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MARKETING DE RELACIONAMENTO Ana Maria Faria Editora Senac São Paulo – São Paulo – 2020 Sumário Capítulo 1 Marketing de relacionamento: definição 1 Marketing de relacionamento: definição 2 Componentes básicos do marketing de relacionamento 3 Fidelização de clientes 4 Interação no relacionamento 5 Alicerces do marketing de relacionamento 6 Exemplo e estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 2 Marketing tradicional, marketing de relacionamento e marketing de serviço 1 Conceituação de marketing e marketing de relacionamento 2 Comparações entre marketing tradicional e marketing de relacionamento 3 Novos desafios para as empresas 4 Estratégias competitivas de Porter 5 Mix de marketing – os 4 Ps 6 Marketing de serviços: conceituação 7 Definições e significado de serviço 8 Objetivos do marketing de serviços 9 Percepção da qualidade 10 Exemplo e estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 3 Criação de valor para o cliente 1 Definição de valor 2 Diferença entre custo, preço e valor 3 Como se dá a criação de valor para o cliente 4 Estudo de caso – a marca Granado e sua trajetória de posicionamento de marca Considerações finais Referências Capítulo 4 Principais canais de comunicação e relacionamento 1 Entendendo o cliente 2 Canais de comunicação e relacionamento 3 Elementos da cultura empresarial 4 Redes sociais como canais de relacionamento 5 Estudos de caso – J & J Considerações finais Referências Capítulo 5 O papel e a importância das redes sociais como canais de relacionamento 1 Redes sociais 2 Social e-commerce (CtoC) 3 Redes colaborativas 4 Case e exemplos de social e-commerce Considerações finais Referências Capítulo 6 Gestão do relacionamento com o cliente (CRM – customer relationship management) 1 Conceituação da gestão do relacionamento com o cliente 2 Objetivos do CRM 3 Processo de CRM 4 Importância do relacionamento com o cliente 5 Gerando informações: minerando dados 6 Fases da gestão do relacionamento com o cliente 7 Social CRM 8 Exemplos e estudos de caso Considerações finais Referências Capítulo 7 Aplicação da tecnologia em gestão do relacionamento com o cliente (CRM – customer relationship management) 1 O papel da tecnologia para o marketing de relacionamento 2 Mídias sociais 3 Tecnologia no marketing tradicional e no marketing de relacionamento 4 Exemplos e estudos de caso Considerações finais Referências Capítulo 8 Redução de perdas, retenção e recuperação de cliente 1 Cultivando o relacionamento 2 Identificando, diferenciando e interagindo com o cliente para fortalecer o relacionamento 3 Relacionamento: retenção e gestão da base de clientes 4 Redução das perdas dos clientes 5 Recuperação de clientes 6 Exemplos e estudos de caso Considerações finais Referências Capítulo 9 Fidelização do cliente e estratégias 1 Identificando o conceito de fidelização do cliente 2 Metodologias 3 Rentabilizando a recência e a frequência 4 Modelos de programas de fidelização 5 Programas de coalização 6 Exemplos Considerações finais Referências Capítulo 10 Banco de dados de clientes e database marketing 1 Conhecer e compreender a utilização de banco de dados de clientes e database marketing 2 Data warehouse 3 Data mining 4 Desvantagens do database marketing e do CRM 5 Exemplos e estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 11 Gestão de relacionamento do cliente B2B 1 Discorrendo um pouco sobre relacionamento 2 Uma abordagem sobre B2B e B2C 3 Mercados empresariais e mercados consumidores 4 A escolha dos clientes pela empresa 5 Estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 12 Mercados institucional e governamental no relacionamento com clientes 1 Conhecendo o comportamento de compra nos mercados institucional e governamental 2 Evolução da administração pública com foco no cidadão 3 Aplicabilidade do marketing de relacionamento no setor público 4 A tecnologia no mercado governamental e a integração multicanal 5 CzRM: a gestão do relacionamento com os cidadãos 6 O papel da ouvidoria na melhoria do relacionamento com o cidadão 7 A importância dos funcionários públicos no relacionamento com o cidadão 8 Transformação e agilização de processos para o relacionamento com o cidadão 9 Exemplos Considerações finais Referências Capítulo 13 Conhecer as cadeias de relacionamentos 1 Relação entre empresas e participantes 2 Relacionamento com os distribuidores 3 Relacionamento com os funcionários 4 Relacionamento com os fornecedores 5 Cadeia de valor 6 Exemplos Considerações finais Referências Capítulo 14 Os órgãos e entidades de defesa dos consumidores 1 Entender e conhecer os órgãos e entidades de defesa dos consumidores 2 Veículos de comunicação de defesa dos consumidores 3 É preciso preparo: um exemplo de atendimento de reclamação recebida de órgão de defesa do consumidor Considerações finais Referências Sites Capítulo 15 Ética no relacionamento com clientes 1 Conhecer a aplicação da ética no relacionamento com clientes 2 Código de ética do comércio 3 Código de ética do comércio eletrônico Considerações finais Referências Capítulo 16 Posicionamentos das marcas por meio do relacionamento 1 Compreender e conhecer os diversos posicionamentos das marcas por meio do relacionamento 2 Estudo de caso – sandálias Havaianas Considerações finais Referências Sobre a autora Capítulo 1 Marketing de relacionamento: definição Não é de hoje que se presencia uma economia dinâmica e de mão dupla, em que as organizações proporcionam serviços acoplados aos produtos que oferecem. Trata-se da economia de serviços. Em tempos anteriores à tecnologia de massa, as empresas faziam certa divisão entre as necessidades e os desejos dos clientes, ou seja, entregavam a seus clientes os produtos e/ou serviços de acordo com as necessidades que acreditavam que eles tinham. De certa forma, essa abordagem fazia com que as empresas acreditassem que seus clientes jamais migrariam para um concorrente, pois acreditavam que os “compreendiam” complemente e que personalizavam seus produtos e/ou serviços. Era possível às empresas conhecer seus clientes muitas vezes pelo nome, saber onde eles moravam, o que queriam e o que desejavam. Sabiam como efetuar a entrega do produto, conheciam a forma de pagamento que seria escolhida e, melhor ainda, quanto o cliente tinha disponível para “investir” na compra do produto ou serviço. Assim, o marketing de serviços tem grande relevância e importância em um mercado global, pois uma empresa pode se diferenciar de seus concorrentes e obter vantagem competitiva. Na atual economia, a demanda, as necessidades e os desejos dos consumidores cresceram. Estes, ao comprar bens e serviços, adquirem também os benefícios que eles proporcionam. Assim, cada vez mais as empresas percebem que é essencial conhecer o cliente, suas necessidades e seus desejos. Sem dúvida, este é um ativo valioso para que seja construído um relacionamento com o cliente. Neste cenário, insere-se o marketing de relacionamento. Embora exista há muito tempo, vem sendo muito utilizado nos últimos anos, e as empresas identificam a importância da fidelização de seus clientes, cada vez mais exigentes. O objetivo deste livro é situá-lo nesse contexto, já presente em muitas organizações. Compreende uma multiplicidade de situações para que a empresa busque competitividade, em médio e longo prazo. 1 Marketing de relacionamento: definição O conceito de marketing de relacionamento é muito vasto, e as definições encontradas para ele na literatura são muitas. Semanticamente, difere muito do marketing tradicional. De acordo com Grönroos, professor de marketing industrial e internacional da Escola Sueca de Economia e Administração de Empresas na Finlândia: um relacionamento não é apenas manifesto pelo comportamento de compra do cliente; seus corações e mentes também têm de estar dedicados ao relacionamento e ao parceiro do relacionamento. [...]Consequentemente, uma empresa deve criar processos de interação e comunicação que facilitem um relacionamento, mas é o cliente, e não a empresa, quem determina se um relacionamento foi desenvolvido ou não”. (GRÖNROOS, 2009, p. 33) Cabe aqui falarmos sobre características de serviço. Ainda sobre a óptica do autor: um serviço é um processo, consistindo em uma série de atividades mais ou menos intangíveis que, normalmente, mas não necessariamente sempre, ocorrem nas interações entre o cliente e os funcionários de serviço e/ou bens físicos e/ou sistemas do fornecedor de serviços e que são fornecidas como soluções para problemas do cliente. (GRÖNROOS, 2009, p. 46) Figura 1 – Características distintas dos serviços O objetivo do marketing de serviços é descobrir em quais características os clientes estão interessados e despertar neles uma necessidade de compra. Uma das maiores autoridades mundiais em marketing, Philip Kotler, diz que: Um dos principais objetivos do marketing é, cada vez mais, desenvolver relacionamentos profundos e duradouros com todas as pessoas ou organizações que podem, direta ou indiretamente, afetar o sucesso das atividades de marketing da empresa. O marketing de relacionamento tem como objetivo construir relacionamentos de longo prazo mutuamente satisfatórios com seus componentes-chave, a fim de conquistar ou manter negócios com eles. (KOTLER; KETLER, 2012, p. 18) Nota-se que o marketing de relacionamento necessita da cooperação entre os envolvidos para a criação mútua de valor. Assim, a perspectiva do marketing relacional é haver interdependência e cooperação mútuas, nas quais deverá estar presente o empenho dos envolvidos para a criação de valor tanto para o cliente quanto para o fornecedor. Para estabelecer uma estratégia de relacionamento, a empresa deverá ter, primeiramente, contato direto com o cliente e os demais parceiros de negócios. Deverá, então, desenvolver seus trabalhos orientados para o cliente, redefinindo seu negócio, se necessário. Ainda segundo Grönroos, é preciso haver outra concepção de relacionamento: Um relacionamento não é apenas manifesto pelo comportamento de compra do cliente; seus corações e mentes têm de estar dedicados ao relacionamento e parceiro de relacionamento. Consequentemente, uma empresa deve criar processos de interação e comunicação que facilitem um relacionamento, mas é o cliente, e não a empresa, que determina se um relacionamento foi desenvolvido ou não. (GRÖNROOS, 2009, p. 33) 2 Componentes básicos do marketing de relacionamento Há uma rede de marketing que compõe o marketing de relacionamento. É consenso entre os teóricos a importância dos clientes dentro do marketing de relacionamento. Funcionários engajados e treinados também, assim como a relação com os fornecedores. O papel dos acionistas não poderia faltar, visto que, sem seu envolvimento, não haverá relacionamento. Assim, são componentes do marketing de relacionamento: A relação sólida entre esses componentes exigirá a compreensão de suas competências, recursos, necessidades e desejos (KOTLER; KELLER, 2012). Figura 2 – Componentes básicos CLIENTES FUNCIONÁRIOS PARCEIROS ACIONISTAS O conjunto desses componentes apresentados na figura 2 retrata a sinergia entre os componentes básicos do marketing de relacionamento. 2.1 Clientes Não é preciso ressaltar que o cliente é o alvo e a razão de existência das empresas. Sem ele, elas não existiriam. É o cliente que vai determinar quais serão os produtos ou serviços a serem ofertados. Os clientes são os ativos das organizações em curto, médio e longo prazos. As empresas devem buscar satisfazer as necessidades e os desejos dos clientes, uma vez que, satisfeitos, eles disseminam informações positivas e atraem novos clientes. 2.2 Funcionários Todos os funcionários da empresa, em todas as esferas de atuação, deverão estar envolvidos, engajados e comprometidos. Sem o comprometimento de todos, o negócio está fadado ao fracasso e a empresa não estará preparada para a competitividade crescente no mercado. No entanto, não basta que os funcionários estejam envolvidos; eles também devem estar devidamente treinados e atentos às novas demandas e necessidades dos clientes. O pessoal da linha de frente, por estar em contato direto com o cliente, poderá e deverá participar das decisões, dando sugestões e possíveis soluções. A empresa que busca a excelência tem de estar atenta a isso e investir na capacitação de seus funcionários. 2.3 Parceiros Sem a parceria de fornecedores e distribuidores não podemos ir para as demais etapas do processo. Caso estes não estejam envolvidos, a cadeira de produção é iniviabilizada e, consequentemente, também a distribuição dos produtos ou serviços. Em suma, o marketing de relacionamento deverá não somente conduzir a gestão de relacionamento com o cliente, como também a gestão de relacionamento com os parceiros. Observamos que as empresas estão aprimorando e aprofundando a parceira com os fornecedores e os distribuidores na entrega de valor aos consumidores finais. O objetivo é que todos se beneficiem com isso. 2.4 Acionistas Não se pode negar o fato de que o acionista desenvolve seu negócio com o objetivo de lucrar. Para que o negócio seja mantido, ele precisa ter o controle sobre os custos de produção ou a prestação de serviços. Para que haja resultado financeiro positivo, os acionistas devem ter a consciência de que devem investir no relacionamento com os clientes para manter a fidelidade deles. 3 Fidelização de clientes Sabe-se que atrair um novo cliente pode custar mais do que fidelizar um já existente. Um cliente fiel funciona como uma espécie de “porta-voz” do produto ou serviço oferecido por uma empresa, disseminando a marca para futuros novos compradores. Para fidelizar um cliente, no entanto, não basta satisfazê-lo: é preciso ultrapassar esse limite. Fidelização é um trabalho de médio a longo prazo, e a empresa deverá cercar-se de estratégias para construir um vínculo eficaz com seus clientes. É pilar do marketing de relacionamento tentar garantir a retenção dos clientes. Para isso, é preciso intensificar os negócios (oferecendo variedade maior de produtos), além de treinar os funcionários em venda cruzada (cross-selling) e em venda incremental (up-selling) (KOTLER; KELLER, 2012). Um dos pontos essenciais nesse processo é o atendimento ao cliente, que deve ser um diferencial, tendo como base uma equipe de vendas bem treinada e atenta ao que o cliente tem a dizer. Além disso, a empresa deve manter esforços para se direcionar ao cliente certo, visto que não há produto ou serviço capaz de agradar a todos. Todos os clientes merecem tratamento especial. Assim, as empresas poderão valer-se de inúmeras ações para que eles tenham essa percepção: pesquisa de mercado, SAC, ouvidoria e ações de relacionamento, como o lançamento, por exemplo, de um clube de fidelidade. O mais importante é monitorar toda a ação de fidelização por meio de uma ferramenta de CRM (custumer relationship management), por exemplo. Será por meio da monitoração que a empresa poderá rever suas estratégias, executando os ajustes necessários no caminho constante da fidelização do cliente. 4 Interação no relacionamento Segundo Holley, Piercy e Nicolaud: A ênfase inicial será tornar o cliente potencial em um cliente efetivo. Para isso, o esforço do marketing concentra-se na captação. Todavia, assim que o comprador efetiva a transação, a ênfase desloca-se para a criação de uma relação duradoura, contínua... O foco do marketing de relacionamento é fazer com que os clientes subam a escada, descobrindo meios de intensificar o valor que ambas as partes obtêm do relacionamento. (2011, p. 280-281) Figura 3 – Interação no relacionamento Percebemos que passamos para outro patamar após a compra ser efetuada: uma esperada relação duradoura. Uma das ações necessárias após a venda é a medição da qualidade percebida pelo cliente. Sem dúvida, não é uma tarefa fácil, mas a empresa, mais do que nunca, deverá estaratenta aos indícios de que o cliente teve suas expectativas atendidas. Segundo Grönroos: as expectativas que os clientes têm de antemão talvez não sejam as expectativas com as quais compararão suas experiências. As experiências que o cliente tem do processo do serviço podem alterar suas expectativas, e expectativas alteradas são as expectativas com as quais as experiências devem ser comparadas para determinar a real percepção de qualidade de um cliente (2009, p. 79). A interação será maior à medida que todos os envolvidos (cliente, funcionários e parceiros) entendam a real importância e a interdependência na construção e na manutenção do relacionamento. IMPORTANTE O marketing de relacionamento deve conduzir a relação com os parceiros e com os clientes, para que todos possam se beneficiar. Para que ocorra o encantamento do cliente e a interação no relacionamento, a empresa tem que superar suas expectativas. Poderá fazer isso oferecendo um excelente serviço e gerenciando suas expectativas, assegurando que as promessas reflitam a realidade, valorizando a confiabilidade do cliente e, principalmente, estabelecendo comunicação com eles para entender suas expectativas. 5 Alicerces do marketing de relacionamento Para que o marketing de relacionamento seja eficaz, é necessário que exista consistência entre as partes envolvidas: é imperativo que os funcionários da empresa compreendam seus papéis no desenvolvimento do relacionamento com o cliente. Todos devem estar envolvidos, da equipe de produção ou prestação de serviço até o presidente. Para isso, é necessária a motivação e o comprometimento dos funcionários e respeito mútuos. Trata-se de um ciclo no qual é necessário cativar o cliente nas diversas fases de criação do valor, buscando meios cada vez mais inovadores para gerar benefícios novos e significados para o cliente. Figura 4 – Alicerces Fonte: adaptada de Hooley, Piercy e Nicoulaud (2011, p. 281). O cliente precisa ser “cativado” em todas as fases. Deve-se buscar incessantemente meios que gerem benefícios e novos significados para ele, ou seja, a empresa deve passar a se preocupar cada vez menos em vender o que já produz e se preocupar mais em produzir de acordo com as exigências dos clientes. Esse é o fluxo ideal e correto. Assim, apaga-se a linha onde começa o cliente e onde termina a empresa. 6 Exemplo e estudo de caso Grönroos (2009, p. 27) conta que, em uma aldeia na China antiga, um mercador de arroz de nome Ming Hua aguardava em seu armazém a chegada dos clientes. Seus negócios não iam bem. Certo dia, Ming Hua percebeu que tinha que pensar nas necessidades dos moradores da aldeia, e não somente em querer distribuir seu produto. Percebeu que deveria prover aos aldeões algo com mais valor e diferente do que outros mercadores ofereciam. Assim, resolveu registrar os hábitos alimentares da população da aldeia e quais eram os períodos em que os clientes faziam as compras. Primeiramente, ele bateu à porta dos aldeões e perguntou quantas pessoas havia na residência, quantas tigelas de arroz cozinhavam em determinado dia. Questionou também o tamanho do jarro de arroz. Com as respostas obtidas, ofereceu a cada cliente entrega gratuita e serviço de reabastecimento do jarro de arroz da residência em intervalos predeterminados. Ming Hua montou registros, desenvolveu novos serviços e, com isso, conseguiu criar relacionamentos mais profundos com os aldeões. Como consequência, seus negócios prosperaram e ele precisou contratar funcionários para manter o registro dos clientes e para efetuar as entregas regulares. Começou a visitar regularmente os aldeões, para ter a percepção da satisfação na prestação do serviço, bem como estreitar o relacionamento. Passou também a administrar os contatos com seus fornecedores e os plantadores de arroz. Ming Hua usou os elementos táticos do marketing de relacionamento: buscou contato direto com os clientes, desenvolveu um banco de dados, estabeleceu parcerias e networks. Ao criar um sistema de serviço orientado para o cliente, seu negócio prosperou. IMPORTANTE O marketing de relacionamento resulta em uma rede de marketing formada por: clientes + funcionários + fornecedores + distribuidores. O planejamento das preferências e uma comunicação eficaz são capazes de oferecer um atendimento mais dinâmico de acordo com o desejo dos clientes. Considerações finais Para adaptar-se a um cenário cada vez mais competitivo, é essencial que empresas se adéquem ao novo ambiente econômico. Devem trocar seu foco: de gestão de produção para gestão de clientes. O marketing de serviços e o de relacionamento são as matrizes e proporcionam soluções inovadoras, fazendo com que as empresas adquiram posição preferencial com os melhores clientes, assim como com aqueles que podem vir a se tornar clientes. Além disso, as empresas devem procurar cativar o cliente em diversos momentos de criação de valor, investir em meios inovadores que gerem novos benefícios e significados. Dessa maneira, é necessário que descubram o que os clientes procuram e que todos estejam envolvidos nessa descoberta. Com a utilização do marketing de relacionamento, as empresas são capazes de obter posição preferencial e de destaque em relação a seus concorrentes. As vantagens são inúmeras, por exemplo, o desenvolvimento da fidelização com os clientes, que valorizam o que a empresa oferece. Podemos chegar a uma máxima: o marketing de relacionamento não é somente um conjunto de ações, e sim algo imprescindível para a sobrevivência da empresa e de seu negócio. Referências GRAHAM, Hooley; PIERCY, Nigel F.; NICOLAUD, Brigitte. Estratégia de marketing e posicionamento competitivo. 4. ed. São Paulo: Person Prentice Hall, 2011. GRÖNROOS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Person Prentice Hall, 2012. LOVELOCK, Christopher; WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. Capítulo 2 Marketing tradicional, marketing de relacionamento e marketing de serviço No passado, era comum às empresas restringirem-se a oferecer apenas produtos e serviços. Não havia preocupação com as exigências dos clientes consumidores. Os produtos e serviços eram disponibilizados e consumidos. Vieram as inovações tecnológicas e, com elas, novos produtos e serviços no mercado. No entanto, a demanda não absorvia mais tanta oferta, havendo a necessidade de criar e conquistar novo espaço em um mercado crescente e competitivo. Como o processo era longo, adquiria clientes quem apresentasse mais vantagens. Para atrair novos clientes, surgiu a necessidade de criação de estratégias de marketing. Primeiro, o marketing tradicional, fundamentado na propaganda e na publicidade. A meta a ser alcançada seria maior participação no mercado já competitivo e consequente aumento nas vendas de produtos e serviços. A estratégia utilizada era a atração de novos clientes, e não havia preocupação com um possível relacionamento pós-venda. O mercado competitivo fez com que as empresas modificassem sua forma de agir. Houve a inclusão do cliente como variável. As estratégias de marketing até então adotadas também teriam que mudar, visto que se passou a considerar a importância do relacionamento com o cliente. Descobriremos, a seguir, que o foco do marketing tradicional e o do marketing de relacionamento são diferentes e discorreremos sobre suas diferenças conceituais. 1 Conceituação de marketing e marketing de relacionamento O objetivo do marketing tradicional e do marketing de relacionamento é distinto. Segundo Kotler e Keller: O marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais. Uma das mais sucintas e melhores definições de marketing são de ‘suprir necessidades gerando lucro’ [...] Podemos estabelecer definições diferentes de marketing sob as perspectivas social e gerencial. Uma definição social mostra o papel do marketing na sociedade[...]. Do ponto de vista gerencial, muitas vezes o marketing é descrito como ‘a arte de vender produtos’, mas muitos se surpreendem ao ouvir que a parte mais importante do marketing não é vender! As vendas são a ponta do iceberg do marketing. (2012, p. 3-4) Kotler e Keller (2012, p. 18) conceituam da seguinte maneira o marketing de relacionamento: “O marketing de relacionamento tem como objetivo construir relacionamentos de longo prazo mutuamente satisfatórios com seus componentes chave, a fim de conquistar ou manter negócios com eles”. 2 Comparações entre marketing tradicional e marketing de relacionamento Dadas as conceituações básicas do marketing tradicional e de relacionamento, podemos dizer que, de maneira geral, o marketing tradicional não diferencia ou desenvolve negócios duráveis e superiores. Assim, estratégias de marketing tradicional nem sempre conseguem atender ao mercado e às novas demandas existentes e, ao contrapormos suas práticas e as necessidades das empresas no desenvolvimento de relações de longo prazo, constatamos um grande abismo, visto que existem novos desafios em jogo. Para se adaptar ao novo cenário de competitividade, as empresas devem mudar seu foco de atuação: de gestão focada em produtos para uma focada em clientes. Muitas vezes, algumas organizações não se adaptam a esse novo cenário e, por conseguinte, ao marketing de relacionamento, exatamente porque não mudaram o foco e não enxergam – ainda – o poder da concorrência. A estratégia do marketing tradicional está focada na venda isolada, sem ênfase ao serviço e orientada nas características do produto. Não há, de certa forma, contato com o cliente, o que reduz seu compromisso. O marketing tradicional seleciona primeiramente os segmentos de mercado para, depois, alocar seus recursos de acordo com as ações traçadas para atender a esses segmentos. Quando lidamos somente com segmentos, esse conceito se aplica, mas, a partir do momento que queremos criar valor para um cliente ou empresa durante todo um relacionamento, é preciso mudar as práticas de marketing, exatamente porque os objetivos são diferentes (como citamos anteriormente, os objetivos do marketing tradicional e os do marketing de relacionamento são diferentes). Empresas que se utilizam do marketing tradicional identificam grupos/clientes que partilham necessidades parecidas ou similares e a partir daí desenvolvem conceitos de produtos alternativos, diferenciados e distintos. Efetuam pesquisa de preferência de produtos e avaliam como atingir esses grupos ou clientes por meio da comunicação e da distribuição dos produtos, mensurando os custos e os lucros potenciais. Assim, aprimoram o que necessita ser mudado. Por outro lado, empresas que focam sua estratégia no marketing de relacionamento têm objetivos únicos e específicos para cada cliente, visando construir a percepção de valor de seus produtos ou serviços. Essas organizações definem o nível de investimento a ser aplicado para cada cliente. Programam e implementam, a partir daí, a tecnologia, os processos e os recursos humanos necessários e específicos para que cada cliente seja alcançado. IMPORTANTE O marketing tradicional se concentra na distribuição (praça) como mecanismo de transferência de produto ou serviço. Já o marketing de relacionamento considera e determina a distribuição com base na perspectiva do cliente, que vai decidir como e quando quer comprar. Dessa forma, a distribuição não é um canal. É um processo que permite ao cliente escolher onde e de que forma obterá o produto ou serviço que deseja. Mais um contraponto existente entre essas estratégias ocorre quando se trata de promoção de um produto ou serviço. No marketing tradicional é utilizada uma propaganda única, veiculada em mídia escolhida para atingir determinado público-alvo. Já no marketing de relacionamento é adotado outro ponto de vista por parte da empresa: as promoções são personalizadas e veiculadas em várias mídias, as estratégias de comunicação são específicas para um relacionamento de longo prazo. 3 Novos desafios para as empresas O mercado é dinâmico, globalizado e está em constante mudança. O tempo ficou mais curto para atingir os resultados, implicando a necessidade de utilização de uma série de forças mercadológicas. Além disso – e mais importante ainda –, o cliente quer um relacionamento de longo prazo com os fornecedores, e não somente para uma abordagem transacional. Os novos desafios precisam ser superados pelas organizações, e o marketing tradicional vem recebendo pressões sobre os resultados apresentados e suas práticas. Os clientes não são iguais. Eles têm necessidades e desejos específicos em cada momento. Assim, a lucratividade de cada produto ou serviço diminui, exatamente para atender a essas necessidades em diversos momentos. Os tempos atuais, de grande competitividade, não permitem que as empresas despendam muito tempo na realização de pesquisas de marketing. Fora isso, os resultados obtidos ao final podem ser coisa do passado. Dessa forma, é necessário e conveniente que as empresas invistam em conhecer o cliente em tempo real e, obviamente, só se consegue e se conquista isso com a filosofia do marketing de relacionamento, sempre aliada à tecnologia. Quanto à comunicação, esta deve ser customizada, haja vista que é o cliente quem escolhe como e quando quer se comunicar. Utilizando os avanços da tecnologia, há oportunidades de se aplicar comunicações diversas, havendo a possibilidade de levar o cliente para dentro da organização, o que fortalece esse relacionamento. Visto que o mercado é competitivo e a concorrência é grande, os clientes querem participar das decisões relacionadas ao produto ou serviço que adquirem. De acordo com Gordon (2002, p. 35), “o market-ing de relacionamento, quando apropriadamente implementado, resulta em produtos que são cooperativamente projetados, desenvolvidos, testados, orientados, fornecidos, instalados e aprimorados”. Segundo o mesmo autor (2002, p. 36), o “marketing de relacionamento convida os clientes para o processo de preços e todos os demais processos relacionados ao valor, o que dá a eles uma oportunidade de participar da negociação e desenvolver ainda mais confiança no relacionamento”. Dessa forma, a empresa que faz uso do marketing de relacionamento envolve o cliente de forma profunda no desenvolvimento de produtos ou serviços, reunindo um pacote de vantagens tangíveis e intangíveis, entregando o produto ou serviço porque acredita que é isso que o cliente quer. 4 Estratégias competitivas de Porter As estratégias genéricas de Porter, renomado professor da Harvard Business School, visam combater forças que ameaçam as empresas, qual seja: os concorrentes. As empresas, para atingirem as metas estipuladas, devem preparar estratégias e um plano de ação coerente para alcançar resultados superiores aos da concorrência. Kotler e Keller (2012, p. 53) propuseram três estratégias genéricas para que uma empresa supere seus concorrentes: Liderança total em custos: a empresa se esforça para produzir e distribuir a custos menores, de modo que possa oferecer preços mais baixos que os dos concorrentes e conquistar uma grande participação de mercado. As empresas que seguem essa estratégia não precisam de muita habilidade em marketing. O problema é que outros concorrentes surgirão com custos menores e prejudicarão aquele que fundamentou todo o seu futuro em baixos custos. Diferenciação: consiste em diferenciar o produto e/ou serviço oferecido pela empresa, criando, assim, algo que seja considerado único. Esse diferencial pode ser um desempenho superior em uma área importante de benefícios ao cliente e valorizada por grande parte do mercado. A empresa que busca liderança em qualidade, por exemplo, deve utilizar os melhores componentes, montá-los com habilidade, inspecioná-los com cuidado e comunicar efetivamente sua qualidade. Foco: a empresa se concentra em um ou mais segmentos estreitos de mercado, passa a conhecê-los intimamente e busca ou a liderançaem custos ou a diferenciação dentro do segmento- alvo. 5 Mix de marketing – os 4 Ps São ferramentas do mix de marketing: produto, praça, promoção e preço (product, place, promotion e price). Quadro 1 – Ferramentas do mix de marketing Produto É tudo que pode ser oferecido ao cliente. Inclui não só bens, mas também serviços. Engloba: variedade, qualidade, design, características, nome da marca, embalagem, tamanho, serviços, garantias, devoluções. Praça Também é conhecida como canal de distribuição. Significa disponibilizar o produto ou serviço ao cliente da forma mais fácil e conveniente para ser adquirido no momento em que o cliente desejar. Podemos citar: anais, cobertura, sortimentos, locais, estoque e transporte. Promoção Inclui propaganda, promoção de vendas, relações públicas ou publicidade, força de vendas e marketing direto. Preço É o volume de dinheiro cobrado por um produto e/ou serviço. É o único componente do mix de marketing que gera receita e um dos principais elementos na determinação da participação de mercado de uma empresa e de sua rentabilidade. Abrange: preço de lista, desconto, bonificações, prazo de pagamento, condições de financiamento. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 24). O mix de marketing apresentado não representa a complexidade e a amplitude do cenário da administração moderna. Atualizando esse cenário, obteremos um grupo mais completo, que representa a nova realidade do marketing: pessoas, processos, programa e performance. Quadro 2 – Atualização dos 4 Ps FERRAMENTA DESCRIÇÃO Pessoas São os funcionários, que são fundamentais dentro do novo conceito de marketing, e os clientes, que também precisam ser vistos como pessoas, e não como meros compradores e consumidores de produtos e serviços. Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 24). FERRAMENTA DESCRIÇÃO Processos Refletem a estrutura, a criatividade e a disciplina incorporada à administração de marketing. Apenas com a implantação de processos corretos é que a empresa poderá desenvolver um relacionamento de longo prazo. Programas Refletem as atividades efetuadas e que são direcionadas aos clientes. Englobam os 4 Ps citados anteriormente, além de outras atividades que podem ser acrescentadas à antiga visão de marketing. Performance Captura o leque de possíveis indicadores de resultados que tenham implicações financeiras e não financeiras que transcendem a própria empresa (responsabilidade social, no contexto jurídico e comunitário). Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 24). Assim, esta é a evolução da administração de marketing: Quadro 3 – Mix de marketing tradicional × mix de marketing de relacionamento 4 PS DO MIX DE MARKETING 4 PS DA MODERNA ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING Produto Pessoas Praça Processos Promoção Programas Preço Performance Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 24). Os novos 4 Ps – pessoas, processos, programas e performance – se aplicam a todos os setores da empresa e, sem dúvida, ampliam o papel do marketing. 6 Marketing de serviços: conceituação De acordo com Lovelock e Wright: serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte a outra. Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade de nenhum dos fatores da produção. Serviços são atividades econômicas que criam valor e fornecem benefícios para clientes em tempos e lugares específicos, como decorrência da realização de uma mudança desejada no – ou em nome do – destinatário do serviço (2001, p. 5). Já Grönroos diz que: serviços são processos que consistem em atividades ou uma série de atividades; serviços são, no mínimo, até certo ponto, produzidos e consumidos simultaneamente; o cliente participa como coprodutor no processo de produção, pelo menos até certo ponto. (2009, p. 47) Ainda, de acordo com Kotler e Keller (2012, p. 382), serviço “é ato ou desempenho que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de nada”. 7 Definições e significado de serviço Podemos entender por serviço uma determinada ação executada por alguém que proporciona uma experiência intangível, pois seu armazenamento não é possível. Sua intenção é a geração de valor para quem o recebe. Sendo intangível, não pode ser avaliado por evidências físicas (não pode ser tocado, por exemplo). É indivisível, ou seja, a produção e o consumo do serviço são inseparáveis. Estando vinculados, fundamentam-se na interação entre a empresa e o cliente (presente ou a distância). Não é passível de padronização, pois precisa da participação do cliente em seu processo, mesmo que sejam utilizados meios para tentar reduzir o nível de variação. É perecível, não podendo ser armazenado ou devolvido. Exemplo: uma consulta medica é cobrada, mesmo que o paciente se ausente, pois o valor para o cliente, ou seja, a consulta, já existia no momento em que seria prestado. Assim, o que difere produto de serviço é, portanto, sua intangibilidade, indivisibilidade, variabilidade e perecibilidade. Sob a perspectiva de serviço, um conjunto de recursos da empresa interage com os clientes, com o objetivo de criar valor para suas atividades e processos. Visto que os serviços criam valor para o cliente, sua lógica visa facilitar processos que apoiem a criação de valor dos clientes em suas atividades e processos diários (GRÖNROOS, 2009, p. 49). Assim, clientes e empresas são coprodutores dos processos de serviço e também cocriadores de valor. 8 Objetivos do marketing de serviços Considerando que clientes e empresas estão envolvidos na criação de valor, o objetivo do marketing de serviços é “fazer os clientes usarem os processos de serviço e implementar esses processos de um modo que faça os clientes perceberem que o valor está sendo criado em seus processos” (GRÖNROOS, 2009, p. 50). Assim, observamos um conjunto de recursos que interagem com o cliente, como podemos observar no quadro 4, a seguir. Quadro 4 – Lógica de serviços × lógica de produtos LÓGICA DE SERVIÇOS LÓGICA DE PRODUTOS Natureza da oferta Processo que apoia o valor. Recurso que apoia o valor. Perspectiva Processo no qual um conjunto de recursos interage com os clientes, almejando um apoio a seus processos, de modo a criar valor. Recurso que os clientes usam, possivelmente em conjunto com outros recursos, com o objetivo de criar valor para si mesmos. Lógica dos negócios Facilitar processos que apoiam a criação de valor dos clientes. Produzir bens como recursos disponíveis para o uso dos clientes. Papel do cliente Coprodutor e cocriador de valor. Criador único de valor. Papel da empresa Oferecer um processo de serviço e coproduzir e cocriar valor no processo de consumo do cliente. Oferecer aos clientes produtos como um recurso e como produtor único desse recurso. Fonte: adaptado de Grönroos (2009, p. 50). Quanto à divisão, podemos dizer que os serviços são assim classificados: high-touch × high-tech e prestados continuadamente e em transações intermitentes. Em relação aos primeiros, dizemos que um produto high-touch dependerá muito das pessoas no processo de serviço produzindo o serviço, sendo que os high-tech (compras pela internet, por exemplo) normalmente utilizam tecnologia e sistemas de informação, e interações humanas raramente ocorrem. Tanto os serviços prestados de forma contínua como aqueles em transações intermitentes envolvem interações entre o cliente e o prestador de serviços, criando possibilidades de relacionamento. Em ambos os casos, é necessário desenvolver estratégias. Mesmo havendo distinção entre tipos de serviço deve ficar bem claro que todos eles são singulares e as estratégias desenvolvidas para cada um deles devem ser levadas em consideração pela empresa. Os objetivos de empresas que utilizam o marketing de serviços é conseguir vantagem competitiva em relação aos concorrentes, garantindo importantes diferenciais competitivos, sendo vital para qualquer empresa do segmento. Enfim, podemos dizer, corroborando as palavras de Grönroos: a essência do marketingpara serviços é como o processo (de produção) de serviços e o processo de consumo de serviços, ambos combinam-se com o outro de modo que consumidores e usuários percebam boa qualidade e valor de serviço e estejam dispostos a continuar o relacionamento com o provedor de serviços. (2009, p. 53) 9 Percepção da qualidade Os clientes interagem até certo ponto com os funcionários e tecnologias, por exemplo. Assim, para que um cliente tenha a percepção da qualidade de um serviço, é preciso que este tenha também a percepção do processo, exatamente devido à característica de serviço, ou seja, sua inseparabilidade. Dessa forma, o consumo e a produção do serviço apresentam interfaces fundamentais para que ocorra a percepção da qualidade do serviço, o que será determinante para que experiências de compra de longo prazo ocorram e é decisivo para que o cliente continue consumindo os serviços de determinada empresa. Fora isso, antes de realizar a compra de um serviço, o cliente tem uma expectativa, baseada em necessidades, desejos, experiências anteriores, propaganda de fornecedores e também em recomendações. Após consumirem o serviço, usualmente os clientes comparam a qualidade esperada com o que receberam. Os serviços que encantam os clientes serão aqueles que ficaram acima dos níveis desejados e são percebidos como serviços de qualidade superior. Na figura 1, poderemos compreender um pouco mais como funciona a relação entre as expectativas, a satisfação do cliente e a qualidade percebida por ele quando da compra ou consumo de um serviço. Figura 1 – Relação entre expectativa, satisfação e qualidade percebida Fonte: adaptada de Lovelock (2001, p. 107). Os clientes ainda poderão ter a percepção da qualidade de um serviço avaliada por lacunas. Essa avaliação pode detectar insatisfação, que pode estar no conhecimento das suas necessidades, nos padrões estabelecidos, na entrega das comunicações internas, nas percepções, na interpretação e propriamente no serviço. A presença de quaisquer umas dessas lacunas poderá prejudicar a relação do cliente com a empresa. Assim, as empresas devem evitar essas lacunas para melhorar sua reputação de qualidade. Se, por um lado, as lacunas prejudicam a percepção da qualidade, podemos dizer que há cinco dimensões da percepção da qualidade, quais sejam: confiabilidade, tangibilidade, sensibilidade, segurança e empatia. De todas elas, podemos dizer que a confiabilidade é a mais importante na avaliação da qualidade do serviço, visto que um serviço não confiável é um serviço deficiente (LOVELOCK, 2001, p. 109). É natural pensar que as empresas almejam a satisfação do cliente. No entanto, nas diversas experiências de compra ou consumo de determinado serviço, os clientes experimentam vários níveis, podendo ser de descontentamento ou mesmo vários níveis de satisfação. Levando-se em conta que a satisfação é, de certa forma, um estado emocional, a reação poderá envolver desde irritação e indiferença a alegria por parte do cliente. 10 Exemplo e estudo de caso Segundo Kotler e Keller (2012, p. 405-406), um exemplo de excelência em serviços é o Hotel Ritz-Carlton. Ritz-Carlton é considerado um hotel de luxo, com elevado padrão em serviço ao cliente, presente nos Estados Unidos desde o início do século XX. Atualmente, suas unidades estão distribuídas em mais de 24 países e contam com aproximadamente 38 mil funcionários. Foi o primeiro hotel a oferecer banheiro privativo e pessoal vestido com fraque. Além de instalações impecáveis, leva muito a sério o atendimento ao cliente. Seu lema é: “Somos damas e cavalheiros servindo damas e cavalheiros”. Um de seus maiores atributos é o treinamento dado aos seus funcionários, os quais adotam alguns lemas, como “3 etapas e 12 valores de serviço”. Esse lema consiste em pregar que todo hóspede deve ser tratado de modo caloroso e ser sempre chamado pelo nome. Além disso, os funcionários tentam sempre antecipar-se às necessidades de cada hóspede, para atendê-las da melhor forma possível. Além do excelente treinamento para a equipe de funcionários, a missão e os valores do estabelecimento são sempre reforçados. Para isso, diariamente despendem-se 15 minutos com orientações. Nesses encontros, costumam discutir casos reais chamados “histórias uau”, nas quais reconhecem funcionários pelo excelente atendimento. Por meio dessas histórias, a empresa comunica o que se espera de todos, reforçando ações que buscam e demonstrando como todos são responsáveis pela prestação de um excelente serviço. Para mensurar a satisfação dos hóspedes/clientes, são realizadas entrevistas por meio de um renomado centro de pesquisas (Gallup[1]), com perguntas funcionais e emocionais. Por adotar essa postura de excelência na prestação de serviços, essa rede de hotéis recebeu diversas premiações. Considerações finais Estamos já há algum tempo em uma era em que pessoas não somente contratam serviços ou compram produtos. Elas, agora, compram benefícios, atendimento excelente e exclusividade. O marketing de relacionamento, por se distinguir das abordagens tradicionais, oferece esses itens e convida o cliente a adentrar na empresa por meio da cadeia de valor. A cadeia de valor é uma ferramenta utilizada pelo marketing para identificar maneiras de criar mais valores para o cliente. Ela identifica atividades que criam valor e custo em determinado negócio. Empresas que implementaram o marketing de relacionamento cativam o cliente interativamente nas diversas fases de criação de valor, com o objetivo de buscar meios cada vez mais inovadores para gerar benefícios significativos para ele. Por dimensionarem sua produção na escala exigida pelo cliente, essas empresas preocupam- se cada vez menos em apenas vender o que produzem. Organizando-se de maneira diferente, as empresas que utilizam o marketing de relacionamento apagam a linha limítrofe – onde começa o cliente e onde termina a empresa. Referências GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. 5. ed. São Paulo: Futura, 2002. GRÖNROOS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. LOVELOCK, Christopher H.; WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. [1] A Gallup é uma empresa de pesquisa de opinião. Capítulo 3 Criação de valor para o cliente As empresas que oferecem produtos e/ou serviços atendem a necessidades por meio de uma proposta de valor. Do outro lado, os clientes escolhem entre esses produtos ou serviços aquele que aparentemente pode proporcionar o maior valor. Mas, afinal, o que é valor? Por que as empresas de sucesso buscam tanto oferecer algo com valor aos clientes? Vamos ver ao longo deste capítulo as definições de valor, bem como entender quais são as diferenças entre custo, preço e valor. Também abordaremos como se dá a criação de valor para o cliente: por segmentação de mercado, seleção de mercado-alvo, processo de diferenciação e posicionamento de marca. 1 Definição de valor O valor não pode ser produzido em uma fábrica ou em alguma área administrativa das empresas. A palavra "valor" é utilizada na sociologia, na antropologia, na economia, bem como em outras áreas do conhecimento, com significados diferentes. Em se tratando de teoria e prática de marketing, observamos que o conceito de valor figura como elemento central. Na literatura de marketing, as conceituações de valor surgem com diferentes interpretações. Embora possam divergir em alguns pontos, convergem em dois aspectos: o valor diz respeito a algo percebido pelo cliente; o valor percebido pelo cliente depende de uma multiplicidade de elementos atrelados a benefícios funcionais, emocionais ou contingenciais. Assim, podemos entender, de acordo com Grönroos, que: [o] valor é percebido pelos clientes em suas atividades diárias e seus processos internos e em interaçõescom fornecedores ou prestadores de serviços ao consumirem ou fazerem de serviços, bens, informações, contatos pessoais, devoluções e outros elementos de relacionamentos contínuos. (2009, p. 136) De acordo com essa visão, não há valor antes que um consumidor possa fazer uso de um serviço ou produto. O valor está embutido nos produtos ou serviços entregues ao cliente. O valor percebido pelo cliente poderá ser aprimorado com a adição de benefícios (técnicos, econômicos ou sociais). Pode-se citar como exemplo uma empresa que, para melhorar a percepção de valor, oferece serviços de consultoria aos clientes. Assim, podemos afirmar que os clientes agem com base em uma expectativa de valor e dão preferência a empresas que, de acordo com sua percepção, oferecem o maior valor – que não está no produto ou serviço adquirido nem na marca escolhida, mas na experiência derivada da compra. Além disso, os clientes podem considerar o valor em diferentes tempos, dependendo de seu julgamento. Existem categorias de valor que podem ser fornecidas por um produto ou serviço. Elas estão apresentadas no quadro a seguir. Quadro 1 – Categorias de valor que podem ser fornecidas por um produto/serviço CATEGORIAS DESCRIÇÃO Funcional Quando o produto ou serviço satisfaz um propósito físico ou funcional. Exemplo: remédio para aliviar dor ou detergente para limpeza. Social Quando o produto ou serviço satisfaz uma necessidade social por meio de associação a determinados segmentos socioeconômicos. Exemplo: camisa de marca famosa para se identificar com pessoas de alta renda. Emocional Quando o produto ou serviço satisfaz uma necessidade emocional, criando sentimentos. Exemplo: alegria que uma pessoa sente ao receber um presente. Epistemológica Quando o produto ou serviço satisfaz a necessidade de conhecer ou aprender algo novo. Exemplo: comprar e ler um jornal ou assistir a um noticiário de tv. Situacional Quando o produto ou serviço satisfaz necessidades contingentes em determinado local e tempo. Exemplo: quando contratamos um conserto de emergência do carro durante uma viagem. Fonte: adaptado de Ikeda e Oliveira (2005, p. 9). O valor pode, ainda, ser definido como extrínseco ou intrínseco. Será extrínseco quando estiver associado a utilidade e funcionalidade de um produto ou serviço; e será intrínseco quando tiver um fim em si mesmo e se relacionar a experiências pessoais. Para Kotler e Keller, o significado de valor é o seguinte: a relação entre a somatória dos benefícios tangíveis e intangíveis proporcionados pelo produto e a somatória dos custos financeiros e emocionais envolvidos na aquisição desse produto. Do ponto de vista primário, o valor pode ser considerado como uma combinação de qualidade, serviço e preço, denominada tríade do valor para o cliente (2012, p. 9). Os clientes estão bem informados e têm ferramentas que possibilitam a verificação dos argumentos das empresas, por isso, sabem como encontrar as melhores alternativas para suas compras. Mas como eles fazem essas escolhas? Segundo Kotler e Keller: eles buscam sempre maximizar o valor, dentro dos limites impostos pelos custos envolvidos na sua procura e pelas limitações de conhecimento, mobilidade e renda. Os clientes estimam qual oferta eles acreditam que – seja lá por qual razão – entregará o maior valor percebido e agem com base nisso. A probabilidade de satisfação e repetição da compra depende de a oferta atender ou não a essa expectativa de valor (2012, p. 131). Figuras 1 – Determinante do valor percebido pelo cliente Fonte: adaptada de Kotler e Keller (2012, p. 131). As empresas podem efetuar uma análise de valor de seus produtos ou serviços, a fim de detectar seus pontos fortes e fracos em relação aos concorrentes, utilizando-se das seguintes etapas: Quadro 2 – Análise de valor para o cliente ANÁLISE DESCRIÇÃO Identificando os principais atributos e benefícios valorizados pelos clientes. Cliente é questionado em relação a atributos e benefícios que geralmente busca ao escolher um produto ou serviço. Avaliando a importância (quantitativa) dos diferentes atributos e benefícios. Cliente é solicitado a classificar a importância dos atributos e benefícios. Avaliando seu desempenho e dos concorrentes nos diferentes valores para os clientes. Cliente descreve como enxerga o desempenho da empresa e dos concorrentes em cada atributo e benefício. Examinando como os clientes avaliam o desempenho de uma empresa em relação a um concorrente específico. Caso a oferta da empresa ultrapasse a dos concorrentes em todos os atributos e benefícios considerados importantes pelo cliente, a empresa poderá cobrar um preço mais elevado ou o mesmo preço e obter maior participação no mercado. Monitorando os valores para o cliente ao longo do tempo. A empresa deverá refazer seus estudos sobre os valores para os clientes com periodicidade e também a classificação dos concorrentes, na medida em que a tecnologia e os demais recursos se modifiquem. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 132). IMPORTANTE Valor percebido pelo cliente = diferença entre a avaliação que o cliente faz de todos os benefícios e custos relativos à aquisição de um produto e/ou serviço e as alternativas percebidas. 2 Diferença entre custo, preço e valor Vimos que o valor de determinado produto ou serviço varia de pessoa para pessoa, visto que depende do grau de necessidade, satisfação e utilidade para cada um. Vamos agora abordar o que é preço e o que é custo. De maneira geral, podemos dizer que preço é a quantidade de recursos empregados pelos clientes para adquirir produtos ou serviços. É a quantidade de dinheiro que deve ser paga por determinado produto ou serviço, sem levar em conta quais são os atributos ou benefícios que traz ao cliente. O preço, certamente, é influenciado pelo valor, pela novidade, pela ação da concorrência, pela oferta e pela procura dos produtos ou serviços. Para Kotler e Keller: o preço é o único elemento do mix de marketing que gera receita; os outros elementos geram custos. Os preços talvez sejam o elemento mais fácil de ajustar do plano de marketing; características do produto, canais de distribuição e até mesmo as ações de comunicação demandam tempo. O preço também informa ao mercado o posicionamento de valor pretendido pela empresa para seu produto ou marca. Um produto bem desenvolvido e comercializado pode cobrar um preço superior e colher altos lucros. (2012, p. 411) Normalmente, os clientes escolhem produtos ou serviços que tenham preços similares, levando em consideração a escala de valor atribuído, mas a realidade econômica nacional continua levando muitos consumidores a economizar e até trocar os produtos e serviços por outros. Assim, as empresas devem rever com muito cuidado suas estratégias de determinação de preços. As empresas devem atentar para o fato de que a introdução ou a alteração do preço pode provocar reação por parte dos clientes e concorrentes. É muito provável que a concorrência reaja, o que pode ser um problema, especialmente, quando existe uma forte proposta de valor. Caso o concorrente tenha uma meta de participação no mercado, é muito provável que elimine as diferenças ou que altere seus preços. Para determinar uma estratégia de preços, a empresa precisa saber que o custo varia. Mas o que é custo? Podemos dizer que custo é a quantidade de recursos que as empresas empregam para produzir, entregar e garantir os produtos ou serviços adquiridos pelos clientes. A demanda por determinado produto ou serviço normalmente estabelece um teto para o preço, mas são os custos que vão determinar o piso. Assim, as empresas desejam cobrar um preço que cubra os custos de produção, distribuição e venda do produto ou prestação do serviço, incluindo um retorno justo por seu risco e esforço de produção ou prestação de serviço. Os custos poderão ser fixos (ou indiretos) e variáveis. Os primeiros não variam de acordo com a produção ou a receita de vendas. Já os variáveis oscilam em proporção direta ao nível de produçãoou prestação de serviço. Cada elemento do custo (desde o projeto, passando pela engenharia e pela fabricação, até as vendas) deve ser examinado e, muitas vezes, a empresa deverá procurar reduzir seus custos, o que será possível de diversas maneiras. É fundamental que as empresas saibam administrar os recursos com eficácia e eficiência, para que possam gerar produtos ou serviços com preços competitivos, e, assim, obter uma diferença positiva entre valor, preço e custo. 3 Como se dá a criação de valor para o cliente Como vimos, um dos pontos mais importantes para as empresas é a criação de valor para o cliente por meio da criação de produtos ou serviços que causem um impacto positivo, e cujos benefícios sejam real mente percebidos pelo cliente. A criação de valor para o cliente poderá ocorrer de diversas formas: segmentação de mercado, seleção de mercado-alvo, processo de diferenciação ou posicionamento de marca. Vamos a cada uma delas. Estratégias de marketing se baseiam em segmentação, seleção de mercado-alvo e posicionamento – em inglês, segmentation, targeting e positioning (STP). De acordo com Kotler e Keller: uma empresa identifica diferentes necessidades e grupos de mercado. Estabelece como alvo aqueles que são capazes de atender melhor e, então, posiciona seus produtos de modo que o mercado-alvo reconheça as ofertas e as imagens diferenciadas da empresa. (2012, p. 294) 3.1 Por segmentação de mercado O objetivo da segmentação (segmentation) de mercado é poder viabilizar melhores propostas de entrega de valor ao cliente. Consumidores podem ser segmentados de acordo com as variáveis geográfica, demográficas e também de comportamento. Estudos de segmentação de mercado têm como objetivo identificar grupos de clientes que tem características em comum e bem definidas em termos demográficos, de estilo de vida e de área geográfica, por exemplo. Nessa situação, é possível identificar pessoas com orientações de valores semelhantes ou iguais. Com base em perfis de valor, é possível identificar segmentos de mercado consideráveis e conhecer os valores mais importantes dos clientes que deles fazem parte. O processo de segmentação de mercado é composto por duas etapas. Na primeira (chamada segmentação), são escolhidas as variáveis que serão a base para definição dos perfis de clientes. Na segunda etapa (chamada priorização), são avaliados os graus de atratividade dos segmentos escolhidos, os quais, comparados e confrontados com os recursos, as competências e a posição competitiva da empresa, permitirão finalmente a seleção dos segmentos de mercado que representam oportunidades reais de obtenção de vantagem competitiva para a empresa. 3.2 Por seleção de mercado-alvo Depois de identificados os segmentos existentes, é possível selecionar os que são mais atrativos e que poderão ser atendidos pela empresa, para então definir seu posicionamento (targeting). Deve-se observar se o segmento escolhido possui características que o tornam promissor, como crescimento, possibilidades de lucratividade e de crescimento. A empresa deverá considerar se os investimentos com o segmento potencial e escolhido condizem com seus objetivos, competências e recursos. Muito embora, a princípio, um segmento possa parecer atraente para a empresa, se, por algum motivo, não puder ser atingido por ações da empresa, ele não será um segmento adequado, devendo, assim, ser descartado. Mercados-alvo podem ser selecionados com base em quatro níveis principais: massa, segmentos múltiplos, segmentos únicos (ou nichos) e indivíduos, conforme podemos verificar na figura 2. Figura 2 – Possíveis níveis de segmentação Fonte: adaptada de Kotler e Keller (2012, p. 248). É importante ressaltar a importância de escolha ética dos mercados- alvo para evitar reações negativas de potenciais consumidores, pois alguns resistem a ser rotulados. Como exemplo, podemos citar alimentos para solteiros. Algumas pessoas podem rejeitar uma comida em porção única, pois não querem ser lembrados de que comem sozinhos. 3.3 Por processo de diferenciação Uma empresa poderá obter vantagem competitiva por meio de um processo de diferenciação. Na maioria das vezes, essa diferenciação relaciona-se a aspectos do bem ou serviço oferecido. Por exemplo, a Swatch, que oferece relógios com estilo e na moda, e a Porto Seguro, que oferece seguro com preço baixo e confiável. Segundo Falcão et al. (2016), mais do que vantagem competitiva: a diferenciação deve ser capaz de posicionar o produto (seja ele um bem ou serviço) na mente do consumidor como uma proposta única, uma entrega de valor superior àquela dos concorrentes. Caso contrário, não faz sentido a empresa direcionar recursos para tal estratégia. (p. 33) Para Kotler e Keller (2012, p. 307), em mercados altamente competitivos, as empresas podem ter que dar um passo além, tendo que apresentar outras dimensões que visam à diferenciação baseada: nos funcionários; no canal de distribuição; na imagem; em serviços. 3.4 Por posicionamento de marca Passamos agora ao posicionamento de marca (positioning). O posicionamento é fruto e consequência de todo o processo de segmentação. Segundo Kotler e Keller, é: a ação de projetar a oferta e a imagem da empresa para que ela ocupe um lugar diferenciado na mente do público-alvo. O objetivo é posicionar a marca na mente dos consumidores a fim de maximizar a vantagem potencial da empresa. Um posicionamento eficaz de marca ajuda a orientar a estratégia de marketing, esclarecendo a essência da marca, identificando os objetivos que ela ajuda o consumidor a alcançar e mostrando como isso é feito de maneira inigualável. (2012, p. 294) Assim, além de ser uma vantagem competitiva, o posicionamento de marca funciona como uma proposta do valor que a empresa procura entregar com seu produto/marca. O objetivo é que o mercado escolhido perceba a marca de forma diferenciada e distinta. Para Kotler e Keller (2012), podemos dizer que um posicionamento de marca eficaz deve ter um “pé no presente” e também um “pé no futuro”, ou seja, deve querer crescer, além de querer alcançar o equilíbrio entre o que a marca é e o que ela poderia ser. 4 Estudo de caso – a marca Granado e sua trajetória de posicionamento de marca Falando de posicionamento de marca dentro do setor de higiene pessoal, que é um dos que mais crescem no mundo, tendo o Brasil no terceiro lugar do ranking mundial, perdendo somente para os Estados Unidos e o Japão, destacamos a empresa brasileira Granado, que iniciou seus trabalhos em 1836, fundada pelo português José Antonio Coxito Granado, no Rio de Janeiro. O sabonete de glicerina, criado em 1915, tornou-se o carro-chefe da empresa. Em 1930, foi inaugurada a primeira filial no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. De certa forma, a empresa manteve-se estagnada e sua história recomeçou em 1994, quando o neto do fundador vendeu a empresa para o inglês Christopher Freeman. A partir daquele ano, a empresa iniciou um processo de reposicionamento de mercado, aumentando seu portfólio de produtos e modernizando a gestão. Em 2004, Freeman adquiriu também a Phebo, marca nacional antiga, de grande valor afetivo na memória dos brasileiros. Para se tornar competitiva, a Granado partiu para um conjunto de ações com o objetivo de resgatar o diferencial da marca. Repaginou sua identidade visual, pegando carona na tendência retrô do mercado. Além da repaginação da identidade visual, foram lançadas novas linhas de produtos, especialmente voltadas para mulheres. Uma delas é inspirada em terapias naturais. Criou, também, uma linha mais sofisticada, com o objetivo de alcançar o mercado externo. A sustentabilidade é outro ponto para o qual a empresa se voltou. Desde 1998, seus sabonetes utilizam quantidade de gordura animal limitada em suas fórmulas. Os cosméticos têm sido desenvolvidos para serem biodegradáveis. A marca também evita corantes e fragrâncias artificias em seus produtos. Não realiza testes em animais e utiliza madeira sustentável nas embalagens. Todos os elementosdo mix de marketing foram alterados. Houve investimento no desenvolvimento de produtos que se aproximam da cosmética industrial e afastamento das linhas de medicamentos e fórmulas manipuladas. Em 2012, havia 250 produtos em 12 linhas, aproximadamente. Seus pontos de venda também aumentaram. Hoje, há várias lojas próprias e presença em aproximadamente 50 mil pontos de venda em quase todo o Brasil, como farmácias, drogarias, supermercados, lojas de departamento, além de hotéis de luxo e da loja virtual. Nas lojas físicas, há a intenção de transmitir o charme de uma época passada, preservando a identidade da tradição da marca, remetendo a um ambiente do século XIX, com a utilização de objetos antigos em sua decoração. Os preços são bem variados – alguns mais acessíveis, como o polvilho para os pés e o sabonete de glicerina, mas há também produtos mais caros. Há preocupação com a comunicação visual e o mix de promoção inclui ações de merchandising (disposição de displays nas lojas e em grandes hotéis). No ambiente virtual, a marca, além de manter seu website, está presente em redes sociais, nas quais realiza enquetes, sorteios e divulgação de eventos e promoções de vendas. Adquirida por 8 milhões de reais em 2010, a marca teve faturamento de 180 milhões de reais, aumentando seu conglomerado. Sem dúvida, um excelente exemplo de posicionamento de marca. Considerações finais Pudemos observar, ao longo deste capítulo, que a criação do valor para o cliente é de extrema importância para que as empresas venham a obter resultados positivos e alcancem vantagem competitiva em relação a seus concorrentes. Além disso, os resultados para as empresas que criam valor para o cliente vêm a médio e longo prazos, o que garante a sobrevivência da empresa no futuro. Uma das melhores formas de oferecer valor para o cliente é estabelecer um processo de segmentação de mercado sólido, bem como de posicionamento da marca. Os objetivos dessas estratégias de marketing são, além de sustentar o crescimento da empresa e sua sobrevivência econômico- financeira, proporcionar e apoiar o desenvolvimento de um relacionamento duradouro com os clientes. Referências FALCÃO, Roberto R. et al. A criação de valor para o cliente com base nos processos estratégicos de segmentação e posicionamento. RIMAR – Revista Interdisciplinar de Marketing, Maringá, v. 6, n. 2, p. 25-41, jul./dez. 2016. GRÖNROOS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. IKEDA, Ana Akemi; OLIVEIRA, Tânia Modesto V. O conceito de valor para o cliente: definições e implicações gerenciais em marketing. REAd – Revista Eletrônica de Administração, v. 11, n. 44, mar./abr. 2005. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. Capítulo 4 Principais canais de comunicação e relacionamento Muitas transformações aconteceram nas últimas décadas – revolução tecnológica, mudança no foco do mercado e, principalmente, no comportamento do cliente, que se tornou mais exigente na escolha de produtos e serviços. Tudo gira ao redor do cliente. Ele é o centro das atenções. Ao perceber que está sendo disputado pelas empresas, busca e exige excelência no atendimento, atenção e serviços de qualidade. Essas transformações colaboraram para o processo de transição dos conceitos do marketing tradicional para os do marketing de relacionamento. Assim, o marketing de relacionamento tornou-se alvo de grande interesse por parte dos gestores, graças à sua capacidade potencial de conduzir as empresas a melhores resultados por meio de desenvolvimento de relacionamentos de longo prazo com clientes e parceiros. As empresas, mais do que criar ações promocionais com base em um banco de dados ou realizar ações para reter clientes, podem se utilizar da tecnologia e dos canais de comunicação para atender satisfatoriamente às demandas desse novo perfil de cliente. O marketing de relacionamento constitui um esforço integrado das empresas para identificar, construir, manter e aprimorar relacionamentos individuais com clientes a longo prazo, e as empresas podem obter sucesso e lucro por meio de estratégias desse novo conceito e filosofia de marketing. 1 Entendendo o cliente Para que seja estabelecida uma relação, a empresa necessita, primeiramente, identificar o cliente. Conhecer a clientela é importante para oferecer o que ela deseja e precisa. A empresa deve se envolver na tarefa incessante de conhecer e entender seu cliente, e deverá responder aos seguintes questionamentos: 1) quais são as necessidades e expectativas de seus clientes e quais dessas necessidades e expectativas importam mais para eles? 2) quão bem estamos satisfazendo essas necessidades e expectativas? 3) quão bem os nossos competidores as estão satisfazendo? 4) como fazer para ultrapassar o mínimo que satisfará nossos clientes para realmente empolgá-los? O passo básico é simples: pergunte a eles quão bem você os está atualmente servindo. Dê-lhes uma chance de lhe dizer o que desejam, onde você está falhando, onde você está obtendo sucesso. (WHITELEY, 1992, p. 24) É fundamental que a empresa trate seu cliente individualmente. Conhecer cada um como indivíduo é o primeiro passo para um relacionamento eficaz e é indispensável para a satisfação do cliente. Após identificar seus clientes, a empresa deve classificá-los, ou seja, diferenciá-los, priorizando esforços para os clientes de maior valor e de maior potencial, personalizando o comportamento da empresa com base nas necessidades individuais deles. O relacionamento deve ser tornar mais eficaz e eficiente, pois, agora é a hora de interagir com os clientes. Esse vínculo pode ser fortalecido por meio da tecnologia e das informações colhidas e analisadas. O objetivo é desenvolver uma relação de aprendizado na qual cada vez mais se individualizam e se particularizam serviços e produtos para que o cliente veja conveniência em continuar com a empresa. O próximo e último passo é personalizar serviços e produtos para que a experiência de fazer negócios com a empresa seja única. A personalização agrega mais valor à empresa; e o cliente vê conveniência em continuar com a parceria. 2 Canais de comunicação e relacionamento Podemos dizer que canal de comunicação é o meio físico e virtual utilizado para a transmissão de mensagens entre emissor e receptor. Para Kotler e Keller, esses canais podem ser pessoais: Quando envolvem duas ou mais pessoas que se comunicam diretamente uma com a outra ou com uma plateia por telefone, correio ou e-mails. A eficácia dos canais de comunicação pessoais provém das oportunidades de individualizar a apresentação e o feedback(2012, p. 522-523). Para esses autores, canais de comunicação poderão ser, ainda, não pessoais quando “são direcionados para mais de uma pessoa e abrangem a mídia, as promoções de vendas, os eventos e as relações públicas” (2012, p. 523). 2.1 Database marketing É extremamente importante para o marketing de relacionamento a utilização de um banco de dados eficaz e também de um programa de CRM.[1] É possível formar grandes bancos de dados com informações relevantes sobre os clientes, agrupando-os por dados de similaridade e, posteriormente, usando-os para tomar medidas. Esse recurso trazido pelo avanço tecnológico permite o contato direto do cliente com a empresa, independentemente da presença física. As empresas fazem utilização de banco de dados nas seguintes situações: Quadro 1 – Situações para utilização do banco de dados Identificar clientes potenciais. Decidir que clientes devem receber uma oferta em particular. Intensificar a fidelidade do cliente. Reativar as compras do cliente. Evitar erros sérios que envolvam o cliente. Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 151-152). Os principais avanços nos sistemas de informação utilizados no marketing de relacionamento são os sistemas sobre clientes, em particular os sistemas de banco de dados de clientes, que é um conjunto de dados abrangentes sobre clientes atuais oupotenciais atualizado, acessível e prático para fins de geração e qualificação de leads (listas de contatos de clientes potenciais), venda de produtos ou manutenção do relacionamento com os clientes. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 150) O database marketing, termo amplamente utilizado, é um sistema dinâmico de base de dados inteligíveis, atualizados com informações relevantes sobre os clientes atuais e potenciais. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 150), database marketing é “o processo de construir, manter e usar os bancos de dados de clientes e outros cadastros (produtos, fornecedores, revendedores) para efetuar contatos e transações, além de desenvolver relacionamentos com o cliente”. É importante que o banco de dados contenha informações sobre compras anteriores, idade do cliente, renda, data de aniversário, interesse e atividades, além de outras informações úteis e relevantes. Há algumas prioridades que devem ser observadas na criação e na composição do banco de dados: informações sobre os clientes devem ser automatizadas, segundo a importância dos clientes para a empresa, pois não vale a pena ter informações sobre clientes com os quais a empresa tem pouco contato; clientes da empresa ligados a locais especiais, como filiais, devem ter suas informações descentralizadas para esses locais; a fidelidade e a qualidade dos dados precisam ser totalmente testadas, permitindo a integridade e uma perfeita utilidade dos sistemas. As empresas podem capturar e coletar informações sobre seus clientes sempre que eles entrarem em contato com qualquer departamento (quer para comprar, quer para solicitar alguma assistência, por exemplo), devendo organizá-las em forma de data warehouse (ou armazém de dados), isso para que os profissionais de marketing da empresa possam consultar e analisar as informações armazenadas e inferir um score (ou pontuação) das necessidades individuais dos clientes. Será por meio do data mining (ou mineração de dados) que analistas de marketing poderão extrair informações úteis de uma ampla massa de dados sobre indivíduos e tendências. Para Kotler e Keller (2012, p. 151), “fazer data mining significa usar técnicas estatísticas e matemáticas sofisticadas”. O marketing de relacionamento integrado a um database marketing de clientes atuais e potenciais que disponibiliza um grande volume de informações também aumenta a vantagem competitiva da empresa. 2.2 CRM O CRM é uma sigla que quer dizer: customer relationship management, ou seja, gerenciamento de relacionamento com clientes (ou consumidores). De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 142), “a gestão do relacionamento com o cliente trata do gerenciamento cuidadoso de informações detalhadas sobre cada cliente e de todos os ‘pontos de contato’ com ele, a fim de maximizar sua fidelidade”. O CRM é uma estratégia voltada ao atendimento e à antecipação das necessidades dos clientes atuais e potenciais em uma empresa. É um sistema que possibilita o estabelecimento de um relacionamento íntimo com cada cliente, pois informações coletadas e registradas são usadas para tratar clientes diferentes de maneira personalizada. Esse intercâmbio traz benefícios para ambos, visto que os clientes oferecem informações e recebem serviços personalizados, que atenderão a suas necessidades e seus desejos. Do ponto de vista tecnológico, a intenção do CRM é “capturar” os dados dos clientes ao longo de todo o relacionamento com a empresa, consolidando todos os dados capturados interna e externamente, em um banco de dados central, no qual os dados são analisados e consolidados e, posteriormente, distribuídos aos vários pontos de contato com o cliente, a fim de serem usados em qualquer interação do cliente com a empresa. A decisão por um programa específico de CRM passa pela seleção do software. A escolha acontece em função do modelo de relacionamento que a empresa quer estabelecer. O software, por sua vez, vai determinar qual é o melhor hardware para compor o programa. O hardware inclui os computadores, o equipamento de telefonia e vários outros equipamentos, inclusive para call center (receptivo e ativo) e informatização da força de vendas, se for o caso. IMPORTANTE O CRM é uma filosofia de trabalho. Muitas empresas que decidiram implantar um programa como esse erraram por achar que adquirindo um software de CRM (e existe uma infinidade deles) teria seu problema resolvido. Esse pensamento trouxe como consequência o descrédito do CRM, isso porque existem aplicações rotuladas como CRM que não cumprem o que é essencial para caracterizar esse tipo de filosofia ou orientação da organização para relacionamentos duradouros com clientes. O CRM possibilita a personalização. Para Gordon (2002, p. 207) “a personalização é o processo que permite que a comunicação, o produto e os serviços portem o nome do cliente, ao acrescentar valor para ele à medida que eles se posicionam com os outros”. Cabe ressaltar que, quando uma empresa busca uma solução mais sofisticada, o CRM pode ser uma alternativa inviável do ponto de vista do retorno proporcionado pelo investimento financeiro necessário. Estudos de viabilidade devem ser conduzidos anteriormente à contratação de uma empresa desenvolvedora de CRM, assim como é preciso ter em mente que apenas o software não é suficiente para que as práticas relacionais sejam desenvolvidas. 2.3 Call center O call center apresenta-se como canal de comunicação essencial. É um local onde se prioriza e se estabelece o relacionamento com os clientes. A comodidade e o conforto que o call center proporciona aos clientes são os elementos essenciais que fazem da central de atendimento um instrumento de fácil acesso para as pessoas. É por intermédio das centrais de atendimento que são obtidas informações sobre os clientes, as quais servem de referência para a elaboração de estratégias. Para que consiga atender de forma eficaz, o call center deve dispor de tecnologia de informação para a administração de seus processos, com o objetivo de atender uma grande demanda de ligações simultaneamente. Embora a tecnologia e seus recursos sejam importantes para a central de atendimento ao consumidor, o grande diferencial concentra-se no relacionamento. O atendente de call center deve ser qualificado para a realização dos serviços, atender os clientes com agilidade, porém sem pressa. Ressalta-se que cada cliente se considera único – quer ser tratado com atenção e ter o seu problema ou dúvida resolvidos. As empresas devem elaborar métodos que motivem os funcionários envolvidos no relacionamento com os clientes. Um fator primordial para o sucesso da organização é a boa atuação dos funcionários das centrais de atendimento, pois no momento do contato o atendente representa a empresa. Ocorrência comum é muitos clientes se irritarem ao ter que entrar em contato com uma central de atendimento, em razão da demora ou porque o funcionário que está do outro lado da linha não o trata de forma adequada e única. É importante, também, que a empresa disponibilize no call center um canal específico para atendimento de reclamações (anti-atriction), pois o cliente quer ser ouvido. O relacionamento é a chave de sucesso para as organizações, e o call center tem como objetivo estabelecer e aumentar a longevidade do relacionamento com os clientes, tornando-se fundamental para que a empresa se mantenha no mercado. Além dos canais de comunicação e relacionamento citados anteriormente, as empresas poderão também contar com chat on- line, e-mail, sites externos de reclamação (por exemplo, o site Reclame Aqui), bem como páginas de dúvidas frequentes (FAQ). 2.4 SAC O serviço de atendimento ao cliente (SAC) é, na grande maioria das vezes, o primeiro suporte que um consumidor procura quando quer estabelecer uma comunicação com a empresa. O SAC é, de modo geral, responsável por atender demandas como informações sobre produtos e serviços, reclamações, elogios e críticas. É considerado uma forma direta de comunicação entre empresas e clientes. Utiliza-se de linhatelefônica e ocorre em tempo real. 2.5 Chat Chat é um termo em inglês que pode ser traduzido como bate- papo ou conversa. Trata-se de uma ferramenta muito utilizada pelas empresas para comunicação por escrito, de forma instantânea. Utiliza a internet e ocorre em tempo real. Existe também no módulo videochat, no qual é possível, além da troca de mensagens instantâneas, visualizar o interlocutor por meio de uma webcam. Serviços de mensagens instantâneas são também disponibilizados por outros meios, entre os quais estão o Skype, o WhatsApp e o Messenger (do Facebook). 2.6 E-mail Embora existam outros canais disponíveis, muitos clientes ainda preferem utilizar o e-mail para se comunicar com as empresas. Como todo canal de comunicação e relacionamento, a empresa deve estar atenta para responder prontamente aos questionamentos encaminhados por esse meio. 2.7 Blogs O blog é considerado um meio flexível para estabelecer a comunicação entre empresas e clientes. É uma abreviação de weblog (web: rede; log: registro de atividade), sendo utilizado na internet como diários pessoais. De acordo com Batista e Costa: É uma página na web que se pressupõe ser atualizada com grande frequência através da colocação de mensagens – que se designa “post” – constituídas por imagens e/ou textos normalmente de pequenas dimensões [...] e apresentadas de forma cronológica, sendo as mensagens mais recentes normalmente apresentadas em primeiro lugar. (2009, p. 4) Para esses autores, o blog é um dos canais mais conhecidos e utilizados na internet para publicações pessoais, permitindo que muitas pessoas escrevam e compartilhem de maneira coletiva. Os blogs são dinâmicos, o que possibilita que seus criadores encontrem muitas vantagens, pois além de não ter custos para sua criação, também ajudam a melhorar o posicionamento das marcas. Normalmente, conteúdos de blogs são partilhados nas redes sociais (LEITE, 2015). 2.8 Ouvidoria Principalmente após a publicação do código de defesa do consumidor no Brasil (em 1990), as empresas sentiram a necessidade de implantar mais um canal de comunicação: a ouvidoria, um canal que serve para o consumidor recorrer diretamente à empresa. De acordo com Fernandes, a ouvidoria: Atua no pós-atendimento, na mediação de conflitos entre o cidadão, usuário, cliente ou fornecedor e a instituição. Procura personalizar o atendimento ao usuário e individualizar o tratamento da mensagem. [...] A ouvidoria trata de assuntos que possuem a característica de causar transtorno ou dano, inconveniência, desvantagem ou impasse ao órgão ou aos seus dirigentes e servidores e normas. Integra os sistemas de controle interno e externo da instituição, as gerências de planejamento e os programas de qualidade e de desburocratização, vinculando-se a esfera superior. (2009, p. 221-222) A ouvidoria é regulamentada por lei e em órgãos públicos é muito utilizada como canal para receber as críticas e as sugestões dos cidadãos. 2.9 Multicanais Em razão do rápido acesso e às modernas plataformas de acesso à internet (smartphones, tablets, notebooks, Kindles, smart TVs), os clientes estão cada vez mais exigentes no que diz respeito ao atendimento. Sem dúvida, ser multicanal é essencial para as empresas manterem a competitividade no mercado, pois os clientes querem ter opções no momento de concluir uma compra. Assim, é muito comum os clientes pesquisarem na internet sobre um produto e concluir sua compra em uma loja física. O avanço tecnológico deve garantir que a navegação por meio de dispositivos móveis seja rápida e clara, fazendo com que a experiência de compra seja satisfatória. Assim, consideramos que multicanal é a oferta de diversos canais de compras (como lojas físicas, sites, redes sociais, aplicativos, telefone, televendas, porta a porta). De acordo com Dias (2014, p. 18), “compra multicanal, definida como compra em diferentes canais de varejo, capacita o consumidor a ter mais opções de compras flexíveis, obter acesso fácil à informação de produto e experimentar uma qualidade maior de serviços”. 2.10 Omnichannel O conceito de omnichannel é muito utilizado no varejo e está ligado a uma evolução do multicanal. O termo foi criado por marqueteiros “para expressar todas as formas de consumo em que o consumidor se engaja” (DIAS, 2014, p. 39). Há nesse segmento três tipificações de consumidores: omni-integrado – consumidor de 30 a 50 anos de idade, ligado no movimento e no escritório; jovem com smartphone, consumidor com idade inferior a 30 anos, que raramente se utiliza de e-mail e que utiliza muito o WhatsApp; engajados em comunidades sociais, estão conectados por interesse (em vez de idade). Nesse tipo, incluem-se consumidores de todas as idades. De acordo com Dias, omnichannel é um novo termo para o varejo digital que: reflete a forma como os varejistas vão interagir com o consumidor por meio de incontáveis canais: websites, lojas físicas, quiosques, mala direta e catálogos, call centers, mídia social, aplicativos em smartphones, consoles de jogos, TVs, aplicativos de redes, serviços residenciais, etc. O multicanal tem crescido cada vez mais e os motivos certamente são: vasta possibilidade de comprar inúmeros produtos, fáceis de localizar e pesquisar, fácil comparação de preços; a compra pode ser feita de qualquer lugar, sem precisar dirigir-se a lojas físicas. Fora isso tudo, metade das compras realizadas on-line são entregues sem cobrança de frete e as devoluções, na maioria das vezes, são também gratuitas. (DIAS, 2014, p. 40-41) 2.11 Redes sociais O surgimento e o crescimento das redes sociais mudaram a forma de relacionamento entre as empresas e os clientes. Cada vez mais as empresas estão aderindo às redes sociais para estabelecer e manter mais um canal de relacionamento com o cliente, pois por esse meio é possível encontrar um público-alvo e então atraí-lo, estabelecendo até mesmo relações duradouras. Em todo e em qualquer meio de comunicação, a empresa deve adotar a mesma postura frente ao cliente – oferecer personalização em seu atendimento, ter capacidade de flexibilização e adaptabilidade na linguagem a ser adotada (tanto oral, quanto escrita). Além disso, deve oferecer agilidade no atendimento e nas interfaces com os clientes. 3 Elementos da cultura empresarial A cultura empresarial não é um modismo da administração. Ela é uma ferramenta essencial para a condução de processos de mudança organizacional ou de diagnósticos para solução de problemas. O que é exatamente cultura corporativa? Alguns a definem como experiências, histórias, convicções e normas compartilhadas que caracterizam uma empresa. Basta entrar em qualquer empresa e a primeira coisa que se nota é a cultura corporativa – como as pessoas se vestem, como se dirigem umas as outras e como cumprimentam os clientes. Segundo Kotler e Keller (2012, p. 46), “[...] uma cultura centrada no cliente pode afetar todos os aspectos de uma organização”. Entende-se por cultura empresarial o conjunto de valores e pressupostos básicos, expressos simbolicamente, que faz com que os membros de uma organização assumam uma identidade cultural, demonstrada na uniformidade de seu comportamento, no compartilhamento de valores, que muitas vezes levam a comportamentos que se tornam posteriormente pressupostos inconscientes. Ela influencia o comportamento do capital humano. A cultura organizacional: Compreende, além das normas formais, também o conjunto de regras não escritas, que condicionam as atitudes tomadas pelas pessoas dentro da organização; por esse motivo, o processo de mudança é muito difícil, exigindo cuidado e tempo. Para se obter uma mudança duradoura, não se tenta mudar pessoas, mas as restrições organizacionais que operam sobre elas. A cultura da organização envolve um conjunto de pressupostos psicossociais como normas, valor, recompensas e poder, sendo atributo intrínseco a organização. (CACCIA, 2006, p. 10) É imprescindível que os vários elementos da cultura da empresa e de suas diretrizes – crenças, valores, conhecimentos,habilidades e recursos diversos (principalmente os recursos humanos) – estejam em sinergia e em constante integração. Daí a afirmação de que, para o sucesso e a estabilidade do marketing de relacionamento, a empresa deve estar madura e preparada, ou seja, deve ter clara sua filosofia e estar comprometida com os princípios necessários à sua implementação. Cabe ressaltar que é preciso haver organização e coordenação entre todas as ações de marketing da empresa, bem como entre os seus respectivos agentes, desde a fabricação do produto – incluindo os processos de colocação do produto ou serviço no mercado, da telefonista ao entregador, do vendedor ao técnico de manutenção. Enfim, toda a empresa precisa falar a mesma língua. Para que o marketing de relacionamento seja implantado em uma organização, é necessário o alinhamento da cultura às estratégias adotadas pela empresa. É preciso trabalhar com o que chamamos de “modelo mental” da empresa, alinhando o compromisso dela com os propósitos mais essenciais do marketing, ou seja, afirmar que a empresa existe para atender aos clientes e satisfazer suas necessidades e seus desejos. Essa filosofia deve permear toda a organização e orientar suas ações, para que todos estejam comprometidos com a criação contínua de valor e a redução das diferenças entre o que querem os clientes e o que a empresa oferece. A empresa deve “respirar” o marketing de relacionamento. Os princípios culturais, estratégicos e operacionais são, portanto, a base para avaliar a adesão de uma organização ao marketing de relacionamento. Os elementos devem se complementar e se integrar na busca pela construção contínua de valor para o cliente, guiada pela filosofia do marketing de relacionamento. 4 Redes sociais como canais de relacionamento Pouco tempo atrás, quando os clientes queriam se comunicar com a empresa, utilizavam como canal de comunicação a central de atendimento. Quando a internet se tornou mais popular e usual, eles passaram a utilizar o site da empresa para se manifestar (solicitar algo, reclamar ou elogiar). Surgiram então as redes sociais, que muito rapidamente se popularizaram no mundo todo. Não há como negar que as mídias sociais mudaram a forma de relacionamento entre as organizações e os clientes. Elas possibilitam que os consumidores se envolvam com uma empresa ou uma marca em um nível nunca visto anteriormente na história. Ignorar a presença e a importância das mídias sociais é ficar para trás em relação à concorrência e implica perda de vantagem competitiva. O grande poder das redes sociais é a disseminação de conteúdo e o tempo em que ela ocorre – uma empresa apresenta determinado conteúdo; se for relevante, seus seguidores divulgarão essa mensagem aos seus amigos, gerando compartilhamentos, o que faz com que a publicação seja vista por outras pessoas; o que gerará novos compartilhamentos, e assim por diante. Redes sociais são de extrema importância tanto para as empresas quanto para os consumidores. Destacam-se Facebook, LinkedIn, Twitter, Instagram e WhatsApp. Sobre elas, dizem Kotler e Keller: Cada rede oferece benefícios específicos para as empresas. Por exemplo, o Twitter pode servir como um sistema de alerta precoce que permite uma resposta rápida, enquanto o Facebook possibilita mergulhos mais profundos para envolver os consumidores de uma forma mais significativa. (2012, p. 590) Assim, as redes sociais aproximam o consumidor da empresa e possibilitam a criação e o estreitamento de laços de relacionamento. Além disso, as redes sociais podem ser utilizadas para diversas ações, como a criação de um canal de atendimento ao cliente, por exemplo, além de serem ativamente utilizadas para campanhas de marketing, lançamento de novos produtos, promoções, etc. Bem empregadas, aproximam de forma mais efetiva os consumidores da empresa, de maneira dirigida e segmentada. Por meio das mídias sociais é possível conhecer as necessidades e os anseios dos consumidores de forma mais direta, possibilitando a criação de estratégias de divulgação de marca. No entanto, uma estratégia de marketing em redes sociais exige maturação, sendo ação de médio e longo prazos. Para isso, a empresa deve empenhar-se em oferecer nas redes um conteúdo relevante e respostas rápidas nas interações entre usuários, clientes e consumidores. Em razão da dinâmica do funcionamento das redes sociais, é preciso que as empresas que querem estabelecer e estreitar o relacionamento com os clientes por meio das redes estejam atentas ao tempo de resposta que darão aos comentários recebidos nas diversas publicações. É preciso ser atencioso com as manifestações, sejam elas positivas ou negativas. O timing é muito importante! A precisão e a criatividade nas interações, também. Todos os esforços por parte da empresa são necessários para que esse meio de comunicação seja eficaz e produza os resultados esperados, já que os clientes têm a possibilidade de reagir diretamente nos perfis das empresas, expressando sua satisfação ou insatisfação. Mais um motivo para que as mensagens recebidas não sejam ignoradas. Os funcionários destacados para atuar nas redes sociais da empresa devem estar bem preparados para essa atividade e fazer bom uso delas. Com o crescimento das mídias sociais em ritmo acelerado, as empresas têm possibilidade de se destacar cada vez mais, alcançando novos clientes e reforçando os laços com os já existentes, estabelecendo relacionamentos eficazes e duradouros. Visto que a utilização e a atuação de redes sociais podem trazer vantagens e também desvantagens para as empresas, elas não devem ser o único canal de comunicação com os clientes. Segundo Kotler e Keller: As mídias sociais permitem que os consumidores se envolvam com uma marca em um nível provavelmente mais profundo e mais amplo do que nunca. Os profissionais de marketing devem fazer o possível para incentivar que consumidores receptivos participem de forma produtiva. Mas, por mais úteis que sejam, a mídia social jamais pode ser a única fonte de comunicação de marketing. (2012, p. 590) 5 Estudos de caso – J & J A gigante J & J veiculou um vídeo irônico para aumentar as vendas do anti-inflamatório chamado Motrim. Nesse material, insinuaram que mães que carregavam seus filhos envoltos em faixas de pano (slings) o faziam somente pelo fato de o instrumento em questão estar na moda e alertavam que elas poderiam sofrer com dores nas costas depois desse uso. Nessa situação, indicavam o uso de seu produto (o anti-inflamatório). Esse vídeo esteve disponível na internet por várias semanas e teve uma péssima repercussão. Em uma sexta-feira, algumas mães se manifestaram indignadas pela rede social Twitter, o que gerou mais e participações de pessoas durante todo o final de semana, espalhando comentários insatisfeitos na internet. Na segunda-feira da semana seguinte, os profissionais de marketing do referido anti-inflamatório enviaram e-mails aos manifestantes, desculpando-se pelo vídeo. Também substituíram o vídeo por uma mensagem genérica, retratando-se. Além das críticas recebidas pelo comentário de que a utilização da faixa se tratava de modismo, e não uma resposta à necessidade de estreitamento do relacionamento entre a mãe e o bebê, a empresa também foi criticada por ceder à pressão exercida pelos usuários do Twitter e por exagerar nas respostas de retratação. Esse é um exemplo de repercussão negativa que mostra o poder e a velocidade das redes sociais. Mesmo que uma empresa não utilize redes sociais, a internet sempre será o vetor de críticas ou ataques por parte dos consumidores. No entanto, quando as empresas utilizam a internet de forma adequada e respeitosa, poderão manifestar-se em caso de ocorrências de episódios como esse (KOTLER; KELLER, 2012). Considerações finais Em busca de estabelecer um relacionamento com o cliente, é muito importante ouvi-lo. A empresa deverá procurar conhecer as necessidades dele, resolver seus problemas e escutar atentamente suas reclamações e sugestões em curto intervalo de tempo,além de beneficiá-lo com produtos e serviços de qualidade. As empresas que antes concorriam a uma posição de destaque no mercado por causa de seus produtos, preço ou qualidade, hoje precisam de um diferencial para atrair o cliente – o relacionamento entre as partes. Nesse sentido, a aplicação do marketing de relacionamento pode ser aperfeiçoada e melhorada com a utilização da tecnologia correta. Um projeto de marketing de relacionamento envolve um grande investimento e resultados de médio e longo prazos. Por meio dele, a empresa se relaciona com o cliente como se ele fosse único, beneficiando-o de diversas formas. Um call center bem treinado, programas de fidelidade, um site rico em informações e atuação apropriada nas redes sociais são estratégias de relacionamento que aproximam os clientes da empresa. É essencial que, em todos os canais de comunicação existentes entre a empresa e os clientes (call center, CRM, database marketing, SAC, chat, e-mail, blog, ouvidoria, multicanais, omnichannel e atendimento pessoal), a empresa não meça esforços para estabelecer uma comunicação eficaz. Os canais de comunicação, incrementados pelos avanços tecnológicos e ligados à estratégia de marketing de relacionamento, farão com que a empresa obtenha vantagens competitivas em relação a seus concorrentes e se destaque no mercado. Referências BATISTA, Ana Lucia de Medeiros; COSTA, Antonio Marcos Nogueira. A ferramenta blog no processo de produção científica: uma experiência positiva. Interin, Curitiba, v. 8, n. 2, 2009. CACCIA, Rita Schimitt. O processo de formação da cultura organizacional de um serviço de atenção a saúde: a municipalização do centro de saúde Santa Marta. 2006. 99 f. Dissertação (Especialização em Administração) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. DIAS, Suzana W. O desafio do varejo multicanal: comportamento free-riding do consumidor. 2014. 337f. Tese (Doutorado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. FERNANDES, Angela. O diálogo nas organizações: a ouvidoria interna sob a óptica das relações públicas. 2009. 294 f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologia para conquistar clientes e mantê-los para sempre. 5. ed. São Paulo: Futura, 2002. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. LEITE, André M. Fatores de sucesso no e-commerce: uma perspectiva operacional. 2015. 94 f. Dissertação (Mestrado em Gestão) – Faculdade de Economia e Gestão, Universidade Católica Portuguesa, Porto, 2015. WHITELEY, Richard C. A empresa totalmente voltada para o cliente: do planejamento à ação. Rio de Janeiro: Campus, 1992. [1] CRM: customer relationship management, ou seja, gerenciamento de relacionamento com clientes (ou consumidores). Capítulo 5 O papel e a importância das redes sociais como canais de relacionamento Entre os canais de relacionamento existentes, destacam-se as redes sociais. É notória a importância delas para as empresas que querem estabelecer uma verdadeira relação com os clientes. Inúmeras pessoas no mundo (no Brasil, mais de 93 milhões) estão conectadas às redes sociais diariamente. Assim, a visibilidade que elas podem proporcionar para as empresas é incontestável. O cliente atual, inteiramente conectado, criou um novo desafio para as empresas: como utilizar os avanços tecnológicos para aproximar em vez de distanciar, [...] a internet deu poderes aos clientes ao permitir que desabafem sua raiva por um mau serviço – ou elogiem um bom serviço – e enviem seus comentários para todo o mundo com um clique do mouse. Embora uma pessoa que tenha uma boa experiência como cliente esteja mais propensa a falar sobre isso, alguém que tenha uma experiência ruim vai falar com mais pessoas. Noventa por cento dos clientes irritados relataram compartilhar sua história com um amigo. Agora, eles podem compartilhar suas histórias com estranhos também. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 388) Dessa forma, como estabelecer um relacionamento duradouro com esse cliente cada vez mais conectado às redes sociais, as quais possibilitam, em tempo real, a exposição de experiências em relação a determinada marca, produto ou serviço? De que forma se preparar para essa transformação digital, que está além das fronteiras? 1 Redes sociais De acordo com Gordon, Os relacionamentos – profissionais e pessoais – fracassam sem um investimento contínuo para criar novos valores. A colaboração é a chave para desenvolver esses novos valores e, quanto mais próxima do tempo real a colaboração ocorrer, maior a oportunidade para o estabelecimento do vínculo. [...] As empresas precisam de estratégias para colaborar. Mas, primeiro, necessitam ultrapassar a noção de que existem um ‘nós’ (as empresas) e um ‘eles’ (os clientes). Elas não precisam pensar nos clientes como reis, mas como parceiros em um processo do qual ambos possam tirar proveito. (2002, p. 332-333) As redes sociais fazem com que o relacionamento com o cliente se torne bastante personalizado e até intimista. Inúmeras empresas descobriram que esse canal de comunicação representa a possibilidade de obter conhecimento mais profundo sobre as necessidades, os desejos e os anseios dos clientes, podendo criar, também, um vínculo maior entre o consumidor e a marca, aumentando a fidelização. Entre as muitas comunidades existentes na internet, existem as criadas em torno de marcas. Três características identificam as comunidades de marca. 1) uma “consciência de espécie” ou um senso de conexão para com a marca, a empresa, o produto ou outros membros da comunidade; 2) rituais, histórias e tradições compartilhadas que ajudam a transmitir o significado da comunidade; 3) uma responsabilidade ou um dever moral compartilhado tanto à comunidade como um todo quanto a seus membros individuais. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 270) Quadro 1 – Criação do valor em redes sociais e comunidades REDE SOCIAL Recepção Cumprimentar novos membros, acolhendo-os no grupo e auxiliando sua aprendizagem sobre a marca e a socialização na comunidade. Criação de empatia Disponibilizar suporte emocional e/ou físico aos membros, inclusive apoio em situações críticas relacionadas com a marca (por exemplo, falha de produto, personalização) e/ou questões de vida não relacionadas com a marca (por exemplo, doença, morte, perda de emprego). Administração Articular as expectativas de comportamento dentro da comunidade de marca. ENGAJAMENTO EM COMUNIDADES Delimitação Reconhecer as variações entre os membros da comunidade de marca e estabelecer distinção e semelhança intragrupo. Estabelecimento de marcos Observar eventos exemplares de propriedade da marca e de consumo. Caracterização Traduzir marcos em símbolos e artefatos. Detalhar a jornada de relacionamento com a marca de uma forma narrativa, muitas vezes se ancorando e pontuando por marcos. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 271). Quando as informações recebidas dos clientes pelas redes sociais e suas comunidades são bem administradas e analisadas, poderão antecipar tendências e fornecer ideias para a criação de novos produtos ou serviços cada vez mais adequados aos segmentos de mercado escolhidos. Mas o que é compartilhado na internet? Podemos afirmar que pessoas compartilham conteúdo de seu interesse e elementos que expressem seu estilo de vida, bem como fotos suas e de amigos, adesão a causas sociais ou políticas, vídeos interessantes e informações diversas. Enfim, publicam e compartilham itens que o auxiliam a se expressar. O Facebook, o Instagram, o LinkedIn, o Twitter e o WhatsApp – citando somente as principais redes sociais – ultrapassaram a barreira de serem somente redes de relacionamento. Sem dúvida, esses canais de comunicação transformaram-se em potentes instrumentos de marketing de relacionamento.A importância das redes sociais é indiscutível. As empresas cada vez mais as utilizam e buscam obter benefícios com elas na divulgação de suas marcas, produtos e serviços para, consequentemente, aumento em suas vendas, o que determinará vantagem competitiva frente a seus concorrentes. 2 Social e-commerce (CtoC) Podemos dizer que o social e-commerce é a integração do e- commerce (venda e compra de produtos e serviços on-line) com as mídias sociais, ou seja, é uma atividade on-line na qual os consumidores falam sobre produtos ou os compram em um ambiente social. Em sentido amplo, social e-commerce é uma estratégia para promover intercâmbio e interação entre clientes e para motivar sua participação para fins comerciais. O social e-commerce pode ser implementado pelas empresas por meio de diversos modelos, nos quais se usa a força social para divulgar marcas, produtos ou serviços. Está presente em compras coletivas, clube de descontos, comunidades, dentre outros. Cabe ressaltar que sempre existiu – tanto no comércio tradicional, quanto no comércio on-line – a possibilidade de o consumidor dar referências sobre determinado produto ou serviço adquirido, o que confere credibilidade ao produto ou serviço. Uma das principais vantagens do social e-commerce é a influência da recomendação nos impulsos de compra, que cria um ambiente favorável para compradores compartilharem informações e recomendarem produtos ou serviços entre seus contatos sociais. No ambiente de mídia social, os consumidores compartilham suas compras on-line, acessam conselhos e informações sobre produtos e serviços de membros de sua rede social (ou seja, de indivíduos em que confiam), apresentando preferências de consumo semelhantes para ajudarem outros consumidores na tomada de decisão de compra. Muitas pesquisas identificaram que consumidores confiam mais em seus amigos e conhecidos do que nos anúncios tradicionais. Assim, prevalece no social e-commerce a interação e o intercâmbio de experiências entre consumidores com gostos similares e que possuem conexão relacional, o que os motiva a trocar informações, a participar e a colaborar, pois uma pessoa, para adquirir um produto ou serviço, tem maior motivação quando recebe indicação de outra, pois isso dá segurança à sua decisão de compra. É importante salientar que nas redes sociais quem está no comando são os usuários, não as empresas e suas marcas. As pessoas não acessam as redes sociais para comprar algo ou para indicar determinada loja, mas vão falar bem de um produto ou serviço específico que identificaram que “tenha a cara” de alguém ou delas mesmas. Assim, as empresas que dela se utilizam devem ter bem claro que o que prevalece é o relacionamento entre as pessoas e que a tecnologia empregada de nada adiantará se isso não for compreendido acima de tudo. Dessa forma, empresas que queiram utilizar – ou já utilizam – o social e-commerce, devem elaborar ações que incentivem as pessoas, sendo necessário incorporar em sua filosofia características sociais como a disponibilização de classificações e comentários sobre os produtos e serviços compartilhados pelos consumidores (GAVIOLI, s/d.). A construção de um relacionamento requer que a interação com os consumidores ocorra da mesma forma como se estivessem interagindo pessoalmente. Assim, devem ser elaboradas ações que incentivem as pessoas, sempre lembrando o que as motiva como indivíduos, e não apenas como consumidores. Podemos traçar algumas diferenças, às quais as empresas precisam estar atentas se quiserem obter sucesso nas redes sociais. Quadro 2 – Diferenças entre compra tradicional x compra por social e-commerce MUNDO REAL SOCIAL E-COMMERCE É fácil fazer com que as pessoas curtam ou compartilhem foto interessante ou frase de efeito. É difícil fazer com que pessoas compartilhem produtos, pois isso pressupõe um conhecimento maior sobre o produto ou serviço. Pessoas curtem determinada empresa ou marca, mas não necessariamente querem ser abordadas com ofertas nas redes sociais. Pessoas passam a se envolver com determinada marca por terem interesse em seus produtos ou serviços. Pessoas acompanham a marca, mas talvez não queiram que a empresa se torne parte de sua vida. Pessoas compartilham produtos que atendam a determinada demanda. Fãs de determinada empresa podem ter apenas “curtido” a página, mas nunca mais efetuaram interação. Motivações para as indicações mantêm o consumidor conectado. Visitas as lojas virtuais motivadas por necessidade de compra ou publicidade online. Pessoas estão conectadas várias horas por dia nas redes sociais. COMPRA TRADICIONAL COMPRA POR INTERMÉDIO DE REDE SOCIAL Consumidor busca algo específico. Consumidor recebe dica ou recomendação. Consumidor compra por impulso. Consumidor pesquisa algo específico. Consumidor tem contato com o produto. Consumidor compra por impulso. Há pequena ou média influência por recomendações recebidas do produto ou serviço. Há grande influência de recomendações. A experiência de compra se inicia na entrada da loja. A experiência se inicia quando as pessoas ouvem de um amigo algo sobre um produto ou serviço. Fonte: adaptado de Garrido (2012). O sucesso da empresa ao utilizar o social e-commerce está atrelado ao gerenciamento desse relacionamento, o qual, quando bem gerido e administrado, aumenta a possibilidade de produtos e serviços receberem avaliações positivas, influenciando, desta forma, potenciais clientes (GAVIOLI, [s.d.]). É importante que as empresas estejam atentas às tendências e ao surgimento de novas tecnologias, que têm permitido que elas obtenham resultados cada vez mais satisfatórios. Para acompanhar o crescimento dessa modalidade de relacionamento com o cliente, é importante que as empresas que a utilizam estejam também atentas às tendências e evoluções de tecnologias. Importante também é observar as empresas que se destacam nas redes sociais, as quais, muito possivelmente, estabelecem de maneira eficaz um relacionamento com o cliente. Com o crescimento exponencial do Facebook, o social e- commerce adquiriu uma variante, o F-Commerce. Trata-se de lojas montadas dentro da rede social, em que um usuário pode efetuar uma compra sem deixar aquele ambiente. Essa tecnologia está sendo utilizada também em outras redes, como o LinkedIn, o Instagram e o Twitter. Cabe ressaltar que as empresas devem promover e criar diálogos entre os consumidores, gerando confiança nos usuários e promovendo a fidelização desses consumidores, para que o maior número possível deles se torne fiel à marca, produto ou serviço. É importante frisar que as empresas que se utilizam do social e- commerce devem estar ativas nas comunidades formadas em torno de seu produto ou serviço e dar motivo para que se fale delas. Quando uma marca está “na boca do povo”, é mais fácil que os usuários se lembrem primeiro dos produtos e serviços dela na hora da decisão de compra. Não menos importante é deixar o cliente mais seguro na hora em que ele realiza a compra, permitindo que sejam esclarecidas dúvidas sobre pagamento, frete e prazo de entrega, bem como que ele veja a opinião de outros usuários sobre os produtos ou serviços adquiridos. Essa interação certamente é fundamental para o aumento nas vendas, visto que o cliente se sente mais seguro ao receber da empresa um bom acompanhamento e ao ver o que outras pessoas acharam do produto. Quanto maior a interação, maior a possibilidade de aumento nas vendas e de retorno financeiro para a empresa. Assim, empresas que utilizam as redes sociais como canal de comunicação e que desenvolvem campanhas segmentadas nessas redes transformam seguidores em influenciadores sociais e têm grande possibilidade de aumentar as vendas no e-commerce, isso porque conseguem estar mais próximas de seu público-alvo, tendo o relacionamento como diferencial. 3 Redes colaborativas Nos tempos atuais, de incrível crescimento e competitividade, trabalhar colaborativamente traz vantagem competitiva. Cada vez há mais parcerias, cujo objetivo éexpandir negócios e desenvolvê-los. Com elas, é muito provável obter maior produtividade e criar a sustentabilidade em um ambiente adaptável e dinâmico. IMPORTANTE Redes colaborativas são cadeias de relações que ocorrem entre indivíduos (ou grupo de indivíduos), muitas vezes mediadas por tecnologias da informação, e que são baseadas em processos colaborativos. As dinâmicas formadas por elas podem reduzir as incertezas e os riscos das atividades; além disso, as redes colaborativas organizam o aspecto econômico com base na cooperação entre as partes. Dadas suas características, as redes colaborativas trazem benefícios para as empresas, como flexibilidade e adaptabilidade, em razão de sua fluidez, proporcionando economia de custos, ganho de produtividade e eficiência. Também proporcionam a possibilidade de troca de experiências e aumento da capacidade de aprendizagem entre os membros envolvidos. Inicialmente, essas redes eram formadas por startups, profissionais autônomos ou mesmo por pequenas empresas; hoje, no entanto, grandes empresas também estão formando conexões colaborativas com o objetivo de melhorar seus processos e negócios. PARA SABER MAIS Indicamos como leitura para aprofundamento sobre a importância dos relacionamentos colaborativos para startups a obra Sistemas colaborativos, de Mariano Pimentel e Hugo Fuks. Estar em uma rede colaborativa não é tarefa fácil, visto que seus participantes devem procurar estabelecer interação com os demais membros, quer em encontros presenciais ou mesmo a distância, utilizando-se, para isso, de tecnologias da informação e meios de comunicação. Vamos falar um pouco sobre algumas redes colaborativas existentes. Comecemos por duas delas: o crowdsourcing e o coworking. Leão (2017) as define da seguinte maneira: Crowdsourcing é um modelo de gestão para busca de soluções de forma coletiva para criação (ou produção) contributiva, remunerada ou não, e que tem como fim criar produtos, ideias ou serviços. Já o coworking é um nome que remete a um estilo de trabalho relacionado ao compartilhamento de um mesmo espaço físico por diversos profissionais. Nesse modelo, pessoas e/ou empresas estão juntas na busca de soluções viáveis para todos os envolvidos. Todos os envolvidos ganham, visto que nesse ambiente é possível a troca de experiências e interações diversas, o que favorece o relacionamento entre as partes. Ao formarem essas redes e participarem delas, seus membros obtêm vantagens em relação aos concorrentes. Novamente, nesse caso, quem se beneficia é o cliente. O termo crowdworking está relacionado à prestação de serviços entre pessoas ou grupos com interesses em comum, os quais colaboram entre si, gerando ganhos para ambos os lados. O objetivo da rede colaborativa é buscar soluções viáveis para todos os envolvidos, reduzindo distâncias e fortalecendo o networking (rede de relacionamentos). O intuito é que todos se beneficiem desse relacionamento. No Brasil, temos como exemplo a Telefônica e o Senac, que formaram a primeira turma de crowdworking em 2016, criando espaços colaborativos em Minas Gerais e também no Paraná, cujo objetivo é amadurecer ideias em um ambiente de colaboração e compartilhamento de conhecimentos. Outra rede colaborativa importante é o crowdfunding (em tradução literal, financiamento pela multidão). Presente na internet e potencializado por ela, é uma modalidade de investimento financeiro coletivo em uma ideia ou iniciativa. É o que chamamos de financiamento colaborativo, muito presente nas startups. Figura 1 – Rede colaborativa crowdfunding O crowdfunding funciona da seguinte maneira: um empreendedor apresenta sua ideia na internet, por meio de explicações e vídeos, dizendo quanto precisa arrecadar e qual é a data de limite para isso. Caso se consiga o financiamento do projeto, o site que o divulgou normalmente recebe uma comissão; em caso negativo, obviamente a pessoa ou a organização que apresentou o projeto nada leva do que foi arrecadado e em alguns casos o valor é devolvido para os colaboradores. O crowdfunding é utilizado por qualquer tipo de mercado, seja ele cultural, de saúde, tecnologia, industrial, etc. Ele também serve não apenas para pessoas que não possuem dinheiro para o financiamento, mas também para empreendedores que precisam levantar um capital alto. É uma alternativa muito importante para a captação de recursos. [...] Algumas grandes empresas e produtos/serviços que conhecemos hoje já tiveram suas rodadas de investimento coletivo, como a Wikipédia, Linux, YouTube e, acredito, até a famosa Estátua da Liberdade, símbolo mor dos Estados Unidos precisou de investimento coletivo para ser construída e transportada. (PERIARD, 2011) Essa rede colaborativa parte do princípio de que, ao colaborarem, as pessoas podem realizar juntas o que não poderiam fazer sozinhas. Segue a mesma dinâmica da “vaquinha”. Um projeto de crowdfunding extrapola, no entanto, o conceito da “vaquinha”, visto que o retorno não se dá para um grupo específico, mas sim para a sociedade. Novamente vemos presente a necessidade de relacionamento entre as partes, visto que para conseguir financiar um projeto de forma colaborativa é necessário que a rede esteja bem estruturada para sustentá-lo. Captar recursos por crowdfunding exige disposição e engajamento das partes envolvidas. Além de um ótimo relacionamento. Em razão da grande visibilidade e acessibilidade que proporcionam, as diversas redes sociais existentes – Facebook, LinkedIn, Instagram, Twitter, citando somente as principais – podem ser (e certamente são) grandes aliadas para que os interessados possam divulgar e tornar conhecida uma ideia, projeto ou serviço e consigam captar recursos financeiros coletivos. 4 Case e exemplos de social e- commerce 4.1 Case Red Bull Quando ouvimos falar da marca Red Bull, associamos a ela quase imediatamente a ideia de energia, movimento, ação e esporte radical. Afinal, “Red Bull te dá asas”. A marca Red Bull não é 100% austríaca, como alguns pensam. O empresário austríaco Dietrich Mateschitz fez uma viagem à Tailândia e, por causa de problemas com o fuso horário, acabou conhecendo a bebida, concebida no país. Após uma negociação, realizou a compra da fórmula do produto e finalmente a levou para a Áustria. A forma de fazer essa bebida chegar ao grande público era dar a ideia de que ela dá energia para quem a toma. Por esse motivo, a ideia inicial foi patrocinar o esporte mais popular da Tailândia, o muai thai. A estratégia de marketing definiu inicialmente como público-alvo os adolescentes. Com isso, universitários foram escolhidos para representar a marca e distribuir latinhas em baladas e dirigir carros adesivados com latas gigantes da bebida. A marca é sinônimo de esportes radicais e está ligada à imagem de esportistas de alta performance. Ela gera conteúdo constante sobre esportes por meio da Red Bull TV e da revista The Red Bulletin. Cabe ressaltar que quase nunca são vistos, em seus perfis em redes sociais, imagens ou vídeos de seus produtos: o que se verifica são ideias de estilo de vida, quase sempre associadas a esportes radicais ou situações que demostram energia e vitalidade. Sem a aparente intenção de vender o produto, a marca entrou na rotina e até mesmo no inconsciente das pessoas com a simples associação a alta performance. É exatamente este o conceito do Red Bull: sair do objetivo final (vender bebidas energéticas) e criar um contexto de modo que o público-alvo procure o produto quando sentir necessidade daquilo que ele se propõe a suprir: alta performance (MENDES, 2017). Citamos a seguir alguns exemplos de social e-commerce. Quadro 3 – Exemplos de social e-commerce EMPRESA SOCIAL COMMERCE EM AÇÃO Coca- Cola Em vez de esperar os clientes irem até eles, varejistas estão indo para regiões com bastante tráfego on-line, onde é possível efetuar compras de produtos customizados pelo Facebook. Amazon É uma das empresas on-line especialista em recomendação social devido ao grande número de pessoas conectadas pelo Facebooka ela, de onde observa amigos, datas de aniversários, etc. Sephora Pioneira em incentivar o compartilhamento de relatos pessoais sobre experiências de compra. Possui um canal no YouTube com uma série de vídeos de clientes. Macy's Permite que os clientes "experimentem" virtualmente as roupas, sendo possível o envio dos produtos favoritos a partir da sala virtual, para que os amigos deem um feedback; também reserva esses produtos, para que os clientes os vejam na loja física. Eventbrite Revolucionou o modelo de venda de ingressos. Quando pessoas compram, compartilham a experiência com os amigos. Fonte: adaptado de Thiel (2012). Chirpify Utiliza o Twitter, permitindo que consumidores comprem, vendam e façam doações por meio de tweets simples, como buy, pay e donate. Esse sistema tem sido utilizado por muitas instituições de caridade nos Estados Unidos. Fonte: adaptado de Thiel (2012). Considerações finais A internet é uma mídia orientada a serviços e relacionamentos. [...]. Se esse contato puder ser desenvolvido para se transformar em um processo de serviço com interações entre a empresa e o cliente, pode surgir um relacionamento. Como é muito fácil pular de um site para outro, criar uma interação de serviço orientada para relacionamentos com um cliente pode ser uma maneira eficaz de manter o interesse desse cliente na empresa e criar negócios em base contínua. [...] As tecnologias móveis e os telefones celulares podem ser usados tanto para a comunicação com clientes e a apresentação de ofertas quanto como ferramentas de marketing interativo. (GRÖNROOS, 2009, p. 250-251) A importância do social e-commerce para que a empresa nos dias atuais é inquestionável, visto que cada vez mais as pessoas se utilizam das redes sociais, e esse é um caminho sem volta. Não menos importante são as redes colaborativas, cujos relacionamentos devem ser bem gerenciados e monitorados para que tenham sucesso. As redes sociais não são um modismo. Elas se constituem como uma nova forma de estabelecer e firmar relacionamentos (tanto pessoais quanto profissionais). Assim sendo, não poderia ser diferente com hábito de consumo. Nesse sentido, tanto o social e- commerce quanto as redes colaborativas vão se solidificar cada vez mais como modelo, prática de consumo e estabelecimento de relacionamento das empresas com os clientes. Referências GARRIDO, Regina. Social commerce: muito mais que e-commerce + social media. E-Commerce Brasil, São Paulo, 2012. Disponível em: <www.ecommercebrasil.com.br/artigos/social-commerce-muito- mais-que-e-commerce-social-media>. Acesso em: 9 out. 2017. GAVIOLI, Guilherme. O que é social commerce? E-commerce News, São Paulo, s/d. Disponível em: <https://ecommercenews.com.br/glossario/social-commerce>. Acesso em: 9 out. 2017. GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologia para conquistar clientes e mantê-los para sempre. 5. ed. São Paulo: Futura, 2002. GRÖNROOS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. LEAO, Michel. O que é crowdworking e como ele se relaciona com o impacto social? Chronus Viagens e Turismo, São Paulo, 2017. Disponível em: <http://blog.chronus.tur.br/o-que-e-crowdworking-e- como-ele-se-relaciona-com-o-impacto-social/>. Acesso em: 9 out. 2017. MENDES, Renann. Marketing de conteúdo te dá asas. Profissional de e-commerce, 2017. Disponível em: https://ecommercenews.com.br/glossario/social-commerce http://blog.chronus.tur.br/o-que-e-crowdworking-e-como-ele-se-relaciona-com-o-impacto-social/ <http://www.profissionaldeecommerce.com.br/marketing-de- conteudo-te-da-asas/>. Acesso em: 27 out. 2017. PERIARD, Gustavo. Crowdfunding, o que é e como funciona. Sobre Administração, 2011. Disponível em: <http://www.sobreadministracao.com/crowdfunding-o-que-e-e-como- funciona/>. Acesso em: 9 out. 2017. PIMENTEL, Mariano; FUKS, Hugo. Sistemas colaborativos. São Paulo: Campus, 2011. THIEL, Cristiane Rocha. 10 exemplos de social commerce. Administradores, João Pessoa, 2012. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/10-exemplos- de-social-commerce/64779/>. Acesso em: 9 out. 2017. http://www.profissionaldeecommerce.com.br/marketing-de-conteudo-te-da-asas/ http://www.sobreadministracao.com/crowdfunding-o-que-e-e-como-funciona/ http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/10-exemplos-de-social-commerce/64779/ Capítulo 6 Gestão do relacionamento com o cliente (CRM – customer relationship management) No [capítulo 4], falamos um pouco sobre o CRM ao abordarmos os canais de relacionamento existentes entre as empresas e os clientes. Agora, vamos tratar dessa ferramenta de forma mais específica, desde sua conceituação, objetivos e processos. A utilização de informações obtidas por meio do CRM é de extrema importância para a gestão do relacionamento com o cliente. Por meio dessas informações, é possível entender melhor o cliente e, com base nisso, oferecer soluções, produtos e serviços que atendem às suas necessidades e aos seus desejos. Não estamos falando de um banco de dados. O CRM é muito mais que isso: é uma filosofia que realmente auxilia na gestão do relacionamento com o cliente. 1 Conceituação da gestão do relacionamento com o cliente Em tradução livre, CRM – customer relationship management – pode ser entendido como gerenciamento de relacionamento com clientes. CRM é uma filosofia de gerenciamento de clientes (atuais e futuros) na qual o cliente é o foco, ou seja, as estratégias estabelecidas pela empresa são voltadas para ele e suas necessidades. O CRM faz uso de tecnologias (softwares ou aplicativos) com as quais é possível coletar inúmeras informações dos clientes e, com base nisso, segmentá-los por idade, sexo, localização geográfica, idade, entre outros dados que possam ser importantes para o negócio. Os dados cadastrados e armazenados em um banco de dados oferecem inúmeras facilidades para as empresas. É importante não confundir estratégia com os sistemas de CRM, ou seja, com os softwares e aplicativos que auxiliam na operacionalização das estratégias. Não basta a empresa adquirir um software de CRM sem adequar sua estratégia, que deve ter como foco o relacionamento com o cliente. 2 Objetivos do CRM Um dos principais objetivos do CRM é oferecer possibilidades para que o relacionamento com o cliente resulte na sua fidelização (falaremos nos capítulos 8 e 9 especificamente sobre retenção e fidelização de clientes). A empresa que adota essa estratégia tem o cliente como foco (e não o produto ou serviço) e direciona seus esforços para que o relacionamento efetivo com o cliente tenha, como consequência, sua fidelização. Podemos, então, traçar os objetivos do CRM e como as empresas poderão estabelecer o relacionamento com os clientes. Quadro 1 – Objetivos do CRM OBJETIVOS DO CRM COMO CONSEGUI-LO Retenção de clientes Mediante programas de fidelização e qualidade de serviço ao cliente. Identificação de novas oportunidades Por meio da interação com os cliente é possível identificar novas oportunidades de negócios. Redução de custos Ao personalizar ofertas e comunicações, é possível produzir menos gastos improdutivos. Aumento das vendas e da rentabilidade Como resultado do que foi mencionado anteriormente, as vendas aumentam com custo menor de gerenciamento, o que leva a maior rentabilidade. Aumento do valor da empresa Ao reter os clientes, eles passam a ser ativo da empresa, elevando seu valor. Fonte: adaptado de Alves, Barboza e Rolon (2014, p. 234). Pode-se afirmar que: [...] quando uma empresa decide formular seu CRM, significa que ela começou a se focar na estratégia de buscar seu sucesso pela satisfação, retenção e desenvolvimento de relacionamentos melhores com os clientes – e não somente pelo volume de vendas. Tal decisão vai se transformar em ações cujo objetivo é a excelência de resultados por meio de melhorias no atendimento,no intuito de conquistar maior confiança e credibilidade nos seus relacionamentos. (ALVES; BARBOSA; ROLON, 2014, p. 238) Assim, para alcançar os seus objetivos, a empresa deve direcionar sua estratégia para o cliente, para então implantar o CRM adequadamente e obter resultados satisfatórios. 3 Processo de CRM A empresa focada no cliente poderá ir agora para as fases do processo de CRM: Figura 1 – Fases do processo de CRM Fonte: Alves, Barboza e Rolon (2014, p. 244). 3.1 Planejamento Para Alves, Barboza e Rolon (2014), a fase 1 (planejamento) tem quatro etapas. Na primeira etapa, a empresa identifica as necessidades para a adoção do CRM como estratégia, ou seja, deve entender os motivos reais que a levam a decidir implantá-lo. Na segunda etapa, deve ser definida a equipe que vai atuar. Como se trata de decisão estratégica, a responsabilidade do CRM é da alta gerência. É importante que a equipe seja composta de pessoas que atuam em diversas áreas. Já na terceira etapa da fase de planejamento, é feita uma análise organizacional. São verificados aspectos que compõem todo e qualquer projeto de implantação de CRM: pessoas (perfil de recursos humanos), processos (quais processos envolverão o cliente, podendo ser de vendas ou de serviços) e, finalmente, tecnologia (é preciso que a ferramenta escolhida esteja parametrizada e integrada aos demais sistemas existentes na empresa). Na etapa 4 é feita a análise de fornecedores de aplicativos/softwares de CRM, checando diversos aspectos de compatibilidade com os demais sistemas já existentes na empresa. 3.2 Implantação De acordo com Alves, Barboza e Rolon (2014), a fase 2 também está dividida em cinco etapas. Na primeira etapa é feita a comunicação do projeto de implantação de CRM: a empresa apresenta seus objetivos e as mudanças que possivelmente serão necessárias para o sucesso do projeto. Na segunda etapa é realizado o mapeamento de processos, ou seja, identificar e demonstrar como as atividades serão desenvolvidas. Na terceira etapa define-se quais ferramentas serão utilizadas no projeto (softwares ou aplicativos). Na etapa 4 os treinamentos são definidos e efetuados, para que a equipe possa utilizar a ferramenta de forma adequada. Como última etapa dessa fase, temos a implantação da ferramenta de CRM propriamente dita. 3.3 Acompanhamento Para Alves, Barboza e Rolon (2014), na primeira etapa da fase 3 são definidas as métricas de controle, ou seja, quais padrões qualitativos e quantitativos a empresa vai considerar. A última etapa é dedicada ao controle e à adaptação. O objetivo é controlar as estratégias de CRM, visando efetuar as adaptações e as mudanças necessárias para o sucesso da implantação e eficácia na utilização da ferramenta. Importante frisar que a última etapa é de extrema importância, pois possibilitará à empresa fazer as correções necessárias ao longo do tempo, com o objetivo de atender efetivamente às necessidades dos clientes. Deve estar claro que todas as fases e suas respectivas etapas terão que ser, obviamente, adaptadas para a realidade da organização, a fim de que a implantação seja realmente eficaz. 4 Importância do relacionamento com o cliente Cabe ressaltar que a implantação do CRM na empresa possibilita diversos benefícios, entre os quais se destaca o aumento de conhecimento sobre o cliente, que é o centro das informações e dos resultados. Primeiramente, o sistema permite a diferenciação entre os muitos clientes da empresa, observando suas necessidades e, posteriormente, as necessidades individuais. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 142): CRM trata do gerenciamento cuidadoso de informações detalhadas sobre cada cliente e de todos os “pontos de contato” com ele, a fim de maximizar sua fidelidade. Por ponto de contato com o cliente entende-se qualquer ocasião em que o cliente tem contato com a marca ou o produto – isso inclui desde uma experiência em si até uma comunicação pessoal ou de massa, ou mesmo uma observação casual. Dando como exemplo um hotel, os pontos de contato incluem todas as relações estabelecidas: reservas, serviços de quarto, restaurantes, bares, check-in, check-out, etc. A estratégia de CRM é essencial para estabelecer um relacionamento mais profundo com os clientes. Possibilita que a empresa tenha conhecimento mais abrangente de seus clientes, o que permite oferecer produtos e serviços de acordo com suas necessidades e desejos. Com essa ferramenta, a empresa pode estabelecer e criar campanhas de marketing direcionadas, promoções e outras ações. As informações coletadas e trabalhadas pelo CRM fazem com que as empresas estabeleçam um relacionamento mais estreito com os clientes. Graças ao grande volume de informações, a empresa pode diferenciar seus produtos e serviços, e entregar ao cliente o que ele realmente deseja. 5 Gerando informações: minerando dados O CRM trabalha com grande quantidade de dados. Com o cruzamento dos dados captados, pode delimitar e identificar características únicas de seus clientes, sendo capaz de estabelecer parâmetros personalizados. É por meio desse gerenciamento de informações que o CRM consegue estabelecer intercâmbios e interações cada vez mais personalizados. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 142), Graças ao uso eficaz de informações de cada cliente, o CRM permite que as empresas ofereçam um excelente atendimento ao cliente em tempo real. Com base no que sabem sobre cada um deles, as empresas podem customizar seus produtos, programas, mensagens e mídia. O CRM é importante porque um dos grandes impulsionadores da lucratividade de uma empresa é o valor agregado de sua base de clientes. O histórico do cliente é fonte rica de dados, pois contém todas as informações sobre ele. Praticamente tudo pode ser registrado, cruzado e utilizado pela empresa. 6 Fases da gestão do relacionamento com o cliente Após formular a estratégia da gestão do relacionamento com o cliente e definir os processos que serão acompanhados na implantação do CRM, a empresa pode partir para a escolha e a contratação de fornecedores de software ou aplicativo. É proposta a seguinte sequência para definir o projeto de implantação do CRM: Quadro 2 – Proposta para definir o projeto de implantação do CRM PROPOSTA DESCRIÇÃO Planejamento para implementação Assim que a contratação for concretizada, a implementação deverá ser efetuada imediatamente. Deve ser estabelecido um cronograma inicial, bem como o local físico onde ficarão os computadores, servidores, rede de comunicação, etc. Treinamento dos recursos internos Os funcionários de TI (da área de tecnologia da informação da empresa) deverão ser os primeiros a serem treinados, bem como alguns membros da equipe. Design e análise da solução Nessa etapa, são efetuadas reuniões entre a equipe de planejamento e usuários- chave, com o objetivo de análise de layout de telas, fluxo de informações, alimentação de dados no sistema, etc. Construção da solução Nessa fase efetivamente se constrói o sistema customizado, com telas e campos voltados às necessidades específicas da empresa. Treinamento do usuário final Nessa etapa ocorre a realização de treinamentos com os usuários finais, explicando como deve ser o uso, bem como quais ferramentas estarão à disposição. Teste e homologação do que foi construído Nessa fase ocorre a validação da solução de CRM com a equipe de vendas. Deve- se procurar identificar se a solução está sendo entregue de acordo com o que foi idealizado. Fase de produção Nesse momento, a solução de CRM, já em produção, está sendo alimentada por dados. Acompanhamento da produção e relatório final Nessa etapa final e após os ajustes que se fizerem necessários, é elaborado o relatório final. É importante que haja consenso sobre os pontos de melhoria e indicações de cuidados necessários para o funcionamento do CRM. Fonte: adaptado de Alves, Barboza e Rolon (2014, p. 243). 7 Social CRM Um dos grandes avanços obtidos com a internet no marketing de relacionamento é proporcionar interação. Nessescenários, as redes sociais são de suma importância, pois servem de meio de campo para que ocorra o relacionamento entre empresa e clientes. Em relação ao CRM, as empresas podem decidir pela implantação de suas ferramentas (software ou aplicativo), de acordo com as aplicações que desejam. Há alguns tipos básicos de aplicação: o CRM operacional (ligado ao atendimento ao cliente), o CRM analítico (ligado ao data warehouse), o CRM estratégico (que visa ao estudo do mercado para elaboração de orientação estratégica) e o social CRM (ou CRM colaborativo). É importante ressaltar que o ideal é que todos esses tipos sejam utilizados de maneira integrada. As interações nas diversas redes sociais existentes têm assumido proporções cada vez maiores em razão do grande número de pessoas conectadas o tempo todo nelas. Como toda ferramenta, o CRM também tinha que se adequar a essa nova forma de fazer negócio. Assim como nas diversas interações entre clientes e empresas por telefone, e-mail e contact centers, em que é possível capturar as mais diversas informações e utilizar-se delas para alavancar vendas, aproximar-se do cliente e criar um relacionamento duradouro, no social CRM não poderia ser diferente. Utilizando-se das interações dos clientes por meio das redes sociais, o social CRM adiciona informações vindas dos perfis sociais. As informações vão além de dados pessoais, como nome, sexo, idade e e-mail. Podem ser também incluídos dados como preferências pessoais, opiniões, marcas prediletas, entre outros. O social CRM permite filtrar dados compartilhados, que vão desde opiniões a favor da marca, do produto ou do serviço até elogios e reclamações, o que possibilita fornecer respostas em tempo real. Assim, além de ser possível fazer o acompanhamento ou o monitoramento mais detalhado da empresa nas mídias sociais, é possível também a interação da equipe com esses clientes (MELLER, 2012). O social CRM possibilita também, em razão de sua característica dinâmica, a criação de campanhas de marketing segmentadas, que aumentam a vantagem competitiva da empresa em relação a seus concorrentes, já que a empresa poderá criar estratégias mais eficientes, exatamente pelo acesso a informações importantes e cruciais do seu púbico-alvo lançadas nas mídias sociais. É a forma de interagir com o cliente por meio das mídias sociais, e ainda de enriquecer os dados sobre ele, com base nas informações encontradas em seus perfis nas redes sociais. O CRM social é relativamente novo e está dentro do que chamamos CRM 2.0. (ALVES; BARBOZA; ROLON, 2014, p. 239) 8 Exemplos e estudos de caso Ao redor do mundo, muitas organizações continuam implantando soluções de CRM e obtido sucesso no gerenciamento do relacionamento com o cliente. Citamos aqui alguns exemplos. 8.1 Grupo Pão de açúcar Empresa de renome no ramo de supermercados, iniciou o processo de CRM com a análise de perfil de compra dos clientes em diversas lojas distribuídas pelo Brasil. Com base nessa análise, direcionou estratégias de precificação e de descontos. Os clientes frequentadores dos supermercados Pão de Açúcar foram segmentados por perfis. Foram estabelecidas onze categorias de clientes, a saber: gourmet, saudável, repositor, açougue/feira, ocasional, oportunista, oferteiro, conveniência, festa, bairro e moderno. Com base nessa categorização, o mercado pôde criar campanhas específicas, como a “Cliente Mais”. Nessa campanha, o cliente converte o valor de suas compras em pontuação, em premiação ou mesmo em descontos, os quais, acumulados, podem ser trocados posteriormente. O Grupo está presente nas mídias sociais e em outros canais de comunicação, sempre criando e veiculando novas campanhas e programas de recompensas, tendo recebido várias premiações por suas ações (TSUJI; FRANCHIM, 2010). 8.2 Magazine Luiza Gigante no varejo, com mais de 44 milhões de clientes, o Magazine Luiza tem mais de 350 lojas físicas no país (mais de 50 virtuais), atuando em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Inicialmente focada em clientes de baixa renda, a empresa mantém política de incentivos, como realização de sorteios, entre outras ações. Criou um programa de relacionamento, com oferta de facilidades na hora da compra e isenções de tarifas e cobranças de frete para o transporte. Pela diferenciação (segmentação) de seus clientes, cria sempre estratégias que a aproximam de seu público-alvo (ALVES; BARBOZA; ROLON, 2014. p. 250-251). 8.3 Domino’s Pizza Domino’s Pizza é a segunda rede de pizzarias no mundo, com 9.436 lojas franqueadas (BELL; ANDREWS; SHELMAN, 2011). Depois de realizar pesquisas com os clientes, a rede constatou que eles preferiam um atendimento personalizado e resolveu introduzir o recurso “faça sua própria pizza”. No site da rede disponibilizava-se a versão fotográfica simulada de sua pizza enquanto o cliente fazia a escolha dos molhos e recheios. Os pedidos eram monitorados desde o momento em que iam para o forno até sua saída da loja. Também foi lançado um sistema de ponto de venda, que racionalizou a logística de pedidos pela internet, bem como por telefone. Essa ação foi bem positiva, pois aumentou a repetição de compra (KOTLER; KELLER, 2012, p. 143). Considerações finais Nunca é demais lembrar que não basta adquirir um software ou aplicativo de CRM para estreitar o relacionamento com o cliente. Sem dúvida, trata-se de uma ferramenta incrível. No entanto, se não existir uma mudança cultural na empresa (foco no cliente, não em produtos ou serviços), de nada adiantarão os vultosos investimentos em tecnologia. Para que um sistema de CRM seja realmente efetivo, em termos conceituais e práticos, é preciso associar de maneira adequada as ferramentas que a tecnologia oferece e a orientação da empresa voltada para os clientes. Em alguns casos, especificamente para micro e pequenas empresas, a noção de marketing de relacionamento é suficiente para o adequado atendimento aos clientes. Isso porque o CRM pode ser uma alternativa inviável em razão do investimento necessário para a aquisição de um software. Estudos de viabilidade devem ser conduzidos antes da contratação de uma empresa desenvolvedora de CRM, assim como é preciso ter em mente que apenas o software não é suficiente para que as práticas relacionais sejam desenvolvidas. Com o foco no cliente e um sistema de CRM bem implantado, a empresa, sem dúvida, obterá vantagem competitiva em relação a seus concorrentes e conseguirá estabelecer um relacionamento saudável, dinâmico e duradouro com o cliente. Referências ALVES, Elizeu Barroso; BARBOZA, Mariana Monfort; ROLON, Vanessa Estela Kotovicz. Marketing de relacionamento: como construir e manter relacionamentos lucrativos? Curitiba: Editora InterSaberes, 2014. BELL, David E.; ANDREWS, Phillip; SHELMAN, Mary. Domino’s Pizza. Harvard Business School, Case 512-004, dec. 2011. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. MELLER, Ana Carolina. Social CRM: relacionamento na era das redes sociais. Enlink, Foz do Iguaçu, out. 2012. Disponível em: <https://www.agenciaenlink.com.br/blog/social-crm/>. Acesso em: 23 out. 2017. TSUJI, Patrícia H.; FRANCHIM, Debora M. CRM: caso Pão de Açúcar – Programa Mais. Seminário GVcev “Supermercados: comportamento do consumidor e relacionamento”. FGV, São Paulo, 2010. https://www.agenciaenlink.com.br/blog/social-crm/ Capítulo 7 Aplicação da tecnologia em gestão do relacionamento com o cliente (CRM – customer relationship management) Não é possível conceber o mundo atual sem a interferência da tecnologia. Ela está por toda parte. Deparamo-nos com ela desde a hora em que acordamos até a hora que vamos dormir. O que assistimos hoje em dia é uma crescente mudança em como nos relacionamos com as empresas e com outras pessoas. Especificamente para as empresas, o desenvolvimento tecnológico, em suas principais áreas (memória, armazenamento, processamento, software, aplicativo, banda larga,3G, 4G e preço decrescente desses serviços), criou uma série de oportunidades para a aplicação do marketing de relacionamento. Antes dos grandes avanços da tecnologia, as exigências dos clientes individuais – embora relevantes e diferentes – menores, muitas vezes não podiam ser atendidas, rastreadas, classificadas, analisadas, administradas e atendidas de modo exclusivo, exatamente devido ao alto custo dos recursos tecnológicos. Hoje as empresas podem dar aos clientes o valor que cada um deseja, utilizando a tecnologia adequadamente. A tecnologia desempenha função de controle para garantir que os valores sejam realmente criados e entregues aos clientes e à empresa. Com a delimitação de fronteiras onde a empresa começa e termina, o controle das organizações está se tornando mais tático e estratégico. Ainda de acordo com Kotler e Keller (2012, p. 8): mais do que nunca, ideias estão sendo testadas para o desenvolvimento de novas tecnologias, e o intervalo de tempo entre novos projetos e sua implementação tem acolhido rapidamente, assim como o tempo entre o lançamento de um produto e o pico de produção. O grande desafio das empresas hoje, diante da transformação digital constante, é estabelecer um relacionamento duradouro com o cliente, pois o que importa não é necessariamente a tecnologia, mas como esta será utilizada para construir esse relacionamento. 1 O papel da tecnologia para o marketing de relacionamento Quando usada adequadamente, a tecnologia é um incrível instrumento para que a empresa obtenha vantagens competitivas em cada interação feita com o cliente. Tudo é relacionamento, e a conexão entre seres humanos e tecnologia traz excelentes resultados. No entanto, o que importa é o cliente e, para que um relacionamento seja estabelecido, é preciso, primeiramente, entender suas necessidades e seus desejos. As empresas precisam entender qual é o melhor momento para a utilização da tecnologia a fim de estabelecer um relacionamento com o cliente. A empresa que se destaca entre seus concorrentes está presente de forma completa: na voz, digitalmente e também de maneira presencial. Isso poderá ser possível quando a empresa atua proativamente, por exemplo, nas seguintes situações: (a) quando um cliente abandona o carrinho de compra no e-commerce; (b) auxiliando via chat quem está “perdido no site”; (c) quando envia uma mensagem pelo celular para confirmar algo que foi previamente combinado em qualquer canal de comunicação, como visita de um técnico, por exemplo (CONSUMIDOR MODERNO, 2017, p. 114). Para Gordon (2002, p. 198), “a tecnologia conduz os megaprocessos necessários para fornecer valor aos clientes” tornando possível, desta forma, o aprofundamento do relacionamento entre as partes. De acordo com o autor, a tecnologia é a chave para os processos de marketing de relacionamento (ou os 11 Cs do marketing de relacionamento), de acordo com a figura 1. Figura 1 – Chave tecnológica para processos de marketing de relacionamento Fonte: Gordon (2002, p. 199). Vamos falar um pouco sobre cada um dos Cs do marketing de relacionamento apontados pelo autor: Quadro 1 – Os 11 Cs do marketing de relacionamento CS DESCRIÇÃO Cliente A tecnologia oferece as ferramentas para que a empresa decida em quais clientes irão se concentrar, com o objetivo de facilitar as interações necessárias. Categorias A tecnologia também auxilia a empresa nas decisões de quais categorias de bens de serviços devem ser oferecidas aos clientes. Capacidades A tecnologia desempenha papel vital na promoção da capacidade da empresa. Custo, lucratividade e valor A tecnologia é o instrumento para que a empresa gerencie seus custos (para captar, servir e manter os clientes). Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 199-217). CS DESCRIÇÃO Controle do contato com os processos monetários A tecnologia deve exercer função de controle para garantir que o valor para o cliente esteja realmente sendo criado. Colaboração e integração A tecnologia pode auxiliar os clientes a colaborar com seus fornecedores na criação contínua de valores novos e mútuos. Customização A tecnologia tem a capacidade de auxiliar na customização, ou seja, oferecer um produto ou serviço que reflita o valor que o cliente procura. Comunicações, interação e posicionamento A tecnologia é ferramenta para que os meios de comunicação com o cliente sejam estabelecidos, proporcionando que a interação entre ambas as partes seja feita a qualquer momento. Cálculos sobre o cliente A tecnologia pode auxiliar a empresa a compreender questões atuais e futuras do cliente, enquanto há tempo, sem prejudicar o relacionamento. Cuidado com o cliente A tecnologia fornece aos clientes a atenção que desejam (particularmente por meio da Internet e seus canais de comunicação. Cadeia de relacionamentos A tecnologia tem fundamental importância no vínculo estrutural entre os componentes da cadeia de relacionamentos. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 199-217). As muitas ferramentas de tecnologia que podem auxiliar uma empresa a tomar decisões estrategicamente importantes, como quais categorias de bens e serviços deveriam oferecer aos seus clientes, e se deveriam produzir os bens ou serviços que eles desejam. A tecnologia ajudará a empresa a administrar os custos para captar, servir e manter os clientes, pois permite que a empresa entenda em tempo real os custos e a rentabilidade associados ao cliente para, então, encaminhá-los para um relacionamento duradouro. A importância da tecnologia para o marketing de relacionamento, conforme afirmação de Maccari et al. (2009, p. 8-9): Vai muito além de softwares ou hardwares complexos necessários para o processamento das informações. O grande destaque está na capacidade de gerir importantes informações que devem ser interpretadas para uma tomada de decisão mais eficaz com menor probabilidade de erro. Ela deve assegurar que os processos sejam executados conforme o que foi planejado. Novas medidas relevantes serão implantadas e rastreadas conforme a empresa receba dados e os transforma em informações. O marketing de relacionamento atrai o cliente para dentro da empresa na formação de valor: ele participa de cada processo, seja a conceituação, o projeto, o desenvolvimento, a produção por encomenda, a distribuição e o atendimento ou suporte de produtos ou serviços. A tecnologia também permite a customização e a personalização. Por meio da personalização, a comunicação, o produto e os serviços são identificados pelo nome ou por algum dado que identifique o cliente. A customização possibilita que a empresa e o cliente desenvolvam produtos, comunicações e serviços exclusivos. Dentro desse aspecto, quando o cliente se integra em tempo real com a customização e a personalização fornecidas pela empresa, um relacionamento intenso e de longo prazo poderá ser formado. Além disso, a tecnologia pode ajudar a empresa a se comunicar por um custo que reflita o valor das comunicações. Pode diferenciar entre os propósitos das diferentes comunicações e escolher a mídia mais apropriada para abordar diferentes situações. Outro papel importante da tecnologia é o fortalecimento da cadeia de relacionamentos. Ela cria um vínculo estrutural com todos os seus componentes, fornecendo ferramentas e informações adequadas para que o cliente inicie a demanda e escolha quando, onde e como adquirir seu produto ou serviço. Quadro 2 – Vantagens que as empresas poderão obter ao aplicar ferramentas tecnológicas Permitir que os clientes fiquem mais satisfeitos com a experiência de compra, pois suas dúvidas, preocupações e reclamações podem ser respondidas em tempo real por meio dos diversos canais de comunicação e relacionamento disponíveis (mídias sociais, contact centers, chats, ouvidoria, e-mails, blogs, multicanais, omnichannel, etc.); Ter acesso a informações dos clientes, no momento exato de influenciá-lo; Concentrar as promoções para os clientes que provavelmente serão mais influenciados por ofertas específicas; Adaptar as necessidades de informaçõesdos clientes, utilizando comunicação personalizada e sua mídia preferida. Fonte: adaptado de Monteiro (2003, p. 72). Além dessas vantagens gerais, podemos afirmar que o uso das tecnologias mais apropriadas poderá fornecer para as empresas inúmeros benefícios, quer sua atuação seja no fornecimento de serviços, indústria ou comércio. 2 Mídias sociais Sem dúvida, as mídias são fontes de oportunidades e de captação de cliente potenciais para as organizações. Cabe reforçar que um relacionamento é fruto de uma pluralidade de construções, e o cliente percebe valor no relacionamento quando recebe algum benefício, aumentando a voluntariedade de desenvolver as relações; para isso, deve- se aumentar a lealdade, mas a lealdade pode ser definida e operacionalizada por diversos caminhos. [...] O processo de construção do relacionamento é moldado, fundamentalmente, por um número de conteúdos relacionais básicos: econômicos, recursos e interação social, os quais atuam com antecedentes das resultantes dos relacionamentos. (OLKOSKI et al., 2009, p. 3) Partindo-se do pressuposto de que o marketing de relacionamento tem como base interações dentro de uma rede de relacionamentos, podemos dizer que a tecnologia possibilita a aproximação e a integração entre empresas e clientes de forma muito natural. Assim, os avanços tecnológicos são imprescindíveis e estão mais do que nunca evidenciados nas mídias sociais, que possibilitam inúmeras possibilidades de interações. É impossível falar em mídias sociais e não falar de tecnologia. As mídias sociais servem como esforço de marketing. Podem estar presentes em diversos formatos: chats no Twitter; grupos no LinkedIn; perfis no Facebook e Instagram, aplicativos, etc. Cada vez mais as diversas redes sociais (Facebook, Instagram, Tweet, LindedIn, entre outras) empregam e implementam novas tecnologias. Isso porque as pessoas cada vez estão mais “conectadas” a uma ou mais redes, simultaneamente: em casa, no trabalho, no transporte, no lazer em seus smartphones (cada dia mais complexos e completos), smartvs, tablets, notebooks, desktops. Tudo está integrado e conectado 24 horas por dia. As empresas que estão presentes nas redes sociais têm ciência da força desse canal de comunicação. Utilizando-se de inovações tecnológicas constantes nas redes sociais, apresentam seus produtos de forma atraente sem que o internauta tenha que sair da página da sua rede social. Interage com os consumidores, criando e estabelecendo um vínculo que pode resultar em um relacionamento duradouro. Nas mídias sociais, o cliente, como acesso quase instantâneo a qualquer tipo de informação, desejará estabelecer trocas e relacionamentos no momento em que lhe convier e quando desejar. Para poder dar as respostas e atender no tempo exigido pelo cliente, o marketing de relacionamento estará dependente, sobretudo, do uso correto de novas tecnologias. As empresas precisam aprender o manuseio em tempo real do único modo possível – adotando- as e colocando-as em prática. (BRETZKE, 1999, p. 42) Os avanços tecnológicos têm permitido a criação de vínculo entre empresa e clientes. Entretanto, não basta estar nas mídias sociais: a tecnologia somente trará vantagem competitiva se a empresa monitorar seu relacionamento (também por meio da tecnologia) e lembrar-se sempre que do outro lado da tela há uma pessoa que quer ter suas necessidades e desejos atendidos. A tecnologia é um meio e não um fim. 3 Tecnologia no marketing tradicional e no marketing de relacionamento A tecnologia está presente nas relações entre empresas e clientes há muito tempo. No entanto, a abordagem diferencia-se quando falamos do marketing tradicional e do marketing de relacionamento. Apresentamos a seguir um quadro concebido por Gordon (2002), que contrapõe a tecnologia no marketing tradicional e a tecnologia no marketing de relacionamento quanto ao processo de compra ou aquisição de um produto ou serviço. Quadro 3 – Tecnologia em marketing de relacionamento PROCESSO DE COMPRA MARKETING TRADICIONAL MARKETING DE RELACIONAMENTO Consciência Utiliza a mídia de transmissão, visando ao segmento de mercado para desenvolver a consciência sobre a marca ou alcançar outros objetivos de publicidade, como garantir a repetição da compra Desenvolve um banco de dados dos clientes finais com base em compras anteriores com cartões de loja, cartões de fidelidade, cartões de garantia, pesquisa de massa ou de outras abordagens, como ligações para a central de atendimento. Desenvolve um perfil para cada consumidor, que inclui a mídia à qual é mais receptivo, as tecnologias a que tem acesso (por exemplo, a internet) e outras informações relevantes, domésticas e demográficas. Usa mídia direcionada para desenvolver consciência de um processo de comunicação interativa, pelo qual a empresa pode ser contatada, por exemplo, com o fornecimento de um número gratuito, um endereço de site na rede ou em quiosques dentro das lojas. Fonte: Gordon (2002, p. 202). PROCESSO DE COMPRA MARKETING TRADICIONAL MARKETING DE RELACIONAMENTO Interesse Prende o interesse ao demonstrar a superioridade da marca ou a capacidade que ela tem de satisfazer a uma necessidade. Prende o interesse ao envolver-se com a tecnologia da empresa, fornecendo benefício por agir assim com os seus meios de comunicação. Quando o cliente acessa essa tecnologia, o banco de dados é atualizado. Avaliação O consumidor obtém informações informalmente ou a empresa fornece os dados que os clientes geralmente procuram para ajudá-los a tomar uma decisão. Oferece oportunidades para o consumidor aprender muito sobre as características e os benefícios dos produtos e serviços customizados e personalizados da empresa: o contraste desses em relação aos concorrentes, seu valor de uso e como obtê-los – agora, interativamente com a tecnologia da empresa. Rastreia o processo pelo qual o consumidor toma sua decisão de compra e coloca a tecnologia para ajudá-lo o tempo todo. Por exemplo, o operador da central de atendimento deveria dispor de um banco de dados detalhado com as perguntas mais frequentes, assim como o perfil específico do usuário, os tipos de pergunta que podem fazer e as respostas que podem dar. Teste O cliente dá início a uma compra de teste. A empresa fornece uma oportunidade para o cliente fazer um teste em tempo real. Por exemplo, ao oferecer uma amostra grátis ou permitir que o cliente faça um test-drive dentro do conforto de sua casa em três dimensões, pela internet. Após um teste livre de riscos ter sido oferecido, a empresa dá ao cliente a oportunidade de realizar a compra. Adoção O consumidor confirma sua decisão de compra pelo benefício da utilização e em caso de comprar novamente. Caso não compre novamente será difícil recuperá-lo. O consumidor compra o produto ou contrata o serviço, e a tecnologia o acompanha para verificar se há alguma coisa com a qual o consumidor está insatisfeito. O banco de dados é atualizado. O consumidor é encorajado a manter um diálogo aberto com a empresa, com incentivos para revisitar o mesmo ponto de acesso usado anteriormente. A empresa fecha o ciclo de comunicação com o cliente. Ao usar o perfil previsto sobre cada consumidor, ela procura ser dinâmica, dando sugestões de soluções específicas ou criação de ofertas que interessarão ao consumidor. Fonte: Gordon (2002, p. 202). O quadro 3 mostra que a utilização da tecnologia difere em diversos aspectos dentro da concepção do marketing de relacionamento. Importante frisar que todas as tecnologias devem estar integradas para sua efetividade na aplicação do marketing de relacionamento. 4 Exemplos e estudos de caso Apresentamos exemplos de utilização de tecnologia, a qual trouxe vantagem competitiva e pôde fortalecer o relacionamento dessas empresas e seus clientes. 4.1 99 Táxis A 99 Táxis é uma empresa que nasceu pela inovação tecnológica e hoje tem o aplicativo mais utilizado no Brasil para solicitação de táxis. Embora a concorrência seja grande (com a Uber, o Cabify), a 99 costumafazer promoções em algumas datas especiais com o objetivo de estreitar ainda mais o relacionamento com os clientes. 4.2 Dr. Consulta A rede de centros médicos Dr. Consulta encontrou na tecnologia um caminho para oferecer serviços a consumidores entre o SUS (Sistema Único de Saúde, mantido pelo Governo) e planos de saúde disponíveis no Brasil. A concepção é tão interessante que o Ministério da Saúde consultou os empreendedores para uma possível replicação de seu modelo de negócio, com o intuito de aprimorar ou até substituir oferta de consultas e exames médicos na rede pública. 4.3 Banco do Brasil O Banco do Brasil também se utilizou dos avanços tecnológicos para facilitar a vida de seus clientes e estabelecer um relacionamento com eles. Foi necessário (e sempre é) uma mudança cultural, pois trata-se de uma instituição bancária já institucionalizada. Por meio do aplicativo do banco, o cliente pode solicitar uma senha de atendimento em agência mais próxima, mesmo antes de chegar nela. Com essa ação (que foi sugestão de um funcionário do banco), o cliente ganha em agilidade e em tempo. Considerações finais Como vimos no decorrer deste capítulo, a tecnologia fornece o conhecimento e a percepção sobre o cliente para que a empresa possa abordá-lo no momento oportuno, em que ele deseja comprar, e com a comunicação que faça mais sentido para ele. Ela é fundamental para as empresas, pois possibilita a criação e o desenvolvimento de ações que possibilitem o relacionamento com os clientes, possivelmente com menores custos. Nesse sentido, as mídias sociais, com o suporte tecnológico que as cercam, fazem com que as empresas consigam estabelecer um relacionamento mais aproximado e duradouro com seus clientes. O “modo” como a tecnologia era encarada é visivelmente diferente de como é empregada dentro dos preceitos do marketing de relacionamento, voltada para o cliente. Tudo é muito rápido. Assim, questões atuais e emergentes podem ser detectadas pela tecnologia, fazendo com que a empresa tome conhecimento, compreenda e solucione o problema a tempo, a fim de que o relacionamento não tenha seus alicerces abalados. Não importa onde as informações estejam: a tecnologia vai estar sempre rodando em segundo plano, gerando informações e relatórios para que a empresa possa atender aos clientes da melhor maneira possível. Assim, a tecnologia, fazendo uso de dados armazenados, também ajuda a empresa no acompanhamento da lucratividade e nos gastos dos clientes (visto que a tecnologia exige investimento da alta direção da empresa), permitindo, assim, o gerenciamento adequado do relacionamento dos clientes. Mais do que ter a melhor tecnologia, as empresas precisam saber fazer uso delas. Em um ambiente competitivo e em constante mudança, está à frente quem consegue auxiliar o cliente na utilização plena das soluções contratadas para extrair insights estratégicos para aprimorar o relacionamento com seu público alvo. (CONSUMIDOR MODERNO, 2017, p. 114) A tecnologia caminha a passos largos e não podemos imaginar a vida e os negócios sem ela. No entanto, tecnologia por tecnologia não vale nada se não são consideradas as pessoas e suas relações. É no relacionamento B2B (business to business: transações comerciais efetuadas entre empresas) ou B2C (business to consumer: transações comerciais realizadas entre empresa e consumidor final) que ocorrerão as maiores transformações. Referências BRETZKE, Miriam. O marketing de relacionamento transformando a organização para competir em tempo real: integração entre tecnologia da informação e marketing. 1999. 278f. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1999. CONSUMIDOR MODERNO. As novas faces do atendimento. Revista do consumidor moderno, ed. 228, set. 2017. Disponível em: <http://www.consumidormoderno.com.br/revistaonline/edicoes/cm22 8>. Acesso em: 7 nov. 2017. GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. 5. ed. São Paulo: Futura, 2002. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. MACCARI, Emerson Antonio et al. O uso do marketing de relacionamento aliado à tecnologia da informação em uma fábrica de software. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, v. 8, n. 1, p. 5- 17, 2009. http://www.consumidormoderno.com.br/revistaonline/edicoes/cm228 MONTEIRO, Marcos C. W. Marketing de relacionamento: proposta de um plano de marketing de relacionamento para a Genyus Baterias. 2003. 147 f. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2003. OLKOSKI, Guilherme et al. Marketing de relacionamento e software de CRM: estudo de caso em uma concessionária de automóveis. Revista de Administração da UFSM, Santa Maria, v. 2, n. 3, p. 417-432, set./dez. 2009. Capítulo 8 Redução de perdas, retenção e recuperação de cliente A implantação do marketing de relacionamento poderá mudar radicalmente a forma de trabalhar de uma empresa. Se analisarmos com calma o conceito de relacionamento, verificaremos que o lucro e a perpetuação dos negócios são suas consequências. No entanto, “sem bons relacionamentos internos funcionando bem, os relacionamentos externos com clientes não se desenvolverão com êxito”. Essa afirmação vem de Grönroos (2009, p. 337) e ilustra muito bem a importância de a empresa primeiramente estar em sintonia para então obter êxitos no relacionamento com seus clientes. Os relacionamentos devem ser cultivados. Além de identificar clientes atuais e potenciais, a empresa deve definir estratégias de diferenciação desses clientes. Deve, também, interagir sempre com eles, com o objetivo de fortalecer o relacionamento e o tornar duradouro. Outro fator é reduzir uma possível perda de clientes e aplicar estratégias para recuperar os que eventualmente venha a perder. O processo de implantação do marketing de relacionamento bem-sucedido requer um impacto de gerenciamento de atitude dentro da empresa, que somente será possível se todos estiverem envolvidos. Para que seja possível planejar o processo final do relacionamento com os clientes (na realidade, trata-se de um processo contínuo), é imperativo que os relacionamentos dentro da empresa estejam alinhados ao objetivo do marketing de relacionamento, que é focar o cliente, mantendo um relacionamento duradouro. 1 Cultivando o relacionamento Embora algumas organizações acreditem que estejam voltadas para o relacionamento com o cliente (preferencialmente relacionamentos duradouros), elas não se asseguraram de que os clientes têm essa mesma crença, mesmo nos casos em que utilizem as mídias sociais para estreitar o relacionamento. Nem a criação de programas de fidelidade garantem a aproximação entre empresa e cliente. De acordo com Grönroos (2009, p. 33), um relacionamento só pode se desenvolver quando todos ou, pelo menos, a maioria dos contatos importantes com clientes são orientados para relacionamentos: Um modo de definir quando se desenvolveu um relacionamento é aferir quantas vezes determinado cliente fez compras na mesma empresa. Caso tenham ocorrido várias compras contínuas [...] pode-se dizer que foi desenvolvido um relacionamento com esse cliente [...]. Seja qual for o elemento adesivo dessa união, não deve ser possível quebrá-lo com facilidade [...]. Ele tem que ser merecido pelo fornecedor ou provedor do serviço. O relacionamento é merecido pelo modo como o marketing de relacionamento é implementado. [...] É o cliente, e não a empresa, quem determina se um relacionamento foi desenvolvido ou não. Esse autor ilustra bem a questão, principalmente quando afirma que um relacionamento não deve ser quebrado com facilidade. Fica por conta da organização estabelecer a interação por meio da comunicação. No entanto, quem determina se o relacionamento realmente existe é o cliente. Assim, podemos continuarafirmando que o compromisso é feito em duas vias: empresa e cliente estabelecem um relacionamento que deve ser vantajoso para ambos. Para isso, todos os esforços empenhados pela empresa devem ser merecidos. Não basta lançar um programa de fidelidade ou algumas atividades de marketing, nem estar nas redes sociais. É preciso ter atitude e empenho constantes e, o mais importante, aferir esse relacionamento. Um relacionamento voltado para atitudes indica que o cliente consegue perceber que há sinergia e comprometimento entre ele e a empresa. A empresa deverá demonstrar empenho aos seus clientes por meio de ações que promovam a interação (qualquer contato que ocorra entre empresa/cliente) constante entre o fornecedor do produto ou prestador de serviços, bem como o estabelecimento de comunicação efetiva entre eles. Sem dúvida, não se trata de um processo fácil avaliar o relacionamento. Trata-se de uma relação de ganha-ganha entre as partes: tanto empresa quanto cliente devem considerar-se parceiros, e as ações tomadas devem ser em conjunto, visto que o marketing de relacionamento está baseado na cooperação. Sob essa óptica, podemos levantar outra questão: há o modo do cliente transacional (está se tratando com a empresa para uma transação específica) ou o cliente de relacionamento (que poderá ser ativo quando o cliente tem ação realmente participativa no relacionamento com a empresa e passivo quando não há interação com a empresa). Vamos abordar essa diferenciação entre clientes transacionais e relacionais no quadro 1, a seguir. Quadro 1 – Definições entre clientes transacionais e relacionais CLIENTE EXPECTATIVAS E REAÇÕES Transacional Procura soluções para suas necessidades a preço compatível e não aprecia contatos com o fornecedor de produto ou serviço no intervalo entre suas compras efetuadas. Relacional “ativo” Procura interagir com o fornecedor do produto ou do serviço para obter valor agregado. Quando não há interação, fica desapontado, exatamente porque está ausente o relacionamento. Relacional “passivo” Sabe que pode entrar em contato com o fornecedor, mas, embora busque o contato, raramente interage quando recebe convites da empresa para realizar a interação. Fonte: adaptado de Grönroos (2009, p. 36). Conforme o quadro 1, os clientes transacionais procuram determinada empresa para realizar uma transação de compra ou serviço, mas há também os que procuram um relacionamento com a empresa. Em outras palavras, há os que participam ativamente das decisões da empresa e outros que não estabelecem uma interação. Para a construção de relacionamentos sólidos e duradouros, as empresas utilizam informações sobre os clientes, a fim de diferenciá- los e, com isso, poder customizar e personalizar os relacionamentos. Nesse sentido, as mídias sociais têm um papel extremamente importante, exatamente pela velocidade desse meio de comunicação e compartilhamentos das experiências de compra ou aquisição de produtos ou serviços. Pode-se concluir que os clientes aceitam estabelecer um relacionamento duradouro com determinada empresa porque encontraram nela um parceiro confiável, que o ajude a alcançar suas metas. E é isso que as empresas que estabelecem o marketing de relacionamento almejam. 2 Identificando, diferenciando e interagindo com o cliente para fortalecer o relacionamento De acordo com Kotler e Keller (2012), para o aprimoramento do relacionamento com o cliente, há a necessidade de desenvolver um modelo, dividido em quatro etapas: Quadro 2 – Modelo para aprimorar o relacionamento com os clientes 1 – IDENTIFICAR CLIENTES ATUAIS E POTENCIAIS A empresa não deve ir atrás de todo mundo. Deve, sim, construir e manter um satisfatório número de dados de clientes, com informações advindas dos canais de contato com eles. 2 – DIFERENCIAR CLIENTES A empresa deve dedicar-se aos clientes mais valiosos, aplicando o método de custeio baseado em atividades, calculando, assim, o valor vitalício do cliente. 3 – INTERAGIR INDIVIDUALMENTE A empresa deve interagir com cada cliente individualmente, a fim de melhorar seu conhecimento sobre as necessidades de cada um e construir relacionamentos mais sólidos. Além de desenvolver ofertas customizadas, comunicadas aos clientes de maneira personalizada. 4 – CUSTOMIZAR PRODUTOS PARA CADA CLIENTE A empresa pode utilizar sites (ou outros pontos de contato com o cliente) para facilitar a sua interação. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 143-144). Esse modelo pode proporcionar maior eficácia e resultado para empresas que têm por hábito coletar grande quantidade de informações sobre seus clientes individuais; além disso, servem de base para aprimorar o relacionamento com seus clientes. Falando do “empowerment” do cliente e ainda de acordo com Kotler e Keller: Embora se fale tanto sobre os novos poderes do consumidor – assumir o comando, definir a direção da marca e desempenhar um papel muito maior no marketing –, ainda é verdade que apenas alguns consumidores querem se envolver com algumas marcas que usam e, mesmo assim, apenas por algum tempo. Os consumidores têm vida, emprego, família, hobbies, metas e compromissos, e muitas coisas são mais importantes para eles do que as marcas que compram e consomem. (2012, p. 145) Assim, as empresas não devem medir esforços para divulgar sua marca nos diversos meios de comunicação disponíveis ao cliente. Identificados os clientes, a empresa deve interagir com eles e estar atenta a suas críticas e recomendações em todos os meios de comunicação. Assim como citamos em capítulos anteriores, não basta a empresa estar nas redes sociais: ela deve estar presente nas respostas às diversas manifestações dos clientes, interagindo em tempo real. Como dizem Kotler e Keller (2012, p. 146), “empresas on- line devem se certificar de que suas tentativas de criar relações com os clientes não se voltem contra si mesmas”. 3 Relacionamento: retenção e gestão da base de clientes Para o marketing de relacionamento, a retenção dos clientes e a ampliação de seu volume de negócios são mais valiosas que atrair novos clientes. Podemos dizer que a retenção começa no primeiro contato com o cliente, estendendo-se por todo o ciclo do relacionamento. Ações de retenção são necessárias quando há indícios de que a fidelização está comprometida. Seu objetivo é evitar a perda do cliente, garantindo resultados em longo prazo. Com o objetivo de poder reter os clientes, a empresa deverá também efetuar a gestão de sua base de clientes. Observa-se que as empresas que obtêm sucesso aumentam o valor da sua base de clientes com as estratégias descritas no quadro 3, de acordo com Kotler e Keller (2012, p. 147-148). Quadro 3 – Estratégias para gestão da base de clientes Reduzir o índice de deserção dos clientes, o que é possível com o treinamento dos funcionários da empresa, tornando-os aptos a responder de forma satisfatória aos questionamentos dos clientes. Aumentar a longevidade do relacionamento com os clientes, o que é possível com um maior envolvimento do cliente com a empresa, o que aumenta a probabilidade de fidelização. Aumentar o potencial de crescimento da carteira do cliente, ou seja, aumentar as vendas para os clientes existentes com novas ofertas e oportunidades. Aumentar a lucratividade com clientes pouco lucrativos ou mesmo dispensá-los (para que não seja necessário dispensar um cliente não lucrativo, a empresa poderá fazer com que ele compre mais vezes ou em quantidades maiores). Concentrar esforços em clientes de alto valor, proporcionando um tratamento diferenciado e atencioso; por exemplo, enviando convites para eventos esportivos ou artísticos. Fazendo a gestão da base de clientes e analisando a rentabilidade dos clientes, é possível que a empresa decida como administrar grupos de clientes que variam em relação a fidelidade e rentabilidade. Os clientes devem passar por cada um dos estágios determinados no funil de marketing, conforme Kotler e Keller (2012, p. 147), antes de serem considerados fiéis. Figura1 – O funil de marketing Pelo funil, observamos as fases que os clientes percorrem antes de se tornarem fiéis à empresa fornecedora de produtos ou prestadora de serviços. No estágio consciente, o cliente ouve falar da marca. Quando ele se torna aberto a experimentar determinado produto ou serviço, significa que ainda não tomou essa atitude. Na terceira fase, dos experimentadores, o cliente experimentou a marca e a usaria novamente, embora não tenha feito isso nos últimos três meses. Quando se trata de um usuário recente, embora tenha utilizado a marca nos últimos três meses, ainda não se tornou um usuário regular. Quando passa para o nível de usuário frequente, indica que é um usuário regular, porém a marca da empresa não é a que comumente usa. Quando o cliente passa para o estágio de usuário mais frequente, isso indica que ele utiliza a marca na maioria das vezes, embora não seja a única que utiliza. Quando finalmente avançar para o estágio de cliente fiel, sempre utilizará a marca, desde que esteja disponível e continue a satisfazer sua necessidade ou desejo de adquirir aquele produto ou serviço. Por fim, cabe ressaltar que, mesmo com os esforços despendidos em administrar a carteira de clientes e retê-los, muitas vezes é inevitável que a empresa perca alguns, por se tornarem inativos ou mesmo abandonarem a empresa. 4 Redução das perdas dos clientes O número de empresas que apresentam deserção de clientes é alto (churn de clientes). De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 146), “atrair novos clientes é como adicionar água a um balde furado”. Alguns motivos que levam o cliente a abandonar uma empresa são: necessidades e expectativas não atendidas, falta ou má qualidade do produto ou serviço e mau atendimento. Um exemplo são as trocas de operadoras de telefonia celular (pelo menos três vezes ao ano) em busca de melhores serviços e maiores descontos. Assim, para que a empresa consiga reduzir a taxa de deserção do cliente e, dessa forma, poder retê-lo, deverá: Quadro 4 – Ações possíveis para reduzir taxa de deserção de clientes AÇÃO DESCRIÇÃO Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 146). AÇÃO DESCRIÇÃO Definir e medir qual será sua taxa de retenção. Por exemplo, para uma revista, a taxa de renovação é indicador eficaz de retenção; para uma instituição de ensino, pode ser a taxa de retenção do primeiro para o segundo ano ou mesmo o índice de formandos por turma. Distinguir as causas possíveis do desgaste no relacionamento, bem como identificar aquelas que podem ser administradas. Não há muito o que fazer quando clientes mudam de endereço, mas é possível executar alguma ação para aqueles que desertam devido ao baixo nível do serviço, preço alto ou falta de qualidade do produto ou serviço. Comparar o valor vitalício do cliente em relação aos custos de redução da taxa de deserção. Caso os custos de desencorajar a deserção seja menor do que o lucro perdido, vale a pena investir na manutenção do cliente. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 146). Seguem algumas considerações adicionais dos autores sobre a retenção de clientes (KOTLER, 2012, p. 147): a conquista de novos clientes pode custar para a empresa até cinco vezes mais do que reter os já existentes; empresas podem perder, em média, 10% de seus clientes a cada ano; dependendo do setor em que atua, pode ser que uma redução de 5% no índice de perda de clientes de uma empresa possa aumentar os lucros de 25% a 85%; o indicador de taxa de lucro tende a aumentar ao longo do tempo em razão do aumento no número de compras, indicações para outras pessoas, preço mais competitivo e redução dos custos operacionais. 5 Recuperação de clientes Mesmo diante de todos os esforços, é inevitável a perda de alguns clientes, por terem se tornado inativos ou simplesmente abandonado a empresa. O grande desafio é tentar recuperar o cliente ou reativá-lo. Recuperar um cliente é convencê-lo a permanecer na organização. Nesse processo, o tempo é fator primordial, pois o processo de retorno do cliente à base da empresa é mais fácil quando a deserção ocorreu há pouco tempo. Normalmente, costuma ser mais fácil atrair de volta um ex- cliente – isso porque a empresa tem os dados e o histórico dele – do que encontrar novos clientes. Para a recuperação dos clientes, é essencial que a empresa realize uma entrevista de saída e faça um levantamento de informações ou indícios de insatisfação que poderão auxiliá-la na reconquista desses clientes (obviamente dos que possuem maior potencial de lucratividade para a empresa). Assim, é primordial para a empresa cultivar os clientes existentes, pois os clientes satisfeitos formam o capital do relacionamento com clientes da empresa. Se a empresa for vendida, a adquirente pagaria não somente pelas instalações e equipamentos industriais e pela marca, mas também pela base de clientes entregue e pela quantidade e pelo valor dos clientes que farão negócios com a nova empresa. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 147) 6 Exemplos e estudos de caso Para a criação de relações de longo prazo é necessário que as empresas “cultivem” o relacionamento com o cliente. Observe os exemplos a seguir. 6.1 Diferenciação no refrigerante Jones Soda A Jones Soda foi fundada em 1986 nos Estados Unidos. Para seu idealizador, Peter Van Stolk, os consumidores da geração Y aceitariam melhor uma nova marca de refrigerante se acreditassem que ela tinha sido criada especificamente para eles. A bebida era inicialmente vendida em lojas de surf, snowboard e skate. Em seu site, a empresa incentivou os admiradores da bebida a enviar fotos pessoais que pudessem ser posteriormente utilizadas nos rótulos das garrafas do refrigerante. Embora somente algumas das fotografias enviadas tenham sido escolhidas entre as milhares enviadas, a abordagem criou vínculo emocional entre a empresa e seus clientes. Os consumidores puderam comprar garrafas com rótulos personalizados e com frases inspiradoras dentro das tampas, outra diferenciação no produto. Essa abordagem funcionou por muitos anos (KOTLER; KELLER, 2012, p. 142). 6.2 Personalização de produtos em restaurantes Alguns restaurantes têm adaptado suas ofertas aos desejos concretos de seus clientes. Hamburguerias oferecem diversas opções para os itens do lanche, desde o pão a ser utilizado e o tipo de carne até os demais complementos para que o cliente monte o hambúrguer desejado, tornando a refeição altamente personificada e única. Os clientes têm também a possibilidade de consultar os estabelecimentos que auxiliarão os restaurantes em suas redes sociais, e as informações coletadas servirão de estratégias de personalização de alimentos, minimizando o risco de cozinhar algo que possa não ser bem aceito (THEFORK MANAGER, 2017). 6.3 Interação com o cliente e sua retenção Para Kotler e Keller (2012, p. 149), é necessário ouvir os clientes para estabelecer um relacionamento. Estas empresas dos Estados Unidos estabeleceram mecanismos para obter feedback constante de seus clientes: Deere & Company – fabricante de tratores, possui excelente histórico de fidelização de clientes, apresentando taxa de retenção de 98% em alguns segmentos. Contrata funcionários aposentados para entrevistar clientes “perdidos” e também os que continuam clientes. Chicken of the Sea – tem feedback de um grupo de clientes centrais (cerca de 80 mil membros do Mermaid Club), para o qual oferece ofertas especiais, dicas, artigos sobre saúde e boletim informativo. O feedback recebido desses clientes ajudou a projetar o site da marca, bem como a promover outras atividades que ajudaram a estabelecer as estratégias de marketing da empresa. Build-A-Bear Workshop – fabricante de ursos de pelúcia, utiliza informações obtidas de um grupo de vinte crianças (de 8 a 12 anos) para tomadas de decisão quanto à ideia de novos produtos e aprovação dos já existentes. 6.4 Retenção no Banco do Brasil O Banco do Brasil tem um programa de Retenção de Clientes (RTC), que sinaliza ao gerente de relacionamento quais clientes apresentamsinais de que desejam sair do banco. Esse programa leva em consideração o histórico do cliente nos últimos seis meses. Quando o sistema, pelas informações coletadas, verifica que as relações entre o banco e o cliente não estão bem, o gerente de relacionamento é sinalizado para que contate o cliente e tente reverter a situação. Foram entrevistados 5% do total de clientes daquela agência e constatou-se que 80% apresentaram conceito bom ou regular. As principais queixas eram: tempo de espera para atendimento na agência (61%); não atendimento do que foi solicitado (22%) e atraso nas respostas (13%). Fora isso, constatou-se que muitos clientes não tinham conhecimento dos produtos oferecidos pelo banco e, dessa forma, acabavam migrando para a concorrência. A pesquisa efetuada auxiliou o banco a verificar quais eram os motivos pelos quais os clientes estavam abandonando ou não efetuando transações e, com isso, foi possível diminuir o índice de deserção (RODRIGUES, 2007, p. 6-23). Considerações finais Quando falamos que é necessário executar as etapas de verificação dos relacionamentos, queremos dizer que a empresa deve – não só ao final da implantação do marketing de relacionamento, mas em todos os momentos – efetuar ajustes, medições e aferições necessários para verificar como está o relacionamento. O objetivo é que esse relacionamento esteja fortalecido, como resultado das diversas estratégias de que a empresa poderá se utilizar. O investimento que a empresa fez é muito alto para ser perdido. Por isso se empenhou tanto em implementar novas tecnologias, treinamentos de seus recursos humanos, liderança alinhada aos preceitos do novo conceito de marketing, etc. Dessa forma, de nada valerão tantos esforços se o marketing de relacionamento for apenas uma teoria, e não uma mudança na cultura empresarial. Assim, a empresa deve estar empenhada em interagir com o cliente, fazer com eficácia a gestão de sua carteira de clientes, minimizar o índice de deserção desenvolver estratégias para recuperar o cliente perdido. Principalmente, nunca esquecer que o foco do marketing de relacionamento é manter com os clientes um relacionamento duradouro e que, para isso, deverá realmente se empenhar. Marketing de relacionamento não deverá nunca ser um jargão, mas sim uma nova filosofia a ser vivida pela empresa. Além disso, embora saiba qual é o caminho a ser trilhado, a empresa deverá sempre estar atenta aos sinais emitidos pela concorrência. Referências GRÖNROOS, Christian. Marketing: gerenciamento e serviços. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. RODRIGUES, Eloise Caroline. Retenção de cliente: rentabilizando clientes insatisfeitos. 2007. 31 f. Monografia (Especialização em Administração) – Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. THEFORK MANAGER. A personalização no marketing de restaurantes. 2017. Disponível em: <https://www.theforkmanager.com/pt-br/blog/marketing- restaurantes-personalizacao/>. Acesso em: 22 nov. 2017. https://www.theforkmanager.com/pt-br/blog/marketing-restaurantes-personalizacao/ Capítulo 9 Fidelização do cliente e estratégias Um dos pilares do marketing de relacionamento é a fidelização do cliente. Sem dúvida, a conexão com os clientes deveria ser o desejo de toda a empresa que quer se destacar no mundo corporativo. Para mensurar a fidelidade dos clientes, as organizações poderão utilizar metodologias para medi-la, além de poder fazer uso de programas de fidelidade e de coalizão, com o objetivo de oferecer vantagens aos clientes. Neste capítulo, abordaremos o conceito de fidelidade (e as questões que o antecedem), analisando métricas, os modelos e os tipos de programas de fidelização e também os de coalização. 1 Identificando o conceito de fidelização do cliente A expressão “fidelização do cliente” tornou-se tão popular que mesmo intuitivamente é possível ter uma noção do que significa. Vamos falar um pouco sobre seu conceito ao longo dos anos. Primeiramente, cabe a definição dos termos. De acordo com Bacalhau (2009, p. 17), fidelidade deriva do termo latino fidelitato, que se traduz como ‘qualidade daquele que é fiel, probabilidade, exatidão, veracidade, lealdade’, enquanto que a lealdade tem sua raiz etimológica no termo latino legale, o qual manifesta a ‘qualidade daquele que é legal’, ou seja, daquele que age ‘em conformidade com a lei, que não falta às suas promessas, sincero, franco, honesto, dedicado, fiel.’ A partir daqui podemos dizer que, comercialmente, um cliente fiel é aquele que tem forte chance de voltar a comprar um produto ou serviço, enquanto um cliente leal é aquele que não falta com suas promessas de retornar e comprar da empresa com a qual deseja estabelecer uma relação duradoura (BACALHAU, 2009). Por fim e ainda segundo observação do autor, o vocábulo loyalty é comumente traduzido para o português por lealdade ou fidelização, de forma indistinta. Para Bacalhau (2009, p. 18), a fidelização de cliente pode, ainda, ser vista sob duas ópticas, as quais se complementam: como um comportamento (fidelização comportamental), traduzindo-se pela grande preferência por determinado produto, mesmo o cliente tendo alternativas para escolher um outro. Neste caso, o cliente repete a ação da compra. como uma atitude (fidelização atitudinal), na qual podemos observar que o cliente mantém a relação com o fornecedor do produto ou serviço, resistindo às abordagens e tentações lançadas por concorrentes, sendo indiferente até às variações de preço. Além disso, nessa modalidade o cliente costuma fazer referências positivas das suas experiências com determinada empresa para outras pessoas, muito certamente utilizando as redes sociais para se manifestar, encorajando outros consumidores a experimentarem a marca ou serviço. Assim, podemos dizer que, primeiramente, um consumidor poderá apresentar característica de fidelização comportamental: ele escolhe primeiramente uma empresa para satisfazer sua necessidade ou desejo e, caso suas expectativas sejam alcançadas, passará a confiar no fornecedor, podendo, assim, vir a repetir a ação da compra. Com o decorrer do tempo e à medida que esse cliente vai tendo boas experiências com esse fornecedor, passará a desenvolver a fidelização atitudinal. Nessa perspectiva e de acordo com Lovelock (2001, p. 150), fidelidade é a vontade de um cliente continuar prestigiando uma empresa durante um período prolongado de tempo, comprando e utilizando seus bens e serviços em uma base repetida e preferivelmente exclusiva, e recomendando voluntariamente os produtos da empresa a amigos e colegas. Sendo a fidelização um processo pelo qual os clientes se tornam fiéis a uma marca ou serviço, é imperioso que as empresas compreen dam de que forma podem conquistar esses clientes, impedindo que procurem seus concorrentes. 1.1 Antecedentes da fidelização A fidelização é resultado de alguns conceitos inter-relacionados, a saber: satisfação, valor percebido, qualidade e preço percebidos, confiança, comprometimento, barreiras à mudança de fornecedor, imagem organizacional e comunicação. Quadro 1 – Antecedentes da fidelização ANTECEDENTES DESCRIÇÃO Satisfação É o primeiro antecedente da fidelização, pois observa-se que clientes satisfeitos tendem a ser mais fiéis. É a forma como o cliente reage após consumir um serviço ou produto. Valor percebido É a avaliação feita pelo consumidor sobre a utilidade de um produto ou serviço, baseada em sua percepção. Qualidade percebida É a percepção global positiva de um produto ou serviço, baseada na excelência de benefícios recebidos pelo cliente e analisados em termos de sua utilidade. Resulta da comparação entre as expectativas e o desempenho. Preço percebido O consumidor define o preço que considera justo, de acordo com experiências anteriores, comparativamente com o que existe no mercado. O preço percebido influencia o valor percebido, o qual influenciaas intenções de recompra. Confiança Requisito básico que ajuda a reduzir o risco percebido em trocas comerciais. É a expectativa do cliente com relação à empresa, ou seja, se esta é confiável no que se refere à entrega do produto ou serviço, conforme prometido. Comprometimento Relacionamentos são baseados no comprometimento mútuo entre fornecedor e cliente. Poderá ser afetivo (quando há identificação pessoal e social do cliente para com a empresa), de continuidade ou de cálculo (quando o cliente se sente coagido a manter a relação com o fornecedor por não identificar alternativas de compra viáveis). Barreiras à mudança de fornecedor/custo da mudança Podem ser de natureza monetária ou não monetária. Reais ou apenas percebidas pelo cliente. Podem ser quaisquer fatores que tornem mais difícil para o consumidor mudar de fornecedor. Imagem da organização É a impressão global que o cliente tem da empresa (nome da empresa, estrutura organizacional, variedade de produtos ou serviços oferecidos, tradição, etc.) Fonte: adaptado de Bacalhau (2009, p 25-62). ANTECEDENTES DESCRIÇÃO Comunicação A comunicação com o cliente deve ser regular e disponível para o cliente em todos os ciclos do relacionamento e é um dos fatores que antecedem a fidelização do cliente. Fonte: adaptado de Bacalhau (2009, p 25-62). 1.2 Consequências da fidelização A fidelização é prenúncio para o estabelecimento de um relacionamento duradouro entre empresa e cliente. A consequência provável da fidelização dos clientes para a empresa é, em primeiro lugar, sua sobrevivência no mercado, e, em segundo, o ganho de vantagem competitiva em relação à concorrência. Sabemos que a empresa tem muito a ganhar. Quando ela consegue a fidelização, seu desempenho organizacional se aprimora, sendo possível elevar a rentabilidade de seu negócio, afinal, conquistar novos clientes é mais dispendioso que manter fiéis os já existentes. De acordo com Bacalhau (2009), com a fidelização (ou retenção de clientes), a rentabilidade aumenta ao longo do tempo. No quadro 2, há uma relação das consequências da fidelização. Quadro 2 – Consequências da fidelização Comprar mais produtos e serviços da empresa (em volume e em frequência). Referenciar positivamente a empresa a outros potenciais clientes, podendo gerar novos negócios. “Perdoar” possíveis falhas apresentadas no produto ou no serviço recebido. Diminuir a sensibilidade ao preço, estando disposto a pagar um valor mais elevado. Estar menos propenso a procurar novos fornecedores, resistindo à pressão dos concorrentes. Ser menos onerosos do que clientes novos, visto que para conquistar novos clientes as empresas costumam despender esforços adicionais. 2 Metodologias As empresas podem utilizar diversas metodologias para promover a fidelização de seus clientes, entre as quais citamos a Idip e a RFV. 2.1 Metodologia Idip Tem por objetivo possibilitar que a empresa consiga fidelizar seus clientes. A metodologia Idip (identificar, diferenciar, interagir, personalizar) visa (PEREIRA, 2014, p. 39): identificar os clientes individualmente em todos os pontos do contato; diferenciá-los por valor e necessidades; interagir com eles para construir a relação com o cliente; personalizar produtos, serviços, ou seja, a experiência do cliente com a empresa. Figura 1 – Os quatro passos da metodologia Idip Fonte: adaptada de Pereira (2014, p. 44). 2.2 Metodologia RFM (ou RFV) Inicialmente, vamos introduzir o conceito de ciclo de vida do cliente dentro de uma empresa. Sabemos que há muita variância dentro desse ciclo e que os clientes apresentam características e motivações diferentes no decorrer do tempo. De acordo com Pereira (2014, p. 37-38), o cliente passa pelas seguintes fases: (a) custo de aquisição, quando a empresa faz o investimento na sua captação; (b) lucro básico, quando o cliente é constante e garante lucro progressivo para a empresa; (c) aumento da receita por cliente, quando as empresas tendem a ter maiores gastos com o cliente, sendo importante analisar a receita anual por cliente; (d) economia de custo operacional, quando o cliente é menos dependente do suporte da empresa; (e) referências, quando os clientes satisfeitos recomendam a empresa, trazendo novos clientes e (f) preço diferenciado, quando os clientes mais leais não se importam em pagar mais por um serviço considerado especial, comparativamente a novos clientes. Ainda segundo o autor, o ciclo de vida do cliente (CLV – customer lifetime value) “é um elemento que permite entender em que fase se encontra aquele cliente e quais as estratégias mais adequadas às suas necessidades. [...] este ciclo repete-se vezes sucessivamente, com novos clientes e clientes existentes em diferentes modelos.” (2014, p. 31). É uma medida que engloba os elementos “que geram a rentabilidade (rendimento, despesas e comportamento do consumidor), sendo que no centro da observação estão sempre os clientes como fator que mais influencia a rentabilidade da empresa” (2014, p. 33). Partindo agora para a metodologia RFV, ela é também conhecida como RFM e quer dizer: recência, frequência e valor monetário do cliente. Com base nesse conceito, é possível às empresas classificar os clientes com base em uma escala, na qual os clientes que apresentem notas maiores têm ciclo de vida maior na empresa. Ela parte do princípio de que o comportamento de compra do cliente no passado contribui para identificar quais são os clientes de maior interessa para a empresa, usando as variáveis apresentadas na figura 2. Figura 2 – Variáveis da metodologia RFM Fonte: adaptada de Pereira (2014, p. 36). Pelo exposto, essa metodologia considera que o cliente mais recente, mais frequente e que mais gasta é o melhor cliente. Nesse sentido, a empresa poderá direcionar suas estratégias para os clientes considerados mais lucrativos. Ainda de acordo com Pereira (2014, p. 36), “esse método de análise exige pouca informação, o que facilita a análise, não sendo por isso surpreendente o sucesso desse método de análise”. No entanto, cabe ressaltar que essa metodologia, por se basear em comportamentos passados dos clientes, não potencializa o futuro e seu grande desafio é a criação de uma base histórica para utilização de conceitos estatísticos. 3 Rentabilizando a recência e a frequência As empresas possivelmente, para aumentar a rentabilidade, devem querer aumentar o tempo de vida do cliente dentro da empresa. Com a aplicação da metodologia RFM ou RTV, a empresa poderá ter mais subsídios para obter maior rentabilidade ou vantagem financeira, de acordo com o comportamento e o valor do cliente, os quais poderão prever comportamentos futuros. Assim, as empresas podem maximizar o retorno de campanhas e minimizar custos de marketing se souberem quais clientes endereçar uma ação de venda. Estes clientes podem ser assim considerados de maior valor para a empresa, pois seu comportamento passado indica uma intenção positiva de manutenção do relacionamento. (GUIMARÃES PINHO, 2009, p. 87) No entanto, não é possível garantir que após certo período de inatividade um cliente com baixa chance de recompra voltará a efetuar transações comerciais com a empresa. Desta forma, estando esta metodologia atrelada a uma estratégia de CRM, a empresa poderá obter rentabilidade com a recência e a frequência, exatamente porque é possível segmentar uma população de potenciais consumidores em grupos mais ou menos propensos e reagir positivamente às ofertas de mercado. Além de poder ser usado como uma técnica de segmentação, essa análise permite encontrar quais os consumidores ou grupos de consumidores mais ativos. (CERQUEIRA, 2014, p. 26-27) A metodologia, quando bem aplicada, poderá auxiliar nas estratégias da empresa na conquista de clientes, com os quais é possível estabelecer um relacionamento duradouro. 4 Modelos de programas de fidelização Lovelock (2001, p. 154) afirma que o grande desafio das empresas não é somente dar aos clientes uma razão para estabelecer um negócio (ou transação comercial),mas “também em oferecer incentivos aos clientes atuais para permanecerem fiéis e até aumentarem suas compras”. As empresas, com o objetivo de fidelizar e encantar o cliente, poderão desenvolver programas de fidelidade a fim de recompensá- los. Poderá ser pela frequência com que efetuam suas compras. Os programas de frequência (PFs) são aplicados para recompensar clientes que compram com frequência e em grande quantidade, podendo contribuir na construção de fidelidade a longo prazo (KOTLER; KELLER, 2012). Foram lançados por companhias aéreas, hotéis e administradoras de cartões de crédito. Estão presentes também em redes de supermercado. Ainda segundo o autor (2012, p. 149): alguns PFs geram recompensas de tal modo que prendem os clientes e acarretam significativos custos de trocas. [...] podem produzir um impulso psicológico e uma sensação de ser especial e fazer parte de uma elite, algo valorizado pelos clientes. Um programa de fidelização poderá ser também por filiação e está aberto a todos que adquirem produtos ou serviços. Pode, ainda, restringir-se a um grupo específico de afinidade, caso em que poderá ter mais sucesso. Um exemplo é a Apple, que estimula os proprietários de seus produtos a formarem grupos de usuários, oferecendo a eles a possibilidade de aprendizado sobre os equipamentos e a participação em eventos especiais. Para Kotler e Keller (2012, p. 149), “qualquer cliente pode encontrar o grupo de usuários mais próximo pelo site da Apple”. Cabe ressaltar que programas de fidelização não são a mesma coisa que promoções. As diferenças entre eles estão listadas no quadro 3: Quadro 3 – Diferenças entre programas de fidelização e promoções PROGRAMAS DE FIDELIZAÇÃO PROMOÇÕES Tem por objetivo criar relacionamento permanente. Público: consumidores mais frequentes, com maior gasto médio e mais fiéis. Recompensa: de longo prazo. Duração: contínua e de longo prazo. Tem por objetivo aumentar as vendas em situações específicas. Público: qualquer comprador, independentemente de seu perfil. Recompensa: de curto prazo. Duração: prazo determinado. Fonte: adaptado de Monteiro (2016, p. 29). Os diversos modelos de fidelização visam oferecer benefícios aos clientes, que podem ser financeiros (quando oferecem descontos, por exemplo), sociais (quando estão desvinculados das compras) e estruturais (quando oferecem produtos específicos para determinados clientes). O quadro 4 descreve os modelos de fidelização de acordo com Pereira (2014). Quadro 4 – Programas de fidelização PROGRAMA DESCRIÇÃO Modelo de recompensa Procura recompensar o cliente, estimulando a repetição da compra por meio da concessão de descontos, bônus e ofertas. Modelo educacional Busca manter ciclo de comunicação com o cliente e tem por objetivo o aumento (a curto e médio prazo) do consumo, por meio de conteúdos informativos, objetivando o fornecimento de informações para outros produtos e serviços. Modelo contratual Oferece entrega periódica de produtos ou serviços. Nesse modelo, a empresa aposta na participação em eventos, na diminuição de preços e na diferenciação da comunicação, buscando atingir clientes potenciais que se sintam exclusivos. Modelo de afinidade Consiste em um programa que reúne grupos de consumidores que partilham interesses comuns, relacionados ao produto ou serviço, trazendo alto nível de envolvimento entre eles. Modelo de serviço de valor agregado Envolve aperfeiçoamento de produtos e serviços, agregando-lhes valor, para, dessa forma, fidelizar o cliente. Modelo de alianças (ou complementar) Programa fundamentado em alianças entre empresas (geralmente não concorrentes). Nessa modalidade, busca-se oferecer serviços complementares aos já existentes. Fonte: adaptado de Pereira (2014, p. 39-40). 4.1 Tipos de programa de fidelização Ainda em relação aos programas de fidelização, estes podem ser adaptados a quatro tipos principais, conforme quadro 5. Quadro 5 – Tipos de programas de fidelidade TIPOS CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS Fonte: adaptado de Mariotto (2015, p. 44). TIPOS CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS 1. Membros recebem descontos diretamente no caixa. Adesão ocorre para todos os clientes. Desconto não acontece se o cliente esqueceu o cartão de fidelidade ou não o possui. Desconto é o mesmo para todos. A empresa não tem informação sobre o cliente que está recebendo o desconto. Não existe comunicação direcionada. Esse tipo de programa está presente em supermercados, como Pão de Açúcar, Dia e Carrefour. 2. Membros recebem produtos gratuitamente quando adquirem determinada quantidade. Adesão está disponível para todos os clientes. A empresa não mantém uma base de dados que possa relacionar compras a clientes específicos. Presente em restaurantes (Subway), no entretenimento (Hopi Hari) e em lojas de departamentos (C&A). 3. Membros recebem pontos em compras cumulativas. Procuram clientes que gastem o suficiente para receber esses benefícios. Presente em restaurantes (América) e em programas de cartão de crédito (Santander, Itaú). 4. Membros recebem ofertas e correspondências direcionadas. Membros são divididos em segmentos. Requer base de dados que leve em consideração características demográficas e comportamentais do cliente. Postos de gasolina (km de vantagens). Programas de coalização. Fonte: adaptado de Mariotto (2015, p. 44). Cabe ressaltar que alguns programas de fidelização não proporcionam à empresa retorno positivo, porque “para ter sucesso em mercados competitivos, os programas de fidelidade devem aumentar o valor global do produto ou serviço e motivar os compradores fiéis a fazerem sua nova compra” (LOVELOCK, 2001, p. 156). Assim, apenas recompensar os clientes não fará com que a empresa mantenha seus melhores clientes: estes devem se encantar com a qualidade percebida do produto ou serviço. 5 Programas de coalização O tipo 4 de programa de fidelidade apresentado no tópico anterior é considerado um programa de coalizão, um tipo de desdobramento de programa de fidelização. Ele também é conhecido como multifidelidade. De acordo com Mariotto (2015, p. 45), “um programa de coalização pode ser definido como um programa de recompensas com diversas empresas parceiras, tanto para o acúmulo dos pontos quanto para resgate dos pontos”. Esse programa une empresas de diversos segmentos em um único programa. Normalmente é aplicado por shoppings, os quais reúnem diversas lojas em parceria para lançar seu programa. Nesse sistema, os clientes participantes acumulam pontos, com os quais poderão resgatar prêmios das empresas envolvidas nessa coalizão. De certa forma, os programas de fidelidade de cartões podem ser considerados como de coalizão, visto que no estabelecimento em que houve a aceitação do cartão de crédito o cliente poderá acumular pontos; porém, os prêmios são geridos pela administradora de cartão. Programas de coalizão “lidam com uma série de parceiros com o intuito de criar um ecossistema em que a moeda de troca são os pontos por eles gerenciados” (MARIOTTO, 2015, p. 83). 6 Exemplos A fidelidade, sem dúvida, é uma teia que deve ser construída. Uma das melhores formas para a construção de um relacionamento duradouro com o cliente é saber ouvi-lo, inteirando-se com ele. Seguem alguns exemplos de empresas que criaram um mecanismo que as deixam conectadas com seus clientes. Quadro 6 – Exemplos de empresas conectadas com seus clientes EMPRESA MECANISMO Deere & Company, fabricante de tratores Detém quase 98% de retenção em alguns segmentos. Dispõe de funcionários aposentados para entrevistar clientes considerados perdidos, bem como os que continuam consumindo seus produtos. Chicken of the Sea Possui 80 mil membros no seu grupo de clientes centrais, o Mermaid Club, para o qual oferece ofertas especiais, dicas e artigos sobre saúde. Em contrapartida, os integrantes desse grupo fornecem um feedback à empresa. Com o retorno desses clientes, a empresa projetou o novo site da marca e desenvolveu mensagens para propagandas de TV e a arte e o texto das embalagensde seus produtos. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 149). Considerações finais O marketing de relacionamento acredita que, por meio de um relacionamento de longo prazo com o cliente, a empresa conseguirá vantagem competitiva em relação a seus concorrentes. Para que exista essa ligação com o cliente, as organizações não podem e não devem medir esforços para demonstrar o quanto o cliente é importante. Isso tudo tem que ser demonstrado nas ações das empresas. Para reter o cliente, obter sua lealdade e fidelidade e poder desenvolver esse relacionamento de longo prazo e duradouro, as empresas têm se utilizado da tecnologia para melhorar seus fluxos e processos, adequando cada vez mais seus canais de comunicação ao cliente, além de desenvolver programadas de fidelização cada vez mais atrativos. A concorrência é grande e o cliente, cada vez mais informado, sabe da sua importância e quer ser surpreendido o tempo todo. Conhecendo o cliente, observando seu comportamento durante uma compra (bem como seus hábitos de consumo), estabelecendo uma comunicação eficaz e utilizando as ferramentas tecnológicas disponíveis, as empresas poderão fazer bom uso das metodologias de fidelização e implantar efetivamente programas de fidelidade que realmente o surpreenda. Não se trata de tarefas fáceis. Conseguir a fidelidade do cliente também não é. Mas é possível. Referências BACALHAU, Lara Sofia Mendes. Antecedentes da fidelização de clientes: um estudo no sector de telecomunicações móveis. 2009. 193 f. Dissertação (Mestrado em Análise de Dados e Sistemas de Apoio à Decisão) – Faculdade de Economia, Universidade do Porto, Porto, 2009. CERQUEIRA, Vítor Manuel Araújo. Dinâmicas de comunidades em redes sociais de grande dimensão. 2014. 79 f. Dissertação (Mestrado em Modelação, Análise de Dados e Sistemas de Apoio à Decisão) – Faculdade de Economia, Universidade do Porto, Porto, 2014. GUIMARÃES PINHO, Anderson. Análise RFV do cliente por algoritmos genéticos na otimização de estratégias de marketing. RPCA, Rio de Janeiro, v. 3, n. 2, maio/ago. 2009. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. LOVELOCK, Christopher; WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. MARIOTTO, Tomás. Fidelidade ao cartão de crédito em troca de milhas aéreas: um estudo empírico desta relação no mercado brasileiro. 2015. 97 f. Dissertação (Mestrado em Administração de Empresas) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, FGV, São Paulo, 2015. MONTEIRO, Ana Patrícia Silva. O processo de fidelização de clientes: o caso cartão Continente. 2016. 91 f. Dissertação (Mestrado em Gestão e Estratégia Empresarial) – Universidade Europeia, Lisboa, 2016. PEREIRA, Fernando Miguel Martins. Modelos de fidelização de cliente em ambiente de business to business: um estudo aplicado ao ciclo de desenvolvimento do cliente. 2014. 74 f. Dissertação (Mestrado em Marketing) – Instituto Universitário da Maia, Maia, 2014. Capítulo 10 Banco de dados de clientes e database marketing As informações são essenciais no dia a dia das pessoas e para as organizações em geral. Para a empresa, ter informações sobre os clientes é um ponto nevrálgico e determinante de vantagem competitiva. No entanto, não basta somente ter informações. É preciso saber armazená-las e atualizá-las devidamente, de forma que seja possível efetuar análise e uso de forma estratégica para os negócios. Empresas que adotam o marketing relacional querem manter um relacionamento duradouro com o cliente. Para tanto, é importante que saibam como pode satisfazê-lo, exatamente para que se repita a ação de compra e haja ganhos em lucratividade. Os sistemas de informação são fundamentais para as empresas, visto que, por meio do conhecimento das necessidades e desejos dos clientes, é possível desenvolver produtos e serviços capazes de atender a suas necessidades, oferecendo, ainda, atendimento adequado e customizado. Neste capítulo, vamos conhecer e compreender a importância da utilização de banco de dados de clientes e como a empresa poderá obter vantagem competitiva por meio de seu correto armazenamento, análise e extração de dados. É a tecnologia agindo para benefício da empresa e do cliente. 1 Conhecer e compreender a utilização de banco de dados de clientes e database marketing Vimos em capítulos anteriores que empresas que desejam estabelecer relacionamento duradouro com os clientes devem buscar a satisfação de suas necessidades e desejos. Para isso, elas devem primeiramente conhecer o cliente. Isso é a base de tudo. Empresas necessitam de um banco de dados de clientes. Não se deve entender por banco de dados meras informações ou listagens de clientes com endereços e telefone. Ele não deve ser uma ferramenta “passiva” de armazenamento de informações. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 150), Banco de dados de clientes é um conjunto de dados abrangentes sobre clientes atuais ou potenciais atualizado, acessível e prático para fins de geração e qualificação de leads (listas de contatos de clientes potenciais, venda de produtos ou manutenção do relacionamento com os clientes). Ainda conforme Kotler e Keller (2012, p. 150), Database marketing é o processo de construir, manter e usar os bancos de dados de clientes e outros cadastros (produtos, fornecedores, revendedores) para efetuar contatos e transações, além de desenvolver relacionamentos com os clientes. Assim, database marketing é muito mais que um simples banco de dados; como ele, é possível muito mais que o simples armazenamento de dados dos clientes. Essa ferramenta possibilita localizar informações específicas – relacionadas ou não – para serem utilizadas na busca de oportunidades que satisfaçam as necessidades e os desejos dos clientes. De acordo com Müller (2007, p. 27), “deve ser capaz de criar modelos e estatísticas que possibilitem segmentar clientes e associar o que é mais apropriado a ser comunicado para cada nicho e também fazer inferências”. Database marketing é um sistema dinâmico de base de dados, constantemente organizado e atualizado, com informações relevantes sobre os clientes. Esse banco de dados tem como objetivo a segmentação dos clientes, que será utilizada em marketing e em comunicação direcionada, oferecendo produtos e serviços na hora certa para os clientes adequados. De acordo com Nakagawa (2003, p. 89), o Database Marketing diz respeito à utilização de computadores para analisar dados e então identificar e focar grupos específicos de clientes potenciais. É uma ferramenta particularmente eficaz para construir relacionamentos, pois permite aos vendedores pesquisar uma vasta quantidade de informações de clientes para melhor direcionar os esforços de marketing. Uma de suas funções é fornecer informações sobre perfis de clientes (atuais e futuros). Figura 1 – Análise das variáveis sobre os perfis de clientes Fonte: adaptada de Ciconet Filho (2003, p. 61). Assim, o database marketing possibilita: Quadro 1 – Vantagens do database marketing AUMENTAR A EFICIÊNCIA DA SEGMENTAÇÃO DE CLIENTES Como? isolando grupos de consumidores; analisando o perfil dos consumidores; identificando e entendendo clientes atuais e potenciais como indivíduos e/ou grupos; analisando compradores que consumiram uma única vez; entendendo as possibilidades de o consumidor comprar determinado produto; analisando atividades de compras de clientes; identificando nichos de mercado; auxiliando na seleção de mercados; prevendo e prevenindo o abandono por parte dos clientes. AUMENTAR A EFICIÊNCIA DA CUSTOMIZAÇÃO Como? produzindo mensagens de forma precisa e calibrada ao consumidor; promovendo comunicação específica para lidar com os clientes; beneficiando o cliente e aumentando a lucratividade da empresa; customizando ofertas a segmentos de clientes e clientes potenciais. CRIAR E DESENVOLVER RELACIONAMENTO COM O CLIENTE Como? retomando o relacionamento pessoal com o cliente; criando laços como cliente; estreitando o relacionamento loja/consumidor; desenvolvendo ou prolongando o relacionamento para estimular as vendas; compreendendo os consumidores. MELHORAR A PERFORMANCE DA ADMINISTRAÇÃO DA EMPRESA Como? obtendo e ampliando a vantagem competitiva; avaliando as respostas à promoção e à propaganda; reduzindo o custo de aquisição de novos clientes; melhorando o serviço de atendimento do cliente; identificando segmentos com performance abaixo da média; auxiliando na venda cruzada; fornecendo suporte à administração de vendas; realizando promoções dirigidas de eventos. Assim, o database marketing permite o gerenciamento de dados e informações, visando à melhoria da eficiência do negócio, fortalecendo relacionamento com parceiros e com clientes. Possibilita, também: a montagem de estratégias agressivas ou defensivas de posicionamento, de desenvolvimento e manutenção de ciclos de vida de produtos e de fidelização dos clientes, baseado no retrato das ocorrências de contratos, interações e negociações efetuadas. (GONÇALVES, 2002, p. 28) 2 Data warehouse Sem dúvida, o avanço tecnológico tem permitido às empresas a integração de seus bancos de dados em lugares centralizados, denominados data warehouse. Data warehouse, ou “armazém de dados”, em tradução literal para o português, podem ser definidos como enormes depósitos de informações sobre os clientes, a partir de fontes internas da empresa e de fontes dos clientes ou de terceiros, tais como o governo, empresas de cartão de crédito e de pesquisa de mercado. Os dados podem incluir comportamentos, preferências, informações sobre estilo de vida, dados transacionais e dados sobre comunicação com a empresa antes, durante e depois da venda, além de incluir informações sobre lucratividade, satisfação, retenção, fidelidade e referências do cliente. (GORDON, 2002, p. 226) O data warehouse possibilita a extração de informações com base em dados subjacentes. Ainda de acordo com Gordon, há seis camadas em um data warehouse: Quadro 2 – Camadas do data warehouse CAMADA DESCRIÇÃO Transação Camada em que os clientes interagem com a empresa por meio da internet e centrais de atendimento e sistemas de processamento de transações on-line. Migração de dados De um sistema baseado na transação para o banco de dados. Essa camada pode incluir a obtenção, a conversão, o transporte e a validação dos dados. Banco de dados Essa camada pode compreender metadados (ou seja, dados sobre os dados), elementos e arquivos de dados. Mecanismo intermediário (middleware) É a camada de conexão que se encontra entre os aplicativos e o banco de dados, o qual gerencia o acesso aos dados e a comunicação dos dados na rede. Aplicativos Essa camada é composta de ferramentas utilizadas com o objetivo de transformar os dados em informações que possibilitem avaliar e gerenciar o desempenho dos clientes, a oferta, além de rastrear o orientar a empresa em vários processos, funções e componentes de comunicação em massa. A produção, a logística e a aquisição são três áreas de exigências associadas. Apresentação Essa camada é o conjunto de padrões estabelecidos para o hardware, o ambiente operacional, a interface do usuário e o software local. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 227-228). Empresas ao redor do mundo criam imensos data warehouse. Com eles é possível alcançar grande vantagem competitiva em relação aos concorrentes, possibilitando a criação de valor vitalício com o cliente. 3 Data mining Data mining – ou extração/mineração de dados – “baseia-se em formulações estatísticas e em outras ferramentas para modelar informações de clientes com base no data warehouse“ (GORDON, 2002, p. 227). De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 151), por meio do Data Mining, analistas de marketing podem extrair informações úteis de uma ampla massa de dados sobre indivíduos, tendências e segmentos. Fazer Data Mining significa usar técnicas estatísticas e matemáticas sofisticadas, como análise de agrupamentos (cluster), detecção automática de interação, modelagem preditiva e redes neurais. Ainda segundo Herrera (2003, p. 15), “o objetivo primordial do data mining é a previsão – e consequentemente, a mineração de dados de previsão; é o tipo mais comum de mineração de dados”. O processo de data mining consiste nos três estágios mostrados no quadro 3. Quadro 3 – Estágios do data mining ESTÁGIO DESCRIÇÃO Exploração inicial É iniciado como a preparação dos dados, podendo implicar processo de limpeza, transformação e seleção de registros. Pode abranger desde uma seleção simples de elementos de previsão até a elaboração de análises exploratórias, utilizando grande variedade de métodos estatísticos e gráficos. Modelagem e validação Envolve a consideração de diversos modelos e a escolha do mais adequado, baseado na sua performance de previsão dos resultados. Há grande variedade de técnicas para conseguir esse objetivo, ou seja, a aplicação de diferentes modelos dentro do mesmo conjunto de dados e posterior comparação de performance para a escolha do mais acertado. Aplicação do modelo Esse estágio final implica a utilização do modelo selecionado no estágio anterior e sua aplicação em dados novos para a geração de previsões ou estimativas. Fonte: adaptado de Herrera (2003, p. 16-17). Cabe frisar que o data mining não está relacionado a uma mera investigação em banco de dados de empresas. Conforme Gordon (2002, p. 229), “emprega ferramentas que buscam significados, encontram modelos dentro dos dados e deduzem regras que podem ser causais, prognósticas ou descritivas”, capazes de conduzir a um melhor gerenciamento e a tomadas de decisão por parte da empresa. As ferramentas (ou bibliotecas de software) utilizadas pelo data mining, e de acordo com Herrera (2003), são capazes de efetuar análises e estabelecer padrões dentro de dados transacionais, os quais foram anteriormente armazenados no repositório de dados. Conforme Gordon (2002), as principais ferramentas utilizadas em data mining são aquelas apresentadas no quadro 4. Quadro 4 – Principais ferramentas utilizadas em data mining FERRAMENTA DESCRIÇÃO Redes neurais Utilizam regras previamente “aprendidas” com base em modelos dentro do data warehouse. Constrói camadas de lógica ocultas. Por exemplo, ao examinar os modelos das chamadas ou visitas de clientes, a rede neural pode entender que um determinado cliente só reclama em relação à qualidade precária no final do seu trimestre fiscal, quando deseja devolver mercadorias “defeituosas”. Isso pode levar a empresa a indagar se o cliente não está querendo reduzir seu estoque de produtos não vendidos no final de um trimestre, o que conduz a uma atenção maior às devoluções e ao valor do cliente. Árvores de decisão Dividem dados em grupos, com base no valor das variáveis classificadas, de acordo com resultados potenciais de decisões. No entanto, observa-se que ferramentas que usam árvores de decisão têm dificuldades de manipular conjuntos contínuos de dados, como idade do cliente × vendas, por exemplo, requerendo que informações como essas sejam agrupadas dentro de alguns limites. Indução de regras Criam conjuntos não hierárquicos de condições que podem, às vezes, se sobrepor. Por exemplo, se dada empresa quer maximizar o valor vitalício dos clientes, em quais ela deveria se concentrar: satisfação do cliente ou reclamação do cliente, por exemplo? Essas condições são, no entanto, mais fáceis de entender do que a abordagem do modelo de árvore de decisão. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 229-231). Software de visualização de dados Apresenta um quadro para os usuários observarem e descobrirem o sentido dos dados, mas não automatiza o processo de mineração dos dados. A visualização de dados auxilia na identificação de tendências. Por exemplo, o software de uma empresa de administração de imóveis mostra quais os prédios com maior nível de desocupação, quais não são lucrativos e em quais os inquilinos são maus pagadores. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p.229-231). Cabe ressaltar que é possível combinar uma ferramenta a outra. Por exemplo, rede neural e árvores de decisão. Sem dúvida, a tecnologia anda a passos largos e pode oferecer subsídios para que as empresas efetuem data mining e extraiam valiosas informações dos dados contidos nos data warehouses. 4 Desvantagens do database marketing e do CRM É incontestável que dados incorretos podem causar problemas na comunicação, de forma a comprometer a imagem da empresa, que, consequentemente, perderá clientes para a concorrência. Informação de endereço incorreto armazenada no banco de dados, por exemplo, pode fazer com que determinada ação de marketing encaminhada por mala direta não chegue ao seu destino ou, ainda, que siga para esse cliente informação improcedente, causando grande confusão e desconforto. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 152), o Database Marketing costuma ser mais usado por empresas que atuam no mercado empresarial e prestadores de serviços que, de modo corriqueiro e simples, coletam uma grande quantidade de dados de clientes. [...] outros tipos de empresas em melhor posição para investir em CRM são aqueles que oferecem muitas vendas cruzadas e incrementais (tais como GE e Amazon.com) ou cujos clientes possuem necessidades muito diferenciadas e são de alto valor para a empresa. Sem dúvida, há incontáveis benefícios e vantagens na utilização do database marketing. No entanto, existem desvantagens também. Há cinco problemas que podem impedir uma empresa de utilizar o CRM de forma eficaz. Quadro 5 – Questões que podem inviabilizar a utilização eficaz de database marketing e CRM PROBLEMA POR QUÊ? 1) Algumas situações não são propícias à gestão de banco de dados. Não vale a pena investir na construção de um banco de dados nas seguintes situações: quando o produto é de aquisição única; quando os clientes demonstram pouca fidelidade à marca; quando a unidade de venda é muito pequena; quando o custo da coleta da informação é muito alto; quando não há contato direto entre o vendedor e o comprador final. 2) A formação e a manutenção de um banco de dados exige grande investimento (em hardware e software). É muito difícil coletar dados certos, bem como capturar todas as ocasiões de interação da empresa com cada cliente. Algumas empresas não encontraram melhora com a implantação do CRM, exatamente porque foi mal concedido, tornando o sistema oneroso. Muitas dessas empresas se concentraram equivocadamente em processos de contato com o cliente, sem fazer as customizações e as alterações necessárias em sistemas internos. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 152-153). PROBLEMA POR QUÊ? 3) Pode ser difícil fazer com que todos na empresa sejam orientados para o cliente e utilizem as informações disponíveis. Observou-se que muitas vezes é mais fácil aos funcionários de uma empresa adotar o marketing tradicional do que o CRM, isso porque um database marketing eficiente requer gerenciamento e treinamento de funcionários, revendedores e fornecedores. 4) Nem todos os clientes desejam manter um relacionamento com a empresa. Pode acontecer de alguns clientes sentirem-se ressentidos ao descobrirem que muitos dados pessoais seus foram coletados. Por isso é importante que as empresas expliquem aos seus clientes sua política de privacidade. 5) As premissas que sustentam o CRM nem sempre se comprovam na prática. É bem provável que clientes que adquirem grandes volumes de produtos ou serviços saibam de seu valor para a empresa e se utilizem disso para obter descontos especiais, de modo que atender a esse requisito pode custar mais para a empresa. É comum que clientes fiéis esperem e exijam mais da empresa e se ressintam quando se tenta cobrar preços integrais. Também podem ficar “enciumados” com atenção maior despendida a outro cliente. Além disso, nem sempre os clientes com maior fidelidade compravam muito de uma empresa ou se mostravam ativos na disseminação da marca (por meio do marketing boca a boca). Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 152-153). Dessa forma e pelo exposto, percebemos que, mesmo com todos os benefícios que a empresa possa ter com a utilização de database marketing, ela não está livre de ter altos gastos tanto na coleta dos dados como na manutenção e extração desses dados. Cabe ressaltar que, quando devidamente planejado, implementado e com as devidas manutenções, o database marketing poderá render muito para a empresa, suplantando seus custos iniciais de investimento. 5 Exemplos e estudo de caso Como exemplo de banco de dados empresarial, citamos Kotler e Keller (2012, p. 150): Novartis Empresa suíça no ramo farmacêutico, cuja divisão na América Latina possui dados sobre 100 mil fazendeiros argentinos, sabendo quais defensivos agrícolas eles costumam comprar. Com essas informações, agrupa os clientes por valor e trata cada grupo de forma diferente. Em relação a database marketing, citamos como exemplos (KOTLER; KELLER, 2012, p. 151): Royal Caribbean Utiliza as informações para oferecer pacotes de cruzeiros de última hora e, assim, lotar seus transatlânticos. Seu foco são aposentados e solteiros, bem como consumidores com melhor condição para assumir compromissos. Fingerhut Utilizando de forma habilidosa o database marketing, tem seu banco de dados com dados demográficos, além de idade, estado civil, número de filhos, identificando hobbies e interesses dos clientes. Essa empresa de vendas por catálogo faz ofertas personalizadas com base no que cada um está propenso a comprar. A empresa aplica, também, o database marketing em seus sites. American Express A empresa sediada no Arizona (Estados Unidos) utiliza as informações de seus clientes para incluir ofertas especificamente direcionadas nas faturas mensais que envia a eles. Com o objetivo de aumentar sua capacidade em marketing de relacionamento, muitas empresas têm realizado grandes investimentos em tecnologia para aumentar e melhorar o data warehouse. Citamos como exemplos (GORDON, 2002, p. 232-233): IBM Criou o Intelligent Miner Toolkit, uma compilação de algoritmos avançados e ferramentas de processamento que permitem a inserção de aplicativos que analisem e extraiam dados. Desenvolveu também o Intelligent Decision Server, com o qual é possível, além de segmentar clientes, realizar análises de “cestas de mercado” e detecção de fraude. Johnson & Johnson O departamento financeiro utiliza um data warehouse que possibilita que sejam triadas e analisadas informações de seus computadores em 50 países. Como estudo de caso, citamos a Dunnhumby, empresa britânica de pesquisa que conseguiu aumentar a rentabilidade de varejistas que estavam em dificuldades nos negócios ao explorar os dados de seu programa de fidelidade e transações de cartão de crédito. A empresa auxiliou a Tesco, gigante do ramo de supermercados (também britânica), a personalizar cupons e descontos especiais para quem portasse o seu cartão de fidelidade. A Tesco desistiu de interromper a oferta de um tipo específico de pão (cujas vendas eram baixas) depois que a Dunnhumby demonstrou que se tratava de um “produto de destino” para um grupo fiel, que o compraria em outro lugar se não o encontrasse mais ali. A pedido de uma grande empresa europeia de venda por catálogo, a Dunnhumby também descobriu que não só os diferentes consumidores com diferentes tipos de corpo preferiam diferentes estilos de roupa como reparou, com base nos dados levantados, que eles compravam em diferentes épocas do ano (KOTLER; KELLER, 2012, p. 151) Considerações finais Empresas têm ao seu dispor inúmeras ferramentas para auxiliá- las na gestão do relacionamento com o cliente. Informações são produzidas e geradas em alta velocidade, propiciando databases marketing. Essas informações, quando analisadas, podem facilmente identificar hábitos de compra de consumidores, favorecendo a gestão estratégica da empresa e seu crescimento. Ao utilizar os bancos de dados dos clientes de forma analítica e fazendo as conexões e inter-relaçõespossíveis (que são muitas), a empresa se beneficia com as informações trabalhadas. Com as ferramentas disponibilizadas pelas tecnologias, a empresa consegue agregar informações de diversas áreas, podendo posteriormente e em qualquer tempo relacionar esses dados e extrair informações úteis sobre o comportamento de compra dos clientes, suas reclamações, etc. Há inúmeras ferramentas disponíveis no mercado que podem ser utilizadas mesmo por pequenas empresas, sem custos altos. A Google, por exemplo, faz uso de ferramenta de análise e distribui (ou vende) informações valiosas para as empresas. Além disso, oferece cursos para que todos possam utilizar essa ferramenta, afinal a tecnologia deve estar a serviço de todos. Hoje, com o desenvolvimento avançado da tecnologia, as redes neurais ficam cada vez mais complexas e conseguem “aprender” e aplicar regras tão complexas quanto a mente humana. Isso se chama inteligência artificial. Quando uma rede neural é aplicada na forma de inteligência artificial, ela pode ser chamada de robô (que é um termo técnico utilizado para essa denominação). Esses robôs não só analisam banco de dados, mas também já indicam opções de compra e de venda em bolsas de valores, preveem fenômenos climáticos, etc. Quando uma empresa faz uso de um robô (ou mesmo de uma rede neural mais simples), ela passa a tratar informação como uma matéria-prima, a qual possibilita o estabelecimento de condições de compra que anteriormente seriam difíceis de ser percebidas. Mercados pelo mundo já fazem uso de robôs na análise de hábitos de clientes e perceberam, por exemplo, que homens que compram fraldas costumam comprar cerveja na mesma ida ao mercado. Que sacada! (Não, tecnologia!). Referências CICONET FILHO, Isidoro. Desenvolvimento e implantação de database marketing para apoiar estratégia de gestão de fidelização de clientes em empresa administradora de consórcios. 2003. 115 f. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em Engenharia) – Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003. GONÇALVES, Carlos; JAMIL, George; TAVARES, Wolmer. Database marketing: marketing de relacionamento. Rio de Janeiro: Axcel Books: 2002. GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. 5. ed. São Paulo: Futura, 2002. HERRERA, Jorge A. F. Uso de data warehousing e data mining na busca de relações e conhecimento em um ambiente de comércio eletrônico. 2003. 72 f. Dissertação (Mestrado em Ciências de Computação e Matemática Computacional) – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de marketing. 14. ed. 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Capítulo 11 Gestão de relacionamento do cliente B2B O objetivo deste capítulo é fornecer meios para que se compreenda a importância do relacionamento entre as organizações e os clientes com base nos conceitos de marketing de relacionamento. Podemos dizer que os relacionamentos que as empresas desenvolvem com os clientes afetam o potencial de geração de riqueza em longo prazo e proporcionam oportunidades de aumentar tanto o rendimento quanto os lucros, de diversas maneiras. Embora não possuam um padrão, cada relacionamento visa a objetivos diferentes e varia no grau de envolvimento entre a empresa supridora da necessidade e seus clientes. Por exemplo, um comprador de um veículo valorizará aspectos diferentes de um comprador de roupa e, possivelmente, terá um grau de envolvimento muito maior com a empresa vendedora. Esse conceito precisa ser entendido para que os valores comecem a ser criados de forma individual e passem a gerar vantagens mútuas e contínuas para as partes envolvidas, ou seja, empresas e clientes. Assim, após falarmos um pouco sobre relacionamento, vamos abordar os mercados empresariais e os consumidores. Dentro desse cenário, falaremos sobre B2B e também sobre B2C e, a partir daí, como a empresa pode escolher seus clientes. 1 Discorrendo um pouco sobre relacionamento Um relacionamento significativo começa quando cliente e fornecedor notam que é interessante promover uma união por um longo período. Isso significa que a empresa precisaria fazer uma relação dos clientes existentes e criar métodos para diferenciá-los em relação à atenção que será dada, visto que os clientes são diferentes uns dos outros. Um relacionamento não pode surgir de um imperativo: é necessário que ambos – clientes e empresas – encontrem meios para se associar em um conteúdo estratégico de longo prazo, compartilhando valores recíprocos. Ambas as partes devem desenvolver ligações economicamente vantajosas e de longo prazo. O benefício deverá ser mútuo. Conforme Lovelock e Wright (2001, p. 132), o marketing de relacionamento “envolve atividades destinadas a desenvolver ligações economicamente eficazes de longo prazo entre uma organização e seus clientes para o benefício mútuo de ambas as partes”. Como já dito, é de suma importância que a empresa compreenda o que o cliente deseja, valoriza e busca. Além disso e de acordo com Gordon (2002, p. 90), o marketing de relacionamento defende que a empresa deve ser organizada em torno dos clientes que ela escolheu para atender, e que todas as tecnologias e processos auxiliem a empresa a aprimorar o relacionamento com o cliente e com outros dentro da cadeia de relacionamentos. Assim sendo, a empresa deve conduzir os clientes a conhecer e participar de seus processos principais. Estes são convidados a colaborar com a administração em processos voltados para a criação de valor. Nesse sentido, até o próprio relacionamento é considerado um processo, e devem ser feitas adaptações e adequações nele sempre que necessário. O importante é que o relacionamento seja conduzido de forma a trazer vantagens para ambas as partes. 2 Uma abordagem sobre B2B e B2C Podemos dizer que empresas que atuam no mercado business to business – ou B2B – são as que produzem, comercializam e realizam transações com outras empresas. No mercado B2B, a empresa é o público-alvo. Quando nos referimos a business to consumer (B2C), a estratégia da empresa é voltada diretamente para o consumidor, ou seja, a empresa produz e comercializa diretamente para o cliente final, sendo este seu público-alvo. Citamos também – o qual faz parte da filosofia do marketing de relacionamento – o business to business to consumer (B2B2C), ou cadeia de relacionamento, que demanda um relacionamento circular (trataremos de “cadeia de relacionamentos” no [capítulo 13]). Nesse modelo, para que uma empresa possa ter sucesso, deverá levar em consideração relacionamentos em todas as direções. Existe uma diferença marcante entre clientes-empresas e clientes-consumidores em relação à sobrevivência do negócio. Por exemplo, uma rede de supermercados consegue resistir e continuar no mercado caso alguns de seus clientes parem de comprar. Porém, para empresas que trabalham com clientes de peso para seu faturamento, se dois ou mais romperem o acordo, será muito difícil sobreviver. Nesse cenário e para garantir sua sobrevivência, é necessário o investimento em relacionamentos duradouros e lucrativos. Por esse motivo, o mercado B2B investe muito mais emmarketing de relacionamento. No entanto, a tecnologia, com seus custos mais baixos a cada dia, pode fazer com que o cliente-consumidor se pareça cada vez mais com os clientes-empresariais, o que faz com que cheguemos à conclusão de que a tendência é a tecnologia tentar igualar ao máximo as diferenças existentes no atendimento entre clientes-empresários e clientes-consumidores. Quanto ao gerenciamento do relacionamento, este é mais utilizado no B2B, visto que para as empresas toda oferta é complexa, pois cada aquisição realizada está diretamente ligada ao futuro e à estratégia da empresa. 3 Mercados empresariais e mercados consumidores Os mercados empresariais (ou organizacionais) apresentam características específicas, que em muito os diferem dos mercados consumidores, de acordo com Kotler e Keller (2012). Quadro 1 – Diferenças do mercado empresarial em relação ao mercado consumidor DIFERENÇAS MOTIVO Menos compradores, porém de porte maior Ocorre, principalmente, em setores como o de motores para aeronaves e de armamentos, por exemplo. Relacionamento estreito entre fornecedor e cliente Em consequência do menor número de clientes e do poder de compra de clientes de grande porte. Nesse mercado, os fornecedores customizam as ofertas de acordo com necessidades específicas de cada cliente corporativo. Compra profissional Bens organizacionais costumam ser adquiridos por compradores treinados, os quais devem seguir políticas, normas e exigências de compras da organização para a qual trabalham. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 199-200). DIFERENÇAS MOTIVO Diversas influências de compra É muito comum que sejam designados comitês de compra formados por técnicos ou mesmo pela alta gerência. Vários contatos de vendas É muito provável que, por se tratar de venda organizacional de médio a grande porte, sejam muitas as tentativas (desde a cotação até a entrega do produto). Demanda derivada A demanda por bens organizacionais é derivada, em última instância, da demanda por bens de consumo; por esse motivo, é importante que empresas acompanhem os padrões de compra dos consumidores finais. Demanda inelástica A demanda por bens e serviços organizacionais não é muito afetada por mudanças de preços, principalmente a curto prazo, exatamente porque os fabricantes não conseguem fazer mudanças rápidas nos processos de produção. Demanda oscilante Tende a ser mais volátil em bens de consumo. Concentração geográfica dos compradores Ajuda a reduzir os custos da venda, além de auxiliar as organizações na monitoração de mudanças regionais de determinados setores. Compra direta Normalmente, compradores empresariais compram diretamente de fabricantes, e não de intermediários, principalmente em se tratando de itens tecnicamente complexos. Fonte: adaptado de Kotler e Keller (2012, p. 199-200). De acordo com Gordon (2002), mercados consumidores diferem, nos pontos elencados no quadro 2, dos mercados empresariais (ou organizacionais). Quadro 2 – Mercados consumidores × mercados empresariais Bens e serviços Podem ser: de conveniência, compras e especialidade. De conveniência: preços baixos e tempo de consumo curto. Exemplo: a compra de um chocolate. De especialidade: “caros”. Exemplo, compra de casa ou automóvel. É muito comum no mercado B2B. De compras: o consumidor paga o suficiente para gastar tempo e esforço na decisão de escolha. Exemplos: aquisição de roupas ou de serviços financeiros. Estrutura de mercado O mercado empresarial costuma ser mais concentrado em alguma região, visto que a concentração geográfica pode oferecer maior oportunidade de identificação dos compradores. Canais de distribuição O canal de distribuição do B2B costuma muitas vezes ser mais curto e atende diretamente a contas consideradas importantes. Normalmente, empresas que operam com consumidores utilizam canais múltiplos de distribuição e é possível que o cliente passe a adquirir bens ou serviços diretamente do fabricante por meio da internet. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 142-162). Critérios de tomada de decisão Os critérios de compra empresarial podem ser assim classificados: conceber produtos, serviços e processos capazes de agregar valor a clientes internos e externos, com a diminuição de custos e melhoria da qualidade; produzir com alta qualidade; garantir que produtos e serviços estejam em conformidade com as especificações do cliente; fornecer produtos no tempo, da maneira e com o volume exigidos; ter coerência com as especificações do produto; demonstrar profissionalismo e atenção ao ajudar a organização a administrar situações difíceis e inusitadas. Os critérios de compra de consumidores podem ter vários parâmetros, sendo difícil o mapeamento de seu comportamento, que pode variar de acordo com o valor que atribui ao produto ou serviço, bem como a sua percepção. As decisões de compra poderão ser: de baixo risco – são vistas como substitutas (baseadas em preço e conveniência). de alto risco – baseadas em compras anteriores ou mesmo nas opiniões registradas na internet por outros consumidores. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 142-162). Processo de tomada de decisão Mercado empresarial: é feita por diversos responsáveis e cada um tem o seu papel na hora de avaliar: a. os iniciadores (que recomendam uma compra); b. os influenciadores (pessoas que impulsionam a compra); c. os patrocinadores (pessoas que adotam a opinião dos indicadores e apoiam a indicação); d. os aprovadores (pessoas em posição hierárquica superior); e. os compradores (pessoas que realmente realizam a compra). Mercado consumidor: podem ser feitas as seguintes considerações: a. decisão por estímulo-resposta (teoria do condicionamento instrumental). A propaganda serve como estímulo que culmina na compra; b. decisão cognitiva, por comparar os atributos da marca no contexto de suas necessidades; c. decisão sociopsicológica, na qual apelos sociais influenciam a compra individual. A decisão de um comprador afeta a opinião de um grupo mais amplo. d. decisão por envolvimento, em que categorias de produtos relativamente sem importância, mas que utilizam a mídia, possam envolver os clientes e incentivá-los a comprar. Relacionamento entre comprador/vendedor Embora a tecnologia possa dar um “toque” mais especial nas compras com consumidores individuais, sempre será nas compras empresariais que as relações serão mais pessoais. Reciprocidade No B2B é bastante comum que uma empresa-cliente passe a vender produtos para seu fornecedor, fazendo com que ambos possam transmitir confiança um ao outro, intensificando o relacionamento. Por outro lado, no B2C não há intenção de venda recíproca. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 142-162). Criação do valor mútuo No mercado B2B, tanto fornecedores quanto clientes têm potencial de criação de novos produtos, processos ou mesmo negócios inteiros, com a criação de novas empresas que, então, partilharão novos valores. Já no B2C, embora empresas possam compartilhar os valores com os consumidores individuais, a criação de valor baseia-se em características diferentes. Relacionamentos unilaterais Mercados consumidores: pode ocorrer que alguns compradores migrem para produtos da concorrência caso suas necessidades e expectativas deixem de ser atendidas ou mesmo que encontrem preços mais baixos. O mesmo não ocorre nas relações B2B, visto que categorias de produto oferecem risco baixo de compra e as organizações envolvidas valorizam e querem a existência de um relacionamento. Valor da marca O poder do valor da marca de influenciar a decisão de compra está presente tanto no mercado B2B quanto no B2C. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 142-162). Foi possível observar que o mercado consumidor difere do mercado empresarial em quase todos os aspectos de suas necessidades, tomadas de decisões e no valor que é dado ao relacionamento. Assim, a empresa que atua em B2B deverá desenvolver um relacionamento inteiramente diferente (quanto a estratégia, processos, uso detecnologia) da que atua somente em B2C. No relacionamento B2B, a empresa deverá envolver o cliente nos processos, estratégias e abordagens dos negócios, estando ciente de que esse tipo de relacionamento costuma ser intenso e de longo prazo, pelas próprias características apresentadas. 4 A escolha dos clientes pela empresa Empresas não podem atender a todos os clientes em mercados amplos ou diversificados. Mas podem dividir tais mercados em grupos de consumidores ou segmentos com diferentes necessidades e desejos. Uma empresa precisa, então, identificar os segmentos de mercados em que poderá atender com eficácia. Essa decisão requer um profundo entendimento do comportamento do consumidor e uma análise estratégica cuidadosa. [...] Identificar e satisfazer os segmentos certos de mercado costumam ser a chave para o sucesso de marketing. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 227) O papel do marketing de relacionamento é captar clientes que são fontes de lucro ou que oferecem vantagens competitivas. Assim, as empresas tentam formar um relacionamento duradouro com cada um deles. Podemos afirmar que o sucesso do marketing – tanto em B2B quanto em B2C – advém da concentração e dos esforços de vendas em clientes específicos, para que o atendimento possa ser realizado forma eficaz. IMPORTANTE É importante notar que dentro de determinado segmento existem sempre clientes que dão lucro e também os que não dão, ou mesmo que dão prejuízo. Conforme preconiza Gordon (2002, p. 66), “não é apenas importante entender quais são os clientes lucrativos hoje, mas quais os clientes que serão lucrativos amanhã”. Há um modelo de segmentação de clientes (ou enfoque) que merece ser estudado. O modelo de Gordon (1999, p. 67) baseia-se em quatro elementos de segmentação, quais sejam: recompensa e investimento; administração; disciplina e dispensa do cliente. Figura 1 – Carteira de segmentação (ou enfoque) do cliente Fonte: Gordon (2002, p. 67). Vamos abordar cada um dos quatro elementos da segmentação (ou enfoque) do cliente. Quadro 3 – Elementos para a segmentação do cliente Administração Clientes que atualmente são lucrativos, mas que futuramente – por algum motivo – poderão se tornar menos lucrativos ou até mesmo não lucrativos necessitam ser administrados. Uma futura não lucratividade pode estar ligada a perspectivas de futuro que não privilegiam os negócios do cliente. Uma solução para que tanto a empresa quanto o cliente não deixem de ganhar é traçar estratégias em conjunto. Com isso, empresa e cliente estudam como melhorar o negócio de um e de outro dentro de um contexto estratégico, que os faça vencer no presente e no futuro, fazendo com que o relacionamento continue lucrativo. Recompensa e investimento Clientes que são lucrativos hoje e que têm potencial para ser também no futuro são recompensados. Essa recompensa pode vir sob várias formas, como investimento por parte da empresa ou mesmo no deslocamento da melhor equipe para atender a esses clientes. Pode vir também em forma de acesso às tecnologias da empresa. Disciplina Clientes atualmente não lucrativos podem vir a ser no futuro, caso haja disciplina. A empresa tem duas maneiras de fazer com que esse cliente se torne lucrativo no futuro: modificando seus processos de atendimento ao cliente (reduzindo o custo do atendimento, da negociação, da venda, da manutenção e da administração da conta) ou cobrando do cliente uma tarifa diferenciada para que ele se encaixe no perfil que a empresa traçou como ideal. Isso é disciplinar o cliente. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 67-70). Clientes dispensáveis/demissão Existem clientes que não são e nem serão lucrativos para a empresa. A empresa deverá avaliar quais são os clientes atuais que merecem um relacionamento contínuo e, então, dimensionar e alinhar o negócio, de acordo com o mix de clientes para o qual decidiu se concentrar. Antes de tornar o cliente dispensável, várias questões devem ser avaliadas, como lucratividade, custo de atendimento, participação histórica (atual e projetada), medidas de preservação de clientes e contribuição de cada um em áreas como inovação, aperfeiçoamento do processo e redução do custo. Um aspecto muito importante e que deverá ser feito com muita atenção na hora de tornar o cliente dispensável é a comunicação, tanto com a cadeia de relacionamento quanto com o cliente que a empresa optou por dispensar (ou romper o seu contrato), porque um mal-entendido poderá causar sérios danos para a imagem da empresa. Esse cliente deverá sair da empresa consciente do porquê da quebra do relacionamento, pois ambos – empresa e cliente – investiram nesse relacionamento que, por algum motivo, não deu certo. Tornar um cliente dispensável em certo momento não indica que ele deverá sê-lo para sempre. Um cliente dispensável poderá apresentar potencial para manter-se na base de compradores da empresa no futuro. Assim, o cliente que teve, digamos, “rompimento de contrato” poderá – e é aconselhável que assim o seja – continuar a manter-se na base de clientes da empresa. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 67-70). Tendo determinado quais clientes a empresa vai atender (quais foram escolhidos), é hora, então, de desenvolver e aplicar as estratégias para cada cliente prioritário, alinhando as estratégias da empresa às estratégias dos clientes individuais. Após essas primeiras ações, a empresa deverá implementar processos pelos quais a lucratividade dos clientes seja planejada e aperfeiçoada a cada dia. Deverá conduzir essas implementações, a fim de garantir que os processos sejam eficazmente desempenhados. Além disso, é preciso, como preconiza o marketing de relacionamento, que a empresa esteja organizada em torno dos clientes, integrando-os em seus processos e tecnologias para que seja criado valor para ambas as partes. Conforme Gordon (2002, p. 76), “a avaliação de desempenho e os sistemas de recompensa devem refletir a importância do relacionamento como um bem”. 5 Estudo de caso 5.1 Accenture: atingindo o mercado B2B A Accenture, empresa de consultoria global em gestão, serviços de tecnologia e terceirização, iniciou atividades em 1942, como Administrative Accounting Group, braço direito da empresa de consultoria e auditoria Arthur Andersen. Em 1989, concentrou-se em consultoria em TI, adotando o nome de Andersen Consulting, que, embora faturasse 1 bilhão de dólares anualmente, tinha baixo reconhecimento entre as consultorias de tecnologia, sendo confundida com a matriz corporativa. Para construir sua marca e se distinguir da empresa de auditoria, a Andersen Consulting fez propaganda em larga escala na área de serviços profissionais. Assim, no final da década, já era considerada a maior organização de consultoria no setor de gestão e tecnologia do mundo. No ano 2000, obteve a independência da matriz Arthur Andersen, muito embora tivesse que renunciar ao nome Andersen. Teve três meses para encontrar um substituto para utilizar como marca registrada em 47 países e que soasse bem em mais de 200 idiomas. O nome Accenture surgiu de uma iniciativa interna de geração de nome em um escritório nos Estados Unidos. Accenture rima com “adventure” (aventura, em inglês), trazendo consigo a conotação de “acento no futuro”. Esse nome também tem as iniciais do nome original, Andersen Consulting, o que ajudaria, sem dúvida, a preservar parte da marca anterior. No final de 2000, a empresa adotou o nome oficial Accenture, lançando campanha global de marketing, visando executivos de empresas, clientes atuais e potenciais, parceiros e funcionários, mídia e principais analistas do setor, bem como possíveis novos membros do meio acadêmico. Os resultados dessa campanha foram impressionantes: de modo geral, o valor da marca Accenture aumentou 11%, sendo que as consultas a seus serviços aumentaram 350%. O reconhecimento da amplitude dos serviços prestados pela Accenture atingiu 96% do seu nível anterior. Em termos mundiais, o reconhecimento da empresa como consultora de gestão e tecnologia foi de 76%dos níveis do nome anterior. Esse resultado permitiu à Accenture prosseguir com êxito. Em 2002, a empresa tinha um novo posicionamento no mercado de consultoria, que refletia seu novo papel como parceiro na execução de estratégias, resumido no slogan Innovation delivered (inovação entregue, traduzindo para o português). Esse slogan era sustentado pela declaração: “Da inovação à execução, a Accenture ajuda a acelerar sua visão”. Pesquisas efetuadas com altos executivos em diferentes setores e países confirmou que eles consideravam a incapacidade de executar e entregar ideias como principal barreira para o sucesso empresarial. Assim, a Accenture considerava que seu grande diferencial era a capacidade de fornecer ideias inovadoras, fundamentadas em processos de negócios, bem como em TI. Sua concorrente McKinsey era vista como altamente especializada em desenvolvimento de estratégias, enquanto a IBM era considerada altamente qualificada para implantações tecnológicas. A Accenture pretendia se tornar um modelo de excelência em ambos os setores, desenvolvimento de estratégias e TI. No entanto, em 2002, o clima no mundo dos negócios mudou, com a crise econômica e o estouro da bolha da internet. Dessa forma, somente inovação não era suficiente: os executivos das empresas queriam também resultados financeiros. Como parte do novo compromisso de auxiliar as empresas a alcançar seus objetivos, a Accenture introduziu uma política na qual muitos de seus contratos continham incentivos que só seriam concretizados se metas corporativas específicas fossem atingidas. Como exemplo, havia um contrato com uma agência de viagens no Reino Unido que foi estruturado de forma que o bônus da Accenture dependia de cinco médias, incluindo redução de custos. No final de 2003, a Accenture partiu do tema de entrega de inovação para anunciar novo slogan, qual seja: High performance. Delivered (que, traduzindo para o português, quer dizer: “Alto desempenho. Entregue”), fazendo associação a uma campanha de marketing que tinha como porta-voz um astro do golfe no auge da carreira (Tiger Woods). A mensagem da Accenture queria dizer que ela poderia ajudar empresas clientes a tornarem-se também líderes de alto desempenho, assim como o jogador de tênis escolhido para a campanha. Foram investidos quase trezentos milhões de dólares nos seis anos seguintes em propagandas, as quais, em grande parte, tinha o jogador Tiger Woods associado a slogans como “Sabemos o que é preciso para ser um Tigre” e “Vá em frente. Seja um Tigre”. Com essas campanhas, a Accenture capitalizou o apelo internacional do jogador Tiger Woods, que percorreu o mundo e se tornou o foco central de eventos patrocinados pela empresa. Em 2009, esse panorama mudou. O jogador se envolveu em escândalos conjugais, o que o fez ficar fora por tempo indeterminado dos jogos. Assim, a Accenture deixou de usar Tiger Woods como porta-voz, alegando que ele não era mais um bom símbolo para sua marca e que desviou a atenção dos consumidores em sua mensagem estratégica. A empresa partiu, então, em busca de um novo conceito, que não só repercutisse em todos os países em que estava presente, como também se traduzisse adequadamente a diferentes culturas. O resultado veio após a empresa resgatar alguns conceitos antigos e testá-los com grupos de profissionais de empresas. Assim, foi lançada uma campanha de 50 milhões de dólares que exibia animais e o mesmo slogan: High performance. Delivered. Uma das propagandas mostrava um elefante surfando e os dizeres: “Quem disse que você não pode ser grande e ágil?”. Em outra, mostrava um lagarto tentando pegar uma borboleta, transformando sua língua em uma flor. O texto dizia: “Se você inovar, eles virão”. A Accenture se reinventou com a ajuda de outras empresas cujos valores eram idênticos. As empresas (grupos de empresários) que participaram dessa reinvenção compactuaram da mesma ideia, fazendo com que a Accenture continuasse a se destacar como empresa global de consultoria. Em sua carteira de clientes estão 99 das 100 maiores empresas do mundo e mais de três quartos das 500 maiores listadas na Revista Fortune (KOTLER; KELLER, 2012, p. 221- 222). Considerações finais Foi possível constatar que os mercados consumidores diferem dos mercados empresariais em várias dimensões; por isso, é preciso estar atento quando tratamos especificamente dos relacionamentos. As empresas devem estar atentas, como vimos, à estrutura dos mercados, às tomadas e processos de decisão, à criação do valor mútuo e ao valor da marca, entre outros indicadores. Podemos afirmar que os relacionamentos são os únicos bens verdadeiros da empresa (e não as máquinas que fabricam os produtos, os próprios produtos ou as patentes). Nesse sentido, reforça-se que a empresa somente obterá sucesso em seus negócios se der real valor aos relacionamentos com seus clientes. Visto que o relacionamento é o bem mais importante da empresa, é imperioso zelá-lo com o maior cuidado. Mais do que tentar conquista novos consumidores em um mercado altamente competitivo, os esforços das empresas devem estar focados na manutenção e na melhoria de seus relacionamentos. Referências GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. 5. ed. São Paulo: Futura, 2002. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. LOVELOCK, Christopher; WRIGHT, Lauren. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. Capítulo 12 Mercados institucional e governamental no relacionamento com clientes No [capítulo 11], ao tratarmos do B2B, falamos dos clientes organizacionais, ou seja, com fins lucrativos. Dentro do mercado organizacional estão inseridos os mercados institucional e governamental, considerados sem fins lucrativos. O objetivo deste capítulo é posicionar o relacionamento com o cliente (ou melhor, com o cidadão) dentro desses mercados, ou seja, na esfera governamental. Após tomarmos conhecimento de como funciona o comportamento de compra nesses mercados, veremos quais estratégias devem ser aplicadas para que seja estabelecida a gestão eficaz do relacionamento com o cidadão, bem como a importância dos funcionários públicos e integração dos canais de comunicação para esse processo. 1 Conhecendo o comportamento de compra nos mercados institucional e governamental Os mercados institucional e governamental apresentam características que os diferem do mercado organizacional. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 219), “o mercado institucional é formado por escolas, hospitais, creches, prisões e demais instituições que precisam oferecer bens e serviços às pessoas sob sua responsabilidade”. Os mercados institucional e o governamental não objetivam o lucro e têm como premissa a prestação de contas aos contribuintes, garantida por legislação. Fora isso, o objetivo das compras é complementar o pacote de serviços que prestam aos clientes/cidadãos/contribuintes. Normalmente, mercados institucionais têm recursos financeiros limitados e os clientes finais são pessoas que utilizam os serviços prestados por eles. Como exemplo, temos os hospitais. Um dos serviços que eles prestam é servir alimentação aos pacientes internados e, como dissemos anteriormente, o objetivo da compra não é o lucro. No entanto, o fornecedor escolhido deverá oferecer produtos com padrão de qualidade superior a preços competitivos. Nesse caso específico, muitas indústrias alimentícias montam um setor próprio para atender às necessidades dos clientes institucionais (KOTLER; KELLER, 2012). O mercado governamental possui elevada capacidade de compra e há muitas organizações que realizam vendas somente para esses mercados. Podemos afirmar que órgãos públicos são grandes compradores de bens e serviços, e é comum que o governo solicite propostas específicas a seus fornecedores e contratem os serviços por um preço mais baixo, exatamente pela quantidade de produtos ou serviços adquiridose em longo prazo. As empresas devem seguir regulamentações específicas para poder vender ao governo, o que pode demandar muito trabalho burocrático para seus fornecedores. Esses aspectos acabam por gerar reclamações diversas, como excesso de documentação exigida, atrasos nos processos decisórios e mudanças constantes de pessoas responsáveis pelas compras. O governo, por outro lado, afirma que muitas vezes é o fornecedor que não cumpre seu “dever de casa”, não preenche os requisitos exigidos para poder vender ao mercado governamental, além de não se atentarem aos prazos e às prioridades. O monitoramento por parte do governo é essencial, pois, de acordo com Kotler e Keller (2012, p. 217), quando os compradores não conseguem monitorar com facilidade o desempenho do fornecedor, ele pode não honrar o compromisso assumido ou trapacear e não entregar o valor prometido. [...] Pode envolver interesses próprios e distorções deliberadas que violam acordos contratuais. Deixar de seguir as diretrizes estabelecidas nos processos de compras poderá resultar em problemas jurídicos, além de prejudicar ou mesmo fazer como que finde o relacionamento entre ambos. Assim como no mercado consumidor, é importante estabelecer uma relação entre o fornecedor e o cliente desse mercado governamental. A gestão do relacionamento entre fornecedor e cliente deve ser feita de maneira a garantir soluções previsíveis quando houver imprevistos. Há riscos para ambos os lados: para a empresa que vende e para o governo que compra. Para que seja duradoura, a relação deve ser transparente (nisso não se diferencia do relacionamento com o mercado consumidor). As empresas que prestam serviços para o governo devem apresentar flexibilidade para que possam atender a esse mercado. O governo, por outro lado, deve monitorar o desempenho do fornecedor para que consiga honrar seu compromisso com o cliente-cidadão. Interações entre as partes são necessárias para que seja possível a redução de custos (tão importante para o mercado governamental), bem como a garantia da qualidade (essencial para ambos, mas especialmente para o cidadão). Em razão das características apresentadas, é necessário entender como se dá o relacionamento entre fornecedores e governo e entre governo e clientes finais, ou seja, os cidadãos que receberão os produtos e serviços. Quem perde com um relacionamento mal gerido entre fornecedor e governo? Nós, clientes-cidadãos! 2 Evolução da administração pública com foco no cidadão Muitos avanços têm ocorrido na administração pública brasileira, principalmente no que é denominado como movimento “novo serviço público”. Segundo Lara (2014, p. 26-27), a administração pública deve apresentar os seguintes princípios: Servir, mais do que dirigir, regular ou decretar; os interesses públicos são o objetivo e não o subproduto; pensar estrategicamente, agir democraticamente; servir a cidadãos e não a consumidores; valores pessoais, não somente produtividade; valores dos cidadãos e serviços públicos acima do empreendedorismo. Esses princípios visam aumentar a parceria com os cidadãos, que devem ser encarados como clientes da máquina pública. No Brasil, tanto o governo federal quanto alguns governos estaduais e municipais têm implantado medidas visando a uma administração mais focada no cidadão. No entanto, nem sempre integradas e sem melhoria na qualidade, eficiência e acessibilidade do atendimento na prestação de serviços públicos. Algumas ações e melhorias implantadas pelos governos para a prestação de serviços contemplam centrais de atendimento ao cidadão (na cidade de São Paulo há o 156, que concentra as ligações de munícipes para os diversos assuntos ligados à cidade), bem como a disponibilização de redes sociais e aplicativos para celular especificamente criados para os cidadãos. No governo do estado de São Paulo há o Poupatempo, com vários endereços, que presta vários serviços ao cidadão. Apesar de essas ações terem resultado em melhorias para o cidadão, ainda não são suficientes. 3 Aplicabilidade do marketing de relacionamento no setor público Conceitos e metodologias do marketing de relacionamento podem ser utilizados tanto no setor privado quanto no público. Quando falamos em relacionamento, nos referimos a ligações entre pessoas, equipes e organizações. Não poderia ser diferente quando nos referimos a relacionamento com o cliente nos mercados institucional e governamental. De acordo com Lara (2014, p. 16-17): ao criar um modelo de gestão do relacionamento dos cidadãos com a administração pública, a partir da percepção dos cidadãos e dos gestores públicos, os governos terão um instrumento que poderá auxiliar na definição das ações mais eficientes, eficazes e efetivas para aprimorar a prestação de serviços públicos. Os gestores públicos terão fatores que poderão auxiliar na tomada de suas decisões. [...] A ideia principal é aprimorar as ações do governo no sentido de oferecer relacionamento e comunicação mais assertivos com os cidadãos. Esta interação com os cidadãos pretende promover a prestação de serviços mais aderentes às suas necessidades, com qualidade e tempo adequados, de forma a dar um salto qualitativo na prestação de serviços públicos. Para possibilitar a existência do marketing de relacionamento entre o governo e o cliente-cidadão, há de se pensar nas capacidades estratégicas que devem ser desenvolvidas: Quadro 1 – Capacidades para o marketing de relacionamento TIPO CAPACIDADE Pessoal atitude profissionalismo empatia enfoque na qualidade base na equipe orientação de relacionamento Processo envolvimento e integração com o cliente inovação mútua planejamento conjunto marketing iniciado para o cliente Tecnologia arquivos de informação sobre o cliente data warehouse data mining comunicação Conhecimento e percepção conhecimento sobre o cliente e suas preferências Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 80). Em suma, pode-se dizer que para estabelecer um relacionamento satisfatório com o cliente-cidadão, o governo deverá ater-se a essas capacidades estratégicas, necessárias para oferecer serviços com qualidade. Ao longo deste capítulo veremos cada uma delas. 4 A tecnologia no mercado governamental e a integração multicanal A tecnologia tem um papel importantíssimo no estabelecimento do marketing de relacionamento, conforme pudemos observar em capítulos anteriores. Conforme Gordon, a tecnologia é uma capacidade estratégica que deve ser desenvolvida. “O cliente não ingressa apenas pelos canais tecnológicos tradicionais (como o telefone), mas também via internet e mesmo diretamente no banco de dados da empresa” (GORDON, 2002, p. 97). Seu uso possibilita ganhos imensuráveis, em três dimensões, conforme afirmação de Silva (2014, p. 20): 1. Melhoram o nível de conhecimento integrado dos seus cidadãos, empresas e instituições, acessível a todos os departamentos; 2. Ganham consistência na relação com os seus cidadãos, empresas e instituições, através da estruturação dos processos de interação e da consistência e qualidade que daí resultam; 3. Incrementam a sua capacidade interna de entrega dos serviços e de controle de qualidade. Visto que é possível a utilização de data warehouse, é importante que o cidadão seja identificado em toda e qualquer interação com os órgãos públicos, independentemente de onde e de como tenha se iniciado o contato. A partir desse ponto, é desejável que as informações e o histórico sejam recuperados e disponibilizados para quem for dar prosseguimento ao atendimento. No entanto, a identificação do cidadão não deverá ser necessária em demandas para as quais foi solicitado sigilo dos dados. Nesse caso, o acompanhamento da solicitação deverá ser restrita ao cidadão. Para que possa atender de forma eficaz, é importante que a integração multicanal seja dinâmica e que existam scripts com respostas parametrizadas, que possam indicar o próximo passo que o cidadão deve adotar, de acordo com sua solicitação de serviço ou de informação no órgão público. Assim sendo,a aplicação da tecnologia em multicanais por parte do setor público deve contemplar o cidadão integralmente (360 graus) para o atendimento de suas necessidades. Devem estar envolvidas soluções integradas, como sites, centrais de atendimento telefônico e unidades de atendimento pessoal. O mais apropriado é que exista um número reduzido de telefones, facilitando o contato dos cidadãos com as entidades governamentais. Nesse sentido, as centrais de atendimento proporcionam aos cidadãos um lugar único para entrar em contato com servidores públicos para obtenção de serviços, tais como a emissão e pagamento de tributos, emissão de licenças ou elaboração de documentos de identificação como carteira de identidade e passaporte. (SAREMI, 2009, apud LARA, 2014, p. 56) 5 CzRM: a gestão do relacionamento com os cidadãos O mercado organizacional e o mercado governamental apresentam diferenças entre si, embora ambos possam se utilizar de estratégias que facilitem e melhorem o relacionamento com os clientes. Conforme o quadro 2, são diferenças entre os mercados: Quadro 2 – Diferenças entre o mercado organizacional (setor privado) e o mercado governamental (setor público) O governo é provedor de monopólio de serviço que os cidadãos são obrigados a utilizar. Ao contrário do setor privado, a maximização de lucro não pode ser objetivo do setor público. As diferentes administrações públicas não são concorrentes comerciais. Não há hesitações na partilha de experiências e troca de dados e software. Os cidadãos (por meio das instituições governamentais) são os proprietários das administrações. Empresas desenvolvem relacionamentos com clientes rentáveis, lutam para conquistar novos clientes; para a administração pública não há concorrência. Fonte: adaptado de Silva (2014, p. 16). A administração pública federal, estadual e municipal tem utilizado múltiplos canais para oferecer e prestar serviços ao cidadão, visando alcançar eficiência, de acordo com os princípios citados no tópico “Evolução da administração pública com foco no cidadão”. De acordo com Lara (2014, p. 53), “o crescimento da sofisticação da tecnologia, juntamente com a demanda por serviços de qualidade, forçou os governos a obterem uma visão mais centrada no cliente”. O CzRM procura fornecer a informação certa para as pessoas certas no momento certo e da maneira correta. Concluindo, o CzRM não contempla apenas a obtenção de mais informações dos cidadãos, mas principalmente enfoca a melhor utilização do volume considerável de informação que o governo já recolhesse sobre eles. (LARA, 2014, p. 54) A gestão do relacionamento com o cidadão possibilita a gestão dos canais de interação com ele de forma generalizada e integrada. Os objetivos da implementação da gestão de relacionamento com os cidadãos estão elencados no quadro 3, a seguir. Quadro 3 – Objetivos do CzRM 1. Ampliar a transparência e a disponibilidade de informações sobre a administração pública. 2. Ampliar a satisfação dos cidadãos com o serviço público (por meio da diminuição de prazos e facilitação do acesso aos serviços e execução confiável). 3. Identificar e atender às necessidades dos cidadãos por meio de serviços personalizados. 4. Ampliar a capacidade de penetração e influência social. 5. Melhorar a qualidade das informações para o planejamento e posterior execução dos serviços públicos. 6. Melhorar a qualidade do gasto público (por meio da eficiência, da diminuição do volume de contatos pessoais, da melhoria do planejamento e dimensionamento dos serviços e da melhoria de processos). 7. Estabelecer uma relação mais intensa, colaborativa e eficiente com cidadãos e empresas. 8. Construir um ambiente que estimule a inovação. Fonte: Lara (2014, p. 55). IMPORTANTE Podemos dizer que o CzRM (citizen relationship management) está para a esfera governamental assim como o CRM (customer relationship management) está para o setor privado. O quadro 4, a seguir, mostra as diferenças básicas entre o CRM e o CzRM. Quadro 4 – Diferenças entre CRM e CzRM CRM CZRM Público-alvo: clientes Público-alvo: cidadãos Há concorrência comercial Não há concorrência: trata-se de monopólio Serviços são personalizados Não há serviços personalizados: há abordagem única para todos Fonte: adaptado de Silva (2014, p. 17). O CzRM, enfim, possibilita ao governo obter conhecimento sobre os cidadãos-clientes e aos cidadãos-clientes possibilita o acesso a informações diversas e a serviços. 6 O papel da ouvidoria na melhoria do relacionamento com o cidadão De acordo com Lyra (2016), a ouvidoria no Brasil “é o único órgão público dotado de caráter unipessoal, o que lhe confere, como a nenhum outro, agilidade e informalidade para interferir no cotidiano da gestão pública”. São aproximadamente 4 mil ouvidorias, distribuídas nos âmbitos federal, estadual e municipal. Como canal de comunicação entre o governo e o cidadão, embora faça parte de um órgão da administração pública, a ouvidoria não é dotada de poderes administrativos. A ela compete somente a defesa e a promoção de direitos no âmbito administrativo. No entanto, esse canal de comunicação é muito utilizado pelos cidadãos que querem manifestar-se sobre os serviços oferecidos e recebidos dos órgãos públicos. Assim, ele atende a reclamações, elogios e sugestões. Manifestações de cidadãos encaminhadas para esse canal de comunicação são capazes de promover ações que podem levar à melhoria de produtos e serviços, bem como à melhoria de processos. Conforme afirma Lara (2014, p. 61), “a ouvidoria pode contribuir para reduzir as dificuldades no que se refere ao relacionamento com os cidadãos e a administração pública, reduzindo distâncias e obstáculos entre o público e os responsáveis pela organização”. Resumindo, os objetivos principais da ouvidoria são (LARA, 2014): atender de forma mais eficaz aos clientes-cidadãos – internos e externos; preservar e melhorar a imagem pública dos órgãos a quem representa; promover a cidadania; receber e analisar críticas e sugestões, com o objetivo de aprimorar processos internos, produtos ou serviços prestados aos cidadãos; melhorar a comunicação. 7 A importância dos funcionários públicos no relacionamento com o cidadão Todos nós, sem exceção – em diversos momentos e situações – já necessitamos de serviços públicos, exatamente pela própria característica do mercado governamental, que não apresenta concorrência. O envolvimento de pessoas, ou seja, de funcionários, é essencial para que ocorra o marketing de relacionamento, conforme citado no tópico “Comportamento de compra nos mercados institucional e governamental”. Não poderia ser diferente no setor público. A administração pública, em todos os seus departamentos e em todas as esferas, deverá promover treinamentos para capacitar seus funcionários na utilização das diversas ferramentas disponíveis. Os funcionários precisarão dominar mais processos, tecnologias e pessoas com quem deverão interagir. [...] a informação virá diretamente dessa pessoa ou indiretamente, a partir de data warehouses ou do indivíduo que tem tal conhecimento, o que exigirá que a pessoa seja capaz de empregar novos processos para acessar, avaliar e transmitir a informação. (GORDON, 2002, p. 309) Não basta apenas oferecer capacitação aos funcionários: os dirigentes dos diversos órgãos públicos deverão realmente, dada a proposta de transparência de uma administração pública voltada para o cidadão, adotar valores e atitudes compatíveis com essas determinações. O envolvimento e o profissionalismo dos funcionários é essencial, pois eles é que vão utilizar os recursos e estabelecer interação com os cidadãos. É importante que estejam empenhados em utilizar as novas ferramentas criadas e disponibilizadas pela administração pública. Importante citar que é necessária uma mudança de mentalidade de funcionários envolvidos e que seja minimizada a resistência a mudanças a novas tecnologias e procedimentos. 8 Transformação e agilização de processos para o relacionamento com o cidadãoProcesso é outra capacidade estratégica que deve ser desenvolvida para que seja estabelecido um relacionamento eficaz com o cidadão. Gordon (2002, p. 90) afirma que “o próprio relacionamento deve ser considerado como um processo, com subprocessos estabelecidos para se compreender as expectativas do cliente e a avaliação do desempenho da empresa em relação a essas expectativas”. Assim, é necessário que os órgãos que fazem parte do mercado institucional e governamental procurem conhecer melhor o cidadão para compreender suas necessidades. Nesse sentido e com a utilização centralizada de informações, é possibilitado ao governo conhecer melhor o cidadão e atendê-lo em suas diversas solicitações e manifestações. O processo de comunicação – tanto interna quando externa – deve também ser sempre e cada vez mais aprimorado, pois é fundamental para estabelecer o relacionamento. Fora isso, deve, na medida do possível e com o uso da tecnologia disponível, simplificar e facilitar o atendimento ao cidadão. Sempre que possível, deve “desburocratizar” o atendimento das diversas demandas recebidas. 9 Exemplos No Brasil, temos alguns exemplos de centrais de atendimento integrado (LARA, p. 56): Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), na Bahia; Poupatempo, no estado de São Paulo; Vapt Vupt, em Goiás; Organização de Centrais de Atendimento (OCA), no Acre; Unidades de Atendimento Integrado (UAI), em Minas Gerais; 156, na cidade de São Paulo. PARA SABER MAIS Para saber mais sobre contatos com as centrais de atendimento disponibilizadas pelo setor público, acesse o site do Governo do Brasil e pesquise por “Centrais de atendimento orientam o cidadão sobre seus direitos básicos”. Considerações finais Relacionamentos entre prestadores de serviço e clientes devem ser cultivados, o que não poderia ser diferente quando se trata do serviço público. É necessário que o governo reconheça a necessidade de melhorar o relacionamento com seus clientes. Para que isso aconteça, deve aprimorar seus processos organizacionais e promover a cooperação e a colaboração entre seus vários órgãos, seja em âmbito federal, estadual ou municipal e em todos os níveis de atuação. A qualidade na prestação de serviços deve ser seu alvo. Além disso, deve ser capaz de criar políticas específicas para seus funcionários – os servidores públicos. Realizar a implantação de melhorias tecnológicas é essencial, no entanto, deve sempre estar acompanhada de privacidade e confiabilidade das informações, com o envolvimento de todos os funcionários em sua utilização. Tudo isso leva a melhoria de produtividade, de eficiência, o que culmina na oferta de melhores serviços aos clientes, fazendo com que o relacionamento seja confiável e que o cliente-cidadão consiga perceber a qualidade tão esperada e merecida. Como preconiza o marketing de relacionamento, ambas as partes ganham! Referências BRASIL. Governo Federal. Centrais de atendimento orientam o cidadão sobre seus direitos básicos. 2013. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/governo/2013/09/centrais-de-atendimento- orientam-o-cidadao-sobre-seus-direitos-basicos>. Acesso em: 29 maio 2018. GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. 5. ed. São Paulo: Futura, 2002. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. LARA, Rodrigo D. Marketing de relacionamento no setor público: um modelo de gestão da relação entre os cidadãos e a administração pública. 2014. 168 f. Dissertação (Mestrado em Marketing) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2014. LYRA, Rubens P. Paradigmas de ouvidoria pública e proposta de mudança. In: MENEZES, Ronald A.; CARDOSO, Antonio S. R. Ouvidoria pública brasileira: reflexões, avanços e desafios. Brasília: Ipea, 2016. http://www.brasil.gov.br/governo/2013/09/centrais-de-atendimento-orientam-o-cidadao-sobre-seus-direitos-basicos SILVA, Antônio C. S. Utilização de CzRM (Citizen Relationship Management) como ferramenta de marketing no CBMGO. 2014. 41 f. Trabalho de conclusão de curso (Curso em Formação de Oficiais) – Academia de Bombeiro Militar, Goiás, 2014. Capítulo 13 Conhecer as cadeias de relacionamentos Para conquistar tudo que deseja, uma empresa precisa estabelecer planos bem estruturados e relacionamentos duradouros com seus clientes. Por meio do planejamento, traçamos o caminho que queremos trilhar, o que precisamos e como faremos para alcançar nosso objetivo. Sem dúvida, para que a implantação do marketing de relacionamento: os distribuidores, os funcionários e os fornecedores. Neste capítulo, veremos a importância de se estabelecer relacionamentos com os participantes da cadeia de relacionamento: os distribuidores, os funcionários e os fornecedores. De acordo com Gordon (2002, p. 285), “cada participante, seja o funcionário, o fornecedor, o canal intermediário de distribuição, a companhia de serviços, o banqueiro ou o investidor, tem o potencial de reforçar os relacionamentos da empresa com seus clientes finais”. Se não houver sinergia, o marketing de relacionamento está fadado ao fracasso. Por que se dá tanta ênfase a esses tipos de relacionamento, já que o foco é o cliente? É o que vamos ver neste capítulo. 1 Relação entre empresas e participantes Ouvimos sempre falar que as empresas precisam entregar valor ao cliente. No entanto, esse valor não é criado somente pela empresa: depende de uma série de relacionamentos fora do eixo cliente- empresa. A fim de atender às muitas e diversas demandas, a empresa precisa desenvolver uma cadeia de relacionamentos que se comprometa com a nova visão de relacionamento e parceria. Sem dúvida, desenvolver parcerias oferece, cria e aumenta as vantagens competitivas, fazendo com que os envolvidos tenham mais benefícios do que se trabalhassem isoladamente. Os parceiros assumem o mesmo compromisso e o alinhamento estratégico que a empresa estabelece no relacionamento com o cliente final. O relacionamento criado com o cliente depende do alinhamento das capacidades da empresa fornecedora com as expectativas dele. A empresa, para desenvolver suas capacidades, dependerá da distribuição do valor para os demais participantes da cadeia. Porém, existem clientes informados de que um bom fornecedor pode contribuir muito mais para o futuro da empresa do que oferecer um preço baixo, e essa contribuição merece um relacionamento. O preço baixo é importante, mas o que se observa é o todo e as perspectivas de custo em médio e longo prazos. Os participantes da cadeia de relacionamento devem compartilhar dos mesmos princípios orientadores do relacionamento com o cliente, pois a interação será fundamental, uma vez que tem como desafio identificar os valores mais importantes para o cliente e o papel de cada participante da cadeia na composição desse valor. Caso um dos participantes não contribua no aprimoramento do relacionamento com o cliente final, certamente haverá grande possibilidade de limitação ou depreciação do valor que está sendo criado. É imprescindível que os proprietários e os dirigentes da empresa apoiem essa iniciativa de relacionamento e parceria, principalmente em pequenas e médias empresas, dada a influência que têm sobre a empresa. Ainda de acordo com Gordon (2002, p. 286), “o marketing de relacionamento pode ser visto como uma cadeia de relacionamentos que é criada pela empresa, em seu nome e no do cliente, e é mantida e desenvolvida pela empresa”. O relacionamento deve ser recompensador tanto para a empresa quanto para seus diversos participantes. Assim, a cadeia de relacionamento é formada pela empresa (a qual detém maior influência sobre o cliente), e o grande desafio para a organização é enxergar o relacionamento dentro dessa cadeia como fundamental para o sucesso de sua estratégia, na qual todos os participantes são importantes. Os integrantes da cadeia de relacionamento devem estar conectados para alcançar um relacionamento longo e durável como cliente. Figura 1 – Cadeia de relacionamentos Fonte: adaptada de Gordon (2002, p. 288). Com isso, espera-se que todos os participantes da cadeia de relacionamentos desenvolvam suas capacidades e alcancem (GORDON, 2002, p. 289): benefícios mútuos; empenho e aperfeiçoamentos contínuos; horizontes de longo prazo; resoluções de problemas em equipe e em tempo real; conhecimento compartilhado; integração de sistemas; comunicação aberta; mecanismos de resolução de conflitos; identificação das condições sobre as quais os relacionamentos se transformarão – ou se dissolverão; processos pelos quais a mudança será administrada. Como se pôde observar na figura 1, há outros participantes da cadeia de relacionamentos. Vamos abordar, com maior atenção no decorrer deste capítulo, o relacionamento com distribuidores, funcionários e fornecedores. 2 Relacionamento com os distribuidores Embora haja razões essenciais e importantes que levem as empresas a formar relacionamentos com os clientes, é igualmente importante que valorizem o relacionamento com seus distribuidores. Isso deve ocorrer porque a luta pelo cliente deve ser vencida, principalmente, com o canal de distribuição, e só depois alcançar o cliente. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 448), [...] a maioria dos fabricantes não vende diretamente para os consumidores finais, entre essas duas pontas, vários intermediários realizam diversas funções. Esses intermediários constituem um canal de marketing (também chamado canal comercial ou canal de distribuição). [...] Eles formam o conjunto dos caminhos que um produto segue depois da produção, culminando na compra ou na utilização pelo usuário final. Os distribuidores agregam produtos/serviços que a empresa não consegue produzir dentro das diretrizes de tempo e custo, e estes podem ser uma base durável de criação de valor para o cliente e diminuição de custos. Observa-se que os mesmos princípios que servem para a construção de relacionamentos com os clientes também servem para a formação de relacionamentos com os canais intermediários de distribuição, apenas diferenciando alguns aspectos. PARA PENSAR De que forma pode ser construído o relacionamento com o canal de distribuição? O respeito mútuo é o primeiro estágio para a construção do relacionamento. Sem ele, a empresa encontrará dificuldades nessa tarefa ou poderá, ainda, deteriorar um relacionamento já existente. Além disso, é necessário que a organização compreenda as diferenças existentes, como força, cultura e horizontes de tempo entre ela e os canais intermediários de distribuição, para que a formação de um relacionamento não seja dificultada ou impossibilitada. Assim sendo, há “estágios” que a empresa precisa cumprir para que seja construído o relacionamento (quadro 1). Quadro 1 – Estágios para a construção de relacionamento com os distribuidores Estágio 1 – Respeito mútuo. Estágio 2 – Estabelecer/controlar processo para o desenvolvimento do relacionamento. Estágio 3 – Tratar os distribuidores como clientes finais. Estágio 4 – Reconhecer os distribuidores como negócios independentes do seu. Estágio 5 – Planejar em conjunto. Estágio 6 – Inovar em conjunto. Estágio 7 – Estipular e praticar custos de reformulação de todo o sistema. Estágio 8 – Alinhar operações. Estágio 9 – Criar pacote com produtos e serviços. Estágio 10 – Ser coerente. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 297). Cabe ressaltar que há a necessidade de revisão dos papéis que cada um desempenha no relacionamento, tanto da empresa quanto dos integrantes do canal de distribuição. Esses papéis poderão ser constantemente alterados, tendo em vista as necessidades dos clientes. Se por acaso a empresa e o distribuidor descobrirem uma nova necessidade do cliente que a empresa possa suprir, essa função de facilitadora seria do distribuidor, muito embora a empresa possa acumular outro papel: a de ser uma facilitadora para que esse fornecimento aconteça, seja pela disponibilização de tecnologia, apoio de equipes ou informações estratégicas. Desse modo, o distribuidor tem a possibilidade de acrescentar valor para o cliente, seja em produtos, serviços ou algo abstrato, como experiência de compra, conhecimento do vendedor, atendimento antes, durante e após a venda. Quando dizemos que deve haver coerência, queremos dizer que, por exemplo, um fabricante ou prestador de serviços poderia ter diversos canais de distribuição e, como consequência da implantação do marketing de relacionamento, verificar que é necessário eliminar alguns membros, mesmo que seu desejo seja que todos continuem a fazer negócios com a empresa. Dessa forma, a empresa terá que utilizar diferentes abordagens para tratá-los de forma que não prevaleça incoerência. Distribuidores alocados na mesma área geográfica, por exemplo, poderiam realizar diferentes tarefas: um poderia fornecer os produtos, outros, os serviços. Dessa forma, evita-se a disputa entre os canais. As empresas que conseguem visualizar a necessidade de parceria com os distribuidores desenvolvem relações comerciais vantajosas para a evolução dos seus negócios e para alcançar objetivos mútuos. 3 Relacionamento com os funcionários “Com o marketing de relacionamento, as empresas precisam desenvolver continuamente um valor mútuo com os funcionários” (GORDON, 2002, p. 308). Assim, empresas que vislumbrem relacionamento duradouro com seus clientes devem investir no relacionamento com seus funcionários, visto que são eles que interagem com o cliente. Para tanto, é essencial conhecer os funcionários, e uma das formas de fazê-lo é mapeá-los (ou seja, instalar um banco de dados sobre eles). O objetivo desse banco de dados é subsidiar e “captar” o valor dos funcionários, “descrevendo e procurando qualificar o valor que cada um cria para a empresa” (GORDON, 2002, p. 308). As informações contidas no banco de dados possibilitam a elaboração do perfil de cada funcionário, sendo possível, com base nesses perfis, a adequação de funcionários a processos e funções, bem como que se tenha conhecimento de suas jornadas pessoais e anseios profissionais. Além disso, é possível tomar conhecimento de suas barreiras individuais e das tarefas que desempenham. Um dos ganhos com o mapeamento é que a empresa pode concentrar-se nos melhores funcionários (assim como se concentra nos melhores clientes) e então oferecer desenvolvimento customizado para cada um deles. Com isso, a empresa saberá com quais deles criará novos valores, quais se destacam em eficiência e comprometimento e com quais trabalhará para o desenvolvimento. Enfim, quais funcionários criarão maior valor para a empresa, isso porque é importante que também estejam adequados às atividades que exercem na empresa, ao segmento de mercado em que atuam, aos clientes que atendem. É necessário que a empresa trate os funcionários com a mesma dedicação concedida aos seus clientes, pois eles administrarão os processos, implementarão as tecnologias e obterão ideias para aprofundar vínculos e atuarão em fatores intangíveis, que não ficam explícitos nos processos. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 460): [...] a empresa precisa enxergar seus intermediários da mesma forma que enxerga seu consumidor final. Precisa identificar suas necessidades e desejos de modo que sua oferta de canal seja talhada sob medida para fornecer valor superior a esses intermediários. Programas de treinamento, de pesquisa de mercado e outros de capacitação podem motivar e melhorar o desempenho dos intermediários. A empresa sempre deve deixar claro que os consideram parceiros no esforço conjunto de satisfazer o consumidor final. A Microsoft exige que seus engenheiros de atendimento terceirizados participem de uma série de cursos e realizem provas de certificação. Os aprovados são tratados formalmente como profissionais certificados pela Microsoft. [...] e podem utilizar essa designação para promover seu próprio negócio. Para que a interação com os clientes ocorra, os funcionários deverão dominar mais processos etecnologias. Para isso, a empresa terá que fornecer aos funcionários treinamento de formação e de reciclagem. Dessa forma, identificando as habilidades de seus funcionários e detectando a existência de lacunas, a empresa poderá desenvolver programas de treinamento para que eles possam preenchê-las. O aprimoramento e o conhecimento necessários deverão ser oferecidos para os funcionários no momento oportuno, com a utilização da tecnologia disponível. A empresa poderia fornecer treinamento – de acordo com o caso, é claro – pela internet ou intranet, com o e-learning, contribuindo para que o estudo seja mais prazeroso e eficaz, pois o funcionário estudaria de acordo com sua disponibilidade. A confiança é a base para o início e o aprofundamento de todo e qualquer relacionamento. Assim, os funcionários deverão estabelecer confiança mútua com a empresa, a qual progredirá na criação de novos valores. A empresa que confia em seus funcionários demonstra essa confiança com o empowerment, que é a distribuição de um maior poder de decisão para os funcionários. De acordo com Lovelock (2001, p. 396), “o empowerment ou delegação de poder recai sobre o executante da tarefa a fim de encontrar soluções para problemas de serviço e tomar decisões adequadas sobre a personalização da entrega do serviço”. Como preconiza o marketing de relacionamento, relações de sucesso “são construídas com base em trocas mutuamente satisfatórias a partir das quais clientes e fornecedores obtêm valor” (LOVELOCK, 2001, p. 402). Assim, se acreditarem nos funcionários, a recíproca será verdade, e o inverso também. Nessa cadeia de relacionamento, vimos que, conhecendo o funcionário, temos a possibilidade de identificar as lacunas que devem ser preenchidas (com treinamento, liderança mais focada e empowerment), possibilitando que o funcionário esteja motivado e, por conseguinte, satisfeito. Há uma forte correlação entre satisfação do funcionário e satisfação do cliente, bem como entre retenção do funcionário e retenção do cliente. Figura 2 – Ciclo do sucesso Fonte: Schlesinger e Heskett (1991 apud LOVELOCK, 2001, p. 409). Um funcionário satisfeito tem possibilidade maior de transmitir valor para o cliente, que pode detectar essa satisfação por meio do atendimento e da postura profissional com que ele tem contato. O sucesso se aplica tanto aos funcionários como aos clientes. Desenhos de cargo ampliados são acompanhados por práticas de treinamento e empowerment que permitam ao pessoal de frente controlar a qualidade. Com o recrutamento mais direcionado, treinamento mais intenso e melhores salários, os funcionários tendem a ficar mais satisfeitos em seu trabalho e a fornecer serviço de qualidade mais alta e que satisfaça os clientes (LOVELOCK, 2001, p. 408-409). 4 Relacionamento com os fornecedores Relacionamentos contínuos com fornecedores podem ser essenciais para o sucesso de uma organização e devem ser mantidos se o objetivo é desenvolver e manter valor para o cliente final. A empresa deverá tratar seus fornecedores como faria com qualquer outro participante de seu negócio. A exemplo do que ocorre com os funcionários, relacionamentos com fornecedores requerem confiança mútua entre os envolvidos, com base em valores essenciais. De acordo com Gordon (2002, p. 315-316), “assim que houver um vínculo de valor e cultura entre as empresas, as respectivas lideranças devem estabelecer e se comprometer publicamente com um alinhamento e a criação contínua de valores mútuos”. Dessa forma e estando alinhadas, as empresas poderão se comprometer a oferecer seu produto ou serviço ao cliente final. Nesse relacionamento com o fornecedor, deverão ser observados os seguintes aspectos elencados no quadro 2. Quadro 2 – Ingredientes essenciais para o relacionamento com o fornecedor Ter um data warehouse descrevendo as dimensões e o desempenho do fornecedor. Ter uma avaliação sobre a lucratividade (atual e futura) de cada um dos fornecedores. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 315). Entender como cada empresa está vinculada a outra e o que pode ser feito para aprofundar o relacionamento, principalmente com fornecedores considerados estratégicos. Criar referenciais de fornecedores, em termos de importância para a empresa. Avaliar a receptividade e a flexibilidade na implementação de relacionamentos com os fornecedores. Especificar a oportunidade do que pode ser objetivo com base em um vínculo maior com os fornecedores, especialmente os considerados mais estratégicos. Estabelecer um processo para planejar, implementar, administrar, avaliar e compartilhar a criação de novos valores. Implantar um método de governo para o relacionamento. Estabelecer um plano para administração das mudanças entre empresa e fornecedores. Fonte: adaptado de Gordon (2002, p. 315). Um dos maiores desafios dos tempos atuais é convencer fornecedores a abrir suas empresas para seus clientes, com o objetivo de tornar ambos competitivos. De acordo com Gordon (2002, p. 317), “quando isso for realizado com sucesso, o fornecedor e o cliente intermediário estarão unidos e serão capazes de trabalhar juntos para criar os novos valores que os clientes querem, finalmente vinculando inteiramente os processos de negócios com os do cliente final”. Apesar de aqui serem enfatizados apenas três tipos de cadeia de relacionamento, a empresa não sobreviveria apenas com eles. Para tirar maior proveito das vantagens e oportunidades inerentes a um relacionamento, a empresa precisa expandir seus relacionamentos a organizações com as quais nunca tenha negociado antes. Essas empresas poderiam ser até suas concorrentes, mas, nesse relacionamento, trabalhariam em parceria a fim de criar o maior valor possível para o cliente, distribuindo esse valor por toda a cadeia de relacionamento. Como exemplo, pode-se citar o caso de Sam Walton, fundador do Walmart, que tinha por hábito conhecer pessoalmente seus concorrentes para realizar benchmarking. Por fim e conforme afirmação de Gordon (2002, p. 321), “no contexto do marketing de relacionamento, as empresas não vão mais simplesmente vender o que fabricam. No futuro, elas precisarão considerar produzir parte daquilo que vendem, e ter relacionamentos com parceiros em empreendimentos comuns para produzir o resto”. 5 Cadeia de valor A gestão da cadeia de valor é um importante instrumento para obtenção de vantagem competitiva para as empresas. Esse conceito (“cadeia de valor”), proposto por Porter, desagrega uma empresa em suas atividades estrategicamente relevantes, com o objetivo de entender o comportamento dos custos e das fontes potenciais de diferenciação. Assim, pode-se dizer que uma empresa obtém vantagem competitiva quando identifica e faz a gestão dessas atividades de uma forma mais barata ou melhor que seus competidores. Conforme Serafim (2013), A Cadeia de Valor de Michel Porter é um modelo que ajuda a analisar atividades específicas através das quais as empresas criam valor e vantagem competitiva. Ou seja, é um conjunto de atividades que uma organização realiza para criar valor para os seus clientes. A maneira como as atividades dessa cadeia são realizadas determina os custos e afeta os lucros. Forma-se, nesse caso, um sistema de valores que vai muito além do próprio controle da organização. A cadeia estará completa quando agregada a outras cadeias de valores, havendo um inter- relacionamento entre as cadeias de valores de fornecedores, empresas, distribuidores e clientes, na qual a qualidade de um produto ou prestação de serviço pode influenciar na qualidade percebida do produto ou serviço, afetando o último elo, ou seja, o cliente ou consumidor final. De acordo com Lopes (2009, p. 5), “para uma empresa manter uma vantagem competitiva sustentável, deve ter um controle total sobre suas atividades, bem como conhecer o funcionamento de todos os elementos que fazem parte de sua cadeia de relacionamentos”. Assim, a compreensão de como funciona o processo (que pode ir da extração da matéria-prima ao consumo final dos produtos)pode realmente trazer à empresa grande vantagem em relação a seus concorrentes, visto que pode, de forma otimizada, estabelecer estratégias com os elos que compõem sua cadeia de valor. Ainda de acordo com Lopes (2009, p. 5), “a estrutura da cadeia de valor mostra como os produtos e serviços de uma empresa se adéquam na cadeia de valor do comprador”. Um exemplo é a indústria automobilística, na qual os fabricantes de autopeças, as montadoras e as concessionárias de veículos formam um sistema de valor que se agrega à percepção de qualidade por parte do cliente. 6 Exemplos 6.1 Relacionamento com fornecedores Empresas do ramo conseguiram excelentes resultados ao estabelecer relacionamentos com seus fornecedores. Há como exemplo a Microsoft e a Intel, que se uniram para obter vantagem competitiva. Chegaram a ser apelidadas como “Wintel” (abreviação de Windows e Intel) e, juntas, dominaram o setor de computadores pessoais. Outro exemplo é a IBM, que ajudou na elaboração do chip da Motorola e o adotou, para criar uma nova geração de computadores pessoais. A Compaq chegou a promover com a Intel e com isso alcançou grande destaque mundial na fabricação de computadores (GORDON, 2002). 6.2 Relacionamento com funcionários Observe mais um exemplo do setor de Informática, agora da Microsoft. A empresa acredita que bons softwares advêm de bons funcionários e, dessa forma, elabora processos de recrutamento e seleção com o objetivo de selecionar os melhores candidatos. Assim, a empresa oferece aos escolhidos uma gama de benefícios, como horários flexíveis (pois acredita no comprometimento de seus funcionários) e auxílio na procura por moradia (já que contratam pessoas de diversas regiões dos Estados Unidos). Chegam até a ajudar nas preferências pessoais, como na busca de um instrutor de caratê para um candidato que se interessa pelo esporte (GORDON, 2002). 6.3 Relacionamento com distribuidores A empresa Michelin North America, fabricante de pneus, projetou um sistema de encomendas on-line com base em registros de dados de seus revendedores. Assim, introduziu um sistema capaz de automatizar as transações de rotina para unir ainda mais os integrantes. Com essas informações, é possível verificar estoque e realizar encomendas de pneus e processos, tudo fora dos horários regulares de trabalho da Michelin (GORDON, 2002) Considerações finais No marketing de relacionamento existe a necessidade de revisão dos papéis que cada um desempenhará no relacionamento. Todos os membros dos canais de relacionamento são importantes. De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 448), [...] canais de todos os tipos desempenham um papel importante no sucesso de uma empresa e afetam todas as demais decisões de marketing. Os profissionais de marketing devem julgá-los no contexto de todo o processo pelo qual seus produtos são feitos, distribuídos, vendidos e atendidos. A organização deverá entender que, enquanto distribuidores, funcionários e fornecedores forem importantes para atender os clientes, eles deverão receber o mesmo tratamento dispensado aos consumidores. A empresa precisa compreender que as metas a serem conquistadas deverão ser estudadas em conjunto com os membros que fazem parte da cadeia de relacionamento. Assim, um planejamento em conjunto deverá ser praticado para evitar desencontros, bem como compartilhar informações, interesses, responsabilidades e expectativas, afinal, o que se busca é estabelecer um relacionamento duradouro com o cliente e com os demais participantes. O resultado será sucesso para a empresa e para todos os membros que compõem sua cadeia de relacionamentos e, por conseguinte, para o cliente final. Referências GORDON, Ian. Marketing de relacionamento: estratégias, técnicas e tecnologias para conquistar clientes e mantê-los para sempre. São Paulo: Futura, 2002. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. LOPES, Jorge E. M.; CARVALHO, Daniele R.; ARAÚJO, Aneide O. A análise da cadeia de valor como instrumento de vantagem competitiva: um estudo de caso na indústria salineira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 16., 2009, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Associação Brasileira de Custos, 2009. LOVELOCK, Christopher. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. SERAFIM, Ana. O modelo da cadeia de valor de Michael Porter. Portal Gestão, 2013. Disponível em: <https://www.portal- gestao.com/artigos/6991-o-modelo-de-cadeia-de-valor-de-michael- porter.html>. Acesso em: 9 fev. 2018. https://www.portal-gestao.com/artigos/6991-o-modelo-de-cadeia-de-valor-de-michael-porter.html Capítulo 14 Os órgãos e entidades de defesa dos consumidores Em muitos trechos dos capítulos anteriores falamos que o cliente está cada vez mais exigente, cada vez mais conectado às mídias sociais e quer ter suas necessidades e desejos satisfeitos. Além de excelente atendimento, quer, no mínimo, produtos e serviços de qualidade. Além disso, pode disseminar positivamente – ou não – informações pela internet quando recebe um produto ou serviço, sendo muitas vezes responsáveis pelo crescimento – ou fechamento – de empresas. Ao sentir-se prejudicado nas relações de consumo, o cliente tem a seu favor órgãos e entidades de defesa do consumidor, os quais, quando acionados em práticas comerciais entre empresas e clientes, intermediam situações em que o consumidor sente-se prejudicado ou lesado em seus direitos. Entretanto, há empresas que, ao oferecerem seus produtos ou serviços, assumem automaticamente inúmeras responsabilidades, as quais englobam desde a publicidade e a propaganda até o cumprimento das garantias dos produtos ou serviços adquiridos. Com os órgãos de defesa do consumidor, o cliente ganhou força e voz. Vamos, então, conhecer os diversos órgãos que prestam serviços de defesa aos consumidores, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC). Além disso, abordaremos a importância do papel de veículos de comunicação na defesa dos direitos dos consumidores. 1 Entender e conhecer os órgãos e entidades de defesa dos consumidores Para nos situarmos, se faz necessária uma abordagem cronológica de alguns fatos ocorridos no Brasil no âmbito da defesa do consumidor. O quadro 1 resume cronologicamente a evolução dos fatos que marcaram as relações entre empresas e consumidores: Quadro 1 – Cronologia da evolução das relações de consumo no Brasil ANO FATO 1971 Criação do Conselho de Defesa do Consumidor (Condecon) 1975 Criação da Associação de Proteção ao Consumidor Fonte: adaptado de Zampieri (2010, p. 40). 1977 Criação de lei que obriga exposição de preços (à vista e a prazo) 1982 Criação de inúmeros Procons em estados e municípios 1983 Início do funcionamento de Juizados de Pequenas Causas em vários estados 1985 Criado o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor 1987 Nasce o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor 1990 Aprovado o Código de Defesa do Consumidor 1991 Constatada a existência de SACs em 50 empresas 1997 Aprovado o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor Mais de 2000 empresas contam com SACs Fonte: adaptado de Zampieri (2010, p. 40). A aprovação do Código de Defesa do Consumidor – Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990 – foi grandemente significativa, visto que trouxe regras de proteção ao consumidor que norteiam as relações de consumo. De acordo com Margutti (2007, p. 23) o Código de Defesa do Consumidor (CDC): [...] é o instrumento que disciplina a relação jurídica do consumidor com a empresa e, por consequência, quem dita os limites da ação de marketing. [...] Especificamente relacionado à empresa, o CDC engloba as chamadas “práticas comerciais”, classificando-as como a produção e a comercialização do produto ou serviço. Resumidamente, o CDC tenta garantir ao consumidor os direitos descritos no quadro 2, de acordo com Kamlot (2013). Quadro 2 – Direitos assegurados ao consumidorDireito ao consumo Direito de adquirir bens ou serviços que garantam sua sobrevivência, como alimentação, vestuário, abrigo, saneamento básico, cuidados com a saúde, etc. Direito à escolha Direito de escolher os produtos e serviços que deseja, com melhores preços e garantia de qualidade. Direito à segurança Direito de ser informado pelo fabricante se o produto ou serviço adquirido é perigoso para a saúde. Direito à informação Direito de receber informações claras de todos os produtos com relação a quantidade, composição, características, riscos à saúde, preço, modo de usar, etc. Direito à educação para o consumo Direito a adquirir os conhecimentos e a experiência necessários para ser um consumidor informado, poder fazer suas compras, contratar serviços e assinar contratos de forma correta e segura. Direito contra a publicidade enganosa e abusiva Direito contra a publicidade que mente sobre produtos ou serviços ou que deixa de fornecer informações básicas ao consumidor, levando-o ao erro. Direito à proteção em contratos Direito a receber contratos com letras em tamanho de fácil leitura, linguagem simples e destaque nas cláusulas que esclareçam os direitos do consumidor. Direito à indenização Direito à indenização sempre que for prejudicado por informações falsas, produtos de má qualidade ou por serviços não satisfatórios. Direito de acesso à justiça Direito de recorrer à justiça caso tenha seus direitos violados. Direito de ser ouvido Direito de reclamar em órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, quando se sentir prejudicado. Direito a um meio ambiente saudável Direito de viver e trabalhar em ambiente que não seja perigoso e que permita uma vida de bem-estar e qualidade. Fonte: adaptado de Kamlot (2013, p. 50-51). Pode-se, portanto, concluir que o CDC tem como foco o respeito aos direitos dos consumidores, não os distinguindo em classes sociais, visando garantir que todos sejam tratados igualmente perante a lei. Entidades e órgãos de defesa do consumidor visam assegurar relações transparentes entre fornecedor e cliente. PARA SABER MAIS Para compreender melhor a Lei no 8.078, recomenda-se a leitura do CDC – criado em 11 de setembro de 1990 –, que dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências (BRASIL, 1990). Empresas consideradas éticas (assunto que trataremos no próximo capítulo) devem ter o compromisso e o empenho para que não sejam acionadas por algum órgão de defesa do consumidor. Caso contrário, terão sua reputação e seu relacionamento com os clientes seriamente comprometidos. Empresas que se empenham em manter um relacionamento duradouro com seus clientes certamente estarão atentas em atendê- los em todos os seus direitos assegurados. A partir de agora, vamos abordar os papéis que alguns órgãos ou entidades de defesa do consumidor existentes no Brasil desempenham. 1.1 Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) no relacionamento com o cliente O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) foi fundado em 1987. É um órgão não governamental, sem fins lucrativos, que não recebe recursos de empresas ou mesmo de partidos políticos. É mantido com o apoio de associados, os quais realizam contribuições previamente estipuladas (mensais ou anuais). Sediado na cidade de São Paulo, é responsável pela publicação do boletim Consumidor S.A. e da Revista do Idec. Seu site é bem completo e fornece informações e orientações sobre os direitos dos cidadãos. Além de fornecer orientações, direcionamentos e realizar campanhas de conscientização aos consumidores, nele é possível monitorar empresas quanto ao cumprimento do CDC e realizar testes e pesquisas, comparando produtos e serviços. O instituto também realiza atividades de representação, dialogando com comunidades e com o poder público e privado sobre leis e normas que afetem a vida em geral do consumidor. Tendo auxiliado na criação do CDC, seu papel na história da defesa do consumidor é fundamental. Presente em muitos dos momentos dessa história, o Idec é precursor em muitas atividades, como testes em produtos para verificação de qualidade, entre outras. O Idec é, sem dúvida, muito importante para que o relacionamento entre empresas e consumidores transcorra da melhor forma possível. 1.2 Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) no relacionamento com o cliente O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) é uma entidade governamental (federal) e está presente nos estados e prefeituras. Atrelado ao Poder Judiciário, seu papel é nortear os consumidores nas relações comerciais. Além de ser um órgão fiscalizatório, o Procon é responsável pela rea lização de pesquisas de preço e de qualidade de produtos e serviços. Tem como premissa orientar os consumidores para um consumo consciente. Surgiu em São Paulo, tendo posteriormente se difundido nos demais estados e capitais, e oferece serviços gratuitos aos consumidores. Cabe ressaltar que os Procons não têm poder legal, ou seja, não podem obrigar um fornecedor ou prestador de serviços a realizar indenização, caso esta seja requerida pelo consumidor. Para essas situações, o consumidor deve dirigir-se a um juizado específico (Juizado de Pequenas Causas, por exemplo). Quando se sente lesado em suas relações comerciais, é comum que o consumidor tenha a ideia de acionar a empresa no Procon, a fim de ter seu direito cumprido. Além do atendimento presencial e graças aos avanços tecnológicos, os consumidores podem acionar o Procon por telefone, pela internet e com aplicativos para celular, o que facilita ainda mais o acesso às mais diversas informações e orientações. Há também os caminhões itinerantes, que percorrem algumas cidades do país. Assim como o Idec, o objetivo do Procon é atuar preventivamente, fornecendo informações para que os consumidores conheçam seus direitos nas relações com as empresas. Sem dúvida, empresas que querem preservar sua reputação e seu negócio não querem fazer parte da lista de empresas denunciadas pelos consumidores a esse órgão. PARA SABER MAIS Para conhecer um pouco mais o Procon, acesse o site Portal do Consumidor. 1.3 Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) foi criado pela Lei no 8.078/90 e é integrado por órgãos federais, estaduais e municipais, bem como por entidades privadas de defesa do consumidor. Para nos situarmos melhor, em 1995, foi criada a Comissão Nacional Permanente de Defesa do Consumidor (CNPDC), com o objetivo de assessorar a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE) em diversas atividades de interesse público. Formado por importantes órgãos e entidades – governamentais e não governamentais – como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro), Procon, Ministério Público e Defensoria Pública, seu papel é nortear, elaborar e revisar normas relativas à produção, à industrialização e à distribuição de produtos e serviços, além das seguintes atribuições, conforme destaca Zampieri (2010, p. 54): [...] quando o caso requerer, solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito para apuração de delito contra o consumidor [...] fiscalizar e aplicar as sanções administrativas previstas na Lei 8.078 de 1990 e em outras normas pertinentes à defesa das relações de consumo. Os diversos órgãos que compõem o SNDC podem realizar fiscalizações conjuntas ou mesmo elaborar políticas públicas em defesa do consumidor. PARA SABER MAIS Para saber mais sobre o SNDC, acesse o site do Ministério da Justiça do Governo Federal. O objetivo é realmente nortear as diversas fases de uma relação comercial entre fornecedor e cliente, visando proteger esse último, considerado o mais vulnerável nessa relação. PARA SABER MAIS Para saber mais sobre os outros órgãos que atuam na defesa dos consumidores, recomenda-se o artigo de Amélia Soares da Rocha e Ismael Braz Torres intitulado “O direito do consumidor e as novas tecnologias” (ROCHA; TORRES,2010). A grande procura por órgãos de defesa do consumidor pode sinalizar que algumas empresas continuam com práticas de desrespeito ao consumidor, e que este, conhecendo mais seus direitos, procura o poder público para representá-lo. 2 Veículos de comunicação de defesa dos consumidores O Brasil é composto por um grande mercado consumidor. Mesmo em momentos econômicos mais conturbados, o país continua a ser uma grande economia. Assim como contamos com políticas públicas que visam garantir o direito do consumidor, contamos também com vários veículos de comunicação de defesa dos consumidores, os quais estão sempre atentos e dispostos a nortear e orientar os consumidores em suas práticas de consumo. 2.1 Reclame Aqui O intuito desse veículo é intermediar consumidores e empresas. O Reclame Aqui é uma plataforma on-line na qual os consumidores podem encontrar informações sobre a reputação de empresas antes de efetuarem compras, bem como ter acesso aos rankings de reclamações. O mais importante é que os consumidores podem registrar no site reclamações que são direcionadas para as empresas, responsáveis, então, por respondê-las. O consumidor pode também compartilhar a reclamação registrada nas redes sociais, o que causa mais impacto nas empresas e nos demais consumidores que acessam diariamente o site ou mesmo as mídias sociais em busca de informações sobre empresas. Quando o consumidor obtém resposta da empresa da sua reclamação, pode, ainda, fazer uma avaliação sobre a resposta fornecida (ou a falta dela), bem como fazer uma réplica. Com base nessa avaliação, é gerada a reputação das empresas. As avaliações dos consumidores ficam expostas na plataforma para consultas de outros consumidores. Consumidores têm nessa plataforma, além da possibilidade de conhecer a reputação da empresa, a oportunidade de expor seu problema e finalmente resolvê-lo, o que provavelmente não fora possível anteriormente com a empresa. Para as empresas, o Reclame Aqui pode ser uma ferramenta em favor de seu negócio, ao serem minimamente ranqueadas negativamente por consumidores ou mesmo por receberem elogios em caso de resolução de problemas similares apresentados. Tudo dependerá de como as reclamações apresentadas serão conduzidas. 2.2 Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) tem por objetivo fazer valer o Código Brasileiro de Autoregulamentação Publicitária, cuja função é “zelar pela liberdade de expressão comercial e defender os interesses das partes envolvidas no mercado publicitário, inclusive os do consumidor” (CONAR, [s.d.]). Esse órgão atende a denúncias de consumidores (ou mesmo de membros da própria diretoria da ONG), garantindo defesa ao acusado. Caso a denúncia tenha procedência, o conselho de ética recomenda que os veículos de comunicação deixem de exibir a propaganda. De acordo com Kamlot (2013, p. 25), há no Brasil [...] uma proliferação de anúncios e propagandas que, mesmo permitidos por lei, não deixam satisfeitos aqueles consumidores ou potenciais consumidores que fazem parte do público-alvo das peças publicitárias exigidas, por notarem que há inadequação, ou mesmo má-fé, no “chamariz” àqueles que são alvo de tais anúncios. Existem diversos exemplos de propagandas que podem “ferir” o bom senso dos consumidores, como mostra o quadro 3, a seguir. Quadro 3 – Propagandas consideradas inadequadas TIPOS DE PROPAGANDA EXEMPLOS Propagandas colocando o anunciante a favor de rivais simultaneamente Comum em época de Copa do Mundo, quando empresas se posicionam a favor de certos países, como que “torcendo” para que estes conquistem o título de campeão. Esse tipo de propaganda está presente em peças publicitárias da Coca- Cola, por exemplo. A empresa mostra-se claramente a favor de diversos países, ainda que usando a mesma peça publicitária e, para isso, muda somente o texto do anúncio referente ao país “apoiado” pela empresa. Uso de marcas famosas para atrair consumidores a produtos não relacionados às marcas em questão Presente em situações de produtos que usam marcas conhecidas a despeito de não terem nada em comum com elas, seja em termos de qualidade ou ingredientes utilizados. Fonte: adaptado de Kamlot (2013, p. 28-47). TIPOS DE PROPAGANDA EXEMPLOS Marcas copiadas (ou clonadas) de outras famosas Caso típico de alguém tentar obter a percepção de que é (ou se trata de) outra marca, preferida pelos consumidores. Em geral, essa fraude consiste em usar marca ou símbolo semelhante a alguma que faça sucesso no mercado. Preços aumentados divulgados como promoção Ocorre quando empresas mantêm o preço costumeiro de seus produtos, anunciando que se trata de uma promoção. Muito comum nas Black Fridays. “Preços a partir de” Determina uma amplitude enorme de preços e nesse caso significa apenas o preço mínimo cobrado por algo. Normalmente refere-se a diversos produtos com preços variados. Maquiagem de produtos É a redução de conteúdos sem a diminuição equivalente no preço e sem aviso ao consumidor das alterações ocorridas. Propaganda de produtos nocivos para o público infantil Trata-se de atingir o público infantil com propagandas de produtos nocivos, como cigarros ou bebidas alcoólicas. Informações relevantes escritas em letras minúsculas Ocorre com frequência em certos tipos de mídia e com determinados produtos quando o anunciante deseja chamar a atenção do público para algo que é anunciado sem deixar claras algumas informações, as quais são escritas em tamanho extremamente reduzido. Fonte: adaptado de Kamlot (2013, p. 28-47). O Conar, embora pregue a liberdade de expressão comercial, tem por objetivo tentar coibir que propagandas ou publicidades abusivas causem prejuízo ou constrangimento aos consumidores. É, sem dúvida, um órgão de defesa dos consumidores. Empresas que prezem o relacionamento com seus clientes devem policiar-se para que as propagandas criadas e veiculadas não firam seus clientes em casos abordados no quadro apresentado. PARA SABER MAIS Para saber mais sobre o Conar, acesse o site da instituição. 3 É preciso preparo: um exemplo de atendimento de reclamação recebida de órgão de defesa do consumidor Algumas empresas, após serem acionadas pelo Procon, não estão preparadas para atender a essa demanda. Mais do que nunca, é necessário saber ouvir o cliente. O que se observa é que nem sempre funcionários designados pelas empresas para atender a essa diligência estão preparados para ouvir o consumidor e muito menos para solucionar efetivamente o problema apresentado. Em resposta às notificações recebidas, muitas vezes utilizam scripts pré-elaborados, o que nada auxilia na recuperação da confiança do cliente. Muitas vezes há somente a preocupação de rebater as alegações apresentadas pelo consumidor, quando o que deveria ocorrer era a análise minuciosa da reclamação e posterior solução para o caso. Um exemplo dessa situação é o caso de um correntista antigo de um grande banco que teve cheques devolvidos por causa da não conferência de sua assinatura. Como era um cliente preferencial do banco e da agência, acreditava que deveria ter sido avisado, o que não ocorreu. A devolução dos cheques acabou gerando uma série de prejuízos, e o cliente solicitou do banco os valores dos cheques emitidos. Ele esperava ouvir do banco que houve um grande equívoco gerado pela falta de informação e que receberia uma proposta de ressarcimento para solucionar o impasse. Da parte do banco, ouviu que banco não paga indenização por danos morais no Procon. Ora, não era disso que se estava falando! O caso mostra um exemplo típico de situação em que a resposta vem antes da pergunta, não importando qual ela seja (SILVANO, 2018). Considerações finais Pudemos observar que, quando as empresas se esmeram em oferecer ao cliente produtos ou serviços com qualidade e dentro das especificações, sem tentar enganá-lo com propagandas enganosas, por exemplo, conseguem manter um relacionamento de longo prazo. A princípio,não há segredo: um relacionamento baseado na confiança e a favor do consumidor acarreta ganhos tanto para a empresa quanto para o cliente. O cliente quer ser bem tratado, ter produtos de qualidade, ter um pós-venda adequado e que o satisfaça. Pode, contudo, contar com políticas públicas que possam intermediar sua relação com as empresas para garantir que seus direitos sejam exercidos. A existência dos muitos órgãos e entidades de defesa do consumidor visam garantir o cumprimento dos direitos do consumidor. Para que exista um relacionamento duradouro com o cliente, a empresa precisa oferecer seus produtos e serviços de forma adequada, evitando assim que o cliente acione o Procon, por exemplo, ou mesmo uma plataforma como o Reclame Aqui. Referências BRASIL. Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. Acesso em: 2 mar. 2018. KAMLOT, Daniel. Propaganda enganosa e persuasão: reação do consumidor e proposta de políticas públicas. 2013. 219 f. Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2013. MARGUTTI, Cristian Ramos. A aplicação dos princípios do Código de Defesa do Consumidor nas estratégias de marketing das empresas. 2007. 64 f. Dissertação (Especialização em Gestão de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm Negócios Financeiros) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. ROCHA, Amélia Soares da; TORRES, Ismael Braz. O direito do consumidor e as novas tecnologias: Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor – Sindec. Revista Jus Navigandi, Teresina, n. 2564, jul. 2010. SILVANO, Claudia. Quando a resposta do cliente vem antes da pergunta. Revista Consumidor Moderno, 2018. Disponível em: <http://www.consumidormoderno.com.br/2018/02/14/quando- resposta-antes-pergunta/>. Acesso em: 2 mar. 2018. ZAMPIERI, José Francisco. A defesa das relações de consumo: teorias, experiências e o papel do Ministério Público Federal. 2010. 135 f. Dissertação (Mestrado profissional em Economia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. Sites Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar): <http://www.conar.org.br/>. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec): <http://idec.org.br/revista/>. Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon): <http://www.portaldoconsumidor.gov.br/procon.asp>. Reclame Aqui: <http://www.reclameaqui.com.br>. http://www.consumidormoderno.com.br/2018/02/14/quando-resposta-antes-pergunta/ http://www.conar.org.br/ http://idec.org.br/revista/ http://www.portaldoconsumidor.gov.br/procon.asp http://www.reclameaqui.com.br/ Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC): <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/a-defesa-do- consumidor-no-brasil/anexos/sistema-nacional-de-defesa-do- consumidor-sndc>. http://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/a-defesa-do-consumidor-no-brasil/anexos/sistema-nacional-de-defesa-do-consumidor-sndc Capítulo 15 Ética no relacionamento com clientes Muito se tem falado na mídia e em todos os cantos do Brasil sobre problemas éticos de suborno e corrupção. O termo “ética” está, mais do que nunca, em evidência. De modo geral, a sociedade não só espera como exige um comportamento ético de empresas e do governo. No entanto, a simples adoção de princípios não garante que os atuais entraves existentes na sociedade – como má reputação e falha moral – sejam resolvidos, uma vez que soluções efetivas requerem mudança de paradigma, ou seja, há necessidade de mudança no comportamento e nas práticas adotadas nas empresas e na sociedade em geral. Posturas éticas são necessárias e exigidas na sociedade e ainda mais no relacionamento das organizações com seus clientes. Neste capítulo, vamos discorrer sobre o tema ética e sua importância na construção e na continuidade do relacionamento com o cliente, bem como da sobrevivência da empresa no mercado. Falaremos também sobre compliance e, finalmente, sobre os códigos de ética no comércio físico e no comércio eletrônico. 1 Conhecer a aplicação da ética no relacionamento com clientes É possível compreender as características básicas de uma organização por meio de sua missão, sua visão e seus valores, os quais direcionarão todas as suas estratégias e ações. De acordo com Andrade (2010, p. 23), “a missão é a declaração formal dos propósitos da empresa, entendida como a finalidade, a razão de ser da organização com respeito a questões: por que a empresa foi criada? Para quem?”. Assim, uma missão bem definida serve como norte para funcionários, fornecedores e clientes entenderem os propósitos e a direção que a empresa tomará. Quanto à visão, esta é compreendida como o que a empresa quer para o futuro. Entendendo a visão da empresa, é possível que todos os envolvidos cooperem para seu desenvolvimento. Em relação aos valores, estes são as atitudes que a empresa adota. Só têm eficácia se os valores estabelecidos pela organização forem traduzidos em ações. Valores, missão e visão devem ser difundidos com o objetivo de serem não somente conhecidos, mas vivenciados por todos no dia a dia da empresa. Somente assim ela poderá alcançar os resultados esperados. Muitas empresas aplicam hoje a governança corporativa, que pode ser compreendida como uma espécie de filosofia de gestão vinculada aos objetivos e fins de uma empresa. De acordo com Andrade (2010, p. 24), “os princípios da governança corporativa são equidade, transparência, prestação de contas e responsabilidade por resultados”. Por equidade entende-se que todos os relacionamentos devem existir sem a concessão de privilégios, abusos ou mesmo práticas de discriminação, com transparência em todos os negócios e relacionamentos da empresa. Dentro de uma empresa, a ética deve estar apoiada em sua cultura, a qual é construída pelos proprietários/dirigentes da empresa e seus colaboradores e é composta de valores e crenças compartilhados por todos (veja mais sobre cultura empresarial no [capítulo 4]). Mas, afinal, o que queremos dizer quando falamos em ética? Conforme explicita Andrade, a ética: dá um direcionamento ao agir humano, porque dispõe de princípios que ajudam o homem a exercer sua autonomia frente a situações que exigem posicionamentos. A ética não é um roteiro, pelo contrário, o homem é livre para fazer suas escolhas, mediante princípios que devem reger o seu agir (2010, p. 41). O conhecimento da ética tem o poder de proporcionar às pessoas a percepção e norte para esse agir. Embora a ética possa sinalizar como se deve agir, ela não pode descrever qual é o caminho a ser percorrido. As escolhas são da responsabilidade de cada um, pois cada um de nós possuiu livre-arbítrio para agir. No entanto, nos dias atuais, o termo ética é bem mais abrangente, exatamente pelos impactos ocasionados na sociedade em geral e no mundo dos negócios. Nas empresas, a ética passou a ser encarada como padrão para o relacionamento entre fornecedores, distribuidores, funcionários e clientes, cujas tomadas de decisão e atitudes têm consequências. Ela não deve ser encarada como estratégia a ser seguida, mas sim ser norteadora dos relacionamentos, sendo essencial que todos na empresa (e também os que fazem parte da cadeia de relacionamento) busquem o “agir ético”, evitando agir de acordo com interesses próprios. Com o objetivo de assegurar que empresas atuem em conformidade com normas regulatórias, há a área de compliance. De acordo com Carvalho: [...] o compliance iniciar a partir da visão da mais alta hierarquia da empresa, que definirá um conjunto de valores e regras e os formalizará no Código de Ética, em normas e procedimentos de condutas sobre diversos assuntos que serão disseminados a todos os demais empregados e colaboradores que participam daquele negócio de forma contínua e perene. (2017, p. 2) Assim, interessampara a área de compliance todos os eventos que, de alguma forma, podem impactar na imagem da empresa, desde o estabelecimento de regras para a participação de funcionários de uma empresa em eventos corporativos oferecidos por clientes ou fornecedores até o uso em mídias sociais. Conforme observa Carvalho: a Lei no 12.846 de 1.8.2013 (“Lei Anticorrupção”) também impõe sanções em decorrência de atos de terceiros, de forma que, para questões de compliance, há uma responsabilidade partilhada, independente da atuação direta do empregado ou do executivo de uma dada empresa (2017, p. 2). Isto ocorre porque, de certa forma, empregado e executivo agem em torno de um mesmo objetivo. Algumas empresas têm aderido ao que chamamos “marketing da ética”, publicando códigos de conduta empresarial, divulgando seus links na internet para conhecimento de todos, mas que, na verdade, estão mais preocupadas em mostrarem-se éticas do que realmente o são e intensificam ações com o objetivo de mostrarem a todos seu engajamento ético. Organizações podem considerar a ética de duas formas: como necessária ao desenvolvimento dos seus negócios ou, somente, como exigência externa para continuidade do empreendimento. A primeira forma transformará toda a empresa, enquanto a segunda fará com que a empresa aja de forma a atender essa demanda “passageira” (ANDRADE, 2010, p. 75). Empresa considerada ética a utiliza em suas atividades cotidianas, e não somente quando ocorrem problemas que podem repercutir negativamente nos meios de comunicação. Essas empresas conquistaram a confiança de seus parceiros e dos integrantes dos canais de relacionamento. É respeitada em todos os seus relacionamentos. Todos são beneficiados quando se adota a ética nas práticas cotidianas e nos relacionamentos. Assim, para que exista uma gestão ética, é necessário o total envolvimento da direção da empresa, não devem existir lacunas entre o discurso ético assumido e as práticas cotidianas adotadas pela empresa na relação com fornecedores, distribuidores, funcionários, poder público e clientes, entre outros. A organização deve dar atenção total aos princípios que devem ser seguidos nessa gestão, não vislumbrando somente as vantagens competitivas que terá em relação aos seus concorrentes. Deve cumprir, primeiramente, seu papel, qual seja: oferecer produtos ou serviços de qualidade e que beneficiem a todos os envolvidos. Ainda, conforme afirma Andrade (2010, p. 121), [...] a empresa deve se preocupar com a ética em todos os seus relacionamentos. Não pode ser uma empresa ética com seus investidores e agir de forma inadequada com os fornecedores, ou ainda ‘encantar o cliente’ e esquecer que os seus colaboradores também precisam ser encantados. Além disso, as organizações tendem a classificar seus relacionamentos éticos a partir da listagem dos públicos estratégicos para a empresa e que devem ser tratados com idoneidade, enquanto que os outros podem ser “driblados”. A organização deve estar alinhada como um todo: não há a possibilidade de ser ética como os clientes e antiética com os funcionários e fornecedores, por exemplo, para que a ética seja realidade, e não fachada. É tão importante o comportamento ético da empresa que, conforme analisa Andrade (2010, p. 94), [...] o retorno de suas ações no relacionamento com os seus públicos, que contribui para a manutenção do seu funcionamento e pela conquista da reputação corporativa. [...] Com isto, a empresa ganha idoneidade, fortalece a marca corporativa, seus produtos e seus serviços, contribuiu para um ambiente de satisfação dos funcionários, mantém os clientes fiéis, proporciona novas parcerias, estimula novos investimentos e garante a sobrevivência e a lucratividade da organização. Cabe salientar, novamente, que sua implantação deve ser sempre embasada em cultura empresarial, visão, valores e missão da empresa. Deve ser também feita de forma gradual, incentivando a todos a participarem da sua implantação por meio de treinamentos dos funcionários, programas de comunicação, etc. Mais ainda: a ética deve ser vivenciada no dia a dia de todos dentro da empresa. 2 Código de ética do comércio Como dissemos, tanto a missão quanto os valores são norteadores das decisões que a empresa vai tomar para alcançar seus objetivos (visão). Para isso, é necessário e desejável que formalize esses propósitos por meio de um código de ética, cujo objetivo é direcionar suas ações, as quais serão exibidas e conhecidas por todos os integrantes da cadeia de relacionamentos: clientes, fornecedores, distribuidores, funcionários. Fora isso, o código de ética pode ser utilizado como uma importante ferramenta para se obter uma congruência de objetivos junto aos funcionários, administradores, clientes, fornecedores, investidores e demais interessados, funcionando, assim, como instrumento de controle gerencial (SILVA; GOMES, 2008, p. 112). Assim, o código de ética acaba sendo mais um instrumento para a gestão empresarial. Ele pode ser composto de acordo com a proposta de conteúdos apresentada no quadro 1, a seguir. Quadro 1 – Proposta de conteúdos para elaboração de código de ética Missão e visão da empresa. Valores e princípios da empresa. Políticas. Princípios éticos nos relacionamentos: com colaboradores; com acionistas; com clientes; com fornecedores; com o setor público; com a concorrência; com a comunidade; com a mídia; com os prestadores de serviços. Gestão da sustentabilidade (meio ambiente) Padrões e normas de comportamento da empresa e de seus colaboradores. Canais de comunicação específicos para informar desconformidades ao código de conduta (exemplo: endereço eletrônico, telefone, etc.) Padrões e procedimentos de atuação e controle (órgãos internos) Fonte: adaptado de Andrade (2010, p. 86). Tópicos como discriminação, relacionamento com clientes, fornecedores, investidores, mídia e meio ambiente, bem como recebimento de presentes e brindes por parte dos funcionários são os mais comuns presentes nos códigos de ética encontrados. Isso se justifica da seguinte forma, conforme Silva (2008, p. 120): [...] o bom relacionamento com clientes e fornecedores é um ponto importante para o correto andamento das atividades da empresa. Com clientes insatisfeitos devido a possíveis atitudes antiéticas de representantes da empresa, a companhia tende a perder mercado no longo prazo. Os fornecedores fazem parte da cadeia de valor da empresa e, portanto, um desgaste com eles poderia impactar o bom andamento das atividades da empresa no que diz respeito à qualidade dos produtos/serviços, atendimento ao prazo da entrega/execução de produtos/serviços, entre outros. [...] A discriminação de uma maneira geral e os casos ambientais são temas frequentemente abordados em todos os tipos de veículos de informação e uma conduta antiética em relação a esse tema é tida como inaceitável. [...] O recebimento de presentes e brindes pode resultar em conflitos de interesses e possível favorecimento de fornecedores. No entanto, é necessário ressaltar que o papel do código de ética para uma empresa é servir como instrumento ou guia para o agir ético. Somente ele, por si só, não tem efeito, pois é preciso e imperativo cultivar os valores e inseri-los na cultura da empresa. O código de ética deve ser elaborado com a participação de membros da empresa, já que seu objetivo é também envolver a todos, incentivando uma postura participativa para que os princípios e normas da empresa sejam seguidos. Importante ressaltar que a empresa, ao implantar seu código de ética, deverá comunicar sua existência de forma eficaz a todos dentro e fora da organização, para que sejam evitadas interpretações dúbias e errôneas a respeito de seus itens. A comunicação tem o papel estratégico de reforçar os padrões éticos existentes. Além disso, na comunicação do código de ética, a empresa deve utilizar linguagem de fácil compreensão, para que não fiquem dúvidas quanto ao que está estabelecido nele. Fora isso, deverá avaliá-lo e revisá-lo constantemente,para que sejam implantadas alterações e correções sempre que necessário. Embora o código de ética de uma empresa tenha por objetivo padronizar e formalizar a conduta que esta deve trilhar, ele não garante que não ocorrerão desvios de conduta. Seu papel é mais uma tentativa de evitar que julgamentos considerados subjetivos sobre determinados assuntos e situações dentro da organização sejam deturpados. Quanto a questões comerciais consideradas antiéticas, de acordo com Kotler e Keller (2012, p. 687), algumas práticas são notoriamente ilegais: [...] entre elas podemos citar suborno, roubo de segredos comerciais, propaganda falsa ou enganosa, contratos de exclusividade e vinculação, falhas de qualidade ou segurança, garantias falsas, rotulagem imprecisa, fixação de preços ou discriminação indevida e barreiras à entrada e à concorrência predatória. 3 Código de ética do comércio eletrônico Tanto no comércio em geral como no comercio eletrônico, o código de ética é considerado a lei maior, uma espécie de “carta” de direitos e deveres básicos e fundamentais a serem seguidos, em que a empresa declara o que espera de todos quanto a suas responsabilidades. De acordo com Silva (2008, p. 114), o código de ética “tem a função de explicitar um tipo de contrato social que liga a empresa aos vários grupos ou indivíduos e estabelece padrões de comportamentos esperados, exercendo, também, em última análise, uma função de controle”. Em geral, os consumidores esperam de empresas que atuam no comércio eletrônico da maneira como mostra o quadro 2. Quadro 2 – Expectativas dos consumidores com relação ao comércio eletrônico Acessibilidade Transparência (em relação à qualidade e à quantidade de informações Equidade das práticas comerciais (em relação às ofertas e às condições contratuais) Segurança dos sistemas de pagamento Proteção dos dados pessoais Fonte: adaptado de Santolim (2004, p. 89). Assim, oferecer proteção e confidencialidade de dados, transparência e segurança nas operações realizadas e boas práticas nas ofertas de produtos contam pontos positivos para que o consumidor confie em uma empresa que atua no comércio eletrônico e para que essa mesma empresa seja considerada ética. No Brasil, o comércio eletrônico – ou e-commerce – é regulamentado pelo Código de Defesa do Consumidor e também pelo Decreto no 7.962/2013, que preencheu algumas lacunas ainda existentes no CDC. Nesse decreto foram estabelecidas algumas regras (BRASIL, 2013). No quadro 3, a seguir, estão compiladas algumas delas. Quadro 3 – Regras estabelecidas pelo Decreto no 7.962/2013 Identificação completa do fornecedor no site Endereço físico e eletrônico no site Informações claras e precisas Disponibilização do contrato de compra no site Obrigatoriedade da etapa de confirmação de compra Determinação de regras para o atendimento eletrônico Discorrer sobre segurança das informações Discorrer sobre o direito de arrependimento da compra por parte do consumidor Estabelecimento de regras para estornos solicitados Deeterminação de regras para compras coletivas Fonte: adaptado de Sebrae (2014 p.11-15). Dessa forma, para que uma empresa de e-commerce seja considerada ética, ela precisa ser capaz de cumprir o que está estabelecido em lei, além dos pontos também necessários e já citados necessários a empresas que não operam no mercado eletrônico. Empresas que não cumprem com esses requisitos são automaticamente consideradas não éticas. Com o advento da Black Friday (evento anual realizado normalmente na quarta semana do mês de novembro), foi também estabelecido para o e-commerce um código de ética, com o objetivo de reduzir casos de publicidade enganosa. Esse código de ética foi criado pela Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e-net) (AMORIM, 2013). Na verdade, trata-se de um selo (ou certificação) de que a empresa se responsabiliza por executar boas práticas na comercialização, como não maquiar preços (aumentar preços dias antes do evento, para depois abaixá-lo no dia da Black Friday), entregar no prazo prometido, etc. Todas as ações autenticadas pelo selo visam unicamente a proteção do consumidor. Assim, empresas que cumprem esses requisitos de execução de boas práticas comerciais têm grandes chances de terem boa reputação com o consumidor e, por consequência, serem consideradas empresas éticas, por cumprirem o prometido (CONSUMIDOR MODERNO, 2015). Conforme afirma Lovelock (2001, p. 299): [...] poucos aspectos do marketing se prestam tão facilmente à má utilização (e até mesmo abuso) como a propaganda, vendas e promoção de vendas. As mensagens de comunicação, muitas vezes, incluem promessas sobre os benefícios que os clientes receberão e sobre a qualidade do serviço prestado. Quando as promessas são feitas e depois quebradas, os clientes ficam desapontados porque suas expectativas não foram satisfeitas. Além de efeito nocivo e negativo, uma propaganda enganosa fere padrões éticos, haja vista que um dos valores de que uma empresa necessita para ser considerada ética é a confiabilidade. As empresas que atuam no comércio eletrônico ou não e que são admiradas por sua postura ética têm, em seu DNA, valores. Nesse caso, o código de ética será o retrato desses valores. Considerações finais Empresas admiradas têm – na maioria das vezes – comportamento legal, ético e responsabilidade social. Empresas que priorizam e incentivam o comportamento ético de seus colaboradores e pares obtêm maior retorno de suas ações no relacionamento com o cliente e com todos os demais integrantes da cadeia de relacionamento. Vimos neste capítulo que organizações que primam pela ética têm maior possibilidade de ter excelente reputação corporativa e, por conseguinte, o respeito de todos: sociedade, concorrentes, governo, parceiros, cliente. Além disso, adquirem idoneidade, fortalecimento da sua marca, de seus produtos e de seus serviços. Com esses ingredientes, poderão, sem dúvida, estreitar o relacionamento com seus clientes, tornando-o duradouro. Quando uma organização insere a ética em seus relacionamentos, são inúmeras as vantagens competitivas obtidas no mercado em geral e nas diversas relações que mantém. Mais do que tudo, uma empresa considerada ética possui boa reputação e transmite a confiabilidade que o cliente busca na hora de escolher um produto ou serviço. Referências AMORIM, Suellen. Black Friday terá código de ética para compras on- line. Exame, 2013. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/tecnologia/black-friday-tera-codigo-de- etica-para-compras-online/>. Acesso em: 12 mar. 2018. ANDRADE, Zilda Aparecida F. Gestão da ética nas organizações: possibilidades aos profissionais de relações públicas e comunicação organizacional. 2010. 236 f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. BRASIL. Decreto no 7.962, de 15 de março de 2013. Regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico. 2013. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2013/decreto/d7962.htm>. Acesso em: 12 mar. 2018. CARVALHO, Vivian K. V. A efetividade do compliance em relação aos riscos representados por terceiros inseridos na cadeia produtiva. 2017. 10 f. Dissertação (Mestrado profissional em Direito) – Fundação Getulio Vargas, Direito, São Paulo, 2017. CONSUMIDOR MODERNO. O novo código de ética do black friday brasileiro. Grupo Padrão, 2015. Disponível em: <http://www.consumidormoderno.com.br/2015/11/25/o-novo- codigo-de-etica-do-black-friday-brasileiro-2/>. Acesso em: 12 mar. 2018. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. https://exame.abril.com.br/tecnologia/black-friday-tera-codigo-de-etica-para-compras-online/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7962.htm http://www.consumidormoderno.com.br/2015/11/25/o-novo-codigo-de-etica-do-black-friday-brasileiro-2/ LOVELOCK, Christopher.Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. SANTOLIM, Cesar Viterbo M. Os princípios de proteção do consumidor e o comércio eletrônico no direito brasileiro. 2004. 126 f. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. SEBRAE. Aspecto legais do e-commerce. Disponível em: <http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONU S/bds/bds.nsf/1fb2b554ec81cb7a7da2eeab6ecef4c3/$File/5051.pdf >. Acesso em: 3 abr. 2018. SILVA, Vaner G.; Gomes, Josir S. O uso do código de conduta ética como instrumento de controle gerencial: estudo de casos em empresas internacionalizadas. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 5, n. 10, p. 111-127, 2008. http://www.bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/1fb2b554ec81cb7a7da2eeab6ecef4c3/$File/5051.pdf Capítulo 16 Posicionamentos das marcas por meio do relacionamento Marcas existem há muito tempo. No Egito, fabricantes de tijolos inseriam símbolos nos produtos que fabricavam para identificá-los entre os demais. Na idade média, muitos comerciantes criavam e utilizam uma marca em seus produtos com o objetivo de assegurar ao consumidor uma qualidade maior, bem como obter proteção legal para o fabricante. Em obras de arte, a marca passou a ter valor quando os artistas começaram a colocar as assinaturas em suas criações. Marcas podem oferecer às empresas inúmeros benefícios, além de serem consideradas bens de preço incalculável. Dessa forma, é importante que sejam bem administradas para que realmente proporcionem os resultados que se espera. As empresas, com o objetivo de se diferenciarem de seus concorrentes, procuram ser únicas e exclusivas no atendimento das demandas e expectativas dos clientes. Cabe ressaltar, no entanto, que as empresas não devem se concentrar demais na marca em si. Quando uma empresa fica preocupada demais com a marca, pode distrair-se de uma questão fundamental: os relacionamentos. Neste capítulo, falaremos um pouco sobre o papel da marca e a sua importância para estabelecer e aprofundar o relacionamento entre empresas e clientes, uma vez que o marketing de relacionamento preconiza relação de longo prazo entre essas partes. Nesse sentido, abordaremos, também, os diversos posicionamentos de marca que as empresas podem aplicar por meio do relacionamento com o cliente e como podem se beneficiar com isso e obter vantagem competitiva em relação a seus concorrentes. Por fim, estudaremos o caso das Sandálias Havaianas, no qual poderemos comprovar a aplicação de posicionamento da marca. 1 Compreender e conhecer os diversos posicionamentos das marcas por meio do relacionamento Primeiramente, antes de falarmos sobre posicionamento de marcas, apresentaremos algumas definições. Afinal, o que é uma marca? Qual é o seu papel? Podemos afirmar, a princípio, que a marca é intangível para as empresas. Conforme Kotler e Keller (2012, p. 258), ela é “um bem ou serviço que agrega dimensões que, de alguma forma, o diferenciam de outros produtos desenvolvidos para satisfazer a mesma necessidade”. A American Marketing Association (AMA) oferece a seguinte definição para marca, conforme citado por Grönroos (2009, p. 289): “um nome, termo, sinal, símbolo ou qualquer outra característica que identifique o produto ou serviço e uma empresa, distinguindo-o dos produtos de outras empresas”. As marcas são muito valiosas para as empresas e por isso devem ser protegidas. Conforme explicitam Kotler e Keller (2012, p. 258), “o nome da marca pode ser protegido por marcas registradas, os processos de manufatura podem ser protegidos por patentes e as embalagens podem ser protegidas por direitos autorais e designs registrados”. Todos esses direitos de propriedade intelectual visam proporcionar segurança para que as empresas possam investir na marca e tirar proveito de seus inúmeros benefícios. Marca é algo que está na mente dos consumidores e que, embora tenha se originado na realidade, se reflete nas percepções destes. Assim, de acordo com a definição de Kotler e Keller (2012, p. 259): “brandingsignifica dotar bens e serviços com o poder de uma marca. [...] o brandingdiz respeito a criar estruturas mentais e ajudar o consumidor a organizar seu conhecimento sobre os produtos, de modo a tornar sua tomada de decisão mais clara e, nesse processo, gerar valor à empresa”. O branding pode ser aplicado em qualquer campo que o consumidor tenha opções de compra. Marcas são atribuídas para um bem físico, um serviço, um local, uma ideia. Os consumidores têm à sua disposição no mercado inúmeras marcas, podendo escolher seu produto dentro das muitas disponíveis no mercado. Exemplo: o consumidor deseja adquirir e utilizar lâminas para barbear. Ele será naturalmente atraído pelos atributos ou vantagens apresentados por determinada marca. Na escolha, os consumidores devem ser convencidos de que há diferenças substanciais entre produtos de uma mesma categoria. O grande segredo do branding é fazer com que os clientes notem as diferenças – mesmo que sutis – entre as marcas em uma mesma categoria de produto ou de prestação de serviços. Vamos a uma outra definição importante: brand equity. Ainda de acordo com Kotler e Keller (2012, p. 260), “brand equity é o valor agregado atribuído a bens e serviços. Esse valor pode se refletir no modo como os consumidores pensam, sentem e agem em relação à marca, bem como nos preços, na participação de mercado e na lucratividade gerada pela marca”. Assim, podemos afirmar que o verdadeiro poder de determinada marca reside no modo como os consumidores a veem e a sentem, ou seja, todas as sensações e experiências que a ela estão associadas. Dessa forma, uma marca considerada forte proporciona à empresa que a detém inúmeras vantagens, entre elas maior fidelidade por parte do consumidor. Para que uma empresa construa e mantenha brand equity, é necessário que se atenha às escolhas da identidade da marca (como nome, slogan e embalagem, por exemplo). Estamos falando em relacionamento e podemos dizer que o brand equity é significativo quando o cliente está em sintonia e tem identidade com a marca. Quando isso acontece, é muito provável que o relacionamento entre ambos seja duradouro. Uma marca não existe sem a presença do cliente. É o cliente que faz com que ela tenha fundamento. Ela se desenvolve e se transforma à medida que o cliente se relaciona com ela e a propaga por meio do boca a boca ou mesmo pelas redes sociais. Dessa maneira, se desenvolve um relacionamento entre cliente e marca. Conforme Grönroos (2009, p. 291), “esse relacionamento com a marca dá aos bens, serviços ou combinações de elementos de uma solução um significado na mente dos clientes”. Continuando: “a marca, ou imagem da marca, é a consequência do modo como um cliente percebe seu relacionamento com uma marca”. Um envolvimento com uma marca promove um relacionamento da empresa que oferece o produto ou serviço. “Um forte envolvimento com a marca significa que um cliente se sente positivamente envolvido com o processo de serviço de determinado fornecedor ou prestador de serviços”, de acordo com o autor (2009, p. 294). Um relacionamento com a marca só existe quando um cliente é capturado e cativado, ou seja, ele tem que ser atingido emocionalmente, o que o leva a um estado de conexão. Se não existir essa conectividade, não se trata de um relacionamento. No quadro apresentado, são citados pontos estratégicos que uma empresa deve levar em conta para poder criar relacionamentos de marca que valham a pena. Quadro 1 – Como a empresa pode criar relacionamentos bem- sucedidos com a marca PONTO DE VISTA COMENTÁRIOS Sendo diferente Empresas com marcas consideradas fortes costumam inovar em vez de imitar. A marca é distinta nas mentes dos clientes. Determinando sua própria fama Empresas com boas marcas desenvolvem algo importante e valioso para os clientes. Diferenciar-se dos concorrentes não é suficiente: tem que haver valor. Assim, é também possível realizar uma boa comunicação boca a boca.Estabelecendo uma conexão emocional Empresas com marcas fortes tentam ir além dos aspectos lógico e econômico. Elas criam sentimentos de confiança, afeto e proximidade. Marcas devem refletir os valores essenciais dos clientes, o que muitas vezes está além da lógica. Internalizando a marca O relacionamento com a marca é amplamente criado por meio do contato dos funcionários com os clientes, nos quais podem apoiar – ou distribuir – o processo de construção da marca. Empresas com marcas fortes internalizam os relacionamentos com a marca na empresa. O marketing interno é importante para empresas fornecedoras de produtos ou serviços. Fonte: adaptado de Grönroos, 2009, p. 298 IMPORTANTE É essencial que a empresa desenvolva e estabeleça um posicionamento de marca. Mas o que é posicionamento de marca? De acordo com Kotler e Keller (2012, p. 294), “é a ação de projetar a oferta e a imagem da empresa para que ela ocupe um lugar diferenciado na mente do público-alvo. O objetivo é posicionar a marca na mente dos consumidores a fim de maximizar a vantagem potencial da empresa”. Um posicionamento eficaz pode definir as semelhanças e as diferenças de uma marca com as de seus concorrentes. Para definir esse posicionamento, é preciso, sempre, identificar o público-alvo e a concorrência, pois optar por atingir determinado tipo de consumidor pode definir a natureza da concorrência, seja porque outras empresas já escolheram esse segmento como alvo ou porque os consumidores desse segmento já consideram determinadas marcas ou produtos em suas decisões de compra. Ressalte-se sempre a inter-relação entre posicionamento de marca e relacionamento com o cliente. Para que seja realmente estabelecido o posicionamento de uma marca, é necessário que os consumidores entendam o que determinada marca está oferecendo, dando indícios de que escolher aquela marca é o melhor. Além disso, deve ficar evidente para o público-alvo com quais categoriais aquela marca compete, bem como quais são os pontos de paridade e os pontos que os diferenciam em relação à concorrência na mesma categoria de produto ou serviço. Em relação à categorização de determinado produto ou serviço, para possibilitar e estabelecer um relacionamento com o cliente, é importante que a empresa cumpra as seguintes tarefas: anuncie seus benefícios, para garantir aos consumidores que a marca corresponderá ao principal motivo pelo qual eles utilizam aquela categoria; compare-se a produtos exemplares, visto que outras marcas existentes, conhecidas e notáveis podem ser usadas para especificar categoria de um determinado produto; conte com um nome que descreva o produto; ou seja, a descrição do produto que acompanha o nome da marca deve expressar a origem de sua categoria. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 305) Conforme citado anteriormente, é necessário que sejam comunicados os pontos de semelhança (ou paridade) e também os de diferença. É importante que os atributos e os benefícios sejam informados para que não sejam negativamente relacionados, ou seja, pode ser complicado posicionar uma marca considerada barata e afirmar, simultaneamente, que ela é da mais alta qualidade. Fora isso, a tradição de determinada marca pode sugerir experiência e sabedoria, mas também pode significar algo fora da moda ou desatualizado. Além dos pontos abordados anteriormente, é possível definir estratégias de diferenciação para que uma marca torne-se forte e obtenha vantagem competitiva em relação às concorrentes. Vantagens competitivas para a empresa devem ser vantagens para o cliente. Portanto, se determinada empresa afirma que seu produto funciona mais rápido que o da concorrência, isso somente será considerado uma vantagem se o cliente valorizar a velocidade, por exemplo. Quando as empresas se concentram em criar e oferecer vantagens para os clientes, elas entregam produtos ou serviços de alto valor e alcançarão a satisfação do cliente, o que o levará à repetição do ato de compra, rentabilidade para a empresa e um relacionamento duradouro entre ambos. Empresas que têm marcas fortes costumam demonstrar a diferenciação de seus produtos ou serviços em relação à concorrência e, com isso, conseguem estabelecer um relacionamento com os clientes. Ainda, podemos dizer que diferenciação pode ser baseada em: diferenciação baseada em funcionários, prestando atendimento considerado superior e melhor que os da concorrência; diferenciação baseada na imagem, ou seja, empresas podem criar imagens atrativas que atendam às necessidades psicológicas e sociais dos consumidores, entrando em sintonia com eles; diferenciação baseada em serviços, concebendo, por exemplo, sistema de entregas mais rápido e soluções mais eficazes que os da concorrência. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 307) Não podemos deixar de citar o branding emocional. Um posicionamento de marca eficaz deve ter, também, componentes emocionais, além dos racionais. A marca deve estabelecer sintonia emocional com os clientes. Uma resposta emocional em relação a uma marca depende de alguns fatores. A autenticidade da marca é considerada uns dos mais importantes, uma vez que evoca confiança, afeto e, como consequência, fidelidade. Marcas consideradas “emocionais” compartilham algumas características, entre as quais citamos: “cultura corporativa focada em pessoas; estilo e comunicação diferenciados; ‘gancho’ emocional convincente” (KOTLER; KELLER, 2012, p. 308). O branding emocional possibilita uma grande conexão com os clientes, criando diferenciação em relação aos concorrentes e dando possibilidade de a marca estabelecer relacionamento fiel com ele. Para reforçar, é importante citar novamente a importância do papel das redes sociais quando se fala em relacionamento entre marcas e clientes. A internet pode desempenhar papel fundamental na construção e na melhoria dos relacionamentos, além de possibilitar a interatividade com a marca, conferindo velocidade à construção dos relacionamentos. Na internet, há muitas comunidades desenvolvidas em torno de marcas. São formadas, normalmente, por funcionários de empresas e por consumidores, e suas atividades giram em torno da marca. Essas comunidades são distintas pelas seguintes características: por uma “consciência de espécie” ou senso de conexão com a marca, empresa, produto ou mesmo por outros membros da comunidade; por rituais, histórias e tradições que são compartilhadas, as quais ajudam a transmitir o significado da comunidade; por uma responsabilidade ou mesmo “dever moral” compartilhado, tanto com a comunidade como um todo e também com seus membros individuais. (KOTLER; KELLER, 2012, p. 270) Cabe ressaltar que comunidades de marca podem surgir por meio dos próprios usuários da marca (grupo de usuários da Apple, por exemplo) e outras surgem pelo patrocínio de empresas (por exemplo, proprietários de motos Harley-Davidson). Conforme citado por Batista (2011, p. 35-36), empresas que utilizam a internet como ferramenta de gestão da marca devem veicular um site que apresente as possibilidades apresentadas no quadro 2. Quadro 2 – A internet como ferramenta de gestão da marca Possibilita a criação de experiência positiva para o cliente, quer por sua interatividade, usabilidade ou relevância. Reflete os valores da marca. Possui sinergia com os demais programas de comunicação da marca. Pode servir como uma espécie de “casa” ou “lar” para o cliente, de forma a proporcionar ampliação dos relacionamentos. Fonte: adaptado de Batista, 2011, p. 35-36. Muitas marcas obtêm sucesso exatamente por saberem utilizar as redes sociais, com o objetivo de melhorar o engajamento, tanto com os consumidores quanto com os concorrentes. Uma empresa poderá estabelecer relacionamento duradouro por meio do posicionamento de sua marca com os consumidores, pois, compartilhando os mesmos valores, poderão se tornar fãs da marca, fortalecendo o relacionamento entre ambos. 2 Estudo de caso – sandálias Havaianas Verificou-se ao longo deste capítulo como as empresas podem desenvolver e estabelecer umrelacionamento com o cliente por meio do posicionamento da marca. Vamos apresentar o caso das sandálias Havaianas, no qual se criou o vínculo da marca por meio da emoção e de valores culturais. NA PRÁTICA As sandálias Havaianas foram lançadas em 1962. O nome da marca foi escolhido por remeter ao astral agradável e relaxante que o Havaí inspira. Por apresentar preço baixo desde o início, logo se tornou popular, atingindo a venda de milhões de pares no território brasileiro. Nas décadas de 1970 e 1980, havia um apelo notadamente funcional: “não tem cheiro, não deforma e não soltam as tiras”. Nas propagandas, veiculava- se a imagem do humorista Chico Anysio para dar voz à marca. Além disso, era utilizado o slogan “as legítimas”, o que já demostrava a preocupação da empresa com cópias e imitações que poderiam surgir no decorrer do tempo. O apelo funcional (“não soltam as tiras”) não era suficiente para tornar a marca desejada por um público mais elitizado, havendo resistência, na época, à utilização dessas sandálias, em razão do caráter excessivamente popular apresentado até então. Para que fosse possível alterar essa imagem e tornar a marca universal e aceita, a empresa mudou sua estratégia, passando a explorar, na comunicação, o conceito “todo mundo usa”. Essa virada na estratégia de branding ocorreu na década de 1990. Na veiculação das propagandas, passou a incorporar à sua comunicação algumas celebridades brasileiras, as quais eram flagradas utilizando as sandálias com naturalidade. O objetivo era demonstrar que todos usavam as Havaianas, mesmo que não admitissem isso publicamente. Desde então, a marca passou a priorizar a construção de significados emocionais relacionados a ela, utilizando ainda celebridades em suas propagandas. Assim, características consideradas tipicamente brasileiras, como a irreverência e a descontração, foram paulatinamente incorporadas à marca das sandálias. Além disso, diversidade e criatividade passaram a ser constantes e rotineiras no lançamento de novos modelos e coleções. Com o advento da Copa do Mundo na França (em 1998), a empresa criou edição especial com a bandeira do Brasil, sendo um marco para o início da internacionalização da marca como ícone da cultura brasileira. A marca passou a ser exportada para diversos países da Europa e também para os Estados Unidos. No Brasil, turistas estrangeiros passaram a adquirir o hábito de comprar as sandálias e levá-las para seus países de origem. Ao mesmo tempo, ações de apoio a essa internacionalização da marca passaram a se multiplicar, com a criação e a distribuição de chinelos personalizados para celebridades indicadas ao Oscar, bem como em ações criadas em ocasiões de lançamentos de filmes de sucesso (como O último samurai), bem como ações em desfiles e feiras de moda internacionais. Muitas dessas ações criativas geraram mídia espontânea para a marca, que passou a ser apresentada como elemento da cultura brasileira, principalmente do que seria essa cultura aos olhos do restante do mundo. Fora isso, foi criada uma loja conceito – o Espaço Havaianas – na Rua Oscar Freire, em São Paulo, famosa por conta das lojas de grife que abriga. O objetivo desse espaço é transmitir a essência (ou DNA) da marca: descontraída, criativa, brasileira e global. O sucesso da marca no Brasil e no mundo comprova a eficácia simbólica como transmissora de valores da cultura nacional. Assim, além de se apropriar desses valores, a marca passou a ser um agente ativo de sua construção e propagação, visto que parte dos valores transmitidos também está ligada à marca. Considerações finais Neste capítulo, enfatizamos a importância do posicionamento da marca para que o relacionamento com o cliente seja estabelecido. No decorrer dos diversos assuntos, apresentamos os princípios do marketing de relacionamento no ambiente de negócios. Fizemos uma correlação entre o marketing tradicional, o marketing de relacionamento e o de serviços. Falamos sobre como ocorre a criação de valor para o cliente. Tratamos dos principais canais de relacionamento com os clientes e destacamos o papel e a importância das redes sociais. Demonstramos a relevância do CRM (customer relationship management) na empresa. Falamos, também, sobre a importância do database marketing. Discorremos sobre como a tecnologia pode contribuir para auxiliar a empresa a estabelecer um relacionamento com o cliente. Além disso, falamos de fidelização, bem como de estratégias que empresas podem adotar para reter e recuperar o cliente. Discutimos, também, o relacionamento de órgãos públicos com os cidadõas, a gestão do relacionamento com clientes B2B e traçamos diferenciações entre o mercado institucional e governamental. Falamos da importância do relacionamento das empresas com os diversos canais, como distribuidores, funcionários e fornecedores. Abordamos o papel dos órgãos e entidades de defesa do consumidor e a importância da ética nos relacionamentos entre empresa e clientes, além de como as empresas podem agir para tentar assegurá-la. Concluímos o capítulo discorrendo sobre a importância do posicionamento da marca para o relacionamento com os clientes. Os conceitos e a aplicabilidade do marketing de relacionamento para as empresas é, sem dúvida, um meio de construir relacionamentos duradouros com os clientes. Pode-se afirmar que um relacionamento duradouro com o cliente possibilita que a empresa tenha longevidade no mercado, bem como que consiga se destacar entre suas concorrentes. A competição dos tempos modernos é muito acirrada, e só sobrevive quem realmente está “antenado” com os avanços da tecnologia, as exigências dos acionistas e, principalmente, as dos clientes, que têm ao seu alcance, mais do que nunca, meio para expressar o que querem nas redes sociais. Mais do que meramente apresentar conceitos, viu-se que é imperioso rever sempre e continuadamente os papéis de todos os envolvidos no relacionamento entre empresa e clientes. A empresa deve estar atenta à sua missão e ao agir com ética e, desde que esteja atenta aos preceitos que norteiam o marketing de relacionamento, poderá colher excelentes resultados. Na verdade, não somente ela, mas o cliente também, pois um relacionamento nunca é via de única mão: é sempre relação de mão dupla, em que todos ganham! Referências BATISTA, F. Gestão de marcas por meio das redes sociais: um estudo sobre a utilização do Facebook. 2011. 168 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Enconomia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde- 26102011-172523/pt-br.php>. Acesso em: mar. 2018. GRÖNROOS, C. Marketing: gerenciamento e serviços. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. KOTLER, P.; KELLER, K. Administração de marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-26102011-172523/pt-br.php Sobre a autora Ana Maria Faria é especialista em administração de empresas e relações industriais pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (EAESP-FGV). Trabalha há mais de 25 anos em áreas de relacionamento com o cliente, tendo atuado em grandes corporações (BankBoston, Natura, Roche Diagnóstica e Arteris) e ministrado treinamentos corporativos. Realizou consultoria a empresas na implantação de call centers próprios. Além disso, exerce atividades em áreas administrativas, especificamente relacionadas a mapeamentos e implantação de fluxos e processos de melhoria. Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Editora Senac São Paulo Conselho Editorial Luiz Francisco de A. Salgado Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Lucila Mara Sbrana Sciotti Jeane Passos de Souza Gerente/Publisher Jeane Passos de Souza Coordenação Editorial/ProspecçãoLuís Américo Tousi Botelho Márcia Cavalheiro Rodrigues de Almeida Administrativo João Almeida Santos Comercial Marcos Telmo da Costa Acompanhamento Pedagógico Ariadiny Carolina Brasileiro Maciel Designer Educacional Francisco Shoiti Tanaka Revisão Técnica Marcelo José Szewczyk Colaboração Ana Paula Pigossi Papalia Josivaldo Petronilo da Silva Coordenação de Preparação e Revisão de Texto Luiza Elena Luchini Preparação de Texto Eloiza Mendes Lopes Revisão de Texto AZ Design Arte e Cultura Projeto Gráfico Alexandre Lemes da Silva Emília Correa Abreu Capa Antonio Carlos De Angelis Editoração Eletrônica Alexandre Lemes da Silva Valdemir Nunes da Costa Ilustrações Alexandre Lemes da Silva Imagens iStock Photos Produção do ePub Ricardo Diana Beatriz Bevilacqua Proibida a reprodução sem autorização expressa. 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Marketing de relacionamento 658.812 MODAGASTRONOMIATURISM ODESIGNTECNOLOGIAEDUCAÇ ÃOARTESHOTELARIACIÊNCIAS HUMANASFOTOGRAFIACOMU NICAÇÃOARQUITETURAGESTÃ OMEIOAMBIENTESAÚDE http://www.livrariasenac.com.br/ https://pt-br.facebook.com/editorasenacsp/ https://twitter.com/editorasenacsp https://www.instagram.com/editorasenacsp/ Capítulo 1 Marketing de relacionamento: definição 1 Marketing de relacionamento: definição 2 Componentes básicos do marketing de relacionamento 3 Fidelização de clientes 4 Interação no relacionamento 5 Alicerces do marketing de relacionamento 6 Exemplo e estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 2 Marketing tradicional, marketing de relacionamento e marketing de serviço 1 Conceituação de marketing e marketing de relacionamento 2 Comparações entre marketing tradicional e marketing de relacionamento 3 Novos desafios para as empresas 4 Estratégias competitivas de Porter 5 Mix de marketing – os 4 Ps 6 Marketing de serviços: conceituação 7 Definições e significado de serviço 8 Objetivos do marketing de serviços 9 Percepção da qualidade 10 Exemplo e estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 3 Criação de valor para o cliente 1 Definição de valor 2 Diferença entre custo, preço e valor 3 Como se dá a criação de valor para o cliente 4 Estudo de caso – a marca Granado e sua trajetória de posicionamento de marca Considerações finais Referências Capítulo 4 Principais canais de comunicação e relacionamento 1 Entendendo o cliente 2 Canais de comunicação e relacionamento 3 Elementos da cultura empresarial 4 Redes sociais como canais de relacionamento 5 Estudos de caso – J & J Considerações finais Referências Capítulo 5 O papel e a importância das redes sociais como canais de relacionamento 1 Redes sociais 2 Social e-commerce (CtoC) 3 Redes colaborativas 4 Case e exemplos de social e-commerce Considerações finais Referências Capítulo 6 Gestão do relacionamento com o cliente (CRM – customer relationship management) 1 Conceituação da gestão do relacionamento com o cliente 2 Objetivos do CRM 3 Processo de CRM 4 Importância do relacionamento com o cliente 5 Gerando informações: minerando dados 6 Fases da gestão do relacionamento com o cliente 7 Social CRM 8 Exemplos e estudos de caso Considerações finais Referências Capítulo 7 Aplicação da tecnologia em gestão do relacionamento com o cliente (CRM – customer relationship management) 1 O papel da tecnologia para o marketing de relacionamento 2 Mídias sociais 3 Tecnologia no marketing tradicional e no marketing de relacionamento 4 Exemplos e estudos de caso Considerações finais Referências Capítulo 8 Redução de perdas, retenção e recuperação de cliente 1 Cultivando o relacionamento 2 Identificando, diferenciando e interagindo com o cliente para fortalecer o relacionamento 3 Relacionamento: retenção e gestão da base de clientes 4 Redução das perdas dos clientes 5 Recuperação de clientes 6 Exemplos e estudos de caso Considerações finais Referências Capítulo 9 Fidelização do cliente e estratégias 1 Identificando o conceito de fidelização do cliente 2 Metodologias 3 Rentabilizando a recência e a frequência 4 Modelos de programas de fidelização 5 Programas de coalização 6 Exemplos Considerações finais Referências Capítulo 10 Banco de dados de clientes e database marketing 1 Conhecer e compreender a utilização de banco de dados de clientes e database marketing 2 Data warehouse 3 Data mining 4 Desvantagens do database marketing e do CRM 5 Exemplos e estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 11 Gestão de relacionamento do cliente B2B 1 Discorrendo um pouco sobre relacionamento 2 Uma abordagem sobre B2B e B2C 3 Mercados empresariais e mercados consumidores 4 A escolha dos clientes pela empresa 5 Estudo de caso Considerações finais Referências Capítulo 12 Mercados institucional e governamental no relacionamento com clientes 1 Conhecendo o comportamento de compra nos mercados institucional e governamental 2 Evolução da administração pública com foco no cidadão 3 Aplicabilidade do marketing de relacionamento no setor público 4 A tecnologia no mercado governamental e a integração multicanal 5 CzRM: a gestão do relacionamento com os cidadãos 6 O papel da ouvidoria na melhoria do relacionamento com o cidadão 7 A importância dos funcionários públicos no relacionamento com o cidadão 8 Transformação e agilização de processos para o relacionamento com o cidadão 9 Exemplos Considerações finais Referências Capítulo 13 Conhecer as cadeias de relacionamentos 1 Relação entre empresas e participantes 2 Relacionamento com os distribuidores 3 Relacionamento com os funcionários 4 Relacionamento com os fornecedores 5 Cadeia de valor 6 Exemplos Considerações finais Referências Capítulo 14 Os órgãos e entidades de defesa dos consumidores 1 Entender e conhecer os órgãos e entidades de defesa dos consumidores 2 Veículos de comunicação de defesa dos consumidores 3 É preciso preparo: um exemplo de atendimento de reclamação recebida de órgão de defesa do consumidor Considerações finais Referências Sites Capítulo 15 Ética no relacionamento com clientes 1 Conhecer a aplicação da ética no relacionamento com clientes 2 Código de ética do comércio 3 Código de ética do comércio eletrônico Considerações finais Referências Capítulo 16 Posicionamentos das marcas por meio do relacionamento 1 Compreender e conhecer os diversos posicionamentos das marcas por meio do relacionamento 2 Estudo de caso – sandálias Havaianas Considerações finais Referências Sobre a autora