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Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 1 Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes DATA DA AULA A anamnese é a etapa mais importante da avaliação clínica Qual a primeira pergunta a ser respondida em todo paciente com doença neurológica? A localização da lesão, pois cada parte do S.N tem déficits clínicos característicos Anamnese → Exame físico neurológico → Orientação e exames complementares → DIAGNÓSTICO Identificação Anamnese Aspectos importantes: Época, modo de início e evolução cronológica: Agudo (minutos, “de um dia para o outro”) → vascular ou infecciosa Subagudo (dias) → inflamatória ou tóxica Crônico: gradual → simétrico (doença degenerativa), assimétrico (lesão com efeito de massa – neoplasia) Em surtos, com períodos de remissão → Esclerose Múltipla l @August 15, 2022 Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 2 Acessos paroxísticos de curta duração, com intervalos longos de normalidade e que se repetem periodicamente → Epilepsia l Relação causa-efeito → Trauma cranioencefálico ou raquimedular “Considerando seu estado atual e considerando a data do início da doença, você está piorando, melhorando ou continua igual?” A investigação começa na identificação! Nome completo do paciente, sua naturalidade e seu endereço – caso necessite um contato imediato com o paciente Idade do paciente e atente-se às doenças com maior incidência conforme a idade. A profissão exercida nos dá pistas sobre o possível contato com substâncias tóxicas. Sua procedência e viagens recentes são uma informação importante devido à estadia em áreas com doenças endêmicas. Sua etnia / COR e sua situação conjugal devem ser colhidas também. Mão preferencial: � (dominância hemisférica, força muscular) � Linguagem -Área de Broca ○ Destros 100% heisfério esquerdo ○ Sinistros (70%hemisfério esquerdo/ 30% hemisfério direito A relação médico-paciente inicia na identificação, então escute o paciente com atenção; muitas vezes essas informações nos dão pistas valiosas sobre a história natural da doença. Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 3 Ao colher a queixa principal do paciente, busque anotá-la com as palavras do próprio paciente utilizando o termo “SIC”; escreva a frase referida e em seguida coloque (SIC). � Que tipo de problema você está tendo? � O que te trouxe aqui? (lembra meio de transporte) � O que há de errado (risos) Então, inicia-se a história da doença atual. Não poupe a investigação dos detalhes: Quando e como ela iniciou Qual a sua localização? Teve um início insidioso ou agudo? Há variação sazonal dos sintomas? Qual a intensidade e duração dos sintomas? Há algo que promova alívio ou piora destes? Agressões Exames prévios Medidas terapêuticas Verifique a periodicidade da evolução da doença, ela ajuda a compor o diagnóstico etiológico da mesma. � Há sintomas associados? � Já houve tratamento anterior? Como respondeu? Aqui é importante salientar que o examinador deve evitar supor respostas, fazendo-as de modo aberto para que o paciente as responda. O médico é sempre um investigador e deve fazer uma boa investigação para chegar na conclusão correta, ou seja, seu diagnóstico. Sabemos que há todos os tipos de pessoas e pacientes; tímidos, ansiosos, depressivos, desconfiados. Assim, é Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 4 importante que o examinador tenha calma, seja atento e não se satisfaça com respostas vagas, isso fica cada vez mais fácil e habitual conforme a experiência do profissional. Modo de instalação dos sintomas e hipóteses de diagnósticos sindrômicos Interrogatório dos diversos aparelhos e sistemas Mesmo sendo um exame direcionado, lembre-se que o sistema nervoso está intrinsicamente ligado à integração dos demais aparelhos e sistemas do corpo, então não deixe de fazer uma revisão caprichada sobre seu funcionamento. Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 5 Facilita organizar os questionamentos em um sentido craniocaudal, fazendo perguntas objetivas e com palavras de fácil compreensão. Recorde que o paciente não teve acesso ao familiarizado livro Porto, então facilite a compreensão do que está sendo perguntado, para isso você pode usar mão de analogias. Geral: Há distúrbios do sono? Hipersonia ou letargia? Insônia? Narcolepsia? Parassonia? Presença de dormência, perda de força, paralisia? Já apresentou crise epiléptica? Apresenta fadiga? Astenia? Perda ou ganho de peso? Em quanto tempo? Febre? Calafrios? Mialgia? Cabeça e pescoço: O paciente já teve síncope? Há distúrbios visuais (ambliopia, amaurose, diplopia)? Apresenta cefaleia? Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 6 Hipoacusia, acufenos? Vertigem? (Não se esqueça de caracterizar bem a diferença entre tontura – instabilidade tendendo à queda – e vertigem – sensação equívoca de perceber o ambiente em movimento). Há disfonia? → alteração de voz Dificuldade de raciocínio ou memória? Sistema gastrintestinal: Há disfagia? Náuseas ou vômitos? Queimação ao engolir alimentos? Apresenta constipação ou diarreia? Qual o ritmo intestinal e a consistência e coloração das fezes? Sistema geniturinário: Apresenta odor característico? Disúria? Poliúria? Oligúria? Polidipsia? Incontinência urinária? Data da última menstruação e ciclo menstrual. Amenorreia? Sistema cardiovascular: Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 7 Palpitações? Taquicardia? Claudicação? Dispneia? Após realizar uma boa revisão dos aparelhos e sistemas, vamos à história mórbida pregressa do paciente. Comece do princípio de sua vida, como foi seu pré-natal Analise a história obstétrica do paciente: condições de parto; caso o paciente tenha a caderneta, é importante dar um olhar ao seu APGAR. Colha dados do seu desenvolvimento neuropsicomotor, com quantos anos firmou a cabeça, sentou, falou e andou? Bem, vamos agora para sua infância, teve doenças da infância? Apresenta alergias? Quedas, fraturas, como e onde ocorreram? O paciente já realizou cirurgias? Quais, e quando? Seu calendário vacinal está de acordo com a sua faixa etária? Saiba quais são todos os seus medicamentos em uso, anote a posologia e o horário de tomada. Por fim, e de grande importância, saiba a história das doenças atuais, crônicas e passadas. � Condições gerais de saúde: Doenças crônicas e doenças anteriores, Hospitalizações, Cirurgias, Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 8 Acidentes ou lesões (TCE) Vegetarianos ou pacientes com história de cirurgia gástrica ou doença inflamatória intestinal Deficiência de vitamina B12 (Degeneração combinada subaguda da medula) Existem complicações neurológicas decorrentes de transtorno do tecido conjuntivo, diabete, sarcoidose Câncer → metástase A história mórbida familiar Como em tantas outras áreas da medicina, na neurologia a herança familiar tem grande importância, sendo assim, é de grande valia para o médico-investigador. Epilepsia? Migrânea? Doenças neurodegenerativas? (consanguinidade?) Questione sobre seus pais, idade, caso já tenham falecido, com quantos anos faleceram, qual o motivo do óbito, quais doenças tinham. Investigue a ocorrência de neoplasias, a ocorrência de miopatias, cefaleia, doenças neurodegenerativas, cardiovasculares e metabólicas. É importante dar um olhar para os parentes de primeiro grau (pais, irmãos, filhos, tios e primos) e de segundo grau (avós, netos). Perguntas habituais: câncer, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares Importante em pacientes com epilepsia, doenças vasculares cerebrais, transtornos do movimento, miopatias, doenças cerebelares A história fisiológica e social Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 9 Em todas as faixas etárias, é importante colher uma boa história nessa etapa, saber das condições do paciente. Entender o que sepassa na sua vida. Qual seu nível de educação? Sua situação conjugal? Como é a sua moradia? Ocupação Há fatores estressantes no seu dia a dia? Como estão suas relações interpessoais? O paciente é tabagista? Nessa pergunta, não esqueça de pontuar a quantidade maços/ano. É etilista? Qual a frequência e quantas doses? Muitas vezes as pessoas subestimam a quantidade de álcool consumida; em caso de suspeitas de abuso, pode-se utilizar os questionários CAGE, HALT e BUMP. Questione-o sobre sua alimentação, cafés, chás e sobre o uso de substâncias ilícitas. INTERROGATÓRIO SEMPRE SÓ AO PACIENTE? EXCETO em situações como: Coma Quadros psiquiátricos Crises epilépticas Crianças pequenas DESCREVER O EPISÓDIO, A SENSAÇÃO Indagar sobre alguns sintomas Qualquer história de convulsões ou perda de consciência sem explicação Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 10 Cefaléia Vertigens ou tontura Perda de visão Diplopia Dificuldade de audição Zumbido nos ouvidos Dificuldade de fala ou deglutição Fraqueza Dificuldade de se mover Movimentos anormais Dormência, formigamento Tremor Problemas de marcha, equilíbrio e coordenação Dificuldade no controle dos esfíncteres ou na função sexual Dificuldade de pensamento ou memória Problemas em dormir ou sonolência excessiva Sintomas depressivos Gerais Perda de peso (depressão, neoplasia) Diminuição do nível de energia (depressão) Calafrios/febre (infecções ocultas) Cefaleia (muitas) Traumatismo (hematoma subdural) Cabeça Cefaleia (muitas) Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 11 Traumatismo (hematoma subdural) Olhos Estado de refração; óculos, cirurgia de refração Perda visual episódica (amaurose fugaz - AlT), Perda visual progressiva (neuropatia óptica) Diplopia (várias) Ptose (miastenia) Olhos secos (Sjögren), Fotossensibilidade (enxaqueca Dor nos olhos (neurite óptica) Ouvidos Perda auditiva (neurinoma acústico) Secreção (colesteatoma) Zumbidos (doença de Menière) Vertigens (vestibulopatia) Vesículas (Herpes zoster) Nariz Anosmia (meningioma do sulco olfatório) Secreção (rinorréia de líquor) Boca Língua inflamada (deficiência nutricional) Pescoço Dor (radiculopatia) Rigidez (meningite) Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 12 Cardiovasculares Doenças cardíacas (muitas) Hipertensão (doenças vasculares cerebrais) Arritmias cardíacas (embolia cerebral) Respiratórios Dispnéia (doenças neuromusculares) Asma (vasculite sistêmica) Tuberculose (meningite) Gastrointestinais � Mudança no apetite (lesão hipotalâmica) � Sede excessiva (diabete melitus oui nsipidus) � Disfagia (miastenia) � Obstipação intestinal (disautonomia) � Vômitos (pressão intra-craniana aumentada) Genitourinários Incontinência ou retenção urinária (bexiga neurogênica) Impotência (disautonomia) Poliuria (diabete melito ou insipido) Aborto espontâneo (síndrome anticorpoantifosfolípide) Doença sexualmente transmitida (neurossifilis) História menstrual Último ciclo menstrual e métodos anticoncepcionais Uso de anticoncepcionais orais(acidente vascular cerebral) Terapia de reposição hormonal(enxaqueca) Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 13 Endócrinos Galactorréia (tumor hipofisário prolactinoma) Amenorréia (insuficiência hipofisária) Mãos/pés aumentando de tamanho (acromegalia - aumento de GH) Musculoesqueléticos Artrite (doenças do tecido conjuntivo) Câimbras musculares (Esclerose lateralamiotrófica) Mialgias (miopatias) Hematopoiético Anemia (deficiência de B12) Trombose venosa profunda (síndrome anticorpo antifosfolípide, manifestação paraneoplásica) Pele Erupções cutâneas (doença de Lyme,reações a drogas) Picadas de insetos (doença de Lyme,infecção riquetsial) Manchas congênitas (síndromes neurocutâneas → Neurofibromatose, esclerose tuberosa) Psiquiátricos Depressão Psicose (doença de Jakob-Creutzfeldt) Alucinações (Demência de Lewy) Cefaléia → doença? (primária); sintoma (secundária) Cefaleia Inicio Anamnese em neurologia com foco nas queixas mais prevalentes 14 Localização� Irradiação� Tipo Periodicidade Associação de sinais e sintomas Fatores agravantes Fatores que aliviam Finalizando a primeira parte da consulta Bem, com esse roteiro, terminamos o pilar do diagnóstico médico, a anamnese! Um bom investigador já colheu pistas o suficiente para ser guiado nos grandes grupos diagnósticos e assim inicia a segunda etapa da consulta, o exame físico. Decidi trazer o início dele aqui, pois se trata da avaliação do estado mental e das funções corticais superiores. O médico realiza essa avaliação conversando com o paciente e depois realiza as manobras do exame físico.