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N E F R O L O G I A DISTÚRBIOS ÁCIDOS-BASE FEVEREIRO/2022 P R O F . R I C A R D O L E A L Distúrbios Ácidos-Base PROF. RICARDO LEAL APRESENTAÇÃO: @estrategiamed /estrategiamed t.me/estrategiamed Estratégia MED @ ricardolealsb Olá, Revalidando! Sou o professor Ricardo Leal e faço parte do time da Nefrologia. Hoje trago um tema bastante importante em sua vida prática e na prova do Revalida: os distúrbios acidobásicos. Cerca de 10% das questões de Nefrologia abordam esse tema. https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://t.me/estrategiamed https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw?app=desktop https://www.instagram.com/ricardolealsb/ https://www.instagram.com/ricardolealsb/ Distúrbios Ácidos-Base PROF. RICARDO LEAL Apesar de parecer pouco cobrado, é um tema que, classicamente, traz um alto índice de erros nas questões, uma vez que é considerado complexo e de difícil absorção. Trouxe este material para passar a você o conteúdo de forma clara e objetiva para que, juntos, trilhemos mais um passo rumo à sua importantíssima aprovação. Lembre-se de que cada questão importa! Boa leitura! 22% 14% 9% ITU Glomerulopa�as DISTRIBUIÇÃO DAS QUESTÕES DE NEFROLOGIA NOS EXAMES DO REVALIDA 34%9% 6% 6% 3% Lesão renal aguda Doença renal crônica Distúrbios acidobásico Nefroli�ase Distúrbio do potássio Distúbio do sódio 4Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS DISTÚRBIOS ACIDOBÁSICOS 6 1.1 PARÂMETROS AVALIADOS EM UMA GASOMETRIA ARTERIAL 7 1.2 A EQUAÇÃO DE HENDERSON-HASSELBALCH E OS DISTÚRBIOS ÁCIDO-BÁSICOS 8 1.3 A RESPOSTA SECUNDÁRIA OU COMPENSATÓRIA 9 2.0 ACIDEMIA 12 2.1 COMO INTERPRETAR UMA GASOMETRIA QUE APRESENTA ACIDEMIA 12 2.1.1 PRIMEIRO PASSO: CHECAR O PH 12 2.1.2 SEGUNDO PASSO: ENCONTRAR O DISTÚRBIO PRIMÁRIO 12 2.1.3 TERCEIRO PASSO: AVALIAR A RESPOSTA COMPENSATÓRIA 12 2.1.4 QUARTO PASSO: CALCULAR O ÂNION GAP SÉRICO 14 2.2 CAUSAS DE ACIDOSE METABÓLICA 17 2.2.1 ACIDOSE METABÓLICA COM AG AUMENTADO 19 2.2.2 ACIDOSE METABÓLICA COM AG NORMAL (HIPERCLORÊMICA) 20 2.3 CAUSAS DE ACIDOSE RESPIRATÓRIA 23 3.0 ALCALEMIA 24 3.1 COMO INTERPRETAR UMA GASOMETRIA QUE APRESENTA ALCALEMIA 24 3.1.1 PRIMEIRO PASSO: CHECAR O PH 24 3.1.2 SEGUNDO PASSO: ENCONTRAR O DISTÚRBIO PRIMÁRIO 24 3.1.3 TERCEIRO PASSO: AVALIAR A RESPOSTA COMPENSATÓRIA 25 3.2 CAUSAS DE ALCALOSE METABÓLICA 27 3.2.1 CAUSAS DE ALCALOSE METABÓLICA HIPOVOLÊMICA 28 3.2.2 CAUSAS DE ALCALOSE METABÓLICA NORMO / HIPERVOLÊMICAS 28 3.3 CAUSAS DE ALCALOSE RESPIRATÓRIA 30 4.0 GASOMETRIA COM PH NORMAL 31 5.0 LISTA DE QUESTÕES 33 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 34 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 34 5Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 1.0 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS DISTÚRBIOS ACIDOBÁSICOS Diariamente, uma carga importante de ácidos fixos (oriundo do metabolismo das proteínas) e voláteis (derivados do metabolismo dos carboidratos) é produzida. Nosso organismo precisa de mecanismos refinados para lidar com todo esse conteúdo ácido, pois a manutenção do pH sanguíneo na sua estreita faixa de normalidade é fundamental para a ação adequada de várias enzimas e processos celulares. Além da produção endógena, existem várias condições clínicas corriqueiras (como vômitos, diarreia, infecções, uso de substâncias ou medicamentos, por exemplo) que podem alterar a quantidade de ácidos ou bases em nosso organismo. Para controlarmos tudo isso, contamos com três aliados fundamentais: • Pulmões A metabolização dos carboidratos leva à formação de CO2 e H2O. O CO2 formado leva à produção do H2CO3, que se dissocia, aumentando a concentração de H+ no organismo e resultando em acidose. Vamos analisar a figura a seguir: Figura 1. Influência dos rins, pulmões e sistemas-tampão no controle da sobrecarga de ácidos do organismo Os pulmões apresentam grande importância para o controle do pH do organismo devido à sua capacidade de manejar o CO2 (seja por retenção ou aumento da eliminação). CAPÍTULO 6Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base • Rins A metabolização de proteínas, gorduras e aminoácidos leva à formação diária de 1 mEq/kg de ácidos fixos (que geram H+). Como falamos, o CO2 é eliminado pelos pulmões. Os ácidos fixos, por sua vez, apresentam uma eliminação renal. • Sistemas-tampão Um sistema-tampão nada mais é do que um sistema formado entre duas substâncias para evitar grandes variações da concentração de H+. Vamos conhecer os principais. - Extracelular: bicarbonato - O bicarbonato é o principal tampão do organismo, ligando-se ao H+ e levando à formação de H2O + CO2. - Intracelular: hemoglobina e fosfato - O tampão intracelular tem uma importância enorme para a relação entre os níveis séricos de potássio e o pH sanguíneo. Em casos de acidose, para que o H+ entre nas células e seja tamponado, o potássio tem que sair. Nas alcaloses, o contrário ocorre: o H+ sai da célula e o potássio entra. - Temos, assim, uma relação importante: acidoses normalmente cursam com hipercalemia. As alcaloses, por sua vez, podem levar e ser perpetuadas por uma hipocalemia. - Ossos - O tampão ósseo é mais importante no contexto de uma acidose metabólica de longa data. Pacientes com esse distúrbio podem ter mais calciúria, nefrolitíase e nefrocalcinose (calcificação do parênquima renal). O bicarbonato é o principal tampão do nosso organismo! 1.1 PARÂMETROS AVALIADOS EM UMA GASOMETRIA ARTERIAL O diagnóstico de um distúrbio acidobásico é feito pela análise da gasometria arterial. Vamos conhecer e nos familiarizar com os principais parâmetros avaliados pelo exame. 7Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Parâmetros avaliados em uma gasometria arterial Parâmetro Comentário Valores de referência pH É a representação matemática da concentração de H+ em alguma solução (em nosso caso, no sangue) 7,35 a 7,45 pCO2 Pressão parcial de CO2 no sangue em mmHg. Tem relação inversa com a ventilação alveolar 35 a 45 mmHg HCO3 - O bicarbonato é o principal tampão de nosso organismo 22 – 26 mEq/L pO2 Pressão parcial de O2 no sangue em mmHg > 80 mmHg Base excess Um base excess muito negativo representa uma sobrecarga de ácidos. Por outro lado, um base excess muito positivo reflete a presença, como o próprio nome sugere, do excesso de bases -2 a +2 mEq/L Atenção, Revalidando! É fundamental que você saiba os principais valores de referência dos parâmetros analisados na gasometria arterial. Não conte sempre com a generosidade da banca em trazer as referências! 1.2 A EQUAÇÃO DE HENDERSON-HASSELBALCH E OS DISTÚRBIOS ÁCIDO-BÁSICOS A equação de Henderson-Hasselbalch representa a relação matemática entre o pH, o bicarbonato e a pCO2: 8Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Perceba que as alterações do pH se relacionam aos níveis de bicarbonato (diretamente) e de pCO2 (inversamente). Desse modo, temos quatro possíveis distúrbios principais capazes de alterar o pH: Os distúrbios primários do equilíbrio acidobásico Acidose metabólica Processo patológico gerado pela queda dos níveis de bicarbonato Acidose respiratória Processo patológico gerado pelo aumento dos níveis de pCO2 Alcalose metabólica Processo patológico gerado pelo aumento dos níveis de bicarbonato Alcalose respiratória Processo patológico gerado pela queda dos níveis de pCO2 Agora peço uma atenção especial para que você não confunda conceitos importantes. A presença de um pH sérico < 7,35 é denominada de acidemia. A presença de um pH sérico > 7,45 é denominada de alcalemia. As acidemias são causadas por acidoses e as alcalemias por acaloses. Existe, portanto, uma diferença sutil nos conceitos, mas importante de ser absorvida. 1.3 A RESPOSTA SECUNDÁRIA OU COMPENSATÓRIA Uma resposta compensatória nadamais é que a tentativa dos rins ou pulmões de restabelecer um pH adequado para o funcionamento correto das funções celulares. Quando o distúrbio primário é metabólico, uma resposta respiratória (pelos pulmões) é iniciada. Por outro lado, quando o distúrbio primário é respiratório, uma resposta metabólica (renal) é iniciada. As respostas respiratórias são rápidas, praticamente imediatas. As metabólicas são mais lentas e levam cerca de 3 a 5 dias para atingir seu grau máximo. 9Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base A resposta compensatória não é capaz de trazer o pH para o valor normal. A resposta secundária leva a pCO2 ou o bicarbonato para o mesmo sentido em que houve a alteração do distúrbio primário (veja a tabela a seguir!). Direção das respostas secundárias Distúrbio primário Evento primário pH Direção da resposta Acidose metabólica ↓ HCO3 - ↓ ↓ pCO2 Alcalose metabólica ↑ HCO3 - ↑ ↑ pCO2 Acidose respiratória ↑ pCO2 ↓ ↑ HCO3 - Alcalose respiratória ↓ pCO2 ↑ ↓ HCO3 - Quando uma resposta não ocorre de maneira adequada ou excede o esperado, temos um distúrbio misto, ao invés de um distúrbio primário compensado. Existem fórmulas para avaliar a magnitude de cada resposta e, infelizmente, sua memorização é necessária para responder adequadamente às questões sobre gasometria arterial. Confira com atenção a tabela a seguir: 10Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Magnitude das respostas secundárias Distúrbio primário Evento primário Magnitude da resposta Acidose metabólica ↓ HCO3- pCO2 esperada = (1,5 x HCO3 -) + 8] ± 2 mmHg Alcalose metabólica ↑ HCO3- pCO2 esperada = [HCO3 - + 15] ± 2 mmHg Acidose respiratória ↑ pCO2 Aguda: Δ ↑ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↑ 1mEq/L HCO3 - Crônica: Δ ↑ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↑ 4 mEq/L HCO3 - Alcalose respiratória ↓ pCO2 Aguda: Δ ↓ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↓ 2 mEq/L HCO3 - Crônica: Δ ↓ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↓ 5 mEq/L HCO3 - Exemplificando: em casos de acidose respiratória aguda, para cada aumento em 10 mmHg na pCO2, esperamos um aumento proporcional de 1 mEq/L de bicarbonato! Já na acidose respiratória crônica é esperada uma variação de 4 mEq/L para cima do bicarbonato para o mesmo aumento de 10 mmHg na pCO2, pois os rins já tiveram mais tempo para trabalhar e reabsorver bicarbonato! Vamos dar início à interpretação das gasometrias. Para que fique mais didático, como a maneira de interpretar pode variar dependendo dos distúrbios analisados, separei o restante do livro em três grandes grupos, que são baseados nos valores do pH: gasometrias que trazem acidemia, alcalemia ou pH normal. Dentro de cada tópico, vamos estudar conceitos importantes dos distúrbios. Venha comigo! 11Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 2.0 ACIDEMIA Antes de iniciarmos o passo a passo, queria dizer uma coisa a você: a maioria das questões não cobra todos os passos na análise de uma gasometria, mas entender o processo é fundamental. Vamos juntos! 2.1 COMO INTERPRETAR UMA GASOMETRIA QUE APRESENTA ACIDEMIA 2.1.1 PRIMEIRO PASSO: CHECAR O PH Para identificar uma acidemia, sempre cheque o pH da gasometria. Deve estar abaixo de 7,35. 2.1.2 SEGUNDO PASSO: ENCONTRAR O DISTÚRBIO PRIMÁRIO Uma acidemia só pode ser justificada pela presença de uma acidose, seja ela respiratória ou metabólica. Após confirmar um pH < 7,35, procure um bicarbonato < 22 mEq/L (acidose metabólica) ou uma pCO2 > 45 mmHg (acidose respiratória). pH < 7,35 (Acidemia) pCO aumentada (Acidose respiratória) ² HCO reduzido(Acidose metabólica) ³ Se você estiver diante das duas alterações, ou seja, bicarbonato baixo e pCO2 alta, o diagnóstico de acidose mista já pode ser dado. 2.1.3 TERCEIRO PASSO: AVALIAR A RESPOSTA COMPENSATÓRIA No caso da acidose metabólica, a resposta compensatória esperada é um aumento da ventilação alveolar na tentativa de eliminar CO2 pelos pulmões e atenuar a queda do pH. De forma matemática, essa resposta é avaliada pelo cálculo da pCO2 esperada. Para isso, utilizamos a fórmula de Winter, que está representada a seguir: CAPÍTULO 12Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base A fórmula de Winter é uma das mais cobradas nas questões que envolvem análise de gasometria arterial. Portanto, recomendo fortemente que você a memorize! pCO2 esperada = [(1,5 x HCO3 -) + 8] ± 2 mmHg Nas acidoses respiratórias, a resposta natural é o aumento da reabsorção de bicarbonato no túbulo proximal. Devemos, portanto, calcular o bicarbonato esperado para aquela determinada variação de pCO2. Existe um detalhe a mais: você terá que identificar se a alteração respiratória é aguda ou crônica, pois o tempo de compensação renal (retenção de bicarbonato) dura cerca de 3 a 5 dias. Acidose respiratória aguda: Δ ↑ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↑ 1 mEq/L HCO3 - Acidose respiratória crônica: Δ ↑ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↑ 4 mEq/L HCO3 - Compensada (Distúrbio simples) Não compensada (Distúrbio misto) Calcular a resposta compensatória ( esperada) pH < 7,35 (Acidemia) pCO aumentada (Acidose respiratória) Compensada (Distúrbio simples) Não compensada (Distúrbio misto) ² pCO² Calcular a resposta compensatória ( esperado)HCO³ HCO reduzido (Acidose metabólica) ³ Determinar se é aguda ou crônica O que vimos até aqui é válido na análise tanto das acidoses metabólicas quanto das respiratórias. O tópico seguinte, que envolve o cálculo do ânion gap, é executado apenas nos casos de acidose metabólica! 13Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 2.1.4 QUARTO PASSO: CALCULAR O ÂNION GAP SÉRICO Ânion gap = sódio – (cloreto + bicarbonato) Valor normal: 8 a 12 mEq/L Sempre que estiver diante de uma acidose metabólica em análise de qualquer gasometria e a questão fornecer a você os dados necessários, calcule o ânion gap! Acidose metabólica AG aumentado Acidose metabólica AG normal Calcular o ânion gap HCO reduzido (Acidose metabólica) ³ Vamos ver, agora em esquema, as etapas de diagnóstico de uma gasometria com acidemia: Compensada (distúrbio simples) Não compensada (distúrbio misto) Calcular a resposta compensatória ( esperada) pH < 7,35 (Acidemia) pCO aumentada (acidose respiratória) Compensada (distúrbio simples) Não compensada (distúrbio misto) ² pCO² Calcular a resposta compensatória ( esperado)HCO³ HCO reduzido (acidose metabólica) ³ Determinar se é aguda ou crônica Acidose metabólica AG aumentado Acidose metabólica AG normal Calcular o ânion gap ³ O ânion gap (AG) é fundamental para diferenciar as acidoses metabólicas em dois grandes grupos: acidose metabólica de AG aumentado e acidose metabólica de AG normal ou hiperclorêmica. Seu cálculo é feito pela seguinte fórmula: 14Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Vamos resolver algumas questões para colocarmos o passo a passo em prática: CAI NA PROVA (Revalida UFMT – 2017) Paciente, masculino, 10 meses de idade, procedente da Zona Rural de Cuiabá, deu entrada no Hospital Universitário com história de vômitos e diarreia há 5 dias. Mãe relata que iniciou com vômitos com conteúdos alimentares, depois somente leite e água, 6-8 vezes/dia, que cessaram há dois dias. Porém continuou com diarreia, fezes líquidas, volumosas, odor normal, sem muco, pus, sangue e restos alimentares, mais de 10 vezes ao dia, urinando pouco. Procurou pronto atendimento há 3 dias sendo orientada a dar soro oral, paracetamol e seio materno. Refere que a criança emagreceu, pesava 10 kg. Ao exame: Peso 7 kg, FC: 120 bpm, FR: 60 irpm, afebril, olhos encovados, choro sem lágrimas, boca seca. Pulmões MVF, simétrico, sem ruídos adventícios. RCR, 2T, sem sopros. Abdômen distendido, flácido, sem visceromegalias, RHA diminuídos. SN: criança pouco ativa, irritada ao exame, sem sinais meníngeos. Sinal de prega: a pele volta muito lentamente. Antecedentes fisiológicos:RNT, parto normal, PN: 3.300 g, C: 49 cm, Vacinas: em dia, exceto a de rotavírus que não tinha no posto, quando chegou a criança já tinha passado da idade de tomar. Exames laboratoriais: Hemograma: Ht: 48%, Hb: 9 g/L, GB: 12.000, N: 30%, L: 65%, E: 2%, M: 3%. Plaquetas: 220.000/mm3. Glicemia 86 mg/dL, Na: 132 mEq/L, K: 3,6 mEq/L, Cloro: 102 mEq/L, Ca: 9 mg/dL. Gasometria Arterial: pH: 7.20, PaCO2: 30, PO2: 80, HCO3: 14, BE: -8, Sat: 92%. Dado: Valor normal do ânion gap: 11 mEq/L. Quais os diagnósticos clínicos e laboratoriais? A) Desidratação moderada, acidose respiratória com ânion gap diminuído. B) Desidratação moderada, acidose metabólica com ânion gap normal. C) Desidratação grave, acidose metabólica com ânion gap normal. D) Desidratação grave, acidose metabólica com ânion gap aumentado. Temos uma questão que a resolução exige a aplicação do nosso passo a passo. Vamos lá? Passo 1: olhar o pH. O enunciado forneceu um pH de 7,2. A faixa normal do pH plasmático é entre 7,35 e 7,45. Estamos diante, portanto, de uma acidemia. Passo 2: encontrar o distúrbio primário. Uma acidemia deve levar à busca de duas condições: uma redução dos níveis de bicarbonato (acidose metabólica) ou um aumento nos níveis de pCO2 (acidose respiratória). O que encontramos é um bicarbonato de 14 mEq/L (valores normais entre 22-26 mEq/L). Concluímos, então, que temos uma acidose metabólica. Passo 3: existe compensação respiratória do distúrbio metabólico? O cálculo para avaliar a pCO2 esperada como forma de compensar a acidose metabólica é o seguinte: [(1,5 x HCO3 -) + 8 = pCO2 esperada. Em nosso caso, o valor encontrado é de 29,5 mmHg, praticamente igual à pCO2 fornecida pela gasometria. Então, o paciente não apresenta um distúrbio respiratório associado. Passo 4: sempre que estivermos diante de uma acidose metabólica, devemos calcular o ânion gap. A fórmula do ânion gap é [Na+ - (Cl- + HCO3 -)]. Com os dados que foram fornecidos, chegamos a um ânion gap de 16 mEq/L. Temos, então, uma acidose metabólica de ânion gap aumentado. Correta a alternativa D. COMENTÁRIO: 15Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base (Revalida INEP – 2016) Um bebê com 4 meses de idade é levado ao serviço de Pronto Atendimento com quadro clínico de diarreia iniciado no dia anterior. A mãe refere que a criança apresenta cerca de 8 evacuações diárias, líquidas, volumosas, sem sangue ou muco. Ao exame físico, encontra-se letárgico, com pulsos finos e tempo de enchimento capilar de 5 segundos. Após receber 2 expansões com soro fisiológico, 20 ml/kg, o bebê apresenta melhora parcial do quadro clínico. O resultado da gasometria arterial evidencia pH = 7,3 (valor de referência: 7,35 a 7,45); pO₂ = 150 mmHg (valor de referência: 83 a 108 mmHg); pCO₂ = 21 mmHg (valores de referência: 32 a 48 mmHg); HCO₃- = 14 mEq/L (valores de referência: 21 a 28 mEq/L); BE = -3,5 (valor de referência: -3 a +3). Diante desse quadro, a interpretação da gasometria e a conduta médica imediata são: A) Acidose metabólica e expansão volêmica. B) Acidose metabólica e infusão de bicarbonato de sódio. C) Alcalose respiratória e entubação orotraqueal. D) Alcalose respiratória e suplementação de oxigênio. Revalidando, temos outra análise de gasometria arterial pela frente. Vamos ao nosso passo a passo. Passo 1: checar o pH. Nesse caso, temos um pH de 7,3, uma acidemia. Passo 2: encontrar o distúrbio primário. Diante de uma acidemia, devemos procurar quadros de acidose, ou seja, queda do bicarbonato (metabólica) ou aumento da pCO2 (respiratória). Entre essas opções, encontramos um bicarbonato reduzido (de 14 mEq/L), ou seja, o distúrbio primário é uma acidose metabólica. Passo 3: avaliar a resposta compensatória. Diante de um distúrbio primário metabólico, a resposta compensatória é respiratória. Em casos de acidose metabólica, a pCO2 esperada é igual ao [HCO3 x 1,5] + 8. Ao usarmos a fórmula, encontramos um valor de 29 mmHg. Veja que o valor fornecido pela gasometria é inferior à pCO2 esperada, ou seja, o paciente está eliminando mais CO2 que deveria. Temos, portanto, uma alcalose respiratória associada. E agora? Qual o principal distúrbio dessa gasometria? Sem dúvidas, é a acidose metabólica, pois ela foi forte o suficiente para alterar o pH para baixo! O uso de bicarbonato nas acidoses metabólicas é reservado para quadros com bicarbonato bastante reduzido e um pH abaixo de 7,2, não sendo indicado para o caso em questão. A expansão volêmica deve ser mantida para melhorar o quadro clínico da criança. Correta a alternativa A. Veja que temos uma acidose metabólica na questão e não calculamos o ânion gap! Nem teríamos como, pois o enunciado não forneceu o sódio e o cloreto. Digo isso para você perceber que nem sempre será necessário seguir todos os passos da interpretação de uma gasometria para responder a uma questão de prova! Agora que você aprendeu a identificar a presença de uma acidose, é necessário que conheça as principais causas para interpretar melhor as situações da rotina e as questões de prova. COMENTÁRIO: 16Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 2.2 CAUSAS DE ACIDOSE METABÓLICA As acidoses metabólicas podem ser classificadas em dois grandes grupos: - Acidose metabólica com ânion gap aumentado; - Acidose metabólica com ânion gap normal ou hiperclorêmica. É aí que você pergunta: "Mas, professor, afinal, o que é o ânion gap? Para que serve?" Tudo começa por um princípio importante da fisiologia: a eletroneutralidade do plasma. De acordo com esse princípio, no plasma, o número de elementos com carga negativa é igual ao número de elementos com carga positiva, de modo que a soma total das cargas seja nula. O principal cátion do líquido extracelular é o sódio e sua concentração habitual é, em média, 135 a 145 mEq/L. Existem outros cátions, mas que, por serem pouco relevantes, não são levados em conta no cálculo. Quando analisamos os ânions, temos dois principais: o cloreto, na concentração média de 95 a 105 mEq/L, e o bicarbonato, na concentração média de 22 a 26 mEq/L. É fácil perceber, então, que, quando subtraímos o sódio (principal cátion) do cloreto e bicarbonato (principais ânions), ainda sobra uma parte significativa de elementos com carga negativa que não foi contemplada na conta. Chamamos essa sobra de ânion gap. O ânion gap ou hiato aniônico é a diferença entre os cátions (sódio) e os ânions (bicarbonato e cloreto). Ânion gap = sódio – (cloreto + bicarbonato) Valor normal: 8 a 12 mEq/L Acompanhe o raciocínio e a figura a seguir. Há duas maneiras de gerar uma acidose metabólica (redução do bicarbonato) preservando a regra da eletroneutralidade do plasma: aumentando o ânion gap ou aumentando o cloreto! 17Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base No gráfico A, temos a situação em equilíbrio, em que a soma dos cátions é igual à soma dos ânions. Já no gráfico B, o bicarbonato reduziu à custa de um aumento nos níveis de cloreto – acidose metabólica ânion com gap normal ou hiperclorêmica! No gráfico C, a queda no bicarbonato foi gerada por um aumento do ânion gap – acidose metabólica com ânion gap aumentado! As acidoses metabólicas com ânion gap aumentado são geradas a partir do acúmulo de um ácido! As acidoses metabólicas com ânion gap normal (hiperclorêmicas) são causadas por perda de bases! 18Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 2.2.1 ACIDOSE METABÓLICA COM AG AUMENTADO Existem quatro situações que cursam com acidose metabólica AG aumentado cujo conhecimento é necessário: acidose lática, cetoacidoses, insuficiência renal e intoxicações! A acidose lática é a principal causa de acidose metabólica com ânion gap elevado. É caracterizada pelo acúmulo do lactato, um ânion que se forma a partir da dissociação do ácido lático. A acidose lática associada à má perfusão tecidual (estadosde choque hemodinâmico) é a mais comum. Nessas condições de má distribuição de oxigênio, o metabolismo aeróbio é prejudicado e a geração de energia é desviada para a via anaeróbia, com formação e acúmulo de lactato. Quando você se deparar com um paciente em choque hemodinâmico, independentemente da causa (obstrutivo, hemorrágico, hipovolêmico, distributivo, cardiogênico), e acidose metabólica, a acidose lática deve ser suspeitada como causa do distúrbio ácido-básico. As cetoacidoses ocorrem por acúmulo de cetoácidos em situações de baixa utilização da glicose como fonte de energia. Na cetoacidose diabética, o principal exemplo, temos uma deficiência insulínica que impede a internalização celular da glicose. O organismo passa, então, a produzir cetoácidos para que sejam utilizados como energia, o que leva a um quadro de acidose metabólica com ânion gap aumentado. O jejum prolongado também pode levar a um quadro de produção de cetoácidos (“cetose de jejum”), mas não tão intenso quanto a cetoacidose diabética. Pacientes alcoólatras também podem apresentar um quadro de cetoacidose, uma vez que têm um baixíssimo aporte calórico, além de o álcool estimular a lipólise e a formação de cetoácidos. Apesar de ser a mais conhecida, a cetoacidose diabética não é a única causa de cetoacidose. Lembre-se do jejum prolongado e de pacientes etilistas crônicos! 19Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base A disfunção renal (aguda ou crônica) causa um acúmulo de ácidos fixos, uma vez que o rim é o principal órgão responsável pela sua eliminação. Nos casos de lesão renal aguda e em pacientes com doença renal crônica avançada (principalmente com taxa de filtração glomerular ≤ 30 mL/min), pode haver o desenvolvimento de uma acidose metabólica com ânion gap aumentado por acúmulo de sulfato e fosfato, principalmente. Por fim, existem dois tipos de intoxicações que cursam com acidose metabólica AG aumentado que são interessantes na prática e nas provas: os álcoois tóxicos e os salicilatos. • Álcoois tóxicos O metanol e o etilenoglicol são álcoois tóxicos que, quando ingeridos em excesso, cursam com quadros graves e potencialmente fatais de acidose metabólica. O metanol é encontrado principalmente em cartuchos de tinta de impressora e é utilizado na adulteração de bebidas, sendo este último dado frequente em casos clínicos em questões de prova! A substância é metabolizada em ácido fórmico, que é sabidamente tóxico para o nervo óptico, levando ao principal achado clínico da intoxicação: alterações visuais! O etilenoglicol, por sua vez, é a principal substância utilizada como anticongelante e sua intoxicação normalmente ocorre de maneira inadvertida por trabalhadores. Sua metabolização é principalmente em ácido glicólico e ácido oxálico, que levam ao quadro de acidose metabólica com ânion gap elevado e lesão renal aguda. Um achado importante no exame de urina é a presença de cristais de oxalato de cálcio, que pode corroborar o diagnóstico. • Salicilatos A principal fonte de intoxicação é a ingestão inadvertida (ou intencional) de ácido acetilsalicílico, mais comum em crianças (lembra o gostinho da aspirina infantil?). Inicialmente, há um estímulo direto ao centro respiratório, que causa taquipneia e alcalose respiratória. Nas formas mais graves de intoxicação e com o passar das horas, surge uma acidose metabólica com ânion gap aumentado, justamente pelo acúmulo do salicilato. 2.2.2 ACIDOSE METABÓLICA COM AG NORMAL (HIPERCLORÊMICA) Nesses casos, não há um ganho específico de nenhum ácido. Existem dois grupos principais de acidose metabólica com AG normal: as extrarrenais e as renais! As principais causas extrarrenais de acidose metabólica com AG normal são: 20Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base • Perda de secreção intestinal As secreções intestinais produzidas abaixo do ângulo de Treitz são ricas em bicarbonato. Em casos de diarreias ou fístulas pancreáticas, há perda direta de bases, o que leva a uma acidose metabólica sem que haja a alteração do ânion gap (pois não houve ganho de ácidos). • Excesso de soro fisiológico O soro fisiológico a 0,9% é uma solução cristaloide composta por 154 mEq/L de sódio e 154 mEq/L de cloreto (logo, vemos que não é tão fisiológico assim!). A sobrecarga de solução fisiológica pode levar a um estado de hipercloremia e, para que a eletroneutralidade se mantenha, o bicarbonato cai, levando a uma acidose metabólica com ânion gap normal. • Ureterossigmoidostomia Em algumas situações de reconstrução do trato urinário, em especial quando é realizada uma cistectomia, pode ser preciso fazer uma anastomose do ureter no sigmoide. Com essa anastomose, a urina entra em contato com a parede do intestino. Como a urina é rica em cloreto, ocorre uma reabsorção do cloreto em troca de aumento na eliminação de bicarbonato e de potássio, presentes na secreção intestinal. Com a perda de bicarbonato e ganho de cloreto, surge uma acidose metabólica com ânion gap normal ou hiperclorêmica. Quando falamos de causas renais de acidose metabólica com AG normal, estamos falando sobre as acidoses tubulares renais, que são defeitos presentes em alguma parte dos túbulos renais que culminam em acidose metabólica e em outras alterações laboratoriais (principalmente do potássio sérico). A seguir, confira uma tabela comparativa entre as acidoses tubulares renais e relembre a sequência do sistema tubular no néfron na figura! Acidoses tubulares renais Nomenclatura Segmento acometido Princípio fisiopatológico Principais causas P o t á s s i o sérico Tipo 1 ou distal Túbulo contorcido distal Redução da excreção de H+ Síndrome de Sjögren Normal ou baixo Tipo 2 ou proximal Túbulo contorcido proximal Redução da reabsorção de bicarbonato Aminoglicosídeos / Mieloma múltiplo Normal ou baixo Tipo 4 Túbulo coletor Redução da ação da aldosterona Diabetes mellitus / Espironolactona / iECA / BRA Normal ou elevado 21Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Figura. Representação esquemática de um néfron: a unidade funcional do rim. Para encerramos o tópico, veja um esquema que contém as principais causas de acidose metabólica! pH < 7,35 AG normal AG elevado Calcular ânion gap sérico AG = Na - (CI + ) Normal: 8 a 12 mEq/L HCO³ Bicarbonato < 22 mEq/L (acidose metabólica) Acidoses tubulares renais Diarreia Secreção biliar ou pancreática Ureterossigmoidostomia Acidose lática Cetoacidoses (diabética, jejum, alcoólica) Disfunção renal Álcoois (metanol, etilenoglicol) Salicilatos 22Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Fique atento a este mnemônico que contempla as causas de acidose metabólica hiperclorêmica: o HARD-UP. Hiperalimentação (nutrição parenteral pode causar acidose metabólica AG normal) Acetazolamida Renal tubular acidosis Diarreia Ureterossigmoidostomia Pâncreas (secreções pancreáticas) Não entra no mnemônico, mas é muito importante que você não esqueça: soro fisiológico em excesso! 2.3 CAUSAS DE ACIDOSE RESPIRATÓRIA O princípio para o surgimento de uma acidose respiratória envolve a hipoventilação alveolar, que leva à menor eliminação do CO2. Geralmente, são distúrbios neuromusculares (miopatias, parede torácica, sistema nervoso central, intoxicações) ou doenças pulmonares, como asma grave e doença pulmonar obstrutiva crônica. Preparei uma tabela com importantes causas de acidose respiratória aguda e crônica, não deixe de conferir (em negrito, temos as principais causas). Acidose respiratória aguda Mecanismos Causas Alterações neuromusculares Lesão de tronco ou medula Síndrome de Guillain-Barré Miastenia gravis Drogas Obstrução de vias respiratórias Corpo estranho Edema de laringe Broncoespasmo grave Desordens toracopulmonaresTórax instável Pneumotórax 23Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Acidose respiratória crônica Mecanismos Causas Anormalidades neuromusculares Paralisia diafragmática Síndrome de Pickwick (hipoventilação relacionada à obesidade) Desordens toracopulmonares Doença pulmonar obstrutiva crônica Cifoescoliose Doença pulmonar intersticial terminal Agora vamos analisar o passo a passo das gasometrias que apresentam alcalemia e, em seguida, pH normal. Perceba que os primeiros passos são iguais na análise de qualquer gasometria, independentemente do pH. 3.0 ALCALEMIA 3.1 COMO INTERPRETAR UMA GASOMETRIA QUE APRESENTA ALCALEMIA 3.1.1 PRIMEIRO PASSO: CHECAR O PH No caso de pacientes com alcalemia, o pH encontrado na gasometria será superior a 7,45. 3.1.2 SEGUNDO PASSO: ENCONTRAR O DISTÚRBIO PRIMÁRIO Uma alcalemia justifica-se pela presença de uma alcalose, que pode ser metabólica ou respiratória. Você deve procurar na gasometria, então, um bicarbonato > 26 mEq/L (metabólica) ou uma pCO2 < 35 mmHg (respiratória). CAPÍTULO 24Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 3.1.3 TERCEIRO PASSO: AVALIAR A RESPOSTA COMPENSATÓRIA Diante de uma alcalose metabólica, a resposta compensatória dos pulmões é a redução da frequência respiratória na tentativa de reter CO2 e evitar a elevação brusca do pH. pH > 7,45 (alcalemia) pCO reduzida (alcalose respiratória) ²HCO elevado(alcalose metabólica) ³ pCO2 esperada na alcalose metabólica = HCO3 - + 15 Em casos de alcalose respiratória, é fundamental determinar se o distúrbio é agudo ou crônico. A resposta compensatória do rim, nesses casos, é reduzir a reabsorção de bicarbonato no túbulo proximal, favorecendo sua eliminação na urina. Vale lembrar que, em quadros agudos, a variação do bicarbonato esperada é menor do que nos quadros crônicos. Alcalose respiratória aguda: Δ ↓ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↓ 2 mEq/L HCO3 - Alcalose respiratória crônica: Δ ↓ 10 mmHg na pCO2 = Δ ↓ 5 mEq/L HCO3 - Compensada (distúrbio simples) Não compensada (distúrbio misto) Calcular a resposta compensatória ( esperada)pCO² Compensada (distúrbio simples) Não compensada (distúrbio misto) Calcular a resposta compensatória Determinar se é aguda ou crônica pH > 7,45 (alcalemia) pCO reduzida (alcalose respiratória) ²HCO elevado(alcalose metabólica) ³ 25Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Preparei dois exemplos para você perceber como podem ser cobradas gasometrias que envolvem a alcalemia. Veja a seguir. Você atende um adolescente sem comorbidades que, há 2 horas, está sonolento e taquipneico. É colhida uma gasometria arterial. Interprete os dados abaixo e elabore um diagnóstico ácido-básico. pH = 7,50 Na+ = 140 mEq/L pCO2 = 20 mmHg Cl - = 103 mEq/L HCO3- = 16 mEq/L Exemplo bastante interessante sobre distúrbios ácido-básicos. Temos um paciente com um quadro agudo de rebaixamento do nível de consciência e taquipneia. Não foi dada nenhuma outra informação- chave do exame físico ou história clínica. Resta analisar a gasometria arterial. Vamos lá? Passo 1: olhar o pH. O enunciado forneceu um pH de 7,50. Estamos diante de uma alcalemia. Passo 2: encontrar o distúrbio primário. Devemos procurar uma alcalose (bicarbonato alto ou pCO2 baixa). Encontramos no enunciado uma pCO2 de 20 mmHg. Temos uma alcalose respiratória. Passo 3: existe compensação metabólica do distúrbio primário? Para avaliar se há compensação em uma alcalose respiratória aguda, temos que nos lembrar da fórmula vista no começo do livro: a cada redução de 10 mmHg na pCO2, esperamos uma variação de 2 mEq/L de bicarbonato. Como usamos um valor médio de pCO2 de 40 mmHg e a gasometria traz 20 mmHg, concluímos que o bicarbonato teria que baixar em 4 mEq/L para atingir níveis em torno de 20 mEq/L (pois usamos 24 mEq/L como basal). Contudo a paciente apresenta um bicarbonato de 16 mEq/L na gasometria, menor do que o bicarbonato esperado. Há, além de uma alcalose respiratória, uma acidose metabólica associada! Passo 4: sempre que estivermos diante de uma acidose metabólica, devemos calcular o ânion gap. Com os dados que foram fornecidos, chegamos a um ânion gap (Na – [Cl + HCO3 -) de 21 mEq/L. Temos, então, uma acidose metabólica de ânion gap aumentado. Nosso diagnóstico gasométrico final é de uma alcalose respiratória e uma acidose metabólica com ânion gap aumentado! 26Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Vamos a mais um exemplo: analise a gasometria arterial fornecida abaixo. pH = 7,65 pCO2 = 61 mmHg HCO3 - = 30 mEq/L Vamos aproveitar para calibrar nosso passo a passo! Passo 1: olhar o pH. O enunciado forneceu um pH de 7,65. Trata-se de uma alcalemia. Passo 2: encontrar o distúrbio primário. Inicialmente, devemos procurar uma alcalose (bicarbonato alto ou pCO2 baixa). Encontramos um bicarbonato de 30 mEq/L no enunciado. Temos uma alcalose metabólica. Passo 3: avaliar a resposta compensatória. Na alcalose metabólica, a pCO2 esperada é calculada da seguinte forma: HCO3 - + 15. Nossa pCO2 esperada é, portanto, de 45 mmHg. Perceba que a pCO2 do paciente é de 60 mmHg, muito acima da esperada. Nesse caso, há uma retenção excessiva de CO2, o que gera uma acidose respiratória. Nosso paciente tem, portanto, uma alcalose metabólica associada a uma acidose respiratória! Vamos, após esses exemplos, estudar algumas causas dos distúrbios que levam à alcalemia. 3.2 CAUSAS DE ALCALOSE METABÓLICA Os fatores que perpetuam uma alcalose metabólica são: hipovolemia, hipocloremia e hipocalemia. As duas primeiras, quando presentes, estimulam a reabsorção de bicarbonato no túbulo proximal (que ocorre atrelada à reabsorção de sódio) e perpetuam a alcalose. Já a hipocalemia estimula a excreção renal de ácidos, também promovendo alcalose metabólica. A alcalose metabólica ocorre por ganho de bases ou perda de ácidos. Suas causas são divididas em hipovolêmicas e normo / hipervolêmicas. 27Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 3.2.1 CAUSAS DE ALCALOSE METABÓLICA HIPOVOLÊMICA • Vômitos / perda de secreção gástrica Representam a principal causa de alcalose metabólica! A secreção gástrica é rica em ácido clorídrico (HCl) e, quando há vômitos, perde-se o ácido clorídrico, com desenvolvimento de uma alcalose metabólica (tanto pela perda direta do H+ quanto pela hipovolemia e pela perda direta de cloreto). Além disso, os vômitos são tipicamente acompanhados de hipocalemia, pois, quando há perda de conteúdo gástrico, perde-se solução ácida e desenvolve-se hipovolemia, o que ocasiona desenvolvimento de uma alcalose e um estímulo à reabsorção de sódio pelo rim. No túbulo coletor, para cada reabsorção de sódio, temos uma secreção tubular de potássio ou H+. Como temos uma alcalose, ou seja, uma baixa concentração de H+, ocorre maior secreção de potássio e menor secreção de hidrogênio. Ou seja, a alcalose induzida pela perda do conteúdo gástrico leva à perda urinária de potássio. • Diuréticos Os diuréticos de alça (furosemida) e tiazídicos (hidroclorotiazida, clortalidona) reduzem a reabsorção tubular de sódio e aumentam o aporte de sódio ao túbulo coletor. Lá, pela ação da aldosterona, o sódio é reabsorvido em troca da eliminação de H+, o que pode gerar alcalose metabólica. • Doenças tubulares genéticas As síndromes de Bartter e Gitelman são tubulopatias genéticas que mimetizam, respectivamente, uma exposição prolongada aos diuréticos de alça e tiazídicos. 3.2.2 CAUSAS DE ALCALOSE METABÓLICA NORMO / HIPERVOLÊMICAS • Hiperaldosteronismo Níveis elevados de aldosterona (hiperaldosteronismo) causam uma hiperfunção do ENaC (um canal presente no túbulo coletor), levando à reabsorção de sódio em troca da excreção de potássio ouH+. O hiperaldosteronismo primário é marcado pela tríade: hipertensão arterial, hipocalemia e alcalose metabólica. • Síndrome de Cushing A síndrome de Cushing é a consequência clínico- laboratorial do excesso de hormônios glicocorticoides circulantes que, em altas doses e por tempo prolongado de exposição, também exercem ação mineralocorticoide. Com isso, temos um efeito semelhante ao que encontramos no hiperaldosteronismo. • Hemotransfusão maciça A relação entre a hemotransfusão e a alcalose metabólica não está propriamente no ato da transfusão ou em características das hemácias, mas sim no anticoagulante utilizado para o preparo da terapia. As bolsas são anticoaguladas com citrato, uma substância que é metabolizada em bicarbonato no fígado. Em casos de grandes transfusões, pode haver acúmulo de citrato e, consequentemente, de bicarbonato no organismo, o que provocará uma alcalose metabólica 28Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base • Reposição de bicarbonato Infundir bicarbonato de sódio é a principal forma de administrar bases de maneira artificial em um paciente. É uma prática utilizada tanto em pronto-socorro quanto em terapia intensiva e Medicina ambulatorial. A administração exagerada pode levar a uma alcalose metabólica. Veja um esquema com as principais causas de alcalose metabólica a seguir! “Professor, estou achando difícil memorizar as causas de alcalose metabólica.” Está? Pois não memorize, APRENDA! A → Aldosterona (hiperaldosteronismo) P → Piloro acima (perda gástrica) R → Renovascular (uma causa de hiperaldosteronismo) E → ENaC (Cushing) N → Nenhum volume (hipovolemia) D → Diuréticos (alça e tiazídicos; Bartter e Gitelman) A → Alcalinizantes (bicarbonato, citrato, hemotransfusão) ALCALOSE METABÓLICA Normal - Hipervolemia Volemia ExtrarrenalRenal ExtrarrenalRenal -Vômitos - Sonda nasogástrica - Diuréticos tiazídicos/alça - Bartter - Gitelman - Pós-hipercapnia - Hemotransfusão - Reposição de bicarbonato - Hiperaldosteronismo - Sd. Cushing - Sd. Liddle Hipovolemia Veja como o tema já foi cobrado no Revalida! 29Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base CAI NA PROVA (Revalida INEP – 2021) Um lactente masculino, de 2 meses, é levado à emergência com história de vômitos não biliosos que iniciaram com três semanas de vida e progressivamente pioraram. Há 2 dias, passou a vomitar após as mamadas e hoje o vômito está em jato. Ao exame físico, apresenta-se irritado, faminto, muito emagrecido; no epigástrio, foi observada onda peristáltica deslocando-se da esquerda para direita e, após a criança vomitar, palpada à direita, também no epigástrio, massa firme e móvel com cerca de 2 cm de diâmetro. Com base na principal hipótese diagnóstica, o distúrbio acidobásico que se espera encontrar nesse lactente é: A) alcalose metabólica hipoclorêmica. B) acidose metabólica hiperclorêmica. C) acidose metabólica hipoclorêmica. D) alcalose metabólica hiperclorêmica. O enunciado traz um lactente com quadro de vômitos de repetição, em jato e uma massa em epigástrio. O quadro é compatível com estenose hipertrófica do piloro! A principal chave para a resolução dessa questão é entender que se trata de um caso de perda de secreção gástrica que, como vimos há pouco, é rica em ácido clorídrico. Há perda direta de H+ (culminando em alcalose metabólica) e Cl- (com consequente hipocloremia). O distúrbio esperado é uma alcalose metabólica hipoclorêmica. Correta a alternativa A. 3.3 CAUSAS DE ALCALOSE RESPIRATÓRIA Antes de irmos para uma tabela com as causas de alcalose respiratória, vamos entender o racional por trás: a hipoxia e o estímulo direto ao centro respiratório levam a um aumento da ventilação pulmonar, o que acarreta maior eliminação de CO2 e alcalose respiratória! Alcalose respiratória Mecanismos Causas Hipoxia Pneumonia Tromboembolismo pulmonar Insuficiência cardíaca Edema pulmonar Estímulo do centro respiratório Ansiedade Intoxicação por salicilato Acidente vascular cerebral COMENTÁRIO: 30Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 4.0 GASOMETRIA COM PH NORMAL Por fim: professor, o que fazer se o pH da gasometria estiver normal? Como proceder a análise? Quando você se deparar com uma gasometria que traz um pH normal, quero que pense em duas possibilidades. No primeiro caso, se os níveis de pCO2 e HCO3 - estiverem dentro do limite da normalidade, você estará diante de uma gasometria normal. A outra possibilidade, eu diria que a mais “perigosa” delas, é você estar diante de uma gasometria que tenha um distúrbio misto. Para isso, você deve procurar por valores de pCO2 e HCO3 - que estejam no mesmo sentido, isto é, os dois em níveis reduzidos ou elevados! Veja que o pH está normal pela presença de dois distúrbios primários antagônicos, uma acidose e uma alcalose! Você sempre vai procurar o distúrbio primário olhando para a tendência do pH (se está mais próximo da acidemia ou da alcalemia). Lembre-se: a resposta compensatória per se não é capaz de trazer o pH para a normalidade! Para finalizar o material, acompanhe-me no exemplo a seguir: pH normal Alterados Analisar o bicarbonato e o pCO² Gasometria normal Distúrbio misto Normais CAPÍTULO 31Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Interprete o distúrbio acidobásico da seguinte gasometria arterial: pH = 7,36 pCO2 = 20 mmHg HCO3- =15 mEq/L Esse exemplo é muito interessante para fixarmos o que acabamos de ler. Vamos ao nosso passo a passo. Passo 1: olhar o pH. O enunciado forneceu um pH de 7,36. Como vimos, a faixa normal do pH plasmático é entre 7,35 e 7,45. Apesar de normal, o pH está mais próximo da faixa da acidemia do que da alcalemia. Esse dado deve nos fazer pensar em um distúrbio primário que seja compatível com alguma acidose! Passo 2: encontrar o distúrbio primário. Uma acidose deve nos levar à busca de duas condições: uma redução dos níveis de bicarbonato (acidose metabólica) ou um aumento nos níveis de pCO2 (acidose respiratória). O que encontramos é um bicarbonato de 15 mEq/L. Concluímos, então, que há uma acidose metabólica. Passo 3: existe compensação respiratória do distúrbio metabólico? O cálculo para avaliar a pCO2 esperada como forma de compensar a acidose metabólica é o seguinte: [(1,5 x HCO3 -) + 8] = pCO2 esperada. Em nosso caso, o valor encontrado é de 30,5 mmHg, maior do que a pCO2 fornecida pela gasometria. Então, o paciente está eliminando mais CO2 do que deveria. Há, portanto, uma alcalose respiratória associada. O diagnóstico final do distúrbio acidobásico é uma acidose metabólica e uma alcalose respiratória – um distúrbio misto. 32Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app 5.0 LISTA DE QUESTÕES https://estr.at/pncE https://estr.at/pncE 33Prof. Ricardo Leal | Nefrologia | Fevereiro 2022 Distúrbios Ácidos-Base 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Moura, L. R. R.; Alves, M. A. R.; Santos, D. R.; Pecoits Filho, R. Tratado de Nefrologia - 2018 2. Riella, Miguel Carlos. “Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos.” Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 2018. 3. Feehally, J., Floege, J., Tonelli, M. and Johnson, R., 2019. ComprehensiveClinical Nephrology. 4. Soleimani, Manoocher, and Asghar Rastegar. “Pathophysiology of renal tubular acidosis: core curriculum 2016.” American Journal of Kidney Diseases 68.3 (2016): 488-498. 5. Emmett, Michael. “Metabolic Alkalosis: A Brief Pathophysiologic Review.” Clinical Journal of the American Society of Nephrology 15.12 (2020): 1848-1856. 6. Berend, Kenrick. “Diagnostic use of base excess in acid–base disorders.” New England Journal of Medicine 378.15 (2018): 1419-1428. 7. Palmer, Biff F., and Deborah Joy Clegg. “The use of selected urine chemistries in the diagnosis of kidney disorders.” Clinical Journal of the American Society of Nephrology 14.2 (2019): 306-316. 8. Jaber, Samir, et al. “Sodium bicarbonate therapy for patients with severe metabolic acidaemia in the intensive care unit (BICAR-ICU): a multicentre, open-label, randomised controlled, phase 3 trial.” The Lancet 392.10141 (2018): 31-40. 9. Kraut, Jeffrey A., and Nicolaos E. Madias. “Lactic acidosis.” New England Journal of Medicine 371.24 (2014): 2309-2319. 10. Kellum, John A. “Saline-induced hyperchloremic metabolic acidosis.” Critical care medicine 30.1 (2002): 259- 261. 11. Jung, Boris, et al. “Diagnosis and management of metabolic acidosis: guidelines from a French expert panel.” Annals of intensive care 9.1 (2019): 1-17. 12. Emmet, M., 2021. UpToDate. [online] Uptodate.com. Available at: < https://www.uptodate.com/contents/ approach-to-the-adult-with-metabolic-acidosis> [Accessed 15 May 2021].a 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Querido Revalidando, gostaria de parabenizá-lo por concluir este livro! Sei que é um tópico temido por muitos, mas é fundamental para sua prática e para seu exame do Revalida. Não deixe de exercitar o conteúdo na lista de questões que preparei com as melhores questões para você dominar o tema. Lembre-se de que pode sempre contar com o time de Nefrologia do Estratégia MED para tirar quaisquer dúvidas! Um abraço e bons estudos! CAPÍTULO 1.0 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS DISTÚRBIOS ACIDOBÁSICOS 1.1 Parâmetros avaliados em uma gasometria arterial 1.2 A equação de Henderson-Hasselbalch e os distúrbios ácido-básicos 1.3 A resposta secundária ou compensatória 2.0 ACIDEMIA 2.1 Como interpretar uma gasometria que apresenta acidemia 2.1.1 Primeiro passo: checar o pH 2.1.2 Segundo passo: encontrar o distúrbio primário 2.1.3 Terceiro passo: avaliar a resposta compensatória 2.1.4 Quarto passo: calcular o ânion gap sérico 2.2 Causas de acidose metabólica 2.2.1 Acidose metabólica com AG aumentado 2.2.2 Acidose metabólica com AG normal (hiperclorêmica) 2.3 Causas de acidose respiratória 3.0 ALCALEMIA 3.1 Como interpretar uma gasometria que apresenta alcalemia 3.1.1 Primeiro passo: checar o pH 3.1.2 Segundo passo: encontrar o distúrbio primário 3.1.3 Terceiro passo: avaliar a resposta compensatória 3.2 Causas de alcalose metabólica 3.2.1 Causas de alcalose metabólica hipovolêmica 3.2.2 Causas de alcalose metabólica normo / hipervolêmicas 3.3 Causas de alcalose respiratória 4.0 GASOMETRIA COM pH NORMAL 5.0 Lista de questões 6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 7.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS