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MORTE - fim da personalidade jurídica. modalidades e efeitos

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A MORTE DA PESSOA NATURAL. MODALIDADES E EFEITOS JURÍDICOS
Prof. Roberto Moita Pierot.
A personalidade jurídica é extinta pela morte. De modo geral, a extinção da personalidade ju-
rídica é extremamente relevante no mundo jurídico, uma vez que interfere diretamente em outros ra-
mos, como a abertura da sucessão; transmissão da herança pelo princípio da saisine; extinção do po-
der familiar; extinção do matrimônio; fim de relações personalíssimas, dentre outros.
MORTE REAL:
A lei exige, então, a morte cerebral (morte real), ou seja, que o cérebro da pessoa pare de fun-
cionar. Isso consta, inclusive, do art. 3.º da Lei 9.434/1997, que trata da morte para fins de remoção
de órgãos para transplante.
Para tanto, é necessário um laudo médico, visando à elaboração do atestado de óbito, a ser re-
gistrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, nos termos do art. 9.º, inciso I, da codi-
ficação. A Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973) fixa os parâmetros para a elaboração de tal
documento. A sua exigência está contida no art. 77 da referida norma, alterado pela Lei
13.484/2017, segundo o qual nenhum sepultamento será feito sem certidão do oficial de registro do
lugar do falecimento ou do lugar de residência do de cujus. Nos termos da sua nova redação, essa
certidão será extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de um médico, se
houver no lugar. Não havendo médico no local, são viáveis as declarações de duas pessoas qualifi-
cadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.
O art. 79 da LRP traz as pessoas obrigadas a fazer a declaração de óbito, a saber: a) Os chefes
familiares (pai e mãe), em relação aos seus filhos, hóspedes, agregados ou empregados; b) Um côn-
juge em relação ao outro; c) O filho a respeito dos pais; d) O irmão a respeito dos irmãos; e) O ad-
ministrador, diretor ou gerente de pessoa jurídica de direito público ou privado, a respeito das pes-
soas que falecerem em sua sede, salvo se estiver presente no momento algum dos parentes antes in-
dicados; f) Na falta de pessoa competente, as pessoas que tiverem assistido aos últimos momentos
do falecido; g) O médico, o sacerdote ou o vizinho que tiver tido notícia do falecimento; h) A auto-
ridade policial, a respeito das pessoas encontradas mortas.
O atestado de óbito deverá conter (art. 80 da Lei de Registros Públicos):
a) dia, mês, ano e hora (se for possível) do falecimento; b) lugar do falecimento, com indica-
ção precisa; c) o nome completo, sexo, idade, cor, estado civil, profissão, naturalidade, domicí-
lio e residência do morto; d) sendo o de cujus casado, o nome do cônjuge sobrevivente, mesmo
estando os mesmos separados judicialmente; e) se era viúvo o falecido, o nome do cônjuge pré-
morto, devendo constar a referência quanto ao cartório do casamento nos dois casos; f) os no-
mes completos, prenomes, profissão, naturalidade e residência dos pais; g) se faleceu com testa-
mento conhecido; h) se deixou filhos, nome e idade de cada um; i) se a morte foi natural ou vio-
lenta e a causa conhecida, como o nome dos atestantes; j) o lugar do sepultamento; l) se deixou
bens e herdeiros menores ou interditados; m) se era eleitor; n) pelo menos uma informação
quanto a documentos identificadores.
MORTE PRESUMIDA SEM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA. A JUSTIFICAÇÃO
O art. 7.º do CC/2002 enuncia dois casos de morte presumida, sem declaração de ausência, a
saber:
Desaparecimento do corpo da pessoa, sendo extremamente provável a morte de quem estava
em perigo de vida.
Desaparecimento de pessoa envolvida em campanha militar ou feito prisioneiro, não sendo
encontrado até dois anos após o término da guerra.
O primeiro dos incisos tem aplicação perfeita nos casos envolvendo desastres, acidentes, ca-
tástrofes naturais, sendo certo que o parágrafo único desse dispositivo determina que a declaração
de morte somente será possível depois de esgotados todos os meios de buscas e averiguações do
corpo da pessoa, devendo constar da sentença a data provável da morte da pessoa natural.
Segue-se o posicionamento doutrinário de Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, pa-
ra quem esse dispositivo (art. 7.º do CC) equivale ao art. 88 da Lei de Registros Públicos (Lei
6.015/1973), que já tratava da morte por justificação.
Para fins didáticos, é interessante transcrever o teor da regra específica da LRP, que foi en-
campada pela atual codificação: “Poderão os juízes togados admitir justificação para o assento de
óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra ca-
tástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se
o cadáver para exame. Parágrafo único: Será também admitida a justificação no caso de desapareci-
mento em campanha, provados a impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do art. 85 e
os fatos que convençam da ocorrência do óbito”. Nas hipóteses de justificação, há uma presunção a
respeito da própria existência da morte, não sendo necessário o aguardo do longo prazo previsto pa-
ra a ausência. Assim, expede-se imediatamente a certidão de óbito, preenchidos os seus requisitos.
Como consta do parágrafo único do art. 7.º do Código Civil, “a declaração da morte presumi-
da, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, de-
vendo a sentença fixar a data provável do falecimento”. Há, assim, um processo judicial em que se
fixa o momento da morte provável. Trata-se de um procedimento bem mais simples do que a ausên-
cia, que ainda será aqui estudada. Em prol da simplicidade, o presente autor não concorda com o te-
or do Enunciado n. 614, aprovado na VIII Jornada de Direito Civil (2018), segundo o qual “os efei-
tos patrimoniais da presunção de morte posterior à declaração da ausência são aplicáveis aos casos
do art. 7.º, de modo que, se o presumivelmente morto reaparecer nos dez anos seguintes à abertura
da sucessão, receberá igualmente os bens existentes no estado em que se acharem”. A proposta dou-
trinária complica o que é simplificado pela lei, trazendo incerteza e instabilidade quanto ao instituto
da justificação. Por isso, votamos de forma contrária ao seu teor quando daquele evento.
Por fim, ressalta-se que a Lei 9.140/1995 presume a morte de “pessoas que tenham participa-
do, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro
de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos,
achando-se, deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias” (redação dada pela Lei
10.536/2002). O caso também é de morte presumida sem declaração de ausência, tratada pela legis-
lação especial.
MORTE PRESUMIDA COM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA
A ausência é outra hipótese de morte presumida, decorrente do desaparecimento da pessoa na-
tural, sem deixar corpo presente (morte real). Repise-se que a ausência era tratada pelo CC/1916 co-
mo causa de incapacidade absoluta da pessoa.
Atualmente, enquadra-se como tipo de inexistência por morte, presente nas situações em que
a pessoa está em local incerto e não sabido (LINS), não havendo indícios das razões do seu desapa-
recimento.
O Código Civil simplificou as regras quanto à ausência, hipótese em que há uma presunção
legal relativa (iuris tantum), quanto à existência da morte da pessoa natural. Três são as fases relati-
vas à declaração de ausência, que se dá por meio de ação judicial, estudadas pontualmente, com as
suas principais regras.
a) Da curadoria dos bens do ausente (arts. 22 a 25 do CC)
Nessa primeira fase, desaparecendo a pessoa sem notícias e não deixando qualquer represen-
tante, é nomeado um curador para guardar seus bens, em ação específica proposta pelo Ministério
Público ou por qualquer interessado, caso dos seus sucessores (arts. 22 do CC/2002, 744 do
CPC/2015 e 1.160 do CPC/1973).
Eventualmente, deixando o ausente um representante que não quer aceitar o encargo de admi-
nistrar seus bens, será possível a nomeaçãodo curador. A respeito da sua nomeação, cabe ao juiz fi-
xar os seus poderes e obrigações, devendo ser aplicadas as regras previstas para a tutela e para a cu-
ratela.
Nos termos do art. 25 do CC, cabe ao cônjuge do ausente a condição de curador legítimo,
sempre que não esteja separado judicialmente ou de fato há mais de dois anos. A menção à separa-
ção judicial deve ser lida com ressalvas, eis que, para este autor, a Emenda do Divórcio (EC
66/2010) baniu do sistema tal categoria jurídica.
A premissa continua valendo mesmo tendo sido a separação judicial ressuscitada juridicamen-
te pelo CPC/2015. Assim, a norma em comento, e também outras, somente se aplicam aos separa-
dos judicialmente quando da entrada em vigor da inovação constitucional.
Ausente o cônjuge, o próprio dispositivo em questão consagra a ordem de preferência para no-
meação do curador, a saber:
1. serão chamados os pais do ausente;
2. na falta de pais, serão chamados os descendentes, não havendo impedimento, sendo certo
que o grau mais próximo exclui o mais remoto;
3. na falta de cônjuge, pais e descendentes, deverá o juiz nomear um curador dativo ou ad
hoc, entre pessoas idôneas de sua confiança.
Apesar da ausência de previsão quanto ao convivente ou companheiro, ele merece o mesmo
tratamento do cônjuge, pelo teor do Enunciado n. 97 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito
Civil (“no que tange à tutela especial da família, as regras do Código Civil que se referem apenas ao
cônjuge devem ser estendidas à situação jurídica que envolve o companheiro, como por exemplo na
hipótese de nomeação de curador dos bens do ausente [art. 25 do CC]”).
Ainda no que diz respeito aos procedimentos, o Novo CPC traz aperfeiçoamentos a seu res-
peito. Assim, o art. 745 do CPC/2015 estabelece em seu caput que, feita a arrecadação, o juiz man-
dará publicar editais na rede mundial de computadores, no sítio do Tribunal a que estiver vinculado
e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde permanecerá por um ano. Pelo
mesmo diploma, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da Comarca, o prazo de perma-
nência é de um ano, com reproduções de dois em dois meses, anunciando-se a arrecadação e cha-
mando-se o ausente a entrar na posse de seus bens. Não havia menção a essas publicações eletrôni-
cas no art. 1.161 do CPC/1973, correspondente ao preceito, sendo a norma atual mais efetiva do
ponto de vista social.
b) Da sucessão provisória (arts. 26 a 36 do CC)
Nos termos da lei civil, um ano após a arrecadação de bens do ausente e da correspondente
nomeação de um curador, poderá ser aberta a sucessão provisória, mediante pedido formulado pelos
interessados. Deixando o ausente um representante, o prazo é excepcionado, aumentado para três
anos, conforme o mesmo art. 26 do CC.
O Ministério Público somente pode requerer a abertura da sucessão provisória findo o prazo
mencionado, não havendo interessados em relação à herança.
O dispositivo material deve ser confrontado com o novo tratamento dado pelo Código de Pro-
cesso Civil emergente. Isso porque preconiza o § 1.º do art. 745 do CPC/2015 que, findo o prazo
previsto no edital, poderão os interessados requerer a abertura da sucessão provisória, observando-
se o disposto em lei material. Não há mais menção ao prazo de um ano “da publicação do primeiro
edital, sem que se saiba do ausente e não tendo comparecido seu procurador ou representante” (art.
1.163 do CPC/1973).
Como o CPC/2015 é norma posterior e trata inteiramente da matéria, a mim parece que houve
revogação tácita do art. 26 do CC/2002 no que diz respeito ao prazo para a abertura da sucessão
provisória. Assim, deve-se considerar o lapso temporal fixado no próprio edital, e não mais um ano
da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, passando-se três
anos.
São considerados interessados para requerer a dita sucessão provisória, nos termos do art. art.
27 do CC:
a) o cônjuge não separado judicialmente, o que deve ser lido com ressalvas, como já se desta-
cou;
b) os herdeiros, sejam eles legítimos ou testamentários, situação em que se enquadra a compa-
nheira;
c) os que tiverem direitos relacionados com os bens do ausente, particularmente para após a
sua morte, caso dos legatários;
d) os credores de obrigações vencidas e não pagas pelo desaparecido.
Mais uma vez, por óbvio, deve-se incluir o companheiro como legitimado a requerer a suces-
são provisória do convivente, diante da proteção constitucional da união estável, constante do art.
226, § 3.º, do Texto Maior. A propósito, cabe pontuar que o Novo CPC não reproduziu a regra do
art. 1.163, § 1.º, do CPC/1973, que atribuía a condição de interessados ao cônjuge não separado ju-
dicialmente; aos herdeiros presumidos legítimos e os testamentários; aos que tivessem sobre os bens
do ausente direito subordinado à condição de morte e aos credores de obrigações vencidas e não pa-
gas. Assim, o tema foi concentrado no Código Civil, abrindo-se a possibilidade plena de reconheci-
mento de legitimidade ao companheiro, na opinião deste autor.
Ainda no tocante ao Estatuto Processual emergente, estabelece o seu art. 745, § 2.º, que o inte-
ressado, ao requerer a abertura da sucessão provisória, pedirá a citação pessoal dos herdeiros pre-
sentes e do curador e, por editais, a dos ausentes para requererem habilitação. Aqui não houve alte-
ração relevante perante o art. 1.164 do CPC/1973. A sentença de sucessão provisória somente pro-
duz efeitos após cento e oitenta dias de publicada na imprensa, não transitando em julgado no prazo
geral.
O art. 28 do CC estabelece, contudo, que logo após o trânsito em julgado é possível a abertura
de eventual testamento deixado pelo desaparecido, bem como do inventário para a partilha dos bens
deixados. Aqui não houve qualquer alteração engendrada pelo CPC/2015, o que também vale para
os dispositivos materiais a seguir que dizem respeito à sucessão provisória.
Se for o caso, antes mesmo da partilha, poderá o magistrado determinar que os bens móveis
sujeitos a deterioração ou a extravio sejam convertidos em bens imóveis ou em títulos garantidos
pela União (art. 29 do CC). O Código Civil atual continua exigindo que os herdeiros deem garantias
para serem imitidos na posse dos bens do ausente, mediante penhores ou hipotecas, equivalentes
aos quinhões respectivos (art. 30, caput, do CC).
De acordo com o art. 31 do CC/2002, quanto aos bens imóveis do ausente, estes são por regra
inalienáveis, até a correspondente divisão e partilha. Eventualmente, para afastar a ruína, poderá o
magistrado determinar a sua alienação. Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder
prestar a garantia exigida no dispositivo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber
sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia
(art. 30, § 1.º, do CC). Estão dispensados de prestar tais garantias, contudo, os ascendentes e des-
cendentes, que provarem a sua qualidade de herdeiros (art. 30, § 2.º, do CC).
Empossados os herdeiros nos bens do ausente, passam a responder por eventuais dívidas do
desaparecido, até os limites da herança (art. 32 do CC). Ocorrendo a sucessão provisória, poderão
os herdeiros também representar ativamente aquele que desapareceu, no caso de ser este credor em
relação a terceiro.
Sendo o herdeiro descendente, ascendente ou cônjuge do ausente terá direito a todos os frutos
(naturais, industriais e civis ou rendimentos), colhidos durante o momento de exercício da posse.
Demais sucessores terão direito somente em relação à metade desses frutos, devendo prestar contas
ao juiz competente (art. 33, caput, do CC). Retornando o ausente e provada a sua ausência voluntá-
ria, perderá totalmente o direito quanto aos frutos para o sucessor correspondente (art. 33, parágrafo
único, do CC).
Segundo o art. 34 do CC, aquele que foi excluído da posse dos bens do ausente, por não ter
bens suficientes para oferecer em garantia (art. 30, § 1.º), poderá,justificada a falta de bens para tal
caução, exigir que lhe seja entregue a metade dos rendimentos (frutos civis) que teria direito estan-
do na posse dos bens do desaparecido.
Aparecendo o ausente no momento de exercício da posse provisória, perderão os herdeiros os
direitos quanto aos bens, exceção feita quanto aos frutos, conforme as regras antes comentadas (art.
33, parágrafo único, do CC). Mas até a entrega de tais bens, responderão os herdeiros, cessando a
posse justa quanto aos bens que lhe foram entregues conforme as regras materiais que constam da
codificação.
Por fim, enuncia o art. 35 do CC que se durante a posse provisória se provar a época exata do
falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o
eram àquele tempo. Já o art. 36 do Código dispõe que se o ausente aparecer, ou se lhe provar a exis-
tência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores ne-
la imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos
bens a seu dono, caso de eventuais ações possessórias em face de terceiros esbulhadores.
c) Da sucessão definitiva (arts. 37 a 39 do CC)
O Código Civil de 2002 reduziu pela metade o prazo para conversão da sucessão provisória
em definitiva, que antes era de 20 (vinte) anos, para 10 (dez) anos, conforme consta do seu art. 37.
Tal prazo conta-se do trânsito em julgado da sentença da ação de sucessão provisória. Não houve
qualquer impacto do Novo CPC quanto a esses prazos, expressando a lei processual emergente ape-
nas que, presentes os requisitos legais, poderá ser requerida a conversão da sucessão provisória em
definitiva (art. 745, § 3.º).
Consoante determina o art. 38 do CC, cabe requerimento de sucessão definitiva da pessoa de
mais de oitenta anos desaparecida há pelo menos cinco anos. Na opinião deste autor, em casos tais,
não há necessidade de se observar as fases anteriores, ingressando-se nessa terceira fase, de forma
direta.
Conforme o art. 39, caput, do Código Civil, regressando o ausente nos dez anos seguintes à
abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes ha-
verão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço
que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tem-
po. Esse dispositivo era reprodução do art. 1.168 do CPC/1973.
Nesse ponto há um impacto relevante do CPC/2015. Isso porque o seu art. 745, § 4.º, passou a
prever que, regressando o ausente ou algum de seus descendentes ou ascendentes para requerer ao
juiz a entrega de bens, serão citados para contestar o pedido os sucessores provisórios ou definiti-
vos, o Ministério Público e o representante da Fazenda Pública, seguindo-se o procedimento co-
mum.
Como se nota, não há mais menção ao prazo de dez anos para regresso do ausente, restando
dúvidas se ele ainda terá aplicação ou não. O presente autor acredita que sim, pelo fato de não ter si-
do o art. 39, caput, do Código Civil revogado expressamente. O mesmo deve ser dito quanto ao di-
reito sobre os bens mencionados na lei material.
Igualmente, parece restar incólume o parágrafo único do art. 39 da codificação material. Des-
se modo, após esse prazo de dez anos, se não regressar o ausente, os bens arrecadados serão definiti-
vamente dos herdeiros, não tendo o desaparecido qualquer direito. Também não retornando o ausen-
te e não tendo ele herdeiros, os bens serão considerados vagos, passando ao domínio do Estado, nos
moldes do art. 1.844 do CC. O domínio passa a ser, portanto, do Município ou do Distrito Federal,
se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situa-
dos em território federal.
Por fim, destaque-se que nos termos do art. 1.571, § 1.º, do CC, a morte por ausência põe o
fim ao casamento, estando o seu ex-cônjuge livre para casar com terceiro.
________________________________________________
Organização e apresentação:
Professor Roberto Moita Pierot,
Advogado; Contador; Mestrando em Contabilidade Gerencial; Esp. em D. Empresarial e D. Civil;
MBA - Master in Business Administration em Gestão Pública; Esp. em Perícia e Auditoria; Docente de
Graduação do ensino superior nos cursos de Direito, Ciências Contábeis, Administração;
Professor Convidado de Pós
Graduação em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário; Ministrante e palestrante em
temáticas Eleitoreiras e Educacionais; Assessor Jurídico do Conselho de Secretarias Municipais
de Saúde do Estado do Piauí – COSEMS/PI; Consultor em Gestão Pública e Compliance
Gerencial Público e Empresarial; Perito Assistente em cálculos previdenciários; Sócio Fundador MP
Consultoria em Gestão e Advocacia Especializada com atuação nas áreas Eleitoral, Tributária,
Trabalhista e Previdenciária; Membro da Comissão do Advogado Professor OAB/PI; Ex-Procurador
Geral do Município; Ex- Assessor Especial do Poder Executivo; Ex-Presidente da Comissão de defesa
dos honorários da OAB-PI.
Fontes:
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Vol. 1 – Parte Geral. 19ª ed. São Paulo:
Saraiva Jur, 2021;
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, vol. 1, Parte Geral. 33ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020;

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