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2.6 GRANULOMETRIA 2.6.1 Distribuição granulométrica dos solos Nos solos, geralmente existem partículas de tamanhos diversos. Nem sempre é fácil identificar as partículas, por exemplo: grãos de areia, podem estar envoltos por uma grande quantidade de partículas argilosas, finíssimas, apresentando o mesmo aspecto de uma aglomeração formada exclusivamente por estas partículas argilosas: - Quando secas, as duas formações são muito semelhantes. - Quando úmidas, . a aglomeração de partículas argilosas se transforma em uma pasta fina; . a partícula arenosa revestida é facilmente reconhecida pelo tato. 1 Em termos qualitativos, deve-se ressaltar que o intemperismo físico (desintegração) é capaz de originar partículas de tamanho até cerca de 0,001 mm e somente o intemperismo químico (decomposição) é capaz de gerar partículas de diâmetro menor que 0,001 mm. Solos cuja maior porcentagem seja constituída de partículas de diâmetros maiores que 0,075 mm (# n° 200) são chamados de solos de grãos grossos ou solos granulados ou ainda solos granulares. As características e o comportamento desses solos ficam determinados, em última análise, pelo tamanho das partículas, uma vez que as forças gravitacionais prevalecem sobre as demais. Para os solos finos (partículas de diâmetro menor que 0,075 mm) há que se levar em consideração além do tamanho das partículas, o teor de umidade, a forma das partículas e a constituição química e mineralógica. Dessa forma, solos que contém uma alta proporção de partículas arenosas (70 a 80 %) podem ter propriedades coesivas e plásticas apreciáveis se tiverem presentes pequenas quantidades da ordem de 10 % de argila, enquanto que um solo que possui apenas 40 a 50 % de partículas da dimensão da argila pode possuir todas as propriedades da argila no sentido genericamente aceito. 2 3 Tamanho das partículas “Tipos de granulometria” Segundo a forma da curva granulométrica podemos distinguir os diferentes "tipos de granulometria". Assim, temos granulometria contínua ou descontínua, uniforme ou não uniforme, mal ou bem graduada. Na Figura abaixo visualiza-se esquematicamente, estas diferenças. 4 Análise granulométrica É a determinação da faixa de tamanho das partículas presentes em um solo, expressa como uma porcentagem do peso total seco. Será utilizada a escala granulométrica adotada pela ABNT 6502/95 na nomenclatura das partículas. 5 Ensaio de granulometria (ABNT – NBR 7181) O ensaio é dividido em duas partes distintas, utilizáveis de acordo com o tipo de solo e as finalidades do ensaio para cada caso particular: peneiramento e sedimentação. 1) ensaio de peneiramento - para tamanhos de partículas > 0,075 mm de diâmetro. O ensaio é feito passando uma amostra do solo por uma série de peneiras de malhas quadradas e de dimensões padronizadas. Pesam-se as quantidades retiradas em cada peneira e calculam-se as porcentagens retidas e/ou passantes. 2) ensaio de sedimentação - para tamanhos de partículas 0,075 mm de diâmetro (passam na peneira #200), utiliza-se a sedimentação contínua em meio líquido. Baseado na lei de Stokes. 6 Importante: Os solos grossos (areias e pedregulhos), possuindo pouca ou nenhuma quantidade de finos, podem ter a sua curva granulométrica inteiramente determinada utilizando-se somente o peneiramento. Em solos possuindo quantidades de finos significativas, deve-se proceder ao ensaio de granulometria conjunta, que engloba as fases de peneiramento e sedimentação. Com os resultados obtidos desse ensaio é possível a construção da curva de distribuição granulométrica, importante para a classificar os solos, estimar permeabilidade, etc. 7 Preparação da amostra • Selecionar uma quantidade representativa, Mt, de material seco ao ar: 10,0 kg para material com pedregulho grosso; 2,0 kg para material com pedregulho fino; 1,0 kg para material arenoso; 0,5 kg para material siltoso/argiloso. • Passar a massa Mt na peneira #10 (2,0 mm), tomando-se a precaução de desmanchar no almofariz, com o auxílio da mão de gral recoberta de borracha, todos os torrões, de modo a assegurar a retenção na peneira somente dos grãos maiores do que a abertura da malha (utilizar a escova para auxiliar a retirada dos grãos retidos as malhas) fica-se com duas porções da amostra: Material retido na peneira #10 (2,0 mm): peneiramento grosso Material que passa na peneira #10 (2,0 mm): peneiramento fino e sedimentação. 8 Peneiramento: Consiste em agitar uma amostra de solo por um conjunto de peneiras que tenham aberturas progressivamente menores. A abertura nominal da peneira é considerada como o “diâmetro” das partículas (diâmetro equivalente, já que as partículas não são necessariamente esféricas). Material retido na peneira #10 (2,0 mm): • Lavar a parte retida na peneira de 2,0 mm (# 10) de modo a eliminar o material fino aderente às partículas de diâmetro maiores do que 2,0 mm e secar em estufa, entre 105 e 110 oC, por 24 horas, até constância de massa. Esse material é usado no peneiramento grosso OBS: Para determinação da distribuição granulométrica do material apenas por peneiramento, proceder como se segue: a) Do material passado na peneira de 2,0 mm, tomar cerca de 120 g. Pesar esse material com resolução de 0,01 g e anotar como Mh . Tomar ainda cerca de 100 g para três determinações da umidade higroscópica (h) de acordo com a NBR 6457. b) lavar na peneira de 0,075 mm o material assim obtido. c) proceder como descrito no item de peneiramento fino. 9 i) Ensaio de sedimentação A análise granulométrica por sedimentação (partículas 0,075 mm) baseia-se na lei de Stokes, que determina a velocidade final de uma esfera, de determinado diâmetro, caindo livremente em um meio fluido. Lei de Stokes:“Supondo uma esfera caindo através de uma massa líquida de extensão infinita, após os primeiros instantes da queda, a esfera atinge uma velocidade constante, que é função do quadrado do diâmetro da esfera.” v - velocidade de queda de partículas esféricas num fluido e que atinge um valor limite que depende: do peso especifico do material da esfera, do peso específico e da viscosidade do fluido, e do diâmetro da esfera. s - peso específico do material da esfera f - peso específico do fluido - viscosidade do fluido D – diâmetro da esfera A lei de Stokes será utilizada para calcular o diâmetro equivalente da partícula. 10 Quando uma amostra de solo é dispersa em água, as partículas decantam com velocidades diferentes, dependendo de sua forma, tamanho, peso e viscosidade da água. Para simplificar, assume-se que todas as partículas de solos são esferas e que sua velocidade pode ser expressa pela lei de Stokes, de acordo com v - velocidade de queda de partículas esféricas num fluido e que atinge um valor limite que depende: do peso especifico do material da esfera, do peso específico e da viscosidade do fluido, e do diâmetro da esfera. s - peso específico do material da esfera f - peso específico do fluido - viscosidade do fluido D – diâmetro da esfera L – altura de queda das partículas, com resolução de 0,1 cm, correspondente, à leitura do densímetro, em cm, obtida de sua curva de calibração. t – tempo de sedimentação, em s 11 𝐷 = 18 𝜂 𝑣 𝜌𝑠 − 𝜌𝑤 = 18 𝜂 𝜌𝑠 − 𝜌𝑤 𝐿 𝑡 Como a combinação das Equações fornece: Se a unidade de for (g . s)/cm2, de w for g/ cm3, de L for cm, de t for minutos, e de D for mm, então: ou, Assumindo w =1 g/cm 3 (massa específicada água à pressão normal e à temperatura de 25 °C): em que, Observe que: K é função de Gs e , e depende da temperatura de ensaio. 𝜌𝑠 = 𝐺𝑠𝜌𝑤 𝐷 = 18 𝜂 (𝐺𝑠 − 1) 𝜌𝑤 𝐿 𝑡 𝐷 (𝑚𝑚) 10 = 18 𝜂 [ g . s cm−2] (𝐺𝑠 − 1) 𝜌𝑤 (g . cm −3) 𝐿 (𝑐𝑚) 𝑡 min 𝑥60 𝐷 = 30 𝜂 (𝐺𝑠 − 1) 𝜌𝑤 𝐿 𝑡 𝐷 (𝑚𝑚) = 𝐾 𝐿 (𝑐𝑚) 𝑡 (min) 𝐾 = 30 𝜂 (𝐺𝑠 − 1) 12 Temperatura (0C) Gs 2,45 2,50 2,55 2,60 2,65 2,70 2,75 2,80 16 0,01510 0,01505 0,01481 0,01457 0,01435 0,01414 0,01394 0,01374 17 0,01511 0,01486 0,01462 0,01439 0,01417 0,01396 0,01376 0,01356 18 0,01492 0,01467 0,01443 0,01421 0,01399 0,01378 0,01359 0,01339 19 0,01474 0,01449 0,01425 0,01403 0,01382 0,01361 0,01342 0,01323 20 0,01456 0,01431 0,01408 0,01386 0,01365 0,01344 0,01325 0,01307 21 0,01438 0,01414 0,01391 0,01369 0,01348 0,01328 0,01309 0,01291 22 0,01421 0,01397 0,01374 0,01353 0,01332 0,01312 0,01294 0,01276 23 0,01404 0,01381 0,01358 0,01337 0,01317 0,01297 0,01279 0,01261 24 0,01388 0,01365 0,01342 0,01321 0,01301 0,01282 0,01264 0,01246 25 0,01372 0,01349 0,01327 0,01306 0,01286 0,01267 0,01249 0,01232 26 0,01357 0,01334 0,01312 0,01291 0,01272 0,01253 0,01235 0,01218 27 0,01342 0,01319 0,01297 0,01277 0,01258 0,01239 0,01221 0,01204 28 0,01327 0,01304 0,01283 0,01264 0,01244 0,01225 0,01208 0,01191 29 0,01312 0,01290 0,01269 0,01249 0,01230 0,01212 0,01195 0,01178 30 0,01298 0,01276 0,01256 0,01236 0,01217 0,01199 0,01182 0,01169 Tabela 2.6 – Valores de K (segundo a ASTM, 2004) 13 Procedimento do ensaio: • Do material passado na peneira de 2,0 mm (#10), tomar cerca de 120 g para solos arenosos, ou 70 g no caso de solos argilosos e siltosos para a sedimentação e o peneiramento fino. • Pesar esse material com resolução de 0,01 g e anotar como Mh. Tomar ainda cerca de 100 g para três determinações da umidade higroscópica (h) de acordo com a NBR 6457. • Transferir o material para um béquer de 250 cm3 , e juntar com o auxílio de uma proveta, 125 cm3 de solução de hexametafosfato de sódio, que age como defloculante. • Agitar o béquer até que todo o material fique imerso e deixar em repouso por, no mínimo, 12 horas. • Colocar a mistura no copo do dispersor, removendo-se com água destilada e utilizando a bisnaga, o material aderido ao béquer. • Adicionar água destilada até que seu nível fique 5 cm abaixo das bordas do copo. • Agitar a mistura no dispersor elétrico por 5 a 15 min. • Transferir o material disperso para a proveta de 1000 ml e remover, com água destilada e utilizando a bisnaga, o material aderido ao copo. 14 • Adicionar água destilada até atingir o traço de 1000 ml. • Agitar, frequentemente, com a baqueta de vidro para manter, tanto quanto possível, as partículas em suspensão. • Tapar, com uma das mãos, a boca da proveta e agitá-la, durante 1 min. • Imediatamente terminada a agitação, colocar a proveta sobre uma mesa, anotar a hora exata do início da sedimentação e mergulhar o densímetro na solução • Efetuar leituras do densímetro correspondentes aos tempos de sedimentação, t, de 0,5; 1 e 2 minutos. Retirar lenta e cuidadosamente o densímetro e colocá-lo em outra proveta com água destilada, à mesma temperatura do ensaio (procedimento a ser realizado após cada leitura). • Fazer as leituras subsequentes a 4, 8, 15 e 30 minutos; 1, 2, 4, 8 e 24 horas, a contar do início da sedimentação. Cerca de 15 a 20 segundos antes de cada leitura, mergulhar o densímetro na solução. As leituras devem ser realizadas na parte superior do menisco, após o densímetro ter ficado em equilíbrio. • Após cada leitura, exceto as duas primeiras, medir a temperatura da dispersão, com resolução de 0,1 0C • Após a última leitura, passar o material da proveta na peneira de 0,075 mm (#200) e lavar o material com água potável, removendo-se todo o material que tenha aderido à proveta. Esse material é usado no peneiramento fino. 15 ii) Peneiramento fino • Secar o material retido na peneira de 0,075 mm (#200) em estufa, entre 105 e 110 oC, até constância de massa. • Utilizando um agitador mecânico, passar o material seco nas peneiras de aberturas 1,2; 0,6; 0,42; 0,25; 0,15 e 0,075 mm. • Anotar, com resolução de 0,01 g as massas retidas em cada peneira. 16 iii) Peneiramento grosso (material retido na peneira # 10 - 2,0 mm) • Pesar o material depois de seco e anotar como Mg. • Utilizando um agitador mecânico, passar esse material nas peneiras de aberturas 50, 38, 25, 19, 9,5, 4,8 e 2,0 mm. • Anotar, com resolução de 0,01 g as massas retidas em cada peneira. 17 CÁLCULOS a) Massa total da amostra seca: em que, Ms - massa total seca da amostra Mt - massa da amostra seca ao ar Mg - massa do material seco retido na peneira de 2,0 mm (#10) h – umidade higroscópica do material passado na peneira de 2,00 mm (#10) b) Porcentagens dos materiais que passam nas peneiras de 50, 38, 25, 19, 9,5, 4,8 e 2,0 mm (material grosso) em que, Qg - porcentagem de material que passa em cada peneira Ms - massa total seca da amostra Mi - massa do material retido acumulado nas peneiras 𝑄𝑔 = 𝑀𝑠 − 𝑀𝑖 𝑀𝑠 𝑥 100 18 𝑀𝑠 = 𝑀𝑡 − 𝑀𝑔 1 + ℎ + 𝑀𝑔 c) Porcentagens de material em suspensão Qs - porcentagem do solo em suspensão no instante da leitura do densímetro N – porcentagem do material que passa na peneira de 2,0 mm, calculado conforme item b. s - massa específica dos grãos do solo, em g/cm 3 w - massa específica da água, à temperatura de calibração do densímetro (20 0C). Considerar 1,0 g/cm3 Lc – leitura corrigida do densímetro através da curva de calibração do densímetro, em função da temperatura e da presença de defloculante no meio fluido Ms - massa do material seco usado na suspensão, em g. - Diâmetro das partículas de solo em suspensão: 𝑄𝑠 = 𝑁 𝜌𝑠 𝜌𝑠 − 𝜌𝑤 𝐿𝑐 𝑀𝑠 𝐷 = 30 𝜂 (𝐺𝑠 − 1) 𝜌𝑤 𝐿 𝑡 19 d) Porcentagens dos materiais que passam nas peneiras de aberturas de 1,2; 0,6; 0,42; 0,25; 0,15; e 0,075 mm (material fino): Qf - porcentagem de material passado em cada peneira Mh - massa do material úmido submetido ao peneiramento fino ou à sedimentação, conforme o ensaio tenha sido realizado apenas por peneiramento ou por combinação de sedimentação e peneiramento, respectivamente. h – umidade higroscópica do material passado na peneira de 2,00 mm (#10) Mi - massa do material retido acumulado nas peneiras N – porcentagem do material que passa na peneira de 2,0 mm, calculado conforme item b. 20 𝑄𝑓 = 𝑀ℎ − 𝑀𝑖(1 + ℎ) 𝑀ℎ 𝑁 21 ESQUEMA DO ENSAIO DE GRANULOMETRIA CURVA DE DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA. Calculadas as porcentagens para cada peneira, os cálculos são colocados em um papel gráfico semilogarítmico com a porcentagem mais fina no eixo das ordenadas (escala aritmética) e o tamanho da abertura das peneiras como abscissa (escala logarítmica). A escala das ordenadas é crescente, de baixo para cima e a das abscissas cresce a partir da esquerda. 22 Exemplo de curva granulométrica 23 Uma curva de distribuição granulométrica mostra não somente os tamanhos de partículas presentes em um solo, mas também o tipo de distribuição de partículas de vários tamanhos. 24 A curva 1 representa um tipo de solo no qual a maior parte dos grãos é do mesmo tamanho. Solo mal graduado ou uniforme. A curva 2 representa um tipo de solo no qual o tamanho das partículas são distribuídos sobre uma ampla faixa, chamado de bem graduado. 1 - 2 - Na curvaIII O tipo de solo apresenta granulometria descontínua. 25 3 - Uma curva de distribuição granulométrica pode ser utilizada para determinar alguns parâmetros de um solo. Diâmetro efetivo (D10): É o diâmetro das partículas correspondente aos 10% em peso total de todas as partículas menores que ele (ou seja, partículas mais finas). O valor de D10 de um solo granular fornece uma das informações necessárias para o cálculo da permeabilidade, utilizado no dimensionamento de filtros e drenos. 26 Coeficiente de uniformidade (Cu): em que D60 é o diâmetro correspondente a 60% mais finos. O coeficiente de uniformidade dá uma idéia da inclinação da curva. Quanto menor, Cu , maior é a inclinação da curva granulométrica. O solo é melhor graduado, segundo a seguinte classificação: Cu < 5 muito uniforme 5 < Cu < 15 uniformidade média Cu > 15 não–uniforme ou desuniforme (bem graduado) Quanto maior o coeficiente de uniformidade, melhor é a curva granulométrica do solo. 27 Coeficiente de curvatura (Cc): Dá uma medida da forma e da simetria da curva granulométrica em que D30 e D60 : diâmetros correspondentes a 30% e 60% em peso total das partículas menores que eles. Solos bem graduados têm 1 < CC < 3. 28 29 Obtenção de D10, D30 e D60. da curva granulométrica