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Universidade de Brasília 
Instituto de Ciências Humanas 
Departamento de História 
Fundamentos do Ensino de História 
 
1° semestre de 2017 
 
 
 
 
ENSAIO CRÍTICO 
 
Juliana Silva Santos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília/DF 
 
Junho de 2017 
1 
Discutir o ensino de história é pensar os processos formativos que se 
desenvolvem nos diversos espaços, é pensar fontes e formas de educar cidadãos, 
numa sociedade complexa marcada por diferenças e desigualdades. (Fonseca 
2003) 
 
Este ensaio crítico tem como objeto a Base Nacional Comum Curricular 
(BNCC, 3ª versão), e tem por intuito a análise crítica desta levando em consideração alguns 
dos avanços e retrocessos que apresenta. 
Um dos primeiros pontos que se destacam é a respeito da história das culturas afro-
brasileira e indígena. Sobre o ensino da história dos negros e dos povos indígenas lê-se: 
 
A valorização da história da África e das culturas afro-brasileira e indígena ganha 
realce não apenas em razão do tema da escravidão, mas, especialmente, por se 
levar em conta a história e os saberes produzidos por essas populações. (Base 
Nacional Comum Curricular (3ª versão), 367) 
 Contudo, com a análise dos objetos de conhecimento das unidades temáticas, nota-
se que a abordagem histórica destes povos ainda é caracterizada por sua subjugação. Alguns 
destes “objetos de conhecimento” são: 
 
A tutela da população indígena, a escravidão dos negros e a tutela dos egressos da 
escravidão; Políticas de extermínio do indígena durante o Império; Identificar e 
explicar, em meio a lógicas de inclusão e exclusão, as pautas dos povos indígenas, 
no contexto republicano (até 1964), e das populações afrodescendentes. (Base 
Nacional Comum Curricular (3ª versão), 374, 376, 379) 
Assim, ainda se encontra o predomínio de parâmetros eurocêntricos e o predomínio 
da imagem destes povos que foi construída, registrada e contada por não-negros e por não-
índios. Ou seja, podemos notar um retrocesso no que diz respeito à abordagem histórica de 
negros e indígenas. Enquanto que os parâmetros curriculares de 1998 traziam em seus eixos 
temáticos, por exemplo: 
 
Relações de trabalho em diferentes momentos da História brasileira:  O trabalho entre os povos indígenas hoje; a divisão de trabalho entre sexo, 
idade etc. em comunidades indígenas específicas; produção de alimentos e de 
utensílios pelos povos indígenas;  Escravização, trabalho e resistência indígena na sociedade colonial; tráfico 
de escravos e mercantilismo; escravidão africana na agricultura de exportação, na 
mineração, produção de alimentos e nos espaços urbanos; lutas e resistências de 
escravos africanos e o processo de emancipação; trabalho livre no campo e na 
cidade após a abolição; o trabalhador negro no mercado de trabalho livre; 
imigração e migrações internas em busca de trabalho. (MEC, 60,61) 
 
 
2 
Apesar de não “trazer” a história contada por negros e indígenas, os parâmetros 
propunham o estudo de diferentes culturas e sociedades indígenas; e também formas de lutas 
e resistencias dos escravos africanos. 
Sobre questões de gênero e história das mulheres, a base traz somente os seguintes 
pontos: 
  Questões de gênero, o anarquismo e protagonismos femininos.  Relacionar as conquistas de direitos políticos, sociais e civis à atuação de 
sindicatos, anarquistas e grupos de mulheres. 
Outro aspecto que chama a atenção no texto da base curricular é a questão do 
ordenamento cronológico dos “eventos considerados importantes na história do Ocidente 
(África, Europa e América, especialmente o Brasil) ”. Essa ênfase na apresentação dos 
eventos de forma cronológica reforça a concepção (retrógada) da história como uma 
sucessão cronológica de fatos, reforça a ideia de uma evolução linear dos eventos históricos. 
Ênfase, que também se encontra presente nos parâmetros de 1998: 
 
 Referenciar e localizar cronologicamente os povos estudados; 
identificar e refletir sobre os ritmos de transformação das relações 
sociais e culturais dos povos e nas suas relações com a natureza.  Referenciar e localizar cronologicamente as relações sociais de 
trabalho e identificar as suas durações no tempo. (MEC, 60,62) 
 
 Em suma, a partir destes poucos temas que aqui foram levantados, pode-se observar 
apenas alguns retrocessos e continuidades que a nova Base Nacional Comum Curricular traz 
consigo. A seleção dos conteúdos escolares é uma questão que necessita de intenso tento e 
reflexão, pois “constitui a base do domínio do saber disciplinar dos professores”1. 
 
1 (Bittencourt 2008, 138) 
3 
Bibliografia 
Em Base Nacional Comum Curricular (3ª versão), 367-381. 2017. 
Bittencourt, Circe. Em Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 
2008. 
Fonseca, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história. Campinas: Papirus 
editora, 2003. 
MEC, BRASIL. Ministerio da educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: História 
(terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental). Brasilia: MEC/SEF, 1998. 
ZAMBONI, Ernesta, e Maria Aparecida. BERGAMASCHI. “Povos Indígenas e Ensino de 
História: memória, movimento e educação.” Congresso de Leitura do Brasil, 2009.