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Psicologia David Mayers | Capítulo 13 - Personalidades

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^ c a p Í T U L O 13 J
Personalidade
D urante toda a sua angustiante jornada, Frodo Baggins, 0 herói hobbit da saga O Senhor dos Aneis, sabia que havia uma pessoa que jamais iria desapontá- lo: seu fiel e sempre alegre com p a­
nheiro Sam Gamgee. M esmo antes de deixa­
rem a am ada cidade natal, Frodo avisou a 
Sam que a jornada não seria fácil:
“Vai ser muito perigoso, Sam. Já é perigoso 
agora. É bem provável que nenhum de nós dois 
volte.”
“Se o senhor não voltar, então é certo que 
eu não voltarei”, disse Sam. “[Os elfos me dis­
seram] ‘Não o abandone!’ Abandoná-lo?, eu 
respondi. Isso nunca passou pela minha cabeça. 
Se ele subir até a Lua, eu vou com ele; e se quais­
quer daqueles cavaleiros negros tentar impedi-
lo, terão que enfrentar Sam Gamgee.” (Tolkien, 
A Sociedade do Anel, p. 96).
E assim foi! Mais tarde na história, quando 
ficou claro que Frodo teria que se aventurar 
pela pavorosa terra de M ordor sem 0 restante 
da sociedade do anel, foi Sam quem insistiu 
em acom p an h ar Frodo, acon tecesse 0 que 
acontecesse. Foi Sam quem levantou o espí­
rito de Frodo com can ções e h istórias da 
infância de ambos, e foi em Sam que Frodo 
se apoiou quando quase n ão podia m ais 
andar. Q uando Frodo foi tom ado pelo poder 
maléfico do anel que carregava, foi Sam quem 
impediu Frodo de sucumbir com pletam ente. 
E, no final, foi Sam quem possibilitou que 
Frodo chegasse com êxito ao fim da jornada. 
Sam Gamgee — o alegre, otim ista e em ocio­
nalm en te estável — n un ca vacilou em sua 
lealdade ou crença de que eles podiam supe­
rar a escuridão am eaçadora.
O personagem Sam Gam gee de J. R. R. 
Tolkien, à medida que aparece e reaparece 
durante toda a trilogia, exibe a distinção e a 
coerência que definem a personalidade — 
padrão característico de pensar, sentir e agir 
de cada indivíduo. Segundo Dan McAdams e 
Jennifer Pais (2 0 0 6 ) , trata-se da “variação 
individual única do desenho evolucionário 
u niversal da n atu reza h u m a n a ” , que se 
expressa nos traços e na situação cultural de 
cada um . Os capítulos anteriores enfatizaram 
nossa sem elhança — com o todos nós evoluí­
mos, percebemos, aprendem os, lembramos,
pensam os e sentim os. Este capítulo enfatiza 
nossa individualidade.
Grande parte deste livro trata da persona­
lidade. Em capítulos anteriores, consideramos 
as influências biológicas sobre a personali­
dade, 0 desenvolvimento da personalidade ao 
longo da vida e os aspectos relacionados à 
personalidade com o aprendizagem, m otiva­
ção, em oção e saúde. Nos capítulos posterio­
res, estudaremos os transtornos de persona­
lidade e as influências sociais sobre ela.
Neste capítulo, vamos com eçar com duas 
grandes teorias que se to rn aram parte do 
nosso legado. Essas duas perspectivas histo­
ricam ente significativas ajudaram a estabele­
cer o cam po da psicologia da personalidade 
e apresentaram algum as questões centrais 
para a pesquisa e o trabalho clínico atuais.
• A teoria psicanalítica de Freud propôs que 
a sexualidade infantil e as m otivações 
inconscientes influenciam a 
personalidade.
• A abordagem hum anista enfocou em 
nossa capacidade interior para o 
crescim ento e a autorrealização.
Essas teorias clássicas, que oferecem pers­
pectivas m uito interessantes sobre a natureza 
h u m an a, são com p lem entadas pelo outro 
aspecto a ser abordado neste capítulo: novas 
pesquisas científicas mais focadas e realistas 
sobre aspectos específicos da personalidade.
Os pesquisadores de hoje que investigam a 
personalidade estudam as dimensões básicas 
da personalidade, as raízes biológicas dessas 
d im en sões e a in te ra çã o en tre pessoa e 
ambiente. Também estudam a autoestima, 0 
viés em proveito próprio (self-serving bias) ten­
dencioso e as influências culturais na percep­
ção do self. Estudam também a mente incons­
ciente — com descobertas que provavelmente 
deixariam o próprio Freud surpreso.
personalidade padrão característico 
individual de pensar, sentir e agir.
associação livre em psicanálise, um 
método de explorar o inconsciente em 
que a pessoa relaxa e diz o que lhe vem 
à mente, por mais triv ia l ou 
constrangedor que seja.
A PERSPECTIVA 
PSICANALÍTICA
Explorando o Inconsciente 
O s Teóricos Neofreudianos 
e Psicodinâmicos 
Avaliando os Processos 
Inconscientes 
Avaliando a Perspectiva 
Psicanalítica
A PERSPECTIVA 
HUMANISTA
Abraham Maslow e a 
Pessoa Autorrealizada 
Carl Rogers e a Perspectiva 
Centrada na Pessoa 
Avaliando o Self 
Avaliando a Perspectiva 
Humanista 
A PERSPECTIVA DO TRAÇO 
Explorando os Traços 
Avaliando os Traços 
O s Cinco Grandes Fatores 
Avaliando a Perspectiva 
do Traço 
Pensando Criticamente 
Sobre: Como Ser um 
Astrólogo ou Quiromante 
de “Sucesso”
A PERSPECTIVA SOCIAL- 
COGNITIVA
Influências Recíprocas 
Controle Pessoal 
Em Foco: Rumo a uma 
Psicologia Mais Positiva 
Avaliando o Comportamento 
em Situações 
Avaliando a Perspectiva 
Social-Cognitiva 
EXPLORANDO O SELF 
O s Benefícios da Autoestima 
Viés em Proveito Próprio 
(Self-Serving Bias)
Sigmwid Freud. 1856-1939
"Eu era o único trabalhador 
em um novo campo."
psicanálise a teoria da personalidade de Freud que 
atribui pensamentos e ações a motivos e conflitos 
inconscientes; técnicas utilizadas no tratamento de 
transtornos psicológicos procurando expor e interpretar 
tensões inconscientes.
inconsciente de acordo com Freud, um reservatório 
de pensamentos, desejos, sentimentos e memórias 
inaceitáveis, na maioria dos casos. De acordo com 
psicólogos contemporâneos, processamento de 
informações sobre as quais não temos consciência.
A Perspectiva Psicanalítica
1: Qual era a visão de Freud sobre a 
personalidade e seu desenvolvimento?
AMADO OU ODIADO, SIGMUND Freud influenciou pro­
fundam ente a cultura ocidental. Pergunte a 100 pessoas na 
rua o nom e de um notável psicólogo falecido, sugere Keith 
Stanovich (1 9 9 6 , p. 1 ), e “Sigmund Freud será o mais citado”. 
Na m ente popular, Freud é para a história da psicologia o que 
Elvis Presley é para a história do rock. A influência de Freud 
se estende pelas interpretações de livros e de filmes, na psi­
quiatria e na psicologia clínica. Então, quem foi Freud, e quais 
foram seus ensinam entos?
Muito antes de entrar para a University of Viena em 1873, o 
jovem Sigmund Freud mostrou sinais de independência e bri­
lhantismo. Tinha um a mem ória prodigiosa e gostava tanto de 
ler peças teatrais, poesia e filosofia que certa vez contraiu em 
um a livraria um a dívida além de suas posses. Na adolescência, 
quase sempre fazia a refeição n otu rn a em seu pequenino 
quarto, para não perder tempo de estudo. Freud frequentou a 
escola de medicina e, depois de formado, m ontou um a clínica 
particular, especializando-se em transtornos nervosos. Logo, 
porém, deparou-se com pacientes cujos transtornos não faziam 
sentido do ponto de vista neurológico. Por exem plo, um 
paciente perdera todas as sensações em um a das mãos — con­
tudo, não há nervo sensitivo que, danificado, deixaria a mão 
inteira dormente e nada mais. A busca de Freud por um a causa 
para tais transtornos levou sua mente a um a direção destinada 
a m udar o entendimento hum ano sobre si mesmo.
Explorando o Inconsciente
Será que alguns transtornos neurológicos podem ter causas 
psicológicas em vez de fisiológicas? Essa pergunta levou Freud 
à “descoberta” do inconsciente. A partir dos relatos pessoais 
de seus pacientes, ele concluiu que a perda de sensibilidade
na mão de um a pessoa poderia ser causada pelo medo de tocar 
os órgãos genitais; que a cegueira ou a surdez inexplicáveis 
poderiam ser causadas por não desejar ver ou ouvir algo que 
despertasse intensa angústia. Inicialmente, Freud pensou que 
o método da hipnose poderia abrir a porta para o inconsciente, 
mas os pacientes apresentaram uma capacidade desigual para 
a hipnose. Voltou-se então para a associação livre, simples­
m ente solicitando ao paciente para relaxar e dizer o que lhe 
viesse à mente, não im portandoo quanto fosse constrange­
dor ou trivial. Freud supôs que um a fileira de dominós m en­
tais havia caído desde o passado distante de seus pacientes até 
o inquietante presente deles. A associação livre, acreditava, 
permitia-lhe seguir essa fileira de volta, produzindo um a linha 
de pensam ento que levaria ao inconsciente do paciente, recu­
perando e libertando lem branças inconscientes dolorosas, 
quase sempre da infância. Freud denom inou essa teoria e as 
técnicas associadas de psicanálise.
Um elemento básico na concepção de Freud era o de que 
a m ente fica, na m aioria dos casos, escondida (FIGURA 
1 3 .1 ). Nossa percepção consciente seria a parte do iceberg que 
flutua acima da superfície. Abaixo da superfície, ficaria a região 
inconsciente, bem maior, contendo pensam entos, desejos, 
sentim entos e lem branças. Armazenamos tem porariam ente 
alguns desses pensam entos em um a área pré-consciente, da 
qual podemos recuperá-los para a percepção consciente. Um 
dos maiores interesses de Freud era a grande quantidade de 
paixões e pensam entos que, segundo ele, nós recalcamos, ou 
bloqueamos de modo enérgico da nossa consciência, porque 
seriam por demais perturbadores para serem admitidos. Freud 
acreditava que, embora não estejamos conscientes deles, esses 
sentim entos e ideias inquietantes exercem sobre nós um a 
influência poderosa. Para ele, nossos impulsos não reconhe­
cidos se autoexpressam em formas disfarçadas — o trabalho 
que escolhemos, as crenças que alim entam os, nossos hábitos 
diários, nossos sintom as perturbadores.
Mente
consciente
Pré-consciência 
(fora da 
consciência, 
mas acessível)
Mente
inconsciente
> F IG U R A 13.1
A ideia de Freud sobre a estrutura da mente Os psicólogos 
adotaram a imagem de um iceberg para ilustrar a ideia freudiana de 
que a mente está quase que totalmente oculta sob a superfície da 
consciência. Note que o id é totalmente inconsciente, mas o ego e o 
superego operam tanto consciente quanto inconscientemente. 
Diferentemente das partes de um iceberg congelado, no entanto, o id, 
o ego e o superego interagem.
Para o determinista Freud, nada era acidental. Ele defendia 
que podia vislumbrar o inconsciente infiltrando-se não só atra­
vés das associações livres, crenças, hábitos e sintomas das pes­
soas, mas tam bém de seus sonhos e seus atos falhos, falados 
e escritos. Ele exemplificou com o caso de um paciente com 
problemas financeiros que, não querendo tom ar pílulas (pills), 
disse: “Por favor, não me dê contas (bilis), porque não posso 
engoli-las.” Da m esm a form a, Freud considerava as piadas 
expressões das tendências sexuais e agressivas recalcadas, e o 
sonho, a “estrada real para o inconsciente”. O conteúdo lem­
brado dos sonhos (seu conteúdo m anifesto) era a expressão 
censurada de desejos inconscientes de quem sonha (o conteúdo 
latente dos sonhos). Ao analisar os sonhos das pessoas, Freud 
buscava os conflitos interiores de seus pacientes.
Estrutura da Personalidade
Na perspectiva de Freud, a personalidade hum ana — incluindo 
suas emoções e seus esforços — origina-se de um conflito entre 
moção (impulse) e restrição — entre nossos impulsos biológicos 
agressivos em busca do prazer e nossos controles sociais inter­
nalizados sobre esses impulsos. Freud sustentava que a perso­
nalidade era o resultado de nossos esforços no sentido de resol­
ver esse conflito básico — para expressar essas moções ( impulses) 
de modo a produzir satisfação sem trazer também culpa e puni­
ção. Freud teorizou que os conflitos estão centrados em três sis­
temas que interagem: id, ego e superego (FIGURA 13.1).
O id é um reservatório de energia psíquica inconsciente 
em luta constante para satisfazer os impulsos básicos para 
sobreviver, reproduzir e atacar. O id opera sobre o princípio do 
prazer: busca gratificação imediata. Para entender um a pessoa 
dominada pelo id, pense nos recém -nascidos que berram por 
satisfação no m om ento em que sentem necessidade, nem um 
pouco preocupados com as condições e demandas do mundo 
lá fora. O u pense nas pessoas que têm um a perspectiva de 
tempo presente em vez de futuro — aquelas que preferem se 
divertir agora a sacrificar o prazer de hoje pelo sucesso e feli­
cidade futuros. Tais pessoas com mais frequência fazem uso 
de tabaco, álcool e outras drogas (Keough et al., 1 9 9 9 ).
À m edida que o ego se desenvolve, a crian ça pequena 
aprende a enfrentar o m undo real. O ego, operando sobre o 
princípio da realidade, busca satisfazer os impulsos do id de 
maneiras realistas que trarão prazer a longo prazo. (Imagine 
o que aconteceria se, desprovidos de ego, expressássemos nos­
sos impulsos agressivos ou sexuais não recalcados sempre que 
os sentíssem os.) O ego con tém nossas percepções, nossos 
pensam entos, nossos julgam entos e nossas m em órias par­
cialm ente conscientes.
C om eçando a atuar por volta dos 4 ou 5 anos, teorizou 
Freud, o ego de um a criança reconhece as demandas do supe­
rego recém -em ergido, a voz de nossa bússola m oral (a cons­
ciên cia) que força o ego a considerar não só o real m as o 
ideal. O superego se con centra som ente em com o a pessoa 
deve se com portar. Luta pela perfeição, julgando as ações e 
produzindo sentim entos positivos de orgulho ou sentim en­
tos negativos de culpa. Alguém que tenha um superego extre­
mam ente forte pode ser virtuoso, porém, ironicam ente, opri­
mido pela culpa; outra pessoa que tenha um superego fraco 
pode ser autoindulgente e impiedosa.
id contém um reservatório de energia psíquica 
inconsciente que, de acordo com Freud, luta para 
satisfazer impulsos sexuais e agressivos básicos. O id 
opera com base no princíp io d o prazer, exigindo 
gratificação imediata.
ego a parte “executiva” e consciente da personalidade 
que, de acordo com Freud, serve de mediadora entre as 
exigências do id, do superego e da realidade. O ego 
opera com base no princíp io d a rea lid ad e , satisfazendo 
os desejos do id de maneira a obter o prazer de maneira 
realista, em vez de dor.
superego a parte da personalidade que, de acordo 
com Freud, representa ideais internalizados e fornece 
padrões para julgamento (a consciência) e futuras 
aspirações.
Com o as demandas do superego quase sempre são opos­
tas às do id, o ego luta para reconciliar os dois. É o “execu­
tivo” da personalidade, mediando as dem andas impulsivas 
do id, as demandas restritivas do superego e as demandas da 
vida real do m undo exterior. Se a casta Jane se sentir atraída 
por John, ela pode satisfazer tan to o id quanto o superego 
com o, por exemplo, entrando para um a organização volun­
tária da qual John participa regularmente.
Desenvolvimento da Personalidade
A análise das histórias de seus pacientes convenceu Freud de 
que a personalidade se forma durante os primeiros anos de vida. 
Ele concluiu que as crianças passam por um a série de fases psi­
cossexuais, durante as quais as energias do id que buscam o 
prazer ficam concentradas em áreas distintas do corpo sensíveis 
ao prazer denominadas zonas erógenas (TABELA 13.1).
Freud acreditava que, durante a fa se fá lica , os m eninos 
buscam a estim ulação genital e desenvolvem tan to desejo 
sexual inconsciente pela m ãe quanto ciúm e e ódio pelo pai, 
a quem consideram rivais. Devido a esses sentim entos, os 
m eninos supostam ente tam bém sentem culpa e um medo 
oculto da punição, talvez por castração, de parte do pai. Freud 
deu a esse conjunto de sentim entos a denom inação com ­
plexo de Édipo — segundo a lenda grega de Édipo, que, sem 
saber, m atou o pai e casou-se com a mãe. Alguns psicanalis­
tas acreditam que as meninas sofrem de um com plexo para­
lelo cham ado complexo de Electra.
As Fases Psicossexuais de Freud
Fase Foco
Oral
(0-18 meses)
Prazer centralizado na boca - sugar, 
morder, mastigar
Anal
(18-36 meses)
Prazer voltado para aliviar os intestinos 
e a bexiga; enfrentamento de 
demandas pelo controle
Fálica 
(3-6 anos)
Zona de prazer nos genitais; lidando 
comsentimentos sexuais incestuosos
Latência Sentimentos sexuais latentes
(6 anos - puberdade)"Sei como é difícil para você botar comida na sua 
família."
Genital Maturação dos interesses sexuais
(puberdade em diante)
As crianças acabam por enfrentar esses sentimentos am ea­
çadores, disse Freud, reprim indo-os e tentando se identificar 
(tentando ser parecidas) com o genitor rival. É com o se algo 
dentro da criança decidisse: “Se você não pode vencê-lo (o 
genitor do m esm o sexo), junte-se a ele.” Por esse processo de 
identificação, o superego das crianças ganha força, à medida 
que elas incorporam m uitos dos valores dos pais. Freud acre­
ditava que a identificação com o genitor do m esm o sexo for­
necia o que os psicólogos hoje cham am de identidade degen ero
— nosso senso de ser m acho ou fêmea. Freud supôs que as 
relações que estabelecemos na prim eira infância — especial­
m ente com pais e cuidadores — influenciam o desenvolvi­
m ento de nossa identidade, personalidade e fragilidades.
Na perspectiva de Freud, os conflitos não resolvidos durante 
as fases iniciais da psicossexualidade podem vir à ton a na 
form a de com portam ento desadaptado no adulto. Em qual­
quer ponto das fases oral, anal ou fálica, o conflito forte pode 
bloquear, ou fixar, as energias da pessoa na busca do prazer 
naquela fase. Por exemplo, Freud acreditava que as pessoas 
supersatisfeitas ou privadas oralm ente (por desmame precoce 
ou abrupto) podem se fixar na fase oral. Os adultos com fixa­
ção na fase oral podem, segundo ele, exibir ou um a depen­
dência passiva (com o a de um bebê em am am entação) ou 
u m a negação exagerada dessa dependência — agindo com 
dureza ou exibindo um sarcasm o mordaz. O u podem ainda 
continuar buscando gratificação oral no fum ar ou com er em 
excesso. Dessa m aneira, sugeriu Freud, a personalidade se 
form a em tenra idade.
fases psicossexuais as fases de desenvo lv im ento 
in fan til (oral, anal, fálica, la tência, gen ita l) durante as 
quais, de acordo com Freud, as energias que buscam 
satisfazer o prazer do id concentram -se em zonas 
erógenas distintas.
com plexo de Édipo de acordo com Freud, o desejo 
sexual do filh o pela mãe e os sentim entos de ciúmes e 
ó d io pe lo pai rival.
id en tificação o processo segundo o qual, de acordo 
com Freud, as crianças incorporam os valores dos pais 
no desenvo lv im ento de superegos.
fixação de acordo com Freud, foco constante de 
energias que buscam o prazer em uma fase psicossexual 
anterior, na qual os con flito s não foram resolvidos.
Mecanismos de Defesa
2 : Como Freud achava que as pessoas se 
defendiam contra a angústia?
Freud afirm ou que a angústia é o preço que pagam os pela 
entrada na civilização. Na condição de membros de grupos 
sociais, devemos controlar nossos impulsos sexuais agressi­
vos e não os realizar. Mas às vezes o ego tem e perder o con ­
trole dessa guerra interna entre as demandas do id e as do 
superego, e o resultado é a nuvem escura da ansiedade des­
focada, que nos deixa inquietos m as sem saber o porquê.
Freud propôs que o ego se protege com mecanismos de 
defesa. Essas táticas reduzem ou redirecionam a angústia de 
várias formas, mas sempre distorcendo a realidade. Eis aqui 
sete exemplos.
• O recalque expulsa da consciência os pensam entos e os 
sentim entos que despertam angústia. Segundo Freud, o 
recalque é a base de todos os outros m ecan ism os de defesa, 
cada um dos quais disfarça os impulsos am eaçadores e 
os impede de alcançar a consciência. Freud acreditava
que o recalque explica por que não nos lem bramos do 
desejo que sentíam os na infância pelo genitor do outro 
sexo. Contudo, tam bém defendia que o recalque é com 
frequência incom pleto, que os impulsos recalcados 
transbordam pela simbologia dos sonhos e pelo ato 
falho.
• A regressão nos permite retroceder a um a fase de 
desenvolvimento anterior e mais infantil. Assim, 
quando enfrenta os angustiantes primeiros dias de 
escola, um a criança pode regredir ao conforto oral de 
chupar o dedo. Os m acacos jovens, quando ansiosos, 
retrocedem à fase infantil de se agarrarem à m ãe ou uns 
aos outros (Suom i, 1 9 8 7 ). M esmo os calouros 
universitário podem ansiar pela segurança e pelo 
conforto de casa.
• Na form ação reativa, o ego inconscientem ente faz os 
impulsos inaceitáveis parecerem seus opostos. A 
cam inho da consciência, a proposição inaceitável “Eu o 
odeio” torna-se “Eu o am o”. A timidez torna-se ousadia. 
Os sentim entos de inadequação tornam -se 
fanfarronices.
• A projeção disfarça os impulsos ameaçadores, 
atribuindo-os aos outros. Assim, “Ele não confia em 
m im ” pode ser a projeção do verdadeiro sentim ento “Eu 
não confio nele” ou “Eu não confio em m im m esm o”. 
Um ditado salvadorenho capta a ideia: “O ladrão acha 
que todo m undo é ladrão.”
• A racionalização ocorre quando inconscientem ente 
geramos explicações autojustificadas para esconder de 
nós mesm os os verdadeiros motivos de nossas ações. 
Assim, os bebedores habituais podem dizer que bebem 
com os amigos “apenas para serem sociáveis”. 
Estudantes que não conseguem estudar podem 
racionalizar: “Só o trabalho sem lazer torna João [ou 
Joana] um a pessoa sem graça.”
m ecanism os de defesa na teoria psicanalítica, os 
m étodos de p ro teção ao ego que reduzem a angústia 
d is to rcendo inconscientem ente a realidade.
recalque na teo ria psicanalítica, o m ecanism o de 
defesa básico que tira da consciência pensamentos, 
sentim entos e m em órias que geram angústia.
regressão m ecanism o de defesa psicanalítica em que 
um ind ivíduo, d ian te de situações angustiantes, regride 
para uma fase psicossexual mais in fantil, em que parte 
da energia psíquica perm anece fixada.
fo rm ação reativa m ecanism o de defesa psicanalítica 
em que o ego inconscien tem ente transform a im pulsos 
inaceitáveis em seus opostos. Assim, as pessoas podem 
expressar sentim entos que são opostos aos sentim entos 
inconscientes que geram a angústia.
p ro jeção m ecanism o de defesa psicanalítica em que 
as pessoas disfarçam seus p róprios im pulsos 
am eaçadores a tribu indo -os a terceiros.
rac ionalização m ecanism o de defesa que oferece 
explicações au to justificadas em lugar dos verdadeiros 
m otivos inconscientes e mais am eaçadores das nossas 
ações.
"A dama protesta demais, penso eu.”
William Shakespeare, Hamlet, 160G
• O deslocamento, de acordo com Freud, desvia os 
impulsos sexuais ou agressivos da pessoa para um objeto 
ou pessoa que é psicologicamente mais aceitável do que 
aquela que despertou os sentim entos. Crianças que 
tem em expressar raiva contra os pais podem deslocar 
essa raiva chutando o anim al de estim ação da família. 
Estudantes contrariados com o resultado de um a prova 
podem descontar no colega.
• A negação protege a pessoa contra eventos reais 
excessivamente dolorosos para serem aceitos, pela rejeição 
de determinado fato ou de sua gravidade. Pacientes à beira 
da m orte podem negar a gravidade da própria doença. Os 
pais podem negar o com portam ento desviante do filho. 
Cônjuges podem negar provas de que estão sendo traídos.
Observe que todos esses m ecanism os de defesa funcionam 
indiretam ente e inconscientem ente, reduzindo a angústia ao 
disfarçar nossos impulsos ameaçadores. Assim com o o corpo 
inconscientem ente se defende contra as doenças, da mesm a 
m an eira , acred itava Freud, o ego in co n scien tem en te se 
defende contra a angústia.
des locam ento m ecanism o de defesa psicanalítica que 
transform a im pulsos sexuais ou agressivos em relação a 
um ob je to ou pessoa mais aceitáveis ou menos 
ameaçadores, com o acontece quando red irecionam os a 
raiva para um canal mais seguro.
negação m ecanismo de defesa no qual as pessoas se 
recusam a acred ita r ou mesmo a perceber realidades 
dolorosas.
inconscien te co le tivo conce ito de Carl Jung de 
reservatório com partilhado e he red itá rio de traços de 
m em ória dah istória da nossa espécie.
teste p ro je tiv o teste de personalidade, com o o de 
Rorschach ou TAT, que fornece estím ulos am bíguos 
criados para gerar pro jeções da dinâm ica in terna do 
indivíduo.
Teste de Apercepção Tem ática (TAT) Teste p ro je tivo 
em que as pessoas expressam seus sentim entos e 
interesses pessoais por m eio das h istórias que criam 
sobre cenas ambíguas.
“A m u lh er... reconhece □ fato de sua castração e, com 
isso, a superioridade do homem e sua própria 
inferioridade; mas ela se rebela contra essa situação 
indesejada."
Sigmund Freud, Sexualidade Feminina, 1931
ANTES DE PROSSEGUIR...
>- P ergunte a Si M esmo
Como você descreveria a sua personalidade? Que 
características formam padrões típicos que refletem sua forma 
de pensar, sentir e agir?
> Teste a Sí Mesm o 1
Quais são alguns mecanismos de defesa importantes, de 
acordo com Freud, e contra o que eles atuam?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
Os Teóricos Neofreudianos 
e Psicodinâmicos
3 : Quais das ideias de Freud foram aceitas ou 
rejeitadas por seus seguidores?
Os escritos de Freud eram controversos, mas logo atraíram 
seguidores, em sua m aioria médicos jovens e ambiciosos que 
form aram um círculo em torn o do seu líder voluntarista. 
Esses psicanalistas pioneiros e outros, a quem agora ch am a­
mos neofreudianos, aceitavam as ideias básicas de Freud: as 
estruturas do id, ego e superego da personalidade; a im por­
tân cia do in con scien te; a form ação da personalidade na 
infância; e a dinâm ica da angústia e dos m ecanism os de 
defesa. Mas se afastavam das ideias de Freud em duas ques­
tões im portantes. Em primeiro lugar, davam m aior ênfase ao 
papel da m ente consciente quanto à interpretação da expe­
riência e à relação com o ambiente. Em segundo, questiona­
vam se o sexo e a agressão seriam m otivações monopoliza- 
doras. Em vez disso, destacavam m otivações mais nobres e 
as interações sociais. Os exemplos a seguir ilustram essas 
tendências.
Alfred Adler e Karen Horney concordavam com Freud que 
a infância é im portante. Mas acreditavam que as tensões 
sociais, e não as tensões sexuais, da infância são cruciais para 
a form ação da personalidade (Ferguson, 2 0 0 3 ) . O próprio 
Adler (que propôs a ideia ainda popular de complexo de infe­
rioridade) lutou para vencer as doenças e os seus acidentes 
da infância, e afirmava que m uito do nosso com portam ento 
é induzido por esforços para superar os sentim entos de infe­
rioridade da infância, sentimentos que acionam nossos esfor­
ços em busca de superioridade e poder. Horney afirmou que 
a angústia da infância, causada pelo senso de desam paro, 
provoca nosso desejo de am or e segurança. Karen H orney 
opôs-se às suposições de Freud de que as mulheres têm supe­
rego fraco e sofrem “inveja do pênis”, e ten tou equilibrar 
o viés que detectou nessa visão m asculina da psicologia.
D iferentem ente de outros neofreudianos, Carl Jung — o 
discípulo de Freud que se tornou dissidente — atribuiu m enor 
ênfase aos fatores sociais e con cord ou com Freud que o 
inconsciente exerce um a influência poderosa. Mas, para Jung, 
o inconsciente contém mais do que nossos pensam entos e 
sentim entos recalcados. Ele sustentava que éram os, tam bém , 
dotados de um inconsciente coletivo, um reservatório 
com um de imagens derivadas das experiências universais da 
nossa espécie. Jung afirmou que o inconsciente coletivo expli­
cava por que, para muitas pessoas, as preocupações espiritu­
ais são profundam ente arraigadas e por que pessoas em dife­
rentes culturas com partilham certos m itos e im agens, tal 
com o a m ãe com o símbolo de nutrição. (O s psicólogos atu­
ais rejeitam a ideia de experiências herdadas. M uitos acredi­
tam , porém, que nossa história evolucionista com partilhada 
m oldou algumas disposições universais.)
Freud m orreu em 1 9 3 9 . Desde en tão, algumas de suas 
ideias foram incorporadas à teoria psicodinâm ica. “A m aioria 
dos teóricos e terapeutas contem porâneos não com partilha 
a ideia de que o sexo é a base da personalidade”, observa Drew 
W esten (1 9 9 6 ) . Eles “não falam sobre ids e egos, e não andam 
por aí classificando seus pacientes com o personalidades orais, 
anais ou fálicas”. O que adm item , tal com o Freud, é que 
m uito de nossa vida m ental é inconsciente, que, com fre­
quência, lutam os com conflitos internos entre nossos dese­
jos, nossos medos e nossos valores e que a infância molda 
nossa personalidade e nossos modos de nos ligarmos às outras 
pessoas.
Avaliando os Processos Inconscientes
4 : O que são testes projetivos, e como são usados?
As ferram entas de avaliação da personalidade são úteis para 
os estudiosos da personalidade ou terapeutas. Essas ferra­
m entas diferem porque são adaptadas a teorias específicas. 
Com o os clínicos que trabalham segundo a tradição freudiana 
tentam avaliar as características da personalidade?
A primeira exigência seria ter um a espécie de estrada para 
o inconsciente, para identificar rem iniscências de experiên­
cias da primeira infância — algo que vai além da superfície e 
revela conflitos e impulsos ocultos. (Lembre-se de que Freud 
acreditava que a associação livre e a interpretação de sonhos 
podiam revelar o inconsciente.) Os psicanalistas descartam 
as ferram entas de avaliação objetiva, tais com o questionários 
do tipo concordo-discordo ou falso-verdadeiro, pois consi­
deram que elas m eram ente tocam a superfície consciente.
Os testes projetivos visam a fornecer esse “raio-X psico­
lógico” ao apresentar um estímulo ambíguo e, depois, soli­
citar aos participantes que o descrevam ou que contem um a 
história sobre ele. Henry M urray introduziu o Teste de Aper- 
cepção Temática (TAT), no qual as pessoas viam quadros 
com figuras ambíguas e depois construíam histórias sobre 
elas (FIGURA 1 3 .2 ). Um uso da narração de histórias tem 
sido avaliar a m otivação de realização. Ao observar um jovem 
em devaneio, aqueles que im aginam o que ele está fan ta­
siando sobre um a realização é visto com o projetando seus 
próprios objetivos.
Teste de Rorschach O teste projetivo mais 
amplamente utilizado — um conjunto de 10 pranchas 
com borrões de tin ta criado por Hermann Rorschach; 
busca identificar os sentimentos das pessoas por meio 
da análise de suas interpretações desses borrões.
“0 Teste de Rorschach está totalm ente desacreditado... Eu 
o chamo de 'Drácula' dos testes psicológicos, porque 
ninguém conseguiu ainda cravar uma estaca no coração 
dessa maldição.”
Carol Travis, "Mind Games: 
Psychological Warfare Between 
Therapists and Scientists", 2003
O teste mais usado e mais conhecido é o teste Rorschach, 
em que as pessoas descrevem o que veem em um a série de 
pranchas com borrões de tinta (FIGURA 1 3 .3 ). O psiquia­
tra suíço H erm ann Rorschach elaborou-o a partir de um jogo 
infantil em que ele e os colegas jogavam tinta sobre o papel, 
dobravam-no e depois contavam o que viam na m ancha resul­
tante (Sdorow, 2 0 0 5 ) . Você vê animais predadores ou armas? 
O exam inador pode deduzir que tem os tendências à agressi­
vidade. Mas será essa suposição razoável?
As respostas dos clínicos e críticos diferem. Alguns clíni­
cos apreciam o Rorschach, oferecendo até m esm o avaliações 
nele baseadas a juizes sobre o potencial de violência de cri­
m inosos. O utros o consideram um a ferram enta de diagnós­
tico, um a fonte de orientações sugestivas, um meio de que­
brar o gelo inicial de um tratam ento ou ainda um a técnica 
de entrevista reveladora. A Sociedade de Avaliação da Perso­
nalidade (2 0 0 5 ) recom enda o “uso responsável” do teste (que 
não incluiria inferir abuso sexual infantil no passado). E, em 
resposta às críticas passadas de resultados e interpretações 
dos testes (Sechrest et al., 1 9 9 8 ), foi desenvolvida um a fer­
ram enta de codificação e interpretação, assistida por com pu­
tador e baseadaem pesquisa, que almeja m elhorar a con cor­
dância entre os avaliadores e aum entar a validade do teste 
(Erdberg, 1 990 ; Exner, 2 0 0 3 ) .
Mas a evidência é insuficiente para os críticos, que insis­
tem que o teste de Rorschach não é um a ressonância m agné­
tica em ocional. Eles argum entam que som ente poucas das 
muitas avaliações derivadas do teste, tais com o as de hostili­
"Nós não vemos as coisas como elas são; vemos as coisas 
como somos."
□ Talmude
> F IG U R A 13.2
Teste TAT O psicólogo pressupõe que as esperanças, os medos e os 
interesses expressos por este menino nas descrições de uma série de 
quadros com imagens ambíguas no Teste de Apercepção Temática 
(TAT) são projeções de seus sentimentos mais íntimos.
> F IG U R A 13.3
O Teste de Rorschach Nesse teste projetivo, as pessoas dizem o 
que veem em uma série de pranchas com borrões de tinta simétricos. 
Alguns que usam esse teste confiam que a interpretação de estímulos 
ambíguos revelará aspectos inconscientes da personalidade do 
participante. Outros o usam para quebrar o gelo inicial de uma terapia 
ou para completar outras informações.
dade e ansiedade, dem onstraram ser válidas (W ood, 2 0 0 6 ) . 
Além disso, esses críticos afirmam que os testes não são con ­
fiáveis. As avaliações de borrões de tinta diagnosticam muitos 
adultos normais com o patológicos (W ood et al., 2 0 0 3 , 2 0 0 6 ) . 
Técnicas alternativas de avaliação projetiva têm resultados 
pouco melhores. “Mesmo os profissionais mais experientes”, 
alertaram Scott Lilienfeld, James Wood e Howard Garb (2 0 0 1 ) , 
“podem ser enganados pela intuição e confiança em ferra­
m en tas que n ão ap resen tam forte evidência de eficácia. 
Quando um substancial corpo de pesquisa dem onstra que as 
velhas intuições estão erradas, está na hora de adotar novas 
maneiras de pensar”. O próprio Freud provavelmente se sen­
tiria desconfortável em tentar diagnosticar pacientes com base 
em testes e se m ostraria mais interessado nas interações tera- 
peuta-paciente que acontecem durante a aplicação do teste.
Avaliando a Perspectiva Psicanalítica
Evidências Contraditórias das 
Pesquisas Modernas
5.* Qual a visão dos psicólogos contemporâneos 
sobre Freud e o inconsciente?
Criticam os Freud a partir de um a perspectiva do início do 
século XXI, um a perspectiva que por si só está sujeita a revi­
são. Freud não tinha acesso às pesquisas sobre neurotrans­
missores ou DNA, ou a tudo que aprendem os desde então 
sobre o desenvolvimento, o pensam ento e as em oções das 
pessoas. Assim, dizem os admiradores de Freud, criticar suas 
teorias com parando-as com os conceitos atuais é com o co m ­
parar o Modelo T, de Henry Ford, com os carros híbridos atu­
ais. (C om o é tentador julgar as pessoas no passado a partir 
de nossa perspectiva no presente.)
Mas tanto os admiradores quanto os críticos de Freud con ­
cordam que a pesquisa recente contradiz m uitas de suas ideias 
específicas. Os psicólogos do desenvolvimento consideram 
nosso desenvolvimento contínuo, não fixado na infância. Eles 
duvidam que as redes neurais dos bebês estejam am adureci­
das o suficiente para sustentar o traum a em ocional previsto 
por Freud. Alguns pensam que Freud superestimou a influência 
parental e subestim ou a influência (e o abuso) dos pares. 
Também questionam a ideia de Freud de que a consciência e 
a identidade de gênero se form am enquanto a criança resolve 
o complexo de Edipo aos 5 ou 6 anos. Form am os nossa iden­
tidade sexual mais cedo e nos tornam os fortem ente m asculi­
nos ou femininos mesmo sem a presença do genitor do mesmo 
sexo. As ideias de Freud sobre a sexualidade infantil originam- 
se de seu ceticism o em relação às histórias de abuso sexual 
infantil contadas por suas pacientes — histórias que alguns 
estudiosos acreditam que ele atribuiu aos seus próprios dese­
jos sexuais infantis e conflitos (Esterson, 2 0 0 1 ; Powell e Boer, 
1 9 9 4 ). Hoje, entendemos com o o questionamento de Freud 
pode ter criado falsas m em órias, e tam bém sabemos que o 
abuso sexual na infância de fato ocorre.
C om o vim os no Capítulo 3, novas explicações para os 
sonhos disputam com a crença de Freud de que eles disfar­
çam e realizam os desejos. E os atos falhos podem ser expli­
cados com o com petição entre escolhas verbais semelhantes 
em nossa rede de m em ória. Alguém que diz “N ão quero fazer 
isso — é muito am orrecido” pode estar simplesmente m istu­
rando am olação com aborrecido (Foss e Hakes, 1 9 7 8 ). Os pes­
quisadores encontram pouco apoio para a ideia de Freud de 
que os m ecanism os de defesa disfarçam a agressividade e os 
impulsos sexuais (em bora nossa ginástica cognitiva realmente
trabalhe para proteger nossa autoestim a). A história não apoia 
outra das ideias de Freud — a ideia de que o recalque dos con ­
teúdos sexuais causa transtornos psicológicos. Desde o tempo 
de Freud até o nosso, a repressão sexual diminuiu; os trans­
tornos psicológicos não.
“Muitos aspectos da teoria freudiana estão de fato 
desatualizados, e deveriam estar: Freud faleceu em 1939, 
e resistiu à realização de revisões m ais abrangentes.”
Drew Westen, psicólogo (1998)
“Por sete anos e meio, trabalhei junto com o Presidente 
Reagan. Fizemos avanços. Cometemos erros. Tivemos 
sexo... ops... retrocessos."
George W. Bush, 190B
“Lembro perfeitam ente do seu nome, mas não consigo 
lem brar do seu rosto."
W.A. Spooner, 1044-1930, professor de Oxford, famoso 
por seus lapsos lingüísticos (spoonerismosj
O Recalque É um Mito?
Toda a teoria psicanalítica baseia-se na suposição de Freud de 
que a m ente hum ana com frequência recalca as experiências 
dolorosas, banindo-as para o inconsciente, até que ressurjam, 
com o livros há muito esquecidos em um sótão empoeirado. 
Se recuperarm os e resolvermos as lem branças dolorosamente 
recalcadas de nossa infância, a cura emocional virá em seguida. 
Sob a influência de Freud, o recalque tornou-se um conceito 
am plam ente aceito, usado para explicar fenômenos hipnóti­
cos e os transtornos psicológicos. Os seguidores de Freud se 
valem do recalque para explicar lem branças aparentem ente 
perdidas e recuperadas de traum as de infância (Boag, 2 0 0 6 ; 
Cheit, 1998 ; Erdelyi, 2 0 0 6 ) . Em uma pesquisa, 88% dos estu­
dantes universitários acreditavam que as experiências dolo­
rosas eram com um ente empurradas para fora da consciência 
e para dentro do inconsciente (G arry et al., 1 9 9 4 ).
Os pesquisadores contemporâneos reconhecem que às vezes 
poupamos nossos egos negligenciando informações am eaça­
doras (G reen et al., 2 0 0 8 ) . Ainda assim, muitos argum entam 
que o recalque, se vier a ocorrer, é um a resposta m ental rara 
a um traum a terrível. Elizabeth Loftus (1 9 9 5 ) afirma que “O 
folclore do recalque é [...] em parte refutado, em parte não 
testado e, em parte não testável”. Mesmo quem testem unhou 
o assassinato de um dos pais ou sobreviveu aos cam pos de 
concentração nazistas guarda as lembranças intactas do hor­
ror (Helmreich, 1992 , 1994 ; Malmquist, 1986 ; Pennebaker,
1 9 9 0 ). “Dezenas de estudos formais não geraram um único 
caso convincente de recalque em toda a literatura sobre trau­
m as”, conclui o pesquisador em personalidade John Kihlstrom 
(2 0 0 6 ) . O m esm o se aplica à literatura mundial, relata uma 
equipe de Harvard que ofereceu mil dólares a quem fornecesse 
um exemplo médico ou m esm o ficcional p ré -1800 de uma 
pessoa saudável que tenha bloqueado um evento traum ático
específico e recuperado-o um ano depois ou mais (Pope et al.,
2 0 0 7 ) . Certam ente, se isso ocorresse com m uita frequência, 
alguém teria percebido. Apesar da grande divulgação, nenhum 
caso desses foi relatado. (Após a publicação deste trabalho, 
um a pessoa apresentou um a ópera de 1 7 8 6 em que um a 
m ulher aparentem ente esquece ter en contrad o o am ante 
m orto após um duelo [Pettus, 2 0 0 8 ] .)
Alguns pesquisadores acreditam que o estresse extrem o e 
prolongado, tal como o estresse vivido por um a criança que 
sofreu um a grave agressão, pode prejudicar a m em ória dani­
ficando o hipocampo (Schacter, 1 9 9 6 ). Mas a realidade bem 
mais com um é que o alto nível de estresse e os horm ônios 
associados ao estresse realçam a m em ória (veja o Capítulo 
8 ). Na verdade, estupro, tortura e outros eventos traum áti­
cos perseguem os sobreviventes, que os recordam sem querer. 
Eles ficam m arcados na alm a. “Você vê os bebês”, disse Sally 
H. (1 9 7 9 ) , sobrevivente do Holocausto. “Você vê mães gri­
tando. Vê pessoas enforcadas. Você para e vê aquele rosto lá. 
É algo que não se esquece.”
"As descobertas gerais,., desafiam seriamente a noção 
psicanalítica clássica do recalque."
Yacov Rofé, psicólogo. “Does Repression Exist?" 2000
"Durante o Holocausto, muitas crianças... foram forçadas 
a suportar o insuportável. Para aqueles que continuam a 
sofrer a dor ainda está presente, muitos anos depois, tão 
real quanto no dia em que ocorreu."
Eric Zillm er, M olly Harrower, B a rry R itz le r e Robert 
Archer. The Ouest lo r the N azi Personality, 1995
A Mente Inconsciente Moderna
Freud estava certo em pelo m enos um ponto: nós realm ente 
tem os acesso limitado a tudo que acontece em nossa m ente 
(Erdelyi, 1 9 8 5 , 1 9 8 8 , 2 0 0 6 ; Kihlstrom, 1 9 9 0 ) . Em experi­
mentos, as pessoas aprenderam a antecipar em que quadrante 
na tela do com putador determ inado caractere apareceria, 
m esm o antes de conseguirem articu lar a regra subjacente 
(Lewicki, 1 992 , 1 9 9 7 ). Pesquisas confirm am a realidade do 
ap ren d izad o im p líc ito in con scien te (F letch er et al., 2 0 0 6 ; 
Fresch e Rünger, 2 0 0 3 ) . Nossa m ente de duas vias ( tw o-track 
m in d ) abarca um vasto domínio não visível.
No entanto, a noção de “iceberg” que os psicólogos pes­
quisadores têm hoje em dia difere da visão de Freud — tanto 
que, argum enta Anthony Greenwald (1 9 9 2 ) , chegou a hora 
de abandonar a visão freudiana do inconsciente. Conform e 
vimos em capítulos anteriores, m uitos pesquisadores agora 
consideram o inconsciente não um fom entador de paixões e 
crítico repressivo, m as um a modalidade do processam ento 
de inform ação que ocorre sem o nosso conhecim ento. Para 
esses pesquisadores, o inconsciente envolve
• os esquemas que controlam autom aticam ente nossa 
percepção e nossas interpretações (Capítulo 6 ).
• a pré-ativação (prim in g ) por meio de estímulos para os 
quais não atentam os conscientem ente (Capítulos 6 e 8 ) .
• a atividade do hemisfério direito que possibilita à m ão 
esquerda do paciente que sofreu cisão cerebral executar
um a instrução que o paciente não consegue verbalizar 
(Capítulo 2 ) .
• o processam ento paralelo de diferentes aspectos da visão 
e do pensam ento (Capítulos 6 e 9 ).
• as recordações implícitas que operam sem lem brança 
consciente, m esm o entre aqueles que têm amnésia 
(Capítulo 8 ).
• as em oções que se intensificam instantaneam ente, antes 
de um a análise consciente (Capítulo 1 2 ).
• o autoconceito e os estereótipos que autom ática e 
inconscientem ente influenciam o m odo com o 
processamos as inform ações sobre nós mesm os e sobre 
os outros (Capítulo 1 6 ).
Mais do que nos damos conta, voamos no piloto autom á­
tico. N ossas vidas são conduzidas pelo processam ento da 
inform ação de form a inconsciente e não visível. Essa com ­
preensão do processam ento inconsciente da inform ação é 
m ais parecida com a visão pré-freudiana de um a corrente 
subterrânea de pensam entos da qual as ideias criativas em er­
gem espontaneam ente (Bargh e Morsella, 2 0 0 8 ) .
Pesquisas recentes tam bém fornecem algum apoio para a 
ideia freudiana dos m ecanism os de defesa (m esm o que não 
funcione exatam ente com o Freud supôs). Por exemplo, Roy 
Baumeister e colegas (1 9 9 8 ) descobriram que as pessoas ten ­
dem a ver suas fraquezas e atitudes nos outros, fenôm eno 
que Freud cham ou de projeção e que os m odernos pesquisa­
dores cham am de efeito do fa lso consenso, isto é, a tendência 
a superestim ar a extensão em que os outros com partilham 
nossas crenças e nossos com p ortam en tos. As pessoas que 
sonegam impostos ou ultrapassam o limite de velocidade ten ­
dem a achar que muitas outras pessoas fazem o m esm o. As 
evidências, no entanto, são escassas para outras defesas, tais 
com o o deslocam ento, que são ligadas à energia instintiva. 
Existe mais evidência para defesas, tais com o a form ação rea­
tiva, que defendem a autoestim a. Os m ecanism os de defesa, 
conclui Baumeister, são m enos motivados pelos impulsos em 
ebulição que Freud supôs do que pela necessidade de prote­
ger nossa autoim agem.
teoria do gerenciamento do terror teoria da angústia 
relacionada com a morte; explora as respostas 
emocionais e comportamentais das pessoas a fatores 
que lembram sua morte iminente.
Finalm ente, a história recente apoia a ideia de Freud de 
que nós nos defendem os co n tra a angústia. N ovam ente, 
porém , a ideia contem porânea difere da de Freud. Jeff Gre­
enberg, Sheldon Solomon e Tom Pyszczynski (1 9 9 7 ) acredi­
tam que uma fonte de angústia é “o terror resultante da cons­
ciência que tem os da vulnerabilidade e da m orte”. Mais de 
2 0 0 experim entos que testaram sua teoria do gerencia­
m ento do terror m ostraram que pensar sobre a mortalidade
— por exem plo, escrevendo um texto cu rto sobre o ato de 
m orrer e as emoções associadas — provoca várias defesas para 
gerenciar o terror. Por exem plo, a angústia com a m orte 
aum enta o preconceito — desprezo pelos outros e estim a por 
si m esm o (Koole et al., 2 0 0 6 ) .
Diante de um m undo am eaçador, as pessoas agem não só 
para m elhorar sua própria autoestim a, m as tam bém para 
aderir m ais fortem ente a um a visão geral que responda a 
questões sobre o significado da vida. A perspectiva da morte 
promove sentim entos religiosos, e convicções religiosas pro­
fundas perm item que as pessoas sejam m enos defensivas — 
tendam a defender com m enos ênfase suas visões de mundo
— quando são lembradas da m orte (Jonas e Fischer, 2 0 0 6 ; 
Norenzayan e Hansen, 2 0 0 6 ) . Além disso, elas se apegam aos 
relacionam entos íntimos (M ikulincer et al., 2 0 0 3 ) . Os even­
tos do 11 de Setembro nos Estados Unidos — um a terrível 
experiência do terror da m orte — fizeram com que as pessoas 
que ficaram presas no W orld Trade C enter gastassem seus 
últimos m om entos ligando para seus entes queridos, e leva­
ram a m aioria dos n orte-am erican os a en trar em con tato 
com familiares e amigos.
As Ideias de Freud como 
Teoria Científica
Os psicólogos tam bém criticam a teoria de Freud por suas 
lim itações científicas. Lembre-se, do Capítulo 1, de que boas 
teorias científicas explicam as observações e oferecem hipó­
teses que podem ser testadas. As teorias de Freud repousam 
sobre poucas observações objetivas e oferecem poucas hipó­
teses para se verificar ou rejeitar. (Para Freud, suas próprias 
lem branças e interpretações das livres associações, sonhos e 
atos falhos dos pacientes eram evidências suficientes.)
Qual é o problema mais sério com a teoria de Freud? Ela 
oferece explicações a p osteriori a respeito de qualquer carac­
terística (do hábito de fum ar em um a pessoa, do medo de 
cavalos em outra, da orientação sexual em ou tra), porém não 
pred iz tal com p ortam en to ou tais traços. Se você fica com 
raiva pela a m orte de sua m ãe, você ilustra a teoria freudiana, 
porque “as suas necessidades não resolvidas de dependência 
na infância são am eaçadas”. Se você não fica com raiva, tam ­
bém ilustra a teoria, porque “você está reprimindo sua raiva”. 
Isso, com o disseram Calvin Hall e Gardner Lindzey (1 9 7 8 , 
p. 6 8 ) , “é com o apostar em um cavalo depois da corrid a”. 
Uma boa teoria faz previsões que podem ser testadas.
Por tais razões, alguns pesquisadores fazem duras críticas 
a Freud. Veem Freud e sua teoria com o um edifício em decom ­
posição, construído nosp ântanos de sexualidade infantil, 
recalque, análise de sonhos e especulação a posteriori. “Quando 
nos colocam os no lugar de Freud, descobrimos que estam os 
olhando cada vez mais para a direção errada”, diz John Kihls- 
trom (1 9 9 7 ) . Para o mais m arcante crítico de Freud, Frede- 
rick Crews (1 9 9 8 ) , o original sobre as ideias de Freud não é 
bom, e o que é bom não é original (a m ente inconsciente é 
uma ideia que rem onta aos tempos de Platão).
“Não quero a lc a n ç a r a im ortalid ad e por m eio do meu 
trab a lh o ; quero s e r im o rta l sem p re c isa r m orrer."
Woody Allen
“B u squ ei ao Senhor, e Ele m e respondeu, e de todos os 
m eus tem ores m e livrou."
Salmo 34:4
"N ossos arg u m en to s são como os de um hom em que diz: 
'Se h o u vesse um gato in v isív e l n a poltrona, esta 
p a re ce ria v azia ; m as a p o ltron a p arece de fato vazia; 
p ortanto , tem um gato in v is ív e l nela."
C.S. Lewis, FourLoves, 1958
Então, será que a psicologia deve afixar a ordem “Não Res­
suscitar” sobre essa antiga teoria? Os defensores de Freud con ­
testam. Criticar a teoria freudiana por não fazer predições que 
possam ser testadas é, dizem eles, com o criticar o beisebol por 
não ser um esporte aeróbico. É justo culpar algo por não ser 
aquilo que nunca pretendeu ser? Ao contrário de muitos psi­
canalistas que o sucederam, Freud nunca declarou que a psi­
canálise era um a ciência profética. Ele simplesmente declarou 
que, olhando para trás, os psicanalistas poderiam encontrar 
significado em nosso estado de espírito (Rieff, 197 9 ).
Os defensores de Freud tam bém n otaram que algumas de 
suas ideias são duradouras. Foi Freud quem cham ou nossa 
atenção para o inconsciente e para o irracional, para nossas 
defesas contra a angústia, para a im portância da sexualidade 
hum ana e para a tensão entre nossos impulsos biológicos e 
nosso bem -estar social. Foi Freud quem desafiou nossas auto- 
justificativas, quem puncionou nossas pretensões e nos lem ­
brou do nosso potencial para o mal.
N a ciência, o legado de Darwin persiste, e o de Freud vai 
expirando (Bornstein, 2 0 0 1 ) . Praticam ente 9 entre 10 cursos 
universitários norte-am ericanos que abordam a psicanálise 
estão, de acordo com um a pesquisa de âmbito nacional, fora 
dos departam entos de psicologia (C ohen, 2 0 0 7 ) . Na cultura 
popular, o legado de Freud continua vivo. Algumas ideias que 
m uitas pessoas julgam ser verdadeiras — a de que as experi­
ências na in fân cia m oldam a personalidade, a de que os 
sonhos têm significados, a de que m uitos com portam entos 
têm motivações disfarçadas — fazem parte desse legado. Seus 
conceitos do início do século XX penetraram em nossa lin­
guagem no século XXL Sem com preender suas fontes, pode­
mos falar de ego, recalque, projeção, com plexo (com o em “com ­
plexo de inferioridade”), rivalidade entre irm ãos, lapsos de lin ­
guagem e fixação . “As premissas de Freud podem ter passado 
por um declínio constante de aceitação no m undo acadêmico 
por m uitos an o s”, notou M artin Seligm an (1 9 9 4 ) , “m as 
Hollywood, os program as de entrevistas, m uitos terapeutas 
e o público em geral ainda as apreciam ”.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> Pergunte a Si Mesmo
Antes de ler este capítulo, o que você sabia sobre Freud, e quais 
eram suas impressões sobre ele? Elas mudaram de alguma 
maneira depois de ler as informações aqui apresentadas?
>- Teste a Si M esmo 2
Como a ciência da psicologia atual avalia a teoria de Freud?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
A Perspectiva Humanista
6: Como os psicólogos humanistas veem a 
personalidade, e qual era seu objetivo ao 
estudar a personalidade?
NA DÉCADA DE 1960 , ALGUNS PSICÓLOGOS DA PERSO­
NALIDADE m ostraram -se insatisfeitos com a negatividade 
da teoria freudiana e a psicologia m ecanicista do behavio- 
rism o de B.F. Skinner. Indo em direção contrária à do estudo 
de Freud sobre motivações básicas de pessoas “doentes”, os
psicólogos hum anistas voltaram sua atenção para o modo com o 
as pessoas “saudáveis” se esforçam por obter autodeterminação 
e autorrealizacão. Em contraste com a objetividade científica 
do behaviorismo, eles estudaram as pessoas por meio de suas 
experiências e sentim entos relatados por elas mesmas.
Dois teóricos pioneiros — Abraham Maslow (1 9 0 8 -1 9 7 0 ) 
e Carl Rogers (1 9 0 2 -1 9 8 7 ) — propuseram a perspectiva de um a 
terceira fo rça com ênfase no potencial hum ano.
autorrealização de acordo com Maslow, uma das 
necessidades psicológicas essenciais que surge após as 
necessidades físicas e psicológicas básicas terem sido 
atendidas e a autoestima ser alcançada; a motivação 
para realizar o potencial do indivíduo.
aceitação positiva incondicional de acordo com Rogers, 
uma atitude de aceitação total em relação ao outro.
Abraham Maslow e a Pessoa Autorrealizada
Maslow propôs que somos motivados por um a hierarquia de 
necessidades (Capítulo 11). Se nossas necessidades fisiológicas 
são atendidas, ficamos preocupados com segurança pessoal; 
se atingimos um senso de segurança, buscamos então amar, 
ser amados e am ar a nós mesmos; com nossas necessidades 
de am or satisfeitas, buscamos autoestima. Tendo alcançado a 
autoestima, finalmente buscamos a autorrealização (o pro­
cesso de realizar nosso potencial) e de autotranscendência (sig­
nificado, propósito e com unhão para além do eu).
Maslow (1 9 7 0 ) desenvolveu suas ideias estudando pessoas 
saudáveis e criativas em vez de casos clínicos complicados. 
Ele baseou sua descrição de autorrealização em um estudo de 
pessoas que pareciam notáveis por terem levado um a vida 
rica e produtiva — entre eles Abraham Lincoln, Thomas Jeffer- 
son e Eleanor Roosevelt. M aslow relatou que essas pessoas 
tinh am em com um certas características: aceitavam -se tal 
com o eram e tinham consciência de si mesm as; eram fran­
cas e espontâneas, afetuosas e solícitas e não se deixavam 
afetar pela opinião dos outros. Seguras por saberem quem 
eram , seus interesses eram centrados nos problemas, e não 
em si m esm as. Elas con cen travam suas energias em um a 
determ inada tarefa, a qual viam com o sua missão na vida. A 
m aioria desfrutava de poucos relacionam entos íntim os em 
vez de m uitos relacionam entos superficiais. M uitas foram 
movidas por grandes experiências pessoais ou espirituais que 
vão além da consciência com um .
Essas, segundo Maslow, são qualidades adultas maduras, 
qualidades que se encontram nas pessoas que aprenderam o 
suficiente sobre a vida para serem compassivas, para terem 
superado seus sentimentos confusos em relação aos pais, para 
terem descoberto sua vocação, para terem “adquirido cora­
gem bastante para serem impopulares, para não se envergo­
nharem de serem abertam ente virtuosas etc.". O trabalho de 
M aslow com estudantes universitários o levou a especular 
que aqueles propensos a se torn ar adultos autorrealizados 
eram simpáticos, solícitos, “particularm ente afetuosos com 
os mais idosos que m erecem seu afeto” e “preocupados com 
a crueldade, a malvadeza e o espírito de gangue encontrados 
com tan ta frequência entre as pessoas jovens”.
Carl Rogers e a Perspectiva 
Centrada na Pessoa
O psicólogo hum anista Carl Rogers estava de acordo com mui­
tos dos pensamentos de Maslow. Rogers acreditava que as pes­
soas são basicamente boas e dotadas de tendências para a autor­
realização. A não ser que estejamos em um ambiente que iniba 
o crescimento, cada um de nós é com o um broto pequenino, 
pronto para o crescim ento e para a realização. Rogers (1 9 8 0 ) 
acreditava que um clima favorável ao crescimento exigia três 
condições: autenticidade, aceitação e empatia.
Segundo Rogers, as pessoas nutrem nosso crescimento com 
auten ticidade - sendo francas em seus sentim entos, retirando 
as m áscaras e sendo transparentes e reveladoras.
As pessoas tam bém nutrem o crescimento com aceitação
— oferecendo-nos o que Rogers cham ou de aceitação posi­
tiva incondicional. Essa é um a atitude de benevolência, uma 
atitude que nos valoriza m esm o tendo con hecim en to dos 
nossos defeitos. É um alívio profundo deixar nossos disfarces 
caírem , confessar nossos piores sentim entos e descobrir que 
ainda somos aceitos. Esperamos desfrutar dessa experiência 
gratificante em um bom casam ento, em um a família unida 
ou em um a amizade ín tim a na qual não sentim os m ais a 
necessidade de nos explicar. No m elhor dos relacionam en­
tos, estam os livres para ser espontâneos sem receio de perder 
a estima do outro.
Finalmente, as pessoas nutrem o crescim ento com em pa­
tia — com partilhando e espelhando nossos sentim entos e 
refletindo nossos significados. “R aram ente ouvim os com 
compreensão sincera e verdadeira empatia”, disse Rogers. “No 
en tan to , ouvir, nessa condição especial, é um a das forças 
mais potentes para a m udança que eu con heço.”
Para Rogers, autenticidade, aceitação e empatia são a água, 
o sol e os nutrientes que possibilitam às pessoas crescerem 
com o vigorosos carvalhos, pois, “na medida em que são acei­
tas e valorizadas, as pessoas tendem a desenvolver um a ati­
tude mais favorável em relação a si m esm as” (Rogers, 1980 , 
p. 116). Na medida em que as pessoas são ouvidas com empa­
tia, “torna-se possível para elas escutar com mais precisão o 
fluxo das experiências interiores”.
O escritor Calvin Trillin (2 0 0 6 ) recorda um exemplo de 
autenticidade e aceitação parental em um acam pam ento para 
crianças com transtornos graves, onde sua esposa, Alice, tra­
balhava. L., um a “criança m ágica”, sofria de um transtorno 
genético que a obrigava a se alim entar através de um tubo e 
a cam inhar com m uita dificuldade. Alice recorda,
Um dia, quando estávamos brincando de lenço atrás, eu estava 
sentada atrás dela e ela me pediu para segurar sua correspondên­
cia enquanto era a vez dela de ser perseguida em torno do círculo. 
Levou algum tempo para que ela completasse o circuito e eu pude 
ver que por cima da pilha de correspondência estava uma bilhete 
de sua mãe. Então, fiz um a coisa terrível... Sim plesmente não 
resisti, tinha que saber o que os pais dessa criança poderiam ter 
feito para que ela fosse tão espetacular, para que se tornasse o ser 
hum ano mais entusiasmado, otim ista e esperançoso que eu já 
tinha visto. Dei uma olhada no bilhete e meus olhos caíram na 
seguinte frase: “Se Deus nos tivesse oferecido todas as crianças 
do mundo para escolher, L., nós escolheríam os apenas você.” 
Antes de L. voltar ao lugar dela no círculo, mostrei o bilhete para 
Bud, que estava sentado do meu lado. “Rápido, leia isto”, eu sus­
surrei, “é o segredo da vida”.
Maslow e Rogers teriam sorrido sabiamente. Para eles, a 
característica central da personalidade é o autoconceito — 
todos os pensam entos e sentim entos que tem os em resposta 
à pergunta “Q uem sou eu?”. Se nosso autoconceito for posi­
tivo, tendem os a agir e a ver o m undo positivamente. Se for 
negativo — se aos nossos olhos estivermos m uito longe do 
nosso eu ideal —, disse Rogers, sentim o-nos insatisfeitos e 
infelizes. Um objetivo valioso para terapeutas, pais, profes­
sores e amigos é, portanto, segundo ele, ajudar os outros a se 
conhecer, a se aceitar e a ser verdadeiros consigo mesmos.
Avaliando o Self
7 : Como os psicólogos humanistas avaliaram o 
sentido do self?
Os psicólogos hum anistas algumas vezes investigaram a per­
sonalidade pedindo às pessoas que respondessem a questio­
nários para avaliar seu autoconceito. Um questionário, ins­
pirado por Carl Rogers, pedia que elas se descrevessem com o 
realm ente eram e com o gostariam de ser. Q uando o self ideal 
e o self real são muito parecidos, disse Rogers, o autoconceito 
é positivo. Q uando avaliava o crescim ento pessoal de seus 
pacientes durante a terapia, ele procurava classificações suces­
sivamente mais próxim as entre o self real e o self ideal.
Alguns psicólogos hum anistas acreditavam que qualquer 
avaliação padronizada da personalidade até um questionário, 
é “despersonalizante”. Em vez de forçar a pessoa a responder 
a categorias restritas, esses psicólogos consideram que entre­
vistas e conversas íntim as possibilitam um a com preensão 
m elhor das experiências únicas de cada pessoa.
Avaliando a Perspectiva Humanista
8 : Como a perspectiva humanista influenciou a 
psicologia? Que críticas ela enfrentou?
Algo que se diz a respeito de Freud tam bém pode ser dito sobre 
os psicólogos hum anistas: seu impacto tem sido generalizado. 
As ideias de Maslow e de Rogers influenciaram o aconselha­
m ento, a educação, a criação das crianças e a administração.
au toconce ito todos os nossos pensam entos e 
sentim entos, em resposta à pergunta: “ quem sou eu?”
Eles tam bém influenciaram — às vezes de modo não inten­
cional — m uito da psicologia popular de hoje. Um autocon­
ceito positivo é a chave para a felicidade e o sucesso? A acei­
tação e a empatia ajudam a nutrir sentimentos positivos sobre 
si m esm o? As pessoas são basicam ente boas e capazes de se 
aperfeiçoar? Muitas pessoas respondem sim, sim e sim. Res­
pondendo a um a pesquisa de opinião do Instituto Gallup e 
da N ewsweek feita em 1992 , 9 em 10 norte-am ericanos clas­
sificaram a autoestima com o um fator muito im portante para 
“m otivar um a pessoa a trabalhar com afinco e ser bem -suce­
dida". A mensagem da psicologia hum anista foi ouvida.
A proem inência da perspectiva hum anista desencadeou 
um a onda de críticas. Prim eiro, disseram os críticos, seus 
conceitos são vagos e subjetivos. Considere a descrição de 
Maslow de pessoas autorrealizadas com o francas, espontâ­
neas, afetuosas, com autoaceitação e produtivas. Essa é um a 
descrição científica? Não será apenas um a descrição dos ide­
ais e valores pessoais de Maslow? Maslow, observou M. Brews- 
ter Smith (1 9 7 8 ) , ofereceu impressões de seus heróis pesso­
ais. Imagine outro teórico que tivesse um grupo diferente de 
heróis — talvez N apoleão, John D. Rockefeller e o ex-vice- 
presidente dos EUA Dick Cheney. Esse teórico provavelmente 
descreveria as pessoas autorrealizadas com o “não coibidas 
pelas necessidades dos outros”, “motivadas pela realização” 
e “obcecadas pelo poder”.
Os críticos tam bém se opuseram à ideia de Carl Rogers de 
que “a única pergunta que im porta é: ‘Estou vivendo de um 
modo que é profundam ente gratificante para m im e que real­
m ente m e expressa?’” (citado por W allach e W allach, 1 9 8 5 ). 
O individualismo incentivado pela psicologia hum anista — 
confiar e agir de acordo com os próprios sentim entos, ser
verdadeiro consigo mesmo, satisfazer a si mesmo — pode levar 
à satisfação excessiva dos próprios desejos, ao egoísmo e à 
erosão das restrições m orais (C am pbell e Specht, 1 9 8 5 ; 
W allach e W allach, 1 9 8 3 ). De fato, são aqueles que olham 
para além de si m esm os que estão mais propensos a vivenciar 
o apoio social, a desfrutar da vida e a enfrentar o estresse do 
m odo eficaz (Crandall, 1 9 8 4 ).
Os psicólogos hum anistas co n tra-argu m en taram que o 
prim eiro passo para am ar os outros é, na verdade, um a auto­
aceitação segura e não defensiva. De fato, pessoas que se sen­
tem intrinsecam ente amadas e aceitas — pelo que são, e não 
apenas por suas realizações — exibem atitudes m enos defen­
sivas (Schimel et al., 2 0 0 1 ) .
Um a derradeira acusação feita contra a psicologia hum a­
nista é que ela não leva em con ta a realidade da nossa capa­
cidade hum ana para o mal. Diante do aquecim ento global, 
da superpopulação do planeta e da expansão das arm as nucle­
ares, podemos ficar apáticos diante de duas possibilidades: o 
otim ism o ingênuo que nega a am eaça ( “As pessoas são basi­
cam ente boas; tudo será resolvido” ) e o desespero sombrio 
( “N ão há esperança; por que ten tar?”). A ação requer rea­
lismo suficiente para fom entar preocupação e otimismo sufi­
ciente parafornecer esperança. A psicologia hum anista, dizem 
os críticos, incentiva a esperança necessária, mas não o rea­
lismo igualmente necessário acerca do mal.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> Pergunte a Si Mesmo
Você já teve aiguém na vida que o aceitou 
incondicionalmente? Você acha que essa pessoa o ajudou a 
se conhecer melhor e a desenvolver uma imagem melhor de si 
mesmo?
> Teste a Si Mesmo 3
O que significa ter “empatia”? Ser “autorrealizado"?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
A Perspectiva do Traço
9 : Como os psicólogos utilizam os traços para 
descrever a personalidade?
Em vez de se concentrar em forças inconscientes e em opor­
tunidades de crescim ento frustradas, alguns pesquisadores 
tentam definir a personalidade em term os de padrões de com ­
portam ento estáveis e duradouros, tais com o a lealdade e o 
otimismo de Sam Gamgee. Essa perspectiva rem onta, em parte, 
a um encontro extraordinário ocorrido em 1919, quando Gor- 
don Allport, um curioso estudante de psicologia de 22 anos, 
entrevistou Freud em Viena. Allport logo descobriu quanto o 
fundador da psicanálise estava querendo encontrar motivos 
ocultos, até m esm o em seu com portam ento durante a entre­
vista. Essa experiência por fim levou Allport a fazer o que Freud 
não fez: descrever a personalidade em term os de traços fun­
dam entais — os com portam entos e os motivos conscientes 
característicos das pessoas (tal com o a curiosidade profissio­
nal que motivou Allport a ir ao encontro de Freud). Encontrar 
Freud, disse Allport, "ensinou-m e que ela [a psicanálise], por 
todos os seus méritos, pode mergulhar muito fundo, e que os 
psicólogos fariam bem em dar total reconhecim ento aos m oti­
vos m anifestos antes de sondarem o inconsciente”. Allport 
veio a definir a personalidade em term os de padrões de com ­
portam ento identificáveis. Ele estava menos preocupado em 
explicar os traços individuais do que em descrevê-los.
C om o Allport, Isabel Briggs Myers (1 9 8 7 ) e sua m ãe, 
Katharine Briggs, queriam descrever diferenças de persona­
lidade im portantes. Elas ten taram classificar as pessoas de 
acordo com os tipos de personalidade propostos por Carl 
jung, baseados em suas respostas a 12 6 perguntas. O Indica­
dor de Tipo M yers-Briggs (M BTI), disponível em 21 idiomas, 
é aplicado a mais de 2 milhões de pessoas por ano, princi­
palmente para fins de aconselham ento, treinam ento em lide­
rança e desenvolvimento de equipes de trabalho (CPP, 2 0 0 8 ) . 
Esse indicador oferece escolhas, tais com o “Você costum a dar 
mais valor ao sentim ento do que à lógica, ou à lógica mais 
do que ao sen tim ento?”. Depois con ta as preferências dos 
participantes e as rotula com o indicando, digamos, um tipo 
“sentim ental” ou “racional” e as devolve à pessoa em term os 
acolhedores. Aos tipos sentim entais, por exemplo, é dito que 
são sensíveis aos valores e “empáticos, apreciativos e gentis”; 
aos tipos racionais diz-se que “preferem um padrão objetivo 
da verdade” e que são “bons em análise”. (Todos os tipos têm 
seus pontos fortes, por isso todo m undo se afirm a.)
A m aioria das pessoas concorda com o perfil anunciado 
do seu tipo. Afinal, ele reflete suas preferências declaradas. 
Também podem aceitar seus rótulos com o base para parce­
rias com colegas de trabalho e para a designação de tarefas 
supostam ente adequadas a seus tem peram entos. Um relató­
rio am ericano do N ational Research Council, no entanto, 
observou que, apesar da popularidade do teste nos negócios 
e orientações de carreira, seu uso inicial ultrapassou as pes­
quisas por seu valor de previsão de desempenho profissional, 
e que “a popularidade desse instrum ento na ausência de vali­
dade científica com provada é problem ática” (D ru ckm an e 
Bjork, 1991 , p. 101 ; ver tam bém Pittenger, 1 9 9 3 ) . Apesar de 
as pesquisas sobre o MBTI se acum ularem a p artir dessas 
advertências, o teste se m antém principalm ente com o um 
instrum ento de aconselham ento e orientação profissional 
( coach in g ), e não de pesquisa.
traço um padrão característico de com portam ento ou 
uma disposição para sentir e agir, con form e avaliado por 
relatos pessoais e re la tórios de pares.
Explorando os Traços
Classificar as pessoas com o tendo um ou outro tipo distinto 
de personalidade não capta plenam ente a individualidade 
delas. Então, de que outro modo podemos descrever suas per­
sonalidades? Podem os descrever um a m açã considerando 
várias dim ensões de traço s — relativam en te grande ou 
pequena, verm elha ou verde, doce ou ácida. Ao colocar pes­
soas em várias dimensões de traços sim ultaneam ente, os psi­
cólogos podem descrever incontáveis variações individuais 
de personalidade. (Lembre-se, do Capítulo 6, de que varia­
ções em apenas três dimensões de cores — matiz, saturação 
e luminosidade — criam muitos milhares de cores.)
Quais dimensões de traços descrevem a personalidade? Se 
você tivesse um encontro m arcado com um desconhecido do 
sexo oposto, que traços de personalidade poderiam lhe dar 
um a impressão precisa da pessoa? Allport e seu colega H. S. 
Odbert (1 9 3 6 ) con taram literalm ente todas as palavras em 
um dicionário não resumido com as quais se poderia descre­
ver as pessoas. Q uantas palavras havia no dicionário? Quase 
1 8 .0 0 0 ! Com o, então, os terapeutas podem condensar a lista 
de traços básicos em um núm ero manejável?
Ansioso 
Rigoroso 
Sóbrio 
Pessimista 
Reservado 
Não social 
Calado
INTROVERTIDO
Passivo
Cuidadoso
Pensativo
Pacífico
Controlado
Confiável
INSTÁVEL
Temperamental
Bem-humorado 
Calmo
ESTÁVEL
Sensível
Inquieto
Agressivo
Excitável
Volúvel
Impulsivo
Otimista
Ativo
------------EXTROVERTIDO
Sociável 
Despachado 
Falante 
Reativo 
Fácil de lidar 
Alegre 
Despreocupado 
Líder
> F IG U R A 13.4
Duas dimensões da personalidade Os cartógrafos podem nos 
dizer muito sobre o uso de duas coordenadas (norte-sul e leste- 
oeste). Hans Eysenck e Sybil Eysenck usaram dois fatores primários de 
personalidade - extroversão-introversão e estabilidade-instabilidade — 
como coordenadas para descrever a variação de personalidade. As 
combinações variadas definem outros traços mais específicos. (De 
Eysenck e Eysenck, 1963.)
Análise Fatorial
Um m étodo tem sido propor traços, tais com o ansiedade, 
que algumas teorias consideram básicos. Uma técnica mais 
recente é a an álise fa to r ia l, o procedim ento estatístico des­
crito no Capítulo 10 para identificar conjuntos de itens de 
testes que indicam com ponentes básicos de inteligência (tais 
com o habilidade espacial ou habilidade verbal). Imagine que 
pessoas que se descrevem com o sociáveis tam bém tendam a 
dizer que gostam de agitação, de pregar peças nos outros e 
que não gostam de ficar lendo em silêncio. Tal conjunto de 
com portam entos estatisticamente correlacionados reflete um 
traço, ou fator básico — neste caso, um traço denom inado 
extroversão.
Os psicólogos britânicos Hans Eysenck e Sybil Eysenck 
acreditam que podemos reduzir muitas de nossas variações 
individuais norm ais a duas ou três dim ensões, incluindo 
ex troversão-in troversão e estab ilidade-in stab ilidade em ocional 
(F IG U R A 1 3 .4 ). O Q uestionário de P ersonalidade de Eysenck 
foi respondido por pessoas em 35 países em todo o mundo, 
desde a China até Uganda e Rússia. Quando as respostas das 
pessoas são analisadas, os fatores extroversão e emotividade 
inevitavelmente emergem com o dimensões básicas da perso­
nalidade (Eysenck, 1 990 , 1 9 9 2 ) . Os Eysencks acreditavam 
que esses fatores são geneticam ente influenciados, e as pes­
quisas apoiam essa crença.
Biologia e Personalidade
Exames da atividade cerebral dos extrovertidos som am -se à 
lista crescente de traços e estados m entais que foram explo­
rados com procedim entos de im agens do cérebro. (A lista 
inclui inteligência, impulsividade, vícios, m entira, atração 
sexual, agressividade,em patia, experiência espiritual e até 
m esm o atitudes racistas ou políticas [O lson, 2 0 0 5 ] .) Tais 
estudos indicam que os extrovertidos buscam estímulos por­
que sua excitação cerebral norm al é relativamente baixa. Exa­
mes feitos por PET m ostram que um a área do lobo frontal 
envolvida na inibição do com portam ento é m enos ativa em 
extrovertidos do que em introvertidos (Johnson et al., 1 9 9 9 ). 
A dopam ina e a atividade neural ligada à dopam ina tendem 
a ser mais altas nos extrovertidos (W acker et al., 2 0 0 6 ) .
A biologia influencia nossa personalidade tam bém de 
outras m aneiras. Com o você deve lem brar dos estudos sobre 
adoção e gêmeos no Capítulo 4, nossos genes têm m uito a 
dizer sobre o tem peram ento e o estilo de com portam ento que 
ajudam a definir nossa personalidade. Jerom e Kagan, por 
exem plo, atribuiu as diferenças de timidez e inibição nas 
crianças à reatividade do sistem a nervoso au tôn om o delas. Dado 
um sistem a nervoso au tôn o m o reativo, respondem os ao 
estresse com m aior ansiedade e inibição. A criança destemida 
e curiosa pode se tornar um alpinista ou um m otorista que 
gosta de dirigir em alta velocidade.
Samuel Gosling e seus colegas (2 0 0 3 ; Jones e Gosling,
2 0 0 5 ) relatam que as diferenças de personalidade entre cães 
(em term os de energia, afeto, reatividade e inteligência) são 
tão evidentes e tão consistentem ente avaliadas quanto as dife­
renças de personalidade hum anas. M acacos, chim panzés, 
orangotangos e até m esm o pássaros têm personalidades está­
veis (W eiss et al., 2 0 0 6 ) . Entre os parídeos (um parente euro­
peu do chapim n orte-am ericano), pássaros ousados inspecio­
nam m ais rapidam ente novos objetos e exploram árvores 
(G roothuis e Carere, 2 0 0 5 ; Verbeek et al., 1 9 9 4 ). Por meio 
da reprodução seletiva, os pesquisadores podem produzir aves 
mais ousadas ou mais tímidas. Os dois tipos têm seu lugar na 
história natural. Nos anos mais difíceis, os pássaros ousados 
provavelmente encontrarão alimento; nos anos de fartura, os 
pássaros mais tímidos se alim entarão com menos riscos.
Avaliando os Traços
10: O que são inventários de personalidade, e 
quais são seus pontos fracos e fortes como 
instrumentos de avaliação de traços?
Se traços estáveis e duradouros guiam nossas ações, seria pos­
sível criar testes válidos e confiáveis desses traços? Existem 
várias técnicas de avaliação derivadas dos conceitos de traço
— algumas mais válidas do que outras (veja a seguir a seção 
“C om o Ser um Astrólogo ou Q u irom an te de ‘Sucesso’” ). 
Algumas traçam o perfil dos padrões de com portam ento de 
um a pessoa quase sempre oferecendo avaliações rápidas de 
um único traço, tal com o extroversão, ansiedade ou autoes­
tim a. Os inventários de personalidade — questionários 
mais longos nos quais as pessoas respondem a itens que 
abrangem um a vasta gama de sentim entos e com portam en­
tos — foram criados para avaliar vários traços de um a vez.
O inventário clássico de personalidade é o Inventário 
Multifásico de Personalidade de M innesota (M M PI). 
Embora avalie tendências “anorm ais” e não os traços nor­
mais de personalidade, o MMPI ilustra um a boa m aneira de 
com o desenvolver um inventário de personalidade. Um de 
seus criadores, Starke H athaw ay ( 1 9 6 0 ) , co m p arou seu 
esforço ao de Alfred Binet. Binet, com o você deve se lembrar 
do Capítulo 10, desenvolveu o primeiro teste de inteligência 
selecionando itens que discrim inavam crianças que teriam 
problemas em progredir norm alm ente em escolas francesas. 
Os itens do MMPI tam bém foram obtidos empiricamente. 
Ou seja, a partir de um amplo conjunto de itens, Hathaway 
e seus colegas selecionaram aqueles nos quais determinados 
grupos de diagnósticos diferiam. Depois eles agruparam as 
perguntas em 10 escalas clínicas, incluindo escalas que ava­
liavam tendências depressivas, masculinidade-feminilidade 
e introversão-extroversão.
Inicialmente, Hathaway e seus colegas apresentaram cen­
tenas de declarações do tipo “falso” ou “verdadeiro” ( “N in­
guém me en ten d e”; “Eu ten h o tod a a com p reen são que 
m ereço”; “Eu gosto de poesia” ) a grupos de pacientes psico­
logicam ente perturbados e a pessoas “n orm ais”. Eles retive­
ram toda e qualquer declaração — por mais tola que pudesse 
parecer — cuja resposta do grupo de pacientes diferisse das 
respostas do grupo norm al. “Nada no jornal me interessa, 
exceto as histórias em quadrinhos” pode parecer insensato, 
mas acontece que as pessoas deprimidas estavam mais incli­
nadas a responder “verdadeiro”. (N ão obstante, há quem se 
divirta ao zombar do MMPI propondo itens com o: “C horar 
me deixa com lágrim as nos olhos” , “G ritos frenéticos me 
deixam nervoso” e “Eu fico na banheira até parecer um a uva- 
passa” [Frankel et al., 1 9 8 3 ] .) O M M PI-2 atual contém tam ­
bém escalas clínicas para avaliar, por exemplo, atitudes no 
trabalho, problemas familiares e raiva.
Em contraste com o caráter subjetivo da m aioria dos tes­
tes projetivos, preferidos pelos psicanalistas, os inventários 
de personalidade são pontuados objetivamente — a tal ponto 
que um com putador pode aplicá-los e corrigi-los. (O co m ­
p utador tam bém pode fornecer descrições de pessoas que 
deram respostas semelhantes anteriorm ente.) A objetividade, 
entretanto, não garante a validade. Por exemplo, aqueles que 
se subm etem ao MMPI com o propósito de conseguir um 
emprego podem dar respostas socialm ente desejáveis para 
causar boa impressão. Mas, ao fazer isso, essas pessoas tam ­
bém podem m arcar muitos pontos na escala de m entira , que 
avalia até que ponto um a pessoa está fingindo para causar 
boa impressão (ao responder “falso” a afirmativas universal­
m ente verdadeiras do tipo “Às vezes fico com raiva”). A obje­
tividade do MMPI contribui para que ele encontre grande 
aceitação e tenha sido traduzido para mais de cem línguas.
inven tá rio de pe rsona lidade um questioná rio (em 
gerai com opções do t ip o verdadeiro-falso ou concordo- 
discordo ) em que as pessoas respondem a perguntas 
criadas para avaliar uma am pla gama de sentim entos e 
com portam entos; u tilizad o para avaliar traços de 
personalidade selecionados.
Inven tá rio M ultifás ico de Personalidade de M innesota 
(MMPI) o teste de personalidade mais am plam ente 
pesquisado e u tilizado na prá tica clínica. O rig ina lm ente 
desenvolv ido para id en tifica r transto rnos em ocionais 
(a inda considerado seu uso mais ap rop riado), este teste 
agora é u tilizado para m uitas outras fina lidades de 
seleção.
teste o b tid o em piricam ente um teste (com o o MMPI) 
desenvolvido testando-se diversos itens e depois 
selecionando aqueles que m elhor caracterizam os grupos.
Os Cinco Grandes Fatores
11: Que traços parecem fornecer informações 
mais úteis sobre a variação de personalidade?
Os atuais pesquisadores do traço supõem que as primeiras 
dimensões de traço , tais com o as dim ensões in trovertido/ 
extrovertido e instável/estável elaboradas por Eysenck, são 
im portantes, m as não representam todas as dim ensões da 
personalidade. Um conjunto de fatores levemente ampliado
— denom inado os Cinco G randes (B ig Five) — apresenta um 
resultado mais preciso (C osta e M cCrae, 1 999 ; John e Sri- 
vastava, 1 9 9 9 ) . Se um teste especifica onde você está nas
TABELA 13.2
Os " C inco G randes" Fatores da P ersonalidade
Dimensão de Traço Extremos da dimensão
Realização ou Organizado ■*----------- ----------- >- Desorganizado
conscienciosidade Cuidadoso < ----------- ----------- ► Descuidado
Disciplinado < ----------- ----------- *- Impulsivo
Socialização Amável —----------- ----------- i- Cruel
Confiável ■*----------- ----------- ► Suspeito
Prestativo -í----------- ; Egoísta
Neuroticismo (estabilidade vs Calmo ■*------- >■ Ansioso
instabilidade emocional) Seguro ^ ► Inseguro
Autossatisfação -<-►- Autopiedade
Abertura para a experiência Imaginativo
Preferênciapor variedade 
Independente
Prático
Preferência por rotina 
Conformado
Extroversão Sociável Retraído
Divertido ■<r~-------------------- ► Sóbrio
Afetuoso ■<-------- -------- ► Reservado
Fonte: Adaptado de McCrae e Costa (1986, p. 1002).
cinco dimensões m ostradas na TABELA 1 3 .2 (realização ou 
conscienciosidade, socialização, neuroticismo ou estabilidade, 
abertura para experiência e extroversão), ele diz muito sobre 
sua personalidade. Em todo o m undo — em 56 nações e 2 9 
idiomas de um estudo (Schm itt et al., 2 0 0 7 ) — as pessoas 
descrevem as outras em term os aproxim adam ente coerentes 
com essa lista. Os C inco Grandes não são a palavra final, 
m as, por ora, o núm ero que está ganhando na loteria da per­
sonalidade é cinco. Os Cinco Grandes — atual “moeda cor­
rente da psicologia da personalidade” (Funder, 2 0 0 1 ) — repre­
sentam o tópico de pesquisa de personalidade mais ativo desde 
o iníco dos anos 1 9 9 0 e, atualm ente, são o que m elhor nos 
aproxim a das dimensões básicas de traço.
A onda recente da pesquisa dos C inco Grandes explora 
várias questões:
• Até que ponto esses traços são estáveis? Na vida adulta, 
os Cinco Grandes traços são bem estáveis, com algumas 
tendências (instabilidade em ocional, extroversão e 
abertura para experiência) diminuindo um pouco nas 
décadas que seguem o com eço e o meio da idade adulta e 
outras (socialização e realização ou conscienciosidade) 
aum entando (M cC rae et al., 1 999 ; Vaidya et al., 2 0 0 2 ) .
A realização ou conscienciosidade aum enta mais na casa 
dos 2 0 anos, à medida que as pessoas am adurecem e 
aprendem a lidar com o trabalho e seus relacionam entos. 
A socialização aum enta mais na casa dos 30 anos e 
continua a aum entar até os 6 0 (Srivastava et al., 2 0 0 3 ) .
• Até que ponto são herdados? A hereditariedade de 
diferenças individuais varia com a diversidade das 
pessoas estudadas, mas norm alm ente fica em 50% ou 
um pouco mais para cada dimensão, e as influências 
genéticas são semelhantes em diferentes nações 
(Loehlin et al., 1 998 ; Yam agata et al., 2 0 0 6 ) .
• Os Cinco Grandes traços predizem outros atributos 
pessoais? Sim, e aqui estão alguns exemplos: pessoas 
altam ente sociáveis tendem a ter notas mais altas na
escola e na universidade (C onard, 2 0 0 6 ; Noftle e 
Robins, 2 0 0 7 ) . Tendem tam bém a ser do tipo m atutino 
(às vezes, cham adas "cotovias”); as do tipo vespertino 
( “corujas”) são m arginalm ente extrovertidas (Jackson e 
Gerard, 1 9 9 6 ). Q uando o cônjuge de um a pessoa tem 
um escore baixo em socialização, estabilidade e abertura 
para experiência, a satisfação m atrim onial e sexual pode 
sofrer (Botwin et al., 1997 ; D onnellan et al., 2 0 0 4 ) .
Ao explorar tais questões, a pesquisa dos Cinco Grandes 
revigorou a psicologia do traço e valorizou a im portância da 
personalidade.
Avaliando a Perspectiva do Traço
12: As pesquisas apoiam a consistência dos traços 
de personalidade ao longo do tempo e em 
várias situações?
Será que os traços de nossa personalidade são estáveis e dura­
douros? Ou será que nosso com portam ento depende de onde 
e de com quem estam os? J. R. R. Tolkien criou personagens, 
com o o leal Sam Gamgee, cujos traços de personalidade m an ­
tinham a consistência através do tempo e independentemente 
dos lugares. O teatrólogo italiano Luigi Pirandello tinha um 
ponto de vista diferente. Para ele, a personalidade estava sem­
pre mudando, talhada de acordo com a situação ou com um 
papel em particular. Em uma das peças de Pirandello, Lamberto 
Laudisi se autodescreve para a senhora Sirelli: “Eu realmente 
sou o que a senhora acha que eu sou; em bora, m inha cara 
senhora, isso não impeça que eu realmente tam bém seja o que 
o seu marido, a m inha irmã, a m inha sobrinha e a senhora 
Cini acham que eu sou — porque eles tam bém estão absoluta­
mente certos!” Ao que ela respondeu: “Em outras palavras, o 
senhor é uma pessoa diferente para cada um de nós.”
P F N C A N D 0 r R I T I T A M F N T F ç n R D F ••
J
1 b 11 J M 11 L n 1 1 1 L n n l b 11 1 C J U D n L
Como Ser um Astrólogo ou Quiromante 
de “Sucesso”
Será que podem os iden tifica r os traços das pessoas pelo a li­
nham ento dos planetas e das estrelas na hora do nascimento? 
Pela caligrafia? Pelas linhas das palmas de suas mãos?
Os astrônom os zom bam da ingenuidade da astro log ia — 
desde que os astró logos form ularam suas predições, há m ilê­
nios, as conste lações têm m udado (K elly , 1997, 1998). Os 
hum oristas debocham : "Sem querer o fender” , escreve Dave 
Barry, "mas, se você levar o ho róscopo a sério, seus lobos 
fron ta is são do tam anho de ervilhas." Em vez disso, os psicó­
logos perguntam : Será que isso funciona? Será que os astró ­
logos podem d rib la r o acaso usando a data de nascim ento 
para iden tificar uma pessoa a pa rtir de uma breve descrição 
de sua personalidade? Será possível uma pessoa reconhecer 
seu p róprio horóscopo em meio a vários outros?
As respostas consistentes têm sido: não, não e não (B ritish 
Psychological Society, 1993; Carlson, 1985; Kelly, 1997). Por 
exem plo, um pesquisador exam inou dados do censo de 20 
milhões de pessoas casadas na Inglaterra e Gales e descobriu 
que “o signo astro lóg ico não tem im pacto nenhum sobre a 
probabilidade de casar — e permanecer casado — com alguém 
de qualquer ou tro s igno” (Voas, 2008).
Sobre os grafólogos, que fazem predições a partir de amos­
tras de caligrafia, tam bém já se descobriu que não usam mais 
do que o acaso quando ten tam d iscern ir as ocupações da 
pessoa, exam inando várias páginas de sua caligrafia (Beyers­
tein e Beyerstein, 1992; Dean et al., 1992). No entanto, os g ra ­
fó lo go s — e estudan tes novatos de ps ico log ia — com fre ­
quência irão perceber corre lações entre a caligrafia e a per­
sonalidade, mesmo quando não há nenhuma (K ing e Koehler,
2000).
Se todas essas correlações percebidas somem quando sub­
m etidas a um exame mais a tento , com o se exp lica que os 
astró logos, qu irom antes e observadores de bolas de crista l 
convençam milhões de pessoas em to d o o m undo a pagar por 
seus conselhos? Ray Hyman (1981), um qu irom ante que se 
to rnou um pesquisador da psicologia, revelou os m étodos ilu ­
sórios que são utilizados.
A prim eira técn ica, o “ estoque de d iscurso persuasivo” , 
baseia-se na observação de que, em alguns aspectos, cada 
um de nós não é igual a mais ninguém e, em outros, somos 
tod os iguais. O fa to de algum as coisas serem verdade iras 
para todos nós possib ilita que o "v iden te ” faça declarações 
que pareçam im pressionantem ente corretas: “ Você se p re o ­
cupa mais com as coisas do que deixa transparecer, mesmo 
para os seus melhores am igos.” A lgum as dessas declarações 
geralm ente verdadeiras podem ser reunidas em uma descri­
ção de personalidade. Im agine que você se subm eta a um 
teste de personalidade e depo is receba o seguinte esboço 
de caráter:
Você tem grande necessidade de ser admirado e estimado pelas 
pessoas. Você tende a ser crítico consigo mesmo... Você se orgu­
lha de si mesmo por ter ideias próprias e não aceitar a opinião dos 
outros sem provas satisfatórias. Você acha insensato ser muito 
franco ao revelar-se para os outros. Às vezes, você é extrovertido, 
afável, sociável; outras vezes, é introvertido, cauteloso e reservado. 
Algum as de suas aspirações não são muito realistas (Davies, 1997; 
Forer, 1949).
Em experimentos, estudantes universitários receberam ava­
liações triv ia is com o essa, extraídas das declarações de um 
livro de astro log ia vendido em bancas de jornais. Quando eles 
acham que o falso feedback fo i fe ito exclusivam ente para eles 
e quando este é favo ráve l e bastante genera lizado, quase 
sem pre classificam a descrição com o "b o a ” ou "exce len te ”
(Davies, 1997). Mesmo aqueles que são céticos em relação à 
astrologia, quando recebem uma descrição lisonjeira de um 
astró logo com eçam apensar que “afinal, ta lvez haja alguma 
coisa com essa tal astro log ia" (G lick et al., 1989). Já foi d ito 
que um astró logo é alguém "preparado para lhe d izer aquilo 
que você acha de si m esm o” (Jones, 2000 ).
O psicó logo francês Michael Gauguelin colocou um anún­
cio em um jornal de Paris oferecendo um horóscopo pessoal 
de graça. Noventa e quatro por cento daqueles que recebe­
ram o horóscopo e log iaram a descrição com o acurada. De 
quem era o ho róscopo que todos eles receberam ? Do Dr. 
Petiot, fam oso assassino em massa na França (Kurtz, 1983). 
Essa aceitação é denom inada efe ito Barnum, em hom enagem 
à máxima do grande showm an P. T. Barnum: “A cada m inuto 
nasce um o tá rio .”
Outra técnica adotada pelos videntes é “ in te rp re ta r” nos­
sos trajes, nosso aspecto físico, nossos gestos e nossa reação 
ao que eles estão dizendo. Imagine-se no papel de um vidente 
que recebe a visita de uma jovem senhora, de trin ta e poucos 
anos. Hyman descreveu a m ulher com o “ usando jo ias caras, 
uma aliança de casam ento e um ve s tid o p re to de te c id o 
barato. O viden te observador tam bém notou que ela estava 
usando sapatos próprios de quem tem problem as nos pés” . 
Será que essas pistas sugerem algo?
Com base nessas observações, o v iden te passou a im pres­
sionar a cliente com suas intuições. Ele pressupôs que a mulher 
fora consultá -lo , com o fazia a m aioria de suas clientes, por 
causa de um problem a financeiro ou sentim ental. O vestido 
p re to e a aliança levaram -no a conc lu ir que o m arido dela 
havia m orrido recentem ente. As joias caras sugeriram que, 
durante o casamento, sua vida fora financeiram ente con fo r­
tável, mas o vestido barato lhe sugeriu que a m orte do m arido 
a deixara em situação difícil. Os sapatos ortopéd icos s ign ifi­
caram que ela agora con tava consigo mesma mais do que 
estava acostumada, indicando que desde a m orte do m arido 
ela estava traba lhando para se sustentar. Com base nessas 
conclusões, o v idente adivinhou corre tam ente que a m ulher 
estava im aginando se não deveria se casar novam ente, na 
esperança de m elhorar sua situação financeira. Não é à toa, 
d izem os céticos, que, quando os médiuns não conseguem 
ver quem se m anifestou para eles, seus clientes não conse­
guem reconhecer a mensagem direcionada para eles (0 'K ee ffe 
e W iseman, 2005).
Se você não fo r tão astuto com o esse vidente, praticam ente 
não faz diferença, segundo Hyman. Se uma pessoa o procura 
para uma adivinhação, com ece com um com entário cu ida­
doso: “ Sinto que você está tendo alguns problem as u ltim a­
mente. Você não parece m uito segura quanto ao que fazer. 
Eu tenho a sensação de que ou tra pessoa está envo lv ida .” 
Depois d iga -lhe o que ela quer ouvir. M em orize a lgum as 
"declarações Barnum ” extraídas de manuais de astro log ia e 
cartom ancia e use-as generosam ente. Diga às pessoas que é 
responsabilidade delas cooperarem , relacionando suas m en­
sagens às experiências específicas delas. Mais tarde elas lem ­
brarão que você predisse aqueles detalhes específicos. For­
mule as declarações com o perguntas, e, quando de tectar uma 
resposta positiva, afirm e a declaração com mais ênfase. Final­
mente, seja um bom ouvinte, e depois, com palavras d ife ren­
tes, revele às pessoas o que elas lhe revelaram anteriorm ente. 
Se você as enganar, elas voltarão.
M elhor ainda: cu idado com aqueles que, ao exp lo ra r as 
pessoas com essas técnicas, estão mais preocupados em ob ter 
a fortuna do que em revelá-la.
“Sarnas tão diferentes de nós mesmos quanto o somos 
dos demais."
Michel de Montaigne, Ensaios, 1588
Em termos gerais, as influências externas e 
temporárias sobre o comportamento são o foco da 
psicologia social, e as influências internas e 
permanentes são o foco da psicologia da 
personalidade. Na verdade, o comportamento 
sempre depende da interação das pessoas com as 
situações.
A mudança e a consistência podem coexistir. Se 
todas as pessoas se tornassem um pouco menos 
tímidas com o tempo, haveria mudança de 
personalidade, mas também relativa estabilidade e 
previsibilidade. •
A Controvérsia Pessoa-Situação
Quem, então, representa melhor a personalidade humana: 
o coerente Sam Gamgee de Tolkien ou o incoerente Laudisi 
de Pirandello? Ambos. O nosso comportamento é influen­
ciado pela interação da nossa disposição interior com o nosso 
ambiente. Contudo, persiste a pergunta: qual delas é mais 
importante? Nós somos mais como Tolkien ou como Piran­
dello imaginou que fôssemos?
Quando examinamos essa controvérsia pessoa-situação, bus­
camos traços genuínos de personalidade que persistem atra­
vés do tempo e entre situações. Algumas pessoas são segura­
mente conscienciosas e outras inconstantes, algumas alegres 
e outras tristes, algumas expansivas e outras tímidas? Se con­
siderarmos a amizade um traço, as pessoas amigáveis devem 
agir amigavelmente em tempos e lugares diferentes. Será que 
agem?
No Capítulo 5, analisamos pesquisas que acompanharam 
a vida de pessoas ao longo do tempo. Observamos que alguns 
estudiosos (especialmente aqueles que estudaram lactentes) 
ficaram impressionados com a mudança de personalidade; 
outros foram surpreendidos com a estabilidade da persona­
lidade durante a vida adulta. Como ilustra a FIGURA 13.5,
Correlação o,8 
dos escores Q 7 
de traços ao 
longo de 0/6 
7 anos 0,5 
0,4
I J0 — — ---
Crianças Estudantes Aos 30 anos Entre 50
e 70 anos
> FIGURA 13.5
Estabilidade da personalidade Com a idade, os traços de 
personalidade tornam-se mais estáveis, conforme refletido na 
correlação dos escores dos traços com escores de acompanhamento 
sete anos mais tarde. (Dados de Roberts e DelVecchio, 2000.)
I
Crianças Estudantes Aos 30 anos Entre
dados extraídos de 152 estudos de longo prazo revelaram que 
escores dos traços de personalidade se mantinham estáveis 
sete anos depois e que, à medida que as pessoas envelheciam, 
sua personalidade se estabiliza. Os interesses podem mudar
— um ávido colecionador de peixes ornamentais pode se tor­
nar um ávido jardineiro. As carreiras podem mudar — um 
vendedor determinado pode se tornar um assistente social 
determinado. Os relacionamentos podem mudar — um côn­
juge hostil pode recomeçar com um novo parceiro. Mas a 
maioria das pessoas reconhece seus traços como próprios, 
observam Robert McCrae e Paul Costa (1994), “e é bom que 
reconheçam. O reconhecimento, por parte de uma pessoa, 
da inevitabilidade da sua personalidade única é [...] o auge 
da sabedoria de uma vida inteira”. Assim, a maioria das pes­
soas, inclusive a maioria dos psicólogos, provavelmente con­
cordaria com a posição de Tolkien da estabilidade dos traços 
de personalidade. Além disso, nossos traços são socialmente 
significativos. Influenciam nossa saúde, nossa forma de pen­
sar e nosso desempenho no trabalho (Deary e Mathews, 1993; 
Hogan, 1998). Estudos que acompanham vidas ao longo do 
tempo demonstram que os traços de personalidade concor­
rem com status socioeconômico e capacidade cognitiva como 
fatores preditores de taxas de mortalidade, divórcio e reali­
zação ocupacional (Roberts et al., 2007).
Embora nossos traços de personalidade possam ser ao 
mesmo tempo estáveis e potentes, a consistência de nossos 
comportamentos específicos em situações diferentes é uma 
outra questão. Como apontou Walter Mischel (1968, 1984,
2004), as pessoas não agem com uma coerência previsível. 
Os estudos de Mischel sobre a realização ou conscienciosi­
dade de universitários revelaram apenas uma modesta rela­
ção entre um estudante ser consciencioso em uma ocasião 
(digamos, chegar pontualmente às aulas) e ser igualmente 
consciencioso em outra ocasião (digamos, entregar os traba­
lhos dentro do prazo). Pirandello não ficaria surpreso. Se você 
já observou o quanto é extrovertido em determinadas situa­
ções e reservado em outras, talvez também não se surpreenda 
(embora, para certos traços, afirma Mischel, você pode se 
autoavaliarcorretamente como mais consistente).
Essa inconsistência no comportamento também torna os 
resultados dos testes de personalidade previsores fracos de 
comportamento. Por exemplo, os escores das pessoas em tes­
tes de extroversão não predizem bem até que ponto elas serão 
realmente sociáveis em uma dada ocasião. Se nos lembrar­
mos de tais resultados, diz Mischel, seremos mais cautelosos 
ao rotular e classificar indivíduos. Com anos de antecedên­
cia, a ciência pode nos dizer a fase da lua para qualquer data. 
Com um dia de antecedência, os meteorologistas podem, com 
frequência, predizer 0 tempo. Mas estamos muito longe de 
podermos predizer como você se sentirá e agirá amanhã.
No entanto, o comportamento médio das pessoas em termos 
de extroversão, felicidade ou negligência pode ser previsível 
em diversas situações (Epstein, 1983a,b). Quando se avalia a 
timidez ou a amabilidade de uma pessoa, essa coerência pos­
sibilita àqueles que a conhecem melhor concordarem com a 
avaliação (Kenrick e Funder, 1988). Ao registrar momentos 
das experiências diárias das pessoas por meio de dispositivos 
de gravação usados no corpo, Matthias Mehl e seus colegas
(2006) confirmaram que pessoas extrovertidas realmente 
falam mais. (Já tentei inúmeras vezes parar de tagarelar e de 
contar piadas nos meus jogos de basquete com amigos. Infe­
lizmente, minutos depois, volto a falar em excesso.) Como 
nossos melhores amigos podem verificar, nós realmente temos 
traços de personalidade influenciados geneticamente. E esses 
traços se manifestam, afirmam Samuel Gosling e seus colegas 
em uma série de estudos, em nossas(os):
• preferências musicais. Os amantes de música clássica, 
jazz, blues e folk tendem a ser abertos a novas 
experiências e verbalmente inteligentes; já os amantes 
de música country, pop e religiosa tendem a ser 
animados, expansivos e conscienciosos (Rentfrow e 
Gosling, 2003, 2006). Em um primeiro encontro, os 
estudantes em geral revelam suas preferências musicais; 
ao fazerem isso, estão trocando informações sobre sua 
personalidade.
• quartos e escritórios. Nossos espaços pessoais revelam 
nossa identidade e deixam um resíduo comportamental 
(roupa suja espalhada ou mesa de trabalho arrumada).
E isso ajuda a explicar por que uma inspeção de apenas 
alguns minutos em nossos espaços de vida e trabalho 
pode permitir que alguém avalie com razoável precisão 
nossa conscienciosidade, nossa abertura para novas 
experiências e até mesmo nossa estabilidade emocional 
(Gosling et al., 2002).
• sites pessoais. Um site pessoal ou um perfil no Facebook 
também são uma forma de autoexpressão? Ou será que 
é uma oportunidade para as pessoas se apresentarem de 
forma falsa ou enganadora? O primeiro caso prevalece 
(Gosling et al., 2007; Marcus et al., 2006; Vazire e 
Gosling, 2004). Os visitantes de sites pessoais 
rapidamente obtêm informações importantes sobre a 
extroversão, conscienciosidade e abertura para a 
experiência dos donos das páginas.
• e-mail. Se você alguma vez já achou que poderia 
identificar a personalidade de alguém com base na 
forma como a pessoa redige seu e-mails, acertou!! As 
avaliações das personalidades de outras pessoas com 
base apenas em seus e-mails estão correlacionadas aos 
escores de personalidade de fato obtidos em medidas 
como de extroversão e neuroceticismo (Gill et al., 2006; 
Oberlander e Gill, 2006). Os extrovertidos, por 
exemplo, usam mais adjetivos.
Em situações formais e não familiares — por exemplo, como 
convidados na casa de uma pessoa de outra cultura —, nossos 
traços podem permanecer ocultos enquanto ficamos atentos 
às dicas sociais. Em situações informais e familiares — uma 
reunião com amigos —, nós nos sentimos menos constrangi­
dos, o que possibilita que nossos traços aflorem (Buss, 1989). 
Em tais situações, nossos estilos expressivos — nossa anima­
ção, nossa maneira de falar e de gesticular — são impressio­
nantemente consistentes. É por isso que esses pequenos frag­
mentos de comportamento — às vezes não mais do que três 
pequenos vídeos de 2 segundos de um professor — podem ser 
reveladores (Ambady e Rosenthal, 1992, 1993).
Algumas pessoas são naturalmente expressivas (e, por­
tanto, talentosas em mímica e charadas); outras são menos 
expressivas (e, portanto, melhores no jogo de pôquer). Para 
avaliar o controle voluntário das pessoas sobre sua expressi­
vidade, Bella DePaulo e colegas (1992) solicitaram às pessoas 
que agissem o mais expressivamente ou inibidamente possí­
vel enquanto expunham suas opiniões. Suas notáveis desco­
bertas: as pessoas inexpressivas, mesmo quando fingiam 
expressividade, eram menos expansivas do que as pessoas 
expansivas ao agirem naturalmente. De modo semelhante, 
as pessoas expressivas, mesmo quando tentavam ser inibidas, 
eram menos inibidas do que as pessoas inexpressivas ao agi­
rem naturalmente. É difícil ser alguém que você não é, ou 
não ser o que você é.
Mesmo o uso de palavras em conversas expressa nossa 
personalidade. Por exemplo, em entrevistas demoradas, as 
pessoas expressivas e assertivas utilizaram mais palavras que 
expressam certeza, como “Sempre gostei de computadores e 
da internet, e isso é certamente onde desejo concentrar minha 
atenção” (Fast e Funder, 2008). A irreprimibilidade da expres­
sividade explica por que podemos avaliar dentro de alguns 
segundos até que ponto uma pessoa é expansiva. Imagine este 
experimento de Maurice Levesque e David Kenny (1993). 
Eles reuniram grupos de quatro universitárias em torno de 
uma mesa e pediram para que cada uma simplesmente dis­
sesse o próprio nome, o período que estava cursando, a cidade 
em que nasceu e a residência na universidade. Julgando a 
partir desses poucos segundos de comportamento verbal e 
não verbal, as mulheres deveriam adivinhar a loquacidade 
umas das outras. (Como você acha que se sairia ao adivinhar 
a loquacidade de uma pessoa com base em apenas um vis­
lumbre do seu comportamento?) Mais tarde, quando corre­
lacionados à real loquacidade das mulheres exibida em uma 
série de fitas de vídeo de conversas individuais, os julgamen­
tos rápidos se mostraram razoavelmente corretos. Apesar das 
variações de comportamento de cada situação, a personali­
dade se revela. Alguém que pareceu ser esperto e expansivo 
em determinada situação tende a parecer esperto e expansivo 
em outra (para outra pessoa). Quando julgamos um traço 
expressivo como a expansividade, pequenas amostras de com­
portamento podem ser reveladoras.
Nossos espaços expressam nossas 
personalidades Mesmo sem nunca ter 
visto uma pessoa, é possível perceber 
alguns aspectos da personalidade alheia 
dando uma olhada em seus websites, 
quartos ou escritórios. Assim, o que você 
deduz sobre o pesquisador Samuel Gosling, 
da University of Texas?
Para resumir, podemos dizer que, a qualquer momento, a 
situação imediata influencia poderosamente o comporta­
mento da pessoa, sobretudo quando a situação faz exigências 
claras. Podemos predizer melhor o comportamento de um 
motorista em relação aos semáforos conhecendo as cores dos 
sinais do que conhecendo a personalidade do motorista. 
Assim, os professores podem perceber certos alunos como 
moderados (com base no comportamento deles durante as 
aulas), mas os amigos podem percebê-los como bem desor­
deiros (com base no comportamento deles em festas). Extrair 
a média de nosso comportamento em diversas ocasiões revela, 
portanto, que temos traços distintos de personalidade. Os 
traços existem. Somos diferentes. E as nossas diferenças são 
importantes.
ANTES DE PROSSEGUIR...
>■ P ergunte a S i M esmo
Onde você se colocaria nas cinco dimensões da 
personalidade (realização ou conscienciosidade, socialização, 
neuroceticismo ou estabilidade emocional, abertura para 
experiência e extroversão)? Onde seus parentes e amigos 
colocariam você?
> Teste a S i Mesmo 4
O que é a controvérsia pessoa-situação?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B. no final do livro.
A PerspectivaSocial-Cognitiva
......... .............. • • í-?-’ •••* * * * *............. VAV * t *
1 3 : Na visão dos psicólogos da perspectiva social- 
cognitiva, que influências m útuas m o ld am a 
personalidade de um indivíduo?
A CIÊNCIA PSICOLÓGICA MODERNA considera que os 
indivíduos são organismos biopsicossociais. A perspectiva 
social-cognitiva da personalidade, proposta por Albert Ban­
dura (1986, 2006, 2008), enfatiza a interação dos nossos 
traços com as nossas situações. Assim como o que é inato e 
o que é adquirido atuam conjuntamente, o mesmo ocorre 
com os indivíduos e suas situações.
perspectiva social-cognitiva considera que o 
comportamento é influenciado pela interação entre os 
traços das pessoas (incluindo sua forma de pensar) e 
seu contexto sociai.
Os teóricos da vertente social-cognitiva acreditam que 
aprendemos muitos de nossos comportamentos por condi­
cionamento ou pela observação das outras pessoas, mode­
lando nosso comportamento conforme o comportamento 
delas. (Esta é a parte “social”.) Também enfatizam a impor­
tância dos processos mentais: o que pensamos sobre as situ­
ações que vivenciamos afeta nosso comportamento. (Esta é 
a parte “cognitiva”.) Em vez de enfocar somente como nosso 
meio ambiente nos controla (behaviorismo), os teóricos da 
perspectiva social-cognitiva enfocam como nós e o meio 
ambiente interagimos: como interpretamos eventos externos 
e respondemos a eles? Como nossos esquemas, ou memórias, 
e nossas expectativas influenciam nossos padrões de com­
portamento?
determinismo reciproco influências de 
comportamento, cognição interna e ambiente que 
interagem.
Influências Recíprocas
Bandura (1986, 2006) chamou a interação entre pessoas e 
o ambiente de determ inism o recíproco. Segundo ele, “o 
comportamento, os fatores internos e as influências ambien­
tais operam como determinantes interligados” (F IG U R A 
1 3 .6 ). Por exemplo, os hábitos das crianças de assistir à tele­
visão (comportamento passado) influenciam suas preferên­
cias televisivas (fator pessoal), que influenciam de que 
maneira a televisão (fator ambiental) afeta seu comporta­
mento atual. As influências são mútuas.
Considere três meios específicos em que indivíduos e 
ambientes interagem:
1. Pessoas diferentes escolhem ambientes diferentes.
A escola que você freqüenta, o tipo de literatura que lê, 
os programas de televisão a que assiste, o tipo de música 
que ouve, os amigos com quem se associa — tudo faz parte 
do ambiente que você escolheu, parcialmente com base 
em suas disposições (Ickes et al., 1997). Você escolhe seu 
ambiente e ele então o molda.
2 . Nossa personalidade molda a m aneira como inter­
pretam os os eventos e reagim os a eles. As pessoas 
ansiosas, por exemplo, são acostumadas com eventos 
potencialmente ameaçadores (Eysenck et al., 1987). Por 
conseguinte, percebem o mundo como ameaçador e rea­
gem de acordo.
3. Nossa personalidade ajuda a criar situações às quais 
reagim os. Muitos experimentos revelam que o modo 
como vemos e tratamos as pessoas influencia o modo 
como elas, por sua vez, nos tratam. Se esperamos que uma 
pessoa fique zangada conosco, podemos tratá-la com indi­
ferença, despertando a verdadeira raiva que esperamos. 
Se tivermos um temperamento tolerante e positivo, pro­
vavelmente gostaremos de amizades íntimas e condescen­
dentes (Donnellan et al., 2005; Kendler, 1997).
Fatores cognitivos 
internos (pensamentos 
e sentimentos sobre 
atividades arriscadas)
Comportamento Fatores ambientais
(aprendendo (amigos do
bungee-jump) bungee-jump)
> FIGURA 13.6
Determinismo recíproco A perspectiva social-cognitiva propõe que 
nossas personalidades são moldadas pela interação de nossos traços 
pessoais (incluindo nossos pensamentos e sentimentos), nosso 
ambiente e nosso comportamento.
Influências biológicas
• temperamento geneticamente 
determinado
• reatividade do sistema nervoso 
autônomo
• atividade do cérebro
Influências psicológicas
• Respostas aprendidas
• processos de pensamento 
inconscientes
• expectativas e interpretações
Personalidade
Influências socioculturais
• Experiências na infância
• Influência da situação
• Expectativas culturais
• Apoio social
> FIGURA 13.7
Abordagem biopsicossocial do estudo da
personalidade Como acontece com outros fenômenos psicológicos,
a personalidade é estudada com bons resultados em múltiplos níveis.
Centenas de estudos já compararam pessoas que diferem 
quanto ao modo de perceber o controle. De um lado estão 
aquelas que possuem o que o psicólogo Julian Rotter chamou 
de lócus de controle externo — a percepção de que o acaso 
ou forças externas determinam seu destino. Do outro lado 
estão aquelas que percebem um lócus de controle interno e 
acreditam que, em grande parte, controlam seu próprio des­
tino. Estudos e mais estudos mostram que os “internos” pro­
gridem mais na escola, agem com mais independência, têm 
uma saúde melhor e se sentem menos deprimidos do que os 
“externos” (Lefcourt, 1982; Ng et al., 2006). Além disso, são 
mais capazes de adiar a gratificação e lidar com vários tipos de 
estresse, incluindo problemas conjugais (Miller et al., 1986).
controle pessoal como as pessoas percebem o 
controle que possuem sobre seu ambiente, em vez de se 
sentirem perdidas.
lócus de controle externo percepção de que a sorte 
ou forças além do controle pessoal determinam o 
próprio destino.
lócus de controle interno percepção de que você 
controla seu próprio destino.
De algum modo, somos tanto os produtos como os arqui­
tetos de nossos ambientes.
Se tudo isso suscita uma lembrança familiar, pode ser por­
que essa questão se assemelha e reforça um tema recorrente 
na psicologia e neste livro: o comportamento emerge da atua­
ção recíproca das influências internas e externas. A água fervente 
torna um ovo duro e uma batata macia. Um ambiente ame­
açador transforma uma pessoa em herói e outra em patife. 
A todo momento, nosso comportamento é influenciado por 
nossa biologia, nossas experiências sociais e culturais e nossa 
cognição e temperamento (FIGURA 1 3 .7 ).
Controle Pessoal
1 4 : Quais são as causas e as conseqüências do 
controle pessoal?
Ao estudarem de que maneiras interagimos com nosso meio 
ambiente, os psicólogos social-cognitivos enfatizam nosso 
senso de controle pessoal — se aprendemos a nos ver no 
controle do nosso meio ambiente ou sendo controlados por 
ele. Os psicólogos têm duas maneiras básicas de estudar o 
efeito do controle pessoal (ou qualquer fator de personali­
dade). Primeira: correlacionar os sentimentos de controle das 
pessoas com seu comportamento e suas realizações. Segunda: 
experimentar, aumentando ou diminuindo o senso de con­
trole das pessoas e observando os efeitos.
Lócus de Controles Interno e Externo
Considere seus próprios sentimentos de controle. Você acre­
dita que a sua vida está além do seu controle? Que o mundo 
é conduzido por umas poucas pessoas poderosas? Que con­
seguir um bom emprego depende principalmente de se estar 
no lugar certo na hora certa? Ou você acredita mais forte­
mente que o que acontece com você é resultado de suas pró­
prias ações? Que uma pessoa comum pode influenciar deci­
sões governamentais? Que ser bem-sucedido é uma questão 
de trabalho duro, e não de sorte?
Diminuindo e Fortalecendo o Autocontrole
O autocontrole — a habilidade de controlar impulsos e adiar 
a gratificação —, por sua vez, prediz boa adaptação, melhores 
notas e sucesso social, observam June Tangney e colaborado­
res (2004). Estudantes universitários que planejam as ativi­
dades diárias e passam o dia conforme planejado também 
são menos propensos à depressão (Nezlek, 2001).
desamparo aprendido desamparo e resignação 
passiva que um animal ou humano aprende quando é 
incapaz de evitar eventos adversos repetidos.
Nenhum de nós, entretanto, tem um autocontrole inva­
riável. Assim como ocorre com um músculo, o autocontrole 
enfraquece temporariamente depois de um esforço, recupera- 
se com descanso e fica mais torte com o exercício,relatam 
Roy Baumeister e Julia Exline (2000). Exercer sua força de 
vontade pode diminuir sua energia mental e até mesmo o 
açúcar no sangue e a atividade neural associada ao foco men­
tal (Inzlicht e Gutsell, 2007). Em um experimento, pessoas 
famintas que resistiram à tentação de comer biscoitos de cho­
colate desistiram logo quando confrontadas com uma tarefa 
entediante. As pessoas se tomam menos contidas em suas 
respostas agressivas à provocação e em sua sexualidade depois 
de gastar sua força de vontade em tarefas de laboratório, como 
sufocar a tendência de dizer em voz alta a cor das palavras 
(por exemplo, “vermelho” mesmo que a palavra escrita em 
vermelho fosse verde). (DeWall et al., 2007; Gaillot e Bau­
meister, 2007). Mas dar às pessoas açúcar para aumentar a 
energia (em limonadas adoçadas naturalmente em vez de 
artificialmente) — como aconteceu em um experimento — 
fortaleceu sua resistência em atividades que exigiam esforço 
mental (Masicampo e Baumeister, 2008).
A longo prazo, o autocontrole requer atenção e energia. 
As pessoas que praticam a autorregulação por meio de exer­
cícios físicos e programas de estudo com gerenciamento do 
tempo podem desenvolver sua capacidade de autorregulação. 
O maior autocontrole é percebido no desempenho de tarefas 
de laboratório e em atitudes relacionadas a alimentação, 
bebida, tabagismo e atividades domésticas (Oaten e Cheng, 
2006a,b). Desenvolva sua autodisciplina em uma área da 
vida e o autocontrole fortalecido poderá se transferir para 
outras áreas também.
Desamparo Aprendido versus 
Controle Pessoal
As pessoas que se sentem impotentes e oprimidas quase sem­
pre percebem o controle como sendo externo. Essa percepção 
pode aprofundar seus sentimentos de resignação. Com efeito, 
foi exatamente isso o que Martin Seligman (1975, 1991) e 
outros pesquisadores descobriram em experimentos tanto 
com animais quanto com pessoas. Cães presos em coleiras 
que receberam choques repetidos, sem oportunidade de evitá- 
los, aprenderam um sentido de desamparo. Mais tarde, colo­
cados em outra situação em que podiam escapar da punição 
simplesmente pulando um obstáculo, os cães agachavam-se 
como se não tivessem esperança. Em contraste, os animais 
capazes de escapar dos choques na primeira situação apren­
deram o controle pessoal e facilmente escaparam dos cho­
ques em uma nova situação.
Confrontadas repetidamente com eventos traumáticos 
sobre os quais não têm controle, as pessoas, também, passam 
a se sentir impotentes, desesperançadas e deprimidas. Os psi­
cólogos denominam essa resignação passiva de desamparo 
aprendido (FIGURA 1 3 .8 ).
Parte do choque que sentimos em culturas não familiares 
se origina do senso de controle, que diminui quando não 
estamos certos de como as pessoas no novo ambiente irão 
responder (Triandis, 1994). Da mesma forma, pessoas a quem 
é dado pouco controle sobre seu mundo em prisões, fábricas, 
colégios e clínicas de repouso experimentam baixa de moral 
e aumento de estresse. Medidas que aumentam o controle
— permitir aos prisioneiros que arrumem as cadeiras e con­
trolem as luzes e a TV da sala, ter os trabalhadores partici­
pando nas tomadas de decisão, oferecer aos pacientes das 
clínicas de repouso escolhas sobre seu ambiente — melhoram 
notadamente a saúde e o moral (Humphrey et al., 2007; 
Ruback et al., 1986; Wener et al., 1987). Quando os entre­
vistadores do Gallup perguntaram aos trabalhadores se eles 
podiam personalizar seu ambiente de trabalho, os que res­
ponderam sim tinham 55% mais chances de relatar maior 
envolvimento com o trabalho (Krueger e Killham, 2006). 
Quem trabalha em casa tende a se sentir satisfeito com o tra­
balho e produtivo, especialmente quando tem controle sobre 
o seu tempo (Gajendran e Harrison, 2007). (Quem trabalha 
em casa três ou mais dias por semana, no entanto, sente-se 
mais isolado dos colegas.)
Eventos ruins 
incontrolãveis
Falta de controle 
percebida
Comportamento 
de desamparo 
generalizado
► FIGURA 13.8
Desamparo aprendido Quando animais e pessoas experimentam 
ausência de controle sobre eventos ruins repetidos, com frequência 
aprendem o desamparo.
Em um estudo famoso feito com pacientes de clínicas de 
repouso, 93% daqueles que foram incentivados a exercer 
maior controle tornaram-se mais alertas, mais ativos e mais 
satisfeitos (Rodin, 1986). Como concluiu a pesquisadora 
Ellen Langer (1983, p. 291), “o controle percebido é básico 
para o funcionamento humano”. Ela recomenda que “tanto 
para os jovens quanto para os idosos” é importante que crie­
mos ambientes que realcem o senso de controle e a eficácia 
pessoal. Não é à toa que tantas pessoas gostem de iPods e 
TiVos, que proporcionam controle sobre o conteúdo e a hora 
certa para o seu entretenimento.
O veredito desses estudos é tranquilizador: em condições 
em que prevalecem a liberdade pessoal e a autonomia, as pes­
soas prosperam. Não é de admirar que os cidadãos em socie­
dades democráticas estáveis relatem altos níveis de satisfação 
(Inglehart, 1990, 2009). Pouco antes da revolução democrá­
tica na antiga Alemanha Oriental, os psicólogos Gabriele 
Oettingen e Martin Seligman (1990) compararam a lingua­
gem corporal dos homens da classe trabalhadora nos bares 
de Berlim Oriental e de Berlim Ocidental. Comparados com 
suas contrapartes do outro lado do Muro, os operários do 
lado ocidental, que tinham maior atribuição de poder, riam 
com mais frequência, sentavam-se eretos em vez de curvados 
e tinham os cantos da boca levantados em vez de caídos.
Um pouco de liberdade e controle é melhor do que nada, 
observa Barry Schwartz (2000,2004). Mas será que o aumento 
constante de opções disponíveis gera mais felicidade? Na ver­
dade, não. Schwartz observa que o “excesso de liberdade” 
visto hoje nas culturas ocidentais contribui para diminuir a 
satisfação com a vida, aumenta a depressão e leva às vezes à 
paralisia. Mais opções para os consumidores, como na hora 
de comprar um carro ou telefone, nem sempre são bênçãos. 
Depois de escolher entre 30 marcas de geleia ou chocolate, 
as pessoas manifestam menos satisfação do que aquelas que 
escolhem entre meia dúzia de opções (Iyengar e Lepper, 2000). 
Essa tirania da escolha leva a uma sobrecarga de informação 
e a uma maior probabilidade de lamentarmos não ter feito 
outras escolhas.
Otimismo versus Pessimismo
Uma medida de quanto você se sente impotente ou eficaz é 
saber onde você está em relação ao otimismo e ao pessimismo. 
De que modo característico você explica os eventos positivos 
e negativos? Talvez você tenha conhecido estudantes cujos 
estilos de atribuição sejam negativos — que atribuem baixo 
desempenho à sua falta de habilidade ( “Não consigo fazer 
isso”) ou a situações que estão muito além de seu controle 
(“Não há nada que eu possa fazer quanto a isso”). Tais estu­
dantes são mais propensos a continuar tirando notas baixas 
do que os estudantes que adotam a atitude mais esperançosa 
nas quais o esforço, bons hábitos de estudo e autodisciplina 
podem fazer diferença (Noel et al., 1987; Peterson e Barrett, 
1987). Embora as simples fantasias não tendam a fornecer 
o combustível para a motivação e para o sucesso, expectati­
vas positivas genuínas fornecem (Oettingen e Mayer,
2002).
Otim ism o e Saúde A saúde também se beneficia de um 
otimismo básico. Como vimos no Capítulo 12, a desespe­
rança e a depressão diminuem as defesas do sistema imuno- 
lógico. Em repetidos estudos, os otimistas sobreviveram aos 
pessimistas ou viveram com menos enfermidades. Quando 
casais de namorados lidam com conflitos, os otimistas e seus 
parceiros consideram que estão fazendo algo construtivo. Ten­
dem a se sentir mais apoiados e satisfeitos com as soluções e
£ M FOC
Rumo a uma Psicologia Mais Positiva
Durante seu prim eiro século de existência, a psicologia, com - 
preensivelm ente, dedicou m u ito de sua atenção para enten­
der e aliviar os estados negativos. Os psicólogos estudaram 
o abuso e a ansiedade, a depressão e a doença, o preconceitoe a pobreza. Com o salientou o Capítulo 12, o núm ero de a rti­
gos sobre emoções negativas selecionadas desde 1887 supe­
rou o de em oções positivas em 17 para 1.
Martin Seligman (2002), presidente da Am erican Psycho­
logical Association, em 1988, observou que em épocas pas­
sadas, tem pos de relativa paz e prosperidade possib ilitaram 
às cultura:, desviar a atenção dos cuidados com as fraquezas 
e danos para p rom over “ as qualidades mais altas da v ida ” . A 
próspera Atenas do século V a lim entou a filosofia e a dem o­
cracia. A notável Florença do século XV alim entou as belas- 
artes. A Ing laterra v itoriana, inflam ada com a generosidade 
do im pério britânico, alim entou a honra, a disciplina e o dever. 
A m edida que construím os este novo milênio, Seligman acre­
d ita que as prósperas culturas ocidentais terão oportun idade 
semelhante para criar, com o "m onum ento humano e especí­
fic o ” , uma psicologia mais positiva — uma psicologia p reo­
cupada não apenas com as fraquezas e os danos, mas ta m ­
bém com a força e a v irtude. Graças à sua própria liderança 
e a um investim ento de 30 milhões de dólares, o m ovim ento 
da nova psicologia positiva ganhou força (Seligman, 2004).
A psicologia positiva d iv ide com a psicologia humanista o 
interesse em aum entar a realização humana, mas sua origem 
e sua m etodo log ia são científicas. Dessas raízes cresceram 
não só os novos estudos sobre a fe lic idade e a saúde (Capí­
tu lo 12), mas tam bém a m udança de ênfase da desesperança 
e da depressão aprendidas para o otim ism o e a prosperidade. 
"A psico log ia p o s it iv a ” , segundo Seligm an e seus colegas 
(2005), “ é um term o geral para o estudo das emoções posi­
tivas, traços positivos do cará ter e institu ições voltadas para 
o crescim ento” .
V istos em con junto, a satisfação com o passado, a fe lic i­
dade com o presente e o o tim ism o em relação ao fu tu ro d e fi­
nem o prim eiro p ilar do m ovim ento: em oções positivas. A fe li­
cidade, afirm a Seligman, é o p rodu to de uma vida prazerosa, 
com prom etida e significativa.
A psicologia positiva tra ta da construção não só de uma 
vida prazerosa, diz Seligman, mas tam bém de uma vida boa 
que recorre às habilidades da pessoa, e de uma vida signifi­
cativa, que aponta para além da própria pessoa. O segundo 
pilar, po rtanto , o caráter positivo, põe em foco a exploração 
e o aum ento de v irtudes ta is com o c ria tiv idade , coragem , 
com paixão, in tegridade, autocontro le , liderança, sabedoria e 
espiritualidade. As pesquisas atuais exam inam as raízes e os 
fru tos de tais virtudes, às vezes por meio do estudo de ind i­
víduos que as exem plificam de maneiras extraordinárias.
O terce iro pilar, grupos, com unidades e culturas positivos, 
busca cria r uma eco log ia social positiva , inc lu indo famílias 
saudáveis, v iz inhanças so lidárias, escolas eficazes, m ídia 
socialm ente responsável e d iá logo civil.
Será que a psicologia terá uma missão mais positiva neste 
século? Sem m enosprezar a necessidade de reparar os danos 
e curar as doenças, os defensores da psicologia positiva espe­
ram que sim. Com periódicos com o Am erican Psychologist e 
British Psychologist dedicando edições inteiras à psicologia 
positiva , com a publicação de vários livros, com cientis tas 
in terligados traba lhando com grupos de pesquisas m undiais 
e com novos prêm ios e incentivos à pesquisa, cursos de férias, 
institu tos prom ovendo bolsas de estudo em psicologia posi­
tiva, com tu d o isso, esses ps icó logos têm m o tivo para ser 
positivos.
com seus relacionamentos (Srivastava et al., 2006). Espere 
boas coisas dos outros e, com frequência, conseguirá alcançá- 
las. Esses estudos ajudaram Seligman a propor uma psicolo­
gia mais positiva (veja o quadro Em Foco: Rumo a uma Psi­
cologia Mais Positiva).
psicologia positiva estudo científico do 
funcionamento humano ótimo; tem por objetivo 
descobrir e fomentar o desenvolvimento de 
potencialidades e virtudes que capacitam os indivíduos 
e as comunidades a prosperar.
“Oh, Deus, con ced a-nos a g ra ça de a c e ita r com 
seren id ad e as co isa s que não podem os m udar, coragem 
p ara m udar as co isa s que podem ser m udadas e 
sab ed o ria p a ra poder d istin g u i-la s .”
Reinhold Niebuhr, A P rece da Serenidade, 1943
2001; Showers, 1992). Estudantes que preocupados em não 
irem bem nos exames estudam mais a matéria e tiram notas 
altas quase sempre superam seus colegas igualmente capazes 
mas excessivamente confiantes. Edward Chang (2001) relata 
que, comparados com os estudantes euro-americanos, os estu­
dantes asiático-americanos expressam um pessimismo um 
tanto maior — o que, segundo ele suspeita, ajuda a explicar 
sua impressionante realização acadêmica. O sucesso requer 
otimismo bastante para fornecer esperança e pessimismo sufi­
ciente para evitar a complacência. Queremos que os pilotos 
das companhias aéreas estejam atentos aos piores desfechos 
possíveis.
“0 pessim ism o é como o otim ism o, só que m enos 
perigoso."
Mignon McLaughlin, The N eurotic’s 
N otebook, 1963
Excesso de Otimismo Não só o pensamento positivo em 
face das adversidades pode gerar bons resultados: uma pitada 
de realismo também pode fazê-lo (Schneider, 2001). Expli­
cações autodepreciativas de fracassos passados podem enfra­
quecer a ambição, mas a ansiedade realista quanto a possíveis 
fracassos futuros pode ser o combustível do esforço energé­
tico para se evitar o temido destino (Goodhart, 1986; Norem,
' “Não a ch e i que a co n te ce ria comigo."
Earvin “Magic" Johnson, M yLiíe, 1993 
[após contrair o HIV]
O otimismo excessivo também pode nos deixar cegos para 
os riscos reais. Neil Weinstein (1980, 1982, 1996) mostrou 
como nossa tendência natural para o pensamento positivo 
pode promover “um otimismo não realista quanto a eventos 
futuros da vida". A maioria dos jovens no fim da adolescên­
cia se considera como muito menos vulnerável ao vírus da 
AIDS do que seus pares (Abrams, 1991). A maioria dos estu­
dantes universitários acha que é menos predisposta a desen­
volver problemas com bebidas, a desistir do curso ou a sofrer 
um ataque cardíaco aos 40 anos do que seus colegas de classe. 
Muitos usuários de cartão de crédito, irrealisticamente oti­
mistas quanto à forma de utilizar seus cartões, escolhem 
opções com baixas tarifas e altos juros (Yang et al., 2006). 
Esses e outros que negam com otimismo os efeitos do fumo, 
aventuram-se em relacionamentos fadados ao fracasso e se 
sabotam de várias outras maneiras lembram-nos que, como 
o orgulho, o otimismo cego pode causar muito estrago.
Nossa tendência natural a pensar de modo positivo parece 
desaparecer, entretanto, quando estamos nos preparando para 
receber algum feedback, como quando estamos prestes a rece­
ber os resultados de exames (Carroll et al., 1998). (Você já 
percebeu que, à medida que um jogo se aproxima do final, o 
resultado parece mais duvidoso quando seu time está 
ganhando do que quando ele está perdendo?) As ilusões posi­
tivas também desaparecem depois de uma experiência pessoal 
traumática — como desapareceram para as vítimas de um 
terremoto catastrófico ocorrido na Califórnia, que tiveram 
de abandonar a ilusão de serem menos vulneráveis a terre­
motos do que as outras pessoas (Helweg-Larsen, 1999).
Cegueira Diante da Própria Incom petência Por iro­
nia, quase sempre as pessoas apresentam confiança excessiva 
quando são mais incompetentes. Isso acontece porque é pre­
ciso ter competência para reconhecer a competência, obser­
vam Justin Kruger e David Dunning (1999). Eles descobri­
ram que a maioria dos estudantes que haviam tirado notas 
abaixo da média em testes de gramática e lógica acreditava 
que havia tirado notas acima da média. Se você não sabe o 
que é um bom uso de gramática, você não pode se dar conta 
de que o seu é fraco. Esse fenômeno da “ignorância quanto 
à própria incompetência" tem um paralelo, como posso ates­
tar,na dificuldade das pessoas com problemas de audição de 
reconhecer sua própria perda de audição. Não estamos “em 
negação”, mas simplesmente não tomamos consciência do 
que não ouvimos. Se não escuto meu amigo me chamando 
pelo nome, o amigo observa minha falta de atenção. Mas 
para mim não aconteceu nada. Ouço o que eu ouço — o que, 
para mim, parece bastante normal.
A dificuldade de reconhecer a própria incompetência ajuda 
a explicar por que tantos estudantes com resultados fracos 
se surpreendem quando tiram notas baixas numa prova. Se 
você não percebe todas as palavras que deixou passar quando 
joga palavras cruzadas num tabuleiro, pode se achar bem 
esperto — até alguém lhe mostrar a verdade. Como Deanna 
Caputo e Dunning (2005) demonstraram em experimentos 
que recriam esse fenômeno, nossa ignorância do que não 
sabemos ajuda a manter a confiança em nossas próprias habi­
lidades.
Para avaliar a competência de alguém e prever seu desem­
penho, muitas vezes vale a pena convidar outras pessoas para 
avaliar, observa Dunning (2006). Com base em estudos em 
que tanto os indivíduos quanto seus conhecidos preveem seu 
futuro, podemos arriscar alguns conselhos: se você for um 
médico que está se formando e quiser prever se terá bons 
resultados no exame de habilidades cirúrgicas, não avalie a 
si mesmo, peça a seus colegas que façam uma previsão sin­
cera. Se você for um oficial da Marinha e precisa avaliar suas
capacidades de liderança — não avalie a si mesmo, mas peça 
aos seus colegas oficiais que o façam. E se você está apaixo­
nado e quer prever se o relacionamento vai durar, não dê 
ouvidos ao seu coração, mas preste atenção no que o seu 
colega de quarto diz.
“G jogador [de palavras cruzadas de tabuleiro] tem 
sorte... Ele não faz ideia de todas as possibilidades que 
deixa de concretizar em cada jogada, de quantas 
palavras ou jogadas perfeitas passam despercebidas."
Stefan Fatsis, Word Freak, 2DD1
Avaliando o Comportamento em Situações
• ............................................ ...............................
15: Q u e princípio subjacente orienta os 
psicólogos da perspectiva social-cognitiva 
em sua avaliação do co m p o rtam en to e das 
crenças individuais?
Os pesquisadores da perspectiva social-cognitiva exploram 
como as pessoas interagem com as situações. Para prever o 
comportamento, em geral, observam o comportamento em 
situações realistas.
A ideia, embora efetiva, não é nova. Um exemplo ambi­
cioso foi a estratégia do exército norte-americano na Segunda 
Guerra Mundial para avaliar os candidatos a missões de espio­
nagem. Em vez de usarem testes escritos, os psicólogos do 
Exército submeteram os candidatos a condições secretas simu­
ladas. Testaram sua habilidade de lidar com o estresse, de 
resolver problemas, de manter a liderança e de aguentar inten­
sos interrogatórios sem revelar seus disfarces. Embora tenha 
sido demorada e cara, essa avaliação de comportamento em 
uma situação realista ajudou a prever sucessos futuros em 
missões de espionagem reais (OSS Assessment Staff, 1948). 
Os estudos modernos indicam que os exercícios de centros 
de avaliação são mais reveladores de algumas dimensões, 
como a capacidade de comunicação, do que outros, como o 
impulso para a realização (Bowler e Woehr, 2006).
As organizações militares e educacionais e muitas empre­
sas que constam na lista das 500 maiores companhias indus­
triais publicada anualmente pela revista Fortune continuam 
adotando essa estratégia em suas avaliações de centenas de 
milhares de pessoas todos os anos em centros de avaliação 
(Bray et al., 1991, 1997; Thornton e Rupp, 1997). A AT&T 
observa os candidatos a cargos de gerência executando traba­
lhos gerenciais simulados. Muitas universidades avaliam as 
habilidades potenciais de professores de nível universitário 
observando-os lecionar, e o potencial dos estudantes de pós- 
graduação via estágios e aulas para alunos da graduação. As 
Forças Armadas avaliam seus soldados observando-os em exer­
cícios militares. A maioria das cidades norte-americanas com
50.000 habitantes ou mais usa centros de avaliação para che­
car a força policial e o corpo de bombeiros (Lowry, 1997).
Esses procedimentos exploram o princípio de que a melhor 
maneira de se predizer o comportamento futuro não é nem 
por meio de testes de personalidade nem pela intuição do 
entrevistador. Em vez disso, são os padrões de comportamento 
passado da pessoa em situações semelhantes que contribuem 
para uma melhor avaliação (Mischel, 1981; Ouellette e Wood, 
1998; Schmidt e Hunter, 1998). Desde que a situação e a pes­
soa permaneçam muito parecidas, a melhor previsão de desem­
penho futuro no trabalho é o desempenho no trabalho pas­
sado; a melhor previsão de notas futuras são as notas passa­
das; a melhor previsão de agressividade futura é a agressividade 
passada; a melhor previsão do uso de drogas no adulto jovem 
é o uso de drogas durante o ensino médio. Se você não pode 
checar o comportamento passado da pessoa, o melhor a fazer 
é criar uma situação de avaliação que simule as demandas da 
tarefa a fim de que possa ver como a pessoa lida com elas.
• O N ew York Times analisou cem casos de 
assassinos v io len tos responsáveis por crimes 
ocorridos durante a segunda m etade do século XX; 
55 dos crim inosos tinham norm alm ente acessos de 
raiva, e 63 já haviam m anifestado com portam ento 
v io len to (G oodstein e Glaberson, 2 0 0 0 ). A m aioria 
deles não “ surtou” sem antes dar algum sinal. •
Avaliando a Perspectiva Social-Cognitiva
16: Qual foi a contribuição da perspectiva social- 
cognitiva para o estudo da personalidade, e 
que críticas enfrentou?
A perspectiva social-cognitiva sobre a personalidade sensibi­
liza os pesquisadores no que diz respeito a até que ponto as 
situações afetam os indivíduos e são afetadas por eles. Mais 
do que em outras perspectivas, sua formação vem da pesquisa 
psicológica sobre aprendizagem e cognição.
Mas os críticos afirmam que a perspectiva social-cognitiva 
é tão concentrada na situação que deixa de apreciar os traços 
internos da pessoa. Onde está a pessoa nessa visão de perso­
nalidade?, perguntam seus críticos; e onde estão as emoções 
humanas? É verdade, a situação realmente guia nosso com­
portamento. Entretanto, dizem os críticos, em muitas circuns­
tâncias nossos motivos inconscientes, nossas emoções e nos­
sos traços mais visíveis transparecem. Os traços de persona­
lidade já mostraram como podem predizer o comportamento 
no trabalho, no amor e no lazer. Nossos traços biologicamente 
influenciados são realmente importantes. Considere Percy Ray 
Pridgen e Charles Gill. Eles passaram pela mesma situação: 
ganharam juntos um prêmio de US$ 90 milhões na loteria 
(Harriston, 1993). Quando Pridgen soube dos números sor­
teados, começou a tremer descontroladamente, agarrado a 
um amigo atrás da porta de um banheiro, enquanto confir­
mava a conquista, e depois caiu em pranto. Quando Gill soube 
da notícia, contou à esposa e depois foi dormir.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> Pergunte a Si Mesmo
Você é um pessimista? Tem baixas expectativas e atribui os 
maus eventos à sua incapacidade ou a circunstâncias que 
estão além do seu controle? Ou você é um otimista, quem 
sabe até uma pessoa que com frequência exibe um 
“otimismo exagerado”? De que maneira qualquer das duas 
tendências influenciou a sua escolha referente aos estudos ou 
disciplinas cursadas?
> Teste a Si Mesmo 5
Como o desamparo e o otimismo aprendidos influenciam o 
comportamento?
Pis respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B. no final do livro.
self na psicologia contemporânea, considerado o 
centro da personalidade, o organizador dos nossos 
pensamentos, sentimentos e ações.
efeito holofote percepção exagerada de que os outros 
estão O D s e r v a n d o e avaliando nossa aparência, 
desempenho e fracassos (como se imaginássemos um 
holofote sobre nós).
autoestima sentimento individual de valor que pode 
ser alto ou baixo.Explorando o Self
. ................................................................ ......................... ».* ] • • • * • • •
17: U m a elevada au toestim a nos ajuda ou 
atrapalha?
A PREOCUPAÇÃO DA PSICOLOGIA COM O senso de self 
das pessoas existe pelo menos desde que William James, em 
seu Princípios de Psicologia (1890), dedicou mais de cem pági­
nas ao assunto. Em 1943, Gordon Allport lamentou que o 
self se “perdera de vista”. Nem mesmo a ênfase da psicologia 
humanista no self instigou muita pesquisa científica, mas 
ajudou a renovar o conceito e a mantê-lo vivo. Agora, mais 
de um século depois de James e fora da psicologia humanista, 
o self é um dos tópicos mais vigorosamente pesquisados da 
psicologia no Ocidente. Todo ano aparece uma abundância 
de novos estudos sobre autoestima, autorrevelação, autocons­
ciência, autoesquema, automonitoração e assim por diante. 
Por trás das pesquisas está a suposição de que o self, como 
organizador de nossos pensamentos, sentimentos e ações, é 
o centro da personalidade.
Um exemplo de pensamento sobre o self é o conceito de 
selves possíveis por Hazel Markus e colegas (Cross e Markus, 
1991; Markus e Nurius, 1986). Os seus selves possíveis 
incluem sua visão do self que você sonha vir a ser — o eu rico, 
o eu bem-sucedido, o eu amado e admirado. Também incluem 
o self que você teme vir a ser — o eu desempregado, o eu soli­
tário, o eu academicamente fracassado. Tais possíveis selves 
nos motivam estabelecendo objetivos específicos e invocando 
a energia para trabalharmos rumo a esses objetivos. Alunos 
de medicina da Universidade de Michigan obtêm notas mais 
altas se passarem por um programa em que se imaginam 
como médicos bem-sucedidos. Com frequência os sonhos 
dão origem a realizações.
“0 primeiro passo para uma vida melhor é imaginá-la."
Biscoito da sorte chinês
A partir de nossa perspectiva autocentrada, também supo­
mos que os outros estão nos observando e avaliando. Thomas 
Gilovich (1996) demonstrou esse efeito holofote solici­
tando individualmente a estudantes da Cornell University 
que vestissem uma camiseta com estampa de Barry Manilow 
antes de entrarem em sala de aula. Sob o efeito da autocons­
ciência, os estudantes que trocaram de camiseta imaginaram 
que quase metade dos colegas de classe notaria a troca quando 
eles entrassem. Na verdade, apenas 23% notaram. Essa ausên­
cia de atenção não se aplica somente a nossas roupas estra­
nhas e nossos cabelos em desalinho, mas também ao nosso 
nervosismo, nossa irritação ou nossa atração — menos pes­
soas do que supomos os notam (Gilovich e Savitsky, 1999).
Os outros também estão menos cientes do que supomos da 
variabilidade — os altos e baixos — da nossa aparência e do 
nosso desempenho (Gilovich et al., 2002). Mesmo depois de 
uma mancada (disparar o alarme da biblioteca, aparecer para 
o jantar com roupas não apropriadas), nos sobressaímos 
menos do que imaginamos (Savitsky et al., 2001). Saber do 
efeito holofote pode ser revelador. Ajudar oradores que pre­
cisam falar em público a compreender que seu nervosismo 
natural não está tão aparente assim para a platéia melhora 
o seu desempenho (Savitsky e Gilovich, 2003).
Os Benefícios da Autoestima
Como nos sentimos em relação a nós mesmos também é 
importante. Uma autoestim a elevada — um sentimento de 
valor pessoal — é positiva. As pessoas que se sentem bem em 
relação a si mesmas (que concordam inteiramente com decla­
rações dos questionários de autoafirmação do tipo “É diver­
tido conviver comigo”) passam menos noites sem dormir, 
cedem com menos facilidade a pressões para se conformar, 
são menos propensas a usar drogas, mais persistentes diante 
de tarefas difíceis, menos tímidas e solitárias, menos propen­
sas a ver rejeição onde não existe e são, simplesmente, mais 
felizes (Greenberg, 2008; Leary, 1999; Murray et al., 2002; 
Watson et al., 2002). Além disso, a autoestima de hoje às 
vezes antecipa realizações futuras. Em um estudo com 297 
estudantes universitários finlandeses, os índices de autoes­
tima foram bons indicadores de conquistas no âmbito do 
trabalho, salário e satisfação profissional uma década depois 
(Salmela-Aro e Nurmi, 2007).
Será que a autoestima elevada é realmente a “armadura que 
protege as crianças” dos problemas da vida? Alguns psicólogos 
têm dúvidas (Baumeister, 2006; Dawes, 1994; Leary, 1999; 
Seligman, 1994,2002). Embora o autoconceito acadêmico das 
crianças — sua confiança de que podem se sair bem em deter­
minada matéria — preveja a realização acadêmica, isso não se 
aplica à autoimagem geral (Marsh e Craven, 2006; Swann et 
al., 2007; Trautwein et al., 2006.) Talvez a autoestima simples­
mente reflita a realidade. Talvez sentir-se bem resulte de se sair 
bem. Talvez a autoestima seja o efeito colateral de enfrentar 
desafios e superar dificuldades. Talvez seja o medidor que lê em 
voz alta o estado de nossas relações com os outros. Se for assim, 
empurrar o “medidor” para que fique artificialmente mais alto 
não seria como forçar o ponteiro de combustível do carro a 
mostrar “cheio”? E se os problemas e fracassos derrubam a 
autoestima, será que a melhor maneira de elevarmos a auto­
estima não dependeria tanto de repetirmos às crianças o quanto 
elas são maravilhosas, mas de seu próprio enfrentamento e 
realizações conquistadas com esforço?
"Fala-se muito de autoestim a atualmente. Isso me parece 
bem básico. Se você quiser se sen tir orgulhoso de si 
mesmo, precisa fazer coisas de que se orgulhe."
Oseola McCarty, trabalhadora de uma lavanderia no Mississippi, 
após doar IIS$ 150.0DD para a University of Southern Mississippi
Todavia, o efeito da baixa autoestima realmente aparece em 
experimentos. Diminua temporariamente a autoimagem das 
pessoas (por exemplo, dizendo-lhes que foram mal no teste 
de aptidão ou depreciando sua personalidade) e elas ficarão 
mais propensas a depreciar outras pessoas ou a expressar pre­
conceito racial exacerbado (Ybarra, 1999). As pessoas nega­
tivas quanto a si mesmas também tendem a ser extremamente 
sensíveis a críticas e a gostar de julgar (Baumgardner et al., 
1989; Pelham, 1993). Em experimentos, aqueles a quem se 
deixa inseguros quase sempre se tornam excessivamente crí­
ticos, como que para impressionar os outros com seu próprio 
brilhantismo (Amabile, 1983). Tais descobertas são coerentes 
com as suposições de Maslow e Rogers de que uma autoima­
gem saudável gera bons resultados. Aceite a si mesmo e será 
mais fácil aceitar os outros. Desdenhe de si mesmo e você 
estará sujeito ao fenômeno dafloccinaucinihilipilification1, isto 
é, o ato de considerar algo inútil. De forma mais simples, 
algumas pessoas “amam ao próximo como a si mesmas”; 
outras detestam o próximo como a si mesmas. As pessoas que 
são negativas em relação a si mesmas também tendem a ser 
negativas em relação a outras coisas e aos outros.
viés em proveito próprio (self-serving bias) tendência 
a se perceber de modo favorável.
Viés em Proveito Próprio 
(Self-Serving Bias)
Carl Rogers (1958) certa vez discordou da doutrina religiosa 
segundo a qual os problemas da humanidade emergem do 
amor-próprio ou do orgulho. Ele observou que a maioria das 
pessoas que ele havia conhecido “desprezava a si mesma, via- 
se como inútil e desagradável”. Mark Twain tinha uma opi­
nião semelhante: “Nenhum homem, na mais íntima priva­
cidade do seu ser, tem qualquer respeito considerável por si 
mesmo.”
Na verdade, a maioria de nós tem uma boa reputação de 
nós mesmos. Em estudos de autoestima, mesmo aqueles que 
apresentam baixos resultados demonstram estar a meio cami­
nho de pontuações mais altas. (Uma pessoa que tem auto­
estima “baixa” responde a declarações como “Eu tenho boas 
ideias” seguidas de termos como às vezes ou de vez em quando.) 
Além disso, uma das recentes conclusões mais provocativas 
e bem estabelecidas da psicologia diz respeito ao nosso potente 
viés em proveito próprio (self-serving bias) — nossa dis­
posição a nos percebermos de modo favorável (Mezulis etal., 
2004; Myers, 2008). Considere estas descobertas:
As pessoas assumem a responsabilidade mais por boas 
ações do que por más, e mais por sucessos do que por fracas­
sos. Os atletas, com frequência, creditam suas vitórias às suas 
próprias proezas e seus fracassos a má sorte, arbitragem ruim 
ou desempenho excepcional do outro time. Depois de rece­
ber notas baixas em uma prova, a maioria dos estudantes, 
em seis estudos, criticou a prova e não a si mesmos. Em for­
mulários de sinistros, motoristas já explicaram acidentes nos 
seguintes termos: “Um carro invisível apareceu não sei de 
onde, bateu no meu carro e desapareceu.” “Quando cheguei 
ao cruzamento, o mato brotou, obscurecendo minha visão, 
e eu não vi o outro carro.” A pergunta “O que eu fiz para 
merecer isso?” é a que normalmente fazemos diante de nos­
sos problemas, e não diante dos sucessos, que, em geral, acha­
mos merecer.
A maioria das pessoas se julga melhor do que a média.
Isso é verdade para quase todas as dimensões subjetivas e 
socialmente desejáveis. Em levantamentos nacionais, a maio-
’Não resisti e inseri este termo. Trata-se da maior palavra não técnica 
da primeira edição do Oxford English Dictionary, o mais completo dicio­
nário da língua inglesa.
ria dos executivos se considera mais ética do que a média de 
seus colegas. Em vários estudos, 90% dos gerentes e mais de 
90% dos professores universitários estimaram seu desempe­
nho como superior ao de seus pares médios. Na Austrália, 
86% das pessoas estimaram seu desempenho no trabalho 
como acima da média e apenas 1% como abaixo da média. 
O fenômeno, que reflete a superestimação da própria pessoa 
em vez da subestimação dos outros (Epley e Dunning, 2000), 
é menos evidente na Ásia, onde as pessoas valorizam a modés­
tia (Heine e Hamamura, 2007). Mesmo assim, o viés em 
proveito próprio tem sido observado no mundo todo: entre 
estudantes holandeses, australianos e chineses; motoristas 
japoneses; indianos hindus; e franceses de todas as escalas 
sociais. Em todos os 53 países pesquisados, as pessoas expres­
saram autoestima acima da média da escala mais amplamente 
usada (Schmitt e Allik, 2005).
Por ironia, as pessoas até mesmo se consideram mais imu­
nes do que os outros ao viés em proveito próprio (Pronin,
2007). O mundo, ao que parece, é como Garrison Keillor 
escreveu em Lago Wobegon — um lugar em que “todas as 
mulheres são fortes, todos os homens são bonitos e todas as 
crianças estão acima da média”. O mesmo vale para os ani­
mais de estimação. Três em quatro donos de animais acredi­
tam que o seu é mais esperto do que a média (Nier, 2004).
“Amar a si mesmo é □ começo de um romance duradouro."
Oscar Wilde, 0 Marido Id ea l , 1B95
• Exibimos orgulho de grupo — a tendência a ver nosso
grupo (escola, país ou raça) como superior.
Além disso, o orgulho, como a religião e a literatura nos 
lembram, quase sempre antecede a queda. As percepções ego­
ístas são a base dos conflitos que vão desde culpar o cônjuge 
por discórdias matrimoniais a afirmar arrogantemente a pró­
pria superioridade étnica. As pessoas que têm ego muito 
grande, quando sentem sua autoestima ameaçada, podem 
fazer mais do que humilhar os outros: podem reagir violen­
tamente. O “orgulho ariano” foi o combustível das atrocida­
des nazistas. “Essa tendenciosidade tem o efeito de tornar as 
guerras mais fáceis de iniciar e mais difíceis de terminar”, 
observam Daniel Kahneman e Johathan Renshon (2007).
Podemos ver essas tendências mesmo em crianças, onde 
a receita para brigas freqüentes combina autoestima elevada 
com rejeição social. As crianças mais agressivas tendem a ter 
alta autoestima e a ser desconsideradas por outras crianças 
(van Boxtel et al., 2004). Da mesma forma, um adolescente 
ou adulto cheio de si que se sente diminuído por um insulto 
é alguém potencialmente perigoso. Brad Bushman e Roy Bau­
meister (1998) experimentaram esse “lado negro da autoes­
tima”. Pediram a 540 universitários voluntários que escre­
vessem um parágrafo, que receberia de outro suposto estu­
dante um comentário elogioso ( “Ótimo texto!”) ou crítico 
( “Um dos piores textos que já li!”). Em seguida, os autores 
dos textos participavam de um jogo de tempo de reação com 
o outro estudante. Depois que ganhavam, podiam agredir o 
oponente com ruídos de qualquer intensidade durante qual­
quer período de tempo.
“0s autorretratos nos quais acreditamos, quando temos 
liberdade para expressá-los, são incrivelmente mais 
positivos do que revela a realidade.”
Shelley Taylor, Positive Illusions, 19B9
O viés em proveito próprio vai contra a psicologia popu­
lar. “Todos nós temos complexo de inferioridade”, escreveu 
John Powell (1989, p. 15). “Aqueles que parecem não ter tal 
complexo estão apenas fingindo.” Mas descobertas adicionais 
eliminam quaisquer dúvidas (Myers, 2008):
• Lembramos e justificamos nossas ações passadas de 
modo a nos colocarmos em destaque.
• Exibimos uma confiança inflada em nossas crenças e 
nossos julgamentos.
• Superestimamos o modo desejável como agiríamos em 
situações nas quais a maioria das pessoas se comporta 
menos do que admiravelmente.
• Com frequência, buscamos informações que nos são 
favoráveis e que nos distinguem.
• Acreditamos mais rapidamente nas descrições lisonjeiras 
de nós mesmos do que nas não lisonjeiras, e nos 
impressionamos com testes psicológicos que nos fazem 
parecer bem.
• Fortalecemos nossa autoimagem ao superestimar a 
trivialidade de nossas fraquezas e subestimar a 
normalidade de nossas habilidades.
• Consideramos que fazemos contribuições superiores à 
média do nosso grupo (e o mesmo acontece com nossos 
colegas de equipe, o que explica por que as estimativas 
sobre as contribuições dos membros do grupo em geral 
somam mais de 100%).
"As defesas entusiasmadas do movimento pela 
autoestima variam, em grande parte, da fantasia ao 
nonsense. Os efeitos da autoestima são pequenos, 
limitados, e nem sempre bons."
Roy Baumeister (1995)
Você é capaz de adivinhar o resultado? Depois da crítica, 
aqueles que tinham autoestima excessivamente alta foram 
“excepcionalmente agressivos”. A tortura auditiva deles durou 
três vezes mais do que a daqueles que tinham autoestima 
normal. Ao que parece, o “egotismo ameaçado”, mais do que 
a baixa autoestima, predispõe à agressão. “Incentivar as pes­
soas para que se sintam bem em relação a si mesmas quando 
elas não merecem” causa problemas, conclui Baumeister 
(2001). "Convencidos, os indivíduos presunçosos se tornam 
agressivos contra aqueles que furam suas bolhas de amor- 
próprio.”
Depois de monitorar a autovalorização nas várias últimas 
décadas, a psicóloga JeanTwenge (2006;Twengeetal., 2008) 
relata que a nova geração — ela chama de Geração Eu — 
expressa mais narcisismo (concordando com mais frequência 
com declarações do tipo: “Se eu comandasse o mundo, ele 
seria um lugar melhor” ou “Acho que sou uma pessoa espe­
cial”). A concordância com essas declarações está correlacio­
nada ao materialismo, ao desejo de ser famoso, a expectativas 
exageradas, mais conexões com poucas relações que envol­
vam compromisso, mais apostas e mais traição, tudo isso 
aumentando à medida que o narcisismo cresce.
Apesar dos perigos comprovados do orgulho, muitas pes­
soas rejeitam a ideia do viés em proveito próprio, insistindo 
em que ela negligencia os que se sentem inúteis e antipáticos 
e parecem desprezar a si mesmos. Se o viés em proveito pró­
prio prevalece, por que tantas pessoas depreciam a si mes­
mas? Por três razões: às vezes, o menosprezo direcionado à 
própria pessoa é estratégia sutil, pois evoca afagos tranquili­
zadores. Dizer “Ninguém gosta de mim” pode evocar, pelo 
menos, “Mas nem todo mundo conhece você!”. Outras vezes, 
tal como antes de um jogo ou uma prova, os comentários 
autodepreciativos nos preparam para possíveis fracassos. O 
treinador que exalta a força superior do futuro oponente 
torna uma derrota compreensível, e uma vitória notável. E, 
finalmente, a autodepreciação também pertenceao velho self 
de alguém. As pessoas são muito mais críticas de seus selves 
passados do que atuais — mesmo quando não houve mudança 
(Wilson e Ross, 2001). “Quando eu tinha 18 anos, era um 
idiota; hoje sou mais sensível.” Do ponto de vista deles, 
cabeça-dura ontem, campeão hoje.
Mesmo assim, é verdade: todos nós algumas vezes, e alguns 
de nós na maioria das vezes, realmente nos sentimos infe­
riores — especialmente quando nos comparamos com aque­
les que estão um ou dois degraus acima na escada de prestí­
gio, aparência, renda ou habilidade. Quanto maiores forem 
a profundidade e a frequência com que temos esses senti­
mentos, mais infelizes, e até deprimidos, seremos. Mas, para 
a maioria das pessoas, o pensamento tem uma tendenciosi- 
dade naturalmente positiva.
Embora reconhecendo o lado obscuro tanto do viés em 
proveito próprio quanto da autoestima, alguns pesquisadores 
preferem isolar os efeitos dos dois tipos de autoestima —
defensiva e segura (Kernis, 2003; Lambird e Mann, 2006; 
Ryan e Deci, 2004). A autoestima defensiva é frágil. Concen- 
tra-se em se autossustentar, o que faz com que os fracassos 
e as críticas pareçam ameaçadores. Tal egotismo expõe o indi­
víduo a ameaças percebidas, que alimentam a raiva e a desor­
dem, observam Jennifer Crocker e Lora Park (2004). Assim, 
como a baixa autoestima, a autoestima defensiva está corre­
lacionada a um comportamento agressivo e antissocial (Don­
nellan et al., 2005).
A autoestima segura é menos frágil, porque depende menos 
das avaliações externas. O indivíduo sente-se aceito pelo que 
é, não pela sua aparência, riqueza ou fama, e isso alivia as 
pressões e promove o sucesso e o foco para além de nós mes­
mos. Perdendo o foco em nós mesmos nos relacionamentos 
e buscando objetivos maiores do que o nosso self, Crocker e 
Park acrescentam, poderemos alcançar uma autoestima mais 
segura e maior qualidade de vida.
ANTES DE PROSSEGUIR...
> Pergunte a Si Mesmo
Com que possíveis selves você sonha — ou teme? Até que 
ponto esses selves imaginados motivam você agora?
>- T este a S i M esmo 6
Em uma pesquisa de opinião do Instituto Gallup, feita em 
1997, os norte-americanos brancos estimaram que 44% de 
seus compatriotas brancos eram altamente preconceituosos 
(atribuindo a eles 5 ou mais pontos em uma escala de 10). 
Quantos avaliaram a si mesmos como altamente 
preconceituosos? Apenas 14%. Que fenômeno esse 
comportamento ilustra?
As respostas às questões Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no 
Apêndice B, no final do livro.
“Se você se com p arar com os outros, ta lvez se to rn e 
orgulhoso e am argo: pois sem pre h av erá algu ém m elhor 
ou p ior do que você."
Max Ehrmann, “Desiderata", 1927
r e v i s ã o do c a p í t u l o : Personalidade
A Perspectiva Psicanalítica
1 : Qual era a visão de Freud sobre a personalidade e seu 
desenvolvimento?
O tratamento de transtornos emocionais levou Sigmund 
Freud a crer que eles eram fruto de dinâmicas inconscientes, 
que ele procurava analisar através da associação livre e dos 
sonhos. Ele chamava sua teoria e técnicas de psicanálise. Ele 
considerava que a personalidade se compunha de impulsos 
psíquicos que buscavam o prazer (o id), um executivo 
orientado para a realidade (o ego) e um conjunto 
internalizado de ideais (o superego). Ele acreditava que as 
crianças se desenvolvem através de fases psicossexuais, e que 
nossas personalidades são influenciadas pelo modo como 
resolvemos os conflitos associados a esses estágios e se nos 
mantivemos fixados em algum deles.
2 : Como Freud achava que as pessoas se defendiam 
contra a angústia?
As tensões entre as demandas do id e do superego 
provocam a angústia. O ego resiste através de mecanismos de 
defesa, especialmente o recalque.
3 : Quais das ideias de Freud foram aceitas ou rejeitadas 
por seus seguidores?
Os neofreudianos Alfred Adler, Karen Horney e Carl Jung 
aceitaram muitas das ideias de Freud. Mas Adler e Horney 
afirmaram que temos outras motivações além do sexo e da 
agressão e que o controle consciente do ego é maior do que 
o suposto por Freud; Jung, por sua vez, propôs a existência 
de um inconsciente coletivo. Os teóricos psicodinâmicos 
concordavam com a visão de Freud de que os processos 
mentais inconscientes, os conflitos internos e as 
experiências da infância são influências importantes sobre 
a personalidade.
4 : O que são testes projetivos, e como são usados?
Os testes projetivos procuram avaliar a personalidade 
apresentando estímulos ambíguos criados para revelar o 
inconsciente. Apesar de os testes projetivos, como as 
manchas de Rorschach, serem dúbios em termos de 
confiabilidade e validade, muitos clínicos continuam a 
adotá-los.
5 : Qual a visão dos psicólogos contem porâneos sobre 
Freud e o inconsciente?
Os pesquisadores atuais da psicologia observam que a 
teoria freudiana oferece explicações posteriores aos fatos e 
que o recalque raramente ocorre. As pesquisas atuais sobre 
o processamento de informações confirmam que nosso 
acesso a tudo o que ocorre na mente é muito limitado, mas 
isso não reforça a visão freudiana do inconsciente. Ao 
contrário, o inconsciente consiste em esquemas que 
controlam nossas percepções; pré-ativação (priming); 
processamento paralelo que ocorre sem nossa percepção 
consciente; memórias implícitas de habilidades aprendidas; 
emoções ativadas instantaneamente; e autoconceitos e 
estereótipos que filtram informações sobre nós mesmos e 
sobre os outros. Também são poucos os defensores da ideia 
de mecanismos de defesas. O efeito de falso consenso da 
psicologia (a tendência a superestimar a concordância 
alheia com nossas crenças e comportamentos), no entanto, 
guarda alguma semelhança com a projeção freudiana, e a 
formação reativa também parece ocorrer.
Contudo, Freud atraiu a atenção da psicologia para o 
inconsciente, para o esforço de lidar com a angústia e a
sexualidade e para o conflito entre os impulsos biológicos e 
as restrições sociais. Seu impacto sobre a cultura foi 
enorme.
A Perspectiva Humanista
6 : Como os psicólogos humanistas veem a 
personalidade, e qual era seu objetivo ao estudar a 
personalidade?
Os psicólogos humanistas procuram desviar a atenção da 
psicologia para o potencial de crescimento de pessoas 
saudáveis. Abraham Maslow acreditava que, se as 
necessidades humanas básicas fossem atendidas, as pessoas 
se desenvolveriam rumo à autorrealização. Para fomentar o 
crescimento dos outros, Carl Rogers aconselhava que 
fôssemos genuínos, tolerantes e empáticos. Nesse clima de 
consideração positiva incondicional, ele acreditava que as 
pessoas desenvolveriam uma autoconsciência mais 
profunda e um autoconceito mais realista e positivo.
7 : Como os psicólogos humanistas avaliaram o sentido 
do self?
Os psicólogos humanistas avaliaram a personalidade 
através de questionários em que as pessoas reportavam seus 
autoconceitos e em terapia, procurando compreender as 
experiências pessoais subjetivas alheias.
8 : Como a perspectiva humanista influenciou a 
psicologia? Que críticas ela enfrentou?
A psicologia humanista ajudou a renovar o interesse da 
psicologia pelo conceito de self. Ainda assim, os críticos da 
psicologia humanista alegaram que seus conceitos eram 
vagos e subjetivos, seus valores eram ocidentais e 
autocentrados e suas pressuposições ingenuamente 
otimistas.
A Perspectiva do Traço
9 : Como os psicólogos utilizam os traços para descrever 
a personalidade?
Em vez de explicar os aspectos ocultos da personalidade, os 
teóricos do traço procuram descrever nossas características 
estáveis e duradouras. Utilizando a análise fatorial, os 
pesquisadores isolaram dimensões importantes da 
personalidade. Predisposições genéticas influenciam 
diversos traços.
10: 0 que são inventários de personalidade, e quais são 
seus pontos fracos e fortes como instrumentos de 
avaliação de traços?
Os inventários de personalidade (como MMPI) são 
questionários para mensurar uma ampla variedade de 
sentimentos e comportamentos. Ositens são empiricamente 
testados, e os testes têm pontuação objetiva. Entretanto, as 
pessoas podem mentir em suas respostas para criar uma 
boa impressão; além disso, a facilidade dos testes por 
computador pode levar ao uso equivocado dessas 
avaliações.
1 1 : Que traços parecem fornecer informações mais úteis 
sobre a variação de personalidade?
As Cinco Grandes dimensões da personalidade — 
neuroceticismo ou estabilidade emocional, extroversão, 
abertura para a experiência, socialização e realização ou
( C o n t in u a )
consciensiosidade — oferecem um quadro razoavelmente 
abrangente da personalidade.
1 2 : As pesquisas apoiam a consistência dos traços de 
personalidade ao longo do tempo e em várias situações?
Apesar de os traços das pessoas persistirem ao longo do 
tempo, seus comportamentos variam muito de uma 
situação para outra. Apesar dessas variações, o 
comportamento médio de uma pessoa em diferentes 
situações tende a ser razoavelmente uniforme.
A Perspectiva Social-Cognitiva
1 3 : Na visão dos psicólogos da perspectiva social- 
cognitiva, que influências mútuas moldam a 
personalidade de um indivíduo?
A perspectiva social-cognitiva aplica princípios de 
aprendizagem, cognição e comportamento social à 
personalidade, com especial ênfase nas formas como nossa 
personalidade influencia e é influenciada pela interação 
com o ambiente. Ela pressupõe o determinismo recíproco — 
segundo o qual os fatores pessoais-cognitivos interagem 
com o ambiente para influenciar o comportamento das 
pessoas.
1 4 : Quais são as causas e as conseqüências do controle 
pessoal?
Estudando como as pessoas variam em seu lócus de controle 
(externo ou interno) percebido, os pesquisadores 
constataram que um senso de controle pessoal ajuda as 
pessoas a lidar com a vida. A pesquisa sobre desamparo 
aprendido evoluiu para os efeitos do otimismo e do
pessimismo, que levou a um movimento mais amplo por 
uma psicologia positiva.
1 5 : Que principio subjacente orienta os psicólogos da 
perspectiva social-cognitiva em sua avaliação do 
comportamento e das crenças individuais?
Os pesquisadores da perspectiva social-cognitiva estudam a 
interação das pessoas com as situações. Eles tendem a 
acreditar que a melhor maneira de prever o comportamento 
de alguém em uma determinada situação é observar o 
comportamento da pessoa em situações semelhantes.
1 6 : Qual foi a contribuição da perspectiva social- 
cognitiva para o estudo da personalidade, e que criticas 
enfrentou?
Apesar de ser falha por não enfatizar suficientemente a 
importância das dinâmicas inconscientes, emoções e traços 
internos, a perspectiva social-cognitiva aprimora os 
conceitos psicológicos bem-estabelecidos da aprendizagem e 
da cognição e nos faz lembrar do poder das situações sociais.
Exploração do Self
1 7 : Uma elevada autoestima nos ajuda ou atrapalha?
Na psicologia contemporânea, o self é considerado o centro 
da personalidade, o organizador de nossos pensamentos, 
sentimentos e ações. As pesquisas confirmam os benefícios 
de uma autoestima elevada; mas também advertem quanto 
aos perigos de uma autoestima irrealisticamente alta. O viés 
em proveito próprio (self-serving bias) nos leva a uma 
autopercepção favorável, muitas vezes nos fazendo 
superestimar nossas habilidades e subestimar nossas falhas.
Termos e Conceitos para Lembrar
personalidade projeção Inventário Multifásico de Personalidade
associação livre racionalização de Minnesota (MMPI)
psicanálise deslocamento teste obtido empiricamente
inconsciente negação perspectiva social-cognitiva
id inconsciente coletivo determinismo recíproco
ego teste projetivo controle pessoal
superego Teste de Apercepção Temática lócus de controle externo
fases psicossexuais (TAT) lócus de controle interno
complexo de Édipo teste de Rorschach desamparo aprendido
identificação teoria do gerenciamento do terror psicologia positiva
fixação autorrealização self
mecanismos de defesa aceitação positiva incondicional efeito holofote
recalque autoconceito autoestima
regressão traço viés em proveito próprio (self-serving
formação reativa inventário de personalidade bias)

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