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PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA CLÁUDIA REGINA FILIPPI A Preservação de Documentos Públicos Como Instrumento de Garantia do Acesso a Informação VALINHOS - SP 2019 CLAUDIA REGINA FILIPPI A Preservação de Documentos Públicos Como Instrumento de Garantia do Acesso a Informação Trabalho de Conclusão de Curso, sob a forma de Artigo Científico, apresentado a Universidade Candido Mendes (UCAM), como requisito obrigatório para a conclusão do curso de Pós-graduação Lato Sensu em Gestão Pública. Valinhos - SP 2019 A preservação de documentos públicos como instrumento de garantia do Acesso a Informação Claudia Regina Filippi 1 RESUMO Tendo como problema o que contribui para assegurar a ampla previsão legal da necessidade de preservação dos documentos, como forma de atender a prerrogativa dos órgãos públicos de transparência na gestão da informação. Tomam-se por base os iminentes riscos a que a maioria dos acervos estão expostos que comprometem a garantia de acesso, no caso de ocorrer à destruição do papel que registra essas informações. Aborda-se a partir dessa problemática, a previsão legal e possibilidades de punição ao não cumprimento e a partir daí, uma análise dos problemas mais comumente apresentados que colocam em risco o suporte da informação: o papel. Oferecendo possibilidades de soluções viáveis e que garantem a vida útil da informação a ser preservada para consulta atemporal. Palavras-chave: Informação, Transparência, Preservação, Documento, Arquivo. 1 Formada em Administração de Empresas, atua na área pública há seis anos com projetos e atuação na área de Arquivo e Acesso a Informação. 3 INTRODUÇÃO O documento público é o instrumento que possibilita o cumprimento das legislações acerca da transparência, principalmente a Lei Federal nº 12.527/11 denominada Lei de Acesso à Informação. Para que a informação seja sempre acessível, os órgãos públicos necessitam gerir seus acervos e protege-los contra ameaças, garantindo vida útil necessária ao documento, até mesmo quando este é de Guarda Permanente. Para tanto, este Artigo foi desenvolvido com base na necessidade legal de guarda e preservação do documento público onde apresentei legislação pertinente dentro da Seção: A PREVISÃO LEGAL DA PRESERVAÇÃO DOS DOCUMENTOS. Na Seção: A PRESERVAÇÃO DOS DOCUMENTOS, abordo sobre as fases de vida do documento e a necessidade de ações e desenvolvimento de Planos de Preservação que assegurem o suporte da informação estável e saudável para consulta. Já na Seção FATORES DE RISCO AO ACERVO DOCUMENTAL E SOLUÇÕES, apresento um estudo feito junto a um arquivo público, o da Câmara Municipal de Valinhos, onde identifiquei os principais fatores de risco à preservação do documento e possíveis soluções para minimizar o risco ao documento público. A gestão dos documentos públicos é um processo arquivístico que procura intervir no ciclo de vida dos documentos, visando manter saudáveis as informações para consulta em todo ciclo de vida até a destinação final do documento, que pode ser a eliminação ou a guarda permanente. 4 A PREVISÃO LEGAL DA PRESERVAÇÃO DOS DOCUMENTOS A preservação dos documentos nos órgãos da Administração Pública visa possibilitar o acesso à informação atemporal. Seja por necessidade legislativa, administrativa ou histórica. Preservar é manter saudável o documento. Não existe o que preservar se não houver correta gestão dos documentos. A definição de documento pode ser considerada como “Unidade de registro de informações, qualquer que seja o formato ou o suporte.” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 73) A Constituição Federal estabelece que é dever do poder público promover a proteção do patrimônio histórico-cultural e assegurar a gestão dos documentos públicos: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, a ação, a memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: (...) IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico culturais; (...) §2º Cabe à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos ela necessitem. (CONSTITUIÇÂO FEDERAL, 1988, p.126) Já a Lei Federal nº 8.159/91 que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências, determina que cabe igualmente às administrações públicas institucionalizar por meio de legislação específica seus arquivos: Art. 1º - É dever do Poder Público a gestão documental e a proteção especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de prova e informação. (...) Art. 17 - A administração da documentação pública ou de caráter público compete às instituições arquivísticas federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais. (Brasil, 1991) Dentre as finalidades da gestão documental na administração pública encontra-se, além da preservação do patrimônio e de possibilitar um instrumento de 5 gestão necessário à eficiência pública, a de assegurar a transparência mediante o acesso à informação a todos. O acesso à informação encontra-se elencado no rol do art. 5º da Constituição Federal como direito fundamental: Artigo 5º – (...) XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (CONSTITUIÇÂO FEDERAL, 1988, p.14) Posteriormente, a Lei Federal nº 12.527/11 denominada Lei de Acesso à Informação regulou a matéria trazendo com principais inovações, a divulgação máxima; a não exigência de motivação; limitação das exceções, gratuidade da informação e transparência passiva. Art. 1o Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3º do art. 37 e no . (...) Art. 6o Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a: I - gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua divulgação; II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilidade, autenticidade e integridade; e III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, observada a sua disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrição de acesso. (Brasil, 2011) A PRESERVAÇÃO DOS DOCUMENTOS A informação pública é registrada em documentos, e para que o acesso a essa informação possa ser garantido, é necessário que as instituições pensem em Planos de Preservação para seu acervo documental, em primeiro lugar através do conhecimento da natureza destes, que em sua grande maioria são constituídos por http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art5xxxiii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art37%C2%A73ii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art37%C2%A73ii 6 livros, mapas, fotografias, obras de arte, revistas, manuscritos etc. e que utilizam, em grande parte o papel como suporte da informação. Cassares, p.13 nos diz: Conhecendo-se a naturezados materiais componentes dos acervos e seu comportamento diante dos fatores aos quais estão expostos, torna-se bastante fácil detectar elementos nocivos e traçar políticas de conservação para minimizá-los. O papel pode sofrer inúmeros danos físicos e químicos que resultam na perda da informação registrada, em curto, médio ou longo prazo. A preservação deve oferecer ferramentas para mantê-lo estável. A manutenção preventiva visa minimizar os fatores existentes que causam ou aceleram a deterioração. O ciclo de vida de um documento segundo Bernardes, 1998 corresponde a: 1a. idade- CORRENTE São documentos vigentes, frequentemente consultados; 2a. idade - INTERMEDIÁRIO Atingiram o final da vigência; documentos que aguardam prazos longos de prescrição ou precaução e são raramente consultados estão aguardando a destinação final: eliminação ou guarda permanente e 3a. idade - PERMANENTE São documentos que perderam a vigência administrativa, porém são providos de valor secundário ou histórico-cultural. O período crítico para a degradação do papel é o corrente, nesta fase os danos mais comuns são físicos: rasgos, amassos, metalização (grampos, clipes, bailarinas) e falta de suporte correto, que acarretam a perda da informação registrada. FATORES DE RISCO AO ACERVO DOCUMENTAL E SOLUÇÕES O acervo documental é exposto a diversos fatores de risco, onde corretamente implantado um Plano de Preservação, podem ser minimizados ou eliminados, garantindo assim a vida útil dos documentos, principalmente os de guarda permanente. Um estudo realizado junto ao Arquivo da Câmara Municipal de Valinhos, órgão do Poder Legislativo na cidade do interior de São Paulo, que possui um arquivo pequeno, principalmente pelo fato do município ter sido criado em 1953, tendo menos de 70 anos de acervo, onde foram identificados os principais fatores de 7 risco, os danos que podem causar e a possível solução, que pode ser considerado comum a muitos acervos de documentos, são estes: ALTA TEMPERATURA OU VARIAÇÕES BRUSCAS A alta temperatura acelera a reação química gerada por microrganismos, causando perdas totais ou irreparáveis ao papel. A variação brusca causa craquelamento da tinta, ondulações nos papéis e capas, assim como dano as emulsões fotográficas. Como forma de controle e prevenção, sugere-se aquisição de termômetro para controle ambiental e manutenção da temperatura em nível estável. ARMAZENAGEM EM CAIXA DE PAPELÃO Para que tenha durabilidade o papel precisa ser alcalino como a folha sulfite, por ser ácido, o papelão transfere a acidez ao acervo. O papelão também aumenta o risco de ataques biológicos e por microrganismos, visto que é feito de material metabolizado por estes agentes. Para prevenção, o ideal é que o documento seja armazenado em caixa de material conhecido como poliondas. ARMAZENAGEM OU TRANSPORTE INADEQUADO A compressão excessiva do papel quebra as moléculas de celulose, fazendo que diminua o tempo de vida. As dobras são permanentes, não há meios das fibras do papel voltarem à posição original. O ideal seria colocar as caixas na vertical e fazer suportes para que os papeis fiquem perfeitamente encaixados. E para o transporte, o carrinho de transporte evita possíveis acidentes. COLOCAÇÕES DE FITAS ADESIVAS OU COLAS IMPROPRIAS. As fitas adesivas quebram as moléculas de celulose do papel e escurecem as áreas que as recebem, só é possível retirar fitas adesivas com produtos químicos prejudiciais à saúde. Neste caso, o ideal é no Plano de Preservação prever a não utilização destes materiais e a substituição por fitas e colas próprias para papeis de arquivo. 8 METALIZAÇÃO A colocação de clipes, grampos e suportes metálicos, pode produzir oxidação do papel, havendo o risco de perda total da informação registrada neste, além de contaminar papeis que estejam em contato. Neste caso, a prevenção de utilização de materiais metálicos em documentos e a substituição por elementos de plástico, e no caso de necessidade, cuidar para proteger o documento com invólucros de polipropileno sobre o metal. ALIMENTOS Restos ou rastros de comida, mesmo que humanamente imperceptível, atraem insetos e roedores responsáveis por danos irreparáveis ao acervo. Uma solução seria proibir alimentos dentro de arquivos e estabelecer hábitos e rotinas para evitar alimentos em contato com os documentos no período corrente, como por exemplo, não guardar comida dentro das salas de trabalho que contenham arquivos correntes, não comer próximo a realização de tarefas junto aos processos. Necessário trabalhar isso em todo prédio, criando hábitos e práticas que evitem a proliferação de agentes que atacam papel como ratos e baratas. EXTREMOS DE UMIDADE NO AMBIENTE A alta umidade associada a microrganismos destrói o acervo principalmente por bolor, cujo responsável é um fungo que metaboliza a celulose. A baixa umidade quebra as moléculas de celulose, tornando o papel quebradiço. A solução seria semelhante ao controle de temperatura, aquisição de aparelho para controle da umidade ambiental, e intervenção em caso de registro de extremos, com medidas como desumidificador, ventilador, sílica gel para manter a estabilização diária. POEIRA, POLUENTES E SUJEIRA Poeira e sujeira trazem microrganismos que aceleram a deterioração, por isso é necessário manter uma rotina correta de limpeza, sem agua em excesso, e utilizando álcool a 70% e aspirador de pó. Poeira associada à água pode gerar ácidos e gases tóxicos tanto ao ser humano quanto ao acervo. 9 CRIMES: ROUBO, FURTO E VANDALISMO. Outro fator de risco que pode ser minimizado com implantação de políticas de consulta ao acervo e medidas de segurança ao local de acervo são os crimes como roubo, furto ou vandalismo. CONTAMINAÇÃO BIOLÓGICA POR INSETOS E ROEDORES Pragas e Roedores podem causar danos físicos e contaminação biológica por fungos, que podem ter graves consequências sobre o acervo, causando a perda do suporte ou como nos diz Cassares (2000, p.25) sobre os documentos danificados por esses agentes biológicos, são levados a um processo de deterioração que progressivamente resultará na perda total. Para minimizar a possibilidade desses ataques é necessário no Plano de Preservação prever a limpeza periódica e intervenções físicas em portas, janelas e possíveis ralos e entradas. A higienização e observação periódica do acervo e no caso de identificação de algum ataque deve-se contratar serviço especializado na intervenção e eliminação junto a arquivos. INCÊNDIOS E INUNDAÇÕES O fogo pode consumir todo o acervo, assim como a agua, que além da destruição pode proliferar microrganismos. Para evitar esse tipo de risco, é necessário que a elétrica e hidráulica da sala seja periodicamente vistoriada, e se façam manutenções preventivas, além de evitar que as salas de acervos estejam em áreas com riscos de enchentes. LUZ SOLAR OU ARTIFICIAL O acervo não deve ficar exposto à luz solar, e as lâmpadas devem ser adequadas que não emitam radiação UV, pois causam oxidação além de desbotar e amarelar as tintas e papeis. Para isso devem-se usar lâmpadas com tecnologia LED. É necessário colocação de filtros de luz nos vidros. 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS A intenção deste artigo foi de apresentar a exigência legal de zelo pelo documento público como forma de preservação da transparência nas ações do governo, e discorrer sobre os principais riscos que se encontram em nossos Arquivos Públicos, assunto que vem ganhando importância e destaque cada vez maiores desde a Lei da Transparência (Brasil, 2011), assim também como a adoção de medidas punitivas por parte dos agentes fiscalizadores sobre a má gestão do documento público. Junto ao Arquivo Público da Câmara Municipal de Valinhos, cidadedo interior do estado de São Paulo, além de conhecer os principais fatores de risco, pude traçar metas e planos que podem minimizar em médio e longo prazo esses problemas, sendo que considero a falta de conhecimento e resistência sobre o assunto o maior de todos. Para tanto, verifica-se que normatizações internas e simples sobre a Gestão do Documento, desde o seu nascimento até o recolhimento para guarda permanente são necessárias para trazer conhecimento e boas práticas; adaptações e adequações no espaço físico e nos materiais de acondicionamento do acervo; implantação de Plano de Preservação coordenada por grupo de gerenciamento de riscos; implantação de checagem de limpeza e segurança. Medidas simples e de baixo custo que iniciam um processo de conscientização e preservação da memória, para que as informações registradas nos documentos públicos possam ser acessadas quando necessário, para boas praticas de gestão pública e transparência. 11 REFERÊNCIAS ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística. Rio de Janeiro: 2005. BERNARDES, Ieda Pimenta. Como avaliar documentos de arquivo. São Paulo: Arquivo do Estado, 1998. Como fazer, 1. Disponível em: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/saesp/texto_pdf_10_Como_Avaliar_Documento s_de_Arquivo.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2019. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasil, DF: Senado Federal, 1988. BRASIL. Lei n° 8.159, de 08 de janeiro de 1991. República Federativa do Brasil, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L8159.htm>. Acesso em: 21 mar.. 2019. BRASIL. Lei n° 12.527, de 18 de novembro de 2011. República Federativa do Brasil, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em: 09 jan. 2019. BRASIL. Ministério da Justiça. Arquivo Nacional. Gestão de documentos: conceitos e procedimentos básicos. Rio de Janeiro, 1993. (Série Publicações Técnicas, n. 47). CASSARES, Norma Cianflone. Como Fazer Conservação Preventiva em Arquivos e Bibliotecas. São Paulo: Arquivo do Estado, 2000. NOSSA CIDADE: HISTÓRIA. Desenvolvido pela Câmara Municipal de Valinhos. Disponível em: http://www.valinhos.sp.gov.br/nossa-cidade/historia. Acesso em 21 de março de 2019. http://www.arquivoestado.sp.gov.br/saesp/texto_pdf_10_Como_Avaliar_Documentos_de_Arquivo.pdf http://www.arquivoestado.sp.gov.br/saesp/texto_pdf_10_Como_Avaliar_Documentos_de_Arquivo.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm http://www.valinhos.sp.gov.br/nossa-cidade/historia