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Interpretação de Texto - Livro Único-139-141

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Em Monet, não há preocupação em pintar a realidade 
de forma precisa; em Ingres, o detalhe é valorizado; em 
Monet, os modelos estão em espaço aberto; em Ingres, 
em local fechado. Eis algumas diferenças.
O discurso muda também de acordo com o grupo so-
cial; em um mesmo momento histórico poderemos ter vários 
discursos, várias ideologias. 
Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o discurso 
de Hitler opunha-se ao discurso dos aliados. Nos quadros 
a seguir, temos uma clara oposição envolvendo dois dis-
cursos antagônicos; o quadro nazista enaltece a força e a 
violência da guarda de ferro da Revolução Alemã, enquanto 
o quadro de Pablo Picasso é um manifesto contra qualquer 
ato de brutalidade.
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Fig. 3 Cartaz alemão, 1934. “Uma batalha, um vencedor”.
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Fig. 4 Pablo Picasso. Guernica, 1937. Óleo sobre tela. Museu Nacional da Rainha 
Sofia, Madrid, Espanha.
Discursos e teorias
Os textos científicos também possuem um discurso, uma 
visão de mundo; a ciência evolui, novas descobertas são 
feitas, algumas delas desmentindo uma visão de mundo an-
terior. As oposições ocorrem não só em relação ao passado, 
mas também em relação ao presente; a divergência teórica 
existe, possibilitando a criação de vários discursos em uma 
mesma época. É preciso que tenhamos consciência de que, 
ao estudar História, estamos diante de um discurso sobre 
a história e não diante do fato histórico; a linguagem é o 
elemento intermediário e quem a manipula é a enunciação, 
instância criada pelo autor, o historiador.
Intertextualidade
Todos nós já ouvimos uma paródia; elas povoam os 
comerciais de TV, estão presentes na boca do povo. A 
paródia é um texto construído a partir de outro, trata-se, por-
tanto, de uma citação implícita. Percebemos que é paródia 
porque conhecemos o texto de origem. Há textos que não 
são exatamente paródicos (a paródia possui humor), mas 
também citam, parcialmente ou totalmente, outros textos. 
São filmes, poesias, romances, crônicas, peças de teatro etc. 
A esse fenômeno, um texto citando o outro, chamaremos de 
intertextualidade. Veja os exemplos a seguir.
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
onde canta o Sabiá;
as aves que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
nossas várzeas têm mais flores,
nossos bosques têm mais vida,
nossa vida mais amores. 
Em cismar, sozinho, à noite,
mais prazer encontro eu lá;
minha terra tem palmeiras,
onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
que tais não encontro eu cá;
em cismar – sozinho, à noite,
mais prazer encontro eu lá;
minha terra tem palmeiras,
onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
sem que eu volte para lá;
sem que desfrute os primores
que não encontro por cá;
sem qu’inda aviste as palmeiras,
onde canta o Sabiá.
 Gonçalves Dias.
Outra canção do exílio
Minha terra tem Palmeiras,
Corinthians e outros times
de copas exuberantes
que ocultam muitos crimes.
As aves que aqui revoam
são corvos do nunca mais,
[...].
Eduardo Alves da Costa. No caminho com Maiakóvski. 
São Paulo: Geração Editorial, 2003. p. 88.
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INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Capítulo 6 Texto, ideologia e argumentação 140
Os dois textos citados apresentam discursos que 
entram em oposição; Gonçalves Dias escreveu seu 
poema vivendo um exílio físico e geográfico. O poeta 
exalta a pátria, enaltecendo o que esta tem de mais belo: 
os recursos naturais. Já Eduardo Alves da Costa sente- 
-se como um exilado dentro de sua própria pátria devido 
à falta de liberdade; ao contrário do poeta romântico, o 
poeta contemporâneo faz uma crítica ácida à situação 
social de seu país. O país vive um estado de opressão; suas 
riquezas naturais estão sendo destruídas; o povo, oprimido. 
Além da relação interdiscursiva (relação de oposição), os 
textos apresentam uma relação intertextual; o poema de 
Eduardo Alves da Costa foi construído a partir de estruturas 
sintáticas e léxicos presentes no poema de Gonçalves 
Dias. A esse fenômeno, chamamos de intertextualidade 
(intertextualidade também pode ser realizada por meio do 
estilo, isto é, quando um autor reproduz o estilo de outro). A 
intertextualidade não aparece apenas em textos literários; 
a propaganda, o jornal, a música também utilizam esse 
recurso. Observe o cartum a seguir, que dialoga com o 
quadro de Vincent van Gogh, O quarto de Vincent.
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Fig. 5 Vincent van Gogh, O quarto de Vincent, 1888. Óleo sobre tela. Museu 
d’Orsay, Paris, França.
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Fig. 6 Dawn Hudson, O Natal de Van Gogh.
Propaganda ideológica
Existem vários mecanismos de propagação ideológica; 
tais mecanismos são usados por aqueles que estão no poder 
e por aqueles que se colocam contra ele. Como cidadãos, 
somos alvo dessa propaganda; devemos, portanto, estar cons-
cientes, pois nem sempre o que se diz nesse tipo de texto tem 
compromisso com a verdade. O estudo sobre a propaganda 
ideológica baseou-se no livro O que é propaganda ideológica, 
de Nelson Jahr Garcia.
Slogans
O slogan político tem por finalidade convencer o cida-
dão de forma rápida e repetitiva. Eis um dos slogans mais 
utilizados pelo governo de Médici.
“Brasil, ame-o ou deixe-o”
Nelson Jahr Garcia. O que é propaganda ideológica. 
São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 16.
Campanha nas ruas
O contato com o povo nas ruas é um fator de persuasão 
e ajuda a propagar as ideias de determinado grupo social.
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Fig. 7 O senador de Nova York, Robert Kennedy, em campanha presidencial em 
1968.
Retrato, fotos e cartazes
A propagação da imagem do político torna-o mais 
conhecido, famoso; além disso, há quem afirme que a me-
mória fotográfica é mais eficiente. Veja a foto a seguir.
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Fig. 8 Barack Obama em campanha presidencial, que ficou famosa pela frase: 
“Yes, we can”. 
Outros tipos de fotos também ganham destaque, 
principalmente aquelas de cunho social, de protesto, de 
reivindicações. A foto a seguir retrata uma passeata pelo 
direito de voto.
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Fig. 9 Passeata pelo direito de voto.
Os cartazes também foram muito utilizados, princi-
palmente na época das grandes guerras, em que era 
necessário convocar jovens para o alistamento militar, 
bem como convencê-los de que estariam colaborando 
com a nação.
Um exemplo foi a Ação Integralista Brasileira (AIB), 
partido político brasileiro fundado em 7 de outubro de 
1932, por Plínio Salgado, escritor modernista, jornalista e 
político. A ideologia da AIB baseou-se principalmente no 
fascismo italiano. Havia uma série de rituais e símbolos, 
como a utilização da expressão indígena Anauê como 
saudação, a letra grega sigma (Σ) e os uniformes verdes. 
Observe o cartaz a seguir.
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Fig. 10 Cartaz da Ação Integralista Brasileira.
Nome em avenidas, ruas ou praças
Fig. 11 Placa da Rodovia Presidente Dutra.
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Fig. 12 Presidente Dutra.
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