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Termodinâmica ii Prof.a Margaret Luzia Froehlich 1a Edição Indaial – 2019 Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.a Margaret Luzia Froehlich Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: F925t Froehlich, Margaret Luzia Termodinâmica II. / Margaret Luzia Froehlich. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 216 p.; il. ISBN 978-85-515-0324-9 1. Termodinâmica. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 536.7 III apresenTação Este livro tem o objetivo de apresentar os conceitos básicos da termodinâmica acompanhados de uma breve revisão histórica de tais conceitos. Trataremos da lei dos gases ideais estendendo-se aos gases reais, a aplicação dos resultados obtidos dos processos termodinâmicos para o desenvolvimento de tecnologias que ajudaram a humanidade a evoluir para um patamar com mais recursos civilizatórios e aumento da qualidade de vida. Ainda, a utilização do conceito de conservação de energia nas transformações termodinâmicas e seus enunciados empregados no desenvolvimento e aprimoramento das máquinas térmicas no decorrer dos séculos. Discute-se também a importância do ciclo de Carnot para entender o limite máximo de rendimento em qualquer máquina térmica e o fato de que todas as máquinas térmicas transferem parte da energia proveniente de uma fonte de calor para a realização de trabalho e outra parte é perdida para o ambiente, sendo impossível converter todo o calor em trabalho útil. Por fim, apresentaremos o conceito de entropia do universo e sua variação em processos reversíveis e irreversíveis. Bons estudos! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – LEIS DA TERMODINÂMICA .....................................................................................1 TÓPICO 1 – PROCESSOS TERMODINÂMICOS ..............................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 ESTADO TERMODINÂMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA ......................................4 3 EQUIVALENTE MECÂNICO DE CALOR ........................................................................................5 4 TRABALHO EM UM PROCESSO TERMODINÂMICO ...............................................................8 4.1 PROCESSO ISOCÓRICO ................................................................................................................ 11 4.2 PROCESSO ISOBÁRICO ................................................................................................................ 12 4.3 PROCESSO ISOTÉRMICO ............................................................................................................. 13 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 16 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 – PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA.................................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 PROCESSO ADIABÁTICO E PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA ................................. 22 3 APLICANDO A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA NO PROCESSO ADIABÁTICO ........23 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 – MÁQUINAS TÉRMICAS ............................................................................................... 37 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37 2 MÁQUINAS TÉRMICAS .................................................................................................................... 37 3 MÁQUINAS DE COMBUSTÃO INTERNA ................................................................................... 41 4 CICLO DE OTTO .................................................................................................................................. 42 5 CICLO DE DIESEL ............................................................................................................................... 45 6 REFRIGERADORES............................................................................................................................. 46 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 50 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 51 TÓPICO 4 – SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA ................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53 2 CICLO DE CARNOT............................................................................................................................ 54 3 SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA ....................................................................................... 59 4 TEOREMA DE CLAUSIUS ................................................................................................................. 61 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 64 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 68 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 69 UNIDADE 2 – ENTROPIA ..................................................................................................................... 73 TÓPICO 1 – ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO .............................................................75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 2 SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA E A ENTROPIA EM UM PROCESSO REVERSÍVEL ......................................................................................................................................... 79 sumário VIII 3 VARIAÇÃO DA ENTROPIA EM UM PROCESSO ISOTÉRMICO ........................................... 82 4 CÁLCULO DA VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM UMA EXPANSÃO ISOTÉRMICA ............ 86 5 CÁLCULO DA VARIAÇÃO DA ENTROPIA COM A PRESSÃO .............................................. 87 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 89 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90 TÓPICO 2 – VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM PROCESSOS TERMODINÂMICOS .............. 93 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 93 2 VARIAÇÃO DE ENTROPIA NO CICLO DE CARNOT PARA UM MOTOR TÉRMICO ...........93 3 VARIAÇÃO DE ENTROPIA NO CICLO DE CARNOT PARA UM REFRIGERADOR ........ 98 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................103 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................104 TÓPICO 3 – INTERPRETAÇÃO MICROSCÓPICA DA ENTROPIA ........................................107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 VARIAÇÃO DE ENTROPIA TOTAL EM UMA EXPANSÃO ESPONTÂNEA DE DOIS GASES .......................................................................................................................................108 3 ABORDAGEM ESTATÍSTICA DA ENTROPIA RELACIONADA À VISÃO MICROSCÓPICA DO SISTEMA ....................................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................115 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................116 TÓPICO 4 – TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA..................................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA ......................................................................................119 3 EQUAÇÕES DE GIBBS .....................................................................................................................122 4 ENTROPIA DE UMA SUBSTÂNCIA PURA ................................................................................124 5 VARIAÇÃO DA ENTROPIA DE LÍQUIDOS E SÓLIDOS ........................................................131 6 VARIAÇÃO DA ENTROPIA DOS GASES IDEAIS ...................................................................134 7 ENTROPIAS PADRÃO DE REAÇÃO ............................................................................................137 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140 UNIDADE 3 – TEORIA CINÉTICA DOS GASES ..........................................................................143 TÓPICO 1 – TEORIA ATÔMICA PARA A MATÉRIA...................................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................145 2 GÁS IDEAL E NÚMERO DE AVOGADRO ..................................................................................147 3 GÁS IDEAL ..........................................................................................................................................149 4 DENSIDADE DE MOLÉCULAS E NÚMERO DE AVOGADRO .............................................150 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................153 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................154 TÓPICO 2 – TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS .........................................157 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157 2 PRESSÃO DE UM GÁS .....................................................................................................................159 3 TRANSFORMAÇÕES TERMODINÂMICAS ..............................................................................161 3.1 TRANSFORMAÇÃO ISOCÓRICA .............................................................................................162 3.2 TRANSFORMAÇÃO ISOBÁRICA ..............................................................................................164 3.3 TRANSFORMAÇÃO ISOTÉRMICA...........................................................................................165 4 TEORIA CINÉTICA DOS GASES ..................................................................................................167 5 VELOCIDADE MÉDIA QUADRÁTICA .......................................................................................170 IX RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................173 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174 TÓPICO 3 – ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES ............. 177 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................177 2 ENERGIA CINÉTICA DE TRANSLAÇÃO ...................................................................................178 3 LIVRE CAMINHO MÉDIO ..............................................................................................................181 4 DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES ........................................................................................186 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................190 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................191 TÓPICO 4 – EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA E CALOR ESPECÍFICO ....................................193 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................193 2 TEOREMA DE EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA .........................................................................194 3 CALOR ESPECÍFICO .........................................................................................................................196 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................200 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................201 TÓPICO 5 – GASES REAIS E A EQUAÇÃODE VAN DER WAALS ........................................203 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................203 2 FORÇAS INTERMOLECULARES ..................................................................................................204 3 EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS .................................................................................................206 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................209 RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................213 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................214 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................215 X 1 UNIDADE 1 LEIS DA TERMODINÂMICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o que é um estado termodinâmico definido por suas variáveis de estado, definir a lei zero, relacionar calor e trabalho, estudar os processos termodinâmicos; • definir o processo adiabático e entender primeira lei da termodinâmica; • entender o conceito de máquinas térmicas e ciclos de Otto e de Diesel; • enunciar a segunda lei da termodinâmica e compreender a relação com o ciclo de Carnot. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – PROCESSOS TERMODINÂMICOS TÓPICO 2 – PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA TÓPICO 3 – MÁQUINAS TÉRMICAS TÓPICO 4 – SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PROCESSOS TERMODINÂMICOS 1 INTRODUÇÃO Do grego (therme → calor e dynamis → potência), termodinâmica é a ciência que estuda as transferências de energia em sistemas macroscópicos através da relação entre trabalho e calor. Surgiu em 1650 com o governador de Magdeburg, na Alemanha, Otto von Guericke, que demonstrou a existência do vácuo extraindo o ar de dois hemisférios de cobre unidos. A pressão da atmosfera, externa aos hemisférios, deixou estes tão unidos que foi necessária a força de oito cavalos para separá-los. Em 1655, Robert Boyle estabelece as relações entre volume, temperatura e pressão de um gás. Em 1687, Thomas Savery constrói a primeira máquina a vapor, mas foi só em 1824, com Sadi Carnot, que a termodinâmica teve seu verdadeiro início. Carnot fundamentou a primeira lei da termodinâmica em sua obra “Réflexions Sur la Puissance Motrice du Feu et Sur les Machines Propres a Développer Cette Puissance” (Reflexões sobre a potência motriz do fogo). FIGURA 1 – REFLEXÕES SOBRE A POTÊNCIA MOTRIZ DO FOGO, LIVRO PUBLICADO EM 1824 FONTE: Nascimento, Braga e Fabris (2004, p. 512) UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 4 De acordo com Nascimento, Braga e Fabris (2004, p. 512): Nicolas Léonard Sadi Carnot (1796–1832) é um nome importante na história da Termodinâmica, por ter introduzido a ideia de transformações cíclicas e por ter provado que a mais eficiente das máquinas termodinâmicas é aquela em que todas as operações são reversíveis. As interpretações da obra de Carnot foram de fundamental importância na formulação das leis fundamentais da Termodinâmica. A termodinâmica se baseia em quatro leis gerais que se aplicam a muitos sistemas macroscópicos, tais como usinas de energia, refrigeradores, motores, oceanos, atmosfera, vulcões etc. Um sistema termodinâmico é um conjunto de corpos que pode trocar energia e massa com o meio exterior (as suas vizinhanças). O trecho de uma tubulação transportando algum fluido pode ser considerado um sistema termodinâmico. Uma chaleira de água sobre a chama de um fogão também pode ser considerada um sistema termodinâmico. As trocas de energia e massa entre o sistema e as vizinhanças caracterizam um processo termodinâmico. 2 ESTADO TERMODINÂMICO E LEI ZERO DA TERMODINÂMICA O estado termodinâmico de um sistema é definido pelas suas propriedades: volume V, temperatura T, pressão p, número de mols n, massa M e densidade d. Tais variáveis são chamadas de variáveis de estado e estão relacionadas através de equações de estado. Quando as equações de estado permanecem inalteradas, dizemos que o sistema está em equilíbrio térmico. Com relação ao volume, temperatura e pressão, Pizzo (2015, p. 5) afirma que: Quando o sistema for uma substância em fase gasosa, seu volume será o volume do recipiente em que se encontra, uma vez que a tendência do gás é a de ocupar todo o recipiente, por não possuir forma ou volumes próprios. A pressão de um gás é o resultado do choque de seus átomos ou moléculas constituintes nas paredes do recipiente. Assim, há uma força resultante por unidade de área, denominada pressão do gás. A temperatura de um gás é uma medida do grau de agitação de seus constituintes, ou seja, da quantidade de energia (interna) da substância. Quando dois corpos são colocados em contato, permitindo que um ceda energia para o outro e as suas funções de estado estão inalteradas, acabam se encontrando em equilíbrio térmico. A lei zero da termodinâmica se baseia em tal fato, e diz que “dois sistemas em equilíbrio térmico com um terceiro estão em equilíbrio térmico entre si” (NUSSENZVEIG, 2014, p. 195). TÓPICO 1 | PROCESSOS TERMODINÂMICOS 5 Um sistema fechado é um sistema em que a massa permanece constante, ou seja, não sai e nem entra matéria. Por outro lado, permite entrar e sair energia. Um sistema isolado não permite nenhum tipo de troca com o meio externo, não entra nem sai matéria e não entra e nem sai energia. Em um sistema isolado, as variáveis de estado tendem a ficar constantes e o sistema tende a permanecer em equilíbrio térmico. 3 EQUIVALENTE MECÂNICO DE CALOR Como já dito, um sistema termodinâmico é uma coleção de objetos e pode ser encarado como uma unidade. Ainda, tem o potencial de trocar energia e massa com o ambiente (as vizinhanças). Experiências comprovam que um sistema isolado de suas vizinhanças tende a permanecer em equilíbrio térmico, ou seja, suas equações de estado não sofrem nenhuma alteração. Quando existe alteração nas funções, dizemos que o sistema sofreu um processo termodinâmico. Um exemplo clássico é quando se coloca milho em uma panela para fazer pipoca. O milho absorve o calor da chama por condução e quando o milho estoura seu volume aumenta, realizando trabalho sobre a tampa da panela, e ela sofre um deslocamento (YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 252). FIGURA 2 – A PIPOCA NA PANELA É UM SISTEMA TERMODINÂMICO FONTE: Young e Freedman (2008, p. 252) Houve uma troca de energia entre o sistema e as suas vizinhanças, que levou à variação de temperatura T e de volume V. O milho de pipoca absorveu energia na forma de calor Q e estourou, levando a pipoca a ocupar mais espaço, aumentando o seu volume. A ação resultou no trabalho W, que provocou o deslocamento da tampa. UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 6 Na primeira metade do século XIX, vários cientistas estavam envolvidos com a conversão de forças, como converter o magnetismo e reações químicas em eletricidade e calor. Embora se observasse uma proporcionalidade entre as conversões, não era possível obtê-la com precisão. De acordo com Souza, Silva e Araújo (2014, p. 3309-2): Algumas conversões eram utilizadas antes mesmo do século XIX, como a conversão do vapor em movimento nas máquinas ou a pilha de Volta. Contudo, somente na década de 1830 as diferentes conversões obtidas passaram a ser compreendidas como um processo maior. Parecia haver uma conexão única entre diferentes “forças naturais”. A conexão foi estabelecida por James Prescott Joule, em um experimento semelhante ao da figura a seguir, através do qual encontrou-seo equivalente mecânico que relaciona o trabalho à energia transferida na forma de calor. O experimento consistia em duas massas presas por um fio passando por roldanas e um sistema de pás giratórias era acionado dentro de um recipiente com água quando as massas desciam. A temperatura da água se elevava com o movimento das pás. Assim, o trabalho W realizado pela força da gravidade sobre as pás era convertido em aumento da energia interna da água. FIGURA 3 – EXPERIÊNCIA DE JOULE FONTE: Passos (2009, p. 3603-5) termômetro H M TÓPICO 1 | PROCESSOS TERMODINÂMICOS 7 Na figura anterior estão representados o calorímetro (recipiente adiabático em que as trocas de energia e massa com o exterior não são permitidas) e o termômetro. O calorímetro está cheio de água a uma dada temperatura e estão inseridas pás presas a um eixo que gira com a queda dos dois pesos presos às polias. Estão dispostas na lateral e unidas ao eixo pela corda. O movimento das pás eleva a temperatura da água. O trabalho mecânico W, realizado pelo deslocamento H dos pesos, é equivalente ao calor Q, que eleva a temperatura da água na mesma quantidade que o movimento das pás gerou. Atualmente, o valor aceito como equivalente de energia entre calor e trabalho é de 1 caloria = 4,186 Joules. Precisamos ter em mente também que o aumento da temperatura da água ocasionou o aumento da sua energia interna. Essa energia não é o calor, pois este apenas é absorvido pela água enquanto sua temperatura está variando, mas está associada ao movimento das partículas, ou seja, à energia cinética das moléculas de água. A energia cinética de cada partícula é uma grandeza microscópica, mas o efeito global pode ser encarado como uma grandeza macroscópica. A representação é feita pela energia interna U do sistema. Veremos, mais adiante, como relacionar trabalho W, calor Q e variação de energia interna ∆U. Agora, basta saber que em um processo termodinâmico a quantidade de calor Q absorvida pelo sistema tem sinal positivo, enquanto que em um processo em que o sistema libera calor o sinal de Q é negativo. Do mesmo modo, se o sistema realiza trabalho W, este tem sinal positivo, mas se o trabalho é realizado sobre o sistema, o sinal de W é negativo. Então, só para exemplificar, no caso do experimento descrito, o sistema recebeu calor, Q é positivo, foi realizado trabalho e W é negativo. Veja o resumo dos casos no esquema a seguir. FIGURA 4 – CONVENÇÃO DE SINAIS DE Q E W FONTE: Young e Freedman (2008, p. 253) Sistema Sistema Vizinhanças (ambiente) Vizinhanças (ambiente) O calor é positivo quando entra no sistema, negativo quando sai do sistema. O trabalho é positivo quando é feito pelo sistema, negativo quando é feito sobre o sistema. Q > 0 Q < 0 W < 0 W > 0 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 8 4 TRABALHO EM UM PROCESSO TERMODINÂMICO Sabemos que quando um sistema sofre uma transformação em suas funções de estado, ocorre um processo termodinâmico e este pode ser reversível ou irreversível. A pipoca estourando na panela é um processo irreversível, pois é impossível reverter a pipoca para o seu estado inicial, ou seja, não há como a pipoca voltar a se tornar milho. Contudo, se deixarmos um copo de água no congelador, obteremos gelo no fim de um tempo. Ainda, se retirarmos do congelador o copo com a água congelada e o deixarmos durante certo tempo sobre a mesa na temperatura ambiente, o gelo derreterá e voltará ao estado inicial, ou seja, água líquida, constituindo um processo reversível. No momento, vamos nos concentrar em um sistema constituído de um gás ideal e um processo reversível. Um gás pode ser considerado ideal quando sua pressão é baixa e sua temperatura é alta, implicando baixa densidade. No caso, seus átomos ou moléculas constituintes não influenciam o comportamento uns dos outros, e não existem interações de repulsão ou atração. Por outro lado, quando os gases estão submetidos a baixas temperaturas e altas pressões, os efeitos passam a ser notáveis: a alta densidade do gás faz com que suas partículas constituintes estejam próximas umas das outras, a ponto de influenciarem no comportamento das partículas vizinhas (PIZZO, 2015, p. 7). Vamos analisar um processo como o de um gás se expandindo em um cilindro com um êmbolo móvel. FIGURA 5 – VARIAÇÃO DE VOLUME DE UM GÁS NO INTERIOR DE UM CILINDRO FONTE: Young e Freedman (2008, p. 254) Sistema Força que o sistema exerce sobre o pistão. dx A PA Vamos submeter o gás a um aumento de temperatura por meio de alguma fonte de calor. Ao elevarmos a temperatura T, as partículas do gás ficarão mais agitadas e colidirão mais sobre as paredes do cilindro e do êmbolo, aumentando a pressão p no interior do recipiente. Como o êmbolo é móvel, se deslocará de uma distância dx para a direita, aumentando o volume V do gás, caracterizando um trabalho realizado pelo sistema. As variáveis T, p e V estão relacionadas pela equação de estado de um gás ideal: TÓPICO 1 | PROCESSOS TERMODINÂMICOS 9 pV = nRT dW = pAdx dW = pdV (1) (2) (3) (4) O n é o número de mols e R a constante universal dos gases, que tem o valor de R = 8,314 J/mol.K, ou 0,08205746 L.atm/K.mol (PIZZO, 2015). Ainda, o trabalho infinitesimal realizado pelo gás é: Contudo, o produto da área A com o deslocamento infinitesimal dx é igual ao volume infinitesimal dV. Portanto, a equação (2) passa a ser: O trabalho total será encontrado integrando-se a equação (3), resultando em: Vf Vi W pdV= ∫ Para calcular o trabalho é necessário saber como a pressão e o volume variam durante o processo. Ainda precisamos saber como está ocorrendo a transformação do sistema, que passa de um estado inicial i (estado 1) para um estado final f (estado 2). FIGURA 6 – VARIÁVEIS DE ESTADO ENTRE DOIS ESTADOS FONTE: <http://trabalhandofisica.blogspot.com/>. Acesso em: 19 ago. 2018. Exemplo: Calcule o trabalho realizado na transformação mostrada no gráfico da figura a seguir. ESTADO 1 P1 . V1 . T1 P2 . V2 . T2 ESTADO 2 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 10 FIGURA 7 – DIAGRAMA P X V DE UMA TRANSFORMAÇÃO TÉRMICA 8 4 A p(102 N/m2) 0,2 0,4 V(m3) B FONTE: A autora Solução: Podemos determinar a área abaixo da curva do gráfico p x V e que, numericamente, é igual ao trabalho. Basta lembrarmos de acrescentar um sinal negativo ao resultado se o volume estiver diminuindo. Observando a figura anterior, vemos que a área é composta por um triângulo e um retângulo. Assim, temos que: Atotal = A triângulo + A retângulo Atotal = ((base x altura) / 2) triângulo + (base x altura)retângulo ( )( ) ( )( ) 2 2 2 0, 4 0,2 8.10 4.10 0,4 0,2 4.10 2 A − − = + − A = 40 + 80 = 120 Resposta: Como numericamente o valor da área é igual ao trabalho e o volume aumentou, W = 120J. Exemplo: Calcular o trabalho ocorrido no processo térmico da figura a seguir. FIGURA 8 – TRANSFORMAÇÃO CÍCLICA FONTE: A autora p(102 N/m2) V(m3)0,40,2 4 8 TÓPICO 1 | PROCESSOS TERMODINÂMICOS 11 Solução: No processo cíclico, o trabalho é numericamente igual à área demarcada pelo ciclo. Como se trata de um retângulo, vamos calcular a área como segue: A = (base x altura)retângulo A = (0,4 – 0,2)(4.102) = 80 Resposta: O trabalho no processo cíclico é W = 80 J. Veremos, agora, como calcular o trabalho no caso particular de manter uma das variáveis de estado constante. 4.1 PROCESSO ISOCÓRICO A figura a seguir mostra um gráfico da pressão pelo volume de um processo isocórico. Observe que o volume V não varia durante o processo, e fornece ∆V = 0. Como o trabalho está relacionado à variação de volume, como podemos ver pela equação (4), ele se torna nulo. 0 Vf Vi W pdV= =∫ (5) FIGURA 9 – TRANSFORMAÇÃO ISOCÓRICA FONTE: Young e Freedman (2008, p. 272) V(m3)0,050 30,0 P (kPa) O A equação (5) fornece o resultado do trabalho W em uma transformação térmica em relação ao volume V constante. UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 12 4.2 PROCESSO ISOBÁRICO Em um processo isobárico, o volume varia,porém, a pressão permanece constante. A integral da equação (4) fornece: Vf Vi W pdV p V= = ∆∫ (6) FIGURA 10 – EXPANSÃO ISOBÁRICA FONTE: Young e Freedman (2008, p. 254) P P 1 V1 Trabalho = Área = P(V2 – V1) > 0 V2 V 2 O A equação (6) fornece o trabalho W em uma expansão ou compressão da pressão p constante. Exemplo: Um certo gás sofre um processo termodinâmico A → B → C, conforme mostrado no diagrama p x V da figura a seguir. Qual é o trabalho realizado no processo? Solução: No trecho de A para B ocorre um processo isocórico (volume constante, ∆V = 0), portanto WAB = 0. No trecho de B para C ocorre uma compressão isobárica (pressão constante p = 7 x 105N/m2). Usando a equação (6), encontramos WBC: Vf BC Vi W pdV p V= = ∆∫ ( ) 5 3 3 2 10 N7 0,1 0,3BCW m mm = − 410 N14BCW m = − TÓPICO 1 | PROCESSOS TERMODINÂMICOS 13 Em vez de substituirmos os valores na equação (6), poderíamos ter calculado a área abaixo da curva dada pela função de p (no caso, em particular, são duas retas) e teríamos obtido o mesmo resultado, exceto pelo sinal, que é negativo, por se tratar de uma compressão. Resposta: O trabalho total é a soma dos trabalhos WAB = e WBC. Fornece o trabalho total -14 x 104 J, uma vez que 1N/m é equivalente a 1J. FIGURA 11 – TRANSFORMAÇÃO TERMODINÂMICA FONTE: A autora 7x105 C B A3x105 0,1 V (m3) p (N/m2) 0 4.3 PROCESSO ISOTÉRMICO Em um processo isotérmico, a temperatura permanece constante. A curva obtida no processo é chamada de isoterma, pois todos os pontos possuem o mesmo valor para a temperatura. Para encontrarmos o trabalho W, vamos substituir a pressão p da equação (1) na equação (4), Vf Vf Vi Vi nRTdVW pdV V = =∫ ∫ Integrando, a ação fornece: ( ) Vf f i Vi dVW nRT nRT lnV lnV V = = −∫ f i V W nRTln V = (7) (8) (9) UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 14 FIGURA 12 – EXPANSÃO ISOTÉRMICA FONTE: Nussenzveig (2014, p. 233) A equação (9) fornece o trabalho W em um processo a uma temperatura T constante. Exemplo: A figura a seguir mostra o diagrama p x V de uma expansão de 3 mols de um gás, mantendo a temperatura de 283 K. Encontre o trabalho realizado na transformação. FIGURA 13 – TRANSFORMAÇÃO ISOTÉRMICA FONTE: A autora V (10-2m3)8420 0,5 1,0 2,0 p(N/m2) isoterma Solução: Como a temperatura foi mantida constante, podemos calcular o trabalho usando a equação (9): f i V W nRTln V = TÓPICO 1 | PROCESSOS TERMODINÂMICOS 15 ( )( )( ) 2 3 2 3 8.10 m3 8,314 J / mol.K 283 2.10 m W mols K ln − −= 6,92W kJ= Resposta: Na transformação, o trabalho realizado foi de 6,92 kJ e a constante universal dos gases foi substituída por R = 8,314 J/mol.K. O trabalho de um gás ideal em um processo termodinâmico depende do caminho seguido através do diagrama pV. Na figura a seguir, o trabalho realizado no processo A é maior que o trabalho realizado no processo B. FIGURA 14 – DOIS PROCESSOS TERMODINÂMICOS A E B SAEM DO ESTADO INICIAL 1 E VÃO AO MESMO ESTADO FINAL 2 POR CAMINHOS DIFERENTES: W A < W B FONTE: Moran e Shapiro (1995, p. 48) P A Área = work for process A 2 V B 16 Neste tópico, você aprendeu que: • Obtivemos conhecimento de uma experiência realizada por Joule, que levou a determinar o equivalente de calor para a energia mecânica. • Há o enunciado da lei zero da termodinâmica. • Um gás ideal e as variáveis de estado dão informações sobre o estado de um sistema termodinâmico. • Existem processos termodinâmicos e o cálculo do trabalho em uma transformação entre dois estados termodinâmicos. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 A termodinâmica é a parte da física que estuda as conversões de energia através da relação entre: a) ( ) Temperatura e calor. b) ( ) Volume e trabalho. c) ( ) Trabalho e calor. d) ( ) Calor e pressão. e) ( ) Trabalho e pressão. 2 O equivalente mecânico de calor foi determinado através de um experimento realizado por: a) ( ) James Prescott Joule. b) ( ) Robert Boyle. c) ( ) Otto von Guericke. d) ( ) Sadi Carnot. e) ( ) Thomas Savery. 3 Relacione os cientistas com as suas descobertas. I- Otto von Guericke II- Robert Boyle III- Thomas Savery IV- Sadi Carnot ( ) Em 1687, constrói a primeira máquina a vapor. ( ) Demonstrou, em 1650, a existência do vácuo, extraindo o ar de dois hemisférios de cobre unidos. ( ) Em 1824, fundamentou a primeira lei da termodinâmica. ( ) Estabeleceu, em 1655, as relações entre volume, temperatura e pressão de um gás. a) ( ) II, I, IV, III. b) ( ) II, IV, III, I. c) ( ) IV, III, I, II, d) ( ) III, I, IV, II. e) ( ) III, IV, II, I. AUTOATIVIDADE 18 4 O enunciado da lei zero da termodinâmica afirma que: a) ( ) A variação da energia interna é igual à soma do calor que entra e sai e do trabalho realizado sobre ou pelo sistema. b) ( ) O calor não pode ser convertido completamente em trabalho útil. c) ( ) Dois sistemas em equilíbrio térmico com um terceiro estão em equilíbrio térmico entre si. d) ( ) Um processo termodinâmico pode ser reversível ou irreversível, dependendo apenas da configuração do sistema. e) ( ) O calor cedido por um corpo é igual ao calor recebido pelo outro corpo. 5 Em um sistema termodinâmico, são variáveis de estado: a) ( ) Trabalho, pressão e energia interna. b) ( ) Volume, pressão e temperatura. c) ( ) Calor, trabalho e energia interna. d) ( ) Pressão, volume e calor. e) ( ) Energia interna, volume e pressão. 6 Calcule o trabalho realizado no processo representado no diagrama p x V da figura a seguir. a) ( ) 150 J b) ( ) 75 J. c) ( ) 100 J. d) ( ) 80 J. e) ( ) 0. 7 A figura a seguir mostra o diagrama p x V de uma compressão de 2 mols de um gás, mantendo a temperatura de 285 K. Encontre o trabalho realizado na transformação. V (m3)0,60,3 0,25 0,50 p(103 N/m2) 19 a) ( ) 6,57 x 103 J, b) ( ) – 7,5 x 103 J. c) ( ) 100 x 103 J. d) ( ) – 6,57 x 103 J. e) ( ) 0. 8 Um certo gás sofre um processo termodinâmico A → B → C. Qual é o trabalho realizado no processo? a) ( ) 0,57 x 105 J, b) ( ) – 1,5 x 105 J. c) ( ) 10 x 105 J. d) ( ) – 1,1 x 105 J. e) ( ) 1,1 x 105 J. p(N/m2) 4,0 4,0 V(10-2m3) isoterma 2,0 2,0 1,0 1,0 V(m3)0,30,1 A B C 0 3,5x105 9x105 p (N/m2) 20 9 Um certo gás sofre um processo cíclico. Qual é o trabalho realizado no processo? a) ( ) 45 J. b) ( ) – 15 J. c) ( ) 10 J. d) ( ) – 56 J. e) ( ) 0. 10 Um certo gás contendo 5 mols a uma temperatura inicial de 295 K sofre um processo isocórico. Qual é o trabalho realizado no processo? a) ( ) 2,57 x 103 J, b) ( ) – 11,5 x 103 J. c) ( ) 100 x 103 J. d) ( ) – 6,83 x 103 J. e) ( ) 0. V(10-2m3) p(103N/m2) 4,0 4,0 2,0 2,0 1,0 1,0 21 TÓPICO 2 PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Quando estudamos um sistema termodinâmico, estamos interessados nas transferências de energia envolvidas. No experimento do equivalente de calor, Joule observou como o meio em um sistema fechado pode passar de um estado de equilíbrio para outro estado de equilíbrio sem que haja troca de calor com o meio externo. No processo, que é chamado de processo adiabático, consideramos apenas as interações de trabalho W entre o meio e as vizinhanças, enquanto que as interações de calor Q são nulas, portanto Q = 0. A suposição de um processo adiabático fornece o rigor necessário para expor a primeira lei da termodinâmica. É uma simplificação usada com frequência para descrever sistemas como o de um cilindro de motor térmico, por exemplo. A compressão dentro do cilindro ocorre tão rapidamente que a fração de energia perdida, na forma de calor, pode ser desprezada, embora o cilindro não esteja realmente isolado e seja um bom condutor de calor. Moran e Shapiro (1995, p. 58) afirmam que: Em uma conversação ordinária, o termo calor é frequentemente usado quando a palavra energia seria mais termodinamicamente correta. Porexemplo, alguém pode ouvir: "Por favor, feche a porta porque o calor vai sair". Na termodinâmica, calor refere-se somente à transferência de energia. Ele não se refere ao que está sendo armazenado no sistema. A energia é transferida e armazenada, não o calor. Às vezes, a transferência de energia na forma de calor de um sistema para outro pode ser desprezada. Isto pode ocorrer devido a várias razões relacionadas aos mecanismos de transferência de calor [...]. Uma delas pode ser por causa dos materiais ao redor do sistema serem bons isolantes, ou o calor transferido pode ser insignificante porque há uma pequena diferença de temperatura entre o sistema e as vizinhanças. A terceira razão é que pode não ter área superficial suficiente para uma transferência de calor significativa ocorrer. Quando a transferência de calor é desprezada, isso se deve a uma ou mais das considerações citadas. Na próxima seção, o valor de Q é fornecido ou é desconhecido na análise. Quando Q é fornecido, assumimos que o valor foi determinado pelos métodos estudados em calorimetria e mecanismos de transferência de calor. Quando Q é desconhecido, seu valor geralmente é determinado pelo balanço de energia, discutido a seguir. UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 22 2 PROCESSO ADIABÁTICO E PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA No processo adiabático o sistema não troca calor com as vizinhanças, isso pode acontecer quando o sistema está isolado ou quando a transformação é muito rápida. A expansão adiabática do gás causa uma diminuição da temperatura e na figura a seguir a curva que representa o processo fica entre duas isotermas. O trabalho W, no processo, é a área abaixo da curva. FIGURA 15 – PROCESSO ADIABÁTICO FONTE: <https://pt.solar-energia.net/termodinamica/processos-termodinamicos/processo- adiabatico>. Acesso em: 18 ago. 2018. p Work done Adiabatic process Isotherms V Baseado em sua experiência, Joule deduziu que o valor para o trabalho é o mesmo para todo processo adiabático entre dois estados de equilíbrio. O valor do trabalho entre os dois estados termodinâmicos, em um sistema fechado, depende apenas dos seus estados inicial e final e não dos detalhes envolvidos no processo adiabático em si. O trabalho produz uma mudança em alguma propriedade do sistema, e a propriedade é a energia E. Seguindo o raciocínio, a mudança de energia entre os dois estados pode ser definida como: Ef – Ei = –W (10) Quando o sistema realiza trabalho (W>0), perde energia (∆E<0), mas quando é realizado trabalho sobre o sistema (W<0), o sistema ganha energia (∆E>0). A formulação estabeleceu uma base para a primeira lei da termodinâmica e para o balanço de energia: TÓPICO 2 | PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 23 A mudança na energia do sistema = Quantidade de energia transferida na forma de calor através de seu limite - Quantidade de energia transferida por trabalho através de seu limite A declaração anterior afirma que, em um processo qualquer de um sistema fechado, em um certo intervalo de tempo, a energia do sistema aumenta ou diminui em quantidade igual à quantidade líquida de energia transferida através do seu limite (MORAN; SHAPIRO, 1995). A primeira lei da termodinâmica é um princípio de conservação de energia. Foi enunciada, pela primeira vez, por Julius Robert von Mayer, em 1841, e diz que em um sistema fechado a energia não pode ser criada nem destruída, apenas se transforma em um outro tipo de energia. Todos os tipos de conversão de energia se baseiam em tal princípio, segundo Passos (2009). Expressando matematicamente essa lei, podemos escrever: Ef – Ei = Q – W Assumindo que a variação de energia do sistema possa ser uma variação da sua energia cinética ∆K, da sua energia potencial ∆P e da sua energia interna ∆U, teremos: ∆K + ∆P + ∆U = Q – W Nos casos em que não ocorre variação de energia cinética ou potencial, ocorrendo apenas a variação da energia interna do sistema, encontramos: ∆U = Q – W A equação (13) é conhecida como a primeira lei da termodinâmica. (11) (12) (13) 3 APLICANDO A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA NO PROCESSO ADIABÁTICO A energia térmica é a soma das energias cinéticas de todos os átomos e moléculas em movimento, e a energia potencial armazenada nas ligações moleculares está associada à temperatura do sistema. Knight (2009, 507) afirma que: UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 24 Estritamente falando, a energia térmica, devido ao movimento molecular, é apenas uma forma de energia armazenada em nível microscópico e em um sistema. Por exemplo, o sistema poderia possuir energia química, que pode ser liberada através de reações químicas envolvendo as moléculas do sistema. A energia química é muito importante na termodinâmica para a engenharia, e necessária para caracterizar processos de combustão. A energia nuclear está armazenada nos núcleos atômicos e pode ser liberada durante o decaimento radioativo. Todas as fontes de energia microscópicas são chamadas, em conjunto, de energia interna do sistema: Eint = Eterm + Equim + Enuc + ... A energia total do sistema, portanto, é Esis = Emec + Eint. Vamos nos concentrar nos sistemas termodinâmicos simples. Assim, vamos considerar apenas a energia interna proveniente da energia térmica. Para qualquer processo com um gás ideal, a variação da energia interna é: ∆U = nCV∆T O n é o número de mols, CV é o calor específico diante do volume constante e ∆T é a variação de temperatura (KNIGHT, 2009). Em um processo adiabático Q =0, substituindo Q na equação (13), temos: ∆U = –W Assim, se o gás sofre uma expansão, W > 0, a energia interna do sistema diminui e, consequentemente, a temperatura do sistema também diminui. Por outro lado, se o gás sofre uma compressão, W < 0, sua energia interna aumenta e a sua temperatura também aumenta. Considerando um processo adiabático em que uma quantidade infinitesimal de trabalho dW cause uma mudança infinitesimal na energia interna dU, e com base na equação (15), podemos escrever: nCVdT = – pdV Substituindo p = nRT/V da lei dos gases ideais, encontramos: V nRTnC dT dV V = − A fórmula fornece: V dT R dV T C V = − Assumindo que R = CP – CV, sendo R a constante universal dos gases, CP o calor específico diante da pressão constante e CV o calor específico diante do volume constante, temos que: (14) (15) (16) (17) TÓPICO 2 | PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 25 Fizemos γ = CP/CV. Substituindo o resultado anterior e integrando, obtemos: A integração resulta em: Empregando as propriedades logarítmicas, obtemos: Substituindo T = pV/nR e cancelando 1/nR de ambos os lados, temos: 1 1P V P V V V C C CR C C C γ−= = − = − ( )1 f f i i T V T V dT dV T V γ= − −∫ ∫ (18) (19) (20) ( )1 f i i f T Vln ln T V γ − = 1 1 f f i iT V TV γ γ− −= f f i ip V pV γ γ= Podemos concluir que o produto pVγ é constante em um processo adiabático (KNIGHT, 2009). Exemplo: Um gás confinado em um cilindro com pistão móvel sofre um processo de expansão em que a relação entre pressão e volume é dada pela expressão: pVy = constante A pressão inicial é de 3 x105 Pa, o volume inicial é de 0,1 m3 e o volume final é de 0,2 m3. Determine o trabalho no processo, em kJ, se = 1,5. Solução: Usando a equação a seguir para o cálculo: Vf Vi W pdV= ∫ UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 26 Ainda, isolando p na equação dada no enunciado e substituindo na expressão anterior: Vf Vi constanteW dV V γ = ∫ ( ) ( )1 12 1 1 constante V constante V W γ γ γ − −− = − A constante, na expressão, pode ser tomada para cada estado. Assim: ( ) ( )1 12 2 2 1 1 1 1 p V V p V V W γ γ γ γ γ − −− = − A expressão para o trabalho se torna, então: 2 2 1 1 1 p V p VW γ − = − Antes de substituirmos os valores dados, vamos determinar a pressão no estado final: f f i ip V pV γ γ= ( ) ( )( )1,5 1,53 5 30, 2 3.10 0,1fp m Pa m= 51,06.10fp Pa= Agora, podemos substituir todos os valores na expressão do trabalho, levando em conta que pf= 1,06.105Pa: ( )( ) ( )( )5 2 3 5 2 3 31,06.10 / 0,2 3,0.10 / 0,1 17,6.10 1 1,5 N m m N m m W Nm − = = − Resposta: O trabalho é igual a 17,6 kJ (MORAN; SHAPIRO, 1995). Exemplo: Quatro décimos de quilograma de um determinado gás estão contidos em um conjunto pistão-cilindro. O gás passa por um processo no qual a relação pressão-volume é: TÓPICO 2 | PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 27 pV1,5 = constante A pressão inicial é de 3 x105 Pa, o volume inicial é de 0,1 m3 e o volume final é de 0,2 m3. A variação de energia interna do gás no processo é de ∆U = - 55 kJ/kg. Não há variação significativa de energia potencial e cinética. Determine o calor transferido no processo. Solução: Vamos calcular a variação da energia interna levando em conta os quatro décimos de quilograma: Utilizando: ( )( )0,4 55 / 22m U kg kJ kg kJ∆ = − = − K P U Q W∆ + ∆ + ∆ = − Fazendo ∆K e ∆U igual a zero (do enunciado) e utilizando o trabalho calculado no exemplo anterior, encontramos: 0 0 22 17,6kJ Q kJ+ − = − 4,4Q kJ= − Resposta: O calor transferido no processo é de – 4,4 kJ (MORAN; SHAPIRO, 1995). Exemplo: Ar contendo vapor de gasolina entra no cilindro de um motor, a combustão interna a 1,2 atm de pressão e com 40 0C de temperatura. O pistão comprime rapidamente o gás de 460 cm3 para 60 cm3, correspondendo à razão de compressão de 10. a) Calcule a pressão e a temperatura finais do gás. b) Represente o processo em um diagrama pV. c) Quanto trabalho é realizado para comprimir o gás? Dados γ = 1,4 e CV = 20,8 J/mol.K (KNIGHT, 2009). Solução: A expansão é rápida demais para que o calor seja transferido do gás para as vizinhanças, portanto consideraremos uma compressão adiabática e trataremos o gás como se ele fosse 100% ar. Vamos calcular primeiramente a pressão final através da equação: UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 28 f f i ip V pV γ γ= ( ) ( )( )1,4 1,43 360 1,2 460fp cm atm cm= 20,8fp atm= a) Vamos determinar a temperatura usando a lei dos gases ideais entre dois estados termodinâmicos. Transformamos 40 0C em 313K. f f i i f i p V pV T T = ( )( ) ( )( )3 320,8 60 1,2 460 313f atm cm atm cm T K = 0708 435fT K C= = b) A figura mostra o gráfico pV. A adiabática está traçada entre as duas isotermas. FIGURA 16 – DIAGRAMA PV FONTE: A autora c) O trabalho realizado é determinado através das equações (14) e (15) e levando em conta que W < 0 (compressão), a equação (15) se torna: ΔU = W Substituindo a energia interna dada pela equação (14), temos: W = nCVΔT TÓPICO 2 | PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 29 Precisamos determinar o número de mols n. Contudo, vamos utilizar a lei dos gases: i i i pVn RT = ( )( ) ( )( ) 5 2 6 31, 212.10 / 460.10 0,0214 8,31 J / mol.K 313 N m m n mol K − = = Convertemos a pressão de atm para Pa (N/m2) e o volume de cm3 para m3. Substituindo os valores, encontramos: VW nC T= ∆ ( )( )( )0,0214 20,8 / 395 176W mol J molK K J= = Resposta: a) A pressão final do gás é de 20,8 atm e a temperatura final é de 708 K. b) O diagrama pV foi representado na figura anterior. c) O trabalho realizado sobre o sistema é de 176 J. Exemplo: Cinco litros de um gás ideal, com temperatura inicial de 300 K e pressão inicial de 2,1 atm, são submetidos aos seguintes processos: 1→2: expansão isotérmica para V2 = 3V1 2→3: compressão isobárica 3→1: compressão adiabática (voltando para o seu estado inicial). a) Encontre a pressão, o volume e a temperatura do gás nos estados 2 e 3. b) Qual é a quantidade de mols presente no gás? c) Quanto trabalho é realizado pelo gás durante cada um dos três processos? d) Quanto calor flui para o gás em cada um dos processos? Dado: γ = 5/3, CV = 12,5. Solução: a) Para a expansão isotérmica, de 1→2, o volume aumentou para V2 = 3V1, portanto V2 = 3(5L) = 15 L. Utilizando a lei dos gases ideais para a relação entre dois estados termodinâmicos, temos: f f i i f i p V pV T T = UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 30 Simplificando a temperatura, pois T2 = T1, e substituindo os valores conhecidos na equação, temos: 2 2 1 1p V p V= ( )2 1 13 2,1p V atm V= 2 0,9p atm= Para a compressão isobárica, 2→3, a pressão permaneceu constante, portanto p3 = p2 = 0,9 atm. Para a compressão adiabática, 3→1, precisamos utilizar a equação (20) para determinar o volume V3: 3 3 1 1p V p V γ γ= ( ) ( )( )5/35/330,9 2,1 5atm V atm L= 3 8,3V L= Voltando ao processo 2→3, podemos determinar a temperatura T3 utilizando novamente a equação (20) e simplificando a pressão, pois p2 = p3. Encontramos: f f i i f i p V pV T T = 32 2 3 VV T T = 3 15 8,3 300 L L K T = 3 166T K= b) Utilizando a lei dos gases, podemos determinar o número de mols presentes no gás: pVn RT = ( )( ) ( ) 2,1 5 0,427 0,082 . . 300 atm L n mol Latm K K mol = = TÓPICO 2 | PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 31 c) No processo 1→2: expansão isotérmica, o trabalho é dado pela equação (9): No processo 2→3: compressão isobárica, o trabalho é dado pela equação (6) No processo 3→1: compressão adiabática, o trabalho é dado pela equação obtida no exemplo anterior: f i V W nRTln V = ( )( )( ) 15L0,427 8,31 J / mol.K 300 1169 5L W mol K ln J = = W p V= ∆ ( ) ( ) 5 2 31,01.10 / 10,9 8,3 15 609 1 1000 N m mW atm L L J atm L = − = − 1 1 3 3 1 p V p VW γ − = − ( )( ) ( )( )5 2 3 3 5 2 3 32,121.10 / 5.10 0,909.10 / 8,3.10 51 3 N m m N m m W − −− = − 306 459 0,6666667 NmW J= = − − Os valores de pressão e volume foram convertidos para as unidades do SI. d) No processo 1→2: expansão isotérmica, a variação da energia interna é nula. Substituindo o resultado na primeira lei e pela equação (13), temos que: ΔU = Q – W 0 = Q – W Q = W = 1169J No processo 2→3: compressão isobárica, precisamos determinar a variação da energia interna pela equação (14): ΔU = nCVΔTΔU = (0,427mol)(12,5J/mol.K)(166K – 300K) = –715J UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA 32 Substituindo na equação (13), encontramos: ΔU = Q – W –715J = Q – (–609J) Q = –1324J No processo 3→1: compressão adiabática, não há trocas de calor entre o sistema e as vizinhanças, portanto Q = 0. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A primeira lei da termodinâmica trata de um balanço de energia. • Há uma expressão que relaciona as variáveis de estado entre o estado final e inicial em uma transformação adiabática. • Podemos calcular o trabalho em uma transformação adiabática. 34 1 Um processo termodinâmico é caracterizado por alguma transformação nas variáveis de estado do sistema. Muitas vezes, a transformação pode ocorrer mantendo-se uma das variáveis de estado constante, como é o caso de uma transformação isocórica, em que o volume permanece constante ocasionando um trabalho nulo sobre o sistema. Assim, a primeira lei da termodinâmica fornece uma variação de energia interna igual ao calor trocado. Por outro lado, pela primeira lei da termodinâmica, em uma transformação adiabática, a variação de energia interna é igual ao trabalho. O que caracteriza um processo adiabático? a) ( ) É uma transformação do sistema em que o volume permanece constante. b) ( ) É uma transformação do sistema em que o sistema não troca calor com as vizinhanças. c) ( ) É uma transformação do sistema em que o sistema não sofre variação de energia interna. d) ( ) É uma transformação do sistema em que a pressão permanece constante. e) ( ) É uma transformação do sistema em que não é realizado trabalho sobre o sistema. 2 A primeira lei da termodinâmica, na verdade, é um princípio de conservação de energia. O que afirma determinado princípio? a) ( ) Em um sistema fechado, a energia não pode ser criada nem destruída, apenas se transforma em um outro tipo de energia. b) ( ) Em um sistema fechado, a energia não pode ser criada nem destruída, apenas se transforma em trabalho ou energia interna. c) ( ) Em um sistema aberto e isolado, a energia não pode ser criada nem destruída, apenas fluir paraas vizinhanças. d) ( ) Em um sistema aberto, a energia não pode ser criada nem destruída, apenas se transforma em um outro tipo de energia. e) ( ) Em um sistema fechado e isolado, a energia interna não sofre variação quando o trabalho é nulo. 3 A transformação de A até B é uma transformação: a) ( ) isotérmica. b) ( ) adiabática. c) ( ) isocórica. d) ( ) isobárica. e) ( ) cíclica. 4 A área abaixo da curva na figura a seguir é numericamente igual: AUTOATIVIDADE 35 a) ( ) à energia interna. b) ( ) ao calor. c) ( ) à forma de trabalho. d) ( ) à temperatura. e) ( ) ao calor específico. 5 No gráfico da figura anterior, suponha que a transformação de 3 mols de uma substância forneceu o seguinte conjunto de valores: PA = 2,525 x 104 Pa, PB = 12,62 x 104 Pa, VA = 0,52 m3 e VB = 0,22 m3. Calcule o trabalho realizado na transformação, a variação da energia interna, o calor trocado durante o processo e a variação da temperatura sofrida. Dado γ = 5/3, CV = 12,5. a) ( ) W = - 2,197 x 104J, ∆U = 1,970 x 104J, Q = 0, ∆T = 586K. b) ( ) W = 1,970 x 104J, ∆U = 2,197 x 104J, Q = 2,270 x 104J, ∆T = 200K. c) ( ) W = - 2,197 x 104J, ∆U = 2,197 x 104J, Q = 0, ∆T = 586K. d) ( ) W = - 1,970 x 104J, ∆U = 1,970 x 104J, Q = 2,270 x 104J, ∆T = 200K. e) ( ) W = 4,702 x 104J, ∆U = 9,702 x 104J, Q = 5,000 x 104J, ∆T = 308K. 6 Uma amostra de gás ideal de 1,5 mol é mantida a 273,15 K durante uma expansão de 3,0 x 10-3m3 para 9,0 x 10-3m3. Quanto trabalho é realizado sobre o gás durante a expansão? Qual foi a variação de energia interna no processo? Quanta energia na forma de calor é transferida entre o gás e as vizinhanças no processo? a) ( ) W = - 3,74 x 103J, ∆U = 0, Q = 3,74 x 103J. b) ( ) W = 1,97 x 103J, ∆U = 1,97 x 103J, Q = 0. c) ( ) W = 0, ∆U = 2,19 x 103J, Q = 2,19 x 103J. d) ( ) W = - 3,74 x 103J, ∆U = 3,74 x 103J, Q = 0. e) ( ) W = - 1,97 x 103J, ∆U = 0, Q = 1,97 x 103J. 7 Para o processo cíclico da figura a seguir, encontre as temperaturas T1, T2 e T3, o volume no estado 3, o trabalho e a transferência de calor líquido para 2 mols de um gás ideal confinados em um arranjo pistão-cilindro. volume, V pressão, P VB VA PA PB B A TB TA 36 a) ( ) T1 =325 K, T2 = T3 = 72K, V3 = 0,08m3, W = 4,21 kJ, Q = 0. b) ( ) T1 =100 K, T2 = T3 = 125K, V3 = 0,27m3, W = 0kJ, Q = 4, 21 kJ. c) ( ) T1 =72 K, T2 = T3 = 360K, V3 = 0,09m3, W = 3,21 kJ, Q = 3, 21 kJ d) ( ) T1 =72 K, T2 = T3 = 325K, V3 = 0,27m3, W = 4,21 kJ, Q = 4, 21 kJ. e) ( ) T1 =7=182 K, T2 = T3 = 325K, V3 = 0,27m3, W = 3,21 kJ, Q = 0. 8 Dois litros de oxigênio na temperatura de 300K e a uma pressão de 6 atm se expandem adiabaticamente até o dobro do volume. Calcule a pressão e a temperatura final. Qual é o trabalho realizado pelo gás na expansão? Considere γ = 1,4. a) ( ) pf = 2,27 atm, Tf = 227K, W = 1,47 kJ. b) ( ) pf = 0,33 atm, Tf = 100K, W = 1,47 kJ. c) ( ) pf = 1,25 atm, Tf = 100K, W = 2,32 kJ. d) ( ) pf = 0,33 atm, Tf = 227K, W = 2,32 kJ. e) ( ) pf = 2,27 atm, Tf = 312K, W = 0. V (m3) Temperatura Constante 31 290 20 0,06 37 TÓPICO 3 MÁQUINAS TÉRMICAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Os processos termodinâmicos que acontecem na natureza são irreversíveis, ou seja, acontecem em um certo sentido e não no outro. O calor, por exemplo, flui de um corpo com maior temperatura para um corpo com menor temperatura, nunca o oposto. A primeira lei da termodinâmica não seria violada se um corpo de baixa temperatura cedesse calor para um corpo de alta temperatura, mas não é isso que se observa. Quando acionamos o freio do carro, a energia mecânica é convertida em calor. Existem dispositivos que convertem parcialmente o calor em energia mecânica, como o motor de um carro, mas nem o melhor dos motores consegue converter completamente o calor em energia mecânica. Fazendo o gradiente de pressão e o gradiente de temperatura muito pequenos, podemos manter o sistema próximo a um estado de equilíbrio e o processo se torna aproximadamente reversível. Um estado em que o sistema está realmente em equilíbrio não poderia fornecer nenhuma mudança no seu estado, porque o calor não poderia fluir nem para fora nem para dentro. Se cada ponto do sistema estivesse rigorosamente em equilíbrio mecânico, não seria possível produzir nenhum trabalho. Assim, o processo reversível, visto de tal modo, é um processo de quase equilíbrio. O processo reversível é uma idealização que não acontece com precisão no mundo real. A impossibilidade de realizar um processo completamente reversível é descrita pela segunda lei da termodinâmica e será tratada no próximo tópico. Aqui nos ocuparemos em analisar um dispositivo que converte energia térmica em trabalho útil: a máquina térmica (YOUNG; FREEDMAN, 2008; BAUER; WESTFALL; DIAS, 2013). 2 MÁQUINAS TÉRMICAS No início do século XIX a termodinâmica começou a se firmar como ciência, levando à evolução das máquinas térmicas. Os primeiros relatos da utilização da energia térmica surgiram com a invenção de armas de fogo, em que a energia térmica da explosão se transformava em movimento dos projéteis, ou seja, transformando calor em trabalho útil. As primeiras tentativas de desenvolver um motor ocorreram no século XVII, e a pólvora era usada para mover um pistão dentro de um cilindro. Alguns relatos históricos apontam que Leonardo da Vinci propôs a elevação de pesos por meio de fogo. 38 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA Denis Papin e Christian Huygens idealizaram uma máquina a vapor utilizando pólvora como substância de trabalho, porém o dispositivo não oferecia muita segurança para os operadores. A máquina evoluiu com Thomas Savery, Thomas Newcomen e James Watt, propiciando a revolução industrial na segunda metade do século XVIII (TILLMANN, 2013). Como já foi mencionado, a máquina térmica é um dispositivo que converte energia térmica em trabalho. “Qualquer dispositivo que transforma calor parcialmente em trabalho ou em energia mecânica denomina-se máquina térmica” (YOUNG; FREEDMAN, 2008, p.280). Em uma máquina térmica ocorrem transformações cíclicas, e o calor é retirado de uma fonte quente (reservatório de alta temperatura) e parte do calor é transformado em trabalho. Observe o esquema da figura a seguir. O calor que não foi transformado em trabalho é absorvido por uma fonte fria (reservatório de baixa temperatura). “Uma máquina térmica que opera em um ciclo passa por vários processos termodinâmicos e acaba retornando ao estado original” (BAUER; WESTFALL; DIAS, 2013, p. 242). Quanto mais calor é transformado em trabalho, maior é a eficiência da máquina. FIGURA 17 – ESQUEMA DE UMA MÁQUINA TÉRMICA OPERANDO EM CICLO ENTRE DUAS FONTES TÉRMICAS FONTE: <https://www.infoescola.com/fisica/maquina-termica/>. Acesso em: 19 ago. 2018. TÓPICO 3 | MÁQUINAS TÉRMICAS 39 A primeira máquina térmica surgiu no século XVIII e era utilizada para bombear água nas minas de carvão. Atualmente, as máquinas térmicas são usadas para gerar eletricidade. Em uma máquina térmica comum, a água sob alta pressão recebe calor de um reservatório de alta temperatura que faz a água evaporar. O vapor se expande empurrando o pistão, realizando trabalho. Em seguida, o vapor vai para o condensador, onde é resfriado. No condensador o calor é liberado para o reservatório de baixa temperatura. Então, a água é forçada a voltar para o aquecedor e reiniciar o ciclo (TIPLER; MOSCA, 2009). Calor Motor Condensador Vapor Água Calor Trabalho FIGURA 18 – ESQUEMA DE UMA MÁQUINA A VAPOR FONTE: Tipler e Mosca (2009, p. 637) A eficiência η de uma máquina térmica é definida como: recebido W Q η = Na equação 0 ≤ η ≤ 1, o resultado pode ser convertido em percentual, multiplicando-se o valor obtido por 100%. Assim, por exemplo, um η = 0,2 equivale a 20% de rendimento. O calor total Q é a soma do calor Qrecebido da fonte quente (com sinal positivo, pois entra no sistema) e Qcedido da fonte fria (com sinal negativo, pois sai do sistema). Assim,podemos escrever a relação: Q = |Qrecebido| – |Qcedido| Levando o resultado na primeira lei, com ∆U igual a zero, pois a energia interna não varia, encontramos: 0 = Q – W Substituindo o calor total da equação (17) na equação (18) e passando W para o outro lado da igualdade, vemos que: W = |Qrecebido| – |Qcedido| (21) (22) (23) (24) 40 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA Podemos encontrar uma equação equivalente à equação (16) para o rendimento, substituindo pela equação (18), Temos, então: recebido cedido recebido Q Q Q η − = 1 cedido recebido Q Q η = − (25) Podemos observar que se todo o calor proveniente da fonte quente fosse transformado em trabalho e com Qcedido igual a zero, teríamos uma máquina ideal, com rendimento de 100%. Veremos, mais adiante, quando estudarmos a segunda lei da termodinâmica, que isso é impossível. Exemplo: Motor de caminhão. O calor de combustão da gasolina é de Lc = 4,6 x 107 J/kg. Sabendo que a quantidade de calor Q = mLc consumida pelo caminhão é de, aproximadamente, 10000J, sendo m a massa de gasolina, e 2000J de trabalho mecânico em cada ciclo, calcule: a) o rendimento da máquina térmica; b) a quantidade de calor perdida em cada ciclo; c) a massa de gasolina queimada em cada ciclo; d) a potência fornecida se o motor completa 25 ciclos por segundo; e) a quantidade de gasolina queimada por hora. Solução: a) Substituindo Q = 10000J e W = 2000J na equação (21), temos: Multiplicando o resultado por 100%, obtemos um rendimento de 20%. b) Usando a equação (18), temos: 2000 0,2 10000recebido W J Q J η = = = 2000 10000 cedidoJ J Q= − 8000cedidoQ J= − c) Usando a equação fornecida no enunciado para a quantidade de calor proveniente da queima do combustível, temos: TÓPICO 3 | MÁQUINAS TÉRMICAS 41 cQ mL= 10000 46000000m= 10000 0,00021739 46000000 / Jm kg J kg = = d) A potência P do motor é calculada multiplicando a quantidade de trabalho mecânico por ciclo pelo número de ciclos realizados por segundo: 2000 25 50000 /J ciclosP J s ciclo s = = e) Para determinar a quantidade de gasolina consumida em um ciclo, é preciso multiplicar a quantidade de massa por ciclo por 25 ciclos por segundo e depois converter o resultado para saber a quantidade de massa por hora: 0,00021739 25 3600 19,5651 / 1hora kg ciclos sm kg h ciclo s h = = Resposta: a) O rendimento da máquina é de 20%; b) a quantidade de calor perdida por ciclo é de 8000J; c) a massa de gasolina consumida por ciclo é de 2,2 x 10-4 kg; d) a potência do motor é de 50kJ; e) a massa de gasolina consumida por hora é de, aproximadamente, 19,6 kg (YOUNG; FREEDMAN, 2009). 3 MÁQUINAS DE COMBUSTÃO INTERNA A primeira máquina de combustão interna surgiu em 1853 com o engenheiro Felice Matteucci e o padre Eugênio Barsanti, na Itália. Os dois se uniram para projetar para um motor que aproveitava o potencial da combustão dos gases. O motor resultou em uma grande melhoria das máquinas a vapor, por ser mais seguro, mais rápido de operar e menos complicado. Contudo, não era muito adequado para ser usado em automóveis, por isso foi utilizado principalmente em fábricas para gerar energia mecânica e para propulsão naval (MEDINA, 2014). Vamos agora analisar a operação de um motor com gasolina funcionando em quatro tempos, como é o caso de um motor de automóvel. A figura a seguir mostra um motor de combustão interna. Enquanto o pistão está descendo (A), uma mistura de ar e combustível flui para o interior do cilindro através da válvula de admissão, fazendo o seu volume aumentar até um valor máximo rV. O r é chamado de razão de compressão (nos carros é na ordem de 8 a 10). 42 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA Terminado o tempo de admissão (primeiro tempo), a válvula se fecha e a mistura é comprimida adiabaticamente (B). Esse é o tempo de compressão (segundo tempo). Então, uma centelha causa a ignição da mistura e o gás volta a se expandir (C), realizando trabalho sobre o pistão, até atingir novamente o valor rV (terceiro tempo). Esse tempo é chamado de tempo do motor ou tempo de potência. Em seguida, ocorre o tempo de exaustão (quarto tempo), em que a válvula de exaustão se abre, liberando o cilindro para recomeçar o ciclo (D) (YOUNG; FREEDMAN, 2008). FIGURA 19 – CICLO DE UM MOTOR DE COMBUSTÃO FONTE: <http://profbebel.blogspot.com/2013/08/funcionamento-do-pistao-do-motor.html>. Acesso em: 19 ago. 2018. a) Aspiração Silenciador Carburador Compressão Explosão Exaustão b) c) d) 4 CICLO DE OTTO O ciclo de Otto é um modelo idealizado dos processos termodinâmicos em um motor com combustão interna. A figura a seguir representa o esquema de operação de um motor com gasolina. TÓPICO 3 | MÁQUINAS TÉRMICAS 43 FIGURA 20 – CICLO DE OTTO FONTE: Young e Freedman (2008, p. 283) P c b O 1 2 3 W 4 d a V V rV QH QC Compressão adiabática (tempo de compressão) Resfriamento a volume constante (resfriamento dos gases de exaustão) Expansão adiabática (tempo motor) Aquecimento a volume constante (combustão) Uma mistura de ar e gasolina entra no cilindro-pistão e o ciclo se inicia. A mistura, então, sofre uma compressão adiabática, na curva do ponto a até o ponto b, onde acontece a ignição. Durante a compressão, o trabalho é realizado sobre o sistema (pistão comprime o gás). O calor QH entra no sistema devido à queima do combustível, caminho do ponto b até o ponto c (processo com volume constante, isocórico). Em seguida, o sistema realiza trabalho e o gás se expande adiabaticamente, caminho de c até d. O sistema, então, é resfriado liberando calor QC, caminho de d até a (processo isocórico), fechando o ciclo. O gás deixa o sistema e é substituído por outro para reiniciar o ciclo (YOUNG; FREEDMAN, 2008; TIPLER; MOSCA, 2009). Nos processos isocóricos (bc e da), o trabalho é nulo e a primeira lei da termodinâmica fornece: ΔU = Q – 0 O calor é igual à variação da energia térmica, então podemos escrever: nCVΔT = Q Assim, para o calor QH do reservatório, a alta temperatura. Para o calor QC do reservatório, a baixa temperatura: QH = nCV(Tc – Tb) QC = –nCV(Ta – Td) 44 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA O sinal negativo em QC indica que o calor deixou o sistema. A eficiência, considerando apenas os dois processos, será a energia utilizada dividida pela energia fornecida: utilizado fornecido Q Q η = H C H Q Q Q η −= ( ) ( ) ( ) V c b V a d V c b nC T T nC T T nC T T η − + − = − ( ) ( ) ( ) c b a d c b T T T T T T η − + − = − (26) (27) Para os dois processos adiabáticos, temos que: ( ) 1 1a bT rV T V γ γ− −= ( ) 1 1d cT rV T V γ γ− −= Dividindo os lados de cada equação pelo volume elevado a γ -1, encontramos: 1 b aT T r γ −= 1 c dT T r γ −= Substituindo na equação (26): ( ) ( ) ( ) 1 1 1 1 d a a d d a T r T r T T T r T r γ γ γ γ η − − − − − + − = − ( )( ) ( ) 1 1 1d a d a T T r T T r γ γη − − − − = − 1 11 rγ η −= − TÓPICO 3 | MÁQUINAS TÉRMICAS 45 A equação (27) fornece a eficiência do ciclo de Otto (YOUNG; FREEDMAN, 2008). O ciclo que acabamos de descrever é muito idealizado, não descrevendo, de fato, a realidade. Ele supõe que a mistura se comporte como um gás ideal; despreza o atrito, a turbulência, a perda de calor para as paredes do cilindro e muitos outros efeitos que se combinam para reduzir a eficiência da máquina real. Outra fonte de ineficiência é a combustão incompleta. Uma mistura de ar e gasolina com a composição adequada para uma combustão completa convertendo os hidrocarbonetos em H2O e CO2 não sofre ignição imediata. Uma ignição confiável requer uma mistura mais “rica” em gasolina. A combustão incompleta resultante produz na exaustão CO e hidrocarbonetos que não queimam. O calor obtido da gasolina é, então, menor do que o calor total de combustão; a diferença é desperdiçada, e os produtos da exaustão contribuem para a poluição. As eficiências dos motoresde gasolina reais são tipicamente da ordem de 35% (YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 284). 5 CICLO DE DIESEL O ciclo de Diesel se assemelha ao de Otto, com a diferença de que não existe combustível no cilindro. Ele é injetado posteriormente, no tempo do motor. O calor entra no sistema durante o processo isobárico, caminha de b até c no esquema da figura a seguir, enquanto que, no motor, o calor entra durante o processo isocórico. Ainda, a taxa de compressão no ciclo de Diesel é mais alta, variando de 15 a 20, devido ao fato de não existir combustível no cilindro durante a maior parte do tempo de compressão, não ocorrendo a pré-ignição. A mistura se inflama espontaneamente, graças ao calor resultante da compressão do ar. A eficiência do ciclo de Diesel é um pouco mais elevada, sendo de 65% a 70%. No caso do ciclo de Otto, a eficiência é bem menor quando se considera o caso real. Como não existe combustível nenhum no cilindro durante a maior parte do tempo de compressão, não pode ocorrer pré-ignição, logo, a razão de compressão r pode ser muito maior do que a em um motor com gasolina. Isso faz a eficiência aumentar e garante uma ignição confiável quando o combustível é injetado (por causa da temperatura elevada atingida durante a compressão adiabática). Valores de r em torno de 15 a 20 são normais. Com esses valores e com = 1,4, a eficiência teórica de um ciclo Diesel idealizado é cerca de 0,65 até 0,70. Do mesmo modo que no ciclo de Otto, a eficiência real é bem menor. Mesmo que os motores diesel sejam eficientes, eles precisam ser construídos com uma precisão muito maior do que os motores com gasolina, e seu sistema de injeção de combustível exige manutenção rigorosa (YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 284). 46 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA FIGURA 21 – CICLO DIESEL FONTE: Young e Freedman (2008, p. 284) P O V rV V 2 3 Expansão adiabática(tempo motor) Ignição do combustível, aquecimento a pressão constante (combustão). Essa é uma diferença importante entre os ciclos Diesel e 4 1 W QH QC b d Resfriamento a volume constante (resfriamento dos gases de exaustão) Compressão adiabática (tempo de compressão) 6 REFRIGERADORES O refrigerador opera de modo inverso ao da máquina térmica, discutida na seção anterior. Ele remove o ar quente do interior de uma geladeira e o libera na sua cozinha, onde a temperatura é mais elevada, assim como o ar-condicionado remove ar quente da parte interna da sua casa para o exterior. O que ambos têm em comum é o fato de transferirem calor de um reservatório de baixa temperatura para um reservatório de alta temperatura. Na figura a seguir, a serpentina é um circuito com fluido refrigerante. Dentro do refrigerador o fluido está a uma baixa temperatura e baixa pressão e, na parte externa, está a uma temperatura elevada e alta pressão. O compressor recebe o fluido, comprimindo-o adiabaticamente e o conduz até a serpentina do condensador, onde o calor Qq é liberado. Em seguida, o fluido passa para o evaporador, onde se expande adiabaticamente e é controlado pela válvula de expansão. Ao se expandir, o fluido esfria drasticamente, ao ponto de ficar mais frio, absorvendo o calor Qf. TÓPICO 3 | MÁQUINAS TÉRMICAS 47 FIGURA 22 – REFRIGERADOR REAL FONTE: Tipler e Mosca (2009, p. 641) Baixa pressão (líquido) Sensor Tomada elétrica Vapor à baixa pressão Motor compressor Trabalho Vapor à alta pressão Serpentina condensada (fora do refrigerador) Serpentina de resfriamento (dentro do refrigerador) Qf(de dentro do refrigerador para as serpentinas) Qq(para fora) Alta pressão (líquido) Válvula de expansão Já mencionamos que o calor flui espontaneamente no sentido oposto, mas como é possível? Na verdade, o calor é forçado através de trabalho externo que é gerado por eletricidade. Portanto, podemos dizer que o refrigerador é um dispositivo que opera em ciclos, extraindo calor Qf de uma fonte fria e liberando calor Qq para a fonte quente por meio de trabalho externo W. Aplicando a primeira lei da termodinâmica, com um processo cíclico que leva para ∆U = 0, encontramos: ΔU = Q – W 0 = Q – W Qq = Qf + W (28) 48 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA FIGURA 23 – ESQUEMA DE UM REFRIGERADOR FONTE: Tipler e Mosca (2009, p. 641) Reservatório frio à temperatura Tf Reservatório quente à temperatura Tq Refrigerador Qf Qq W O desempenho do refrigerador depende de quanto calor ele consegue remover diante de uma mesma quantidade de trabalho. Assim, o coeficiente de desempenho é encontrado dividindo-se o calor pelo trabalho: Como o trabalho é igual ao calor da fonte quente menos o calor da fonte fria, temos que: f Q K W = (29) (30) f q f Q K Q Q = − O ar-condicionado funciona de modo semelhante ao refrigerador. Uma variação do refrigerador é a bomba de calor. O calor é forçado para dentro da residência com o intuito de aquecê-la. Assim, na bomba de calor, o calor é retirado do reservatório de temperatura mais baixa que agora está do lado de fora. TÓPICO 3 | MÁQUINAS TÉRMICAS 49 FIGURA 24 – MÁQUINA TÉRMICA E BOMBA DE CALOR FONTE: Merle e Somerton (2017, p. 118) WWMáquinatérmina TL TL QLQL QH QH TH TH Bomba de calor 50 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Uma máquina térmica é um dispositivo que funciona em ciclos para transformar calor em trabalho. Não se pode converter todo o calor retirado de uma fonte em trabalho, pois uma parte sempre é desperdiçada, diminuindo o rendimento do motor. • Nossa discussão teórica é uma idealização e o rendimento real é ainda menor do que o calculado. • O refrigerador é uma máquina térmica que funciona operando de forma contrária. No caso, o trabalho é feito para transferir o calor de uma fonte quente para uma fonte fria. 51 1 Em um certo dispositivo, a água sob alta pressão recebe calor de um reservatório de alta temperatura que faz a água evaporar. O vapor se expande empurrando o pistão. Em seguida, o vapor vai para o condensador, onde é resfriado. No condensador, o calor é liberado para o reservatório de baixa temperatura. Então, a água é forçada a voltar para o aquecedor e a reiniciar o ciclo. O dispositivo descrito se trata de: a) ( ) Uma bomba de vácuo. b) ( ) Um refrigerador, um ar-condicionado ou uma bomba de calor. c) ( ) Um aerofólio. d) ( ) Uma máquina térmica. e) ( ) Uma centrífuga. 2 As máquinas térmicas utilizam o calor de uma fonte quente Qq para realizar trabalho, W, dispensando parte desse calor Qf para o ambiente, ou seja, para a fonte fria. Contudo, pode-se utilizar o trabalho, W, para extrair calor de uma fonte fria e liberá-lo para a fonte quente. O dispositivo que opera em ciclos, extraindo calor Qf de uma fonte fria e liberando calor Qq para a fonte quente por meio de trabalho externo W é denominado: a) ( ) Uma bomba de vácuo. b) ( ) Um refrigerador, um ar-condicionado ou uma bomba de calor. c) ( ) Um aerofólio. d) ( ) Uma máquina térmica. e) ( ) Uma centrífuga. 3 As máquinas térmicas costumam ser construídas para que possam operar em ciclos durante o seu funcionamento, passando por diversas transformações termodinâmicas antes de retornarem às condições iniciais. O motor que opera em ciclo, constituído de dois processos isocóricos e dois processos adiabáticos, é conhecido como: a) ( ) Motor Stirling. b) ( ) Motor Otto. c) ( ) Motor Diesel. d) ( ) Motor Bryton. e) ( ) Motor Vankel. 4 As máquinas térmicas costumam ser construídas para poderem operar em ciclos durante o seu funcionamento, passando por diversas transformações termodinâmicas antes de retornarem às condições iniciais. O motor que opera em ciclo, sendo constituído de um processo isocórico, um processo isobárico e dois processos adiabáticos, é chamado de: AUTOATIVIDADE 52 a) ( ) Motor Stirling. b) ( ) Motor Otto. c) ( ) Motor Diesel. d) ( ) Motor Bryton. e) ( ) Motor Vankel. 5 Um motor que opera segundo o ciclo de Diesel produz 2400 J de trabalho mecânico, rejeitando 4600 Jde calor por ciclo. a) Quanto calor deve ser fornecido para a máquina por ciclo? b) Qual é o rendimento do motor? a) ( ) Qrecebido = 7000 J, 34%. b) ( ) Qrecebido = 2200 J, 53%. c) ( ) Qrecebido = 6300 J, 27%. d) ( ) Qrecebido = 7200 J, 85%. e) ( ) Qrecebido = 2600 J, 110%. 6 Um motor que opera segundo o ciclo de Otto, com γ = 1,4 e r = 10 e com temperatura da mistura ar-gasolina 230C quando entra no cilindro. a) Calcule a eficiência teórica do motor. b) Se o motor recebe 10100 J de calor da queima de combustível, quanto calor rejeita? a) ( ) 54 %, Qrejeitado = 4040 J. b) ( ) 60 %, Qrejeitado = 4040 J. c) ( ) 60 %, Qrejeitado = 2020 J. d) ( ) 54 %, Qrejeitado = 2020 J. e) ( ) 33 %, Qrejeitado = 3060 J. 7 Um ar-condicionado de um quarto tem um coeficiente de desempenho de 3,0 e usa 900 W de potência elétrica. Quanto calor o ar-condicionado retira do quarto por minuto? a) ( ) 9,72 kJ. b) ( ) 8,40 mJ. c) ( ) 6,00 MJ. d) ( ) 8,40 kJ. e) ( ) 9,72 MJ. 8 Um refrigerador com potência útil de 5000 W transfere 450 kJ a cada minuto para as vizinhanças. Calcule o trabalho útil e o coeficiente de desempenho do refrigerador. a) ( ) 3,0 kJ, 100%. b) ( ) 3,0 kJ, 50%. c) ( ) 4,5 kJ, 100%. d) ( ) 4,5 kJ, 50%. e) ( ) 3,5 kJ, 34%. 53 TÓPICO 4 SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Desde a antiguidade o homem tem procurado formas de melhorar o ambiente que o circunda, tornando a vida mais prática e confortável. Há cerca de 530 a.C. já se utilizava a expansão do ar quente para o aquecimento, e um exemplo é o aquecimento central do templo da deusa Diana em Éfeso, na Ásia. Heron de Alexandria, em sua obra sobre pneumática, no início da era cristã, descreve uma máquina a vapor, a eolípila. Quinze séculos depois, Denis Papin inventou o digestor de calor, dispositivo semelhante à panela de pressão. Em 1698, Thomas Savery patenteou uma máquina a vapor de interesse industrial. Em 1712, Thomas Newcomen aperfeiçoou a máquina de Savery e Papin, idealizando uma máquina que poderia ser utilizada em minas profundas para elevar as cargas com menor risco de explosão. Ivan Ivanovich Polzunov inventou, em 1763, a primeira máquina a vapor que operava com dois cilindros. Em 1765, James Watt inventou o condensador, em 1784 inventou o regulador centrífugo e, em 1790, incorporou na máquina a vapor um medidor de pressão. Na figura a seguir observamos um motor a vapor portátil inventado por James Watt. Aos poucos, os motores a vapor foram sendo substituídos por motores por combustão interna. O interesse em aperfeiçoar as máquinas tornando-as mais eficientes sempre moveu a humanidade e tem movido até hoje (USHER, 1993; MOURA, 2006). FIGURA 25 – MOTOR A VAPOR PORTÁTIL INVENTADO POR JAMES WATT FONTE: Moura (2006, p. 15) 54 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA Poderíamos pensar que uma máquina ideal seria aquela que transformasse 100% da energia térmica em trabalho mecânico útil. Veremos, porém, que nem o mais hábil dos engenheiros conseguiria construir uma máquina dessas. A incapacidade fundamental é o cerne da segunda lei da termodinâmica, que estudaremos agora. Antes, no entanto, trataremos de um exemplo em que uma máquina poderia ser mais eficiente do que as estudadas na seção anterior. A máquina operaria em ciclos, utilizando somente dois processos reversíveis. O ciclo ficou conhecido como o ciclo de Carnot. 2 CICLO DE CARNOT A máquina de Carnot é um exemplo de máquina ideal, e o seu ciclo de transformações termodinâmicas é chamado de ciclo de Carnot. Consiste de dois processos adiabáticos e dois processos isotérmicos. Nenhuma máquina real consegue ser perfeitamente reversível, mas o ciclo de Carnot permite estabelecer um valor máximo de rendimento que nenhuma máquina, por mais perfeita que seja, consegue ultrapassar. A definição de uma máquina de Carnot não especifica se a substância de trabalho da máquina é um gás ou um líquido. Não faz diferença. Nosso argumento de que uma máquina perfeitamente reversível é a máquina térmica mais eficiente possível depende apenas da reversibilidade da máquina, não depende de nenhum detalhe da construção ou da substância de trabalho que utiliza. Consequentemente, qualquer máquina de Carnot que opere entre TQ e TF deve ter exatamente o mesmo rendimento de qualquer outra máquina de Carnot operando entre os mesmos dois reservatórios de energia. Se pudermos determinar o rendimento térmico de uma máquina de Carnot, saberemos o rendimento térmico de todas as máquinas de Carnot (KNIGHT, 2009, p. 585). FIGURA 26 – ESQUEMA DA MÁQUINA DE CARNOT TÓPICO 4 | SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 55 FONTE: Jewett e Serway (2017, p. 198) Vamos supor que o ciclo de Carnot seja descrito por um gás ideal para facilitar a análise. Observe o gráfico p x V da figura a seguir. No caminho de 1 para 2 o gás é comprimido através de um processo isotérmico e o calor QF sai do sistema mantendo a temperatura TF constante. FIGURA 27 – CICLO DE CARNOT FONTE: Knight (2009, p. 585) P 3 4 2 Adiabáticas Isotermas QF TF TQ QQ 1 V 56 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA No processo, o gás é comprimido adiabaticamente e sua temperatura sobe para TQ. Depois de atingir a compressão máxima, o gás se expande isotermicamente e o calor QQ entra no sistema, caminho de 3 para 4. Em seguida, o gás continua se expandindo, porém agora adiabaticamente, diminuindo a temperatura até atingir TF novamente, processo representado pelo caminho de 4 para 1, voltando às condições iniciais do sistema. Nos quatro processos é realizado trabalho, porém o calor é trocado apenas nos dois processos isotérmicos. No processo isotérmico, 1→2, o trabalho W12 é realizado pelo sistema e o calor é transferido da primeira lei da termodinâmica, ∆U = 0. Temos que: 2 12 1 Q Q VQ W nRT ln V = = (31) (32) (33) (34) (35) No processo adiabático, 2→3, não há trocas de calor entre o sistema e as vizinhanças, portanto, Q = 0. Ainda, o trabalho W23 é igual à variação da energia interna ∆U. Pela primeira lei temos que: ( )23 1 F Q nRU W T T γ ∆ = = − − No processo isotérmico, 3→4, o trabalho W23 é realizado sobre o sistema e o calor é transferido para fora do sistema, da primeira lei da termodinâmica, ∆U = 0. Temos que: 4 34 3 F F VQ W nRT ln V − = = No processo adiabático, 4→1, não há trocas de calor entre o sistema e as vizinhanças, portanto, Q = 0. Ainda, o trabalho W41 é igual à variação da energia interna ∆U. Pela primeira lei temos que: ( )41 1 Q F nRU W T T γ ∆ = = − − O trabalho é W41 = –W23, já que os trabalhos dependem apenas das temperaturas inicial e final. Assim, o trabalho total será igual a: 12 23 34 41totalW W W W W= + + + TÓPICO 4 | SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 57 (36) (37) (38) (39) (40) 12 34totalW W W= + Substituindo as equações (31) e (33) obtidas anteriormente, encontramos: 2 4 1 3 total Q F V VW nRT ln nRT ln V V = + Tomando a equação (21) para a eficiência da máquina térmica e substituindo o trabalho total, equação (37), e o calor obtido na equação (31), encontramos: recebido W Q η = 2 4 1 3 2 1 Q F Q V VnRT ln nRT ln V V VnRT ln V η + = 4 3 2 1 1 F Q VT ln V VT ln V η = + Utilizando a relação de temperatura e pressão entre dois estados termodinâmicos para o processo adiabático de um gás ideal, equação (19), obtemos: 1 1 2 3Q FT V T V γ γ− −= 1 1 4 1F QT V T V γ γ− −= Tirando as razões de ambos os lados das equações (39) e (40), vemos que: 1 1 2 3 1 1 1 4 Q F Q F T V T V T V T V γ γ γ γ − − − −= 58 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA Que resulta em: 32 1 4 VV V V = (41) (42) Utilizando a relação entre os volumes obtida na equação (41) e substituindo na equação (38): 4 3 3 4 2 2 1 1 1 1 F F Q Q V VT ln T ln V V V VT ln T ln V V η − = + = + 1 F Q T T η = − A equação (42)fornece o rendimento do ciclo de Carnot. Segundo Bauer, Westfall e Dias (2013, p. 246), “nenhuma máquina térmica operando em ciclo entre dois reservatórios térmicos pode ser mais eficiente do que uma máquina de Carnot que opera entre dois reservatórios térmicos”. O enunciado é conhecido como teorema de Carnot. Exemplo: Certa usina de eletricidade produz vapor em alta pressão de 500 0C, que faz girar uma turbina enquanto se expande. Em seguida, a turbina faz o gerador girar. Em seguida, o vapor é condensado e o calor é enviado para o ambiente de 200C. Qual é o rendimento máximo da usina? Solução: Substituindo TQ = 500 + 273 = 773 K e TF = 20 +273 = 293 K na equação (42), obtemos: 1 F Q T T η = − 2931 0,62 773 η = − = Resposta: O rendimento máximo da usina é de 62%. Exemplo: Uma máquina térmica operando segundo o ciclo de Carnot entre as temperaturas de 600K e 400K e recebendo 2500J de calor da fonte quente. Calcule o trabalho realizado pela máquina e o calor rejeitado para a fonte fria. Qual é o rendimento da máquina? TÓPICO 4 | SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 59 Solução: Utilizando a equação (42) para a eficiência obtida no ciclo de Carnot e igualando a equação (21) para a eficiência obtida no tópico anterior: 1 F recebido Q TW Q T η = = − 4001 2500 600 W = − 833,33w J= Utilizando a equação (24), encontramos: recebido cedidoW Q Q= − 2500 833 1667FQ J= − = O rendimento é: 4001 0,3333 600 η = − = Resposta: O trabalho da máquina é igual a 833 J, o calor rejeitado é igual a 1667 J e o rendimento é de 33%. 3 SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA “As leis da termodinâmica foram obtidas a partir da busca dos cientistas por explicações para o funcionamento teórico da máquina térmica e de como maximizar seu rendimento” (NÓBREGA, 2009, p. 1). Até mesmo Carnot conhecia a impossibilidade de se obter um rendimento de 100%. Carnot concebia a máquina a vapor como uma espécie de moinho em que o calórico diante da alta temperatura circulava através da máquina depositando-se depois no condensador com baixa temperatura. Era preciso que, durante o processo, nenhum calórico se perdesse, e o trabalho obtido era o máximo possível. O teste para o conceito estava na reversibilidade da máquina, atuando como aquilo que hoje chamamos de bomba de calor, usando a mesma energia em sentido inverso para fazer subir da baixa à alta temperatura a mesma quantidade de calórico. Ora provou que mesmo nessas condições ideais de reversibilidade apenas uma fração do calor introduzido podia ser transformado em trabalho útil. Por outras palavras, o trabalho só podia ser feito pela transferência de calor entre as diferentes temperaturas, o equivalente daquilo que mais tarde viria a chamar-se de segunda lei da termodinâmica (BERNAL, 1975, p. 600). 60 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA O calórico era idealizado como uma substância, uma espécie de fluido invisível que percorria a matéria podendo realizar trabalho. Contudo, a teoria foi descartada mais tarde, quando estudos mostraram que se tratava, na verdade, de energia na forma de calor que surgia devido à diferença de temperatura entre os corpos. IMPORTANT E A segunda lei foi construída através dos esforços de Thomson e de Clausius, que interagiram através de quatro artigos importantes. Em 1848, Thomson publicou um artigo e utilizou as ideias de Carnot para a construção de uma escala termométrica absoluta. No artigo, discordou de alguns aspectos do trabalho de Joule. Escreveu outro artigo em 1849 e esclareceu os pontos em que duvidava das ideias de Joule, afirmando que estas estariam em contradição com o trabalho de Carnot. Clausius, em 1850, inspirado pelo artigo de Thomson (mais conhecido como Lorde Kelvin), apresentou uma solução para o problema, que hoje é conhecida como o enunciado da segunda lei da termodinâmica de Clausius. Thomson, por sua vez, publicou, em 1851, o seu próprio enunciado da segunda lei. O enunciado de Clausius, segundo Bauer, Westfall e Dias (2009), afirma que “é impossível um processo que transfira energia térmica de um reservatório mais frio para um reservatório mais quente sem que algum trabalho tenha sido feito”. FIGURA 28 – ESQUEMA DO ENUNCIADO DE CLAUSIUS FONTE: <https://www.nuclear-power.net/nuclear-engineering/thermodynamics/laws-of- thermodynamics/second-law-of-thermodynamics/clausius-statement-of-the-second-law/>. Acesso em: 26 ago. 2018. TÓPICO 4 | SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 61 O enunciado da segunda lei aparece nos livros didáticos, devido às contribuições de Planck. Jewett e Serway (2017) fazem a seguinte afirmação: “É impossível construir uma máquina térmica que, operando em um ciclo, não produza efeito nenhum além da entrada de energia por calor de um reservatório e a realização de igual quantidade de trabalho”. O enunciado deixa claro que seria impossível existir uma máquina como a que está representada esquematicamente na figura a seguir. FIGURA 29 – MÁQUINA TÉRMICA IMPOSSÍVEL FONTE: Jewett e Serway (2017, p. 192) 4 TEOREMA DE CLAUSIUS A partir das equações (31) e (33) obtidas para o ciclo de Carnot, vamos encontrar uma relação entre os calores QQ e QF e as temperaturas da fonte quente TQ e da fonte fria TF: 2 1 Q Q VQ nRT ln V = 34 34 3 4 F F F F VVQ nRT ln Q W nRT ln V V − = ↔ = = (43) 62 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA Dividindo, temos: 2 2 1 1 3 3 4 4 Q Q Q F F F V VnRT ln T ln Q V V Q V VnRT ln T ln V V = = A partir da equação (41), encontramos que: Q Q F F Q T Q T = Que leva a: Q F Q F Q Q T T = Voltando para a convenção de sinais anterior, equação (43), no início da discussão: Q F Q F Q Q T T = − Trazendo o termo do lado direito para o lado esquerdo, encontramos: 0Q F Q F Q Q T T + = Ou seja: 0Q T ∑ = (44) Podemos mostrar que a equação (44) é válida para qualquer ciclo reversível, ou seja, ela é válida para qualquer transformação reversível representada pelo caminho C fechado de um diagrama pV. TÓPICO 4 | SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 63 (45) (46) Reduzindo C a uma sucessão de ciclos de Carnot infinitesimais, obtemos o teorema de Clausius: . dQ T = 0ϕ FIGURA 30 – CAMINHO FECHADO FONTE: A autora p C V Para um processo irreversível, temos a desigualdade de Clausius: 0dQ T ≤嚀ϕ Voltaremos com mais propriedade à discussão na próxima unidade, na qual trataremos da terceira lei da termodinâmica, quando estudarmos a entropia. Agora, vamos exercitar o que aprendemos neste tópico. 64 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA LEITURA COMPLEMENTAR A DESCOBERTA QUE MUDOU A HUMANIDADE Adilson de Oliveira Há centenas de milhares de anos, nas noites frias de inverno, a escuridão era um grande inimigo. Sem a lua cheia, a negritude da noite, além de assustadora, era perigosa. Existiam muitos predadores com sentidos aguçados, e que poderiam atacar facilmente enquanto dormíamos. O frio intenso era outro inimigo. Não eram fáceis os primeiros passos da humanidade, dados por antepassados muito diferentes de nós. Até que, um dia, os hominídeos primitivos descobriram algo que modificaria complemente o rumo da nossa evolução: o fogo. Ao dominar essa entidade, foi possível se aquecer, proteger-se dos predadores e ainda cozinhar os alimentos. Como nenhuma outra criatura do nosso planeta, conseguimos usar a nosso favor um fenômeno natural para ajudar nas dificuldades diárias. Com o fogo, a noite já não era mais tão perigosa, e diminuía a necessidade de se esconder ou lutar. Acredita-se que a descoberta de seu uso tenha agido diretamente sobre a nossa forma de pensar. O filme A guerra do Fogo (1981), do diretor francês Jean-Jacques Annaud, retrata em forma de ficção como o fogo influenciou a forma de viver dos primeiros hominídeos. A importância da utilização do fogo como instrumento de transformação da nossa sociedade se acelerou com o progresso da cultura humana. Além de fornecer conforto térmico e melhorara preparação de alimentos, ele desde cedo foi usado em rituais dos mais diferentes povos, na fabricação de armas (até os dias atuais), na produção de novos materiais (ajudando a fundir metais, por exemplo) e como fonte de calor para máquinas térmicas. Entretanto, o que é o fogo? Para assistir ao trailer do filme ‘A guerra do fogo’, de 1981, sugerimos clicar no link disponibilizado logo após o término desta leitura. O fogo surge do processo de rápida oxidação de um material combustível, liberando luz, calor e os produtos da reação, como dióxido de carbono e água. Dessa forma, o fogo é uma mistura de gases em altas temperaturas e por isso emite luz na faixa do infravermelho e visível. Para certas faixas de temperatura, os gases ficam totalmente ionizados. Essa ação ocorre porque os elétrons são todos arrancados dos átomos que os compõem, levando-os ao estado de plasma. O plasma (que nada tem a ver com o material contido no sangue) pode ser observado, por exemplo, em lâmpadas fluorescentes, em que o gás fica ionizado devido à descarga elétrica. TÓPICO 4 | SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 65 O Turbinia, um dos primeiros barcos com turbinas movidas a vapor, em 1897: revolução industrial movida pelo poder propulsor do fogo (Foto: Alfred John West) Revolução Industrial Um grande salto no desenvolvimento tecnológico ocorreu justamente quando se desenvolveu a máquina a vapor, dando início à Revolução Industrial, no final do século 18. Nesse caso, o principal combustível era o carvão e, a partir da sua queima, produzindo fogo, foi possível transformar a energia liberada em outra, com capacidade de realizar trabalho – ou seja, impulsionar máquinas e equipamentos a fazerem tarefas que antes dependiam da força bruta humana. Nas primeiras máquinas térmicas, o fogo era utilizado para aquecer a água até a temperatura em que ela se transforma em vapor. A partir disso, com o acúmulo de vapor, a pressão aumentava, fazendo com que ele empurrasse um pistão que colocava uma roda, por exemplo, em movimento. Essas primeiras máquinas foram usadas para extrair a água das minas de carvão, mas logo foram aplicadas nas indústrias e no desenvolvimento dos trens. Em poucas décadas, essas máquinas transformaram o mundo. Desde aquele tempo existia a preocupação em desenvolver tecnologias mais eficientes para o aproveitamento da energia, ou seja, construção de máquinas com maior rendimento – que produzam mais consumindo menos. De fato, já no século 19 se fazia uma pergunta cuja resposta até hoje não é fácil: é possível construir uma máquina com 100% de eficiência? Seria possível conseguir isso? A resposta a essa questão não foi simples e mostrou que não se tratava apenas de uma limitação tecnológica, mas sim de uma limitação da natureza. Esses estudos levaram ao desenvolvimento de um novo ramo da física conhecido como termodinâmica. 66 UNIDADE 1 | LEIS DA TERMODINÂMICA Uma fogueira no lindo anoitecer. Para os primeiros hominídeos, o calor gerado pelo fogo era importante para se proteger do frio e de algozes e cozinhar diversos alimentos (foto: Totte Jonsson) Em busca da máquina perfeita A termodinâmica estuda o comportamento de sistemas com muitas partículas (como, por exemplo, um gás), levando em conta todos os efeitos de trocas térmicas. Dois de seus princípios fundamentais, conhecidos como a 1ª e a 2ª leis da termodinâmica, foram elaborados a partir de tentativas de desenvolver a máquina perfeita. A 1ª lei da termodinâmica é, basicamente, conhecida como a lei da conservação da energia. Ou seja, independentemente de qual for o processo físico que esteja ocorrendo, a energia nunca é criada ou destruída, mas simplesmente transformada em outra forma de energia. Era dessa maneira que a energia liberada pela queima do carvão nas antigas máquinas era transformada em energia de movimento, por exemplo. Nas usinas nucleares, em vez de utilizar o fogo para aquecer a água, a energia contida no núcleo atômico é liberada para aquecer e transformar a água em vapor, que, em altíssima pressão, movimenta as turbinas. Entretanto, nem toda a energia gerada, seja qual for o processo, poderá ser sempre útil para nós. É um fato observado que, em todo processo no qual ocorre uma transformação de energia, parte dela se transforma em uma energia que não pode ser aproveitada, e é perdida para o ambiente na forma de calor. TÓPICO 4 | SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA 67 Todos nós já observamos que qualquer máquina, seja a movida a vapor, eletricidade, gasolina etc. sempre fica aquecida. Esse aquecimento surge justamente da perda de energia em forma de calor, que ocorre quando realizamos qualquer processo de transformação de energia. Limites para a eficiência Foi o engenheiro e matemático francês Nicolas Léonard Sadi Carnot (1796-1832) que, ao estudar o desenvolvimento de máquinas térmicas, chegou à conclusão de que seria impossível construir uma máquina térmica com 100% de eficiência, levando ao 2º princípio da termodinâmica (ou 2ª lei). A 1ª lei estabelece que a energia não pode ser criada nem destruída, referindo-se à quantidade de energia. A 2ª lei qualifica isso, acrescentando que a forma que a energia assume nas diversas transformações acaba se ’deteriorando’ em formas menos úteis de energia. Ela se refere, portanto, à ’qualidade’ da energia, levando em consideração também a energia que se torna mais difusa e acaba se degenerando em dissipação. A partir da 2ª lei é que chegamos ao conceito de entropia, que está associada a uma medida de desordem de um sistema. O domínio do fogo pelos primeiros hominídeos foi de fundamental importância para a sobrevivência da nossa espécie. Em milhares de anos utilizando o fogo, o homem conseguiu produzir diversos materiais (metálicos, cerâmicos) que impulsionaram o desenvolvimento civilizatório. Com o advento da máquina a vapor, usando o fogo como fonte de energia, ocorreu o grande processo de industrialização que nos levou ao atual estágio tecnológico. Ao compreender como ocorrem os processos de transformação de energia, a termodinâmica se estabeleceu como um dos mais importantes ramos do conhecimento da física, que se aplica desde as máquinas a vapor até as modernas usinas nucleares. Sem dúvida, o fogo acendeu a curiosidade humana e foi uma das molas propulsoras do nosso progresso. FONTE: OLIVEIRA, Adilson de. A descoberta que mudou a humanidade. 2010. Disponível em: http://cienciahoje.org.br/coluna/a-descoberta-que-mudou-a-humanidade/. Acesso em: 18 jun. 2019. 68 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A máquina de Carnot opera em ciclos entre duas fontes térmicas, sendo composta de dois processos adiabáticos e dois processos isotérmicos. • Ela é considerada como uma máquina ideal, cujo rendimento é o máximo que uma máquina pode atingir, por isso podemos usá-la para fazer uma comparação com as máquinas reais. 69 AUTOATIVIDADE 1 Na termodinâmica nos referimos muito à máquina térmica ideal. A máquina ideal, no contexto, é uma máquina que: a) ( ) Transforma 100% da energia térmica em trabalho mecânico útil. b) ( ) Possui um rendimento máximo dado pelo ciclo de Carnot. c) ( ) Opera em ciclos. d) ( ) Não tem desperdícios de energia. e) ( ) Transforma todo o calor em trabalho. 2 Um engenheiro construiu uma máquina térmica que recebe 100 kJ de uma fonte quente e realiza 50 kJ de trabalho. Ele afirma que sua máquina tem um rendimento de 50%, opera segundo o ciclo de Carnot e com temperaturas entre 1270C e 3270C. Com relação à máquina, é correto dizer que: a) ( ) Essa máquina rejeita 50 kJ, portanto possui uma eficiência de 0,5. b) ( ) Não seria possível retirar 50 kJ da fonte quente se a temperatura é de apenas 3270C. c) ( ) O rendimento máximo da máquina, segundo o ciclo de Carnot, é de 33%, portanto qualquer rendimento superior estaria incorreto. d) ( ) O engenheiro conseguiu construir uma máquina ideal. e) ( ) Nenhuma das afirmativas acima está correta.3 O esquema da figura a seguir fornece o funcionamento de um motor e de um refrigerador. É correto afirmar que: a) ( ) A figura esquematiza o funcionamento de um refrigerador ideal e o funcionamento de uma máquina térmica ideal. b) ( ) A figura representa o funcionamento de dois dispositivos termodinâmicos que operam segundo o ciclo de Carnot. c) ( ) Pelo enunciado da segunda lei da termodinâmica, os dois esquemas da figura representam dispositivos impossíveis de se construir. d) ( ) A figura representa o funcionamento de dois dispositivos termodinâmicos que operam segundo o ciclo de Diesel. e) ( ) A figura representa o funcionamento de dois dispositivos termodinâmicos que operam segundo o ciclo de Otto. 70 4 Uma máquina a vapor tem uma caldeira que opera a 600 K. A energia do combustível queimado muda a água para vapor, e este impele um pistão. A temperatura do reservatório frio é a do ar externo, aproximadamente 330 K. Qual é a eficiência térmica máxima da máquina a vapor? a) ( ) 60%. b) ( ) 33%. c) ( ) 40%. d) ( ) 45%. e) ( ) 25%. 5 Uma máquina transfere 2,50 x 103 J de energia de um reservatório e temperatura alta durante um ciclo e 2,00 x 103 J como descarga para um reservatório de temperatura baixa. a) Calcule a eficiência da máquina. b) Calcule o trabalho que a máquina realiza em um ciclo. a) ( ) 60%, 5 x 103 J. b) ( ) 33%, 2,1 x 102 J. c) ( ) 40%, 0,5 x 102 J. d) ( ) 45%, 0,21 x 103 J. e) ( ) 20%, 5 x 102 J. 6 É impossível que exista um processo que transfira energia térmica de um reservatório mais frio para um reservatório mais quente sem que algum trabalho tenha sido feito. Tal versão da segunda lei da termodinâmica foi enunciada por: a) ( ) Clausius. b) ( ) Lorde Kelvin. c) ( ) Carnot. d) ( ) Diesel. e) ( ) Otto. ESQUEMA DO FUNCIONAMENTO DE DOIS DISPOSITIVOS TERMODINÂMICOS FONTE: Merle e Somerton (2017, p. 118) Dispositivo a) b) Dispositivo W QH = WQL = QH QHQH QL TL TH TH 71 7 É impossível construir uma máquina térmica que, operando em um ciclo, não produza efeito nenhum além da entrada de energia por calor de um reservatório e a realização de igual quantidade de trabalho. Tal versão da segunda lei da termodinâmica foi enunciada por: a) ( ) Clausius. b) ( ) Lorde Kelvin. c) ( ) Carnot. d) ( ) Diesel. e) ( ) Otto. 8 O enunciado da segunda lei da termodinâmica pode ser expresso da seguinte forma: “É impossível construir uma máquina térmica operando em ciclos, cujo único efeito seja retirar calor de uma fonte e convertê-lo integralmente em trabalho”. A lei nos leva a concluir que: a) ( ) Sempre se pode construir uma máquina térmica cuja eficiência seja 100%. b) ( ) Qualquer máquina térmica necessita apenas de um reservatório de alta temperatura. c) ( ) Calor e trabalho não são grandezas incompatíveis. d) ( ) Uma máquina térmica retira calor de uma fonte de alta temperatura e rejeita parte do calor para uma fonte de baixa temperatura. e) ( ) Somente com uma fonte de baixa temperatura, mantida a 273 K, seria possível converter integralmente calor em trabalho. 72 73 UNIDADE 2 ENTROPIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de: • aprofundar o conceito de entropia e conhecer a sua origem; • estudar e calcular a variação de entropia em diferentes processos termo- dinâmicos; • conhecer a interpretação microscópica de entropia; • definir e explicar a terceira lei da termodinâmica. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO TÓPICO 2 – VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM PROCESSOS TERMODINÂMICOS TÓPICO 3 – INTERPRETAÇÃO MICROSCÓPICA DA ENTROPIA TÓPICO 4 – TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 74 75 TÓPICO 1 ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A entropia é um dos conceitos mais abstratos da física. Embora esteja relacionada ao calor e à temperatura nos processos termodinâmicos, não podemos dizer que se trata de uma propriedade física específica, mas de uma função que depende do estado do sistema. Segundo Santos (2009, p. 23), o ensino da segunda lei da termodinâmica que envolve o conceito é uma preocupação constante no que se refere à “lógica histórica e epistemológica para a abordagem do assunto”. São discussões sobre tais dúvidas tanto do ponto de vista didático como de aspectos intrínsecos ao próprio conceito. Santos (2009, p. 23) cita algumas das discussões. A segunda lei da termodinâmica é uma das construções intelectuais mais intrigantes de todos os tempos. Desde sua primeira formulação no século XIX, tem sido fonte de discussões acaloradas entre cientistas das mais variadas origens e nos mais variados ramos da ciência. Apesar de seu foco ser os sistemas microscópicos, algumas vezes tem sido abusivamente aplicada até mesmo diante de fenômenos sociais, gerando interpretações que poderíamos classificar, no mínimo, como perigosas. A conexão entre a 2ª lei e a irreversibilidade é um dos problemas mais profundos da Física. Entropia não é desordem nem tem nada a ver com coisas misturadas, como cadeiras desarrumadas e cartas embaralhadas. As dificuldades parecem residir na falta de correspondência entre o modelo macroscópico das leis da termodinâmica (relações de energia que empregam grandezas fenomenológicas) e o modelo cinético molecular da matéria. Ambos modelos teóricos, um macroscópico e outro microscópico, se apresentam habitualmente na sala de aula, de modo que a falta de conexão seria, em parte, proveniente do ensino. O principal problema reside no fato de que existe um salto entre a discussão teórica, que se inicia com uma visão macroscópica das variáveis de estado, e sua relação com a primeira lei da termodinâmica na máquina de Carnot. Assim, temos uma visão microscópica tratada estatisticamente como o movimento aleatório das partículas do gás. O aumento do movimento das partículas estaria ligado a uma outra grandeza, que tem um comportamento semelhante à energia interna. Tal grandeza chamaremos de entropia e, normalmente, está associada ao grau de desordem das partículas. Podemos pensar na variação da entropia como a passagem de um estado de maior concentração de energia para um estado de maior dispersão de energia. UNIDADE 2 | ENTROPIA 76 FIGURA 1 – ESQUEMA REPRESENTANDO O AUMENTO DE ENTROPIA DE UM SISTEMA FONTE: <http://www.verdadeilimitada.com.br/2017/11/14/voce-sabe-o-que-e-entropia/>. Acesso em: 14 out. 2018. More disordered Highly ordered Increase in entropy Um processo que acontece espontaneamente é o processo de fotossíntese. As folhas consomem o CO2 da atmosfera e absorvem energia através dos raios solares. Assim, a energia reage com a clorofila presente nas folhas, quebrando a molécula de CO2 e gerando um novo composto: a glicose C6H12O6. Há a liberação de oxigênio O2, passando de uma forma de energia mais concentrada (luz e CO2) para uma forma de energia mais dispersa (glicose e perdas como umidade O2 e calor). FIGURA 2 – FOTOSSÍNTESE FONTE: <https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/fotossintese-sugestao- aula.htm>. Acesso em: 2 jan. 2019. TÓPICO 1 | ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO 77 FIGURA 3 – FÓRMULA QUÍMICA DA FOTOSSÍNTESE FONTE: <http://projetofotossintese.blogspot.com/2011/03/formula.html>. Acesso em: 2 jan. 2019. Para descrevermos a irreversibilidade dos processos termodinâmicos e explicarmos a segunda lei, precisamos definir a grandeza entropia. Utilizamos exemplos como cartas espalhadas no chão para apontarmos uma direção em que a desordem pode ocorrer, forçando, assim, uma comparação com a irreversibilidade do processo. Tal exemplo estaria muito afastado do real significado da grandeza e até mesmo dificultaria o entendimento do seu conceito. Uma observação é pertinente para dar ênfase à questão do uso constante de uma metáfora dadesordem para a explicação do conceito de entropia. Temos uma definição que se baseia exclusivamente em uma argumentação macroscópica da termodinâmica. A argumentação está fundada na busca de Clausius por uma grandeza que pudesse expressar a condição de reversibilidade ou irreversibilidade de um processo. Se a soma algébrica citada for diferente de zero, o processo é irreversível. A energia de qualquer processo sempre se conserva. Não importa que este seja reversível ou irreversível, não há como distingui- lo apenas usando o princípio de conservação da energia. A entropia é, então, a grandeza que pode dizer matematicamente se o processo é ou não reversível (SANTOS, 2009, p. 89). Nos séculos XVI e XVII era comum pensarmos em mecanismos que tinham pressuposto a perfeição do universo. Descartes e Newton contribuíram para uma visão mecanicista da natureza com o fundamento principal embasado no movimento dos astros celestes. Muitos fenômenos naturais podiam ser descritos através do modelo teórico de conservação de energia mecânica, em que a dissipação de energia não é levada em conta. O modelo relaciona as energias cinética e potencial e não considera as perdas de energia durante o movimento dos corpos. O desprezo pela dissipação de energia estava tão arraigado ao pensamento científico na Idade Média que se observa até hoje a insistência em construir uma máquina que gere a sua própria energia, os motos perpétuos. A máquina perfeita funcionaria de forma contínua a partir de um incremento inicial na sua energia. O mecanismo, no entanto, como provam a primeira e a segunda lei da termodinâmica, não pode ser construído. Santos (2009, p. 131) aponta que: UNIDADE 2 | ENTROPIA 78 Carnot interpreta a transferência de calor de um corpo mais quente para um mais frio como uma tendência ao "reequilíbrio" do calórico e não como uma dissipação da substância. A máquina térmica produz trabalho a partir da passagem de calórico de alta temperatura para calórico de baixa temperatura sem que haja consumo, apenas a busca do seu equilíbrio. Mesmo havendo uma relação entre a quantidade de trabalho produzido e a quantidade de calórico fornecido, não há a possibilidade de que o calórico esteja sendo consumido para a realização do trabalho. A primeira tentativa de criar uma máquina de movimento perpétuo foi no século XII, com Bháskara, que criou um dispositivo que continha reservatórios cilíndricos contendo mercúrio que giravam a partir das diferenças de potencial das posições dos centros de massa dos tubos. FIGURA 4 – RODA DE BHÁSKARA FONTE: <http://www.alterima.com.br/index.asp?InCdSecao=20&InCdEditoria=4&InCdMateria= 131&Veja+sistemas+auto+sustentavel+-+Rodas+Desequilibradas>. Acesso em: 1 abr. 2019. Também no séc. XII, Villard criou um dispositivo semelhante usando martelos. Leonardo da Vinci, no séc. XV, afirmou que tal dispositivo não pode funcionar porque assim que os martelos se afastam do eixo de rotação, o torque aumenta e, consequentemente, o momento angular também. Assim, o torque da força gravitacional não é mais suficiente para manter o movimento. Mesmo assim, criou alguns dispositivos semelhantes. FIGURA 5 – RODA DE LEONARDO DA VINCI FONTE: <http://leonardodavinci.cc/movimento-perpetuo/>. Acesso em: 1 abr. 2019. TÓPICO 1 | ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO 79 Carnot fez uma analogia entre a máquina térmica e a roda d'água inaugurando uma relação teórica entre fenômenos térmicos e fenômenos mecânicos em relação à irreversibilidade. É necessário evitar o atrito entre as partes da máquina e os choques inelásticos das pás para que a máquina seja capaz de repor a mesma quantidade de água na altura original usando o próprio trabalho. Ainda em relação à procura pela máquina ideal, Santos (2009, p. 132) afirma que: Carnot conserva da mecânica a ideia de reversibilidade como condição para funcionamento de sua máquina térmica ideal. A ideia supõe que nenhum equilíbrio térmico se dá, exceto com o gás usado como substância de trabalho. Carnot usa a expressão "perda real" para se referir às trocas indesejáveis de calor. Apesar da aparência de recomendação técnica, a condição de reversibilidade é um elemento teórico importante: o gás deve ser sempre mantido em equilíbrio térmico com as fontes. É a estabilidade, idealizada por um processo conhecido como quase-estático, que dá a condição de reversibilidade e, consequentemente, do conceito associado à entropia ainda a ser formulado. A entropia como conceito associado à irreversibilidade não pode ainda ser diretamente quantificada, mas indiretamente temos um termo de comparação numérica entre um processo reversível e outro irreversível na forma de ciclos termodinâmicos. 2 SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA E A ENTROPIA EM UM PROCESSO REVERSÍVEL A segunda lei da termodinâmica fornece um enunciado em termos qualitativos expressando uma impossibilidade. Mas ela também pode ser expressa em termos quantitativos através da entropia que está relacionada a uma medida da desordem das partículas. Embora desordem não seja o termo ideal para descrever o que de fato ocorre com as partículas é o mais próximo. O fluxo de calor irreversível faz a desordem aumentar porque inicialmente as moléculas estavam arrumadas em regiões quentes e frias; essa arrumação desaparece quando o sistema atinge o equilíbrio térmico. O calor fornecido a um corpo faz sua desordem aumentar porque ocorre um aumento de velocidade média de cada molécula e, portanto, o estado caótico aumenta. A expansão livre de um gás faz aumentar sua desordem porque a posição das moléculas tornou-se mais aleatórias do que antes da expansão (YOUNG; FREEDMANN, 2008, p. 293). Vamos imaginar um sistema como um gás. Adicionamos uma quantidade infinitesimal de calor dQ e deixamos que ele se expanda, mantendo a sua temperatura constante. Pela primeira lei: dU = dQ – dW Como a temperatura é mantida constante, a energia interna não varia. Portanto, temos que: dQ = dW (1) (2) UNIDADE 2 | ENTROPIA 80 Entretanto: dW = pdV A partir da lei dos gases ideais, temos: (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) nRTp V = Substituindo as equações 3 e 4 na 2, encontramos: nRTdQ dV V = Rearranjando: dV dQ V nRT = O aumento no volume faz com que as partículas se movam de modo mais aleatório e desordenado. A desordem está associada ao aumento da entropia através da relação entre: dV dQ V T ≈ Chamaremos de S a entropia. O aumento infinitesimal da entropia em um processo reversível é dado pela expressão: dQdS T = Se em um processo isotérmico reversível é fornecida a quantidade total de calor Q, a variação da entropia é: QS T ∆ = TÓPICO 1 | ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO 81 A unidade de entropia é o Joule por Kelvin (J/K). Em um processo isotérmico, com a mudança do estado de agregação da matéria, como a liquefação da água, por exemplo, as moléculas estão agrupadas de modo regular e uniforme em um cristal. Ao se fundirem, as ligações entre as moléculas se rompem, aumentando a desordem e, consequentemente, a entropia. FIGURA 6 – ARRANJO DAS MOLÉCULAS DE ÁGUA NO ESTADO SÓLIDO (GELO) Molécula de água H H O Ligação de hidrogênio FONTE: Feynmann (2008, p. 294) Exemplo: Imagine um processo reversível com 1500 gramas de gelo a 00C. Tais gramas são liquefeitas e convertidas em água a 00C. Sendo o calor latente de liquefação da água de 3,34 x 105J/kg, calcule a variação da entropia no processo. Solução: Como se trata de um processo reversível, podemos substituir a quantidade de calor fornecida e a temperatura convertida para a escala Kelvin (00C = 273,15K). O calor fornecido é calculado através da quantidade de calor latente em uma mudança de estado físico: Q = mL Q = (1,5kg)(3,34 . 105J/kg) = 5,01 . 105J Substituindo o resultado obtido e a temperatura, encontramos: 5 55,01 10 0,183 10 / 273,15 JS J K K ∆ ∆ = = ∆ Resposta: A variação de entropia foi de 18,3 kJ/K. UNIDADE 2 | ENTROPIA 82 3 VARIAÇÃO DA ENTROPIA EM UM PROCESSO ISOTÉRMICOFeynmann (2008, p. 44) fornece uma definição adequada de entropia: Sempre trabalhando com máquinas reversíveis, um calor Q1 na temperatura T1 é “equivalente” a Q2 em T2 se Q1/T1 = Q2/T2, no sentido que conforme um é absorvido o outro é fornecido. A ação sugere chamar Q/T de algo. Assim, em um processo reversível, o mesmo tanto de Q/T que é absorvido é liberado. Não há nenhum ganho ou perda de Q/T. Esse Q/T é chamado de entropia, e dizemos que “não há nenhuma variação efetiva na entropia em um ciclo reversível”. Podemos estender a definição de entropia como qualquer processo reversível, mesmo que ele não seja isotérmico. Para tanto, faremos apenas pequenos acréscimos de calor dQ, de modo que cada etapa infinitesimal do processo seja reversível. Ainda, somando todas as partes através de uma integral, teremos a variação da entropia de um estado termodinâmico 1 para um estado 2. 2 1 dQS T ∆ = ∫ (10) (11) Observe, na figura a seguir, que os dois estados termodinâmicos definidos nos pontos 1 e 2 têm funções de estado bem definidas, independentemente do caminho que utilizamos para chegar de 1 até 2. O volume, a pressão, a energia interna, a temperatura e a entropia têm seus valores bem definidos nos pontos. Os processos A, B e C são processos reversíveis e, em qualquer ponto sobre a curva, encontramos os valores das grandezas citadas. Nos casos, a variação de entropia é: 2 2 2 2 1 1 1 1 CA B dQdQ dQS S S T T T ∆ = − = = =∫ ∫ ∫ Já no processo D a curva representa uma região nebulosa. As grandezas termodinâmicas não são muito bem definidas e o processo não é reversível. No caso, não faz sentido integrar dQ. TÓPICO 1 | ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO 83 FIGURA 7 – DIAGRAMA P X V DE QUATRO PROCESSOS TERMODINÂMICOS DIFERENTES FONTE: Telles (2018, p. 307) P V A B D C (1) (2) Há como utilizar qualquer outro caminho reversível para calcular a variação de entropia de 1 até 2, como o caminho A, B ou C, e o resultado deve ser o mesmo obtido no caminho real D. A ação ocorre porque, assim como a variação da energia interna, a variação da entropia só depende do início e fim do processo. Exemplo: Calcule a variação de entropia de 500 gramas de água a 273K e com aquecimento até 373K. Solução: 2 1 Tf Tf Ti Ti dQ mcdT dTS mc T T T ∆ = = =∫ ∫ ∫ ( )( ) 3730,500 4190 / . 273 KS kg J kg K ln K ∆ = 654 /S J K∆ = Resposta: A variação de entropia é de 654 J/K. UNIDADE 2 | ENTROPIA 84 FIGURA 8 – TROCA DE CALOR ENTRE O GELO E A PISCINA. O GELO É REPRESENTADO PELO SISTEMA E A ÁGUA DA PISCINA É REPRESENTADA PELO MEIO FONTE: Coelho (2016, p. 125) Meio Sistema TO T Q Exemplo: Um cubo de gelo de 12,0g a -100C é colocado em uma piscina que está a 180C. Calcule a variação de entropia do sistema quando o cubo de gelo atingir o equilíbrio térmico da piscina. O calor específico do gelo é de 2100 J/kg.K, o da água é de 4200 J/kg.K e o calor latente de fusão do gelo é de 3,33 x 105J/kg. O cubo de gelo afetará a temperatura da piscina? Solução: O cubo de gelo (sistema) não afetará a temperatura da piscina (meio). A massa de gelo absorverá calor para elevar a sua temperatura até o ponto de fusão, para derreter e, em seguida, para elevação da temperatura. A variação de temperatura da piscina será negativa e a da massa de gelo será positiva. Vamos calcular a variação de entropia do gelo para cada etapa e somar o resultado: 2 1 dQS T ∆ = ∫ Calculando a variação de entropia para elevar a temperatura da massa de gelo de – 100C = 263,15K para 00C = 273,15K: Tf Tf Ti Ti mcdT dTS mc T T ∆ = =∫ ∫ TÓPICO 1 | ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO 85 ( ) 273,15 3 263,15 120012,0 10 . K K J dTS kg K kg T − ∆ = ∆ ∫ ( )( )3 273,1512,0 10 1200 / . 263,15 KS kg J kg K ln K −∆ = ∆ 0,537 /S J K∆ = Agora, vamos calcular a variação da entropia para mudar o estado de agregação da matéria: 2 1 dQS T ∆ = ∫ fmLS T ∆ = ( )( )3 512,0 10 3,33 10 / 273,15 kg J kg S K −∆ ∆ ∆ = 14,63 /S J K∆ = Calculando a variação da entropia para elevar a temperatura da massa de gelo de 00C = 273 K até 280C = 293,15K: Tf Tf Ti Ti mcdT dTS mc T T ∆ = =∫ ∫ ( )( ) 291,15 3 273,15 12,0 10 4200 / . k dTS kg J kg K T −∆ = ∆ ∫ ( )( )3 291,1512,0 10 4200 / . 273,15 KS kg J kg K ln K −∆ = ∆ 3,22 /S J K∆ = Por fim, calculamos a variação de entropia na piscina pelo princípio de conservação de energia. A soma de todos os calores transferidos é nula, então: 0cedido recebidoQ Q∑ +∑ = cedido recebidoQ Q∑ = −∑ ( )cedido gelo f águaQ mc T mL mc T= − ⋅ + + ⋅ ( )( )( )312,0 10 1200 / . 273,15 263,15 14,4gelomc T kg J kg K K K J−∆ = ⋅ − = UNIDADE 2 | ENTROPIA 86 ( )( )3 512,0 10 3,33 10 / 3996fmL kg J kg J−= ⋅ ⋅ = ( )( )( )38,0 10 4200 / . 291,15 273,15 907,2águamc T kg J kg K K K J−∆ = ⋅ − = ( )14,4 3996 907,2 4917,6cedidoQ J J J J= − + + = − 0 cedidoQS T ∆ = 4917,6 16,89 / 291,15 JS J K K ∆ = − = − Resposta: A variação de entropia do gelo é de 18,39 J/K e a variação na piscina é de – 16,89 J/K. Portanto, a variação total de entropia, considerando a piscina e as vizinhanças um sistema fechado, é de 1,5 J/K. 4 CÁLCULO DA VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM UMA EXPANSÃO ISOTÉRMICA Podemos comparar um processo irreversível, como a expansão espontânea de um gás, com um processo isotérmico com variação de volume. Da primeira lei temos que o calor Q transferido pelo sistema será igual ao trabalho W realizado para expandir o gás. A variação da energia interna é nula, e uma vez que a temperatura não varia: ΔU = Q – W Q = W = pdW Com a integral da definição de variação de entropia: 2 1 dQS T ∆ = ∫ 2 1 V V pdVS T ∆ = ∫ Lembrando que, pela equação dos gases ideais: nRTp V = Encontramos que: TÓPICO 1 | ENTROPIA E DESORDEM DO UNIVERSO 87 2 2 1 1 V V V V nRT dV dVS nR V T V ∆ = =∫ ∫ Integrando, o resultado é: ( ) ( )( )2 1ln lnS nR V V∆ = − 2 1 ln VS nR V ∆ = ⋅ (12) (13) Exemplo: Calcule a entropia de um mol de oxigênio quando este expande isotermicamente de um volume de 22,0 L para 66,0 L. Solução: Temos que: ( )( ) 66,01 8,314 / . ln 22,0 LS mol J mol K L ∆ = ⋅ 9,13 /S J K∆ = Resposta: a entropia aumentou 9,13 J/K. 5 CÁLCULO DA VARIAÇÃO DA ENTROPIA COM A PRESSÃO Para encontrarmos a variação da entropia em termos de variação de pressão, partimos da lei geral dos gases, que fornece a relação entre volume e pressão entre dois estados de um processo isotérmico: p2V2 = p1V1 Rearranjando, o resultado é: 2 1 1 2 V p V p = Substituindo, encontramos: 1 2 ln pS nR p ∆ = ⋅ UNIDADE 2 | ENTROPIA 88 Exemplo: Suponha que uma amostra de 0,5 mol de um gás é comprimida fazendo a sua pressão aumentar de 0,5 atm para 10 atm. Determine a variação da entropia. Solução: Utilizando a equação anterior, temos: ( )( ) 0,50,5 8,314 / . ln 10 atmS mol J mol K atm ∆ = ⋅ 12,4 /S J K∆ = − Resposta: A entropia diminuiu 12,4J/K. 89 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Algumas formas que descrevem a entropia são um tanto confusas, pois não existe uma conexão entre os dois modelos que descrevem a entropia. • O modelo macroscópico descreve a relação da entropia com as leis da termodinâmica e o modelo microscópico relaciona a entropia com a cinética das moléculas. • O aumento da entropia está relacionado a uma forma de energia mais espalhada. Um exemplo visto foi o processo da fotossíntese. O sistema passa de uma forma de energia mais concentrada (luz e gás carbônico) para uma forma de energia mais dispersa (glicose, água e calor). • Existe uma direção para os acontecimentos ocorrerem espontaneamente, que é caracterizada pela irreversibilidade do processo. • O movimento dos corpos celestes de Newton e o mecanicismo de Descartes fizeram com que os teóricos dos séculos XVI e XVII passassem a utilizar modelos de conservação de energia com o desprezo das perdas por dissipação. Era preciso descrever as conversões de energia das máquinas. A concepçãoerrônea fez algumas pessoas insistirem na tentativa de construção de uma máquina perfeita que fosse capaz de gerar sua própria energia. A primeira e a segunda lei da termodinâmica garantem que tal máquina não pode ser construída. • Há a variação da entropia em diversos processos, sendo que no processo isotérmico é determinada pela relação entre a quantidade de calor e a temperatura. 90 AUTOATIVIDADE 1 Quando duas superfícies estão em contato, e ocorre um movimento relativo entre elas, as forças de atrito aumentam as suas temperaturas. Explique, qualitativamente, porque o processo inverso não ocorre. a) ( ) Porque quando elas estão em contato há interações elétricas entre as suas moléculas. Com o movimento, as interações são quebradas, aumentando a energia cinética das moléculas e a temperatura das superfícies. A energia térmica dificulta a interação entre as moléculas, as forças seriam localizadas e não provocariam o movimento, impossibilitando o processo inverso. b) ( ) Porque as interações são de ordem microscópica e o movimento relativo entre as superfícies não altera a velocidade das moléculas, impossibilitando o acúmulo de energia. c) ( ) Não existem parâmetros que possibilitem explicar tal observação. d) ( ) Porque quando elas estão em contato existem interações mecânicas entre as suas moléculas. Com o movimento, as interações são aumentadas, diminuindo a energia cinética das moléculas e há aumento da pressão nas superfícies. A pressão dificulta o movimento das moléculas, impossibilitando o processo inverso. e) ( ) As foças de contato anulam as energias cinéticas das moléculas e as superfícies não podem aproveitar o calor que flui através das suas superfícies. 2 É possível que ocorra variação de entropia em processos mecânicos? Se a resposta for sim, explique como ocorre. a) ( ) Sim, é possível devido ao atrito. Quando as ligações elétricas entre as moléculas de duas superfícies em contado são quebradas, há o aumento da desordem e, consequentemente, o aumento da entropia. b) ( ) Não. A entropia só ocorre em processos termodinâmicos. c) ( ) Não. Somente se observa a entropia em processos relacionados às máquinas térmicas, bombas de calor e refrigeradores. d) ( ) Sim. Nas transformações adiabáticas não há trocas de calor com as vizinhanças e o choque entre as moléculas é de ordem elástica. e) ( ) Sim, pois o próprio movimento das partículas é de ordem mecânica e a energia das suas interações é armazenada no sistema antes de ser liberada para as vizinhanças. 3 Suponha que 300 J de calor é transferido por condução de um reservatório a 350 K para um reservatório a 150 K. Calcule a variação de entropia no processo. 91 a) ( ) 2,00 J/K. b) ( ) 1,27 J/K. c) ( ) - 1,27 J/K. d) ( ) - 2,00 J/K. e) ( ) 0. 4 Um cubo de gelo de 8,0 g a – 100C é colocado em um lago que está a 200C. Calcule a variação de entropia da massa de água quando o cubo de gelo atingir o equilíbrio térmico do lago e a entropia do lago. O calor específico do gelo é de 2100 J/kg.K, o calor específico da água é de 4200 J/kg.K e o calor latente da fusão do gelo é de 3,33 x 105J/kg. Qual será a temperatura final da água no lago? a) ( ) Massa da água do gelo 12,47 J/K e lago – 11,4 J/k. A temperatura do lago não varia, pois a massa da água do lago é muito maior que a massa do gelo. b) ( ) Massa da água do gelo 11,47 J/K e lago – 12,4 J/k. A temperatura do lago não varia, pois a massa da água do lago é muito maior que a massa do gelo. c) ( ) Massa da água do gelo 12,47 J/K e lago – 11,4 J/k. A temperatura do lago aumentou, pois a massa da água do lago é muito maior que a massa do gelo. d) ( ) Massa da água do gelo 11,47 J/K e lago – 12,4 J/k. A temperatura do lago diminuiu, pois a massa da água do lago é muito maior que a massa do gelo. e) ( ) Massa da água do gelo 11,47 J/K e lago – 12,4 J/k. A temperatura do lago aumentou, pois a massa da água do lago é muito maior que a massa do gelo. 5 Calcule a variação de entropia de 800 gramas de água a 285K e com aquecimento até 353K. a) ( ) 546 J/K. b) ( ) 719 J/K. c) ( ) 454 J/K. d) ( ) 610 J/K. e) ( ) 800 J/K. 6 Uma grande quantidade de água foi colocada em um aquecedor e 80 J de energia foi transferida reversivelmente para a água a 26,85 0C. Calcule a variação de entropia da água. a) ( ) 0,267 J/K. b) ( ) 7,190 J/K. c) ( ) 0,454 J/K. d) ( ) 6,108 J/K. e) ( ) 0,800 J/K. 7 Calcule a variação de entropia de ouro fundido quando 150 J de calor é retirado reversivelmente a 1336,15 K. 92 a) ( ) 0,267 J/K. b) ( ) 7,190 J/K. c) ( ) 0,112 J/K. d) ( ) 6,108 J/K. e) ( ) 0,800 J/K. 8 Calcule a variação de entropia de um grande bloco de gelo quando 70 J de calor é retirado reversivelmente de uma geladeira a 00C. a) ( ) 0,267 J/K. b) ( ) 7,190 J/K. c) ( ) 0,112 J/K. d) ( ) 0,256 J/K. e) ( ) 0,800 J/K. 9 Carnot demonstrou que é impossível obter 100% de rendimento de uma máquina térmica funcionando em ciclos, uma de alta temperatura e outra de baixa temperatura. A limitação existe porque as máquinas: a) ( ) Realizam um trabalho motor. b) ( ) Produzem aumento da entropia. c) ( ) Utilizam transformações adiabáticas e isotérmicas. d) ( ) Violam a lei da conservação de energia. e) ( ) Funcionam com temperatura igual à da fonte quente. 10 Calcule a entropia de dois mols de um gás ideal quando este expande isotermicamente de um volume de 22,5 L para 47,5 L. a) ( ) 6,08 J/K. b) ( ) 12,4 J/K. c) ( ) 0,32 J/K. d) ( ) 0. e) ( ) 1,24 J/K. 93 TÓPICO 2 VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM PROCESSOS TERMODINÂMICOS UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Quando deixamos um pote de sorvete em contato com uma superfície mais quente, ela ficará mais fria e o sorvete derreterá. Sabemos que, devido à diferença de temperatura, há uma passagem de calor do corpo de maior temperatura para o corpo de menor temperatura. Podemos imaginar que se a energia transferida para o sorvete retornasse à superfície, o sorvete se solidificaria novamente. Nunca vimos isso acontecer espontaneamente e se víssemos um filme em que isso acontecesse teríamos certeza de que a gravação foi invertida. Sabemos que nunca observaremos um sorvete se solidificar em um ambiente mais quente, porém, se acontecesse, a entropia do universo diminuiria. A geladeira e a bomba de calor são máquinas térmicas que retiram calor de um ambiente de menor temperatura e liberam para um ambiente de maior temperatura. Contudo, a ação só ocorre por meio do trabalho realizado devido à energia elétrica fornecida, que tem por consequência a diminuição de entropia dentro da geladeira. A geladeira é uma máquina térmica operando no sentido inverso. Máquinas térmicas existem desde o século I d.C., mas somente a partir de 1698 tais máquinas obtiveram interesse industrial, com a construção da máquina a vapor de Savery, que tirava água dos poços de minas de carvão. Acreditava-se que as máquinas térmicas podiam ter um comportamento ideal e que, portanto, seria possível obter um rendimento de 100% caso se acertasse no projeto. Em 1824, Sadi Carnot construiu uma máquina a vapor operando em ciclos entre dois reservatórios térmicos e, estudando a transformação de calor em trabalho, descobriu que era impossível utilizar todo o calor fornecido pela fonte quente. A constatação ajudou Clausius em seus estudos sobre fluxo de calor para introduzir o conceito de entropia e anunciar a segunda lei da termodinâmica. 2 VARIAÇÃO DE ENTROPIA NO CICLO DE CARNOT PARA UM MOTOR TÉRMICO O ciclo de Carnot, cuja substância de trabalho é um gás ideal, pode ser utilizado para estudar qualquer ciclo reversível, pois basta representá-lo por uma série de ciclos de Carnot (BORGNAKKE; SONNTAG, 2018). Para tanto, vamos considerar um motor térmico, como o da figura a seguir, que opera entre dois reservatórios térmicos de temperaturas TH (fonte quente TQ) e TC (fonte fria TF). Para uma sucessão de ciclos de Carnot infinitesimais,obtemos o teorema de Clausius que generaliza: UNIDADE 2 | ENTROPIA 94 0dQ T =嚀ϕ (14) (15) O calor total Q é igual à soma dos calores QQ e QC que entram e saem do sistema. Assim: 0Q FQ Q Qδ = − =嚀ϕ Utilizando a escala de temperatura absoluta, considerando as temperaturas nas fronteiras dos reservatórios como constantes e dividindo todos os membros pelas respectivas temperaturas, encontramos: 0Q F Q F Q QQ T T T δ = − =嚀ϕ Vimos que, para processos reversíveis: Q F Q F Q Q T T = O que resulta em: 0 ciclo rev Q T δ − = 嚀ϕ Como estudamos na unidade anterior, o rendimento de um processo reversível é superior ao rendimento do processo irreversível, portanto: rev irrevη η> Lembrando que a eficiência é o trabalho dividido pelo calor de entrada: Q W Q η = Assim, substituindo a relação: TÓPICO 2 | VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM PROCESSOS TERMODINÂMICOS 95 (16) rev irrev rev irrev W W Q Q > Para um processo irreversível, o calor de entrada é igual ao do processo reversível. Assim, temos que: ( ) ( )Q Qrev irrevQ Q= Concluímos que: rev irrevW W> Assim, quando o ciclo é reversível, obtém-se um trabalho maior do que se obtém de um processo irreversível por causa das irreversibilidades que estão dispersando a energia fornecida pela fonte de calor. Como a perda de energia no processo irreversível é maior, podemos concluir que o calor descarregado na fonte fria também é maior: ( ) ( )F Frev irrevQ Q< Então, em um processo irreversível: ( )FQ irrev Q F QQQ T T T δ = −嚀ϕ O que resulta em: ( )FQ Qirrev F Q F Q F QQ Q Q T T T T − < − Concluímos que: 0 ciclo irrev Q T δ − < 嚀ϕ UNIDADE 2 | ENTROPIA 96 FIGURA 9 – ESQUEMA DO MOTOR TÉRMICO FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 241) TH QH QL Wrev TL Exemplo: Uma certa máquina de Carnot absorve 2500 J de calor de uma fonte a 750 K, realiza trabalho e descarta calor para uma fonte a 400 K. Calcule: a) o trabalho realizado, b) a quantidade de calor rejeitada, c) a eficiência da máquina e d) a variação da entropia. Solução: a) Usando a relação a seguir para encontrar o calor descartado: Q F Q F Q Q T T = 2500 750 400 FQJ K K = 1333FQ J= Utilizando a relação do trabalho: Q FW Q Q= − 2500 1333 1167W J J J= − = b) A quantidade de calor rejeitada foi calculada e é de 1333J. c) A eficiência é dada por: TÓPICO 2 | VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM PROCESSOS TERMODINÂMICOS 97 Q W Q η = 1167 0,4668 2500 η = = d) A variação de entropia no ciclo de Carnot é igual a zero, pois se trata de um ciclo reversível: 0 ciclo rev Q T δ − = 嚀ϕ Resposta: O trabalho é de 1167J, o calor perdido é de 1333J, a eficiência da máquina é de 47% e a variação de entropia é nula. Exemplo: Uma máquina térmica recebe 2,09.109J/h de uma fonte quente e produz 6,697108J/h. Calcule: a) o fluxo de calor transferido para a fonte fria; b) o rendimento térmico da máquina; c) a variação de entropia que ocorre na fonte quente e na fonte fria, cujas temperaturas são respectivamente 673 k e 323 k e d) a entropia do ciclo, supondo que o processo seja irreversível. Solução: a) Sabemos que o trabalho de uma máquina térmica é igual ao calor transferido QQ para o sistema menos o calor rejeitado QF. Podemos calcular tais grandezas em termos de suas taxas: ÿ ÿ Q FW Q Q= − . . ÿ ÿ 9 82,09 10 / 6,697 10 /F QQ Q W J h J h= − = ⋅ − ⋅ . . ÿ 91, 42 10 /FQ J h= ⋅ . b) Calculando o rendimento: ÿ Q W Q η = 8 9 6,697 10 / 0,32 2,09 10 / J h J h η ⋅= = ⋅ . UNIDADE 2 | ENTROPIA 98 c) Para calcular as variações de entropia em cada fonte, supondo que as temperaturas da fonte quente e da fonte fria sejam constantes, utilizamos a definição: Q Q QQ T T δ ∫ = ( ) 9 62,09 10 / 3,10 10 / 673 Q J h J hK T K δ − ⋅ ∫ = = − ⋅ Na verdade, a variação de entropia na fonte quente é negativa porque ela sai da fonte, mas consideraremos o seu valor em módulo para calcularmos a variação de entropia na integral fechada do ciclo no item d. Calculando a entropia da fonte fria, temos: F F QQ T T δ ∫ = ( ) 9 61, 42 10 / 4,40 10 / 323 Q J h J hK T K δ ⋅ ∫ = = ⋅ A variação de entropia é positiva porque entra na fonte. d) Calculando a variação de entropia total do ciclo, temos que a máquina recebe calor da fonte quente e fornece calor para a fonte fria. Assim, temos: Q F Q F Q QQ T T T δ = −嚀ϕ ( ) ( ) ( ) 6 6 610 10 103,10 4,40 1,30Q J J J T hK hK hK δ = ⋅ − ⋅ = −嚀ϕ Resposta: O calor da fonte fria é de 1,42 x 109 J/h, o rendimento é de 32%, as variações de entropia nas fontes quente e fria são, respectivamente (-3,10 x 106 J/hK e 4,40 x 106 J/hK), e considerando o ciclo fechado da máquina térmica irreversível encontramos – 1,30 x 106 J/hK. 3 VARIAÇÃO DE ENTROPIA NO CICLO DE CARNOT PARA UM REFRIGERADOR Agora vamos analisar o caso de um refrigerador irreversível. Para o ciclo de refrigeração reversível, temos que o calor QF é extraído da fonte fria TC (que chamamos de TF) e o calor QQ é liberado para a fonte quente TH (que chamamos de TQ). Temos que: TÓPICO 2 | VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM PROCESSOS TERMODINÂMICOS 99 0F QQ Q Qδ = − =嚀ϕ Dividindo pelas temperaturas, como fizemos no caso do motor térmico, encontramos: 0QF F Q QQQ T T T δ = − =嚀ϕ Considerando que no processo irreversível o trabalho tem que ser maior, encontramos que: rev irrevW W< O trabalho para cada ciclo é: Q FW Q Q= − Substituindo na anterior, temos que: Qrev F Qirrev F irrevQ Q Q Q− < − Resulta em: Qrev QirrevQ Q< Temos que, para o processo irreversível: QirrevF F Q QQQ T T T δ = −嚀ϕ Comparando com o resultado obtido no refrigerador de Carnot, ciclo reversível, encontramos: Qirrev QF F F Q F Q Q QQ Q T T T T − < − UNIDADE 2 | ENTROPIA 100 Consequentemente, encontramos novamente a desigualdade: 0 ciclo irrev Q T δ − < 嚀ϕ (17) (18) Juntando os resultados obtidos em todas as discussões anteriores, podemos finalmente concluir que, para todos os ciclos, é válida a desigualdade de Clausius: 0 ciclo Q T δ ≤ 嚀ϕ Escolhemos a igualdade no caso de ciclos reversíveis e a desigualdade no caso de ciclos irreversíveis (BORGNAKKE; SONNTAG, 2018). FIGURA 10 – ESQUEMA DO REFRIGERADOR FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 243) TH QH QL Wrev TL Exemplo: (Adaptado de BORGNAKKE; SONNTAG, 2018, p. 244). Uma bomba recebe uma mistura de líquido e vapor e esta entra como líquido saturado. Supondo que o calor seja transferido em apenas dois lugares, na caldeira (gerador de calor) e no condensador, e que os calores por unidade de massa sejam, respectivamente, iguais a Q1 = 2066,3 kJ/kg (temperatura de T1 = 438 K) e a Q2 = -1898,4 kJ/kg (temperatura de T2 = 327 K). Determine se o ciclo dado satisfaz a desigualdade de Clausius. Solução: TÓPICO 2 | VARIAÇÃO DE ENTROPIA EM PROCESSOS TERMODINÂMICOS 101 A desigualdade de Clausius afirma que: 0 ciclo Q T δ ≤ 嚀ϕ Podemos calcular a integral somando as contribuições da caldeira e do condensador: 2 2 1 2 1 21 1 Q QQ T T T δ δδ = +∫ ∫嚀ϕ Como as temperaturas da caldeira e do condensador são constantes, temos que: 1 2 1 2 Q QQ T T T δ = +嚀ϕ Substituindo os valores das grandezas fornecidos no enunciado, encontramos: 2066,3 / 1898,4 / 1,088 / 438 327 Q kJ kg kJ kg kJ kgK T K K δ − = + = −嚀ϕ Assim: 1,088 / 0kJ kgK− ≤ Resposta: O ciclo da máquina a vapor satisfaz a desigualdade de Clausius. UNIDADE 2 | ENTROPIA 102 FIGURA 11 – MÁQUINA A VAPOR FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 244) Gerador de vapor Título 90%, 15kPa Bomba Título 10%, 15kPa Turbina W Líquido saturado, 0,7 MPa Vapor saturado, 0,7 MPa Condensador 1 4 3 2 Na verdade, a variação negativa de entropia só ocorre devido a uma perda de calor. Em processos adiabáticos e em um sistema isolado, a variação de entropia se deve apenas às irreversibilidades e o seu efeito é sempre o aumento de entropia. 103 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existe uma direção favorável para que um acontecimentoseja espontâneo. Um exemplo de acontecimento em um sentido contrário seria ver a água em um copo posto na temperatura ambiente sobre a mesa se transformar em gelo. Para que a água se solidifique espontaneamente, precisamos colocá-la em um reservatório de temperatura menor, como em um congelador. O refrigerador é uma máquina que opera em ciclos e funciona de modo inverso. • Máquinas térmicas retiram calor de uma fonte quente e realizam trabalho com esse calor, perdendo parte dele para uma fonte fria, ou seja, as vizinhanças. A constatação levou Clausis a introduzir o conceito de entropia e a enunciar a segunda lei da termodinâmica. Vimos também que em ciclos reversíveis a variação de entropia é nula e em ciclos irreversíveis a variação da entropia é negativa. 104 AUTOATIVIDADE 1 Máquinas térmicas existem desde o século I d.C., mas somente a partir de 1698 que obtiveram interesse industrial, com a construção da máquina a vapor de Savery que tirava água dos poços de minas de carvão. Acreditava-se que as máquinas térmicas podiam ter um comportamento ideal e que, portanto, seria possível obter um rendimento de 100% caso se acertasse no projeto. Então, em 1824, Sadi Carnot construiu uma máquina a vapor operando em ciclos entre dois reservatórios térmicos. Estudando a transformação de calor em trabalho, descobriu que era impossível utilizar todo o calor fornecido pela fonte quente. Por que a constatação ajudou Clausius, mais tarde, em seus estudos de fluxo de calor? a) ( ) Porque o ajudou a introduzir o conceito de entropia e a enunciar a segunda lei da termodinâmica. b) ( ) Porque o ajudou a introduzir o conceito de energia e a enunciar a lei de conservação de energia. c) ( ) Porque o ajudou a introduzir o conceito de entropia e a enunciar lei de conservação de energia. d) ( ) Porque o ajudou a descobrir a lei de conservação de energia. e) ( ) Porque o ajudou a criar máquinas ideais tanto frias como quentes. 2 O ciclo de Carnot, cuja substância de trabalho é um gás ideal, pode ser utilizado para estudar qualquer ciclo reversível, pois basta representá-lo por uma série de ciclos de Carnot (BORGNAKKE; SONNTAG, 2018). Em um processo reversível, a variação de entropia é igual a: a) ( ) Zero. b) ( ) Maior que zero. c) ( ) Menor que zero. d) ( ) Depende dos processos envolvidos em cada etapa. e) ( ) Nada se pode afirmar. 3 Quando o ciclo é reversível, obtém-se um trabalho maior devido às irreversibilidades que estão dispersando a energia fornecida pela fonte de calor. Como a perda de energia no processo irreversível é maior, podemos concluir que o calor descarregado na fonte fria é maior no processo irreversível. Em um ciclo irreversível, a variação de entropia é igual a: a) ( ) Zero. b) ( ) Maior que zero. c) ( ) Menor que zero. d) ( ) Depende dos processos envolvidos em cada etapa. e) ( ) Nada se pode afirmar. 105 4 Uma máquina térmica recebe 3,02.109J/h de uma fonte quente e produz 7,04.108J/h. Calcule: a) o fluxo de calor transferido para a fonte fria; b) o rendimento térmico da máquina; c) a variação de entropia que ocorre na fonte quente e na fonte fria, cujas temperaturas são, respectivamente, 700 k e 400 k e d) a entropia do ciclo, supondo que o processo seja irreversível. a) ( ) (a) 2,316.109J/h, (b) 0,23, (c) 1,48.106 J/Kh, (d) 5,79.106 J/Kh, (e) – 4,31.106 J/Kh. b) ( ) (a) 2,316.109J/h, (b) 0,23, (c) – 4,31.106 J/Kh, (d) 5,79.106 J/Kh, (e) – 1,48.106 J/Kh. c) ( ) (a) 1,48.106 J/Kh, (b) 0,30, (c) 2,316.109J/h, (d) 4,50.106 J/Kh, (e) 2,33.106 J/Kh. d) ( ) (a) 2,33.106 J/Kh, (b) 0,30, (c) 2,316.109J/h, (d) 4,50.106 J/Kh, (e) 1,48.106 J/Kh. e) ( ) (a) 2,33.106 J/Kh, (b) 0,30, (c) 4,50.106 J/Kh, (d) 4,50.106 J/Kh, (e) 0. 5 Calcule a quantidade de calor rejeitada, o trabalho realizado, a eficiência e a variação total de entropia por ciclo de uma máquina de Carnot que opera entre duas fontes de calor. A fonte de 550 K fornece 2200 J de calor e a outra de 385 K recebe o calor rejeitado. a) ( ) QC = - 1540 J, W = 660 J, η = 30%, ∆Stotal = 4. b) ( ) QC = - 1540 J, W = 660 J, η = 30%, ∆Stotal = 0. c) ( ) QC = - 660 J, W = 1540 J, η = 38%, ∆Stotal = - 4. d) ( ) QC = - 660 J, W = 1540 J, η = 38%, ∆Stotal = 0. e) ( ) QC = - 1660 J, W = 550J, η = 23%, ∆Stotal = - 4. 6 Em processos adiabáticos e em um sistema isolado, a variação de entropia se deve apenas às irreversibilidades e o seu efeito é sempre o aumento de entropia. Por que em outros processos pode ocorrer variação de entropia negativa? a) ( ) Porque a perda de calor gera variação de entropia negativa. b) ( ) Porque a absorção de calor gera variação de entropia negativa. c) ( ) Porque o aumento de pressão gera variação de entropia negativa. d) ( ) Porque a diminuição da pressão gera variação de entropia negativa. e) ( ) Porque a variação de temperatura gera variação de entropia negativa. 106 107 TÓPICO 3 INTERPRETAÇÃO MICROSCÓPICA DA ENTROPIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A primeira lei da termodinâmica menciona que se uma reação ocorre, a energia total do universo permanece inalterada, considerando-se como o todo o sistema e as suas vizinhanças. Contudo, nada podemos dizer sobre o fato de que algumas reações têm a tendência de acontecerem e outras não. Um pedaço de ferro oxida se deixado ao relento, uma fruta apodrece com o tempo, a água desce pela montanha e não observamos tais fenômenos ocorrendo na ordem inversa espontaneamente. Uma mudança espontânea acontece sem nenhuma influência externa. Um gás se expande espontaneamente no vácuo, mas nunca se contrai espontaneamente e volta a ocupar um ponto específico do recipiente. Contudo, podemos forçar o gás a ocupar um volume menor empurrando um pistão, ou podemos forçar a passagem de uma corrente elétrica em um condutor metálico e aumentar a sua temperatura para um valor maior do que as vizinhanças. O resfriamento de um condutor de metal ocorre espontaneamente porque a energia associada às moléculas que vibram vigorosamente é espalhada para as vizinhanças. No entanto, não se observa a energia voltar a se concentrar e esquentar o condutor espontaneamente, por isso precisamos de uma força externa para forçar a passagem de uma corrente elétrica e esquentar o condutor. A entropia é uma grandeza que descreve quantitativamente a segunda lei da termodinâmica e está associada às tendências da matéria e da energia de evoluírem para um estado mais dispersivo, mais desordenado. Como já havíamos dito, a entropia pode ser vista como um estado de ordenação da matéria, ou seja, quanto mais desordenado for um sistema, maior é a sua entropia. Já vimos que a variação de entropia no universo está sempre aumentando, mas que em sistemas fechados ela é nula e quando o ciclo é reversível (modelo idealizado) ou diminui em ciclos irreversíveis (modelo real). Ainda, em processos espontâneos irreversíveis a variação da entropia sempre é maior que zero. Como a entropia é uma função do estado do sistema, não depende do caminho percorrido durante um processo, existindo, portanto, um valor bem definido no estado inicial e outro no estado final. Contudo, como poderíamos calcular a entropia absoluta de um sistema em um certo estado e não apenas a sua variação entre dois estados termodinâmicos? Vamos responder a essa pergunta utilizando um modelo estatístico para descrever a entropia em termos microscópicos. 108 UNIDADE 2 | ENTROPIA 2 VARIAÇÃO DE ENTROPIA TOTAL EM UMA EXPANSÃO ESPONTÂNEA DE DOIS GASES No caso da termodinâmica, podemos dizer que o sistema está desordenado, mas não podemos dizer nada a respeito dos microestados que compõem aquele macroestado em particular. Vamos imaginar um gás em que N é o número de moléculas e o estado macroscópico do sistema é dado pelo volume V, a pressão p e a temperatura T. Ainda, sua descrição microscópica está relacionada à posição e à velocidade de cada molécula. Se o volume do gás aumenta a distância entre as partículas, aumenta,consequentemente, o número de estados microscópicos. O sistema se torna mais desordenado e, portanto, a entropia aumenta. Em qualquer sistema, o estado microscópico mais provável é aquele com maior número de estados microscópicos de estados correspondentes. É também o estado macroscópico com a maior desordem e a maior entropia (YOUNG; FREEDMAN, 2008, p. 299). A figura a seguir contém um recipiente dividido em duas partes, separadas por uma barreira removível. Na primeira parte temos um sistema constituído por um gás puro com o seguinte conjunto de variáveis de estado: volume V1, temperatura T1, pressão p1 e número de mols n1. Na outra parte temos outro sistema composto por um gás puro, com n2, V2, T2 e p2. FIGURA 12 – DOIS SISTEMAS ISOLADOS DAS VIZINHANÇAS T1 = T2p1 = p2 Remover barreira: gases se misturam Vtotal = V1 + V2ntotal = n1 + n2 a) b) V2n2 V1n1 p, T FONTE: <http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/11504301032012Fundamentos_ de_Fisico-Quimica_aula_7.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2019. TÓPICO 3 | INTERPRETAÇÃO MICROSCÓPICA DA ENTROPIA 109 Vamos supor que os sistemas estão isolados, que não há trocas de calor e que a barreira é removida sem que a temperatura e a pressão se alterem. Não existe troca de calor, Q = 0, a temperatura é mantida constante, ∆T = 0, e há uma variação de energia interna nula, ∆U = 0. Pela primeira lei da termodinâmica, ∆U = Q – W, temos trabalho nulo também, W = 0. No entanto, os gases se misturam, ocupando o mesmo volume no fim do processo. Como a entropia é independente do caminho, podemos ligar os dois estados, antes e após o processo. Podemos igualar a entropia dos dois processos isotérmicos irreversíveis da figura a seguir com a entropia de um processo isotérmico reversível com variação de volume. Assim, utilizamos a equação: f i V S nRln V ∆ = (19) (20) (21) (22) Para o gás 1 teremos a variação de entropia por: 1 1 1 totalVS n R ln V ∆ = ⋅ 2 2 2 totalVS n R ln V ∆ = ⋅ FIGURA 13 – ESTADO INICIAL E FINAL DE CADA GÁS FONTE: <http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/11504301032012Fundamentos_ de_Fisico-Quimica_aula_7.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2019. Remover barreira Remover barreira Gás 1 Gás 2 V1 n1 V2 n2 Vtotal n2 Vtotal n1 Como o volume aumentou para os dois sistemas, a variação de entropia será positiva nos dois casos e teremos: 1 2totalS S S∆ = ∆ + ∆ 110 UNIDADE 2 | ENTROPIA Podemos concluir que a entropia na mistura de dois é sempre positiva, e como o sistema estava isolado, o processo ocorre espontaneamente. 1 2 1 2 total total total V VS n R ln n R ln V V ∆ = ⋅ + ⋅ (23) (24) Sabe-se que quando existem dois gases na mesma temperatura e na mesma pressão seus volumes são proporcionais ao número de mols n presentes. Assim, escrevemos a fração molar de um gás da seguinte maneira: gás gás gás total total n V x n V = = Generalizando para n gases: 1 1 1 n n n i i i i i itotal total n Vx n V= = = = =∑ ∑ ∑ Substituindo o resultado e generalizando para n gases, obtemos: ( )1 1 n total i i S R n ln x = ∆ =− ⋅∑ R é a constante universal dos gases e vale R = NA.k. NA é o número de avogrado e k é a constante de Boltzmann. A entropia sempre aumenta em processos espontâneos irreversíveis. Contudo, ao substituirmos os volumes pela fração molar, encontramos um sinal negativo no resultado de ln x. Assim, introduzimos o sinal negativo para que possamos corrigir o resultado. 3 ABORDAGEM ESTATÍSTICA DA ENTROPIA RELACIONADA À VISÃO MICROSCÓPICA DO SISTEMA Já vimos que se somarmos todas as energias cinéticas das moléculas que compõem um gás e todas as energias potenciais da interação das moléculas teremos o cálculo microscópico da energia interna do gás. De maneira semelhante, podemos fazer um cálculo microscópico da entropia do gás. Contudo, a entropia não é um atributo que pertence a cada molécula individualmente ou a pares de moléculas. A entropia é a medida da desordem das moléculas como um todo, portanto depende do estado microscópico do sistema. TÓPICO 3 | INTERPRETAÇÃO MICROSCÓPICA DA ENTROPIA 111 Precisamos ter em mente a diferença entre estado macroscópico e estado microscópico. Para entendermos a diferença, utilizaremos o artifício de comparar os possíveis estados do sistema com a probabilidade de encontrar uma dada disposição de moedas. Vamos imaginar que temos N moedas idênticas e como estado macroscópico 3 coroas e 1 cara. Olhando para a disposição das moedas, teríamos quatro possíveis estados microscópicos (disposição das moedas que proporcionam 3 coroas e 1 cara). Existem somente quatro estados microscópicos possíveis (combinações): apenas a quarta moeda é coroa, apenas a terceira é coroa, apenas a segunda é coroa e apenas a primeira é coroa. Assim, para 4 moedas e quatro combinações possíveis temos: w = 4. FIGURA 14 – CONFIGURAÇÕES POSSÍVEIS CONTENDO 3 CARAS E 1 COROA FONTE: Feynmann (2008, p. 299) FONTE: Feynmann (2008, p. 299) Três caras, uma coroa Duas caras, duas coroas De modo semelhante, para quatro moedas e seis combinações possíveis, temos: w = 6 para o macroestado “metade cara e metade coroa”. FIGURA 15 – CONFIGURAÇÕES POSSÍVEIS CONTENDO 2 CARAS E 2 COROAS 112 UNIDADE 2 | ENTROPIA Temos apenas uma combinação possível para as quatro moedas, ou seja, w = 1 é o estado menos provável. FIGURA 16 – CONFIGURAÇÃO TODAS CARA FONTE: Feynmann (2008, p. 299) Quatro caras A figura a seguir mostra os possíveis arranjos de quatro moléculas de monóxido de carbono. Cada arranjo está associado a um valor de energia. Sendo que a entropia é relacionada ao grau de desordem da matéria (que tem relação com os graus de liberdade das moléculas) e da energia, podemos supor que exista um valor de entropia mínimo em que a organização da matéria e da energia seria máxima. Quando a temperatura tende a zero, a entropia também tende a esse valor e todas as moléculas estariam em uma configuração com a mesma energia. FIGURA 17 – POSSÍVEIS ARRANJOS ENTRE QUATRO MOLÉCULAS DE MONÓXIDO DE CARBONO, CO FONTE: <https://pt.slideshare.net/kleytonrenato/cap07-termodinmica-a-segunda-e-a-terceira- leis?next_slideshow=1>. Acesso em: 3 abr. 2019. Em 1877, Ludwig Boltzmann encontrou uma fórmula para calcular a entropia estatisticamente em qualquer temperatura. Foi definida a partir de uma média dos arranjos com a mesma energia que as moléculas poderiam assumir durante a medição: S = k . In (w) (25) TÓPICO 3 | INTERPRETAÇÃO MICROSCÓPICA DA ENTROPIA 113 k é a constante de Boltzmann, k = 1,38.10-23 J/K, e w é o número de microestados possíveis com a mesma energia. Podemos ver que a entropia aumenta conforme aumenta o número de microestados. A entropia nunca pode ser negativa, então podemos supor que, substituindo w = 1 como o menor estado possível, encontramos ln (1) = 0, o que fornece S = 0, que é o menor valor que a entropia pode assumir. Exemplo: Calcule a entropia de um pequeno sólido formado por quatro moléculas diatômicas de um composto binário como o monóxido de carbono, CO, em T = 0. a) As quatro moléculas formam um cristal perfeitamente ordenado em que todas as moléculas estão alinhadas com átomos de carbono na esquerda (no alto, na esquerda). FIGURA 18 – CONFIGURAÇÕES POSSÍVEIS CONTENDO 3 CARAS E 1 COROA Três caras, uma coroa FONTE: Feynmann (2008, p. 299) b) As moléculas estão em orientações aleatórias (paralelas). Solução: Como temos apenas 1 microestado, w = 1, consequentemente: ( ) ( )23 Jln 1,38.10 1 0 K S k w ln− = ⋅ = ⋅ = b) O número de arranjos possíveis é de w = 24 = 16. Assim: ( ) ( )23 23Jln 1,38.10 16 3,8.10 / K S k w ln J K− − = ⋅ = ⋅ = 114 UNIDADE 2 | ENTROPIA Resposta: Para o arranjo em que todas estão perfeitamente ordenadas, existe apenas um microestado e a entropia, portanto, é nula. No caso em que elas permanecem paralelas, mas estão com orientações aleatórias, existem 16 microestados correspondentes à energia e, portanto, a entropia é igual a 3,8.10-23J/K.Exemplo: Suponha que no exemplo anterior tínhamos um mol de monóxido de carbono no lugar de apenas quatro moléculas. Calcule a entropia do gás para o maior número de microestados. Solução: Sabendo que um mol tem N = 6,02.1023 moléculas e que pelas propriedades de logaritmos w = 2N, temos que ln.(2N) = N.ln (2), o que resulta em: ( ) ( ) ( )23 23Jln 1,38.10 6,02 10 2 5,76 /KS k w ln J K − = ⋅ = ⋅ ⋅ = Resposta: Para um mol de gás a entropia é igual a 5,76 J/K. 115 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A primeira lei da termodinâmica não pode prever a direção em que um processo pode ocorrer espontaneamente, mas que a segunda lei pode ajudar na questão através de uma grandeza chamada entropia. • A entropia mede o grau de desordem do universo e que em processos espontâneos irreversíveis a variação de entropia é sempre nula. Ainda, a entropia não depende do caminho percorrido durante um processo termodinâmico, pois é uma função de estado, existindo um valor bem definido em cada estado, inicial e final. • Para encontrar a entropia absoluta de um certo estado, não podemos recorrer às equações de estado, uma vez que elas são úteis apenas para encontrar a variação de entropia entre dois estados distintos. A entropia absoluta precisa ser encontrada a partir de grandezas microscópicas que vão relacionar os microestados aos macroestados. • Boltzmann encontrou uma fórmula para calcular a entropia estatisticamente em qualquer temperatura, definida a partir de uma média dos arranjos com a mesma energia que as moléculas poderiam assumir durante a medição. 116 1 Determine a entropia de uma amostra de um sólido em que as moléculas podem assumir três orientações com a mesma energia. Suponha que a amostra tenha 40 moléculas. a) ( ) 6,064 x 10 -22 J/K. b) ( ) 6,064 J/K. c) ( ) 4,051 x 10 -22 J/K. d) ( ) 0. e) ( ) 4,051 J/K. 2 Encontre a entropia de uma amostra de sólido e suponha que uma molécula de benzeno substituído, C6H5F, pode assumir uma de seis orientações com a mesma energia. Suponha que a amostra tenha 1,00 mol de moléculas. a) ( ) 4,88 x 10 -22 J/K. b) ( ) 14,88 J/K. c) ( ) 14,89 x 10 -22 J/K. d) ( ) 0. e) ( ) 6,051 J/K. 3 Calcule a variação da entropia na expansão livre de 0,5 mol de oxigênio. AUTOATIVIDADE Vácuo Divisória frágil Gás a 300 K Isolante Estado 1 Estado 2 5,0 L 2,0 L 117 a) ( ) 7,6 J/K. b) ( ) 3,8 J/K. c) ( ) 2,5 J/K. d) ( ) 1,0 J/K. e) ( ) 9,2 J/K. 4 O resfriamento de um condutor de metal ocorre espontaneamente porque a energia associada às moléculas que vibram vigorosamente é espalhada para as vizinhanças. No entanto, não se observa a energia voltar a se concentrar e esquentar o condutor espontaneamente, por isso precisamos de uma força externa para forçar a passagem de uma corrente elétrica e esquentar o condutor. A entropia é uma grandeza que descreve quantitativamente a segunda lei da termodinâmica e está associada à tendência da matéria e da energia de evolução: a) ( ) Para um estado mais dispersivo, mais desordenado. b) ( ) Para um estado mais energético. c) ( ) Para um estado mais conciso, mais ordenado. d) ( ) Para um estado mais apropriado. e) ( ) Para um estado de menor temperatura e pressão. 5 Quando somamos todas as energias cinéticas das moléculas que compõem um gás e todas as energias potenciais da interação das moléculas, teremos o cálculo microscópico da energia interna do gás. De maneira semelhante, podemos fazer um cálculo microscópico da entropia do gás. Contudo, a entropia não é um atributo que pertence a cada molécula individualmente ou a pares de moléculas. A entropia é a medida da desordem das moléculas como um todo, portanto depende: a) ( ) Do estado de cada molécula. b) ( ) Do estado em que cada partícula se encontra. c) ( ) Do estado microscópico das vizinhanças. d) ( ) Do estado macroscópico do sistema. e) ( ) Do estado microscópico do sistema. 118 119 TÓPICO 4 TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Nos tópicos anteriores vimos que não há variação de entropia em um ciclo reversível e que nos ciclos irreversíveis a variação é menor que zero. Nas vizinhanças, a variação é maior que zero e, se somadas as entropias do sistema e das vizinhanças, há um universo isolado, ocasionando variação de entropia maior sempre e respeitando a segunda lei. Lima (2014, p. 59) afirma que “enquanto a primeira lei diz que a energia do universo é constante, a segunda lei diz que a entropia do universo está aumentando constantemente”. Walter Nernst, um físico-químico alemão, em 1906 idealizou um valor mínimo para a entropia. O valor mínimo ocorreria quando a temperatura absoluta tendesse a zero. Durante muito tempo acreditava-se que a entropia não significava nada – que apenas as diferenças podiam ser definidas – mas finalmente Nernst propôs o que ele chamou de teorema do calor, que também é chamado de terceira lei da termodinâmica. É muito simples. Diremos o que é, mas não explicaremos porque é verdadeiro. O postulado de Nernst afirma simplesmente que a entropia de qualquer objeto no zero absoluto é zero. Sabemos de um caso de T e V, a saber T = 0, e S é zero. Portanto, podemos obter a entropia em qualquer ponto (FEYNNMAN, 2008, p. 44). Até agora analisamos variações de entropia entre dois estados distintos: o estado inicial e o estado final de um processo termodinâmico qualquer. Ainda, apontamos a possibilidade de encontrarmos um valor específico para a entropia em um dado estado. Para determinarmos o valor, teríamos que possuir um parâmetro inicial, algum valor que seria constante para todos os sistemas. Tal valor é assunto da terceira lei da termodinâmica que discutiremos neste tópico. 2 TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA Sabemos que certos processos na natureza são espontâneos. Por exemplo, quando se mistura pó de gesso com água, ele endurecerá, se deixarmos um prego em algum lugar ao ar livre por tempo suficiente, este enferrujará, se deixarmos uma xícara de chá quente sobre a mesa da cozinha, ela esfriará até a temperatura ambiente. Nos casos, a energia é transferida de um sistema para as vizinhanças e vice-versa, respeitando o princípio de conservação de energia. Embora nossa experiência diga que nunca observaremos tais processos acontecerem ao contrário, o sentido contrário não violaria a primeira lei da termodinâmica. Contudo, para que ele ocorra de modo inverso, é necessária uma ação externa, como o que acontece em um refrigerador, por exemplo, quando fornecemos trabalho para extrair calor de uma fonte fria para uma fonte quente. 120 UNIDADE 2 | ENTROPIA Quando temos um gás isolado nas vizinhanças através de um recipiente como a caixa A da figura a seguir, podemos dizer que existem estados mais prováveis. O estado em que encontramos o gás se relaciona a um certo grau de desordem mais provável. A entropia está relacionada à configuração mais provável. Por exemplo, entre as possíveis disposições das moléculas apresentadas nas caixas A, B, C e D da figura a seguir, a disposição mais provável se encontra na caixa D. Não esperaríamos encontrar as moléculas dispostas em nenhuma das formas que aparecem nos quadros A, B e C. FIGURA 19 – QUATRO POSSÍVEIS REPRESENTAÇÕES DE UM GÁS CONFINADO EM UM RECIPIENTE FONTE: Maia (2007, p. 264) a b c d Esperamos encontrar as moléculas do gás sempre dispersas, em um estado mais desordenado e aleatório como acontece na caixa D. Nunca observamos o gás confinado em um canto da sala, como a caixa A. Imagine se você tivesse que procurar em que canto da sala estaria o ar para que você pudesse respirá-lo. O ar está sempre por toda a parte. Contudo, será que podemos encontrar um valor mínimo que seja padrão para todos os sistemas? Nernst, na tentativa de encontrar uma propriedade do sistema que determinasse se o sistema estava em equilíbrio químico, térmico e mecânico, se haveria ou não uma reação química e o sentido emque ocorre, observou que existe um valor bem definido para a entropia quando o sistema se encontra em equilíbrio termodinâmico. Verificou que quando a temperatura tende a zero, a variação da entropia também tende a zero, e para qualquer sistema. Matematicamente, podemos escrever: 0 lim 0 T S → = (26) O teorema de Nernst, portanto, afirma que próximas do zero absoluto todas as reações em um líquido ou sólido em equilíbrio interno acontecem sem mudança de entropia. Vamos supor que a variação da entropia seja dada pela seguinte expressão: TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 121 (27) (28) ( ) 0S S T S∆ = − S é a entropia no estado final e S0 a entropia no estado inicial. S0 é a mesma para qualquer estado que esteja a uma temperatura nula. Assim, S0 é independente das grandezas termodinâmicas. Por fim, conclui-se que todos os sistemas que estão a uma temperatura de zero absoluto possuem o mesmo valor de entropia S0. Podemos diminuir a temperatura em uma transformação isobárica e encontrar a entropia em função da temperatura pela expressão: ( ) 0 0 T PCS T S dT T − = ∫ A integral é ao longo da isobárica e S0 o menor valor da entropia de um sistema termodinâmico. FIGURA 20 – GRÁFICO ENTROPIA X TEMPERATURA S0 S T isobáricas FONTE: <http://fig.if.usp.br/~oliveira/terc-lei.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2018. Planck, em 1911, supôs que não somente a diferença de entropia se anula quando a temperatura tende a zero, mas que a entropia de toda a substância sólida ou líquida em equilíbrio interno a zero absoluto é nula, isto é: 0 lim 0 T S → = Assume-se que em S0 o sistema estaria em estado de ordenação máxima e o seu valor nulo: 122 UNIDADE 2 | ENTROPIA 00 lim 0 T S S → = = O resultado é conhecido como terceira lei da termodinâmica. Substituindo S0, encontramos a entropia para um processo com pressão constante: ( ) 0 T PCS T dT T = ∫ (29) (30) (31) Do mesmo modo, podemos concluir que, para um processo com volume constante, a entropia será dada por: ( ) 0 T VCS T dT T = ∫ Como a entropia em uma temperatura T deve ser finita, as integrais não podem divergir e CV e CP devem se aproximar de zero quando a temperatura tende a zero, ou seja: 0 0 lim lim 0P VT TC C→ →= = 3 EQUAÇÕES DE GIBBS Para verificarmos se uma reação é espontânea, precisamos calcular as variações de entropia do sistema e da vizinhança. Então, é preciso somar as duas. Podemos poupar trabalho reunindo as variações de entropia do sistema e da vizinhança em uma nova função de estado, a energia livre de Gibbs. Em 1878, um físico americano, Josiah Willard Gibbs, a partir de seus estudos sobre a espontaneidade dos sistemas termodinâmicos, propôs uma grandeza relacionada à energia que sobra de um processo no qual o sistema recebe calor e libera calor, ou seja, a energia útil que pode ser usada para realizar trabalho. A energia foi chamada de Energia Livre de Gibbs, G. Para deduzirmos a energia livre, vamos considerar um processo reversível em que as seguintes expressões para quantidade de calor infinitesimal e trabalho infinitesimal são válidas: TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 123 (32) (33) (34) (35) (36) (37) (38) (39) (40) (41) Q TdSδ = W pdVδ = Da primeira lei da termodinâmica, temos que a forma diferencial é escrita como: dU Q Wδ δ= − Substituindo, encontramos que: dU TdS pdV= − TdS dU pdV= + Definiremos uma nova grandeza H, relacionada à máxima energia de um sistema em forma de calor, e a chamaremos de entalpia: H U pV= + Derivando a relação anterior, encontramos que: dH dU pdV Vdp= + + Substituindo dU da 32 na 30, temos: TdS dH Vdp= − Há a equação TdS e as seguintes também podem ser utilizadas a partir de propriedades específicas, como por unidade de massa ou base molar (COELHO, 2016). Tds du pdv= + Ts dh vdp= − As equações são muito valiosas, pois relacionam as variações de entropia com as variações de outras propriedades do sistema independentemente do processo (ÇENGEL; BOLES, 2013). Agora, vamos substituir o produto Vpd por dG. dG dH TdS= − 124 UNIDADE 2 | ENTROPIA Integrando, resulta em: G H TS= − (42) (43) (44) A espontaneidade dos processos físicos e reações químicas depende da variação da energia livre de Gibbs. Esta, por sua vez, depende da variação da entalpia e da variação da entropia. Nerst verificou, através de experiências, que ∆G se aproxima de ∆H quando T tende a zero e propôs como princípio geral que as derivadas, com relação à temperatura das grandezas, se aproximam de zero quando a temperatura tende a zero. 0 lim 0 T P G T δ δ→ ∆ = 0 lim 0 T P H T δ δ→ ∆ = Observe, na figura a seguir, que ∆G e ∆H têm a mesma tangente horizontal quando a temperatura T tende a zero. FIGURA 21 – AS CURVAS DE VARIAÇÕES - ENERGIA LIVRE DE GIBBS E ENTALPIA FONTE: A autora Variações 0 T ΔH ΔG 4 ENTROPIA DE UMA SUBSTÂNCIA PURA As substâncias são consideradas puras quando a mudança de fase ocorre mantendo a temperatura constante em uma dada pressão, sem que a sua composição química se altere. Um exemplo de substância pura é a água, pois se solidifica sempre a 00C, se vaporiza a 1000C e sob uma pressão de 1 atm. Em outras pressões, a água se solidifica e vaporiza em outras temperaturas. TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 125 (45) (46) Existem tabelas que demonstram as propriedades termodinâmicas de algumas substâncias puras. Na figura a seguir, encontramos valores de entropia específica para algumas pressões e temperaturas da água líquida comprimida. Observe que de uma pressão de 500 kPa para uma temperatura de 1000C a entropia é de 1,3065 kJ/kg.K. FIGURA 22 – ENTROPIA ESPECÍFICA DA ÁGUA LÍQUIDA COMPRIMIDA FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 683) O termo entropia é usado tanto para a entropia total S (J/K) como para a entropia específica s (kJ/kgK). Na região de saturação, a entropia pode ser calculada em função do seu título: ( )1 l vs x s xs= − + l lvs s xs= + A figura a seguir apresenta alguns valores da entropia específica para água saturada em função da pressão (BORGNAKKE; SOONTAG, 2018). Também podem ser apresentados gráficos de temperatura-entropia. Tais gráficos, chamados de diagramas de Mollier, são úteis para visualizarmos as mudanças de fase que ocorrem nos processos termodinâmicos. A maior parte das substâncias possui uma diferença muito pequena de entropia entre líquido comprimido e líquido saturado. 126 UNIDADE 2 | ENTROPIA A figura a seguir apresenta um gráfico temperatura-entropia. A curva Ts é composta por uma linha de líquido saturado na esquerda do ponto crítico e uma linha de vapor saturado na direita. Observamos também a linha entalpia constante de 2800 kJ/kg, pressão constante de 1,55 MPa, volume constante de 0,13 m3/kg e as titulações de 10% líquido e 90% vapor. É possível observar que, nas regiões de uma só fase, as curvas de volume constante são mais inclinadas que. Ainda, na região de saturação, as curvas de pressão constante são paralelas às curvas de temperatura constante. FIGURA 23 – DIAGRAMA T - S FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 136) No diagrama de entalpia-entropia, observamos o ponto crítico, uma linha com título de 80% de vapor, as linhas de líquido saturado e vapor saturado e quatro linhas com pressões constantes. TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 127 FIGURA 24 – DIAGRAMA H - S FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 136) FIGURA 25 – ENTROPIA ESPECÍFICA PARA ÁGUA SATURADA EM FUNÇÃO DA PRESSÃO FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 679) 128 UNIDADE 2 | ENTROPIA Exemplo: Considere uma máquina de Carnot operando em ciclo, usando vapor de água como fluido de trabalho e com eficiência de 25%. Transfere-se calor para o fluido a 2200C e, durante o processo, o fluido passa de líquido saturado para vapor saturado seco. a) Mostre o ciclo em um diagrama T-S que inclua as linhas de líquido saturado e de vapor saturado; b) Calcule o título no início e no fim do processo de rejeição decalor e c) Calcule o trabalho por kg de vapor. Solução: O rendimento de 25%, expresso em índice, torna-se η = 0,25. A temperatura da fonte quente é de TQ = 220 + 273,15 = 493,15 K. Da expressão para o rendimento do ciclo de Carnot, podemos calcular a temperatura da fonte fria TF. Temos que: Q F Q T T T η − = 493,150,25 493,15 FK T K − = 369,86FT K= Voltando para a temperatura na escala Celsius, temos 369,86 – 273,15 = 96,710C. a) Desenhamos o diagrama T – S do ciclo correspondente ao problema. FIGURA 26 – DIAGRAMA T - S FONTE: A autora 2 3496,71 S1, S4 S2, S3 S(kJ/kg.K) 220,00 T(˚C) 1 No diagrama, temos que, no ponto 1, para líquido saturado, o título x1 = 0. Na figura a seguir, observe os valores de temperatura e de entropia dentro do retângulo. A entropia, para a fase líquida a 218,450C, é de 2,5034 kJ/Kg.K. Para 223.990C, é de 2,5546 kJ/Kg.K. Precisamos fazer a interpolação para 2200C: TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 129 1 223,99 218,45 2,5546 2,5034 223,99 220 2,5546 x − − = − − 1 5,54 0,0512 3,99 2,5546 x = − ( )15,54 2,5546 0,204288x− = 113,86884 5,54 0,204288x− = 2,4665x = Assim, a entropia no ponto 1 é de Sl = 2,54027 kJ/kg.K. No ponto 2, vapor saturado, x2 = 1, temos: 2 223,99 218,45 6,2574 6,2971 223,99 220 6,2574 x − − = − − 2 5,54 0,0397 3,99 6,2574 x − = − ( )25,54 6,2574 0,1584x− = − 234,666 5,54 0,1584x− = − 2 6, 2860x = Assim, a entropia no ponto 2 é de Sv = 6,2860 kJ/kg.K. a) Para a temperatura da fonte fria, utilizando a figura a seguir e fazendo a interpolação para a fase a vapor e depois para a fase líquida, encontramos: 130 UNIDADE 2 | ENTROPIA FIGURA 27 – ENTROPIA ESPECÍFICA PARA ÁGUA SATURADA EM FUNÇÃO DA PRESSÃO FONTE: Borgnakke e Sonntag (2018, p. 678) 3 99,62 91,77 7,3593 7,4563 99,62 96,71 7,3593 x − − = − − 3 7,85 0,097 2,91 7,3593 x = − ( )37,85 7,3593 0,28227x− = − 357,7705 7,85 0,28227x− = − 3 7,3952x = 4 99,62 91,77 1,3025 1,2129 99,62 96,71 1,3025 x − − = − − 4 7,85 0,0896 2,91 1,3025 x = − ( )47,85 1,3025 0,260736x− = 410,224 7,85 0,260736x− = 4 1, 269x = Assim, Sv = 7,3952 kJ/kg.K e Sl = 1,269 kJ/kg.K. Levando em conta que S2 = S3 e S1 = S4, temos: TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 131 ( )3 3 31v ls s x x s= ⋅ + − ( )3 36, 2860 / 7,3952 / 1 1,269 /kJ kgK kJ kgK x x kJ kgK= ⋅ + − ( ) ( )3 36, 2860 / 7,3952 / 1,269 / 1, 269 /kJ kgK kJ kgK x kJ kgK kJ kgK x= + − 3 3 6, 2860 1,269 7,3952 1,269 kJ kJ kJ kJx x kgK kgK kgK kgK − = − ( ) 35,017 / 6,1262 /kJ kgK kJ kgK x= 3 0,81894x = ( )4 4 41v ls s x x s= ⋅ + − ( )4 42,54027 / 7,3952 / 1 1,269 /kJ kgK kJ kgK x x kJ kgK= ⋅ + − ( ) ( )2,54027 / 7,3952 / 4 1,269 / 1, 269 / 4kJ kgK kJ kgK kJ kgK kJ kgK= + − 4 4 2,54027 1,269 7,3952 1,269 kJ kJ kJ kJx x kgK kgK kgK kgK − = − ( ) 31, 27127 / 6,1262 /kJ kgK kJ kgK x= 4 0, 2075x = a) Da equação para o trabalho do ciclo, temos: Q FW Q Q= − ( )Q FW S T T= ∆ − ( )( )6,2860 / 2,54027 / 493,15 369,86W kJ kgK kJ kgK K K= − − ( )3,74573 123,3 462 /kJW K kJ kg kgK = = Resposta: a) Os títulos no início e no fim do processo de rejeição de calor são 0,8 e 0,2, respectivamente. b) O trabalho é de 462 kJ/kg de vapor. 5 VARIAÇÃO DA ENTROPIA DE LÍQUIDOS E SÓLIDOS Podemos considerar os líquidos e sólidos como substâncias incompressíveis, já que os seus volumes específicos permanecem aproximadamente constantes durante o processo. Assim, podemos dizer que o dv é igual a zero e a equação se reduz a: 0Tds du= + duds T = (47) 132 UNIDADE 2 | ENTROPIA Para substâncias incompressíveis: ( )du c T dT= Levamos em conta que cP = cV = c. Integrando a expressão anterior para obtermos a variação de entropia e utilizando c(T) = cmed para um calor específico médio entre o intervalo de temperatura considerado, temos: ( ) 2 2 1 1 dTs s c T T − = ∫ 2 2 1 1 med Ts s c ln T − = (48) (49) Note que a variação da entropia no caso de uma substância incompressível não depende da pressão, depende apenas da temperatura. Pode-se obter uma relação para processos isentrópicos (sem variação de entropia) de líquidos e sólidos igualando a equação a zero: 2 2 1 1 0med Ts s c ln T − = = Resultando em T2 = T1, ou seja, para substâncias incompressíveis um processo isentrópico é também um processo isotérmico (ÇENGEL; BOLES, 2013). FIGURA 28 – PROPRIEDADES DO METANO LÍQUIDO Fonte: Çengel e Boles (2013, p. 351) TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 133 Exemplo: (Adaptado de ÇENGEL; BOLES, 2013, p. 351). Efeito da densidade de um líquido sobre a entropia. Metano líquido é normalmente utilizado em diversas aplicações criogênicas. A temperatura crítica do metano é de 191 K, e, portanto, ele deve ser mantido abaixo de 191 K para que permaneça na fase líquida. As propriedades do metano líquido a diversas temperaturas e pressões são mostradas. Determine a variação da entropia do metano líquido durante um processo de 110 K e 0,5 MPa até 120 K e 2,0 Mpa (a) usando as propriedades tabeladas e (b) aproximando o metano líquido de uma substância incompressível. Qual é o erro associado ao segundo caso? Solução: a) Tomando as propriedades, encontramos que a entropia com uma temperatura de 110 K e 0,5 MPa de pressão é de S1 = 4,878 kJ/kg.K e a entropia com uma temperatura de 120 K e 2,0 MPa de pressão é de S2 = 5,171 kJ/kg.K. Assim: 2 1s s s∆ = − kJ kJ kJ5,171 4,878 0,293 kg.K kg.K kg.K s∆ = − = b) Calculando o calor específico médio, temos: 3,476 3,528 kJ3,502 2 kg.Kmed c += = Substituindo: 2 1 med TS C ln T ∆ = kJ 120 kJ3,502 0,265 kg.K 110 kg.K KS ln K ∆ = = O erro, ao considerarmos o metano líquido como incompressível, é de: real ideal real S S Erro S ∆ −∆ = ∆ 0,293 0,265 0,094 0,293 Erro − = = 134 UNIDADE 2 | ENTROPIA Resposta: Usando os dados da tabela, encontramos o valor de 0,293 kJ/ kg.K e, através do modelo idealizado, encontramos 0,265 kJ/kg.K, gerando um erro de 9,4%. Podemos ver que a densidade caiu de 425,3 kg/m3 para 412,0 kg/m3, e isso sugere que a hipótese de incompressibilidade da substância não é válida. No entanto, a hipótese permite resultados aproximados que são úteis quando não se dispõe de dados sobre o líquido comprimido. 6 VARIAÇÃO DA ENTROPIA DOS GASES IDEAIS Podemos encontrar uma expressão para a variação da entropia de um gás ideal através da seguinte equação: Tds du pdv= + Tomando as relações para os gases ideais: ( )Vdu c T dT= RTp v = E substituindo, encontramos que: ( )V RTTds c T dT dv v = + ( )V dT dvds c T R T v = + Integrando, resulta em: ( ) 2 2 2 1 11 V vdTs s c T Rln T v − = + ∫ (50) De modo semelhante, podemos encontrar uma relação para a variação da entropia: Ts dh vdp= − Tomando agora as relações para os gases ideais: TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 135 (51) (53) ( )pdh c T dT= RTv p = Substituindo h e v na anterior, encontramos: ( )p RTTds c T dT dp p = − ( )p dT dpds c T R T p = − Integrando, resulta em: ( ) 2 2 2 1 11 p pdTs s c T Rln T p − = − ∫ As relações de variação de entropia para gases ideais sob a suposição de calor específico constante são obtidas através da suposição de cV(T) e cp(T) pelos seus valores médios e integrando: 2 2 2 1 , 1 1 v med T vs s c ln Rln T v − = + 2 2 2 1 , 1 1 p med T ps s c ln Rln T p − = − Exemplo: a) Calcule a variação da entropia através dos calores específicos médios (determinados a partir de uma massa de ar que é comprimida a partir de um estado inicial de 120 kPa e 300 K até um estado final de 610kPa e 320 K). b) Calcule a variação da entropia com os dados de entropia da Figura 30 e c) Calcule o erro percentual. Solução: a) O calor específico do ar na média dos calores específicos da Figura 29 para a temperatura de 300 K e considerá-lo constante. Cp = 1,005 kJ/kgK, R = 0,287 kJ/kgK. 136 UNIDADE 2 | ENTROPIA2 2 2 1 , 1 1 p med T ps s c ln Rln T p − = − ( ) ( )2 1 320 6101,005 / 0,287 / 300 120 K kPas s kJ kgK ln kJ kgK ln K kPa − = − 2 1 0,06486121 / 0,4666526 / 0,40179 /s s kJ kgK kJ kgK kJ kgK− = − = b) Com os valores de entropia para 300 K e 320 K da Figura 30: 0 0 2 2 1 2 1 1 ps s s s Rln p − = − − ( ) ( )2 1 6101,76690kJ / kgK 1,70203 0,287 / 120 kPas s kJ kgK ln kPa − = − − 2 1 0,06487 0,4666526 / 0,4017826 /s s kJ kgK kJ kgK− = − = c) O erro é, então: real ideal real S S Erro S ∆ −∆ = ∆ 0,4017826 / 0,40179 / 0,0224 0,4017826 / kJ kgK kJ kgK Erro kJ kgK − = = Resposta: Com o valor médio de Cp da Figura 29, obtivemos uma variação de entropia de 0,4017826 kJ/kgK e, com as entropias da Figura 30, para as temperaturas de 300 K e 320 K, obtivemos 0,40179kJ/kgK, resultando um erro de 2,24%. Um erro muito pequeno devido à pequena variação de temperatura. FIGURA 29 – CALORES ESPECÍFICOS DO GÁS IDEAL PARA DIVERSOS GASES COMUNS FONTE: Çengel e Boles (2013, p. 910) TÓPICO 4 | TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA 137 FIGURA 30 – PROPRIEDADES DO AR FONTE: Çengel e Boles (2013, p. 934) 7 ENTROPIAS PADRÃO DE REAÇÃO Os processos físicos e as reações químicas que envolvem troca de calor são classificados em dois tipos: os processos endotérmicos, quando o calor é absorvido pelo sistema, ou exotérmico, quando o calor é liberado pelo sistema. A queima da madeira é um processo exotérmico, pois a combustão libera calor. Já em relação à decomposição do óxido de mercúrio, com a pressão constante, o sistema absorve energia na forma de calor das vizinhanças, assim, é um processo endotérmico. A entropia de reação é a diferença entre a entropia padrão molar dos produtos e a dos reagentes, corrigidas pelas quantidades de cada espécie que toma parte na reação. Ela é positiva (aumento de entropia) se houver produção de gás na reação e negativa (diminuição da entropia) se houver consumo de gás (ATKINS; JONES, 2012, p. 306). Podemos calcular a variação da entropia de uma reação através das entropias molares dos produtos e dos reagentes. A entropia padrão da reação, ∆So, é a diferença entre as entropias padrão molares dos produtos e dos reagentes: ( ) ( )0 0 0m mS nS produtos nS reagentes∆ = ∑ +∑ (54) n são os coeficientes estequiométricos da equação química. Exemplo: Calcule a entropia padrão da reação N2(g) + 3 H2(g) → 2NH3(g) em 250C. 138 UNIDADE 2 | ENTROPIA Solução: Consultando os valores na Figura 31 e inserindo na equação, temos que: ( ) ( )0 0 0m mS nS produtos nS reagentes∆ = ∑ +∑ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ){ }0 0 0 0 03 22 , 1 , 3 ,m m m mS mol S NH g mol S N g mol S S H g∆ = − + ( ) ( ) ( )0 2 192,4 / 191,6 / 3 130,7 /S J K J K J K∆ = − + 0 198,9 /S J K∆ = − Resposta: A entropia padrão da reação é de – 198,9 J/K. FIGURA 31 - ENTROPIA ABSOLUTA A 250C FONTE: Çengel e Boles (2013, p. 948) 139 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • Há a terceira lei da termodinâmica e um valor limite para a entropia. No limite, quando a temperatura tende a zero, a entropia absoluta também tende a zero. • Utilizamos equações de Gibbs, chamadas de equações Tds, para estudarmos a espontaneidade dos processos físicos e das reações químicas. • Apresentamos a entropia de substâncias puras, a variação da entropia de líquidos e sólidos e a entropia padrão de algumas reações. 140 1 Durante muito tempo acreditava-se que a entropia não significava nada – que apenas as diferenças podiam ser definidas – mas finalmente um físico- químico alemão, em 1906, propôs o que ele chamou de teorema do calor, que também é chamado de terceira lei da termodinâmica. O postulado afirma que a entropia de qualquer objeto no zero absoluto é zero. Sabemos de um caso de T e V, a saber T = 0 e S é zero. Portanto, podemos obter a entropia em qualquer ponto. O físico referido trata-se de: a) ( ) Walter Nernst. b) ( ) Sadi Carnot. c) ( ) Lorde Kelvin. d) ( ) Isaac Newton. e) ( ) Josiah Willard Gibbs. 2 Em um dispositivo mecânico, a massa de 2,0 kg de ar, inicialmente a 296 K e 120 kPa, é submetida a um processo termodinâmico atingindo 453 K e 140 kPa. Determine a sua variação de entropia. Considere o calor específico constante, cp = 1,004 kJ/kg.K e R = 0,287 kJ/kg.K. a) ( ) 0,427 kJ/kg.K. b) ( ) 0,383 kJ/kg.K. c) ( ) 0,100 kJ/kg.K. d) ( ) 0,271 kJ/kg.K. e) ( ) 0,307 kJ/kg.K. 3 Café esfriando sobre uma mesa até chegar na temperatura ambiente, gesso endurecendo quando misturamos com um pouco de água, prego enferrujando ao relento, fio condutor voltando a esfriar depois de se desligar a tensão que fazia a corrente elétrica percorrer e esquentá-lo. Nos casos, a energia é transferida de um sistema para as vizinhanças e vice- versa, respeitando o princípio de conservação de energia. Embora nossa experiência diga que nunca observaremos tais processos acontecerem ao contrário, o sentido contrário não violaria uma das principais leis da termodinâmica, que é: a) ( ) Lei zero da termodinâmica. b) ( ) Primeira lei da termodinâmica. c) ( ) Segunda lei da termodinâmica. d) ( ) Terceira da termodinâmica. e) ( ) Princípio de conservação de energia. AUTOATIVIDADE 141 4 Uma máquina de Carnot operando em ciclo, usando vapor de água como fluido de trabalho e com eficiência de 20%. Transfere-se calor para o fluido a 2000C e, durante o processo, o fluido passa de líquido saturado para vapor saturado seco. a) Mostre o ciclo em um diagrama T-S que inclua as linhas de líquido saturado e de vapor saturado. b) Calcule o título no início e no fim do processo de rejeição de calor. c) Calcule o trabalho por kg de vapor. a) ( ) Título no início: 0,1631, título no final: 0,8545, trabalho: 308 kJ/kg de vapor. b) ( ) Título no início: 0,8545, título no final: 0,1631, trabalho: 388 kJ/kg de vapor. c) ( ) Título no início: 0,8545, título no final: 0,3248, trabalho: 308 kJ/kg de vapor. d) ( ) Título no início: 0,3883, título no final: 0,1631, trabalho: 854 kJ/kg de vapor. e) ( ) Título no início: 0,3002, título no final: 0,2489, trabalho: 388 kJ/kg de vapor. 5 Dada a reação química a seguir, representada pela equação, calcule a variação de entropia com base nos valores da tabela a seguir. a) ( ) 202,83 J/molK. b) ( ) 258,89 J/molK. c) ( ) 461,72 J/molK. d) ( ) 0. e) ( ) 106,77 J/molK. Participante Entropia a 25˚C/J mol-1.K-1 Na2O2 94,6 H2O 69,69 NaOH 64,18 O2 205 142 143 UNIDADE 3 TEORIA CINÉTICA DOS GASES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • ter uma visão geral da teoria atômica para a matéria; • entender a teoria cinética dos gases e o conceito de pressão de um gás; • calcular a energia translacional e compreender a distribuição de velocidades; • compreender a equipartição de energia e o calor específico; • definir gases reais e utilizar a equação de Van der Waals para calcular a pressão de um gás real. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. Ao final de cada um deles, você poderá dispor de atividades que auxiliarão na fixação do conteúdo. TÓPICO 1 – TEORIA ATÔMICA PARA A MATÉRIA TÓPICO 2 – TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS TÓPICO 3 – ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES TÓPICO 4 – EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA E CALOR ESPECÍFICO TÓPICO 5 – GASES REAIS E A EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS 144 145 TÓPICO 1 TEORIA ATÔMICA PARA A MATÉRIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Antes de entrarmos na teoria cinética propriamente dita, vamos discorrer um pouco sobre a teoria atômica da matéria. Faremos uma leitura breve do assunto apenas para relembrarmos alguns pontos, pois o assunto já foi abordado em disciplinas anteriores, como em Fundamentos da Física e Química. O átomo é a unidade fundamental de todas as substâncias. Existiram inúmeras propostas para defini-lo ao longo da história. Os conceitos de átomo começaram a se consolidar com os experimentosde Dalton, Thomson e Rutherford. A teoria atômica, por meio da teoria cinética, possibilitou o entendimento do significado físico dos conceitos de temperatura e pressão. A ideia do átomo vem desde a Grécia antiga. Os gregos acreditavam que a matéria poderia ser dividida até se chegar a uma quantidade mínima que seria indivisível, uma pequena porção que caracterizaria o constituinte elementar da matéria. A ideia, por sua vez, se perdeu durante séculos e foi retomada pela química, que procurou entender o conceito de um bloco fundamental. Através das leis de Dalton, em 1805, a química verificou que existiam proporções bem determinadas para a formação de matéria, por exemplo, para se ter água precisamos de duas partes de hidrogênio e uma parte de oxigênio. Assim, pode- se chegar à mínima massa que é preciso ter para se formar uma molécula de água. Influenciado pelo corpuscularismo newtoniano e interessado em fenômenos meteorológicos, Dalton procurou desenvolver um modelo que explicasse o comportamento dos gases. As investigações o aproximaram de outras discussões correntes entre os químicos da época. A partir de dados das massas envolvidas em transformações químicas e pensando em termos de átomos, Dalton propôs um engenhoso método para determinar as massas relativas dos átomos. O episódio é um bom exemplo de como a construção de ideias na ciência pode ser um processo muito complexo (BONINI; PORTO, 2007, p. 4). Para ter uma ideia mais clara do átomo, tornou-se necessário determinar o tamanho e a massa do átomo e, assim, tentar entender a conexão do mundo microscópico com o mundo macroscópico e estudar as propriedades do mundo que nos rodeia. Surge então o conceito de mol, com a hipótese de Avogadro, que se tornou fundamental e nos transfere da dimensão microscópica para a dimensão macroscópica. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 146 Segundo Isaac Newton (1642-1727), a matéria seria constituída por diversos tipos de partículas organizadas hierarquicamente: as ultimate particles seriam as menores partículas da matéria, enquanto o conjunto das partículas menores formaria as first composition particles, as quais seriam as responsáveis pelas propriedades macroscópicas dos corpos (BONINI; PORTO, 2007, p. 5). FIGURA 1 – ORGANIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS DE UM CORPO FONTE: Bonini e Porto (2007, p. 5) partículas últimas partícula de segunda composição de ouro partícula de segunda composição de prata partícula de primeira composição de ouro partícula de primeiracomposição de prata No tempo de Isaac Newton, acreditava-se que o ar era um dos elementos constituintes do universo. Não se tinha a noção de que a atmosfera era um gás. No século XIX, Dalton sentia-se intrigado com o fato da atmosfera ser constituída por vários gases, de diferentes densidades e ainda parecer tão homogênea. Imaginou que cada gás se comportaria como um fluido elástico newtoniano que age como se os outros não estivessem presentes. “Assim, o nitrogênio (“azotic gas”), gás majoritário na atmosfera terrestre, apresentaria uma maior quantidade de átomos em um determinado volume do que o gás carbônico (“carbonic acid gas”)” (BONINI; PORTO, 2007, p. 6). TÓPICO 1 | TEORIA ATÔMICA PARA A MATÉRIA 147 FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DE DALTON PARA A CONSTITUIÇÃO ATÔMICA DA ATMOSFERA TERRESTRE FONTE: Bonini e Porto (2007, p. 6) 2 GÁS IDEAL E NÚMERO DE AVOGADRO Estudando partículas em suspensão em um líquido, Jean Baptiste Perrin notou que as partículas se moviam de modo rápido e irregular, mudando continuamente de direção após esbarrarem umas com as outras. Tal movimento é conhecido como movimento browniano. Observe a representação esquemática do movimento de uma partícula qualquer de tamanho considerável. FIGURA 3 – MOVIMENTO BROWNIANO FONTE: <http://cienciaehumanidade.blogspot.com/2010/01/o-movimento-browniano.html>. Acesso em: 2 mar. 2019. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 148 Observou também que o movimento aleatório dependia de alguns fatores como a temperatura, o tamanho da partícula e a viscosidade do líquido. Suas observações foram importantes para determinar o número de Avogadro e forneceram a prova da existência de moléculas. Com o trabalho, Perrin obteve, em 1926, o prêmio Nobel. A medida do número de Avogadro consiste em contar, direta ou indiretamente, o número de constituintes em um MOL. Os átomos (ou moléculas) são extremamente pequenos para serem contados diretamente. Perrin procurou um sistema físico no qual as partículas fossem pequenas o suficiente para se comportarem como um gás, mas grandes o suficiente para serem contadas. Da sua vasta experiência, como o estudo do movimento Browniano, Perrin notou que o movimento aleatório das partículas se assemelhava muito com o movimento de moléculas (BEBEACHIBULI; LIBARDI; BAGNATO, 1999, p. 1). Devido ao movimento aleatório, as partículas, suficientemente pequenas, mas grandes o suficiente para a medição da massa, poderiam ser comparadas ao comportamento das moléculas contidas em uma aparelhagem contendo algum gás. FIGURA 4 – APARELHAGEM UTILIZADA POR HENRY PARA MEDIR A SOLUBILIDADE DOS GASES EM ÁGUA FONTE: Bonini e Porto (2007, p. 7) A CD B b a TÓPICO 1 | TEORIA ATÔMICA PARA A MATÉRIA 149 3 GÁS IDEAL Sabemos que um gás é composto por átomos e moléculas que se movem aleatoriamente colidindo entre si e entre as paredes do recipiente. As partículas no gás estão muito distantes umas das outras, assim, deve haver espaço vazio entre elas. FIGURA 5 – COMPARAÇÃO ESQUEMÁTICA ENTRE UM GÁS IDEAL E UM GÁS REAL FONTE: <https://courses.lumenlearning.com/sanjacinto-atdcoursereview-chemistry1-1/chapter/ non-ideal-gas-behavior/>. Acesso em: 2 mar. 2019. Podemos considerar que o gás seja um gás ideal se ele satisfaz as seguintes hipóteses: • O gás é formado por moléculas em constante movimento e com velocidades diferentes. • A energia de cada molécula é devida exclusivamente à energia cinética e a única interação é devido às colisões. • As colisões são perfeitamente elásticas, sendo que a energia cinética total se conserva. • As moléculas possuem dimensões muito pequenas se comparado ao espaço vazio entre elas, de modo que não exerçam atração umas pelas outras. Observe as partículas de um gás ideal e de um gás real na figura a seguir. No gás ideal as partículas sofrem colisões elásticas com as paredes. No gás real se consideram as interações entre as partículas também. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 150 4 DENSIDADE DE MOLÉCULAS E NÚMERO DE AVOGADRO Imagine que um gás é uma distribuição de moléculas como é a distribuição de balões soltos na atmosfera. Regiões em que existe um aglomerado maior de balões são mais densas. Podemos pensar em um comportamento semelhante para as moléculas de um gás. Regiões onde os corpos estão mais sujeitos à força gravitacional possuem uma densidade de corpos maior. Sabemos que, quanto mais perto da superfície da Terra, maior é o valor. FIGURA 6 – BALÕES ESPALHADOS NA ATMOSFERA PARECEM MOLÉCULAS DE UM GÁS FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/teoria-cinetica-dos-gases.htm>. Acesso em: 2 mar. 2019. Através de uma lei experimental, verificou-se que um gás ideal na presença de um campo gravitacional tem uma densidade de moléculas descrita com a altitude pela expressão: 0( ) exp( ) Mgzn z n RT = − (1) (2) n (z) é a densidade na posição z, n0 é a densidade na superfície, M é a massa total das partículas, g é a aceleração da gravidade, R é a constante universal dos gases e T a temperatura. Assim, medindo a distribuição da densidade do gás no campo gravitacional, pode-se determinar o valor da massa M. Com o valor de M pode-se determinar o número de Avogadro pela seguinte expressão: A MN m = TÓPICO 1 | TEORIA ATÔMICA PARA A MATÉRIA 151 NA é o número de Avogadro e m é a massa de cada partícula. FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DAS PARTÍCULAS DE UM SISTEMA GASOSO EM UM CAMPO GRAVITACIONAL FONTE: Bebeachibuli, Libardi eBagnato (1999, p. 1) Repetindo a experiência inúmeras vezes e variando o tamanho das partículas, Perrin obteve sempre o mesmo valor para o número de Avogadro: 236,02 10AN = ⋅ Em um mol existem 6,02 x 1023 partículas ou moléculas. Sabendo o número de Avogadro, é possível determinar a massa e o tamanho de cada molécula. O número de mols n em uma amostra de massa Ma que contém N moléculas de massa m é dado por: a a A A M MNn N M mN = = = Exemplo: Calcule o número de mol existente em uma amostra de 160 g de gás carbônico (CO2). Dado: Mcarbono = 12, Moxigênio = 16. Solução: Somando as massas atômicas, encontramos: ( ) ( )1 12 2 16 44M = + = UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 152 Substituindo na equação que relaciona o número de mols com a massa da amostra e a sua massa molar, encontramos: 220 44 / aM gn M g mol = = 220 5 44 / gn mol g mol = = Resposta: A amostra possui 5 mols de dióxido de carbono. Exemplo: A massa de 1 mol de água é igual a 18 g e ocupa 18 cm3. Determine a massa e a ordem de grandeza de cada molécula de água. Solução: Sabendo que um mol tem 6,02x1023 moléculas de água, podemos determinar a massa de cada molécula pela equação: A MN m = 23 186,02 10 g m ⋅ = 23m 3 10 g−= ⋅ Do modo análogo podemos determinar o volume de cada molécula e extrair a raiz quadrada do resultado para a busca da dimensão da molécula. 3 23 18Volume 6,02 10 cm = ⋅ 23 3Volume 3 10 cm−= ⋅ 3 23 3Tamanho 3 10 cm−= ⋅ 8Tamanho 3,1.10 cm−= 10Tamanho 3,1.10 3m−= ≈ 侌 Resposta: A massa de cada molécula de água é de 3 x 10-23 gramas e possui uma ordem de grandeza de 3 armstrons. 153 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu que: • Os sistemas macroscópicos são compostos por sistemas microscópicos e estes, por sua vez, são compostos por partículas e moléculas que podem ser vistas como pequenos corpúsculos que se comportam seguindo as leis newtonianos. • As forças de atração entre as moléculas que compõem o gás são desprezíveis e consideramos que suas dimensões são muito pequenas. • As moléculas sofrem apenas colisões elásticas e, assim, descrevemos as condições de um gás ideal. • Encontramos uma densidade de moléculas e definimos o número de Avogadro. 154 1 Estudando partículas em suspensão em um líquido, Jean Baptiste Perrin notou que as partículas se moviam de modo rápido e irregular, mudando continuamente de direção após esbarrarem umas com as outras. Tal movimento é conhecido como: a) ( ) Movimento aleatório. b) ( ) Movimento senoidal. c) ( ) Movimento browniano. d) ( ) Movimento desordenado. e) ( ) Movimento preferencial. 2 Unidade fundamental de todas as substâncias, existiram inúmeras propostas para defini-lo ao longo da história. Os conceitos sobre ele começaram a se consolidar com os experimentos de Dalton, Thomson e Rutherford. O modelo de Bohr é o mais aceito para definir essa partícula minúscula e indivisível que compõe todos os corpos. Em relação à informação exposta, a unidade corresponde: a) ( ) Ao elétron. b) ( ) Ao átomo. c) ( ) À radiação cósmica. d) ( ) À partícula alfa. e) ( ) Ao neutrino. 3 Podemos considerar que o gás ideal satisfaz as seguintes hipóteses: I- O gás é formado por moléculas em constante movimento e com velocidades diferentes. II- A energia de cada molécula é devida exclusivamente à energia cinética e a interação é devido às colisões. III- As colisões são perfeitamente elásticas, sendo que a energia cinética total se conserva. IV- As moléculas possuem dimensões muito pequenas se comparadas ao espaço vazio entre elas, de modo que não exerçam atração umas pelas outras. V- As colisões contra as paredes do recipiente são inelásticas. As alternativas CORRETAS são: a) ( ) I, II, III e V. b) ( ) I, II, III e IV. c) ( ) I, II, IV e V. d) ( ) I, III, IV e V. e) ( ) II, III, IV e V. AUTOATIVIDADE 155 4 Regiões em que existe um aglomerado maior de balões são mais densas. Podemos pensar em um comportamento semelhante para as moléculas de um gás. Regiões onde os corpos estão mais sujeitos à força gravitacional possuem uma densidade de corpos maior. Sabemos que quanto mais perto da superfície da Terra: a) ( ) Maior é esse valor. b) ( ) Menor é esse valor. c) ( ) Menos contato ocorre entre eles. d) ( ) Mais contato ocorre entre eles. e) ( ) Maior é o aquecimento do sistema. 5 A massa de 1 mol de água é igual a 25 g e ocupa 18 cm3. Determine a massa e a ordem de grandeza de cada molécula de água. a) ( ) 3,1 . 10-23g e 3,1 armtrongs. b) ( ) 4,1 . 10-23g e 3,1 armtrongs. c) ( ) 4,1 . 10-23g e 4,1 armtrongs. d) ( ) 3,1 . 10-23g e 4,1 armtrongs. e) ( ) 7,0 . 10-23g e 7,0 armtrongs. 6 Calcule o número de mol existente em uma amostra de 160 g de oxigênio. Dado: Moxigênio = 16. a) ( ) 6,0 mols. b) ( ) 13,0 mols. c) ( ) 4,0 mols. d) ( ) 5,0 mols. e) ( ) 10,0 mols. 156 157 TÓPICO 2 TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A matéria é composta por átomos e moléculas e pode assumir vários estados de agregação, sendo que os principais tipos são os gases, os sólidos e os líquidos. Existem outros estados que ocorrem em condições especiais como o plasma, o condensado de Bose-Einstein e a superfluidez. Na figura a seguir representam-se os três principais estados da matéria em termos de seus constituintes. Para exemplificar, temos o gelo, a água líquida e o vapor d´água. Nos sólidos, as moléculas ocupam posições aproximadamente fixas, fazendo com que possuam um volume bem definido. Os líquidos, por sua vez, também possuem volume definido, mas a posição das partículas é variável, de modo que pode haver escoamento devido às forças de cisalhamento que agem. Já os gases não possuem um volume definido, sendo que o seu volume é definido pelas paredes do recipiente. Ainda, as partículas estão em movimento aleatório e constante, colidindo umas com as outras e com as paredes do sistema. As forças de atração e repulsão entre as partículas do gás são desprezíveis. FIGURA 8 – TRÊS ESTADOS DE AGREGAÇÃO DA MATÉRIA FONTE: <https://www.infoescola.com/quimica/estados-fisicos-da-materia/>. Acesso em: 2 mar. 2019. Vamos nos concentrar apenas no estado gasoso, que, por sua vez, pode ser caracterizado como vapor ou gás. A diferença é que o vapor se encontra abaixo da temperatura crítica, podendo, portanto, a qualquer momento, voltar para a fase líquida. Por outro lado, o gás se encontra acima da temperatura crítica e não é possível convertê-lo em líquido pelo simples aumento da pressão, sendo preciso reduzir a temperatura para a liquefação. 158 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES GRÁFICO 1 – DIAGRAMA DE FASES FONTE: <https://ceticismo.net/ciencia-tecnologia/o-que-e-ponto-triplo/>. Acesso em: 2 mar. 2019. TEMPERATURA CUR VA DA PR ESS ÃO DE VA PO R C U R VA D O P O N TO D E FU SÃ O PONTO TRIPLO PONTO CRÍTICO LÍQUIDO SÓLIDO VAPOR GÁS PR ES SÃ O A teoria cinética dos gases descreve o comportamento das partículas que compõem o gás, relacionando variáveis microscópicas, como massa e velocidade, com as suas propriedades macroscópicas, volume, pressão e temperatura. O primeiro a estudar os gases do ponto de vista da mecânica foi Daniel Bernoulli, em 1738. Em seus estudos afirma que a pressão de um gás se deve ao impacto das partículas com as paredes do recipiente. FIGURA 9 – IMPACTO ESQUEMATIZADO ENTRE DOIS ESTADOS COM PARTÍCULAS SE CHOCANDO CONTRA AS PAREDES DE UM RECIPIENTE FONTE: <https://ceticismo.net/ciencia-tecnologia/o-que-e-ponto-triplo/>. Acesso em: 2 mar. 2019. No entanto, a forma como descrevemos atualmente a teoria cinética teve sua origem com James Clerck Maxwell, em 1859. É considerado o movimento aleatório das moléculas. TÓPICO 2 | TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS 159 FIGURA 10 – JAMES E KATHERINE MAXWELL EM 1869 FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/James_Clerk_Maxwell>. Acesso em: 2 mar. 2019. 2 PRESSÃO DE UM GÁS Como nós já havíamosdiscutido anteriormente, no final do séc. XIX chegou- se à conclusão de que o calor não era um fluido, mas uma energia térmica em trânsito que se estabelece através da passagem de energia cinética das partículas. Vamos supor um gás ideal, cujas partículas estão se movendo aleatoriamente e se esbarram contra as paredes do recipiente. O movimento caracteriza a pressão de um gás. Uma maneira de aumentar a pressão de um gás é aumentando a sua temperatura, pois, como vimos, a velocidade das partículas está associada à energia interna. FIGURA 11 – ESQUEMA REPRESENTANDO MOLÉCULAS COLIDINDO CONTRA UMA PAREDE FONTE: <https://processostermodina.wixsite.com/termodinamica/teoria-cintica-dos-gases>. Acesso em: 16 maio 2019. Colisão Pressão A pressão de um gás é o resultado da colisão de suas moléculas com as paredes do recipiente. 160 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES Outra maneira de aumentar a pressão de um gás é manter a sua temperatura constante, mas reduzir o seu volume. FIGURA 12 – COMPRESSÃO ISOTÉRMICA DE UM GÁS EM UM RECIPIENTE FECHADO FONTE: <http://www.ifsc.usp.br/~strontium/Teaching/Material2013-2%20FCM0102%20Fisica%20 II-EESC/Exercicio%20T18.63.pdf>. Acesso em: 16 maio 2019. P = 100 kPa (0,987 atm) V = 6 dm3 (6 liters) V = 3 dm3 (3 liters) V = 2 dm3 (2 liters) P = 200 kPa (1,97 atm) P = 300 kPa (2,96 atm) a) b) c) Em ambos os casos, aumento da temperatura ou diminuição do volume, o número de colisões contra as paredes do recipiente aumentou, ocasionando o aumento da pressão. As variáveis de estado, pressão, temperatura e volume descrevem o sistema do ponto de vista macroscópico. FIGURA 13 – GRANDEZAS QUE CARACTERIZAM O GÁS FONTE: <https://didactalia.net/pt/comunidade/materialeducativo/recurso/de-que-se-trata-la-teoria- cinetica-de-los-gases/fdc30691-a552-4944-885c-ae5004fd5e06>. Acesso em: 2 mar. 2019. Volúmen (V) Presión (p) número de moles (n) Temperatura (t) TÓPICO 2 | TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS 161 A equação que relaciona as variáveis é conhecida como lei dos gases ideais e se escreve como: pV nRT= (3) (4) p é a pressão, V o volume, n o número de mols, R a constante universal dos gases e T a temperatura. 3 TRANSFORMAÇÕES TERMODINÂMICAS A equação geral dos gases relaciona três variáveis principais, temperatura T, pressão p e volume V. Em um processo termodinâmico, podemos relacionar dois estados, um inicial e outro final, através da seguinte relação: 1 1 2 2 1 2 p V p V T T = Em um processo termodinâmico é possível fazermos uma variação das suas condições iniciais alterando uma de suas grandezas e deixando uma delas inalterada, como o caso do estado 1 para o estado 2, na figura a seguir. Observamos um aumento do volume com pressão constante. Do estado 2 para o estado 3 retornamos à temperatura do estado 1, mantendo o volume constante. Consequentemente, teve que ocorrer uma variação na pressão. Através da equação 4, podemos determinar a pressão desconhecida no processo mencionado. FIGURA 14 – TRÊS ESTADOS DE UM GÁS EM TERMOS DE SUAS VARIÁVEIS DE ESTADO FONTE: <http://fisicaevestibular.com.br/novo/vestibulares-recentes/fisica-termica/vestibulares- recentes-por-assunto-fisica-termica-20142013/>. Acesso em: 2 mar. 2019. Estado 1 P1 V1 T1 P2 = P1 V2 T2 P3 = ? V3 = V2 T3 = T1 Estado 2 Estado 3 162 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES Utilizando a equação 4 para relacionar os estados 1 e 2 e, depois, os estados 2 e 3, podemos encontrar as relações a seguir para as variáveis de estado da figura anterior. 1 2 1 2 V V T T = 1 2 2 1 VV T T = 1 3 2 2 Vp p V = Depois das sucessivas transformações, sendo a primeira isobárica (pressão constante) e, depois, uma transformação isocórica (volume constante), chegamos à conclusão de que a pressão no terceiro estado é proporcional ao produto da pressão do segundo estado com o volume do primeiro estado e inversamente proporcional ao volume do segundo estado. Ao analisarmos as transformações que podem ocorrer entre dois estados bem definidos, um estado inicial e um estado final, precisamos ter em mente que, em uma transformação, pelo menos duas variáveis de estado são modificadas (em um sistema em que não haja transporte de matéria através de suas fronteiras). 3.1 TRANSFORMAÇÃO ISOCÓRICA Chama-se transformação isocórica ou processo isocórico uma transformação que ocorre mantendo o volume constate. Assim, em algumas literaturas, encontramos o processo sendo referido como processo isovolumétrico. A seguir, podemos observar um gráfico da pressão x temperatura e um gráfico da pressão x volume. Note que, enquanto a pressão cresce linearmente com a temperatura, o volume permanece constante com o aumento da pressão. GRÁFICO 2 – PROCESSO ISOCÓRICO FONTE: A autora T1 p1 p1 p2 p2 p p T2 T V V TÓPICO 2 | TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS 163 Mantendo o volume constante na equação que relaciona dois estados, encontramos: 1 1 2 2 1 2 p V p V T T = 1 2 1 2 p p T T = (5) A equação anterior relaciona as variáveis de estado entre dois estados termodinâmicos. Exemplo: Um gás no estado 1 apresenta volume de 20 L, pressão de 8 atm e temperatura de 330 K. Qual será a pressão do gás em um estado 2 se o volume permanecer igual a 20 L, mas a temperatura passar para 293 K? Solução: Aplicando a equação 5 para transformação com volume constante, encontramos que: 28 333 293 patm K K = ( )( ) 2 8 293 333 atm K p K = 2 7p atm= Resposta: A pressão vai diminuir para 7 atm. Exemplo: Um gás que está a uma temperatura de 270 K foi transferido para um recipiente que suporta até uma pressão de 3,0 atm, permitindo uma temperatura de até 1000K antes que suas propriedades físicas se alterem. Suponha que a pressão inicial do gás seja de 1,0 atm, qual será a temperatura se o gás atingir a pressão máxima que o recipiente admite? A temperatura vai derreter o recipiente? Solução: Aplicando a equação 5 para transformação com volume constante, encontramos que: 2 1,0 3,0 270 atm atm K T = ( )( ) 2 3,0 270 1,0 atm K T atm = 2 810T K= 164 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES Resposta: A temperatura pode aumentar até 810K. O recipiente continuará intacto. 3.2 TRANSFORMAÇÃO ISOBÁRICA Na transformação isobárica, ou processo isobárico, a pressão é mantida constante. A seguir, encontramos o gráfico do volume com a temperatura e a pressão com o volume. Enquanto a temperatura aumenta, o volume aumenta linearmente no primeiro gráfico. No segundo, a pressão permanece inalterada com o aumento do volume. GRÁFICO 3 – NO PROCESSO ISOBÁRICO V1 V1T1 T2 T V V2 V2 V p p FONTE: A autora Tomando novamente a equação 4 e, mantendo a pressão constante, encontramos: 1 1 2 2 1 2 p V p V T T = 1 2 1 2 V V T T = (6) A equação 6 relaciona as variáveis de estado em um processo a volume constante. Exemplo: Um recipiente que possui um êmbolo móvel foi preenchido com certa massa de gás ideal e ocupa um volume de 10 litros a 293 K. Se o gás for aquecido até 305 K e sob pressão constante, qual será o seu volume nas condições? Solução: Aplicando a equação 6 para transformação com pressão constante, encontramos que: TÓPICO 2 | TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS 165 1 2 1 2 V V T T = 210 293 305 Vlitros K K = 2 10,4V litros= Resposta: O volume vai aumentar para 10,4 litros. Exemplo: Solução: Aplicando a equação 6 para transformação com pressão constante, encontramos que: 1 2 1 2 V V T T = 22 293 305 Vlitros K K = 2 10,4V litros= Resposta: O volume vai aumentar para 10,4 litros. Exemplo: Em uma pressão constante, um gás é aquecido até que seu volume inicial de 100 L dobre. Se a temperatura inicial do gás era de 290K, qual deve ser a temperatura final? Solução: Aplicando a equação 6 para transformação com pressão constante, encontramos que: 1 2 1 2 V V T T = 2 100 200 290 litros litros K T = 2 580T K= Resposta: A temperatura aumentará para 580 K. 3.3 TRANSFORMAÇÃO ISOTÉRMICA Na transformaçãoisotérmica mantém-se a temperatura constante e variam a pressão e o volume. O gráfico da pressão x volume é uma hipérbole que chamamos de isoterma. No gráfico a seguir encontramos três isotermas a temperaturas diferentes. 166 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES GRÁFICO 4 –PROCESSO ISOTÉRMICO Fonte: A autora Tomando a equação 4 e, mantendo a temperatura constante, encontramos: 1 1 2 2 1 2 p V p V T T = 1 1 2 2p V p V= (7) A equação 7 fornece a relação entre a pressão e o volume em um processo a temperatura constante. Exemplo: Certa massa de gás oxigênio ocupa um volume de 1,2 L, sob pressão de 0,3 atm e em uma dada temperatura. Qual o volume ocupado pela mesma massa de oxigênio, na mesma temperatura, sob pressão de 0,1 atm? Solução: Aplicando a equação 7 para transformação com temperatura constante, encontramos que: 1 1 2 2p V p V= ( )( ) ( ) 20,3 1,2 0,1atm L atm V= 2 3,6V L= Resposta: O volume aumentará para 3,6 L. Exemplo: Um cilindro de bomba de bicicleta tem comprimento de 50 cm e diâmetro de 1,5 cm. A válvula se abre quando o pistão está a 10 cm do fundo. Considerando a temperatura constante, com que pressão a válvula se abre se a pressão local é de 1,0 atm? TÓPICO 2 | TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS 167 Solução: Aplicando a equação 7 para transformação com temperatura constante, considerando o volume do cilindro como sendo o produto da área A com o comprimento L do cilindro, e levando em conta que a área do cilindro não varia, temos: 1 1 2 2p V p V= 1 1 2 2p AL p AL= ( )( ) ( )21,0 50,0 10,0atm cm p cm= 2 5p atm= Resposta: A pressão será de 5 atm. Serway (2014, p. 140) resume muito bem os três processos relacionados à equação geral dos gases ideais, indicando os cientistas que desenvolveram: Quando o gás é mantido em temperatura constante, sua pressão é inversamente proporcional ao volume (O comportamento é historicamente descrito como a lei de Boyle). Quando a pressão do gás é mantida constante, o volume é diretamente proporcional à temperatura (O comportamento é historicamente descrito como a lei de Charles). Quando o volume do gás é mantido em temperatura constante, a pressão é inversamente proporcional à temperatura (O comportamento é historicamente descrito como a lei de Gay-Lussac). O estudo das variáveis de estado nas transformações gasosas permite compreender os ganhos de energia térmica para a realização de trabalho, mas nem há, diretamente, uma pista do que está acontecendo no interior do gás, nem sabemos sobre o comportamento das moléculas de gás. Para tanto, precisamos ir além e utilizar os conceitos de cinemática, da física mecânica aplicada às partículas que compõem o gás. 4 TEORIA CINÉTICA DOS GASES Pretendemos, agora, relacionar as variáveis com a velocidade das partículas que compõem o sistema, ou seja, o gás. Para tanto, utilizaremos um elemento de volume de um gás, como na figura a seguir. O volume trata-se de um cubo com arestas de comprimento L, contendo uma molécula de massa m e velocidade v. Ainda, se desloca dentro do volume considerado e está prestes a colidir na parede de área L2. 168 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES FIGURA 15 – CAIXA CÚBICA DE ARESTA L CONTENDO UMA MOLÉCULA FONTE: Halliday (2016, p. 228) Reta perpendicular à parede sombreada x z v y m L L L Sabemos que, ao colidir na parece, pelas relações da mecânica clássica, a partícula sofre um impulso definido pela variação de momentum p. Vamos analisar a variação da quantidade de movimento na direção x e, depois, estender o resultado para as outras dimensões espaciais. Levando em conta que o momentum é dado pelo produto da massa com a velocidade e que a partícula muda de sentido depois da colisão, temos que a quantidade de movimento depois menos a quantidade de movimento antes fornece: ( ) ( ) 2 .x x x xp mv mv mv∆ = − − = − Dividindo todos os membros pelo intervalo de tempo ∆t: 2x xp mv t t ∆ − = ∆ ∆ (8) Podemos dizer que a distância percorrida pela partícula é igual a 2L, sendo L a distância percorrida antes da colisão mais L percorrido depois da colisão. A distância é dada pelo produto da velocidade vx com o intervalo de tempo ∆t. Assim: 2 xL v t= ∆ Isolando ∆t e substituindo do lado direito da equação 8 anterior, encontramos que: TÓPICO 2 | TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS 169 (9) (10) 22 2 / x x x x p mv mv t L v L ∆ = = ∆ Sabemos que a pressão p é dada pela força Fx exercida pelas moléculas sobre a área L2 da parede. Assim, temos que: 2 xFp L = Na mecânica clássica também sabemos que a força é a taxa de variação da quantidade de movimento no tempo: x dpF dt = Logo, podemos usar o resultado: x pF t ∆ = ∆ Na equação 9, obtida anteriormente e, ao generalizar para N moléculas, encontraremos, então: 2 2 2 2 2 21 2 1 22 2 3 / / / ( ),x x x xN x x xN F mv L mv L mv L mp v v v L L L + + ⋅⋅⋅+ = = = + + ⋅⋅⋅+ Substituindo a massa pelo número de mols e a massa molar, considerando uma média das velocidades entre todas as moléculas, podemos escrever a equação: 2( )x médnM vp V = O módulo da velocidade média total das partículas é a soma dos componentes em todas as direções x, y e z. Resulta em: 2 2 2 2( ) ( ) ( ) ( )med x med y med z medv v v v= + + 170 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES Podemos supor que as velocidades médias nas três direções sejam aproximadamente iguais, de modo que a equação anterior se torna: ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2 2x x xmed med med medv v v v= + + Somando: ( ) ( )2 23 xmed medv v= Isolando o componente em x: ( ) ( ) 2 2 3 med x med v v = Substituindo o resultado obtido anteriormente na equação 10, temos: 2( ) . 3 médnM vp V = (11) A equação anterior relaciona a pressão do gás com a velocidade das partículas, como havíamos desejado. 5 VELOCIDADE MÉDIA QUADRÁTICA Ao extrair a raiz da velocidade obtida na equação 11, encontramos uma espécie de média das velocidades das partículas, que chamaremos de velocidade média quadrádica, vrms. ( )2rms rmsv v= Invertendo a equação 10: ( )2 3 rms pVv nM = Da equação 8, dos gases ideais, podemos substituir pV na equação anterior: TÓPICO 2 | TEORIA CINÉTICA PARA A PRESSÃO EM UM GÁS 171 (12) (13) pV nRT= Encontramos: ( )2 3 rms RTv M = Extraindo a raiz se torna: 3 rms RTv M = Na tabela a seguir, encontramos alguns valores típicos de velocidades de algumas moléculas de gases. TABELA 1 – ALGUMAS VELOCIDADES MÉDIAS QUADRÁTICAS À TEMPERATURA AMBIENTE (T = 300 K) FONTE: Halliday (2016, p. 229) Gás Massa Molar (10-3 kg/mol) Vrms(m/s) Hidrogênio(H2) 2,02 1920 Hélio (He) 4,0 1370 Vapor d'água (H2O) 18,0 645 Nitrogênio (N2) 28,0 517 Oxigênio (O2) 32,0 483 Dióxido de carbono (CO2) 44,0 412 Dióxido de enxofre (SO2) 64,1 342 As velocidades contidas na tabela anterior são muito elevadas. Na superfície do sol as velocidades são ainda mais elevadas. Segundo Halliday (2016, p. 230): 172 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES A velocidade do som em um gás está intimamente ligada à velocidade média quadrática das moléculas. Em uma onda sonora, a perturbação é passada de molécula para molécula por meio de colisões. A onda não pode se mover mais depressa que a velocidade “média” das moléculas. Na verdade, a velocidade do som deve ser um pouco menor que a velocidade “média” das moléculas porque nem todas as moléculas estão se movendo na mesma direção que a onda. Assim, por exemplo, à temperatura ambiente, a velocidade média quadrática das moléculas de hidrogênio e de nitrogênio é de 1920 m/s e 517 m/s, respectivamente. A velocidade do som nos dois gases a essa temperatura é de 1350 m/s e 350 m/s, respectivamente. Exemplo: Encontre a velocidade quadrática média de uma molécula de nitrogênio a 35 0C. Solução: Utilizando a equação 13, temos que: 3 rms RTv M = ( ) 3 8,313 . 308 523,7 / 28.10 /rms J K K molv m s kg mol− = = Resposta: A velocidade quadrática média será de 523,7 m/s. 173 RESUMO DO TÓPICO 2 Nestetópico, você aprendeu que: • A matéria é composta por átomos e moléculas cujo grau de agregação define o seu estado físico. No estado gasoso podemos ter vapor ou gás, e o vapor é caracterizado pelo fato de ainda não ter atingido a temperatura crítica. Após atingir a temperatura, a matéria passa a ser gás e não volta mais à fase líquida com o simples aumento da pressão. • A pressão de um gás, com o número de mols constante, pode ser modificada pela variação da temperatura ou pela variação do volume. Definimos a equação dos gases ideias que relaciona as variáveis de estado. • Encontramos a velocidade de uma molécula em um gás e definimos novamente a pressão. • Definimos velocidade média quadrática como uma média das velocidades das partículas. 174 AUTOATIVIDADE 1 A teoria cinética dos gases descreve o comportamento das partículas que compõem o gás relacionando variáveis microscópicas, como massa e velocidade, com as suas propriedades macroscópicas: a) ( ) Volume, pressão e temperatura. b) ( ) Energia, volume e pressão. c) ( ) Trabalho, pressão e temperatura. d) ( ) Pressão, temperatura e densidade. e) ( ) Tempo, pressão e volume. 2 Em ambos os casos, aumento da temperatura ou diminuição do volume, o número de colisões contra as paredes do recipiente aumentou ocasionando: a) ( ) O aumento da pressão. b) ( ) A diminuição da pressão. c) ( ) O aumento da velocidade. d) ( ) A diminuição da velocidade. e) ( ) A diminuição da energia. 3 Determine o número de mols de um gás que ocupa um volume de 100 litros. O gás está a uma pressão de 2 atm e a uma temperatura de 130 K (Dado: R = 0,082 atm.L/mol.K). a) ( ) 21,89 mols. b) ( ) 18,76 mols. c) ( ) 1,876 mols. d) ( ) 2,189 mols. e) ( ) 0,3425 mols. 4 Qual é o número de moléculas por metro cúbico no ar a 200C e com pressão de 1,01.105 Pa? a) ( ) 2,5 . 105 moléculas/m3. b) ( ) 2,5 . 103 moléculas/m3. c) ( ) 1,5 . 105 moléculas/m3. d) ( ) 1,5 . 103 moléculas/m3. e) ( ) 3,5 . 105 moléculas/m3. 175 5 Encontre a velocidade quadrática média de uma molécula de nitrogênio a 280C. a) ( ) 100 m/s. b) ( ) 517,6 m/s. c) ( ) 320 m/s. d) ( ) 411 m/s. e) ( ) 124 m/s. 6 O pneu de um automóvel foi regulado de forma a manter uma pressão interna de 30 libras-força por polegada quadrada, a uma temperatura de 25 ºC. Durante o movimento do automóvel, no entanto, a temperatura do pneu elevou-se a 45 ºC. Determine a pressão interna correspondente, em libras-força por polegada quadrada, desprezando a variação do volume do pneu. Não esqueça de converter a temperatura para a escala Kelvin. a) ( ) 10,0 libras-força por polegada quadrada. b) ( ) 32,0 libras-força por polegada quadrada. c) ( ) 22,0 libras-força por polegada quadrada. d) ( ) 41,0 libras-força por polegada quadrada. e) ( ) 12,0 libras-força por polegada quadrada. 7 Em uma pressão constante, um gás é aquecido até que seu volume inicial de 100 L caia pela metade. Se a temperatura inicial do gás era de 290K, qual deve ser a temperatura final? a) ( ) 145 K. b) ( ) 200 K. c) ( ) 320 K. d) ( ) 410 K. e) ( ) 120 K. 8 Dadas as afirmações a seguir, indique, respectivamente, a lei descrita em cada tipo de transformação que mantinha uma das variáveis de estado constante. I- Quando o gás é mantido em temperatura constante, sua pressão é inversamente proporcional ao volume. II- Quando a pressão do gás é mantida constante, o volume é diretamente proporcional à temperatura. III- Quando o volume do gás é mantido em temperatura constante, a pressão é inversamente proporcional à temperatura. a) ( ) Lei de Boyle, lei de Charles, lei de Gay-Lussac. b) ( ) Lei de Charles, lei de Gay-Lussac, lei de Faraday. c) ( ) Lei de Faraday, lei de Boyle, lei de Charles. d) ( ) Lei de Newton, lei de Boyle, lei de Gay-Lussac. e) ( ) Lei de Gay-Lussac, lei de Charles, lei de Newton. 176 177 TÓPICO 3 ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Os estudos de Daniel Bernoulli, publicados em 1738, em Estrasburgo, continham uma breve história da Hidráulica e da Hidrostática, além de um esboço da teoria cinética dos gases em que ele chama de fluidos elásticos. Para Bernoulli, o gás era composto por pequenas partículas que se moviam muito rápido e colidiam com as paredes do recipiente, dando origem à pressão do fluido. Contudo, somente no século XIX, com os conceitos da química sobre átomos e moléculas, tornou-se possível o avanço da energia cinética. FIGURA 16 – TRABALHO SOBRE HYDRODINÂMICA DE BERNOULLI FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/The-distinguished-mathematician-and-physician- Daniel-Bernoulli-1700-1782-and-the_fig1_267731220>. Acesso em: 4 mar. 2019. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 178 Rudolf Clausius, em 1850, nas suas observações sobre termodinâmica, acrescentou aos estudos da teoria cinética dos gases a prerrogrativa de que a temperatura pode indicar a energia cinética média das moléculas e que a composição molecular dos gases estaria relacionada ao seu calor específico. Imaginou que o livre caminho médio seria pequeno entre as colisões, pois isso explicaria a lenta difusão dos gases. FIGURA 17 – LUDWIG BOLTZMANN E COLABORADORES EM GRAZ, 1887. DA ESQUERDA PARA A DIREITA, DE PÉ: WALTHER NERNST, HEINRICH STREINTZ, SVANTE ARRHENIUS, HIECKE; SENTADOS: AULINGER, ALBERT VON ETTINGSHAUSEN, LUDWIG BOLTZMANN, IGNACIJ KLEMENČIČ, HAUSMANNINGER FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Boltzmann>. Acesso em: 4 mar. 2019. James Maxwell e Ludwig Boltzmann utilizaram métodos estatísticos para descrever a velocidade das moléculas derivando uma distribuição de velocidades. Nos estudos de termodinâmica utilizamos muito a constante de Boltzmann, que relaciona a temperatura e energia das moléculas. 2 ENERGIA CINÉTICA DE TRANSLAÇÃO Vamos continuar pensando em uma molécula de um gás confinado dentro de uma caixa imaginária. TÓPICO 3 | ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES 179 FIGURA 18 – MOLÉCULA DE UM GÁS CONFINADA EM UMA CAIXA IMAGINÁRIA FONTE: Serway (2014, p. 142) d x vxi vi d m0 d y z Uma molécula de gás se move com velocidade Vem direção a uma colisão com a parede. A energia cinética média será: 21( ) 2méd méd K mv= Utilizando a velocidade média quadrática, encontramos: ( )212med rmsK m v= Substituindo a velocidade quadrática: 1 3 2med RTK m M = (14) Sabendo que: A MN m = UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 180 Isolando m e substituindo na equação 14: 1 3 2med A M RTK N M = Simplificando a massa molar M e substituindo: A Rk N = Encontramos que a energia translacional média das moléculas: 3 2med K kT= (15) (16) A equação 15 mostra que, medindo a temperatura, grandeza macroscópica, podemos calcular a energia cinética média das moléculas (grandeza microscópica), independentemente das massas ou do tamanho das moléculas. A energia cinética translacional total de N moléculas de gás é N vezes a energia média por molécula: 3 2tr K N kT= Substituindo k: 3 2tr A RK N T N = Que fornece: 3 2tr K nRT= Substituímos o número de mols pelo número de moléculas dividido pelo número de avogadro, n = N/NA. TÓPICO 3 | ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES 181 Exemplo: Um tanque usado para encher balões de hélio tem um volume de 0,250 m3 e contém 1,50 mol de gás hélio a 230C. Suponha que o hélio se comporte como um gás ideal. a) Qual é a energia cinética translacional total das moléculas do gás? b) Qual é a energia cinética média por molécula? Solução: a) Vamos calcular a energia cinética translacional através da equação 16: ( ) ( )( )3 J1,5 8,31 K 273 23 2 moltr K mol K = + 35,53.10 trK J= b) A energia cinética média é dada pela equação 15: ( )( )233 1,38.10 J / K 273 232medK −= + 216,13.10 JmedK −= Resposta: A energia translacional total é de 5,53 x 103 J e a energia cinética média das moléculas é 6,13 x 10 -21 J. 3 LIVRE CAMINHO MÉDIOPrecisamos considerar também a possibilidade de colisões entre as moléculas. FIGURA 19 – TRAJETÓRIA DE UMA DAS PARTÍCULAS ESBARRANDO EM OUTRAS PARTÍCULAS FONTE: Halliday (2016, p. 232) UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 182 Para tanto, consideraremos um pequeno volume como o cilindro da figura a seguir. N moléculas, de raio r e velocidade v, entram no cilindro de raio 2r. Uma molécula que entra no cilindro poderá colidir com outra que já está com o seu centro no interior do cilindro. FIGURA 20 – MOLÉCULAS DE RAIO R ATRAVESSANDO UM PEQUENO CILINDRO DE RAIO 2R FONTE: Young e Freedmann (2008, p. 230) r r r r r 2r v v dt Ao entrar no cilindro a molécula percorrerá a distância, ( )( )d v dt= O volume do cilindro é dado por: V Ad= A área A é igual a ( )2 22 4A r rπ π= = Substituindo A e d para encontrarmos o volume, temos que: 24V r vdtπ= TÓPICO 3 | ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES 183 A concentração de moléculas no interior do cilindro é N/V, moléculas por unidade de volume. Assim, o número de moléculas com o centro no interior do cilindo é igual a: 24 NdN r vdt V π= Assim, o número de colisões de uma molécula por unidade de tempo no interior do cilindro é dado por: 24dN Nr v dt V π= Generalizando para um número maior de partículas, devemos multiplicar o resultado anterior por raiz de 2, obtendo, assim: 24 2dN r vN dt V π = O tempo livre médio, tmed, entre as colisões, pode ser obtido invertendo-se a equação anterior, o que resulta em: 24 2 méd Vt r vNπ = (17) (18) O caminho entre duas colisões consecutivas, livre caminho médio, λ, pode ser obtido pela expressão: medvtλ = Substituindo o tempo da equação 17 na equação anterior, encontramos: 24 2 V r N λ π = Podemos observar que a distância de uma colisão entre duas moléculas aumenta com o aumento do volume (V) (diretamente proporcional) e diminui com o aumento da área (πr2) ou do número de moléculas (N) (inversamente proporcional). Observe que a equação anterior não depende da velocidade. Consequentemente, o livre caminho médio também não. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 184 Exemplo: Os prótons de um certo acelerador de partículas percorrem um caminho circular de diâmetro de 30,0 m em uma câmara com 1,33.10-4 Pa 2,00.10- 4 Pa e com temperatura de 320 K. a) Qual é o número de moléculas de gás por centímetro cúbico a essa pressão? b) Calcule o livre caminho médio das moléculas do gás se o diâmetro molecular for de 1,50.10-8 cm. Solução: Da equação dos gases reais encontramos o número de moléculas por metros cúbicos: pNN V RT Λ= ( )( ) ( ) 4 232,00.10 6,02.10 8,31 . 320 Pa moléculasN JV K K mol − = 16 34,53.10 /N moléculas m V = Para converter em centímetros cúbicos, utilizamos o fator de conversão e encontramos: 16 6 3 10 3 3 3 4,53.10 10 4,53.10 /moléculas m moléculas cm m cm − = b) O livre caminho médio é dado pela equação 17. Utilizaremos r = d/2: 24 2 V r N λ = ( )2 1 2 /d N V λ = ( ) ( )210 16 3 1 221 2 1,50.10 4,53.10 / m m moléculas m λ − = = Resposta: O número de moléculas por centímetros cúbicos é de 4,53.1010 e o livre caminho médio é de 221 m. Substituindo o volume da equação 17 pelo volume obtido através da equação 3 dos grases ideais, obtemos: pV nRT= TÓPICO 3 | ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES 185 Contudo, o número de mols n é a relação entre o número de moléculas n e o número de Avogadro NA: A Nn N = Substituindo: A NpV RT N = No entanto, a relação entre a constante universal dos gases R e o número de Avogadro NA fornece a constante de Boltzmann k: A Rk N = Substituindo, resulta em: pV NkT= Isolando V, temos: NkTV p = Substituindo o resultado anterior na equação 18, encontramos que o livre caminho médio é: 24 2 kT r p λ π = (19) Pela equação 19 vemos que um aumento da temperatura ocasiona um aumento da distância média entre as colisões (diretamente proporcionais). Já o aumento da pressão acarreta uma diminuição da distância (inversamente proporcionais). O primeiro poderia ocorrer em uma expansão isobárica e, o segundo, em uma compressão isotérmica, por exemplo. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 186 4 DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES Na seção anterior encontramos a velocidade média quadrática como sendo uma média das velocidades das partículas, mas sabemos que as partículas não se movem todas com a mesma velocidade. Queremos descobrir agora a probabilidade de um certo número de moléculas estar em uma velocidade em particular. Vimos, em tópicos anteriores, que o número de moléculas diminui com a altura devido à presença do campo gravitacional. Podemos supor que um número pequeno de moléculas ultrapasse a altura máxima h = h. Naturalmente, para chegar a essa altura, a molécula precisa ter mais energia do que a molécula que só consegue ultrapassar a altura h = 0. As moléculas com maior velocidade possuem mais energia cinética, consequentemente, são as que chegam mais longe. FIGURA 21 – ALTURA MÁXIMA DE MOLÉCULAS EM UM GÁS FONTE: Feynman, Leighton e Sands (2008, p. 40-44) h = h h = o A expressão matemática para a distribuição de probabilidades de moléculas em certa velocidade foi fornecida por James Clerk Maxwell, em 1852: ( ) 2 3/2 2 /24 2 Mv RTMP v v e RT π π − = M é a massa molar, R a constante universal dos gases, T a temperatura e v a velocidade da molécula. A seguir, há a distribuição de probabilidades de velocidades das moléculas de oxigênio com temperatura de 300 K. A área P(v)dv é a fração de moléculas cujas velocidades estão no intervalo dv no entorno de v. TÓPICO 3 | ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES 187 FIGURA 22 – DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES DO OXIGÊNIO COM 300 K FONTE: Halliday (2016, p. 234) 0 200 1,0 2,0 400 600 Velocidade (m/s) Vrms Vméd VpP( v) (1 0- 3 s /m ) dv 800 1000 Área = P(v) dv 1200 0 Observe a figura anterior. A velocidade máxima está em torno de 400 m/s. Essa velocidade é a velocidade mais provável, vP. Ainda, a derivada da função é nula e, portanto: 0dP dv = O que fornece a expressão para a velocidade provável, vP, como sendo: 2 P RTv M = Substituindo a relação entre a constante universal dos gases e a massa molar pela relação entre a constante de Boltzmann e a massa da molécula: R k M m = Encontramos: 2 P kTv m = 1,41P kTv m = (20) UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 188 Podemos observar também uma velocidade média, vmed. Para encontrá-la, somamos as pequenas áreas, integrando de 0 até ∞. O resultado fornece: 8 med RTv Mπ = Procedendo com a mesma substituição, encontramos: 81,60med kTv m = (21) (22) Podemos observar também a velocidade média quadrática, vrms. A expressão foi obtida no tópico anterior: 3 rms RTv M = Analogamente: 1,73rms kTv m = Note que temos vp > vméd > vrms. A figura a seguir mostra a distribuição de velocidades diante de uma temperatura de 300 K e de 80 K. FIGURA 23 – DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES DO OXIGÊNIO EM DUAS TEMPERATURAS DISTINTAS FONTE: Halliday (2016, p. 234) 200 1,0 2,0 3,0 4,0 400 600 Velocidade (m/s) P( v) (1 0- 3 s /m ) T = 80 K T = 300 K 800 1000 12000 TÓPICO 3 | ENERGIA TRANSLACIONAL E DISTRIBUIÇÃO DAS VELOCIDADES 189 Na figura a seguir encontramos a distribuição de velocidades de alguns gases nobres. FIGURA 24 – DENSIDADE DE PROBABILIDADES DE VELOCIDADES DE ALGUNS GASES FONTE: <http://www.wikiwand.com/pt/Temperatura_neutr%C3%B3nica>. Acesso em: 4 mar. 2019. Maxwell-Boltzmann Molecular Speed Distribution for Noble Gases Speed (m/s) 4He 20Ne 40Ar 132Xe 0 500 1000 1500 2000 2500 pr ob ab ili ty d en si ty (s /m ) Exemplo: Uma amostra de 0,800 mol de um gás hidrogênio está a 300 K. Encontre a velocidade média, a velocidade média quadrática e a velocidade mais provável das moléculas de hidrogênio. Solução: Utilizandoas equações 20, 21 e 22, encontramos: ( ) ( ) 27 3 27 1,3810 300 1,60 1,78 10 / 2 1,67 10med J K Kv m s kg − − ⋅ = = ⋅ ⋅ ( ) ( ) 27 3 27 1,3810 300 1,73 1,93 10 / 2 1,67 10rms J K Kv m s kg − − ⋅ = = ⋅ ⋅ ( ) ( ) 27 3 27 1,3810 300 1,41 1,57 10 / 2 1,67 10P J K Kv m s kg − − ⋅ = = ⋅ ⋅ Resposta: A velocidade média é de 1780 m/s, a velocidade média quadrática é de 1930 m/s e a velocidade mais provável da molécula de hidrogênio é de 1570 m/s. 190 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Bernoulli imaginava o gás composto de pequenas partículas colidindo com as paredes do recipiente em seus estudos, supostamente dando origem à pressão. • No século XIX a termodinâmica avançou com os estudos da energia cinética por parte de Clausius e pelo método estatístico de Maxwell e Boltzmann. • Há o livre caminho médio percorrido por uma molécula e a concentração das moléculas em um dado volume. Encontramos também uma distribuição das velocidades das moléculas. 191 AUTOATIVIDADE 1 Nas suas observações sobre termodinâmica, acrescentou aos estudos da teoria cinética dos gases a prerrogrativa de que a temperatura pode indicar a energia cinética média das moléculas e que a composição molecular dos gases estaria relacionada ao seu calor específico. Imaginou que o livre caminho médio seria pequeno entre as colisões, pois isso explicaria a lenta difusão dos gases. O texto se refere a: a) ( ) Rudolf Clausius. b) ( ) Ludwig Boltzmann. c) ( ) Walther Nernst. d) ( ) Heinrich Streintz. e) ( ) Svante Arrhenius. 2 Utilizaram métodos estatísticos para descrever a velocidade das moléculas derivando uma distribuição de velocidades. a) ( ) Rudolf Clausius e Ludwig Boltzmann, b) ( ) Walther Nernst e Heinrich Streintz, c) ( ) Svante Arrhenius e Lorde Kelvin. d) ( ) Isaac Newton e Eudolf Clausius. e) ( ) James Maxwell e Ludwig Boltzmann. 3 Medindo a temperatura podemos calcular a energia cinética média das moléculas independentemente: a) ( ) Das massas ou do tamanho das moléculas. b) ( ) Da temperatura. c) ( ) Do número de mols. d) ( ) Dos átomos ou da força da gravidade. e) ( ) Das energias cinéticas das moléculas. 4 Os prótons de um certo acelerador de partículas percorrem um caminho circular de diâmetro 30,0 m em uma câmara com 2,50.10-4 Pa e com temperatura de 350 K; a) Qual é o número de moléculas de gás por centímetro cúbico a essa pressão? b) Calcule o livre caminho médio das moléculas do gás se o diâmetro molecular for de 1,10.10-8 cm. a) ( ) 2,57.1010 moléculas/cm3 e 320 m. b) ( ) 5,17.1010 moléculas/cm3 e 360 m. c) ( ) 3,12.1010 moléculas/cm3 e 210 m. d) ( ) 7,85.1010 moléculas/cm3 e 340 m. e) ( ) 5,17.1010 moléculas/cm3 e 210 m. 192 5 Calcule a velocidade média quadrática dos átomos de Hélio, de massa molar igual a 4,00.10-3 kg/mol a 1500 K. a) ( ) 4,50.103 m/s. b) ( ) 1,91.103 m/s. c) ( ) 2,50.103 m/s. d) ( ) 3,06.103 m/s. e) ( ) 1,00.103 m/s. 6 (SERWEY, 2014) Um tanque usado para encher balões de hélio tem um volume de 0,300 m3 e contém 2,00 mol de gás hélio a 200C. Suponha que o hélio se comporte como um gás ideal. a) Qual é a energia cinética translacional total das moléculas do gás? b) Qual é a energia cinética média por molécula? a) ( ) 4,50.103 J e 7,30.10-21 J. b) ( ) 1,91.103 J e 2,40.10-21 J. c) ( ) 7,30.103 J e 4,30.10-21 J. d) ( ) 7,30.103 J e 6,07.10-21 J. e) ( ) 4,90.103 J e 6,07.10-21 J. 193 TÓPICO 4 EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA E CALOR ESPECÍFICO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Além do ar, que está sempre presente em nossas vidas porque precisamos dele para respirar, existem muitos tipos de gases. Atualmente, os gases servem para muitas finalidades. Ouvimos frequentemente falar de gases como o nitrogênio, que, além de compor 78% do ar, tem larga aplicação nas indústrias química, alimentar, elétrica e metalúrgica. O oxigênio, que ocupa 21% do ar, que pode ser usado para o branqueamento do papel, por exemplo. O metano, utilizado em transformações de energia como geração de calor ou eletricidade. O propano, o dióxido de carbono, o argônio, entre outros. Todos os gases podem ser comercializados e, para tanto, são envasados em recipientes e submetidos a altas pressões. Assim, é importante que se conheça o maior número de características dos gases. FIGURA 25 – DIVERSOS TIPOS DE GÁS FONTE: <https://www.ehs.washington.edu/research-lab/compressed-gas-cryogenic-fluids>. Acesso em: 4 mar. 2019. A teoria cinética viabilizou o estudo através dos conceitos estudados no tópico anterior, em que alisamos grandezas microscópicas como a velocidade da molécula e o livre caminho médio. Pretendemos, agora, ir além, queremos aprofundar a nossa análise entrando na questão das transações energéticas que ocorrem no mundo microscópico das moléculas. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 194 Observe, na figura a seguir, a energia térmica sendo transferida de um sistema de maior temperatura para um sistema de menor temperatura até que haja o equilíbrio térmico. As moléculas da esquerda, na primeira figura, estão, em média, mais velozes. Depois das trocas de energia, na segunda figura, os dois lados possuem moléculas com, aproximadamente, a mesma velocidade. Compare a tamanho dos vetores das moléculas, pois eles representam a velocidade. FIGURA 26 – TRANSFERÊNCIA DE CALOR ENTRE DOIS SISTEMAS FONTE: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAeuucAB/primeira-lei-termodinamica>. Acesso em: 3 mar. 2019. High Temperature Heat transfer Net heat transfer has ceased Low Temperature Thermal Equilibrium Na figura, o sistema de alta temperatura transferiu energia térmica para o sistema de baixa temperatura até que a temperatura se igualasse. Contudo, será que a energia térmica está associada apenas à velocidade das moléculas? Vamos responder a essa pergunta na seção seguinte. 2 TEOREMA DE EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA A energia térmica de um sistema não está associada apenas à energia translacional das suas moléculas, pois a molécula também pode rotacionar, portanto, está relacionada também aos graus de liberdade que as moléculas possuem. No caso dos gases, o seu movimento determina o número de graus de liberdade, cada um dos graus associado a uma energia de (1/2)kT. O princípio da equipartição de energia afirma que cada componente da velocidade (linear ou angular) possui, em média, uma energia associada a cada molécula igual a (1/2)kT, ou seja, metade da constante de Bltzmann multiplicada pela temperatura absoluta. O número dos componentes da velocidade necessária para descrever completamente o movimento de uma molécula constitui o número de graus de liberdade. Para um gás monoatômico, existem três graus de liberdade (para componentes das velocidades vx, vy e vz). Isso resulta em uma energia cinética total média por molécula igual a 3(1/2)kT (YOUNG; FREEDMANN, 2008, p. 232). TÓPICO 4 | EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA E CALOR ESPECÍFICO 195 Observe a figura a seguir. Existe um grau de liberdade de translação para cada uma das direções ortogonais entre si. FIGURA 27 – GRAUS DE LIBERDADE DE UMA MOLÉCULA EM UM GÁS FONTE: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAeuucAB/primeira-lei-termodinamica>. Acesso em: 3 mar. 2019. Uma molécula com uma configuração semelhante à da próxima figura possui dois graus de liberdade a mais. Além dos três graus de liberdade translacionais, há mais dois graus. Observe que a direção definida pela reta que une as três partículas não tem energia de rotação. Nas duas outras direções a energia de rotação é de (1/2)kT. A rotação em torno do eixo é desprezível porque, durante uma colisão, não existe variação de rotação em torno do eixo. FIGURA 28 – MOLÉCULA COM DOIS GRAUS DE LIBERDADE FONTE: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAeuucAB/primeira-lei-termodinamica>. Acesso em: 3 mar. 2019. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 196 Uma molécula com uma configuração semelhante à da próxima figurapossui mais três graus de liberdade com energia igual a (1/2)kT relacionados à rotação, além dos três graus de liberdade translacionais. FIGURA 29 – CONFIGURAÇÃO POSSÍVEL DE UMA MOLÉCULA COM TRÊS GRAUS DE LIBERDADE FONTE: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAeuucAB/primeira-lei-termodinamica>. Acesso em: 3 mar. 2019. Assim, a energia cinética média de uma molécula monoatômica com três graus de liberdade é: 3 2 K kT= A energia cinética de uma molécula diatômica com 5 graus de liberdade é: 5 2 K kT= Ou seja, para cada grau de liberdade associado à velocidade linear (translação) ou angular (rotação) somamos (1/2)kT para a energia cinética. 3 CALOR ESPECÍFICO Para estudar o calor específico de um gás, vamos considerar que o volume não varia. Assim, não precisamos acrescentar as variações de energia devido ao trabalho quando há variação de volume de modo que todo o calor fornecido ao gás será empregado no aumento da energia molecular. Portanto, chamaremos de CV o calor específico molar para o volume constante. TÓPICO 4 | EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA E CALOR ESPECÍFICO 197 Tomemos a energia cinética média de translação obtida na equação (15), que agora sabemos ser igual à energia cinética total de uma molécula monoatômica: 3 2med K kT= Vamos estender o resultado para uma porção de N moléculas em um diferencial de temperatura dT: 3 2 dK NkdT= Lembrando que a constante de Boltzmann é a relação entre a constante universal dos gases e o número de Avogadro, k = R/NA: 3 2 A RdK N dT N = Recordando ainda que o número de mols é igual à relação entre o número de moléculas e o número de Avogadro, n = N/NA. 3 2 dK nRdT= Sabemos que o calor específico molar a volume constante é dado pela quantidade de calor trocado: VdQ nC dT= Levando em conta que a quantidade de calor dQ fornecida resultou no acréscimo de energia cinética dK, podemos igualar e obteremos: dQ dK= 3 2V nC dT nRdT= 3 2V C R= (gás monoatômico) O resultado mostra que o calor específico a volume constante de qualquer gás monoatômico é igual a (3/2) da constante universal dos gases. UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 198 5 2V C R= (gás diatômico) Calculamos os calores específicos e levando em conta a translação e a rotação da molécula, poderíamos incluir a vibração. Deixamos a vibração fora dos cálculos porque teríamos que considerar um modelo que utilizasse as definições da mecânica quântica. O movimento vibratório pode também contribuir para o calor específico dos gases. As ligações moleculares não são rígidas. Elas podem se esticar e encurvar, e as vibrações resultantes produzem graus de liberdade adicionais e energias adicionais. Contudo, para a maior parte dos gases diatômicos, o movimento vibratório não contribui de modo significativo para o calor específico. A razão para isso é sutil e envolve alguns conceitos de mecânica quântica. Resumidamente, podemos dizer que a energia da vibração só pode variar por meio de saltos finitos. Se a variação de energia no primeiro salto for maior do que a energia contida em muitas moléculas, então quase todas as moléculas permanecem no estado mínimo de energia. Nessas circunstâncias, as variações de temperatura não produzem variações apreciáveis na energia de vibração das moléculas, e dizemos que os graus de liberdade das vibrações são 'congelados'. Em moléculas mais complexas, os intervalos entre os níveis de energia de cada estado permitido são muito menores, e as vibrações contribuem para o calor específico (YOUNG; FREEDMANN, 2008, p. 234). No gráfico a seguir vemos a partir de quais valores o movimento vibratório passa a ser importante. A partir de, aproximadamente, 1000 K, a molécula de hidrogênio (diatômica) passa a possuir mais dois graus de liberdade vibracionais. GRÁFICO 5 – CALOR ESPECÍFICO A VOLUME CONSTANTE C V VERSUS TEMPERATURA T DE UM GÁS DE HIDROGÊNIO FONTE: Young e Freedmann (2008, p. 234) Utilizando o teorema da equipartição de energia, podemos supor que, para a partícula diatômica, em que obtivemos cinco graus de liberdade, o calor específico a volume constante seja igual a: 4R 3R 2R R/2 3R/2 5R/2 7R/2 R 0 25 50 100 250 500 1000 2500 5000 10000 Abaixo de 50 K, as moléculas de H2 passam por translação, mas não sofrem rotação nem vibrações. Um movimento rotacional apreciável começa a ocorrer acima de 50 K. Um movimento vibratório apreciável começa a ocorrer acima de 500 K. Translação Rotação Vibração T (K) 7R/2 5R/2 3R/2 TÓPICO 4 | EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA E CALOR ESPECÍFICO 199 Na tabela a seguir encontramos os calores específicos de alguns gases ideais com gases reais. Observe que são valores bem parecidos. Nos gases com moléculas poliatômicas, os valores reais são maiores porque, nesses casos, deveríamos incluir os graus de liberdade vibracionais. TABELA 2 – CALORES ESPECÍFICOS A VOLUME CONSTANTE FONTE: Halliday (2016, p. 239) Molécula Monoatômica Diatômica Poliatômica Real Real Real He 12,5 12,6 20,7 20,8 29,0 29,7 Ar N2 NH4 CO2 3R = 24,9 R = 20,8 R = 12,5 02 Ideal Ideal Ideal Exemplo Cv(J/mol . K) 5 2 3 2 200 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A molécula possui graus de liberdade associados aos seus movimentos de rotação e translação. • Podemos calcular o calor específico a volume constante. 201 AUTOATIVIDADE 1 Analise as afirmações e marque V para verdadeira e F para falsa. I- ( ) Uma molécula pode translacionar nas três direções, mas só pode rotacionar em duas. II- ( ) Uma molécula pode ter até seis graus de liberdade, sendo que três são translacionais e três são rotacionais. III- ( ) O princípio da equipartição de energia afirma que cada componente da velocidade (linear ou angular) possui, em média, uma energia associada a cada molécula igual a (1/2)kT. IV- ( ) Um sistema com alta temperatura transfere energia térmica para um sistema com baixa temperatura se os dois estiverem em contato, até que a temperatura se iguale. V- ( ) O princípio da equipartição de energia afirma que cada componente da velocidade linear, porém não da angular, possui, em média, uma energia associada a cada molécula igual a (1/2)kT. 2 Utilizando o teorema da equipartição de energia para a partícula diatômica, em que existem cinco graus de liberdade, o calor específico a volume constante é igual a: a) ( ) 5/2. b) ( ) 3/2. c) ( ) 1/2. d) ( ) 3. e) ( ) 6. 3 O movimento vibratório pode também contribuir para o calor específico dos gases. As ligações moleculares não são rígidas. Elas podem se esticar e encurvar, e as vibrações resultantes produzem graus de liberdade adicionais e energias adicionais. Para a maior parte dos gases diatômicos, o movimento vibratório: a) ( ) Não contribui de modo significativo para o calor específico. b) ( ) Não pode variar por meio de saltos finitos. c) ( ) Produz variações apreciáveis na energia de vibração das moléculas d) ( ) Aumenta os graus de liberdade das vibrações 'congeladas'. e) ( ) Contribui nos níveis de energia rotacionais. 4 Uma sala está bem isolada e possui 120 m3 de ar. O ar da sala está a uma temperatura de 294K. Quanto de calor devemos adicionar ao ar de forma que a temperatura aumente para 295K. 202 a) ( ) 1,22.105 J. b) ( ) 9,00.105 J. c) ( ) 2,06.105 J. d) ( ) 3,99.105 J. e) ( ) 5,00.105 J. 5 5 mols de argônio estão contidos em um cilindro a uma temperatura de 300 K. Quanto de calor deve ser adicionado para aumentar a temperatura a 600 K a volume constante? E a pressão constante? a) ( ) 3,5.104 J e 2,5.104 J. b) ( ) 1,5.104 J e 3,5.104 J. c) ( ) 1,5.104 J e 2,5.104 J. d) ( ) 3,5.104 J e 3,5.104 J. e) ( ) 2,5.104 J e 2,5.104 J. 203 TÓPICO 5 GASES REAIS E A EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Forças intermoleculares interferem nos fenômenos físico-químicos tais como solubilidade, viscosidade, ponto de ebulição e ponto de fusão. As forças de interação podem ser de diferentestipos, dependendo da natureza dos componentes do sistema. Em dispositivos eletrônicos em nível molecular, aproximando-se da ordem de nanômetros, a magnitude das interações intermoleculares se torna cada vez mais importante. Veja, na figura a seguir, a representação das forças entre as moléculas de dois materiais diferentes. Uma ferramenta computacional foi criada para calcular as forças, que são chamadas de forças de van der Waals. Assim, é possível prever se certas combinações de materiais vão ficar unidas. FIGURA 30 – GECKO HAMAKER: FERRAMENTA COMPUTACIONAL E DE MODELAGEM FONTE: <https://phys.org/news/2015-09-open-science-van-der-waals-interaction.html>. Acesso em: 5 mar. 2019. A estabilidade dos materiais depende dessa força que atua em nível molecular. 204204 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 2 FORÇAS INTERMOLECULARES Forças entre as moléculas do tipo íon-dipolo, dipolo-dipolo, dipolo induzido - dipolo induzido e ligações de hidrogênio são chamadas de forças de Van der Waals. A atração íon-dipolo acontece entre uma molécula polar e um cátion ou ânion (íons). Veja o exemplo a seguir. Trata-se da dissolução do sal de cozinha em água, cargas opostas da água e os íons do sal são atraídos um para o outro. FIGURA 31 – FORÇAS DE ATRAÇÃO ÍON-DIPOLO ATUANDO ENTRE OS ÍONS DO SAL E AS MOLÉCULAS DE ÁGUA FONTE: <https://xquimica.blogspot.com/2014/09/forcas-intermoleculares-e-as.html?m=1>. Acesso em: 5 mar. 2019. Na+ H2O CT CI FIGURA 32 – FORÇAS INTERMOLECULARES DO TIPO DIPOLO-DIPOLO FONTE: <http://www.quimicasuprema.com/2013/10/forcas-intermoleculares.html>. Acesso em: 17 maio 2019. 205205 TÓPICO 5 | GASES REAIS E A EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS FIGURA 33 – LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO FONTE: <http://experienciasemciencias.blogspot.com/2015/03/ligacoes-moleculares-ionicas-e. html>. Acesso em: 17 maio 2019. As lagartixas conseguem escalar as paredes devido às moléculas das suas patas, que possuem milhares de filamentos que interagem com as moléculas da superfície da parede. FIGURA 34 – LAGARTIXA FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/forca-intermolecular-dipolo-induzido. htm>. Acesso em: 17 maio 2019. 206206 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES 3 EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS Em 1873, o físico holandês Johannes Diderik van der Waals propôs aperfeiçoar a equação dos gases ideais, incluindo os efeitos de atração entre as moléculas e o volume ocupado. Deduziu que, se aumentamos a pressão de um gás, o volume ocupado por cada molécula torna-se cada vez mais expressivo durante as colisões, por isso substituiu o volume, v, por uma expressão que levasse isso em conta, v – b. b é o volume ocupado pelas moléculas por unidade de massa. Acrescentou um termo para representar as forças intermoleculares, a/ v2, em que a está associado às variáveis pressão e temperatura no ponto crítico. 2 2 ( ) anp V nb nRT V + − = p, V e T são as variáves de estado pressão, volume e temperatura, R é a constante universal dos gases e n o número de mols. Note que fazendo os coeficientes a e b iguais a zero, a equação se torna a lei dos gases ideais, pV = nRT. Ainda, Waals se baseou no fato de que a primeira derivada e a segunda derivada da pressão em relação ao volume são nulas no ponto crítico. GRÁFICO 6 – ISOTERMA MOSTRANDO PONTO DE INFLEXÃO DO GRÁFICO PRESSÃO VERSUS VOLUME FONTE: Çengel e Boles (2013, p. 142) T cr = constante Ponto crítico V P 207207 TÓPICO 5 | GASES REAIS E A EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS Encontramos o resultado das derivações a seguir. 2 20 e 0 cr cr T T const T T const P P V V= = = = ∂ ∂ = = ∂ ∂ Resolvendo, fornece para a constante a: 2 227 64 cr cr R Ta P = R é a constante universal dos gases, Tcr é a temperatura no ponto crítico e P cr é a pressão no ponto crítico. Para a constante b: 8 cr cr RTb P = As constantes podem ser determinadas a partir dos dados dos pontos críticos fornecidos em tabelas. A precisão da equação de estado de van der Waals é quase sempre inadequada, mas pode ser aperfeiçoada usando valores de a e b baseados no real comportamento do gás em uma faixa mais ampla, e não em um único ponto. Apesar de suas limitações, a equação de estado de van der Waals tem valor histórico, pois foi uma das primeiras tentativas de se modelar o comportamento dos gases reais (ÇENGEL; BOLES 2013, p. 143). Nos gases ideais não consideramos as interações das partículas entre si, porém essa interação existe nos gases reais. A equação de estado de um gás de Van der Waals é uma tentativa de descrever o comportamento em um gás real. Exemplo: Calcule a pressão exercida por um gás de Van der Waals com 1,5 mol de ácido sulfídrico, confinado a 500 K em um cilindro de 150 cm3. Dado a = 4,484 atm.L2 /mol2 e b = 4,34 x 10-2 L/mol. Solução: Usando a expressão obtida para um gás de Van der Waals, temos: 2 2 ( ) anp V nb nRT V + − = 208208 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES ( ) ( ) 2 2 2 6 3 2 2 3 6 3 3 L4,484atm. 1,5mol 1000 L150.10 1,5mol 4,34 .1 0 1 mol1000150 .10 1 Lmolp m mLm m − − − + − = ( )( )1,5mol 0,082Latm / Kmol 500K= ( ) ( )3 223 10,089atm 150.10 65,110 L 61,50 150.10 p L Latm L − − − + − = ( )( )2 3448,4 / 84,89.10 61,50p atm L L Latm−+ = ( )384,89.10 38,065 61,50p L Latm Latm− + = ( )384,89.10 61,50 38,065p L Latm Latm− = − ( )384,89.10 23,44p L Latm− = 276p atm= Resposta: A pressão é de 276 atm. 209209 TÓPICO 5 | GASES REAIS E A EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS LEITURA COMPLEMENTAR EINSTEIN E A TEORIA DO MOVIMENTO BROWNIANO O ano miraculoso de Einstein é principalmente lembrado pelas rupturas da teoria da relatividade e do “quantum de luz”. No entanto, a tese de doutoramento, terminada em abril de 1905 e aceita pela Universidade de Zurique em julho, e o primeiro artigo sobre o movimento browniano, recebido para publicação nos Annalen der Physik em maio, são trabalhos de alta qualidade, que já teriam sido suficientes para estabelecer a reputação do jovem Einstein. O tema desses trabalhos é o relacionamento entre o mundo microscópico das partículas (átomos, moléculas) em perene movimento e as leis visíveis do universo macroscópico da termodinâmica. Tanto na tese quanto no artigo sobre o movimento browniano há propostas para a estimativa do número de Avogadro, grandeza paradigmática do novo atomismo, equivalente ao número de moléculas em um mol de uma substância. Todos os trabalhos de 1905 compartilham a engenhosidade característica de Einstein, que é sempre ancorada na realidade profunda dos sistemas físicos. As grandes vertentes da física no final do século XIX eram a mecânica newtoniana, aplicada a pontos materiais e meios contínuos, o eletromagnetismo maxwelliano, que havia englobado a óptica, e a termodinâmica, que se referia ao calor e a variáveis macroscópicas, como a temperatura ou a pressão de um gás. As leis da termodinâmica, que impressionavam Einstein pela sua generalidade, foram resumidas por Clausius: “a energia do universo é constante; a entropia do universo tende a um valor máximo”. Lavoisier, que foi contemporâneo da Revolução Francesa, ainda relacionava o calórico, fluido imponderável que transita de corpos mais quentes para corpos mais frios, entre os seus “elementos”. No século XIX foi aos poucos sendo abandonada a ideia do calórico, percebendo-se que o calor é apenas uma forma de energia, que temperatura e calor são grandezas distintas, que a energia total (incluindo a energia mecânica) é conservada em processos e sistemas fechados. A nova função entropia, característica singular da termodinâmica, foi introduzida por Clausius a fim de compatibilizar a ideia de conservação da energia com a teoria de Carnot sobre o rendimento das máquinas térmicas. Uma das expressões típicas da termodinâmica, de caráter experimental, fenomenológico, é a “lei dos gases perfeitos”, estabelecendo que o produto da pressão pelovolume de um gás é função apenas da temperatura (na linguagem moderna, pV = nRT, em que n é o número de moles, R é a constante universal dos gases e T a temperatura absoluta). Na segunda metade do século XIX, já era bem conhecido que essa expressão fenomenológica, independentemente de qualquer hipótese sobre a constituição da matéria, pode igualmente ser deduzida a partir do modelo de um gás formado por partículas microscópicas, em perene movimento, obedecendo às leis da mecânica. A pressão do gás é causada pelo 210210 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES impacto das partículas nas paredes do recipiente. Maxwell foi mais adiante, propondo que as velocidades das moléculas do gás se distribuem ao acaso, de acordo com a “lei dos erros” de Gauss e Laplace. Nessa teoria cinético-molecular dos gases, o calor seria a energia mecânica contida no movimento desordenado das partículas microscópicas. Nas décadas finais do século XIX, o programa de pesquisa de Boltzmann em Viena, que Einstein estudou durante o seu período de formação, consistia na tentativa de obter a forma e o comportamento da função entropia no contexto desse modelo de um gás de partículas. No início do século XX, tanto o programa de Boltzmann quanto os resultados da teoria cinética dos gases eram vistos com suspeita, talvez como simples artifícios matemáticos, distantes da realidade dos sistemas físicos. Apesar das propostas sobre a existência do átomo químico, apesar das primeiras estimativas do número de Avogadro e de dimensões moleculares, as suspeitas persistiam. Com os recursos da época, mesmo se existissem, os átomos certamente não poderiam ser observados! De acordo com os energeticistas, opositores da teoria atômica, a termodinâmica macroscópica e fenomenológica, que prescindia de qualquer modelo microscópico de constituição da matéria, seria o modelo correto de ciência. Para esses energeticistas (Ostwald e Mach, por exemplo, com enorme influência na física alemã), a teoria cinético-molecular do calor, baseada em entidades invisíveis, metafísicas, não deveria ter espaço na ciência. Einstein adotou desde cedo uma visão realista, objetiva sobre a existência de átomos e moléculas. Na sua tese de doutoramento Einstein analisa o fenômeno de difusão das partículas do soluto em uma solução diluída (partículas de açúcar em água) com o objetivo de obter estimativas para o número de Avogadro e o diâmetro das partículas do soluto. As propriedades termodinâmicas das soluções diluídas já tinham sido suficientemente estabelecidas (sabia-se, por exemplo, que a pressão osmótica, exercida pela solução sobre uma membrana semipermeável, impedindo a passagem do soluto, comporta-se de acordo com a lei dos gases perfeitos). Na parte inicial da tese, Einstein faz um cálculo hidrodinâmico, com base nas equações de Navier-Stokes para o escoamento de um fluido incompressível, a fim de obter a viscosidade efetiva do fluido na presença do soluto. No modelo adotado, as moléculas do soluto são esferas rígidas, não interagentes, e bem maiores do que as moléculas do solvente. O resultado final, que mais tarde precisou ser ligeiramente corrigido, é dado por: * (1 ),η η φ= + Em que η* é a viscosidade efetiva, η é a viscosidade do solvente puro e φ é a fração do volume total ocupado pelas partículas do soluto. Utilizando a densidade de massa, ρ, e a massa molar do soluto, m, que são grandezas experimentalmente acessíveis, temos: 34 * 1, 3 ANa m ρ ηφ π η = = − 211211 TÓPICO 5 | GASES REAIS E A EQUAÇÃO DE VAN DER WAALS Em que a é o raio das partículas (esféricas) do soluto. Já que as viscosidades podem ser medidas, aparecem como incógnitas o raio das partículas do soluto e o número de Avogadro NA. Na segunda parte da tese, Einstein recorre a um argumento engenhoso, deduzido de forma alternativa no artigo sobre o movimento browniano, a fim de obter uma segunda relação entre a e NA. O resultado final é uma das expressões conhecidas de Einstein, precursora dos teoremas de flutuação-dissipação, relacionando o coeficiente de difusão D com a temperatura e a viscosidade do fluido: . 6 A RTD a Nπ η = A partir das expressões anteriores, com os dados disponíveis na época para soluções de açúcar em água, Einstein obteve NA = 2,1×1023 (partículas por mol) e a = 9,9×10-8 cm, concluindo que “o valor encontrado para NA apresenta uma concordância satisfatória, em ordem de magnitude, com os valores encontrados para essa grandeza por outros métodos”. Mais tarde, com dados experimentais um pouco melhores, o valor do número de Avogadro foi modificado para NA = 3,3×1023. A realidade de átomos e moléculas foi sendo imposta por resultados desse tipo. Graças à concordância de valores obtidos por pesquisadores diferentes, com estimativas independentes, as resistências ao atomismo foram aos poucos sendo vencidas. O trabalho sobre as leis que governam o movimento browniano e a sua brilhante confirmação experimental por Perrin e colaboradores alguns anos depois foram decisivos para a aceitação da realidade de átomos e moléculas. Em trabalhos anteriores a 1905, Einstein já tinha utilizado a definição estatística de entropia, que ele chamava de “princípio de Boltzmann”, para estudar as flutuações de energia de um sistema em contato térmico com outro sistema muito maior. A energia do sistema de interesse flutua em torno de um valor médio, que pode ser identificado com a energia interna termodinâmica. Sem conhecimento dos trabalhos anteriores de Gibbs, Einstein mostrou que o valor médio do desvio quadrático da energia depende do número de partículas microscópicas. No caso de um fluido, o desvio relativo torna-se absurdamente pequeno, sem nenhuma chance de ser observado. No movimento browniano, no entanto, Einstein vislumbrava uma oportunidade de observar flutuações dessa mesma natureza. Nesse fenômeno, partículas macroscopicamente pequenas em suspensão, mas muito maiores que as moléculas do fluido puro, estão descrevendo um movimento incessante, errático, de vai-e-vem, que podia ser observado (e poderia ser medido) nos microscópios da época. Esse comportamento foi caracterizado pelo botânico Robert Brown, na primeira metade do século XIX, que observou o movimento incessante de partículas de pólen dissolvidas em água. O mesmo tipo de movimento também foi observado em partículas inorgânicas de cinza, convencendo Brown sobre a natureza física do fenômeno. Ao contrário das flutuações invisíveis das moléculas de um gás, no movimento browniano tornam-se visíveis no microscópio as flutuações das partículas bem maiores em suspensão. 212212 UNIDADE 3 | TEORIA CINÉTICA DOS GASES A teoria de Einstein do movimento browniano é baseada na semelhança entre o comportamento de soluções e suspensões diluídas, na relação entre o coeficiente de difusão e a viscosidade, que já havia sido obtida na tese de doutoramento, e em uma dedução probabilística da equação da difusão. Através desse raciocínio probabilístico Einstein obtém a celebrada expressão do percurso quadrático médio no movimento browniano: 2 2 , 3 A RTx Dt t N aπ η = = Em que 〈x2〉 e o tempo t podem ser medidos (conhecendo-se T, η e a, é possível determinar o número de Avogadro NA). Foi importante que Einstein indicasse claramente a grandeza que deveria ser medida (isto é, distâncias ao invés de velocidades). As experiências de Perrin e colaboradores consistiram em registrar a observação, no microscópio, do movimento de um conjunto grande de partículas em suspensão, cuja forma esférica podia ser muito bem controlada. Nas suspensões utilizadas, essas experiências verificaram o comportamento ideal da pressão osmótica e a lei de força de Stokes, ingredientes importantes da teoria de Einstein. Além disso, produziram nova estimativa para o número de Avogadro. O sucesso dos trabalhos de Perin foi notável. Os valores obtidos e a concordância com a teoria de Einstein representaram contribuição significativa para a aceitação geral do atomismo.Uma equação diferencial para o movimento browniano foi escrita por Langevin em 1908, recuperando a relação de Einstein e fazendo contato com trabalhos paralelos de Smoluchowski. A moderna equação diferencial estocástica associada à “dinâmica de Langevin” tem sido fartamente utilizada a fim de introduzir um comportamento dinâmico no contexto de sistemas estatísticos clássicos, como o modelo de Ising. A dinâmica de Langevin é a possibilidade mais simples na presença de flutuações estocásticas. Há um número crescente de aplicações contemporâneas em vários problemas de física, química ou biologia, em que as flutuações desempenham papel relevante. Um mecanismo de Langevin, na presença de potencial adequado, foi proposto para explicar o funcionamento dos motores moleculares, responsáveis pelo metabolismo biológico. FONTE: SALINAS, Silvio R. A. Einstein e a teoria do movimento browniano. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 27, n. 2, p. 263-269, 2005. 213 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem forças intermoleculares que interferem nos fenômenos físico-químicos dependendo da natureza das componentes do sistema. • As forças de van der Waals mantêm as moléculas unidas e é possivel prever se certas combinações de materiais ficam unidas. 214 AUTOATIVIDADE 1 Forças entre as molécuals do tipo íon-dipolo, dipolo-dipolo, dipolo induzido - dipolo induzido e ligações de hidrogênio são chamadas de: a) ( ) Forças de Van der Waals. b) ( ) Forças de Corollis. c) ( ) Forças de impacto. d) ( ) Forças normais. e) ( ) Forças gravitacionais. 2 Calcule a pressão exercida por 1,0 mol de ácido sulfídrico. Considere como sendo um gás de van der Waals confinado a 273,15K em 22,414 L. Dado a = 4,484 atm.L2/mol2 e b = 4,34 x 10-2 L/mol. a) ( ) 3,00 atm. b) ( ) 0,99 atm. c) ( ) 1,58 atm. d) ( ) 2,81 atm. e) ( ) 9,81 atm. 3 Calcule a pressão exercida por 1,0 mol de ácido sulfídrico. Considere como sendo um gás de van der Waals confinado a 500K em 150 cm3. Dado a = 4,484 atm.L2/mol2 e b = 4,34 x 10-2 L/mol. a) ( ) 300 atm. b) ( ) 185 atm. c) ( ) 158 atm. d) ( ) 2,81 atm. e) ( ) 9,81 atm. 4 A precisão da equação de estado de van der Waals é quase sempre inadequada, mas pode ser aperfeiçoada usando valores de a e b baseados no real comportamento do gás em uma faixa mais ampla, e não em um único ponto. A equação de Van der Waals fornece o estado de um gás: a) ( ) Monoatômico. b) ( ) Ideal. c) ( ) Poliatômico. d) ( ) Real. e) ( ) Comprimido. 215 REFERÊNCIAS ATKINS, Peter; JONES, Loreta I. Princípios de química, questionando a vida moderna e o meio ambiente. Bookman: Porto Alegre, 2012. BAUER, Wolfgang; WESTFALL, Gary D.; DIAS, Helio. 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