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1 ESTABILIDADE DE ENCOSTA X OCUPAÇÃO ANTRÓPICA: ARTIGO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO, GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL, ESCOLA DE ENGENHARIA, UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE, SÃO PAULO, 2019 Flávia Miglioranci Liberati – flavialiberati@hotmail.com Hideki Ishimine Nishita – hideki_nishita@hotmail.com Lucas Coronel – coronell@live.com Priscila Tuppy – priscila.tuppy@gmail.com Wolf Piszezman – wolfmpis@gmail.com Prof. Alberto Alonso Lazaro (Orientador) – alberto.alonso@mackenzie.br RESUMO O crescimento urbano acelerado dos últimos dois séculos causou em grandes centros populacionais a ocupação desordenada das regiões habitacionais. Com isso, muitas áreas de risco foram utilizadas para a moradia, como no caso deste artigo que observa a ocupação em encostas de terra com risco de deslizamento. Na cidade de São Paulo, Brasil, a comunidade conhecida como “Cai Cai” sofre com deslizamentos de encostas de terra, e o ocorrido no começo do ano de 2019 é o estudo apresentado aqui. A prefeitura solicitou os reparos na região e o projeto de emergência foi analisado tanto por sua eficiência técnica quanto econômica. O estudo da causa do desmoronamento explica a escolha dos métodos de construção adotados para os reparos. Por fim, concluiu-se que a obra apresenta bom planejamento e os custos demonstrados são baixos, visto que não houve inicialmente a necessidade de realocar moradores para outras regiões. Palavras-chave: Obras de contenção de solos. Estudo de caso. Orçamento. BASE STABILITY X ANTHROPIC OCCUPATION: COURSE COMPLETION WORK ARTICLE, GRADUATE IN CIVIL ENGINEERING, ENGINEERING SCHOOL, PPRESBITERIAN UNIVERSITY MACKENZIE, SAO PAULO, 2019 ABSTRACT The quickly urban growth of last two centuries has caused large population centers to lead to disorderly occupation of housing regions. Thus, many risk areas were used for housing, as in the 2 case of this article that observes occupation on landslides with collapse risk. In São Paulo, Brazil, the community known as “Cai Cai” suffers from landslides collapses, and what happened at the beginning of 2019 is the study presented here. The city requested repairs in the region and the emergency project was analyzed for both technical and economic efficiency. Studying the cause of the collapse explains the choice of construction methods adopted for repairs. Finally, it was concluded that the work has good planning and the demonstrated costs are low, since there was initially no need to relocate residents to other regions. Keywords: Soil containment works. Study case. Financial estimate. 1 INTRODUÇÃO Ao transcorrer dos anos, com o crescimento dos centros urbanos, morar na cidade passou a ter um alto valor. Muitas pessoas vieram trabalhar na cidade de São Paulo - SP, tanto no setor secundário, como terciário, e com isso o preço do metro quadrado da cidade ficou muito caro. Diante da precária condição financeira de parte da população, esta não possuía condições de morar nas áreas centrais, assim ocupando áreas periféricas, como morros e encostas íngremes, as quais tinham condição de comprar, ou então invadir áreas onde o plano diretor não vigora plenamente. Os problemas econômicos e sociais do Brasil não são recentes, mas desde o final da década de 80, o governo tem implantado políticas públicas na tentativa de organizar as áreas periféricas (comunidades). Estes locais geralmente estão dispostos de maneira desordenada com alta densidade populacional e desprovidos de infraestrutura e serviços públicos. O problema de estabilidade de taludes e encostas não se apresenta apenas em São Paulo e nas grandes cidades, mas praticamente em todas as cidades no Brasil, pois apresentam áreas de alto risco geológico necessitando de obras de prevenção para evitar catástrofes. Com o intuito de analisar as encostas e taludes que apresentam problemas e risco aos moradores, procuramos considerar neste trabalho, locais com níveis de instabilidade elevado em decorrência da ação antrópica, sobre o ponto de vista técnico. Visto que os acidentes geológicos em áreas urbanas são responsáveis por um número significativo de mortes em todo mundo, e que, diante de um crescimento populacional que leva a ocupações antrópicas desordenadas, os deslizamentos de encostas tornaram-se um assunto de discussão. Perdas de vidas causadas por escorregamento de encostas perduram por anos e apesar do acúmulo de conhecimentos e técnicas que possuímos hoje em dia, ainda existem lacunas a serem estudadas para impedir tais fatalidades. 3 A literatura construída a partir de pesquisas realizadas dentro do campo geotécnico vêm facilitando a busca por possíveis soluções a serem adotadas para garantir a segurança da população que vive em lugares sujeitos a escorregamento de encostas. Por esta razão o estudo da identificação dessas áreas de risco e o estudo de contenções possivelmente aplicadas é algo tão importante no âmbito social. Quando uma encosta apresenta problemas de estabilidade e há o risco de causar acidentes, várias soluções são levadas em conta e ponderadas para que atenda todos os requisitos necessários. Uma das soluções possíveis é a construção de estruturas de contenção nessas encostas. Para cada tipo de encosta é necessário realizar estudos preliminares, para então escolher a contenção, obedecendo a requisitos como viabilidade econômica, durabilidade, segurança, sustentabilidade, entre outros. Também deve ser levado em conta quanto a necessidade de obras que exigem corte, aterro e compactação de taludes para a adequação da obra de contenção que será construída. Um exemplo de grupos de estrutura de contenção são os muros de arrimos e paredes de contenção. Por sua vez, cada um desses dois grupos apresenta construções típicas sendo as de muro de arrimo: muro de concreto armado, muro de alvenaria de pedra, muro de gabião e as paredes de contenção: contenção em solo armado e contenção em terra armada. Cada uma destas técnicas será brevemente comentada a seguir. Os muros de arrimo são estruturas de contenção verticais, ou com pouca inclinação, que estabilizam o solo pelo próprio peso da estrutura. As cortinas ou paredes de contenção tem sua definição apresentada a seguir: As cortinas são muros ou paredes de espessura relativamente reduzida, de aço, concreto armado ou madeira, suportadas por ancoragens, escoras ou impulsos passivos do terreno. A resistência à flexão destas estruturas desempenha uma função significativa na contenção do terreno, sendo a contribuição do seu peso insignificante. São exemplos deste tipo de estrutura as cortinas de contenção em concreto pré-moldado, as cortinas ancoradas ou escoradas de aço ou de concreto e as paredes moldadas. (YAMAMOTO; SILVA, 2016, p. 7 apud R.E.S.O.T. de Macau, 1997, art. 18º). Dentre os tipos existentes, alguns outros exemplos são: cortinas atirantadas, solos grampeados, cortinas de estaca- prancha e paredes diafragma. Apenas as construções em solos não garantem a eficiência da obra. Para isso, obras de drenagem ao redor da construção inicial auxiliam no controle da água, são de suma importância para evitar deslizamento durante as obras e para que no futuro a estrutura não seja muito afetada pela água superficial e/ou interna, devido a erosão ou saturação do solo. Durante a construção de contenções é imprescindível ter um sistema de drenagem devido ao fato de a água ser o principal agente dos movimentos gravitacionais de massa e erosão, sendo 4 necessário dimensionar o sistema de acordo com os índices pluviométricos, a declividade e o uso e ocupação do solo no local da obra. As drenagens podem ser classificadas em dois tipos: drenagem superficial e drenagem profunda. Estes dois tipos apresentam vários outros subtipos de construção. Outra solução de engenharia para a estabilização do solo é com a construção de estacasno solo, especificamente estaca raiz. Estaca raiz é um tipo de fundação profunda que pode atingir mais de 50 metros de profundidade e diâmetro de 80 a 500 mm, muito utilizada em contenções de encostas pela possibilidade de executá-la inclinada em até 90º ou em locais onde o acesso é restrito por poder ser executada com equipamentos de pequeno porte e não causar vibrações. Esse tipo de fundação possui uma alta capacidade de carga, resistindo a máximas superiores a 140 tf, tem recalques reduzidos, podem ser utilizadas na resistência a compressão ou a tração e combate a esforços de flexão. Sua execução é feita através de perfuração rotativa com equipamentos mecânicos denominados perfuratrizes, normalmente se utiliza água, lama bentonítica ou polímero sintético nessa etapa para facilitar a instalação dos tubos de revestimento metálico que são fixados provisoriamente em todo o trecho escavado para evitar desmoronamento. Estes tubos são inseridos conforme a perfuração vai ganhando profundidade é composto por segmentos que são ligados entre si por juntas rosqueáveis conforme a necessidade. Após a escavação, instalação do tubo metálico e limpeza do mesmo é alocada a armadura, utilizando espaçadores plásticos, em todo o comprimento da estaca conforme necessidade de acordo com as características do solo obtidas pela sondagem e o diâmetro da estaca e então a estaca é argamassada in loco com cimento-areia de pelo menos 20 Mpa bombeado por um tubo ao mesmo tempo que se retira o tubo metálico com macaco hidráulico, após ter sido o tubo totalmente retirado a extremidade superior é fechada e é feito o adensamento da argamassa, normalmente com ar comprimido. A figura 01 ilustra o processo: 5 Figura 01 Método executivo de fundações em estaca raiz FONTE: Geofund (2019) Apesar de possuir um alto custo de execução, pelo grande consumo de cimento e armaduras, a estaca raiz é vantajosa por não gerar impacto em construções vizinhas sem gerar vibração nem poluição sonora e sua capacidade de perfuração de materiais rígidos. O objetivo desse artigo é estudar a ocorrência de acidentes, relativos à instabilidade de encostas, sobre o ponto de vista técnico geológico e da ocupação antrópica, de modo a identificar as causas que levaram ao problema de estabilidade da encosta e seus possíveis agravantes. Estudando os documentos fornecidos pelo governo e analisar as escolhas do projetista para a solução proposta no estudo de caso. 2 METODOLOGIA Visando analisar causas, consequências e soluções de deslizamentos de encosta, problema de estudo deste trabalho, foi realizada uma análise teórica a partir de pesquisas bibliográficas e um estudo prático de um caso de deslizamento de talude causado por águas pluviais e ocupação antrópica irregular, com obra de contenção que estava em andamento. A parte prática foi elaborada a partir de um projeto desenvolvido para a solução de contenção de um talude situado na zona sul da cidade de São Paulo, com realização de visitas técnicas à região em que o projeto foi executado para um maior aprofundamento sobre os projetos, com uma visão geral sobre as soluções e detalhes decisivos na escolha do método escolhido. A análise sobre as causas do possível incidente de deslizamentos de encosta a partir de conhecimentos geológicos e da situação geotécnica das áreas, foi desenvolvida para uma melhor compreensão das soluções propostas pelos projetistas. 6 O trabalho foi concluído com a avaliação dos condicionantes que nortearam a decisão do projetista. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A cidade de São Paulo, maior e mais populosa da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é dividida em 32 subprefeituras, onde o estudo de caso apresentado se refere a comunidade Cai-Cai localizada na subprefeitura M’ Boi Mirim, localizada na zona sul do município de São Paulo. A RMSP situada numa área de clima predominante Cfb e Cfa segundo a classificação de KÖPPEN (1948), que caracteriza um clima tropical, com ocorrência de chuvas durante o ano todo com verão quente ou temperado. De acordo com as classificações de KÖPPEN (1948), conclui-se que é uma região que possui grande umidade, chuvas durante todo o ano sem definição de estações e grande variação térmica. A Bacia de São Paulo localiza-se no Planalto Atlântico, na porção Leste do estado de São Paulo, com idade terciaria esta Bacia assenta-se sobre rochas ígneas e metamórficas sua formação está relacionada a tectônica distensiva (GURGUEIRA, 2013).Uma faixa de terra superior de solo terra rocha (decomposto da rocha de basalto) com grande profundidade , tudo isso favorecendo maior vulnerabilidade para deslocamento de massa na superfície. O Relevo é visto como resultado da interação das forças provenientes da superfície e das forças internas da Terra (REVISTA PESQUISA FAPESP, 1998). Sendo o relevo RMSP conhecidamente dividido em três regiões, a depressão periférica a oeste do estado, planalto ocidental e a planície litorânea. A RMSP encontra-se no planalto ocidental, entre 300 e 900 metros acima do mar. A RMSP, assim como a cidade de São Paulo e a maioria das grandes cidades de nosso país, apresenta inúmeros problemas resultantes da má ocupação do solo. Um destes principais problemas é a ocupação desordenada das encostas que, com frequência, geram acidentes. O levantamento desses dados pelo IPT (Instituto de Pesquisas e Tecnologia) comprovam a semelhança de nossas grandes metrópoles e demonstram anualmente o número de mortes registradas por deslizamento de terras em todo o nosso país. Nos últimos vinte anos, os deslizamentos de terra mataram mais de duzentas pessoas em toda a RMSP, segundo o IPT (2017). Entre os meses de fevereiro e março de 2019, uma precipitação pluviométrica de mais de quinhentos milímetros de chuva, causou o surgimento de um deslizamento de porte médio na Av. 7 Hamilton – Parque Europa, Subprefeitura M’ Boi Mirim, Cidade de São Paulo, conforme a Figura 02. Figura 02 Precipitação pluviométrica FONTE: CEMADEN (2019) O deslizamento de terra tratou-se de uma crista e face de talude de corte composto pela decomposição de gnaisses e trecho de planície aluvial presentes na região, amplitude dele variando em vinte e oito metros da base do talude na Av. Hamilton e crista do talude na Av. Hungria. Sendo toda essa área ocupada regularmente e ainda ressaltando-se invasões em habitações em madeira que piorava o cenário de instabilidade do local, caracterizando área de risco já mapeada. Houve então o devido processo legal para o início da Obra Emergencial, constatada risco de vida dos moradores e possível piora no caso de deslizamento no talude. Em Agosto de 2019, entrando em contato com a subprefeitura de M’ boi Mirim por meio de uma parceria da Cidade de São Paulo com as Universidades, foi cedido para os autores, documentos e visita técnica acompanhada do orientador Alberto Alonso Lazaro e do engenheiro da prefeitura da cidade de São Paulo, Niwton Gilberto de Jesus, com os respectivos engenheiros e arquitetos que monitoravam a obra, o que nos possibilitou aqui uma análise sobre a obra emergencial da comunidade do Cai Cai. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO O principal objetivo do trabalho de conclusão de curso que foi resumido neste artigo é ilustrar segundo o projeto e dados fornecidos da obra de contenção no talude entre as Av. Hamilton 8 e a Av. Hungria, os métodos utilizados para a estabilização da encosta (solo grampeado, estaca raiz, etc.). Neste Capítulo são apresentados os problemas que causaram o deslizamento de terra, os passos da obra, segundo memorial descritivo, que foram executados assim como o orçamento e cronograma proposto a obra, o projeto base e os desafios enfrentados pelos engenheiros, arquitetos e órgãos públicos na implementação de obras sejam ela de qualquer natureza nas áreas denominadas comunidades. 4.1PATOLOGIAS E CAUSAS Entre os pontos que formam o talude da Av. Hamilton x Av. Hungria se denotam e se destacam os pontos abaixo descritos como causas e patologias que levaram a ocorrência do deslizamento de terra. Logo ao iniciar as devidas observações em campo notam-se trincas em uma obra de solo grampeado, medida feita para o objetivo da contenção do talude em anos anteriores, ocas vazias dentro da solo e grande saturação de todo o terreno além da grande ocupação antrópica na crista do talude. O regime pluviométrico anormal mesmo para a temporada de chuva, contribuiu para a saturação do solo e elevou ao limite a capacidade de suporte do solo aumentando a pressão neutra e concluindo um processo de esvaziamento dos finos que já estava em processo ao longo dos anos, somada a situação encontrada o aumento da ocupação antrópica ao longo dos anos nesta região de risco para assentamento humano levou ao deslizamento de terra. As trincas presentes na obra de solo grampeado demonstram que o excesso de peso no talude não estava mais sendo suportado pela obra, o aumento de casas naquela área e a falta de manutenção contribuíram para esse fator assim como o sistema de drenagem insuficiente ou já em deterioração devido a entupimentos que não correspondiam a vazão necessária. A drenagem ineficiente provocou o carregamento de solos finos, processos erosivos e diminuição da capacidade de suporte do solo. 4.2 DESCRIÇÃO DA OBRA A estabilidade das encostas está relacionada com as intempéries locais, como fortes chuvas, erosão do solo, que provocam transporte de materiais e causam sobrecargas nos terrenos. Devido a essas intempéries normalmente vemos essa instabilidade no período de verão, colocando assim os moradores em risco elevado. Normalmente a análise de risco é feita por engenheiros que avaliam a área, sendo necessária uma obra de contenção para evitar um acidente. Nesses casos os órgãos públicos podem fazer obras emergenciais no local e ou em torno dele. 9 As obras emergenciais são obras que precisam ser feitas rapidamente para evitar essas ocorrências, como por exemplo, o deslizamento e desmoronamento de uma encosta. Quando a prefeitura é acionada para a execução de uma obra emergencial ela tem um prazo para iniciar e finalizar a obra. No caso de São Paulo, a prefeitura, tem até 72 horas a partir da notificação para começar a obra, não sendo necessário passar pelo processo de licitação, uma vez que o tempo máximo para a conclusão da obra é de 180 dias contando a partir da notificação feita. Caso a obra ultrapasse esse período é necessário interromper e abrir um processo de licitação, que no Brasil pode ser feita de algumas maneiras, como por exemplo, concorrência, tomada de preço, convite, concurso, leilão, pregão que pode ser presencial e também tem via internet (eletrônico), consulta, e todas elas segundo a LEI Nº 8.666, de 21 de JUNHO de 1993. As licitações para obras emergenciais são feitas através do tipo convite, e como possuem um tempo para o início da obra de 72 horas, eles disponibilizam para as empresas convidadas um tempo de aproximadamente 24 horas para se pronunciarem em relação a aceitação ou recusa da obra, as empresas convidadas precisam estar cadastradas no SIURB e no cadastro da própria prefeitura da cidade de São Paulo. Como para iniciar a obra a prefeitura tem apenas 72 horas, depois que foi solicitado e averiguado a necessidade da obra, para o projeto, o engenheiro responsável precisa analisar qual tipo de contenção e ou técnica construtiva irá usar nesta obra como por exemplo solo grampeado, muro de gabião, muro a flexão , cortina atirantada, retaludamento e ou até mesmo uma solução mista como vimos no projeto analisado da comunidade Cai Cai (sendo o foco do estudo de caso), também há de escolher qual tipo de drenagem usara na obra, podendo escolher entre a drenagem profunda a drenagem superficial ou a drenagem curta. 4.2.1 Serviços iniciais O memorial descritivo fornecido pelo governo foi analisado nesse estudo de caso. A execução inicial da obra só pode ocorrer depois de certas precauções, principalmente em áreas de risco e comunidades, a retirada dos barracões existentes na encosta deve ser feito com a total integração da comunidade, sendo autorizado por um líder da comunidade assim como os moradores dos barracões, um passos importante para a obra já que sem ajuda desses não se tem meios de fazer a obra pública na região, havendo até mesmo impedimento por parte deles. Relatado por entes públicos e também conhecida por nós brasileiros, essa dificuldade da execução do serviço relacionada com a salubridade do trabalho na obra os faz tomar medidas diferenciadas para lidar com o contexto em que se insere a região, com o informativo da obra os líderes incorporam um representante da comunidade para proceder com as obras, evitando assim atritos. 10 4.2.2 Estabilização provisória da área Para a realização dos serviços primeiramente deve-se garantir a segurança neutralizando a possibilidades de novos deslizamentos, tanto para os trabalhadores como para os moradores. A estabilização provisória em campo se tomou com a perfuração do solo e injeção de calda de cimento em furos em vários pontos do talude. 4.2.3 Projeto Talude natural com altura de vinte metros aproximadamente, com quatro ensaios SPT feitos no decorrer do corte, dois no pé do talude na Av. Hamilton, outro na crista próximo a Av. Hungria e outro em secção próxima a degrau de dois metros, mostrado na Figura 03 abaixo com os símbolos SP-01, SP-02, SP-03 e SP-04. Figura 03 Planta de projeto FONTE: Geobrax Engenharia (2019). Seguindo da crista para o pé do talude de projeto, nota-se dois sistemas construtivos de contenção referenciados no corte de projeto mostrado na Figura 04 abaixo, sendo um uma cortina de perfis metálicos incorporados e placas de concreto pré-moldado preenchido com concreto armado lançado “in loco” no topo e no pé da encosta. 11 Figura 04 Corte de projeto FONTE: Geobrax Engenharia (2019). O método de cortina de perfis metálicos adotado começa com a perfuração do solo utilizando a máquina perfuratriz, máquina usada para se construir fundações com estaca raiz; após esse procedimento coloca-se o perfil metálico W250x35,8 para então ocorrer a concretagem do perfil. Repete-se esse processo a cada um metro e sessenta centímetros construindo-se a estabilização da crista do talude. A seguir a Figura 05 ilustra o projeto e a Figura 06 as etapas realizadas na obra. Figura 05 Detalhamento do perfil metálico no projeto FONTE: Geobrax Engenharia (2019). 12 Figura 06 Perfil metálico executado na obra FONTE: Elaborada pelos autores Por meio do retaludamento faz-se um talude projetado na proporção um para um e meio com três degraus, sendo dois de dois metros e um degrau maior no início do segundo tipo de método de contenção de encostas utilizada nesse projeto o solo grampeado que aqui é utilizado na parte inferior para o pé do talude como uma solução prática, visto que logo ao fim do talude existem residências construídas não permitindo a continuação do talude um por um e meio, sendo necessário a construção de uma contenção mais íngreme (Figura 07). Figura 07 Retaludamento FONTE: Geobrax Engenharia (2019). O solo grampeado ocorre por meio de chumbadores, com perfurações de diâmetro de dez centímetros, profundidade de doze metros e espaçadores PVC a cada um metro e cinquenta centímetros, com espaçamento vertical e horizontal entre os grampos a cada um metro e cinquenta 13 centímetros. O procedimento ocorre respectivamente com perfuração, colocação das barras de aço, preenchimento com nata de cimento por injeção, lançamento do de concreto projetado (Figura 08). Figura 08 Detalhamento do solo grampeado FONTE: Geobrax Engenharia (2019). Entre as etapasda construção do solo grampeada se instalam os drenos horizontais profundos para a captação do lençol freático evitando o comprometimento da estabilidade, assim como a instalação de drenos localizados ao longo do talude e canaletas de drenagem superficial que levam a água até a rede de coleta de existente. Solo Grampeado possui parede de 20 cm de espessura utilizado em locais onde há possibilidade de invadir terrenos vizinhos com chumbadores, esse tipo de obra possibilita as escavações a prumo sem necessidade de banquetas e acesso de maquinário em locais de difícil acesso, apesar de ser um método lento e de alto custo. 4.2.4 Drenagem O relatório desenvolvido na vistoria do local em estudo caracterizou a relação entre o deslizamento do talude e o acúmulo de água no interior do maciço. Devido às fortes chuvas, à falta de drenagem na encosta em questão e à composição do solo superficial a água infiltrada gerou falhas no maciço de terra abaixo das moradias. Como a ação desestabilizadora é a presença de água no interior do maciço, dada por chuvas e vazamentos na rede de esgoto, foi conveniente adotar obras de drenagem profundas a fim de captar e direcionar o fluxo de água evitando que esta exerça uma força muito grande na parede da contenção e também drenos curtos que evitam erosões na superfície do muro. 14 No local em estudo, projetou-se drenagem por drenos horizontais profundos, a fim de captar a água infiltrada no solo e a conduzir para fora da parede do muro, e drenos curtos que aliviam a pressão imposta pela água na parede do muro. Ambos compostos por tubos de PVC 4” revestidos com manta geotêxtil preenchido com solo granular para evitar seu entupimento por solo fino. É possível a observação esquemática desta construção na figura 09 a seguir. Figura 09 Detalhe dreno profundo do projeto FONTE: Geobrax Engenharia (2019). 4.2.5 Manutenção Toda obra realizada necessita de manutenção para a sua durabilidade, neste caso estudado não diferente, é requerido alguns cuidados periódicos: Limpeza e recuperação estrutural de canetas, caixas e galerias de drenagem existentes no pé da encosta. Verificação de barracões ou qualquer tipo de ocupação humana sobre a obra que a venha danificar. Vai ser necessário restaurar a quadra ocupada pelo canteiro de obra para devolver a sociedade o espaço de entretenimento que se havia no local. 4.2.6 Orçamento A variação de custo, está associado a mão de obra que pode ser qualificada ou não, maquinário, que depende do tipo de técnica para tirantes, o próprio material utilizado, o tempo de execução da obra que varia dependendo da técnica e fatores externos, podendo ser interferido se 15 estiver na época de chuvas, com isso a empresa com os engenheiros podem adotar a melhor solução para o local, podendo ser uma solução mista, contendo várias técnicas diferentes no mesmo projeto e sempre visando baratear o custo da obra. Nesta tabela podemos analisar o custo da obra sem a colocação do Benefícios e Despesas Indiretas (BDI) que é um elemento orçamentário que ajuda o profissional responsável pelos orçamentos da Construção a compor o preço de venda adequado levando em conta os custos indiretos e esse índice não é absoluto, cada obra ou serviço deve ter um BDI próprio, pois as condições de cálculo e o preço de venda são específicos para cada caso, e não podendo ser maior que 50%, a média usada hoje é em torno de 30% para obras em geral. Os custos indiretos são os que não são incorporados ao produto final, mas contribuem para a formação do custo total tais como: administração central da Empresa, custo financeiro do contrato, seguros, garantia, tributos sobre a receita. Na Tabela 01, que foi feita mediante aos dados fornecidos pela prefeitura e analisado de maneira a dividir em 16 grandes grupos de serviços, podemos ressaltar que a porcentagem dos itens 8, 9 e 10 corresponde a movimentação de terra, contenção, drenagem pública, redes de água e rede de esgoto é 11,85%, 38,06% e 10,73%, chegando a um total de 60,64% do valor total da obra, isso representa que a maior parte do custo da obra em si é a própria técnica construtiva adotada para o projeto. Tabela 1 Orçamento sem BDI FONTE: Adaptado de PMSP (2019) Outro ponto de relevância no projeto analisado é o item 4 demolições, que representa 14,48% do valor geral da obra, pois como é uma área de difícil acesso necessitará demolir casa e pavimentação existente, com isso o projeto já chega a 75,12 % do valor geral da obra sem levar em conta o acréscimo do BDI. 16 O desenvolvimento do projeto, que se divide em várias fases, tem um custo baixo, de 3,36% e juntando com os dados necessários para a criação do projeto que seria os ensaios e sondagens, que é 0,20 %, então chegasse em 3,56 % do valor geral da obra para poder desenvolver o projeto de contenção. Tabela 2 Separação dos itens em relação ao cronograma físico financeiro com BDI FONTE: Adaptado de PMSP (2019) Para esse projeto o BDI usado se divide em três categorias, em relação a pavimentação, em relação ao projeto e geral respectivamente 22,76%, 37,8% e 24,31%. Para poder comparar com a Tabela 1 em relação as porcentagens dos itens, comparação será entre os itens 3 obras de contenção (consolidação geotécnica) e quatro drenagens pública, redes de água e rede de esgoto que respectivamente 42,16% e 17,16%, somando dará 59,32 % do valor da obra com o BDI ajustado. O outro custo de relevância que analisamos na Tabela 1 item 4 demolições, na Tabela 2 eles juntaram com outras tarefas, mas para efeito de comparação analisaremos o item 2 com sem separar em categorias. O item 2 serviços preliminares, demolições, sinalizações e retiradas representa 19,39% da obra levando em conta os itens 2,3 e 4 da Tabela 2 chegamos a 78,71% do valor geral da obra com BDI ajustado. A outra comparação feita na Tabela 1 foi a própria criação do projeto, que chegamos em 3,36% do valor da obra levando em conta projeto e sondagens, na Tabela 2 a sondagem entra na parte de obras de contenção (consolidação geotécnica), não sendo considerada nessa parte da comparação, chegando em 3,71% do valor geral da obra com BDI de 37,8% em cima do valor bruto apenas do projeto. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Visto que o deslizamento de encostas é um problema importante e, além disso, causa muitas mortes, é um importante tema a ser estudado. 17 Conclui-se que a necessidade de construção de um perfil metálico foi um método de evitar o rompimento do solo na parte superior da encosta para não afetar a contenção, assim criando uma contenção de modo a ter uma vida útil maior. As estacas raiz foram utilizadas para manter os perfis metálicos no local, tendo em vista a duração da contenção por longos prazos. O talude construído na área central da encosta foi com o intuito de diminuir o custo da obra, pois o talude é a contenção com menor custo entre as prevenções. Porém, não foi possível a construção do talude até o final da contenção devido a necessidade de desapropriar os habitantes nas áreas inferiores, o que causaria o custo da obra aumentar devido a necessidade de remuneração para com os moradores. Então foi adotada a solução de solo grampeado no final da contenção, pois assim seria possível fazer uma inclinação maior no final da contenção e evitar a desapropriação dos moradores. Ciente de que a água no interior do maciço terroso teve forte influência para a instabilidade do talude, optou-se pela instalação de drenos horizontais profundos a fim de captar água distante da parede de contenção oriunda de infiltração e vazamentos de canos subterrâneos. Além disso, utilizaram-se drenos curtos a fim de expulsar a água que exerce força interna sobre a parede. Com a Tabela 2 de orçamentos foi possível perceber que foi uma obra de baixo custo, pois a contenção e os drenos custaram em torno de 50% da obra,e como o número de desapropriação foi baixo, isso fez com que o valor da obra seja menor, sendo que a construção do canteiro de obra foi no local de uma quadra esportiva da comunidade. REFERÊNCIAS CEMADEN. Precipitação acumulada em 35 dias. São Paulo, 2019. GEOBRAX ENGENHARIA. Projeto de contenção: Planta e seção típica. São Paulo, 2019. GEOFUND (Sp) (Comp.). Fundações especiais. Disponível em: <http://www.geofund.com.br/novosite-br/index.php/component/k2/item/10/10>. Acesso em: 01 out. 2019. GURGUEIRA, M. Correlação de dados geológicos e geotécnicos na bacia de São Paulo. 2013. 80 f. Tese (Doutorado) - Curso de Geoquímica e Geotectônica, Instituto de Geociência, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44141/tde-14112013- 104040/publico/DissertacaoMestradoMagalioriginal.pdf>. Acesso em: 1 out. 2019. 18 INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS (São Paulo). Vítimas de deslizamentos: Levantamento do IPT de mortes causadas por deslizamentos é tema de reportagem no UOL e Jornal Nacional. 2017. Disponível em: <http://www.ipt.br/noticias_interna.php?id_noticia=1190>. Acesso em: 10 abr. 2019. KÖPPEN, W. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. Fondo de Cultura Economica. México, 1948. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. Planilha Orçamentária de Referência: Obra emergencial Av. Hamilton x Av. Hungria – Cai Cai. São Paulo, 2019. REVISTA PESQUISA FAPESP. O novo mapa de relevo paulista. São Paulo, Sp, v. 35, set. 1998. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/1998/09/01/o-novo-mapa-de-relevo-paulista/>. Acesso em: 06 out. 2019. YAMAMOTO, E.; SILVA, L. Reaproveitamento de Estacas Pré-Moldadas, como Possíveis Soluções nas Construções de Barreiras Contra o Assoreamento, 2016. AGRADECIMENTOS