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EXMº. SR. DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO... XXX, advogado (a) inscrito (a) na Ordem dos Advogados do Brasil, seção de XXX, sob o nº XXX, com escritório profissional nesta comarca, na Rua XX, e-mail XXX, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, impetrar HABEAS CORPUS REPRESSIVO COM PEDIDO LIMINAR com fundamento no artigo 5º, inciso LXVIII, da CF/88 e artigos 647 e seguintes do CPP. Em favor de KELYE, nacionalidade..., estado civil..., desempregada, portadora do RG nº ..., e do CPF nº..., endereço eletrônico ..., residente e domiciliada...., nesta cidade, atualmente recolhida no presídio, contra ato ilegal praticado pelo Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da XXX Vara Criminal da Comarca de XXX, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas. I – DOS FATOS Kelye, foi denunciada pelo crime de furto, pois teria subtraído uma bolsa de grife internacional da vítima Maria no dia 15 agosto de 2021 por volta das 20:30. No dia seguinte, após a comunicação prisão em flagrante à Autoridade Judiciária, Kelye foi encaminhada conforme determinado à audiência de custódia. A mesma se encontra desempregada a 2 anos e alegou que precisava de dinheiro para pagar o aluguel para não ser despejada e que não tinha conhecimento do valor da bolsa. Declarou não possuir condições financeiras de arcar com despesas com advogado e o único Defensor Público existente na Comarca estava de licença médica. Sob o argumento de cumprir o prazo de 24h para realização da audiência de custódia, o ato ocorreu sem a presença de um defensor, apenas com a presença do representante do Ministério Público. Além disso, Kelye ficou durante todo o ato algemada, prestou suas declarações, respondendo às perguntas do Juiz e do Promotor. Kelye tem bons antecedentes, é ré primária, possui residência fixa, apesar de desempregada, é pessoa bem quista na clínica em que trabalhou como enfermeira. Ainda assim, Kelye teve sua prisão em flagrante convertida em preventiva fundamentando-se na gravidade do crime, nos termos do artigo art. 310, II, c/c art. 312, c/c art. 313, I, todos do CPP, para garantia da ordem pública, sem levar em conta a primariedade e os bons antecedentes. II DA TUTELA DE URGÊNCIA O fundamento da tutela de urgência em sede de Habeas Corpus é extraída dos artigos 649 e 660, §2º do CPP e possui natureza cautelar. O fumus boni iuris é comprovado de acordo com os fatos e provas que instruem o presente remédio Já o periculum in mora encontra respaldo na violação ao direito fundamental de ir e vir e de Kelye diante da prisão manifestadamente ilegal. III DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS De acordo com o artigo 5º, LXVIII, da CRFB/88, será concedido habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. O remédio também é respaldado pela legislação processual penal, a partir do artigo 647. A princípio é importante ressaltar que a Paciente é pessoa íntegra, bem quista, de bons antecedentes e jamais respondeu a qualquer processo-crime. Verifica-se que a mesma se encontra desempregada e sem condições financeiras para cobrir suas despesas básicas, que ao ver a vítima com rês-furtiva foi tomada por um sentimento intenso e de maneira súbita decidiu subtrair a bolsa sem conhecimento de seu alto valor. O Excelentíssimo Juiz, ao utilizar os artigos 310, II, c/c art. 312, c/c art. 313, I, todos do CPP, como motivação para manutenção da prisão e conversão em prisão preventiva, apenas fez menção ao requisito de garantia da ordem pública e a gravidade do crime. Ocorre que, o fundamento de garantia da ordem pública ofende os princípios basilares que regem o processo penal, tais como o princípio do devido processo legal, pois a liberdade da Paciente é retirada sem que haja motivos cautelares justificadores, configurando até de puro arbítrio do julgador. Com efeito, a simples gravidade abstrata por se tratar de um delito, se desvinculada de fundamentos concretos extraídos dos autos, não se presta a autorizar a decretação da prisão preventiva, pois se assim o fosse, bastaria que o paciente supostamente cometesse determinado delito para que fosse, automaticamente, preso, o que retiraria da custódia cautelar seu caráter instrumental. Da mesma forma, a simples menção a requisitos autorizadores da prisão preventiva, sem que sejam apontadas circunstâncias do caso concreto, não se presta a embasar a segregação cautelar. Ademais, o artigo 313, I, do CPP, menciona a possibilidade de decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos, o que não é o caso do furto, crime pelo qual a paciente é acusada, que conforme artigo 155 do CP, tem pena de um a quatro anos e multa. A prisão preventiva, por sua vez, medida cautelar mais grave, passou a ser entendida como a “ultima ratio” e, portanto, só podendo ser decretada de maneira subsidiária, isto é, somente quando nenhuma das outras medidas cautelares for necessária e adequada ao caso. Nesse sentido, dispõem o caput e o § 6º do artigo 282 do CPP: Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: I - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; II - Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. (...) § 6º - A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). Outrossim, o ato processual que ensejou a conversão da prisão em flagrante em preventiva, e que se encontra regulamentada pela Resolução nº 213, de 15 de dezembro de 2015, do Conselho Nacional de Justiça, não seguiu os procedimentos adequados. Senão Vejamos: Art. 4º A audiência de custódia será realizada na presença do Ministério Público e da Defensoria Pública, caso a pessoa detida não possua defensor constituído no momento da lavratura do flagrante. Art. 6º Antes da apresentação da pessoa presa ao juiz, será assegurado seu atendimento prévio e reservado por advogado por ela constituído ou defensor público, sem a presença de agentes policiais, sendo esclarecidos por funcionário credenciado os motivos, fundamentos e ritos que versam a audiência de custódia. Parágrafo único. Será reservado local apropriado visando a garantia da confidencialidade do atendimento prévio com advogado ou defensor público. A Paciente teve seu direito a defesa cerceado, uma vez que não houve orientação anterior com um defensor e muito menos a participação em audiência, além de ferir o procedimento da audiência de custódia, a decisão tomada pelo Magistrado vai de encontro ao que rege a própria Constituição Federal que determina em seu artigo 5º parágrafo LV: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Audiência de Custódia, ato pré-processual criado para prevenir e reprimir a prática de tortura no momento da prisão, assegurando o direito à integridade física e psicológica das pessoas submetidas à custódia estatal, quem a preside é o Juiz, como bem dispõe o inciso IV do artigo 8º da supracitada resolução, este tem o dever de de verificar se houve efetiva oportunidade do exercício dos direitos constitucionais: Art. 8º Na audiência de custódia, a autoridade judicial entrevistará a pessoa presa em flagrante, devendo: (...) IV - questionar se lhe foi dada ciência e efetiva oportunidade de exercício dos direitos constitucionais inerentes à sua condição, particularmente o direito de consultar-se com advogado ou defensor público , o de ser atendidopor médico e o de comunicar-se com seus familiares; (Resolução nº 213, de 15 de dezembro de 2015, do Conselho Nacional de Justiça). O Magistrado além de não seguir o procedimento da forma adequada, não preservou os direitos inerentes a Constituição da República, deflagrando os direitos da Paciente em própria audiência, pois manteve a acusada algemada, no referido artigo 8º, inciso II e IX e em Súmula Vinculante nº 11 do STF é determinante o dever do Juiz em tomar as providências para sanar as irregularidades, que no presente caso deixou acontecer e ainda assegurar que a paciente não esteja algemada. (…) II - assegurar que a pessoa presa não esteja algemada, salvo em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, devendo a excepcionalidade ser justificada por escrito; (...) IX - adotar as providências a seu cargo para sanar possíveis irregularidades;(Resolução nº 213, de 15 de dezembro de 2015, do Conselho Nacional de Justiça). Súmula Vinculante nº. 11. STF. Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. É notório, com a devida vênia, que o Ilustre Magistrado se limitou a presidir a audiência sem garantir os direitos da paciente e sem motivação adequada para converter a prisão em preventiva, injusta e ilegalmente pela autoridade coatora, em prejuízo de sua liberdade. Desta forma, é inviável a manutenção da prisão preventiva, devendo a Paciente por todo o exposto ser colada imediatamente em liberdade conforme determina o artigo 321 do CPP, e a prisão preventiva poderá ser substituída por qualquer uma das medidas cautelares diversas da prisão prevista no artigo 319 do CPP: Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. 5 – DO PEDIDO Diante do exposto, requer: A) estando presentes o “fumus boni iuris” e o “periculum in mora”, requer que Vossa Excelência conceda a medida liminar para que seja determinada a revogação da prisão preventiva imposta a paciente determinando-se a imediata liberdade, para que a mesma responda em liberdade o desenrolar do processo, sendo expedido Alvará de Soltura em favor da paciente Kelye. B) Caso Vossa Excelência julgue necessário, requer o Paciente a expedição de ofício, a fim de que o MM. Juiz a quo preste as informações de estilo e, após o recebimento destas e do respeitável parecer da douta Procuradoria de Justiça, conceda este Egrégio Tribunal a ordem de HABEAS CORPUS definitiva, para que responda em liberdade o desenrolar do processo, mediante termo de comparecimento a todos os atos a que for intimada, como medida de inteira justiça. Termos em que, pede e espera deferimento. Local/Data Advogado (a): Assinatura OAB/UF