Buscar

Segurança Pública e Criminologia

Prévia do material em texto

1
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
2
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
3
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Núcleo de Educação a Distância
GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO
Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino
PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.
O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para 
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por 
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.
4
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Prezado(a) Pós-Graduando(a),
Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!
Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança 
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se 
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as 
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma 
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a 
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. 
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas 
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são 
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver 
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo 
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de 
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) 
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. 
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos 
conhecimentos.
Um abraço,
Grupo Prominas - Educação e Tecnologia
5
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
6
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! .
É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha 
é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é 
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização. 
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como 
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua 
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo 
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de 
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.
Estude bastante e um grande abraço!
Professor: Igor Silvério Freire
7
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao 
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela 
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes 
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao 
seu sucesso profisisional.
8
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Esta unidade cuida de trazer os conceitos básicos a respeito do 
tema da Segurança Pública e seu tratamento constitucional, objetivando 
que o profissional passe a ter uma capacidade crítico-analítica a respeito 
do tema e seja capaz de analisar e propor soluções. Em seguida, o enfo-
que passa a ser na criminologia, passando por entender do que se trata 
esta ciência, sua história e suas bases e metodologia, diferenciando-a das 
outras ciências criminais. As definições fundamentais do estudo da crimi-
nologia são tratadas discutindo detalhadamente os seus objetos e suas 
relações com as ciências humanas, por se tratar de uma ciência multidis-
ciplinar. Ao final, discute a história do pensamento criminológico iniciando 
pelas escolas Clássica e Positiva, precursoras dos estudos criminológicos, 
diferencia ainda, quanto às escolas modernas, a criminologia de consenso 
e criminologia de conflito, cada uma com suas principais escolas e teorias, 
cujas principais serão discutidas ao longo desta unidade.
Segurança Pública. Criminologia. Metodologia da Criminologia. 
Escolas Criminológicas.
9
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
 CAPÍTULO 01
CONCEPÇÕES SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA
Apresentação do Módulo ______________________________________ 11
12Diferenciando Segurança, Segurança Pública e Ordem Pública _
Panorama da Segurança Pública no Brasil ________________________
Classificações de Prevenção Criminal ___________________________
Modelos de Policiamento ______________________________________
Recapitulando _________________________________________________
15
22
27
37
 CAPÍTULO 02
AS BASES DO ESTUDO DA CRIMINOLOGIA
Conceito de Criminologia ______________________________________
Objeto da Criminologia ________________________________________
Da Identidade Epistemológica da Criminologia _________________
Métodos de Pesquisa em Criminologia _________________________
Recapitulando _________________________________________________
41
43
53
55
58
 CAPÍTULO 03
TEORIAS E ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS
História do Pensamento Criminológico _________________________ 63
Modelos Criminológicos Etiológicos ____________________________ 65
10
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Criminologia do Consenso e do Conflito (Escolas Sociológicas) __
Recapitulando _________________________________________________
Fechando a Unidade ___________________________________________
Referências ____________________________________________________
72
95
99
102
11
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Além de ser tema de destaque na Constituição Federal, con-
tando com capítulo próprio, a Segurança Pública é um dos assuntos 
mais discutidos no Brasil, seja no âmbito acadêmico, midiático ou até 
mesmo em conversas informais. 
A aplicação desse direito social garantido a todos os cidadãos 
está em crise e não é de hoje. Desde os anos 80, nos debates da As-
sembleia Nacional Constituinte, já se discutia o crescimento da crimina-
lidade do Brasil.
O crescimento da criminalidade coincide também com uma 
ampliação vertiginosa do número de pessoas encarceradas no Brasil 
ao longo das últimas três décadas. Assim, conhecer e debater os pre-
ceitos básicos da segurança pública possui um valor fundamental para 
o profissional do direito.
Relacionado diretamente à segurança pública está a Crimino-
logia, ciência criminal independente do Direito Penal e da Política Cri-
minal e que tem como principal papel o estudo de fatores diretamente 
relacionados à criminalidade: o crime, o delinquente, a vítima e o con-
trole social.
Através das diferentes escolas da criminologia, conseguimos 
traçar e discutir a criminalidade e suas repercussões na sociedade, nas 
vítimas e nos própriosdelinquentes. Essa ciência possui a particulari-
dade que cada uma de suas vertentes foca na análise de um ou mais 
desses fatores, com visões completamente diferentes que podem ser 
diametralmente opostas, como o pensamento da Escola Positiva que 
relaciona o crime exclusivamente ao indivíduo, ou à Teoria da Rotulação 
Social que afirma que é a sociedade quem prega no indivíduo o rótulo 
de criminoso, desviante ou delinquente.
Cada uma dessas escolas ou teorias possui, naturalmente, um 
viés ideológico, sendo até mesmo as modernas divididas entre escolas 
de conflito e escolas de consenso, de acordo com sua visão, sendo 
importante, como faremos, conhecer a história e metodologia da crimi-
nologia e também sua evolução através das escolas modernas e dos 
temas contemporaneamente tratados nessa ciência.
12
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
DIFERENCIANDO SEGURANÇA, SEGURANÇA PÚBLICA E ORDEM 
PÚBLICA
A Constituição Federal de 1988 traz a segurança tanto como 
um direito individual e coletivo, em seu art. 5º, caput, quanto como um 
direito social, também no caput do art. 6º, tamanha a sua relevância.
Mais detalhadamente, nossa Carta Magna dedica um capítulo 
específico ao tema e, no art. 144, trata da segurança pública como um 
dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, complementando 
que esta é exercida para a preservação da ordem pública e da incolu-
midade das pessoas e do patrimônio, especificando seus órgãos e, em 
seguida, suas atribuições.
Pode-se extrair do próprio texto constitucional, então, que a 
segurança pública é proporcionada pelo Estado, mas o constituinte não 
se desincumbiu de especificar o seu exato significado.
CONCEPÇÕES SOBRE
SEGURANÇA PÚBLICA
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
13
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Moreira Neto (1987) traz clara definição de segurança pública 
como “o conjunto de processos, políticos e jurídicos destinados a garan-
tir a ordem pública, sendo esta objeto daquela”. Mais simples ainda é o 
que traz o clássico constitucionalista José Afonso da Silva (2014), que, 
segundo ele, segurança pública seria a “manutenção da ordem pública 
interna”.
Detalhando essa concepção, trazendo ao conceito as ideias 
trabalhadas por Montesquieu em O espírito das leis, tem-se que a se-
gurança é proporcionada pelo Estado, por meio de a) um conjunto de 
normas que determinam o que é permitido e proibido; b) políticas pú-
blicas que visam a prevenção de atos violentos em prol da convivência 
harmoniosa da sociedade; c) procedimentos que asseguram o direito a 
um julgamento justo e d) um conjunto de instituições responsáveis por 
aplicar as medidas preventivas e as sanções determinadas pelos juízes 
(SZABÓ e RISSO, 2018).
Com essas simples ideias, conseguimos começar a preencher 
todas as lacunas conceituais deixadas pela Constituição Federal, siste-
matizando algumas noções básicas.
A segurança é, assim, é um direito individual pertencente a to-
dos, como dispõe o art. 5º, isto é, um direito fundamental que não deve 
ser violado pelo Estado, definindo, assim, uma obrigação negativa ao 
ente, bem como, de acordo com o art. 6º, é um direito social, ou seja, 
um direito que exige um papel ativo, sendo dever do Estado garantir 
a todos a inviolabilidade de sua segurança, mesmo que numa relação 
horizontal entre particulares.
Esse dever ativo do Estado se traduz propriamente na ideia 
de segurança pública. A princípio, a inclusão da segurança no rol de 
direitos sociais já obrigaria o Estado a ter esse papel ativo, mas nossa 
Constituição deixa explícito, como já mencionado, que a segurança pú-
blica é dever do Estado e direito de todos.
É relevante também discutir a conceituação de ordem pública, 
expressão utilizada inclusive na supramencionada definição de 
segurança pública proposta pelo autor Moreira Neto e no próprio art. 
144 da Constituição. A expressão é também largamente utilizada nas 
leis penais e processuais penais brasileiras, aparecendo oito vezes no 
Código de Processo Penal.
Há muitas discussões doutrinárias e jurisprudencial a respeito 
desse conceito, demasiado aberto para a relevância que possui, uma 
vez que é autorizador e justificador de medidas coercitivas, como a pri-
são preventiva.
Távora (2012) diz que “a ordem pública é expressão de tran-
quilidade e paz no seio social”, conceito parecido com o de Afonso da 
14
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Silva (2014), que define como “situação de pacífica convivência social, 
isenta de violência ou de sublevação que tenha produzido ou suposta-
mente possa produzir, a curto prazo, prática de crimes”.
Ocorre que mesmo essa conceituação não nos traz, quando 
trabalhamos com casos concretos, o que afetará, por exemplo, a ordem 
pública. No art. 312, do Código de Processo Penal, está definido que a 
prisão preventiva poderá ser decretada, dentre outras hipóteses, como 
“garantia da ordem pública”. O que isso significa, porém?
No julgamento da Reclamação 24.506/SP pelo Supremo Tri-
bunal de Justiça, o relator Ministro Dias Toffoli traz extensa discussão 
a respeito da conceituação de ordem pública, citando a relevante obra 
de Rodrigo Capez, “Prisão e medidas cautelares: a individualização da 
medida cautelar no processo penal”.
Na discussão, o autor, corroborado pelo Ministro, rejeita definir 
claramente o que é ordem pública, trazendo uma noção de “certeza ne-
gativa do conceito”, incluindo nesse espectro elementos como o estado 
de comoção social, a indignação popular, o clamor público e na “certeza 
positiva do conceito”, elementos como a necessidade de se evitar a 
prática de infrações penais e a de se impedir a reiteração criminosa, 
pois, aí sim, estaria sendo violado o conceito incerto de ordem pública.
Rejeita, assim, em razão de sua indeterminação, delimitar ou 
mesmo de buscar um consenso para delimitar o conceito de ordem pú-
blica, propondo que seja determinado, em situações práticas, caso a 
caso.
Para fins de estudo, porém, são satisfatórias as conceituações 
genéricas adotadas pelos autores, embora seja salutar o olhar crítico 
mesmo nessas situações.
É importante, portanto, ter em mente que segurança pública 
e ordem pública são conceitos abstratos e ensejadores de diversas 
discussões, tanto no âmbito acadêmico quanto no prático.
Ademais, em que pese o art. 144 da Constituição, que trata de 
Segurança Pública, informar que esta é exercida através dos órgãos 
mencionados, quais sejam a polícia federal, a polícia rodoviária federal, 
a polícia ferroviária federal, as polícias civis, as polícias militares e os 
corpos de bombeiros militares e, por fim, as polícias penais federal, es-
taduais e distrital, a segurança pública se compõe num conjunto muito 
maior de órgãos, instituições e políticas públicas.
Não podemos ler que a segurança pública é exercida por estes 
órgãos sem lembrar da parte inicial do caput do artigo, que menciona 
ser também um direito e responsabilidade de todos. Desse modo, tanto 
o Poder Legislativo, o Poder Judiciário, o Ministério Público, a Defen-
soria Pública e, naturalmente, toda a sociedade civil são responsáveis 
15
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
pela construção de uma sociedade pacífica e harmônica.
Por conseguinte, conseguimos concluir que um estado de se-
gurança pública se atinge não somente com atuação das instituições 
nominalmente mencionadas no art. 144 da Constituição Federal, mas 
através de um conjunto de atos tanto das instituições públicas de todas 
as esferas e da própria sociedade civil, que se manifesta tanto indi-
vidualmente por meio de cada cidadão, mas, também, nas coletivida-
des, formais ou informais, através de associações, igrejas, instituições 
educativaspúblicas e privadas, equipamentos de saúde, de assistência 
social, da mídia, etc.
Filme sobre o assunto: Última Parada 174 (Paramount, 2008), 
Cidade de Deus (Lumière Brasil, 2002) 
Acesse os links: https://observatoriodeseguranca.org 
Observação: Os filmes trazem, indiretamente, uma noção da 
relevância do papel do Estado e da sociedade na questão da segurança 
pública. O Observatório de Segurança Pública traz uma série de artigos, 
estudos e análises sobre o tema aqui estudado.
PANORAMA DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL
É fato incontroverso, estatisticamente comprovado, que a 
segurança pública no Brasil vem se deteriorando nas últimas décadas. 
A vontade de se construir uma sociedade mais pacífica é praticamente 
unânime, existindo divergências naturais no momento de se discutir a 
forma de chegar a esse estado de harmonia.
Inicialmente, é necessário salientar que a violência que afeta 
a almejada harmonia não possui categoria única. Embora estejamos 
acostumados a analisar os dados de homicídios anuais como parâme-
tro de piora ou melhora da segurança pública, existe uma série de es-
pécies de violência e cada um possui dinâmicas específicas de origens, 
fatores de risco e formas de combate e prevenção.
Tratar do combate à criminalidade de maneira absolutamente 
genérica pode gerar resultados confusos. Há padrões diferentes para 
os tipos de violência, variando também por território e grupos específi-
cos da população, isto é, mesmo que tenhamos hoje todos da socieda-
de duramente afetados por uma evidente crise de segurança pública, os 
16
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
crimes não afetam todas as pessoas de maneira igual, concentrando-se 
no espaço e no tempo (SZABÓ e RISSO, 2018).
O estudo dos gráficos do Atlas da Violência dos Municípios 
Brasileiros (2019) evidencia que municípios específicos, especialmente 
localizados no Nordeste do Brasil e em regiões de maior densidade po-
pulacional, possuem maior intensidade de prevalência de violência letal.
 Apesar disso, o estudo ressalta que mesmo os municípios me-
nores vislumbraram um crescimento acentuado das taxas de homicídio ao 
longo das duas últimas décadas. Por outro lado, mesmo com esse cres-
cimento, observa-se que 50% dos homicídios nos municípios brasileiros 
estão concentrados em 2,1% dos municípios mais violentos do Brasil.
Não é, no entanto, objetivo dessa unidade discutir especifi-
camente essa distribuição ou as razões de tal distribuição, servindo o 
exemplo do estudo aqui citado para demonstrar as diferenças nos pa-
drões de criminalidade que ocorrem em diversas regiões pelos mais 
diversos motivos.
17
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Figura 1 - Mapa da violência dos municípios brasileiros
Fonte: Atlas da Violência, 2019.
18
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Para além da distribuição geográfica, temos também a distri-
buição das suas causas: as altas taxas de homicídio encontradas no 
sul do estado do Pará, por exemplo, têm razões diversas das altíssimas 
taxas do leste do Rio Grande do Norte, visto que esta ocorre em razão 
de disputas entre facções criminosas e o controle na rota de tráfico de 
drogas internacional e essa em razão de seu histórico de conflitos fun-
diários (IPEA, 2019).
De outro modo, quando tratamos dos diferentes tipos de cri-
mes, podemos exemplificar com a violência doméstica, uma espécie de 
crime que ocorre majoritariamente com indivíduos de gênero específico, 
como demonstrado na tabela a seguir:
Tabela 1 – Violência doméstica por gênero (em %)
Sexo
Sofreu violência (por parente/conheci-
do/cônjuge) Total
Sim Não
Masculino 0,1 47,9 48,0
Feminino 0,3 51,7 52,0
Total 0,3 99,7 100,0
Fonte: Adaptado de PNAD 2009/IBGE.
Podemos verificar que os relatos de violência doméstica por 
gênero, causadas por parente/conhecido/cônjuge, é três vezes maior 
para mulheres do que para os homens.
Estabelecemos, assim, que a violência possui variações em 
decorrência de seu tipo, causa, localidade geográfica. Desse modo, 
respostas simples ou milagrosas para solucionar a crise de segurança 
pública pelo país são irrealistas, do mesmo modo que um remédio não 
pode ser usado para todo tipo de doença.
O próprio Código Penal Brasileiro, na Parte Especial, nomina 
as mais diversas espécies de crimes ao longo de seus títulos capítulos: 
dentro dos crimes contra a pessoa temos os crimes contra a vida, as 
lesões corporais, os crimes contra a honra, entre outros, enquanto den-
tro dos crimes contra o patrimônio temos o furto, o roubo e a extorsão, 
usurpação, dano, etc.
19
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Dentro desse contexto de situações diversas que podem ferir 
segurança pública no Brasil e, consequentemente, a situação de har-
monia almejada pela sociedade e pelo próprio texto constitucional, é 
primordial a existência de um sistema coordenado e interdependente 
entre si, sendo impossível que essa tarefa seja realizada de maneira 
individual por qualquer um dos entes que tem a responsabilidade de 
atuar na segurança pública.
Como mencionado no ponto anterior, é necessário um compro-
misso de todos os entes, públicos ou não, que compõem a sociedade, 
pela atuação em prol de um objetivo comum, pois a conduta de um in-
fluencia diretamente a ação do outro (SZABÓ e RISSO, 2018).
Grosso modo, menciona-se que existem ações que serão de-
senvolvidas pelos entes envolvidos com a segurança pública antes de 
o crime acontecer – são as chamadas medidas de prevenção – ou após 
o crime acontecer – nesse caso, temos aqui as medidas repressivas.
As medidas preventivas visam evitar a prática de crimes e são 
extremamente diversas, como ordenamento urbano, investimento na 
primeira infância e na juventude, ações ostensivas de policiamento, en-
tre outras.
Já as medidas repressivas podem ser realizadas pela Polícia 
Militar, em seu trabalho de repressão imediata, mas, também, pela Polí-
cia Civil, que só atua após a prática dos crimes, objetivando a apuração 
das infrações penais já praticadas, conforme art. 144, §4º, da Constitui-
ção Federal.
É também depois da ocorrência do crime que atuam o Poder 
Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública, cada um 
exercendo sua função constitucional, uma vez que após encerrado o 
inquérito policial, cabe ao Ministério Público realizar a denúncia, que 
será processada perante o Judiciário e a Defensoria Pública poderá 
atuar pela defesa no caso de o acusado não habilitar, em seu favor, um 
advogado particular.
As medidas repressivas são também consideradas formas de 
prevenção – conceituadas pela doutrina como prevenção secundária e 
terciária, enquanto as medidas praticadas antes da ocorrência do crime 
são consideradas como prevenção primária.
A Defensoria Pública, o Ministério Público e o próprio Poder 
Judiciário também podem participar da fase preventiva da busca pela 
20
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
preservação da ordem pública. Os dois primeiros órgãos, embora façam 
parte do sistema de justiça, são autônomos e possuem competência 
para tratar de direitos coletivos, podendo buscar, judicial ou extrajudi-
cialmente, solução para temas relacionados à saúde, educação e ou-
tros direitos fundamentais e sociais. Essa atuação difusa pode garantir 
uma pacificação social que evitará a deterioração da segurança pública 
em certas comunidades.
Ocorre que a segurança pública no Brasil enfrenta problemas 
tanto naquelas medidas anteriores quanto nas posteriores à prática de 
crimes.
Quanto às medidas preventivas, é reconhecida a importância 
de manutenção das crianças e adolescentes na escola, sendo direito 
fundamental destes indivíduos, conforme Art. 53 do Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente.No entanto, índices de 7,6% de evasão escolar, 
sendo ainda mais grave nas regiões Norte e Nordeste (9,2%), conforme 
dados da Síntese de Indicadores Sociais (2019).
O crescimento da desigualdade social, a urbanização rápida 
e irregular, abuso de álcool e o alto índice de impunidade também são 
fatores potencializadores da desidratação da segurança pública.
Já nas medidas praticadas após a prática dos crimes, a situa-
ção é também alarmante, com dados mostrando que 41,5% dos presos 
no país são provisórios, ou seja, ainda não condenados e aguardando 
julgamento1. Há também considerável limitação no caso de crimes elu-
cidados, muito em razão do sucateamento das polícias civis que são 
responsáveis pelas investigações no âmbito dos estados.
Convenciona-se que a melhor forma de reforçar a segurança 
pública está na prevenção primária, evitando-se que ocorram os crimes, 
o que possui custos menores e afeta de maneira positiva a qualidade de 
vida da população.
O Brasil tem privilegiado desestimular crimes utilizando apa-
rato de segurança, respondendo a eles prioritariamente com a prisão, 
acarretando custos altíssimos e, com o aumento na criminalidade esta-
tisticamente demonstrada, tem sido ineficiente. Defende-se que deva 
se investir em estratégias que priorizem o reconhecimento dos danos 
que os crimes causam na sociedade, criando condições para autorre-
gulação desta, parando, como já mencionado, de tratar a segurança 
apenas como sinônimo de polícia, mas passando a ressaltar aquele 
compromisso estabelecido pela nossa Constituição: a segurança públi-
ca é responsabilidade de todos.
1 Dados do Conselho Nacional de Justiça em 2019, conforme Banco de Monitoramento 
de Prisões, disponíveis em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/07/17/cnj-registra-pelo-me-
nos-812-mil-presos-no-pais-415percent-nao-tem-condenacao.ghtml
21
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
A chamada “sensação de insegurança” é plenamente justifica-
da pelos números, afinal, somente no ano de 2017, houve mais de 65 
mil homicídios no Brasil2, atingindo, assim, o maior nível histórico de 
letalidade violenta intencional.
A curva ascendente do crime que afeta o mais valioso bem jurí-
dico, que é a vida, pode ser observada nos gráficos que tratam do tema.
Figura 2 – Taxa de homicídio no Brasil e regiões (2007-2017)* 
Fonte: IBGE, 2018. 
*O gráfico inclui os óbitos causados por agressão injustificada, bem como 
aquelas acarretadas por intervenção legal.
Com o crescimento de número de crimes violentos no país, 
como demonstrado, ocorreu movimento natural de questionamento das 
políticas de segurança pública no país. A discussão não pode ser trata-
da, entretanto, de maneira simplificada e sem embasamento, devendo 
ser debatidos temas como a partir de quando houve o crescimento des-
sa sensação de insegurança, quais suas origens e se esse sentimento 
é justificado por dados reais.
Embora tenha ocorrido uma regressão clara no âmbito do di-
reito à segurança pública, observa-se que o sentimento de insegurança 
vem desde antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, o 
deputado Ricardo Fiuza justificou, na Assembleia Nacional Constituinte, 
2 Mapa da Violência (IPEA, 2017)
22
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
a criação de uma seção exclusiva sobre segurança pública:
A onda de criminalidade e violência que atualmente atinge a vida urbana das 
cidades brasileiras, repercutindo até mesmo no meio rural, impõe tratamento 
mais adequado e transparente da questão segurança pública.
Assim sendo, atendendo aos apelos comunitários e da sociedade como um 
todo, surge a necessidade de se dotar a Constituição Federal, de um título 
denominado “Da Segurança Pública”.
Atualmente se observa uma lógica tradicional, onde somente os entes es-
taduais passíveis de utilização ou convocação pela União integram o texto 
constitucional. O anteprojeto inova com a criação de uma seção sobre segu-
rança pública, onde a definição conceitual é somada ao estabelecimento das 
competências da Polícia Federal, Forças Policiais, Corpos de Bombeiros, 
Polícia Judiciária e Guardas Municipais, modificando a lógica constitucional 
anterior (BRASIL, 1987, p. 29).
A explanação do parlamentar, ao ressaltar uma “onda de crimi-
nalidade e violência”, no ano de 1987, evidencia que há mais de 30 (trin-
ta) anos discutimos e buscamos soluções para melhoria da segurança 
pública. Apesar de discutirmos atualmente esse tema, o tema vem sen-
do trabalhado há muitos anos e, com isso, vê-se que não há solução ou 
respostas simples.
Acesse os links: https://soudapaz.org http://igarape.org.br 
Observação: Trata-se de duas ONGs com relevante atuação 
no estudo da situação da segurança pública no Brasil, realizando pes-
quisas, estudos e publicações de artigos com propostas para desenvol-
vimento da segurança no país.
CLASSIFICAÇÕES DE PREVENÇÃO CRIMINAL
A prevenção criminal significa apostar em estratégias que 
atuem sobre os fatores de risco e de proteção da violência, antes de 
sua ocorrência (SZABÓ e RISSO, 2018).
A prevenção é, portanto, um conjunto de ações que tem como 
objetivo evitar, direta ou indiretamente, a prática de delitos e a manuten-
ção da ordem pública, visando sempre manter a paz social e harmonia 
nas relações sociais.
Temos, assim, que, sendo a segurança pública dever do Es-
23
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
tado e responsabilidade de todos, evitar a prática delitiva, traduzida na 
transgressão das leis, é um dos principais objetivos do Estado Demo-
crático de Direito.
Para isso, estudam-se os fatores inibidores e estimulantes da 
criminalidade, através de ciências como a criminologia para elaboração 
de políticas que melhorem a segurança pública.
Lima Júnior (2017) traz que existem medidas diretas que inci-
dem de forma imediata sobre o próprio delito, como a pena e o regime 
prisional e as indiretas, que atuam de maneira mediata sobre o crime, 
ao incidir em relação às reconhecidas causas fomentadoras de delito, 
como melhoria nas condições de educação e saúde da população.
Programas de Prevenção Criminal
Há três espécies de programas de prevenção criminal reco-
nhecidos pela Criminologia Moderna.
A prevenção primária busca combater as raízes do crime, an-
tes mesmo da sua gênese e tem como destinatários todos os cidadãos.
Diz-se que é uma prevenção “social”, pois envolve a mobiliza-
ção de todos os setores comunitários para enfrentar solidariamente um 
programa da comunidade, como bem traduz o caput do art. 144 da Cons-
tituição Federal, pois a segurança pública é responsabilidade de todos.
Nesse diapasão, a prevenção primária não se restringe aos 
órgãos de segurança pública e ou aos órgãos públicos, embora estes 
também façam parte desse tipo de prevenção com relevante papel.
Esse programa está relacionado às questões sociais, implan-
tando-se políticas ou realizando atuações que concretizem direitos so-
ciais e afastem as pessoas da criminalidade.
Portanto, ao falar em prevenção primária, a doutrina se refere aos investi-
mentos, políticas e projetos de cunho social, cujo objetivo é impedir que as 
pessoas vejam na criminalidade a oportunidade para saírem das condições 
precárias em que vivem, e, desse modo, afastá-las da senda do crime (FON-
TES e HOFFMAN, 2018, p. 217).
A legislação brasileira está, indiretamente, repleta de suges-
tões de atuação no que seguem o sentido da prevenção primária, ainda 
que indiretamente. A Constituição Federal traz diversos aspectos reco-
nhecidos pela doutrina social e jurídica para eficaz prevenção, como 
no foco que dá à educação e na relevância que dá aos direitos sociais 
tratados no art. 6º.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, se corretamente apli-
24
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
AS
cado, pode ser um ponto chave de uma prevenção eficaz num primeiro 
momento. O art. 7º, por exemplo, dispõe que a criança e o adolescente 
têm direito a proteção à vida e à saúde mediante a efetivação de polí-
ticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento 
sadio e harmonioso em condições dignas de existência.
Em obra propositiva, SZABÓ e RISSO (2018) trazem diversas 
propostas que se encaixam nesse programa de prevenção, por exem-
plo, o foco em políticas de educação, a criação de espaços públicos se-
guros que contribuam para a convivência saudável e o estabelecimento 
de relações pacíficas entre as pessoas, a promoção de programas de 
atenção à primeira infância, a melhoria da iluminação pública, criação 
de novas condições de trabalho para mães e pais de crianças de até 
doze anos, dentre outras.
A participação da sociedade civil nesse âmbito também é fun-
damental, e é realizada através de organizações não-governamentais 
que estudam e combatem a violência ou promovem cursos profissio-
nalizantes gratuitos, cursinhos pré-vestibulares populares, atividades 
esportivas, ou mesmo através de igrejas, escolas particulares, núcleos 
jurídicos de faculdades de direito, entre outras atuações que podem ga-
rantir a paz social e se evitar, ainda que indiretamente, a criminalidade.
Já a chamada prevenção secundária trata de programas ou es-
tratégias situacionais, não buscando atingir a etiologia da criminalidade, 
isto é, não visa combater as raízes ou fatores que a geram, mas impedir 
a sua manifestação na situação prática.
São um conjunto de ações policiais e políticas públicas dirigi-
das a grupos da sociedade, normalmente aqueles com maior risco de 
sofrer ou praticar delitos, que são praticadas no momento posterior ao 
crime ou em sua iminência. São, portanto, instrumentos dissuasórios de 
curto em médio prazo.
Esse tipo de programa de prevenção se manifesta, por exem-
plo, com programas de policiamento comunitário, como as Unidades de 
Polícias Pacificadoras implantadas no Rio de Janeiro.
São vistos como instrumentos não necessariamente penais, 
mas que ainda assim alteram o cenário criminal, pois modificam alguns 
elementos deste. É a busca por se colocar obstáculos no processo de 
execução dos crimes, encarecendo os custos deste para o criminoso.
Políticas públicas como o videomonitoramento das vias, am-
pliação da iluminação pública, políticas de reordenação urbana, contro-
les e vigilância dos meios de comunicação, entre outras. 
Já a prevenção terciária busca a chamada prevenção especial 
do delito, isto é, a ressocialização do chamado criminoso. Por pressu-
por uma condenação, naturalmente seu momento é o mais distante das 
25
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
raízes do crime, operando no âmbito penitenciário.
São, portanto, medidas políticas de execução penal voltadas 
à população carcerária, com caráter punitivo e objetivando a “recupe-
ração” do recluso, sob o argumento de que serviria para dissuadir a 
reiteração delitiva de maneira individual.
É importante ressaltar que, embora a literatura trate majori-
tariamente de políticas realizadas no âmbito carcerário, por vezes, os 
crimes não possuem pena de reclusão e algumas penas restritivas de 
direitos passam a ter o caráter de prevenção terciária, como acontece, 
por exemplo, em crimes praticados sob o âmbito da Lei Maria da Penha, 
que permite obrigar ao condenado que frequente cursos em centros de 
reabilitação para o reconhecimento da agressão realizada e modifica-
ção no comportamento diante da mulher.
Após experiência de sucesso em diversos estados e já aplicado 
por diversos Juizados de Violência Doméstica, em abril de 2020 foi san-
cionada a Lei nº 13.984/2020 que incluiu, dentre as Medidas Protetivas 
de Urgência (MPU) da Lei Maria da Penha, a possibilidade de se deter-
minar que o agressor compareça a programas de recuperação, reedu-
cação, bem como que seja realizado o acompanhamento psicossocial 
desse indivíduo, por meio de atendimento individual ou grupo de apoio.
Já no ambiente do cárcere, a prevenção terciária ocorre atra-
vés de cursos profissionalizantes, oficinas de artesanato, carpintaria, 
alfabetização, dentre outras medidas chamadas de ressocializadoras.
Quanto à ressocialização, é relevante que se tenha um olhar 
crítico, visto que esse tipo de prevenção, chamada de prevenção es-
pecial positiva, é, muitas vezes, considerada sob um viés humanista, 
embora na prática tenha se traduzido como uma limitação dos direitos 
da pessoa condenada do que efetivamente como um projeto humanista 
de seu declarado objetivo de reinserção social.
Há também críticas quanto à possível contradição entre a de-
claração de que a pena serviria para ressocializar o indivíduo, enquanto 
o retira do convívio social. Essa crítica aduz que para que a educação 
nas prisões seja plena e não uma reeducação forçada, a educação não 
deve servir como uma medida de pena em si, mas uma medida apesar 
da pena (CACICEDO, 2016).
Embora o estudo da teoria da finalidade da pena seja normal-
26
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
mente objeto de outras disciplinas, para a continuidade do nosso estudo 
é relevante também mencionar tais conceitos, ainda que de forma resu-
mida, visto que tratam de prevenção criminal.
A teoria absoluta da pena, baseada na teoria da retribuição 
ética ou moral de Kant, fundamenta a existência de uma pena para um 
delito exclusivamente na ideia de retribuição, como uma exigência de 
justiça para aquela situação concreta, seja como punição, seja como 
expiação do agente (PRADO, 2005).
Já a teoria relativa suscita ter por objetivo a prevenção de no-
vos delitos e possui diversas categorias. Para Carnelutti (2004), a fina-
lidade do direito penal é a prevenção de novos delitos. Para esse autor 
clássico, ao se punir quem cometeu o delito, cria-se um contra-estímulo 
à prática de novos crimes pela sociedade. 
No quadro a seguir, podemos entender as subdivisões da teo-
ria relativa da finalidade da pena.
Quadro 1 – Teorias Relativas da Pena
PREVEN-
ÇÃO GERAL 
– Dirigida à 
coletividade.
POSITIVA
É a reafirmação do direito penal. O 
Estado pune para devolver a paz à 
sociedade. É o cumprimento do dever 
estatal de garantir as leis, a segurança 
pública.
NEGATIVA
É a intimidação da coletividade por 
meio da ameaça da punição. Dentre as 
teorias preventivas, é a primeira a ser 
reconhecida.
27
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
PREVEN-
ÇÃO ES-
PECIAL 
– Dirigida ao 
indivíduo.
POSITIVA
Busca a ressocialização do condenado. 
O Estado, além de evitar a reincidência, 
deseja preparar o praticante de um cri-
me para o retorno à sociedade. Atribui 
a pena a missão de fazer o autor refletir 
sobre a prática de um novo crime.
NEGATIVA
Busca evitar a prática de novos crimes 
pela simples segregação do indivíduo no 
cárcere, gerando, assim, sua neutraliza-
ção, impedindo-o de praticar novas infra-
ções penais junto à sociedade da qual foi 
retirado.
Fonte: Autor, 2020.
MODELOS DE POLICIAMENTO
Já demonstramos que segurança pública, embora esteja rela-
cionada à atuação policial, não se limita a isso. Há de se reconhecer, 
porém, que a polícia, em suas diversas esferas, ocupa um lugar de des-
taque no trabalho em busca da segurança pública que respeite o direito 
à segurança garantido a todos os brasileiros pela Constituição.
Nesse sentido, dentro da atuação pela segurança pública, te-
mos os órgãos que compõem o sistema de justiça criminal, quais se-
jam, a Defensoria Pública, o Ministério Público, o Poder Judiciário e as 
unidades prisionais correspondentes, mas dentro desse sistema temos 
aqueles órgãos responsáveis diretamente pela segurança pública, que 
estão listados no art. 144 da Constituição Federal, que além de lista-los, 
estabelece também, a grosso modo, a funçãode cada um deles.
A Emenda Constitucional 104/2019 acrescentou ao art. 144, 
como um dos órgãos que atuam em prol de garantir a segurança pú-
blica, dever do Estado, as polícias penais federal, estaduais e distrital, 
apresentando também a sua função que é realizar a segurança dos 
estabelecimentos penais.
A emenda teve objetivo de dar uniformidade jurídica sobre a 
28
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
carreira daqueles que fazem a segurança pública dentro dos estabele-
cimentos penais, uma vez que até então, enquanto alguns estados ado-
tavam a carreira de agentes penitenciários, outros estados utilizavam 
policiais militares ou até mesmo funcionários terceirizados de empresas 
privadas.
Com essa alteração, criando um órgão responsável constitu-
cionalmente pela segurança dos estabelecimentos penais - a Polícia 
Penal, busca-se uma maior capacitação, organização e valorização 
desses profissionais e da própria prestação do serviço.
Com o acréscimo da polícia penal, temos, então, listados os 
seguintes órgãos: a polícia federal, a polícia rodoviária federal, a polícia 
ferroviária federal, as polícias civis, as polícias militares e corpos de 
bombeiros militares e as polícias penais federal, estaduais e distrital.
O § 8º do art. 144 ainda traz a possibilidade de instituição, pelos 
Municípios, de guardas municipais, destinadas à proteção de seus bens, 
serviços e instalações, conforme dispuser a lei. Desse modo, o STF em 
apertado julgamento3 decidiu pela possibilidade de que essas guardas 
municipais atuem em fiscalização do trânsito, podendo, inclusive, lavrar 
infrações, uma vez que, para a Corte, o dispositivo constitucional não 
impede que a guarda exerça funções adicionais àquelas previstas em 
seu texto, mencionando que até mesmo as instituições policiais podem 
cumular funções típicas de segurança pública com exercício de poder 
de polícia administrativo.
As polícias rodoviária e ferroviária, ambas federais, possuem 
atribuições específicas, atuando, respectivamente, no patrulhamento 
ostensivo das rodovias federais e das ferrovias federais. As polícias pe-
nais, que existem no âmbito dos estados, Distrito Federal e da União 
também tem atuação especificada e são responsáveis pela segurança 
dos estabelecimentos penais.
A polícia federal, por sua vez, já possui atuação mais ampla, 
sendo destinada, conforme art. 144, §1º, da Constituição Federal, a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento 
de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas 
e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha reper-
cussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo 
se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o con-
trabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros ór-
gãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; 
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
3 RE 658570/MG. Rel. Min. Marco Aurélio. Rel. p/ Acórdão Min. Roberto Barroso. Tribunal 
Pleno. Julgado em 06/08/2015.
29
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
Percebe-se que, embora tenha uma série de atribuições, a po-
lícia federal atua em situações específicas, restando como os maiores 
órgãos da segurança pública do Brasil, com competência geral para 
atuação, as polícias civis e militares.
A Carta Magna distribui a competência dessas polícias da se-
guinte forma: enquanto às polícias militares cabe a polícia ostensiva e 
preservação da ordem pública, às polícias civis, ressalvada a compe-
tência da União, quando atuará a polícia federal, cabe as funções de 
polícia judiciária e apuração das infrações penais.
A organização do trabalho policial dividida entre duas institui-
ções distintas e autônomas entre si necessitam de completa e efetiva 
articulação entre as duas polícias, mas ocorre, na prática, conflitos entre 
as duas polícias, dispersão de recursos gerando baixa efetividade na 
atuação (BARBOSA e CRUZ, 2002).
Até o momento, então, falamos de “polícia”, que são as estrutu-
ras públicas e profissionais voltadas para a garantia da manutenção da 
ordem e da segurança pública.
Já o “policiamento”, atualmente, é uma das atividades especí-
ficas essas instituições, seja a forma que porventura tenham em cada 
comunidade, mas é caracterizado como a atividade específica de patru-
lhamento preventivo.
Zanetic (2012), mais especificadamente, trata policiamento 
como “uma forma particular de controle, alicerçada por atributos espe-
cíficos de sistemas de vigilância e ameaças de sanção, conduzida por 
uma ampla variedade de corpos e agentes que possuem como sua prin-
cipal atividade a manutenção da ordem e a promoção da segurança”.
No Brasil, temos uma situação especial: a divisão das funções 
da polícia em duas instituições separadas, o que acarreta um desafio 
ainda maior para atuação eficiente. Em situações práticas, podemos 
vislumbrar essas dificuldades no fato de que a polícia militar possui, em 
tese, por estar na rua, maior proximidade com o cidadão. Numa inves-
tigação criminal, portanto, os policiais militares, provavelmente, terão 
informações que poderão ser essenciais para a elucidação de crimes e, 
por falhas organizacionais na gestão dessa informação, podem não ser 
compartilhadas com a polícia civil, responsável pelo inquérito policial 
(SZABÓ e RISSO, 2018).
Para outros autores, como Rolim (2006), a divisão das polícias 
pode até mesmo ser benéfica e preferível em relação à ideia de polícia 
única.
As atividades exercidas por ambas as instituições são, entre-
30
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
tanto, de extrema relevância para a redução da criminalidade e a se-
paração, em que pese trazer dificuldades, não impede, caso haja uma 
eficiente organização, a melhora na atuação.
Os modelos de policiamento são, em resumo, as estratégias 
que a polícia, enquanto instituição, tomará para atingir os objetivos que 
justificam sua existência. Esses modelos refletem e discutem, na nossa 
realidade, as atividades da polícia militar – a polícia ostensiva e preven-
tiva, que age proativamente e reativamente – uma vez que a polícia civil 
é a polícia judiciária, responsável pelas investigações. 
Quando falamos de polícia civil, tratamos de gestão de polícia, 
que possui diversos modelos, e não especificamente de modelos de 
policiamento.
Quanto às atividades da polícia militar, tradicionalmente elas 
podem ser reativas, ou seja, quando são iniciadas e direcionadas por 
uma solicitação dos cidadãos, ou proativas, quando são iniciadas e di-
recionadas pela própria polícia ou pelos próprios policiais, independen-
temente de provocação pelos cidadãos.
As características do modelo de policiamento tradicional são 
baseadas numa tradição militar, herdada pela polícia, o que ocorre es-
pecialmente no Brasil, com o modelo da polícia militar. Trata-se a polícia 
como um órgão responsável pela aplicação da lei, sendo seu papel a 
maximização da solução de crimes e a eficiência seria supostamente 
mensurada pelo maior número de prisões no menor tempo possível.
Embora seja uma ideia antiga, o referido modelo é aplicado 
e incentivado até hoje, com alguns estados da federação garantindo 
prêmios para policiais que apreendem o maior número de armas4 ou 
mesmo pela captura de acusados5.
Apesar disso, críticas a esse sistema vem sendo feitas pelo 
menos desde a década de 1980 por diversos fatores, como a percepção 
de que o aumento do número de policiais não reduz necessariamente 
o índice de criminalidade e nem eleva a proporção de crimes solucio-
nados, que o policiamento intensivo nãoreduz o crime, apenas o des-
loca para outras áreas, que crimes como homicídio, estupro, furto em 
domicílio, roubo e assalto dificilmente são enfrentados pelo policial em 
patrulha, dentre outros motivos (BARBOSA e CRUZ, 2002).
A existência de críticas ao modelo tradicional, chamado tam-
bém de “profissional” de policiamento não impede o reconhecimento da 
4 ATUAL, Amazonas. Policiais Ganharão Prêmio de Até R$ 1.000,00 por arma apreen-
dida no Amazonas. 2019. Disponível em: https://amazonasatual.com.br/policiais-ganharao-pre-
mio-de-ate-r-1-mil-por-arma-apreendida-no-amazonas/. Acesso em: 20 abr. 2020.
5 EXTRA, Jornal. Lei que prevê recompensa a policiais do Rio gera polêmica. 2019. 
Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/lei-que-preve-recompensa-policiais-do-
-rio-gera-polemica-23562117.html. Acesso em: 19 abr. 2020.
31
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
importância que teve ao trazer inicialmente uma organização burocráti-
ca de profissionais que são gerenciados de acordo com uma metodolo-
gia, utilizando-se da racionalidade voltada ao patrulhamento.
A formatação de uma estrutura rigidamente disciplinada e hie-
rarquizada costuma também oferecer vantagens quanto ao combate à 
corrupção (ROLIM, 2006).
A atividade policial, nesse modelo de policiamento, passa a 
ser o controle do crime, prender, identificar culpados, coibir momenta-
neamente comportamentos desviantes e impor a ordem. Tanto na ação 
proativa como reativa, a atuação ocorre de forma interventiva, no mo-
mento da prática do crime ou posteriormente. Baseia-se, portanto, na 
ideia de que a punição ou repressão da criminalidade irá prevenir novas 
práticas, em confirmação à teoria de prevenção geral da pena, mas no 
âmbito policial.
Ressalta-se, ainda, que esse modelo tradicional, que é o mo-
delo de policiamento mais comum, deixa os policiais, enquanto indiví-
duos, restritos a um mundo definido pelas “ocorrências” durante sua 
atuação profissional.
Assim, os policiais são obrigados a lidar com fenômenos sem-
pre extremos, traumáticos e dolorosos, uma vez que o dia a dia comum 
das pessoas que habitam a comunidade não guardam qualquer relação 
com seu trabalho (ROLIM, 2006).
Outro modelo, então, surge como alternativa já há vários anos, 
aplicado em vários países do mundo, como Estados Unidos, Canadá, 
Irlanda do Norte, Austrália, Japão e outros (ROLIM, 2006). É o modelo 
do policiamento comunitário.
Embora a discussão e tentativa de aplicação desse tipo de mo-
delo de policiamento no Brasil seja tardia em relação aos outros países, 
desde os anos 90 já se fala no tema no âmbito acadêmico e até legis-
lativo.
É importante ressaltar também que a disseminação de 
projetos de policiamento comunitário por diversos países não significa 
necessariamente que houve uma transição do modelo reativo para o 
modelo de policiamento comunitário de uma maneira geral.
Pelo contrário: nos Estados Unidos e na maioria dos países eu-
ropeus, o policiamento comunitário ainda é tratado como um “programa 
especial”, ou seja, que foge à regra.
Ainda assim, o próprio Ministério da Justiça vem tratando do 
tema há diversos anos, tendo assinado em 20146 um Termo de Coo-
6 BRASIL. Diretriz Nacional de Polícia Comunitária propõe aproximação entre o 
sistema de segurança pública e a sociedade. 2019. Disponível em: https://www.justica.gov.br/
news/collective-nitf-content-1555096748.16. Acesso em: 20 abr. 2019.
32
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
peração com o Japão, a fim de estudar a aplicação de policiamento 
comunitário. Lançou ainda a Diretriz Nacional de Polícia Comunitária, 
no final do ano de 2019.
O próprio documento traz a sua definição: 
Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que 
proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Tal parceria 
baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem 
trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâ-
neos, tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais 
e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade 
geral de vida da área.
A principal diferença entre o modelo tradicional, reativo, é que a 
presença da polícia naquela comunidade específica é contínua, fazendo 
com que tenha um caráter preferencialmente preventivo, que tem como 
objetivo não apenas reagir aos crimes que tem ocorrido ou venham a 
ocorrer, mas, também, em identificar e modificar fatores ambientais e 
comportamentais que venham a gerar delitos ou danos à paz social.
Nesse modelo, o lado social da atividade policial passa a ser 
valorizado, pois o trabalho do policial não mais é apenas reagir àqueles 
mencionados fenômenos sempre traumáticos, mas para dar atenção 
integral aos cidadãos, numa maior integração entre polícia e os outros 
órgãos e entidades – públicas ou não – responsáveis pela melhoria da 
qualidade de vida.
A eficiência da polícia passa a ser medida não apenas pelo 
número de detenções e prisões (ou até óbitos), mas pela redução no 
crime e na desordem.
As equipes policiais passam a trabalhar em zona delimitada, 
trabalhando com consultas, delineamento de objetivos programas de 
treinamento em serviço, encorajamento de sugestões pelo público, que 
passa a ter um papel mais ativo, participação dos policiais nas ativida-
des da comunidade.
As relações com a comunidade, nesse modelo, passam a ter 
papel fundamental na função de patrulhamento. O serviço policial passa 
a ser amigável nos contatos nas ruas. A análise criminal e o planeja-
mento das ações e operações passam a ser especificamente localiza-
dos, adaptando a prevenção de crimes às necessidades da comunida-
de local e, para isso, essas necessidades precisam ser identificadas, 
registradas e trabalhadas estrategicamente.
Além de estratégia, o policiamento comunitário é um método 
de trabalho, ultrapassando a instituição da polícia, necessitando de coo-
peração das forças de segurança, dos demais entes públicos e da so-
33
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
ciedade em geral.
Talvez, o mais conhecido exemplo de tentativa de implantação 
de polícia comunitária no Brasil seja o das Unidades de Polícias Pacifica-
doras (UPPs), idealizado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, que 
visava modificar a forma de combate ao tráfico nas favelas do estado.
Embora atualmente descreditado em razão de diversos er-
ros na sua aplicação, como o fato de o policiamento comunitário não 
ter sido acompanhado de políticas e investimentos sociais efetivos 
nas comunidades, bem como no caso de algumas comunidades não 
ter sido implantada efetivamente uma polícia de comunidade, mas 
apenas uma polícia de ocupação de território, deixou também algumas 
heranças positivas, como apresentado em reportagem do jornal El 
País, que conversa com atores envolvidos na implantação do projeto, 
disponível neste link: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/11/politi-
ca/1520769227_645322.html
Outro modelo estudado é o “policiamento orientado para a 
solução de problemas” (POSP), formulado por Herman Goldstein, que 
segue uma abordagem conhecida como SARA (Scanning, Analysis, 
Response and Assessment – Levantamento, Análise, Resposta e Ava-
liação), quatro fases para essa atuação.
Na fase de levantamento, a polícia buscaria identificar os proble-
mas recorrentes que trazem preocupação à população e à própria polícia, 
priorizar os problemas que serão enfrentados, estabelecer objetivos de-
finidos, confirmar a existência e dimensão dos problemas, selecionar um 
desses problemas para exame e coletar os dados a seu respeito.
Na fase de análise consiste em tentar identificar e compreen-
der os eventos e condições que precedem esse problema, quais suas 
consequências para a comunidade, qual sua frequência e identificar osrecursos disponíveis que podem auxiliar no desenvolvimento de uma 
melhor compreensão do problema.
Na fase de resposta, pesquisar o que foi feito em outras comu-
nidades que enfrentaram problema similar e quais foram os resultados 
obtidos, permitir que a equipe apresente ideias e opiniões e, com base 
nesses estudos, escolher a solução possível, elaborando um plano con-
creto e apontando as responsabilidades de cada membro.
Por fim, na fase de avaliação, identificar se e como o plano foi 
34
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
implementado, se os objetivos foram alcançados, bem como novas estra-
tégias que devam ser acrescentadas ao plano original para aperfeiçoá-lo.
Esse modelo de policiamento traz, portanto, uma teoria para atua-
ção localizada e resolução de problemas específicos em comunidades. Ro-
lim (2006) traz vários exemplos bem-sucedidos de aplicação desse modelo 
nos Estados Unidos, em Green Bay (Winscosin) e San Diego (Califórnia).
É relevante salientar que para qualquer mudança que parta 
dos sistemas tradicionais para outros mais novos enfrentará resistência.
Rolim (2006) diz que uma das dificuldades para grande incentivo 
do policiamento comunitário é a visão que muitos têm de que se trata de 
uma resposta “leve” contra a criminalidade, pois esse modelo nega que a 
repressão seria a atividade principal e essencial da atividade policial. Isso 
se daria porque a cultura policial está marcada pela noção de retribuição.
A demanda pública também pode ser marcada, em diversos 
momentos, por uma demanda punitiva, o que leva à exploração do fenô-
meno da violência por setores da mídia e lideranças políticas, gerando, 
assim, pressões de toda ordem em favor de um sistema puramente 
retributivo, que pode até satisfazer momentaneamente essa demanda, 
mas evidentemente não tem gerado resultados a médio e longo prazo.
Figura 3 - Evolução da População Carcerária no Brasil
*Projeção da Human Rights Watch
Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen)/Minis-
tério da Justiça, 2016.
35
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Figura 4 - Evolução do número absoluto de homicídios no Brasil
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de 
Segurança Pública, 2018.
Como se vê nos gráficos demonstrados, o crescimento da taxa 
de homicídios no Brasil acompanha o número de pessoas encarcera-
das no país, ou vice-versa, demonstrando que independentemente das 
mais diversas ideias a respeito das formas de combate à criminalidade, 
a estatística mostra que o puro e simples encarceramento não traz uma 
efetiva diminuição nos números de violência, evidenciando que a socie-
dade precisa discutir e propor soluções para a revigorar a segurança 
pública no país.
Filme sobre o assunto: Operações Especiais (Paris Filmes, 
2015), O Estopim (2014).
Observação: Enquanto Operações Especiais é uma ficção que 
toca no tema das repercussões da implantação das UPPs na capital do 
Rio de janeiro em outras cidades, também discute indiretamente o papel 
da mídia e na relação entre polícia e comunidade, tema também discutido 
no documentário O Estopim que trata da morte do pedreiro Amarildo em 
2013 na Rocinha e fala especificamente da conduta policial nas favelas.
Outro caminho discutido, embora polêmico e que necessita de 
análise por diversas vertentes é a desmilitarização da polícia militar no 
Brasil, sendo relevante esclarecer alguns pontos, como o fato de que 
36
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
desmilitarizar a polícia não é desarmar ou desuniformizar a polícia.
No Brasil, isso significaria que a polícia ostensiva deixaria de 
ser força auxiliar e reserva do Exército e os membros dessa polícia não 
mais se submeteriam ao Estatuto dos Militares e ao Código Penal Mili-
tar, passando também a ter uma flexibilidade bem maior para desenhar 
seus planos de carreira, sem mais ficar presa na hierarquização militar 
estabelecida atualmente.
A maioria dos países possui alguma espécie de polícia militar, 
com diferentes níveis de amplitude de funções, mas países que mais 
se assemelham ao Brasil são o Chile, a Colômbia e a Itália, enquanto 
na França o sistema é praticamente misto: a Police Nationale atua em 
grandes cidades e grandes áreas urbanas e tem característica civil, a 
Gendarmerie Nationale é uma polícia militarizada e parte das Forças 
Armadas nacionais e atua nas cidades menores e nas áreas rurais, bem 
como nos portos e aeroportos do país.
Os modelos de policiamento aqui discutidos podem ser aplica-
dos tanto numa polícia militarizada quanto numa polícia ostensiva de 
caráter civil, possuindo grande relevância a formação, treinamento e 
seleção desses policiais, uma supervisão adequada, planejamento, es-
tratégia e tecnologia.
37
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2017 Banca: FEPESE Órgão: PC-SC Prova: Agente de Polícia 
Civil Nível: Superior.
O policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública são 
atribuições constitucionais da Polícia:
a) Civil.
b) Militar. 
c) Federal.
d) Municipal.
e) Rodoviária Federal.
QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: IBFC Órgão: Prefeitura Municipal de Cabo de 
Santo Agostinho-PE Prova: Guarda Municipal Nível: Médio.
A CF/88 afirma que a segurança pública é dever do Estado e deve 
ser exercida para a preservação da ordem pública, evitando o risco 
das pessoas e do patrimônio, por meio da Polícia Federal, Civil, 
Rodoviária, Militar, entre outras. Nesse sentido, analise algumas 
funções dos órgãos e assinale a alternativa incorreta.
a) A Polícia Rodoviária Federal, órgão permanente, organizado e manti-
do pela União, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo 
das rodovias, exercendo também as funções de polícia aeroportuária e 
de fronteiras.
b) Às Polícias Civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, 
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de Polícia 
Judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
c) A Polícia Federal para prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpe-
centes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da 
ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de 
competência.
d) Às Polícias Militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da 
ordem pública; aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições 
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de Valinhos-SP Pro-
va: Guarda Municipal Nível: Médio.
Segundo texto expresso da Constituição Federal, os Municípios 
poderão constituir guardas municipais destinadas, conforme dis-
puser a lei:
38
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
a) Ao policiamento repressivo, limitado ao território do Município.
b) Ao patrulhamento das vias públicas, das rodovias e das escolas mu-
nicipais.
c) Ao policiamento ostensivo, ao combate ao crime e à preservação da 
ordem pública.
d) À apuração de infrações penais contra a ordem política e social ou 
em detrimento de bens do Município.
e) À proteção de bens, serviços e instalações do Município. 
QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: CEBRASPE Órgão: PC-MA Prova: Investigador 
de Polícia Nível: Superior.
De acordo com a CF, às polícias civis cabe a:
a) Execução de atividades de defesa civil.
b) Apuração de infrações penais, exceto as militares. 
c) Função de polícia de fronteira.
d) Função de polícia judiciária da União.
e) Função de polícia ostensiva.
QUESTÃO 5
Ano: 2015 Banca: FUNIVERSA Órgão: SEAD-GO Prova: Agente de 
Segurança Prisional Nível: Superior.
De acordo com a CF, a segurança pública, dever do Estado, direi-
to e responsabilidade de todos, é exercida para a preservaçãoda 
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio por 
meio de determinados órgãos. Assinale a alternativa que apresen-
ta o(s) órgão(s) que não se encontra(m) enumerado(s) na CF entre 
os que se destinam especificamente à segurança pública.
a) Polícia Rodoviária Federal.
b) Polícia Ferroviária Federal.
c) Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
d) Polícia Federal.
e) Forças Armadas.
QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE
Explique sucintamente, mencionando exemplos, a definição de preven-
ção criminal primária, secundária e terciária.
TREINO INÉDITO
De acordo com a Constituição Brasileira, a segurança pública:
a) É dever e responsabilidade exclusiva do Estado, exercendo a ordem 
pública através das instituições formais.
39
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
b) É exercida no âmbito dos estados apenas pela polícia militar.
c) Além de ser dever do Estado, é de responsabilidade de todos.
d) É exercida também pelas polícias penais municipal, estadual e federal.
e) Deve ser sempre repressiva, a fim de preservar a ordem pública.
NA MÍDIA
E AGORA, BRASIL?
Série de detalhadas reportagens da Folha de São Paulo a respeito de 
Segurança Pública, tratando de diversos temas, como a descoordena-
ção, falta de integração entre as ações das polícias, que causam sua 
ineficiência, além de um diagnóstico do perfil dos mais atingidos pela 
criminalidade no país, detalhes sobre a Lei de Drogas, que é a lei que 
mais justifica prisões no Brasil, uma análise a respeito dos presídios e, 
por fim, traz propostas de especialistas para reduzir a violência.
Fonte: Folha de São Paulo
Data: 20 de abril de 2018.
Leia a notícia na íntegra: https://temas.folha.uol.com.br/e-agora-brasil-
-seguranca-publica/e-agora-brasil/serie-discute-politicas-publicas.shtml
NA PRÁTICA
Entender os conceitos de Segurança Pública e aprofundar seus estudos 
no tema é fundamental para carreiras policiais, carreiras políticas, mas 
também para as carreiras jurídicas.
Promotores, Defensores Públicos e Magistrados, embora não sejam en-
carregados diretamente de realizar política criminal, possuem um traba-
lho definitivamente influenciador nesses casos.
A atuação da Defensoria Pública, por exemplo, por se tratar da insti-
tuição que normalmente está mais próxima da população, deve ser no 
sentido de compreender a realidade da população que atende, suas 
necessidades, ouvindo diretamente a população através de audiências 
públicas, dos atendimentos e da coleta de dados. Trata-se de um agente 
educador em direitos, podendo atuar especificamente em áreas como 
violência doméstica, empoderando a população, como na formação de 
defensores populares, projeto que vem sendo praticado em diversas 
Defensorias do Brasil e que visam prioritariamente os líderes comuni-
tários, presidentes de associações de bairros, professores, coordena-
dores de escolas, entre outros, mas normalmente são abertos a qual-
quer cidadão, capacitando-os quanto a direitos dos cidadãos relativos 
ao SUS, medicamentos, saúde pública, direito do consumidor, direito 
do idoso e das mulheres e direitos humanos em geral. O reflexo de 
cidadãos conscientes e difusores de conhecimento nas comunidades 
mostra benefício indireto com relação à Segurança Pública.
40
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
O Ministério Público, através dos promotores, exerce, constitucional-
mente, o controle externo da atividade policial (art. 129, VII, da Constitui-
ção), devendo atuar não apenas de forma reativa, mas numa perspecti-
va transformadora, capacitadora, utilizando-se de dados estatísticos e, 
quando necessário, atuando na correção e adequação de procedimen-
tos que venham a violar direitos da população.
41
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
CONCEITO DE CRIMINOLOGIA
A ciência da Criminologia surgiu antes mesmo da própria pala-
vra que a indica, palavra essa de resolução etimológica simples, estudo 
(logos) do crime (crimino). Tem-se, portanto, em sua própria nomencla-
tura, um início de definição do objeto de estudo da criminologia, embora 
não seja razoável limitar essa complexa ciência apenas nisso.
Houve uma evolução em sua conceituação ao longo dos anos, 
deixando de ser algo simples, como o “estudo do crime”, ou “estudo 
do criminoso”, para englobar, atualmente, temas diversos, mas inter-
ligados, como o estudo e a explicação da infração legal; os meios for-
mais e informais que as sociedades usam para lidar com o crime e 
atos desviantes; as posturas das vítimas desses crimes e a forma que 
AS BASES DO ESTUDO DA
CRIMINOLOGIA
42
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
serão atendidas pela sociedade e o enfoque sobre o autor desses fatos 
desviantes. Também é relevante para esta ciência a própria gênese do 
conceito do que é um fato desviante ou fato criminoso.
Por se tratar de ciência de caráter social, deve-se cuidar em não 
limitar a criminologia à neutralidade científica, o que não ocorre. Também 
se distingue do próprio direito, por se tratar de uma ciência empírica e 
indutiva, do “ser”, isto é, ambientada no mundo real, não do “dever ser”.
Algo que também sempre caracterizou a criminologia foi a in-
terdisciplinaridade. Não que não seja dotada de autonomia, mas sem-
pre influenciou e foi consideravelmente influenciada e continua a ser, 
por diversas outras ciências, como a sociologia, a psicologia, o direito, 
a filosofia e a medicina legal.
Pode-se definir a criminologia simplesmente como “o estudo 
do crime e do criminoso”, mas como afirma Shecaira (2018), essa sim-
plificação acaba por não dar a dimensão do que venha a ser criminolo-
gia. Menciona que, afinal, o direito penal também é o estudo do crime e 
do criminoso, assim como a política criminal.
Não se deve, entretanto, renegar a criminologia, como já ocor-
reu e até hoje ocorre no Brasil, a uma ciência auxiliar do direito penal, 
pois possui métodos e objetivos diferentes. Como já dito, a criminologia 
é uma ciência empírica, baseada na observação do “ser”, enquanto o 
direito penal possui natureza formal, normativa, o proceder do seu estu-
do é dedutivo sistemático. 
Criminologia seria, então, uma ciência empírica (baseada na 
realidade) e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa 
do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, que 
trata de buscar informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica 
e variáveis principais do crime, que é contemplado como problema social 
e individual. Também analisa programas de prevenção eficaz do mesmo e 
técnicas de intervenção sobre o homem delinquente (SHECAIRA, 2018).
O seu caráter autônomo é dado por ter função, métodos e ob-
jetos próprios, sendo uma das ciências penais, ao lado do direito e da 
política criminal, formando um de seus três pilares.
A criminologia tem uma importância fundamental, consideran-
do que visa analisar os fatores que culminaram no cenário atual. Esses 
fatores recaem sobre os objetos de estudo da criminologia: o delito (cri-
me), o delinquente, a vítima e o controle social. Esses objetos compõem 
o fenômeno criminal e a criminologia se presta a compreendê-lo cien-
tificamente, não necessariamente, ao menos na contemporaneidade, 
através de leis universais exatas ou mesmo com dados e estatísticas 
rígidos, elementos que são rejeitados pelas suas interdisciplinaridades, 
composta por ciências sociais que fogem da exatidão, como o próprio 
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
43
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
direito, a psicologia e a sociologia.
Essa ciência pode ajudar a orientar a política criminal possibili-
tando a prevenção de crimes, mas também podeinfluenciar o direito pe-
nal, no sentido de que o próprio estudo dos objetos da criminologia pode 
demonstrar os motivos de tal conduta na sociedade vir a ser reprimida.
Analisa também os diversos sistemas de resposta ao delito e bus-
ca entender as razões que levam as pessoas a cometerem crimes, os mo-
tivos pelos quais esses delitos ocorrem na sociedade e até mesmo porque 
determinada conduta é considerada crime em determinada comunidade. 
Enquanto tradicionalmente, na sua criação, a criminologia, an-
tes mesmo de ser reconhecida como ciência autônoma, tinha como ob-
jetos apenas o crime e o delinquente, seu conceito moderno incorporou 
também o estudo da vítima e do controle social.
Ao longo dos anos, também foram modificados os paradigmas da 
criminologia: inicialmente, focava na análise etiológica, isto é, nas causas 
e raízes da criminalidade, seja quanto ao crime ou quanto ao delinquente. 
Modernamente, sem renunciar à análise etiológica, estuda-se também os 
modelos de reação ao delito, os chamados processos de criminalização.
OBJETO DA CRIMINOLOGIA
O Delito (ou Crime)
A própria análise do objeto da criminologia não é simples e 
exata: o conceito de delito (crime) para a criminologia não é exatamente 
aquele do direito penal. Enquanto o direito penal se centra na tipicidade 
daquela conduta ou omissão, a criminologia vê o delito como um fenô-
meno comunitário, um problema social.
O estudo criminológico apura não só a tipicidade, antijuridici-
dade e culpabilidade de um ato, mas também se interessa pelos fatores 
e critérios que levaram aquela sociedade a tipificar e tornar antijurídica 
referida conduta que, por vezes, era, até então, aceita, enquanto outras 
vezes eram condutas inexistentes na sociedade.
Para melhor visualizar essa questão, exemplificamos com a 
caça: até certo período da história, não havia qualquer discussão a res-
44
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
peito dessa prática ser crime ou não. Atualmente, mesmo nos países 
em que se permite a caça, como nos Estados Unidos, ela é altamente 
regulamentada e limitada.
Em outro pórtico, citamos os crimes virtuais, como a invasão 
de dispositivo informático alheio, que passou a ser tipificado na chama-
da “Lei Carolina Dieckmann”, ou a Lei nº 12.737/2012, além do stalking, 
a perseguição ou importunação por meios virtuais, que ainda não foi 
tipificado, mas já é objeto de diversos projetos no Congresso. Antes da 
ampla difusão da internet, especialmente a móvel, não havia que se 
falar em tais condutas, muito menos em criminalizá-las, mas, a partir 
de certo ponto, passou a ser demanda da sociedade a sua tipificação.
Caso a análise do delito na criminologia se limitasse à adoção 
do conceito jurídico-penal de delito, estaria essa ciência virando justa-
mente o que não é: uma ciência auxiliar do direito penal.
A criminologia não aceita, portanto, um conceito ontológico de cri-
me, isto é, o crime como algo natural. Até mesmo quando falamos no crime 
de homicídio, cuja conduta se traduz em “matar alguém”, temos situações 
em que essa conduta é aceita na sociedade, em diversas circunstâncias: 
guerras, intervenções médicas, omissão estatal, legítima defesa.
Nesse sentido, dentro do estudo do delito (ou crime), a crimi-
nologia passa a questionar também os processos de criminalização, 
que são aqueles fatos ou fenômenos, além do poder decisório e em 
favor de quais interesses, que fazem com que determinado fato, em 
um determinado contexto, em uma determinada sociedade, passe a ser 
considerado um crime.
O processo de criminalização é, portanto, uma espécie de “se-
leção penalizante” realizada pelo Estado, através de diversas institui-
ções, que se processa em etapas distintas e com características pró-
prias: a criminalização primária e criminalização secundária.
A criminalização primária é a criação de uma lei incriminadora 
direcionada, isto é, aquela criminalização que ocorre na esfera legislati-
va, com todas as suas influências (mídia, pressão popular), elegendo as 
condutas que serão classificadas como criminosas e passíveis de per-
secução penal. Essa eleição é considerada uma opção político-criminal.
A criminalização secundária, por sua vez, é a ação punitiva 
propriamente dita, recai sobre pessoas em concreto e é aplicado pelas 
agências do Estado, quando detectam pessoas que supostamente pra-
ticaram um ato criminalizado primariamente.
45
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
Dentro do tema de processos de criminalização, fala-se bastante 
na seletividade penal, que ocorre nas duas fases desses processos de cri-
minalização, embora com maior incidência na criminalização secundária.
Num primeiro momento, uma lei incriminadora sempre será di-
recionada a determinada classe e seus aspectos punitivos sempre terão 
como base atingir interesses daqueles que possuem poder para influen-
ciar na tomada de decisões que acarreta na criminalização de uma con-
duta. Como exemplo, temos os crimes sexuais, que de 1940, ano de 
aprovação do Código Penal, até 2009 eram tratados como ação penal 
privada. A exposição de motivos do Código Penal dizia que “nos crimes 
sexuais, nunca o homem é tão algoz que não possa ser, também, um 
pouco de vítima, e a mulher nem sempre é a maior e a única vítima 
dos seus pretendidos infortúnios sexuais”. Essa opção legal acarretou, 
por muitos anos, em considerável impunidade, visto que pelo fato de a 
titularidade da ação ser da vítima, essa teria que custear o patrocínio de 
uma causa criminal, o que é excessivamente dispendioso e demorado, 
além de gerar a extinção da punibilidade a não propositura da queixa no 
prazo de seis meses, prazo baixo para crimes dessa natureza.
Na criminalização secundária, porém, a seletividade penal é 
ainda mais clara, permitindo ao Estado uma atuação de forma mais 
seletiva. Há uma forte tendência de o poder punitivo ser precipuamen-
te exercido sobre pessoas previamente escolhidas em face de suas 
fraquezas, como moradores de rua, prostitutas e usuários de drogas. 
Há uma incapacidade estrutural natural da realização prática de todo 
o programa de criminalização primária, havendo uma grande diferen-
ça entre aqueles fatos puníveis praticados na sociedade e os que são 
efetivamente criminalizados pelas agências do sistema penal. Essas 
limitações operativas das agências do sistema penal trazem uma am-
pliação dessa seletividade da criminalização secundária, recaindo esse 
ônus, normalmente, sobre aquelas pessoas com maior incapacidade 
de acesso ao poder político, econômico e midiático, causando menos 
problemas às referidas agências. 
O Delinquente (ou Criminoso)
Outro objeto de estudo é o criminoso, ou delinquente. Embora 
não tenha sido o foco principal na primeira escola criminológica, a Es-
46
SE
G
U
R
A
N
Ç
A
 P
Ú
B
LI
C
A
 E
 C
R
IM
IN
O
LO
G
IA
 -
 G
R
U
P
O
 P
R
O
M
IN
A
S
cola Clássica, que via o ser humano como senhor absoluto de si mesmo 
e dos seus atos, elevando sobremaneira a questão do livre arbítrio e 
via o comportamento criminoso como um ato de um pecador que optou 
pelo mal e, portanto, merecia ser punido pela quebra do contrato social, 
a figura do delinquente foi central na segunda escola criminológica, a 
Escola Positiva, que é a primeira a fazer a dicotomia crime/criminoso e 
passou a negar o livre arbítrio.
Cada escola criminológica representou de forma diferente a fi-
gura do delinquente, dando-lhe maior ou menor relevância conforme 
cada contexto ou mesmo a ideologia que seguia.
Os pensamentos criminológicos mais detalhados de cada esco-
la serão tratados mais adiante, mas é relevante, para que se compreen-
dam as bases da criminologia através do estudo detalhado do seu ob-
jeto, mencionar como as principais escolas veem a figura do criminoso.
Em alguns momentos, busca-se justificar a prática do crime, 
seja tratando-o como fruto das desigualdades sociais ou