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DAS ASTREINTES 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O humilde trabalho se trata de estudo da multa instituída pelo art. 461 do Código de 
Processo Civil, também conhecida como astreintes para seu desenvolvimento foi 
realizada pequena pesquisa e análise abordando a aplicação do instituto das 
astreintes no Codigo de Processo Civil, Juizados Especiais Cíveis e no novo CPC, e 
abordagem das reformas que tiveram por fim a efetividade das decisões 
mandamentais por meio deste instituo nas obrigações de fazer, não fazer e de dar. 
Abordo ainda de maneira didática, origem e natureza jurídica, exigibilidade e 
aplicabilidade do instituto, além da necessária ponderação na aplicação dos 
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, que é de suma importância para 
correta e adequada aplicação de tal instituto. 
 
 
Palavras-chave: Astreintes. Código de Processo Civil. Princípios. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The humble work it comes to study the fine established by art. 461 of the Civil 
Procedure Code, also known as astreintes for its development was conducted little 
research and analysis addressing the application of the institute of astreintes the Civil 
Procedure Code, Small Claims Courts and the new CPC, and approach to reforms 
that had finally the effectiveness of mandamentais decisions through this institute in 
obligations to do, not do and give. I approach even in a didactic way, origin and legal 
nature, enforceability and applicability of the institute, besides the need for weighting 
in the application of the principles of reasonableness and proportionality, which is 
very important for correct and proper implementation of such an institute. 
 
 
Keywords: Astreintes. Code of Civil Procedure. Principles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO 06 
1 ASTREINTES 08 
1.1 Conceito e origem das Astreintes 08 
2 TUTELA ESPECIFICA 13 
2.1 Providencias Sancionatórias 14 
3 BREVE HISTÓRICO DO INSTITUTO DAS ASTREINTES NO DIREITO 
COMPARADO 16 
3.1 Natureza Jurídica 18 
3.2 Dupla Finalidade do Instituto 21 
3.3 Características da Astreintes 22 
4 DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE 24 
4.1 Do Valor da Multa 26 
4.2 Prazo das Astreintes 30 
4.3 Termo “a quo” da multa 31 
4.4. Destinatário - Titularidade da Multa 33 
4.5 Sobrevivência da Multa no Caso de Sentença Final de Improcedência 38 
5 DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA 43 
CONCLUSÃO 46 
REFERÊNCIAS 47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
INTRODUCAO 
 
 
As astreintes representam verdadeiro instituto de tutela diferenciada 
reservada para as demandas que tem por objeto o cumprimento das obrigações de 
fazer e não fazer. A providência sancionatória assume significativo papel para a 
atribuição de efetividade para a prestação da tutela jurisdicional. Inegável a 
importância do instituto processual para conferir maior potencial para os atos da 
jurisdição, considerando, para tanto, seu caráter coativo e indutivo para atuar na 
vontade daquele que deve prestar a tutela específica. Igualmente relevante destacar 
o perfil constitucional do processo civil para que o intérprete, que atua na aplicação 
do direito, possa atingir a finalidade do instituto e fixar de maneira adequada e 
proporcional o valor da multa, interferindo na vontade do devedor 
É abordada a questão da introdução das astreintes no direito processual 
brasileiro, as abordo no campo do direito do consumidor, que foi um dos 
percussores na aplicabilidade de tal medida coercitiva, e no âmbito dos Juizados 
Especiais. 
É também feita uma breve análise quanto a utilização das astreintes, vez que 
ainda se discute quanto as obrigações passíveis de sua aplicabilidade. Isso se dá 
porque no atual Código de Processo Civil, o instituto das astreintes, ao que se 
verifica, apresenta-se quase que exclusivamente sistematizado pela doutrina e pelos 
Tribunais. 
O presente trabalho procura demonstrar a importância do julgador em verificar 
o comportamento dos litigantes, levando em consideração a capacidade de 
resistência da parte em não cumprir com a obrigação imposta, e muitas se 
mantendo inerte a decisão, ocasionando assim um enriquecimento sem causa do 
credor. 
 
7 
1 ASTREINTES 
 
 
1.1 Conceito e origem das Astreintes 
 
 
Do verbo latino adstringere (ou astrigere),(adstringo, asdtrinxi,adstrictum), 
tem o sentido de obrigar, sujeitar, apertar, constranger. 
 
Embora os dicionários a traduzam por “constragimento”, no direito pátrio é 
sempre empregada no original - astreinte. 
As astreintes, também chamada de multa coercitiva1 é um dos mecanismos 
executivos que tem natureza intimidatória, cujo objetivo é coagir psicologicamente o 
réu/executado a cumprir com a obrigação específica buscada pelo autor e 
determinado pelo juiz. Sua imposição tem cabimento na decisão interlocutória de 
antecipação de tutela e na sentença definitiva em obrigações de fazer e de não 
fazer. Mas não ficará o juiz impedido de impor a multa coercitiva durante todo o 
decorrer do processo.2 
O termo astreintes é do direito Francês3 e do instituto do contempt of court do 
ordenamento anglo saxão.4 
A contempt of court de nascedouro inglês no reinado de Henrique III, exigia 
obediência à determinação do rei, pois do contrário o indivíduo “meditaria na prisão”, 
ou seus bens seriam objeto de sequestro, até o momento em que voltasse a ter 
consciência de seus sentimentos, preservando, assim, a integridade da Corte e o 
respeito e obediência às decisões judiciais. As medidas adotadas pela contempt of 
court, desde sua criação tinham caráter punitivo pela violação da boa-fé.5 
 
 
1 DINAMARCO, Candido Rangel. Vocabulário do Processo Civil. São Paulo: Ed. Malheiros Editores, 
2009. p. 189 a 191. 
2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e 
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 
2008. p. 37. 
3 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro. 2ª Edição, Porto Alegre: Ed. 
Livraria do Advogado, 2010. p. 23. 
4 Ibidem, p. 37. 
5 Ibidem, p. 36. 
8 
Portanto, tem se que o berço da multa coercitiva é o direito francês, que em 
consequência da Revolução Francesa, quando havia grande proteção ao devedor, 
razão pela qual, o cumprimento da obrigação de fazer não possuía relevância, 
sendo que o devedor somente cumpria a obrigação quando lhe convinha, porém, no 
caso de descumprimento também não havia qualquer sanção, não havia nenhuma 
medida coercitiva para fazer com que aquele cumprisse o ônus que lhe cabia. 
Guilherme Rizzo Amaral explicita que: 
 
Após a Revolução Francesa, e principalmente após a edição do Code de 
Napoleão, verificou-se na França uma excessiva proteção ao devedor, 
sendo que se chegou a considerar a obrigação de fazer e não fazer como 
“juridicamente não obrigatória”, ou facultativa, podendo o devedor optar por 
cumpri-la ou pagar seu equivalente pecuniário. Este princípio, insculpido no 
artigo 1.142 do código de Napoleão, consagrou o brocardo Nemo praecise, 
segundo o qual, ninguém pode ser forçado a prestar fato pessoal, dado o 
limite do respeito a liberdade individual.6 
 
Nesse ínterim, nasce no princípio do século XIX, as astreintes, por iniciativa 
pretoriana7 e à margem dos textos legais, para a revolta da doutrina que as 
considerava contra a legem.8 
Por mais de um século, as astreintes consistiam somente numa espécie de 
indenização adiantada das perdas e danos, no caso de inexecução de determinado 
comando judicial.9 
As astreintes, teve seu objetivo definido como medida de vencer a resistência 
do obrigado em não cumprir uma obrigação imposta por determinação judicial, em 
decisão proferida em 20.10.1959, a Primeira Câmara Cível daquela Corte (Première 
Chambre Civile de La Cour Cassation).10 
 
Segundo Eduardo Talamini:6 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro. 2ª Edição, Porto Alegre: Ed. 
Livraria do Advogado, 2010. p. 33. 
7 Juiz de categoria inferior à de juiz de direito. – GAMA, Ricardo Rodrigues. Dicionário Básico 
Jurídico. 2ª edição, Ed. Russell, Campinas, 2007. p. 298. 
8 AMARAL, Guilherme Rizzo. Op. cit., p. 33. 
9 Ibidem, p. 33 
10 CHABAS, François. Apud: AMARAL, Guilherme Rizzo. Op. cit., p. 34. 
9 
A origem das Astreintes é do tempo das Ordenacoes Afonsinas, Manuelinas 
e Filipinas, época em que já incidiam sobre o patrimônio daquele que 
deveria adimplir a obrigação assumida, restrigindo a hipótese de prisão por 
divida ao de insolvência do devedor.11 
 
Já Livia Cipriano Dal Piaz diz da importância do estudo das astreintes no 
direito estrangeiro, ao explicar: 
 
[...] dado que este mecanismo não encontra suas raízes no direito pátrio, 
tendo sido importado do direito francês. No entanto, naquele País o sistema 
para aplicação das astreintes não funcionava tal qual vivenciamos nos dias 
atuais. O artigo 1.142 do Código Civil Francês estava diretamente ligado à 
conversão em perdas e danos acaso não cumprisse o devedor com suas 
obrigações de fazer ou não fazer, impedindo assim, a execução específica. 
Somente em 1972, como anuncia LUIZ GUILHERME MARINONI, por meio 
da Lei francesa n° 72-226, o instituto tomou o corpo das astreintes que 
conhecemos hoje, tendo posteriormente a Lei 91-650 de 9 de julho de 
Cipriano Dal Piaz, Lívia, atuação vigentes.12 
 
Ainda no que diz respeito a origem histórica da astreinte, conforme ensina 
Talamini: 
 
Construção idêntica à jurisprudência francesa das astreintes não vingou, 
porém, na doutrina e jurisprudência da Itália”, restando-lhes “a mera 
reparação pecuniária”. No Direito Italiano, a aplicação da multa coercitiva se 
deu em um plano secundário, haja vista, que o sistema processual daquele 
país prepondera que a aplicação de medidas coercitivas se dá 
excepcionalmente e nos casos em que há a expressa previsão legal. 
 
No entendimento de Humberto Teodoro Júniro – tem como prisma da análise 
sua funcionalidade: 
 
(....) o direito moderno criou a possibilidade de coagir o devedor das 
obrigações de fazer e não fazer a cumprir as prestações a seu cargo 
mediante imposições de multas. Respeitada a intangibilidade corporal do 
devedor, criam-se, desta forma,forças morais e econômicas de coação para 
convencer o adimplente a realizar pessoalmente a prestação pactuada13. 
Livia Cipriano Dal Piaz traduziu definição dada por Raymond Guillien ao 
Instituto astreintes em versão original assim transcrita: 
 
11 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e nao fazer. 2. Edição, São Paulo, 
Revista dos Tribunais, 2001. p. 115. 
12 DAL PIAZ, Lívia Cipriano. O Limite da atuação do juiz na aplicação das astreintes. Revista Jurídica 
NOTADEZ, 2005. p. 64. 
13 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e 
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 
2008. p. 37. 
10 
 
Astreinte: Condenação a uma soma de dinheiro, em fração de dia (ou 
semana ou mês) de atraso pronunciada pelo juiz de fond ou de référés, 
contra um devedor inadimplente, com vias a compelir a execução in natura 
da obrigação. 
Astreinte. Conddamnation à une somme d’argent, à raison de tant par jour( 
ou semaine, ou móis) de retard, prononcée par Le juge du fond ou le juge 
des référés contre um débiteur récalcitrant, en vue de l’amner à exécuter em 
nature son obligation.14 
 
Alexandre de Freitas Câmara, tem definição diversa e as define: 
 
Denomina-se astreintes a multa periódica pelo atraso no cumprimento de 
obrigação de fazer ou de não fazer, incidente em processo executivo (ou na 
fase executiva de um processo misto), fundado em título executivo judicial 
ou extrajudicial, e que cumpre a função de pressionar psicologicamente o 
executado, para que cumpra sua prestação.15 
 
Enrico Tullio Liebman conceitua “Astreintes” nos seguintes termos: 
 
"Chamam-se "astreintes" a condenação pecuniária proferida em razão de 
tanto por dia de atraso (ou qualquer unidade de tempo, conforme as 
circunstâncias), destinada a obter do devedor o cumprimento da obrigação 
de fazer pela ameaça de uma pena suscetível de aumentar 
indefinidamente". E ainda que, "Caracterizam-se as "astreintes" pelo 
exagero da quantia em que se faz a condenação, que não corresponde ao 
prejuízo real causado ao credor pelo inadimplemento, nem depende da 
existência de tal prejuízo.16 
 
No entendimento de Guilherme Rizzo Amaral: 
 
”As astreintes constituem técnica de tutela coercitiva e acessória, que visa a 
pressionar o réu para que o mesmo cumpra mandamento judicial, pressão 
esta exercida através de ameaça ao seu patrimônio, consubstanciada em 
multa periódica a incidir em caso de descumprimento17 
Já Luiz Guillherme Marinoni, entende que: 
 
 
14 DAL PIAZ, Lívia Cipriano. O Limite da atuação do juiz na aplicação das astreintes. Revista Jurídica 
NOTADEZ, 2005. p. 64 
15 CÂMARA, Alexandre de Freitas. Lições de Direito Processual Civil. Vol. 2. Rio de Janeiro: Lúmen 
Juris, 2004, p. 261. 
16 LIEBMAN, Enrico Túlio. Processo de Execução. São Paulo: Saraiva, 1968. 
17 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro. Multa do artigo 461 do CPC 
e outras. p. 85 
11 
A multa, característica essencial da tutela inibitória, objtiva pressionar o réu 
a adimplir a ordem do juiz, visando à prevenção do ilícito mediante o 
impedimento de sua prática, de sua repetição ou de sua continuação.18 
 
De acordo com Plácido e Silva: 
 
a origem do termo multa vem do latim ‘mulcta’ ou ‘multa’ e, no seu sentido 
originário, significa multiplicação, aumento, implicando uma pena 
pecuniária. Numa ótica mais ampla ou dilatada pode ser vista como uma 
sanção imposta à pessoa, por infringência à regra ou ao princípio de lei ou 
ao contrato em virtude do qual fica obrigado a pagar uma certa importância 
em dinheiro19. 
 
Portanto, a atreintes, se trata de uma multa, sendo sua principal finalidade a 
coerção, para que através dela o devedor seja obrigado a cumprir sua obrigação, até 
então inadimplida. 
Se trata de uma das formas mais impositivas a que o devedor da obrigação 
entenda satisfazê-la, agindo de forma comissiva ou omissiva, passando pela 
atribuição, pelo magistrado, da sanção pecuniária disciplinada no §4o do art. 461 do 
CPC, onde é tratada por “multa diária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Inibitória(individual e coletiva). 2ª ediçao .p.173-174.) 
19 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico Vol. III, p.218. 
12 
2 TUTELA ESPECÍFICA 
 
 
A tutela especifica sempre vai ter origem no descumprimento de uma 
obrigação de fazer ou não fazer, mais especificamente na obrigação de fazer 
infungível. 
Havendo o descumprimento da obrigação em sede de tutela antecipada ou 
ainda tendo sido proferida sentença condenatória determinado o cumprimento de 
determinada obrigação pelo devedor, mas que este volntariamnete, tenha deixado 
de satisfazer voluntariamente, terá o credor o direito de requerer a execução da 
sentença ou da liminar, com o escopo de forçar o devedor a cumprir a obrigação. 
A decisão proferida seja em antecipação de tutela ou ainda na própria 
sentença, se trata de um titulo executivo judicial, que embora com divergências 
doutrinatorias perfeitamente executável mesmo antes do transito em julgado. 
Contudo, para a constituição de um título executivo, há que se ter uma obrigação 
que deveria ser cumprida pelo devedor, mas que contudo, em verdade foi 
descumprida, podendo ser obrigação de dar, obrigação de fazer. 
Todavia, tendo o devedor se furtado ao cumprimento da obrigação de fazer, é 
possível ao credor nos próprios autos principais, requer a execução especificamente 
do valor da multa arbitrada pelo descumprimento. 
É importante ressaltar que na obrigação defazer fungível, não há que se falar 
em astreintes, pois se trata de uma obrigação que poderá ser satisfeita por qualquer 
pessoa, desde que as custas do devedor, o mesmo já não se pode dizer com 
relação as obrigações de fazer infungíveis, onde é expressamemente cabivel a 
fixação de astreintes, pois ao contrário da obrigação de fazer fungivel, neste caso, 
somente o proprio devedor é que poderá cumprir a obrigação que lhe foi imposta. 
Portanto, sendo imposta a obrigação de fazer, cabe ao devedor cumprí-la, ou 
ainda, diante da impossibilidade de seu cumprimento requerer a conversão da 
obrogação de fazer em perdas, o que no entanto, pode ser indeferido pelo juiz. 
 
Isso porque, a regra geral, é a de cumprimento da obrigação e não de 
conversão da obrigação de fazer e perdas e danos, sendo que a multa astreintes 
possui caráter coercitivo, visando coagir o devedor a cumprir a obrigação que lhe 
13 
foim imposta. 
Até mesmo porque, dependendo do valor da obrigação imposta e de sua 
relevância para o credor, a conversão da obrigação de fazer em perdas e danos e 
nada adiantaria, pois entendo que algumas obrigações são impossíveis de serem 
convertidas em perdas e danos, ou seja, jamais trariam o resultado prático 
equivalente. Um exemplo, no caso de um paciente que corre risco de morte, caso 
não seja realizada uma cirurgia cardíaca. Ao Hospital foi imposta obrigação de fazer 
consistente na realização da cirurgia, porém, aquele requereu a obrigação de fazer 
em perdas e danos. Ora, a consequência é lógica, e, de nada adiantaria a conversão 
da obrigação de fazer em perdas em danos, pois onde estaria o resultado prático? 
A conclusão também é logica, existem obrigações de fazer que não admitem 
sua conversão em perdas e danos. 
Em verdade, pode-se afirmar que diante da conversão da obrigação de fazer 
em perdas e danos, a medida de coerção, ou seja, a astreintes, perde totalmente 
sua eficáciaa. Deste modo, cabe ao magistrado ao analisar um pedido de conversão 
de obrigação de fazer em perdas e danos ter cautela máxima de ver se no caso 
especifico com a conversão da obrigação de fazer em perdas e danos, haverá um 
resultado pratico equivalente, pois em caso contrário, será latente o prejuízo ainda 
maior a ser sofrido pelo credor, algumas vezes, irreparável. 
 
 
2.1 Providências sancionatórias 
 
 
A utilização da multa astreintes como meio coercitivo é letigima, sendo esta 
originaria do do § 5º do art. 461 do CPC, que permite aos magistrados se utilizarem 
de meios coercitivos que tragam o resultado prático equivalente, quando a ordem 
judicial for injustificadamente descumprida pelo devedor. 
Portanto, a astreintes se trata de uma medida judicial, uma sanção, que visa 
coagir o devedor a cumprir a obrigação que lhe foi imposta. No mais, visa também 
dar efetividade as decisões judiciais. 
Isso porque a eficácia da decisão judicial não seria a mesma, caso o devedor, 
não sofresse nenhuma pressão psicológica para cumprí-la, eis que certamente 
14 
muitos devedores não se preocupariam em cumprir a obrigação se nada os 
estimulasse a fazê-lo. 
Portanto, não se pode negar que a astreintes é meio adequado a obter o fim 
almejado. De outra banda, n;ao se pode negar que a astreintes de além de 
coercitiva, também se trata de multa gravosa que afeta diretamente o patrimônio do 
devedor. 
Contudo, apesar de ser gravosa, muitas vezes o devedor, mesmo assim, 
deixa de cumprir a obrigação que lhe foi imposta, o que se traduz em verdadeira 
ofensa ao judiciário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
3 BREVE HISTÓRICO DO INSTITUTO DAS ASTREINTES NO DIREITO 
COMPARADO 
 
 
Conforme Plácido e Silva, a origem do termo multa vem do latim “mulcta” ou 
multa, no sentido originário tem o significado de aumento, multiplicação, implicando 
um “valor cobrando em dinheiro como penalidade, ou ainda, a relutância do obrigado 
em cumprir seus deveres.20 
Na antiga sociedade francesa, mais precisamente na era napoleanica, se 
consagrou o provérbio “nemo potest cogi ad factum”, que com a entrada em vigor do 
Codigo Civil francês, emm razão deste principio era vedado na execução a utilização 
de constrições sobre o próprio devedor, sendo, portanto resguardada a liberdade 
individual a todo custo, o que tornava praticamente impossível o cumprimento da 
obrigação de fazer, sendo que o cumprimento da obrigação passou a ser uma 
exceção, enquanto que na grande maioria das vezes, o cumprimento da obrigação 
era convertido em perdas e danos. 
Este mesmo sistema aconteceu no ordenamento jurídico patrío, nos artigos 
880 do Código Civil de 1916. 
Portanto, diante da comum conversão da obrigação de fazer em, perdas e 
danos, os tribunais franceses passaram a aplicar multa, não como um elemento 
compensatório, mas como um acessório para forçar o cumprimento da obrigação – 
sáo as chamadas multas periódicas ou astreintes. 
O instituto das ‘astreintes’ alastrar-se no direito comparado, razão pela qual, a 
França, a Itália e a Alemanha, também adotaram tão sistema, tornando-seexemplos 
bem sucedidos de sua aplicação. Neste memso senrido, incluisve, o direito 
processual brasileiro anterior admitia esse regime para a execução das obrigações 
de fazer e não-fazer; e em razão disto instituiu um procedimento especial para 
abrigar tais pretensões como: a ação cominatória, art. 302, XII do CPC/39. E, com 
base nesse dispositivo, foi elaborada a Súmula nº 500 do STF, segundo a qual "não 
cabe a ação cominatória para compelir-se o réu a cumprir obrigação de dar." E não 
cabe porque a obrigação de dar pode ser exigida ‘manu militari’ sem ofensa à 
 
20 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico, Vol. III, 12ª edição, Forense, Rio de Janeiro: 1993, p. 
218. 
16 
pessoa do devedor (pela subtração da coisa e entrega ao credor).21 
Portanto, sendo a atreintes originaria do direito Frances, século XIX, que 
adveio da jurisprudencia, igualava-se com a indenizçação por perdas e danos, 
sendo que até então o único beneficiário da multa era o priprio credor. 
Ressalte-se que as multas astreintes, era uma medida coercitiva que 
determinava que o obrigado cumprisse a medida judicial mediante constrangimento 
indireto e subjetivo e que foi adotada pelo mundo. 
Segundo a historia, nos anos de 1809 e 1811, o instituto sofreu em enorme 
repúdio da doutrina do século XIX, que teriam confundido as astreintes com uma 
nova modalidade de reparação de danos. 
No direito comparado encontramos instituto semelhante, a “contempt of court” 
inglesa de origem mais primitiva. 
O instituto da contempt of court de nascedouro inglês no reinado de Henrique 
III, exigia obediência à determinação do rei, pois do contrário o indivíduo “meditaria 
na prisão”, ou seus bens seriam objeto de sequestro, até o momento em que 
voltasse a ter consciência de seus sentimentos, preservando, assim, a integridade 
da Corte e o respeito e obediência às decisões judiciais. As medidas adotadas pela 
contempt of court, desde sua criação tinham caráter punitivo pela violação da boa-
fé.22 
Guilherme Rizzo Amaral explicita que: 
 
Após, a Revolução Francesa, e principalmente após a edição do Códe 
Napoléon, verificou-se na França uma excessiva proteção ao devedor, 
sendo que se chegou a considerar a obrigação de fazer ou de não fazer 
como “juridicamente não obrigatória”, ou facultativa, podendo o devedor 
optar por cumpri-la ou pagar equivalente pecuniário. Este princípio, 
insculpido no artigo 1.142 do Código de Napoleão, deu origem ao adágio 
nemo ad fctum cogi potest, segundo o qual ninguém pode ser forçado a 
prestar fato pessoal, dado o limite do respeito à liberdade individual (...) 
Nesta conjuntura, nasceram, no princípio do Século XIX, as astreintes, por 
iniciativa pretoriana, para revolta da doutrina que as considerava contra 
legem. 
 
Todavia, há quem entenda que a astreintes teve origem no direito Romano, 
porém, ainda assim, o entendimento doutrinariaé o de que independetemente de 
 
21 SOUZA FILHO, Luciano Marinho de B. E.. Multas "astreintes":. Revista Jus Navigandi, Teresina, 
ano 8, n. 65, 1 maio 2003. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/4070>. Acesso em: 31 mar. 2015. 
22 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro. 2ª Edição, Ed. Livraria do 
Advogado, Porto Alegre, 2010. p. 36 
17 
outra origem que não seja a francesa, através da sua jurisprudência, que este 
instituto prosperou e se desenvolveu. 
Houve ummomento na historia, em que o objetivo essencial da astreintes se 
perdeu, representando, tão somente, uma espécie de pagamento antecipado a título 
de perdas e danos. 
Contudo, a aplicação inadequada da astreintes foi revista com a decisão 
proferida em 20.10.1959 pela Primeira Câmara Cível da Corte de Cassação 
francesa, que resgatou os fundamentos da criação da astreintes, reconhecendo seu 
objetivo como sendo o de obrigar o executado a cumprir uma obrigação que lhe foi 
imposta e que não teria sido cumprida voluntariamente. 
E que tal, medida em verdae não possuía qualquer relação com as perdas e 
danos, pois não possuiam como escopo a compensação dos prejuízos sofridos pelo 
credor em decorrência do atraso no cumprimento da condenação imposta. 
Deste modo, consagrou-se, assim, a multa coercitiva como meio de coerção, 
com caráter não reparatório. 
Já no Brasil a redação original do Código de Processo Civil vigente (de 1973) 
previa a possibilidade de utilização das astreintes, tal como no CPC de 1939, 
apenas para as hipóteses relativas a obrigações de fazer, não fazer (artigo 644 na 
redação original, equivalente à redação do atual artigo 461 do CPC, alterada pela 
Lei n.8.952, de 13.12.1994). A Lei n. 10.44, de 7.5.2002, no entanto acrescentou ao 
CPC o artigo 461-A, que viabilizou a utilização também nos casos envolvendo 
obrigação de entregar coisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
3.1 Natureza jurídica 
 
 
Existem divergências na doutrina quanto a natureza jurídica da astreintes, já 
que há quem diga que possui natureza reparatória, repressiva, retributiva, 
ressociabilizadora, inibitória,obrigacional, entre outras. 
Existem entendimentos na doutrina, de que a astreintes se trata de um 
instrumento coercitivo que possui o escopo de obrigar o devedor a cumprir a 
obrigação de fazer que lhe foi imposta, mas que também se trata de um meio de 
proteção do judiciário para que este não reste desprestigiado e sua ordem seja 
cumprida. 
Nesse sentido manifesta-se Gilberto Antonio Medeiros: 
 
As astreintes, assim, substituem a atividade “”manu militari”” do Estado, 
que seria inoperante e, talvez, poderia tornar-se violenta, porque, em última 
análise, recairia diretamente sobre a pessoa do devedor, atentando , 
possivelmente, sobre sua liberdade.23 
 
No que se refere a seu sentido coercitivo, vejamos o entendimento de 
Fabiano Carvalho: 
 
A multa diária não é pena para sancionar o devedor pelo fato de não haver 
cumprido a obrigação. Também não tem natureza de ressarcimento dos 
danos. É meio de coação , de simples ameaça, que tem por escopo 
constranger o devedor a cumprir a ordem judicial, com finalidade de obter o 
resultado ideal.24 
 
Já para Marinoni a atreintes possui o objetivo de dar efetividade a sentença, 
vejamos: 
 
A multa referida nos arts. 461 do CPC e 84 do CDC possui o visível objetivo 
de garantir a efetividade da sentença e da tutela antecipatória, fazendo com 
que a ordem de fazer ou de não-fazer nelas contidas sejam efetivamente 
observadas. 
 
 
23 MEDEIROS, Gilberto Antonio. As “astreintes” no direito brasileiro.p.124 
24 CARVALHO, Fabiano. Execuçao da Multa(Astreintes)Prevista no artigo 461 o CPC.p. 210. 
19 
A astreintes possui caráter acessório e esporádico. Sendo que nem sempre 
em se tratando de obrigação de fazer ou não fazer, ela incidirá, pois sendo a 
obrigação cumprida no prazo determinado, não há que se falar aplicação de 
astreintes, razão pela qual, é acessoria e eventual. 
Portanto, o legislador criou estruturas capazes de gerar a busca da 
efetividade da tutela específica das obrigações de fazer e não-fazer, estabelecendo 
no § 4º a medida coercitiva da multa diária (astreintes) e no § 5º, medidas de apoio à 
efetividade da decisão judicial, ambas visando a constrangimento do obrigado ao 
atendimento do compromisso originariamente estabelecido. 
Para Theodoro Junior 
 
Não se chega, só por meio dela, à satisfação do direito do credor. A 
astreinte tem força intimidativa: pela coação econômica procura-se demover 
o devedor de sua postura de resistência ao cumprimento da prestação 
devida. 
 
Logo, a multa prevista nos arts. 461 do CPC e 84 do CDC, tem o objetivo de 
garantir a efetividade da sentença e tutela antecipada, com fazendo com que a 
ordem determinação judicial seja efetivamente cumprida. 
Marinoni, enfatiza o papel da astreinte como: “a multa, ou a coerção indireta, 
implica ameaça destinada a convencer o réu a adimplir a ordem do juiz”25 
Deste modo, a natureza jurídica das astreintes é um mecanismo com 
natureza eminentimente coercitiva, pois, objetiva coagir o devedor a satisfazer, com 
a maior exatidão possível, a prestação de uma obrigação. 
Logo, não há como negar que as astreintes possuem natureza coercitiva, 
sendo seu escopo de fato obrigar o devedor a cumprir a determinação judicial que 
lhe foi imposta, mas que não foi cumprirda voluntariamhete. 
Marinoni, com relação à natureza jurídica do instituto das astreintes, chega a 
seguinte conclusão: 
 
Enquanto instrumento que atua sobre a vontade do réu, é inegável sua 
natureza coercitiva; entretanto, se a multa não surte os efeitos que dela se 
 
25 MARINONI, Luiz Guilherm. Tutela Especifica: arts.461,CPC e 84, CDC. 2001 p.72(c). 
20 
esperam, converte-se automaticamente em desvantagem patrimonial que 
recai sobre o réu inadimplente. Isso significa que a multa, de ameaça ou 
coerção, pode transformar-se em mera sanção pecuniária, que deve ser 
suportada pelo demandado, mas aí sem qualquer caráter de garantia de 
efetividade da ordem do juiz.26. 
 
Todavia, há entendimento de que a multa, não possua apemas natureza 
coercitiva, mas também o escopo de fazer ser cumprida a ordem judicial, ou seja, o 
entendimento é de que a multa possui dupla finalidade, conforme será visto a seguir: 
 
 
3.2 Dupla finalidade do instituto 
 
 
Como mencionado acima a atreintes possui a dupla finalidade, são elas, 
proporcionar a satisfação do direito do credor e garantir a autoridade das decisões 
judiciais. 
Portanto, as astreintes correspondem a uma coação de caráter econômico, já 
que visa influir psicologicamente, para que cumpra a obrigação que se nega a 
cumprir, e por medo de ter a diminuição de seu patrimônio. 
Barbosa Moreira, a respeito da imposição das astreintes, traz o seguinte 
ensinamento: 
 
A ordem judicial de que o réu omita (ou cesse) a atividade ilícita, a fim de ter 
eficiência prática, precisa ser assistida da cominação de sanção ou sanções 
para o caso de descumprimento. A vontade do réu é solicitada à ação pelo 
benefício que ele espera conseguir; torna-se um contra-estímulo que o 
induza à abstenção. O contra-estímulo há de consistir na ameaça de uma 
conseqüência desvantajosa, e será suficientemente forte, em princípio, na 
medida em que a desvantagem possa exceder o benefício visado. A 
renúncia a este, vista naturalmente pelo réu como um mal, resultará então 
do desejo de evitar mal maior.27 
 
Portanto, conforme acima, a astreintes é mero meio de coação, uma ameaça 
 
26 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória (Individual e Coletiva). 4ª edição. São Paulo. Editora 
Revista dos Tribunais, 2006, p. 218 
27 MOREIRA, Barbosa. A tutela Específica do Credor nas Obrigações Negativas. Temas de Direito 
Processual. 2ª série. São Paulo: Saraiva, 1980. p. 38. MARINONI, Luiz Guilherme. Op. cit., p. 218. 
21 
que visa compelir o devedor ao cumprimentoda decisão judicial, sob pena de sofrer 
prejuízos em seu próprio patrimônio, razão pela qual, a multa não possui caráter 
indenizatório, até mesmo porque, o pagamento da multa, não desobriga o devedor 
de nção cumprir a obrigação principal. 
Já no que se refere a segunda finalidade, o entendimento é de que a 
astreintes tem como finalidade dar efetividade a decisão judicial, fazendo com que o 
judiciário não seja desvalorizado ou seja, fazendo com que sua ordem seja cumprida 
sob pena de sanção que incidirá diretamente no patrimônio do devedor. 
 
 
3.3 Caracteristicas da Astreintes 
 
 
As características da atreintes são coerção, acessoriedade e 
patriominialidade. 
É coercitiva, porque tem o bjetivo de obrigar o devedor a cumprir a obrigação 
que lhe foi imposta, sob pena de não o fazendo sofrer prejuízos materiais em seu 
próprio patrimônio, particularmente, entendo ser este o principal objetivo da 
astreintes. 
Seguindo Cassio Scarpinella Bueno: 
 
A multa não tem caráter compensatório, indenizatório ou sancionatório. 
Muito diferentemente, sua natureza jurídica repousa caráter intimidatório, 
para conseguir, do próprio réu,o específico comportamento(ou abstenção ) 
pretendido pelo autor e determinado magistrado. É, pois, medida 
coercitiva(cominatória). A multa deve agir no animo da obrigação e 
influencia-lo a fazer ou não fazer a obrigação que assumiu. Daí ela deve ser 
suficientemente adequada e proporcional para este mister.Nao pode ser 
insuficiente a ponto de não criar no obrigado qualquer receio quanto às 
consequências de seu não acatamento. Não pode, de ooutro lado, ser 
desproporcional dou desarrazoada a ponto de colocar o réu em situação 
vexatória.28 
 
Já no que se refere ao seu caráter acessório, significa dizer que a multa é 
acessoria, eis que depende da obrigação principal, e mais ainda, como já mencionei 
 
28 BUENO, Cássio Scarpinella. Código de Processo Civil interpretado. Coordenação de Antonio 
Carlos MMarcato, São Palo:Atlas, 2008,p.1474-1477. 
22 
anteriormente, a multa também possui caráter eventual, pois apesar da possibilidade 
de sua imposição, nem sempre haverá sua aplicação efetiva, já que muitas vezes o 
devedor cumprirá a obrigação antes da incidência da astreintes. Portanto, como dito, 
sua imposição pelo magistrado não significa sua efetivação incidência. 
Em se tratando também de seu caráter patrimonial, isso significa que caso o 
devedor intimado para cumprir a obrigação que lhe foi imposta, se mantenha inerte, 
haverá a incidência da multa, o que irá recair diretamente sobre seu patrimônio, já 
em caso de execução da multa, ele sofrerá prejuízos financeiros que poderão ter 
grande relevância, ou seja, tem um caráter patrimonial porque influira no psicológico 
do devedor para que cumpra o que se nega a fazer. 
Todavia, cumpre consignar que a astreintes jamais teve ou tem finalidade 
ressarcitória, tanto é assim, que inclusive pode ser cumulada com as perdas e 
danos. 
 
 
 
 
 
 
 
4 DOS PRINCIPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE 
 
 
Como mencionado sucintamnete anteriormente, o juiz ao arbitrar a multa, 
obrigatoriamente deverá se valer da aplicação dos princípios da proporcionalidade e 
da razoabilidade com o escopo de que seja aplicada a devida ponderação para se 
atingor a finalidade desejada, sendo que sempre deverá ser pautado no menor 
sacrifício ao cidadão. Assim, cumpre conceituar tais princípios. 
Princípio da Razoabilidade definida por Luís Roberto Barroso: 
23 
 
O princípio da razoabilidade é um parâmetro de valoração dos atos do 
Poder Publico para aferir se eles estão informados pelo valor superior 
inerente a todo ordenamento jurídico: a justiça. Sendo mais fácil de ser 
sentido do que conceituado, o princípio se dilui em um conjunto de 
proposições que não o libertam de uma dimensão excessivamente 
subjetiva. É razoável o que seja conforme à razão, supondo equilíbrio, 
moderação e harmonia; o que não seja arbitrário ou caprichoso; o que 
corresponde ao senso comum, aos valores vigentes em dado momento ou 
lugar.29 
 
Princípio da Proporcionalidade por Raquel Denise Stumm apud Guilherme 
Rizzo Amaral: 
 
O juízo de proporcionalidade em sentido estrito corresponde a um sistema 
de valoração, na medida em que ao garantir um direito muitas vezes é 
preciso restringir outro, situação juridicamente aceitável somente após um 
estudo teleológico, no qual se conclua que o direito juridicamente protegido 
por determinada norma apresenta conteúdo valorativamente superior ao 
restringido.”30 
 
Tais princípios sugerem um sistema de valoração, pois ao se garantir um 
direito,outro, em algumas situações acaba sendo restringidos, o que é 
perfeitamente possível. 
A aplicação do juízo de proporcionalidade permite equilibrar o fim almejado 
e o meio empregado, ou seja, a interferência na esfera particular do 
individuo deve ser proporcional à carta coativa do motivo da intervenção. A 
regra contida no artigo 461, parrgrafo 4 do CPC, concretiza a aplicação do 
principio da proporcionalidade, ao determinar que a multa será suficiente ou 
compatível com a obrigação.31. 
 
Os princípios acima, não se encontram previsto expressamente na 
Constituicao Federal, porém, estao enraizados na ideia de devido processo legal e 
nos princípios da Justica no ordenamento jurídico brasileiro. 
Com base nestes princípios a multa não pode ser desproporcional ou 
desarrazoada com o risco de não causar qualquer receio ao credor diante do 
descumprimento da obrogação imposta. De moutra banda, também, não poderá ser 
desproporcional ou desarrazoada ao ponto de indevidamente empobrecer o réu e 
enriquecer o credor de forma injusta. 
Logo, como já havia mencionado anteriormente a multa deve deve ser 
 
29 BARROSO, Luis Roberto apud AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil 
Brasileiro. 2ª Edição, Porto Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2010. p. 133 
30 STUMM, Raquel Denise. Princípio da proporcionalidade no direito constitucional brasileiro. Porto 
Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 1995. p. 81 – apud AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o 
Processo Civil Brasileiro. 2ª Edição, Porto Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2010. p. 135 
31 Ibidem, p. 135 
24 
arbitrada de acordo com as circunstâncias concretas, com o escopo de obter o 
resultado pratico almejado pelo judiciário. 
No CPC, não contém nenhum parâmetro para a fixação do valor da multa e 
não impõe qualquer limite, sendo que a legislação prevê apenas a possibilidade de 
redução ou aumento de seu valor, diante da verificação pelo magistrado de que a 
multada fixada se tornou excessiva ou insuficiente, conforme dispõe o § 6º do artigo 
do artigo 461 CPC, abaixo colacionado. 
 
§ 6o O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, 
caso verifique que se tornou insuficiente ou excessive. 
 
No entendimento de THEODORO JÚNIOR: 
 
a) a aplicação da multa não se liga a poder discricionário do juiz; sempre 
que esta for 'suficiente e compatível com a obrigação' (art. 461, § 4º), terá o 
juiz de aplicá-la. Só ficará descartado o emprego da multa quando esta 
revelar-se absolutamente inócua ou descabida, em virtude das 
circunstâncias; [...] d ) cabe ao juiz agir com prudência a fim de arbitrar 
multa que seja, segundo o mandamento legal, “suficiente ou compatível” 
com a obrigação. Cabe-lhe procurar a 'adequação', que vem a ser o juízo de 
possibilidade de a multa realmente servir para provocar o cumprimento da 
obrigação [...] é necessário que a medida sancionatória seja de fato útil e 
adequada ao fim proposto [...]32. 
 
 
Nos ensinamentos de ALVIM: 
 
Assim, a determinação do valor da multa pelo juiz não é ato discricionário, 
impassível de controle, devendo o julgador estabelecê-lo levando em conta, 
a suficiência e compatibilidade, podendo alterá-lo para mais ou para menos, 
em decisão motivada, conforme variem as circunstâncias concretas33. 
 
Portanto, o maiscorreto é que haja limitação do valor da multa astreintes, 
devendo tal valor ser arbitrado sempre levando-se em consideração o princípio da 
 
32 THEODORO JUNIOR, Humberto. Op. cit. p. 35. Guilherme Rizzo Amaral. Op. cit. p. 126. Guilherme 
Rizzo Amaral. Op. cit. p. 103-104. 
33 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tutela Específica das Obrigações de Fazer e não Fazer na 
Reforma Processual. 1997, p.117-118. 20 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de Processo 
Civil. 2002, p. 287. 
25 
proporcionabilidade e razoabilidade para que a multa não seja ínfima a ponto de não 
coagir o devedor nem excessiva a ponto de ser inviável seu cumprimento. 
Assim, havendo a correta aplicação do do principio da razoabilidade e 
proporcionalidade ao arbitar a multa, não haveria posterinente a necessidade de os 
magistrados reduzirem seus valores, o que evitaria a realização de um retrabalho 
pelo magistrado, já novamente precisaria arbitrar no novo valor de multa. 
Apesar da divergência doutrinária, o Superior Tribunal de Justiça vem 
seguindo uma linha de raciocínio baseada nos princípios da proporcionalidade e da 
razoabilidade, orientando às instâncias inferiores sobre o dever de serem 
observados tais princípios não somente na sua fixação, mas também na sua 
exigibilidade quando ela se mostre insuficiente ou excessiva. 
 
 
4.1 Do valor da multa 
 
 
Mesmo dinate dos princípios norteadores da aplicabilidade das astreintes, 
muitas vezes, a obrigação deixa de ser cumprida em razão de entraves criados pelo 
próprio credor, que com isto, objetiva ambiciosamente o descumprimento da 
obrogação com o único fim de ter uma valor maior de multa, ou seja, visa somnete o 
enriquecimento indevido. 
Ora, não se pode negar que a astreinte, se trata de uma extraordinária técnica 
coercitiva, cuja função é garantir o cumprimento das decisões judiciais. Portanto, é 
preciso criar-se paramentros para sua aplicabilidade, sendo que em verdade o ideal 
seria o próprio legislador ter estipulado paramentros para sua fixação, já que deixar 
sua fixação ao arbítrio somente do magistrado pode ser um risco, tanto a credor 
quanto ao devedor. 
Portanto, já o art. 461 do CPC foi inerte com relação a limitação do valor da 
multa, não resta alternativa, senão a liberdade do magistrado para sua imposição, 
ainda que tal arbitramento seja ínfimo ou exorbitante, como em alguns casos, que 
inclusive ultrapassa em muitas vezes o valor da obrigação principal. 
Luiz Guilherme Marinoni, traz o seguinte entendimento a respeito da 
possibilidade de ultrapassagem do valor da multa com relação a obrigação principal: 
26 
 
Não há mais qualquer dúvida acerca da possibilidade de a multa exceder ao 
valor da prestação. Tal norma, na verdade, estando completamente atrelada 
à idéia de que a tutela específica é imprescindível para a realização 
concreta do direito constitucional à adequada tutela jurisdicional, não faz 
qualquer limitação ao valor da multa.34 
 
Carreira Alvim defende que: 
 
A multa deve ser fixada de acordo com as possibilidades das partes, 
“consoante as condições econômico-financeiras do devedor, sob pena de 
tornar-se tão ineficaz quanto a condenação principal.35. 
 
Já Eduardo Talamini, entendo que embora não existam critérios para a 
imposição da multa, ainda assim, não há que se falar em discricionariedade do 
magistrado para arbitrá-la. 
 
o Julgador há de estabelecê-los levando em conta as duas balizas, 
“suficiência” e “compatibilidade” e sempre com o preciso exame do caso 
concreto.36 
 
Já para Nelson Neri a multa deve ser “significamente alta, haja vista, sua 
natureza inibitória”, para ele: 
 
O objetivo das astreintes não é obrigar o réu a pagar o valor da multa, mas 
obrigá-lo a cumprir a obrigação na forma específica. A multa é apenas 
inibitória. Deve ser alta para que o devedor desista de seu intento de não 
cumprir obrigação específica. Vale dizer, o devedor deve sentir preferível 
cumprir a obrigação na forma específica a pagar o alto valor da multa fixada 
pelo juiz.37 
 
Conforme Carneiro da Cunha: 
 
 
34 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória (Individual e Coletiva). 4ª edição. São Paulo. Editora 
Revista dos Tribunais, 2006, p. 219. No mesmo sentido, GRECO FILHO, Vicente. Direito processual 
Civil brasileiro. v.3. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 74. ) 
35 CARREIRA ALVIM, J.E. Ação monitória e temas polêmicos da reforma processual. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2001. p. 235 
36 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e não fazer e sua extensão aos de 
entrega de coisa (CPC, Arts. 461 e 461-A; CDC, art. 84). 2ª ed. São Paulo: RT, 2003, p. 248-249. 
37 NERY JÚNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado e Legislação Processual Civil 
Extravagante em vigor, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, pg. 911.) 
27 
cumpre ao juiz ponderar o valor da multa, sendo razoável na sua fixação. É 
que, estimada em valor excessivo a ponto de tornar impossível ao devedor 
pagá-la, não será adequada ao fim a que se destina, nem proporcional. De 
igual modo, se a multa for fixada em valor irrisório, deixará de constituir um 
temor ou ameaça ao devedor, o qual irá, certamente, menosprezar a 
determinação judicial.38 
 
Logo, os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade devem ser 
observados não somente na sua fixação, mas também na sua exigibilidade, e ainda, 
em eventual aumento ou miniração da multa. 
No etemdimento de Teori: 
 
facultada também ao juiz a redução do valor da multa e até mesmo sua 
suspensão se constatada situação que modifique as condições do devedor, 
como por exemplo, se na impossibilidade de pagamento por doença”. 
Esclarece ainda que “a redução opera sempre em favor do devedor, de 
modo que a data em que se passará a incidir pode ser imediata, 
independentemente da intimação das partes, podendo o juiz impor-lhe 
também efeitos retroativos.39 
 
Em conclusão, Teori diz que o valor da multa deve ter em consideração 
diversos aspectos relacionados ao caso concreto e também a pessoa do devedor, 
nestes termos: 
Suficiência, insuficiência, excesso, compatibilidade são conceito jurídicos 
abertos, a serem preenchidos valorativamente pelo juiz conforme as 
circunstâncias do caso concreto e tendo em conta, sempre, a finalidade da 
multa. Levar-se-á em consideração, certamente, a natureza da obra ou dos 
serviços a serem executados, o grau de dificuldade, a condição pessoal do 
devedor, a sua capacidade econômica. É nesse sentido e sob esse aspecto, 
e não quanto ao seu valor, que a multa deve ser compatível com a 
obrigação40. 
 
Sobre o exposto, pode-se colacionar o seguinte entendimento de Guilherme 
Rizzo Amaral: 
 
É, entretanto, crucial salientar que o fato de o juiz poder alterar o montante 
resultante da incidência da multa não implica que tal redução torne-se regra. 
Apenas em situações excepcionalíssimas, quando verificada, por exemplo, 
 
38 CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo José. Algumas questões sobre as astreintes (multa 
cominatória). Revista dialética de direito processual nº 15, junho -2004, pg. 100. 
39 ZAVASKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2000. vol. 8, p. 
507. 
40 ZAVASKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2000. vol. 8, p. 
503. 
28 
a desídia do autor em exigir o cumprimento da tutela específica tão-somente 
para usufruir o crédito resultante da multa, é que o juíz poderá adequar o 
valor total resultante da incidência da multa. Do contrário, haverá um 
manifesto descrédito em relação à medida, cuja força restará sempre 
questionável ante a possibilidade de redução ou até mesmo de supressão 
do crédito dela oriundo41. 
 
Como vimos é perfeitamente possível que o magistrado reduza o valor total 
da multa, porém, para fazê-lo deverá adotar cautela, sob pena deixar desacreditado 
o judiciário. 
Em julgado Ministro Cesar Asfor Rocha sustenta que: 
 
Como é cediço, a multa deve obedecer acritérios de razoabilidade e 
proporcionalidade, pois sua finalidade é compelir o devedor ao efetivo 
cumprimento da obrigação de fazer. Neste sentido, tal apenação não pode 
chegar a se tornar mais desejável ao credor do que a satisfação da 
prestação principal, ao menos não ao ponto de ensejar enriquecimento sem 
causa. (REsp 793.491 – RN – STJ – 4ª T. – Rel. Min. Cesar Asfor Rocha – j. 
em 26/09/06). 
 
Segundo Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery: 
 
Pena pecuniária (astreintes). Não há limites para a fixação da multa, e sua 
imposição deve ser em valor elevado, para que iniba o devedor com 
intenção de descumprir a obrigação. O objetivo precípuo das astreintes é 
compelir o devedor a cumprir a obrigação e sensibiliza-lo de que vale mais a 
pena cumprir a obrigação do que pagar a pena pecuniária. A limitação da 
multa nada tem a ver com enriquecimento ilícito do credor, porque não é 
contraprestação de obrigação, nem tem caráter reparatório. 
 
Todavia, há significativa da doutrina e da jurisprudência que entende que a 
multa pode ultrapassar o valor da causa, eis que significaria o enriquecimento injusto 
do credor. 
Como dito, a multa não tem caráter reparatório razão pela qual, é 
perfeitamente sua cumulação com as perdas e danos. 
 
 
 
41 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC 
e outras. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004. p. 229. 
29 
4.2 Prazo das Astreintes 
 
 
É certo que a astreintes também somente incidirá após escoado o prazo para 
cumprimento da obrigação concedido pelo juiz, pois em caso contrário, não há que 
se falar em descumprimento e muito menos ainda em incidência da astreintes. 
Portanto, a incidência da multa dependente obrigatoriamente do decurso do 
prazo imposto para cumprimento da obrigação, sem que o devedor a tenha 
cumprido. 
Esta é a previsão do próprio CDC, em que o juiz irá determinar uma obrigação 
que deverá ser cumprida em determinado prazo sob pena de incidência da multa, 
para tanto, deverá estabelecer um prazo razoável para o cumprimento da obrigação 
imposta, conforme prevê o artigo 461 do CPC, abaixo: 
 
§ 4o O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor 
multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente 
ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o 
cumprimento do preceito. 
§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado 
prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar 
as medidas necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de 
atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de 
obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de 
força policial. 
 
Logo, o juiz deverá fixar prazo razoavel para o cumprimento da obrigação, 
não podendo tal prazo ser tão ínfimo ao ponto de fazer com que o devedor não 
tenha tempo hábil para o adequado cumprimento da obrigação que lhe foi imposta. 
Por outro lado, entendo também, que o prazo não poderá ser demasiadamente 
extenso sob pena de incorrer em prejuízo para o credor, que muitas vezes pode ter 
um prejuízo ainda maior diante do prazo para cumprimento da obrigação, sendo que 
em alguns casos, diante da demora poderá inclusive, haver a perda do objeto da 
obrigação imposta. 
 
 
4.3 Termo “a quo” da multa 
 
30 
 
Para inicio da efetiva incidência da multa é preciso que a decisão que a impôs 
tenha eficácia, e, ainda obviamente é preciso que o prazo imposto para cumprimento 
da obrigação de fazer tenha transcorrido, e ainda é preciso a intimamação pessoal 
do devedor, e que mesmo assim, ele tenha descumprido a obrogação imposta.42 
 
CIVIL. PROCESSO CIVIL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ASTREINTES. 
SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. NÃO INCIDÊNCIA DA ALUDIDA 
MULTA AUTOMATICAMENTE. NECESSIDADE DE NOVA INTIMAÇÃO 
PESSOAL DA PARTE DEVEDORA. MORA NÃO CARACTERIZADA. 
SENTENÇA MANTIDA. DECISÃO: RECURSO NÃO PROVIDO. 1 - Para 
fins de caracterizar a incidência das astreintes, é necessária a intimação 
pessoal do devedor visando o cumprimento da sentença, ainda que a 
decisão tenha sido publicada em audiência na presença das partes. Sem 
este marco específico, tem-se como não efetivada a mora. 2 - No caso dos 
autos, tendo cumprido o devedor prontamente a ordem emanada pelo juízo 
da execução, não se deve falar em ressarcimento a título de multa, seja 
porque não verificada a mora, seja em razão da vedação a enriquecimento 
sem causa. 3 - Recurso não provido. (20050110886336ACJ, Relator 
IRACEMA MIRANDA E SILVA, Segunda Turma Recursal dos Juizados 
Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em 14/11/2006, DJ 30/11/2006 
p. 135). 
 
Portanto, ainda que tenha ocorrido a intimação do devedor via Diário Oficial, 
ou ainda em audiência, mesmo assim, haverá necessidade de efetiva intimação 
pessoal para que possa haver a incidência da multa astreintes. 
Nesse sentido de determinação temos as Súmula 410 do Superior Tribunal de 
Justiça: 
 
A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a 
cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não 
fazer. 
 
Referida súmula tem como referência o artigo 632 do Código de Processo 
Civil, que prevê o seguinte: 
 
Art. 632. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o devedor 
será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz Ihe assinar, se outro não 
estiver determinado no título executive. 
 
42 NEGRÃO, Theotônio e GOUVÊA, José Roberto F. Código de Processo Civil e Legislação 
Processual em vigor. 41 Edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009. p. 571 
31 
 
Portanto, a intimação pessoal do devedor é pressuposto indispensavel para 
que haja efetiva incidencia da multa, sob pena de não efetividade da mesma, 
conforme acórdão abaixo: 
 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. FALTA DE INTIMAÇÃO PESSOAL. 
LEGISLAÇÃO ANTERIOR 
Antes da vigência da Lei n. 11.232/2005, a falta de intimação da parte para 
cumprimento da obrigação de fazer fixada na sentença transitada em 
julgado não permitia a cobrança de multa –astreinte – pelo descumprimento 
da obrigação. A retirada dos autos em carga pelo advogado do réu pode 
levá-lo à ciência de sua obrigação, mas não obriga a parte ao cumprimento 
da obrigação de fazer, pois a sua intimação pessoal era imprescindível, 
entendimento em conformidade com a Súm. n. 410/STJ. REsp 1.121.457-
PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/4/2012. 
 
Deste modo, é fato que se não houver a efetiva intimação do devedor para 
cumprimento da obrigaçao de fazer, não há que se falar em incidência de multa. O 
entendimento de que deve haver a intimação do devedor para cumprimento da 
obrigação se encontra pacificado em nossos Tribunas: 
 
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSO 
CIVIL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. 1. Aplica-se o óbice 
previsto na Súmula n. 282/STF quando as questões suscitadas no recurso 
especial não tenham sido debatidas no acórdão recorrido nem, a respeito, 
tenham sido opostos embargos declaratórios. 2. A parte deve ser 
pessoalmente intimada da decisão cominatória quando há fixação de 
astreintes em ação que resulte ordem de fazer ou não fazer. Precedentes. 
3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag 1057820/RS, Rel. Ministro 
JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 18/08/2009, 
DJe 24/08/2009) 
 
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE 
FIXA MULTA POR DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL. 
INTIMAÇÃO PESSOAL. NECESSIDADE.SÚMULA 83/STJ. DECISÃO 
AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO. I - O entendimento proclamado 
por esta Corte é no sentido da necessidade de intimação pessoal da parte 
para cumprimento de ordem judicial, antes da incidência de astreintes. 
Incidência da Súmula 83 desta Corte. II - A Agravante não trouxe nenhum 
argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém 
por seus próprios fundamentos. Agravo Regimental improvido. (AgRg noAg 
1172355/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado 
em 27/10/2009, DJe 11/11/2009) 
 
Logo, o termo “ad quo”, para incidência da multa é a intimação do devedor 
para cumprimento da obrigação de fazer, a partir de sua intimação se encontra 
http://www.stj.gov.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp%201121457
http://www.stj.gov.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp%201121457
32 
configurada a mora do devedor. 
Assim, não há duvida de que são vários os precedentes na jurisprudencia de 
que em se tratando de multa em obrigação de fazer, o dies a quo da incidência da 
multa diária inicia com a intimação pessoal do devedor para cumprimento da 
obrigação. 
 
 
4.4 Destinatário - Titularidade da Multa 
 
 
É fato que o CPC, não é expesso quanto a titularidade da multa, razão pela 
qual, tal lacuna foi suprida através da jurisprudência, que possui entendimento 
pacífico no sentido de o valor da multa deve ser revertido em favor do credor da 
obrigação, apesar de a multa não ter caráter indenizatório, apesar de não ser esta 
sua finalidade. Vejamos exemplos de tal entendimento: 
 
PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. MULTA. 
ART. 461 DO CPC. PROVEITO DA MULTA EM FAVOR DO CREDOR DA 
OBRIGAÇÃO DESCUMPRIDA. I - É permitido ao juiz, de ofício ou a 
requerimento da parte, a fixação de multa diária cominatória (astreintes) 
contra a Fazenda Pública, em caso de descumprimento de obrigação de 
fazer, in casu, fornecimento de medicamentos a portador de doença grave. 
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Súmula 410 pacifica a questão sobre 
prévia intimação pessoal do devedor. Disponível em 26 nov. 2009. 
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.te
xto=94830. Acesso em 27 nov. 2009. 
II - O valor referente à multa cominatória, prevista no artigo 461, § 4º, do 
CPC, deve ser revertido para o credor, independentemente do recebimento 
de perdas e danos. Precedente: REsp 770.753/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, 
DJ de 15.03.2007. III - Recurso especial provido. (REsp 1063902/SC, Rel. 
Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 
19/08/2008, DJe 01/09/2008) 
PROCESSUAL CIVIL. OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA CERTA. 
MEDICAMENTOS. ASTREINTES. FAZENDA PÚBLICA. MULTA DIÁRIA 
COMINATÓRIA. CABIMENTO. NATUREZA. PROVEITO EM FAVOR DO 
CREDOR. VALOR DA MULTA PODE ULTRAPASSAR O VALOR DA 
PRESTAÇÃO. NÃO PODE INVIABILIZAR A PRESTAÇÃO PRINCIPAL. 
NÃO HÁ LIMITAÇÃO DE PERCENTUAL FIXADO PELO LEGISLADOR. 1. 
A obrigação de fazer permite ao juízo da execução, de ofício ou a 
requerimento da parte, a imposição de multa cominatória ao devedor, ainda 
que seja a Fazenda Pública, consoante entendimento consolidado neste 
Tribunal. Precedentes: AgRg no REsp 796255/RS, Rel. Min. Luiz Fux, 
Primeiro Turma, 13.11.2006; REsp 831784/RS, Rel. Min. Denise Arruda, 
Primeira Turma, 07.11.2006; AgRg no REsp 853990/RS, Rel. Ministro José 
Delgado, Primeira Turma, DJ 16.10.2006; REsp 851760 / RS, Rel. Min. 
Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, 11.09.2006. 2. A multa processual 
33 
prevista no caput do artigo 14 do CPC difere da multa cominatória prevista 
no Art. 461, § 4º e 5º, vez que a primeira tem natureza punitiva, enquanto a 
segunda tem natureza coercitiva a fim de compelir o devedor a realizar a 
prestação determinada pela ordem judicial. 3. Os valores da multa 
cominatória não revertem para a Fazenda Pública, mas para o credor, que 
faz jus independente do recebimento das perdas e danos. 
Consequentemente, não se configura o instituto civil da confusão previsto 
no art. 381 do Código Civil, vez que não se confundem na mesma pessoa 
as qualidades de credor e devedor. 4. O legislador não estipulou 
percentuais ou patamares que vinculasse o juiz na fixação da multa diária 
cominatória. Ao revés, o § 6º, do art. 461, autoriza o julgador a elevar ou 
diminuir o valor da multa diária, em razão da peculiaridade do caso 
concreto, verificando que se tornou insuficiente ou excessiva, sempre com o 
objetivo de compelir o devedor a realizar a prestação devida. 5. O valor da 
multa cominatória pode ultrapassar o valor da obrigação a ser prestada, 
porque a sua natureza não é compensatória, porquanto visa persuadir o 
devedor a realizar a prestação devida. 6. Advirta-se, que a coerção exercida 
pela multa é tanto maior se não houver compromisso quantitativo com a 
obrigação principal, obtemperando-se os rigores com a percepção lógica de 
que o meio executivo deve conduzir ao cumprimento da obrigação e não 
inviabilizar pela bancarrota patrimonial do devedor. 7. Recurso especial a 
que se nega provimento. (REsp 770.753/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, 
PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/02/2007, DJ 15/03/2007 p. 267) 
Com efeito, o parágrafo segundo, do art. 461 do CPC, dispõe 
expressamente que a indenização prevista no parágrafo primeiro, ou seja, 
perdas e danos caso impossível cumprir a obrigação de fazer ou não-fazer, 
pode ser pleiteada sem prejuízo da multa do parágrafo quarto, o que leva à 
conclusão de que o autor da ação é o efetivo titular do direito, não havendo 
divergência jurisprudencial com relação a esse quesito, afinal, o autor será o 
maior prejudicado pelo descumprimento da decisão ou sentença. 
 
ASTREINTES. DESTINATÁRIO. AUTOR DA DEMANDA. 
A Turma, por maioria, assentou o entendimento de que é o autor da 
demanda o destinatário da multa diária prevista no art. 461, § 4º, do CPC – 
fixada para compelir o réu ao cumprimento de obrigação de fazer. De início, 
ressaltou o Min. Marco Buzzi não vislumbrar qualquer lacuna na lei quanto à 
questão posta em análise. Segundo afirmou, quando o legislador pretendeu 
atribuir ao Estado a titularidade de uma multa, fê-lo expressamente, 
consoante o disposto no art. 14, parágrafo único, do CPC, em que se visa 
coibir o descumprimento e a inobservância de ordens judiciais. Além disso, 
consignou que qualquer pena ou multa contra um particular tendo o Estado 
como seu beneficiário devem estar taxativamente previstas em lei, sob pena 
de afronta ao princípio da legalidade estrita. Cuidando-se de um regime 
jurídico sancionatório, a legislação correspondente deve, necessária e 
impreterivelmente, conter limites à atuação jurisdicional a partir da qual se 
aplicará a sanção. Após minucioso exame do sistema jurídico pátrio, 
doutrina e jurisprudência, destacou-se a natureza híbrida das astreintes. 
Além da função processual – instrumento voltado a garantir a eficácia das 
decisões judiciais –, a multa cominatória teria caráter preponderantemente 
material, pois serviria para compensar o demandante pelo tempo em que 
ficou privado de fruir o bem da vida que lhe fora concedido seja 
previamente, por meio de tutela antecipada, seja definitivamente, em face 
da prolação da sentença. Para refutar a natureza estritamente processual, 
entre outros fundamentos, observou-se que, no caso de improcedência do 
pedido, a multa cominatória não subsiste. Assim, o pagamento do valor 
arbitrado para compelir ao cumprimento de uma ordem judicial fica, ao final, 
dependente do reconhecimento do direito de fundo. REsp 949.509-RS, Rel. 
originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para o acórdão Min. Marco Buzzi, 
julgado em 8/5/2012. 
 
http://www.stj.gov.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp%20949509
34 
Com efeito, existe uma grande discussão sobre quem deve ser o destinatário 
da multa, isso na doutrina, pois a jurisprudencia tal entendimento já se encontra 
pacificado. Na doutrina por sua vez, existem aqueles que entendem que o 
destinatário deverá ser o Estado, ou seja, que somente este teria legitimidade para 
receber o valor da multa, pois segundo este entendimento a multa teria a finalidade 
de punir o devedor por sua desobediência. 
Logo, a desobediência seria uma afronta a dignidade do Estado-Juiz, 
ensejada pelo descumprimento da obrigação por ele imposta, seria um desrespeito. 
Razão pela qual, esta corrente entende que dianteda demonstração de 
desobediência e consequentemente ofensa ao Estado-Juiz, a multa sendo destinada 
aos cofres públicos seria uma maneira de indenizar o Estado por tal afronta. 
Assim, tendo em vista, que a multa não possui caráter indenizatório, porém, 
coercitico, ou seja, a finalidade de obrigar o devedor a cumprir a obrigação, não 
haveria que se falar em sua destinação para o credor. Vejamos abaixo, o 
entendimento de Luiz Guilherme Marinoni: 
 
A multa diária serve apenas para pressionar o réu a adimplir o ordem do 
juiz, motivo pelo qual não parece racional a idéia de que ela deva reverter 
para o patrimônio do autor, como se tivesse algum fim indenizatório. A multa 
não está destinada a dar ao autor um “plus” indenizatório ou algo parecido, 
com isso; seu único objetivo é garantir a efetividade da tutela jurisdicional.43 
Segundo o entendimento de Marcelo Lima Guerra44: 
 
O credor não tem, em princípio, direito de receber nenhuma quantia em 
dinheiro, em razão direta do inadimplemento do devedor, que não seja 
àquela correspondente a perdas e danos. Na relação entre credor e 
devedor, o primeiro só tem direito à prestação contratada ou ao equivalente 
pecuniário dessa mesma prestação (o ressarcimento em dinheiro pelos 
prejuízos resultantes da não realização da prestação). 
 
Já no entendimento de Luiz Guilherme Marinoni45: 
 
A multa (...) serve apenas para pressionar o réu a adimplir a ordem do juiz, 
motivo pelo qual não parece racional a idéia de que ela deva reverter para o 
 
43 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória (Individual e Coletiva). 4ª edição. São Paulo. Editora 
Revista dos Tribunais, 2006, p. 219 
44 GUERRA, Marcelo Lima. Execução Indireta. São Paulo: RT, 1999, p. 207. 
45 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória. 4.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, pg 179 
35 
patrimônio do autor, como se tivesse algum fim indenizatório ou algo 
parecido com isso; seu único objetivo é garantir a efetividade da tutela 
jurisdicional. 
 
Todavia, o entendimento predominantemehte majoritário é o de que a multa 
deverá ser revertida em favor do credor. O que eu particularmente também entendo 
mais coerente. Afinal, é o credor que sofre o efetivo prejuízo em razão da atraso no 
cumprimento da obrigação de fazer, ou ainda, maior prejuízo diante da inexistência 
de seu cumprimento. 
Não quero dizer que com este meu entendimento, a multa possui caráter 
indenzatorio, pois entendo que seu maior objetivo, é coagir o devedor a cumprir a 
obrigação de fazer, porém, já que o devedor obrigatoriamente em caso de 
decumprimento irá despender valores a este título, o mais justo é que tal valor seja 
destinado ao credor, pois é este prejudicado diretamente. Portanto, partilho dos 
entendiementos abaixo: 
 
ASTREINTES. DESTINATÁRIO. AUTOR DA DEMANDA. A Turma, por 
maioria, assentou o entendimento de que é o autor da demanda o 
destinatário da multa diária prevista no art. 461, § 4º, do CPC – fixada para 
compelir o réu ao cumprimento de obrigação de fazer. De início, ressaltou o 
Min. Marco Buzzi não vislumbrar qualquer lacuna na lei quanto à questão 
posta em análise. Segundo afirmou, quando o legislador pretendeu atribuir 
ao Estado a titularidade de uma multa, fê-lo expressamente, consoante o 
disposto no art. 14, parágrafo único, do CPC, em que se visa coibir o 
descumprimento e a inobservância de ordens judiciais. Além disso, 
consignou que qualquer pena ou multa contra um particular tendo o Estado 
como seu beneficiário devem estar taxativamente previstas em lei, sob pena 
de afronta ao princípio da legalidade estrita. Cuidando-se de um regime 
jurídico sancionatório, a legislação correspondente deve, necessária e 
impreterivelmente, conter limites à atuação jurisdicional a partir da qual se 
aplicará a sanção. Após minucioso exame do sistema jurídico pátrio, 
doutrina e jurisprudência, destacou-se a natureza híbrida das astreintes. 
Além da função processual – instrumento voltado a garantir a eficácia das 
decisões judiciais –, a multa cominatória teria caráter preponderantemente 
material, pois serviria para compensar o demandante pelo tempo em que 
ficou privado de fruir o bem da vida que lhe fora concedido seja 
previamente, por meio de tutela antecipada, seja definitivamente, em face 
da prolação da sentença. Para refutar a natureza estritamente processual, 
entre outros fundamentos, observou-se que, no caso de improcedência do 
pedido, a multa cominatória não subsiste. Assim, o pagamento do valor 
arbitrado para compelir ao cumprimento de uma ordem judicial fica, ao final, 
dependente do reconhecimento do direito de fundo. (REsp 949.509-RS, Rel. 
originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para o acórdão Min. Marco Buzzi, 
julgado em 8/5/2012).” 
 
Este também foi o recente entendimento apresentado pelo Tribunal de Justiça 
36 
do Rio Grande do Sul, ao dispor que o autor da demanda deve ser o credor da multa 
prevista no art. 461, § 4°, do Código de Processo Civil, sob o argumento de que o 
em seu § 2°, permite a interpretação de que a penalidade deve ser revertida em 
favor do destinatário da obrigação inadimplida. Confira-se: 
 
AGRAVO INTERNO. RESPONSABILIDADE CIVIL. IMPUGNAÇÃO AO 
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EFEITO SUSPENSIVO. INDEFERIDO. 
TRANSFERÊNCIA DO NUMERÁRIO PENHORADO PARA O BANRISUL. 
POSSIBILIDADE. ASTREINTE. DESTINATÁRIO. CREDOR. 1.No caso em 
exame não estão presentes os requisitos para a concessão de efeito 
suspensivo previsto no artigo 457-M do Código de Processo Civil. Ademais, 
em se tratando de questão obrigacional esta poderá ser solvida com a 
devida reparação. 2.No que tange ao pedido de suspensão da ordem 
judicial de transferência dos valores constritos via BACEN JUD para a conta 
judicial no Banco Banrisul S/A, não merece guarida a pretensão da parte 
recorrente, tendo em vista que este possui legitimidade para gerir os 
depósitos judiciais no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande 
do Sul, nos termos do artigo 3º do Provimento n. 31/2006 da Corregedoria-
Geral de Justiça. 3. A multa prevista no artigo 461 do Código de Processo 
Civil tem como destinatário o credor da obrigação descumprida, não o 
Estado, como se depreende do §2º do dispositivo precitado. 4. Os 
argumentos trazidos no recurso não se mostram razoáveis para reformar a 
decisão monocrática. Negado provimento ao agravo interno. (Agravo Nº 
70047001045, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 28/03/2012). Grifou-se. 
 
Logo, entendo que a multa somente incide em razão da existência do 
descumprimento da obrigação de fazer, ou seja, muito embora alguns entendam que 
a multa não possui relação com a obrigação de fazer ou com o direito material, eu 
compartilho do entendimento de que a multa somente existiu porque primeiramente 
houve uma obrigação de fazer, ou seja, é acessório, originário e dependente 
daqueles . Assim, é inegável que a multa está sim atrelada ao direito material e a 
obrigação principal. 
 
 
4.5 Sobrevivência da multa no caso de sentença final de improcedência 
 
 
Parte da doutrina entende que não há que se falar em execução da multa 
astreintes diante da sentença de improcedência, por ser esta apenas acessoria do 
principal, logo, como na regra geral “o acessoria segue o principal”, não seria lógico 
a manutenção da multa, quando a sobrevio a sentença de improcedência. Eu 
37 
particularmente, partilho deste entendimento, pois entendo ser incoerente a 
manutenção da multa nesta situação. 
Acredito inclusive, que sua manutenção, ensejaria o enriquecimento indevido 
do credor, e de outra banda, o empobrecimento indevido do devedor. 
Cândido Dinamarco tem esse entendimento46: 
 
enquanto houver incertezas quanto à palavra final do Poder Judiciário sobre 
a obrigação principal, a própria antecipação poderá ser revogada, com ela, 
as ‘astreintes. 
 
Do mesmo entendimento partilha Humberto Teodoro Júnior: 
 
Em conclusão:pode haver execução de multa cominatória tanto em face da 
decisão de antecipação de tutela como da sentença definitiva. No primeiro 
caso, porém, a execução será provisória, sujeitando-se à sistemática e aos 
riscos previstos no art. 558, como determina o § 3º do art. 273. Vale dizer: 
no caso de a sentença, afinal, decretar a improcedência do pedido, a 
quantia da multa exigida em antecipação provisória de tutela deverá ser 
restituída ao executado. 47 
 
O Ministro Luiz Fux assim leciona: 
 
A tutela antecipada não é julgamento antecipado – e, portanto, provisório – 
como a própria sentença o é, quando recorrida. Sobressai evidente que, 
cassada a liminar ou a sentença em decisão de improcedência – sempre de 
caráter declaratório negativo – o seu efeito é ex tunc, isto é, revoga-se o 
que foi concedido.48 
 
Fredie Didier Jr. assim entende: 
 
Se o beneficiário da multa teve negado o seu direito à tutela específica após 
o trânsito em julgado, o crédito eventualmente executado e satisfeito deverá 
ser devolvido ao vencedor, eis que a multa não vem resguardar a 
autoridade jurisdicional, não vem punir, e sim serve para resguardar o 
 
46 DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma da reforma. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 240. 
47 TEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processo Civil Processo de Execução e 
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência:, Rio de Janeiro : Forense, 2008, 
pág. 38/39. 
48 FUX, Luiz. A reforma do processo civil, comentários e análise crítica da reforma infraconstitucional 
do poder judiciário e da reforma do CPC. Niterói.. Editora Impetus. 2006. p. 153. 
38 
direito da parte que pediu sua imposição. Assim, se ao final não viu 
certificado o direito que pretendia fosse resguardado, não há porquê 
receber o valor da multa49. 
 
Assim, a conclusão desta corrente doutrinaria é que de, se a sentença ou a 
tutela forem reformadas, retroagirão seus efeitos, devendo liquidar nos próprios 
autos tudo o que o beneficiário do provimento provisório recebeu, ou seja, 
conseqüentemente se desfaz o que se fez e também devolve-se a multa. 
Para Luiz Guilherme Marinoni, 
 
a multa só pode ser cobrada após o trânsito em julgado da decisão final e 
desde que esta confirme a antecipação em que se cominou a medida 
coercitiva. Entende que a coerção pretendida pela imposição da multa está 
na ameaça de pagamento e não na sua cobrança imediata, razão por que 
não caberia execução provisória, nem tampouco definitiva50 
 
Para Fredie Didier: 
 
’somente quando o beneficiário da multa se tornar, ao fim do processo, o 
vencedor da demanda é que fará jus à cobrança do montante. Assim o é 
porque a multa é apenas um meio, um instrumento que serve para garantir 
à parte a tutela antecipada do seu provável direito; dessa forma, se ao cabo 
do processo se observa que esse direito não é digno de tutela (proteção) 
jurisdicional, não faz sentido que o jurisdicionado, que não é merecedor da 
proteção jurisdicional (fim), seja beneficiado com o valor da multa (meio)51. 
 
O Ministro Teori Zavaski, que ensina a execução das astreintes, deve-se 
partir de uma premissa fundamental: 
 
de que o título executivo que autoriza a cobrança da multa é autônomo e 
independente em relação ao que sustenta a execução da obrigação de 
fazer ou de não fazer, aqui chamada de principal52. 
 
Ora, não seria logico, o Autor ser beneficiado com a multa quando o próprio 
judiciário entende que ele não faz jus ao direito postulado em juízo. Particularmente 
 
49 DIDIER, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil. 
Salvador: Edições Podium. 2007. v. 2, p. 358. 
50 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela específica. 2ed. São Paulo:Revista dos Tribunais, 2001, p. 111. 
51 DIDIER, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil. 
Salvador: Edições Podium. 2007. v. 2, p. 360. 
52 ZAVASKI, Teori Albino. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: RT, 2000. vol. 8, p. 
508 
39 
entendo que tal possibilidade pode inclusive ser considerada como uma anomalia 
jurídica, pois como poderia o Autor ser beneficiado quando em verdade, não possui 
nenhum direito relativo ao pleito? 
Vejamos entendimento de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart53. 
 
Se o nosso sistema confere ao autor o produto da multa, não é racional 
admitir que o autor possa ser beneficiado quando a própria jurisdição chega 
à conclusão de que ele não possui o direito que afirmou estar presente ao 
executar a sentença (provisoriamente) ou a tutela antecipatória. Pelo 
mesmo motivo que o processo não pode prejudicar o autor que tem razão, é 
ilógico imaginar que o processo possa beneficiar o autor que não tem 
qualquer razão. (...) Não se pense que a circunstância de a multa não poder 
ser cobrada pelo autor que, a final, é declarado sem razão retira seu caráter 
coercitivo. O que atua sobre a vontade do réu é a ameaça do pagamento da 
multa. Esta, assim, não perde o poder de coerção apenas porque o réu 
sabe que não terá que pagá-la, na hipótese de o julgamento final não 
confirmar a tutela antecipatória ou a sentença que foi "provisoriamente 
executada". Ora, no caso de tutela antecipatória ou de "execução provisória 
da sentença", o réu certamente temerá ter que pagar a multa, não só 
porque é provável que o julgamento final acabe confirmando a tutela 
antecipatória ou a sentença, mas fundamentalmente porque ninguém pode 
ter segura convicção de qual será o "último julgamento". O que importa, em 
outras palavras, quando se pensa na finalidade coercitiva da multa, é a 
ameaça de o réu ter que futuramente arcar com ela. É importante deixar 
claro que a multa cumpre seu papel através da ameaça que exerce sobre o 
réu. A multa, para exercer sua finalidade coercitiva, não precisa ser cobrada 
antes do trânsito em julgado. A finalidade coercitiva não se relaciona com a 
cobrança imediata da multa, mas apenas com a possibilidade da sua 
cobrança futura. Tal possibilidade é suficiente para atemorizar o demandado 
e, assim, convencê-lo a adimplir. 
O STJ, já deixou claro, que o Autor, em caso de improcedência da demanda, 
não possui nenhum direito ao recebimento da multa anteriormente arbitrada. 
Vejamos o acórdão abaixo: 
 
AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 50.196 - SP 
(2011/0134116-2) RELATOR : MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA 
AGRAVANTE: CONSTRUTORA E INCORPORADORA CARILLO LTDA 
ADVOGADO : TÂNIA VIEIRA DANTAS E OUTRO(S) AGRAVADO : 
COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - 
SABESP ADVOGADO : SOLANGE DA SILVA CARDOSO OLIVEIRA E 
OUTRO(S) EMENTA PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO 
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. 
LIMINAR DEFERIDA. DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO. MULTA DIÁRIA. 
EXIGIBILIDADE. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA QUE JULGAR 
PROCEDENTE A DEMANDA. PRECEDENTES DO STJ. SÚMULA 83/STJ. 
AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos da reiterada jurisprudência do 
Superior Tribunal de Justiça, a multa diária somente é exigível com o 
trânsito em julgado da decisão que, confirmando a tutela antecipada no 
âmbito da qual foi aplicada, julgar procedente a demanda. 2. Conforme 
 
53 MARINONI, Luiz Guilherme e ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil. Volume 3, 
Execução, 2ª Edição, Editora Revista dos Tribunais, pp. 81/82. 
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salientado na decisão agravada, o Tribunal de origem julgou extinto o 
processo sem exame do mérito, o que tornou insubsistente a liminar 
anteriormente deferida, que dava suporte jurídico para a exigibilidade da 
multa imposta. 3. Não havendo julgamento definitivo de procedência do 
pedido inicial, confirmando a medida liminar anteriormente deferida e 
solucionando o litígio, apresentando à parte a prestação jurisdicional 
tutelada, tornam-se inexigíveis as astreintes. 4. Agravo regimental não 
provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são 
partes as acima indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do 
Superior Tribunal de Justiça,

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