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1 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 Epidemiologia O câncer de próstata é o câncer mais comum no homem, excetuando os de pele não-melanoma (mais comum tanto no sexo masculino quanto no feminino). A incidência é maior em algumas áreas do mundo e, no Brasil, ganha em disparada em relação ao CA de cólon e reto (2º lugar). É uma patologia que tem uma característica bem indolente, de crescimento lento e que não tem uma replicação muito rápida. Na grande maioria das vezes é diagnosticada na fase inicial, principalmente com eventos de prevenção. Os pacientes têm fácil acesso aos exames principalmente aos de rastreio. Muitas vezes, os desfechos do CA de próstata na doença metastáticas são muito ruins. Na grande maioria das vezes, os pacientes cursam com metástase óssea e, por isso, existe uma dificuldade grande no manejo, principalmente em casos de cuidados paliativos, pois há muita dor associada. Além disso, o paciente tem uma certa dificuldade de se locomover, por conta de perda de força muscular. É importante evitar esses desfechos. O câncer de próstata é uma doença de caráter hormonal, bem parecida com CA de mama (tem CA de mama que tem perfil hormonal e os que não tem). O CA de próstata, na grande maioria das vezes, tem perfil hormonal. A primeira linha de tratamento que se utiliza é hormônioterapia ou bloqueio hormonal (necessário na fase inicial). Os pacientes têm resposta boa ao bloqueio hormonal, mas às vezes há uma necessidade de troca lá na frente. Incidência ao redor do mundo Destaque para a região das Américas e África – tumor mais incidente. Fatores de risco • Idade: é mais comum em pacientes mais idosos, ou seja, a idade aumenta o risco. • História familiar: Tem que perguntar ao paciente se tem história familiar de câncer, se tem irmãos (importante fazer o rastreamento mais precoce). Principalmente em jovens (assim como no CA de mama) histórico familiar de parentes de primeiro grau que tiveram a doença no estágio mais precoce entre 50 e 60 anos; normalmente aos 70 a tendência é ter um CA esporádico; acima de 70 anos está dentro do padrão da doença esporádica, na grande maioria das vezes, não tem correlação familiar. Assim, se houve numa idade mais precoce, abaixo dos 60 anos, merece destaque. Assim como pacientes da raça negra, pois os afrodescendentes têm que ter um cuidado especial (tendência a ter CA de próstata em estágio mais precoce). Então, se é um paciente afrodescendente e teve CA de próstata, prestar atenção naquele núcleo familiar, o qual precisa fazer um rastreio em um estágio mais precoce. Na grande maioria das vezes, esse histórica familiar vai ser necessário, principalmente se for em um estágio mais precoce. A HPB na maioria das vezes é benigna. O PSA vem maior, mas é benigno. • Alterações genéticas: Ter maior cuidado com os afrodescendentes, pois eles têm tendência de ter CA de próstata mais jovens. • Dieta rica em gordura: A obesidade e câncer estão bem relacionados, principalmente os CA com perfil hormonal. Lembrar da conversão de colesterol, de gordura, de tecido adiposo (correlação com o câncer de mama). Se o paciente faz uma dieta mais rica em gordura, está acima Câncer de Próstata 2 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 do peso, tem um risco maior. Porque toda doença com correlação hormonal na etiologia precisa ter um controle de peso rigoroso e adequado. Sinais e sintomas Às vezes, o diagnóstico é feito pelo rastreio (PSA, toque retal), mas ao fazer a história clínica, o paciente não tem nenhum sintoma. Isso porque às vezes a próstata está pequena ainda, outras vezes é até a HPB que está presente. Tem pacientes que tem câncer, mas tem HPB e, muitas vezes, a própria HPB faz a próstata crescer um pouco mais e começa a fazer sintomas urinários. Não associar tudo à neoplasia maligna. A própria doença (tumor) pode crescer e causar sintomas urinários obstrutivos e irritativos, mas muitas vezes não causa sintomas específicos. SINTOMAS URINÁRIOS OBSTRUTIVOS E IRRITATIVOS ❖ Hesitação urinária; ❖ Diminuição do jato urinário; ❖ Esvaziamento incompleto da bexiga; ❖ Urgência urinária; ❖ Disúria; ❖ Incontinência. Quando ocorre uma doença mais avançada, que o paciente está com um tumor maior e a próstata grande, começa a fazer alguns sinais compressivos. SINTOMAS CAUSADOS PELA INVASÃO DE ESTRUTURAS VIZINHAS: Quando ocorre uma doença mais avançada, maior crescimento do tumor, próstata grande → sinais compressivos. ❖ Dores pélvicas, dor ou sangramento retal e inchaço das pernas são consequências do comprometimento dos linfonodos da região (linfedema). Paciente que tem acometimento linfonodal, mas pode pegar acometimento linfonodal de região inguinal. Então, já é uma doença um pouco mais avançada. Nestes casos, por conta da drenagem, os pacientes podem ter um linfedema importante. SINTOMAS DA DOENÇA METASTÁTICA Sintomas de uma doença crônica. ❖ Perda de peso e apetite, anemia (o tumor infiltrou o osso e pode infiltrar também a medula óssea), cansaço e dores ósseas (diminui a qualidade de vida) decorrentes de metástases ósseas. Principal sítio de metástase: osso. Pode ocorrer onde tiver sítio metastático. Há pacientes super SCAN, paciente tem doença difusa. Então, pega os principais ossos: vértebras, osso longos (fêmur), calota craniana e arco costal. Pode ter em bacia, dependendo da carga tumoral. Orientar ao paciente evitar esforço e ter cuidado com quedas, pois são ossos frágeis. Principalmente em vértebra, risco de paraplegia e muitas vezes sente dores em arco costal. Faz cintilografia óssea, sempre investigar dor. Mesmo o paciente com alta probabilidade de doença metastática. Eles podem ter um risco maior de ter a doença e justamente a presença da doença óssea tem que ter um destaque, por causa de fratura. Com isso, diminui a qualidade de vida. ❖ Palidez cutânea: secundária a anemia por infiltração da medula óssea. Ocasiona perda da qualidade de vida ❖ Manifestações indicativas de metástases hepáticas (em casos mais raros): é catastrófico, com vários nódulos hepáticos. Em pacientes mais jovens ocorrem tumores mais agressivos, com maior índice de proliferação. ❖ Falta de ar e tosse, como consequência de disseminação pulmonar ou pleural (em casos mais raros). A disseminação pulmonar é mais comum do que a hepática. Predileção: 1- osso/2- pulmão e pleura/3-figado.... mais raramente cérebro. Ou é um tumor que é realmente agressivo de início logo ao diagnóstico ou um tumor que está crescendo, um PSA que não fez rastreio, paciente nunca foi ao médico, nunca colheu um PSA. Diagnóstico e estadiamento • O rastreamento é o responsável pelo diagnóstico precoce da doença, embora seja controverso; 3 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 As campanhas de outubro rosa, novembro azul são importantes, mas precisa direcionar os pacientes. Às vezes um paciente de alto risco nunca participou das campanhas. O que é necessário para um grande controle é ter uma assistência básica adequada. É muito importante a orientação, como por exemplo de um paciente com PSA alto e que não sabe a quem entregar, não sabe identificar e já pode achar que estar com CA. Muitas vezes o paciente está na faixa de normalidade, mas está com CA. • Exames: PSA e toque retal: É necessário fazer os dois, não tem como fazer um e não fazer o outro. No toque retal avalia a próstata por inteiro, avalia a consistência da próstata (endurecida ou fibroelástica - padrão normal), presença de alguma nodulação, se está aumentada de tamanho. Se o paciente está com toque retal alterado, o urologista pede ultrassom e seguirá com uma biópsia. • O diagnóstico pode ser realizadopor biópsia guiada por RM ou por biópsia guiada por USG. • Estudo PROMIS. ❖ Demonstrou que para pacientes com PSA elevado, o uso da RM multiparamétrica antes da biópsia guiada por US reduziu em até 27% as biópsias desnecessárias. Às vezes é um paciente que tem um USG com a próstata aumentada de tamanho, um PSA aumentado, mas há dúvida se é HPB ou CA. Então, a RNM multiparamétrica consegue avaliar a próstata se há característica suspeita, se é uma doença neoplásica ou não. Muitas vezes o que parece ser grande no USG, quando vai pra RNM consegue diminuir a ansiedade. A RM tem a classificação em pi-rads (1,2,3,4 e 5), conseguindo dizer se aquilo tem um componente maior de benignidade ou não. A HPB consegue aumentar PSA e a próstata. E muitas vezes não precisa biopsiar. Consegue ter uma acurácia muito maior que USG e tranquilizar o paciente e o médico. Ex: RNM com pi-rads 4 é indicado para biópsia. Em relação às amostras, são necessários pelo menos 8 fragmentos colhidos (fragmentos do ápice, da base e dos dois lobos), sendo necessário que haja uma quantidade considerável para poder ter uma garantia de que todas as áreas foram pegas e que não foi feita uma biópsia com baixo índice de acurácia. Anatomia patológica O ESCORE GLEASON, DE 1 A 5 • Subtipo mais comum – adenocarcinoma usual da próstata; • Tumor único com graduação particular, com grande heterogeneidade morfológica; • Score de Gleason é uma pontuação dada a um câncer de próstata baseada em sua aparência microscópica; • O escore de Gleason é importante porque escores maiores estão associados a piores prognósticos, já que são dados a cânceres mais agressivos. Para a maioria das outras neoplasias são utilizados graus 1, 2 e 3. • Grau 1 → tumor bem diferenciado (baixo grau); • Grau 2 → intermediário ou moderado; • Grau 3 → alto grau. Para próstata há um escore específico, chamado Escore de Gleason, onde quanto maior o grau mais indiferenciado/agressivo é esse tumor, que é o que chamamos de alto grau. Então quanto maior o grau, mais agressivo é esse tumor. Score menor →tumor de baixo grau, tumor indolente. A próstata é uma área relativamente grande, ocorrendo tumores em diferentes regiões (ápice, base). A biópsia se faz necessária até para o próprio estadiamento do tumor, porque o estadiamento dependerá de quantas e quais áreas da próstata foram acometidas. Além disso, é importante para que o patologista faça o escore de Gleason adequadamente, porque ele é um escore prognóstico. Gleason mais alto →cuidado a mais com aquele paciente, tratamento diferenciado em relação a um paciente que tem o Gleason baixo. Então, por ser um escore prognóstico, é um escore que dá uma ideia da agressividade da doença e, consequentemente, da agressividade do tratamento. Em mama, tem 2 tipos de carcinomas (carcinoma ductal infiltrante e carcinoma lobular). O adenocarcinoma é o subtipo mais comum do câncer 4 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 de próstata (glândula). Na grande maioria das vezes teremos o adenocarcinoma usual da próstata (um câncer da própria próstata), com muitas particularidades, graduação específica e heterogeneidade da morfologia. Outros tipos de cânceres podem acometer a próstata, como por exemplo o carcinoma neuroendócrino (pode acontecer no corpo inteiro: mama, pescoço, fígado, próstata ..) o que muda o tratamento. pois não teremos o componente hormonal, já se trata de outro tipo de doença. Esse tipo de câncer costuma acontecer em pacientes mais jovens e sem nenhum tipo de componente hormonal. Comumente tratado por quimioterapia. O escore é uma pontuação dada ao câncer baseada na aparência microscópica e quem vai avaliar isso é o patologista. Os escores maiores estão associados a piores prognósticos, já que são dados a cânceres mais agressivos. Avaliação dos campos: 1, 2, 3, 4A, 4B, 5A e 5B. • Campo 1: as células estão todas arrumadinhas. • Campo 3: começa a ocorrer um certo desarranjo. Ao avaliar os campos, o patologista vai analisar se as células estão mais organizadas ou mais desarranjadas. Se tem células grau 3 e grau 4, é classificado como 3+4, mas também pode ser classificado com 4+3. No escore de Gleason, a diferença da terminologia tem relação com a predominância nos campos. • 3+4 → na grande maioria dos campos, as células estão como grau 3 (é o que predomina), enquanto a minoria está como grau 4. • 4+3 → o estágio predominante nos campos é o grau 4, tendo a minoria das células classificadas como grau 3. Portanto, o número que vem na frente é o grau que predomina (maior quantidade) nos campos. A classificação é bem importante, podem ocorrer casos em que o comportamento do Gleason está bem diferente do PSA, exemplo, um paciente com PSA bastante alterado e um Gleason bem baixo. Então possivelmente houve algum erro na classificação anatomopatológica/na contagem do Gleason. A classificação adequada do Gleason é fundamental para o urologista e para o oncologista. É possível que os campos estejam com mais de dois graus de diferenciação, nesses casos, o patologista quantifica os dois maiores graus em predominância para classificação. Por exemplo, uma avaliação em que o patologista encontras os graus 3, 4 e 5, mas os mais prevalentes são 5 e 4, então, o paciente será classificado como Gleason 5+4 → 9 (Gleason alto). Há ainda a possibilidade de todos os campos serem iguais, tudo grau 3. Neste caso, o Gleason será 3+3 → 6 (Gleason mais baixo), com índice de proliferação pequeno. Quanto maior o grau, pior o prognóstico. Então, o escore de Gleason se baseia nos exames patológicos das células da próstata. O escore 1 na imagem em preto e branco acima é bem-organizado, enquanto a porção mais inferior já representa o mais agressivo (bastante desorganizado). Normalmente, consideramos os graus 3, 4 e 5 (imagem colorida). O paciente pode ter um Gleason de 8 e, ao avaliar, ele é todo grau 4, ou seja, o campo inteiro está como grau 4, não tem nenhuma célula diferente disso. 4+4 → Gleason 8. Se o campo todo está como grau 5 → Gleason 10 (risco maior - células completamente desorganizadas, maior grau de agressividade, índice de proliferação muito alto). Mesmo quando tem 2 casos Gleason 8, o prognóstico pode ser diferente. O 5+3 significa que há uma predominância de campos com o grau 5, enquanto, no 3+5, prevalece o grau 3. O melhor prognóstico é que o número que venha na frente seja menor, porque significa que a maior parte dos campos da 5 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 biópsia são de grau mais baixo, de doença mais controlada. Antigamente, existia a classificação da imagem da esquerda, que dividia em 1, 2, 3 e 4, somava o Gleason 1+5. Hoje, utiliza-se mais a imagem da direita, classificando o 1 e 2 como se fosse grau 3, o 3 como se fosse grau 4 e o 4 como se fosse grau 5. Utilizar como referência a imagem histológica colorida. Faz o somatório utilizando os graus 3, 4 e 5 e classifica pelo total do Gleason. Grupos prognósticos para o adenocarcinoma de próstata Grupo I Adenocarcinoma escore Gleason >= 6 Melhor prognóstico Grupo II Adenocarcinoma Gleason 7 (3-4) Grupo III Adenocarcinoma Gleason 7 (4-3) Grupo IV Adenocarcinoma Gleason 8 Grupo V Adenocarcinoma Gleason 9 e 10 Pior prognóstico Tabela: grupos prognósticos. É o índice prognóstico em relação ao câncer de próstata da Sociedade Internacional de Patologia (ISUP). A classificação é feita em algarismos romanos variando entre I e V, sendo basicamente para classificar os graus 3, 4 e 5 da imagem anterior (imagem histológica colorida). Estadiamento AJCC 8 edição Não vai cobrar na prova. Precisa ser consultado. Estadiamento patológico O estadiamento patológico/pós-biópsiaé o que determinará o tratamento. O “p” significa estadiamento patológico, ou seja, após a biópsia. Usamos principalmente quando o paciente vai para a cirurgia. O paciente fez a biópsia, o tumor está confinado à próstata, sem doença extra prostática, é um T2. T3 já é com extensão extra prostática (todo o estadiamento está na tabela acima). A biópsia é feita normalmente quando há alguma alteração no toque retal ou em paciente que fez uma ressonância multiparamétrica ou um ultrassom e é encontrado algo suspeito, com PSA normalmente elevado. Próstata normal sem alteração importante no PSA → vigilância. Não precisa decorar a tabela! É apenas para entender que é esse estadiamento que definirá, muitas vezes, o tratamento que será feito para esses pacientes. Classificação dos grupos de risco NCCN • Risco muito baixo; • Baixo risco; • Risco intermediária favorável: • Risco intermediário desfavorável; • Alto risco; • Risco muito alto (localmente avançado): normalmente, são pacientes com acometimento linfonodal regional. Fatores que classificam o risco: PSA, T (tumor) e Gleason. O risco se considera através de alguns critérios. O risco está correlacionado com o índice de recorrência, não é o risco de ter câncer, esse paciente já tem câncer, o que se quer calcular é qual o risco desse paciente ter uma recidiva. 6 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 Fatores que classificam o risco: PSA (exame laboratorial), T (tumor) e Gleason. Desses fatores, dois (T e Gleason) são dependentes da biópsia/anatomia patológica, que é o que fornece o estadiamento patológico. Paciente de risco muito baixo → vigilância ativa. É um paciente sem indicação de fazer tratamento agora com hormônio ou radioterapia, nem tratamento cirúrgico. É o paciente que deve ser avaliado a cada 3 meses (até no máximo 6 meses), repetindo o PSA, que será reavaliado a cada consulta em relação a velocidade. São feitos os cálculos para avaliar se há o momento adequado para evoluir para algum tipo de tratamento. Então às vezes ele pode subir o PSA, às vezes ele tem fatores de hiperplasia prostática e muitas vezes não é a neoplasia que está causando aquilo. Então, serão necessários exames de imagem para tentar identificar o que está fazendo esse aumento do PSA. Tratamento da doença localizada Risco baixo e intermediário Doença confinada na próstata → risco baixo ou risco intermediário. Nesses casos, o tratamento poderá ser uma dessas três opções: PROSTATECTOMIA RADICAL • Retirada da próstata e das vesículas seminais, podendo ou não tirar os linfonodos, a depender do estadiamento clínico/patológico do paciente na biópsia). • O T mais avançado com um PSA alto, em algumas situações, vai gerar a indicação de prostatectomia radical. • Serão analisados vários critérios: idade, comorbidades, preferência (alguns pacientes não querem operar). Dentre as complicações da cirurgia, existem 2 que muitas vezes fazem os pacientes não aceitarem: 1) incontinência urinária; 2) disfunção erétil. Então, vão existir situações em que o paciente vai optar por não operar, independentemente de outras cosias. RADIOTERAPIA COM OU SEM HORMONIOTERAPIA (BLOQUEIO HORMONAL) • Naqueles pacientes que optaram em não operar, pode-se optar pela radioterapia com ou sem hormonioterapia (bloqueio hormonal). Para o oncologista vão existir alguns critérios a serem analisados na hora de optar pela hormonioterapia ou não, dentre os quais está o valor do PSA (filigramas). VIGILÂNCIA ATIVA É uma opção. A professora, particularmente, não faz vigilância ativa em pacientes de risco intermediário, por ser um pouco mais arriscado. A não ser que seja um paciente que volte dali a 3 meses com o PSA e esteja muito bem. Contudo, não é necessariamente errado fazer, é cautela /opção da professora. • Acompanhamento com medidas de PSA trimestrais ou semestrais; ❖ Tumores de risco muito baixo com expectativa de vida <20 anos; ❖ Tumores de baixo risco com expectativa de vida <10 anos; ❖ Tumores de risco intermediário favorável com expectativa de vida < 10 anos. BH por 6 meses associado a radioterapia. Pacientes mais idosos, que a expectativa de vida já não é tão grande, que existe pouca probabilidade de ele evoluir para uma doença mais avançada. Lembrar que o CA de próstata é um tumor indolente, de crescimento lento. Exemplo: paciente de 80 anos, com uma expectativa de vida menor que 10 anos, que se movimenta muito pouco, é ruim pensar para ele um bloqueio hormonal (risco de fazer uma trombos) ou ainda indicar uma radioterapia (risco de complicações). Cirurgia de prostatectomia radical nem se fala. Deve-se observar também se é um paciente que vai colaborar com a vigilância ativa. Exemplo: o paciente que o médico marca para vir com 3 meses e só aparece com 5 ou 6 meses, a vigilância ativa já não funciona tão bem. Nesses casos é necessário muito cuidado. A vigilância ativa na pandemia, por exemplo, não surtiu muito efeito. Muitos pacientes que deveriam ter voltado com 3 meses só voltaram com 8, e já 7 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 voltaram com PSA alterado. Ou seja, para a vigilância ativa precisa ser o paciente que o médico sabe que irá voltar, e não aquele que “esquece” que tinha que marcar com o médico. Para pacientes com risco intermediário, normalmente se usa o bloqueio hormonal por 6 meses associado à radioterapia. O tempo é mais curto. No alto risco, na grande maioria das vezes usa-se mais tempo. Prostatectomia radical (PR) • Exérese da próstata e vesículas seminais com ou sem esvaziamento das cadeias linfonodais pélvicas; • Pode ser realizada por via retropúbica, perineal, laparoscópica ou robótica; Hoje já se tem robô em Salvador, então tem sido cada vez mais usado pelos urologistas. Ainda não há estudos mostrando a vantagem desta técnica cirúrgica em relação ao câncer em si. Então não há nenhum indício que o robô opere melhor. Porém, o robô vai dar menos efeitos colaterais (menor risco de complicações relacionadas aos outros - fato). O é uma técnica muito mais cara, o que faz com que os planos de saúde ainda não paguem. A professora acredita que daqui a alguns anos já vai haver liberação pelo plano de saúde e, consequentemente, vai haver uma quantidade razoável desse tipo de cirurgia. • Alguns autores admitem que paciente com PSA <10ng/ml e Gleason <7 em biópsia, não necessitariam de linfadenectomia de rotina, podendo ser feito somente a exérese da próstata e vesículas seminais, porque consideram como tumores de baixo risco. • A PR apresenta bons resultados na redução da mortalidade câncer-específica e progressão local e sistêmica da doença. Bom controle de doença e possibilidade de cura. Radioterapia É feita nos casos em que a cirurgia não é viável (pacientes que não podem operar por algum motivo ou por opção do paciente). RT tridimensional (3D) e IMRT: São as técnicas mais utilizadas. Com o IMRT temos hoje uma possibilidade maior de tratar CA de próstata com menos toxicidade. ❖ Permitiram o escalonamento da dose total entregue à glândula prostática sem aumentar as taxas de complicações; ❖ Em uma metanálise de estudos clínicos randomizados que comparou RT com dose alta (>70Gy) vs dose baixa (<70Gy), os pacientes tratados com dose alta apresentam mais chance de controle da doença em 5 anos com taxas de complicações aceitáveis. Então consequentemente consegue dar doses maiores sem causar danos aos tecidos adjacentes, o que é uma grande vantagem em relação a radio. A radio não somente pode ser utilizada para o paciente que não operou (o controle local da radio substitui o controle da prostatectomia → cura), mas também pode ser utilizada de resgate. Ex.: um pacienteque operou, o PSA caiu (nosso controle é o PSA depois da cirurgia), fez prostatectomia, tirou vesícula seminal, mas era um tumor um pouquinho agressivo (T3, Gleason 8-9). Nesse paciente, o PSA caiu, mas depois voltou a subir de forma lenta. Nesses casos, a depender do valor do PSA, encaminha para radioterapia (resgate pós cirurgia), no leito prostático, no local que estava a próstata. Isso acontece porque pode ter acontecido de ter ficado algum tecido prostático remanescente na cirurgia, algum linfonodo remanescente, e a radio vai lá para poder fazer esse controle local. Radioterapia de leito prostático → radioterapia no leito da próstata. A próstata não está mais lá, mas existe a área dela, e é ali que vai irradiar. Braquiterapia ❖ Utilizada no câncer de baixo risco. ❖ Pode ser utilizada em paciente com câncer de útero ou com câncer de próstata. O radioterapeuta que vai indicar, vai avaliar se tem realmente uma necessidade de radioterapia pélvica. Às vezes é um tumor de baixo risco que pode colocar as sementes radioativas no paciente, e pode tratar sem precisar de uma radio pélvica, porque por mais que a técnica seja IMRT, que diminui os riscos de complicações, vai pegar tecidos normais que estão 8 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 ao redor. Paciente de baixo risco, que sabemos que não precisaria fazer uma radio extensa, dá para fazer uma braquiterapia. Toxicidade relacionada ao tratamento Principais complicações em relação aos tratamentos locais: • Incontinência urinária: era muito comum, hoje com as técnicas mais novas, com a destreza maior, a videolaparoscopia (melhor do que a técnica aberta), diminuiu bastante. Mas, tem pacientes que operaram há muito tempo, que ainda usam falda por conta da incontinência. Pode ocorrer pouquíssimo na braquiterapia e na radio, mas na prostatectomia é em torno de 50% em 3 meses, 20% em 6 meses e 7% acima de 12 meses (vai reduzindo com o tempo). Paciente tem logo após a cirurgia, mas vai recuperando com o tempo. Tem que encaminhar para fisioterapia, e várias coisas relacionadas a reabilitação. • Disfunção erétil: pode ocorrer na braquio (30%), radio (40%) e prostatectomia (30%). • Estenose de uretra: mais comum na braquiterapia. Ter cuidado na colocação dessas sementes, porque está muito próximo da uretra. Qualquer tipo de radioterapia pode causar estenose, então os pacientes podem ter dificuldade para urinar, retenção urinária incomodativa, distensão da bexiga e não consegue urinar por conta dessa estenose. É uma situação que perde muito a qualidade de vida. Tratamento da doença localizada RISCO ALTO – DOENÇA LOCALMENTE AVANÇADA (T3A, T3B, T4) Feita naqueles pacientes que tem Gleason mais alto, T3, T4, com invasão de órgãos adjacentes. É aquela doença que não está metastática (não chegou na corrente sanguínea), mas localmente ela está avançada; • Opções de tratamento: ❖ Radioterapia associada a bloqueio hormonal de longa duração: como no risco intermediário usa 6 meses, aqui o bloqueio hormonal é por mais tempo. Antigamente se fazia por 3 anos, mas hoje em dia já é preconizado 1 ano e meio (razoável). Isso porque o bloqueio hormonal tem vários efeitos colaterais, dentre eles a perda da libido sexual (durante o tratamento). Os pacientes perdem muito qualidade de vida nesse aspecto. ❖ Prostatectomia associada à linfadenectomia pélvica estendida: nesses casos, não podemos deixar de fazer a linfadenectomia. Tratamento da doença não metastática resistente a castração (resistência a hormonioterapia) Quando a doença ainda é localizada (não metastática), inicialmente faz o bloqueio hormonal com radio. Exemplo: paciente que não fez cirurgia, não teve indicação de fazer o bloqueio hormonal e fará a radioterapia e o bloqueio e começa a ficar resistente. O PSA cai, fica perto de 0,001 durante meses e depois começa a subir novamente. Repetindo o PSA depois de 15 dias, ele volta com o PSA alterado de novo. Tem que avaliar se esse paciente está com resistência a hormonioterapia... • Em torno de 10-20% dos pacientes com câncer de próstata desenvolvem doença resistente à castração: quando dá o bloqueio hormonal, castra esse paciente. Ele pode ter uma ação central e uma ação periférica. A ação central faz a nível de hipotálamo, e a ação periférica faz a nível de testosterona. Precisa castrar esse paciente, que seria baixar os níveis de testosterona. Então, acaba abaixando muito, porque ela é a principal vitamina para o CA de próstata. Quando faz o bloqueio hormonal, vai bloquear essa testosterona. Tem pacientes que ficam resistentes a essa castração, e com isso o PSA começa a subir. Se está tomando o medicamento e o PSA está subindo, provavelmente esse paciente está criando uma resistência a hormonioterapia, e em 10 a 20% podem desenvolver essa doença resistente; • Desses 10 a 20%, aproximadamente 80% desses homens, apresentarão progressão de doença a distância: a doença não está mais 9 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 hormoniodependente, ela agora já está livre. Então vai começar a utilizar de outras estratégias para tratar esses doentes. • Definição: câncer de próstata com PSA >=1ng/ml + testosterona <50ng/ml e ausência de evidência de doença metastática: a testosterona está relativamente baixa, mas não tão baixa quanto deveria (o nível adequado é < 20ng/mL). Ex.: paciente está com PSA 1 e começa a subir. Quando dosa a testosterona desse paciente, ela não está suprimida. Faz a avaliação novamente, e não tem evidência de doença em nenhum canto (isso quer dizer que é algo local, não está metastática). Nesses casos vai ter que trocar o tratamento. • Tratamento: apalutamida ou enzalutamida. Medicações novas (não vai cobrar). Então, se o paciente criar resistência a hormonioterapia, tem que mudar a linha de tratamento. Tratamento da doença metastática Aqui já estamos diante uma doença avançada, e por isso precisa tratar de outra forma. TERAPIA DE SUPRESSÃO ANDROGÊNICA MEDICAMENTOSA Pode utilizar da terapia de supressão androgênica, que são os bloqueadores hormonais medicamentosa, ou pode utilizar também da terapia de supressão androgênica cirúrgica, que é a orquiectomia (retirada dos dois testículos). Nesses casos, vai haver um bloqueio periférico, porque quem produz a nível testicular a testosterona é o testículo. Então, quando retira os dois testículos, vai diminuir essa produção de testosterona. Nesses casos, precisa fazer o bloqueio, para que tenha um melhor controle da doença. Às vezes é um paciente que mora no interior, que não tem condições de vim a cada 3 – 6 meses, ou é um paciente muito idoso, que tem uma mobilidade difícil; nesses casos, são pacientes que pode optar pela orquiectomia cirúrgica, e depois só faz o complemento do PSA. Às vezes ele nem volta para a consulta, quem vai é um familiar levando esse exame do PSA para vermos. QUIMIOTERAPIA Principalmente quando o paciente começa a não responder a supressão androgênica, é um paciente que estava controlando o PSA, mas o PSA voltou a subir. Nesse caso, é um paciente que temos que optar muitas vezes por um tratamento de quimioterapia, porque o bloqueio hormonal já não mais funciona. RADIO 223 – MEDICINA NUCLEAR Por último, quando já esgotou todas as possibilidades terapêuticas, de terapia de supressão androgênica, quimioterapia, é um paciente que tem muita dor óssea, está metastático, pode usar o RADIO 223, que é um elemento nuclear radioativo (é como um iodo que usa na tireoide). O paciente recebe o radio 223 e faz um controle da doença, do PSA, e pode controlar também os sintomas. Utilizamos quando o paciente está com a doença mais avançada, com muito sintoma, que tem muita dor óssea,aí a radio consegue fazer um controle melhor. Formas de supressão androgênica Aqui para entendermos como que ocorre essa supressão de andrógenos de acordo com os medicamentos. 10 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 • Castração cirúrgica: é a própria remoção androgênicos testiculares, onde tira o testículo, diminuindo a produção de andrógeno. Efeitos adversos: o paciente pode dar fogacho, porque baixa a testosterona, e vem as ondas de calor, efeitos psicológicos. Muitos pacientes não aceitam tirar os testículos, preferem tomar a medicação, porque essa medicação pode melhorar durante um tempo, pode fazer um bloqueio intermitente, e quando o paciente controlar mais, tira. Na cabeça deles eles acham que podem ficar sem a medicação por um tempo, e aí voltar a ter a libido. Já a orquiectomia não, vai tirar a libido eternamente. Esse é o motivo pelo qual muitos pacientes não aceitam o tratamento cirúrgico e vão para fazer o tratamento medicamentoso. • Agonistas LH – RH: normalmente eles inibem a secreção de gonadotrofina. Vendo a figura, vemos o hipotálamo, que é onde age os agonistas (ou análogos), que vão inibir a secreção de gonadotrofina do hipotálamo para estimular a hipófise, e a partir daqui eles começam a reduzir o bloqueio central, a partir do momento que reduz a secreção de gonadotrofina, que vai produzir o LH, FSH, estimulando a testosterona e a produção de testosterona periférica. Temos também os anti-androgênicos, que vão atuar fazendo um bloqueio da di- hidrotestosterona, a ligação dela ao receptor, e fazem o bloqueio periférico. Os análogos de LHRH são goserelina, leuprorelina, triptorelina, buserelina. São alguns medicamentos que utiliza na prática (não precisa decorar). Efeitos colaterais: fogachos, fadiga (cai testosterona), ginecomastia, impotência, osteoporose, flare (aumento do PSA). Isso pode acontecer, mas nesses casos fazemos uma combinação nos primeiros meses com os não esteroidais, para inibir o flare. • Antiandrógenos não esteroidais: fazem o bloqueio da di-hidrotestosterona ao seu receptor. Flutamida, Bicalutamida, Nilutamida. • Antiandrógenos esteroidais: Acetato de Ciproterona, esse não usa mais, mas tem a mesma ação. Houve aumento de mortalidade com esse tratamento, então utiliza muito pouco. Com esse tratamento os pacientes fazem ginecomastia, principalmente no mamilo, e fica bem doloroso. Às vezes precisa fazer radioterapia local, com dose pequena de radio, para amenizar essa dor. • Estrogênos: diestilbestrol, usa em linhas mais posteriores, quando não tem mais o que oferecer ao paciente, ele vai inibir a gonadotrofina e da enzima 5 α redutase. Mesma ação do análogo LHRH. Uso de bifosfonatos para evitar osteoporose. Como todo bloqueador hormonal, eles podem causar osteoporose, tudo que bloqueia estrógeno, progesterona, testosterona, podem desenvolver a osteoporose. Então tem que ter muito controle nesses pacientes, que geralmente são pacientes idosos, que às vezes faz uma fratura patológica que não é metastática, seria uma fratura de osteoporose. Ter muito cuidado, lembrar de usar os bifosfonatos (medicamentos que tiram o cálcio do sangue e joga no osso), para evitar essa osteoporose. Bloqueio hormonal no câncer de próstata • Opções: ❖ Agonistas ou análogos LHRH: reduzem o estímulo do hipotálamo sobre a glândulas hipófise e bloqueiam a cascata; ❖ Antiandrogênicos: têm a capacidade de bloquear a ação dos androgênios no corpo, mesmo aqueles que são produzidos pela glândula adrenal, após a retirada do maior sítio de produção de testosterona do corpo, o testículo. ❖ Inibidores CYP-17: inibem a produção de testosterona, inclusive aquela gerada na glândula adrenal; ❖ Hormônios femininos: estrogênios. Ter cuidado com paciente idoso → fazer sempre uma profilaxia para trombose (AAS, anticoagulante de baixa dose), principalmente idoso que é mais restrito. Então o risco de fazer trombose é alto. 11 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Câncer de próstata – Aula 9 Caso clínico • Paciente 63 anos, pardo; • Quadro clínico de queixa urinárias – disúria e polaciúria há 6 meses; • Sem comorbidades; • Foi ao urologista que solicitou o PSA e realizou toque retal. A próstata estava endurecida; • Submetido a biópsia da próstata. ❖ LHP: adenocarcinoma usual da prosta – G (4+5), T3; • PSA: 12ng/ml. Qual o melhor tratamento? a) Prostatectomia radical. b) Radioterapia + bloqueio hormonal. c) Bloqueio hormonal. d) Radioterapia. Caracteristicamente, ele tem critérios de alto risco, por conto do Gleason alto (9), é um T3, PSA de 12 (considerar intermediário). As possibilidades de tratamento desse paciente seria: • Prostatectomia radical: poderia, desde que ele queira. Mas às vezes o paciente pode não querer. • Radioterapia + bloqueio hormonal: o paciente pode optar por essa opção. • Bloqueio hormonal: não se deve optar pelo bloqueio hormonal sozinho. Precisa ter um controle local, seja por cirurgia ou por radioterapia. • Radioterapia: O paciente é de alto risco (Gleason alto, T3). Então, nesse caso, tem que indicar o bloqueio hormonal, para poder sensibilizar essa radio dele, com menor risco de recidiva a distância, porque o bloqueio hormonal não é para recidiva local, quem faz o controle local é radio ou cirurgia, o bloqueio hormonal é para diminuir o risco de recidiva a distância. Como é um paciente de alto risco, ele tem uma alta probabilidade de fazer recorrência a distância, por isso tem a indicação do bloqueio hormonal. Para usar a radio sozinha só se o paciente tiver uma contraindicação ao bloqueio hormonal, como histórico de trombose, ou por ele não querer tomar. Porém, esse não é o melhor tratamento.