Prévia do material em texto
Os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no seu comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que assim compromete a sua saúde física ou psicossocial. A anorexia nervosa caracteriza-se pela presença de peso muito baixo em relação à altura devido à restrição de ingesta calórica em relação às necessidades, o que leva à perda de peso autoinduzida. Tal perda se dá, portanto, por abstenção de alimentos que engordam ou por co mportamentos como vômitos e/ou purgação autoinduzidos, exercício excessivo e uso de anorexígenos e/ou laxantes e diuréticos. Sendo assim, há busca implacável de magreza e medo intenso e mórbido de parecer ou ficar gorda(o), sendo muito mais comum entre as mulheres Um caráter central da anorexia, é a distorção da imagem corporal, apesar de muito emagrecida, a paciente percebe-se gorda, sente que algumas partes de seu corpo, como o abdome, as coxas e as nádegas, estão “muito gordas”. O pavor de engordar persiste como uma ideia permanente, mesmo que a paciente esteja com o peso bem abaixo do normal. Essa distorção da imagem corporal é uma ideia prevalente, típica, mas não obrigatória, na anorexia nervosa. Porém, não confunda com o transtorno dismórfico corporal, eles são transtornos diferentes. Pode haver vômitos autoinduzidos, uso de laxantes e gastos excessiv os de energia, tipicamente associados ao medo de ganhar peso. O ba ixo peso e a forma do corpo (estar bem magra) são centrais para a autoavaliação da pessoa e, frequentemente, percebidos de forma dis torcida, como se fossem normais ou mesmo obesas (ou com partes do corpo “muito gordas”), em uma pessoa que, de fato, está extrema mente magra (CID-11, 2018). Lembre que “pode” haver os vômitos ou o uso de laxantes, não necessariamente fazem parte do diagnóstico. O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) reconhece dois subtipos de anorexia nervosa: o tipo restritivo, no qual a paciente se torna e permanece anorética pela restrição de alime ntos, podendo apresentar ou não sintomas obsessivo-compulsivos, e o tipo compulsão alimentar purgativa, no qual, além de evitar ingerir alimentos calóricos, a pessoa tem comportamentos ativos de perda de calorias, como vômitos autoinduzidos, exercícios ex cessivos e uso de laxantes, diuréticos e até mesmo enemas Como bem se sabe, os transtornos alimentares, são mutuam ente excludentes entre si (à exceção da Pica), ou seja, não se pode conferir um diagnóstico de anorexia e um de bulimia ao mesmo tempo, porém, Dalgalarrondo (2018) pontua que não é incomum que a pessoa com anorexia apresente episódios de bulimia (episódios) (comer compulsivo seguido de vômitos e/ou purgação). Deve-se diferenciar a anorexia nervosa do transtorno alimentar restritivo/evitativo (CID-11 e DSM-5). Este se caracteriza por esquiva ou restrição graves na área da alimentação, “produzidas”, em certo sentido, pela aversão a alimentos pela pessoa acometida diferentemente do que ocorre na anorexia nervosa, não reflete preocupações com o peso ou com as formas corporais. O compor tamento está centrado em evitar alimentos, não em parecer ma gro ou no pavor de engordar como é o caso da anorexia nervosa Seus critérios vão do A até o C, e são os seguintes: A. Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física. Peso significativa mente baixo é definido como um peso inferior ao peso mínimo nor mal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor do que o mini mamente esperado. B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar; C. Perturbação como peso ou o corpo são vivenciados. Deve-se atentar ao critério B e C, B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo. Ou seja, esses comportamentos podem ser os purgativos. C. Per turbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou ausência de reconhecimento da gravidade do peso corporal atual, ou seja, aqui pode-se falar um pouco da distorção Deve-se atentar a três características essenciais: restrição per sistente da ingesta calórica; medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso; e perturbação na percepção do próprio peso ou da pró pria forma. Esse medo intenso de engordar não costuma ser alivi ado pela perda de peso. Na verdade, a preocupação acerca do peso pode aumentar até mesmo se o peso dimimuir, o que torna ainda mais difícil de lidar com esse transtorno. Algumas pessoas sentem-se completamente acima do peso. Outras percebem que estão magras, mas ainda se preocu pam com determinadas partes do corpo, em particular que o abdome, os glúteos e o quadril estão “gordos demais”. Elas podem realizar pesagens frequentes, medição obses siva do corpo e uso de um espelho para checar áreas A estima de indivíduos com anorexia nervosa é altamente dependente de suas percepções da forma e do peso corporal. A perda de peso é, com frequência, vista como uma conquista marcante e um sinal de autodisciplina extraordinária, enquanto o ganho ponderal é percebido como falha de autocontrole inaceitável. Embora alguns indivíduos com esse transtorno talvez reconheçam que estão magros, frequente mente não assumem as graves implicações médicas de seu estado de desnutrição, tal qual é averiguado por meio de exames e observação Entre crianças e adolescentes, pode haver insucesso em obter o gan ho de peso esperado ou em manter uma trajetória de desenvolvime nto normal (i.e., enquanto cresce em altura) em vez de perda de peso. Além disso, para crianças e adolescentes, determinar um percentil de IMC por idade é útil (ver, p. ex., o calculador de percentil de IMC dos CDC para crianças e adolescentes). Indivíduos mais jovens, como as cri anças e adolescentes com anorexia nervosa, bem como alguns adul tos, podem não reconhecer ou perceber esse medo de ganhar peso. Geralmente, o indivíduo é levado à atenção profissional por familiares depois de perda de peso marcante (ou insucesso em obter o ganho de peso esperado) ter ocorrido. Se buscam ajuda por si mesmos, cos tuma ser devido à angústia causada por sequelas somáticas e psicoló gicas da inanição. É raro uma pessoa com anorexia nervosa queixar- se da perda de peso por si só. Na verdade, carecem de insight ou neg am o problema. É, portanto, importante obter informações de família res ou de outras fontes para avaliar a história da perda de seu peso. Características obsessivo-compulsivas, relacionadas ou não à alimen tação, são com frequência proeminentes. A maioria dos indivíduos com anorexia nervosa é centrado na preocupação com os alimentos. Alguns colecionam receitas e estocam comida. Observações de comporta mentos associados a outras formas de inanição sugerem que obsess ões e compulsões relacionadas à alimentação podem ser exacerbadas por subnutrição. Quando exibem obsessões e compulsões não relacio nadas a alimentos, forma corporal, peso, pode ser um diagnóstico de TOC Outros aspectos por vezes associados à anorexia nervosa incluem na gústia de alimentar-se publicamente, sentimentos de fracasso, forte desejo por controlar o próprio ambiente, pensamentos inflexíveis, es pontaneidade social limitada e expressão emocional excessivamente contida. Comparados com anorexia nervosa do tipo restritiva,os que têm anorexia do tipo compulsão alimentar purgativa apresentam taxas maiores de impulsividade e tendem a abusar mais de álcool e drogas. Um subgrupo de indivíduos com anorexia nervosa exibe níveis ex cessivos de atividade física. Aumentos na atividade física com fre quência precedem a manifestação inicial do transtorno, e, du rante o curso da doença, a atividade física mais intensa acelera a perda de peso. Durante o tratamento, talvez seja difícil contr olar o excesso de atividade física. Também podem fazer uso inde vido de medicamentos, como, manipular a dosagem para cons eguir perder peso ou evitar ganhá-lo de forma não expontânea A anorexia nervosa começa geralmente durante a adolescência ou na idade adulta jovem. Raramente se inicia antes da puberdade ou depois dos 40 anos, porém casos de início precoce e tardio já foram descritos. O início desse transtorno costuma estar as sociado a um evento de vida estressante, como deixar a casa dos pais para ingressar na universidade, o divórcio dos pais. O curso e o desfecho da anorexia nervosa são altamente variáveis, a de pender da faixa etária e de como o transtorno se deu no geral O curso e o desfecho da anorexia nervosa são altamente variá veis. Indivíduos mais jovens podem manifestar aspectos atípicos, incluindo a negação do “medo de gordura”. Indivíduos mais velhos tendem a ter duração mais prolongada da doença, e sua aprese ntação clínica pode incluir mais sinais e sintomas de transtorno de longa data. Os clínicos não devem excluir anorexia nervosa do diagnóstico diferencial com base apenas em idade mais avançada Porém, deve-se atentar que esses aspectos típicos podem variar Podem se sobrepor aos critérios para fobia social, TOC e trans torno dismórfico corporal. Porém, Se o indivíduo com anorexia ti ver temores sociais que se limitem apenas ao comportamento alimentar, o diagnóstico de fobia social não deve ser feito; um diagnóstico de TOC deverá ser considerado apenas se o indivíduo exibir obsessões e compulsões não relacionadas a alimento e de transtorno dismórfico corporal deverá ser considerado apenas se a distorção não estiver relacionada à forma e ao tamanho do corpo Indivíduos com bulimia nervosa exibem episódios recorrentes de compulsão alimentar, adotam comportamento indevido para evi tar o ganho de peso (p. ex., vômitos autoinduzidos) e preocupam- se excessivamente com a forma e o peso corporais. Entretanto, diferentemente de indivíduos com anorexia nervosa do tipo com pulsão alimentar purgativa, aqueles com bulimia nervosa mantêm um peso corporal igual ou acima da faixa mínima que é normal