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A Força do Amor - Diana Palmer

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A Força do Amor
WOMAN HATER
DIANA PALMER
A insegurança fez Nicole esconder a verdade. Agora ela iria pagar por isso. Nicole estava
exasperada. Depois de tanto tempo se defendendo do amor, apaixonara-se justamente por William,
um homem que fora enganado e que por isso odiava as mulheres. Como se não bastasse, agora ele
iria descobrir que Nicole mentira, ocultando sua verdadeira identidade. Mas o que poderia ter feito? Se
lhe dissesse quem era realmente, aí sim, teria o seu desprezo para sempre.
Digitalização: Vanessa
Revisão: Samuka
Diana Palmer — A Força do Amor — Bianca Duas Histórias 442.2
A FORÇA DO AMOR
DIANA PALMER
Woman hater
Bianca Duas Historias 442.2
Editora Nova Cultural, 1987
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http://www.adororomances.com.br/colecoes.php?code=19&Bianca-Duas-Historias
Diana Palmer — A Força do Amor — Bianca Duas Histórias 442.2
Capítulo 1
Nicole White ficou indecisa quando seu chefe, Gerald Christopher, sugeriu que ela
o acompanhasse à fazenda da família dele em Montana. O sr. Christopher necessitava
repousar durante algumas semanas, após o médico ter diagnosticado uma úlcera,
agravada pelo excesso de trabalho.
De fato, ele precisava de tranquilidade, mas Nicole não estava gostando da ideia
de se afastar da agitação de Chicago.
Depois de trabalhar por dois anos na Companhia Christopher, ela estabelecera
uma agradável rotina, a qual não pretendia mudar.
Se o sr. Christopher permanecesse em Montana durante um mês, como pretendia,
o escritório ficaria fechado e Nicole seria dispensada até quando ele voltasse. Apesar de
ganhar um bom ordenado, passar um mês sem salário era motivo de preocupação para
ela. Por ironia, Nicole White pertencia a uma das famílias mais ricas de Kentucky. Seu pai,
que frequentava a alta sociedade, era proprietário de famosos cavalos de corrida.
Entretanto, já fazia muito tempo que Nicole havia renunciado à parte dela na
fortuna da família. E, desde então, decidira trabalhar para se sustentar.
Tomara tal resolução logo após a morte da mãe. Nessa época, o pai tinha uma
amante, e o relacionamento familiar se tornara insuportável. Nicole, porém, pensara que o
noivo, Chase James, fosse marcar para breve a data do casamento. Ele ocupava um bom
cargo numa imobiliária, e o salário daria bem para arcar com as despesas de uma casa.
Contudo, ao descobrir que Nicole abrira mão da herança dos White em caráter definitivo,
Chase desmanchara o noivado. E, pior ainda, mostrara interesse imediato por uma amiga
de Nicole, rica e solteira.
Desiludida, Nicole abandonara a elegante mansão da sua infância em Lexington,
Kentucky, bem como uma criação de cavalos que valia milhões. Passara a viver com
simplicidade, trabalhando como secretária em Chicago e dividindo um pequeno
apartamento com uma amiga.
O início da carreira fora difícil para Nicole. Aos vinte anos e sem nenhuma
experiência, precisara muito da paciência do sr. Christopher para ajudá-la. Mas, graças a
isso e a um curso de secretariado, conseguira superar esses obstáculos.
Tudo isso, no entanto, lhe parecia muito distante naquele momento. O que a
preocupava era o convite do chefe. Seus expressivos olhos verdes não escondiam um
certo conflito interior ao encará-lo.
— Você vai gostar, Nicky — Gerald Christopher afirmou, tentando convencê-la. —
A fazenda fica na parte sul do Estado, junto às Montanhas Rochosas. É cercada por
florestas, há muitos lagos, rios e tranquilidade. Nada melhor para curar essa úlcera.
Poderemos trabalhar sossegados, e você terá bastante tempo livre,
— Mas o senhor acha que o seu irmão e a família dele não se importarão em
hospedar a sua secretária?
Apesar de já trabalharem juntos há dois anos, Nicole sabia bem pouco a respeito
da vida particular do sr. Christopher. Apenas ouvira-o mencionar o irmão e alguém
chamada Mary, que julgava ser a cunhada. Era realmente tudo o que sabia sobre ele.
— William não tem família — ele retrucou.
Gerald era um homem bem simpático. Alto, cabelos e olhos castanhos e muito
dedicado ao trabalho. Era um ótimo patrão, e Nicky o estimava, mas não passava disso.
Desiludira-se muito após a traição de Chase e não acreditava mais no casamento. E,
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mesmo se acreditasse, sem os vestidos de etiquetas famosas e sem os diamantes, os
homens não a notavam mais, ela pensava sempre com amargura.
— Seu irmão já esteve aqui uma vez, não foi? — perguntou. Lembrava-se
vagamente de ter visto um homem alto entrando na sala do patrão num dia de muito
trabalho. Na verdade, mal o notara e só mais tarde lhe disseram ser aquele o misterioso
irmão mais velho do sr. Christopher.
— Sim, esteve — Gerald confirmou. — William nunca se interessou pela
companhia, só aparece para uma rápida visita. Sempre detestou ficar fechado no
escritório. Por isso mesmo papai deixou-lhe a fazenda, que vale um bom dinheiro. Ele é
um bom criador de gado, e eu, um executivo competente. Assim, cada um faz o que
gosta. Ele é meio esquisitão, mas, se não o incomodarmos, não haverá problemas.
Nicky, porém, não estava muito segura disso. Passou as mãos pelos cabelos
curtos e encaracolados, ainda hesitando.
— Ora, Nicky, um mês em contato com a natureza lhe fará bem. E, se há tantos
vasinhos de plantas em sua mesa, ou você é uma moça do interior ou uma jardineira
frustrada.
— Um pouco das duas coisas. Nasci e fui criada em Kentucky, e às vezes sinto
saudade... Meus pais eram agricultores.
Aquela pequena mentira evitava uma porção de perguntas desagradáveis. Mesmo
assim, ainda lhe causava um certo embaraço repeti-la.
— E a agricultura é uma profissão muito sacrificada — Gerald comentou. — Agora
entendo por que veio para a cidade. Mas, já que gosta do campo, qual é o problema?
— Acho que não fica muito bem fazer uma viagem por sua conta.
— Mas durante o próximo mês será a minha secretária particular. Vou aumentar
seu salário, porque terá despesas extras... Roupas de inverno, por exemplo.
— Oh, mas não é necess...
— Claro que é, e não se fala mais nisso! Estou cansado da agitação da cidade,
Nicky. Preciso de calma e repouso, do contrário essa úlcera me levará ao hospital. O ar
da montanha nos fará bem.
— Estamos em fim de outubro. Não costuma nevar em Montana nessa época do
ano?
— Sim, por isso falei em roupas de inverno. A fazenda fica perto das montanhas e
faz muito frio lá... Sadie Todd é nossa vizinha. Lembra-se dela?
— Lembro-me, sim. Ela era muito simpática.
Sadie, uma enfermeira com quem Gerald costumava sair, tivera de voltar para
Montana para cuidar da mãe inválida. Ele ficara desolado e fora mais ou menos nessa
época que começara a ter problemas de saúde.
— Na pior das hipóteses ficaremos presos em casa por causa da neve — ele
assegurou. — Mas quando aparece um chinook dá para sair. Não se preocupe.
— O que é um chinook?
— É um vento quente que aparece de repente e derrete o gelo. Você vai adorar a
fazenda.
Gerald tinha outros motivos, além da saúde, para fazer aquela viagem. Estava
muito interessado em Sadie, e parecia haver um compromisso sério entre os dois antes
de ela precisar partir. Talvez até acabasse sendo uma viagem interessante, Nicole
pensou.
— Está bem, eu vou — ela decidiu. — Mas tem certeza de que seu irmão não vai
se importar?
Por um momento, Gerald pareceu um pouco preocupado.
— É claro que não — assegurou, por fim.
Nicky estranhou aquela hesitação, mas não sabia o que pensar. O sr. Christopher
quase nunca falava do irmão. Após a rápida passagem do fazendeiro de Montana pelo
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escritório, houvera comentários sobre ele. Mas Nicky não tivera curiosidade de saber o
que falavam.
Becky, a secretária de um dos vice-presidentes, entrou no escritório da presidência
após a saída do sr. Christopher.
— É verdade essa história de que vai sair de férias para um lugar exótico com o
chefão? — quissaber, excitada.
Nicky riu.
— Se você chama o interior de Montana de exótico, então é verdade. Espero que
venha ao meu enterro, se algo me acontecer. Aliás, até já me vejo sendo devorada por um
puma ou sendo arrastada por um alce!...
— Você pode ser arrastada por William. Ou ainda não ouviu as histórias que
contam a respeito dele?
Nicole olhou-a, curiosa.
— Que histórias?
— Ele é um louco, pelo que ouvi dizer. Parece que foi noivo de uma moça da
sociedade que o abandonou alguns anos atrás. E ele foi à festa de noivado dela
acompanhado de uma estrela de Hollywood. Pagou uma fortuna para a atriz vir de
Hollywood somente para a ocasião. E, é claro, estragou a festa, pois a estrela de cinema
monopolizou todas as atenções. Ele já foi mulherengo e esbanjador, famoso pelas
extravagâncias que fazia. Mas, desde então, abandonou a vida de playboy e se mudou
para a fazenda. Dizem que, depois da sua desilusão com aquela milionária loira, odeia
todas as mulheres ricas.
— Que história interessante — Nicole comentou, com indiferença. Não dava
atenção a mexericos.
— Ele é bonito, apesar das cicatrizes e do defeito na perna. Quando esteve aqui,
quase não notei as marcas... Ele olhou para você de um jeito... mas você estava tão
ocupada que não percebeu.
— Lembro-me dele, mas olhei só de relance. Nem notei que mancava. Como ficou
assim?
— Foi um acidente de automóvel. Deanne Sharp, filha dos donos da Aspen Sharp,
aquela fábrica de roupas e acessórios para esqui, era noiva dele naquela ocasião. Estava
guiando quando houve o acidente. Ele quase perdeu a perna, e durante a sua
convalescença ela o abandonou. Acho que a moça gostava dele só porque era um atleta
famoso. Quase foi campeão olímpico de esqui e foi assim que os dois se conheceram. Ele
perdeu a primeira colocação só por alguns pontos.
— Era isso que eu estava tentando lembrar. Alguém comentou sobre um acidente
envolvendo o irmão do sr. Christopher, mas eu não conseguia recordar o que acontecera.
— É que tudo isso aconteceu há três anos. Um ano antes de você vir trabalhar
aqui. Nós todos ficamos sabendo e até hoje eu sinto pena dele. Agora está bem, mas não
é mais o galã que era. Uma traição dessas faz um homem ficar revoltado pelo resto da
vida. Por isso mesmo ele não gosta da companhia de mulheres. Se você for para a
fazenda com o patrão tome cuidado para não aborrecê-lo.
— O patrão disse que em Montana faz muito frio — Nicky comentou, para mudar
de assunto.
— É verdade. Tenho uma amiga de lá que trabalhava num hospital daqui. Ela teve
de voltar para Montana a fim de cuidar de sua mãe inválida. Lembra-se de Sadie Todd? O
patrão costumava sair com ela.
— Eu me lembro, sim.
— Nós duas nos correspondemos até hoje. Uma vez fui visitá-la. Montana é um
lugar bonito, embora muito frio. Se quiser descansar e se afastar do mundo, não existe
nada melhor,
— Não tenho certeza se vou.
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— Não seja tola. O patrão é um amor, e William não deve ser tão terrível assim.
Mas Nicky ainda não estava resolvida. Foi para casa e, depois de tomar um lanche,
começou a arrumar a mala, ainda indecisa. Não havia muita coisa para levar: jeans,
suéteres, algumas blusas e um vestido de jérsei, casaco de inverno e botas de couro.
Sem querer pensou em seu antigo estilo de vida. De vez em quando sentia falta do
conforto, mas se orgulhava de haver mudado a própria personalidade. Não era mais
mimada e arrogante, alguém que supria com dinheiro o afeto que nunca recebera dos
pais. Aprendera a dar valor às verdadeiras amizades e, embora Dana não morasse mais
com ela por ter se casado, as duas se encontravam com frequência. E Becky, apesar de
um pouco avoada, era uma amiga dedicada, excelente companhia para passeios.
Uma semana depois, Nicole e o sr. Christopher voaram para Montana no avião da
companhia. Para a viagem, Nicky decidiu usar o vestido de jérsei e estava quase sem
pintura. Parecia ainda mais jovem do que os seus vinte e dois anos, graças ao corte dos
cabelos castanhos, anelados como os de um anjo. E, naquele momento, esperava que
sua aparência contribuísse para atenuar a má vontade do anfitrião para com as mulheres.
— Não se incomoda se eu trabalhar, não é? — perguntou Gerald Christopher com
um sorriso, mostrando uma pasta cheia de papéis a sua frente.
— Claro que não — Nicole respondeu.
Mas a viagem lhe pareceu longa por não ter com quem conversar. Olhava as
nuvens que passavam, imaginando como seria recebida na fazenda. Estavam quase
chegando quando lhe ocorreu algo importante.
— Sr. Christopher, disse ao seu irmão que levaria sua secretária? — quis saber.
— É claro que avisei. Não se preocupe, Nicky, Tudo vai dar certo.
Quando o avião aterrissou, William Christopher já esperava por eles no pequeno
aeroporto.
Nicole reconheceu de imediato aquele homem alto, ainda mais alto do que o irmão.
Sob as roupas simples, jeans, botas empoeiradas, uma camisa xadrez e uma pesada
jaqueta de pele de carneiro, podia-se adivinhar um corpo esguio, de ombros largos e
quadris estreitos. A barba por fazer e uma grande cicatriz da bochecha até a covinha do
queixo conferiam um ar rude ao rosto de traços severos. Entretanto, o queixo quadrado, o
nariz reto e os olhos negros eram de uma beleza clássica e viril. Com um cigarro aceso
na mão, observava Nicky com um olhar de fria desconfiança.
— Olá, William — Gerald disse, apertando a mão do irmão. — Esta é a minha
secretária, Nicole White.
— Como vai, sr. Christopher? — disse Nicky com polidez, esforçando-se para
sorrir.
Não era bem-vinda, e isso estava evidente no olhar do anfitrião. De certa forma,
compreendia os motivos dele para agir daquele modo. Quando Chase a abandonara, a
lembrança dele se tornara quase uma obsessão para Nicole. Ela ainda recordava a
mágoa e o rancor constantes e o sofrimento causado por tanta amargura. Mas isso não
diminuía em nada o desconforto da situação naquele momento.
William continuava a olhá-la sem sorrir.
— Lembro-me de ter visto você no escritório — disse com secura. — Você é muito
jovem para trabalhar.
— Nem tanto. Tenho vinte e dois anos.
— Mas ainda é jovem. Trouxe a caminhonete. Será que o piloto quer vir até a
fazenda para comer alguma coisa?
— Não, ele tem de voltar para levar outros executivos à Nova York — Gerald
respondeu, colocando a mão no ombro do irmão, rum gesto afetuoso.
— Vou pegar as malas — William disse, dirigindo-se para o avião.
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Ao vê-lo mancar, Nicky fez um gesto para ajudá-lo, mas ele lhe lançou um olhar de
rancor que a fez desistir. Abaixando os olhos, um tanto embaraçada, ela seguiu ao lado
de Gerald.
— Não se ofereça para ajudá-lo — ele a aconselhou em voz baixa. — Agora ele já
não liga tanto para o defeito, mas ainda se sente humilhado com esse tipo de gentileza.
— Vou me lembrar disso.
O irmão mais velho do chefe parecia não ser fácil de aguentar, e o primeiro impulso
de Nicky foi pedir para voltar a Chicago.
Gerald Christopher pareceu entender o que se passava com ela e colocou-lhe a
mão no ombro.
— Não se apavore — consolou-a, brincando. — Ele não morde.
— Graças a Deus, tomei todas as vacinas antes de viajar.
William, observando aquela troca de sorrisos e a mão do irmão no ombro de Nicky,
achou os dois íntimos demais. Havia ao mesmo tempo malícia e desaprovação nos olhos
dele quando pegou as malas e seguiu os recém-chegados até a caminhonete.
Foi uma viagem longa até a fazenda. Seguiram por uma estrada sinuosa junto às
montanhas coloridas. Mas Nicky, espremida entre os dois homens, quase não prestava
atenção à paisagem. Sentia a perna de William contra a dela, cada vez que ele pisava no
acelerador, e reagia de maneira inesperada ao leve roçar de ombros provocado pelo
balanço do carro. Era como se um jato de vida se derramasse sobre ela, mas isso a
assustava.
A floresta ficava cada vez mais densaà medida que abandonavam a planície.
Enveredavam por estradas onde as casas rareavam e o tráfego era quase inexistente.
Nicky se encantava com a beleza dos álamos de pontas alaranjadas e troncos esguios e
prateados, dos choupos amarelos, e com a majestade dos pinheiros altíssimos. As
montanhas se revestiam de um esplendor silencioso, irradiando um ar revigorante. Ficou
maravilhada com o aparecimento das montanhas diante deles quando William entrou
numa estrada de terra e começaram a subir.
— Não é o que esperava, srta. White? — William perguntou, sarcástico. —
Montana é muito mais bonita do que nas fotos de revistas.
— A altura aqui é impressionante.
Na curva seguinte da estrada ela viu o vale lá embaixo. Apesar da beleza da
paisagem, Nicky tinha problemas com altitude e começou a ficar enjoada.
— Você está bem, Nicky? — Gerald perguntou, preocupado. — Está tão pálida.
— Estou bem.
Por nada no mundo deixaria William perceber o quanto o modo como ele guiava
lhe causava mal-estar. Evitou olhar pelas janelas laterais, fixando os olhos a sua frente.
Ele percebeu a teimosia dela e reprimiu um sorriso, uma coisa rara no rosto dele
nos últimos tempos.
Depois de alguns minutos começaram a descer. A amplidão brilhante e verde do
vale diante deles fez Nicky esquecer a náusea. Inclinou-se para frente, apoiando a mão
no painel, sorrindo ao olhar para os bordos vermelhos e dourados, para os enormes
pinheiros, os álamos delicados e os choupos. O rio atravessava a floresta e, à distância,
parecia uma fita prateada.
William continuava sério, mas diminuiu a marcha da caminhonete para deixá-la
admirar a paisagem. No fim da estrada havia um enorme sobrado de madeira com
grandes janelas rústicas e um terraço amplo e confortável. Bordos de aparência antiga
rodeavam a casa, e as montanhas a sua volta davam-lhe uma majestade de castelo.
— É lindo, não é? — Gerald suspirou. — Cada vez que vou embora, fico com
saudade. William não mudou nada aqui. A casa está do mesmo jeito há quarenta anos ou
mais. Foi nessa época que a nossa mãe plantou aqueles bordos ao redor da casa,
quando meu pai a construiu.
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— Achei mesmo que deviam ter sido plantados. Formam um semicírculo perfeito
demais na parte de trás da casa.
— As pessoas da cidade pensam que as árvores nascem assim, espontaneamente
— William observou. — Incrível que você tenha percebido logo.
— Mas Nicky viveu numa fazenda, não foi? É moça do interior — Gerald afirmou.
— Lá dos lados de Kentucky.
— Que bom que em Kentucky ainda se plantem árvores. Assim dá para ensinar às
crianças a diferença entre uma árvore plantada e uma que nasce espontaneamente —
William disse olhando para ela. — Acho que existem pessoas que pensam que Deus as
planta em carreiras.
O sarcasmo dele irritou Nicky, mas ela não deixou transparecer. Precisava ter um
pouco de paciência com aquela implicância, pois, na certa, ele só queria assustá-la.
Fingiu não notar-lhe o olhar insistente, embora isso a perturbasse muito. Ficou furiosa
consigo mesma. Como podia deixar aquele desconhecido vencer-lhe as defesas com
tanta facilidade? Devia tomar cuidado para ele não perceber isso.
— Escrevi a você contando a respeito das pessoas do Leste que vêm para cá
daqui a duas semanas? — William perguntou a Gerald. — Organizei uma caçada para
eles, mas eu o avisarei com antecedência para que fique longe do local.
— Escreveu, sim. Espero que eles tenham algum conhecimento de armas.
Lembra-se daquele caçador que veio uma vez e matou o seu touro premiado?
— Não foi nada engraçado — William disse, zangado. — Aquele idiota não sabia
distinguir entre um touro e um veado... Estes são os meus Hereford — disse, apontando
para o gado de pelo vermelho e branco, pastando na planície junto ao rio. — Estão agora
no pasto de inverno. Eu alugo terras do governo para pastagem, mas a maior parte
pertence à fazenda. Tivemos uma grande produção de feno. Está até sobrando.
— Os Estados do Sul não tiveram a mesma sorte. A seca arruinou uma porção de
criadores de gado e fazendeiros — Nicole comentou, distraída.
Ele a olhou, intrigado, mas não disse nada. O nome dela, o sobrenome, pareciam
conhecidos, mas não sabia por quê.
Não era comum uma moça da cidade saber tanto sobre agricultura. 
Estacionou a caminhonete na porta da casa e saiu, deixando Gerald ajudar Nicky a
descer.
Uma senhora de meia-idade apareceu no terraço. As maçãs do rosto salientes, o
nariz reto e a pele muito escura revelavam descendência indígena.
— Esta é Mary — William apresentou-a. — Ela está conosco desde que eu era
ainda um menino. Cuida da casa e da cozinha. É casada com um vaqueiro da fazenda.
— Bonita moça — Mary murmurou, observando Nicole com atenção. — Pernas
longas, corpo bem-feito, cara honesta. Qual de vocês vai casar-se com ela?
Olhou para Gerald e para William com um sorriso malicioso.
— Eu não estou interessado nessas coisas — William resmungou. — Mas Gerald
talvez tenha esperanças.
Antes de Gerald responder, Nicole forçou um sorriso, sem olhar para William,
sentindo o rosto vermelho de raiva e embaraço.
— Eu sou a secretária do sr. Christopher, Nicole White — ela disse, estendendo a
mão para cumprimentá-la. — Sinto desapontá-la, mas vim somente para trabalhar.
— Estou desapontada, sim. Esses dois solteirões não se resolvem, e isso me
aborrece muito. Venha, vou levá-la até seu quarto.
— Mary é muito franca — William explicou a Nicole. — E exagera às vezes.
Mary virou-se rapidamente e fez uns gestos estranhos com a mão. Os olhos de
William brilharam enquanto ele respondia com outros gestos. Mary olhou-o irritada e subiu
as escadas.
— O que significa isso? — Nicole perguntou, espantada.
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— Os índios da planície falavam línguas diferentes. Como precisavam de uma
maneira de se comunicar entre si, faziam-no com sinais. Convivendo com Mary durante
tanto tempo, acabei aprendendo alguma coisa... Não é difícil, basta prestar atenção.
— William e Mary costumavam falar de nós durante as refeições, usando a
linguagem dos sinais — Gerald contou, rindo. — Não entendíamos absolutamente nada.
— É fascinante — Nicky disse.
— Se pedir a Mary, ela poderá lhe ensinar alguma coisa — William sugeriu.
Uma maneira sutil de se desincumbir dessa tarefa, Nicky concluiu. Não sabia como
iria aguentar um mês perto dele. Mas ela tinha gênio bem forte quando queria e não seria
vencida com tanta facilidade.
— Quer trabalhar hoje? — ela perguntou a Gerald.
— Não, hoje vamos descansar. Por que não vai mudar de roupa? Ponha uma calça
jeans mas volte logo, quero levá-la para conhecer a fazenda.
— Ótimo!
Saiu apressada e nem olhou para William Christopher. Seria uma disputa desigual
Ele era o dono da casa e não parecia pretender poupá-la nem dar-lhe mais atenção por
causa de regras de hospitalidade. Lembrando-se do que Becky lhe contara, até podia
entendê-lo. Mas isso iria tornar a estada muito mais desagradável do que esperava. E o
fato de se sentir perturbada na presença dele só aumentava seu mal-estar.
Becky dissera que no dia que William fora ao escritório ficara olhando para ela. E
por quê? Será que ela lhe lembrava a mulher responsável pelo acidente? Se bem que ela
não era loira, mas talvez os traços fossem parecidos. Deveria perguntar isso a Gerald.
Capítulo 2
Quando Nicole chegou ao quarto com Mary achou-o encantador. Os móveis de
madeira clara, a cama com dossel e o espelho com uma linda moldura sobre a
penteadeira conferiam um aspecto feminino ao ambiente. Havia até uma saleta com
poltronas e almofadas de tecido rosa.
— Era o quarto da mãe dos rapazes — Mary explicou. — É bonito, não é?
— Você acha que eu devo ficar aqui? — Nicole perguntou, hesitando.
Mary piscou para Nicole com ar maroto.
— Sim, tenho certeza. Foi o sr. William quem mandou, com sinais.
— Ele parece muito...— Nicole encolheu os ombros, procurando encontrar as
palavras.
— Revoltado, você quer dizer. Gerald era o filho preferido, por ser uma criança
meiga e obediente. William estava sempre se metendo em confusões, sempre brigando.
Ele era o mais velho, mas não o mais amado. Depois surgiu aquela mulher de lindos
cabelos loiros e ares de moça da cidade. Cá entre nós, ela nunca me enganou. Só
William não via que ela estava a seu lado apenas por ganância. Tanto foi assim que o
abandonou quando ele mais precisava.
— Por isso ele está se escondendo.
Mary sorriu, observando-a com ar arguto.
— Você vê longe.
— Eu conheço bem esse instinto de preservação. Quando nos magoam,
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procuramos nos esconder dentro de nós mesmos.
— Mas acho que ele não compreende isso. Não deixa ninguém se aproximar.
Enquanto estiver aqui, tome cuidado. William tomou aversão às mulheres e poderá
magoá-la. Se quer um conselho, fique longe dele.
— Eu sei me cuidar — Nicole disse, rindo. — Mas obrigada pelo aviso.
Mary encolheu os ombros.
— Desça quando estiver pronta. Está com fome?
— Muita. Eu poderia comer um alce.
— Ótima ideia. Tenho um alce no freezer. Como quer que eu o faça? Assado, frito
ou ensopado?
Nicole caiu na gargalhada.
— Adoro ensopado.
— Eu também. — Mary riu e afastou-se.
Nicole vestiu uma calça jeans e um suéter cinza de mangas compridas, para
agasalhar-se do frio. Calçou sapatos de salto baixo e desceu sem se preocupar em
pentear os cabelos e retocar a pintura. Era gostoso não precisar de nenhum artifício, em
especial depois de tantos meses cuidando da aparência. Afinal, como secretária, não
podia andar de qualquer jeito.
Como não encontrou ninguém na casa, ela foi até o terraço e sentou-se num
confortável balanço. Observou a paisagem repousante da fazenda, onde o verde dos
pastos parecia se estender até o horizonte. Nicole fechou os olhos, sentindo a brisa
deliciosa tocar-lhe o rosto. Aquele lugar parecia um paraíso.
— Você gosta de balanços?
Nicole levantou-se ao ouvir a voz de William. Embora sem chapéu, ainda usava a
mesma roupa com a qual fora ao aeroporto. Fizera a barba, e sem ela a cicatriz ficava-lhe
bem visível no rosto bronzeado.
— Gosto muito — ela disse.
Sem querer examinou-o com curiosidade, achando-o muito atraente sem a jaqueta.
Notou-lhe os músculos do corpo magro, cuja estrutura o fazia parecer ainda mais esguio.
Todo ele ostentava uma elegância meio rude e, apesar de mancar um pouco, seus passos
demonstravam firmeza e segurança.
— Às vezes os veados vêm até o pátio — ele comentou, sentando-se numa
cadeira de balanço. — Há muitos alces e outros animais selvagens aqui no vale. Por isso
tantos milionários entediados vêm para cá. Eles querem caçar, mas na verdade procuram
algo que os moradores da montanha nunca perdem: um sentido real para a vida! Não
gosto muito de lidar com gente rica.
Nicole teve a impressão de que William a reconhecera, mas estava com receio de
tocar no assunto.
— Eu não sou rica — ela afirmou, com tranquilidade. — Mas pensei que você
fosse.
Ao vê-lo esboçar um sorriso sarcástico, Nicole se arrependeu da observação.
— Você pensou?
— Você não entendeu nada.
— Eu entendo as mulheres até bem demais — ele disse com frieza.
Afastou-se dela sem dizer mais nada, quase colidindo com Gerald, que saía da
casa naquele momento.
— Desculpe, William — Gerald murmurou, intrigado com a expressão no rosto do
irmão. — Eu estava procurando por Nicky.
— Estou aqui, sr. Christopher! — chamou.
— Oh, por favor. Aqui pode me chamar de Gerald — disse, aproximando-se.
William saíra batendo a porta, e Gerald o olhou, resignado. Parecia mais moço vestindo
jeans e camiseta. Nicky deu-lhe lugar para sentar ao lado dela no balanço. Sabia que
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William faria tudo para tornar a vida dela um inferno. Para piorar, sem querer ela o
provocara com a sua observação. — Meu pai era o "senhor" Christopher — continuou
Gerald. — Nossa mãe estava fazendo uma excursão por aqui quando meu pai a
conheceu. Ela se perdeu durante um passeio e ele a encontrou. Mamãe estava ferida e
papai cuidou dela até que ficasse boa. Como era natural, ela foi embora pensando que
nunca mais o veria.
— E o que aconteceu depois?
Gerald riu.
— Meu pai foi atrás dela até Nova York. Encontrou-a numa recepção elegante,
tirou-a de lá e levou-a diretamente para a estação ferroviária. Como ele a trouxe para cá,
mamãe teria de se casar com ele mesmo se não quisesse. Você pode imaginar o que as
pessoas falariam se isso não acontecesse.
— Seu pai tinha um jeito muito especial de fazer as coisas — disse Nicky,
pensativa.
— Os dois foram muito felizes. Ela morreu de pneumonia, ele morreu seis meses
depois. Disseram que foi um ataque do coração, mas eu acho que sem ela meu pai
perdeu a vontade de viver. — Fez uma pausa e acrescentou: — Sinto muito que William
seja tão desagradável. Você não tem medo, não é? É uma boa pessoa.
— Não tenho medo dele. Você deve sentir falta de tudo isso em Chicago.
— Sinto falta disso e de outras coisas. — Gerald olhou com uma expressão triste
na direção de uma casa no alto da montanha. — Sadie Todd mora naquela casa — ele
comentou, absorto. — Temos de fazer-lhe uma visita enquanto estivermos aqui.
— Ela era enfermeira num hospital de Chicago, não era?
— Sim. Teve de sair do emprego e vir para cá porque a mãe teve um derrame. A
sra. Todd está completamente paralisada de um lado e parece ter perdido o interesse em
viver... Sadie disse que não podia deixá-la nas mãos de estranhos. O pai dela já faleceu.
Após a partida de Sadie, Gerald ficara muito triste. Sem dúvida, o excesso de
trabalho e a tensão haviam contribuído muito para o surgimento da úlcera. No entanto,
Nicky tinha certeza, a ausência de Sadie fora o fator decisivo no desenvolvimento daquele
processo. Em especial porque Gerald tinha a mania de trabalhar muito mais quando
estava aborrecido. Também a decisão de passar um mês de férias em Montana parecia a
Nicky pura saudade.
— Gostaria muito de vê-la — Nicky disse, com um sorriso.
— Você é uma boa moça, Nicole. — Levantou-se. — Vou dar uns telefonemas.
Fique aí para admirar a vista, se quiser.
— Está bem.
Nicky recostou-se no balanço e descansou até ouvir Mary chamá-la para o lanche.
Sentou-se na cozinha espaçosa, deliciando-se com um enorme sanduíche de presunto e
um copo de chá gelado. Enquanto Mary preparava o que prometia ser o maior ensopado
de alce do mundo, as duas conversaram sobre a fazenda e a vida no campo. Depois
Nicole resolveu dar um passeio pelas redondezas e foi caminhando até o rio.
Tentava imaginar aquela região quando ainda era selvagem e despovoada. O pai
de Gerald devia ter muito espírito de aventura para arriscar-se a viver em Montana
quarenta anos atrás. Na certa, fora dele que William herdara o espírito tão inquieto e
sedento de novas sensações. Gerald, por sua vez, devia ter puxado da mãe a calma e a
reflexão. Os dois irmãos eram diferentes em tudo e, talvez por isso mesmo, se dessem
tão bem. Não era difícil imaginar o quanto os pais de ambos haviam sido felizes no
casamento se desfrutavam da mesma harmonia que Gerald e William.
Tudo tão diferente da vida familiar dela própria, pensou com tristeza. Em vez de
amor, o que sua família mostrava era elegância, festas, riqueza. Sentou-se numa enorme
pedra ainda refletindo sobre isso e ficou ouvindo o ruído da água descendo o rio. Ela
preferia esse tipo de riqueza. Árvores, gado e terras.
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— Sonhando acordada?
Virou-se e viu William Christopher montado num lindo cavalo preto, observando-a.
— Eu estava olhando o rio. Há um em Chicago, mas naturalmente não é a mesma
coisa. Só tem aço e concreto a sua volta, em vez de árvores.
— Eu sei. Já estive em Chicago.Aliás, já estive também no escritório. Você não se
lembra de mim, não é?
Ela se lembrava. Apenas um olhar já bastara para reter a imagem dele na
memória, mas Nicky não queria que William soubesse disso. Por essa razão evitou dar
uma resposta direta.
— Estou sempre muito ocupada. Em geral, não presto atenção às visitas.
— Na manhã em que fui ao escritório você parecia mesmo muito atarefada,
sentada na frente de um computador com uma pilha de folhas datilografadas ao lado e um
telefone na mão. Você mal levantou a cabeça quando entrei na sala de Gerald. Além
disso, eu estava usando terno e gravata. Fica difícil comparar com esse bicho do mato.
— Não consigo imaginá-lo num terno, sr. Christopher.
— William. Não sou tão mais velho do que você. Apenas uns onze anos. Tenho
trinta e quatro.
— Que idade tem seu irmão? — perguntou, curiosa.
— Trinta.
— Às vezes ele me parece mais velho. Por exemplo, quando comparece às
reuniões de acionistas.
— Não duvido. Fico feliz por não precisar tratar dessas coisas. É assunto de
Gerald agora. Eu só dirijo a minha fazenda, e o único acionista que devo agradar é a mim
mesmo. Gerald não possui ações nem se interessa em discutir sobre as decisões que eu
tomo.
— Você herdou a fazenda, não foi?
William a encarou por um momento, e Nicole esperou por uma resposta malcriada.
Não era mesmo da conta dela, perguntara só por curiosidade.
— Foi o desejo de meu pai. Ele sabia que eu adorava tudo aqui e que ia me
dedicar de corpo e alma. Você vai descobrir que Gerald tem muito jeito com negócios,
mas nenhum para criação de gado.
Nicole olhou para o rio, que seguia com tranquilidade seu caminho por entre as
montanhas majestosas.
— Estava pensando na vida quando você chegou. Podia ser tudo como o curso
desse rio, calmo e contínuo. Não deveria haver correria, morte, guerra, sofrimento. As
pessoas deveriam ter chance de escolher a vida que gostariam de ter em todos os
sentidos, sem aceitar imposições de ninguém... Desculpe, acho que estou aborrecendo
você com essas tolices.
— Não acho tolices, não. Eu mesmo já me perguntei por que temos de aceitar
coisas que não queremos, especialmente as ruins. Mas não adianta falarmos nisso. Não
existe uni modo de vida como nós dois gostaríamos. Onde está Gerald?
— Acho que ficou na casa. Disse que tinha uns telefonemas importantes para dar,
mas que não íamos trabalhar hoje.
— Quer voltar a cavalo? — ele disse, mas depois pareceu arrepender-se de ter
feito o convite. 
De repente, Nicky sentiu vontade de provocá-lo.
— E se eu aceitasse? — perguntou. — Você parece preferir matar o cavalo a me
deixar montá-lo.
— Por que está dizendo isso?
Ela sorriu.
— Posso não aceitar o convite, se você se arrependeu de tê-lo feito. Aliás, na certa
eu cairia, este cavalo é muito alto.
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Nicole reprimiu o riso diante do próprio cinismo. Crescera numa fazenda de cavalos
e montava muito bem desde criança.
— É alto, sim. Mas eu não deixarei você cair. Venha.
William tirou o pé do estribo e estendeu o braço, num impulso que ele mesmo não
entendia. Queria senti-la perto de si, tocá-la. Sentia-se em perigo e queria recuar, mas
não conseguiu. Por sua vez, Nicole se arrependeu da brincadeira ao sentir-se tão próxima
dele. William não teve dificuldade em puxá-la para junto de si, acomodando-a na sela.
Segurou-a pela cintura com delicadeza, e seus corpos se tocaram. Nicole sentiu um calor
estranho aquecer-lhe o corpo e a alma envolta naqueles braços fortes.
— Não tenha medo, não vou deixá-la cair — ele assegurou, falando-lhe bem junto
ao ouvido. — Sou um dos melhores cavaleiros da região, sabia disso?
— Não estou com medo e confio na sua palavra. Aposto que as mocinhas das
redondezas disputam muito essa garupa. Você só finge não saber disso, não é?
— Você é muito franca.
William apertou-a um pouco mais, enquanto fazia o cavalo andar, controlando-o
com mãos e pernas fortes.
— Eu tento ser.
Na verdade, Nicole estava um tanto embaraçada com a vida de mentiras que
levara desde que saíra de Kentucky. Entretanto, ela não poderia contar a verdade a
William logo no começo. Desconfiado como era, na certa ele interpretaria mal a presença
dela na fazenda. Transformaria a estada dela ali numa enxurrada de acusações
descabidas, sem lhe dar sequer chance de se defender. Além disso, seria por pouco
tempo e, quando ela voltasse para Chicago, ele nem se lembraria mais dela.
Nicole reparou nas mãos dele segurando as rédeas, dedos longos e morenos.
— Você tem mãos bonitas — deixou escapar.
— Não gosto de bajulação.
— Se prefere assim, você é feio, rabugento e malcriado — respondeu
imediatamente.
Havia muito tempo que nada o fazia rir. Mas aquela jovem de rosto inocente e
misterioso ao mesmo tempo o fazia sentir-se vivo outra vez, trazendo cor e luz para a sua
escuridão. Antes que pudesse reprimir, soltou uma gargalhada sonora.
Ao ouvir-lhe a risada, Nicole ficou satisfeita. Tinha quase certeza de que não ria
assim com muita frequência e a alegrou provocar tal mudança tão depressa.
William apertou-a por um instante com doçura, quase como se a abraçasse. Uma
onda de calor a invadiu, deixando-a assustada. Era cedo demais para estar tão
vulnerável. Se não tomasse cuidado, acabaria em sérias complicações.
— Cuidado, srta. White — William murmurou-lhe junto ao ouvido, com voz suave e
perigosa. — Deixe o namoro para Gerald. Estará mais segura.
Ele a deixou no terraço, segurando-a de modo a fazê-la escorregar até o chão. Por
um instante os rostos de ambos ficaram muito próximos e foi impossível evitar o encontro
de olhares. Nicole ficou irritada de repente por William insinuar a existência de um namoro
entre ela e Gerald.
— Até logo — William murmurou e partiu. 
la ainda ficou algum tempo sozinha tentando desvendar o mistério das suas
emoções.
O jantar foi muito calmo. William não estava em casa quando ela e Gerald
sentaram-se à mesa de refeições com Michael Slade, o administrador da fazenda.
Corpulento, de trinta anos mais ou menos, parecia muito competente e capaz de resolver
qualquer problema da fazenda.
— O patrão disse que não estaria de volta a tempo para o jantar — ele comentou.
— Teve de ir até a cidade para comprar provisões. Eu poderia ter ido em seu lugar, mas
ele não quis, disse que tinha ainda outras coisas para fazer.
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— É estranho ele não ter tratado disso antes de nos apanhar no aeroporto —
Gerald observou. Enquanto falava, levou um comprimido à boca e tomou um gole de água
para engoli-lo.
O médico o dispensara de qualquer dieta alimentar, mas Mary não concordava com
isso. Ele olhou com desgosto para a sopa de ervilhas e mais ainda para o suco de maçã.
Em seguida, olhou para Mary, suspirou, e acabou cedendo, como fazia desde criança.
Pegou a colher e começou a tomar a sopa.
— William é assim mesmo. Imprevisível — Gerald observou. — Como vão as
coisas por aqui, Mike?
O administrador começou a falar sobre os pastos de inverno, as cercas que
necessitavam sempre de consertos, o armazenamento do feno, a seleção das vacas para
fazer transplante de embriões. Às vezes olhava para Nicole, como se desculpando por
falar de coisas das quais ela não devia estar entendendo nada.
— Tenho um parente que já trabalhava no transplante de embriões quando ainda
era apenas uma teoria — ela interveio com naturalidade. — O trabalho deu ótimos
resultados. Agora estão adotando um outro sistema, implantar chips de computador sob a
pele para controlar o rebanho...
— Eu li a respeito disso — concordou Mike, um tanto espantado.
— O sr. Christopher deve ficar muito orgulhoso em ter um empregado como você
— Nicole comentou ao final da conversa. — Está a par de tudo o que se relaciona com
uma fazenda.
— Desculpe-me, mas a senhorita também. É a primeira vez queencontro uma
mulher que entende tanto de gado.
— E eu nunca encontrei um homem que falasse tão bem sobre o assunto — Nicole
retrucou, rindo.
Depois de Mike se retirar, os dois foram tomar café no terraço.
— Eu sempre pensei que você fosse de Chicago, até você dizer que era do
Kentucky. Parece incrível que trabalhamos juntos durante dois anos e não sabíamos nada
um do outro.
— Isso é normal entre patrões e suas secretárias. Mas é muito bom trabalhar com
o senhor. Não humilha a gente, como alguns dos vice-presidentes da firma.
Ele riu.
— Eu tento não me exaltar. Isso é coisa de família. William também é assim. Mas
já o vi acabar com uma briga entre dois homens somente com um olhar.
— Ele tem uma personalidade muito forte... e não gosta da minha presença nesta
casa.
Gerald encolheu os ombros, irritado.
— Faz três anos que William vive isolado aqui, sem ver ninguém. Só organiza
essas caçadas para amenizar um pouco o tédio. Não tem amantes nem namoradas. Aliás,
faz tudo para evitá-las desde que Deanne o abandonou. Você notou como parece mancar
de propósito? — disse, olhando-a preocupado. — Não é tão grave assim. Ele poderia
andar normalmente se fizesse um esforço, mas precisa disso para nunca esquecer do
que Deanne lhe fez.
— Ouvi falar que ele era um playboy até alguns anos atrás.
— Era mesmo. O maior conquistador que já conheci. E Deanne se interessou por
ele exatamente por isso. Não creio que realmente quisesse magoá-lo. Ela era jovem, e
William a mimava demais. Mas, quando ele foi ferido, Deanne imaginou que fosse ficar
amarrada a um aleijado para o resto da vida e decidiu fugir. Meu irmão ficou arrasado. O
orgulho dele não suportou a humilhação de ficar defeituoso e ser abandonado, tudo ao
mesmo tempo.
— Coitado — Nicole suspirou, penalizada.
— Nunca sinta pena dele. Ele está defendido por uma fortaleza e, se você lhe der
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chance, ele fará de você um bode expiatório. Não deixe que ele a magoe.
— Você acha que ele faria isso?
— Acho que ele sente atração por você. E eu tenho a impressão que ele também a
atrai. William não gosta de se sentir vulnerável. Tome cuidado.
Mais tarde, quando foi para o quarto, essa conversa não saía da cabeça de Nicole.
Quando a imagem de William lhe vinha à mente, tinha a impressão de nunca ter estado
tão sozinha. Desejava estar com ele, compartilhar-lhe a dor, aliviá-lo. Não sabia como
lidar com essas sensações desconhecidas e, além disso, também tinha suas recordações
amargas. Como William, não queria envolver-se. Mas existia algo entre eles capaz de
desencadear dentro dela uma verdadeira avalanche de sensações incontroláveis.
Estava quase adormecendo quando ouviu passos no corredor. Devia ser William
chegando em casa. Sem saber por quê, Nicole desejou vê-lo mais uma vez naquela noite.
Quase se levantou da cama para ir ao encontro dele, mas controlou-se. Não teria
cabimento se deixar levar por um impulso que, ela sabia, seria interpretado da pior
maneira. Além do mais, não havia nada para conversar com ele. William levava a sério
demais aquele preconceito contra as mulheres. Ela faria melhor se mantivesse distância
daquele homem misterioso, irascível... e inegavelmente fascinante!
Capítulo 3
Apesar das recomendações de William para Nicole não se aproximar dos cavalos,
os animais a atraíam. Uma das suas melhores recordações da infância na casa dos pais
em Kentucky era ver o velho Ernie cuidando dos puros-sangues quando estes atingiam a
época de treinamento.
Além dos cavalos de sela, a maioria quarto de milha, William possuía no mínimo
dois puros-sangues de inconfundível origem árabe. Para Nicole não era segredo que
todos os puros-sangues americanos deviam a sua origem a três cavalos árabes
importados pela Inglaterra, no final do século XVII e início do século XVIII: Byerley Turk,
Godolphin Barbe e Queen Anne.
Os animais de William também tinham as características marcantes dos puros-
sangues. Ela os observava durante o seu breve passeio pelos estábulos e curral. Um
deles era uma égua prestes a dar cria, o outro, um garanhão. Ambos com pelo castanho e
excelente forma física. Nicole quisera fazer perguntas sobre eles durante o café da
manhã, mas William não demonstrava muito bom humor.
Nicole passara duas horas trabalhando com Gerald no escritório. Terminado o
serviço, vestira uma calça cinza de lã e um pulôver branco para dar um passeio e admirar
os cavalos. O garanhão estava ali, mas ela não viu a égua.
Um ruído vindo do estábulo chamou-lhe a atenção. Não conseguia ver nada ao se
aproximar, por causa da escuridão, mas parecia o gemido de dor de um cavalo misturado
ao som de uma voz praguejando, que ela reconheceu imediatamente.
Entrou na penumbra do estábulo, andando com cautela pelo corredor entre as
baias.
— William — chamou.
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— Estou aqui.
Seguiu o som da voz dele até a última baia do corredor. A égua estava deitada de
lado, respirando com dificuldade, e William estava inclinado sobre ela, com as mangas da
camisa arregaçadas e sem chapéu. O rosto severo revelava preocupação.
— É coisa séria? — quis saber, inquieta.
— Mais ou menos — ele murmurou, examinando a barriga esticada da égua com
mãos suaves e seguras. — É a primeira cria e está em má posição. Que azar! Vá chamar
Johnny Blake e diga-lhe que eu preciso dele aqui. Não posso fazer isso sozinho. Ele deve
es...
— A égua estará morta até que eu possa encontrá-lo. — Nicole entrou na baia,
sem olhar para William, e aproximou-se da égua, falando com voz suave. Enquanto
William a observava, ajoelhou-se junto ao lindo animal, olhando-o nos olhos castanhos.
Sentou-se, acariciando a égua e, tornando-lhe a cabeça com cuidado e colocando-a
sobre os seus joelhos, passou os dedos pelo focinho do animal com suavidade, falando
baixinho para acalmá-lo.
— Ela agora o deixará ajudá-la — disse a William, quando a égua se mostrou
menos agitada.
Ele a olhou com curiosidade por uns segundos, depois se abaixou para realizar a
tarefa.
— Acho que ela vai deixar. Mas você vai estragar esse suéter elegante.
Nicole sorriu com naturalidade.
— Antes o suéter do que perder a égua — afirmou.
Continuou ao lado do animal, falando com voz suave o tempo todo, acariciando-lhe
a crina e abraçando-lhe a cabeça tremula, enquanto William ajudava o potro a nascer. A
égua parecia pressentir a intenção de Nicole de socorrê-la e aceitava-lhe os carinhos com
mansidão.
Minutos depois, surgiram diante dos dois as patas traseiras do recém-nascido, logo
seguidas pelo resto do corpo. William riu, triunfante, quando o pequeno ser caiu sobre o
feno, e ele limpou-lhe as narinas.
— Um potro! — ele exclamou, satisfeito.
Nicole sorriu, surpresa ao ver calor nos olhos dele, em geral tão frios.
— E é saudável também — disse ela. Encarou-o e, de repente, uma sensação
estranha a invadiu diante da intensidade do olhar de William. Abaixou os olhos e acariciou
mais uma vez o animal antes de levantar-se. Queria deixar o espaço livre para a égua
reconhecer a cria e acariciá-la.
— É um puro-sangue, não é? — Nicole perguntou. — O garanhão tem uma
conformação perfeita. Assim como a égua. Ele pode ser um campeão.
— O garanhão descende dos primeiros puros-sangues americanos — ele disse,
franzindo a testa ao afastar-se para lavar as mãos e braços num balde d'água. — Como
sabe disso?
— Kentucky é a terra dos cavalos de corrida — Nicole sorriu, fugindo da pergunta.
Não queria contar-lhe o quanto sabia sobre puros-sangues. Embora tivesse se
condenado, comportando-se daquela forma com a égua, precisava encontrar uma
desculpa. — Fui criada com puros-sangues. Sempre pedia ao treinador de uma fazenda
vizinha para ajudá-lo, e ele me ensinou muita coisa sobre eles. Na verdade, era um dos
maiores haras de Lexington, o Rockhampton Farms. — Arrependeu-se da última
observação no mesmoinstante; Rockhampton era o nome do avô dela por parte de mãe,
cuja família possuía as cocheiras já há três gerações. Agora, William ligaria esse fato a
Dominic White, pai dela e o atual proprietário. Como costumava organizar caçadas, talvez
ele até já conhecesse Dominic, um excelente caçador.
— Já ouvi falar — William retrucou, olhando-a com desconfiança e curiosidade,
enquanto abaixava as mangas da camisa e abotoava os punhos. O nome dela era White.
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Não era esse o nome do turfista do jet set de Kentucky que vinha com o grupo do Leste
para caçar? Sim. Era isso. E Dominic White era o dono de Rockhampton Farms. — O
dono do Rockhampton é White. É seu parente?
Nicole esboçou um sorriso tranquilo.
— White é um nome muito comum. Eu pareço uma milionária?
— Para ser franco, não. E não creio que estaria trabalhando para Gerald se tivesse
tanto dinheiro. — William relaxou um pouco com a própria constatação. Não desejava ter
nenhuma mocinha rica e entediada perto dele. Não suportava ninguém semelhante a
Deanne. — Eu já estive em Kentucky, mas não conheço a propriedade dos White. O meu
garanhão veio do O'hara.
Nicole sentiu-se aliviada por conseguir despistá-lo. Não queria que ele soubesse
da verdade, pelo menos enquanto ela estivesse na fazenda. Com um pouco de sorte, ela
já teria voltado a Chicago antes disso, e o assunto não incomodaria mais a nenhum dos
dois. O que importava agora era o seu patrão curar-se da úlcera e não preocupá-lo com
discussões entre ela e William.
Apesar de ter suas razões, William generalizava seu rancor contra todas as moças
ricas. Se soubesse da verdade, nunca a perdoaria por não lhe ter dito tudo desde o início.
Por um momento pensou em contar-lhe; depois percebeu que não poderia fazê-lo. Já não
gostava dela e seria melhor evitar novos motivos para aquela antipatia. Na certa, ele a
odiaria quando descobrisse, mas então não teria mais importância. Mas havia algo mais
importante para Nicole naquele momento. William a intrigava, e ela não perderia a chance
de conhecê-lo melhor, ainda mais agora, quando captara um traço de ternura na
turbulenta personalidade do irmão do chefe.
— Eu não teria conseguido isso sozinho — ele afirmou com voz calma. —
Agradeço a sua ajuda.
— Eu gosto muito de cavalos. E fico feliz que tenha dado tudo certo.
— O pai dele era um grande campeão, mas foi ferido durante uma corrida no ano
passado. Eu o comprei para começar uma criação de cavalos em vez de deixar que o
sacrificassem. Eu tinha um dinheiro sobrando e então comecei a me interessar por
cavalos de corrida. No ano passado frequentei bastante os hipódromos.
Nicole o encarou, descobrindo outra faceta intrigante do caráter de William. Ele era
incapaz de ver um animal sofrendo e, entretanto, detestava mulheres.
William percebeu seu olhar. Era obrigado a reconhecer em Nicole muitas
qualidades interessantes, e as emoções que ela lhe despertava o deixavam apreensivo.
Havia se preocupado tanto em sufocar as emoções dentro de si e no entanto ela as
estava expondo com uma facilidade desconcertante.
— Você não gosta de mim, não é? — Nicole perguntou de repente. — Por quê? É
por que não sou bonita, ou por ser apenas uma secretária...
— Você é bonita.
William observou-lhe por um momento a suavidade do formato oval do rosto, os
olhos grandes e verdes, a delicadeza da boca pequena e sensual. A pele clara possuía a
textura do cetim, talvez porque ela fosse tão jovem.
— Não é nada pessoal — ele afirmou, desviando o olhar.
— Já que está sendo tão franco, espero que não se ofenda com o que vou lhe
dizer. Eu sei mais ou menos o que lhe aconteceu e por quê. Sinto muito. Mas odiar-me e
tornar a minha vida um inferno durante as próximas semanas não vai apagar suas
recordações ruins, só vai contribuir para aumentá-las. Não poderíamos ser inimigos
cordiais? — perguntou sorrindo. — Prometo que não vou seduzi-lo.
William olhou-a, espantado. Era muito inesperado. Teria de pensar.
— O que sabe sobre sedução, chapeuzinho vermelho?
William sorriu, e por um instante, Nicole sentiu-se diante do que ele fora antes do
acidente.
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— Na verdade, não muita coisa. Você devia encarar isso como uma vantagem.
Afinal, isso lhe evitará muitos problemas. Imagine se eu fosse experiente, sofisticada e
estivesse muito interessada em você...
A expressão insinuante assumida pelo rosto delicado de Nicole fez William desviar
os olhos dos lábios dela para encará-la nos olhos risonhos, cujos cílios eram muito longos
e davam-lhe um ar sexy. Era alta e esguia, ficava muito bem com aquela calça justa, e o
suéter moldava-lhe com perfeição os seios rijos.
— Acho que ela vai querer tomar água agora — ela o lembrou, procurando mudar o
rumo da conversa.
— Está nervosa por minha causa? Não precisa se preocupar comigo.
— Se eu desse ouvidos a mexericos, na certa estaria preocupada, mesmo. Em
geral, faz parte de um jogo fingir não ligar para quem se está fazendo charme.
O sorriso de William desapareceu.
— Eu não faço jogo com mocinhas, minha querida. E bom se lembrar disso.
Também não sou tão canalha a ponto de me vingar em você.
Ele se aproximara tanto que Nicole podia sentir-lhe o calor, e isso lhe causou
prazer e angústia ao mesmo tempo. Nunca tivera esse tipo de reação antes. Nem com
Chase.
— Posso não ser tão ingênua quanto pareço — ela murmurou, chocada consigo
mesma por instigá-lo daquela forma, William olhou-a nos olhos, sentindo o sangue
esquentar nas veias e o coração acelerar. O perfume dela o perturbava.
Nicole achou melhor interromper aquela ligação poderosa que começava a surgir
entre os dois.
— Preciso voltar para casa — ela disse depressa. — Seu irmão tinha de dar um
telefonema e agora vai querer ditar umas cartas. Estou contente que tenha corrido tudo
bem com a égua. — Sorriu para ele e saiu apressada.
Ao vê-la partir, William sentiu uma mistura de emoções. Raiva. Irritação. Desejo.
Frustração. Enquanto dava comida e água para a égua e cuidava do potro, mancou mais
do que de hábito.
Nicole fez o possível durante o dia para não encontrar o imprevisível irmão do
patrão. Mas não conseguiu evitá-lo durante o jantar e lutava para disfarçar a perturbação.
Naquela noite, William dera mais atenção à própria aparência. Tomara banho e
estava com a barba feita. Usava uma camisa branca, o que destacava ainda mais sua
pele bronzeada. Era fácil imaginar como agradara às mulheres quando era mais moço.
Ainda era um homem atraente, e não apenas por ser bonito. Havia nele algo indefinível,
uma sensualidade vibrante e dominadora. Uma perturbação estranha a invadia quando
estava perto dele.
Gerald comentava sobre o preço de imóveis que adquirira, mas William mal o
ouvia. Não conseguia afastar os olhos de Nicky, embora a observasse de modo discreto.
Ela usava aquele vestido de jérsei cinza que lhe realçava as curvas do corpo harmonioso.
Sem querer, ele se lembrava das próprias emoções daquela tarde, e isso o preocupava.
Nicky evitava-lhe o olhar, e isso o deixou impaciente. Interrompendo a refeição,
William deteve o olhar sobre ela, ignorando por completo a conversa do irmão.
Nicole sentiu-lhe o olhar fixo e, levantando a cabeça, encarou William num desafio
mudo.
Brotou uma tensão entre eles. Não conseguiam afastar os olhos um do outro,
numa troca de olhares tão profunda e intensa quanto um beijo.
— William, você está ouvindo? — Gerald perguntou de repente, chamando o irmão
de volta à realidade. William voltou-se para ele como se despertasse de um sonho.
— Você falava sobre o preço dos imóveis?
Era difícil para Nicole também controlar as próprias emoções. Tomou o café recém-
servido, perdendo-se em indagações inquietantes. William continuou a encará-la, já sem
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se preocupar em disfarçar isso, mas ela achou melhorfingir não percebê-lo.
Durante os dias seguintes, Nicole e William se evitaram. Todos notaram o
comportamento esquivo dos dois, e Mary começou a fazer perguntas para as quais Nicole
não tinha respostas. A situação poderia prolongar-se por mais uma semana, se Nicole não
desse um encontrão com William na escada.
William a amparou, ajudando-a a equilibrar-se. No entanto, não a deixou afastar-
se, mantendo-a presa num abraço terno.
Nicole não fez nenhum gesto para reagir, enquanto ele a apertava contra si com
doçura. A sala estava envolta na penumbra cúmplice do crepúsculo e, num impulso,
William encostou o rosto nos cabelos de Nicole, sentindo-lhe o perfume.
Por um instante, tudo parecia certo e natural. Ele fechou os olhos, e os motivos
racionais para não se entregar desapareceram. O silêncio era rompido apenas pela
cantiga do vento a fazer sussurrar as folhagens.
Nicole não ouvia nada além das batidas do próprio coração. O mundo deixou de
existir enquanto ela usufruía da felicidade de estar aconchegada nos braços de William.
— Poderíamos sair muito magoados disso — ele murmurou junto ao ouvido dela.
— Você não tem experiência para entender o risco, e não tenho certeza se eu não iria
descontar em você todas as minhas mágoas. Não quero fazer isso, mas... O que estamos
fazendo é loucura.
— Sim.
Passava o rosto em seus cabelos.
— Estou falando sério, Nicky. 
Nicole se afastou dele devagar, encarando-o com relutância. Olhou-o curiosa,
excitada.
— Está com medo de mim?
— De uma certa maneira, sim. — William sorriu ao tocar-lhe o rosto numa suave
carícia. — Eu não gosto de começar algo que não posso terminar.
— O que quer dizer? — Nicole insistiu.
Por um momento, ele a olhou nos olhos, depois afastou-se dela.
— Você vai descobrir. — Em seguida, pareceu lembrar-se de alguma coisa. —
Quando for passear, não vá além do pátio. Um dos empregados viu um lobo hoje. Não
quero que nada lhe aconteça. Posso nunca ser seu namorado, mas vou cuidar de você
enquanto estiver aqui.
Deu-lhe as costas e foi embora, sem dar-lhe chance de retrucar. Nicole ficou
emocionada com a preocupação dele em vê-la em segurança. Embora não declarasse,
ela sentia em William a mesma vibração de sentimentos intensos que ela própria
experimentava.
Ela podia entender-lhe a relutância em admiti-lo. Também estava assustada ao
perceber como as suas defesas desapareciam quando estava perto dele. Pensando
nisso, manteve-se calada durante o jantar, e quase não conversou com ninguém até a
hora de dormir. As férias do seu patrão estavam se tornando muito complicadas para ela.
Precisava lutar contra aqueles sentimentos novos e tão perturbadores despertados por
William.
Depois desse dia, a vida na fazenda entrou numa rotina agradável. Nicole e Gerald
trabalhavam bastante, e nas horas vagas ela passeava pela fazenda ou conversava com
Mary na cozinha. William a tratava com cortesia, mas mantinha-se distante, embora às
vezes Nicole lhe surpreendesse os olhos escuros observando-a de um modo excitante.
Dias depois, ela descansava na varanda quando ouviu o gado mugindo, vozes
animadas e não resistiu ao desejo de ver William. O gado estava reunido num curral
provisório, perto das cocheiras e dos estábulos. Quando ela se aproximou do local,
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William, montado a cavalo, ajudava a levar o gado para um cercado onde era vacinado e
tratado.
A perna não parecia incomodá-lo. Ele cercava e laçava com a mesma facilidade
dos outros vaqueiros, parecendo divertir-se com as tarefas rotineiras. Envolvido com o
trabalho, todo ele irradiava uma sensualidade espontânea, talvez por estar relaxado e
feliz.
Ao observá-lo assim, descontraído, Nicole percebeu como ele era antes do
acidente. Sem querer, sentiu uma vontade enorme de ajudá-lo a ser como antes, de
resgatá-lo da revolta e dos rancores presentes dentro dele. Mas como poderia fazê-lo, se
William não a ajudasse?
De repente, ele desceu do cavalo para ajudar a pegar um bezerro, que
aparentemente precisava de tratamento. Armou o laço e, quando laçou o animal, um dos
vaqueiros derrubou-o sem querer. Porém, o rapaz logo correu para ajudá-lo. William
massageou a perna e mancava de maneira mais pronunciada quando se virou, puxando o
cavalo pelas rédeas.
Ao ver Nicole na cerca, ele ficou imóvel e, mesmo à distância, Nicky podia
perceber-lhe a raiva. Desceu da cerca e afastou-se a passo rápido em direção a casa.
Decidida a evitá-lo, Nicole tomou a direção da mata ao perceber que ele vinha em sua
direção.
Não sabia bem por que ficara embaraçada, mas não queria iniciar outra discussão
naquele momento.
Mas os esforços dela foram inúteis. Logo William a alcançou, puxando o cavalo e
mancando bastante.
— Por que está fugindo? — ele perguntou, sarcástico. Nicole encarou-o,
procurando manter a calma. Para piorar, a expressão de William não era acolhedora.
— Porque não quero discutir com você agora.
— Queria ver se o aleijado ainda podia laçar um bezerro?
Nicole aproximou-se dele e, sem pensar, colocou-lhe os dedos sobre os lábios.
— Não diga isso — protestou com voz suave. — Você não é aleijado. É um homem
que manca.
William ficou perturbado com o toque suave e carinhoso da mão dela. Num
impulso, segurou-lhe a mão macia, mantendo-a junto ao rosto, como se não quisesse
interromper o contato.
Uma ternura profunda inundou Nicole ao perceber a dor expressa nos olhos
escuros de William. Ele lhe segurava a mão com força, como se o gesto lhe trouxesse
algum conforto.
— Não quero que venha aqui — ele disse, calmo, olhando-a nos olhos.
Num gesto lento, ela soltou a mão e passou os dedos sobre a cicatriz que lhe
marcava a face. Pela primeira vez, sentia-o vulnerável, despido de todas as defesas.
— Você nunca fala nisso?
Ele estava muito perto. Perto demais. Podia sentir seus músculos quando se
movia. Ouvia sua respiração e sentia seu calor.
Ele lhe enfiou os dedos nos cabelos, acariciando-a, enquanto com a outra mão
erguia-lhe o queixo, forçando-a com suavidade a levantar a cabeça.
— Faz muito tempo que não beijo uma mulher. Sabe que tenho me controlado para
não fazê-lo? Faz muito tempo que estou sozinho. Não sei enganar ninguém, já lhe disse
isso. Talvez estejamos começando alguma coisa que acabará destruindo nossas vidas.
Nicole aceitou a carícia dele com um sorriso calmo, lançando-lhe um olhar cheio de
compreensão.
— Não tenho medo de você.
— Eu não gostaria de fazê-la ficar com medo, Nicole.
Ela se deixava envolver pela aura de sensualidade que emanava da voz de
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William. Entreabriu os lábios, num convite mudo que não podia evitar. Nunca sentira uma
atração tão poderosa por ninguém, nem mesmo por Chase, com quem pretendera se
casar.
William beijou-a com um misto de raiva e paixão. Não queria ceder às provocações
daquela criança brincando com a sensualidade. Ao mesmo tempo, não conseguia evitar
de se atormentar com emoções que ele não desejava sentir nunca mais...
Nicole entregou-se por completo, sem esboçar nenhum gesto para reagir. Desejava
demais aquele beijo e não conseguia fingir o contrário. Aquele era o primeiro contato com
a paixão, e Nicole ansiava cada vez mais por estar perto dele. Sentindo-se envolta num
abraço apaixonado, deixava-se arrastar pela onda de sensações desconhecidas. .
Abraçou-o também, correspondendo à carícia com o corpo inteiro. Nenhum receio
a assaltava naquele momento, esquecida por completo de todas as lembranças
desagradáveis. Mas, de repente, William afastou-se.
— Você não vai se defender? — ele quis saber, admirado. Nicole aconchegou-se
ainda mais ao corpo dele, a boca macia entreaberta, esperando, prometendo.
— Não, eu desejo isso também.
William beijou-a de novo, com suavidade e paixão ao mesmo tempo. Não havia
defesa capaz demascarar-Ihe o desejo naquele momento, em especial porque Nicole o
aceitava de forma tão natural.
Ela o abraçou ainda mais, abrindo os lábios ávidos de prazer. Com a língua
provocava-o de modo instintivo, quase inocente e, ao mesmo tempo, audacioso.
— Desculpe-me — William sussurrou, separando-se dela de repente. — Acho que
já nem sei beijar uma mulher. Sinto muito se a machuquei.
— Mas você não me machucou... pelo contrário.
William afastou-lhe os cabelos da testa, tocando-a com ternura. Havia nela algo de
selvagem e inocente, forte e vulnerável ao mesmo tempo, e isso o atraía. Evitara admiti-
lo, mas agora sabia que seria inútil. Desejava demais tomá-la nos braços, sentir-lhe o
calor dos lábios.
— Por que estava me observando? — ele quis saber.
— Não sei. Só queria vê-lo trabalhando. Você me perturba, mas isso não me
assusta mais.
— Pois deveria. — Abraçou-a, beijando-a com ternura na testa.
Nicole o encarou, um tanto confusa.
— Em geral não me comporto desse jeito — murmurou.
— Eu sei, também não entendo o que está havendo comigo.
Beijou-a de novo, com ardor e ternura ao mesmo tempo. Mas, desta vez, Nicole
não conseguia se entregar. Uma confusão de ideias invadiu-lhe a mente diante da súbita
ansiedade com que William explorava-lhe a boca. Não podia perder o controle naquele
momento. Afastou-o com um gesto sutil mas firme.
— Não! — disse, tremula.
Ele mordeu o lábio inferior, confuso, contrariado.
— Você é um homem experiente — ela murmurou. — Eu nunca... Eu não posso.
Sinto muito.
Apesar da respiração ofegante, William não parecia zangado. Beijou-lhe as
pálpebras.
— Não se preocupe. Dizem que isso passa logo, mas não posso garantir. Não
costumo recuar quando chego a este ponto. Eu não planejei isso. Eu queria... Diabos, eu
não sei o que queria. Talvez assustá-la,
— E conseguiu.
Ele riu.
— Consegui coisa nenhuma. No começo, foi você quem me assustou.
William afastou-se para olhá-la, preocupado e curioso. Ela enrubescera, e os olhos
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tinham um brilho febril.
— Tudo isso é novo para mim também, mas não há motivo para ficar assustada.
Foi apenas um beijo. Eu nem a toquei de um modo que pudesse ofendê-la.
— Não é medo — ela murmurou. Abaixou os olhos sem saber como explicar a
intensidade dos seus sentimentos, a dolorosa ternura que estava começando a sentir por
ele.
— Você tem medo da intimidade?
— Tenho medo de me envolver. Tanto quanto você. E você, por que tem medo?
Ele se inclinou e beijou-lhe a testa com infinita ternura.
— Eu amava uma garota. — murmurou. — Era a primeira vez que eu sentia mais
do que desejo físico por uma mulher. Quando ela me abandonou, eu queria morrer. Eu
jurei que iria superar isso, mas não sei se realmente consegui. Ainda estou muito
magoado.
Nicole tocou-lhe o rosto com suavidade, passando os dedos sobre a pele,
— Eu fui abandonada pelo meu noivo. Ele achou melhor casar com uma moça rica,
e eu não era...
Quase acrescentou "não era mais", mas resolveu não dizê-lo.
— Você nunca... foi além de um beijo com ele?
— Não confiava nele para isso. No fundo, acho que eu sabia que o caráter dele
não era dos melhores, mas não queria admitir. Tem de haver mais do que atração para
isso. Mas eu nunca senti nada de realmente especial por ele. Pensei que o amasse, mas
nunca pensei em ir para a cama com ele.
A vida desregrada dos pais deixara-a cheia de amargura. A intimidade para eles
havia se tornado tão sem importância quanto um aperto de mão. Por essa razão Nicole
decidira resguardar-se um pouco mais. Talvez esse tenha sido um dos motivos por que
Chase a deixara. Ele insistia mais e mais numa intimidade à qual ela teimosamente
resistia.
William sabia que havia mais coisas para contar, mas resolveu não perguntar
quando ela se calou. Apenas observou-a, pensando em como eram parecidos, e passou-
lhe a mão pelo rosto. Esperaria até quando ela quisesse lhe revelar o resto da história. A
verdade, devia admiti-lo, era que aquela menina o atraía mais do que as mulheres
sofisticadas com quem se relacionara.
— Eu estou morrendo de fome — disse ele. — Por que não vamos para casa ver o
que tem no freezer? Você sabe cozinhar, no caso de Mary decidir um dia ser uma
Rockette?
Ela riu, surpresa com o repentino bom humor dele. Seria esse o verdadeiro
William?
— É claro que eu sei cozinhar. Mas por que Mary haveria de querer ser Rockette?
— Ela sempre ameaça fazer isso desde que viu esse conjunto uma vez na
televisão. Ela achou que tinha a altura certa, embora as pernas fossem um pouco
grossas. Não a tenho levado a sério durante esses anos, mas, à medida que vou
envelhecendo, o meu estômago fica mais preocupado com essa possibilidade.
— Não se preocupe, sr. Christopher, eu cuidarei do senhor — ela disse baixinho e
voltou-se em direção à casa. — Você vai para casa a pé ou a cavalo?
Ele suspirou e fez uma careta.
— Acho que vou a cavalo — murmurou. — Essa perna está doendo como o diabo.
Nicole teve a impressão de que ele não teria admitido isso a ninguém a não ser
para ela, e ficou feliz com a prova de confiança. Sorriu quando William lhe ofereceu a
garupa.
— Vou andar a seu lado e olhar para você com adoração, se não se incomodar —
ela propôs, em tom de brincadeira.
— Não me incomodaria nunca.
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— O que aconteceu com a sua perna?
— Fratura do osso e ruptura de ligamentos. Fiquei preso entre as ferragens quando
eu e Deanne sofremos o acidente. Os cirurgiões fizeram o melhor que puderam, mas
houve complicações. Eu sempre mancarei. E quando forço muito a perna sinto dores. Me
mandaram escolher entre mancar ou amputar a perna. Eu vim ao mundo com duas e
pretendo sair dele do mesmo modo.
Ela quase fez uma pergunta, depois corou e abaixou os olhos, sem coragem de
pronunciá-la.
Ele pareceu adivinhar e caiu na gargalhada.
— Não — murmurou. — Não me atrapalha em nada na cama. Nicole olhou
assustada para ele.
— Eu nunca...
— Eu vi essa pergunta escrita em seu rosto.
Nicole quis dar uma resposta, mas achou melhor não piorar a situação. Mas não
podia negar que imaginá-lo na cama com outra mulher a enchia de ciúme e raiva.
Percebendo-lhe o embaraço, William parou, puxando as rédeas, e esperou que ela o
encarasse.
— Isso, na verdade, é só uma suposição. Para ser franco, estou sozinho desde o
acidente... Entende o que eu quero dizer?
Nicole entendia muito bem. A confissão era íntima demais para se fazer qualquer
comentário a respeito. Por isso, continuou em silêncio.
— Não estou sendo muito cavalheiro ao lhe contar isso, não é? — ele disse
sorrindo. — E não sei por que eu queria que você soubesse. É melhor irmos para casa.
Está escurecendo.
Ela sorriu, sem saber o que dizer. Durante o caminho de volta, Nicole se
perguntava por que aquela revelação a deixara tão satisfeita. Mal conhecia William e não
devia se incomodar com assuntos daquele tipo.
William acendeu um cigarro, com ar distraído.
— Quer jantar comigo amanhã à noite? — perguntou, de repente. — Assim você
vai conhecer a cidade...
Nicole sentiu uma alegria enorme ao ouvir o convite.
— Se Gerald não precisar de mim, será ótimo — respondeu, sorrindo.
Ele pareceu hesitar e olhou-a de um modo estranho, mas não disse nada.
Ela imaginava o motivo da expressão muito séria no rosto dele e do silêncio
durante o resto do caminho. Nunca se sentira tão ameaçada em sua vida, e o pior era que
nem estava com medo do que pudesse acontecer entre eles.
William ficou assustado com a onda de ciúme que sentira ao ouvi-la mencionar
Gerald. Temia a existência de um compromisso entre Nicole e o irmão. Jamais quisera
disputar qualquer coisa com Gerald e não poderia fazê-lo agora.
Mas ela não o beijaria daquela maneira se namorasse Gerald. Mesmo assim, era
melhor refrear as emoções. Não queria entregar-sede forma impensada àquele desejo
súbito, na certa provocado pela solidão.
Nicole, por sua vez, sentiu-se inundada de repente por uma melancolia
inexplicável. Afinal, não fazia sentido ficar triste após a agradável camaradagem entre
eles. Talvez estivesse dando vazão ao medo, esquecido até então dentro dela. Entretanto,
reconhecia ser um pouco tarde para isso; já estava começando a amar William.
Capítulo 4
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William não apareceu para o jantar naquela noite, mas Nicole não se surpreendeu
com isso. Estavam no início de novembro, época de separar, desmamar e entregar os
bezerros. E este era um trabalho que William precisava supervisionar pessoalmente.
Mike, o administrador, encarregava-se de inúmeras tarefas e demonstrava muita
eficiência, mas cabia a William tomar as decisões mais importantes.
Depois do jantar, Gerald quis ditar algumas cartas, e Nicole o acompanhou até o
escritório, cuja decoração primava pela sobriedade. Apesar disso, não faltavam conforto e
sofisticação, presentes nos móveis de couro cor de vinho, nos tapetes de tapeçaria
indígena e na enorme lareira de pedras. A mesa de carvalho e as poltronas grandes e
confortáveis davam um toque de austeridade ao ambiente de trabalho.
— Sadie nos convidou para jantar na sexta — Gerald comunicou, selecionando a
correspondência. — Esse dia está bom para você?
— Sim. Fico contente em poder vê-la de novo. William me convidou para jantar na
cidade amanhã à noite.
Gerald sorriu.
— Ah, sim? Então William está querendo roubar-me a garota? Não sei se estou
gostando disso.
Os dois sempre brincavam assim por causa de um incidente no escritório. Nicole
trabalhava com Gerald apenas há seis meses quando dois dos vice-presidentes da
companhia tentaram contratar-lhe os serviços na frente dele, sem nenhuma cerimônia.
Ambos riram, mas William, que estava no hall, ouvira sem saber que se tratava de
uma brincadeira. Estava para abrir a porta, mas desistiu.
— Ele não teria coragem de me afastar de você. Não precisa se preocupar —
Nicole assegurou. — Aliás, não conseguiria mesma se quisesse. Você é insubstituível.
Está tranquilo agora?
— Estou. — Gerald deu um suspiro teatral. — Que ideia horrível! — acrescentou
com fingida preocupação. — Perder você para meu próprio irmão. Mas ele é cavalheiro
demais para roubá-la de mim. Posso ficar sossegado. Que tal trabalharmos agora?
William fez meia-volta e saiu pela porta da frente, fechando-a com cuidado. Gerald
e Nicole não ouviram nada.
Amargava outra decepção com Nicole. Fora precipitado ao julgar verdadeiro o
ardor e a ternura nos olhos dela. E conservaria tal impressão se não a ouvisse declarar-se
a Gerald.
Revoltado, a simples ideia de vê-la outra vez lhe parecia insuportável. E pensar
que quase acreditara nas promessas doces daqueles olhos verdes! Mas Nicole nunca
saberia como ele quase se apaixonara por ela.
William não apareceu naquela noite nem na manhã seguinte. Gerald encontrou um
bilhete quando se sentou à mesa do café. Ficou intrigado ao lê-lo.
— É de William — ele disse. — Foi para Omaha fechar um negócio de gado. Pede
desculpas por não poder estar aqui para o jantar de hoje à noite.
— Não faz mal — Nicole respondeu, disfarçando seu desapontamento. — Com
certeza não pôde evitar essa viagem.
Gerald, que conhecia muito bem o irmão, estava preocupado. William não
convidava uma moça para jantar desde que Deanne o abandonara, Nicky parecia tê-lo
impressionado. Gerald observou Nicole, perguntando a si mesmo se ela tinha ideia do
quanto perturbara William. Na certa nem desconfiava como sua meiguice o atingira.
Gerald gostava dela como de uma irmã e sentia-se responsável por este comportamento
inesperado de William. Culpava-se por expô-la àquela situação, mesmo sabendo que isso
poderia acontecer. Mas fora do próprio William a ideia de convidar Nicky. Fizera uma
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porção de perguntas sobre ela depois de vê-la no escritório de Chicago. Isso provava seu
interesse por Nicole. Então, por que fugir? Queria apenas tempo para refletir ou passaria
o resto da vida se escondendo de si mesmo?
— Você está muito quieto — Nicole observou.
— Estava pensando. Como William foi viajar, você não gostaria de passar a noite
na casa de Sadie?
Ela sorriu.
— Sim, eu gostaria muito. Você não se importa?
— É claro que não. — No fundo, ele até gostou da ideia, pois assim poderia ver
Sadie mais uma vez no dia seguinte, quando fosse buscar Nicky. E isso também evitaria
comentários, pois não ficariam na mesma casa durante a ausência de William.
Foram para o jantar na casa de Sadie. Ela era uma jovem alta, com cabelos loiros
e meigos olhos azuis. Nicky sempre a quisera bem e, quando ela ia até o escritório para
esperar por Gerald, as duas sempre conversavam bastante.
— Que bom que resolveu ficar esta noite aqui conosco — disse Sadie, animada. —
Minha mãe gosta muito de visitas. Às vezes ela se sente solitária somente comigo.
— Como ela está? — Gerald perguntou. Sadie suspirou e sacudiu a cabeça.
— Nem melhor nem pior. Só fica deitada, olhando para a parede e rezando para
morrer. — Ela suspirou e mudou de assunto. — Nicky, quer ajudar-me a arrumar a mesa?
Gerald, por favor, pergunte a mamãe se ela precisa de alguma coisa.
— Certamente — ele concordou, olhando para Sadie cheio de ternura.
Ela ficou admirando-lhe o vulto alto e elegante no terno bege, enquanto Gerald
saía da sala.
— Sou um caso perdido — Sadie suspirou, sorrindo encabulada. — Eu o amo
demais, mas não há nada a fazer. Eu amo minha mãe também. E não posso deixá-la.
— Ele também não está bem. É só uma úlcera, mas acho que ele anda
trabalhando demais.
— Sempre foi assim. Gerald é muito competitivo — acrescentou Sadie com um
sorriso cheio de amor. — Ele quer ser tão bem-sucedido quanto William.
— Isso seria uma façanha — disse Nicky sem pensar.
Sadie ficou olhando para ela enquanto servia o café.
— William é um homem estranho.
— Nem tanto. Está muito magoado, só isso.
— Como foi que você veio para cá?
— O sr. Christopher queria vir para passar um mês descansando e trabalhando. Eu
tenho a prestação do carro, dos móveis. Não poderia perder um mês de ordenado. Então
eu vim também.
— E agora William sumiu. Por quê?
— Eu não sei. Convidou-me para jantar fora com ele hoje à noite, mas partiu esta
manhã. Ele é um homem difícil de entender.
— Sempre foi. Conheço esses dois irmãos há anos. Fui à escola com Gerald. —
Acabou de encher as xícaras e colocou-as em lindos pires de porcelana sobre uma toalha
de linho. — William sempre foi um solitário, embora tenha sido mulherengo quando jovem.
Ele era um grande conquistador.
— Acredito. Você sabe sobre a ex-noiva dele?
— Aqui todo mundo sabe da história. Era assunto do dia. Os mexericos não
paravam, como sempre acontece nas cidades pequenas. William conseguiu sobreviver,
mas penso que ainda não se curou da desilusão. A loira era uma interesseira de primeira
classe. Se não fosse pelo acidente, ela o teria arruinado e partido sem olhar para trás.
Casou-se com um milionário do petróleo.
— Que triste. Tantas pessoas casam por dinheiro. Ou tentam fazê-lo.
— Tenho certeza de que você nunca faria isso. Gerald sempre gostou de você.
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Tenho um pouco de ciúme...
— De mim? Obrigada, mas ele é correto demais para tentar conquistar a
secretária. Temos um relacionamento ótimo, mas no trabalho eu sou muito tímida. E a
maioria dos homens não me agrada fisicamente.
— E William agrada?
Nicole corou, e Sadie caiu na gargalhada.
— Sinto muito, mas pode ficar tranquila que o seu segredo está seguro comigo.
Oh, Nicky, por quem foi se interessar. Um homem tão difícil!
— Podia ser pior. E se fosse por um mau-caráter?
— É verdade. Venha conhecer minha mãe, e depois eu lhe mostrarei seu quarto.
— Foi amável em

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