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DESCRIÇÃO A evolução do conhecimento e sua gestão dentro do contexto organizacional. PROPÓSITO Explicar a gestão do conhecimento – processo indispensável para o sucesso de qualquer organização, especialmente diante da grande quantidade de informação disponível atualmente. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer as noções de inovação, invenção, destruição criativa e ciclos econômicos MÓDULO 2 Descrever a evolução do conhecimento MÓDULO 3 Definir os conceitos de dado, informação e conhecimento MÓDULO 4 Descrever o conhecimento organizacional INTRODUÇÃO Pense no mundo do século XXI. De uma hora para outra, nosso cotidiano foi transformado pela maior pandemia em 100 anos de história. Cientistas, empresas e governos imediatamente se colocaram em busca de remédios e vacinas, usando as mais diversas técnicas, com graus variados de sucesso a cada etapa. Reflita sobre o desafio gigante de articular o grande fluxo de informação que essas iniciativas geram: Cada um desses agentes precisa tomar sua decisão com base na informação disponível, pois não queremos repetir experimentos já fracassados ou apenas repetir o que já está sendo feito em outro lugar, se podemos buscar alternativas promissoras. Ao mesmo tempo, é humanamente impossível acompanhar o desenvolvimento de todas essas iniciativas. Neste momento, talvez, você esteja pensando que, às vezes, não sabe onde guardou os comprovantes do Imposto de Renda para sua declaração anual ou que precisa comprar um computador para que seu trabalho seja mais produtivo, mas tem dificuldade de comparar diversas marcas e configurações para tomar a decisão de compra. As empresas têm o mesmo tipo de dificuldade. Armazenar e gerar conhecimento estão entre os grandes desafios da sociedade moderna. Temos à nossa disposição um grande volume de informação, mas o que fazer com tudo isso? Neste tema, estudaremos algumas ferramentas para responder a essa questão. MÓDULO 1 Reconhecer as noções de inovação, invenção, destruição criativa e ciclos econômicos Imagem: Shutterstock.com PROCESSO DE INOVAÇÃO A inovação é um processo constante em nossas vidas. A todo o momento, surgem novos produtos e novas tecnologias que modificam completamente a forma como realizamos atividades cotidianas. Por exemplo, a introdução dos telefones no mercado afetou dramaticamente a forma como nos comunicamos uns com os outros. Se, antes, a comunicação era mais difícil e esporádica, os telefones serviram para encurtar barreiras e conectar pessoas. Seguindo um caminho similar, o surgimento dos celulares permitiu que muitas pessoas se comunicassem mesmo fora de suas residências ou local de trabalho. Já a evolução da Internet trouxe uma série de transformações para esse aparelho, que, apesar de inovador, cumpria apenas a função da comunicação. De fato, enquanto no passado os celulares serviam basicamente para breves ligações e trocas de mensagens, hoje podemos realizar uma série de atividades com ele. Socializamos em redes sociais, trocamos e-mails de trabalho, solicitamos transporte via aplicativos e até pedimos comida pelo celular. Embora você possa já ter se dado conta de como a introdução de novos produtos e novas tecnologias afeta nossas vidas, talvez não tenha parado para refletir sobre como esse fenômeno influencia a atividade comercial como um todo. Neste módulo, abordaremos os conceitos fundamentais vinculados ao processo de inovação e entenderemos como esses conceitos se relacionam com os ciclos econômicos segundo a abordagem schumpeteriana. Imagem: Shutterstock.com VISÃO SCHUMPETERIANA DE INOVAÇÃO Como o processo de inovação apresenta importantes consequências para a atividade econômica, o tema foi objeto de estudo de diversas escolas de pensamento ao longo dos últimos séculos. Entre os principais expoentes do tema está o economista Joseph Schumpeter, que difundiu o conceito de destruição criativa e trouxe um caráter mais dinâmico e menos estático para as teorias sobre o desenvolvimento econômico. Portanto, embora haja múltiplas visões de como a javascript:void(0) inovação ocorre e afeta a atividade econômica, focamos, aqui, na visão schumpeteriana desse processo. O avanço tecnológico é um processo que permeia boa parte da história da humanidade. Desde a invenção de máquinas mais primitivas para a confecção de produtos diversos, passando pela invenção dos carros e aviões, até chegarmos à recente invenção de celulares de última geração, o avanço tecnológico possibilitou a implementação de atividades econômicas que afetaram dramaticamente não só costumes sociais como também setores comerciais. Aqui, cabe uma importante distinção. Embora os termos invenção e inovação possam comumente ser usados como sinônimos em nosso cotidiano, há uma relevante diferença entre eles. A invenção é a criação de algo que pode vir a ter ou não relevância econômica e é entendida como inovação somente após ser transformada em uma mercadoria que possa ser explorada economicamente. Como fica claro a partir dessa definição, a inovação é, portanto, uma invenção que, por gerar valor para as empresas ou para a sociedade, foi aceita pelo mercado consumidor. JOSEPH SCHUMPETER (1883-1950) “Economista austríaco, cuja obra global teve como principal linha de orientação o estudo do sistema capitalista de organização da sociedade.” Foto: Instituto de Economia da Universidade de Friburgo (Brisgóvia, Alemanha)/Wikimedia Commons/licença (CC BY-SA 3.0). Fonte: Infopédia - Dicionários Porto Editora EXEMPLO As telas sensíveis ao toque, por exemplo, foram criadas durante a década de 1960, mas não eram muito utilizadas pelo mercado nessa época. Em outras palavras, eram uma invenção por se tratar de algo novo até então, mas não uma inovação, por não gerarem valor para os consumidores. Foi apenas na década de 1980 que as telas sensíveis ao toque começaram a ser mais difundidas, tornando-se, portanto, uma inovação. A inovação pode, ainda, ser dividida em: INOVAÇÃO RADICAL OU DISRUPTIVA INOVAÇÃO INCREMENTAL INOVAÇÃO RADICAL OU DISRUPTIVA Refere-se à introdução de um produto, processo ou sistema inteiramente novo. Esse tipo de inovação está muito relacionado com a ruptura dos paradigmas tradicionais de um mercado específico. Por exemplo, a introdução dos iPhones no mercado representam um tipo de inovação radical, já que estes aparelhos foram pioneiros em sua forma de conectar celulares com a Internet e o mundo dos aplicativos. INOVAÇÃO INCREMENTAL Refere-se à introdução de qualquer tipo de melhoria em um produto ou processo. O lançamento anual de um novo modelo de iPhone, com avanços marginais na qualidade da câmera e do sistema de processamento, pode ser entendido como uma inovação incremental. Independentemente dessas diferenças entre inovação incremental ou radical/disruptiva: O ponto fundamental para que haja progresso econômico é a difusão da nova tecnologia. Somente ao atingir um grupo relevante de consumidores, as novas tecnologias passam a ter um efeito econômico significativo. Assim, antigas tecnologias vão sendo sucessivamente substituídas por novas, dando início a um processo entendido como destruição criativa (ou criadora). Foto: Shutterstock.com DESTRUIÇÃO CRIATIVA De acordo com Schumpeter, o que é destruição criativa? A destruição criativa reflete o processo de transformação que revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo incessantemente o antigo e criando elementos novos. O processo de destruição criativa pode ocorrer: EXEMPLOS Por meio da introdução de um novo produto no mercado, da descoberta de um novo método de produção de um produto já existente ou até mesmo de mudanças na estrutura de mercado, como a quebra de um monopólio ou oligopólio. Todos esses exemplos citados são motivados pelo aumento do lucro do agente econômico em questão. A introdução de uma inovação no sistema econômico é chamada por Schumpeter de ato empreendedor, realizada pelo empresário empreendedor,visando à obtenção de lucro, que, segundo o autor, é o motor de toda a atividade empreendedora. Quando fala de lucro, Schumpeter não se refere à remuneração usual do capital investido, mas ao lucro extraordinário. LUCRO EXTRAORDINÁRIO Lucro acima da média do mercado, que engendraria novos investimentos e a transferência de capitais entre os diferentes setores da economia – dos menos rentáveis para os mais rentáveis. A destruição criativa é a força propulsora do desenvolvimento econômico capitalista. É por meio da destruição criativa que o fluxo de capital circula entre as diferentes atividades produtivas e os distintos setores de produção ao longo do tempo. Este é um processo dinâmico e, muitas vezes, inesperado, que gera os chamados ciclos econômicos. javascript:void(0) CICLOS ECONÔMICOS – ONDAS DE INOVAÇÃO VOCÊ SABE A QUE SE REFERE O CONCEITO DE CICLO ECONÔMICO? RESPOSTA RESPOSTA Refere-se às flutuações da atividade econômica no curto prazo, que podem tanto ser positivas (ciclos de expansão) quanto negativas (ciclos de retração). Até o surgimento da principal obra de Schumpeter (1911), as descontinuidades cíclicas na economia eram frequentemente consideradas perturbações passageiras, decorrentes, por exemplo, de colheitas frustradas ou subconsumo por parte da população. A ideia implícita nessas justificativas para os ciclos econômicos é a de que a economia tende a um equilíbrio, somente se desviando dele em função de choques externos. Contudo, de acordo com Schumpeter (1942): “capitalismo estabilizado é uma contradição em termos”. Portanto, contrariamente à visão mais estática do capitalismo, o autor vê os ciclos econômicos e a instabilidade que trazem consigo como inerentes ao progresso econômico. Os ciclos de expansão e retração são atribuídos ao processo de inovação, que provoca importantes fricções no sistema econômico como um todo. Mas como exatamente ocorre esse processo? Vamos usar a abordagem de Oliveira (2014) para explicar esse fenômeno com mais detalhes: javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com Primeiramente, em um suposto estado de equilíbrio, as inovações provocam importantes deslocamentos dos investimentos de determinada atividade ou determinado setor produtivo para outro. Isso ocorre porque as inovações não acontecem de forma progressiva e igualmente distribuída entre os diferentes setores. Se este fosse o caso, todo o processo ocorreria de forma mais gradual, e os deslocamentos de recursos entre os diversos setores seriam amenizados. Imagem: Shutterstock.com Com a inovação, alguns setores se tornam temporariamente mais atraentes que outros, e os investimentos fluem em direção a esses setores, buscando oportunidades de lucro superiores àquelas encontradas anteriormente no mercado. Nesse processo, é imprescindível a captação de recursos financeiros pelo chamado empresário inovador. Os pioneiros nesse processo de investimento e inovação passam a obter lucros extraordinários em seus setores de atuação, e um clima de expansão se instaura. Imagem: Shutterstock.com No entanto, esse influxo inicial de investimentos alavancados pelo aumento da demanda por crédito acelera a atividade econômica e causa uma pressão inflacionária. Nesse contexto de expansão econômica e pressão dos preços, também começa a haver um movimento ascendente das taxas de juros. Combinado a isso, as empresas que ficaram para trás no processo de inovação passam a investir em inovação e se adaptar ao novo cenário, a fim de não perderem mercado. javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com Com isso, os lucros extraordinários derivados da inovação passam a ser progressivamente reduzidos, à medida que a nova tecnologia passa a ser mais difundida. Quando esses processos amadurecem, a ampliação da oferta a um preço reduzido anuncia o início de um processo de retração econômica. MOVIMENTO ASCENDENTE As taxas de juros sobem quando a economia está em um ritmo acelerado, além da capacidade de produção, o que provoca pressão inflacionária. O aumento dos juros diminui esse ritmo. O novo ponto de equilíbrio alcançado se situa em um patamar superior àquele observado antes de a inovação ser introduzida no mercado. Esse fluxo de propagações econômicas ajuda a explicar a importância da destruição criativa para o progresso e coloca os ciclos de expansão e retração como parte inerente do capitalismo. A maior contribuição de Schumpeter frente a outras escolas de pensamento foi o tratamento da inovação como componente intrínseco do capitalismo e dos ciclos econômicos. UM POUCO SOBRE A VIDA E A OBRA DE SCHUMPETER Neste vídeo, vamos falar um pouco mais sobre Schumpeter, um dos principais economistas da história. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO PODE SER UMA CARACTERÍSTICA DE INOVAÇÃO INCREMENTAL: A) Avanço contínuo. B) Criação de novos mercados. C) Inovações criadas por meio das estruturas e decisões organizacionais normais. D) Melhorias tecnológicas. E) Melhorias em produtos. 2. O TERMO QUE DESCREVE UM PRODUTO OU SERVIÇO QUE TRAZ ELEMENTOS NOVOS, MAS QUE NÃO NECESSARIAMENTE POSSUI VIABILIDADE ECONÔMICA, É: A) Inovação B) Réplica C) Invenção D) Obra E) Inspiração GABARITO 1. Assinale a alternativa que não pode ser uma característica de inovação incremental: A alternativa "B " está correta. A inovação incremental é aquela marcada por avanços contínuos e progressivos. Portanto, inovações mais disruptivas, como a criação de novos mercados, não se enquadram na definição do termo. 2. O termo que descreve um produto ou serviço que traz elementos novos, mas que não necessariamente possui viabilidade econômica, é: A alternativa "C " está correta. A invenção é algo novo – um produto, serviço ou processo produtivo –, mas que não necessariamente tem valor econômico. Só depois de ser adotada pelo mercado, ela se transforma em inovação. MÓDULO 2 Descrever a evolução do conhecimento Imagem: Shutterstock.com EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO Já aprendemos os principais conceitos relacionados à inovação e como eles propagam o desenvolvimento econômico. Mas ainda precisamos entender como exatamente o acúmulo de conhecimento e as inovações presentes nos diferentes estágios de desenvolvimento de nossa sociedade afetam o mundo moderno. Já parou para pensar que as inovações acontecem hoje de forma muito mais acelerada que alguns séculos ou até mesmo décadas atrás? Afinal, não seria exagero dizer que, a cada ano, surge um novo mundo de inovações que moldam amplamente a forma como a sociedade se organiza e avança. Essa mudança na dinâmica da inovação está relacionada com a forma com que as diferentes sociedades lidaram e incentivaram o conhecimento e a inovação ao longo do tempo. Neste módulo, aprenderemos como o conhecimento nas sociedades industrial e pós-industrial foi organizado, e como a diferente valorização da inovação e da criatividade ao longo da história afeta a estrutura econômica como um todo. Foto: Shutterstock.com SOCIEDADE INDUSTRIAL As inovações e o progresso do conhecimento trouxeram importantes transformações ao longo da história. Um evento sem precedentes nesse sentido foi a Revolução Industrial, que deu origem à chamada sociedade industrial. Tendo início em meados do século XVIII e fim cerca de dois séculos depois, por volta de 1950, as sociedades industriais são comumente divididas em duas fases: Primeira fase Marcada pelo surgimento da máquina a vapor. Segunda fase Impulsionada pela utilização de novas formas de energia, como a eletricidade e os combustíveis derivados do petróleo, que possibilitaram a difusão dos motores elétricos e à combustão. Por mais que a introdução de maquinário no sistema produtivo possa parecer algo banal nos dias de hoje, suas consequências sociais e econômicas para a Europa do século XVIII foram enormes. A sociedade industrial teve início na Inglaterra e marcou o fim da economia agrária e manufatureira. Se antes o poderestava nas mãos de quem detinha a posse das terras (aristocracia rural), e em alguma medida, da burguesia, a introdução das máquinas no processo produtivo deslocou definitivamente o foco de poder para os detentores dos meios de produção, ou seja, a burguesia industrial. O trabalho que antes era majoritariamente artesanal passou a ser realizado por meio de maquinário para a produção em larga escala. Assim, o trabalhador perdeu o controle sobre o processo produtivo e passou a servir como um mero operador dessas novas máquinas, que começaram a se encarregar da produção. Com essa mudança, o trabalhador não precisou mais ter conhecimento sobre as técnicas e peculiaridades envolvidas na produção de um bem, mas sim operar as máquinas de forma padronizada e contínua. A sociedade industrial foi marcada por um apelo à produção em massa e pela eficiência no sistema produtivo, por certa desvalorização da criação e autodeterminação individual, e pela valorização da padronização do trabalho. Combinados, todos esses fatores ajudam a explicar, também, o crescimento do número de trabalhadores assalariados na época. Além de impulsionar novas relações de trabalho, a sociedade industrial também se caracterizou pela introdução de uma nova organização do trabalho. Com a inserção do maquinário e a progressiva redução da atividade artesanal, o trabalho passou a ser realizado de forma cada vez mais especializada. Ao invés de participar de todo o processo produtivo, o trabalhador passava a ficar encarregado por uma parte específica desse processo. Assim, aumentava-se a produtividade do trabalho ao mesmo tempo em que se criava um distanciamento entre o trabalhador e sua obra final. Foto: Shutterstock.com Outro tipo de distanciamento ocorreu por meio da distinção entre o espaço do trabalho e o espaço do lar. O trabalho, que antes era conduzido no campo ou na própria residência, nas sociedades agrárias e artesanais, respectivamente, passou a ser realizado, de forma obrigatória, nas fábricas, na sociedade industrial. Com isso, o tempo deixou de ser ditado pelas mãos do artesão ou pelas condições climáticas e estações do ano, passando a ser regido pela velocidade das máquinas. Foi justamente no período da sociedade industrial que as longas jornadas de trabalho tomaram fôlego. Enquanto estimativas indicam que o artesão trabalhava cerca de 4 horas por dia, a média de trabalho durante a Revolução Industrial saltou para cerca de 16 horas diárias. A disciplina rígida e as punições também serviram como instrumento para ordenar o trabalho da época. Em resumo, segundo Dantas (2008), as palavras-chave que podem descrever e sintetizar as características da sociedade industrial são: Concentrar, agigantar, padronizar, especializar e maximizar. Foto: Shutterstock.com SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL À medida em que a importância da indústria para a atividade econômica foi decaindo, a sociedade industrial foi dando lugar à sociedade pós-industrial ou sociedade do conhecimento. Neste novo arranjo, a indústria cedeu lugar aos serviços, que se tornaram hegemônicos. De acordo com De Masi (1999), a ascensão da sociedade pós-industrial ocorreu em meados da década de 1950, quando, pela primeira vez, nos Estados Unidos, o número de trabalhadores nos setores administrativos superou o número de trabalhadores da produção. SAIBA MAIS Para se ter uma ideia do avanço dos serviços frente à produção industrial nesse período, segundo Bell (1973), enquanto as indústrias apresentavam uma variação inferior a 10% na quantidade de empregos entre 1947 e 1968, houve um acréscimo de cerca de 60% nos empregos no setor de serviços. Afinal, as máquinas modernas desenvolvidas entre as sociedades industrial e pós-industrial conseguem realizar sozinhas as atividades de um número cada vez maior de trabalhadores. Além de repercutir na quantidade de empregos no setor industrial, mudanças qualitativas dentro da classe operária também puderam ser observadas. Os operários manuais e não qualificados foram progressivamente dando lugar a uma nova classe de trabalhadores mais qualificados. De fato, esse processo é sintomático de toda a sociedade pós-industrial. Aos poucos, o trabalho manual foi perdendo espaço para a emergência do conhecimento e da tecnologia como recursos centrais na sociedade. Assim como a sociedade agrária, que tinha a terra como foco da atividade produtiva, cedeu lugar à atividade da indústria na sociedade industrial, a sociedade pós-industrial tem o conhecimento como foco da atividade econômica. Esse conhecimento, por sua vez, é materializado como bem comercial por meio dos serviços. Da mesma forma que a sociedade industrial não dispensou os bens produzidos pela sociedade agrícola, a sociedade pós-industrial não dispensa os bens industriais. O que aconteceu nesse processo? Essa sociedade pós-industrial realocou os trabalhadores dos setores agrícola e industrial. Com isso, o capital físico, proveniente da terra ou da indústria, perde lugar para o capital humano, representado pelo conjunto de capacitações profissionais que os trabalhadores adquirem por meio da educação formal e de treinamento. Nesse sentido, o maior desafio deixa de ser única e exclusivamente a eficiência do trabalho e passa a ser a criatividade. Primeiro, observa-se um estágio onde a criatividade é suprimida, e a função do trabalho se traduz, basicamente, em realizar o mesmo processo repetidas vezes no menor espaço de tempo, como prescrito pela especialização do trabalho e a meta de eficiência da sociedade industrial. Depois, a sociedade passa para outro estágio, em que se percebe a valorização das ideias, do conhecimento e da criatividade. Imagem: Shutterstock.com Seguindo essa linha, outro marco característico da sociedade pós-industrial é a globalização. Com o advento da Internet e o avanço não só dos meios de comunicação como também dos transportes, as distâncias foram substancialmente reduzidas, e as trocas de bens e informações entre os diferentes países foram potencializadas. O fluxo de novas ideias entre diferentes culturas também serve para impulsionar ainda mais todo esse processo de valorização de novas ideias e aplicações inovadoras do conhecimento. Em resumo, as sociedades pós-modernas são marcadas por: Um rápido crescimento do setor de serviços em oposição aos setores agrícola e industrial. Um rápido aumento da Tecnologia da Informação. A valorização do conhecimento e da criatividade dentro da atividade econômica. DA SOCIEDADE INDUSTRIAL À PÓS- INDUSTRIAL Neste vídeo, vamos rever os conceitos sobre a sociedade industrial e a pós-industrial. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ENTRE OS SÉCULOS XVIII E XX, A CHAMADA SOCIEDADE INDUSTRIAL FOI MARCADA POR UMA SÉRIE DE MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE E DO TRABALHO. ENTRE ESSAS MUDANÇAS ESTÁ: A) A redução das jornadas de trabalho. B) A valorização da criatividade. C) A redução dos conflitos de classes. D) O incentivo à autonomia e à redução das medidas disciplinares. E) A especialização do trabalho. 2. EM CADA TIPO DE SOCIEDADE, HÁ A PREVALÊNCIA DE DETERMINADO TIPO DE RECURSO FRENTE AOS DEMAIS. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA A SOCIEDADE NA QUAL O RECURSO MAIS VALIOSO COMO BEM DE MERCADO É O CONHECIMENTO. A) Sociedade manufatureira B) Sociedade mercantil C) Sociedade industrial D) Sociedade agrária E) Sociedade pós-industrial GABARITO 1. Entre os séculos XVIII e XX, a chamada sociedade industrial foi marcada por uma série de mudanças na organização da sociedade e do trabalho. Entre essas mudanças está: A alternativa "E " está correta. A transição entre a sociedade pré-industrial (agrária/manufatureira) e a sociedade industrial foi marcada pela ascensão da importância da indústria na economia. Nesse período, houve um aumento das jornadas de trabalho, um incentivo à disciplina e à padronização e o mais importante: uma especialização do trabalho. 2. Em cada tipo de sociedade, há a prevalência de determinadotipo de recurso frente aos demais. Assinale a alternativa que apresenta a sociedade na qual o recurso mais valioso como bem de mercado é o conhecimento. A alternativa "E " está correta. Com a transição da sociedade industrial para a pós-industrial, o conhecimento e a inovação derivada dele passaram a se sobrepor frente à indústria, que prevalecia até então. MÓDULO 3 Definir os conceitos de dado, informação e conhecimento Foto: Shutterstock.com DISTINÇÃO DE CONCEITOS Até agora, estudamos bastante a inovação e suas aplicações no mundo moderno. Também tratamos do surgimento da sociedade do conhecimento e de como as informações são valiosas dentro dos atuais arranjos econômicos. Mas o que exatamente é o conhecimento? Como ele se relaciona com essas informações? Qual é o papel dos dados nesse processo? Embora usemos os termos dado, informação e conhecimento como sinônimos em muitas ocasiões, há importantes distinções teóricas entre os três conceitos. Neste módulo, entenderemos melhor o que significa exatamente cada um desses termos e como eles se relacionam com a gestão do conhecimento nas organizações. Imagem: Shutterstock.com DADO Segundo Angeloni (2008), os dados podem ser entendidos como fragmentos de conhecimento que ainda não passaram por tratamento lógico ou que ainda não foram contextualizados. Os dados descrevem eventos e características individuais de modo relativamente organizado, mas, sem contextualização, acabam sendo pouco informativos. Em outras palavras, quando tomados isoladamente, os dados não contêm um significado intrínseco, não passam informação nenhuma. Para ilustrar, considere a tabela 1: Cliente Dia Hora Valor da compra Método de pagamento 5935731 21/02/2021 10:10 R$ 69,00 Dinheiro 8216877 21/02/2021 10:33 R$ 141,00 Dinheiro 6609672 21/02/2021 11:00 R$ 90,00 Dinheiro 9381306 21/02/2021 11:02 R$ 272,00 Cartão 8816372 21/02/2021 11:17 R$ 335,00 Dinheiro 5391296 21/02/2021 11:22 R$ 171,00 Dinheiro 1211793 21/02/2021 11:49 R$ 64,00 Cartão 4557270 21/02/2021 12:30 R$ 73,00 Cartão 5650738 21/02/2021 12:32 R$ 342,00 Dinheiro Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 1. Dados coletados por um mercado. Elaborado por Yan Bernardes Vieites Castro dos Santos. O QUE PODEMOS CONCLUIR APÓS ANALISAR ESSA TABELA? 1 2 1 Foi disposta uma série de dados sobre o consumo dos clientes de um mercado, como o código de identificação do cliente, o dia, a hora, o valor e o método de pagamento da javascript:void(0) javascript:void(0) compra. No entanto, esses dados não são tão informativos por si só. As informações pessoais do cliente, como gênero, data de nascimento e bairro de moradia não estão disponíveis na tabela, e o número de identificação não diz muito sobre quem está realizando a compra. 2 É difícil estabelecer padrões sem uma análise mais detalhada. Ainda não sabemos qual é a média do valor gasto, qual é a proporção de pagamentos feitos por dinheiro ou cartão, ou, ainda, se há distinções no consumo em diferentes períodos do dia ou entre dias da semana. Isso é particularmente relevante nos dias de hoje, em que as organizações contam com bases de dados cada vez mais volumosas. Com o avanço da tecnologia, essas organizações puderam passar a coletar e armazenar uma quantidade cada vez maior de informações sobre seus clientes e funcionários e até mesmo sobre a concorrência. Em uma época de crescimento vertiginoso da competição, esses dados ajudam empresas a compreender melhor o mercado e, assim, obter vantagem competitiva frente à concorrência. Afinal, quem melhor entende suas forças e fraquezas e consegue enxergar oportunidades no mercado está mais bem equipado para elaborar estratégias de negócios. Pensando nisso, as empresas têm investido cada vez mais na gestão da informação. Os dados não surgem simplesmente para as empresas: a coleta de dados sobre clientes, funcionários e demais áreas de interesse faz parte de uma estratégia ativa das empresas para entender melhor os processos internos e externos. EXEMPLO Quando fazemos o cartão fidelidade em um mercado, preenchemos um formulário contendo dados pessoais. Esses dados podem ser posteriormente cruzados com nossos hábitos de consumo. Imagem: Shutterstock.com Mas quais dados coletar exatamente? Por mais que essas questões possam passar despercebidas pelo consumidor típico, tudo isso é cuidadosamente pensado pelas empresas. Por fim, com o acúmulo cada vez maior de dados por parte das empresas, também é necessário um investimento maciço em Tecnologia da Informação. Os dados são armazenados em bancos de dados computadorizados que requerem cada vez mais espaço e esforço em termos de categorização. Em resumo, há cada vez mais dados disponíveis, mas, sem o tratamento adequado, eles podem não dizer muito. INFORMAÇÃO De acordo com Chiavenato (2009), informação representa o conjunto de dados com certo significado, ou seja, dados que conseguem reduzir a incerteza ou aumentar o conhecimento a respeito de determinado assunto. Foto: Shutterstock.com Por um lado, os dados não ajudam a compreender as questões de interesse por si só, como vimos anteriormente. Por outro, os dados servem de insumo para a geração de valiosas informações. Segundo Davenport e Prusak (1998), após coletados e armazenados, os dados podem ser transformados em informações por meio de um processo que envolve: Contextualização – compreensão dos principais objetivos com os dados coletados. Categorização – necessidade de agrupar os dados de acordo com semelhanças e padrões. Cálculo – análise matemática ou estatística dos dados. Correção – exclusão de possíveis erros na base de dados. Condensação ou síntese – resumo dos dados de forma simples e objetiva, por meio, por exemplo, do uso de tabelas e gráficos, que tornam imensas bases de dados compreensíveis após uma mera inspeção visual. Com acesso aos dados sobre os clientes e sobre seu consumo, é possível tratar os dados para gerar importantes informações. Por exemplo, o mercado pode traçar um perfil mais detalhado sobre seus clientes: Foto: Shutterstock.com SÃO HOMENS OU MULHERES EM SUA MAIORIA? Foto: Shutterstock.com QUAL É SUA IDADE MÉDIA? Foto: Shutterstock.com EM QUE BAIRRO MORAM? Talvez mais importante, é possível entender melhor o padrão de consumo dos clientes como um todo, não importando necessariamente a qual grupo pertencem. Assim, cabem os seguintes questionamentos: Quais são os dias de maior venda? Quais são os meses em que os clientes ficam menos sensíveis ao preço? Quanto os clientes gastam em média por visita ao mercado? Quantas vezes por semana fazem compras? Nos dias em que há divulgação nos veículos de mídia, a procura aumenta? Todas essas perguntas estão relacionadas a informações de grande importância para o tomador de decisão de qualquer empresa. ATENÇÃO Apesar de essenciais para a geração de informações, vivenciamos hoje um paradoxo do excesso de dados, que pode prejudicar a obtenção dessas informações. Com o crescente influxo de novos dados, seu processamento e a consequente obtenção de informações para instruir a tomada de decisão se tornam cada vez mais difíceis. Em meio a tantas opções, fica difícil escolher qual dado exatamente analisar. Também fica mais complexo entender o que o amontoado de informações quer dizer de fato. Portanto, para obter informações, pode ser preciso passar os dados por um filtro que exclua boa parte daquilo que não é tão necessário e deixe, por fim, somente o essencial. Foto: Shutterstock.com CONHECIMENTO Assim como os dados precisam ser devidamente analisados e sintetizados para que possam se transformar em informação: A informação também precisa ser interpretada para, então, transformar-se em conhecimento. O conhecimento representa, portanto, o passo subsequente rumo à tomada de decisão ou até mesmo a descobertas importantes que podem guiar o processo de inovação.Imagem: Gestão do conhecimento, Yaeko Ozaki e Marcia Eloisa Avona, 2016, p. 26. Adaptado por Erik Lopes de Oliveira. Figura 1. Sequência de geração de conhecimento e inovação. Como vimos no módulo anterior, vivemos na sociedade do conhecimento (ou sociedade pós- industrial). Nela, o conhecimento é considerado a principal mercadoria, materializada por meio dos serviços amplamente comercializados nos dias de hoje. O conhecimento é tão relevante justamente porque se situa próximo ao último degrau rumo à inovação. Diferentemente das demais fontes de vantagem competitiva, como a terra e a indústria, o conhecimento (ou capital cultural) é intrínseco aos seres humanos. Para ilustrar a importância dos indivíduos no processo de obtenção do conhecimento e da sua aplicação no mundo real, cabe mencionar algumas definições clássicas de conhecimento: O conhecimento é uma informação valiosa combinada com a experiência, com o contexto histórico e com a reflexão. (DAVENPORT; PRUSAK, 1998) A informação é um fluxo de mensagens, enquanto o conhecimento é criado por esse próprio fluxo de informação, ancorado nas crenças e nos compromissos de seu detentor. (NONAKA; TAKEUCHI, 2004) Diferentemente da informação, o conhecimento está intimamente relacionado com a ação e serve como seu condutor. Retomando mais uma vez o exemplo do mercado, as informações obtidas após o processamento adequado dos dados são, então, interpretadas à luz das especificidades adequadas e direcionadas para a ação. Mais especificamente, o conhecimento obtido por meio da coleta e da subsequente análise dos dados ajuda o tomador de decisão a desenvolver estratégias empresariais mais efetivas, guiando, assim, o processo de inovação. A tabela 2 sintetiza as principais características que separam os conceitos de dado, informação e conhecimento: Dado, informação e conhecimento Dado Informação Conhecimento Simples observação sobre o estado do mundo. Dado dotado de relevância e propósito. Informação valiosa da mente humana, que inclui reflexão, síntese e contexto. Facilmente estruturado; Facilmente obtido por máquinas; Frequentemente quantificado; Facilmente transferível. Requer unidade de análise; Exige consenso em relação ao significado; Exige necessariamente a mediação humana. De difícil estruturação; De difícil captura em máquinas; Frequentemente tácito; De difícil transferência. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela 2. Sequência de geração de conhecimento e inovação. Extraída de Davenport e Prusak, 1998, p. 18. GOOGLE E A PERDA ORGANIZADA DE INFORMAÇÕES Neste vídeo, vamos ver o que podemos aprender com o Google sobre organização de informações. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O PROCESSO DE INOVAÇÃO ENVOLVE DIVERSOS ESTÁGIOS. CONTEXTUALIZAÇÃO, CATEGORIZAÇÃO, CÁLCULO, CORREÇÃO E CONDENSAÇÃO SÃO UTILIZADAS NA TRANSIÇÃO ENTRE QUAIS ESTÁGIOS? A) De conhecimento para informação. B) De informação para dados. C) De dados para informação. D) De dados para conclusão. E) De conhecimento para dados. 2. DE ACORDO COM DAVENPORT E PRUSAK (1998),_________ É UMA INFORMAÇÃO VALIOSA COMBINADA COM A EXPERIÊNCIA, COM O CONTEXTO HISTÓRICO E COM A REFLEXÃO. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE MELHOR SE ENCAIXA NESSA DEFINIÇÃO: A) Dado B) Material C) Informação D) Conhecimento E) Elemento GABARITO 1. O processo de inovação envolve diversos estágios. Contextualização, categorização, cálculo, correção e condensação são utilizadas na transição entre quais estágios? A alternativa "C " está correta. Os estágios envolvidos no processo de inovação abrangem a obtenção de dados, a transformação desses dados em informação e a conversão dessas informações em conhecimento. Contextualização, categorização, cálculo, correção e condensação são particularmente utilizadas na transição entre a análise de dados brutos e a obtenção de informações. 2. De acordo com Davenport e Prusak (1998),_________ é uma informação valiosa combinada com a experiência, com o contexto histórico e com a reflexão. Assinale a alternativa que melhor se encaixa nessa definição: A alternativa "D " está correta. O conhecimento é o último estágio antes que a inovação propriamente dita seja consumada. Ele é resultado de um processo de análise de dados e posterior conversão das informações obtidas em conhecimento. MÓDULO 4 Descrever o conhecimento organizacional Foto: Shutterstock.com CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL – CRIAÇÃO, CODIFICAÇÃO E COORDENAÇÃO, E TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO Já entendemos que o conhecimento representa uma peça fundamental no processo de inovação e na sociedade pós-industrial. Mas resta ainda entender quais são os diferentes tipos de conhecimentos existentes dentro das organizações e como eles interagem para impulsionar a implementação de novas ideias. Neste módulo, abordaremos os conceitos de conhecimento tácito e explícito, e explicaremos como eles se conectam em um processo cíclico, chamado de espiral do conhecimento. CONHECIMENTO TÁCITO E EXPLÍCITO De acordo com Nonaka e Takeuchi (2004), a inovação reflete a evolução entre dois tipos distintos de conhecimento: CONHECIMENTO TÁCITO CONHECIMENTO EXPLÍCITO CONHECIMENTO TÁCITO Tem um caráter bastante subjetivo por estar intimamente relacionado com fatores como crenças, valores e experiências individuais. Assim, como esse tipo de conhecimento parte de um ponto bem particular, fica difícil sistematizá-lo e codificá-lo sob a forma de linguagem. Ele é adquirido pela prática (know-ho w), e, geralmente, é por meio dela mesma que pode ser avaliado. Esse conhecimento está vinculado diretamente a seu detentor e não está presente de forma muito acessível. É justamente em função desse grau de inacessibilidade que o detentor do conhecimento tácito consegue garantir uma vantagem competitiva para a organização. CONHECIMENTO EXPLÍCITO Reflete todo aquele conhecimento já traduzido para a linguagem formal. Portanto, ele pode ser facilmente expresso em palavras, números, gráficos, fórmulas, e assim por diante. Esse tipo de conhecimento é objetivo, sistemático, racional e muito acessível para terceiros, independentemente de crenças, experiência e vivências pessoais. A difusão do conhecimento explícito é mais fácil que a do conhecimento tácito, porque o primeiro pode ser naturalmente armazenado, replicado e compartilhado entre múltiplas pessoas ou organizações simultaneamente. Basta pensar em um documento de texto que pode ser armazenado no computador e, posteriormente, enviado para diversos contatos dentro de uma organização de forma simultânea. Vejamos um exemplo claro de conhecimento tácito: autor/shutterstock É aquele conhecimento que um chef de cozinha renomado possui e emprega ao fazer seus pratos. Por meio da prática e da experiência com acertos e erros ao longo dos anos, o chef consegue preparar pratos elaborados sem nem se dar conta de como sabe tudo aquilo. Esse conhecimento já está cristalizado no know-how desse profissional. autor/shutterstock Como forma de difundir esse conhecimento tácito, muitas vezes, chefs de cozinha lançam livros com algumas de suas receitas ou publicam dicas em colunas especializadas no assunto. No entanto, um mero leitor desses assuntos muito provavelmente não conseguirá replicar a receita com a mesma maestria do chef de cozinha. Quem nunca se decepcionou na cozinha, não é mesmo? Você sabe por que isso acontece? Porque o livro passa os detalhes que podem ser entendidos de forma mais objetiva – conhecimento explícito –, mas toda a técnica por trás da execução do prato fica a cargo do conhecimento tácito, que é subjetivo e demanda certo grau de experimentação pessoal. Os dois conhecimentos são, portanto, parte fundamental do processo de aprendizado e, no contexto organizacional, do processo de inovação. Foto: Shutterstock.com ESPIRAL DO CONHECIMENTO Embora possuam importantes distinções conceituais, os conhecimentostácito e explícito se comunicam constantemente para impulsionar o avanço dentro das empresas. De modo geral, devido a seu caráter pessoal e subjetivo, o conhecimento tácito serve como ponto de partida do processo da inovação. Já o conhecimento explícito reflete o ponto final desse processo. Mas um não necessariamente supera o outro em termos de importância. O conhecimento explícito só pode ser formalizado na medida em que interpretações subjetivas de contextos particulares permitem generalizações mais claras sobre outras situações de relevância para a organização. A criação do conhecimento organizacional pode ser entendida como a sistematização e difusão do conhecimento gerado pelos indivíduos e propiciado pela organização. De acordo com Nonaka e Takeuchi (2004), o processo de criação de conhecimento nas organizações se relaciona com a interação dos conhecimentos tácito e explícito de forma articulada e cíclica. Esse fenômeno é chamado de espiral de conhecimento, na qual é fundamental o papel dos indivíduos, que interagem e possibilitam a geração contínua de novos conhecimentos. Mas como ocorre exatamente esse processo? Como ilustrado na figura 2, a conversão cíclica do conhecimento pode ser destrinchada a partir de quatro padrões principais: Socialização Externalização Combinação Internalização Imagem: Empreendedorismo na era do conhecimento, Francisco Antonio Pereira Fialho, Gilberto Montibeller Filho, Marcelo Macedo e Tibério da Costa Mitideri, 2006, p. 113. Adaptada por Erik Lopes de Oliveira. Figura 2. Espiral do conhecimento. Vamos detalhar cada um desses padrões: SOCIALIZAÇÃO (DE TÁCITO PARA TÁCITO) Este é o pontapé inicial na espiral do conhecimento, que reflete a conversão de um conhecimento tácito em outro conhecimento de mesma natureza. Nesse estágio do processo, o poder de criação de conhecimento é relativamente limitado. Afinal, ocorre, basicamente, a transferência dos conhecimentos tácitos de um indivíduo para outro sem a criação de qualquer tipo de conhecimento explícito propriamente dito. Esse processo acontece por meio de observação, imitação e prática. A chave é a experiência. Um exemplo de socialização é quando um funcionário mais antigo dentro de uma empresa passa seus conhecimentos para um funcionário recém-chegado. EXTERNALIZAÇÃO (DE TÁCITO PARA EXPLÍCITO) A partir do momento em que os indivíduos se tornam capazes de sistematizar o conhecimento obtido por meio de observação e prática, há uma conversão do conhecimento tácito para o conhecimento explícito. Como o conhecimento resultante dessa conversão pode ser mais facilmente transferido para os demais, há maior chance de que o conhecimento gere inovações. A abertura a novas ideias e o incentivo à sistematização dos conhecimentos pessoais são de extrema importância para a condução dessa etapa dentro do contexto organizacional. COMBINAÇÃO (DE EXPLÍCITO PARA EXPLÍCITO) Da mesma forma que o conhecimento tácito pode ser transferido por meio de um processo de socialização, os fragmentos de conhecimento explícito também podem ser combinados para gerar um conhecimento novo. Neste estágio, conhecimentos estruturados são transferidos, por exemplo, por meio de apresentações de resultados e trocas de e-mails para gerar novos conhecimentos objetivos e acessíveis aos demais – isto é, conhecimentos explícitos. INTERNALIZAÇÃO (DE EXPLÍCITO PARA TÁCITO) Também é possível transformar elementos de um conhecimento explícito para gerar um novo conhecimento tácito. Nesta etapa, os conhecimentos sistemáticos e as padronizações são consumidos pelo indivíduo e, então, adaptados com base nas experiências e nos valores desse mesmo indivíduo ou da organização na qual ele atua. Para que essas etapas se concretizem de forma cíclica e produtiva dentro do contexto organizacional, é preciso que haja um amplo incentivo às atividades de grupo e à troca de conhecimentos coletivos. Todo o processo de conversão do conhecimento apresentado resulta em inovação, mas passa, primeiro, pela troca entre os indivíduos. Como já mencionamos, na sociedade pós-industrial em que vivemos, o conhecimento prevalece. Portanto, é necessário criar uma estrutura que favoreça sua troca e sua sistematização dentro das empresas. FORMAS DE CONHECIMENTO EM UMA ORGANIZAÇÃO Neste vídeo, vamos rever o que estudamos neste módulo sobre conhecimento tácito, explícito, e a relação entre eles. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (CESGRANRIO ‒ IBGE ‒ ANALISTA ‒ 2013) NA ANÁLISE DA ESPIRAL DO CONHECIMENTO: A) A socialização é o compartilhamento do conhecimento explícito por meio da observação, imitação ou prática. B) A articulação ou externalização é a conversão do conhecimento tácito em explícito e sua comunicação ao grupo. C) A internalização envolve a padronização do conhecimento, seu agrupamento em um manual ou guia de trabalho e sua incorporação a um produto. D) A combinação ocorre quando novos conhecimentos explícitos são compartilhados na organização, e outras pessoas começam a utilizá-los para aumentar, estender e reenquadrar seu próprio conhecimento. E) A socialização envolve o conhecimento conceitual, a combinação envolve o conhecimento sistêmico, a externalização envolve o conhecimento operacional, e a internalização envolve o conhecimento compartilhado. 2. (TRT ‒ ANALISTA ‒ 2017) CADA VEZ MAIS, AS EMPRESAS TRABALHAM COM DADOS, INFORMAÇÕES E CONHECIMENTOS. UMA ORGANIZAÇÃO CRIA E UTILIZA CONHECIMENTO, TRANSFORMANDO-O DE TÁCITO EM EXPLÍCITO, E VICE-VERSA. UM DOS QUATRO MODOS DE CONVERSÃO DO CONHECIMENTO É: A) A socialização (de explícito para tácito), que procura compartilhar e criar conhecimento por meio de experiência direta. B) A externalização (de tácito para explícito), que procura articular conhecimento explícito por meio do diálogo e da reflexão. C) A combinação (de explícito para explícito), que procura sistematizar e aplicar o conhecimento explícito e a informação. D) A internalização (de implícito para tácito), que procura aprender e adquirir novo conhecimento tácito na prática. E) A transferência (de explícito para tácito), que procura sistematizar e aplicar o conhecimento explícito e a informação. GABARITO 1. (CESGRANRIO ‒ IBGE ‒ Analista ‒ 2013) Na análise da espiral do conhecimento: A alternativa "B " está correta. Na espiral do conhecimento, a externalização se refere ao tipo de conversão do conhecimento caracterizado pela sistematização de um conhecimento anteriormente subjetivo, ou seja, a transformação de um conhecimento tácito em um explícito. 2. (TRT ‒ Analista ‒ 2017) Cada vez mais, as empresas trabalham com dados, informações e conhecimentos. Uma organização cria e utiliza conhecimento, transformando-o de tácito em explícito, e vice-versa. Um dos quatro modos de conversão do conhecimento é: A alternativa "C " está correta. Na espiral do conhecimento, a combinação se refere ao tipo de conversão do conhecimento caracterizado pela mescla e posterior sistematização de diferentes conhecimentos explícitos. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Temos à nossa disposição um volume extraordinário de informações, mas não é fácil usá-las para construir algo relevante no dia a dia. Neste conteúdo, discutimos sobre a relação entre criação de conhecimento e desenvolvimento econômico e, a partir disso, narramos a evolução do conhecimento ao longo da história. Com essa base, pudemos definir formalmente os conceitos de dado, informação e conhecimento, que, frequentemente, confundem-se, e aprofundamos o debate sobre o conhecimento – que, ao final, é capaz de gerar as inovações que fazem a economia se desenvolver. Este é seu primeiro passo na área de Gestão do Conhecimento – um campo vasto que procura organizar o que sabemos e buscar novas ideias e práticas. Por exemplo, ao recorrer ao Google para fazer uma pesquisa sobre restaurantes próximos à sua casa ou ao buscar determinado tema no Ambiente Virtual de Aprendizagem, você está usando as ferramentas dessa área. Fiqueatento à sua volta: nosso dia a dia é organizado em torno da estrutura de produção e distribuição de conhecimento da sociedade. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ANGELONI, M. T. (org.). Organizações do conhecimento: infraestrutura, pessoas e tecnologia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. BELL, D. Advento da sociedade pós-industrial: uma tentativa de previsão social. São Paulo: Cultrix, 1973. CHIAVENATO, I. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. DANTAS, D. O cenário pós-industrial: modificações no ambiente do objeto na sociedade contemporânea e seus novos paradigmas. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, São Paulo, n. 22, p. 122-140, dez. 2008. DAVENPORT, T.; PRUSAK, L. Working knowledge. Boston: Harvard Business Press, 1998. DE MASI, D. (org.). A sociedade pós-industrial. São Paulo: Senac, 1999. FIALHO, F. A. P. et al . Empreendedorismo na era do conhecimento. Florianópolis: Visual Books, 2006. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação do conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 2004. OLIVEIRA, F. A. Schumpeter: a destruição criativa e a economia em movimento. Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada, Juiz de Fora, v. 10, n. 16, p. 99-122, jan./jun. 2014. OZAKI, Y.; AVONA, M. E. Gestão do conhecimento. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional, 2016. SCHUMPETER, J. A. Capitalism, socialism and democracy. Nova York: Harper & Row, 1942. v. 36, p. 132-145. SCHUMPETER, J. A. The theory of economic development. Cambridge: Harvard University Press, 1911. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados, leia: O artigo Das redes sociais à inovação, de Maria Inês Tomael et al ., Ciência da Informação. CONTEUDISTA Yan Bernardes Vieites Castro dos Santos CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);