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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE FARMÁCIA JENNIFER ALINE SOUZA SANTOS EPIDEMIOLOGIA E RISCOS RELACIONADOS À INFECÇÃO PELO Streptococcus agalactiae EM GESTANTES E NEONATOS. PIRACICABA - SP 2018 JENNIFER ALINE SOUZA SANTOS EPIDEMIOLOGIA E RISCOS RELACIONADOS À INFECÇÃO PELO Streptococcus agalactiae EM GESTANTES E NEONATOS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do Diploma de Graduação no Curso de Farmácia, da Universidade Metodista de Piracicaba. Orientador: Profª. Drª. Margarete de Fatima Costa PIRACICABA - SP 2018 RESUMO O Streptococcus agalactiae, também chamado de estreptococo do grupo B (EGB), é uma espécie pertencente a um gênero bacteriano heterogêneo. O microrganismo é normalmente encontrado na microbiota humana, porém, quando coloniza a gestante, pode se comportar como um importante patógeno, causando infecções neonatais graves como a sepse e a meningite. A colonização da gestante pelo EGB comumente ocorre de maneira assintomática, porém, não é descartada a possibilidade de desenvolvimento de complicações durante a gestação, sendo uma das complicações possíveis o trabalho de parto prematuro. Apesar dos possíveis problemas causados pelo EGB na gestação, o fator que ocasiona maior preocupação nos órgãos de saúde é a possibilidade da sua transmissão por via transversal para o recém-nascido. Estudos realizados por órgãos de pesquisa e saúde destacam a prevenção como o método mais eficaz para se evitar que uma colonização na gestante venha ocasionar problemas, se transformando numa infecção no recém-nascido. Para que a prevenção seja feita, a gestante deverá passar por uma rotina de diagnóstico laboratorial específica, baseada no isolamento e identificação da espécie através de métodos microbiológicos e técnicas imunoenzimáticas. Atualmente, poucos municípios brasileiros aplicam as estratégias de detecção nas rotinas de pré-natal, o que torna as gestantes residentes fora desses municípios mais propensas a transmitir o patógeno durante o trabalho de parto, e portanto, conclui-se que há a necessidade de padronização de uma pesquisa rotineira sobre a colonização de gestantes por EGB, visando diminuir a transmissão e a incidência patológica desse microrganismo em recém-nascidos. Palavras-chave: Streptococcus agalactiae. Gestante. Prevenção. Neonato. Infecção neonatal. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 4 2. OBJETIVO 6 3. MATERIAIS E MÉTODOS 7 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 8 4.1 O gênero: aspectos morfológicos e classificação 8 4.2 Streptococcus agalactiae 10 4.3 Patogenia em gestantes 12 4.4 EGB X Neonatos 13 4.5 Diagnóstico laboratorial: colheita e pesquisa 15 4.5.1 Teste de Fator de CAMP (Christie, Atkins e Munch-Peterson) 16 4.5.2 Testes rápidos e auxiliares 17 4.5.3 Diagnóstico no recém-nascido 19 4.6 Profilaxia e tratamento 20 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 25 BIBLIOGRAFIA 26 4 1 INTRODUÇÃO A mortalidade infantil, por ser algo considerado evitável, é utilizada atualmente como ferramenta avaliadora da qualidade de vida de uma população, assim como também é utilizada para medir a qualidade dos serviços de saúde ofertados. No aspecto pós-neonatal a mortalidade infantil tem demonstrado queda diante de fatores ditos “controláveis”, pela implantação de medidas de prevenção, tais como a vacinação, promoção do aleitamento materno e tratamento das doenças diarreicas. Apesar dessa queda, no âmbito neonatal da mortalidade infantil os serviços de saúde ainda encontram dificuldades em operar de modo a diminuir de forma significativa as taxas, visto que as demandas nesse meio se apresentam mais complexas e imprevisíveis. Assim, não se trata apenas de um problema de serviço de saúde, mas sim de um reflexo de vários fatores, como o fator social e o biológico (GOULART, VALLE, et al., 2006; ARAÚJO, BOZZETTI e TANAKA, 2000; LEAL e SZWARCWALD, 1996). Sabe-se que elementos conhecidos como o perfil socioeconômico materno, assistência pré-natal, perfil gestacional, condições de parto, perfil do neonato, entre outros, são fatores que influenciam na sobrevivência ou óbito do recém-nascido. Atualmente estima-se que cerca de 60% dos óbitos ocorrem no período neonatal (até 23 dias de vida), com ênfase na primeira semana de vida, sendo assim denominado de óbito neonatal precoce (GOULART, VALLE, et al., 2006; BRASIL, PINTO, et al., 2018). Ocasionalmente, se manifestada entre as primeiras 72 horas de vida pós-parto associada a um conjunto de sintomas diversos, a sepse neonatal precoce torna-se uma infecção sistêmica que figura entre as principais causas de óbitos no período neonatal. A sepse neonatal em alguns países em desenvolvimento pode chegar a uma taxa de 15,4 a cada 1000 nascidos vivos, porém, quando levada aos Estados Unidos da América (EUA) essa cai para uma média de cinco casos a cada 1000 nascidos vivos. Nos EUA o Streptococcus agalactiae é a bactéria predominante nesses processos infecciosos e são aproximadamente seis mil casos ao ano (GOULART, VALLE, et al., 2006; BRASIL, PINTO, et al., 2018). O Streptococcus agalactiae ou estreptococo do grupo B de Lancefield (EGB) em tempos atuais tem estado dentre os agentes causais predominantes de infecção perinatal. O EGB é uma bactéria gram-positiva cocóide em forma de cadeia, é beta hemolítico e de potencial invasivo (PHARES, LYNFIELD, et al., 2008; FARLEY, 2001). Quando se manifesta em gestantes, pode ocasionar infecção urinária, amnionite, endometrite e 5 bacteremia, e, quando em neonatos a infecção pode ocorrer verticalmente podendo causar problemas como sepse e meningite, fator esse que vem despertando interesse de diversos pesquisadores para a investigação acerca desse patógeno (BORGER, OLIVEIRA, et al., 2005; GOULART, VALLE, et al., 2006; BRASIL, PINTO, et al., 2018). Infecções bacterianas são relevantes e podem ocasionar agravamento do prognóstico tanto materno quanto fetal no período de gestação (BAUMGARTEN, SILVA, et al., 2011). Visto isso, é de extrema importância uma revisão acerca da gravidade das infecções causadas pelo EGB nos neonatos, assim como o levantamento de estudos que possam esclarecer o modo como o agente se comporta, e também as formas de detecção, prevenção e controle da bactéria. 6 2. OBJETIVO O presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a bactéria Streptococcus agalactiae de acordo com a gravidade de suas infecções manifestas em neonatos, abordando aspectos gerais do gênero e espécie, o modo de ação em gestantes e neonatos, bem como a identificação e controle da bactéria e sua patologia. 7 3. MATERIAIS E MÉTODOS Para realizar a revisão bibliográfica foram analisados estudos em bases de dados em endereço eletrônico, tais como Scielo, Bireme, Lilacs; usando as palavras-chave: mortalidade infantil, Streptococcus agalactiae, gestantes, infecção perinatal e infecções estreptocócicas. Os artigos pertinentes ao tema foram selecionados e revisados e devido à ausência de pacientes ou ausência de dados dos mesmos exclui-se a necessidade de sujeição ao Comitê de Ética em Pesquisa para a realização da Revisão Bibliográfica para o presente trabalho. 8 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 O gênero: aspectos morfológicos e classificação Um gênero bacteriano é um grupo que reúne várias espécies de características semelhantes. As bactérias pertencentes ao gênero Streptococcus são bactérias gram-positivas de aspecto cocóide, comumente apresentadas em grupos ou cadeias. Detentor de uma variedade extensa de espécies bacterianas, o grupo ostenta significante complexidade taxonômica, sendo responsável por causar doenças e infecções em número superior a qualquer outro grupo de bactérias existente (TORTORA, FUNKE e CASE, 2012; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015) As bactérias do grupo são parasitas comensais, possuem caráter bastante heterogêneo e habitam os mais diversos ambientes, inclusive a microbiota humana, onde estão presentes na boca, trato respiratório superior, intestinoe pele. Apresenta vasta transmissão e elas usualmente ocorrem por contato direto. O grupo, em sua maioria, é anaeróbio facultativo, na totalidade é catalase-negativo, não possui motilidade, não produz esporos e grande parte das espécies constituintes não oferecem riscos ao ser humano, porém aquelas que ofertam riscos estão associadas a doenças humanas importantes, sejam provocadas diretamente pelo microrganismo ou pela sensibilização do organismo exposto indiretamente (NETO, 2013; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015). Os Streptococcus possuem metabolismo fermentativo obtendo como produto final o ácido láctico, que é adquirido predominantemente através da fermentação da glicose. O ácido láctico produzido através do metabolismo de espécies não patogênicas faz com possuam relevância significativa para a indústria de laticínios (TORTORA, FUNKE e CASE, 2012; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015). Os Streptococcus foram alvo do desenvolvimento de diversos sistemas de classificação, e sua categorização é complexa visto que o grupo é composto por uma quantidade heterogênea de bactérias. Desta forma, torna-se necessário a utilização de mais de um método classificatório, visto que a variedade de espécies bacterianas existentes no gênero também faz com que as mesmas apresentem características diferentes quando submetidas aos mesmos métodos de análise (NETO, 2013). 9 Dentre os métodos que se fazem disponíveis atualmente para a classificação do grupo, os mais utilizados são os que se baseiam na observação de padrões de hemólise, ou seja, a capacidade do microrganismo em promover a degradação dos eritrócitos. Através da observação do tipo de hemólise adquirida, o organismo bacteriano poderá ser classificado em beta-hemolítico, alfa-hemolítico e gama (CAETANO, 2008; NETO, 2013; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015). Para que haja a classificação a partir da hemólise são observadas as colônias em meio de cultivo contendo ágar-sangue. As espécies denominadas beta-hemolíticas são aquelas que apresentam hemólise completa e devido à hemolisina (exotoxina) produzida por essas bactérias, um halo claro é formado ao redor das colônias. As espécies alfa-hemolíticas são aquelas que apresentam a lise eritrocitária parcial. Quando cultivadas em ágar-sangue na presença de oxigênio, ocorre ação do peróxido de hidrogênio produzido por essas bactérias causando destruição parcial das hemácias e levando ao aparecimento de uma coloração esverdeada característica em torno das colônias. Existem também as espécies que não apresentam nenhum tipo de hemólise, estas são denominadas gama ou não hemolíticas (Figura1) (TORTORA, FUNKE e CASE, 2012; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015; KONEMAN, ALLEN, et al., 2001). Figura 1: Meios de cultura apresentando α-hemólise, ß-hemólise, -hemólise (da esquerda para direita). Fonte: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/boas_praticas/modulo4/intr_stre2.htm A identificação classificatória dos estreptococos beta-hemolíticos ocorre por meio de características sorológicas, embora a identificação presuntiva de algumas espécies pertencentes ao grupo possa ser realizada bioquimicamente. Diferentemente do grupo beta-hemolítico, os grupos alfa-hemolítico e gama são identificados através de suas propriedades bioquímicas (NETO, 2013; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015). http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/boas_praticas/modulo4/intr_stre2.htm 10 Os estreptococos beta-hemolíticos podem ser identificados e agrupados de acordo com suas propriedades sorológicas. Essa classificação é baseada nas características antigênicas de um polissacarídeo que é encontrado na parede celular bacteriana, o carboidrato C, e esse sistema de classificação foi desenvolvido por Rebecca Lancefield em meados da década de 40 (CHAVES, 2011; TORTORA, FUNKE e CASE, 2012; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015). De composição variável entre os grupos que o possui, o carboidrato C foi utilizado para dividir os estreptococos em 20 grupos sorológicos, os grupos foram nomeados com as letras do alfabeto de A ao V, excluindo-se as letras J e I que são inexistentes. O carboidrato C pode ser detectado por técnicas imunológicas distintas, destacando-se a precipitação em tubo capilar e aglutinação pelo látex. Além disso, as espécies pertencentes aos grupos podem ser divididas entre si de acordo com seus tipos sorológicos, segundo as proteínas imunologicamente distintas presentes na superfície celular bacteriana. Apesar de grande utilidade para identificação dos estreptococos beta-hemolíticos, a classificação sorológica a partir do carboidrato C não oferece utilidade para a identificação dos estreptococos não beta-hemolíticos, cuja discriminação ocorre por meio da utilização de testes de origem bioquímica (TORTORA, FUNKE e CASE, 2012; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015). 4.2 Streptococcus agalactiae O Streptococcus agalactiae (Figura 2), é uma bactéria comensal que coloniza constantemente o sistema gastrointestinal de indivíduos adultos de maneira assintomática. De caráter Gram-positivo, o estreptococo, como os demais pertencentes ao gênero, é identificado como um coco disposto aos pares ou cadeias de tamanhos variáveis e, apesar de possuir características semelhantes às outras espécies, tais como a exigência nutricional e as propriedades fisiológicas, apresenta também características específicas que as diferenciam das demais. (NETO, 2013; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015; ARANTES e MIYAMOTO, 2016; CHAVES, 2011). 11 Figura 2: Streptococcus agalactiae observado ao microscópio óptico após coloração de Gram Fonte: (CHAVES, 2011). Membro da flora bacteriana humana normal, o S. agalactiae pode ser encontrado nas vias aéreas superiores, trato intestinal e vaginal, mas pode também se comportar como patógeno por apresentar potencial invasivo causando infecções e afetando diferentes tipos de pacientes (BORGER, OLIVEIRA, et al., 2005; CHAVES, 2011; NETO, 2013). A espécie beta- hemolítica recebeu essa classificação em 1934 por Rebecca Lancefield, e é a única que possui um antígeno específico na superfície de sua parede celular. Esse antígeno é um polissacarídeo,composto por ramnose, galactose e n-acetilglicosamina, constituinte do grupo B, e assim a espécie é referenciada como “estreptococo do grupo B” ou EGB (NETO, 2013; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015; ARANTES e MIYAMOTO, 2016). O S. agalactiae possui também antígenos os polissacarídeos tipo-específicos Ia, Ib,II, III, IV, V e VI, compondo a superfície de sua parede celular. Os polissacarídeos tipo-específicos são utilizados como marcadores epidemiológicos, especificamente os tipos Ia, III e V se mostram mais prevalentes quando detectada a colonização e a doença pelo patógeno (CAETANO, 2008; CHAVES, 2011; FIOLO, ZANARDI, et al., 2012). A espécie também é reconhecida por ser a única pertencente ao grupo a possuir o chamado fator de CAMP, que é uma proteína capaz de intensificar a lise em eritrócitos produzida pela beta-lisina do Staphylococcus aureus. Essa proteína é termoestável e é utilizada como diagnóstico presuntivo de EGB. Acredita-se que o fator de CAMP esteja relacionado à virulência da espécie, devido sua capacidade de ligação com as imunoglobulinas G e M (NETO, 2013; CAETANO, 2008; ARANTES e MIYAMOTO, 2016). 12 O EGB é incomum em crianças, sendo identificado normalmente à partir da adolescência tardia. Ainda, o estreptococo não é um agente causal de doença sexualmente transmissível e, portanto não é transmitido por meio de relação sexual, não acomete indivíduos sadios, porém, possui grande probabilidade de causar enfermidade severa de forma igual em pacientes de ambos os sexos, desde que os mesmos sejam idosos ou portadores de imunossupressões, diabetes, câncer, úlceras por pressão, cirrose, entre outros (CHAVES, 2011; FARLEY, 2001). 4.3 Patogenia em gestantes O S.agalactiae ou EGB de Lancefield é um dos mais importantes agentes causais de infecções neonatais graves no mundo (AREAL, NUNES, et al., 2010). Em gestantes a infecçãopelo EGB pode ser vaginal e urinária, a bactéria também é capaz de causar doenças graves como a fascite, a celulite, endometrite puerperal e amnionite (inflamação da membrana que envolve o feto). A infecção ocorre quando a bactéria migra da região do reto para a vagina, e alcança o colo uterino. A infecção pode causar alteração do muco cervical, acarretando, em casos extremos, a ruptura prematura das membranas, levando a interrupção da gestação, partos prematuros e ao nascimento de crianças de baixo peso (AREAL, NUNES, et al., 2010; CHAVES, 2011). No momento da concepção da gestante colonizada o recém-nascido pode ser contaminado e adquirir a infecção, podendo apresentar quadro de septicemia e meningite, com baixo prognóstico de vida ao nascer, e o quadro poderá, em consequência da infecção, evoluir a óbito. Esse tipo de situação torna o rastreio da bactéria extremamente importante durante o pré-natal, visto que o objetivo dos órgãos de saúde responsáveis é preservar a vida e o bem-estar da gestante e do recém-nascido (FARLEY, 2001; PHARES, LYNFIELD, et al., 2008; COSTA, 2011; GALLO, 2015; ZANATTA, 2015). No ano de 1996 o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) publicou nos Estados Unidos da América (EUA) o primeiro conjunto de recomendações para prevenção de infecções perinatais causadas pelo EGB, propondo dois meios de profilaxia intraparto. A primeira, baseada na presença dos fatores de risco e a segunda baseada no diagnóstico obtido por meio do exame de cultura vaginorretal (SILVA, VIDAL e ARAÚJO, 2015). 13 Em 2002, de acordo com novos estudos, as recomendações foram atualizadas e a partir de então, as recomendações realizadas pelo CDC destacavam a cultura vaginorretal como única estratégia de orientação para a profilaxia intraparto (SILVA, VIDAL e ARAÚJO, 2015). No Brasil a implantação da profilaxia para a contaminação pelo EGB no recém-nascido tem sido mais dificultosa, visto que não há estudos abundantes sobre o tema. No ano de 2000 foi implantado pelo Ministério da Saúde – MS, o programa de humanização do pré-natal. O programa tem como objetivo prover o suporte para que a gestante realize os procedimentos clínicos e laboratoriais necessários, garantindo a segurança para a mãe e para o recém-nascido, favorecendo também a identificação de possíveis riscos para ambos, de modo a prevenir que os mesmos venham interferir no bom prognóstico da gestação (BARROS, JOBST, et al., 2015). O MS em 2006 elegeu alguns fatores como de risco para as gestantes, segundo o órgão os mesmos as tornariam mais suscetíveis à colonização pelo EGB,tais fatores são: faixa etária, peso, condições sociodemográficas desfavoráveis, baixo grau de escolaridade, baixa renda familiar, histórico de gestações colonizadas, doença obstétrica na gravidez atual e intercorrências clínicas como cardiopatias, nefropatias e hipertensão arterial (OLIVEIRA, TELES e VIANA, 2013). 4.4 EGB X Neonatos A colonização materna pelo estreptococo mesmo que de maneira assintomática é de extrema relevância, pois é o principal fator de risco para que haja infecção neonatal. Estima-se que dos recém-nascidos expostos ao EGB intravaginal, 50 a 75% se tornarão colonizados e que 1 a 2% dos nascidos de mães colonizadas irão desenvolver doença invasiva de início precoce (BORGER, OLIVEIRA, et al., 2005; POGERE, ZOCCOLI, et al., 2005). Considera-se que o risco de neonatos prematuros desenvolverem infecção precoce é de 10 a 15 vezes maiores, destacando-se os de baixo peso, sendo esses mais suscetíveis ao favorecimento da multiplicação rápida do EGB, com evolução fulminante da doença (BORGER, OLIVEIRA, et al., 2005). Acredita-se que situações como a colonização materna por EGB detectada entre as 35 e 37 semanas de gestação, infecção do trato urinário (ITU) por EGB em qualquer altura da gestação, gravidez anterior com infecção neonatal precoce por EGB, parto prematuro com idade gestacional inferior a 37 semanas completas, ruptura de membrana amniótica superior a 14 18 horas, temperatura materna intraparto superior a 38ºC e corioamnionite, sejam fatores de risco para infecção neonatal pela bactéria (AREAL, NUNES, et al., 2010). A colonização do recém-nascido ocorre por meio de transmissão vertical, horizontal ou nosocomial, sendo assim, a contaminação ocorre no útero, durante o parto ou a partir da exposição do recém-nascido ao ambiente hospitalar após seu nascimento. A transmissão vertical é a forma dominante de contaminação, e acontece quando o recém-nascido passa através do canal de parto ou pela aspiração fetal do líquido amniótico contaminado, desta forma a transmissão pode ocorrer desde o início do trabalho de parto ou mesmo após haver ruptura prematura das membranas (CHAVES, 2011; AREAL, NUNES, et al., 2010). A infecção neonatal por EGB é caracterizada de duas formas distintas, a primeira é denominada infecção de início precoce ou doença de início precoce, essa forma de infecção pode se manifestar logo após o nascimento, onde os sintomas serão evidenciados durante as primeiras horas de vida ou em até sete dias depois da concepção, e essa infecção de início precoce ocorre em 0,7 a 3,7 em cada 1000 nascidos vivos. Esse tipo de infecção, causada pelo estreptococo possui sintomatologia inespecífica, sendo este um fator que dificulta a percepção (CHAVES, 2011; GALLO, 2015). Para essa patologia, na maioria dos casos, os primeiros sintomas apresentados são: gemência, taquipnéia (aceleração do ritmo respiratório), distenção abdominal, letargia (inconsciência), recusa alimentar (dificuldade na hora de lactação), icterícia, hipotermia e má perfusão periférica. Os quadros de infecção precoce relacionados à espécie possuem muitas variantes, elas podem variar de bacteremia assintomática à sepse de evolução rapidamente progressiva, levando muitas vezes a uma evolução fatal (CHAVES, 2011; GALLO, 2015). A segunda forma de manifestação é a designada como infecção de início tardio ou doença de início tardio, podendo ocorrer a partir do oitavo dia de vida do recém-nascido, é observável desde o dia que se manifesta até a finalização dos três meses de vida seguintes à concepção. Nesses casos a ocorrência clínica predominante é a meningite, com incidência de 0,5 a 1,8 em cada 1000 nascidos vivos (CHAVES, 2011; GALLO, 2015). Dentre todas as formas de infecções citadas, a infecção intraútero observada após o nascimento é a mais severa, e constantemente leva o recém-nascido a quadros de sepse, choque, insuficiência respiratória grave e coma. Foi observado que a colonização pelo EGB em recém-nascidos que manifestaram sepse precoce esteja situada entre 25% e 40% dos casos (GALLO, 2015). 15 4.5 Diagnóstico laboratorial: colheita e pesquisa Por ser um importante patógeno detectado constantemente em gestantes e neonatos, diversos órgãos responsáveis pela prevenção, detecção e controle de doenças tais como o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) recomendam que gestantes realizem a coleta para o exame de detecção do EGB entre a 35ª e 37ª semanas de gravidez, devido à capacidade da colonização pela bactéria ser intermitente ou crônica. Deste modo, gestantes que não apresentavam colonização na metade do período da gestação podem vir a apresentar culturas positivas no final e vice-versa, e mulheres colonizadas e tratadas no início ou meio da gestação podem se recolonizar no final da gravidez (CHAVES, 2011). A cultura bacteriana padrão ouro aplicado para identificação de colonização materna pelo EGB é realizada com a utilização de amostras de material anal e vaginal, obtidas da gestante (CAETANO, 2008; CHAVES, 2011; ZANATTA, 2015). Segundo orientação do CDC, a coleta de material para diagnóstico de EGB em gestantes deve ser feita em dois locais, sendo eles: terço inferior do trato genital (introito vaginal) e região anal (dentro do esfíncter anal) com o auxílio de um “swab”, podendo ser utilizado o mesmo coletor para os dois locais, mas nesse caso, a coleta devese iniciar sempre pela região vaginal e sem a utilização do espéculo ginecológico (ATENÇÃO BÁSICA. SECRETARIA DA SAÚDE, 2015; SILVEIRA, 2006; CHAVES, 2011; NETO, 2013; CDC, 2010). Na coleta de espécimes por via vaginal se faz necessário que sejam removidos previamente corrimentos ou secreções excessivas; já na coleta por via anal, deve-se introduzir o “swab” cuidadosamente na altura de aproximadamente 0,5 cm através do esfíncter anal, após sua inserção o “swab” deverá ser volteado lentamente de maneira a entrar em contato com as criptas anais (SILVEIRA, 2006; ATENÇÃO BÁSICA. SECRETARIA DA SAÚDE, 2015; NETO, 2013). O material colhido deve ser inoculado em meio de cultura seletivo e específico. Dentre os mais utilizados está o caldo Todd-Hewitt1 acrescido de gentamicina (8mg/mL) ou colistina (10mg/mL) e ácido nalidíxico (15mg/mL). Os antibióticos acrescidos favorecem o isolamento de S.agalactiae de amostras com microbiota mista, pois inibem o crescimento de microrganismos Gram-negativos que possam estar presentes na amostra (ATENÇÃO 1 O caldo Todd Hewitt é o caldo seletivo para crescimento de Streptococcus agalactiae ( beta -hemolíticos do grupo B ). Disponível em: http://www.mbiolog.com.br/produtos/Caldo_Todd_Hewitt.pdf Acesso em out, 2018. http://www.mbiolog.com.br/produtos/Caldo_Todd_Hewitt.pdf 16 BÁSICA. SECRETARIA DA SAÚDE, 2015; CHAVES, 2011; SILVEIRA, 2006; NETO, 2013; BERALDO, BRITO, et al., 2004). A amostra deve seguir para incubação de 18 a 24 horas à 35ºC em atmosfera de 5% de dióxido de carbono. Em caso de não crescimento, o meio deve ser incubado novamente por um período de mais 24 horas, em seguida o conteúdo da amostra é semeado em gelose de sangue e incubado sob as mesmas condições (CHAVES, 2011; COSTA, 2011; SILVEIRA, 2006). Com o crescimento das culturas em mais 24 horas, é feita a identificação do estreptococo utilizando provas de coloração de Gram, catalase, hidrólise do hipurato, prova de CAMP para confirmação presuntiva e prova de aglutinação de látex para detecção do antígeno de Lancefield e identificação confirmatória. No mínimo de 48 horas pode haver crescimento de colônias típicas e em 48 a 72 horas é obtido o resultado positivo ou negativo da cultura. A cultura da amostra ainda poderá ser submetida ao antibiograma (COSTA, 2011; CAETANO, 2008; CHAVES, 2011; NETO, 2013). 4.5.1 Teste de Fator de CAMP (Christie, Atkins e Munch-Peterson) O teste de fator de CAMP deve ser aplicado em todo microrganismo isolado em meio seletivo que apresente suspeita de ser um estreptococo (CAETANO, 2008; CHAVES, 2011). O método é realizado em placa de ágar sangue (carneiro), ao centro da placa é inoculada uma estria de uma amostra de S. aureus previamente testada e fortemente hemolítica, não é aconselhável a utilização de amostras antigas. Após a inoculação do estafilococo as amostras obtidas para o teste são inoculadas em linha reta perpendicularmente à estria central sem que as mesmas se toquem (NETO, 2013). Após a inoculação a placa deve ser incubada a 35-37ºC num período de dezoito a vinte e quatro horas, a prova se mostra positiva, indicando a presença de S.agalactiae na amostra, quando ocorre interação entre a beta-lisina produzida pelo S. aureus e a proteína de ligação presente na superfície capsular do S. agalactiae. Essa interação acarreta no aparecimento de uma forma semelhante a uma seta, meia-lua ou ponta de flecha na área de contato entre as duas estrias (Figura 3) (CHAVES, 2011; NETO, 2013). 17 Figura 3: Teste de CAMP. Colônias com aspecto cremoso e zona de hemólise. Fonte: Sociedade Americana de Microbiologia. 4.5.2 Testes rápidos e auxiliares Para a detecção do EGB além dos testes de coloração de gram e de fator de CAMP, existem outros métodos utilizados como apoio ao diagnóstico. Dentre esses métodos estão a prova de catalase, a prova do hipurato e a prova de resistência a bacitracina/ sulfametoxazol e trimetoprima (TORTORA, FUNKE e CASE, 2012; TRABULSI e ALTERTHUM, 2015; CHAVES, 2011; NETO, 2013). Tabela 1: Características do Streptococcus agalactiae. Espécie Streptococcus agalactiae Morfologia Cocos Coloração de Gram + Catalase - Teste de CAMP + Hidrólise do Hipurato + Sensibilidade à bacitracina Resistente A prova da catalase é utilizada para diferenciação entre estreptococos e estafilococos, e consiste na decomposição do peróxido de hidrogênio pela enzima catalase, resultando na produção de água e oxigênio. A reação pode ser observada indicando 18 positividade quando há o aparecimento de bolhas na amostra (Figura 4), o Streptococcus agalactiae tem resultado negativo para essa reação (CAMPOS, LIMA e PICOLLI, 2016). Figura 4: Teste da catalase. Fonte: (CHAVES, 2011). O EGB é o único capaz de hidrolisar o hipurato, e quando isso ocorre é produzido ácido benzoico e glicina. A metodologia consiste em inocular os microrganismos em caldo contendo hipurato de sódio, após o período de incubação adequado (18 – 24 h) o caldo é centrifugado para separação do sobrenadante, e posteriormente são adicionados 0,8 mL de cloreto férrico. O teste será positivo com a formação e permanência de precipitado de coloração púrpura por no mínimo dez minutos, o qual indica a presença de ácido benzoico (BRASIL, 2013; CAMPOS, LIMA e PICOLLI, 2016). O EGB possui como uma de suas características fisiológicas a resistência bacteriana a bacitracina e ao sulfametoxazol - trimetoprima, e para a confirmação de resistência é realizado o antibiograma semeando a amostra em meio de cultura contendo sangue de carneiro (Mueller Hinton Sangue), onde posteriormente será colocado um disco com os antibióticos, e após incubação verifica-se o crescimento de colônias bacterianas no meio e se houve inibição através da formação ou não de halo (CAMPOS, LIMA e PICOLLI, 2016; CHAVES, 2011; NETO, 2013). O teste de aglutinação de látex é baseado na detecção do antígeno de Lancefield, e, portanto, tem caráter confirmatório. Para que a confirmação ocorra, é utilizado um kit de teste comercial, de acordo com instruções do fabricante, e aplicado em amostras que receberam diagnóstico presuntivo positivo para EGB, assim, é realizada a suspensão de duas ou mais colônias presentes na amostra, e então, é adicionada a enzima de extração fornecida pelo kit de teste. O extrato obtido através desse procedimento é misturado com uma gota de partículas de látex sensibilizadas com anticorpos anti EGB. O resultado é considerado 19 positivo quando ocorre a aglutinação das partículas do látex em aproximadamente dois minutos (Figura 5) (CAETANO, 2008). Figura 5: teste de aglutinação em látex positivo (esquerda), negativo (direita). Fonte:https://assets.thermofisher.com/TFS-Assets/MBD/Instructions/X7827.pdf Atualmente estão disponíveis técnicas biomoleculares de detecção, entre elas a reação em cadeia da polimerase (PCR) que é um exame qualitativo-específico, no qual o sangue da gestante é colhido imediatamente após sua internação para o parto, e o exame é realizado se a colonização da gestante é desconhecida ou mesmo se não houve realização de exames durante o pré-natal. O exame fornece resultados após aproximadamente 35 minutos, possuindo sensibilidade de 100% e especificidade de 91% (CHAVES, 2011; GRASSI, DINIZ e VAZ, 2001). 4.5.3 Diagnóstico no recém-nascido O diagnóstico da infecção no nativivo é obtido através da consideração e associação de dados clínicos e microbiológicos, devido a dificuldade do diagnóstico clínico em função da sintomatologia ser inespecífica e semelhante a diversos outros tipos de enfermidades (BRASIL, PINTO, et al., 2018; GALLO, 2015). Assim, a avaliação clínica deve ser realizada em conjunto com exames laboratoriais auxiliares. A detecção do agente infeccioso e/ou antígeno é de extrema importância para o diagnóstico da infecção neonatal pelo EGB, e os materiais usados para a realização dos exames podem ser amostras de sangue, urina, líquor, secreções faríngeas, traqueais e aspirados gástricos (GALLO, 2015; GRASSI,DINIZ e VAZ, 2001). O teste de aglutinação por látex está entre os mais frequentemente utilizados para a detecção do antígeno do S. agalactiae, possuindo caráter confirmatório. Pode ser realizado https://assets.thermofisher.com/TFS-Assets/MBD/Instructions/X7827.pdf 20 em culturas dos mais diferentes tipos de fluidos corporais, porém, há maior segurança em resultados onde a urina é utilizada, pelo fato do antígeno ser filtrado pelos rins, apresentando alta sensibilidade com a taxa de precisão entre 81 e 100%, e ainda o teste também mantém sua sensibilidade mesmo depois de iniciada a terapêutica antimicrobiana (GRASSI, DINIZ e VAZ, 2001; NETO, 2013). Atualmente entre os exames mais utilizados para o diagnóstico do recém-nascido, tem se destacado a PCR, a partir de amostras de sangue e urina, apresenta elevado grau de sensibilidade e especificidade no diagnóstico (GALLO, 2015; CHAVES, 2011). O resultado da PCR é obtido em tempo significantemente menor que o das culturas e não necessita de cultivo prévio da amostra, tornando o método vantajoso sobre os demais (GRASSI, DINIZ e VAZ, 2001). 4.6 Profilaxia e tratamento A profilaxia se caracteriza um fator extremamente relevante em áreas de grande incidência de enfermidades causadas pelo EGB, entretanto existe grande dificuldade em assistir todas as gestantes e recém-nascidos, tornando necessária a detecção de neonatos que possuam riscos de contaminação e possível desenvolvimento de infecções antes que eles venham a nascer (CHAVES, 2011). Em 1996, dada a gravidade das diversas infecções oferecidas aos neonatos e a incidência elevada de casos ocasionados pela bactéria, o CDC elaborou, juntamente com outros órgãos de saúde, o primeiro guia de prevenção para doença neonatal causada pelo EGB e como foi anteriormente citado o guia passou por diversas atualizações (FILHO, TIBIRIÇÁ e DINIZ, 2008). Atualmente é recomendado que a gestante que apresente colonização por EGB em cultura receba a quimioprofilaxia intraparto, porém, os fatores de risco são utilizados para a aplicação do método nos casos em que a gestante não tenha realizado o exame em período preconizado (Figura 6). Estudos realizados recentemente demonstraram que a detecção do EGB no final da gestação é a maneira mais correta de prevenir a doença, evitando complicações para a criança e aumento de custo com possíveis despesas decorrentes da patologia na gravidez (BARBOSA, LIMA e SOUTO, 2017; COSTA, 2011). 21 Figura 6: Recomendação para aplicação de quimioprofilaxia. Fonte: (COSTA, 2011) (adaptado). A quimioprofilaxia intraparto é executada durante o trabalho de parto, no qual é administrado um antibiótico por via intravenosa. Por ser um antibiótico de espectro mais estreito e de eficácia demonstrada em testes clínicos, habitualmente o medicamento escolhido é a penicilina G ou ampicilina. No entanto podem ser utilizados como medicamentos alternativos a cefazolina, clidamicina, eritromicina e vancomicina como forma de evitar complicações em casos de alergia. Entretanto, destaca-se com esse uso alternativo a possibilidade do desenvolvimento de resistência bacteriana e outros eventos clínicos não esperados, visto que existem poucos ensaios clínicos desses em relação a essa bactéria (Figura 7) (AREAL, NUNES, et al., 2010; BARBOSA, LIMA e SOUTO, 2017; CHAVES, 2011; CDC, 2010; FILHO, TIBIRIÇA e DINIZ, 2008). 22 Figura 7: Recomendações para profilaxia intraparto para prevenção de doença precoce pelo EGB. Fonte: (COSTA, 2011). A profilaxia intraparto é reconhecidamente o método mais eficaz de prevenção, e torna-se mais eficaz quando a primeira aplicação do antibiótico é realizada com maior proximidade ao início do trabalho de parto, e a administração intravenosa é a única admitida, permitindo assim que o medicamento alcance concentrações intra-amnióticas mais elevadas. O CDC recomenda a penicilina G cristalina- 5 milhões de unidades como dose de ataque e após isso, que sejam administradas 2,5 milhões de unidades em intervalos de 4 horas até o momento do parto (Figura 6) (AREAL, NUNES, et al., 2010; CDC, 2010; FILHO, TIBIRIÇA e DINIZ, 2008). Segundo estudos realizados, observou-se queda de aproximadamente 80% nos casos de doença neonatal de início precoce quando aplicada a quimioprofilaxia, porém não há estudos suficientes que comprovem que a profilaxia venha intervir na doença neonatal de início tardio (AREAL, NUNES, et al., 2010; CDC, 2010). O tratamento do recém-nascido ocorre com a administração de medicamentos antibióticos, segundo parâmetros específicos (Figura 8) (CHAVES, 2011; COSTA, 2011). 23 Figura 8: Parâmetros para definição de necessidade de terapia antibiótica no recém-nascido. Fonte: (COSTA, 2011) (adaptado). **Avaliação limitada= hemograma completo + hemocultura RB = ruptura de bolsa. O tratamento inicial padrão para recém-nascidos, com diagnóstico presuntivo de infecção por EGB, é a administração de ampicilina associada a um aminoglicosídeo, sendo mais comum o uso de gentamicina. Os medicamentos utilizados são escolhidos devido seus espectros de ação e por sua atividade contra microrganismos causadores de sepse (COSTA, 2011; CHAVES, 2011). Quando a sepse está estabelecida, a terapêutica antimicrobiana combinada poderá ser estendida por até 14 dias, o tratamento poderá ser completado com penicilina G ou com o uso de apenas ampicilina (COSTA, 2011; CHAVES, 2011). De acordo com estudos já realizados, é recomendável a adoção do rastreio de todas as gestantes e a aplicação de quimioprofilaxia, quando necessário, porém, deve ser realizado o monitoramento e o uso consciente dos medicamentos utilizados, visto que, as consequências do uso de antibióticos intraparto para o recém-nascido ainda é desconhecido (CHAVES, 2011; AREAL, NUNES, et al., 2010; BARBOSA, LIMA e SOUTO, 2017). 24 O que viabiliza a realização de mais estudos de modo a avaliar os riscos, e evitar o possível desenvolvimento de resistência bacteriana pelo EGB, ou por quaisquer outros microrganismos a que o neonato venha a ser exposto durante a vida. 25 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Através da leitura dos trabalhos selecionados, detectou-se que o gênero Streptococcus é responsável por causar diversas patologias graves, e dentro desse gênero pode-se destacar a espécie Streptococcus agalactiae, o qual se atribui a maioria das complicações no âmbito obstétrico e pediátrico, pela capacidade de colonizar gestantes e causar infecções graves em recém-nascidos de mães colonizadas. Pela importância desse agente, e pelas consequências atribuídas a ele, organizações de saúde de diversos países padronizaram protocolos de prevenção, de modo a diminuir a probabilidade de que uma mãe colonizada transmita o microrganismo para o recém-nascido. Apesar disso, constatou-se que no Brasil, ainda não há padronização para detecção do agente, visto que, somente alguns estados e municípios resolveram aderir a algum tipo de agenda de prevenção, e os que aderiram utilizam protocolos estabelecidos pelo CDC, onde é preconizado o rastreio da bactéria durante o período de pré-natal e a quimioprofilaxia realizada intraparto. Na maioria dos países esse microrganismo tem papel de destaque nas pesquisas, sendo alvo do desenvolvimento de novos métodos para prevenção, como por exemplo, vacinas. Desta forma, é perceptível a necessidade da realização de estudos que venham despertar o interesse de profissionais de saúde para o assunto, visto que a literatura sobre o tema ainda é escassa no Brasil. Conclui-se ainda, que há necessidade de criação, adoção e padronização de novos protocolos em território nacional, baseados em pesquisas locais, e que atribuam a devida importância ao patógeno, com foco na prevenção de complicações gestacionais ou neonatais ditas “evitáveis”. Os estudos evidenciam a relevância da atenção farmacêutica no processo de melhoramento da terapia antimicrobiana utilizada e promoção do uso racional de antimicrobianos, diminuindo assim, a possibilidadede desenvolvimento de resistência bacteriana pelo microrganismo. 26 BIBLIOGRAFIA ARANTES, A. L. Q.; MIYAMOTO, C. A. Risco de meningite neonatal por Streptococcus agalactiae. Conexão eletrônica, Três Lagoas, MS, v. 13, n. 1, 2016. ARAÚJO, B. D. F.; BOZZETTI, M. C.; TANAKA, A. C. A. 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