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Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Economia e Relações Internacionais Graduação em Relações Internacionais Curso de Direito Internacional Privado Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho Matrícula: 11711RIT006 Atividade Avaliativa: Resumo das páginas 225 a 246 do Manual de Direito Internacional Privado, por Maristela Basso 1.6 Litispendência internacional: o princípio da não simultaneidade em direito internacional privado De 1973 para 2015, o artigo 24 do Código de Processo Civil atualizou a matéria de litispendência (quando há um litígio pendente de julgamento por um juiz), afirmando que ações intentadas perante tribunal estrangeiro não induzem litispendência e nem impedem o conhecimento do juiz acerca da causa, exceto em casos de disposições contrárias a tratados internacionais e acordos bilaterais vigentes no Brasil. Dessa maneira, quando há alguma pendência de causa em jurisdição brasileira, é permitida a homologação de sentença judicial estrangeira para produzir efeitos no Brasil. Entretanto, de acordo com o princípio da não simultaneidade em direito internacional privado, por mais que um fato misto/multinacional envolva mais de uma jurisdição, ele só é julgado pela qual é submetida em primeiro lugar e onde sua decisão terá validade e surtirá efeito. Diante disso, fala-se do direito da “sede-do-fato” que se refere ao centro de gravidade da ordem jurídica considerada para avaliação do fato. Para exemplificar, pode-se considerar um casal estrangeiro que, sem possuir residência ou bens no Brasil, solicita o divórcio aqui. Nesse caso, a autoridade judiciária brasileira se desocupa de um fato que não lhe gera nenhum efeito jurídico ou econômico. 1.6.1 O art. 24 no novo CPC (antigo art. 90 do CPC de 1973) e o princípio da não simultaneidade O artigo 24 do novo Código de Processo Civil parece contrariar o princípio da não simultaneidade em direito internacional privado. Tendo em vista o objetivo de obtenção de justiça, é possível a ação de qualquer país onde o fato possua efeitos irradiados, desde que o juiz aplique o direito da sede do fato. No entanto, analisando sob a perspectiva do artigo 24, este mostra-se fraco diante do preceito internacional, pois em face de um processo anteriormente tramitado no exterior, preserva-se autoridade estrangeira; ou em caso de sucessividade de processos na mesma causa, a sentença do segundo só será válida se de acordo com a resolução do primeiro; por fim, nada impede que a resolução de um processo estrangeiro se aplique nacionalmente, mesmo que o processo nacional já esteja em curso, pois este seria arquivado. Do contrário, no Mercosul, o artigo 22 do Protocolo de Las Leñas sobre Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa assegura o respeito à coisa julgada e afasta a possibilidade de litispendência por estabelecer o princípio da não simultaneidade. Este artigo não revogou o preceito estabelecido pelo antigo CPC, mas implicou um compromisso nos poderes judiciários brasileiro, argentino, paraguaio e uruguaio quanto às decisões proferidas nesses países. O artigo do novo CPC, por sua vez, aplica-se a sentenças de todos os países que não fazem parte do Mercosul. O Regulamento da Comunidade Europeia nº 44-2001 reforça ainda mais o princípio da não simultaneidade, ao dispor que em processos com a mesma causa submetidas a tribunais em diferentes Estados-membros, o tribunal acionado em segundo lugar suspende sua instância até que a competência do primeiro seja estabelecida; e então, o segundo declara-se incompetente. Além disso, o artigo 28 (1) prescreve a suspensão da instância do segundo tribunal a que ações de causas conexas é submetida. 1.6.2 Não simultaneidade x não sucessividade O princípio da não simultaneidade não significa que um mesmo fato misto não possa ser apreciado sucessivamente, isto é, podem ser obtidas desfechos diferentes, semelhantes ou iguais de acordo com o princípio de autonomia e soberania da autoridade jurídica. Portanto, o direito internacional privado objetiva a determinação de qual das relações jurídicas com pontos de contato entre diferentes jurisdições deve ser aplicada conforme sua natureza jurídica. 2 Como o juiz nacional deve interpretar e aplicar o direito estrangeiro Na aplicação do direito estrangeiro, deve-se considerar principalmente os critérios de interpretação utilizados pelo juiz nacional. Diante de tal processo, este não deve se prender à hermenêutica de sua própria ordem jurídica. De acordo com Luiz Antônio Severo da Costa, a lei estrangeira deve ser interpretada “no estado de espírito dessa legislação”, tendo em vista o contexto em que se dão o sentido e o conteúdo dos termos, conceitos e institutos jurídicos. Logo, os critérios para interpretação do direito estrangeiro devem partir do país de origem de tal e o juiz nacional deve agir como se fosse do país em questão. Embora exista a possibilidade de entendimento diverso do juiz nacional em relação ao estudo do direito estrangeiro a análise de seus precedentes, ele ainda deve atuar de maneira equivalente, como se fosse juiz no país de cuja legislação se trata, aproximando-se ao máximo. E, haja vista a dificuldade desta tarefa, as partes que produzem as provas do direito estrangeiro devem colaborar para que sejam concretas e sólidas, a fim de facilitar o entendimento no endereçamento de questões aos tribunais estrangeiros via diplomacia. 3 Os recursos cabíveis contra a não aplicação, aplicação errônea e má interpretação do direito estrangeiro Se aplicado inadequadamente segundo seus sistemas e critérios de hermenêutica, cabem recursos, visto que o direito internacional é tão adequado ao país quando sua ordem jurídica interna. Da mesma forma, a má aplicação do direito estrangeiro representa um ferimento das normas brasileiras de direito internacional privado. Assim, o Artigo 412 do Código Bustamante complementa o CPC brasileiro pois determina a validade do recurso de cassação ao direito internacional nas mesmas condições em que esta pode ser feita no direito nacional. 4 Estudo de caso: a competência da justiça brasileira e a Convenção de Haia sobre Sequestro Internacional de Menores A Convenção de Haia, foi concebida em 1980 com o intuito de proteger crianças dos efeitos danosos do sequestro. Sua principal característica está no Artigo 12, o qual prevê o retorno imediato da criança ao país de residência habitual da família, a não ser que a parte que se opõe comprove o retorno como meno favorável do que a situação na qual ela se encontra. Contudo, foi necessária uma revisão, haja vista um aumento de sequestros por parte de genitores com guarda dos filhos (aspecto desconsiderado previamente); e, dessa forma, foi criada a Comissão Especial de Revisão, a fim de impossibilitar a aplicação irrestrita internamente aos Estados-membros. 4.1 Análise Conjunta da Convenção de Haia e da Convenção da ONU sobre os direitos das crianças No ano de 2006, aconteceu a quinta reunião da comissão de revisão,a qual estabeleceu a aplicação da Convenção de Haia, tendo em vista o melhor interesse da criança, coerente à Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. Um dos riscos ao qual o menor está sujeito é da desconstrução do núcleo familiar, quando a mãe está impossibilitada de retornar ao país de origem e o pai não tem condições de cuidar da criança sozinho. Isso recorreu de precedentes, pois a Convenção não tem permissão para criar uma família artifical ou substituir o papel da mãe. 4.2 Controvérsias (nacionais e internacionais) sobre a aplicação da Convenção de Haia Há duas correntes que mostram papéis primordiais à Convenção de Haia: a primeira coloca a função principal da convenção como coibição do sequestro internacional, restringindo a interpretação das exceções do Artigo 13. Entretanto, alguns acreditam na aplicação irrestrita da Convenção. A segunda corrente indica o interesse primordial como resguardar o melhor interesse da criança e, por isso, sua aplicação só é feita quando o retorno mostra-se como o melhor para a criança. 4.3 Aplicação com restrições da Convenção de Haia Por não ser possível teorizar todos os casos quando o objeto de proteção é, além da criança e a defesa de seus interesses, também o bem-estar da família que se desfez, preveem-se restrições nos artigos 12 e 13 que reafirmam o objetivo de resguardar os interesses e a integridade da criança. 4.4 Ação Direta de Inconstitucionalidade que tramita no STF contra a Convenção de Haia Alguns preceitos da convenção não são convergentes à opinião da sociedade brasileira, pois acreditam que são contrários à Constituição Nacional. Por exemplo, de acordo com a ADIN, o retorno obrigatório do menor viola garantias fundamentais estabelecidas pela Constituição Federal. 4.5 O poder-dever do juiz no caso concreto e a Convenção de Haia A restrição interpretativa da Convenção não fere os direitos dos Estados contratantes, nem a reciprocidade em atos internacionais, já que é possível a decisão do dispositivo legal por parte da autoridade local, podendo-se até negar a aplicação da Convenção. Pela Convenção ser integrada ao leque de leis nacionais, esta integra um sistema harmônico de direitos e obrigações. Esta deve sempre ser aplicada em concordância com os princípios que regem o sistema jurídico brasileiro. As eventuais divergências ocorrem caso a caso e a mais grave é a que determina o retorno imediato da criança ao país de origem e as que confundem-se com o instituto processual da “antecipação da tutela”. 4.6 A confusão entre a “antecipação da tutela” do CPC e a figura do “retorno imediato” da Convenção de Haia Retorno imediato se refere ao processo administrativo adotado pela autoridade central a fim de garantir o regresso da criança ao país de origem. Este deve se dar definitivamente em situação jurídica que não caiba recursos posteriores, nem restrições à Convenção. O remédio jurídico da “tutela antecipada”, por sua vez, determina por parte do juiz o genitor mais capacitado a cuidar do menor. 5 Os principais elementos de conexão do sistema de direito internacional privado brasileiro 5.1 O domicílio: para as relações de estado e capacidade das pessoas e o direito de família O Artigo 7 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro indica uma regra de solução de conflitos de leis dentro do sistema legal brasileiro no direito internacional privado, bem como afirma a determinação das regras sobre o começo e o fim da personalidade, do nome, da capacidade e dos direitos de família de acordo com a lei do país de domicílio da pessoa, e trata de casamentos entre estrangeiros no país, de domicílio entre os cônjuges, de regime de bens e de casos de divórcio fora do país. 5.1.1 Âmbito de aplicação do art. 7º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro A fim de determinar o direito das relações, envolvendo estado, capacidade da pessoa e direitos de família, o Artigo 7 considera a lei do local de domicílio (lex domicilii). Na sua promulgação, em 1942, ele substituiu a lei da Nacionalidade da Pessoa, argumentando-se a lex domicilii como o critério mais apropriado à disciplina das relações, haja vista o centro de gravidade colocado do domicílio. De acordo com Savigny, a lei regente de uma relação jurídica é a mais próxima de sua natureza (natural ou estrangeira). O espaço em que se dá essas relações jurídicas é conhecido como “sede da relação jurídica”. E, sob essa perspectiva, o domicílio submete o sujeito, independentemente de sua origem ou nacionalidade, a determinado ordenamento jurídico. O estado da pessoa é o conjunto de atributos integrantes de sua individualidade jurídica, aos quais são reconhecidos determinados direitos e impostos deveres jurídicos. Capacidade é a aptidão de exercício de certos direitos e de realização de negócios jurídicos. Para o direito internacional privado, capacidade é tida como um atributo atual da pessoa, orientando-se para a aquisição de direitos no âmbito privado. A partir daí a pessoa está legitimada a exercer direitos e contrair obrigações. 5.1.2 Fundamentos históricos e valorativos do domicílio como regra de conexão no direito internacional privado e o contexto brasileiro Lex patriae ou lei da nacionalidade é adotada como regra de conexão para determinação do direito passível de aplicação ao estatuto pessoal. Em países com forte tradição de onda migratória, a lei do domicílio foi adotada como regra de conexão a fim de determinar o direito aplicável ao estado e à capacidade das pessoas e direito de família. Lex domicilii é mais flexível e adaptável a situações fáticas com relação à mobilidade internacional, independente da sua nacionalidade. Ela adquire maior ou menor amplitude nas jurisdições, sobretudo em estados com ondas imigratórias históricas, de força de trabalho, de alocação de capitais e investimentos e de intenso comércio transfronteiriço. O direito brasileiro buscou adequar-se a essa lógica, por meio da Lei de Introdução de 1942, ajustando o direito nacional às tendências já perseguidas na América Latina e a adoção do domicílio como regra de conexão para o estatuto pessoal. Apenas em 1979, na Convenção Interamericana sobre Domicílio das Pessoas Físicas no Direito Internacional Privado, houve o estabelecimento de critérios, como o local da residência habitual, o local do centro principal de negócios, o local de simples residência. 5.1.3 Regras de Conexão do Domicílio e da nacionalidade na determinação do direito aplicável às relações jurídicas relativas ao estado da pessoa, capacidade e direitos da família Ao optar-se pela lei da nacionalidade como critério de determinação do direito aplicável ao estatuto pessoal, desconsidera-se a mobilidade internacional de pessoas, cada vez mais frequente. Nesse sentido, a doutrina clássica sustenta as vantagens para adoção da lex domicilii como regra de conexão, o que aponta para a preservação da autonomia individual quanto à escolha do local de estabelecimento da pessoa, com ânimo definitivoou com interesse de fixação de sede principal de negócios. A lei do Estado no qual um casal fixa seu domicílio logo após a contração das núpcias, conhecido como “domicílio conjugal”, estende-se aos filhos não emancipados e incapazes, pois são considerados efeitos protetivos objetivados originalmente. Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Economia e Relações Internacionais Graduação em Relações Internacionais Curso de Direito Internacional Privado Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho Matrícula: 11711RIT006 Atividade Avaliativa: Resumo das páginas 247 a 271 do Manual de Direito Internacional Privado, por Maristela Basso 5.1.4 Indeterminação do domicílio e sucessividade de elementos de conexão para a escolha da lei aplicável A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro considera a lex domicilii como regra de conexão na determinação do direito material aplicável às relações jurídicas envolvendo estado, capacidade e direito de família da pessoa. Embora, a dificuldade em situar o domicílio da pessoa, decorrente por exemplo da cumulatividade ou pluralidade de locais estabelecidos como centro de atividade na vida privada, prejudique a aplicação do processo, é impossível a inexistência do domicílio, apenas sua indeterminação. Dessa forma, o legislador pode utilizar critérios supletivos para indicar a lei aplicável em casos de domicílio indeterminável. Justifica-se o artigo 7º, parágrafo 8º da LINDB, o qual afirma que será considerada a lei do local de sua residência como domicílio legal da pessoa. Este mesmo fragmento da Lei rejeita a multiplicidade de domicílios, recorrendo ao “concurso sucessivo” de elementos de conexão relativamente ao local da residência e o local em que a pessoa se encontra. Em ordem, aplica-se a lei do local do domicílio, do local da residência e do local onde a pessoa se encontra. O critério de “local onde a pessoa se encontra” mostra-se problemático, pois pode sugerir incentivos para deslocamento do domicílio da pessoa com vistas a intuitos simulatórios ou mesmo fraudulentos. Para remediar casos de indeterminação desse último critério ou de deslocamento voluntário, há o princípio de “domicílio originário” que diz respeito àquele adquirido logo após o nascimento com vida, transmitido de pai para filho. Além disso, há as figuras da “residência habitual” e “residência atual” como elementos de conexão subsidiários para determinação da lei aplicável. 5.1.5 Lei aplicável às relações jurídicas de direitos de família e para o casamento realizado no Brasil Para o tratamento do casamento, o legislador busca assegurar a liberdade na declaração de vontade dos nubentes por meio de normas jurídicas que objetivam tutelar relações da vida social. Ressalta-se então como um “processo de habilitação”, haja vista o negócio em si que se enceta e os efeitos socialmente relevantes que dele decorrem. Historicamente e em ordens jurídicas como a LINDB de 1942, a Lei Suíça de Direito Internacional Privado de 1987 e o Código Bustamante, aplica-se e prevê-se a validade do matrimônio de acordo com a lei do local da celebração (lex loci celebrationis). Mais especificamente a jurisdição brasileira afirma que toda relação matrimonial constituída no exterior em conformidade com a forma estabelecida pela lei do local de celebração do casamento, será reconhecida como válida. 5.1.6 Celebração de casamento de estrangeiros perante autoridades diplomáticas e consulares A LINDB de 1942 estabelece uma regra alternativa à lex loci celebrationis por adotar a lei da nacionalidade dos nubentes como regra de conexão a determinar a lei aplicável ao casamento celebrado por autoridades diplomáticas ou consulares. Isto significa que estrangeiros podem recorrer às missões diplomáticas e consulados de seu Estado de origem para celebração do casamento, haja vista que tais autoridades têm o dever de salvaguardar os interesses de seus nacionais. Entretanto, é necessário haver harmonia entre o direito do Estado de origem da autoridade e o direito local onde o ato se realiza, e também que ambos os nubentes não sejam da nacionalidade do local. 5.1.7 Regimes de bens no casamento e lei aplicável - técnica de determinação do domicílio conjugal A lei do local de domicílio conjugal funciona como lei disciplinadora das relações patrimoniais decorrentes do casamento, devido à unidade do regime matrimonial de bens do casal. A jurisprudência brasileira interpreta, por sua vez, o domicílio conjugal como o país onde os cônjuges se estabelecem logo após a realização do casamento. Isso reflete a ordem pública que normatiza o “ajustamento dos bens do casal ao ambiente jurídico e econômico em que escolheram viver”. Nesse sentido, mostra-se uma liberalidade de escolha da lei aplicável ao regime de bens, pois é permitida a celebração do casamento em determinado Estado a fim de incidir sobre ele a lei local. Além disso, também é possível a modificação do regime matrimonial após a celebração do ato nupcial, desde que mediante autorização judicial sobre pedido motivado pelos cônjuges e constatada a inexistência de prejuízos a direitos de terceiros. Essa norma garantida pela Lei brasileira busca assegurar a liberdade do casal de gerenciamento do patrimônio conjugal e proteger direitos de terceiros, vinculando à publicidade exigida no direito brasileiro por registro competente. 5.1.8 O divórcio ocorrido no estrangeiro e seu reconhecimento no Brasil O direito brasileiro admite o divórcio a partir da Lei nº 6.515 de 26 de dezembro de 1977, modificada em particular por situações envolvendo homologação de sentenças estrangeiras do ato. Por sua vez, a Constituição Federal de 1988 afirma que a admissão do divórcio entre cônjuges sendo pelo menos um brasileiro só se dará após um ano da data da sentença no estrangeiro. 5.2 O lugar da situação do bem - Lex rei sitae: para os direitos reais De acordo com o artigo 8º da LINDB, a qualificação de bens e regulação de suas relações, aplica-se a lei do país em que se situam. Ainda, especifica-se quanto à propriedade e quanto à posse, sendo àquela aplicada a lei do país de domicílio do proprietário e a esta, a lei do domicílio da pessoa com quem se encontra a coisa apenhada. 5.2.1 O tratamento dos bens no direito internacional privado A lex sitae é uma importante regra de conexão para determinar a lei aplicável e a disciplina jurídica dos bens dentro do direito internacional privado. A norma presente na LINDB traduz a aplicação do princípio da territorialidade, o qual atrai o direito do local em que o bem se situa, sobretudo os imóveis. Logo, a sede das relações jurídicas de direitos reais encontra-se no local de situação da coisa, uma vez que Estado e territorialidade são inseparáveis. A tese unitarista de Savigny sobre o conflito de leis no espaço em matéria de direitos das coisas busca uma tentativa de não distinção ou separação das coisas móveis e imóveis para efeitos de localização e determinação do direitoaplicável. E, já que a única exceção seria àqueles bens que ocupam local indeterminado no espaço, a determinação seria de acordo com a vontade do proprietário ou seu domicílio (como em casos de bagagens despachadas por viajantes ou mercadorias despachadas por um comerciante). 5.2.2 O conflito entre a lei aplicável ao contrato e aquela aplicável ao imóvel situado no Brasil 5.2.2.1 O direito material aplicável à retomada de imóvel situado no Brasil e o direito aplicável ao contrato escolhido pelas Partes Há duas hipóteses diferentes da lei aplicável: ao contrato ou relação obrigacional e ao imóvel objeto do contrato. Isto é, nem todas as questões analisadas em um processo, com base em um contrato internacional, devem ser tratadas a partir do direito material das obrigações escolhido pelas partes ou daquele indicado pela norma de direito internacional privado destinado a tais. A lei escolhida pelas partes ou determinada pela norma de solução de conflitos fornece as regras para solução de controvérsias com relação ao contrato. Com a reintegração da posse do bem, não se trata mais do direito das obrigações mas do direito real - diferentes matérias jurídicas. Disto, parte a diferenciação entre posse e propriedade, a qual o Novo CPC brasileiro afirma a qualificação e a regulação das relações entre os bens com base na lei do país onde se situam (regra lex rei sitae). No direito internacional privado, esta regra é de conexão para determinar a lei aplicável e a disciplina jurídica dos bens. 5.2.2.2 A competência exclusiva do juiz togado brasileiro para as ações sobre imóveis situados no Brasil: a ordem pública e o art. 23 do Novo CPC De acordo com o artigo 12º, parágrafo 1º da Lei de Aplicação Geral das Normas do Direito Brasileiro, a autoridade jurídica brasileira terá competência em casos de réu domiciliado no Brasil ou aqui ser o local de cumprimento da obrigação. Ela é reforçada pelo artigo 314 do Código Bustamante, a qual afirma que “a lei de cada estado contratante determina a competência dos tribunais, assim como a sua organização, as formas de processo e a execução das sentenças e os recursos contra suas decisões.” É necessário diferenciar competência concorrente e competência exclusiva a fim de determinar a eficácia das sentenças estrangeiras na ordem jurídica brasileira, onde só serão reconhecidas as decisões estrangeiras que não prejudiquem a competência do juiz brasileiro pela demanda de outra jurisdição. A LAGNDB e o CPC funcionam como normas com objetivo de ordem pública interna, unilaterais e imperativas, pois excluem a competência estrangeira em ações relativas a imóveis situados no Brasil e vice-versa. 5.2.2.3 As medidas processuais adequadas à retomada de imóvel situado no Brasil e a imperiosa aplicação do direito processual civil brasileiro: a inafastabilidade da Lex Fori É fundamental ter claro a qual direito estrangeiro as partes se referem na escolha do direito aplicável à solução das controvérsias no contrato. Este direito, apontado pelas partes ou pela norma de solução do conflito de leis é sempre o direito privado comum nacional ou estrangeiro. As regras de direito processual observadas pelo juiz são as de lex fori, do lugar onde a ação foi proposta para não comprometer a lógica e o funcionamento do Direito. 5.2.3 “Bens sem localização permanente” e lei do domicílio do proprietário A lex domicilii é considerada como regra de conexão supletiva para determinar a lei aplicável às relações jurídicas de direito real quando os bens são sujeitos a um regime de trânsito e mobilidade intensos, dificultando sua localização no espaço para efeitos aplicativos das normas da jurisdição do seu local de situação. Para facilitar então, a LINDB afasta a lex rei sitae em favor da regra mobilia sequentur personam, relacionando os bens ao sujeito a quem sua titularidade é ou está atribuída. Além disso, a lex loci protecionis é acionada em casos de “bens móveis sem localização permanente”, remetendo o direito aplicável à lei do local em que a proteção dos bens é invocada, pois é onde se manifestam sua utilidade econômica e social (como os bens protegidos por direitos de propriedade intelectual). 5.2.4 Os direitos reais sobre garantia, penhor e lei do domicílio do possuidor A LINDB especifica a lei aplicável ao penhor como disciplinada pela lei do local do domicílio daquele com a posse direta da coisa empenhada envolvendo sua garantia real. Esse favorecimento da lex domicilii em relação à lex sitae se dá pela natureza dos direitos constituídos sobre a coisa empenhada e a necessidade da tradição do bem móvel pelo devedor ao credor pignoratício. 5.2.5 Navios, aeronaves e embarcações Navios, embarcações e aeronaves são considerados bens móveis de natureza especial devido à sua tendência de circulação transfronteiriça e de pouca fixação em determinado território. Por isso, disciplina-se a lei de seu abandeiramento ou de matrícula, ou seja, onde foram registrados os direitos proprietários. Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Economia e Relações Internacionais Graduação em Relações Internacionais Curso de Direito Internacional Privado Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho Matrícula: 11711RIT006 Atividade Avaliativa: Resumo das páginas 275 a 291 do Manual de Direito Internacional Privado, por Maristela Basso 5.3 O lugar da constituição da obrigação - “Locus regit actum” ou “ius loci celebrationis”: para o direito das obrigações 5.3.1 Lei aplicável às obrigações no direito internacional privado O artigo 9º da LINDB apresenta o elemento de conexão para o direito das obrigações, sendo uma das mais importantes no âmbito do direito internacional privado. Ele afirma que para qualificar e reger as obrigações, a lei aplicável é do local onde foram constituídas (locus regit actum). Podem ser identificados diferentes direitos materiais aplicáveis às relações jurídicas obrigacionais, de modo que se qualificam de acordo com a lei do local de constituição das obrigações (lex loci). Ainda que o artigo 9º estabeleça a lei do local de constituição da obrigação, podem haver casos em que o contrato seja celebrado em um país estrangeiro e executado no Brasil. Isso ocorre quando o centro de gravidade do fato político, onde há a maior irradiação de efeitos jurídicos e econômicos do contrato, não é o local de constituição da obrigação. 5.3.2 Autonomia da vontade e lei aplicável às obrigações contratuais Autonomia da vontade significa a liberdade das partes em autorregular seus interesses, determinando o conteúdo das obrigações constituídas. No Direito Internacional Privado, é a opção dada às pessoas de desempenhar a escolha e a determinação da lei aplicável a certas relações jurídicas. Já nos contratos, dá-se no meio entre a liberdade de escolha do direito aplicável pelas partes e os limites estabelecidos pelos ordenamentos jurídicos (internos e internacionais) dos Estados nos quais tais obrigações serãoexecutadas. O art. 9º da Lei Geral de Aplicação das Normas Jurídica estabelece um limite formal à autonomia da vontade uma limitação formal sobre a autonomia da vontade, o qual é criticado por ser omisso à admissão da liberdade das partes como regra de conexão para determinação do direito aplicável às obrigações. 5.3.2.1 O princípio da “autonomia da vontade” no contexto das arbitragens internacionais do comércio e a regra do art. 9º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro É relevante observar que em face de alguma controvérsia, no âmbito do poder judiciário, em matéria de determinação da lei aplicável em relação obrigacional, o juiz deve considerar a “local onde a obrigação se constituiu”. Além disso, o âmbito de aplicação da arbitragem alargou-se e se dispôs sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a interrupção da prescrição pela instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem. 5.3.2.2 Observância dos princípios da interpretação consistente e evolutiva A liberdade de escolha das normas procedimentais reguladoras e administrativas da arbitragem se constitui de uma vantagem às partes. De acordo com a Lei da Arbitragem, o agente deve expressar sua autonomia sempre que o litígio for submetido à arbitragem. Diante disso, a autonomia da vontade não tem limites, com exceção para casos de fraude à lei ou ofensa à ordem pública. Além disso, essa Lei admite a utilização de princípios gerais de direito, usos e costumes e regras internacionais de comércio. 5.3.3 Obrigações a serem executadas no Brasil e lei aplicável: o problema das obrigações de fundo O artigo 9º da LINDB consagra que a lex loci contractus e lex loci executionis devem ser satisfeitas para que a norma encontre aplicação, principalmente em contratos cuja validade no direito brasileiro dependa de forma prevista em lei. Além disso, sobre a validade de um negócio jurídico celebrado no estrangeiro cujas obrigações se destinem à execução no Brasil, estabelece um critério complementar através de dois requisitos: (i) a aplicação da lei do local em que a obrigação se constitui; e (ii) a observância da forma essencial do ato conforme prevista pelo direito brasileiro. 5.3.4 Necessidade de adaptação da regra de conexão para a determinação da lei aplicável em matéria contratual: uma dose de criticismo Muitos argumentam que a LINDB de 1942 é anacrônica e não acompanha a evolução normativa no âmbito do direito internacional privado, sobretudo quando se pretende determinar a lei aplicável em matéria contratual. Os contratos internacionais do comércio e a emergência da disciplina do Direito do Comércio Internacional nas últimas décadas trouxeram constatações sobre a mudança de postura dos legisladores nacionais na formulação de contratos concernentes ao trânsito econômico. O Projeto de Lei nº 269/2004 sobre Aplicação das Normas Jurídicas propõe uma modificação à regra vigente pela LINDB, buscando uma composição entre diferentes critérios para determinar a lei aplicável às obrigações. Neste, a vontade é regra de conexão para a lei aplicável, de acordo com o princípio dos vínculos mais estreitos. Logo, a escolha dela se dá em função da conduta efetiva das partes e da interação das cláusulas contratuais estabelecidas pelas partes. A Lei de Arbitragem afirma a possibilidade de escolha da lei aplicável por meio do mecanismo para a solução de litígios futuros. No entanto, a opção legislativa encontrada para esta associa-se à liberdade das partes em escolher as regras aplicáveis à arbitragem e do direito material aplicável ao contrato. Diante disso, a autonomia das partes no que tange a arbitragem está vinculada à ordem pública que considera nula frente qualquer violação. Para que não haja fraude ou desvios as partes têm a opção de ofertar o contrato no país onde a lei será aplicada. Por sua vez, o direito material aplicável aos contratos leva em conta o local de residência do proponente. Entretanto, Haroldo Valladão vale-se de uma crítica à dificuldade de determinação do local de residência e, por isso, o local de oferta do contrato deve ser o local de constituição das obrigações. 5.3.5 A “nova lex mercatoria” como opção para lei aplicável aos contratos? Adota-se a nova lex mercatoria na pretensão de validade doutrinária e jurisprudencial, haja vista à dinâmica e prática de comércio internacional contemporâneas. Ela se constitui de um conjunto de normas concebidas sob as circunstâncias de trânsito econômico internacional. Além da proposta de criação de um “direito transnacional do comércio”, a nova lex mercatoria provoca uma reflexão na educação de um novo tipo de jurista, mais atento aos valores de justiça e de equilíbrio de interesse entre as partes. A racionalidade dos juízes indica, portanto, uma nova política legislativa em prol de uma harmonização normativa em processos de contratos internacionais do comércio. Como exemplo, tem a incorporação das normas pelo direito brasileiro da Convenção de Viena sobre Venda e Compra Internacional de Mercadorias, da Convenção Interamericana sobre Direito Aplicável aos Contratos Internacionais e dos Princípios da UNIDROIT sobre Princípios Aplicáveis aos Contratos Internacionais do Comércio. Diante disso, a nova lex mercatoria juntamente com o direito positivo e o direito comparado se tornam instrumentos para tomada de consciência das legislações e culturas estrangeiras, buscando assegurar uma ordem internacional mais justa e uma ordem jurídica social melhor no plano doméstico. O critério da autonomia da vontade ainda é o mais apropriado para ajustar a liberdade das partes em relação à escolha do direito aplicável ao contrato. Esse critério implica três cláusulas: a arbitral (a fim de dirimir os eventuais conflitos), a de lei aplicável (determinante do direito material/substancial) e a de foro (de localização da proposta da ação ou da realização da arbitragem). A Lei de Arbitragem funciona nacionalmente também, permitindo aos contratos internos uma “desnacionalização” por meio da escolha da lex mercatoria. 5.4 O lugar do último domicílio do falecido ou desaparecido: para o direito das sucessões A lex domicilii regula a sucessão por porte ou por ausência de uma pessoa, desconsiderando a situação dos bens. 5.4.1 As concepções unitarista e pluralista no DIPr sobre direitos sucessórios O direito das sucessões busca determinar as regras que servirão ao gerenciamento de bens de uma pessoa após sua morte. Para o tratamento de casos a nível internacional, criou-se a “lei pessoal” do defunto, englobando toda a totalidade de direitos transmitidos aos herdeiros e considerando que os bens integram o patrimônio da pessoa em questão como situados no domicílio do proprietário. Pode-se interpretar a doutrina através da teoria unitarista, que diz que a sucessão deve ser sempre submetida a um único direito em razão da incapacidade de dissociação do todo, submetendo as relações deste à lei nacional.Bem como pela teoria da pluralidade sucessória, a qual afirma que que não deve haver a aplicação de uma única lei, uma vez que o assunto tangencia interesses estrangeiros. Logo, faz-se necessário que a cada bem seja individualmente aplicada a lei do território onde ele esteja localizado. A lei brasileira considera a teoria unitarista, preferindo a pessoa do defunto a buscar a justificativa do direito aplicável na natureza ou situação dos bens individualmente. Logo, aplica-se a lex domicilii na determinação da lei, ajustando a regra a partir do “último domicílio”. O Código Bustamante, por sua vez, deixa livre aos Estados-membros a determinação da lei aplicável, desde que seja com base na “lei pessoal”. A lei do último domicílio indica a lei aplicável no momento da morte, definindo a instituição e a substituição da pessoa sucessível, a ordem de vocação hereditária, o alcance dos direitos atribuídos aos herdeiros e aos legatários, os limites à liberdade de testar, as quotas reservadas aos herdeiros necessários na constituição da legítima, a causa determinante da deserdação, a colação dos bens, a redução das disposições testamentárias, a partilha e o pagamento de dívidas contraídas pelo espólio. O pluralismo se coloca como alternativa à crítica à abordagem unitarista que não abrange os diferentes princípios de ordenamentos domésticos quando se envolve elemento estrangeiro. Ele admite tanto a lei do último domicílio quanto a lei brasileira em caso de indivíduos nascidos no Brasil. Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Economia e Relações Internacionais Graduação em Relações Internacionais Curso de Direito Internacional Privado Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho Matrícula: 11711RIT006 Atividade Avaliativa: Resumo das páginas 295 a 323 do Manual de Direito Internacional Privado, por Maristela Basso 5.4.2 Sucessão testamentária e aspectos de direito internacional privado Disciplinada pelo direito civil material do local de último domicílio, a sucessão legítima se dá de acordo com particularidades, como a “capacidade de testar”. A LINDB de 1942 refere-se à mesma lei, mas o tratamento da capacidade jurídica do testador refere-se também ao seu estatuto pessoal. 5.4.2.1 Validade extrínseca e intrínseca do testamento celebrado no exterior A validade extrínseca do testamento é analisada segundo o direito do local em que o negócio jurídico se celebra, determinando também a lei aplicável à vontade do testador. Logo, o juiz verifica a legalidade de testamento realizado no estrangeiro de acordo com o direito do local de realização do ato. O direito internacional convencional consagra tal regra pela adoção da Convenção de Haia de 1964 sobre Conflito de Leis Envolvendo a Forma das Disposições Testamentárias, a qual estabelece elementos de conexão alternativos em relação ao direito aplicável: a nacionalidade do falecido no momento de expressão de sua última vontade, o último domicílio, o local de residência habitual no momento do ato, o domicílio no momento da morte e o local dos bens (imóveis). A apreciação da validade extrínseca de um testamento estrangeiro parte da constatação das normas de direito material do ordenamento do Estado em que o testamento se realiza, podendo a determinação de duas testemunhas no Código Civil de 2002 ser adaptada. Já em relação aos requisitos de validade intrínseca do testamento, o juiz observa o conteúdo das disposições de última vontade, as cláusulas, sua admissibilidade e efeitos decorrentes, a partir da perspectiva do local de último domicílio do testador. Diante disso e do artigo 10º da LINDB de 1942, discorre-se acerca dos limites materiais do ato testamentário, atendo-se à vontade do testador. Testamentos particulares realizados no exterior são submetidos ao juiz nacional que, primeiro, avalia a validade do negócio e, então, a substância do testamento. Em alguns países, a vontade do testador se limita por normas imperativas de ordem pública. Já os países com ampla liberdade para testar, o domiciliado dispõe de todos os bens desde que não viole a ordem pública. Dessa forma, a um testamento celebrado no exterior aplica-se a lei do local em que foi realizado para determinar sua validade extrínseca e a lei do local do último domicílio do testador para determinar sua validade intrínseca. 5.4.3 Efeitos econômicos da concepção unitarista e a “lei do último domicílio do falecido” A proximidade da lei do local do último domicílio à realidade econômica que a pessoa desejava manter para seus herdeiros explica a permanência dos bens na categoria de universitas, representando a projeção econômica do patrimônio e a proteção da sua integralidade anterior à concretização do ato. É no Estado de último domicílio cujas normas materiais do ordenamento jurídico disciplinam as relações jurídicas sucessórias sobre a herança. Neste caso, o direito aplicável diz respeito ao local do último domicílio, pois foi onde se pretendeu estabelecer suas últimas atividades econômicas. Logo, os aspectos processuais são encarregados ao juiz do último domicílio, conforme a LINDB de 1942. A morte é, para o direito internacional brasileiro, o momento de abertura da sucessão, tornando-se também elemento da ordem pública internacional. 5.4.4 Proteção da condição da mulher e dos filhos brasileiros no DIPr: o alcance normativo do art. 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e da Constituição de 1988 De acordo com a Constituição Federal, o direito à sucessão de bens ao estrangeiro situado no Brasil é protegido, seguindo-se o direito em favor dos filhos e do cônjuge brasileiros. Isso busca corrigir quaisquer divergências quanto ao resultado via aplicação de normas indiretas de direito internacional privado. 5.4.5 Domicílio do herdeiro ou legatário e capacidade para a sucessão O direito aplicado à condição do herdeiro é referente ao Estado em que ele viva, identificando-se a “capacidade de suceder”. Os direitos decorrentes da sucessão em caso de morte são regulados pela lei do último domicílio do testador. 5.5 O lugar da constituição das sociedades e fundações: para as pessoas jurídicas 5.5.1 Pessoa jurídica de direito estrangeiro no direito internacional privado - determinação da lex societatis A LINDB de 1942 endereça a lei aplicável à constituição, funcionamento, administração e gerência e a extinção da pessoa jurídica. Incluem-se nessa categoria os entes coletivos de direito privado em suas formas organizativas como sociedade, fundações, associações e cooperativas. A política legislativa brasileira tende à “teoria da constituição” para endereçar as questões relacionadas à determinação da lei de regência das pessoas jurídicas, afastando-se da “teoria da sede”, a qual se fundamenta na aplicação da lei do principal local de atividades operacionais da empresa. Diante disso, mantém-se a lei do local de constituição como regra de conexão aplicável à disciplina das sociedades, fundações e associações de direito estrangeiro. consagrando-a como critériodefinidor da lex societatis no sistema brasileiro de direito internacional privado. 5.5.2 Implicações do reconhecimento da pessoa jurídica de direito estrangeiro A LINDB de 1942 reconhece a pessoa jurídica de direito estrangeiro o que implica na admissão da lei do local de constituição da sociedade, fundação, associação e demais formas organizativas como a lei de regência de sua criação, funcionamento e extinção, de acordo, portanto, com o direito daquele Estado em que seus atos constitutivos tenham sido registrados ou arquivados. Esse princípio supera a ideia ultrapassada de que o reconhecimento da pessoa jurídica de direito estrangeiro no território nacional constitui riscos à soberania do Estado. 5.5.3 Regime jurídico do funcionamento de filiais, agências e estabelecimentos da pessoa jurídica de direito estrangeiro no Brasil A fixação da pessoa jurídica de direito estrangeiro no território brasileiro é condicionada à aprovação dos atos constitutivos pelo governo brasileiro, submetendo suas filiais, agências ou estabelecimentos ao direito doméstico (sem a perda da “nacionalidade” do ente coletivo). Caso não se estabeleça filiais, as relações negociais no país estrangeiro submetem-se à legislação do local de origem. A ligação entre o ente coletivo e o ordenamento jurídico do Estado em que seus atos constitutivos foram registrados é considerada pelo direito doméstico. Logo, difere-se: enquanto a sociedade empresária segue o direito brasileiro, credores domiciliados no país e a comunidade de interesses externos são protegidos para se relacionar com a pessoa jurídica no trânsito econômico. Cabe ao poder executivo autorizar ou não o funcionamento, incluindo-se na solicitação: a sujeição dos atos em território nacional às leis e tribunais brasileiros; a limitação de exercer apenas as atividades aprovadas; a dependência da autorização do Executivo para qualquer alteração nas regras anteriores, a obrigação do arquivamento dos documentos de autorização; a publicação de informações consolidadas de cada exercício social. A CF também limita a atuação nos segmentos midiáticos, restringindo a titularidade às pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e com sede no país, com um mínimo de participação societária envolvida pertencente a brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos. 5.5.4 Aquisição de bens imóveis no território nacional por sujeitos de direito internacional público: Estados e organizações internacionais 5.5.4.1 Regra geral e a proibição de aquisição de bens imóveis em território nacional Proíbe-se em geral os Estados e organizações internacionais de adquirir imóveis suscetíveis a desapropriação no território brasileira. Além de justificar a impossibilidade de aquisição, pelo Estado estrangeiro, de direitos proprietários relativamente a bens situados no território nacional, ressalvadas as hipóteses nas quais aquele possa ser destinatários de direitos sucessórios, tais como legados. 5.5.4.2 Aquisição de bens imóveis pelo Estado estrageiro para fins diplomáticos e consulares Em função da necessidade de estabelecimento de prédios destinados às embaixadas e consulados no Brasil, a regra geral da proibição de aquisição pelo Estado estrangeiro de bens e imóveis situados em território nacional pode ser flexionada. Assim, a norma estabelece uma autorização expressa aos Estados estrangeiros para aquisição de “prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares”. Há, em primeiro lugar, uma preocupação da regra em relação ao princípio do direito internacional público sobre a proteção do exercício das atividades diplomáticas pelos Estados e garantia de sua manutenção nos territórios domésticos. 6. A natureza do direito estrangeiro aplicado “ O direito estrangeiro a ser aplicado deve ser sempre o direito privado comum estrangeiro (o direito substancial/ material estrangeiro), pois isto acarretaria a aplicação da técnica do “retorno” ou “devolução”, não admitida expressamente pelo direito brasileiro, no art. 16 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro [...].” (p.315) 6.1 Aspectos gerais da aplicação do direito estrangeiro, conflito de classificação e a técnica do reenvio Em caso de conflito de leis no espaço pode utilizar-se a lei substancial doméstica, a análise do juiz ou a lei substancial estrangeira. Mas existe uma indagação se o direito estrangeiro seria fato ou direito no ordenamento nacional. A imperatividade das normas do direito internacional privado leva à constatação de que a lei estrangeira diz respeito ao direito material/substancial, a partir do qual direitos subjetivos e obrigações são criados. No caso brasileiro, LINDB expressa que o juiz deve adotar uma postura de observância, dando alguma resposta ao conflito de leis no espaço. Considerar o direito estrangeiro como simples “fato” poderia significar o esvaziamento completo do sentido e alcance do direito internacional privado. A LINDB ainda resolve questões da aplicação do direito estrangeiro, em especial os casos que geram efeito em mais de uma ordem jurídica. Segundo a regra proibitiva desta Lei, o reenvio não pode ser considerado pelo juiz nacional quando se depara com a aplicação do direito estrangeiro. Para a solução de conflitos de leis no espaço, segue-se o processo de: 1) reconhecer que o fato contém elementos estrangeiros; 2) entender que os elementos estrangeiros que se associam ao fato geram conflitos de leis no espaço; 3) definir a natureza jurídica do fato analisado com base na lex fori do direito do país onde a questão foi levada à apreciação do Poder Judiciário; 4) determinar a regra de solução de conflito de leis segundo a natureza jurídica do fato em análise; 5) a partir do passo anterior chega-se ao elemento de conexão e deste ao direito aplicável; 6) entender que o direito indicado deve solucionar o problema e não criar outro; 7) aplicar o direito rigorosamente indicado pela norma de solução de conflito. A norma nacional de solução de conflito de leis nacional não pode indicar uma norma de solução de conflitos estrangeira, se isso ocorresse a norma de direito internacional privado não cumpriria sua função de solucionar o conflito de leis no espaço e sim criaria outro conflito. 6.2. A questão do reenvio no direito internacional privado e sua abordagem teórica A resolução de casos que envolvem conflitos de leis no espaço depende da interpretação do juiz nacional. Esses conflitos podem ser aparentes, positivos ou negativos, envolvendo a determinação da lei aplicável. O negativo se dá frente a diferentes elementos jurídicos que apontam para jurisdições distintas quanto à solução do caso. O problema do reenvio ou devolução, originado nas teorias de direito internacional privado após um caso ocorrido na França, hoje fica solucionado neste da seguinte maneira: devolve-se à lex fori a solução do caso com conexão internacional apreciado pelo juiz, aplicando-se o direito do foro ou outro direito por aquele indicado (em casos de reenvio de primeiroou segundo graus). Contudo, o problema reside na hipótese de concorrência de qualificação nos casos tratados, ou seja, de conexão internacional. Desse modo, através do método de resolução supracitado é possível que, muitas vezes, soluções não equitativas sejam alcançadas, devendo-se, aplicar a lei através de critérios de justiça. 6.3. Proibição do reenvio no direito internacional privado brasileiro Tal questão nunca foi pacífica na doutrina, uma vez que admitia-se o reenvio de primeiro e segundo graus. Porém, a tese que foi consagrada com a promulgação da LINDB de 1942 determina que o juiz brasileiro atenderá às disposições do direito estrangeiro competente pela reciprocidade. Além disso, assegura-se a aplicação do direito estrangeiro pelo juiz nacional, tendo em vista o direito material estrangeiro e não o sistema de direito internacional privado de outro Estado que não o seu. Fica evidente, assim, o absurdo que seria admitir-se que as normas de conflito de leis no espaço, uma vez que concernentes ao direito público interno de um Estado, adquiram sentido pela interpretação de outro Estado. Universidade Federal de Uberlândia Instituto de Economia e Relações Internacionais Graduação em Relações Internacionais Curso de Direito Internacional Privado Aluna: Beatriz Guilherme Carvalho Matrícula: 11711RIT006 Atividade Avaliativa: Resumo das páginas 338 a 357 do Manual de Direito Internacional Privado, por Maristela Basso 9 A Jurisprudência Dos Nossos Tribunais Esta seção dedica-se à análise casos levados aos nossos tribunais e o comportamento dos juízes em relação ao Direito Internacional Privado. STJ. SEC 4789/US. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA 2009/0216957-7 Caso entre cidadão estadunidense residente e domiciliado nos EUA e cidadã brasileira residente e domiciliada em São Paulo requerem a guarda do filho do casal, menor e nascido nos EUA, no Superior Tribunal do Estado da Califórnia em maio de 2009. O relatório trazia uma nota de impugnação por ofensa à ordem pública e à soberania, por não reconhecimento da jurisdição brasileira e por contrariedade dos interesses do menor garantidos pelo direito da pátria. Como o menor e a mãe encontravam-se no Brasil no momento processual da sentença, o STJ não considerou competente a apreciação da questão da guarda pela justiça americana (artigo 7º da LINDB). A sentença proibia a mãe de recorrer à jurisdição brasileira, estabelecendo multa em caso de busca por alteração do julgado nos EUA; no entanto, essa cláusula ofende a soberania nacional e a ordem pública. Com base na legitimidade de ação da medida judicial pertinente a fim de garantir a segurança do menor, por parte de qualquer parente ou do Ministério Público em caso de abuso de poder ou falta com deveres paternos ou atos lesivos aos interesses do menor, o STJ denegou o pedido de homologação da sentença estrangeira, pois nenhuma decisão estrangeira pode restringir as medidas de preservação de interesses do infante. Para que uma sentença estrangeira tenha eficácia no Brasil é necessário: juiz competente, citação das partes na forma adequada, sentença autenticada pelo cônsul brasileiro e traduzida por tradutor juramentado. não ofensa à soberania, à ordem pública e aos bons costumes. A competência internacional dos tribunais brasileiros é analisada à luz dos critérios previstos em artigos do CPC e tratados internacionais de que o Brasil é parte (sobretudo em litígios envolvendo partes no Mercosul). Requerente pede homologação de sentença de divórcio proferida na Vara de Órfãos, Sucessões e Família da Comarca de Barnstable, do Estado de Massachusetts, EUA. No entanto, o requerido foi citado e permanece em silêncio, o que leva à nomeação de curador. Depois de um tempo, ele oferece contestação com as seguintes alegações: ausência das condições de homologação, existência da ação do divórcio antes do pedido de homologação da sentença estrangeira no STJ. O Parecer do Ministério Público oferece boa análise do caso. Em seguida, o “parquet” constata que “alcançado no curso da ação de homologação da sentença estrangeira o prazo exigido para que a sentença de divórcio venha a produzir seus efeitos no Brasil “, e já tendo passado de um a dez meses da data da sentença, não haveria como rejeitar-se o pedido feito pela requerente. Da mesma forma, afirma não ter conexão entre os litígios, já que os pedidos são distintos. A partir disso, o STJ concluiu que não havia inexistência de impedimento de ordem instrumental ou substancial à concessão do pedido de homologação da sentença estrangeira. Em caso de casamento envolvendo dois brasileiros ou um brasileiro e um estrangeiro em outro país o mais correto seria fundamentar a partir do art. 18 da LINDB, segundo o qual, tratando-se de brasileiros as autoridades brasileiras consulares tem competência para realizar. Em caso de bens situados fora do Brasil não terão regime regulado pela lei brasileira, o caso analisado, de um imóvel situado na Alemanha, sob o qual os apelantes justificavam que a decisão sob o imóvel era contrária a lei brasileira, não podia prosperar para o relator, e já havia se tornado ato jurídico perfeito na Alemanha. Conclui que o pedido dos apelantes causaria invasão da soberania da Alemanha e do direito alemão. Processo envolvendo transporte internacional fora extinto sem julgamento de mérito pois se entendeu que tal documento não poderia ser considerado como título de crédito já que as assinaturas do capitão e do carregador não haviam sido recolhidas. A apelante alega que as regras do Código Comercial são inaplicáveis, pois o Decreto n. 19.473/30 permite a assinatura do conhecimento do transporte pelo empresário ou representante. O relator expõe que as bases deste tipo de negócio são os art. 575 e seguintes do Código Comercial, que tratam das formalidades exigidas para o conhecimento do transporte, e menciona a assinatura do carregador e do capitão, o Decreto supracitado fora revogado por Decreto Presidencial. retirando qualquer previsão sobre requisito formal de assinatura no conhecimento de transporte. O conhecimento de transporte pode ser considerado título executivo extrajudicial, mediante prova de entrega da mercadoria. No caso de ação indenizatória por danos materiais, morais e por lucros incessantes em decorrência de acidente de trânsito ocorrido em território estrangeiro entre réu brasileiro e autor estrangeiro evidencia-se relação jurídica plurilocalizada e conectada por diversos elementos estrangeiros. Inicialmente discute-se a competência da justiça brasileira para julgar o litígio, baseando essa escolha na análise de três leis distintas. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro atrai a jurisdição nacional, independentemente da nacionalidade ou domicílio do autor e local do delito, considerando o domicílio (brasileiro) do réu. O Código de Processo Civil define a competência do juiz brasileiro para o julgamento de causas cujo réuesteja domiciliado em território nacional. Por último, o Protocolo de São Luiz revela igualmente a competência da justiça brasileira para julgamento do caso, permitindo também que o autor escolha o foro do local onde aconteceu o acidente, o foro do domicílio do demandado ou o foro de seu próprio domicílio. Assim, a jurisdição brasileira é concorrentemente competente para decidir o conflito, deixando em aberto ao autor a escolha do foro mais conveniente. Ressalta-se também que a competência de outras cortes não é afastada. Para os fins desta determinação é irrelevante: o local do ilícito extracontratual, e a nacionalidade do autor e seu domicílio. Sobre a decisão do mérito da causa, as obrigações se regerão pela lei do local em que se constituírem (não havendo qualquer referência à contratualidade ou extracontratualidade da obrigação). A aplicação do direito estrangeiro tem emprego independentemente da arguição do autor e o direito material a ser aplicado é o da lex loci delicti. Em seu art. 1º, o Protocolo de São Luiz estabelece qual será o direito aplicável ao litígio de responsabilidade civil emergente de acidentes de trânsito que tenha ocorrido em algum dos Estados-partes quando participam ou são atingidos por cidadãos de outro Estado-Parte, dispondo, também, em seu art. 7º, a definição da jurisdição competente para julgar o litígio. Dessa forma, percebemos que existe uma convergência entre os parâmetros trazidos pelas 3 legislações citadas, deixando a legislação brasileira em posição competente para a decisão do conflito. Nota-se que no caso relatado, a determinação da competência pode ser aferida de acordo com i) local do litígio atual ii) nacionalidade do autor e seu domicílio. O Protocolo de São Luiz é acrescentado à incidência da LINDB e se faz responsável pela definição do direito aplicável ao mérito em situação de danos emergentes de acidentes de trânsito. Em seu art. 3º, traz a regra geral de que o direito aplicável será aquele do Estado-Parte do local do sinistro, mas também, no art. 5º diz-se que independentemente do direito aplicável serão levadas em conta as regras de segurança e circulação em vigor do local do acidente. No que diz respeito à aplicação do direito processual brasileiro, as provas produzidas devem permanecer abrigadas na legislação pátria, dessa forma, fica a competência do juiz brasileiro quando as obrigações tiverem de ser cumpridas no Brasil. Logo, é configurada hipótese de competência internacional da autoridade judiciária brasileira, visto que a cláusula de eleição de foro não afasta a competência da jurisdição brasileira. Já na homologação da competência estrangeira, há a discussão para a arguilidade de preliminar de nulidade de citação por edital apresentada por curador especial. É citado um pedido de homologação da sentença estrangeira no Brasil, sob a autoridade judiciária brasileira, com cidadão norte americano, tendo realizado casamento no Brasil, colocando a posição da Defensoria Pública da União a favor na nulidade da citação por edital. Porém o Superior Tribunal de Justiça já juntou a jurisprudência de casos similares e entendeu que havia de ter o preenchimento de todos os requisitos formais para a homologação. 10 Reflexões (atuais) sobre a escolha do procedimento arbitral como método de solução de controvérsias de natureza patrimonial (mitos e realidades) Com base na prática arbitral interno e internacional, de algumas de suas particularidades, tais como o excesso de flexibilidade e de informalidade indispensáveis ao processo arbitral, sem as quais o instituto da arbitragem não lograria as funções pretendidas. Da essência da arbitragem são inerentes os atributos da “celebridade” e da “desformalização” fundamentais para determinar o espaço de negociações no qual seja possível satisfazer as partes envolvidas no conflito, bem como reduzir o tempo de espera pela decisão adequada, oportuna e equitativa. A duração de um processo arbitral é consideravelmente menor do que um processo jurídico. Um dos critérios orientadores das partes na escolha da solução arbitral repousa exatamente na celeridade proporcionada pela desformalização do processo, mas muitas vezes funcionam como fatores de emperramento do processo. A sentença arbitral, via de regra, só poderá ser impugnada caso seja configurada uma das hipóteses relacionadas nos arts. 14 e 15 da Lei número 9.307/96. Além disso, a arbitragem não tem caráter formal e contencioso que permeia tradicionalmente a jurisdição estatal. Mesmo conhecidos os princípios e fundamentos do instituto da arbitragem, ainda encontramos na prática inúmeros problemas relacionados ao procedimento arbitral tanto no que diz respeito comportamento das partes e dos árbitros, quanto aos desvios procedimentais que afetam a arbitragem comprometendo seus princípios atributos.