Prévia do material em texto
CORREÇÃO ATIVA DE FATOR DE POTÊNCIA TRIFÁSICO USANDO MICROCONTROLADOR Valdir Noll – 1Carlos Fassheber Jr. - Nelso Gauze Bonacorso Ingo Schmidt - Alberto Assink de souza Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina – CEFET/SC Av. Mauro Ramos, 950 - Centro Fone: ( 048 ) 221-0600 - Fax: ( 048 ) 224 - 0727 CEP 88020-310 - Florianópolis - SC - Brasil vnoll@cefetsc.edu.br 1 Engenheiro Eletricista pertencente à CELESC/SC Resumo - Este trabalho descreve um sistema de controle microprocessado que mede o ângulo de defasagem entre a tensão e a corrente da rede elétrica trifásica, mostra em display o fator de potência e aciona bancos de capacitores com o objetivo de corrigir automaticamente o fator de potência. Conforme a demanda em tempo real, ele mantém o fator de potência dentro dos limites estabelecidos pela concessionária de energia elétrica ou pelo usuário. Este sistema apresenta um equipamento didático com comunicação de dados via porta serial e um programa didático “for Windows”. Abstract - This work describes the Microprocessor Control System which measures the displacement angle between voltage and current across the tree phase line, show in display the Power Factor, and fires capacitors banks with the objective of automatic correction. According to demand in real time, it maintains the Power Factor within the limits established by Electric Energy Concessionary or by the user. This system is composed of didactic equipment with serial communication and one programm for Windows. I. INTRODUÇÃO De acordo com a portaria 1.569 de 23/12/93 do DNAEE, o fator de potência mínimo exigido é de 0,92 (a partir de março/96), medidos de acordo com a média horária, impondo multas para os usuários que não estiverem de acordo com esta portaria. Portanto, torna-se necessário um sistema que realize a correção do fator de potência em tempo real, de acordo com o consumo de energia elétrica. Para isso foi desenvolvido um sistema de controle microcontrolado de fator de potência que resolvesse este problema. Este sistema realiza a medida em tempo real do fator de potência da rede trifásica, exibe este valor em display, a cada ciclo, e controla o acionamento de bancos de capacitores, de tal forma, que mantenha o fator de potência entre um valor indutivo e um valor capacitivo definido pelo usuário (que pode variar desde 0 até 1) e executa um algoritmo de acionamento tal que mantenha o fator de potência dentro desses limites e ainda proporcione um aumento da vida útil dos bancos de capacitores. Optou-se por usar a designação de “fator de potência”, porque se considera que as cargas são lineares. Caso isso não seja verdadeiro, o que será medidos e controlado é o “fator de deslocamento”. II . DESCRIÇÃO DO SISTEMA O projeto consiste de um sistema de controle microprocessado, sensores de corrente e tensão, display, circuitos de disparo e circuito de potência. Os sensores enviam sinais para um circuito que contém 3 contadores de 9 bits, disparados pela subida da tensão, na passagem por zero, e os contadores param de contar quando a corrente passa por zero na transição de subida. Esse circuito externo ao microcontrolador tem ainda a função de determinar se o fator de potência é capacitivo ou indutivo, determinar a ausência de tensão e ausência de corrente (sem carga). Esse circuito complexo foi implementado usando um PLD da Altera. O microcontrolador (mc 8031, da Intel) é interrompido para ler os valores dos contadores e calcular o co-seno determinando o fator de potência, mostrando este valor em um display. Com o valor calculado, o microcontrolador decide se conecta ou desconecta o próximo banco capacitivo na rede trifásica. O sistema permanece monitorando o fator de potência a cada passagem por zero da tensão da rede, e corrigindo-o cada vez que for necessário. Admite, porém, um tempo de estabilização em ciclos da rede, evitando a entrada ou a saída de bancos capacitivos em transitórios da carga (valor esse configurável pelo usuário). Além disso, o sistema tem comunicação serial de dados, armazenamento de dados em memória não-volátil e um relógio de tempo real, com bateria própria, para armazenar as datas e horário em que ocorreram eventos principais, com o objetivo de realizar uma monitoração posterior de todo o comportamento do sistema. Na figura 1, vemos o diagrama de blocos do sistema completo. Figura 1 - Diagrama de blocos do Sistema de Correção de Fator de Potência Trifásico O circuito de acionamento dos bancos capacitivos é feito por meio de relés de estado sólido (SCRs), garantindo a entrada dos bancos em zero de rede . Aumenta-se com isso a vida útil dos SCR's e também dos capacitores, evitando uma corrente elevada no acionamento. O desligamento dos bancos é feito em zero de corrente, pois o SCR desliga naturalmente em zero de corrente. Com isso a comutação nos SCR's é ZVS na partida e ZCS no bloqueio. O circuito detector de zero de tensão e zero de corrente é mostrado na figura 2a e 2b. a) Detector de zero de corrente b) Detector de zero de tensão. Figura 2 – Circuito detector de zero de tensão e de corrente. A cada término de contagem (por fase) o PLD gera um sinal de interrupção ao microcontrolador, avisando-o de que está pronto mais uma aquisição. O Microcontrolador lê a saída do contador e calcula o co- seno do tempo, a fim de determinar o fator de potência. As formas de onda principais deste sistema são mostradas na figura 4, destacando-se que o sinais Vr e Ir que atuam na borda de subida a cada vez que ocorre um zero de tensão ou corrente (inclinação positiva). Figura 4 - Formas de onda do circuito detector de Cosjj O circuito microprocessado é o principal componente do sistema, sendo o responsável pelo cálculo do fator de potência, pelo envio do resultado ao display, pela comunicação serial, pelo controle e pelo disparo dos SCR’s por zero de tensão. Além disso ele é o responsável pela lógica de disparo, pela verificação da estabilização do sinal e pela monitoração dos bancos capacitivos e SCR’s, podendo detectar qual banco ou SCR está com defeito. Mostra-se na figura 5 o diagrama esquemático do sistema microcontrolado. Figura 5 - Diagrama esquemático do sistema de controle A rotina de controle é simples. No inicio é recomendado ao usuário inicializar a rotina de check-up dos bancos capacitivos para ver se todos os bancos estão funcionando adequadamente. Caso algum banco não funcione, será marcado como “banco em falha”. O usuário determina os limites de controle do fator de potência e se quer que o sistema funcione no modo de controle automático ou no modo de controle manual. Então o sistema de controle se preocupa em corrigir o fator de potência nas três fases em tempo real, de acordo com a necessidade. Além de corrigir o fator de potência, o sistema de controle se preocupa com a taxa de utilização de cada banco capacitivo. Para isso, utiliza a lógica de controle conhecida como FIFO - First In First Out - fazendo com que o primeiro banco a entrar em ação seja também o primeiro banco a ser desligado. Este sistema possibilita a rotação do banco capacitivo, distribuindo a taxa de utilização entre todos os bancos, aumentando desta forma a vida útil e evitando o uso excessivo dos primeiros bancos do sistema. A rotina de estabilização do sinal só comanda a entrada de um banco se e somente se o valor da medição estabilizou-se por um certo tempo, estabelecido em ciclos de rede pelo usuário, evitando a entrada do banco capacitivo quando houver transitórios na rede. O diagrama de blocosbásico do software é mostrado na figura 6. INICIO MEDE A DEFASAGEM NAS 3 FASES FILTRO DIGITAL A 1Hz FP DENTRO DOS LIMITES COMUTA BANCO ATUALIZA DADOS SERIAL/DISPLAY ESTABELECE COMUNICAÇÃO SERIAL S ATUALIZAR DADOS ATUALIZA DADOS SERIAL/DISPLAY Figura 6 - Diagrama de Blocos do Controle III. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Foi montado um protótipo trifásico, com 8 bancos capacitivos, sendo 6 em Delta e 2 em Y, com 3 motores monofásicos de 1/3 CV, 3 motores trifásicos de 1 CV e 3 cargas resistivas de 600W. Neste protótipo podemos variar a fase em que a carga será colocada. para verificar os resultados experimentais. Procurou-se desenvolver um protótipo que mostrasse que, à medida que a carga fosse ligada por meio de chaves, os bancos capacitivos fossem sendo acionados, mantendo o Fator de Potência dentro dos limites impostos pelo usuário Apresentamos a foto da montagem prática experimental na figuras 7 e 8, onde vemos as cargas, os bancos de capacitores e os relés de estado sólido. Figura 7 – Equipamento desenvolvido como Corretor Automático de fator de Potência. Figura 8 - Foto interna do equipamento. Correção do fator de potência sem que ocorram picos de corrente na entrada dos bancos capacitivos, conhecido como “entrada em ZVS”, pois o chaveamento do banco se dá no exato momento em que a rede elétrica passa por zero de tensão, mesmo em sistemas trifásicos (tem que se detectar a diferença de potencial entre duas fases). A figura 9 mostra a tensão e a corrente num dos ramos de um banco capacitivo conectado em Y entrando em zero de tensão e na figura 10 mostra a saída em zero de corrente. Figura 9 - Tensão de fase (Ch 1:75V/Div) e corrente de carga no capacitor( Ch2: 1A/Div) Figura 10 – Saída do banco em zero de corrente (CH1 :75V/div ; CH2: 1A/div ) A seguir, as figuras 11 e 12 mostram a ação do controle para as carga máxima colocada. Observe que o sistema de controle mantém o fator de potência entre os limites estabelecidos pelo controle (neste caso 0,92 indutivo e 0,92 capacitivo) Figura 11 – Comportamento com carga máxima no barramento. O Cosff é 0,0 indutivo. (CH1 :75V/div ; CH2: 5A/div ). Figura 12- Correção com a colocação automática dos bancos capacitivos. O Cosff é 0,96 capacitivo. (CH1 :75V/div ; CH2: 5A/div). Além disso, vemos na figura 13 os gráficos gerados pelo programa “for Windows” desenvolvido para receber os dados vindos do microcontrolador, mostrando em tempo de atualização de 1 segundo o comportamento do fator de potência do sistema trifásico, de três maneiras distintas. Figura 13- Formas de visualização do fator de potência em tempo real. Nas figuras 14 e 15 temos uma visão geral da interface entre o usuário e o equipamento, permitindo-o configurar,, armazenar e visualizar os principais dados do sistema de controle. Figura 14 – Tela Principal do Programa Figura 15 – Menu de configurações do equipamento Na figura 16 vemos o sistema mecânico inovador de variação de carga mecânica nos motores de indução. O Sistema de Frenagem é um conjunto para simulação de carga nos motores elétricos. Projetado exclusivamente para esta aplicação, tem como características a robustez e rigidez do conjunto devido à simplicidade das peças, conferindo pouca vibração, baixo ruído, vida longa dos componentes, baixa manutenção, ajuste manual de carga de forma gradativa, com precisão e pequeno esforço. Consta de um sistema operado manualmente, onde o usuário, por meio do giro do Manipulo (08) transmite a carga para a mola interna (10). Esta empurra o Eixo (09) e a Pastilha Móvel (04), pressionando o Disco (02) contra a Pastilha Fixa (03), presa ao corpo do Motor Elétrico (01). O conjunto Pastilha Móvel (04), Eixo (09) e Mola (10) estão apoiados na Bucha (06), e esta fixa ao corpo do Motor Elétrico (01) junto com o espaçador (05). Figura 16 – Sistema de frenagem de motores com a numeração dos principais elementos IV. CONCLUSÃO Este sistema permite a correção automática do fator de potência de uma instalação trifásica industrial, mantendo o fator de potência dentro da faixa especificada pelo DNAEE, proporcionando também o aumento da vida útil dos capacitores, pela melhor taxa da utilização de cada banco e pelo acionamento em zero de tensão, o que lhe confere uma característica de menor corrente de partida do que os sistemas convencionais (usando contactoras) O uso de microcontroladores para o controle torna o sistema flexível, de baixo custo, configurável por software, permitindo monitorar a falha de algum banco, sinalizando qual o banco que está com problemas. Além disso, é possível conectá-lo a um sistema de controle industrial que se comunique com o microcontrolador, informando a qualquer momento as condições do sistema de potência. As vantagens inerentes de se ter um fator de potência unitário são incorporadas a este projeto e não são aqui salientadas. Maiores informações podem ser obtidas por e-mail: vnoll@cefetsc.edu.br. V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] - Barbi, I. Power Eletronics - UFSC, 1981. [2] - Lander, Cyril W. - Industrial Eletronics: Therys and Aplications - Mc. Graw Hill, 1988. [3] - MCS-51 Family of Single Chip Microcomputers User’s Manual - Intel Corporation, 1981. [4] - Wood, P. Switching Power Converters - Van Nostrand, 1981. [5] - Reis, L.O.Matos. Switching Capacitor Banks without Inrush Current - COBEP’95. [6] - Semikron Semiconductors - User’s Guide. [7] - WEG- Catalog of the Automatic Bank for Corretion of Power Factor. Jaraguá do Sul - Brasil. [8] - BELUK Gmbh - Catalog of the BLC-MC Regulation of Power Factor. Munich - Germany. 8 9 4 3 2 6 [9] - Noll, V. Monitoring and Control System of the Battery Banks by Microcontroller. INEP-UFSC,Jun 1993. [10] - Bonacorso, N.G.; Microcontrolled Didactic Module of Power Electronics.- COBEP’95. [11] – Noll, v., Bonacorso n. g., Bosco, g. t., Scheunemann, l. jr., Silveira, e Santos, M. P. Corretor Instantâneo de Fator de Potência usando Microcontrolador . IV Congresso Brasileiro de Eletrônica de Potência – COBEP’97, p.461-465, Belo Horizonte, Minas Gerais, Dezembro, 1997. [12] - MANUAL de Correção do Fator de Potência. Empresa WEG. [13] - MANUAL de Relês de Estado Sólido. JONFRA – Automação Industrial. [14] - NORMA para Instalação de Capacitores. Centrais Elétricas de Santa Catarina – CELESC. [15] - Protocolo MODBUS em http://ww.modbus.org.