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GUIA LITERÁRIO DIEGO DOS SANTOS ROCHA A REDOMA DE VIDRO Esther Greenwood tem tudo o que a sociedade espera de uma jovem dos anos 1950 - é bonita, tem um namorado, aspirações artísticas e acima de tudo, é casta. Durante a faculdade, Esther é selecionada através de um concurso para estagiar em uma prestigiada revista de moda em Nova York, mas à medida que lida com a alta sociedade, as hipocrisias das relações humanas e as expectativas quanto ao futuro, passa a entrar em conflito consigo mesma, o que acarreta um profundo quadro de depressão. Esther não consegue se manter estável psicologicamente ao perceber que há uma pressão para colocar os valores morais tradicionais sobre seus interesses pessoais, tornando-se prisioneira de tudo o que a atormenta. Publicado em 1963, o livro é o primeiro e único romance da escritora norte- americana Sylvia Plath. A obra é considerada semiautobiográfica, contendo diversas temáticas presentes na vida da autora, como a depressão, a pressão da maternidade, a sociedade patriarcal, a desvalorização da arte, dentre outras. Vale ressaltar que o livro também aborda o tema do suicídio, o que pode ser uma espécie de gatilho para algum leitor desavisado. 4. “Não teria feito a menor diferença se ela tivesse me dado uma passagem para a Europa ou um cruzeiro ao redor do mundo, porque onde quer que eu estivesse – fosse o convés de um navio, um café parisiense ou Bangcoc – estaria sempre sob a mesma redoma de vidro, sendo lentamente cozida em meu próprio ar viciado.” SYLVIA PLATH E A REESCRITA DO EU UMA OBRA SEMIAUTOBIOGRÁFICA Embora seja uma obra tocante e, algumas vezes, desconfortável, "A Redoma de Vidro" traz uma reflexão muito importante sobre o quanto uma pessoa pode se sentir afetada ao lidar com experiências que a aprisionam e sufocam. Embora seja considerado um romance de cunho autobiográfico, “A Redoma de Vidro” não pode ser lido como um relato exato da vida da autora. Na obra, Sylvia mistura muitos eventos de sua própria vida com aspectos da sua própria protagonista, Esther, articulando eventos e criando uma escrita que serve como uma espécie de válvula de escape. TRECHOS DA OBRA Me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés. (PLATH, 2019, p. 88-89) Eu sabia perfeitamente que os carros estavam fazendo barulho, e que as pessoas dentro deles e atrás das janelas iluminadas dos prédios estavam fazendo barulho, e que o rio estava fazendo barulho, mas eu não conseguia ouvir nada. A cidade estava dependurada na minha janela, achatada como um pôster, brilhando e piscando, mas poderia perfeitamente não estar lá, já que não me afetava em nada (PLATH, 2019, p. 26) Não há protestos, nem horror nem muita revolta. Essa é a parte apavorante. A execução será realizada esta noite; uma pena que não pode ser televisionada... muito mais realista e exemplar do que os programas comuns sobre crime. Duas pessoas de verdade sendo executadas. Não importa. A reação emocional mais forte nos Estados Unidos será um bocejo infinitamente amplo, democrático, entediado, doméstico e complacente. (PLATH, 2017, p. 627)