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CONCEITO DE CRIME 
 
O conceito material é o que se ocupa da essência do fenômeno, buscando compreender 
quais são os dados necessários para que um comportamento possa ser considerado criminoso. 
O conceito formal intenta definir o delito focando em suas consequências jurídicas, isto 
é, na espécie de sanção cominada (pena privativa de liberdade, pena alternativa ou medida de 
segurança): 
Art. 32 - As penas são: 
I - privativas de liberdade; 
II - restritivas de direitos; 
III - de multa. 
 
O conceito analítico, trata de conhecer a estrutura e os elementos do crime, 
sistematizando‐os de maneira organizada, sequenciada e inter‐relacionada. 
 
Crime é, sob tal perspectiva, todo ato punido com sanções penais, isto é, penas ou 
medidas de segurança. 
O art. 1º da LICP (Decreto‐lei n. 3.914/41) contém uma relevante definição formal de 
crime, embora se deva notar que esta se encontra em parte desatualizada em razão da 
superveniência da Lei n. 11.343/2006: 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou 
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em 
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às 
seguintes penas: 
I - advertência sobre os efeitos das drogas; 
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso 
educativo. 
 
 
 
 
 
CRIME É FATO TÍPICO ANTIJURÍDICO E CULPÁVEL 
 
FATO TÍPICO 
 
Fato Típico, é o fato material que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do 
modelo previsto na lei penal. 
 
Existem dois fatos típicos distintos: o do crime doloso e o do crime culposo. 
Ambos contêm similaridades, mas devem ser distinguidos, pois dolo e culpa integram 
o fato típico. 
Nos delitos dolosos, o fato típico possui os seguintes elementos: 
 conduta dolosa; 
 tipicidade. 
 
Em se tratando de crimes dolosos materiais (exige resultado naturalístico ou 
modificação no mundo exterior), contém, ainda: 
 resultado; 
 nexo causal; 
 relação de imputação objetiva. 
 
 
Nos culposos, por outro lado: 
 conduta voluntária; 
 resultado involuntário; 
 nexo causal; 
 tipicidade; 
 relação de imputação objetiva; 
 quebra do dever de cuidado objetivo (imprudência, negligência ou imperícia); 
 previsibilidade objetiva do resultado. 
 
 
CONDUTA 
A ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade. Sua 
existência pressupõe um comportamento humano (não há conduta no comportamento de 
animais). 
As pessoas jurídicas, embora possam ser sujeitos ativos de crimes, somente podem 
praticar uma conduta penalmente relevante quando resultar de “(...) decisão de seu 
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua 
entidade” (art. 3º da Lei n. 9.605/98), ou seja a conduta será o retrato de um 
comportamento humano (ou vários). 
 
Há, todavia, três elementos que se mostram presentes na conduta são eles: 
 Exteriorização do pensamento: cogitationis poenam nemo patitur, vale dizer, o Direito 
Penal não pune o pensamento, por mais imoral, pecaminoso ou “criminoso” que seja. 
 Consciência: Se alguém pratica uma conduta sem ter consciência do que faz, o ato é 
penalmente irrelevante (ex.: fato praticado em estado de sonambulismo ou sob efeito de 
hipnose). 
 Voluntariedade: A conduta, ademais, deve refletir um ato voluntário, isto é, algo que seja 
o produto de sua vontade consciente. Nos chamados “atos reflexos” e na coação física 
irresistível (vis absoluta), ocorrem atos involuntários e, por isso mesmo, penalmente 
irrelevantes. Quando se trata de “atos instintivos”, o agente responde pelo crime, pois 
são atos conscientes e voluntários — neles há sempre um querer, ainda que primitivo. 
 
 
 
Diferença entre Conduta e Ato 
Por conduta, deve‐se entender o comportamento consubstanciado no verbo núcleo do 
tipo penal: “matar” (CP, art. 121); “subtrair” (CP, art. 155); “sequestrar” (CP, art. 148) etc. 
O ato corresponde a um momento, uma fração da conduta. É como se o ato fosse a “cena” e a 
conduta o “filme”. Conforme o núcleo do tipo penal, a conduta pode ser composta de um só ato 
(unissubsistentes ou monossubsistente) ou de vários (plurissubsistentes). 
 
Formas de conduta São duas: ação e omissão. 
Ação é a conduta positiva, que se manifesta por um movimento corpóreo. A maioria 
dos tipos penais descreve condutas positivas (“matar”, “subtrair”, “constranger”, “falsificar”, 
“apropriar‐se” etc.). A norma penal nesses crimes, chamados comissivos, é proibitiva (ex.: “não 
matarás”, “não furtarás” etc.). 
Omissão é a conduta negativa, que consiste na indevida abstenção de um movimento. 
Nos crimes omissivos, a norma penal é mandamental ou imperativa: em vez de proibir alguma 
conduta, determina uma ação, punindo aquele que se omite. 
O CP no art. 13, § 2º “A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e 
podia agir para evitar o resultado.” 
 
Espécies de crimes omissivos 
Há duas espécies de crimes omissivos: 
Próprios (ou puros): são aqueles em que o próprio tipo penal descreve uma conduta 
omissiva. Em outras palavras: o verbo nuclear contém um não fazer (non facere). 
Omissão de socorro 
 Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco 
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao 
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da 
autoridade pública: 
 Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
 Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão 
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
 
 Abandono material 
 Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de 
filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido 
ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou 
faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou 
majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente 
enfermo: 
 Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior 
salário mínimo vigente no País. 
 Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou 
ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, 
o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. 
 
Omissão de notificação de doença 
 Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja 
notificação é compulsória: 
 Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
 
 
Impróprios, impuros ou comissivos por omissão: Nos crimes comissivos por 
omissão, o tipo penal incriminador descreve uma conduta positiva, é dizer, uma ação. 
O sujeito, no entanto, responde pelo crime porque estava juridicamente obrigado a 
impedir a ocorrência do resultado e, mesmo podendo fazê‐lo, omitiu‐se. 
Para que alguém responda por um crime comissivo por omissão, é necessário que, 
nos termos do art. 13, § 2º, do CP, tenha o dever jurídico de evitar o resultado. 
As hipóteses em que há o citado dever jurídico são as seguintes: 
Relevância da omissão art. 13 do CP. 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para 
evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
 
 
Dever legal ou imposição legal: quando o agente tiver, por lei, obrigação de proteção, 
cuidado e vigilância (ex.: mãe com relação aos filhos; diretor do presídio no tocante aos presos). 
Dever de garantidor ou “garante”: quando o agente,de qualquer forma, assumiu a 
responsabilidade de impedir o resultado (não apenas contratualmente ). É o caso do médico 
plantonista; do guia de alpinistas; do salva‐vidas, com relação aos banhistas; da babá, para com 
a criança. 
Ingerência na norma: quando o agente criou, com seu comportamento anterior, o risco 
da ocorrência do resultado (ex.: o nadador exímio que convida para a travessia de um rio pessoa 
que não sabe nadar torna‐se obrigado a evitar seu afogamento; a pessoa que joga um cigarro 
aceso em matagal obriga‐se a evitar eventual incêndio). 
Crimes de conduta mista 
São aqueles em que o tipo penal descreve uma conduta inicialmente positiva, mas a 
consumação se dá com uma omissão posterior (ex.: art. 169, parágrafo único, II, do CP). Tais 
crimes são, ainda, crimes de ação múltipla cumulativa. 
 
Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza 
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso 
fortuito ou força da natureza: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 
Parágrafo único - Na mesma pena incorre: 
(...) 
Apropriação de coisa achada 
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando 
de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, 
dentro no prazo de quinze dias. 
 
 
TIPICIDADE 
A tipicidade, ao lado da conduta, constitui elemento necessário ao fato típico de 
qualquer infração penal. 
Deve ser analisada em dois planos: formal e material. 
Entende‐se por tipicidade a relação de subsunção entre um fato concreto e um tipo penal 
(tipicidade formal) e a lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente tutelado (tipicidade 
material). Trata‐se de uma relação de encaixe, de enquadramento. 
 
Há duas modalidades de adequação típica: 
Adequação típica por subordinação imediata ou direta: dá‐se quando a adequação 
entre o fato e a norma penal incriminadora é imediata, direta; não é preciso que se recorra a 
nenhuma norma de extensão do tipo. Exemplo: alguém efetua dolosamente vários disparos 
contra a vítima — esse fato se amolda diretamente ao tipo penal incriminador do art. 121 do 
CP. 
Adequação típica por subordinação mediata ou indireta: o enquadramento 
fato/norma não ocorre diretamente, exigindo‐se o recurso a uma norma de extensão para haver 
subsunção total entre fato concreto e lei penal. Exemplo: art. 121 c/c 14, II ambos do CP. Ou 
art. 121 c/c 29 ambos do CP. 
 
Tipicidade Conglobante (inadequação do fato a normas extrapenais). 
Por meio desta, deve‐se verificar se o fato, que aparentemente viola uma norma penal 
proibitiva, é permitido ou incentivado por outra norma jurídica (como no caso, por exemplo, 
das intervenções médico‐cirúrgicas e da violência desportiva). Se existir referida autorização 
ou incentivo em norma extrapenal, o fato será penalmente atípico (em razão da atipicidade 
conglobante). 
 
 
 
Funções do tipo penal 
O tipo penal contém três relevantes funções: 
1. A função selecionadora refere‐se à tarefa de escolher, dentre a quase infinita gama 
de comportamentos humanos, quais devem ser inseridos como conteúdo das normas penais 
incriminadoras. 
2. A função de garantia constitui a realização material e concreta do ideal de segurança 
jurídica que o princípio da legalidade busca fornecer. Em outras palavras, trata‐se de garantir 
que somente haverá imposição de pena criminal se o ato realizado corresponder (de modo 
perfeito) a um comportamento descrito previamente no dispositivo legal. 
3. A função motivadora geral corresponde ao intento de fazer com que os destinatários 
das normas motivem‐se a se comportar de acordo com o que elas prescrevem. Referida função 
remonta à racionalidade comunicativa desempenhada pelo Direito Penal, consistente em 
transmitir à sociedade mensagens de confiança no modelo normativo. 
 
Tipo Objetivo e Tipo Subjetivo — tipos normais e anormais, 
 O tipo objetivo ou normais: corresponde ao comportamento descrito no preceito 
primário da norma incriminadora, desconsiderando‐se o estado anímico do agente, isto é, sem 
a análise de sua intenção. 
O tipo subjetivo ou anormais: correspondem à atitude psíquica interna que cada tipo 
objetivo requer. 
 
Furto 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
Sequestro e cárcere privado 
 
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere 
privado: 
Pena - reclusão, de um a três anos. 
§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: 
V – se o crime é praticado com fins libidinosos. 
 
 
Tipo penal fechado e aberto: 
O tipo penal é fechado quando descreve por completo a conduta criminosa, sem a 
necessidade de que o intérprete busque elementos externos para encontrar seu efetivo sentido, 
ou seja o legislador ao descrever o ato esgota a descrição típica porque dali se extrai todo o 
necessário para a subsunção da conduta. Exemplo: 
Homicídio simples 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
 
O tipo penal aberto, por outro lado, é incompleto, demandando do intérprete um 
esforço complementar para situar o seu alcance. Exemplo: 
Homicídio simples 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
Homicídio culposo 
§ 3º Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos. 
 
Ao estabelecer, no § 3º, a pena de detenção de um a três anos “se o homicídio é culposo”, 
o art. 121 impõe ao aplicador da lei que explore os conceitos de culpa para apurar se a conduta 
se adéqua ao tipo penal. 
Art. 18 - Diz-se o crime: 
Crime doloso 
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 
Crime culposo 
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou 
imperícia. 
 
Depois de encontrar o conceito legal de culpa, o intérprete, deverá buscar os conceitos 
de negligência, imprudência e imperícia: 
A negligência é uma falta de cuidado ou desleixo relacionado a uma situação. 
A imprudência consiste em uma ação que não foi pensada, feita sem precauções. 
Já a imperícia é a falta de habilidade específica para o desenvolvimento de uma 
atividade técnica ou científica. 
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