivo comportamental foram surgindo, como relata Beck (2007, p.17). 
 
Diversas formas de terapia cognitivo-comportamental foram desenvolvidas por outros 
teóricos importantes, notadamente a terapia racional-emotiva de Albert Ellis (Ellis, 
1962), a modificação cognitivo-comportamental de Donald Meichenbaum 
(Meichenbaum, 1977) e a terapia multimodal de Arnold Lazarus (Lazarus, 1976). 
Contribuições importantes foram feitas por muitos outros, incluindo Michael 
Mahoney (1991), Vittorio Guidano e Giovanni Liotti (1983). Panoramas históricos da 
área fornecem uma rica descrição de como as diferentes correntes da terapia cognitiva 
se originaram e cresceram [...]. 
 
Jeffrey Young, terapeuta cognitivo comportamental, deu continuidade para os estudos 
de Aaron Beck, seu professor e orientador. A parceria entre eles impulsionou o crescimento da 
teoria inicial da TCC para o desenvolvimento da teoria do esquema (Callegaro, 2005). 
A terapia do esquema é uma abordagem terapêutica derivada da TCC, que se concentra 
na identificação e modificação dos esquemas mentais postulados por Beck, porém, trazendo 
suas próprias contribuições e intervenções para a temática, corroborando para acréscimos no 
conceito de “esquemas mentais” mencionado anteriormente. 
 A TE debate de forma direta sobre a repercussão que a família tem na formação dos 
esquemas de cada indivíduo, levantando discussões acerca do histórico familiar, interações 
19 
 
 
 
sociais na família e as experiências que a família vivencia e proporciona para os indivíduos 
contribuindo no desenvolvimento saudável de cada membro (Young et al., 2008). 
 
2.5. Terapia do esquema: origens e conceitos. 
 
Segundo Dobson e Dobson (2011), existem diferentes palavras para descrever os 
padrões de pensamento que já se enraizaram no indivíduo, abordados na terapia cognitivo-
comportamental, como “atitudes, valores, hipóteses, crenças e esquemas”. 
 
As atitudes e os valores são em geral conceituados como opiniões que há muito 
existem sobre um tópico, objeto ou pessoa; elas geralmente envolvem alguma 
valência emocional […] 
As hipóteses (ou pressupostos), ao contrário, são em geral ideias que há muito existem 
sobre as relações entre vários conceitos ou pessoas. Podemos presumir, por exemplo, 
que as “pessoas más” serão de alguma forma punidas, que as pessoas que trabalham 
duro progredirão em sua carreira [...] 
As crenças e os esquemas são noções relativamente permanentes sobre os objetos, 
pessoas ou conceitos, e as relações entre eles. Da mesma forma que os conceitos 
anteriores, elas se formam como um resultado de um conjunto complexo de processos 
de desenvolvimento [...] (Dobson D; Dobson K, 2011, p.127). 
 
Os esquemas também podem possuir outros nomes que apresentam conceitos 
semelhantes, como afirmam os autores acima. Para a TE, abordagem criada por Jeffrey Young, 
um esquema é uma teia emparelhada e entrelaçada de crenças que são capazes de tornar -se 
ativadas, ou não, em concordância com experiências de vida traumáticas ou estressoras (Beck 
1982/1979 apud Callegaro, 2005). 
As crenças e os esquemas são conceitos duradouros sobre pessoas, coisas ou ideias e as 
relações entre eles. Diversos fatores, como influências do ambiente que englobam pais, família, 
amigos, mídia, música e educação, entre outros, contribuem para a formação dos esquemas em 
desenvolvimento de uma criança. Conforme a criança vai crescendo, suas vivências pessoais 
também geram ideias e suas ações, por sua vez, fortalecem, desafiam ou modificam essas ideias, 
moldando gradualmente a natureza desses esquemas ao longo do tempo (Young et al., 2008). 
Young et al. (2008, p.24), propõe que os esquemas surgem de necessidades emocionais 
não atendidas na infância. Ele apresenta cinco imprescindíveis necessidades que todo indivíduo 
deve ter em sua vida: 
 
1. Vínculos seguros com outros indivíduos (inclui segurança, estabilidade, cuidado e 
aceitação). 
2. Autonomia, competência e sentido de identidade. 
3. Liberdade de expressão, Necessidades e emoções válidas. 
20 
 
 
 
4. Espontaneidade e lazer. 
5. Limites realistas e autocontrole. 
 
O teórico acredita que todas as pessoas possuem essas necessidades e que são coletivas 
a todos, apesar de alguns sujeitos apresentarem essa condição mais forte que outros. Uma 
pessoa mentalmente saudável é aquela que é capaz de ajustar-se às necessidades emocionais 
básicas. Os esquemas mais antigos e desenvolvidos geralmente se originam da base familiar. A 
dinâmica familiar de uma criança é basicamente a mesma que a dinâmica de todo o mundo fora 
do contexto familiar (Young et al., 2008). 
Baseado nos conceitos vigentes de esquemas da TCC, Young et al. (2008) formulou a 
terapia do esquema, surgindo como uma intersecção da abordagem já existente, de Aaron Beck, 
que em sua atuação clínica, percebeu que pacientes com problemas caracterológicos não 
correspondiam de forma eficaz aos tratamentos da TCC. Dessa forma, Young desenvolveu uma 
teoria para abordar transtornos de personalidade. O objetivo da terapia do esquema é auxiliar 
os pacientes a encontrar soluções adaptativas para suas necessidades emocionais essenciais, 
sendo as vivências adversas a causa principal de esquemas desadaptativos. 
 
2.6. Esquemas Iniciais desadaptativos 
 
Um conceito relevante para entender-se como se originam os EIDs, é a noção de 
esquemas já falados anteriormente, que muitas vezes são moldados durante a infância, podendo 
se tornar mais complexos e se sobreporem às experiências futuras, mesmo quando são 
disfuncionais ou inúteis. Isso é chamado, em alguns casos, de "necessidade cognitiva" - a 
tendência de enxergar e agir comportamentalmente de forma estável acerca de si mesmo e do 
mundo, mesmo que essa visão seja imprecisa ou traga sofrimentos para o indivíduo. De acordo 
com essa definição abrangente, os esquemas podem ser positivos, adaptativos, negativos ou 
desadaptativos (Young et al., 2008). 
Os EIDs, de acordo com Jeffrey Young, são padrões de pensamento disfuncionais e 
crenças negativas profundamente enraizadas que se desenvolvem durante a infância e 
continuam a influenciar o comportamento e a cognição ao longo da vida. Esses esquemas são 
gerados a partir de vivências disfuncionais no contexto familiar exercendo influência sobre o 
surgimento de problemas emocionais e comportamentais (Young et al., 2008). 
É importante ressaltar que há pesquisas que contemplam as questões abordadas, uma 
vez que cada situação analisada decorre em uma definição ou resposta diferente. Decerto, para 
21 
 
 
 
elucidar o que se expõe satisfatoriamente, recorre-se ao que o Young et al. (2008) organizou, 
visto que o autor pensou em um modelo com dezoito esquemasagrupados em cinco domínios 
esquemáticos (DE), abrangentes de necessidades não supridas, como mostra-se no quadro 2: 
 
Quadro 2 – Domínios e seus respectivos EIDs 
Domínios de Esquemas Esquemas Iniciais Desadaptativos 
Desconexão e Rejeição 1. Abandono instabilidade 
2. Desconfiança/Abuso 
3. Privação Emocional 
4. Defectividade/Vergonha 
5. Isolamento Social/Alienação 
Autonomia e Desempenho prejudicados 6. Dependência/incompetência 
7. Vulnerabilidade ao Dano e Doença 
8. Emaranhamento/Self Subdesenvolvido 
9. Fracasso 
Limites prejudicados 10. Arrogo/Grandiosidade 
11. Autocontrole/Autodisciplina Insuficientes 
Direcionamento paro o outro 12. Subjugação 
13. Autossacrifício 
14. Busca de Aprovação/Busca de Reconhecimento 
Supervigilância e inibição 15. Negativismo/Pessimismo 
16. Inibição Emocional Supervigilância e Inibicão 
17. Padrões Inflexíveis/Postura Crítica Exagerada 
18. Postura Punitiva 
Fonte: Próprio (2023). 
 
Esses esquemas estão presentes na vida de todos os adultos que tiveram suas 
necessidades ou negligenciadas ou atendidas em excesso, sendo alguns ativados com mais 
ênfase do que outros, porém todos trazem sofrimento significativo, prejuízo e mal 
funcionamento dentro das relações pessoais e na subjetividade do próprio indivíduo. 
Ao concluir este capítulo, tornou-se evidente a relevância de caracterizar os diversos 
elementos que fazem compõem a gênese da família. A análise minuciosa desses aspectos 
possibilitará uma compreensão mais abrangente das questões abordadas. 
No próximo capítulo, será aprofundado a observação da interação entre diferentes 
configurações familiares e a presença de EIDs, buscando correlacionar as possíveis relações e 
implicações existentes entre esses elementos. 
 
22 
 
 
 
3. DIFERENTES CONFIGURAÇÕES FAMILIARES E A PRESENÇA DE 
ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS 
 
A dinâmica da família é essencial na iniciação e integralização dos esquemas, pois os 
cuidadores são responsáveis por suprir as necessidades básicas e proporcionar experiências aos 
indivíduos participantes da estrutura familiar. A influência dos cuidados maternos e paternos 
nos primeiros anos de vida é considerada um ponto extremamente importante. De acordo com 
Wainer et al. (2016), os cuidadores desempenham um papel crucial no desenvolvimento da 
capacidade de lidar com as questões da vida e alcançar bons níveis de resiliência. Prover afeto, 
assegurar estabilidade emocional e desenvolver habilidades de regulação emocional nas 
crianças têm um impacto notável em suas vidas, influenciando positivamente em sua 
estabilidade emocional. Essas ações dos pais e cuidadores proporcionam uma base segura que 
acompanha as crianças ao longo de toda a vida. 
Dito isso, se faz relevante o estudo de algumas configurações familiares vista no 
capítulo 1, sendo apresentados nos tópicos a seguir. 
 
3.1. Família Nuclear 
 
A família nuclear ou também chamada de família tradicional, é o modelo descrito na CF 
(1988, Art. 266, § 3º, p. 132), que define família como “[...] a união estável entre homem e a 
mulher como entidade familiar”, ou seja, família composta por um casal heterossexual que 
consensualmente possuem relação conjugal e tem filhos legítimos. 
Nessa configuração familiar, por ser a mais antiga, possuía uma configuração patriarcal, 
sendo o pai o responsável exclusivamente pelo sustento da família, enquanto a mãe provia os 
cuidados domésticos e da prole. Esse arranjo familiar é mantido até os dias atuais em muitos 
contextos, todavia, com a pós modernidade, esse modelo vem sendo cada vez menos presente 
no contexto brasileiro, dando abertura para o surgimento e reconhecimento de outros tipos de 
família (Dufner, 2023). 
Apesar de ambos os pais estarem presentes dentro dessa tipologia familiar, para Silva e 
Bolze (2016), isso não exime a criança de problemas, levando em consideração que existem 
conflitos conjugais que podem prejudicar o desenvolvimento infantil, à exemplo disso, a 
comunicação para o estabelecimento de funções coparentais. 
 
23 
 
 
 
3.2. Família Monoparental 
 
Esse modelo, caracterizado pela responsabilidade de um dos pais pelos cuidados do 
filho, assume essa configuração por diversas razões, como separação, divórcio, adoção, 
abandono de algum dos responsáveis ou morte do parceiro. Esse funcionamento pode ser 
experimentado em diferentes circunstâncias familiares. À vista disso, torna-se frequente que a 
monoparentalidade seja praticada por mães solteiras (Verza; Sattler; Strey, 2015). 
De acordo com Melo e Marin (2016), o desafio de equilibrar o sustento do lar com o 
atendimento das necessidades socioemocionais da criança é enfrentado pelos integrantes dessa 
estrutura familiar, podendo acarretar uma restrição na participação do responsável na esfera 
social e sentimental da criança. Deste modo, o resultado de um estudo feito por Cifuntes e 
Milicic (2012 apud Melo; Marin, 2016) apontou que o rompimento dos pais pode resultar em 
crise para o meninil, influenciando no seu desenvolvimento emocional, socioafetivo, 
favorecendo alterações de humor que podem ser notadas no contexto educacional e escolar. 
Isso, por sua vez, pode manifestar-se no ambiente educacional com dificuldades de adaptação 
e empobrecimento das relações sociais. 
 
3.3. Família Reconstituída 
 
É quando um dos pares da relação conjugal já foi casado anteriormente e tem filhos de 
um relacionamento anterior. O nome “reconstituído” deriva do agrupamento de diferentes 
pessoas de origens distintas para a formação de uma nova configuração familiar, sendo 
composto por filhos biológicos ou adotivos do relacionamento anterior. Comumente se 
encontra padrasto ou madrasta exercendo papéis parentais em relação ao filho do parceiro ou 
parceira (Delatorre et al., 2022). 
A família recasada apresentam alguns impasses relacionados a adaptação dos membros 
participantes da relação familiar, principalmente crianças em idade escolar e adolescentes. 
Conforme Leme et al. (2014) citado por Silva e Bolze (2016), crianças de famílias recasadas 
mostraram questões no comportamento, como muita agitação, dificuldades nas habilidades 
sociais, como agir de forma cooperativa e dificuldades no autocontrole. Isso justifica-se devido 
a dificuldade de aceitação do novo relacionamento. 
É compreendido que, embora essas configurações sejam importantes para a abordagem 
de diversos aspectos do desenvolvimento humano, ainda há lacunas a serem preenchidas. 
24 
 
 
 
 
3.4. Aspectos filogenéticos e ontogenéticos no desenvolvimento de EIDs 
 
A literatura atual ainda carece de estudos que correlacionem as tipologias familiares 
com o surgimento de EIDs, todavia, os estudos mostram significativo aporte teórico para 
discussão das consequências positivas e negativas no desenvolvimento infantil. Dessa forma, 
faz-se importante a abordagem categórica de teorias que estão ligadas a esse desenvolvimento, 
visto que, conhecê-las corrobora para a compreensão do que é adaptativo, disfuncional, 
desadaptativo e funcional dentro do desenvolvimento e da configuração familiar, sendo 
envolvidas variáveis como contexto cultural, social, familiar, interacional, processo e cognição. 
A família e todas as suas nuances são relevante para o desenvolvimento socioemocional 
da criança, sendo responsável pelos esquemas adaptativos ou desadaptativos que a mesma possa 
vir a ter. Pode-se destacar a influência das emoções sobre as relações interpessoais, as quais, 
quando desencadeadas por determinadas ações no núcleo familiar, podem acarretar distúrbios 
emocionais que dificultam e distorcem o processo cognitivo, (Camargo, 2002 apud Souza et 
al., 2020). É compreendido que tais emoções têm a capacidade de provocar comportamentos 
benéficos ou prejudiciais ao rendimento de cada indivíduo. 
Nesse contexto, existem muitas bases teóricas que explicam o desenvolvimento 
saudável infantil, isto posto, um desses éo modelo bioecológico do desenvolvimento humano 
(MBDH), que discorre sobre o entendimento do ser humano enquanto sujeito influenciado e 
influenciador das interações sociais, ocorrendo mudanças mútua neste indivíduo. No MBDH, 
as influências que o indivíduo sofre são divididas em quatro categorias: Processo; pessoa; 
contexto e tempo. Na Figura 1, pode-se observar como funciona a perspectiva do sistema 
descrito acima. 
 
25 
 
 
 
Figura 1 – Perspectiva ecológica desenvolvimento humano 
Fonte: (Stasiak, 2010 apud Souza et al., 2020 p. 387). 
 
A figura mostra os contextos que o indivíduo está inserido desde o momento que nasce, 
sendo sujeito ativo e passivo de sua própria construção identitária. Moura (2019, p.7-8) relata 
que: 
 
A família, enquanto microssistema, abrange estruturas que favorecem o contato direto 
não só com a família, mas também com os pares e a escola. Ainda que, os pares 
assumam uma grande importância na fase da adolescência, é a família o pilar central 
de mediação, que abrange todas as etapas do ciclo de vida e consequentemente, 
possibilita as primeiras ligações entre a sociedade e o indivíduo […] Desta forma, o 
indivíduo é compreendido como um ser em desenvolvimento, em múltiplos contextos, 
com influências diretas e indiretas, de cada sistema e da interação entre os mesmos ao 
longo do tempo. 
 
Dessa forma, a partir da percepção do crescimento humano como um procedimento 
intrincado que se desenrola ao longo de toda a jornada da vida, é ressaltado, em sua teoria 
bioecológica, que as distintas maneiras de interação das pessoas não resultam unicamente do 
contexto no qual se desenvolveram, mas sim do processo, que é definido como a interação entre 
o ambiente e as características da pessoa em desenvolvimento (Souza et al., 2020). 
26 
 
 
 
Diversos modelos teóricos além da MDBH exploraram a relação casual entre família e 
a influência causada no desenvolvimento da personalidade, considerando aspectos 
filogenéticos, ontogenéticos (derivados da aprendizagem), visão de mundo, desenvolvimento 
físico e cognitivo da criança quanto o seu amadurecimento emocional e afetivo ao longo de 
toda a vida. Por isso, o estudo de algumas dessas teorias fomenta a compreensão ampla da 
configuração familiar e das características em comum que provocam o desenvolvimento 
saudável ou o aparecimento de EIDs. No quadro 3, é possível observar algumas teorias: 
 
Quadro 3: A influência familiar no desenvolvimento humano: teorias e impactos. 
Teoria do Apego 
John Bowlby 
(1988) 
Fala sobre a relevância do vínculo afetivo entre a 
criança e a primeira figura de apego, enfatizando as 
experiências iniciais de apego como molde para o 
Modus Operandi interno, influenciando nas futuras 
relações interpessoais da pessoa, atuando em todos os 
relacionamentos ao longo da vida. 
Terapia Estrutural Familiar 
Salvador Minuchin et al. 
(2008) 
 
Observa a estrutura e a dinâmica familiar, as 
interações familiares, padrões de comunicação, 
estrutura hierárquica e a influência disso no 
desenvolvimento adaptativo ou disfuncional que o 
indivíduo possa vir a ter. 
Zona de desenvolvimento proximal 
Lev Vygotski 
(1991) 
Correlaciona o limiar entre a autonomia da criança em 
fazer coisas sozinhas e o que ela pode fazer com ajuda 
de um adulto, destacando principalmente a 
importância das interações sociais e culturais como 
processo imprescindível no desenvolvimento 
cognitivo. 
Estágios de desenvolvimento Cognitivo 
Jean Piaget 
(1986) 
Propõe quatro estágios cujo a finalidade descreve a 
forma como a criança constrói seu conhecimento e 
compreensão do mundo ao seu redor, evidenciando a 
interação com o ambiente físico. 
Teoria do desenvolvimento Humano 
Erik Erikson 
(1987) 
Divide o desenvolvimento humano em oito etapas que 
se abrangem até a velhice. A teoria diz que o sujeito se 
desenvolve a partir de interações com o meio em que 
vive, e que cada estágio corrobora para características 
que compõe o self do indivíduo. 
Fonte: Próprio (2023). 
 
As teorias supracitadas são algumas das bases teóricas que endossam o surgimento de 
EIDs e todo o contexto envolvendo família e sua forte influência no desenvolvimento infantil . 
Com isso, pode-se concluir que as teorias mesmo com nomes e épocas diferentes, se conectam 
e correlacionam as figuras de apego/cuidadores/pais, como fundamentais no processo de 
formação de esquemas mentais adaptativos ou não. Apesar disso, ainda existem várias variáveis 
empíricas que corroboram para o aparecimento de EIDs que não foram amplamente estudadas 
pela comunidade científica, como a origem de cada esquema baseado nas configurações dessas 
famílias, todavia, a literatura já aborda a dinâmica interacional desse grupo, como os EP. 
27 
 
 
 
Dito isso, uma pesquisa feita por Pressi e Falcke (2016) correlacionou as experiências 
na família de origem e a ativação de EIDs na vida adulta, através da aplicação de questionários 
em adultos, sendo composta 372 sujeitos homens e mulheres. O resultado da pesquisa mostrou 
que as experiências na família de origem, como divórcio, abuso sexual e físico, figuras parentais 
desajustadas, podiam ser preditoras dos EIDs na vida adulta. 
No desenvolvimento do estudo, foram adotadas análises descritivas para examinar o 
comportamento das variáveis supracitadas, sendo utilizado a análise do coeficiente de 
correlação de Pearson e à análise de regressão para detectar quais experiências específicas na 
família de origem teriam a capacidade de serem indicativas no desenvolvimento de EIDs em 
cada DE avaliado. 
 Os resultados obtidos nesta pesquisa destacaram a influência das experiências na 
família de origem na ativação de EIDs em diversos domínios. Constatou-se que os participantes 
que não compartilharam o convívio com seus pais durante a infância obtiveram níveis maiores 
de ativação esquemática em áreas específicas, tais como: desconexão e rejeição; limites 
prejudicados; orientação para o outro; supervigilância e inibição. Estes resultados ressaltaram 
a importância de considerar as dinâmicas familiares na análise da ativação dos esquemas 
remotos. 
Em outro estudo, o foco principal era examinar como o ambiente familiar afeta o 
desenvolvimento de sintomas psicopatológicos em jovens adultos. Foram empregados 
questionários como ferramenta investigativa para examinar a relação entre o contexto familiar 
e a incidência de psicopatologias. Os resultados indicaram correlações significativas entre essas 
variáveis (Correia e Mota, 2017). 
As experiências vividas dentro da família de origem e a influencia destes no 
desenvolvimento infantil, são uma parte significativa da formação dos EIDs. Ao que concerne 
a essas experiências vividas, pode-se considerar também a interação entre os cuidadores e a 
criança, uma vez que a maneira que eles educam e ensinam, se fazem importantes para o 
processo de formação desses esquemas. Essa abordagem é conhecida como estilo parental. 
No capítulo seguinte, serão investigadas de maneira mais detalhada os estilos parentais, 
seu conceito e suas conexões com as famílias de origem por trás de cada estilo. Ao desvendar 
essas nuances, contribui-se para uma compreensão maior da relação presentes na dinâmica 
familiar e o aparecimento de EIDs. 
 
28 
 
 
 
4. A DIFERENÇA ENTRE ESTILOS PARENTAIS E DIVERSOS TIPOS DE 
FAMÍLIA 
 
A literatura especializada na área destaca que os EIDs costumam se desenvolver do 
início da infância até a adolescência e estão intimamente ligados à dinâmica familiar. Isso 
ocorre porque os membros de uma família, independentemente da sua estrutura, estão 
interligados e se influenciam mutuamente. Wainer et al. (2016), relata que os EIDs tendem a se 
ativar com mais ênfase ainda nas primeiras experiências infantis, dentro da família nuclear do 
indivíduo. 
 Destarte, é possível estabelecer uma correlação entre os estilos parentais e o 
aparecimento dos esquemasdesadaptativos, visto que os estilos parentais estão embutidos 
dentro das relações familiares. 
Dentre os vários temas que possuem inter-relação com os EIDs, além dos estilos 
parentais, está a teoria do apego (TE), que é fundamental para entender como os estilos 
parentais causam influência na ativação dos esquemas iniciais desadaptativos. Além disso, os 
estilos parentais desempenham um papel significativo no desenvolvimento das crianças e 
podem até mesmo influenciar no estilo parental que os filhos adotarão no futuro, resultando em 
uma transmissão intergeracional de estilos parentais (Lawrenz et al., 2020). 
É pertinente o estudo relacionado ao estilo parental adotados pela família pois 
independente da dinâmica familiar os estilos parentais estão presentes e influenciam na ativação 
de esquemas de acordo com cada estilo parental adotado. O modo como os pais zelam e educam 
seus filhos desempenham um papel significativo na saúde psicológica e física das crianças. Isso 
acontece porque a família é o contexto onde são proporcionados os cuidados essenciais para a 
saúde, abrangendo interações afetivas fundamentais para o amadurecimento da saúde mental e 
da personalidade saudável de todos os seus integrantes (Sousa; Couto; Medeiros, 2023). 
 
4.1. Estilos parentais 
 
Conforme apontado por Baumrind (1997), autora pioneira do assunto, discorre que o 
estilo parental engloba as atitudes dos pais que moldam o ambiente emocional e influenciam 
como os filhos se comportam. Isso inclui práticas parentais e diferentes formas de interação 
com os seus descendentes, como o tom de voz, gestos corporais, atenção aos detalhes e nuances 
29 
 
 
 
de humor. Para Lawrenz et al. (2020) os estilos parentais consistem em um conjunto de atitudes, 
práticas e comportamentos dos pais que influenciam o desenvolvimento de seus filhos. 
É importante entender que nos estilos parentais, há algo chamado "prática parental", que 
envolve comportamentos específicos com objetivos de socialização. Nesse contexto, variadas 
práticas parentais possuem o mesmo objetivo de obter resultados parecidos, com escolhas 
diferentes. Em uma perspectiva mais abrangente, esses aspectos referem-se às características 
gerais da comunicação entre pais e filhos, englobando elementos como o tom de voz, linguagem 
corporal e nível de atenção (Baumrind, 1997 apud Barbosa, 2019). 
A partir de seus estudos, Baumrind (1966) desenvolveu uma referência para 
classificação dos pais com três protótipos de controle: autoritativo, autoritário e permissivo, 
descritos abaixo: 
 
• O estilo autoritativo é caracterizado por pais que demonstram altos níveis de exigência 
e responsividade (Latorre; Anchía, 2020). Esses pais mantêm uma boa comunicação e 
demonstram afeto em relação aos filhos, incentivam o diálogo, ao mesmo tempo em que 
utilizam métodos disciplinares para exercer com firmeza os pontos de divergência, 
monitorando e acompanhando o comportamento (Garrote; Rubio; Gómez, 2018). 
• O estilo autoritário mostra pais controladores, com inúmeras regras estabelecidas, 
pontuam alto em exigências e baixa responsividade. Esse estilo se caracteriza pela falta 
de afeto e comunicação, com ênfase nas regras e na expectativa de que as ordens dos 
pais sejam acatadas sem questionamento (Latorre; Anchía, 2020). O estilo autoritário 
está associado a riscos, uma vez que os pais autoritários tendem a ser menos atentos às 
necessidades de seus filhos. 
• O estilo permissivo é identificado quando os pais se comportam de maneira não 
punitiva, não estabelecendo limites e nem regras, atendem a todos os desejos da prole, 
não direcionando seu comportamento. Esses pais demonstram muito afeto, mas impõe 
poucas normas (Lawrenz et al., 2020). 
 
Os EP, assim como as práticas parentais, influenciam e desempenham um papel 
importante no desenvolvimento infantil e são fundamentais para entender como a família 
funciona e como isso afeta a inteligência, as relações sociais e as emoções das crianças 
(Baumrind, 1997 apud Barbosa, 2019). 
30 
 
 
 
Após a teoria de Baumrind, Maccoby e Martin (1983), conforme citado por Lawrenz et 
al. (2020) classificou os diferentes estilos parentais supracitados usando duas medidas: 
exigência e responsividade. A exigência está relacionada ao modo como os pais controlam o 
comportamento de seus filhos e quais expectativas têm em relação à maturidade deles, enquanto 
a responsividade diz respeito à sensibilidade emocional dos pais, atitudes compreensivas, 
favorecendo a autonomia dos filhos. 
Dessa forma, a disposição dos EP proposto por Baumrind foram mantidos, mas o estilo 
“permissivo” foi subdividido em duas categorias: indulgente e negligente. O estilo negligente 
é caracterizado pela falta de imposição de regras e limites e a ausência de suprimentos das 
necessidades básicas dos pais, como vínculo seguro, liberdade de expressão e autonomia, 
resultando na falta de orientação adequada. O estilo indulgente deriva do mesmo conceito do 
estilo permissivo, que é a ausência de regras, limites, confrontos e o atendimento de todos os 
desejos dos filhos (Weber, 2017). 
Após a inclusão de contribuições de outros autores à primeira teoria, os estilos parentais 
foram redefinidos por Maccoby e Martin (1983 apud Lawrenz et al., 2020) conforme ilustrado 
no fluxograma 1: 
 
Figura 2 – Configuração dos estilos parentais. 
 
 
 
Fonte: Próprio (2023). 
 
Estilo parental 
Baumarind (1966) 
Autoritativo Permissivo Autoritário 
Negligente 
(Maccoby; Martin) 
Indulgente (Maccoby; 
Martin) 
31 
 
 
 
Os pais autoritários apresentam alta exigência e baixa responsividade, resultando em 
desequilíbrio. Pais autoritativos equilibram exigência e responsividade, promovendo uma 
relação recíproca. Pais indulgentes são excessivamente responsivos, enquanto pais negligentes 
demonstram baixa exigência e responsividade, tornando-se indisponíveis para lidar com as 
dificuldades dos filhos. Esses EPs impactam significativamente o desenvolvimento emocional 
e comportamental das crianças, corroborando para os esquemas desadaptativos (Collins et al., 
2022; Young, 2008). 
De forma geral, os modelos e contribuições dos EP supracitados contribuíram para a 
análise de diferentes facetas do comportamento adulto, além de fornecer entendimento sobre as 
origens e o desenvolvimento de psicopatologias. 
 
4.2. Modelo clínico de estilos parentais de Jeffrey Young 
 
Existem quatro tipos de ambientes dentro do contexto familiar que são capazes de 
estimular a formação dos esquemas remotos (Young et al., 2008), os quais são descritos: 
 
• Frustração nociva de necessidades: o ambiente da criança é caracterizado por deficiência 
de experiências positivas e boas, instabilidade, ausência de empatia e carência de 
expressões de afeto e amor. 
• Traumatização/Vitimização: ambiente no qual causa um dano ou trauma na criança, 
sendo realizada práticas que endossem e vitimizem a mesma. 
• Autonomia e limites realistas não atendidos: neste ambiente, é proporcionado uma 
significativa quantidade de experiências boas, com excesso de indulgencia. 
• Internalização seletiva: ocorre quando a criança, de maneira seletiva, identifica e 
incorpora os pensamentos, sentimentos, experiências e comportamentos dos pais. 
 
Ademais, além da ilustração dos quatro tipos de ambientes, Young et al. (2008), 
descreve dezoito tipos de estilos parentais. O autor relata que cada um está essencialmente 
ligado aos EIDs, onde cada EP tem o mesmo nome que o EID já descritos anteriormente. Por 
exemplo, se os cuidadores falham em providenciar o suporte e apoio emocional necessário para 
o desenvolvimento da criança, este EP corresponde ao nome do mesmo EID: privação 
emocional. OS EP são mapeados através do questionário de EP de Young – YPI. 
32 
 
 
 
Os estilos parentais também estão categorizados em cinco domínios esquemáticos, (os 
mesmos usados para catalogar os EIDs)nos quais são identificadas características específicas 
da família de origem para cada EP. Dentro de cada DE observam-se aspectos diferentes na 
família que definem cada estilo parental correspondente, contribuindo para uma compreensão 
mais clara e organizada das características familiares associadas a cada EP. 
 
4.3. A família de origem de cada domínio esquemático 
 
Domínio I: desconexão e rejeição 
A família de origem desse domínio normalmente demonstra instabilidade, abuso, frieza, 
refreamento, impaciência, imprevisibilidade, rejeição e isolamento do mundo exterior. Pessoas 
que crescem nesses ambientes tendem a trocar de um relacionamento tóxico para outro, ou, 
evitar completamente relacionamentos íntimos. 
 
Domínio II: autonomia e desempenho prejudicados 
 A família de origem desse domínio é superprotetora, aniquilando a confiança da criança 
ou não estimulando autonomia e competência fora do âmbito familiar. Na fase adulta, tende a 
ter dificuldade de desenvolver sua própria identidade, apresentando a crença de que é 
fracassado, burro, ou de que não consegue realizar as atividades de forma competente e sozinho; 
acha que não consegue viver ou ser feliz sem o apoio constante do outro. 
 
Domínio III: limites prejudicados 
A família típica de origem é excessivamente indulgente e permissiva, possui excesso de 
tolerância, falta de orientação ou sentimento de superioridade no lugar de impor disciplina e 
limites adequados. A criança criada nesse ambiente familiar tende a se desenvolver como um 
adulto com desafios na conformidade a normas, apresentando uma inclinação a se considerar 
superior aos demais. Além disso, enfrenta dificuldades em lidar com a frustração quando seus 
objetivos não são alcançados e evita situações desconfortáveis a todo custo. 
 
Domínio IV: direcionamento para o outro 
A origem familiar típica desse domínio se destaca pela aceitação incondicional, 
exigindo que a criança sacrifique partes fundamentais de sua identidade em busca de amor, 
atenção e aprovação. Nesses contextos, frequentemente, as necessidades emocionais dos filhos 
33 
 
 
 
são subjugadas em favor das demandas ou aspirações dos pais. Quando adulta, tende a ter um 
comportamento de submissão excessiva ao outro, muitas vezes ocultando suas emoções, 
invalidando ou se autosacrificando, suprindo em excesso as necessidades do outro ao mesmo 
tempo que busca por aprovação e reconhecimento. 
 
Domínio V: supervigilância e inibição 
A família de origem geralmente é severa, exigente e as vezes punitiva. Não estimulam 
momentos de prazer e bem-estar, se preocupando mais com a evitação de eventos negativos , 
perfeccionismo, dever, comprimento de normas. 
 
Dependendo da maneira como a mãe responde aos pedidos e necessidades do filho, 
este irá desenvolver diferentes formas de relacionar-se com ela e, posteriormente, com 
o mundo. Uma cuidadora que responde às necessidades da criança de forma afetiva e 
consistente irá ensinar-lhe que suas necessidades são importantes e que as relações 
podem ser agradáveis e seguras (Wainer et al., 2016, p.40) 
 
As formas como o sujeito estabelece relações com o mundo e consigo mesmo são 
moldadas pelas circunstâncias proporcionadas pela família de origem. O autor denomina esse 
conceito de representação cognitiva. Esse modelo cognitivo pode ser saudável e adequado 
dependendo do quanto o cuidador é afetivo e emocionalmente satisfatório. Além disso, essas 
representações são a forma como a pessoa irá interpretar e agir diante das experiências vividas 
(Wainer et al., 2016). 
Dito isso, a TE, responsável pelas postulações de vários conceitos descritos ao longo 
desta pesquisa, fortaleceu sua validade e confiabilidade ao fornecer dados qualitativos que 
sustentam a relação significativa entre os transtornos de personalidade, a influência das bases 
familiares, o aparecimento de EIDs e as consequências em indivíduos adultos. 
No próximo capítulo, serão exploradas as implicações dos Esquemas Iniciais 
Desadaptativos (EIDs) na formação de psicopatologias e problemas emocionais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
5. AS CONSEQUÊNCIAS DOS ESQUEMAS INICIAIS DESADAPTATIVOS EM 
ADULTOS 
 
Na área da psicologia, estudos têm mostrado como os EIDs podem desempenhar um 
papel no surgimento de psicopatologias e situações de risco na vida adulta. Alguns exemplos 
disso incluem o abuso de substâncias; relações conjugais conflituosas; aparecimento de 
depressão e estresse pós-traumático, além dos transtornos da personalidade descritos por Young 
et al. (2008) entre outras psicopatologias e comportamento erráticos. Na busca por conclusões 
deste estudo, foram encontradas na literatura relações entre esquemas remotos e uma variedade 
de comportamentos disfuncionais ou instáveis, mas apenas alguns foram abordados. 
Todos os artigos escolhidos e debatidos neste capítulo não contemplaram, de forma 
sistemática e integrativa, toda a produção de literatura oferecida pelas bases de dados descritos 
na metodologia. A seleção priorizou publicações recentes, sendo estes especialmente 
escolhidos para contribuir para o desenvolvimento do capítulo em questão, ressaltando que 
alguns estudos abordaram psicopatologias e disfunções diferentes das que serão exploradas, 
além disso, já existe bastante aporte teórico em relação a alguns temas tratados nesse capítulo, 
no entanto, por critérios temporais, esses estudos foram excluídos. 
 
5.1. Transtorno por Uso de Substância (TUS) 
 
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mental - (DSM) 
(2014, p.483), “A característica essencial de um transtorno por uso de substâncias consiste na 
presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando 
o uso contínuo pelo indivíduo apesar de problemas significativos relacionados à substância”, 
resultando em um padrão patológico que abrange o baixo controle, prejuízo social, o uso de 
risco, a tolerância e abstinência e o uso de substância psicoativas. 
É significativo observar a coexistência entre o uso de drogas e transtornos mentais. Em 
determinadas situações, verifica-se que a ansiedade, depressão ou esquizofrenia se manifestam 
antes do surgimento do TUS, em outros cenários, há situações em que o uso de drogas pode 
desencadear ou agravar essas condições de saúde mental, principalmente em indivíduos com 
algum contexto de vulnerabilidade. Essas pessoas enfrentam muitas dessas doenças através de 
entorpecentes para fugir de seus sentimentos (Nida, 2021). 
35 
 
 
 
Observou-se na literatura estudos que correlacionam o aparecimento de EIDs com TUS 
e quais eram esses EIDs. Em um estudo realizado por Golin (2019), foi feito uma comparação 
entre vinte e quatro pessoas com TUS e vinte e quatro irmãos que não manifestavam problemas 
envolvendo uso de substâncias e o envolvimento com EIDs e estilos parentais. 
Os resultados conclusivos indicaram que os indivíduos investigados com TUS 
manifestaram uma maior ativação de esquemas em comparação com seus irmãos. Dos dezoito 
EIDs analisados, doze destacados revelaram-se consideravelmente mais elevado na amostra 
com TUS versus à amostra sem TUS. Esses EIDs incluem: abandono, isolamento social; 
defectividade; dependência; emaranhamento; subjugação; inibição emocional; 
grandiosidade/arrogo; autocontrole insuficiente; busca de aprovação; negativismo e postura 
punitiva. 
A pesquisa também permitiu constatar que as correlações entre EIDs dos pacientes com 
TUS e a percepção do estilo parental foram consideravelmente mais numerosas em comparação 
com as correlações observadas entre os EIDs dos irmãos sem TUS e a percepção do EP. Este 
achado sugere uma ligação mais sugestiva entre os padrões de esquemas e a avaliação do EP 
nos indivíduos afetados pela TUS em comparação com seus irmãos não afetados. 
Embora não tenha sido identificado um consenso uniforme nas diversas publicações 
acerca deum padrão específico de EIDs relacionados ao abuso de substâncias, destacou-se que, 
entre as pesquisas examinadas haviam EIDs em comum, como: abuso; abandono; 
autosacrifício; emaranhamento; dependência/incompetência; vulnerabilidade ao dano; padrões 
inflexíveis, (Rocha; Lopes, 2019). 
Conforme as conclusões obtidas, evidenciou-se que os esquemas iniciais desadaptativos 
desempenham um papel crucial na instauração do abuso e dependência de substâncias. Assim, 
a adicção pode ser compreendido como uma forma do indivíduo de enfrentar a ativação dos 
esquemas mal adaptados (Lima; Ferreira, 2015). 
Na literatura, ainda houveram outras pesquisas empíricas, qualitativas, quantitativas, 
quanto revisões de literatura (Lima; Ferreira, 2015; Rocha, 2019; Rocha; Lopes, 2019; 
Zamirinejad et al., 2018) que corroboraram para a conclusão da influência de EIDs no TUS. 
 
Quadro 4: caraterização de alguns estudos sobre EIDs e sua relação com TUS. 
Ano País Autores Título Base de dados 
2015 Brasil Lima e Ferreira 
Avaliação da prevalência de esquemas iniciais 
desadaptativos em sujeitos usuários de álcool e 
outras drogas 
SCIELO 
2018 Irã Zamirinejad et al. Predicting the Risk of Opioid Use Disorder Based on 
Early Maladaptive Schemas 
MEDLINE 
36 
 
 
 
2019 Brasil Rocha 
Avaliação da relação entre esquemas iniciais 
desadaptativos e o coping em indivíduos com 
transtorno por uso de substâncias 
Repositório 
UFU 
2019 Brasil Rocha e Lopes Transtornos por uso de substâncias psicoativas e 
esquemas iniciais desadaptativos 
RBTC 
Fonte: Próprio (2023). 
 
5.2. Transtornos Depressivos 
 
O DSM- V (2014, p.155) discorre sobre os traços comum desses transtornos: “a 
presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas 
que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo”. A depressão é 
caracterizada como um transtorno que desencadeia modificações nos âmbitos social, 
psicológico, fisiológico e biológico, indivíduos diagnosticados com depressão mostram 
impactos significativos no desempenho psicossocial, saúde física, estilo de vida saudável e 
mortalidade (Santos; Nascimento, 2023). 
A Organização Pan-americana da Saúde - OPAS (2023), discorre que no mundo todo, 
conjectura-se que mais de trezentos milhões de pessoas, independente da idade, estejam em 
sofrimento pela depressão, destacando-se como a principal razão de incapacidade na escala 
global. 
Ao procurar a relação entre EIDs e depressão na literatura, pôde-se verificar alguns 
estudos empíricos relacionando o tema com suicídio, dessa forma, será abordado um estudo 
concatenando a temática e seus desdobramentos. 
Em uma investigação feita por Méa et al. (2015) divulgada pela Revista de Terapias 
Cognitivas com o título de "Esquemas Iniciais Desadaptativos em Pacientes Hospitalizados por 
Tentativa de Suicídio", foram envolvidos duas amostras diferentes: a primeira composta por 
quinze pacientes hospitalizados por tentativas de suicídio, e a segunda, uma amostra não clínica 
composta por vinte e cinco participantes. A pesquisa tinha o cunho quantitativo, exploratório e 
correlacional. 
No que tange aos resultados, foi constatado que a amostra dos pacientes suicidas 
apresentou maior ativação em todos os EIDs em virtude da amostra não clínica. Por 
conseguinte, os EIDs que mais foram marcados na amostra clínica foram: 
defectividade/vergonha; isolamento social e inibição emocional. 
Os resultados indicaram que a amostra clínica apresentou maior comprometimento em 
todos os Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) em comparação com a amostra não clínica. 
Notavelmente, os EIDs defectividade/vergonha, isolamento social e desligamento 
37 
 
 
 
demonstraram um número significativo de correlações entre si. 90% da amostra clínica 
preencheu requisito para os transtornos mentais principalmente o transtorno depressivo. Os 
pesquisadores sugeriram que uma avaliação precisa a respeito desses EIDs podem destacar um 
papel significativo na compreensão clínica do comportamento suicida, conforme evidenciado 
por Méa et al. (2015). 
A cerca dos resultados obtidos na literatura, além do artigo citado anteriormente, 
mostra-se outras evidências da relação entre EIDs, suicídio e depressão (Reula; García; 
Fernández, 2017; Kadyrov e Mironenko, 2017; Hennings, 2020; Gusmão et al., 2017). 
 
Quadro 5: caraterização de alguns estudos sobre EIDs e sua relação com depressão. 
Ano País Autor Título Base de dados 
2017 Brasil Gusmão et al. 
Esquemas desadaptativos, ansiedade e 
depressão: proposta de um modelo 
explicativo. 
RBTC/PePsic 
2017 Rússia Kadyrov e Mironenko 
Early maladaptive patterns of 
suicidal behavior. 
MedLine 
2017 Espanha 
Reula, García e 
Fernández 
Relationship between early maladaptive 
schemes and traumatic childhood 
experiences with suicidal behavior in 
adults. 
MedLine 
2020 Suíça Hennings 
Function and Psychotherapy of Chronic 
Suicidality in Borderline Personality 
Disorder: Using the Reinforcement 
Model of Suicidality. 
MedLine 
Fonte: adaptado de Cotrim e Neto (2023) 
 
5.3. Conflito conjugal 
 
A família de origem é a principal instituição responsável por constituir os modelos de 
como lidar de forma cognitiva e afetiva, relacionados a situações estressoras na vida adulta 
(Wainer et al., 2016). Sendo assim, o objetivo da TE dentro desse contexto, é entender qual 
papel a família desempenha um papel importante na dinâmica das relações conjugais adultas, 
que pode se tornar disfuncional e desadaptativa, causando danos significativos aos sujeitos 
envolvidos na relação. Os fatores que predispõem a causa desses conflitos podem ser inúmeros, 
e dependem de vários fatores (Paim; Falcke 2016). 
As experiências norteadoras absorvidas e decodificadas durante o início do 
desenvolvimento humano tendem a ser o modelo cognitivo no qual o adulto busca nos 
relacionamentos amorosos, através das vivências durante sua vida adulta, tentando achar 
familiaridade e comodidade no que foi aprendido anteriormente (Algarves, 2018). 
38 
 
 
 
De acordo com Paim e Falcke (2016), as preferências românticas e a continuidade em 
relações conflituosas têm a possibilidade de estarem relacionadas ao funcionamento dos 
esquemas, sendo vistas pela ativação dos EIDs. Esse funcionamento é originado ainda na 
experiência repetida de vivências na meninice e juventude com as figuras parentais. Segundo o 
autor, a fim de preservar as emoções e crenças na família que já foram vivenciadas, é comum 
que a pessoa se envolva em relacionamentos que reafirmem sua coerência cognitiva, resultando 
na sustentação dos EIDs já conhecidos. Desta maneira, estabelece-se um fenômeno de repetição 
esquemático que desencadeia respostas emocionais relacionadas a aprendizagem e 
comportamento exercidos na infância, resultando em uma dinâmica de convívio subversivo 
entre os parceiros. 
O indivíduo sente interesse por eventos que despertem os EIDs, visando manter a 
consistência com aquilo que já é familiar e genuíno na sua história. Em outras palavras, ao 
reproduzir nas relações adultas as condições de infância, o sujeito busca preservar o vínculo e 
o conforto associados aos EIDs que lhe são comuns (Young et al., 2008). 
No Brasil, uma pesquisa empírica feita por Haack, Pressi e Falcke (2018), teve como 
objetivo correlacionar, quantificar e explicar quais características da família de origem, os 
EIDs, ajustamento conjugal e ambiente familiar, se associam à violência conjugal, 
considerando a compreensão da congruência cognitiva já abordado anteriormente. 
O estudo contou com a participação de sento e oitenta e seis homens e sento e oitenta e 
seis mulheres, que residiam em Porto Alegre, sendo todos os participantes casados ou vivendo 
em uma união estável, entre dezenove até oitenta e um anos. Os dados coletados foram a partir 
de questionários sociodemográficos; questionário de Esquemas de Young; questionário