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GESTÃO DE OBRAS E PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Comparar as formas de sondagens e investigação do subsolo. > Identificar a composição dos custos unitários. > Explicar o que são BDI, encargos sociais e regimes de execução. Introdução Na vida profissional, você terá oportunidades para trabalhar em muitas áreas da engenharia civil. Essas experiências, mesmo se alternando ao longo dos anos, transformam-se num grande pacote profissional que se traduz no seu currículo. As experiências podem ser em projetos, execução/fiscalização de obras, plane- jamento, orçamentação, gestão, docência, pesquisa e até realização de sonhos pessoais, como a reforma ou construção de sua casa. Neste capítulo, você vai conhecer os tipos de sondagens de subsolo mais uti- lizados, bem como os critérios técnicos para escolha, identificação dos insumos e produtividade para construção de custos unitários. Além disso, verá quando utilizar custos unitários desonerados e onerados com relação aos encargos sociais. Será também abordado o que é e como estimar bonificações e despesas indiretas (BDI) e como calcular o preço de venda unitário de um serviço, fundamental na carreira de orçamentistas ou planejadores. Por último, estudará formas de contratação usuais na construção civil. Estimativa de custos de uma obra Patricia Almeida Sondagens e investigações do subsolo É muito importante a execução de uma investigação geotécnica quando se planeja uma obra civil, em especial para o projeto de fundações. Dois casos podem acontecer quando não se usa a investigação geotécnica para a identificação do solo: é arbitrado o valor da resistência, podendo fazer com que a empresa gaste mais do que o necessário; ou o profissional estima o valor da resistência, podendo colocar a estrutura em colapso ou apresentar patologias graves e muito onerosas na solução. Os métodos mais usados permitem observar e identificar as camadas onde serão assentadas fundações e o nível do lençol freático (caso esteja localizado na profundidade estudada). Dentre os tipos de sondagens mais utilizados na construção civil, podemos citar sondagem a trado, a percussão, rotativa e mista, todas elas sondagens dinâmicas. As sondagens de penetra- ção de cone in situ (CPT) e de piezocone (CPTU) são consideradas sondagens quase estáticas. Sondagem a percussão A sondagem a percussão (standard penetration test — SPT) é a mais utilizada e dela é calculado o índice de resistência à penetração (NSPT). A NBR 6484 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020) define a metodologia desse ensaio. Usa-se o mapeamento de furos em planta conforme a NBR 8036 (ABNT, 1983) e experiência de engenheiros geotécnico e calculista. Sua execu- ção se dá por meio de um equipamento dotado de amostrador-padrão, que é cravado por um martelo de 65 kg, posicionado a 75 cm de altura. São anotados os números de golpes para cravar o amostrador em 45 cm, analisando-se o número de golpes dados em um intervalo de cravação de 15 cm. Esse ensaio é executado a cada metro escavado ao longo do subsolo. A sondagem SPT deve ser finalizada quando se atinge a profundidade-limite estabelecida pelo projeto ou quando se encontra um material de natureza impenetrável. Estimativa de custos de uma obra2 A amostra extraída (testemunho) corresponde ao segmento dos últimos 30 cm de cada metro. Os valores N2 e N3 servem de base para o cálculo do índice NSPT (= N2 + N3). Os restantes 55 cm da profundidade de um metro sondado são de escavação. A Figura 1 ilustra o ensaio SPT. Figura 1. Etapas executivas da sondagem SPT. Fonte: Cintra et al. (2013, p. 12). A Figura 2 exibe um Boletim de Sondagem a Percussão, resultado prático que é entregue ao calculista de fundações. Estimativa de custos de uma obra 3 Figura 2. Exemplo de Boletim de Sondagem a Percussão. Estimativa de custos de uma obra4 Sondagem rotativa Esta modalidade visa o estudo de rochas ou de materiais em que a penetra- ção a percussão não é possível. São utilizadas brocas especiais com coroas diamantadas. Sondagem mista É a metodologia que utiliza a sondagem rotativa e a SPT de forma conjunta. Dessa forma, é possível identificar blocos de rochas em posições intermedi- árias, conhecidos como matacões, e obter o NSPT ou identificar a espessura desejada de maciços rochosos. Ensaios de penetração CPT e CPTU Nesses tipos de ensaio, introduzimos no terreno uma ponteira de forma cônica a uma velocidade constante de 2 cm/s, investigando mais de 1 m do terreno a cada minuto. A cada 20 cm de profundidade, o cone de 4 cm é penetrado, sendo registrada a força (F1) utilizada. Essa força F1 é dividida pela área da ponta (10 cm2) e temos o valor da resistência de ponta (qc). Depois dessa operação, faz-se a cravação de mais 4 cm, agora do cone com luva, obtendo-se a força F2, que é dividida pela área de superfície lateral (150 cm2), obtendo-se a resistência ao atrito (fs). Todo o conjunto então é cravado por mais 12 cm, completando os 20 cm. São acrescentadas novas hastes para a continuidade dos próximos 20 cm. O valor do quociente entre fs e qc é denominado razão de atrito (Rf) (CINTRA et al., 2013). Temos duas modalidades de CPT, a mecânica e a elétrica. Esta última é considerada uma evolução da primeira, pois apresenta células de carga para a medição do qc e fs, além de promover uma operação mais rápida e produ- tiva em campo. Existe similaridade entre o CPT elétrico e o CPTU, que conta com um anel poroso que é previamente saturado para a cravação, levando a resultados mais confiáveis e medidas de pressões neutras. A Figura 3 ilustra o formato das ponteiras-padrão no CPT e no CPTU. Estimativa de custos de uma obra 5 Figura 3. Ponteiras do ensaio: (a) para CPT mecânico; (b) para CPTU (b). Fonte: Adaptada de Cintra et al. (2013). De acordo com Cintra et al. (2013), a aplicação mais importante do CPT e do CPTU é para a identificação do perfil do subsolo em detalhe. São utilizadas cartas de classificação para a caracterização do solo. Vale ressaltar que a resistência de ponta é alta em solos arenosos e baixa em solos argilosos, ao contrário Rf, em que esta condição se inverte. Poço de inspeção de pavimento Processo feito por escavação manual de grande diâmetro e pouca profundi- dade. Serve para análise visual das paredes da escavação em estado natural e permite a extração de amostras indeformadas. Usado em pavimentação. Podemos utilizar também outras investigações, como o ensaio de palheta (vane test) ou para obtenção da resistência ao cisalhamento, métodos especí- ficos de retirada de amostras indeformadas, instalações de piezômetro para monitoramento do lençol freático, instalação de inclinômetro para monitorar as deformações do maciço e poços de monitoramento, muito utilizados pelo segmento ambiental, permitindo controle e coleta de amostra de água. Estimativa de custos de uma obra6 Os resultados de conjugação de diversas técnicas de ensaio de campo e de laboratório precisam ser interpretados e comparações anteriores de experiências locais devem ser buscadas (MILITITSKY; CONSOLI; SCHNAID, 2015). O Quadro 1 resume os tipos de sondagem estudados. Quadro 1. Tipos de sondagem Ensaio Norma Dados obtidos Sondagem a trado NBR 9603 (ABNT, 2015) Nível de água, amostra deformada, identificação dos horizontes do terreno. SPT NBR 6484 (ABNT, 2020) Nível de água, amostra indeformada, NSPT, identificação dos horizontes do terreno. Sondagem rotativa Identificação do tipo de rocha; com- plementa o ensaio SPT, conferindo maior confiabilidade. Sondagem mista Conjugação da sondagem STP com sondagem rotativa. CPT Eurocode/ASTM NBR 12069 (ABNT, 1991) cancelada Nível de água, identificação dos horizontes do terreno, resistência de ponta e de atrito lateral. Maior precisão e confiabilidade que o SPT. CPTU Eurocode/ASTM NBR 12069 (ABNT, 1991) cancelada Nível de água, identificação dos horizontes do terreno, resistência de ponta e de atritolateral, medidas de pressões neutras. Maior precisão e confiabilidade que o SPT. Poço de inspeção de pavimento NBR 9604 (ABNT, 2016) Estrutura do pavimento, espes- sura e tipo de matéria;. inspeção visual; amostras indeformadas ou deformadas. Por sua vez, o Quadro 2 reproduz como exemplo os custos unitários de sondagem publicados pela prefeitura de São Paulo em suas tabelas de custos. Como pode ser verificado, os custos de mobilização e de transporte entre os furos são itens adicionais a serem considerados nos orçamentos. Estimativa de custos de uma obra 7 Quadro 2. Exemplos de custos unitários de infraestrutura desonerados Descrição Unidade Custo unitário (R$) Sondagens e ensaios Sondagem manual Sondagem a trado manual M 62,91 Sondagem com extração de amostras nas condições naturais UN 109,99 Sondagem a percussão Mobilização e instalação de 1 equipamento UN 491,26 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno plano, considerando a distância até 100 m UN 78,94 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno plano, considerando a distância de 100 a 200 m UN 157,88 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno plano, considerando a distância acima de 200 m UN 236,82 Deslocamento de equipamento em terreno acidentado, considerando a distância até 50 m UN 78,94 Deslocamento de equipamento em terreno acidentado, considerando a distância acima de 50 m UN 138,35 Execução de plataforma em terreno alaga- diço ou acidentado UN 150,39 Perfuração e execução de ensaio penetomé- trico ou de lavagem por tempo M 101,00 Sondagem rotativa Mobilização e instalação de 1 equipamento, considerando a distância até 10 km UN 286,29 Mobilização e instalação de 1 equipamento, considerando a distância de 10 a 20 km UN 440,21 (Continua) Estimativa de custos de uma obra8 Descrição Unidade Custo unitário (R$) Sondagens e ensaios Mobilização e instalação de 1 equipamento, considerando a distância acima de 20 km UN 594,14 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno plano, considerando a distância até 100 m UN 132,36 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno plano, considerando a distância de 100 a 200m UN 198,54 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno plano, considerando a distância acima de 200m UN 264,72 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno acidentado, considerando a distância até 50 m UN 132,36 Deslocamento de equipamento entre furos em terreno acidentado, considerando a distância acima de 50 m UN 198,54 Execução de plataforma em terreno alaga- diço ou acidentado UN 337,42 Perfuração em solos ou rochas decompostas HX M 145,70 Perfuração em solos ou rochas decompostas NX M 145,48 Perfuração em solos ou rochas decompostas BX M 145,18 Perfuração em solos ou rochas decompostas AX M 145,10 Perfuração em rocha mole (filitos, siltitos, arenitos, e rochas afins), acréscimo do seguinte percentual (em relação ao preço da perfuração em solos e rochas decompostas) % 100,00 (Continua) (Continuação) Estimativa de custos de uma obra 9 Descrição Unidade Custo unitário (R$) Sondagens e ensaios Perfuração em rocha dura ou extradura (granitos, gnaisses, quartzitos e rochas afins), acréscimo do seguinte percentual (em relação ao preço da perfuração em solos ou rochas decompostas) % 300,00 Poços de inspeção Execução de poço com 1 m2 de área M 75,64 Execução e material para escoramento M 383,85 Reaterro do poço M 7,81 Fonte: Adaptado de São Paulo (2021). Em qualquer dos casos, o planejamento da investigação do subsolo deve ser feito por engenheiro geotécnico experiente, conjugando as metodologias necessárias para a execução adequada do projeto de fundações. Composição de preços unitários O mercado da construção civil está cada vez mais automatizado, especiali- zado, certificado, produtivo e controlado. Essas evoluções se refletem nos produtos entregues em termos de qualidade, no aumento da competitividade e também nos preços de venda oferecidos. O preço de venda na construção civil é composto, em geral, sobre itens uni- tários, após a identificação de todos os serviços necessários à concretização do projeto. Com base na identificação desses serviços, após o planejamento da obra e execução dos projetos, é feito o levantamento das quantidades e custos dos materiais, mão de obra e equipamentos. O custo unitário alcan- çado ainda não é o preço de venda, pois deve ser acrescido de impostos e lucratividade almejada. Vale lembrar que os custos diretos e indiretos devem ser criteriosamente estudados para garantir o lucro final. (Continuação) Estimativa de custos de uma obra10 Tendo em vista a competitividade entre as construtoras, para manter a margem de lucro e até a sobrevivência da empresa, buscam-se alternativas para a redução dos custos unitários, mas sem perda de qualidade. Nesse aspecto, a terceirização se tornou uma prática, de forma a buscar a espe- cialidade de menores segmentos, cujos custos são viáveis aos orçamentos. Os custos unitários variam de um projeto de edificação para outro, pois os projetos são singulares, muitas vezes buscando certificações ambientais e maior durabilidade. Para isso, é exigido um planejamento diferenciado desde o início da obra e do projeto. O estudo dos custos, prazos e planejamento é fundamental nesse caso, e exige precisão e rapidez nas adequações e atualizações, para que não represente uma fotografia estática do momento único de apresentação ao cliente. Composição de custo unitário A composição é um modelo detalhado de determinado serviço ou tarefa, em que consta um título resumido, quantidades, produtividade e custo unitário da mão de obra envolvida, bem como quantidade e custo unitário de cada material, além dos itens de equipamentos necessários à execução. Todos esses valores devem estar associados a uma unidade de medida desse serviço. Como exemplo, a Figura 4 exibe um documento de composição de custo unitário para serviço de perfuração em solos ou rochas decompostas. Figura 4. Documento da Prefeitura de São Paulo que discrimina composição de custo unitário para serviço de perfuração em solos ou rochas decompostas. Fonte: São Paulo (documento on-line). Estimativa de custos de uma obra 11 Custos diretos e indiretos de obra Os custos diretos são os relativos à execução direta da obra e fazem parte da composição de custos de serviços, devendo ser considerados todos os insumos empregados, incluindo materiais, mão de obra e equipamentos. A mão de obra deve ser acrescida de encargos sociais. Devem ainda constar os equipamentos de proteção individual, transporte, alimentação, seguro de vida, seguro-saúde e incidentes de mão de obra direta. Já os custos indiretos dizem respeito à gestão da obra. Devem ser con- siderados custos de administração local, mobilizações e desmobilizações, instalação de canteiros, seguros, remuneração de engenheiros, mestres de obra e outros profissionais da gestão técnica. Gastos com água, energia e impressões são alguns exemplos. Em geral, tais custos são estimados em função da sua distribuição por diversas obras, em forma de porcentagem. Custo unitário sem desoneração e com desoneração Essas duas modalidades de custo têm relação direta com os custos de mão de obra. Quando estes são considerados, são incluídos encargos sociais, ou seja, taxações sobre a folha de pagamento. Segundo Nasihgil (2015), a inclusão da categoria da construção civil no rol das atividades beneficiadas com a desoneração na legislação federal teve como objetivo ativar este robusto e importante mercado empregador. Em resumo, alguns segmentos econômicos podem efetuar descontos do INSS sobre alguns itens da folha de pagamento. Os itens dos custos unitários devem estar atualizados quando for ela- borado o orçamento da obra. Os coeficientes de mão de obra sempre podem ser revistos, adequando-se à experiência da empresa ou regionalidade. Neste item, observamos materiais,mão de obra, equipamentos e ferramentas. Tabela de Composições e Preços para Orçamento (TCPO) Trata-se de uma importante referência de engenharia de custos do Brasil. Foi lançada há mais de 60 anos, quando ainda não tínhamos ferramentas de informática e todas as informações eram impressas. Atualmente, está modernizada e é comercializada em diversas bases de dados, para empresas Estimativa de custos de uma obra12 e profissionais que busquem a facilitação do processo de orçamentação. A TCPO tem atualização dos insumos e arquivos editáveis dos coeficientes. Este serviço atende ao mercado da construção civil público e privado. As bases comercializadas hoje em dia são mostradas no Quadro 3. Quadro 3. Bases de orçamento Base Órgão Aplicação Sinapi Caixa Econômica Federal Obras públicas em geral SICRO2 (DNIT) Sudeste Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes Obras públicas de infraestrutura EMOP Empresas de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro Obras públicas no município do Rio de Janeiro SIURB EDIF Prefeitura de São Paulo Obras da Secretaria de Infraestrutura Urbana do Município de São Paulo SIURB INFRA Prefeitura de São Paulo Obras da Secretaria de Infraestrutura Urbana do Município de São Paulo SEINFRA Governo do Estado do Ceará Obras da Secretaria de Infraestrutura do Ceará CDHU Secretaria de Habilitação do Estado de São Paulo Obras da CDHU no Estado de São Paulo Fonte: Adaptado de TCPO ([2021?]). Sistema Nacional de Pesquisa de Custos Diretos e Índices da Construção Civil (Sinapi) Segundo a Caixa Econômica Federal (2020), a criação do Sinapi ocorreu em 1969, implementado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi adotado pela Caixa em 1986, como referência na análise de obras habitacionais. Ampliado, serve hoje de balizador para qualquer empreendimento financiado pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O Sinapi foi legalizado pelo Decreto nº 7.983 (BRASIL, 2013a), que estabeleceu regras para a elaboração do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia contratados Estimativa de custos de uma obra 13 e executados com recursos da União. Além das tabelas de custos unitários para orçamentos de obras, a Caixa disponibiliza em sua página da internet tabelas de composição de encargos sociais para cada estado e para o Distrito Federal, incluindo os valores com desoneração e sem desoneração. A Figura 5 apresenta um exemplo de arquivo disponibilizado. Figura 5. Exemplo de uma composição analítica de preço unitário sem custos. Fonte: Caixa Econômica Federal (2021b, documento on-line). BDI, encargos sociais e regimes de execução Encargos sociais são tributos atribuídos às empresas, com intuito de custear programas e direitos trabalhistas de seus empregados, como a aposenta- doria. Esses impostos incidem sobre a folha de pagamento dos funcionários diretamente. Quando são adicionados, os valores de mão de obra dos custos unitários sofrem uma variação considerável. A Lei nº 12.844 (BRASIL, 2013b) instituiu a desoneração da folha de pagamentos para alguns setores da economia, desobrigando o recolhimento da parcela de contribuição previ- denciária de 20% ao INSS sobre a folha de pagamento. Tais verbas, somadas às denominadas contribuições sociais, ou seja, aquelas que não vão diretamente para o bolso do empregado, mas sim para os cofres públicos com o fito de financiar políticas públicas — tais como o custeio da Previdência Estimativa de custos de uma obra14 Social, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o salário educação e os subsídios ao denominado “Sistema S”, ao Incra e ao Sebrae —, constituem [...] 102,6% da folha de pagamento das empresas, contra 60% na Alemanha, 58,8% na Inglaterra, 51% na Holanda e 9% nos Estados Unidos da América. (BITENCOURT; TEIXEIRA, 2008, p. 54). Segundo Nasihgil (2015), um trabalhador contratado por um salário mensal de R$ 1.000,00, custaria para a empresa R$ 2.026,00 em razão dos encargos sociais que o acompanhariam. Os vários sistemas de composições de preços, como Sinapi, Orse, Pini e outros, se adaptaram para oferecer tabelas para orçamentos de obras com as versões de preço desonerado e não desonerado. Em resumo, temos que Preço Não Desonerado (ou sem desoneração) é o preço da mão de obra que considera a contribuição previdenciária de 20% sobre a folha de pagamento, enquanto o Preço Desonerado (ou com desoneração) é o preço da mão de obra sem essa incisão. BDI Segundo a Caixa Econômica Federal (2020), devemos entender a diferença entre custo, despesa e preço. O custo representa a preocupação do contratado, pois é quanto efetivamente ele vai despender diretamente na execução da obra. As despesas são saídas de numerário para uso na manutenção de sua empresa, sendo tratadas como indiretas, pois não têm uma relação direta com os custos da obra. Podem ser fixas (aluguéis, pró-labore, salários admi- nistrativos) ou variáveis, como a tributação sobre o faturamento. O preço tem visibilidade pelo contratante, pois deverá pagar ao contratado por determinado bem ou serviço. No mercado da construção civil, o preço ou valor contratual para execução da obra inclui os custos diretos e indiretos da obra, as despesas indiretas proporcionais e o lucro almejado da empresa contratada. O cálculo dos custos diretos e indiretos tem relação íntima com o projeto e o planejamento da obra. Em geral, os custos na construção civil são unitários, ou seja, possuem quantidade estimada, preço de uma unidade do serviço e cálculo do total, item a item. As despesas e o lucro são estimados em percentual sobre o custo total. Esse percentual é formado então pela bo- nificação (B) ou lucro (L) e pelas despesas indiretas (DI). A sigla BDI também é conhecida como LDI, ou seja, Lucro e Despesas Indiretas. O Quadro 3 mostra a distribuição na formação do preço com o que é considerado em cada segmento. Estimativa de custos de uma obra 15 Quadro 3. Formação de preço Preço Custo BDI Direto Indireto Despesa Bonificação � Materiais � Mão de obra � Equipamentos � Ferramentas � EPI � Outros � RH/Gestão técnica � RH administrativo � Manutenção de canteiro � Veículos � Mobilização � Outros � Tributos � Despesas financeiras � Risco � Administração central � Outros � Lucro Obra Sede Empresa Fonte: Adaptado de Caixa Econômica Federal (2021b). Já na Figura 6, temos um exemplo prático de uma planilha de uso público para cálculo do BDI oferecida pela Caixa Econômica Federal. Figura 6. Planilha oferecida pela Caixa Econômica Federal para cálculo do BDI. Fonte: Caixa Econômica Federal (2021a, documento on-line). Estimativa de custos de uma obra16 Regimes de contratação Contratos empresariais Segundo Wenceslau (2020), um contrato empresarial apresenta características de negócio jurídico e tem como pressuposto ser bilateral ou plurilateral. O contrato cria, modifica ou extingue regras negociadas em vínculo empresarial. Deve estar expresso em texto escrito com suas vontades e objetiva a manu- tenção da segurança jurídica. Representa, portanto, uma prova posterior das manifestações de vontades particulares e da vontade contratual. Sendo um contrato um negócio empresarial, ainda segundo Wenceslau (2020), está sujeito às regras gerais do Código Civil e às leis especiais de âmbito empresarial. Os contratos em espécie são de vários tipos, como contrato de compra e venda mercantil, de locação não residencial, de transferência de tecnologia, de arrendamento rural, de prestação de serviços e terceirização, transportes, franquia, etc. O contrato de prestação de serviços, diretamente relacionado à constru- ção civil, é uma importante ferramenta, devido à complexidade dos serviços envolvendo a contratação de obras e projetos. Esse instrumento visa garantir direitos e deveres às partes envolvidas juridicamente, de forma que aquilo que foi estipulado seja cumprido. Cabeao contratado e ao contratante definir a forma mais adequada para uma obra. As opções utilizadas são contrato por preço global, contrato por administração, contrato por preço máximo garantido, contrato por preço unitário e contrato de terceirização, analisadas caso a caso a seguir. Contrato de preço global Para o contratante, é a modalidade mais prática e com menos risco. É acertado um valor pré-determinado e a construtora deve entregar o objeto contra- tado completo no prazo combinado. Este tipo de contrato é utilizado para projetos executivos, de forma que a construtora tenha condições de fazer um orçamento criterioso. Os memoriais descritivos da obra devem ser deta- lhados, para que não haja dúvidas de nenhum dos lados. Qualquer alteração ensejará um aditivo contratual que venha a refletir e incluir esta alteração. A desvantagem desse tipo de contrato é em relação à carga tributária. A nota fiscal emitida pela construtora inclui diversos impostos sobre o preço da obra, como PIS, Cofins e ISS. Estimativa de custos de uma obra 17 Contrato de construção por administração Neste contrato, normalmente não se tem um projeto executivo, e o escopo com memoriais descritivos ainda podem ser alterados durante a execução. A construtora, nesse caso, pode ser contratada com recebimento percentual sobre os custos de material e mão de obra efetivamente despendidos na obra. Essa porcentagem varia, dependendo do tamanho ou tipo de obra. Para não haver momentos sem recebimento na obra por indecisões ou falta dos ma- teriais adquiridos pelo contratante, geralmente se define um pagamento fixo mínimo e, com o desenrolar da obra, acrescentam-se os valores porcentuais. Contrato por preço máximo garantido (PMG) É uma modalidade mista do sistema de preço global e por administração, em que se busca obter as vantagens do contrato por preço global, sem ser onerado por maior carga tributária. A construtora faz um orçamento aberto e define sua porcentagem de remuneração. Existem duas condições em relação ao custo final do serviço: se o custo for inferior ao esperado, a construtora e o contratante dividem o lucro da diferença; caso o custo da obra seja maior, a construtora assume o prejuízo do negócio. Essa situação obriga a construtora a controlar constantemente os custos para evitar que ultrapasse o orçamento previsto. Empreitada por preço unitário Este contrato é usual em obras de reformas, manutenção e de infraestrutura. Em geral, envolve poucos serviços e grandes quantidades. Assim, o preço final da construção é mais previsível e representado pela soma do preço dos serviços realizados multiplicado pela quantidade. Neste contrato, é muito importante a existência de um escopo e critérios de medição claros aos dois lados, contratante e contratado. Em geral, caso o projeto seja alterado, pode-se inserir novos itens unitários e aditivar o contrato mais rapidamente. Terceirização (contrato civil) A nova legislação permite que todas as atividades em todos os setores eco- nômicos sejam terceirizadas. A empresa terceirizada pode ser contratada para executar grande variedade de atividades da construtora. É importante ressaltar que não existe vínculo empregatício entre os funcionários da empresa terceirizada e a empresa contratante. O trabalhador executa serviços para a contratante (construtora), mas é remunerado pela empreiteira. A empreiteira Estimativa de custos de uma obra18 deve ter capital social compatível com o número de empregados para que os direitos trabalhistas sejam assegurados. É possível também subcontratações de outras empresas pela empreiteira, denominadas quarteirizadas. Eis alguns exemplos de benefícios da terceirização na construção civil: � redução de custos; � previsibilidade da situação financeira da construtora; � foco na atividade-fim; � maior qualidade nas etapas da construção; � facilidade de expansão da empresa. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6484: solo — sondagens de simples reconhecimentos com SPT — método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2020. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 8036: programação de sondagens de simples reconhecimento do solos para fundações de edifícios — pro- cedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1983. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 9603: sondagem a trado — procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 9604: abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas — procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2016. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 12069: solo — ensaio de penetração de cone in situ (CPT) — método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 1991. BITENCOURT, M. B.; TEIXEIRA, E. C. Impactos dos encargos sociais na economia brasileira. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 18, n. 1, p. 53-86, 2008. BRASIL. Decreto nº 7.983, de 8 de abril de 2013. Estabelece regras e critérios para elaboração do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia, contrata- dos e executados com recursos dos orçamentos da União, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2013a. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7983.htm. Acesso em: 7 fev. 2021. BRASIL. Lei nº 12.844, de 19 de julho de 2013. Amplia o valor do Benefício Garantia-Safra para a safra de 2011/2012; amplia o Auxílio Emergencial Financeiro, de que trata a Lei nº 10.954, de 29 de setembro de 2004, relativo aos desastres ocorridos em 2012 [...]. Brasília, DF: Presidência da República, 2013b. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12844.htm. Acesso em: 7 fev. 2021. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Downloads. Brasília, DF: Caixa Econômica Federal, 2021a. Disponível em: https://www.caixa.gov.br/site/paginas/downloads.aspx. Acesso em: 7 fev. 2021. Estimativa de custos de uma obra 19 CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. SINAPI. Brasília, DF: Caixa Econômica Federal, 2021b. Disponível em: https://www.caixa.gov.br/poder-publico/modernizacao-gestao/sinapi/ Paginas/default.aspx. Acesso em: 7 fev. 2021. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. SINAPI: metodologias e conceitos. 8. ed. Brasília, DF: Caixa Econômica Federal, 2020. CINTRA, C. A. et al. Fundações: ensaios estáticos e dinâmicos. São Paulo: Oficina de Textos, 2013. MILITITSKY, J.; CONSOLI, N. C.; SCHNAID, F. Patologia das fundações. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. NASIHGIL, A. A. N. A desoneração da folha de pagamento por intermédio da Lei nº12.844/2013 como mecanismo de fomento ao desenvolvimento. 2015. 115 f. Dissertação (Mestrado em Direito) — Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. SÃO PAULO. Prefeitura municipal. Tabela de custos: data-base — julho/2020. São Paulo, 2021. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/obras/ tabelas_de_custos/index.php?p=304323. Acesso em: 7 fev. 2021. TCPO. Bases de órgãos públicos. São Paulo, [2021]. Disponível em: https://tcpoweb. pini.com.br/home/home.aspx. Acesso em: 7 fev. 2021. WENCESLAU, R. R. Contratos empresariais. Curitiba: InterSaberes, 2020. Leitura recomendada HACK, E. Licitações e contratos administrativos. Curitiba: InterSaberes, 2019. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Estimativa de custos de uma obra20