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Resenha FILME a procura da felicidade

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FACULDADE CATÓLICA SALESIANA
PSICOLOGIA
RESENHA CRÍTICA DO FILME
À PROCURA DA FELICIDADE
FLORA CESCHIN CELJAR
MACAÉ
2020
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O fil me À procura da felicidade retrata a história real de Chris Gardner,
homem negro, p ai e esposo, indo atrás do conhecido, e muito falado na época,
“sonho americano”, isso é, sonho de que nos EUA você encontrará
oportunidades para ter uma vida melhor. A trajetória de Gardn er se passa na
década de 80, tempo em que o país passava por uma forte crise econômica,
deixando milhares desempregados e u m mercado sem muita oportunidade de
emprego para oferecer.
Apesar de C hris manter suas esperanças e nunca abaixar a cabeça
diante das barreiras que a vida impunha, não conseguia um emprego fixo e que
pagasse o suficiente para pagar as contas da sua família. Apostando tudo,
investiu o d inheiro q ue tinha, juntamente com sua esposa, em um negócio que
não durou muito. Como representação do fracasso finan ceiro da família, sua
esposa Linda trabalhava em mais de um turno numa fábrica para receber mais
e seu filho Christopher frequentava uma creche financeiramente mais em
conta, na casa de uma senhora que, aparentemente, não dava tanta atenção à
educação das crianças ali presentes.
Em uma tentativa de mudar de vida, entrou pra uma pré-seleção de
estágio no tão almejado mercado de ações. O problema principal era o estágio
não ser remunerado e, durante esse processo, as contas se acumulavam.
Dentre os candidatos ao estágio, é notório que Chris era o único negro e,
injustamente, seu superior lhe cobrava tarefas que não lhe ca biam, como
buscar café, comprar o almoço/lanche, estacionar o carro na vaga certa. Por
que, afinal, ele deveria fazer i sso e não qualquer uma das outras pessoas ali
disponíveis? Sua esperança de conquistar o emprego, todavia, não o permitia
se abalar.
Essas cenas demonstraram bem as injustiças provenientes do
sistema: não somente o raci smo, mas a falta de equidade. Equidade nada mais
é do que a ideia de construir oportunidades de forma justa, por exemplo: não
equidade quando a pesso a A não teve acesso a uma educação de
qualidade que a coloque de forma justa para competir por um emprego no
mercado de trabalho com a pessoa B, que e studou no melhor colégio da
cidade e sempre teve rede de apoio para investir na sua educação, e ainda
possui contatos que o coloca em vários patamares acima dos demais.
Ora, Chris tinha filho pequeno e horário p ara b uscá-
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lo, visto que sua esposa estava trabalhando em mais de um turno. Não havia
rede de apoio de família o u amigos, nem alguma ajuda do Estado . Caso seu
filho ficasse mais na creche, mas ele teria que gastar um dinheiro que n ão
tinha. Seu estágio era longe da creche e de casa, logo, para chegar a tempo de
buscar seu filho tinha que sair em um horário estratégico para enfrentar ainda o
transporte público e um possível trânsito. Essa era sua realidade: se desdobrar
durante o horário do estágio para cumprir com o que deveria, enquanto os
concorrentes privilegiados poderiam estender seus horários na empresa
quando quisessem. O sistema capitalista cria e alimenta
o adoecimento da saúde mental do trabalhador e, por muito menos, outros no
lugar d e Chris teriam desistido ou entrado em profundo sofrimento e decepção.
Sem dúvida, na história de vida de Gardner uma lição valiosa sobre
resiliência. Mesmo após ser expulso do apartamento por não pagar aluguel e ir
morar na rua, junto de seu filho pequeno, ele ainda não perdeu de vista aq uele
que era seu objetivo principal a tanto tempo: arrumar um emprego bom.
Na vida real, Chris Gardner se tornou CEO de sua própria emp resa e
viaja o mundo dando palestras motivacionais. Basta procurar seu nome no
Google p ara acessar diversas entrevistas em que fala sobre como é essencial,
em pri meiro lugar, descobrir qual o seu o bjetivo, construir uma meta de vida, e
correr atrás disso incansavelmente. Explica também sobre um fenômeno
comum nos Estados Unidos q ue ele chama de "terceirização da culpa”. Seu
discurso, e coincidentemente (ou não) os discursos de outras pessoas que
chegaram ao "topo" da vida depois de sofrer muito e perder tudo , sustenta,
pela minha interpretação, a meritocracia.
É claro que um indivíduo que escolhe mal suas ações, que age sem
pensar e, por isso, vive “tropeçando” na vida e perdendo coisas pelo caminho é
um indivíduo que comete erros e dessa culpa ele não está ileso. Talvez lhe
falte mesmo construir um objetivo. Ou falte apenas disciplina para conseguir
entrar na corrida. Porém, se pensarmos num plano maior, levando em conta o
sistema capitalista que cada vez mais suga energia e tempo do trabalhador; se
levarmos em con sideração a crise econômica no ano em que Chris se
encontrava e todas as crises que houveram de pois daquela; considerando,
também, o alto desemprego e a absurda desigualdade social e econômica
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(que, i nclusive, aumenta), fica evidente que boa parte dessa culpa é sim de
quem está no governo.
Leis são pensadas e elaboradas, po r esse mesmo g overno, para
assegurar que todos tenh am as mínimas condições de existência, isso é, que
todos tenham u m teto sob sua cabeça, alimento para não passar fome e um
emprego para conseguir bancar isso (sem falar em saneamento, segurança,
lazer dentre outros pontos não menos importantes). Logo, por que não seria
culpa deles quando uma parcela absurda da população fica sem emprego por
conta de uma crise no sistema? Afinal, para quem serve essa crise? A
dificuldade, ou i mpossibilidade, de entrar na corrida po r um emprego seria
culpa da falta de disciplina do sujeito ou da falta de ferramentas disponíveis pra
isso?
A meritocracia opera, na realidade, como uma narrativa injusta,
orquestrada para ampliar e, pior, justificar a desigualdade social e econômica.
A lógica meritocrática, quando utilizad a por alguém com boa condição
financeira, tem in tenção de depositar nos considerados " inferiores" (mais
pobres) a culpa pelos seus próprios fracassos e, muitas vezes, de esconder
seus p rivilégios; quando empregada por uma pe ssoa antes pob re e agora com
melhor condição financeira, recai sobre uma conhecida problemática: a
alienação. Também usada como ferramenta da elite para firmar o sentido da
"capacidade individual" ou "esforço individual" em detrimento da equidade de
oportunidades.
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Referência Bibliográfica
CALDAS, E. N ão aceite o plano B, diz empresário que inspirou “À Procura
da Felicidade”. Época Negócios: 2017.
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FACULDADE CATÓLICA SALESIANA
PSICOLOGIA 
RESENHA CRÍTICA DO FILME
À PROCURA DA FELICIDADE
FLORA CESCHIN CELJAR
 MACAÉ
 2020
	O filme À procura da felicidade retrata a história real de Chris Gardner, homem negro, pai e esposo, indo atrás do conhecido, e muito falado na época, “sonho americano”, isso é, sonho de que nos EUA você encontrará oportunidades para ter uma vida melhor. A trajetória de Gardner se passa na década de 80, tempo em que o país passava por uma forte crise econômica, deixando milhares desempregados e um mercado sem muita oportunidade de emprego para oferecer.								Apesar de Chris manter suas esperanças e nunca abaixar a cabeça diante das barreiras que a vida impunha, não conseguia um emprego fixo e que pagasse o suficiente para pagar as contas da sua família. Apostando tudo, investiu o dinheiro que tinha, juntamente com sua esposa, em um negócio que não durou muito. Como representação do fracasso financeiro da família, sua esposa Linda trabalhava em mais de um turno numa fábrica para receber mais e seu filho Christopher frequentava uma creche financeiramente mais em conta, na casa de uma senhora que, aparentemente, não dava tanta atenção à educação das crianças ali presentes. 						Em uma tentativa de mudar de vida, entrou pra uma pré-seleção de estágio no tão almejado mercado de ações. O problema principal era o estágio não ser remunerado e, durante esse processo, as contas se acumulavam. Dentre os candidatos ao estágio, é notório que Chris era o único negro e, injustamente, seu superior lhe cobrava tarefas que não lhe cabiam, como buscar café, comprar o almoço/lanche, estacionar o carro na vaga certa. Por que, afinal, ele deveria fazer isso e não qualquer uma das outras pessoas ali disponíveis? Sua esperança de conquistar o emprego, todavia, não o permitia se abalar.	 
	Essas cenas demonstraram bem as injustiças provenientes do sistema: não somente o racismo, mas a falta de equidade. Equidade nada mais é do que a ideia de construir oportunidades de forma justa, por exemplo: não há equidade quando a pessoa A não teve acesso a uma educação de qualidade que a coloque de forma justa para competir por um emprego no mercado de trabalho com a pessoa B, que estudou no melhor colégio da cidade e sempre teve rede de apoio para investir na sua educação, e ainda possui contatos que o coloca em vários patamares acima dos demais. 						Ora, Chris tinha filho pequeno e horário para buscá-lo, visto que sua esposa estava trabalhando em mais de um turno. Não havia rede de apoio de família ou amigos, nem alguma ajuda do Estado. Caso seu filho ficasse mais na creche, mas ele teria que gastar um dinheiro que não tinha. Seu estágio era longe da creche e de casa, logo, para chegar a tempo de buscar seu filho tinha que sair em um horário estratégico para enfrentar ainda o transporte público e um possível trânsito. Essa era sua realidade: se desdobrar durante o horário do estágio para cumprir com o que deveria, enquanto os concorrentes privilegiados poderiam estender seus horários na empresa quando quisessem. 			O sistema capitalista cria e alimenta o adoecimento da saúde mental do trabalhador e, por muito menos, outros no lugar de Chris teriam desistido ou entrado em profundo sofrimento e decepção. Sem dúvida, há na história de vida de Gardner uma lição valiosa sobre resiliência. Mesmo após ser expulso do apartamento por não pagar aluguel e ir morar na rua, junto de seu filho pequeno, ele ainda não perdeu de vista aquele que era seu objetivo principal a tanto tempo: arrumar um emprego bom.
	Na vida real, Chris Gardner se tornou CEO de sua própria empresa e viaja o mundo dando palestras motivacionais. Basta procurar seu nome no Google para acessar diversas entrevistas em que fala sobre como é essencial, em primeiro lugar, descobrir qual o seu objetivo, construir uma meta de vida, e correr atrás disso incansavelmente. Explica também sobre um fenômeno comum nos Estados Unidos que ele chama de "terceirização da culpa”. Seu discurso, e coincidentemente (ou não) os discursos de outras pessoas que chegaram ao "topo" da vida depois de sofrer muito e perder tudo, sustenta, pela minha interpretação, a meritocracia. 
	É claro que um indivíduo que escolhe mal suas ações, que age sem pensar e, por isso, vive “tropeçando” na vida e perdendo coisas pelo caminho é um indivíduo que comete erros e dessa culpa ele não está ileso. Talvez lhe falte mesmo construir um objetivo. Ou falte apenas disciplina para conseguir entrar na corrida. Porém, se pensarmos num plano maior, levando em conta o sistema capitalista que cada vez mais suga energia e tempo do trabalhador; se levarmos em consideração a crise econômica no ano em que Chris se encontrava e todas as crises que houveram depois daquela; considerando, também, o alto desemprego e a absurda desigualdade social e econômica (que, inclusive, só aumenta), fica evidente que boa parte dessa culpa é sim de quem está no governo. 
	Leis são pensadas e elaboradas, por esse mesmo governo, para assegurar que todos tenham as mínimas condições de existência, isso é, que todos tenham um teto sob sua cabeça, alimento para não passar fome e um emprego para conseguir bancar isso (sem falar em saneamento, segurança, lazer dentre outros pontos não menos importantes). Logo, por que não seria culpa deles quando uma parcela absurda da população fica sem emprego por conta de uma crise no sistema? Afinal, para quem serve essa crise? A dificuldade, ou impossibilidade, de entrar na corrida por um emprego seria culpa da falta de disciplina do sujeito ou da falta de ferramentas disponíveis pra isso?
	A meritocracia opera, na realidade, como uma narrativa injusta, orquestrada para ampliar e, pior, justificar a desigualdade social e econômica. A lógica meritocrática, quando utilizada por alguém com boa condição financeira, tem intenção de depositar nos considerados "inferiores" (mais pobres) a culpa pelos seus próprios fracassos e, muitas vezes, de esconder seus privilégios; quando empregada por uma pessoa antes pobre e agora com melhor condição financeira, recai sobre uma conhecida problemática: a alienação. Também usada como ferramenta da elite para firmar o sentido da "capacidade individual" ou "esforço individual" em detrimento da equidade de oportunidades.	
Referência Bibliográfica 
CALDAS, E. Não aceite o plano B, diz empresário que inspirou “À Procura da Felicidade”. Época Negócios: 2017.

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