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FICHA DE LEITURA Nº5
Sistemas Fiscais
Introdução
Nesta unidade pretende-se que o estudante seja capaz de perceber como funciona o sistema fiscal.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
· Definir a Tributaçao
· Explicar o funcionaento o sistema Fiscal Moçambicano
· Mencionar as características desejáveis para um Sistema fiscal
A Tributação
O Tributo
É toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de acto ilícito, instituída por lei e cobrada mediante actividade administrativa plenamente vinculada.
A noção de tributo está ligada ao termo latino “tribuire”, que significa distribuir, no sentido de repartir, entre os entes da comunidade os ónus da satisfação das necessidades colectivas. O imposto é uma prestação de valor pecuniário, exigida aos indivíduos pelo Estado, sem contrapartida e sem o caracter sancionário. Segundo regras fixas, para cobrir despesas de interesse geral, cobrado pelo único facto de que, quem o deve pagar, pratica um acto económico numa comunidade politicamente organizada.
O imposto é uma das espécies do género tributo. Diferentemente de outros tributos, como taxas e direitos aduaneiros, é um tributo não vinculado: é devido pelo contribuinte independentemente de qualquer contraprestação por parte do Estado. Destina-se a atender as despesas gerais da Administração Pública, pelo que só pode ser exigido pela pessoa jurídica de direito público interno que tiver competência
constitucional para tal.
Teoreticamente, os recursos arrecadados pelos governos são revertidos para o bem comum, para investimentos (tais como infraestrutura: estradas, portos, pontes, aeroportos, etc.) e custeio de bens e serviços públicos, como saúde, segurança e educação. Mas não há vinculação entre receitas de impostos e determinada finalidade - o contrário do que ocorre com as taxas e as contribuições específicas, cujas receitas são vinculadas à prestação de determinados serviços ou a realização de determinada obra. Embora a lei obrigue os governos a destinarem
parcelas mínimas da arrecadação a certos serviços públicos – em especial de educação, saúde, o pagamento de impostos não confere ao contribuinte qualquer garantia de contrapartida.
Sistemas Tributários
Segundo Richard Musgrave (1976), entende-se por Sistema Tributário como sendo o complexo orgânico formado pelos tributos instituídos em um país ou região autónoma e os princípios e normas que os regem. Por via de consequência, podemos concluir que o Sistema Tributário Moçambicano é composto dos tributos instituídos em Moçambique, dos princípios e das normas que regulam tais tributos.
Características Desejáveis para um Sistema Tributário
A importância que o sistema tributário - entendido, de forma simples, como o conjunto de impostos vigente num determinado país ou espaço geográfico - assume, quer no ponto de vista estritamente financeiro, quer na sua influência sobre a actividade económica e social, leva a que existam preocupações sobre as características que o mesmo deve revestir.
Assim, sendo uma das justificações para a existência de imposto a obtenção de receitas para financiar a provisão de bens públicos, torna-se importante verificar em que medida o sistema fiscal é capaz de gerar o
conjunto de meios financeiros considerado necessário.
Sistemas Tributários óptimos
Uma síntese dos requisitos considerados como integrantes de um “bom” sistema Tributário pode ser apresentada como segue:
(i) Equidade, a distribuição da “carga fiscal” entre os indivíduos deve ser equitativa e não arbitrária, devendo cada um suportar uma parcela considerada justa dos encargos com a actividade pública.
(ii) Eficiência, os impostos devem ser escolhidas de molde a minimizarem as interferências com decisões eficientes dos agentes económicos tomadas em mercados competitivos.
(iii) Flexibilidade, a estrutura dos impostos deve ser concebida de modo a constituir um instrumento eficaz de estabilização automática de conjuntura.
(iv) Transparência, as regras tributárias devem ser, tanto quanto possível, estáveis e de fácil compreensão para os contribuintes, e permitir a responsabilização política dos governos pelas medidas fiscais tomadas.
(v) Baixo custo de funcionamento, os custos associados à administração e cumprimento do sistema de impostos e regras fiscais devem ser tão baixos quanto o permitam os restantes objectivos de política fiscal.
(vi) Eficácia4 financeira, as receitas geradas por um sistema fiscal devem ser adequadas e suficientes para fazer face as necessidades financeiras e objectivos da política orçamental.
7.2.3 Princípios da Tributação
Em 1776, o escocês Adam Smith, publicou em sua obra classíca, A Riqueza das Nações, alguns preceitos da boa tributação: justiça, simplicidade e neutralidade.
Justiça
Um sistema tributário é justo quando todos, dos mais pobres ao mais rico, contribuem em proporção directa à sua capacidade de pagar. Na definição de justiça tributária, está implícito o princípio da progressividade – quem ganha mais deve contribuir com uma parcela maior do que ganha, pois uma parte dos seus rendimentos está comprometida com o atendimento de necessidades básicas.
Simplicidade
De acordo com Smith, num sistema tributário é relactivamente fácil e barato para o contribuinte calcular e pagar quando deve. A mesma facilidade tem o governo para fiscalizar se o contribuinte pagou o que devia.
Neutralidade
Neutralidade quer dizer que o sistema tributário não deve influenciar a evolução natural da economia. Ou seja, não deve influir na competitividade e nas decisões das empresas e tampouco no comportamento do consumidor / contribuinte.
Factos geradores de tributação
Os tributos regra geral, incidem sobre os rendimentos ou o património. Rendimentos dizem respeito ao valor criado por meio do trabalho (ou da aplicação do capital ou saber) de indivíduos ou de organizações, ex.
Salários, lucros, juros, dividendos, etc. Património são bens de propriedade dos contribuintes que têm valor económico, como casas, propriedades, carros, e outros activos.
Sistema Tributário da República de Moçambique
A análise da evolução dos sistemas fiscais dos vários países evidencia a existência ao longo do tempo de diferentes “modelos de tributação” e grande diversidade de figuras tributárias. E isto, tanto quando se
consideram as autoridades públicas no seu conjunto, como quando se retêm em separado os diferentes níveis do governo.
As razões para tal decorrem de múltiplos factores. Assim, para além das influências e opções de ordem histórica e política, é necessário ter presente que os sistemas fiscais são eles próprios reflexo das estruturas
sócio-económicas sobre que incidem e modelam, evoluindo em função das características das mesmas e do grau de desenvolvimento dos países considerados.
O Sistema tributário da Republica de Moçambique assenta em critérios de justiça social e o regime jurídico-fiscal segue os princípios da legalidade tributária, de equidade, da eficiência e da simplicidade do sistema tributário.
Classificação dos impostos em Moçambique
De acordo com a Lei No 15/ 2002, de 26 de Junho, o sistema tributário da Republica de Moçambique integra impostos nacionais e autárquicos.
Os impostos do sistema tributário nacional classificam-se em directo e indirecto, actuando em diversos níveis, designadamente:
a) Tributação directa dos rendimentos e da riqueza; e
b) Tributação indirecta da despesa.
Tributação directa dos rendimentos
A tributação directa dos rendimentos e da riqueza na República de Moçambique faz-se através do seguinte sistema de impostos:
a) Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas – IRPC;
b) Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares – IRPS e;
c) Imposto simplificado para pequenos contribuintes – ISPC.
Tributação indirecta
A tributação indirecta, que compreende os impostos sobre a despesa, integra:
a) Impostos sobre o valor acrescentado – IVA;
b) Impostos sobre Consumos Específicos – ICE; e
c) Os Direitos aduaneiros
Outros impostos
O sistema tributáriode Moçambique se completa com outros impostos, a saber:
a) O imposto de selo;
b) O imposto sobre sucessões e doações;
c) A Sisa;
d) Os impostos Especial sobre o jogo;
e) O imposto de Reconstrução;
f) Outros impostos a taxas específicas, estabelecidas por lei
Mais interessante, porém, do ponto de vista da análise económica, é a
classificação e distinção dos impostos em função das respectivas bases de
incidência ou realidades económicas tributadas. Nesta última perspectiva,
distingue-se entre:
Composição do Sistema Fiscal Moçambicano
O Sistema Fiscal Moçambicano (SFM) presentemente em vigor é formado por um conjunto de impostos nacionais e autárquicos que incidem sobre o rendimento, o património e a despesa. Existem alguns outros impostos que tributam certos actos ou situações específicas (como é o caso do imposto sobre o consumo específico).
A tributação do rendimento opera-se através dos dois impostos referidos:
O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRPS), que tem por objectivo a tributação global e personalizada do rendimento, através da adopção de um conceito amplo de rendimento (“rendimento –
acréscimo patrimoniasl”), de um sistema de taxas progressivas por escalões, e da relevância de um conjunto importante de encargos e deduções de tipo pessoal e familiar. O IRPS incide sobre o valor global anual dos rendimentos, mesmo quando provenientes de actos ilícitos, das categorias seguintes, depois de feitas as correspondentes deduções e abatimentos:
a) 1ª Categoria: rendimentos do trabalho dependente;
b) 2ª Categoria: rendimentos empresariais e profissionais;
c) 3ª Categoria: rendimentos de capitais e das mais-valias;
d) 4ª Categoria: rendimentos prediais;
e) 5ª Categoria: outros rendimentos
O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC), que corresponde na sua filosofia às modernas exigências da tributação empresarial baseada, fundamentalmente, no lucro real e na eliminação de dupla tributação económica dos lucros distribuídos. O IRPC incide sobre os rendimentos obtidos, ainda que provenientes de actos ilícitos, no período de tributação.
Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)
O IVA é um imposto geral sobre as transmissões de bens, as prestações de serviços, realizadas no território nacional, a título oneroso, por um sujeito passivo agindo como tal, bem como sobre as importações de bens.
Imposto sobre Consumos Específicos (ICE)
O imposto sobre consumo específicos tributa, de forma selectiva, o consumo de determinados bens constantes de legislação especifica a aprovar pelo Conselho de Ministros (tabaco, bebidas, drogas, etc.) e incide uma só vez no produtor ou no importador, consoante o caso.
Direitos aduaneiros
Os direitos aduaneiros incidem sobre as mercadorias importadas e exportadas no território aduaneiro e estão consignados na pauta aduaneira, ficando o Conselho de Ministros com a competência de fixar na mesma as respectivas taxas, bem como as instruções preliminares da pauta aduaneira e os benefícios pautais.
Outros impostos
Tal e qual nos referimos anteriormente, o sistema fiscal de Moçambique se completa com outros impostos, a saber: o Imposto de Selo, o Imposto sobre Sucessões e Doações, a Sisa, O Imposto Especial sobre o Jogo, o
Imposto de Reconstrução e, outros impostos a taxas especificas, estabelecidas por lei:
a) Imposto do Selo incide sobre todos os documentos, livros, papéis e actos designados na tabela própria, a provar pelo Conselho de Ministro, na qual constam as respectivas taxas e se estabelecem as
exclusões à tributação.
b) O Imposto sobre Sucessões e Doações incide sobre as transmissões a título gratuito de bens mobiliários e imobiliários.
c) A Sisa incide sobre as transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade ou de figuras parcelares desse direito, sobre bens imóveis.
d) O Imposto Especial sobre o Jogo incide sobre as receitas brutas resultantes da exploração dos jogos regulados pela Lei No 8/94, de 14 de Setembro, após o pagamento dos ganhos aos jogadores. A taxa é
fixada no contracto de concessão e é variável de acordo com o período de concessão, nos seguintes termos:
1) 20% para o período de concessão de 10 a 14 anos;
2) 25% para o período de concessão de 15 a 19 anos;
3) 30% para o período de concessão de 20 a 24 anos;
4) 35% para o período de concessão seja de 25 a 30 anos;
e) O Imposto de Reconstrução Nacional representa a contribuição mínima de cada cidadão para os gastos públicos e incide, segunda taxas específicas, sobre todas as pessoas residentes no território nacional, ainda que estrangeiros, quando para eles se verifiquem as circunstâncias de idade, ocupação, aptidão para o trabalho e demais condições estabelecidas para cada ano pelo Ministério de Finanças, mediante propostas dos governos provinciais, diversificadas de modo a atender ao grau de desenvolvimento e às condições sócioeconómicas
prevalecentes em cada distrito.
f) Imposto sobre Veículos incide sobre o uso e fruição dos veículos matriculados, registados nos serviços competentes no território da Republica de Moçambique, ou independemente de registo ou matrícula, desde que sejam decorridos cento e oitenta dias a contar da entrada no mesmo território e estejam em uso ou circulação.
g) Taxas sobre combustíveis, incide sobre o combustível produzido ou importado e comercializado no território nacional, a uma taxa a estabelecer pelo Conselho de Ministros.
Benefícios Fiscais Aspecto relevante em qualquer sistema fiscal é o conjunto de incentivos e benefícios fiscais que o integram, e que traduzem opções de política
relativamente ao uso do instrumento “imposto” para alcançar certos objectivos económicos e sociais. No caso moçambicano, e para além das disposições que, a esse título, constam dos próprios Códigos tributários (e que alguns autores de pendor mais jurisdicista consideram como indissociáveis da própria filosofia do respectivo imposto), estes “desagravamentos” encontram-se, fundamentalmente, sistematizados no Código dos Benefícios Fiscais, aprovado pelo Decreto No 16/2002, de 27 de Julho. A este acresce alguma legislação autónoma, como nos casos da Lei do mecenato.
Tais benefícios podem traduzir-se em isenções, reduções de taxas, deduções ao rendimento ou à colecta de imposto, estão orientados para áreas como:
· a poupança de médio/longo prazo;
· o investimento produtivo e a criação de emprego;
· Modernização e introdução de novas tecnologias;
· formação profissional;
· Desenvolvimento de parques nacionais reservas;
· projectos de grande dimensão;
· zonas de rápido desenvolvimento;
· zonas francas industriais; e
· algumas actividades específicas nomeadamente, agricultura,
aquacultura, silvicultura, pecuária, exploração da fauna bravia,
etc., etc.
Estrutura de Tributação em Moçambique
Em termos da importância relativa assumida pelos principais tipos de imposto em Moçambique, os impostos sobre bens e serviços continuam a constituir a mais importante fonte de receita (61%), com especial
destaque para o IVA (43% da receita fiscal), seguido de IRPS e IRPC com uma contribuição estimada em 18% e 15% da receita fiscal respectivamente, seguindo-se-lhes, em termos de grandeza relativa, os direitos aduaneiros (10%) e impostos sobre consumos específicos (9%). 
O Tributo, é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de acto ilícito, instituída por lei e cobrada mediante actividade administrativa plenamente vinculada. Segundo Richard Musgrave (1976), entende-se por Sistema Tributário como sendo o complexo orgânico formado pelos tributos instituídos em um país ou região autónoma e os princípios e normas que os regem.
O IVA é um imposto geral sobre as transmissões de bens, as prestações de serviços, realizadas no território nacional, a título oneroso, por um sujeito passivo agindo como tal, bem como sobre as importações de bens.
O imposto é uma das espécies do género tributo. Diferentemente de outros tributos, como taxas e direitos aduaneiros, é um tributo não vinculado: é devido pelo contribuinteindependentemente de qualquer
contraprestação por parte do Estado.
O Sistema Fiscal é o conjunto articulado dos impostos e demais figuras tributárias, tem por primordial objectivo a satisfação das necessidades financeiras do Estado e de outras entidades públicas. Conciliando e
reconciliando tal desiderato com a repartição justa dos rendimentos e da riqueza.
Exercícios
Reflicta sobre as seguintes questões:
1. Quais são os impostos que compõem o Sistema Fiscal
Moçambicano (SFM)? Carateriza um de cada tipo
2. Explica o funcionamento do Sistema fiscal Moçambicano?
3. Poderá a SFM reflectir-se na economia Moçambicana e de
que forma?
4. O sistema tributário de Moçambique se completa com outros
impostos, quais são estes outros?

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