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CONCEPÇÕES 
EPISTEMOLÓGICAS E 
PSICOPATOLOGIA GERAL
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1.
0
2
Carla Priscila da Silva Pereira
Londrina 
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 
2020
CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E 
PSICOPATOLOGIA GERAL
1ª edição
3
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Braga de Oliveira Higa
Revisor
Fernanda Pâmela Machado
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
__________________________________________________________________________________________ 
Pereira, Carla Priscila da Silva
P436c Concepções epistemológicas e psicopatologia geral/
Carla Priscila da Silva Pereira, – 
 Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
 43 p.
 ISBN 978-65-86461-34-3
1. Saúde mental. 2. Psicopatologia I. Pereira, Carla Priscila da Silva.Título. 
 
CDD 610
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB 8/8753
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
4
SUMÁRIO
Concepções epistemológicas e Psicopatologia geral ________________ 05
Terminologia em Psicopatologia ____________________________________ 18
Contribuições da Psicanálise a Psicopatologia ______________________ 36
Sistemas de Classificação Diagnóstica (DSM e CID) _________________ 51
CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E PSICOPATOLOGIA 
GERAL
5
Concepções epistemológicas e 
Psicopatologia geral
Autoria: Carla Priscila da Silva Pereira
Leitura crítica: Fernanda Pâmela Machado
Objetivos
• Conceituar concepção epistemológica e a 
importância para a produção científica.
• Apresentar o conceito de psicopatologia geral.
• Entender a diferentes concepções de normalidade e 
psicopatologia.
6
1. Concepção epistemológica e Psicopatologia 
geral
O estudo científico pressupõe a articulação de diferentes saberes de 
forma crítica, a arte de perguntar, maiêutica, é um requisito necessário 
para o desenvolvimento de produção científica. Em ciência, nada está 
pronto, tudo pode ser construído a partir de um olhar sensível às 
diferentes nuances que cada fenômeno apresenta. Ao longo deste 
material, você poderá compreender a respeito da importância das 
concepções epistemológicas para a produção do conhecimento na área 
de Psicopatologia.
O material está organizado a partir dos principais pensamentos que 
fundamentam a prática em Psicopatologia e as diferentes concepções 
que nortearam os conceitos-chaves para a compreensão dos fenômenos 
psíquicos. Além disso, este material subsidiará ainda a compreensão das 
classificações diagnósticas de formulação de hipóteses e visão de sujeito 
em saúde mental.
1.1 Introdução
O estudo de Psicopatologia pressupõe a compreensão de uma 
diversidade de concepções que fundamentam o pensamento e a prática 
em Psiquiatria e saúde mental. A tarefa inicial será de compreender 
que se trata de uma concepção epistemológica. Segundo o dicionário 
Houaiss (2009):
Epistemologia–1. A reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do 
conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem 
entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades do 
processo cognitivo; teoria do conhecimento. 2. Estudo dos postulados, 
conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico ou das 
teorias e das práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou 
7
descritas em sua trajetória evolutiva, seus paradigmas estruturais, ou suas 
relações com a sociedade e a história, teoria da ciência. (HOUAISS, 2009, 
[s.p.])
Nesse sentido, as concepções epistemológicas são processos de reflexão 
sobre a constituição histórica dos conceitos fundamentais das teorias 
científicas, que ajudam a produzir um conhecimento por meio da 
reflexão contínua dos diversos pontos de observação de um fenômeno, 
postulados pela ciência ao longo do tempo. É essa visão crítica sobre 
as próprias teorias que faz com que a produção científica seja rica de 
sentido, e que lhes atribui o caráter de contínua formação, aberto, 
múltiplo, que permite sempre uma nova possibilidade de formulação e 
produção de saber.
Popper (1984) reiterava que a ciência não era um objeto acabado, nem 
uma probabilidade, mas, ao contrário disso, a busca constante por uma 
verdade, guiada por crenças, metafisica, leis e regularidades, que nos 
permite descobrir novos referenciais, por meio de técnicas e métodos de 
contestação, dar uma nova resposta a cada momento, e isso é científico. 
Não existe conhecimento absolutamente certo, o certo é relativo ao 
contexto e para que seja científico precisa ser provisório eternamente.
Esse postulado de Popper (1984), traduz a volatilidade dos conceitos 
científicos e nos provoca a compreensão de que precisam ser 
compreendidos à luz de seu tempo, dos referenciais filosóficos, culturais, 
sobre os quais foram criados e, a partir disso, analisar, discriminar 
e identificar, os fenômenos tal qual foram pensados e perceber 
as relações criadas para formular novas concepções. No caso da 
Psicopatologia, a compreensão de fenômenos que fundamentam esta 
ciência e os diferentes referenciais ao longo da história, bem como as 
transformações a cada descoberta científica.
Desde os primórdios da Psiquiatria, a ideia de perturbações psíquicas 
sempre existiu, e suas causas estavam relacionadas a diversos fatores 
8
como questões espirituais, ambientais, culturais, e, de acordo com essas 
perspectivas, as diferentes sociedades buscavam o alívio do sofrimento.
A construção de conhecimento em saúde mental, pautado durante 
muito tempo nos modelos biológicos, orgânicos, com a busca de 
explicações de causa-efeito, localização de alterações sistêmicas, sofreu 
alterações ao longo do tempo e ganhou outras perspectivas do ponto 
de vista sócio-histórico e fenomenológico existencial. As diferentes 
perspectivas longe de se contradizerem, se complementaram trazendo 
novas percepções para os fenômenos psíquicos e reformulando os 
conceitos existentes.
1.2 Psicopatologia geral
A Psicopatologia, enquanto ciência, fundamenta a prática da Psicologia e 
Psiquiatria, com a função de analisar, classificar e distinguir fenômenos 
psíquicos. Esta área do conhecimento nem sempre consegue reiterar 
seu caráter científico, devido a ausência de constância em seus 
fenômenos. Como a base da estruturação do modelo biomédico é a 
evidência, a repetição do fenômeno, a Psicopatologia é um terreno árido, 
pois os fenômenos são atravessados por uma série de contingências 
que alteram em cada indivíduo suas características e intensidades.
O desafio da Psicopatologia é para além de perceber os fenômenos, 
ainda traçar paralelos, hierarquizar, classificar. Dalgalarrondo (2008) 
ressalta que a Psicopatologia é um campo complexo que exige 
abertura, multidisciplinaridade e atitude desprovida de preconceitos, 
a fim de discutir os achados a partir de olhares complementares e não 
competitivos.Mais do que dividir em abordagens, a expertise está em 
compreender o que os olhares da métrica médica, da fenomenologia 
existencial e da psicanálise, podem somar para a compreensão do 
fenômeno psíquico.
9
Desse modo, a Psicopatologia, como concebeu Jaspers (2006), identifica, 
reconhece, caracteriza e analisa os fenômenos psíquicos, tendo o 
indivíduo como o centro do processo. A própria condição humana de 
sujeito inacabado confere a problemática da Psicopatologia que, por 
vezes, não alcança o nível científico por não conseguir a reprodução 
dos fenômenos. Esse limite também é importante para que a prática 
não se torne reducionista ao ponto de restringir o homem ao conceito 
psicológico, mas, ao contrário, visualiza o indivíduo como alguém infinito 
que não se esgota em suas possibilidades.
O objeto da Psicopatologia representa os fenômenos psíquicos 
conscientes, ou seja, o que o sujeito vivencia e como se dão essas 
vivências. Diferente da Psicologia, a Psicopatologia se ocupa apenas 
dos fenômenos patológicos e tenta compreender a realidade psíquica, 
estabelecer nexos entre as vivências e condições como ocorrem e o 
modo como se exteriorizam, assim, o conceito de doença mental não 
é uniforme, bem como sua manifestação. Pode-se dizer que enquanto 
a Psicologia se ocupa da vida psíquica normal, a Psicopatologia atenta 
para as correspondências anormais não encontradas, segundo Jaspers 
(2006).
Nesse sentido, a Psicopatologia é o estudo dos sinais e sintomas 
dos transtornos mentais. Dalgalarrondo (2008) destaca que esses se 
traduzem em transtornos, patologias, sofrimento mental. Os sinais 
seriam as manifestações comportamentais externalizadas pela 
atitude de cada indivíduo, enquanto os sintomas se traduzem em 
vivências subjetivas (queixas ou narrativas), carregada de significantes 
(intensidade dada ao sintoma) e significados (conteúdo do sintoma). O 
autor destaca ainda a dupla dimensão do sintoma psicopatológico que 
atua como índice ou indicador, quando manifesta a presença de alguma 
disfunção de ordem biológica ou psíquica, ou ainda de símbolo na 
medida em que representa uma linguagem atribuída dentro do universo 
particular e cultural, produzindo, portanto, um sentido único.
10
A esses processos psicopatológicos, Jaspers (2006) chamou de 
multicausalidade de fenômenos psíquicos, no qual fatores somáticos 
interagem com processos psíquicos e fisiopatológicos do Sistema 
Nervoso Central (SNC), e destacou que a atitude científica fundamental 
para a compreensão desses processos é estar aberto para todas as 
possibilidades empíricas.
Figura1 – Representação gráfica do fenômeno da multicausalidade 
em psicopatologia
Fonte: elaborada pela autora.
Esse dinamismo, presente na concepção de Psicopatologia, é verificado 
também na definição dada por Campbell (1986 apud DALGALARRONDO, 
11
2008), a Psicopatologia trata da natureza essencial da doença mental, 
causas, mudanças estruturais, funcionais e formas de manifestações; o 
que retrata a complexidade dos fenômenos da psique humana.
Dessa maneira, um ponto de concordância, na área da Psicopatologia, é 
de que todo olhar sobre os fenômenos psíquicos precisa se atentar para 
a multicausalidade. Com raízes no modelo biomédico, as evidências e 
classificações diagnósticas cumpriram o papel de identificar e descrever 
os problemas mentais ao longo de vários séculos de história, mas não 
foram suficientes para explicar muitas questões.
Dalgalarrondo (2008) destaca que o campo da Psicopatologia é um 
campo complexo, pois inclui um grande número de fenômenos 
humanos especiais associados ao que se convencionou historicamente 
de se chamar doença mental.
O grande tratado na área de Psicopatologia foi escrito por Jaspers, em 
1913. A obra tem como referência a fenomenologi,- que compreende os 
fenômenos psíquicos, teve a pretensão de orientar o profissional para 
os desafios dessa prática. O autor assume as limitações desse campo 
em relação às demais teorias, porém, não as entende como excludentes, 
mas discute o caráter somativo para a compreensão dos fenômenos.
Segundo Jaspers (2006), a doença mental, ou loucura, possui múltiplas 
possibilidades que se determina, ganha forma no homem e, ao contrário 
do que se pensa, não é um resultado, é formatada no individuo. O 
homem é o único ser capaz de dar sentido ao sofrimento, diferente 
dos animais. Para o autor, a vida psíquica é a somatória do conteúdo 
consciente, em sobreposição ao conteúdo extraconsciente (aquilo que 
não foi internalizado pelo sujeito).
Assim, uma Psicopatologia é a somatória de pré-disposições individuais, 
fatores sociais e fatores culturais, sendo que este último seria 
12
responsável pelo enriquecimento dos sintomas. Jaspers (2006) refere 
que a Psicopatologia tem cinco dimensões:
• A doença mental é própria do ser humano, associada aos seus 
determinantes e condicionantes, e funcional, própria da psique.
• Só é possível constatar o que se mostra ao mundo, isto é, 
fenômenos vivenciais, sejam conscientes ou inconscientes.
• Consciência representa vivências internalizadas, reconhecidas 
e autorrefletidas. Inconsciente representa materiais não 
diferenciados. Falta de consciência representa materiais vividos e 
não internalizados.
• O mundo interno só pode ser interpretado em seu contexto, pois 
interage com o meio ambiente.
• A vida psíquica se diferencia por caráter individual e nível cultural.
Ao longo da história foram observadas diferentes formas de diagnosticar 
e classificar as doenças mentais. O conceito saúde/ doença mental 
também se transformou em suas bases conceituais, Grinberg (2011) 
destaca que as transformações não foram conceituais, mas variaram 
em suas explicações: paradigmas mágico-religiosos, desequilíbrio do 
fluído magnético, recalque e conflitos do inconsciente e complexo 
autônomo dotado de um núcleo arquetípico, ou seja, a fenomenologia 
dos transtornos mentais variava de acordo com o sistema de crenças 
vigentes na época.
Já Whitbourne (2015) destaca que as explicações sempre variaram 
em três temas: espirituais (possessões demoníacas), humanitárias 
(condições de vida) e científicas (causas objetivas alterações biológicas, 
falhas na aprendizagem ou estressores emocionais). Grinberg (2011) 
ressalta, ainda, que essas variações impactaram na transição da 
Psiquiatria a partir de três eixos do modelo mágico para o modelo 
13
biomédico, da Psiquiatria da mente para a Psiquiatria do cérebro, da 
teoria dos quatro humores para a Psiquiatria clínica.
Numa perspectiva da ciência contemporânea, o conceito de doença foi 
definido como fenômeno mórbido no qual se podem identificar fatores 
causais (etiologia), um curso, estados típicos, mecanismos psicológicos 
e psicopatológicos, antecedentes genéticos e familiares, especificidades 
ou generalidades mais ou menos reversíveis, segundo Dalgalarrondo 
(2008).
Ao mesmo passo, o autor apresenta uma dimensão de normalidade que 
varia de acordo com as diferentes concepções científicas: normalidade 
como ausência de doença; normalidade ideal (adaptação a normas); 
normalidade estatística (que possui maior frequência); normalidade 
como bem-estar (saudáveis); normalidade funcional (não provoca 
sofrimento); como processo (dinamismo); subjetiva; normalidade como 
liberdade; e normalidade operacional, o que exige dos profissionais uma 
postura crítica e reflexiva para formatar uma concepção do normal e 
patológico, de acordo com Dalgalarrondo (2008).
A discussão sobre normal e patológico varia de acordo com as diferentes 
correntes científicas. A Psiquiatria, como ciência médica, traz uma visão 
sistematizada sobre a questão, que é um tanto quanto eficiente para o 
diagnóstico, assim como para a compreensão didática dos fenômenos 
psíquicos.
Whitbourne (2015) destaca que os profissionais de saúde mental se 
utilizam de cinco critérios para identificar se o individuo se encaixa na 
anormalidade: significância clínica (prejuízo mensurável); disfunção 
nos processos biológicos,psicológicos ou de desenvolvimento; 
comportamento associado ao sofrimento e não correspondente a 
comportamento desviante; se os conflitos entre indivíduo e sociedade 
não são considerados problemas psicológicos.
14
Essa visão traz a objetividade para o cenário da Psicopatologia e 
pressupõe testar ideias sobre os fenômenos psíquicos antes de aceitá-
las como verdades, por meio de questionamentos, e vai ao encontro dos 
critérios propostos no Diagnostic Statistic Manual – DSM V (AMERICAN 
PSIQUIATRICH ASSOCIATION, 2015) para a definição do transtorno 
mental.
Assim como a definição de normal e patológico varia de acordo com 
a concepção, a Psicopatologia também tem diferentes vertentes: 
Psicopatologia descritiva (foco na forma das alterações psíquicas) 
versus Psicopatologia dinâmica (interesse pelo conteúdo da vivência); 
Psicopatologia médica naturalista (centrada no aspecto biológico) 
versus Psicopatologia existencial (patologia como modo de ser no 
mundo); Psicopatologia comportamental –cognitivista (comportamentos 
resultam de representações cognitivas disfuncionais) se contrapõem 
a Psicopatologia psicanalítica (conflitos advindos do inconsciente); 
Psicopatologia categorial (transtornos bem definidos), Psicopatologia 
dimensional (dimensões complexas de transtornos, a partir de uma 
sintomatologia); Psicopatologia biológica (foco nas atividades neurais), 
Psicopatologia sociocultural (centrada em fatores socioculturais, 
históricos), Psicopatologia operacional – pragmática (a clínica como 
referência), Psicopatologia fundamental (busca compreensão de cada 
transtorno); isso segundo Dalgalarrondo (2008).
A Psicopatologia possui diferentes abordagens e referenciais teóricos. 
Contudo, para fins didáticos, há uma divisão que possibilita a 
compreensão das múltiplas vertentes em Psicopatologia. O esquema 
abaixo representa esta divisão:
15
Figura 2 – Esquema representativo das múltiplas divisões de 
correntes da Psicopatologia 
Fonte: adaptado de Cheniaux (2015).
Uma grande contribuição da Psicopatologia fenomenológica foi a 
descrição dos fenômenos psíquicos, a organização destes em classes e a 
caracterização dos sinais e sintomas, que auxiliaram na identificação dos 
16
transtornos mentais. Tais trabalhos romperam com o modelo biológico, 
vigente até 1913, e abriram a discussão sobre multicausalidade dos 
fenômenos psíquicos. Nesse mesmo período, outros modelos de grande 
impacto nos estudos de Psicopatologia surgiram, como a Psicanálise 
Freudiana, que trouxe uma descrição mais dinâmica da vida psíquica, e 
não se mostram completamente divergentes, mas, ao contrário, podem 
se complementar na medida em que o foco se torna mais amplo.
As diferentes correntes em Psicopatologia refletem a complexidade 
da prática em saúde mental, visto que numa equipe multiprofissional 
haverá diferentes concepções e formações que devem somar para 
o diagnóstico clínico, embora os manuais auxiliem na composição 
do diagnóstico, não são suficientes para a complexidade do 
fenômeno psíquico. A discussão de casos na equipe multidisciplinar 
é uma ferramenta importante assegurada pela Política Nacional de 
Humanização, por meio da estratégia conhecida como clínica ampliada, 
que possibilita a discussão entre diversos saberes, a fim de promover 
a reinserção psicossocial por meio de um atendimento personalizado 
(BRASIL, 2007).
Queiroz Pinheiro e Albuquerque (2014) propõem que a articulação 
em saúde mental e Psicopatologia supõe uma discussão mais ampla, 
assim como já pontuado por Jaspers (2006), que tenha uma crítica 
presente e que atualize as formulações em Psicopatologia de acordo 
com as vivências da prática em Psiquiatria contemporânea. Nas 
palavras de Queiroz Pinheiro e Albuquerque (2014), a clínica vem 
antes da classificação normal/ patológico e com olhar voltado para a 
funcionalidade do indivíduo, do bem-estar social e da qualidade de vida, 
como indicadores de saúde mental.
Desse modo, a avaliação de uma Psicopatologia não é tarefa simples 
e não pode ser vista por mieo de uma única lente do conhecimento. 
A saúde mental é multidisciplinar, pressupõe um bom conhecimento 
sobre as várias questões essenciais do ser humano, corpo biológico, 
17
representação psíquica, fenômenos sociais que amplificam os sintomas 
e contexto em que ocorrem. Muito do que se sabe em saúde mental foi 
construído sobre as bases médicas, porém, a prática em saúde mental 
vai muito além do que está descrito nos manuais de diagnóstico, é 
um saber empírico. Dessa forma, o conhecimento de Psicopatologia 
é fundamental para identificar os fenômenos psíquicos, enquanto a 
formação profissional é a chave para o manejo em saúde mental.
Referências Bibliográficas
AMERICAN Psichiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de 
transtornos mentais DSM V. 5. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha da PNH. Clínica Ampliada, Equipe de 
Referência e Projeto Terapêutico Singular. 2. ed. Brasília, 2007. Disponível em: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf. Acessado em 
23/01/2020. Acesso em: 25 abr. 2020.
CHENIAUX, Elie. Psicopatologia Questões Gerais. In: Manual de Psicopatologia. 5. 
ed., cap. 1, p. 18-21. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, 2015.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos transtornos Mentais. 
2. ed., v. 1, p. 23-45. Porto Alegre, RS: Artmed Editora, 2008.
DICIONÁRIO Houaiss de Língua Portuguesa. Instituto Antônio Houaiss de 
Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2009.
GRINBERG, Luiz Paulo. Os transtornos mentais através dos tempos. In: BLOISE, 
Paulo. (Org.). Saúde Integral: a medicina do corpo, da mente e o papel da 
espiritualidade. p. 167-187. São Paulo, SP: Editora Senac, 2011.
JASPERS, Karl. Psicopatologia Geral. São Paulo, SP: Editora Atheneu, v.1, 8. ed., 
2006.
POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. In: CHAUI, Marilena (org.). Primeira 
filosofia. p. 213-215. São Paulo, SP: Brasiliense, 1984.
QUEIROZ PINHEIRO, Clara Virginia; ALBUQUERQUE, Kelly Moreira. Psicopatologia 
e saúde mental: questões sobre os critérios que orientam a percepção clínica. 
Revista Subjetividades, v.14, n.1, 2014. Disponível em: https://periodicos.unifor.br/
rmes/article/view/3269. Acesso em:
WHITBOURNE, Susan et al. Krauss. Psicopatologia: perspectivas clínicas dos 
transtornos psicológicos. 7. ed. Porto Alegre, RS: AMGH, 2015.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf.%20Acessado%20em%2023/01/2020
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/clinica_ampliada_2ed.pdf.%20Acessado%20em%2023/01/2020
https://periodicos.unifor.br/rmes/article/view/3269
https://periodicos.unifor.br/rmes/article/view/3269
18
Terminologia em Psicopatologia
Autoria: Carla Priscila da Silva Pereira
Leitura crítica: Fernanda Pâmela Machado
Objetivos
• Conhecer as diferentes terminologias em 
Psicopatologia.
• Correlacionar as sintomatologias às alterações da 
vida psíquica ou em seu rendimento.
• Associar terminologias aos sintomas de patologias 
mentais. 
• Reconhecer a aplicabilidade e as dificuldades no uso 
das terminologias.
19
1. Terminologia em Psicopatologia geral
A descrição dos fenômenos psíquicos foi amplamente discutida pela 
fenomenologia, mais especificamente no tratado escrito por Jaspers 
(2006). Há, na literatura, uma vasta lista de terminologias importantes 
para a atuação em saúde mental. Embora exista um grande consenso na 
área, algumas terminologias possuem mais que uma definição.
Os manuais, como Código Internacional de Doenças (CID 10), Manual 
Diagnóstico e Estatístico e de Transtornos Mentais (DSM), apresentam 
a proposta de uniformização de caracterização dos transtornos, porém, 
quanto aos sinais e sintomas, ainda existem muitas definições, que 
variam de acordo com o autor de referência. O presente material 
traz a definição apresentada nos grandes tratados de Psicopatologia, 
que vigoram como referência para a área (CHENIAUX, 2015; 
DALGALARRONDO,2008; HALGIN, 2015; JASPER, 2006).
Ao longo deste material, você estudará sobre as terminologias em 
Psicopatologia, com base na fenomenologia. Ao final, encontrará uma 
discussão sobre as diferenças no uso das terminologias e os problemas 
associados a elas.
1. Introdução
A obra Psicopatologia Geral, de Jaspers (2006), foi escrita em 1913, e 
é considerada um manuscrito obrigatório para a aprendizagem da 
Psicopatologia na perspectiva fenomenológica. A própria organização 
do livro contempla uma sistematização que auxilia na compreensão 
dos fenômenos psíquicos. Inicialmente, aborda os fatos empíricos da 
vida psíquica, destacando questões somáticas e subjetivas e relaciona 
a intensidade dos sinais e sintomas. A seguir, destaca as conexões 
compreensíveis e causais, e auxilia no exercício da formulação de 
20
hipóteses diagnóstica. Posteriormente, integra os conteúdos para a 
apreensão da vida psíquica como uma totalidade, a unidade da patologia 
a partir do seu diagnóstico, sua formulação geral e sua manifestação 
no contexto particular e também sócio-histórico, de acordo com Jaspers 
(2006).
No que se trata de fatos particulares da vida psíquica, Jaspers (2006) 
distingue quatro grupos básicos: fenômenos vividos (vivências); 
rendimentos objetivos (o quanto o sujeito funciona em suas 
medidas de inteligência, memória, que pode ser mensurado quanti e 
qualitativamente); fenômenos somáticos concomitantes; e objetividades 
de sentido (expressão, ação e modo de ser no mundo). Por meio da 
observação destes, é possível identificar a diversidade do fenômeno e 
sua manifestação em cada indivíduo, caráter típico num todo próprio. 
Por exemplo, embora muitas pessoas possam passar por um transtorno 
depressivo, a forma com que os sintomas se manifestam em cada 
pessoa, a intensidade e a qualidade das produções de sentido em cada 
um são diferentes. Por isso, o desafio proposto por Jaspers (2006) é 
o de distinguir da forma mais precisa possível e designar com termos 
fixos o estado que os pacientes vivenciam, por meio da observação e 
comparação do fenômeno psíquico.
O autor ainda destaca que a avaliação fenomenológica é um 
procedimento empírico que se dá por meio da comunicação com o 
paciente. Contudo, para eficácia deste processo é necessário que 
o encontro entre avaliador e paciente seja produtivo. Além das 
sistematizações classificatórias, o profissional precisa formular as falas 
e vivências do paciente no material de análise. Cheniuax (2015) lembra 
que, para a fenomenologia, a observação do fenômeno não pode ser 
meramente empírica, mas, após a coleta dos dados, o profissional deve 
utilizar dos conhecimentos científicos, somado a empatia para realizar a 
comparação do fenômeno e realizar a classificação deste.
21
Esse é um ponto de reflexão importante, visto que a fala do indivíduo, 
embora venha carregada de sentido, tem o olhar do bom avaliador 
como importante para identificação de caracteres de linguagem, 
próprios de uma patologia, por exemplo, nos casos de hipocondria ou 
psicopatia.
1.1 Fenômenos particulares da vida psíquica anormal
A partir de agora, serão apresentados elementos da vida psíquica 
anormal e, para tanto, algumas concepções são importantes. Na vida 
psíquica, um sujeito se contrapõe a um objeto e se dirige aos conteúdos 
específicos. Assim, na contraposição da consciência do objeto e do eu, se 
instalam, por exemplo, algumas estruturas de anormalidade (distorções 
de percepção, delírios etc.), presentes em modos de alteração de 
consciência do eu, de acordo com Jaspers (2006).
Na visão fenomenológica, tudo que vivemos são referências que 
nos ajudam a interpretar os fenômenos, que se chama totalidade 
de referências e se fundamenta em vivências de tempo e espaço, 
consciência corporal e da realidade, estado emocional e de impulso. Os 
fenômenos, por sua vez, podem ser distintos em mediatos e imediatos. 
Os mediatos são aqueles em que há possibilidade de reflexão e vontade. 
A este processo chamamos de reflexibilidade, dessa maneira, todas as 
referências podem ser afetadas pelo estado de consciência da psique.
É importante destacar que, para a fenomenologia, as vivências 
do paciente não são consideradas fenômenos físicos, ou seja, o 
comportamento não é a única evidência da vida psíquica, mas a 
atribuição de sentido é o que caracteriza esta última. Entretanto, a 
fenomenologia não se atém às origens desses fenômenos, mas apenas 
à manifestação deles. Isso significa que o foco está em episódios 
conscientes, obtidos por meio de relatos do paciente, e não de 
22
fenômenos inconscientes como em outras correntes como a psicanálise, 
segundo Cheniaux (2015).
Portanto, na descrição do fenômeno, é preciso levar em consideração 
a forma e o conteúdo. Por exemplo, delírios, alterações de percepção, 
ideias delirantes, são formas, o conteúdo se refere ao contexto da ideia 
delirante, segundo Jaspers (2006). Cheniaux (2015) lembra que a forma 
seria a estrutura do fenômeno (delírio), e o conteúdo seria a história 
(exemplo: ser um guerrilheiro perseguido por forças nacionais). Para 
a composição diagnóstica, a forma é mais importante que o conteúdo, 
porém, o conteúdo fala muito sobre a vida psíquica do paciente, que, 
muitas vezes, é o fator que está mobilizando o indivíduo e pode ainda 
modificar o modo como vivencia o fenômeno.
Jaspers (2006) destaca que os fenômenos não acontecem de maneira 
estanque, eles transitam entre si, uma vivência alucinatória pode conter 
uma vivência delirante, por isso, apreender distinguir e analisar os 
fenômenos é uma tarefa científica que exige formação e conhecimento 
sobre a Psicopatologia, os diferentes grupos de fenômenos psíquicos 
anormais.
Ainda nesse sentido, Dalgarrondo (2008) faz um alerta importante 
sobre as funções psíquicas não acontecerem de forma isolada, nem a 
Psicopatologia ocorre em uma função específica. O sujeito adoece como 
um todo, pois as funções alteradas, consequentemente, modificam o 
funcionamento de uma personalidade e de sua estrutura, e impactam 
no modo do sujeito existir. A seguir serão descritos os grupos de 
fenômenos e suas sintomatologias com as diferentes concepções 
associadas:
Anomalias na percepção
As alterações de percepção podem ser de alteração na intensidade 
de sensações, aumento (hiper) ou diminuição (hipo) da intensidade 
23
da percepção, ou ainda a ausência da percepção (agnosia), anestesia 
(perda da sensibilidade), alucinação negativa (ausência de registro 
sensorial), macropsia (aumento do objeto), micropsia (diminuição do 
objeto), dismegalopsia (distorção de objeto). Podem ocorrer nos delírios, 
intoxicações, psicoses agudas ou crises epiléticas; troca da qualidade nas 
sensações, por exemplo, as alterações de cores ou feições de pessoas; 
produção de sensações anormais concomitantes, associa uma sensação 
a um fato real (JASPERS, 2006, CHENIAUX, 2015).
Alguns autores associam as alterações da percepção a outras 
alterações de sensações, denominadas senso percepção. As qualidades 
sensoriais podem ser classificadas em exteroceptivas (visuais, auditivas, 
gustativas, olfativas, táteis); interoceptivas ou cenestésicas (fome, sede, 
sensibilidade visceral); e proprioceptivas ou cinestésicas, sensações 
corporais, equilíbrio, sensibilidade a pressão (CHENIAUX, 2015; SADOCK; 
SADOCK; RUIZ, 2017).
Jaspers (2006) destaca que podem ainda se manifestar por meio da 
estranheza (distorção do que se vê), divisão da percepção (dissociação 
do conteúdo) e produção de falsas percepções. Essas podem ser 
classificadas em ilusões (transformação da realidade), pareidolia 
(imagem criadas a partir de realidades externas e elementos de 
percepções sensoriais imprecisos, pode ocorrer de forma consciente ou 
inconsciente), alucinação (de forma clássica definida como percepção 
sem objeto, ou percepções corpóreas que se originam a partir de 
transformações internas, e ocorrem concomitantemente às percepções 
reais), segundo Cheniaux (2015).
As alucinações se dividem em:
• Alucinaçõesverdadeiras: que possuem uma imagem perceptiva 
real localizada no corpo e no espaço objetivo externo. Podem ser 
classificadas como visuais, auditivas, gustativas, olfativas, táteis 
24
ou cutâneas, sinestésicas (sensações viscerais) ou sinestésicas 
(movimento).
• Pseudoalucinações: são falsas alucinações, pois não têm uma 
correspondência ao corpo e espaço, o indivíduo tem a sensação de 
ouvir ou ver imagens internamente. Esse é um conceito um tanto 
quanto controverso, é descrito mais comumente relacionado à 
esquizofrenia.
Alucinoses: são alucinações que ocorrem em estados de consciência 
e lucidez preservadas, geralmente, aparecem associadas a quadros 
orgânicos, ou neurológicos, como a síndrome de Wernick.
Sinestesia: nesse caso, há uma troca da percepção sobre o receptor do 
estímulo e é possível, por exemplo, que o individuo relate ver a música, 
segundo Cheniaux (2015).
Alterações no nível de consciência
A consciência é relacionada ao nível de vigilância presente no indivíduo. 
Por sua etimologia, a palavra consciência, de origem grega syneidesis, 
significa uma ciência acompanhada de outra ciência, de acordo com 
Cheniaux (2015). Nas palavras de Jaspers (2006), é o conhecimento que o 
indivíduo tem sobre suas vivências, sejam do mundo externo ou do eu.
As alterações podem ocorrer na quantidade do nível de consciência, 
aumento (hipervigilância) ou por rebaixamento do nível de consciência 
(perda da clareza da consciência no qual a percepção do mundo se torna 
distorcida). O rebaixamento da consciência é constituído por uma perda 
da lucidez, que varia entre a lucidez e o coma, e está relacionado a um 
comprometimento do funcionamento cerebral, associado a quadros 
orgânicos, que afeta, principalmente, atenção, orientação, pensamento, 
inteligência, senso-percepção, memória, afeto e psicomotricidade, de 
acordo com Cheniaux (2015).
25
Podem ser considerados quadros de rebaixamento da consciência:
• Obnubilação simples: intensa sonolência, redução da atenção, 
desorientação no tempo e espaço, pensamento empobrecido, com 
o comprometimento de outras funções cognitivas.
• Obnubilação oniróide: se caracteriza pela presença de sintomas 
psicóticos, presença de ilusões e senso-pecepções.
• Coma: relativo à perda da consciência, sem sinal da visa psíquica.
• Estado onírico: estado de alteração de consciência muito próximo 
ao sonho, porém, com a consciência vigil. É um quadro relativo ao 
uso de substâncias psicoativas (JASPERS, 2006; SADOCK; SADOCK; 
RUIZ, 2017).
Do ponto de vista quantitativo, encontramos apenas a denominação 
do estreitamento da consciência, que é relativa a uma restrição da 
vida psíquica que ocorre por um bloqueio dos conteúdos, afetando 
a capacidade reflexiva do indivíduo. Pode ocorrer em quadros 
dissociativos, estados crepusculares, quadros de estresses agudos, entre 
outros, segundo Cheniaux (2015).
Atenção
A atenção foi classificada, por Jaspers (2006), como um estado de 
consciência. Já Cheniaux (2015), a define como a capacidade de dirigir 
o pensamento para um foco, que pode ser espontâneo (tenacidade) ou 
ativo (mobilidade). É possível dividir ainda em cinco tipos: seletiva (foco), 
vigilante e detecção de sinal (que correspondem a uma espera passiva), 
dividida (distribuída para vários estímulos), sondagem (busca por um 
estímulo).
Do ponto de vista quantitativo, são encontradas alterações relacionadas 
à redução da atenção (hipoprosexia ), ausência da atenção (aprosexia). 
26
Já qualitativamente, destaca-se a rigidez da atenção, que seria a 
dificuldade de modificar o foco da atenção (paraprosexia), comum em 
transtornos como o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), depressão, 
hipocondria; e inversamente a labilidade considerada a dificuldade de 
focar, também chamada distraibilidade, presente nos quadros de mania, 
intoxicação e TDAH, segundo Cheniaux (2015).
Memória
A memória se refere ao processo de conhecimento sobre o mundo, 
que se dá por meio de experiências (motoras e perceptivas) e vivências 
internas (pensamentos e emoções). A memória tem três processos 
fundamentais: fixação, evocação e conservação (CHENIAUX, 2015; 
JASPERS, 2006; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
As alterações quantitativas podem ser amnésia, hipominésia e 
hiperminésia. Também são encontradas divisões de acordo com 
o tempo de permanência da lembrança: anterógrada (fixação) e 
retrograda (evocação) e por extensão do conteúdo generalizado 
(comprometimento de grande parte da memória), lacunares (localizada 
no tempo e espaço), seletiva (sistematizada) com conteúdo amplamente 
afetivo, de acordo com Cheniaux (2015).
No caso da hiperminésia anterógrada, há o acúmulo de informações 
na memória comum em casos de autismo. Na retrógrada, há um 
excesso de recordação do conteúdo já armazenado que se manifesta 
em uma velocidade acima do normal, quadro comum em estados 
de terminalidade, conhecido como ecminésia. Já as lacunares, dizem 
respeito à memória de situações específicas, como nos quadros de 
pânico. A seletiva trata de foco num fato específico, segundo Cheniaux 
(2015).
Qualitativamente, as alterações são as alomnésias ou ilusão de memória, 
na qual ocorre a distorção das memórias bases. As paramnésias 
27
são consideradas como alucinação de memória (falsa lembrança), 
comum em quadros de esquizofrenia, delirium. Há ainda o Dé já vu (já 
visto) e o jamais vu (nunca visto), que ocorre mesmo na presença do 
objeto, quadros comuns em esquizofrenia e epilepsia. Pode ocorrer 
ainda a criptomnésia (falha ao recordar um fato passado) e ecmnésia 
(presentificação do passado), de acordo com Cheniaux (2015).
As alterações patológicas de memória possuem diferentes formas de 
classificação. Para Jaspers (2006), as alterações se dividem em amnésias 
(ausência de memória), distúrbios de capacidade de reprodução do 
cabedal mnêmico e da capacidade de fixação (distúrbios da capacidade 
de reprodução, ou fixação das memórias, ou simples desintegração 
de memórias, como no caso de alzheimer) e falsificação de memórias 
(confabulações).
Linguagem
A linguagem é o processo de intermediação entre o pensamento 
e o mundo externo, que se estabelece por meio da comunicação. 
Podem ocorrer alterações na fluência no ritmo, volume que podem 
se apresentar aumentado ou diminuído (CHENIAUX, 2015; SADOCK; 
SADOCK; RUIZ, 2017).
As alterações quantitativas psicopatológicas são as afasias 
caracterizadas pela ausência da capacidade de falar ou compreender 
a fala. Isso pode ocorrer por situações motoras (lesões orgânicas) ou 
sensoriais (condução do estímulo). Seguem se alterações relacionadas 
à escrita (agrafia) a leitura (alexia), compreensão da fala (aprosodia), 
inflexão verbal (hiperprosodia), o mutismo (ausência da fala), logorréia 
(aumento da fala), oligolalia (diminuição da expressão verbal), hiper ou 
hipofonia (aumento ou diminuição da voz), taqui e bradilalia (aumento 
ou diminuição da velocidade da fala) e latência aumento do tempo de 
resposta, segundo Cheniaux (2015).
28
A autora destaca ainda que, quantitativamente, as formas de repetição 
de palavras: ecolalia, palidalia, logoclonia, estenotipia verbal. Alterações 
na forma da voz, mumitação (voz sussurrada), neologismo (novos 
significados), jargonofasia (desorganização da linguagem), parafasia 
(troca um sentido por outro semelhante), solilóquio (falar sozinho), 
coprolalia (uso de palavras de baixo calão), grossolalia (língua 
ininteligível), maneirismo (fala rebuscada ou em terceira pessoa), 
pedolalia (voz infantilizada), pararesposta (fala sem nexo com o 
conteúdo em questão), e resposta aproximada (resposta errônea com 
nexo à conversa), de acordo com Cheniaux (2015).
Motricidade
A motricidade diz respeito aos movimentos realizados sob o impacto 
da subjetividade. Dessa forma, as atividades motoras decorrentes 
do aparelho motor são objeto de estudo da Neurologia, chamadas 
de motilidade, enquanto os decorrentes de alterações psíquicas, 
que alteram a funcionalidade do aparelho motor, são objetosda 
Psicopatologia, segundo Jaspers (2006).
A atividade motora pode aparecer lentificada ou agitada. Cheniuax 
(2015) destaca alterações quantitativas: as apraxias (incapacidade de 
realizar um movimento), hipocinesia e acinesia, hipercinesia. Outra 
divisão possível é a apresentada por Dalgalarrondo (2008), que associa 
as alterações de motricidade e as alterações de vontade, por entender 
que é um ato que passa pelo comando subjetivo. O autor divide as 
alterações em agitações psicomotoras e lentificação psicomotora.
A agitação psicomotora é uma das alterações mais comuns da 
psicomotricidade e pode ocorrer associada à hostilidade e agressividade. 
Por4 isso, muitas vezes, é encontrada nos serviços de urgência e 
emergência, nos quadros de psicose.
29
Pensamento
O pensamento é a relação subjetiva do sujeito com o meio. Pode 
ocorrer de diferentes maneiras: espontâneo, perseverativo (repetitivo), 
ruminativo (retorna num ponto fixo), evocado (quando estimulado), 
focado, difuso (atento a diversos estímulos). O processo de pensamento 
possui três fases: formulação do pensamento, organização e expressão. 
O pensamento normal segue uma linearidade, já nos processos 
anormais ocorrem alterações em diferentes etapas do pensamento. 
A seguir, serão listadas as alterações de pensamento e os processos 
decorrentes:
Figura1 – Representação gráfica das principais alterações do 
processo de pensamento e suas características 
 
 
Fuga de ideias 
 
Variação rápida de tema, 
porém, com pensamento 
linear.
 
Circunstancial
 
Prolixo, com detalhes 
irrelevantes. 
 
Tangencial
 
Distante do foco.
 
Frouxos
 
Sem conexões.
30
 
 
Perseveração
 
Foco específico, com 
dificuldade de mudar o 
assunto.
 
Bloqueio do Pensamento
 
Pensamento perturbado, vago, 
incompleto.
 
Neologismo
 
Conexões novas, inexistentes.
Fonte: adaptado de Cheniuax (2015); Sadock ,Sadock e Ruiz (2017).
O delírio, ora é apresentado na literatura como parte do pensamento, 
ora como parte do juízo de realidade. Contudo, por se tratar de um 
fenômeno complexo presente em quadros graves em Psicopatologia, 
ganha um caráter primário sendo observado mais atentamente.
Os delírios podem se tornar uma ideia fixa ou falsa sobre o objeto, isso 
porque se relaciona intimamente com valores e crenças do indivíduo, 
embora se traduzam em concepções irrealistas, sempre aparecem 
conectados a realidade, segundo Cheniuax (2015).
Os delírios se dividem em: delírios bizarros, que possuem conteúdos 
desorganizados; não bizarros, que podem ser de grandiosidade; 
somático (relativo ao corpo); e persecutório (mania de perseguição) 
(SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017). Também podem ser divididos em: 
primário (delírio típico, que ocorre na esquizofrenia); secundário (ideias 
delirantes que se originam de processos psíquicos comuns e que se 
distorcem ao longo da vivência, mais comuns em quadros depressivos); 
e ideia sobrevalorada (ideia errônea por superestimação afetiva). 
De acordo com a estrutura, podem ter a classificação de simples 
(monotemático) e complexos (pluritematizados); ou, ainda, sistematizado 
(com maior coerência entre as ideias, comum em transtorno paranoide) 
31
e não sistematizado (são fragmentados ou caóticos, não estabelece 
um raciocínio sobre o assunto). Quanto ao conteúdo, o delírio pode se 
dividir ainda em delírio paranoide (perseguição, referência, projeção 
e influência), de grandeza, místico e religioso, delírios de conteúdos 
depressivos, dentre outros menos comuns (DALGALARRONDO, 2008; 
JASPER, 2006).
Afeto
A afetividade é um termo amplo que compreende, segundo 
Dalgalarrondo (2008): humor (disposição afetiva de base do indivíduo); 
sentimentos (representações de conteúdos intelectuais e valores que 
geram estados afetivos mais estáveis); emoções (estado afetivo intenso 
de curta duração que atua como resposta a estímulos externos); afetos 
(qualidade de tônus afetivo que acompanha uma ideia ou representação 
mental); e paixões (estado emocional intenso que domina a vida 
psíquica, dirigindo a atenção para um foco específico).
Quanto à afetividade, podem ocorrer alterações de diferentes maneiras: 
do ponto de vista da qualidade das relações, ocorrem a disforia 
(sentimento de desagrado ou desconforto, insatisfação), eutimia 
(variação normal de humor, irritado). Dalgalrrondo (2008) acrescenta 
a distimia como alteração básica no estado de humor, tanto para 
a inibição quanto para a exaltação (não confundir com a distimia, 
transtorno depressivo), e acrescenta a euforia e a puerilidade (humor 
infantilizado) como alterações do humor.
Em relação à quantidade, pode apresentar alterações de diferentes 
intensidades: leve, moderado e grave. Também ocorrem alterações 
quanto a variação do afeto: plano (sem correspondência), normal e lábil 
(emoções instáveis de rápida mudança). Pode ainda ser classificado 
em adequado e inadequado, em relação ao meio; ou congruente e 
incongruente, em relação ao estado de humor. Os afetos também 
32
se relacionam com as alterações de linguagem e podem modular a 
apresentação destas, segundo Cheniuax (2015).
São alterações da modulação do afeto: a apatia (hiporreativo a 
estímulos); hipomodulação de afetos (baixa capacidade de adequar 
suas respostas ao mundo); inadequação de afetos (reação incongruente 
às situações de vida); pobreza de sentimento; embotamento afetivo 
(impossibilidade de expressar os sentimentos); anedonia (perda da 
capacidade de experimentar prazer); labilidade afetiva (mudanças 
súbitas de humor); ambivalência afetiva (divergência de sentimentos em 
relação a um objeto); e o medo. Este último pode se manifestar ainda 
na forma de fobia (medo de algo específico) ou de pânico (medo de algo 
subjetivo que dispara uma reação de alarme mesmo na ausência do 
objeto), segundo Dalgalarrondo (2008).
Orientação
A orientação é a relação do indivíduo com o meio, ou sua localização 
em relação a si mesmo e o ambiente. As atividades de orientação se 
relacionam com outras funções como atenção, percepção, memória, 
segundo Dalgalarrondo (2008). Pode ser observada enquanto orientação 
tempo e espaço, que auxiliam o paciente a se localizar na relação com 
os objetos do mundo externo. Distorções, nessa orientação, tornam 
a percepção dos objetos aumentada ou diminuída, que podem ser 
componentes de delírios. Da mesma maneira, na relação com o tempo, 
o estado psíquico pode produzir vivências anormais de tempo, como a 
precipitação ou lentidão do tempo, ou mesmo a perda da consciência de 
tempo, paralisação do tempo, e o extermínio do futuro, segundo Jaspers 
(2006).
Segundo Dalgalarrondo (2008), a desorientação ocorre primeiro em 
relação ao tempo, após o agravamento do caso, em relação ao espaço 
e, por fim, a desorientação em relação a si mesmo. Esta pode ocorrer 
por rebaixamento do nível de consciência, por déficit de memória, por 
33
demência, por déficit intelectual, por apatia extrema, por dissociação 
ou desorientação histérica, desorientação, por desagregação (casos de 
psicose crônica), e em relação a própria idade (divergência entre a idade 
atual e sua correspondência).
Vontade
São representações conscientes chamadas de atos volitivos. Possui 
quatro etapas: intenção, deliberação, decisão e execução. As alterações 
da vontade podem ser da ordem da inibição: hipobulia (diminuição 
da atividade volitiva), atos impulsivos (abole as fases de planejamento 
e executa a ação) e dos atos compulsivos, que, embora semelhante, 
o indivíduo está consciente de sua indesejabilidade. São exemplos: a 
automutilação, tricotilomania, piromania, impulso ou ato suicida entre 
outros. (DALGALARRONDO, 2008; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
Inteligência
A inteligência está relacionada à capacidade de resolução de problemas, 
de adaptação, análise ou síntese, de abstração e generalização, de 
julgamento e raciocínio e de utilizar o pensamento de forma produtiva. 
As alterações de inteligência têm uma relação direta com o rendimento. 
Quando ocorre abaixo do normal, é consideradoum déficit intelectivo 
(retardo mental), no alto rendimento estão as altas habilidades ou 
superdotação. A deterioração da inteligência ocorre em quadros 
de demência, delirium, e síndromes graves como a esquizofrenia e 
depressão maior, segundo Cheniuax (2015).
Consciência do Eu
A consciência do Eu também é conhecida como personalização, é o 
reconhecimento de si e da unidade de suas vivências pessoais, psíquicas, 
corpóreas, como algo integrado, e desejado pelo eu. Alterações na 
consciência do eu são apontadas por uma cisão na autopercepção, 
34
que causa uma estranheza sobre a origem dos sentimentos desejos, 
ações. Essas alterações podem ser da ordem do tempo, espaço ou da 
própria despersonalização (sentimento de perda do eu). Podem ocorrer 
alterações da imagem e do esquema corporal. Segundo Dalgalarrondo 
(2008), são exemplos dessas alterações: a astenia, cenestesia.
1.2 Implicações atuais
O estudo de terminologias é um campo vasto e complexo, que exige 
uma ampla pesquisa na bibliografia em saúde mental. Vários termos 
são utilizados com significados diferentes e classificados de formas 
diferentes, no contexto da Psicopatologia. É o caso dos delírios, por 
exemplo, que aparecem ora dentro das funções de pensamento, ora 
dentro de uma nova classe chamada juízo de realidade.
Como já destacado anteriormente, os fenômenos psíquicos se 
sobrepõem e também retroagem na qualidade das vivências psíquicas. 
Embora os manuais de psiquiatria, como CID 10 e DSM, tenham surgido 
para uniformizar a descrição de sintomas, as diferentes concepções em 
Psicopatologia destacam a importância de um conhecimento profundo 
para a elaboração de diagnóstico em saúde mental, o raciocínio clínico 
é ferramenta fundamental para conectar os diferentes sintomas à 
manifestação subjetiva dos indivíduos.
O DSM V, versão que foi amplamente criticada, traz uma série de 
mudanças em relação aos transtornos mentais, contudo, o bom 
conhecimento de Psicopatologia continua sendo referência para 
reconhecer o sofrimento mental, que existe por trás de cada quadro 
descrito, e o significado da sintomatologia apresentada (AMERICAN 
PSICHIATRIC ASSOCIATION–APA, 2015).
35
Assim, o estudo de terminologia permite não apenas reconhecer sinais 
e sintomas, mas compreender o impacto dessas na subjetividade de 
cada individuo. Aqui, estão listadas as principais terminologias, contudo, 
é necessário ampliar os estudos a respeito dos principais transtornos 
mentais, a fim de entender a complexidade desses fenômenos na 
prática clínica.
Referências Bibliográficas
AMERICAN PSICHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico de 
transtornos mentais DSM V. Porto Alegre, RS: Artmed, 5. ed., 2014.
CHENIAUX, Elie. Psicopatologia questões gerais. In: Manual de Psicopatologia. Rio 
de Janeiro: Guanabara Koogan, 5. ed., cap. 1, p. 18- 21, 2015.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 
Porto Alegre, RS: Artmed Editora, 2. ed., v. 1, p. 23-45, 2008.
JASPERS, Karl. Psicopatologia Geral. São Paulo, SP: Editora Atheneu, v.1, 8. ed., 
2006.
SADOCK, Benjamin; SADOCK, Virgínia A.; RUIZ, Pedro. Compêndio de Psiquiatria: 
ciência do comportamento e Psiquiatria clínica. Trad. Marcelo de Abreu Almeida. 11. 
ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2017.
36
Contribuições da Psicanálise a 
Psicopatologia
Autoria: Carla Priscila da Silva Pereira
Leitura crítica: Fernanda Pâmela Machado
Objetivos
• Associar os conceitos fundamentais da teoria 
psicanalítica.
• Correlacionar a psicanálise como teoria 
psicopatológica.
• Reconhecer a aplicabilidade das terminologias em 
Psicopatologia.
37
1. Introdução
A Psicanálise e a Psicopatologia descritiva
Para compreender as contribuições da Psicanálise e da Psiquiatria, 
é necessário localizar em que contexto há o encontro entre as duas 
vertentes. Para tanto, é necessário resgatar o contexto histórico da 
doença mental no qual surge o encontro dessas áreas científicas.
O conceito de transtorno mental surge no século XVII, mas é no século 
XIX que a medicina, e mais especificamente a Psiquiatria e Neurologia, 
ganha projeção enquanto área do conhecimento. Ao longo do século 
XIX, surgem os grandes hospitais e também os grandes manicômios, que 
vão se estabelecer como forma de cuidado em saúde mental.
Os trabalhos de psicopatologia descritiva também se iniciam no 
início do século XIX e, nesse mesmo tempo, os trabalhos da área 
de Neurologia ganham força. Os trabalhos em Psicopatologia, que 
vinham corroborando com a medicina até este período, passam a 
sofrer influência em primeiro lugar da fenomenologia, que vai se 
ocupar da descrição sistemática dos fenômenos psíquicos anormais, 
mas acrescentando a abordagem do sujeito integral à medicina. Isso 
posteriormente da Psicanálise, que vai se ocupar de uma psicopatologia 
dinâmica, que é ao mesmo tempo exploratória, compreensiva 
e interpretativa, e que postula a historicidade do corpo. Freud 
compreendia a Psicanálise como uma derivação das neurociências, 
contudo, ao invés de buscar causas, tanto quanto os fenomenologistas, 
buscou os significados das doenças mentais, segundo Meleiro (2018).
Ao longo deste material, você estudará as relações entre Psicanálise e 
Psicopatologia. As contribuições de Freud com este novo modelo e a 
Psicopatologia psicanalítica. Ao final, encontrará uma discussão sobre a 
Psicopatologia psicanalítica no contexto atual.
38
2. Freud e a Psicanálise
Freud foi médico neurologista, neurocientista, neuropatologista e 
fundador da psicanálise, realizou sua formação em Viena, especializou-
se na França em neurologia. Suas bases teóricas estão na escola 
francesa de neurologia, corrente que se interessava pela clínica e 
comportamento dos doentes. Posteriormente retornou a Viena onde 
desenvolveu seus estudos em sobre as histéricas e desenvolveu a teoria 
psicanalítica (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
Figura 1–Selo Áustria Sigmund Freud
Fonte: TonyBaggett. iStock.com
O início da Psicanálise tem sua etiologia nos estudos da Neurologia, 
desenvolvidos por Charcot e Breuer, que conduziam pesquisas sobre 
histeria. Localizavam no indivíduo a doença, negando qualquer forma de 
sofrimento psíquico, diziam que podiam retirar o sintoma por meio da 
hipnose (DALGALARRONDO, 2008; MORAES; MACEDO, 2018).
Freud faz uma ruptura com o modelo médico vigente, que separava 
o normal do patológico, ao abandonar a hipnose como método de 
about:blank
39
tratamento por reconhecer que o alívio dos sintomas era transitório. Ao 
implementar o conceito e inconscientemente negar a intencionalidade 
da produção de sintomas, abre discussão para a produção das neuroses 
de angústia e obsessiva, que vão dar explicações sobre a histeria de 
conversão (MOREIRA; OLIVEIRA, 2017). 
 
A principal diferenciação entre a Psicopatologia geral e a Psicopatologia 
dinâmica está na observação do fenômeno. Enquanto a Psicopatologia 
descritiva tem uma observação objetiva, a Psicanálise faz uma 
observação subjetiva, isso porque, para Freud, os sintomas são meios de 
expressão de conflitos advindos do inconsciente. Desse modo, o sintoma 
evidencia algo significativo na história de vida do sujeito que, por meio 
da escuta, pode favorecer a cura para o sofrimento psíquico.
Enquanto o diagnóstico médico determina a etiologia da doença 
por meio de uma análise semiológica, depois classifica o sintoma 
para localizar a patologia numa nosografia (descrição de doenças). O 
diagnóstico psicopatológico, em Psicanálise, não possui uma lógica na 
sua constituição, isso porque um sintoma pode ter várias possibilidades 
de interpretação. Dessa maneira, é necessário conhecer a dinâmica do 
sujeito para uma análise de sua subjetivação que prioriza a autonomia e 
liberdade (MORAES; MACEDO, 2018).
Para a Psicanálise a Psicopatologia, é equivalente a um sofrimento 
psíquico que traz verdades sobre o sujeito interno. São essas verdades 
que trazem o desequilíbrio psíquico, a sintomatologia e, por fim, a 
manifestação psicopatológica.Freud estrutura então uma corrente 
psicológica em oposição às correntes de seu tempo, que define a 
descrição dos processos psíquicos considerando-os de forma dinâmica, 
estruturada e econômica. Esta última concepção está atrelada ao fato 
de que, para Freud, a produção psicopatológica também é dada pela 
cultura de uma sociedade (MORAES; MACEDO, 2018).
40
Assim, Freud funda a teoria psicanalítica calcada em três pilares: 
o inconsciente, o método de escuta e uma proposição teórica que 
fundamenta sua prática. A partir desses achados, Freud contribuía 
para a composição de uma Psicopatologia psicanalítica e apresentava 
conceitos-chaves, como as histerias conversivas e fóbicas, neuroses 
obsessivas e de ansiedade, psicoses, perversões e quadros 
psicossomáticos (MORAES; MACEDO, 2018; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 
2017).
 
2.1 A Teoria Psicanalística - 1ª tópica modelo topográfico 
da mente 
 
A principal contribuição de Freud foi a descoberta do inconsciente, por 
meio dos estudos de histeria. A princípio, com os recursos da hipnose, 
percebeu que parte dos conteúdos subjetivos não eram reconhecidos 
pelas pessoas e a este conteúdo nomeou de inconsciente (BOOK; 
TEIXEIRA; FURTADO, 2011).
A obra inaugural da Psicanálise foi o livro A interpretação dos Sonhos, 
de 1900, no qual apresenta o conteúdo do sonho como um objeto do 
inconsciente que não pode ser acessado em vigília. Dessa maneira, 
postula que existiam três níveis psíquicos: o consciente, o pré-consciente 
e o inconsciente. Além disso, existiam barreiras que impediam a 
transferência desses níveis de atenção. Esse foi o primeiro tópico do 
postulado de Freud (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
O trecho acima descrito retrata o modelo topográfico da mente, o 
sistema consciente seria composto por informações advindas do mudo 
externo, que se manifesta por meio da linguagem e do comportamento. 
Freud associava a manifestação desses conteúdos por meio de uma 
descarga de energia chamada de catexia de atenção, relacionada 
à intencionalidade do sujeito. Já o pré-consciente é um sistema de 
informações que permanecem armazenadas e que só é evocado à 
41
consciência por meio de certo nível de atenção. O inconsciente, ao 
contrário dos demais, tem seu conteúdo inacessível pela consciência 
por meio da repressão que são relacionadas a forças denominadas por 
Freud de pulsões (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
Esse modelo topográfico é, muitas vezes, representado pela literatura 
como um iceberg. A ponta que vemos seria apenas o conteúdo 
consciente, no limiar da água está o pré-consciente e abaixo dela, todo o 
conteúdo inconsciente.
Figura 2 – Iceberg
Fonte: Malekas85. iStock.com.
Dessa forma, o sistema inconsciente seria a instância psíquica onde 
ocorrem os processos primários do pensamento, que é conduzido por 
instintos. Por essa característica é também importante considerar que 
o inconsciente não tem relação temporal, nem conexões com a lógica, 
o que permite construções muito diversificadas e contraditórias ao 
mesmo tempo. Nele, estariam as sensações, fragmentos de percepções 
e lembranças que foram reprimidas e que se manifestam por meio de 
subprodutos do consciente chamados sonhos, atos falhos, ou sintomas 
neuróticos. Já o pré-consciente, é composto de representações, ideias, 
sentimentos, que podem ser recuperados por esforço voluntário.
42
Dalgalarrondo (2008) ressalta ainda que, para Freud, o inconsciente não 
é simplesmente uma instância psíquica, mas, ao contrário, é a estrutura 
mais importante do funcionamento psíquico. Isso porque é regido por 
forças chamadas princípio do prazer, ou seja, não segue uma ordem da 
realidade, ao contrário, busca equilibrar as tensões psíquicas ignorando 
as regras sociais ou éticas.
Se pudéssemos representar o funcionamento psíquico, poderíamos 
pensar como uma balança onde cada prato corresponde ao prazer 
e desprazer, o funcionamento positivo está em manter equilibradas 
as tensões (pesos da balança) para manter a dinâmica de prazer e 
desprazer equilibrados. Esse mecanismo se dá por meio de processos 
primários chamados de condensação e deslocamento.
Assim, no conteúdo do sonho, é possível encontrar o resumo de 
vivências diárias, fragmentos de sensações e sentimentos, e impulsos 
reprimidos e, por isso, a representação do sonho pode favorecer uma 
gratificação parcial, quando tenta resolver os conflitos vivenciados, 
tanto na realidade externa quanto na realidade interna. O mecanismo 
de condensação é descrito por Sadock, Sadock e Ruiz (2017) como o 
mecanismo que reúne diversos sentimentos, impulsos e desejos do 
inconsciente combinados numa única imagem no conteúdo manifesto 
do sonho.
Freud dividiu o conteúdo dos sonhos em dois: manifesto e latente, 
o primeiro corresponde ao conteúdo passível de ser lembrado ou 
acessado pelo consciente; e o latente seria o conteúdo que vem implícito 
no conteúdo do sonho, mas que não pode ser lembrado claramente. 
O trabalho da análise seria desvendar este conteúdo latente (SADOCK; 
SADOCK; RUIZ, 2017).
Já o processo de deslocamento, corresponderia ao deslocamento da 
transferência de uma quantidade de energia de um objeto para uma 
representação simbólica de um objeto. Isso permite que o objeto possa 
43
ser aceito na representação inconsciente e encontre uma vazão para os 
desejos inconscientes, gerando certa gratificação. Esse achado trouxe 
à luz a representação simbólica que ocorre nos fenômenos psíquicos e 
que pode ser compreendido por meio das associações livres, o que deu 
origem ao processo terapêutico em Psicanálise (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 
2017).
2.2 Teoria dos instintos
Em 1913, Freud escreve sua segunda tópica psicanalítica por ter 
percebido dois déficits teóricos importantes: os mecanismos de 
defesa (tensões que limitavam o controle de acesso dos conteúdos do 
inconsciente) não estavam acessíveis à consciência, e alguns indivíduos 
apresentavam um desejo de punição inconsciente e, por isso, este 
não poderia ser considerado um mecanismo do pré-consciente ou 
consciente, como revelado anteriormente. Assim, em 1905, Freud 
formula o segundo tópico que vai tratar da teoria dos instintos e pulsões 
(SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
Para Freud, os instintos teriam quatro bases de seu funcionamento: a 
fonte (parte do corpo de onde vem o instinto), ímpeto (quantidade de 
energia contida), objetivo (ação de liberação da tensão) e objeto (alvo 
da ação). Assim, temos a libido (instinto sexual e sua manifestação, que 
não é originalmente genital, mas culmina neste), que dá origem na teoria 
do desenvolvimento psicossexual; instinto de autopreservação (que 
estaria ligado a regulação de outros instintos não sexuais); e os instintos 
agressivos (de destruição) (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
Anteriormente a esta teoria, em 1920, Freud postulou, na teoria dos 
instintos de vida e de morte (Eros e Tanatos), que eram consideradas 
forças instintivas subjacentes aos instintos sexuais e de agressividade, 
contudo, ao longo dos estudos, abandonou as questões relativas ao 
impulso de morte por não encontrar representatividade neste último e 
44
considerar que o instinto de agressividade era suficiente para justificar 
os atos destrutivos (DALGALARRONDO, 2008; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 
2017).
2.3 Teoria estrutural da mente – 2ª tópica
A teoria estrutural do aparelho psíquico supõe a divisão do aparelho 
psíquico em sistemas com características e funções diferentes. Freud 
sugere a existência de uma estrutura tripartite: Id, Ego, Superego, 
que contém partes conscientes, pré-conscientes e inconscientes, 
funcionando como qualidade do funcionamento psíquico.
O Id seria a sede das pulsões, dos instintos desorganizados, das 
tensões a serem descarregadas e, por isso, reconhecida como sede 
dos processos primários. O Ego teria porção consciente, pré-consciente 
e inconsciente, percepção da realidade e regulação da procedência 
dos impulsos. Sede dos pensamentos lógicos e abstratos regula as 
pulsões, testa e adia o prazer, estabelece relações objetaise relações 
satisfatórias, por meio da elaboração das defesas derivadas das 
angústias. O superego seria a consciência moral onde habitam regras 
e valores, estrutura-se por volta dos cinco a seis anos ao término do 
complexo de Édipo, no qual o sujeito internaliza regras e restrições. No 
superego, também existe uma porção consciente chamada de ideal de 
ego, que está relacionada à ideia de como o sujeito deve ser, segundo 
Dalgalarrondo (2008).
Este modelo corresponde ao modelo psicodinâmico, no qual a interação 
das forças psíquicas, pulsões e a inter-relação das estruturas da mente 
implicam no desenvolvimento normal ou anormal do indivíduo, de 
acordo com Whitbourne (2015).
45
2.4 Desenvolvimento psicossexual infantil
Em 1905, Freud propôs uma sequência normal para o desenvolvimento 
psicoafetivo ao longo da vida, que chamou de estágios de 
desenvolvimento psicossexual (HALGIN; STRAUBS, 2017). A teoria do 
desenvolvimento psicossexual infantil tem origem na observação das 
relações das crianças com seus pais (figuras maternas e paternas, 
pessoas significativas no ambiente) nos primeiros anos de vida. Isso 
porque a consciência do mundo externo se inicia de forma gradual no 
bebê e na satisfação de suas necessidades básicas (SADOCK; SADOCK; 
RUIZ, 2017).
É necessário destacar, aqui, o que é sexualidade para a teoria 
psicanalítica, a fim de se possa compreender os quadros 
psicopatológicos que serão descritos a seguir. A sexualidade 
corresponde a uma manifestação secundária a necessidade de 
preservação que não necessita de saciação imediata, está ligada a 
carinho, afeto, qualidade dos relacionamentos, significações, pouco 
relacionada à sexualidade adulta, genital, segundo Kusnetzoff (1982).
A saciação das necessidades básicas, e os instintos a elas 
correspondentes, Freud chamaram de instinto de autoconservação, e as 
sensações que derivaram desta experiência, instintos sexuais (energia 
excedente não satisfeita), tentativa de aliviar a tensão ou remover 
estímulos dolorosos sem um objeto específico (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 
2017).
Assim, a partir das observações de bebês, Freud observou que a energia 
libidinal está concentrada em uma zona de gratificação, que se inicia 
não por gratificações sexuais, mas por sensações corporais com a 
amamentação, portanto, inicia na região oral e desta se deriva para 
outras regiões do corpo.
46
O quadro a seguir condensa as informações sobre o desenvolvimento 
psicossexual infantil:
Quadro 1 – Estágios de desenvolvimento psicossexual infantil 
 
Estágio oral 
(0-18 meses)
 
Os impulsos orais consistem em dois libidinais e 
agressivos, ligados a necessidade de relaxamento 
ao final da amamentação. O objetivo desta fase é 
estabelecer relação de dependência e confiança. 
Gratificações ou punições exessivas, nesta fase, 
podem resultar em traços patológicos, como 
otimismo excessivo, narcisismo, pessimismo (traços 
depressivos), alto nível de exigências. Pessoas com 
traços de caráter oral costumam ser dependentes e 
necessidades narcisistas. A boa resolução se traduz 
na capacidade de dar e receber sem dependência 
inveja, estabelecer vínculos de confiança.
 
Estágio anal 
(1- 3 anos)
 
Caracteriza-se pelo controle de esfincter anal, 
controle de retenção e expulsão das fezes, 
relacionada a mudança da passividade para 
a atividade, e percepção de controle das 
ações. Conflito de separação, individuação 
e independência. A resolução bem-sucedida 
implica na autonomia, independência, sem culpa 
e autodeterminação. Traços de caráter mau 
adaptativos resultam em organização, obstinação 
e teimosia. Quando as defesas falham, surge 
maior ambivalência, falta de asseio e desordem. 
As defesas anais são mais presentes em neuroses 
obssessivas compulsivas.
47
 
Estágio fálico 
(3-5 anos)
 
Concentra os interesses, estímulos, excitação nos 
genitais. O pênis é o órgão de maior interesse, 
para a menina sinônimo de castração. Aparecem 
fantasias com o genitor do sexo oposto. Surge a 
ansiedade e ameaça da castração como resultantes 
da masturbação e conflito edipico. Forma as bases 
para a identidade de gênero e integra os demais 
estágios anteriores. O conflito edipico possibilitas 
as identificações posteriores e organização do 
caráter, enquanto os demais estágios contribuem 
para toda a formação neurótica e resolução 
edipica. A boa resolução implica no senso de 
identidade sexual, ausência de culpa, bom domínio 
de relações externas e internas (controle de 
impulsos).
 
Estágio de latência 
(5-6 anos até 11 -13 anos)
 
Configura-se pelo amadureciento das funções 
do ego, consolidação do superego, portanto, 
maior controle dos instintos. Fase de maior 
sublimação das energias libidinais em atividades 
de sociabilidade e aprendizagem do mundo 
externo. É uma fase importante de consolidações 
e adições pós-edipicas, estabelecendo padrões 
do funcionamento adaptativo. Capacidade de 
internalizar conceitos e objetos que possibilitam 
o desenvolvimento autônomo, e de resolução 
satisfatória de conflitos. Uma resolução de 
conflitos para dar, pode ocasionar o excesso ou a 
falta de controle interno podendo ocasionar uma 
imaturidade da formação da personalidade ou nos 
excessos de controle uma rigidez característica dos 
transtornos obssessivos.
48
Estágio genital (13 ano até a 
vida adulta)
 
 
Equivale ao período de adolescência, por isso, 
se caracteriza pelas transformações fiológicas 
do amadurecimento genitosexual, com 
intensificação dos impulsos libidinais. Ocorre uma 
desorganização da personalidade, permitindo que 
conflitos anteriores seja atualizados, ocorrendo 
uma segunda individuação. Ocorre a separação 
definitiva dos pais, fim do apego, senso de 
identidade, aceitação pessoal e integração de 
papéis e valores sócio-culturais relativos a vida 
adulta, resultando em uma personalidade madura, 
consistente e integrado ao self, que permite a 
autorrealização. A má resolução deste estágio 
resulta em transtornos de personalidade e de 
identidade.
Fonte: adaptado de Sadock, Sadock, Ruiz (2017).
 
O desenvolvimento afetivo emocional foi descrito por Freud, a fim de 
demonstrar o dinamismo do psiquismo. A associação deste com o corpo 
(zonas erógenas) e com os objetos da realidade externa, vão desde o 
autoerotismo até o erotismo relacional, que é atribuído à sexualidade 
da vida adulta. Esse caminho leva a organização da personalidade, a 
persistência ou acentuação de uma fase, admite uma característica 
patológica que enrijece a personalidade e se manifesta por meio de um 
sintoma (FORLENZA; MIGUEL, 2015).
Os sintomas são formas de comunicar o sofrimento mental, que é fruto 
de uma representação do inconsciente e que revela os mecanismos 
de defesa e resistências atuantes. O sintoma é o sinalizador da 
patologia, que é o resultado da fixação do indivíduo em um estágio do 
desenvolvimento, no qual o dinamismo é perdido, restrito e a energia 
libidinal contraditória (vida e morte), se fixa num único modo de ver, 
perceber e sentir o mundo (FORLENZA; MIGUEL, 2015).
49
A patologia, segundo Freud, se instala devido ao modo como o indivíduo 
se relaciona com o objeto, atribuída a três grandes processos: Neurose, 
Psicose e Perversão.
• Neurose: condição de organização psíquica e de desenvolvimento 
da personalidade que se desenvolveu e permite manter o contato 
com a realidade externa. Os conflitos ativam mecanismos de 
defesa menos primitivos.
• Psicose: se caracteriza pela dificuldade de manter o contato com 
a realidade externa, se utiliza de mecanismos de defesas mais 
primitivos, num funcionamento de personalidade pobre em 
autonomia, fragilizado, com baixa tolerância à frustração e alta 
sensibilidade emocional.
• Perversão: a organização psíquica é suficiente para manter o 
contato com a realidade, porém, há uma distorção das relações 
com os objetos, ou na vivência com o outro que passa a ser 
submetido à sua vontade. Há problemas com normas e regras e no 
reconhecimento do outro. Falta angústia, culpa e dúvidas,segundo 
Whitbourne (2015).
A Psicanálise entende a Psicopatologia a partir dos conflitos que se 
estabelecem entre o inconsciente e o consciente do sujeito. Por essa 
razão, é chamado de Psicopatologia psicanalítica, a variação ou o grau 
desse conflito indica o tipo de psicopatologia que se estabelece. A 
subjetivação do sujeito responde ao meio familiar e social em que ele se 
constitui, bem como a implicação cultural de sua época.
Na atualidade, mesmo com os avanços das neurociências, alguns 
conceitos psicanalíticos são ainda o pano de fundo de se pensar os 
transtornos mentais. O inconsciente, por exemplo, continua sendo visto 
como a sede de muitas informações não acessadas. Do ponto de vista 
das neurociências, poder se dizer que há muita atividade cerebral ainda 
não identificada. Além disso, o conceito de transferência, trabalhado por 
50
Freud na relação paciente-terapeuta, ainda é um contexto importante no 
trabalho terapêutico (FORLENZA; MIGUEL, 2015).
Referências Bibliográficas
BOOK; Ana Maria Merces; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T.; FURTADO, Odair. 
Psicologia Fácil. São Paulo, SP: Saraiva, 2011.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos Mentais. 
2. ed. Porto Alegre, RS: Artemed, v. 1, 2008.
FORLENZA, Orestes Vicente; MIGUEL, Euripides Constantino. Compêndio de 
Psiquiatria. Barueri: Manole, 2015.
KUSNETZOFF, Juan Carlos. Introdução à psicopatologia psicanalítica. 5.ed. Rio de 
Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1982
MELEIRO, Alexandrina Maria Augusto da Silva Psiquiatria: Estudos Fundamentais 
1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Disponível em: https://integrada.
minhabiblioteca.com.br/books/9788527734455. Acesso em 05 fev. 2020.
MORAES, Fernanda Cesa Ferreira da Silva; MACEDO, Mônica Medeiros Kother. A 
noção de Psicopatologia: desdobramentos em um campo de heterogeneidades. 
Agora (RJ), Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 83-93, 2018.   Disponível em: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982018000100083&lng=en&nr
m=iso. Acesso em: 26 abr. 2020. 
SADOCK, Benjamin; SADOCK, Virginia; RUIZ, Pedro. Compêndio de Psiquiatria: 
ciência do comportamento e Psiquiatria. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
WHITBOURNE, Susan. Krauss. Psicopatologia: perspectivas clínicas dos transtornos 
psicológicos. 7. ed. Porto Alegre, RS: AMGH, 2015.
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51
Sistemas de Classificação 
Diagnóstica (DSM e CID)
Autoria: Carla Priscila da Silva Pereira.
Leitura crítica: Fernanda Pâmela Machado.
Objetivos
• Conhecer o percurso histórico das classificações 
diagnósticas.
• Identificar os principais manuais de classificação 
diagnóstica.
• Conhecer a estruturação dos manuais diagnósticos.
• Reconhecer a aplicabilidade dos critérios 
diagnósticos em Psiquiatria.
52
1. Introdução
Ao longo da história da Psiquiatria, existiram mudanças significativas 
na compreensão dos fenômenos psíquicos influenciados por 
diversas correntes, teorias e novas compreensões dos mecanismos 
biopsicossociais envolvidos nos transtornos mentais.
Há uma proposição controversa quanto a esta realidade relacionada 
ao fato de que, nos últimos cinquenta anos, embora sejam apontadas 
evoluções na Psiquiatria ao longo da história, avanços da Neurociência 
contribuíram para a compreensão dos neurotransmissores envolvidos 
nos transtornos mentais. A indústria farmacêutica, aliada a essas 
descobertas, produziu medicamentos cada vez mais eficazes para 
o controle dos sintomas. Além disso, pesquisas de incidência dos 
transtornos mentais, nos últimos cinquenta anos, apontam para 
um aumento considerável deste, o que já sugere uma epidemia de 
transtornos mentais no século XXI.
Dessa maneira, é um desafio para os profissionais de saúde mental 
refletir tanto sobre os caminhos da prática clínica, quanto o impacto do 
diagnóstico na vida dos indivíduos acometidos por transtornos mentais.
2. Classificação diagnóstica
A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo critérios 
estabelecidos pelo Código Internacional de Doenças (CID – 10), manual 
diagnóstico, é de que a prevalência de transtornos mentais ao longo da 
vida ocorra em 45,9% das pessoas, sendo que, por ano, a estimativa é de 
26,8%. A população brasileira, em 2016, era de aproximadamente 200 
milhões de habitantes. Segundo Humes, Vieira e Fráguas Junior (2016), 
estimava-se que cerca de 91 milhões destes seriam portadores de 
transtornos mentais, cerca de 53 milhões acometidos em um ano.
53
Essa alta prevalência chama atenção dos estudiosos da área. Caponi 
e Martinhago (2019) falam de uma epidemia de transtornos mentais. 
Alguns fatores são apontados como controversos: evolução da 
Psiquiatria, avanço das neurociências, crescimento da indústria 
farmacêutica e, ao mesmo tempo, o aumento da prevalência de 
transtornos mentais no mundo. Será que há um verdadeiro aumento 
dos transtornos mentais, uma hipervalorização dos sintomas, uma 
patologização da vida? Para compreendermos este fenômeno, é 
importante compreender a trajetória da classificação diagnóstica ao 
longo da história e refletir a quem serve a Psicopatologia clínica.
A Psiquiatria, desde o início de sua história, realiza classificação de 
patologias. A história da loucura atravessa a historia da civilização. No 
período escolástico, a presença de sintomas, como a alucinação, era 
correspondente à graça (divindade) ou ausência de graça (fruto do 
pecado). Na Grécia antiga, os quadros alucinatórios foram considerados, 
por grandes pensadores como Sócrates e Platão, como certo privilégio, 
uma loucura divina. Hipócrates foi quem se aproximou do modelo 
contemporâneo, propondo o modelo organicista da loucura, atribuindo 
a um desarranjo do cérebro os transtornos mentais. Na Idade Média, o 
retorno aos fatores externos e espirituais, os transtornos mentais, eram 
vistos como possessão demoníaca. Somente no pós-guerra, o modelo 
hospitalocêntrico ganhou projeção e impulsionou a Psiquiatria como 
classe médica (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
Assim, a Psicopatologia do século XVIII foi utilizada para validar a prática 
da Psiquiatria, que não possuía grande prestígio na medicina. Contudo, 
um problema impactante eram as divergências dentro das correntes 
psicopatológicas, que dificultavam esta validação por serem insipientes 
até mesmo quanto a nomenclatura dos transtornos mentais (BRAGA; 
FONSECA, 2018). 
 
A doença psiquiátrica, desde a Grécia antiga, tendeu a normatização, 
ou seja, levar os indivíduos para próximo da norma (DEMÉTRIO; 
54
FERNANDES, 2018). Até o século XVIII, os quadros mentais eram 
descritos como categorias homogêneas, ou seja, por meio de 
características presentes em todos os quadros. Somente ao final do 
século XIX, Kahlbaum e Kraepelin estabeleceram critérios clínicos, que 
correspondem a apresentação psicopatológica da doença e sua evolução 
clínica (WANG; ANDRADE, 2015). Kraepelin foi considerado o fundador 
da Psiquiatria moderna, e reconhecido por sua contribuição histórica 
quanto à nosologia dos transtornos mentais (DEMÉTRIO; FERNANDES, 
2018).
 
Figura 1 – Fotografia de Emil Kraepelin, fundador da Psiquiatria 
moderna
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5d/E._Kraepelin_flipped.
jpg/200px-E._Kraepelin_flipped.jpg. Acesso em: 26 abr. 2020.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5d/E._Kraepelin_flipped.jpg/200px-E._Kraepelin_flipped.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5d/E._Kraepelin_flipped.jpg/200px-E._Kraepelin_flipped.jpg
55
3. Trajetória das classificações diagnósticas
A trajetória das classificações diagnósticas, em Psiquiatria, mostra um 
movimento de coesão e rupturas dentre as diferentes correntes na 
compreensão dos transtornos mentais, que se inicia ao longo do século 
XIX até o século XXI (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
A primeira metade do século XIX foi marcada por novas formas de 
compreender as doenças mentais. Os sintomas eram reconhecidos 
como diferentes dos comportamentos, ou pela produção de uma 
atitudealterada pela doença. Já na segunda metade do século XIX, 
surge o interesse pelas estratégias de intervenção mais eficazes, assim, 
a classificação das doenças se diferenciava por sua sintomatologia e 
etiologia na busca pelo tratamento mais adequado. Entretanto, é no 
final do século XIX que os trabalhos conduzidos por Emil Kraepelin 
em Psicopatologia descritiva, fundamentado na nosologia, reconhece 
diferentes modos de sofrimento mental por meio da análise clínica, o 
que resultou em oito edições de manuais de Psiquiatria, que tinham por 
objetivo a formação de profissionais (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
A construção dos manuais teve a pretensão de criar uma linguagem 
universal sobre as patologias mentais, para tanto, a construção destes 
se valeu de ferramentas da estatística para organizar as classificações 
dos transtornos mentais, como os índices de confiabilidade (capacidade 
de um mesmo diagnóstico ser reproduzido por diferentes avaliadores) 
que são utilizados para validar as classificações encontradas (DEMÉTRIO; 
FERNANDES, 2018).
O primeiro manual, datado de 1840, nos Estados Unidos da América 
(EUA), foi organizado a partir de um censo que resultou numa 
classificação estatística por distribuição de frequência dos transtornos 
mentais. Na ocasião, eram destacadas duas classes diagnósticas: idiotia 
56
e insanidade (ARAUJO; LOTUFO NETO, 2014; CAPONI; MARTINHAGO, 
2019).
Em 1880, uma nova classificação diagnóstica é lançada com sete 
categorias: melancolia, mania, monomania, paresia, demência, 
alcoolismo e epilepsia. Este manual também teve como foco a 
organização das internações psiquiátricas. Em 1918, um novo manual 
estatístico é lançado com vistas à institucionalização de insanos, 
contendo vinte e duas categorias, dentre elas: psicose, melancolia, 
demência precoce, paranoia, psiconeuroses e neuroses (CAPONI; 
MARTINHAGO, 2019).
É importante destacar que, no período entre 1900 e 1950, há a expansão 
do trabalho psicanalítico de Freud, que vai fundamentar a classificação 
norte-americana de transtornos mentais, acrescido dos conceitos de 
personalidade e estrutura psicodinâmica. Além disso, influencia o 
modelo classificatório com vistas ao sofrimento psíquico, e instaura a 
escuta clínica como modelo de cuidado (CAPONI; MARTINHAGO, 2019; 
TRAJANO; BERNARDES; ZURBA, 2018).
A construção dos manuais, além das questões de validade científica 
para a Psiquiatria, foi influenciada por questões políticas. A revisão 
de classificações e formulação dos manuais, de 1918 e 1947, tiveram 
como cenário de fundo o número de pessoas internadas nos EUA 
que oneravam os cofres públicos (BRAGA; FONSECA, 2018). Em 1948, 
a Organização Mundial da Saúde (OMS) publica a sexta edição do 
Classificação Internacional de Doenças e problemas relacionados a 
saúde (CID), que traz, pela primeira vez, a classificação de transtornos 
mentais (ARAUJO; LOTUFO NETO, 2014).
Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric 
Association–APA), o primeiro Manual Diagnóstico e Estatístico de 
Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disordens 
– DSM I), com cento e seis categorias, apresentou uma padronização 
57
nas categorias de doenças e um consenso para o uso das terminologias. 
Sob forte influência psicanalítica, traz caracteres da psicodinâmica, a 
oposição de neurose (ansiedade e depressão) e psicose (caracterizada 
pela presença dos sintomas de alucinação e delírio e perda da conexão 
com a realidade. Traz como principal diferenciação, da visão proposta 
anteriormente por Kraepelin e Meyer, a ideia de patologia associada a 
reação do indivíduo frente sua história de vida e dá uma característica 
de aplicação clínica à classificação diagnóstica (ARAUJO; LOTUFO NETO, 
2014; CAPONI; MARTINHAGO, 2019; DEMÉTRIO; FERNANDES, 2018).
A quebra do paradigma de classificação, adotado até o momento, fez 
surgir uma série de contradições teóricas que impactaram na revisão e 
reformulação do manual. Em 1968, a APA publica o DSM II com cento e 
oitenta e duas categorias de classificação dos transtornos mentais, que 
traz algumas mudanças consideráveis. A primeira delas foi a retirada 
do termo reação, que havia causado um impacto na comunidade 
psiquiátrica da época. Foi introduzida a oposição entre neurose e 
personalidade, diferenciando os transtornos de cada uma das partes. 
Realizada uma aproximação com o CID (Classificação Internacional de 
Doenças e problemas relacionados a saúde da OMS), que estava em sua 
oitava edição, ampliando trinta e nove categorias. E ainda a introdução 
da esquizofrenia, nos quadros psicóticos (ARAUJO; LOTUFO NETO, 2014; 
CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
O DSM III foi considerado o mais complexo dos manuais. Primeiro 
porque surge num contexto histórico da luta antimanicomial, e 
desinstitucionalização, diante do avanço da produção de novos fármacos 
e declínio do viés psicanalítico. Lançado em 1980, com duzentas e 
sessenta e cinco categorias, surge como uma revisão do DSM II, iniciada 
em 1974, por Spitzer, na tentativa de aperfeiçoar e uniformizar o 
material existente e de padronizar os manuais utilizados nos EUA e 
Europa (DSM e CID), por meio de nomenclaturas coerentes nos dois 
manuais (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
58
Segundo Braga e Fonseca (2018), o manual foi considerado o mais 
pragmático e funcional das classificações da Psiquiatria. Reforçou a 
associação da Psiquiatria com a medicina, pois segue o modelo de 
medicina baseada em evidências, trazendo dados que ressaltam tanto 
a pesquisa como a base empírica dada pela clínica para a composição 
do diagnóstico de do tratamento. Com evidências fortes, por meio de 
ensaios clínicos, trazendo benefícios para profissionais, seguradoras, 
pesquisas e alocação de recursos públicos de saúde mental. Além 
disso, trouxe expansão e melhoria de comunicação e diagnóstico e uma 
divisão clara entre problemas da vida cotidiana e transtornos mentais 
(CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
Além disso, pode-se destacar que o DSM III foi de grande impacto para 
o modelo seguido na época, pois propôs a biomedicalização da prática 
psiquiátrica, colocando no sintoma toda a caracterização do transtorno 
mental. Traz ainda uma abordagem completamente diferente das 
presentes nos DSM I e II, que era psicossocial e psicanalítica, e é uma 
sugestão de retorno ao proposto por Kraepelin, no período entre 1885 e 
1926.
Este achado vai ao encontro do proposto por Braga e Fonseca (2018), de 
que as ciências da mente (psique) e as definições subjacentes a elas não 
são estanque quanto às suas definições e conceitos, ao contrário, são 
influenciadas por fatores históricos, morais e culturais.
O DSM III foi um marco da mudança no modelo classificatório, que 
passa a ser multiaxial, com agrupamento por sintoma, aumentando a 
confiabilidade e validade. Para isso, as classificações se tornam mais 
objetivas e o termo neurose aparece pela última vez enquanto categoria 
clínica, num acordo de revisão o termo aparece seguido de disorder, 
instalando um conflito com a teoria psicanalítica. Nessa edição, é 
excluída a categoria homossexualidade e introduzido o transtorno de 
personalidade narcisista (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
59
Em 1987, Spitzer propõe uma revisão do DSM III, chamada de DSM III-R, 
com duzentas e noventa e duas categorias de transtornos, contudo, esta 
foi considerada controversa e muito insipiente. Isso desencadeou um 
novo processo de reformulação, coordenado por Allen Frances, que deu 
origem, em 1994, ao DSM IV, com duzentas e noventa e sete categorias, 
num modelo de cinco eixos:
• I – Quadros clínicos.
• II – Retardo subjacente ou que afeta a personalidade, como o 
mental.
• III – Situação clínica aguda e doença física.
• IV – Fatores psicossociais e ambientais.
• V – Avaliação global do funcionamento.
Apresentou, ainda, a inclusão de significância clínica para metade 
das categorias com sofrimento ou prejuízo social e ocupacional 
importante. Os quadros de histeria foram desmembrados em 
síndromes(dissociação, dismorfismo corporal, ansiedade, depressão 
e fibromialgia). De modo geral, acrescentou e eliminou transtornos, 
caracterizou os subtipos, incluiu grupos afins e criou normas de 
interpretação e generalizações (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
Em contrapartida, em 1992, a Organização Mundial de Saúde publica 
uma nova edição da CID, conhecida pela edição vigente, que recebe a 
nomenclatura na comunidade científica de CID 10. Foi reconhecido como 
instrumento internacional de comunicação, educação e pesquisa, pois 
viabiliza estatísticas de morbidade e mortalidade. Traz um capitulo (F) 
relativo aos transtornos mentais (tradução de disorder), que se traduz 
numa intenção de mostrar uma superioridade ao conceito de síndrome 
tratada até o momento. O manual não substitui, de modo algum, a 
avaliação clínica como ressaltado por Wang e Andrade (2015).
60
O CID 10 colaborou com a Psiquiatria, por meio do aumento da 
concordância diagnóstica, melhora do relatório de mortalidade, uso de 
serviço, tratamento e evolução, uso de padrão para a pesquisa, aumento 
da heterogeneidade no ensino de Psiquiatria, melhor comunicação entre 
os diversos atores profissionais, usuários, cuidadores e leigos (WANG; 
ANDRADE, 2015).
Em 2000, foi feita nova revisão com o intuito de atualizar os transtornos 
de acordo com as descobertas e evoluções da ciência. Com pequenas 
alterações, o DSM IV- TR trouxe uma valorização das comorbidades 
e inter-relação entre os eixos diagnósticos, ressalta a importância da 
interpretação dos sintomas e dos transtornos serem compreendidos 
como tarefa clínica e não como consulta numa tabela diagnóstica. Esta 
versão do manual traz ainda duzentos e noventa e sete categorias, 
acrescidas de mais vinte e uma categorias no apêndice B (ARAUJO; 
LOTUFO NETO, 2014; CAPONI; MARTINHAGO, 2019; DEMÉTRIO; 
FERNANDES, 2018).
Por fim, em 2013, é lançado o DSM V como fruto de anos de estudo e 
o envolvimento de muitos pesquisadores que se debruçaram sobre os 
diferentes grupos de sintomas para construir o manual. Este é composto 
por trezentas categorias, divididas em três seções. O objetivo era o de 
catalogar e descrever os sinais e sintomas que podem ser observados 
(APA, 2013; CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
O DSM 5 foi apontado, por Cheniaux (2015), como um manual de 
abordagem descritiva, ateórica e por critério operacional para o 
diagnóstico. Esse movimento foi decorrente do neokraepelinianos, 
que se basearam em estudos de validade estatística de áreas como 
a Neurologia, Anatomopatologia cerebral e genética, a Psiquiatria 
descritiva terminológica, na qual as classificações psicopatológicas 
passam a ser definidas como síndromes (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
61
Assim, a caracterização dos transtornos é tida, pela American Psychiatric 
Association – Associação Psiquiátrica Americana (APA), como:
Síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na 
cognição, regulação emocional ou no comportamento do individuo, que 
reflete uma disfunção nos processos biológicos ou desenvolvimento 
subjacente ao funcionamento mental. (APA, 2013 p.62)
A nova edição do DSM segue o modelo categorial e dimensional (leve 
moderado e severo). Demétrio e Fernandes (2018) referem que o 
manual segue critérios diagnósticos, que tem como intuito uniformizar 
a linguagem médico científica. Entende-se por critérios, o subconjunto 
de sintomas mais característicos de um transtorno. Dessa maneira, 
os critérios operacionais do DSM 5 são hierarquizados, com descrição 
objetiva do fenomenológica de um sintoma em termos qualitativos 
(diferenciando um transtorno de outros) e quantitativo (intensidade e 
duração da sintomatologia).
A proposição relativa à hierarquia dos sintomas se refere ao fato de 
que alguns sintomas são determinantes para o transtorno e outros são 
alternativos, mas devem ocorrer na sintomatologia. Esse é um ponto 
de grande discussão quanto a classificação diagnóstica e ao qual a 
comunidade científica atribui uma rigidez ao modelo classificatório.
No DSM V, o processo de adoecimento é visto como um continuum de 
gravidade e intensidade de sintomas, incorpora o modelo de espectro 
somado ao modelo categorial e dimensional. Assim, a classificação se 
constitui uma série heterogênea de avaliação (WANG; ANDRADE, 2015).
No que diz respeito ao diagnóstico da doença, o modelo categorial 
corresponde a estruturação dos CID 10 e DSM V, que diferencia saúde 
e doença e, mais do que isso, diferencia a doença qualitativamente de 
outra doença, enquanto o modelo dimensional faz a diferenciação do 
ponto de vista quantitativo, segundo Cheniaux (2015).
62
O manual está dividido em três seções:
• I – Para uso forense.
• II – Critério e código diagnóstico.
• III – Instrumentos para avaliação dos sintomas, critério de 
formação cultural, modo alternativo para transtorno de 
personalidade e descrição das condições clínicas para estados 
posteriores (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
Esse modelo, de três dimensões, já foi proposto por Leme Lopes, em 
1954. Na proposição anterior, seguia a distribuição: (1) a síndrome; (2) 
personalidade pré-mórbida, comtemplando os fatores biopsicossocial; 
(3) constelação etiológica, fatores causais endógeno e exógeno, segundo 
Cheniaux (2015).
As mudanças do modelo de eixos substituído por seção, encontram a 
seguinte correspondência:
Figura 2 – Esquema representativo das principais alterações do DSM 
IV para o DSM V 
Fonte: adaptado de Caponi e Martinhago (2019).
63
Os capítulos passam a ser organizados de acordo com o ciclo da vida:
• 1ª parte – Desenvolvimento – transtorno do desenvolvimento.
• Parte Central – adolescência e vida adulta – (depressão, ansiedade 
e espectro esquizofrenia).
• Parte Final – Velhice – Transtorno neurocognitivo.
Algumas questões sociais passam a ser consideradas como condição 
para a patologia, tais como problemas de relacionamento, negligência, 
violência, ruptura familiar, entre outros (CAPONI; MARTINHAGO, 2019).
O manual foi alvo de críticas de diversos profissionais de saúde 
mental, seja pela rigidez que lhes confere a objetividade dos critérios 
diagnósticos, seja pelo fato de não apresentar novas descobertas 
científicas, apenas renomear ou redefinir nomenclaturas. Na contramão 
dessas críticas, surgem aspectos positivos por apresentar a etiologia 
dos transtornos mentais fundamentada em aspectos neurobiológicos, 
com índices de validade e confiabilidade com as equivalências com as 
demais áreas da medicina (CAPONI; MARTINHAGO, 2019; DEMÉTRIO; 
FERNANDES, 2018).
Os manuais diagnósticos, ao longo do tempo, apresentaram 
modificações estruturais e conceituais, contudo, a partir de 1980, é 
observado um retorno a Kraepelin, observando a importância do quadro 
clínico e o curso longitudinal da doença. Esses achados incluem as 
versões do CID 10 e CID 11, sendo que este último foi lançado e deverá 
entrar em vigor em 2022, segundo a Organização Mundial de Saúde. 
Além disso, o manual deve ter como atualização as equivalências com o 
DSM V e, como nova contribuição, a inclusão dos transtornos de jogos 
eletrônicos que podem levar à dependência (WANG; ANDRADE, 2015; 
DEMÉTRIO; FERNANDES, 2018).
64
O caminho diagnóstico e de classificação em Psiquiatria é extenso e 
sinuoso. Demétrio e Fernandes (2018) apontam que, desde o início da 
história da doença psiquiátrica, passando pela Grécia antiga, tenderam 
a normatização. A construção dos manuais constou de revisões de 
conceitos nosológicos, mas de fato não há nada de novo. Por assim 
dizer, Hipócrates teorizou a medicina moderna, contudo, os desafios da 
Psicopatologia psiquiátrica continuam, pode-se destacar:
• Poucos avanços significativos.
• Ausência de marcadores biológicos, levando à fragilidade do 
diagnóstico.
• Fatores etiológicos não determinados.
• Prognóstico impreciso de evolução.
• Variabilidade de apresentação clínica dos transtornos de mesmo 
diagnóstico.
• Psiquiatria baseada na atuação clínica, o que traz viés subjetivo.
Ao mesmo tempo,há um consenso de que é necessário estabelecer 
uma linguagem universal em Psiquiatria. Nesse sentido, os manuais 
cumpriram bem suas funções, mas se tornaram um risco, para a prática 
clínica, de se tornar excludente, limitante e patologizante. Araújo e 
Lotufo Neto (2014), destacam que o instrumento é produzido para 
profissionais habilitados com experiência clínica e sólido conhecimento 
em Psicopatologia, e não pode ser utilizado como lista de pesquisa de 
sintomas.
65
Referências Bibliográficas
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mental desorders. 5. ed. Whashington, DC, 2013.
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em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
55452014000100007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 26 abr. 2020.
BRAGA, Felipe Sette Martino; FONSECA, Gabriela Lemos. Reflexões sobre 
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Guanabara Koogan, 2015. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/978-85-277-2743-3/. Acesso em: 26 abr. 2020.
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HUMES, Eduardo de Castro; VIEIRA, Márcio Eduardo Bergamini; FRAGUAS JUNIOR, 
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WANG, Yang Pan; ANDRADE, Laura Helena S. Guerra de. In: FORLENZA, Orestes 
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https://doi.org/10.5007/1807-1384.2019v16n1p73
https://doi.org/10.5007/1807-1384.2019v16n1p73
	Sumário
	Concepções epistemológicas e Psicopatologia geral
	Objetivos
	1. Concepção epistemológica e Psicopatologia geral
	1.2 Psicopatologia geral
	Referências Bibliográficas
	Terminologia em Psicopatologia
	Objetivos
	1. Terminologia em Psicopatologia geral
	1. Introdução
	Referências Bibliográficas
	Contribuições da Psicanálise a Psicopatologia
	Objetivos
	1. Introdução
	2. Freud e a Psicanálise
	Referências Bibliográficas
	Sistemas de Classificação Diagnóstica (DSM e CID)
	Objetivos
	1. Introdução
	2. Classificação diagnóstica
	3. Trajetória das classificações diagnósticas
	Referências Bibliográficas

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