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82
A RUA DOS CATAVENTOS
(1940)
83
Alegrete, Natal de 1938
84
I
Escrevo diante da janela aberta.
Verde!... E que leves, lindas filigranas
gista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Vago
E me transmuto... iriso-
85
II
-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lam
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
O vento enovelou-se como um 
86
III
Fecharam-se de novo, deslumbrados:
Uns peixes, em reflexos doirados,
Voavam na luz: dentro da luz sumiram-se...
Rua em rua, acenderam-se os telhados.
Num claro riso as tabuletas riram.
Os meus sapatos velhos refloriram.
Evitem
Que no meu bairro eu inda possa ter!...
87
IV
Parece que estou vendo com os ouvidos:
Eu vou sair pro Carnaval dos ruidos,
Que trocam dois gavroches atrevidos!
Pra que viver assim num Outro plano?
O ritmo da rua nos convida.
88
V
mente...
Que o mundo se lhe mostra indiferente!
E o meu Anjo da Guarda, ele somente,
E enquanto o mundo em torno se csbarronda,
89
VI
Enquanto os outros partem para a escola,
Ele ouve o Sapateiro bater sola.
E pouco a pouco, gradativamente,
O sofrimento que ele tem se evola...
Mas nest
E o menino nem sonha que ele existe.
Ele trabalha silenciosamente...
Pra alminha boa do meninO doente...
90
VII
Avozinha Garoa vai contando
Suas lindas
Sob a garoa adormeceu sonhando...
Nisto, um rumor de rodas em carreira...
O pezinho da Gata Borralheira!)
Cerro os olhos, a tarde cai, macia...
Inutilmente sobre os joelhos pousa...
91
VIII
Para D
Recordo ainda... E nada mais me importa...
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Embora idade e senso eu aparente,
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino.., acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente!...
92
Ix
Para Emilio Kemp
a mesma ruazinha sossegada,
Passam cantando ruazinha em fora!
tudo tem, agora,
Essa tonalidade amarelada
Dos cartazes que o tempo descobra...
Sim, desses cartazes ante os quais
Que inda anunciam: - ALEGRIA - RISOS
93
X
Desconjuntam os ossos doloridos.
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Giro na ponta dos meus dedos brancos!
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
"Mas que vos dar de novo e de imprevisto?"
94
XI
Contigo fiz, ainda em menininho,
Todo o meu Curso d'Alma... E desde cedo
Aprendi a sofrer devagarinho,
A guardar meu amor Como um segredo...
Nas minhas
-do-sol de Meu Padrinho...
Sofreste a nossa dor, como Jesus...
Para ajudar-nos a levar a Cruz!...
95
XII
O choro pouco a pouco se extinguiu...
o Menino dormira... Mas o canto
E ia purificando como um rio
E era a voz que eu ouvi em pequenino...
Lavando as roupas de Jesus Menino...
Eras tu... que, ao me ver neste abandono,
Para embalar inda uma vez meu sono!...
96
XIII
E de luas enormes, irreais,
Dessas que espiam pelas gradarias
ios de hospitais.
E o luar decalca nas paredes frias
Misteriosas janelas fantasmais...
Como um sonho vem vindo essa Fragata...
Com mastros de marfim, velas de prata,
Toda apinhada de meninos mortos...
97
XIV
Abri minhas pupilas assustadas
E quando a lua, enorme, nas estradas
Ao vento mau que as apagou...
procurou...
Foi, na noite alucinada,
A voz do morto que cantou.
98
XV
-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.
A Lua - a Lua! em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
-la admirado...
Pus meus sapatos na janela alta,
Pra suportarem a exis
99
XVI
Triste encanto das tardes borralheiras
A tarde lembra um passarinho doente
A pipilar os pingos das goteiras...
A tarde pobre fica, horas inteiras,
O crepitar das brasas na lareira...
Meu Deus.., o frio que a pobrezinha sente!
Nenhum azul para te distraires...
Ah, se eu pudesse, tardezinha pobre,
Eu pintava trezentos arco-
100
XVII
Na vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...
Arde um toco de vela, amarelada...
Vinde, corvos, chacais, ladr
-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voej ai!
101
XVIII
Para E. Soares Coelho
Esses inquietos ventos andarilhos
Passam e dizem: "Vamos caminhar.
E as dolorosas bocas a ofegar..."
-
"A tua vida, que fizeste dela?"
E chega a morte: "Anda! Vem dormir..."
Mas toda a longa noite inda hei de ouvir
A inquieta voz dos ventos que me chama!...
102
XIX
Minha morte nasceu quando eu nasci.
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
Na pequenina rua em que vivi.
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa, a escutar o que lhe digo:
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...
Pensar em ti... saber que tu existes!
103
xx
Para Athos Damasceno Ferreira
Estou sentado sobre a minha mala
No velho bergantim desmantelado...
Quanto tempo, meu Deus, malbaratado
Joguei a minha
Como o velho Sindbad de alma cansada
Eu nada mais desejo, nem a morte...
Do barco, a vos olhar, velas paradas!
Pra que partir? Sempre se chega, enfim...
104
XXI
Para os amigos mortos
Lobo Alvim... Ah, meus velhos camaradas!
Aquelas nossas ideais noitadas?
Estejam nossas almas separadas!
-me alegre,
De amar a vida assim, por mais que ela nos minta...
E no meu romantismo vagabundo
105
XXII
Vontade de escrever quatorze versos...
Andam por tudo signos diversos
Quem sabe La que estranhos universos
Olha! os meus dedos, no nevoeiro imersos,
-se... Escusado navegar!
aros vazios...
-
Vamos andando entre os nevoeiros frios...
Vamos andando... Nada mais existe!...
106
XXIII
Com seus 
Nuvens que venham, nuvens e asas,
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo (a triste sina!)
107
XXIV
Para Lino de Mello e Silva
A ciranda rodava no meio do mundo,
No meio do mundo a ciranda rodava.
E quando a ciranda parava um segundo,
Um grilo, sozinho no mundo, cantava...
Bem junto com a rua o mundo acabava.
Rodava a ciranda no meio do mundo...
E Nosso Senhor era ali que morava,
E quando a ciranda por fim terminava
E o silencio, em tudo, era mais profundo,
Nosso Senhor esperava.., esperava...
Cofiando as suas barbas de Pedro Segundo.
108
XXV
Para Ovidio Chaves, ao gosto do mesmo
Mas, no teu quarto havia, mesmo, uma Chymera.
De bronze? De verdade? Ora! Que importa?
a espera..."
(Naquele tempo, amigo, a tua vida era
Como uma pobre borboleta morta!)
De coisas e de coisas e de coisas,
Bonitas umas, tristes outras como loisas...
E todo o tempo em que ele nos falou,
A Chymera a cismar: "C
109
XXVI
Deve haver tanta coisa desabada
Aqui, bebendo um chope no meu bar...
E tu, deixa-me em paz, Alma Penada!
interior balada...
Saudade... amor... cantigas de ninar...
Em cada sala em que me assassinaram...
Pra que lembrar essa medonha his
Eis-me aqui, recomposto, sem um ai.
- olhai!
110
XXVII
Quando a Luz estender a roupa nos telhados
E junto ao leito fundo nossas duas almas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados...
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
E as rosas da Cidad
Vestidos, contra o azul, de tons vibrantes e violentos,
Sobre os telhados altos, entre o fumo e os cataventos!
111
XXVIII
Dos meus dedos compridos, amarelos...
Fora, um realejo toca para mim
Valsas antigas, velhos ritornelos.
E esquecido que vou morrer enfim,
Eu me distraio a construir castelos...
ais belos!...
Nem D. Quixote teve morte assim...
E mais parece um lindo barco a vela!...
112
XXIX
Olha! Eu folheio o nosso Livro Santo...
Lembras-
O resto, que importava?... E no entretanto
Tu deixaste a leitura interrompida...
Inda procuro a tua voz perdida...
De que talvez me estejas escutando...
E os pobres versos d
Um por um... como folhas... despencando...
113
XXX*
Rechinam meus sapatos rua em fora.
Que nem me lembro de mais nada agora!
Um peso enorme para carregar!
Que os Doutores Sutis se escandalizem:
Mas entendem-
E aover-me assim, num poste as andorinhas
___
114
que tranScrevo:
Foram-se abrindo aos poucos as estrelas...
De margaridas lindo campo em flor!
-las...
Diria alguma si me tens amor...
Estrelas altas! Que se importam elas?
es velas
Quando uma, dentre aquelas estrelinhas,
Com certeza era o amor que tu me tinhas
Que repentinamente se acabou!...
115
XXXI*
Ou o Velho Poeta atira-
Uma das muitas folhas amarelas
evisto) este abandono...
O velhas rimas! E acabar com elas!
Mas o Outono apanha-as... E, sutil,
Com o rosto a rir-se em rugazinhas mil,
Toca de novo o seu fatal motivo:
E para todo o sempre evocativo
Na flauta enferrujada de Verlaine...
___
que transcrevo:
116
Acendem-
Olha sem ver, de tudo se distrais...
Vai morrer atacado de si mesmo...
Dos longos poentes que passou a esmo
A embebedar-se de Cinzento e Roxo.
E enquanto a Vida corre -
Ele abre, vagamente, sobre o Nada,
117
XXXII
Para Pedro Wayne
Nem sabes como foi naquele dia...
e poesia
Quando o Sr. Prefeito ia falar...
E como para nunca mais voltar,
Por essas ruas a perambular.
Paraste enfim junto a um salgueiro doente,
Um salgueiro que espiava sobre o rio
A primeira estrelinha... E, longamente,
Mas a estrelinha, como um sonho, abriu,
118
XXXIII
Que bom ficar assim, horas inteiras,
Fumando.., e olhando as lentas espirais...
Enquanto, fora, cantam os beirais
Transformando a Cidade, mais e mais,
Que bom, depois, sair por essas ruas,
Onde
Sair assim (tudo esquecer talvez!)
119
XXXIV
Uns tristes charcos alumia embalde,
As estrelinhas quietas do arrabalde...
Olhando inutilmente para a vida...
noitinha,
Ao ver os bondes que, do fim da linha,
Partem, iluminados como vitrinas,
Para a doida Cidade do Prazer!...
120
XXXV
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa no
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Eu levar ei comigo as madrugadas,
Mais o rir das primeiras namoradas...
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto...
121
122
S
(1946)
123
124
Para Erico Verissimo
Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Catavento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.
Dancemos todos, dancemos,