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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG Autos nº 0000.00.000000-0 Joaquim das Couves, solteiro, borracheiro, inscrito no CPF nº xxx.xxx.xxx-xx, residente e domiciliado na Rua xxxxxxxxx, nº xxx, bairro xxxxxxx, Contagem, Minas Gerais, CEP xx.xxx-xxx, representado por seu advogado, cuja procuração segue vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência impetrar com fulcro no art. 396 da LEI Nº 11.719, DE 20 DE JUNHO DE 2008, movido pelo Ministério Público. RESPOSTA À ACUSAÇÃO nos termos do art. 406 do CPP, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: DOS FATOS João das Couves de Andrade foi alvejado com três tiros à queima roupa em uma praça da cidade de Contagem, região limítrofe com a cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O crime aconteceu às 22h do dia 2 de junho de 2019. João estava acompanhado de sua irmã, Maria Flor de Andrade, que havia se afastado um pouco para comprar pipoca. Ela ouviu os tiros que alvejaram o irmão e correu para tentar salvá-lo, momento em que o agressor fugiu do local em uma moto. João foi levado para o Hospital de Belo Horizonte em estado grave, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu poucos dias após o crime no nosocômio. Durante a investigação do homicídio, o delegado pediu a Maria para que fizesse o reconhecimento do autor do crime. Para isso, mostrou a ela várias fotos de indivíduos que haviam sido presos em flagrante delito naquela região pelo cometimento de delitos diversos. Maria relatou ao delegado não estar segura para realizar o reconhecimento fotográfico, já que o delito aconteceu à noite e, além de o local do crime estar escuro, ela se encontrava psicologicamente abalada. Todavia, no seu entendimento, analisando bem as provas, parecia ser Joaquim das Couves o provável autor do delito, pois, segundo ela, ambos eram brancos, magros e possuíam a cabeça raspada. Após o reconhecimento, o delegado concluiu o inquérito policial e enviou as peças para o Juiz de Direito de Belo Horizonte, que as remeteu ao Ministério Público para manifestação. O órgão do Ministério Público denunciou Joaquim por homicídio doloso, incurso no §2º do inciso IV do art. 121 CP. A denúncia foi recebida, e a Ação Penal encontra-se em trâmite na cidade de Belo Horizonte/MG. FUNDAMENTOS JURÍDICOS: Ante o exposto demonstra-se insuficiência probatória e alegação de exceção no tocante a incompetência do juízo onde está acostado os autos processuais. Quanto ao comento da incompetência, os fatos ocorreram em uma praça da cidade de Contagem, região limítrofe com a cidade de Belo Horizonte, sendo assim foros diferentes. O presente juízo não possui competência material para apreciar e julgar eventuais delitos. Observando o art. 70 do CPP, dispõe que é competente para julgamento o foro do local em que se consumou o delito. Portanto, em regra, no processo penal, utiliza-se a Teoria do Resultado: “Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução” Segue também preliminarmente, suscitado insuficiência, probatória, descarte, haver prova anexada levando em conta meras fotografia, incapaz de provar firmemente verdadeira autoria material. A legislação nos traz alguns dispositivos que devem ser seguidos para que haja o reconhecimento de uma pessoa e para que tal fato possa ser utilizado como meio de prova no processo penal. Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma: I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la. Trata-se de uma prova frágil, que deve ser utilizada apenas quando não for possível o reconhecimento pessoal. Além disso, não pode ser utilizado como a única prova a embasar uma condenação, exatamente pela sua falibilidade, como disciplina Badaró: Não se trata, pois de um simples caso de prova atípica, que seria admissível ante a regra do livre convencimento judicial. As formalidades de que se cerca o reconhecimento pessoal são a própria garantia da viabilidade do reconhecimento como prova, visando a obtenção de um elemento mais confiável de convencimento. (BADARÓ, 2016, p. 484) DO DIREITO A utilização de provas em desacordo com as formalidades legais é causa de nulidade. Conforme art. 546, IV do CPP; Art.564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: IV – por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato. Távora e Alencar, parafraseando Mirabete (2003), assim dispõem sobre nulidade: “é, sob um aspecto, vício, sob outra sanção, podendo ser definida como a inobservância de exigências legais ou a falha ou imperfeição jurídica que invalida ou pode invalidar o ato processual ou todo o processo” (TÁVORA; ALENCAR, 2019, p. 1547). Constranger alguém a responder a um processo penal apenas com base em reconhecimento fotográfico viola o princípio da inocência ou da não culpabilidade, previsto na Constituição Federal, pois ninguém pode ser processado ou ter a sua liberdade cerceada sem provas ou com fundamento em provas manifestamente ilegais, entendidas como as ilegais e as ilícitas propriamente ditas. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. DA LEGITIMIDADE Cabe salientar que no inquérito policial consubstancia -se apenas em manifestação quem se presume segundo testemunha irmã da vítima, não estar segura para realizar o reconhecimento fotográfico, já que o delito aconteceu à noite e, além de o local do crime estar escuro, ela se encontrava psicologicamente abalada, não há perícia técnica ou cientifica, que garanta a sua veracidade. O CPP orienta sobre reconhecimento: Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma: I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; Il – a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la; III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. Parágrafo único. O disposto no n° III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento. os seguintes dispositivos da Constituição Federal de 1988: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida; LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; E do CPP: Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão. DOS PEDIDOS · Requer-se a absolvição nos termos do art. 386 CPP, inciso VII; · Remeter os autos processuais para o juízo competente, isto é: Tribunal do júri da comarca de contagem/MG. Segundo interpretação jurisprudencial; · A partir dos fundamentos, jurídicos apresentados, a defesa requer que seja demonstrada nulidade processual, pois houve utilização de prova ilegal (ilícita) pela acusação; · Caso ainda assim a denúncia seja recebida, deve o réu ser absolvido pelo fato; · A absolvição sumária do acusado em face ao fraquíssimo conjunto probatório. · Em caso de eventual instrução, requer sejam intimadas as testemunhas do rol a seguir, para que sejam ouvidas na audiência de instrução e julgamento. Testemunhas: 1. Nome, XXXX XXX, rua XXXXXX, n° XX, bairro, XXXXXX, Contagem MG 2. Nome, XX XXXXXX, rua XXXX, n° XXX, bairro, XXXXXX, Contagem MG 3. Nome, XXXXXXXX, rua XXXXXX, n° X, bairro, XXXXXX, Contagem MG 4. Nome, XX XXXX XXXX, rua XXX, n° XXX, bairro, XXXXXX, Contagem MG 5. Nome, XXXXXXXX, rua XXXXXX, n° XX, bairro, XXXXXX, Contagem MG 6. Nome, XXXXXXXX, rua XXXXXX, n° XX, bairro, XXXXXX, Contagem MG 7. Nome, XXX XX XXXX, rua XXXXX, n° XX, bairro, XXXXXX, Contagem MG 8. Nome, XXX XXX XX, rua XXXX, n° XX, bairro, XXXX, Contagem MG Nestes termos pede deferimento. Contagem, 17 de outubro de 2019 Advogado OAB/MG