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Polícia Militar de Minas Gerais PM-MG ON-LINE conteúdo CURSO COM 10H DE VIDEOAULAS SOLDADO Língua Portuguesaæ Direito Penalæ Direito Constitucionalæ Direito Penal Militaræ Direito Humanosæ Estatísticaæ Legislação Extravagante (disponível On-line)æ Edital DRH/CRS Nº 06/2021 Polícia Militar de Minas Gerais PM-MG Soldado NV-002JH-21 Cód.: 7908428800604 Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da editora Nova Concursos. Essa obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. Produção Editorial Carolina Gomes Josiane Inácio Karolaine Assis Organização Arthur de Carvalho Roberth Kairo Saula Isabela Diniz Revisão de Conteúdo Ana Cláudia Prado Fernanda Silva Jaíne Martins Maciel Rigoni Nataly Ternero Análise de Conteúdo Ana Beatriz Mamede João Augusto Borges Diagramação Dayverson Ramon Higor Moreira Willian Lopes Capa Joel Ferreira dos Santos Projeto Gráfico Daniela Jardim & Rene Bueno Dúvidas www.novaconcursos.com.br/contato sac@novaconcursos.com.br Obra PM-MG – Polícia Militar de Minas Gerais Soldado Autores LÍNGUA PORTUGUESA • Monalisa Costa, Ana Cátia Collares e Giselli Neves DIREITO PENAL • Renato Philippini, Rodrigo Gonçalves e Jonatas Albino DIREITO CONSTITUCIONAL • Samara Kich e Giovana Marques DIREITO PENAL MILITAR • Rodrigo Gonçalves DIREITO HUMANOS • Ana Philippini e Alexandre Nápoles ESTATÍSTICA • Henrique Tiezzi LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE (ON-LINE) • Samantha Rodrigues, Fernando Zantedeschi, Renato Philippini, Nathan Pilonetto e Antônio Pequeno Edição: Junho/2021 APRESENTAÇÃO Um bom planejamento é determinante para a sua preparação de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen- sando no máximo aproveitamento de seus estudos, esse livro foi organizado de acordo com os itens exigidos no Edital DRH/ CRS Nº 06/2021 da PM-MG para o cargo de Soldado. O edital foi didaticamente sistematizado em um sumário subdividido para otimizar o seu tempo e o seu aprendizado. Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica – com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobrados nas provas, além de Questões Comentadas e a seção Hora de Praticar, trazendo exercícios gabaritados da banca organizado- ra do certame. A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes- sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas aulas que você encontra em nossos Cursos On-line – o que será um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensan- do no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Ago- ra é com você! Intensifique ainda mais a sua preparação acessando os con- teúdos disponíveis online para este livro em nossa plataforma: Legislação Extravagante e o Curso com 10 horas de videoaulas, conforme os assuntos cobrados no edital. Para acessar, basta seguir as orientações na próxima página. CONTEÚDO ON-LINE Para intensificar a sua preparação para concursos, oferecemos em nossa plataforma on- line materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta deste livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente. BÔNUS: • Curso On-line. à Língua Portuguesa - Interpretação de Texto: Conceitos Importantes à Direito Penal - Da Aplicação da Lei Penal à Direito Constitucional - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas: Das Forças Armadas e Da Segurança Pública à Direito Penal Militar - Teoria do Crime à Direito Humanos - Declaração Universal dos Direitos Humanos à Legislação Extravagante - Lei n° 13.869/2019 - Crimes de Abuso de Autoridade: Das Sanções de Natureza Civil e Administrativa e Dos Crimes e Das Penas à Estatística - Estatística Descritiva: Tabelas - Distribuição de Frequências CONTEÚDO COMPLEMENTAR: • Legislação Extravagante. COMO ACESSAR O CONTEÚDO ON-LINE Se você comprou esse livro em nosso site, o bônus já está liberado na sua área do cliente. Basta fazer login com seus dados e aproveitar. Mas, caso você não tenha comprado no nosso site, siga os passos abaixo para ter acesso ao conteúdo on-line. Acesse o endereço novaconcursos.com.br/bônus Digite o código que se encontra atrás da apostila (conforme foto ao lado) Siga os passos para realizar um breve cadastro e acessar seu conteúdo on-line sac@no vaconcursos.com.br VERSO DA APOSTILA NV-003MR-20 Código Bônus DÚVIDAS E SUGESTÕES NV-003MR-20 9 088121 44215 3 Código Bônus SUMÁRIO LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................11 ADEQUAÇÃO CONCEITUAL ............................................................................................................... 11 PERTINÊNCIA, RELEVÂNCIA E ARTICULAÇÃO DOS ARGUMENTOS ............................................................11 SELEÇÃO VOCABULAR ....................................................................................................................................13 ESTUDO DE TEXTO (QUESTÕES OBJETIVAS SOBRE TEXTOS DE CONTEÚDO LITERÁRIO OU INFORMATIVO OU CRÔNICA) ..................................................................................................... 14 TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS TEXTUAIS ................................................................................. 16 ORTOGRAFIA ...................................................................................................................................... 27 ACENTUAÇÃO GRÁFICA ................................................................................................................... 30 PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 31 ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS ..................................................................................... 34 CLASSES DE PALAVRAS ................................................................................................................... 37 FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO ............................................................................................................. 49 TERMOS DA ORAÇÃO ........................................................................................................................ 50 PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO ................................................. 56 FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS PRONOMES RELATIVOS .................................................................. 58 EMPREGO DE NOMES E PRONOMES ............................................................................................... 59 EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS .................................................................................... 62 REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL (CRASE) ....................................................................................... 63 CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL ........................................................................................... 67 ORAÇÕES REDUZIDAS ....................................................................................................................... 72 COLOCAÇÃO PRONOMINAL ............................................................................................................. 73 ESTILÍSTICA ....................................................................................................................................... 73 FIGURAS DE LINGUAGEM ................................................................................................................................73 DIREITO PENAL ..................................................................................................................83CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: PARTE GERAL - APLICAÇÃO DA LEI PENAL .................... 83 TÍTULO II: DO CRIME .......................................................................................................................... 92 TÍTULO III: DA IMPUTABILIDADE PENAL .......................................................................................102 TÍTULO IV: DO CONCURSO DE PESSOAS ................................................................................105 TÍTULO V: DAS PENAS .................................................................................................................111 CAPÍTULO I: DAS ESPÉCIES DE PENA, CAPÍTULO II: DA COMINAÇÃO DAS PENAS E CAPÍTULO III: DA APLICAÇÃO DA PENA ......................................................................................................111 DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA ......................................................................................................112 DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ...................................................................................................112 PARTE ESPECIAL: DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ..................................................................114 DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO .........................................................................................138 DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL ..............................................................................160 DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL .............................................................................................160 DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL ....................................................................................................165 DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL ...........................................................................................166 DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA ............................................................................................169 DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO ............................................................................169 CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .........................................................................182 DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL .......................182 DOS CRIMES EM LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS ...........................................................193 DIREITO CONSTITUCIONAL .....................................................................................199 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL .........................................................199 DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ...............................................................................................................200 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ....................................................................................202 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS ......................................................................................202 DA NACIONALIDADE ......................................................................................................................................210 DOS DIREITOS POLÍTICOS .............................................................................................................................212 DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO .....................................................................................................213 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...........................................................................................................................213 Disposições Gerais ........................................................................................................................................213 Dos Militares Dos Estados, Do Distrito Federal E dos Territórios ...............................................................216 DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES .................................................................................................218 DO PODER JUDICIÁRIO .................................................................................................................................218 Dos Tribunais E Juízes Militares ....................................................................................................... 222 Dos Tribunais E Juízes Dos Estados ............................................................................................................223 DAS DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS ............................................224 DAS FORÇAS ARMADAS ................................................................................................................................224 DA SEGURANÇA PÚBLICA .............................................................................................................................225 DIREITO PENAL MILITAR ............................................................................................231 DECRETO-LEI Nº 1001, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969 – CÓDIGO PENAL MILITAR, PARTE GERAL ...................................................................................................................................231 TÍTULO I: DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR ......................................................................................231 TÍTULO II: DO CRIME ......................................................................................................................................233 TÍTULO IV: DO CONCURSO DE AGENTES......................................................................................................239 TÍTULO V: DAS PENAS, CAPÍTULO I: DAS PENAS PRINCIPAIS ..................................................................239 CAPÍTULO V: DAS PENAS ACESSÓRIAS ......................................................................................................241 TÍTULO VII: DA AÇÃO PENAL .........................................................................................................................242 TÍTULO VIII: DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ............................................................................................242 PARTE ESPECIAL .............................................................................................................................246 LIVRO I: DOS CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ ................................................................................246 TÍTULO II: DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR ............................................250 CAPÍTULO I: DO MOTIM E DA REVOLTA ........................................................................................................250 CAPÍTULO II: DA ALICIAÇÃO E DO INCITAMENTO .......................................................................................251 CAPÍTULO III: DA VIOLÊNCIA CONTRA SUPERIOR OU MILITAR DE SERVIÇO ...........................................251 CAPÍTULO IV: DO DESRESPEITO A SUPERIOR E A SÍMBOLO NACIONAL OU À FARDA ............................252 CAPÍTULO V: DA INSUBORDINAÇÃO ............................................................................................................252 CAPÍTULO VII: DA RESISTÊNCIA ...................................................................................................................253 TÍTULO III: DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO MILITAR E O DEVER MILITAR, CAPÍTULO II: DESERÇÃO ................................................................................................................................254 CAPÍTULO III: DO ABANDONO DE POSTO E DE OUTROS CRIMES EM SERVIÇO .......................................255 TÍTULO IV: DOS CRIMES CONTRA A PESSOA, CAPÍTULO I: DO HOMICÍDIO .............................................255 CAPÍTULO III: DA LESÃO CORPORAL E DA RIXA..........................................................................................257 CAPÍTULO IV: DA PERICLITAÇÃODA VIDA OU DA SAÚDE ..........................................................................260 CAPÍTULO VI: DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE, SEÇÃO I: DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL ......................................................................260 SEÇÃO II: DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO ......................................................262 SEÇÃO IV: DOS CRIMES CONTRA A INVIOLABILIDADE DOS SEGREDOS DE CARÁTER PARTICULAR ...................................................................................................................................................263 TÍTULO VII: DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR, CAPÍTULO I: DO DESACATO E DA DESOBEDIÊNCIA ....................................................................................264 CAPÍTULO II: DO PECULATO ..........................................................................................................................264 CAPITULO III: DA CONCUSSÃO, EXCESSO DE EXAÇÃO E DESVIO..............................................................265 CAPÍTULO IV: DA CORRUPÇÃO .....................................................................................................................266 CAPÍTULO V: DA FALSIDADE .........................................................................................................................267 CRIMES CONTRA O DEVER FUNCIONAL .......................................................................................267 DIREITO HUMANOS .......................................................................................................277 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, DE 10 DE DEZEMBRO DE 1948 ..........277 CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA) ........................................................................................288 ESTATÍSTICA ....................................................................................................................301 VISÃO CONCEITUAL BÁSICA ..........................................................................................................301 POPULAÇÃO OU UNIVERSO E CENSO ..........................................................................................................301 AMOSTRAGEM X AMOSTRA .........................................................................................................................301 EXPERIMENTO ALEATÓRIO ...........................................................................................................................302 MÉTODO ESTATÍSTICO ..................................................................................................................................302 VARIÁVEIS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS ............................................................................307 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL ..............................................................................................308 MÉDIA ..............................................................................................................................................................308 MEDIANA .........................................................................................................................................................309 MODA ...............................................................................................................................................................310 MEDIDAS DE DISPERSÃO ................................................................................................................310 AMPLITUDE .....................................................................................................................................................310 VARIÂNCIA ......................................................................................................................................................311 DESVIO PADRÃO .............................................................................................................................................311 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO MATEMÁTICA DE GRÁFICOS, TABELAS E DIAGRAMAS ESTATÍSTICOS .................................................................................................................................312 LÍ N G U A P O RT U G U ES A 11 LÍNGUA PORTUGUESA ADEQUAÇÃO CONCEITUAL PERTINÊNCIA, RELEVÂNCIA E ARTICULAÇÃO DOS ARGUMENTOS Neste assunto trabalharemos alguns elementos importantes para iniciarmos nossa análise de textos. Começaremos com a estrutura do texto dissertati- vo, uma vez que pertinência e relevância se relacio- nam intimamente com a articulação dos argumentos e da estruturação de um texto dissertativo. Como todos sabem, a dissertação é um tipo de tex- to que se caracteriza pela exposição e defesa de uma ideia que será analisada e discutida a partir de um ponto de vista. Para tal defesa o autor do texto dis- sertativo trabalha com argumentos, com fatos, com dados, os quais utiliza para reforçar ou justificar o desenvolvimento de suas ideias. Para atender a esse propósito, a dissertação deve apresentar uma organização estrutural que conduza as informações ao leitor de forma a seduzi-lo quanto ao reconhecimento da verdade proposta como tese. Compreende-se como estrutura básica de uma disser- tação a divisão da exposição da argumentação em três partes distintas: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão: A estrutura do texto dissertativo constitui-se de: Introdução A introdução do texto dissertativo é a apresenta- ção de seu projeto. Ela deve conter a tese de sua dis- sertação, ou seja, deve apresentar seu posicionamento sobre o tema proposto pela banca. Esse momento é muito importante para o leitor, pois é aí que será mostrada a identificação de suas ideias com o tema. É um bom momento para apresentá-lo aos argumentos sequencialmente ordenados de acordo com a progres- são que você dará a sua redação (progressão textual). A introdução deve ser clara e chamar a atenção para dois itens básicos: os objetivos do texto e o pla- no do desenvolvimento. Sem ter medo de apresentar alguma previsibilidade de seu projeto, você, autor, deve expor os caminhos por que percorrerá em sua explanação. Lembre-se de que o leitor, corretor de seu trabalho, é um professor experiente e é a organização que mais o impressionará nesse momento. Por isso, não tenha medo de ser objetivo e previamente ilustra- tivo quanto aos seus propósitos de trabalho. Ex.: Parágrafo de introdução Todos sabem o quanto a tecnologia vem imple- mentando novos valores à vida do homem moder- no principalmente no que diz respeito a sua vida em sociedade (1). É notório o desenvolvimento da tecnologia em campos como o da educação (2) e o dos serviços sociais (3). Essas inovações vão ainda muito além disso, atingindo vários outros espaços do cotidiano (4) da maioria das pessoas. (1) A tese: a tecnologia vem implementando novos valores à vida do homem moderno principalmente no que diz respeito a sua vida em sociedade; (2), (3), (4) Os argumentos são levantados a fim de sustentar a tese: o desenvolvimento da tecnologia em campos como o da educação (2) / o dos serviços sociais (3) / inovações atingindo vários outros espaços do cotidiano (4). Desenvolvimento O desenvolvimento é a parte em que você deve expor os elementos que vão fundamentar sua tese que pode vir especificada por intermédio de argumentos, de pormenores, de exemplos, de citações, de dados estatísticos, de explicações, de definições, de confron- tos de ideias e contra argumentações. Você poderá usar tantos parágrafos quanto achar necessário para desenvolver suas teorias, porém em redações de cur- ta extensão o ideal é que cada parágrafo apresente objetivamente apenas um dos argumentos a serem desenvolvidos, ou ainda, que esses argumentos sejam agrupados caso vários deles devam ser apresentados para sustentar sua tese. Ex.: apresentação do primeiroargumento sobre “o desenvolvimento da tecnologia em campos como o da educação” Alguns argumentam que é importante reconhecer o papel das redes mundiais de informação para o favorecimento da construção do conhecimento. Hoje é possível visitar um museu, consultar uma biblio- teca e até mesmo estudar sem sair de casa. Por meio da internet, muito da sabedoria mundial pode ser alcança- da por qualquer pessoa que a deseje. Basta estar diante de um computador, ou de posse de um desses modernos aparelhos celulares para se ligar a qualquer momento ao universo virtual. Hoje é possível ler qualquer livro a qualquer momento em um desses dispositivos. Ex.: apresentação do segundo argumento sobre “o desenvolvimento da tecnologia em campos como o dos serviços sociais” Outro aspecto que merece destaque especial é quan- to ao atendimento oferecido ao cidadão pelos órgãos do serviço público. Já é possível registrar um boletim de ocorrências via computador ou ainda agendar a emissão de passaportes junto às agencias da Policia Federal em qualquer lugar do Brasil. Consultas médicas podem ser marcadas em hospitais públicos ou privados e os exames realizados podem ser consultados diretamente do banco de dados dessas entidades. Ex.: apresentação do terceiro argumento sobre “as inovações em vários outros espaços do cotidiano” E isso não para por aí. Ainda convém lembrar que de muitas outras formas a tecnologia interfere positivamente em nossas vidas. As relações sócias se intensificaram depois do surgimento das várias redes de relacionamento tendo início com o Orkut e o Facebook, permitindo que as pessoas se reencontrem em ambientes virtuais, o que antigamente exigiria mui- to esforço coletivo para tais eventos. Programas como o Zoom e o Google Meet possibilitam que as pessoas conversem e interajam em diferentes partes do mundo sem nenhum custo além dos já dispensados com seus provedores residenciais. Uma mãe que mora longe dos filhos já pode vê-los ou aos netos, pela tela de um note- book ou celular, sempre que sentir saudade. 12 Conclusão A conclusão é a retomada da ideia principal, que agora deve aparecer de forma muito mais convin- cente, uma vez que já foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação. Deve, pois, conter de forma sintética, o objetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da argu- mentação básica empregada no desenvolvimento. Ex.: considerações finais Tendo em vista esses aspectos observados sobre esse admirável mundo de facilidades técnicas, só nos resta comentar que não foi só o computador que tornou a vida do cidadão mais simples e confor- tável, mas outros campos da tecnologia também contribuíram para isso. Os aparelhos de GPS, que nos orientam a qualquer direção, ou ainda diver- sos dispositivos médicos portáteis, garantem a melhora da qualidade de vida de todos os homens do nosso tempo. ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS Coesão Coesão pode ser considerada a “costura” textual, a “amarração” na estrutura das frases, dos períodos e dos parágrafos que fazemos com palavras. Para garantir uma boa coesão no seu texto, você deve pres- tar atenção a alguns mecanismos. Abaixo, em negrito, há exemplos de períodos que podem ser melhorados utilizando os mecanismos de coesão: z Elementos Anafóricos: Esse, essa, isso, aquilo, isso, ele... São palavras referentes a outras que apareceram no texto, a fim de retomá-las. Ela = Dolores seu = Ela o = poder Ex.: Dolores e ra beleza única. Ela sabia do seu poder de seduzir e o usava z Elementos Catafóricos: Este, esta, isto, tal como, a saber... São palavras referentes a outras que irão aparecer no texto: Ex.: Este novo produto a deixará maravilhosa, é o xampu Ela. Use-o e você não vai se arrepender! O pronome demonstrativo este apresenta um ele- mento do qual ainda não se falou = o xampu. z Coesão lexical: são palavras ou expressões equivalentes. A repetição de palavras compromete a qualidade do texto, mostrando falta de vocabulário do redator. Assim, é aconselhável a utilização de sinônimos: Ex.: Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase - êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Nesse caso a palavra alegria aparece como sinôni- mo semântico da palavra amor, representando-a. z Coesão por elipse ou zeugma (omissão): é a omissão de um termo facilmente identificável. Podemos ocultar o sujeito da frase e fazer o leitor procurar no contexto quem é o agente, fazendo corre- lações entre as partes: Ex.: O marechal marchava rumo ao leste. Não tinha medo, (?) sabia que ao seu lado a sorte também galopava. A interrogação representa a omissão do sujeito marechal que fica subentendido na oração. z Conectivos principais: preposições e suas locu- ções: em, para, de, por, sem, com... Conjunções e suas locuções: e, que, quando, para que, mas... Pronomes relativos, demonstrativos, possessivos, pessoais: onde, que, cujo, seu, este, esse, ele... Ex.: Os programas de TV, em que nós podemos ver muitas mulheres nuas, são imorais. Desde seu iní- cio, a televisão foi usada para facilitar o domínio da sociedade. Como exemplo, podemos citar a chegada do homem à Lua, onde os EUA conseguiram com sua propaganda capitalista frente a uma Guerra Fria, a simpatia de grande parte da população do planeta. Coerência Coerência textual é uma relação harmônica que se estabelece entre as partes de um texto, em um contex- to específico, e que é responsável pela percepção de uma unidade de sentido. Sendo assim, os principais aspectos envolvidos nessa questão são: z Coerência semântica Refere-se à relação entre significados dos elemen- tos da frase (local) ou entre os elementos do texto como um todo: Ex.: Paulo e Maria queria chegar ao centro da questão. - Não caberia aqui pensar em centro como bairro de uma cidade. É nesse caso que entra o estudo da coesão por meio do vocabulário. z Coerência sintática: refere-se aos meios sintáti- cos que o autor utiliza para expressar a coerência semântica: “A felicidade, para cuja obtenção não existem técnicas científicas, faz-se de pequenos fragmentos...” - como leitor do texto, você deve entender que o pronome cuja foi empregado para estabelecer posse entre obtenção e felicidade. É nesse caso que entra o estudo da coesão com o emprego dos conectivos. z Coerência estilística: refere-se ao estilo do autor, à linguagem que ele emprega para redigir. O lei- tor atento a isso consegue facilmente entender a estrutura do texto e relacionar bem as informações LÍ N G U A P O RT U G U ES A 13 textuais. Além disso, percebendo se a linguagem do texto é figurada ou não, seu raciocínio inter- pretativo deverá funcionar de uma determinada maneira, como podemos ver neste texto de Fer- nando Pessoa: Já sobre a fronte vã se me acinzenta O cabelo do jovem que perdi. Meus olhos brilham menos. Já não tem jus a beijos minha boca. Se me ainda amas por amor, não ames: Trairias-me comigo. (Ricardo Reis/Fernando Pessoa) z Elementos importantes de coesão e coerência: para continuarmos o estudo de coesão e coerência, devemos relembrar alguns elementos gramaticais importantes: z Pronome demonstrativo: indicam posição dos seres em relação às pessoas do discurso, situando- -o no tempo e/ou no espaço (função dêitica destes pronomes). Podem também ser empregados fazen- do referência aos elementos do texto (função ana- fórica ou catafórica). São eles: ESTE (A/S), ESSE (A/S), AQUELE (A/S) Têm função de pronome adjetivo. ISSO, ISTO, AQUILO, O (A/S) Têm função de pronome substantivo. MESMO, PRÓPRIO, SEMELHANTE, TAL (E FLEXÕES). Quando são demons- trativos, são pronomes adjetivos. SELEÇÃO VOCABULAR Dependendo da situação, a linguagem verbal (escrita e oral) pode ser mais ou menos formal. Quan- do você conversa ao telefone com um velho amigo ou envia uma mensagem de texto para um parente, se comunica de uma forma mais livre;já numa entrevista de emprego ou ao escrever um e-mail solicitando algo a uma autoridade, você escolhe melhor as palavras. Ou seja, o nível de formalidade nas comunica- ções varia conforme a circunstância. A linguagem informal (oral ou escrita) geralmen- te é usada quando temos certo nível de intimidade entre os interlocutores, como nas correspondências entre familiares ou amigos. Já a linguagem formal (na sua forma oral ou escrita), caracterizada pela poli- dez e escolha cuidadosa das palavras, é normalmen- te empregada quando nos dirigimos a alguém com quem não temos proximidade, como no exemplo da seleção de emprego e em outras situações que exigem tal protocolo, como na escrita de um texto científico, um livro didático, na correspondência entre empre- sas e, como veremos mais adiante, na comunicação oficial. O termo “registro” é usado para se fazer referência aos níveis de formalidade na língua falada e na língua escrita. Os níveis de formalidade são chamados, ain- da, de níveis de fala ou níveis de linguagem. Em qualquer ato de linguagem, para a escolha do registro (do nível de formalidade), o indivíduo leva em conta, mesmo que de forma inconscientemente, a situação em que se encontra ao produzir seu tex- to (oral ou escrito). Em outras palavras, ao praticar a comunicação, o autor escolhe um nível maior ou menor de formalidade e, para isso, leva em considera- ção, entre outras coisas: z O seu interlocutor; z Ambiente em que se encontra; z O assunto a ser tratado; e z A intenção, objetivo a ser atingido (informar, soli- citar, persuadir etc.). É observando esses elementos que o autor adequa: z Os vocábulos; z A pronúncia (no caso da fala); z A ortografia (no caso da escrita); e z A estruturação das sentenças. Quanto mais formal for um ato de linguagem, mais cuidado deve ser dedicado aos itens acima. Observe a tabela baixo, retirada do manual de Tex- tos Dissertativo-Argumentativo do Inep, que ilustra os dois tipos de registro, o formal e o informal. REGISTRO FORMAL REGISTRO INFORMAL Jovem para o chefe: Boa tarde, chefe. Infeliz- mente, acabei de sofrer um acidente de trânsito e devo me atrasar, pois es- tou aguardando a polícia, para os trâmites formais, e a seguradora, para o re- colhimento do veículo. Jovem para a mãe: Que droga, mãe! Bateram no meu carro! Tô bem, não se preocupe. Me mande o número da seguradora. Depois te ligo. Note que o fato é o mesmo: o acidente de trânsito no caminho para o trabalho. No entanto, função das duas diferentes situações (avisar duas pessoas com as quais tem diferentes níveis de intimidade), o registro se faz necessário em suas duas espécies: no registro formal e no registro informal. Assim, ao elaborar o texto da redação oficial, deve-se atentar para o uso do registro formal, uma vez que se espera o uso da modalidade escrita formal da língua portuguesa. Resumindo, a diferença entre linguagem formal e linguagem informal está no contexto em que elas são utilizadas e na escolha das palavras e expressões utilizadas para comunicar. A tabela abaixo apresenta uma comparação entre as duas formas de linguagem. LINGUAGEM FORMAL LINGUAGEM INFORMAL O que é A linguagem formal é aquela utilizada em situações que exigem maior protocolo (situa- ções profissionais, acadêmicas ou quando não existe intimidade entre os interlocutores). A linguagem in- formal é utilizada em situações mais descon- traídas, quando existe maior li- berdade entre os interlocutores. 14 LINGUAGEM FORMAL LINGUAGEM INFORMAL Caracte- rísticas Uso da norma culta (respeito rigoroso às normas grama- ticais) e utilização de vocabulário extenso; Não requer o uso da norma culta, sendo normal o uso de gírias, expressões popu- lares, neologismos (palavras inven- tadas) e palavras abreviadas, como vc, cê e tá. Sofre influência de variações culturais e regionais. Quando se usa Situações mais formais, como entrevistas de em- pregos, palestras, concursos públicos e documentos oficiais. Geralmente, é uti- lizada quando se dirige a superiores, autoridades ou ao público em geral. É mais utilizada quando se escreve. Utilizada em con- versas cotidianas, em mensagens de texto enviadas por celular, chats. Normalmente é usada em conver- sas entre amigos e familiares. O uso mais comum se dá quando se fala. Estou muito atrasado. Caramba, tô muito atrasado. ESTUDO DE TEXTO (QUESTÕES OBJETIVAS SOBRE TEXTOS DE CONTEÚDO LITERÁRIO OU INFORMATIVO OU CRÔNICA) EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (INEP - ENEM - 2020) Montaigne deu o nome para um novo gênero literário; foi dos primeiros a instituir na literatura moderna um espaço privado, o espaço do “eu”, do texto íntimo. Ele cria um novo processo de escrita filosófica, no qual hesitações, autocríticas, cor- reções entram no próprio texto. COELHO. M. Montaigne. São Paulo Publicita. 2001 (adaptado). O novo gênero de escrita aludido no texto é o(a) a) confissão, que relata experiências de transformação. b) ensaio, que expõe concepções subjetivas de um tema. c) carta, que comunica informações para um conhecido. d) meditação, que propõe preparações para o conhecimento. e) diálogo, que discute assuntos com diferentes interlocutores. O gênero ensaio se caracteriza por ser um texto de caráter opinativo, ou seja, através dele se expõe ideias, críticas, reflexões e impressões pessoais, realizando uma possível avaliação subjetiva sobre determinado tema. Quando a citação afirma que Montaigne deu nome a um novo gênero literário, e que esse gênero aborda o “espaço do eu” e contém “hesitações, autocríticas e correções”, demonstra que esse gênero é subjetivo. Analisando as caracte- rísticas do gênero ensaio e as alternativas forneci- das, fica clara a ligação entre a citação e o gênero literário. Resposta: Letra B. 2. (INEP - ENEM - 2020) Seixas era homem honesto; mas ao atrito da secretaria e ao calor das salas, sua honestidade havia tomado essa têmpera flexível da cera que se molda às fantasias da vaidade e aos reclamos da ambição. Era incapaz de apropriar-se do alheio, ou de praticar um abuso de confiança; mas professava a moral fácil e cômoda, tão cultivada atualmente em nossa sociedade. Segundo essa doutrina, tudo é permitido em matéria de amor; e o interesse próprio tem plena liberdade, desde que se transija com a lei e evite o escândalo. ALENCAR, J. Senhora. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015. A literatura romântica reproduziu valores sociais em sintonia com seu contexto de mudanças. No fragmen- to de Senhora, as concepções românticas do narrador repercutem a a) resistência à relativização dos parâmetros éticos. b) idealização de personagens pela nobreza de atitudes. c) crítica aos modelos de austeridade dos espaços coletivos. d) defesa da importância da família na formação moral do indivíduo. e) representação do amor como fator de aperfeiçoamen- to do espírito. Quando observamos a afirmação de que “Seixas era um homem honesto”, “incapaz de apropriar-se do alheio”, “incapaz de praticar um abuso de confian- ça”, mas que por outro lado “professava a moral fácil e cômoda, tão cultivada atualmente em nossa sociedade” e “sua honestidade havia tomado essa têmpera flexível da cera que se molda às fantasias da vaidade e aos reclamos da ambição” é evidente que exista uma resistência à relativização dos parâ- metros éticos. Resposta: Letra A. 3. (ENEM – 2009) Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representa- ção. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialo- gando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outrose à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segun- do uma ordem composta de exposição, conflito, complica- ção, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação. COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado). LÍ N G U A P O RT U G U ES A 15 Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que: a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva. b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebi- do e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpre- tativo dos atores. c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos tex- tuais, entre outros. d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais. e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico inde- pendem do processo de produção/recepção do espe- táculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral. A criação de um espetáculo acontece de forma cole- tiva, em cenário que corresponda ao tema da peça e ao trabalho interpretativo dos atores, que assumem a importância central da peça, seguidos dos efeitos de luz e som. Essa afirmação invalida as alternati- vas a, b, d e e. Além disso, há vários textos cênicos que se originaram de contos, lendas, romances, poe- sias e crônicas, entre outros. Resposta: Letra C. 4. (ENEM – 2009) Assinale a alternativa que que melhor des- creve este trecho de Juca Pirama, de Gonçalves Dias. “IV Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.” a) Possui características do gênero lírico e do épico. b) Possui características do gênero épico e dramático. c) Possui características do gênero lírico e do dramático d) Possui características apenas do épico. Embora seja um poema narrativo, com uma musi- calidade que alterna versos contos e rimas que ajudam a dar o ritmo da aventura de um herói, o lirismo também é um ponto forte no poema. Respos- ta: Letra A. 5. (ENEM – 2009) Confidência do Itabirano Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulhe- res e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa… Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poetica- mente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poe- sia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima: a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade. b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos. c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que represen- tam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo. d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira. e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos. O gênero lírico é caracterizado pela subjetividade, pela emoção e pelo sentimento do eu-lírico. Suas experiências em Itabira, de acordo com o texto, o fizeram triste, orgulhoso e habituado ao sofrimento e à dor. Resposta: Letra C. 6. (CPCON – 2016) Leia o texto a seguir para responder à questão 1 Tempos Loucos – Parte 2 Os adultos que educam hoje vivem na cultura que incentiva ao extremo o consumo. Somos levados a consumir de tudo um pouco: além de coisas materiais, consumimos informações, ideias, estilos de ser e de viver, conceitos que interferem na vida (qualidade de vida, por exemplo), o sexo, músicas, moda, culturas variadas, aparência do corpo, a obrigatoriedade de ser feliz etc. Até a educação escolar virou item de consu- mo agora. A ordem é consumir, e obedecemos muitas vezes cegamente a esse imperativo. 16 Quem viveu sem usar telefone celular por muito tempo não sabe mais como seria a vida sem essa inovação tecnológica, por exemplo. O problema é que a oferta cria a demanda em sociedades consumistas, que é o caso atual, e os produtos e as ideias que o mercado oferece passam a ser considerados absolutamente necessários a partir de então. A questão é que temos tido comportamento exemplar de consumistas, boa parte das vezes sem crítica algu- ma. Não sabemos mais o que é ter uma vida simples porque almejamos ter mais, por isso trabalhamos mais etc. Vejam que a ideia de lazer, hoje, faz todo sentido para quase todos nós. Já a ideia do ócio, não. Ou seja: para descansar de uma atividade, nos ocupamos com outra. A vadiagem e a preguiça são desvalorizadas. Bem, é isso que temos ensinado aos mais novos, mais do que qualquer outra coisa. Quando uma criança de oito anos pede a seus pais um celular e ganha, ensi- namos a consumir o que é oferecido; quando um filho pede para o pai levá-la ao show do RBD, e este leva mesmo se considera o espetáculo ruim, ensinamos a consumir, seja qual for a estética em questão; quando um jovem pede uma roupa de marca para ir a uma fes- ta e os pais dão, ensinamos que o que consumimos é mais importante do que o que somos. Não há problema em consumir; o problema passa a existir quando o consumo determina a vida. Isso é extremamente perigoso, principalmente quando os filhos chegam à adolescência. Há um mercado gene- roso de oferta de drogas. Ensinamos a consumir des- de cedo e, nessa hora, queremos e esperamos que eles recusem essa oferta. Como?! Na educação, essa nossa característica leva a conse- quências sutis, mas decisivas na formação dos mais novos. Como exemplo, podemos lembrar que estes aprendem a avaliar as pessoas pelo que elas aparen- tam poder consumir e não por aquilo que são e pelas ideias que têm e que o grupo social deles é formado por pares que consomem coisa semelhantes. Não é à toa que os pequenos furtos são um fenômeno presente em todas as escolas, sejam elas públicas ou privadas. Nessa ideologia consumista,é importante considerar que os objetos perdem sua primeira função. Um car- ro deixa de ser um veículo de transporte, um telefone celular deixa de ser um meio de comunicação; ambos passam a significar status, poder de consumo, condi- ção social, entre outras coisas. A educação tem o objetivo de formar pessoas autôno- mas e livres. Mas, sob essa cultura do consumo, esses dois conceitos se transformaram completamente e perderam o seu sentido original. Os jovens hoje acre- ditam que têm liberdade para escolher qualquer coi- sa, por exemplo. Na verdade, as escolhas que fazem estão, na maioria das vezes, determinadas pelo con- sumo e pela publicidade. Tempos loucos, ou não? Rosely Sayão. Fonte: https://bit.ly/3jCKFT1. Acessado em 18/09/2020. O texto pode ser considerado: a) Resenha, porque tem a finalidade de criticar, avaliar e orientar o leitor, estimulando ou desestimulando-o ao consumismo. b) Relato pessoal, pois tem o objetivo de relatar expe- riências vividas, episódios marcantes na vida de quem escreve. c) Gênero Jornalístico Notícia, pois tem a intenção de informar o leitor sobre os valores que regem o consu- mismo, de forma objetiva e impessoal. d) Artigo de opinião, por ser um texto argumentativo que aborda um tema polêmico e de interesse social. e) Depoimento, por narrar acontecimentos de vida dos jovens. Como podemos notar pela leitura, o texto apresenta a opinião da autora sobre um tema bem atual que envolve o consumo de bens em excesso e a criação de indivíduos nesse sistema. Sobre a configuração do texto, podemos identificar bem a tese defendida por Sayão, as informações que compreendem os argumentos desenvolvidos e a retomada da tese ini- cial na conclusão, dando ao texto um teor de gênero opinativo. Resposta: Letra D. 7. (PREFEITURA DE CONTAGEM – 2016) Fonte: Internet. Acessado em: 01/03/21. Considerando-se que os gêneros textuais apresentam objetivos distintos, pode-se afirmar que é objetivo do texto: a) Apresentar um produto para o leitor. b) Persuadir o leitor a aderir a uma determinada ideia. c) Discutir um problema importante do cotidiano. d) Argumentar sobre a importância da preservação da água. O texto apresenta uma peça publicitária que busca persuadir o leitor a realizar uma determinada ação. No caso em questão, busca-se que o leitor economi- ze água. Os gêneros publicitários usam, predomi- nantemente, a sequência textual injuntiva, na qual predomina verbos no imperativo, como os verbos utilizados na primeira oração do cartaz avaliado. Resposta: Letra B. TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS TEXTUAIS CONHECENDO OS TIPOS TEXTUAIS Tipos ou sequências textuais são unidades que estruturam o texto. Para Bronckart (1999 apud CAVAL- CANTE, 2013), “são unidades estruturais, relativamente LÍ N G U A P O RT U G U ES A 17 autônomas, organizadas em frases”. Os tipos textuais marcam uma forma de organização da estrutura do texto que se molda a depender do gênero discursivo e da necessidade comunicativa. Por exemplo, há gêneros que apresentam a predominância de narrações – con- tos, fábulas, romances, história em quadrinhos etc –, em outros predomina a argumentação – redação do ENEM, teses, dissertações, artigo de opinião etc. No intuito de conceituar melhor os tipos textuais, inspiramo-nos em Cavalcante (2013) e apresentamos essa figura que demonstra como podemos identificar os tipos textuais e suas principais características, tendo em vista que cada sequência textual apresenta característi- cas próprias as quais, conforme mencionamos, pouco ou nada sofrem em alterações, mantendo uma estrutu- ra linguística quase rígida que nos permite classificar os tipos textuais em 5 categorias (Narrativo; Descritivo; Expositivo; Instrucional; Argumentativo). FRASES TEXTOTIPO TEXTUAL GÊNERO TEXTUAL A partir desse esquema, podemos identificar que a orientação gramatical mantida pelas frases apresen- tam marcas linguísticas, assinalando o tipo textual predominante que o texto deve manter, organizado pelas marcas do gênero textual a qual o texto pertence. TIPO TEXTUAL Classifica-se conforme as marcas linguísticas apresentadas no texto. Também é chamado de sequência textual GÊNERO TEXTUAL Classifica-se conforme a função do texto, atribuí- da socialmente Uma última informação muito importante sobre tipos textuais que devemos considerar é que nem todos texto é composto apenas por um tipo textual, o que ocor- re é a existência de predominância de algumas sequên- cias em detrimento de outras, de acordo com o texto. Dito isso, vamos seguir nossos estudos aprendendo a diferenciar cada classe de tipos textuais, reconhecendo suas principais características e marcas linguísticas. CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS E SUAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Narrativo Os textos compostos predominantemente por se- quências narrativas cumprem o objetivo de contar uma história, narrar um fato, por isso precisam man- ter a atenção do leitor/ouvinte. Para tal, lançam mão de algumas estratégias, como a organização dos fatos a partir de marcadores temporais, espaciais, inclusão de um momento de tensão, chamado de clímax, e um desfecho que poderá ou não apresentar uma moral. Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrati- vo pode ser caracterizado por sete aspectos: z Situação inicial: envolve a “quebra” de um equi- líbrio, o qual demanda uma situação conflituosa; z Complicação: desenvolvimento da tensão apre- sentada inicialmente; z Ações (para o clímax) – Acontecimentos que ampliam a tensão; z Resolução: Momento de solução da tensão; z Situação final: Retorno da situação equilibrada; z Avaliação: Apresentação de uma “opinião” sobre a resolução; z Moral: Apresentação de valores morais que a histó- ria possa ter apresentado. Esses sete passos podem ser encontrados no seguin- te exemplo, a canção Era um garoto que como eu... Vamos ler e identificar essas características, bem como aprender a identificar outros pontos do tipo tex- tual narrativo. Era um garoto que como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones Girava o mundo sempre a cantar As coisas lindas da América 1. Situação inicial: pre- domínio de equilíbrio Não era belo, mas mesmo assim Havia uma garota afim Cantava Help and Ticket to Ride Oh Lady Jane, Yesterday Cantava viva à liberdade Mas uma carta sem esperar Da sua guitarra, o separou Fora chamado na América Stop! Com Rolling Stones 2. Complica- ção: início da tensão Stop! Com Beatles songs Mandado foi ao Vietnã Lutar com vietcongs 3. Clímax Era um garoto que como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones Girava o mundo, mas acabou 4. Resolução Fazendo a guerra no Vietnã Cabelos longos não usa mais Não toca a sua guitarra e sim Um instrumento que sempre dá A mesma nota, ra-tá-tá-tá Não tem amigos, não vê garotas Só gente morta caindo ao chão Ao seu país não voltará 6. Situação final 7. Avaliação Pois está morto no Vietnã Stop! Com Rolling Stones Stop! Com Beatles songs Stop! Com Beatles songs No peito, um coração não há Mas duas medalhas sim 8. Moral Essas sete marcas que definem o tipo textual narra- tivo podem ser resumidas em marcas de organização linguística caracterizadas por: presença de marcado- res temporais e espaciais; verbos, predominante- mente, utilizados no passado; presença de narrador e personagens. 18 Importante! Os gêneros textuais que são, predominantemente, narrativos, apresentam outras tipologias textuais em sua composição, tendo em vista que nenhum texto é composto exclusivamente por uma sequência textual. Por isso, devemos sempre identificar as marcas linguísticas que são predominantes em um texto, a fim de classificá-lo. Para sua compreensão, também é preciso saber o que são marcadores temporais e espaciais. São formas linguísticas como advérbios, pronomes, locuções etc. utilizados para demarcar um espaço físico ou temporal em textos. Nos tipos textuais narrativos, esses elementos são essenciais para marcar o equilíbrio e a tensão da história, além de garantirema coesão do texto. Exemplos de marcadores temporais e espaciais: Atual- mente, naquele dia, nesse momento, aqui, ali, então... Um outro indicador do texto narrativo é a presença do narrador da história. Por isso, é importante aprender- mos a identificar os principais tipos de narrador de um texto: Narrador: também conhecido como foco narrativo é o responsável por contar os fatos que compõem o texto Narrador personagem: Verbos flexionados em 1ª pessoa. O narrador participa dos fatos Narrador observador: Verbos flexionados em 3ª pessoa. O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém não participa das ações Narrador onisciente: Os fatos podem ser contados em 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e não participa das ações, porém o fluxo de consciência do narrador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª pessoa Alguns gêneros são conhecidos por suas marcas predominantemente narrativas, são eles: notícia, diário, con- to, fábula, entre outros. É importante reafirmar que o fato de esses gêneros serem essencialmente narrativos não significa que não possam apresentar outras sequências em sua composição. Para diferenciar os tipos textuais e proceder na classificação correta, é sempre essencial prestar atenção nas marcas que predominam no texto. Após demarcarmos as principais características do tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as marcas mais importantes da sequência textual classificada como descritiva. Descritivo O tipo textual descritivo é marcado pelas formas nominais que dominam o texto. Os gêneros que utilizam esse tipo textual, geralmente, utilizam a sequência descritiva como suporte para um propósito maior. São exemplos de textos cujo tipo textual predominante é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio, classificados, lista de compras etc. Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha que relata suas impressões a respeito de alguns aspectos do território que viria a ser chamado de Brasil no ano de 1500. Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Fonte: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz-de-caminha Note que apesar da presença pontual da sequência narrativa, há predominância da descrição do cenário e dos personagens, evidenciada pela presença de adjetivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, descobertas etc). A carta de Pero Vaz constitui uma espécie de relato descritivo para manter a comunicação entre a Corte Portuguesa e os navegadores. Todavia, considerando as emergências comunicativas do mundo moderno, a carta tornou-se um gênero menos usual e, aos poucos, substituído por outros gêneros como, por exemplo, o e-mail. A sequência descritiva também pode se apresentar de forma esquemática em alguns gêneros, como podemos ver no cardápio a seguir: LÍ N G U A P O RT U G U ES A 19 Fonte: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-divulgar-cardapio-e-ajudar-o- pai-a-vender-na-web.ghtml Note que há presença de muitos adjetivos, locuções e substantivos que buscam levar o leitor a imaginar o objeto descrito. O gênero acima apresenta a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne etc) com uso de adjetivos ou locuções adjetivas (de queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc). Ele está organizado de forma esquematizada em seções (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira que facilita a leitura (o pedido, no caso) do cliente. 20 Organização do texto descritivo: Expositivo O texto expositivo visa apresentar fatos e ideias a fim de deixar claro o tema principal do texto. Nesse tipo textual, é muito comum a presença de dados, informa- ções científicas, citações diretas e indiretas, que servem para embasar o assunto do qual o texto trata. Para lus- trar essa explicação, veja o exemplo a seguir: Fonte: https://www.boavontade.com/pt/ecologia/infografico-dados- mostram-panorama-mundial-da-situacao-da-agua O infográfico acima apresenta as informações per- tinentes sobre o panorama mundial da situação da água no ano de 2016. O gênero foi construído com o objetivo de deixar o leitor informado a respeito do tema tratado, e para isso, o autor dispõe, além da lin- guagem clara e objetiva, de recursos visuais para atin- gir esse objetivo. Assim como os tipos textuais apresentados ante- riormente, os textos expositivos também apresentam uma estrutura que mistura elementos tipológicos de outras sequências textuais, tendo em vista que, para apresentar fatos e ideias, utilizamos aspectos descriti- vos, narrativos e, por vezes, injuntivos. É importante destacar que os textos expositivos podem, muitas vezes, serem confundidos com textos argumentativos, uma vez que existem textos argu- mentativos que são classificados como expositivos, pois utilizam exemplos e fatos para fundamentar uma argumentação. Outra importante diferença entre a sequência expositiva e a argumentativa é que esta apresenta uma opinião pessoal, enquanto aquela não abre margem para a argumentação, uma vez que o fato exposto é apresentado como dado, ou seja, o conhecimento sobre uma questão não é posto em debate. Apresenta-se um conceito e expõem-se as caracte- rísticas desse conceito sem espaço para opiniões. Marcas linguísticas do texto expositivo: z Apresenta informações sobre algo ou alguém, pre- sença de verbos de estado; z Presença de adjetivos, locuções e substantivos que organizam a informação; z Desenvolve-se mediante uso de recursos enumerativos; z Presença de figuras de linguagem como metáfora e comparação; z Pode apresentar um pensamento contrastivo ao final do texto. Os textos expositivos são comuns em gêneros cien- tíficos ou que desencadeiam algum aspecto de curiosi- dade nos leitores, como o exemplo a seguir: VEJA 10 MULHERES INVENTORAS QUE REVOLUCIO- NARAM O MUNDO 08/03/2015 07h43 - Atualizado em 08/03/2015 07h43 Hedy Lamarr - conexão wireless Além de atriz de Hollywood, famosa pelo longa “Ecstasy” (1933), a austríaca naturalizada norte-americana Hedy Lamarr foi a inventora de uma tecnologia que permitia controlar torpedos à distância, durante a Segunda Guer- ra Mundial, alterando rapidamente os canais de frequên- cia de rádio para que não fossem interceptados pelo ini- migo. Esse conceito de transmissão acabou, mais tarde, permitindo o desenvolvimento de tecnologias como o Wi-Fi e o Bluetooth. Fonte: https://glo.bo/2Jgh4Cj Acessado em: 07/09/2020. Adaptado. Instrucional ou Injuntivo O tipo textual instrucional, ou injuntivo, é caracteri- zado por estabelecer um “propósito autônomo” (CAVAL- CANTE, 2013, p. 73) que busca convencer o leitor a realizar alguma tarefa. Esse tipo textual é predominante em gêneros como: bula de remédio, tutoriais na internet, horóscopos e também nos manuais de instrução. A principal marca linguística dessa tipologia é a presença de verbos conjugados no modo imperati- vo e também em sua forma infinitiva. Isso se deve ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor e levá-lo a realizar as ações mencionadas pelo gênero. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 21 Para que possamos identificar corretamente essa tipologia textual, faz-se necessário observar um gêne- ro textual que apresente esse tipo de texto, como o exemplo a seguir: Como faço para criar uma conta do Instagram? Para criar uma conta do Instagram pelo aplicativo: 1. Baixe o aplicativo do Instagram na App Store (iPhone) ou Google Play Store (Android). 2. Depois de instalaro aplicativo, toque no ícone para abri-lo. 3. Toque em Cadastrar-se com e-mail ou número de telefone (Android) ou Criar nova conta (iPhone) e insira seu endereço de e-mail ou número de telefone (que exigi- rá um código de confirmação), toque em Avançar. Tam- bém é possível tocar em Entrar com o Facebook para se cadastrar com sua conta do Facebook. 4. Se você se cadastrar com o e-mail ou número de te- lefone, crie um nome de usuário e uma senha, preencha as informações do perfil e toque em Avançar. Se você se cadastrar com o Facebook, será necessário entrar na conta do Facebook, caso tenha saído dela. Fonte: https://www.facebook.com/help/instagram/. Acessado em: 07/09/2020. No exemplo acima, podemos destacar a presença de verbos conjugados no modo imperativo, como: bai- xe, toque, crie, além de muitos verbos no infinitivo, como: instalar, cadastrar, avançar. Outra caracte- rística dos textos injuntivos é a enumeração de passos a serem cumpridos para a realização correta da tare- fa ensinada e também a fim de tornar a leitura mais didática. É importante lembrar que a principal marca linguística dessa tipologia é a presença de verbos conjugados no modo imperativo e em sua forma infi- nitiva. Isso se deve ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor e levá-lo a realizar as ações mencio- nadas pelo gênero. Argumentativo O tipo textual argumentativo é sem dúvidas o mais complexo e, por vezes, pode apresentar um maior grau de dificuldade na identificação, bem como em sua análise. O texto argumentativo tem por objetivo a defesa de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa de uma tese e a apresentação de argumen- tos que visam sustentar essa tese. Um exemplo típico desse tipo de texto argumen- tativo são as redações do ENEM. Nesse tipo de texto, a introdução apresenta o ponto de vista (tese) a ser defendido pelo autor de maneira contextualizada. No segundo e terceiro parágrafos, o autor pode utilizar estratégias argumentativas para sustentar o seu ponto de vista, como dados estatísticos, definições, exempli- ficações, alusões históricas e filosóficas, referências a outras áreas do conhecimento etc. Na conclusão, o autor conclui, ratificando seu ponto de vista, e apre- senta possíveis soluções para o problema em questão. Outro aspecto importante dos textos argumentati- vos é que eles são compostos por estruturas linguísti- cas conhecidas como operadores argumentativos, que organizam as orações subordinadas, estruturas mais comuns nesse tipo textual. A seguir, apresentamos um quadro sintético com algumas estruturas linguísticas que funcionam como operadores argumentativos e que facilitam a escrita e a leitura de textos argumentativos: OPERADORES ARGUMENTATIVOS É incontestável que... Tal atitude é louvável, repudiável, notável... É mister, é fundamental, é essencial... Essas estruturas, se utilizadas adequadamente no texto argumentativo, expõem a opinião do autor, aju- dando na defesa de seu ponto de vista e construindo a estrutura argumentativa desse tipo textual. Importante! O tipo textual argumentativo não pode ser confundido com o gênero textual dissertativo- -argumentativo. Esse gênero é composto por sequências argumentativas, mas também há a apresentação, dissertação de ideias, a fim de alcançar a persuasão do ouvinte/leitor. O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM é um certame que cobra esse gênero em sua prova de redação. Agora que já conhecemos os cinco principais tipos textuais, vamos exercitar nossos conhecimentos com as seguintes questões de concurso: EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (COMPERVE – 2017) A questão refere-se ao texto abaixo. Há vida fora da Terra? 1º Em 15 de agosto de 1977, um radiotelescópio do Instituto Seti (“Busca por Inteligência Extraterrestre”, na sigla em inglês), nos EUA, captou uma mensagem estranha. Foi um sinal de rádio que durou apenas 72 segundos, só que muito mais intenso que os ruídos comuns vindos do Cosmo. Ao analisar as impressões em papel feitas pelo aparelho, o cientista Jerry Ehman tomou um susto. O sistema captara um sinal 30 vezes mais forte que o normal. Seria alguma civilização ten- tando fazer contato? Ehman ficou tão impressionado que circulou os dados do computador e escreveu ao lado: “Wow!”. O caso ficou conhecido como Wow sig- nal (sinal “uau”!), e até hoje é o episódio mais mar- cante na busca por inteligência extraterrestre. O Seti e outras instituições tentaram detectar o sinal várias vezes depois, mas ele nunca foi encontrado. 2º Mesmo assim, hoje, muitos cientistas acreditam que o contato com extraterrestres é mera questão de tempo. “Numa escala de 1 (pouco provável) a 10 (muito provável), eu diria que nossa chance de fazer contato com ETs em meados deste século é 8”, acre- dita o físico Michio Kaku, da City College de Nova York. Esse otimismo tem justificativa. “Pelo menos 25% das estrelas têm planetas. E, dessas estrelas, pelo menos a metade tem planetas semelhantes à Terra”, explica o físico Marcelo Gleiser. Isso significa que, na nossa 22 galáxia, podem existir até 10 bilhões de planetas pare- cidos com o nosso. Uma quantidade imensa. Ou seja: pela lei das probabilidades, é muito possível que haja civilizações alienígenas. O satélite Kepler, da Nasa, já catalogou 2740 planetas parecidos com a Terra, onde água líquida e vida talvez possam existir. Um dos mais “próximos” é o Kepler 42d, a 126 anos -luz do Sol (um ano-luz equivale a 9,5 trilhões de quilômetros). 3º Kaku acredita que, para civilizações muito avan- çadas, essa distância não seria um problema – pois elas poderiam manipular o espaço-tempo e utilizar portais no Cosmos, como nos filmes de ficção cientí- fica. Ok, mas então por que até hoje esse pessoal não veio aqui? “Se são mesmo tão avançados, talvez não estejam interessados em nós”, opina Kaku. “É como a gente ir a um formigueiro e dizer às formigas: ‘Levem- -nos a seu líder!’.” Para outros cientistas, contudo, a existência de civilizações avançadas é mera especula- ção. E explicar por que elas não colonizaram a Terra já é querer dar uma de psicólogo de aliens. 4º Tudo bem que existem bilhões de terras por aí. E que a probabilidade de existir vida lá fora é muito gran- de. Mas não significa que seja vida inteligente. “Você pode ter um planeta cheio de vida, mas formada por amebas e outros seres unicelulares”, acredita Glei- ser. Afinal, com a Terra foi assim. A vida aqui existe há cerca de 3,5 bilhões de anos. Mas durante quase todo esse tempo (3 bilhões de anos), só havia seres unicelulares: as cianobactérias, também chamadas de algas verdes e azuis. 5º Além disso, não basta o tempo passar para que as formas de vida se tornem complexas e inteligentes. A função essencial da vida é se adaptar bem ao ambien- te onde ela está. A vida só muda – na esteira de algu- ma mutação genética – se uma mudança ambiental exigir que ela mude. Assim, se o ambiente não mudar e a vida estiver bem adaptada, as mutações genéticas que, em geral, aparecem ao longo de gerações não vão fazer diferença. Tudo depende da história de cada pla- neta. Se o asteroide que matou os dinossauros há 65 milhões de anos não tivesse caído aqui na Terra, e os dinossauros não tivessem sido extintos, não estaría- mos aqui. 6º “Não temos nenhuma prova ou argumento forte sobre a existência de vida inteligente fora da Terra”, diz Gleiser. “Existe vida? Certamente. Mas como não entendemos bem como a evolução varia de planeta para planeta, é muito difícil prever ou responder se existe ou não vida inteligente fora daqui”, completa. “Se existe, a vida inteligente fora da Terra é muito rara.” Decepcionante. 7º Mas antes de lamentar a solidão da humanidade no Cosmos, saiba que ela pode ser uma boa notícia. Porque, se aliens inteligentes realmente existirem, não serão necessariamente bondosos. “Se eles algum dia nos visitarem, acho que o resultado será o mesmo que quando Cristóvão Colombo chegou à América. Não foi bom para os índios nativos”,afirmou, certa vez, o físi- co Stephen Hawking. Disponível em:< http://super.abril.com.br/ciencia/ha-vida-fora-da- terra-2/>. Acesso em: 7 jul. 2017. [Adaptado] No primeiro e no segundo parágrafos, predominam, respectivamente: a) Narração e descrição. b) Narração e explicação. c) Explicação e descrição. d) Explicação e injunção. No primeiro parágrafo, há a narração de uma his- tória sobre um contato de possíveis extraterrestres com a Terra; para contar essa história, o autor utilizou muitos verbos no passado, predominando trechos como este: “o cientista Jerry Ehman tomou um susto”. Já o segundo parágrafo apresenta a pre- dominância de informações que visam a explicar o fenômeno narrado anteriormente, o que fica claro por trechos assim: “Esse otimismo tem justificati- va. ‘Pelo menos 25% das estrelas têm planetas. E, dessas estrelas, pelo menos a metade tem planetas semelhantes à Terra’, explica o físico Marcelo Glei- ser”. Resposta: Letra B. 2. (FUNDEP – 2019) Circuito Fechado Ricardo Ramos Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Esco- va, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pin- cel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jor- nal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bande- ja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cin- zeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadronegro, giz, papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de den- tes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone inter- no, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xíca- ra, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Pol- trona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fós- foro. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltro- na. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. Disponível em: <https://tinyurl.com/y4e7n4u7>. Acesso em: 17 jul. 2019. A respeito da tipologia desse texto, é correto afirmar que ele é: a) dissertativo-argumentativo. b) dissertativo-expositivo. c) descritivo. d) narrativo. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 23 O texto descritivo é caracterizado pela forte presen- ça de formas nominais, conforme o texto em debate. Resposta: Letra C. GÊNEROS TEXTUAIS Quando pensamos em uma definição para gêne- ros textuais, somos levados a inúmeros autores que buscaram definir e classificar esses elementos, e, ini- cialmente, é interessante nos lembrarmos dos gêne- ros literários que estudamos na escola. Podemos nos remeter aos conceitos de Tragédia e Comédia, refe- rentes aos clássicos da literatura grega. Afinal, quem nunca ouviu falar das histórias de Ilíada ou A Odis- seia, ambas de Homero? Mas o que esses textos têm em comum? Inicialmente, você pode ser levado a pen- sar que nada, além do fato de terem sido escritos pelo mesmo autor; porém, a estrutura dessas histórias res- peita um padrão textual estabelecido e reconhecido na época em que foram escritas. De maneira análoga, quando pensamos em gêne- ros textuais, devemos identificar os elementos que caracterizam textos, aparentemente, tão diferentes. Logo, da mesma forma que comparamos as estruturas de Ilíada e Odisseia, é preciso buscar as semelhanças entre uma notícia e um artigo de opinião, por exem- plo, e também é fundamental identificar as razões que nos levam a classificar cada um desses gêneros com termos diferentes. Importante! Esse ponto de interseção é o que podemos esta- belecer como os principais aspectos de classifi- cação de um gênero textual. Dessa forma, conforme Maingueneau (2018, p. 71), o ponto de interseção que estabelece sobre qual gênero estamos tratando é indicado por “rotinas de comportamentos estereotipados e anônimos que se estabilizaram pouco a pouco, mas que continuam sujeitos a uma variação contínua”. Logo, o primeiro elemento que precisamos identificar para classificar um gênero é o papel social, marcado pelos compor- tamentos e pelas “rotinas” humanas típicas de quem vive em sociedade e, portanto, precisa se fazer com- preender tão bem quanto ser compreendido. Esse é sem dúvidas o elemento que melhor dife- rencia tipos e gêneros textuais, uma vez que os tipos textuais não têm apelo ao ambiente social e são mui- to mais identificáveis por suas marcas linguísticas. O fator social dos gêneros textuais também irá direcio- nar outros aspectos importantes na classificação des- ses elementos, justamente devido à dinâmica social em que estão inseridos, os gêneros são passíveis de alterações em sua estrutura. Tais alterações podem ocorrer ao longo do tempo, tornando o gênero completamente modificado, como se deu com as cartas pessoais e os e-mails, por exem- plo; ou podem ser alterações pontuais que se prestam a uma finalidade específica e momentânea, como aconteceu com o anúncio, apresentado a seguir, da loja “O Boticário”: Fonte: https://bit.ly/34yptsR. Acessado em: 12/09/2020. O gênero anúncio apresenta uma clara referên- cia ao gênero contos de fada, porém, a estrutura des- se gênero que é, predominantemente, narrativo foi modificada para que o propósito do anúncio fosse alcançado, ou seja, persuadir o leitor e levá-lo a adqui- rir os produtos da marca. No caso do gênero anún- cio publicitário, usar outros gêneros e modificar sua estrutura básica é uma estratégia que é estabelecida a fim de que a principal função do anúncio se cumpra, qual seja: vender um produto. A partir desses exemplos, já podemos enumerar mais algumas características comuns a todos os tipos de gêneros textuais: presença de aspectos sociais e o propósito de um gênero, para alguns autores, como Swales (1990), chamado de propósito comunicativo. Segundo esse autor, os gêneros têm a função de rea- lizar um objetivo ou objetivos; então, ele sustenta a posição de que o propósito comunicativo é o critério de maior importância, pois é o que motiva uma ação e é vinculado ao poder do autor. Além disso, um gênero textual, para ser identifica- do como tal, é amparado por um protótipo textual, o qual também pode ser reconhecido como estereótipo textual, que resguarda características básicas do gêne- ro. Por exemplo, ao olharmos para o anúncio mencio- nado acima, identificamos traços do gênero contos de fada tanto na porção textual do anúncio que começa com a frase: “era uma vez...” quanto pelas imagens que remetem ao conto da “Branca de Neve”. Tais marcas, sobretudo as linguísticas, auxiliam os falantes de uma comunidade a reconhecer o gênero e também a escrever esse gênero quando necessitam. Isso é o que torna a característica da prototipicidade tão importante no reconhecimento e na classificação de um gênero. Ademais, os traços estereotipados de um gênero devem ser reconhecidos por uma comu- nidade, reafirmando o teor social desses elementos e estabelecendo a importância de um indivíduo adqui- rir o hábito da leitura, pois quanto mais selê, a mais gêneros se é exposto. Portanto, a partir de todas essas informações sobre os gêneros textuais, podemos afirmar que, de maneira resumida, os gêneros textuais são ações linguísti- cas situadas socialmente que servem a propósitos específicos e são reconhecidos pelos seus traços em comum. A seguir, demonstramos uma tabela com as características básicas para a correta identificação dos gêneros textuais: 24 GÊNEROS TEXTUAIS SÃO: z Ações sociais z Ações com configuração prototípica z Reconhecidos pelos membros de uma comunidade z O propósito de uma ação social z Divididos em classes Outra importante característica que devemos refor- çar é que os gêneros textuais não são quantificáveis, existem inúmeros. Justamente pelo fato de os gêneros sofrerem com as relações sociais, que são instáveis, não há um número exato de gêneros textuais que possamos estudar, diferentemente dos tipos textuais. GÊNEROS TEXTUAIS TIPOS TEXTUAIS Relação com aspectos sociais Associação a aspectos linguísticos Podem ser alterados Não podem sofrer altera- ção, sob pena de serem reclassificados Estabelecem uma função social Organizam os gêneros textuais Apesar de não existir um número quantificável de gêneros textuais, podemos estudar a estrutura dos gêneros mais comuns nas provas de concursos, com o fito de nos prepararmos melhor e ganharmos tempo na resolução de questões que envolvam esse assun- to. Por isso, a seguir, iremos nos deter aos principais gêneros textuais abordados em importantes bancas de concursos no país. Posteriormente, trazemos ques- tões de provas de concursos anteriores que irão nos auxiliar a praticar esse conteúdo. Notícia A notícia é um gênero textual de caráter jornalís- tico e, como tal, deve apresentar os fatos narrados de maneira objetiva e imparcial. A notícia pode apresen- tar sequências textuais narrativas e descritivas na sua composição linguística, por isso, é fundamental sem- pre termos em mente as características basilares de todos os principais tipos textuais, os quais tratamos anteriormente. Como aprendemos no início deste capítulo, os gêneros textuais possuem características que os dis- tinguem dos tipos textuais, dentre elas o fato de ter um apelo a questões sociais, um propósito comunica- tivo e apresentar uma configuração mais ou menos padrão que varia em poucos ou nenhum aspecto entre os gêneros. Por ser um gênero, a notícia também apresenta essas características. Seu propósito comunicativo é informar uma comunidade sobre assuntos de inte- resse comum, por isso, a notícia deve ser comunicada com imparcialidade, ou seja, sem que o meio que a transmite apresente sua opinião sobre os fatos; outra importante característica da notícia é a sua configura- ção prototípica, seu padrão textual reconhecido por leitores de uma comunidade. Essa configuração própria da notícia é reconheci- da pelos termos: Manchete, Lead e Corpo da Notícia. Vejamos na prática como reconhecer o esquema pro- totípico desse gênero: Casal suspeito de assaltos é preso após colidir carro na contramão enquanto fugia da polícia, em Fortaleza Manchete Foram apreendidos três aparelhos celu- lares roubados e uma arma de fogo com seis munições. Lead Um casal suspeito de realizar assaltos foi preso após capotar um carro ao dirigir na contramão enquanto fugia da polícia na tarde deste domingo (13), no Bairro Henri- que Jorge, em Fortaleza. Uma das vítimas, que preferiu não se iden- tificar, disse que os assaltantes dirigiam em alta velocidade pelas ruas após abor- dar de forma fria os pertences. “A mulher estava conduzindo o carro e o comparsa dela abordava as pessoas colocando a arma na cabeça”, afirmou. Corpo da notícia Fonte: https://glo.bo/35KM591. Acessado em: 14/09/2020. Na formulação de uma notícia, para que ela atinja seu propósito de informar, é fundamental que o autor do texto seja guiado por essas perguntas a fim de tor- nar seu texto imparcial e objetivo: É importante ressaltar que, com o advento das redes sociais, tornou-se cada vez mais comum que o gênero notícia seja divulgado por meio de plataformas diferentes, como as redes sociais. Isso democratiza a informação, porém também abre margem para a cria- ção de notícias falsas que se baseiam nesse esquema de organização das notícias tentando passar alguma credibilidade ao público. Então, atualmente, podemos afirmar que a fonte de publicação é tão importante para o reconhecimento de uma notícia quanto a estru- tura padrão do gênero da qual tratamos acima. O próximo gênero que trataremos é a reportagem que guarda sutis diferenças em comparação com a notí- cia e também é muito abordada em provas de concursos. Reportagem A reportagem é um gênero textual que, diferen- temente da notícia, além de oferecer informações acerca de um assunto, também apresenta os pontos de vista sobre um tema, tendo, portanto, um caráter argumentativo; essa é a principal diferença entre os gêneros notícia e reportagem. Como vimos anteriormente, a notícia deve ser, ou buscar ser, imparcial, ou seja, não devemos encontrar nesse gênero a opinião do meio que a divulga. Por isso, nesse texto, as sequências textuais mais encon- tradas são a narrativa e a descritiva, justamente com a finalidade de se evitar apresentar um ponto de vista. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 25 Porém, a reportagem apresenta as opiniões sobre um mesmo fato, pois essa opinião é o principal “ingre- diente” dos textos desse gênero que são representados, predominantemente, pela sequência argumentativa. É importante relembrarmos que o tipo textual argumentativo é organizado em três macro partes: tese, desenvolvimento e conclusão. Por manter esse padrão, a reportagem aprofunda-se em temas sociais de ampla repercussão e interesse do público, algo que não é o foco da notícia, tendo em vista que a notícia busca apenas a divulgação da informação. Diante disso, o suporte de veiculação das repor- tagens é, quase sempre, aquele que faz uso do vídeo, como a televisão, o computador, o tablet, o celular. As reportagens têm um caráter de “matérias espe- ciais” em jornais de ampla repercussão, mas também podem ser veiculadas em suportes escritos, como revistas e jornais, apesar de, com o avanço do uso das redes sociais, estas são os principais meios de divulga- ção desse gênero atualmente. Conforme a Academia Jornalística (2019), a repor- tagem apresenta informações mais detalhadas sobre um fato e/ou fenômeno de grande relevância social. Isso significa que o repórter deve demonstrar os lados que compõem a matéria, a fim de que o leitor cons- trua sua própria opinião sobre o tema. A despeito dessas diferenças na construção dos gêneros mencionados, a reportagem e a notícia guar- dam semelhanças, como a busca pelas respostas às perguntas O quê? Como? Por quê? Onde? Quando? Quem? Essas perguntas norteiam a escrita tanto da reportagem quanto da notícia, que se diferencia da primeira por seu caráter essencialmente informativo. NOTÍCIA REPORTAGEM Apresenta um fato de forma simples e objetiva; Questiona fatos e efeitos de um fato determinado; Objetivo é informar; Apresenta argumentos sobre um mesmo fato; Apuração dos fatos objetiva; Apuração extensa; Conteúdo de curto prazo; Conteúdo sem ordem determinada, pode apre- sentar entrevistas, dados, imagens, etc. Conteúdo segue o mode- lo da pirâmide invertida (conf. acima). Fonte: https://bit.ly/3kD9tvk. Acessado em: 17/09/2020. Adaptado. É importante ressaltar que nenhum gênero é com- posto apenas por uma única sequência textual e que, portanto, a reportagem também apresentará esse paradigma, pois esse gênero é essencialmente argu- mentativo, porém pode apresentar outras sequências textuais a fim de alcançar seu objetivo final. A seguir, daremos continuidade aos nossos estu- dos sobre os principais gêneros textuais objeto de pro- vas de concurso com um dos gêneros mais comuns em provas de seleções: o artigo de opinião. Artigo de opiniãoO artigo de opinião faz parte da ordem de textos que buscam argumentar. Esse gênero usa a argumen- tação para analisar, avaliar e responder a uma ques- tão controversa. Esse instrumento textual situa-se no âmbito do discurso jornalístico, pois é um gênero que circula, principalmente, em jornais e revistas impres- sos ou virtuais. Com o artigo de opinião, temos a dis- cussão de um problema de âmbito social. E, por meio dessa discussão, podemos defender nossa opinião, como também refutar opiniões contrárias às nossas, ou ainda, propor soluções para a questão controversa. A intenção do escritor ao escolher o artigo de opi- nião é a de convencer seu interlocutor; para isso, ele terá que usar de informações, fatos, opiniões que serão seus argumentos. Bräkling apud Ohuschi e Bar- bosa aponta: O artigo de opinião é um gênero de discurso em que se busca convencer o outro de uma determinada ideia, influenciá-lo, transformar os seus valores por meio de um processo de argumentação a favor de uma determinada posição assumida pelo produtor e de refutação de possíveis opiniões divergentes. É um processo que prevê uma operação constante de sustentação das afirmações realizadas, por meio da apresentação de dados consistentes que possam convencer o interlocutor (2011. p. 305). Dessa forma, para alcançar o objetivo do gênero, o escritor deverá usar diversos conhecimentos, como: enciclopédicos, interacionais, textuais e linguísticos. É por meio da escolha de determinados recursos lin- guísticos que percebemos que nada é por acaso, pois, a cada escolha há uma intenção: “... toda atividade de interpretação presente no cotidiano da linguagem fundamenta-se na suposição de quem fala tem certas intenções ao comunicar-se” (KOCH, 2011, p. 22). Quando queremos dar uma opinião sobre determi- nado tema, é necessário que tenhamos conhecimento sobre ele. Por isso, normalmente, os autores de artigos de opinião são especialistas no assunto por eles abor- dado. Ao escolherem um assunto, os autores devem considerar as diversas “vozes” já existentes sobre mesmo assunto. E, dependendo da intenção, apoiar ou negar determinadas vozes. Por isso, a linguagem utilizada pelo articulista de um texto de opinião deve ser simples, direta, convin- cente. Utiliza-se a terceira pessoa, apesar de a primei- ra ser adequada para um artigo de opinião pessoal; porém, ao escolher a terceira pessoa do singular, o articulista consegue dar um tom impessoal ao seu tex- to, fazendo com que sua produção textual não fique centrada só em suas próprias opiniões. Quanto à composição estrutural, Kaufman e Rodri- guez (1995) apud Pereira (2008) propõem a seguinte estruturação: z Identificação do tema, acompanhada de seus ante- cedentes e alcance para situar a questão polêmica; z Tomada de posição, exposição de argumentos de modo a justificar a tese; z Reafirmação da posição adotada no início da pro- dução, ao mesmo tempo em que as ideias são arti- culadas e o texto é concluído. 26 ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DO ARTIGO DE OPINIÃO Introdução Identificação da questão polêmica alvo de debate no texto Desenvolvimento Tese do autor (posicionamento defendido) – Tese contrária (posi- cionamentos de terceiros) – Acei- tação ou refutação – Argumentos a favor da tese do autor do texto Conclusão Fechamento do texto e reforço do posicionamento adotado No processo de escrita de qualquer texto, é preci- so estar atento aos elementos de coesão que ligam as ideias do autor aos seus argumentos, porém, nos tex- tos argumentativos, é fundamental prestar ainda mais atenção a esse processo; por isso, muito cuidado com a coesão na escrita e na leitura de textos opinativos. A fim de mantermos a linha de pensamento nos estudos de textos argumentativos, seguimos nossa abordagem apresentando outro gênero sempre pre- sente nas provas de língua portuguesa em concursos públicos: o editorial. Editorial Até aqui, estudamos dois gêneros com predominân- cia de sequência argumentativa. O terceiro será o edi- torial, gênero muito marcante no âmbito jornalístico e que expressa a opinião de um veículo de comunicação. Como já debatemos muito sobre a estrutura dos textos argumentativos de uma forma geral, iremos nos atentar aqui para as principais características do gênero editorial e no que ele se diferencia do artigo de opinião, por exemplo. EDITORIAL - CARACTERÍSTICAS z Expressa opinião de um jornal ou revista a respeito de um tema atual z O objetivo desse gênero é esclarecer ou alertar os leitores sobre alguma temática importante z Busca persuadir os leitores, mobilizando-os a favor de uma causa de interesse coletivo z Sua estrutura também é baseada em: Introdu- ção, Desenvolvimento e Conclusão O início de um editorial é bem semelhante ao de um artigo de opinião: apresenta-se a ideia central ou problema social a ser debatido no texto, poste- riormente segue-se a apresentação do ponto de vista defendido e conclui-se com a retomada da opinião apresentada incialmente. A principal diferença entre editorial e artigo de opinião é que aquele representa a opinião de uma corporação, empresa ou instituição. EDITORIAL – MARCAS LINGUÍSTICAS z Verbos na 3ª pessoa do singular ou plural z Uso do modo indicativo nas formas verbais predominante z Linguagem clara, objetiva e impessoal O editorial, além de ser um gênero muito comum nas provas de interpretação textual em concursos públicos, também é, recorrentemente, cobrado por muitas bancas em provas de redação. Por isso, a seguir, apresentamos um breve esquema para facili- tar a escrita desse gênero, especialmente em certames que cobrem redação. EDITORIAL – ESTRUTURA TEXTUAL POR PARÁGRAFOS Parágrafo 1 Apresentação do tema (situando o leitor) e já com um posicionamento definido. Ser didático ao apresentar o assunto ao leitor Parágrafo 2 Contextualização do tema, comparando- -o com a realidade e trazendo as causas e indicativos concretos do problema. Mais uma vez, posicionamento sobre o assunto Parágrafo 3 Análise e as possíveis motivações que tornam o tema polêmico (ou justificativas de especialista da área). É preciso trazer dados factuais, exemplos concretos que ilustram a argumentação Parágrafo 4 Conclusivo, com o posicionamento crí- tico final, retomando o posicionamento inicial sem se repetir A seguir, apresentamos nosso último gênero tex- tual abordado neste material. Lembramos que o universo de gêneros textuais é imenso, por isso, é impossível apresentar uma compilação de estudos com todos os gêneros; apesar disso, trazemos aqui os principais gêneros cobrados em avaliações de língua portuguesa. Seguindo esse critério, o próximo gênero estudado é a crônica. Crônica O gênero crônica é muito conhecido no meio lite- rário no Brasil. Podemos citar ilustres autores que se tornaram famosos pelo uso do gênero, como Luís Fer- nando Veríssimo e Marina Colasanti. Também por ser um gênero curto de cunho social voltado para temas atuais, é muito usado em provas de concurso para ilustrar questões de interpretação textual e também para contextualizar questões que avaliam a compe- tência gramatical dos candidatos. As crônicas apresentam uma abordagem cotidia- na sobre um assunto atual e podem ser narrativas ou argumentativas. CRÔNICA NARRATIVA CRÔNICA ARGUMENTATIVA z Limita-se a contar fatos do cotidiano z Pode apresentar um tom humorístico z Foco narrativo em 1ª ou 3ª pessoa z Defesa de um ponto de vista, relacionado ao assunto em debate z Uso de argumentos e fatos z Também pode ser escri- ta em 1ª ou 3ª pessoa z Uso de argumentos de modo pessoal e subjetivo Apesar de as formas de texto verbais serem o for- mato mais comum na construção de uma crônica, atualmente, podemos encontrar crônicas veiculadas em outros formatos, como vídeo, muito divulgados nas redes sociais. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 27 No tocante ao estilo da crônica argumentativa, trata-se de um texto com estrutura argumentativapadrão (introdução, desenvolvimento, conclusão), muito veiculado em jornais e revistas, e, por isso, é um gênero que passeia pelos ambientes literários e jornalísticos; apresenta um teor opinativo forte, com observação dos fatos sociais mais atuais. Outra carac- terística presente nesse gênero é o uso de figuras de linguagem, como a ironia e a metáfora, que auxiliam na presença do tom sarcástico que a crônica pode ter. A seguir, apresentamos um trecho da crônica “O que é um livro?” da escritora Marina Colasanti em que podemos identificar as principais características des- se gênero: O que é um livro? O que é um livro? A pergunta se impõe neste momento em que que a isenção de impostos sobre o objeto primeiro da cultura e do conhecimento está em risco. Uma contribuição tributária de 12% afastaria ainda mais a leitura de quem tanto pre- cisa dela. Um livro é: – A casa das palavras. Acabei de gravar um vídeo para jovens estudantes e disse a eles que o ofício de um escritor é cuidar dessa casa, varre-la, fazer a cama das palavras, providenciar sua comi- da, vesti-las com harmonia. – A nave espacial que nos permite viajar no tempo para a frente e para trás. Habitar o passa- do ao tempo em que foi escrito. Ou revisitá-lo de outro ponto de vista, inalcançável quando o passa- do aconteceu: o do presente, com todos os conhe- cimentos adquiridos e as novas maneiras de viver. […] - Ao mesmo tempo, espelho da realidade e ponte que nos liga aos sonhos. Crítica e fantasia. Palavra e música, prosa e poesia. Luz e sombra. Metáfora da vida e dos sentimentos. Lugar de pre- servação do alheio e ponto de encontro com nosso núcleo mais profundo. Onde muitas portas estão disponíveis, para que cada um possa abrir a sua. – A selva na qual, entre rugidos e labaredas, dragões enfrentam centauros. O pântano onde as hidras agitam suas múltiplas cabeças. – Todas as palavras do sagrado, todas elas foram postas nos livros que deram origem às reli- giões e neles conservadas. Fonte: https://bit.ly/2HIecxi. Acessado em:17/09/2020. Adaptado. Como podemos notar, a crônica trata de um assun- to bem atual: o aumento da carga tributária que inci- de sobre o preço dos livros. A autora apresenta sua opinião e segue argumentando sobre a importância dos livros na sociedade com um ponto de vista ladea- do pela literatura, o que fortalece sua argumentação. Para finalizar nossos estudos sobre gêneros tex- tuais, é importante deixarmos uma informação rele- vante sobre esse assunto. Para muitos autores, os gêneros não apenas moldam formas de texto, mas formas de dizer marcadas pelo discurso; por isso, em algumas metodologias (e também em alguns edi- tais de concurso), os gêneros serão tratados como do discurso. Dica Gêneros do discurso marcam o processo de inte- ração verbal; como todo discurso materializa-se por meio de textos, a nomenclatura gêneros tex- tuais torna-se mais adequada para essa pers- pectiva de estudos. Podemos distinguir as duas variantes vocabulares de acordo com as deman- das sociais e culturais de estudo dos gêneros. ORTOGRAFIA As regras de ortografia são muitas e, na maioria dos casos, contraproducentes, tendo em vista que a lógica da grafia e da acentuação das palavras, muitas vezes, é derivada de processos históricos de evolução da língua. Por isso, vale lembrar a dica de ouro do aluno cra- que em ortografia: leia sempre! Somente a prática de leitura irá lhe garantir segurança no processo de gra- fia das palavras. Em relação à acentuação, por outro lado, a maior parte das regras não são efêmeras, porém, são em grande número. Neste material, iremos apresen- tar uma forma condensada e prática de nunca mais esquecer os acentos e os motivos pelos quais as pala- vras são acentuadas. Ainda sobre aspectos ortográficos da língua portu- guesa, é importante estarmos atentos ao uso de letras cujos sons são semelhantes e geram confusão quanto à escrita correta. Veja: z É com X ou CH? Empregamos X após os ditongos. Ex.: ameixa, frouxo, trouxe. USAMOS X: USAMOS CH: z Depois da sílaba em, se a palavra não for derivada de palavras iniciadas por CH: enxerido, enxada z Depois de ditongo: cai- xa, faixa z Depois da sílaba ini- cial me se a palavra não for derivada de vocábulo iniciado por CH: mexer, mexilhão z Depois da sílaba em, se a palavra for derivada de palavras iniciadas por CH: encher, encharcar z Em palavras derivadas de vocábulos que são gra- fados com CH: recauchu- tar, fechadura Fonte: instagram/academiadotexto. Acesso em: 10/10/2020. z É com G ou com J? Usamos G em substantivos termi- nados em: -agem; igem; -ugem. Ex.: viagem, ferrugem; Palavras terminadas em: ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio. Ex.: sacrilégio, pedágio; Verbos terminados em -ger e -gir. Ex.: proteger, fugir; Usamos J em formas verbais terminadas em -jar ou -jer. Ex.: viajar, lisonjear; Termos derivados do latim escritos com j. z É com Ç ou S? Após ditongos, usamos, geralmente, Ç quando houver som de S, e escrevemos S quando houver som de Z. Ex.: eleição; Neusa; coisa. z É com S ou com Z? palavras que designam nacio- nalidade ou títulos de nobreza e terminam em -ês e -esa devem ser grafadas com S. Ex.: norueguesa; inglês; marquesa; duquesa. 28 Palavras que designam qualidade, cuja termina- ção seja -ez ou -eza, são grafadas com Z: Embriaguez; lucidez; acidez. Essas regras para correção ortográfica das pala- vras, em geral, apresentam muitas exceções; por isso é importante ficar atento e manter uma rotina de leitu- ra, pois esse aprendizado é consolidado com a prática. Sua capacidade ortográfica ficará melhor a partir da leitura e da escrita de textos, por isso, recomendamos que se mantenha atualizado e leia fontes confiáveis de informação, pois além de contribuir para seu conhe- cimento geral, sua habilidade em língua portuguesa também aumentará. USO DOS PORQUÊS É muito comum haver confusão com os usos das formas dos porquês, pois no contexto de uso discursi- vo (fala) não necessitamos distinguir foneticamente. Porém, existem quatro formas de escrita dos porquês, as quais se distinguem por função sintática, morfo- lógica e pela sua posição no período. Veja a tirinha a seguir e como são realizadas essas distinções: Disponível em: https://bit.ly/3oIvkDs Os tipos de porquês: z Porque: conjunção causal ou explicativa (igual a “pois”, “uma vez que”). Jogava vôlei porque os amigos o chamavam. z Porquê: substantivo abstrato com propósito de justificar. Pode ser acompanhado de artigo, prono- me, adjetivo ou numeral. Pode vir no singular e no plural. Ex.: Não sabia o porquê de ela ter ido embora. Ele não entendeu os porquês de tantas brigas. z Por que: inicia perguntas diretas ou está presen- te no interior de perguntas indiretas, podendo ser substituído por “por qual razão” ou “por qual motivo”. Pode ser também que tenha o significado de “pelo qual” e suas flexões. Ex.: Quero saber por que você não visitou seu primo. Os lugares por que passei são incríveis. z Por quê: aparecerá sempre no final de uma fra- se, podendo ser substituído por “por qual motivo”, “por qual razão”. Ex.: Você não me falou nada, por quê? Ela escutou tudo isso sem saber por quê. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FCC – 2012) Está correto o emprego de ambos os elementos destacados em: a) Se o por quê da importância primitiva de Paraty estava na sua localização estratégica, a importância de que goza atualmente está na relevância histórica porque é reconhecida. b) Ninguém teria porque negar a Paraty esse duplo mereci- mento de ser poesia e história, por que o tempo a esco- lheu para ser preservada e a natureza, para ser bela. c) Os dissabores por que passa uma cidade turística devem ser prevenidos e evitados pela Casa Azul, por- que ela nasceu para disciplinar o turismo. d) Porque teria a cidade passado por tão longos anos de esquecimento? Criou-se uma estrada de ferro, eis porque. e) Não há porquê imaginar que um esquecimento é sem- pre deplorável;veja-se como e por quê Paraty acabou se tornando um atraente centro turístico. O “por que” na sentença da alternativa C está correta- mente empregado, pois possui sentido de “pelo qual”. O “porque” logo em seguida também está correto, pois tem função de explicar o nascimento da Casa Azul: para disciplinar o turismo. Resposta: Letra C. DEMAIS E DE MAIS Demais Advérbio de intensidade. Assume também a fun- ção de pronome indefinido. Ex.: Gritamos demais no jogo, por isso estamos roucos. (advérbio) Eu amo essa cantora, ela é demais! (advérbio) Sabemos o motivo principal, os demais não foram divulgados. (pronome indefinido) De mais Locução adjetiva que manifesta quantidade. Para diferenciá-la de “demais”, basta trocar pelo antônimo, “de menos”; se der certo, escreve-se “de mais”. Ex.: Essa sobremesa tem açúcar de mais para o meu paladar. Preparei comida de mais, vou precisar congelar. É só uma injeção, não tem nada de mais. A CERCA DE / ACERCA DE / HÁ CERCA DE A cerca de Quando se referir a algo ou alguém, com ideia de quantidade aproximada. Ex.: Ele falou a cerca de mil ouvintes. Acerca de Equivale a “sobre”, “a respeito de”, “em relação a”. Ex.: O professou dissertou acerca dos progressos científicos. Há cerca de Quando se trata de uma média de tempo passado. Ex.: Há cerca de trinta dias, foi feita essa proposta. Dica Para evitar redundância, não se deve usar o “há cerca de” com outro termo que dê ideia de pas- sado numa mesma sentença. Ex.: Há cerca de trinta dias atrás. (inadequado) Há cerca de trinta dias. (adequado) LÍ N G U A P O RT U G U ES A 29 SEÇÃO / SESSÃO / CESSÃO Seção Tem sentido de “parte”, “divisão”, “segmento”. Ex.: A seção onde trabalho é muito requisitada. Sessão Tem sentido de “reunião”, “encontro”, “espaço de tempo”. Ex.: Os ingressos para a sessão de estreia estão disponíveis. Cessão Tem sentido de “ceder”, “repartir”. Ex.: O governo autorizou a cessão de livros para as escolas. AO ENCONTRO DE / DE ENCONTRO A Ao encontro de Significa “ser favorável a” e “aproximar-se de”. Ex.: A opinião dos estudantes ia ao encontro das nossas. (sentido de “corresponder”) Ele foi ao encontro dos amigos. (sentido de “encontrar-se com”) De encontro a Indica “oposição”, “confronto”, “colisão”. Ex.: A sua maneira de agir veio de encontro à minha. (sentido de “confronto”) O caminhão foi de encontro ao poste. (sentido de “colisão”) O que ele fez foi de encontro ao que havia dito. (sentido de oposição”) SENÃO / SE NÃO Senão Significa “do contrário, caso contrário”, “mas sim, mas”, “a não ser, exceto, mais do que”, “mas também”, “falha, defeito, obstáculo (como substantivo)”. Ex.: Saio cedo, senão chego atrasado. Não era diamante nem rubi, senão cristal. Ninguém, senão os convidados, podia entrar na festa. O aprendizado não depende somente do professor, senão do esforço do aluno. Não encontrei um senão em seu texto. (substanti- vo com sentido de “falha”) Se não Formado de uma conjunção condicional se e do advérbio de negação não, tem valor de “caso não”, “quando não”. Ex.: Se não fizer sol, não lavarei roupas. Havia duas pessoas interessadas, se não três. Para não errar mais: Se não (separado): Caso não Ex.: Se não estudar, será reprovado. Senão (junto): Caso contrário Ex.: Estude, senão será reprovado. HÁ / A (EXPRESSÃO DE TEMPO) Há Usa-se para espaço de tempo referente ao passado. Ex.: Ela saiu de casa há duas horas. Saiba que o verbo há pode ser substituído também por faz, sendo invariável, sempre no singular. Ex.: Ela saiu de casa faz meia hora. / Ela saiu de casa faz duas horas. A Usa-se para espaço de tempo referente ao futuro. Ex.: Ele chegará daqui a duas horas. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (TJ-SC - 2010) “As eleições vão acontecer daqui ___ três meses, mas as discussões intrapartidárias come- çaram ____ bastante tempo. Entretanto, não ___ como deixar de constatar o irrealismo da legislação eleitoral, que cria certas restrições a pretexto de proporcionar igualdade de oportunidades a todos quantos dispu- tem mandato eletivo mas tenham pouco ou nada _____ com a dinâmica do processo político.” A sequência que preenche corretamente as lacunas do texto é: a) a – há – há – haver b) há – há – a – há ver c) a – a – a – haver d) a – a – há – a ver e) a – há – há – a ver A lacuna “daqui a três meses” representa tempo futuro, logo o “a” é uma preposição; “há bastante tempo” se refere ao que já passou, então se usa o verbo “há”; “não há como deixar” tem que ser com- pletado com o verbo “haver” conjugado (“há”); em “pouco ou nada a ver com a dinâmica”, utiliza-se “a ver”, e não “haver”, pois não se pode usar o verbo nessa situação. Resposta: Letra E. EM VEZ DE / AO INVÉS DE Em vez de Significa “substituição”, “troca”. Ex.: Em vez de estudar, ficou brincando com os amigos. Ao invés de Indica “algo inverso”, “oposição”. Ex.: Ao invés de ligar o som, desligou-o. TRAZ / TRÁS / ATRÁS Traz Do verbo “trazer”, conjugado na terceira pessoa do singular. Ex.: Ele sempre me traz flores quando vem me ver. 30 Trás Significa “na parte posterior” e é sempre precedi- do de preposição. Ex.: Ele estava por trás disso tudo desde o começo. Ande mais depressa, senão ficará pra trás. Atrás Advérbio de lugar. Ex.: O ponto de ônibus fica atrás do shopping. Na frase “Ele estava atrás de mim quando tudo aconteceu”, o advérbio atrás pode apresentar dois significados: no sentido literal, “estar atrás” é locali- zar-se atrás de alguém, mas o “estar atrás” também apresenta um sentido figurado de “estar buscando” ou “procurando”. MAL / MAU Mal Conjunção ou substantivo. Como substantivo, refere-se a uma desgraça, calamidade, dano, doença, enfermidade, pesar, aflição, sofrimento, defeito, pro- blema, maldade. O substantivo mal forma o plural males. Como conjunção subordinativa temporal, tem sentido de “assim que” e “logo que”. Ex.: Todos sabem que essa personagem é do mal. (substantivo) Não temos como fugir dos males do mundo. (substantivo) Mal ele chegou, ela saiu da sala. (conjunção) Mal você possa, venha falar comigo. (conjunção) Mau Adjetivo. Indica alguém ou alguma coisa que: faz maldades, não é de boa qualidade, faz grosserias, traz infortúnio, não tem competência, é pouco produtivo, é inconveniente e impróprio, é contrário aos bons cos- tumes, é travesso e desobediente. Ex.: Que chato! Sempre de mau humor! Ele seguiu por maus caminhos. Desculpa o mau jeito! Eu estava nervoso! Você está fazendo mau uso desse equipamento. Para não errar mais, faça a seguinte operação sem- pre que em dúvida: Mal é antônimo de Bem / Mau é antônimo de Bom. ACENTUAÇÃO GRÁFICA Muitas são as regras de acentuação das palavras da língua portuguesa; para compreender essas regras, faz-se necessário entender a tonicidade das sílabas e respeitar a divisão das sílabas. Regras de Acentuação z Palavras monossílabas: Acentuam-se os monossí- labos tônicos terminados em: A, E, O. Ex.: pá, vá, chá; pé, fé, mês; nó, pó, só. z Palavras oxítonas: acentuam-se as palavras oxíto- nas terminadas em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: cajá, gua- raná; Pelé, você; cipó, mocotó; também, parabéns. z Palavras paroxítonas: acentuam-se as paroxíto- nas que não terminam em: A, E, O, EM/ENS. Ex.: bíceps, fórceps; júri, táxis, lápis; vírus, úteis, lótus; abdômen, hímen. Importante! Acentuam-se as paroxítonas terminadas em ditongo. Ex.: imóveis, bromélia, história, cenário, Brasília, rádio etc. z Palavras proparoxítonas: A regra mais simples e fácil de lembrar: todas as proparoxítonas devem ser acentuadas! Porém, esse grupo de palavras divide uma polê- mica com as palavras paroxítonas, pois, em alguns vocábulos, o Vocabulário Ortográfico da Língua Por- tuguesa (VOLP) aceita a classificação em paroxítona ou proparoxítona. São as chamadas proparoxítonas aparentes. Essas palavras apresentam um ditongo crescente no final de suas sílabas; esse ditongo pode ser aceito ou pode ser considerado hiato. É o que ocorre comas palavras: HIS-TÓ-RIA/ HIS-TÓ-RI-A VÁ-CUO/ VA-CU-O PÁ-TIO/ PÁ-TI-O Antes de concluir, é importante mencionar o uso do acento nas formas verbais TER e VIR: Ele tem / Eles têm Ele vem / Eles vêm Percebam que, no plural, essas formas admitem o uso de um acento (^); portanto, atente-se à concordân- cia verbal quando usar esses verbos. EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (FCC – 2018) Julgue o item a seguir em relação à con- formidade com a norma-padrão da língua: “As opera- ções de saída com destino a empresas do comercio varejista e insumos agropecuários dispõem de isen- ção fiscal e redução de base de cálculo, conforme já prevê em lei, desde que observados os requisitos exi- gidos para cada caso.” ( ) CERTO ( ) ERRADO Ainda que tenha sido respeitadas quase todas as regras gramaticais, faltou o acento da palavra “comércio”, que deve ser acentuada, pois é uma paro- xítona terminada em ditongo. Resposta: Errado. 2. (FCC – 2019) “Um juramento expõe a beleza da von- tade humana, como afirmação nossa, mas sua quebra mostra também nossos limites”. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 31 Numa nova e igualmente correta redação da frase acima, iniciada agora pelo segmento “A quebra de um juramento mostra nossos limites”, pode-se seguir esta coerente complementação: “não fosse a beleza que também têm na quebra mesma da nossa vontade”. ( ) CERTO ( ) ERRADO A forma verbal ter admite a marcação de plural com o uso do acento diferencial ^, porém na recons- trução da frase mencionada o sujeito está no singu- lar, não sendo necessário o uso do plural do verbo citado. Resposta: Errado. PONTUAÇÃO Outro tópico que gera dúvidas é a pontuação. Vere- mos a seguir as regras sobre seus usos. Uso de Vírgula A vírgula é um sinal de pontuação que exerce três funções básicas: marcar as pausas e as inflexões da voz na leitura; enfatizar e/ou separar expressões e orações; e esclarecer o significado da frase, afastando qualquer ambiguidade. Quando se trata de separar termos de uma mesma oração, deve-se usar a vírgula nos seguintes casos: z Para separar os termos de mesma função Ex.: Comprei livro, caderno, lápis, caneta. z Usa-se a vírgula para separar os elementos de enumeração. Ex.: Pontes, edifícios, caminhões, árvores... tudo foi arrastado pelo tsunami. z Para indicar a elipse (omissão de uma palavra que já apareceu na frase) do verbo Ex.: Comprei melancia na feira; ele, abacate. Ela prefere filmes de ficção científica; o namorado, filmes de terror. z Para separar palavras ou locuções explicativas, retificativas Ex.: Ela completou quinze primaveras, ou seja, 15 anos. z Para separar datas e nomes de lugar Ex.: Belo Horizonte, 15 de abril de 1985. z Para separar as conjunções coordenativas, exceto e, nem, ou. Ex.: Treinou muito, portanto se saiu bem. A vírgula também é facultativa quando a expres- são de tempo, modo e lugar não for uma expressão, mas uma palavra só. Exemplos: Antes vamos conversar. / Antes, vamos conversar. Geralmente almoço em casa. / Geralmente, almoço em casa. Ontem choveu o esperado para o mês todo. / Ontem, choveu o esperado para o mês todo. Ela acordou muito cedo. Por isso ficou com sono durante a aula. / Ela acordou muito cedo. Por isso, ficou com sono durante a aula. Irei à praia amanhã se não chover. / Irei à praia amanhã, se não chover. Não se Usa Vírgula nas Seguintes Situações z Entre o sujeito e o verbo Ex.: Todos os alunos daquele professor, entende- ram a explicação. (errado) Muitas coisas que quebraram meu coração, con- sertaram minha visão. (errado) z Entre o verbo e seu complemento, ou mesmo pre- dicativo do sujeito: Ex.: Os alunos ficaram, satisfeitos com a explica- ção. (errado) Os alunos precisam de, que os professores os aju- dem. (errado) Os alunos entenderam, toda aquela explicação. (errado) z Entre um substantivo e seu complemento nominal ou adjunto adnominal. Ex.: A manutenção, daquele professor foi exigida pelos alunos. (errado) z Entre locução verbal de voz passiva e agente da passiva: Ex.: Todos os alunos foram convidados, por aquele professor para a feira. (errado) z Entre o objeto e o predicativo do objeto: Ex.: Considero suas aulas, interessantes. (errado) Considero interessantes, as suas aulas. (errado) EXERCÍCIO COMENTADO 1. (TJ-SC – 2011) Indique o período que não apresenta erro de pontuação: a) Morte de florestas; chuvas ácidas, e animais marinhos cobertos por petróleo, são questões ambientais que teriam suficiente relevância para alarmar a população, e automaticamente, motivar encontros e discussões. b) Ao final, conclui o autor, que todos esses elementos apontados são faces de uma nova abordagem meto- dológica para a proteção do meio ambiente. c) Não é justo e razoável que o servidor tenha que des- pender recursos financeiros com o recolhimento das custas judiciais – que serão destinadas ao seu deve- dor – para obter o que lhe é devido e, depois, reclamar a restituição, se julgada procedente a sua pretensão. d) Outra providência muito recomendada, é evitar polari- zação entre os setores de planejamento e produção, privilegiando o trabalho em equipe, realizado de forma coordenada. e) Segundo Meirelles o ato administrativo – vinculado ou discricionário –, há que ser praticado com a observân- cia formal e ideológica da lei. No trecho “o que lhe é devido e, depois, reclamar a restituição, se julgada procedente a sua pretensão”, as duas primeiras vírgulas isolam o advérbio de tempo “depois”, que está deslocado; a última vírgula justifica-se pela condicional “se julgada procedente a sua pretensão”. Resposta: Letra C. 32 Uso de Ponto e Vírgula É empregado nos seguintes casos o sinal de ponto e vírgula (;): z Nos contrastes, nas oposições, nas ressalvas Ex.: Ela, quando viu, ficou feliz; ele, quando a viu, ficou triste. z No lugar das conjunções coordenativas deslocadas Ex.: O maratonista correu bastante; ficou, portan- to, exausto. z No lugar do e seguido de elipse do verbo (= zeugma) Ex.: Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o ouvinte. Prefiro brigadeiros; minha mãe, pudim; meu pai, sorvete. z Em enumerações, portarias, sequências Ex.: São órgãos do Ministério Público Federal: o Procurador-Geral da República; o Colégio de Procuradores da República; o Conselho Superior do Ministério Público Federal. Dois-pontos Marcam uma supressão de voz em frase que ainda não foi concluída. Servem para: z Introduzir uma citação (discurso direto): Ex.: Assim disse Voltaire: “Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas suas respostas”. z Introduzir um aposto explicativo, enumerativo, distributivo ou uma oração subordinada substan- tiva apositiva Ex.: Em nosso meio, há bons profissionais: profes- sores, jornalistas, médicos. z Introduzir uma explicação ou enumeração após expressões como por exemplo, isto é, ou seja, a saber, como. Ex.: Adquirimos vários saberes, como: Linguagens, Filosofia, Ciências... z Marcar uma pausa entre orações coordenadas (relação semântica de oposição, explicação/causa ou consequência) Ex.: Já leu muitos livros: pode-se dizer que é um homem culto. Precisamos ousar na vida: devemos fazê-lo com cautela. z Marcar invocação em correspondências Ex.: Prezados senhores: Comunico, por meio deste, que... Travessão z Usado em discursos diretos, indica a mudança de discurso de interlocutor: Ex.: – Bom dia, Maria! – Bom dia, Pedro! z Serve também para colocar em relevo certas expressões, orações ou termos. Pode ser subs- tituído por vírgula, dois-pontos, parênteses ou colchetes: Ex.: Os professores ― amigos meus do curso cario- ca ― vão fazer videoaulas. (aposto explicativo) Meninos ― pediu ela ―, vão lavar as mãos, que vamos jantar. (oração intercalada) Como disse o poeta: “Só não se inventou a máqui- na de fazer versos ― já havia o poeta parnasiano”. Parênteses Têm função semelhante à dos travessões e das vírgulas no sentido que colocam em relevo certos ter-mos, expressões ou orações. Ex.: Os professores (amigos meus do curso carioca) vão fazer videoaulas. (aposto explicativo) Meninos (pediu ela), vão lavar as mãos, que vamos jantar. (oração intercalada) Ponto-final É o sinal que denota maior pausa. Usa-se: z Para indicar o fim de oração absoluta ou de período. Ex.: “Itabira é apenas uma fotografia na parede.” Carlos Drummond de Andrade z Nas abreviaturas Ex.: apart. ou apto. = apartamento sec. = secretário a.C. = antes de Cristo Dica Símbolos do sistema métrico decimal e elemen- tos químicos não vêm com ponto final: Exemplos: km, m, cm, He, K, C Ponto de Interrogação Marca uma entonação ascendente (elevação da voz) em tom questionador. Usa-se: z Em frase interrogativa direta: Ex.: O que você faria se só lhe restasse um dia? z Entre parênteses para indicar incerteza: Ex.: Eu disse a palavra peremptório (?), mas acho que havia palavra melhor no contexto. z Junto com o ponto de exclamação, para denotar surpresa: Ex.: Não conseguiu chegar ao local de prova?! (ou !?) z E interrogações retóricas: Ex.: Jogaremos comida fora à toa? (Ou seja: “Claro que não jogaremos comida fora à toa”). Ponto de Exclamação z É empregado para marcar o fim de uma frase com entonação exclamativa: Ex.: Que linda mulher! Coitada dessa criança! z Aparece após uma interjeição: Ex.: Nossa! Isso é fantástico. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 33 z Usado para substituir vírgulas em vocativos enfáticos: Ex.: “Fernando José! onde estava até esta hora?” z É repetido duas ou mais vezes quando se quer marcar uma ênfase: Ex.: Inacreditável!!! Atravessou a piscina de 50 metros em 20 segundos!!! Reticências São usadas para: z Assinalar interrupção do pensamento: Ex.: ― Estou ciente de que... ― Pode dizer... z Indicar partes suprimidas de um texto: Ex.: Na hora em que entrou no quarto ... e depois desceu as escadas apressadamente. (Também pode ser usado: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois desceu as escadas apressadamente.) z Para sugerir prolongamento da fala: Ex.: ―O que vocês vão fazer nas férias? ― Ah, muitas coisas: dormir, nadar, pedalar... z Para indicar hesitação: Ex.: ― Eu não a beijava porque... porque... tinha vergonha. z Para realçar uma palavra ou expressão, normal- mente com outras intenções: Ex.: ― Ela é linda...! Você nem sabe como...! Uso das Aspas São usadas em citações ou em algum termo que precisa ser destacado no texto. Pode ser substituído por itálico ou negrito, que têm a mesma função de destaque. Usam-se nos seguintes casos: z Antes e depois de citações: Ex.: “A vírgula é um calo no pé de todo mundo”, afirma Dad Squarisi, 64. z Para marcar estrangeirismos, neologismos, arcaís- mos, gírias e expressões populares ou vulgares, conotativas: Ex.: O home, “ledo” de paixão, não teve a fortuna que desejava. Não gosto de “pavonismos”. Dê um “up” no seu visual. z Para realçar uma palavra ou expressão imprópria, às vezes com ironia ou malícia Ex.: Veja como ele é “educado”: cuspiu no chão. Ele reagiu impulsivamente e lhe deu um “não” sonoro. z Para citar nomes de mídias, livros etc. Ex.: Ouvi a notícia do “Jornal Nacional”. Colchetes Representam uma variante dos parênteses, porém tem uso mais restrito. Usam-se nos seguintes casos: z Para incluir num texto uma observação de nature- za elucidativa: Ex.: É de Stanislaw Ponte Preta [pseudônimo de Sérgio Porto] a obra “Rosamundo e os outros”. z Para isolar o termo latino sic (que significa “assim”), a fim de indicar que, por mais estranho ou errado que pareça, o texto original é assim mesmo: Ex.: “Era peior [sic] do que fazer-me esbirro aluga- do.” (Machado de Assis) z Para indicar os sons da fala, quando se estuda Fonologia: Ex.: mel: [mɛw]; nem: [bẽy] z Para suprimir parte de um texto (assim como parênteses) Ex.: Na hora em que entrou no quarto [...] e depois desceu as escadas apressadamente. ou Na hora em que entrou no quarto (...) e depois des- ceu as escadas apressadamente. (caso não preferí- vel segundo as normas da ABNT) Asterisco z É colocado à direita e no canto superior de uma palavra do trecho para se fazer uma citação ou comentário qualquer sobre o termo em uma nota de rodapé: Ex.: A palavra tristeza é formada pelo adjetivo triste acrescido do sufixo -eza*. *-eza é um sufixo nominal justaposto a um adjeti- vo, o que origina um novo substantivo. z Quando repetido três vezes, indica uma omissão ou lacuna em um texto, principalmente em substi- tuição a um substantivo próprio: Ex.: O menor *** foi apreendido e depois encami- nhado aos responsáveis. z Quando colocado antes e no alto da palavra, repre- senta o vocábulo como uma forma hipotética, isto é, cuja existência é provável, mas não comprovada: Ex.: Parecer, do latim *parescere. z Antes de uma frase para indicar que ela é agrama- tical, ou seja, uma frase que não respeita as regras da gramática. * Edifício elaborou projeto o engenheiro. Uso da Barra A barra oblíqua [ / ] é um sinal gráfico usado: z Para indicar disjunção e exclusão, podendo ser substituída pela conjunção “ou”: Ex.: Poderemos optar por: carne/peixe/dieta. Poderemos optar por: carne, peixe ou dieta. z Para indicar inclusão, quando utilizada na separa- ção das conjunções e/ou. Ex.: Os alunos poderão apresentar trabalhos orais e/ou escritos. z Para indicar itens que possuem algum tipo de rela- ção entre si. Ex.: A palavra será classificada quanto ao número (plural/singular). O carro atingiu os 220 km/h. z Para separar os versos de poesias, quando escritos seguidamente na mesma linha. São utilizadas duas barras para indicar a separação das estrofes. 34 Ex.: “[…] De tanto olhar para longe,/não vejo o que passa perto,/meu peito é puro deserto./Subo mon- te, desço monte.//Eu ando sozinha/ao longo da noi- te./Mas a estrela é minha.” Cecília Meireles z Na escrita abreviada, para indicar que a palavra não foi escrita na sua totalidade: Ex.: a/c = aos cuidados de; s/ = sem z Para separar o numerador do denominador nos números fracionários, substituindo a barra da fração: Ex.: 1/3 = um terço z Nas datas: Ex.: 31/03/1983 z Nos números de telefone: Ex.: 225 03 50/51/52 z Nos endereços: Ex.: Rua do Limoeiro, 165/232 z Na indicação de dois anos consecutivos: Ex.: O evento de 2012/2013 foi um sucesso. z Para indicar fonemas, ou seja, os sons da língua: Ex.: /s/ Embora não existam regras muito definidas sobre a existência de espaços antes e depois da barra oblí- qua, privilegia-se o seu uso sem espaços: plural/singu- lar, masculino/feminino, sinônimo/antônimo. ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS No dia a dia, usamos unidades comunicativas para estabelecer diálogos e contatos, formando enun- ciados. Essas unidades comunicativas chamamos de palavras. Elas surgem da necessidade de comunica- ção e os processos de formação para sua construção são conhecidos da nossa competência linguística, pois como falantes da língua, ainda que não saibamos o significado de antever, podemos inferir que esse ter- mo tem relação com o ato de ver antecipadamente, dado o uso do prefixo diante do verbo ver. Reconhecer os processos que auxiliam na forma- ção de novas palavras é essencial para o estudante da língua. Esse assunto, como dissemos, já é reconhecido pelo nosso cérebro, que identifica os prefixos, sufixos e palavras novas que podem ser criadas a partir da estru- tura da língua; não é à toa que, muitas vezes, somos surpreendidos com o uso inédito de algum termo. Porém, precisamos ter consciência de que nem todo contexto é apropriado para o uso de novas estruturas vocabulares; por isso, neste capítulo, iremos estudar os processos de formação de palavras e as consequências dessas novas constituições, focando nesse conteúdo; sempre cobrado pelas bancas mais exigentes. ESTRUTURA DAS PALAVRAS Radical e Morfema Lexical As palavras são formadas por estruturas que, uni- das, podem se modificar e criar novos sentidos emcontextos diversos. Os morfemas são as menores uni- dades gramaticais com sentido da língua. Para iden- tificá-los é preciso notar que uma palavra é formada por pequenas estruturas. Para isso, podemos imaginar que uma palavra é uma peça de um quebra-cabeça no qual podemos juntar outra peça para formar uma estrutura maior; porém, se você já montou um que- bra-cabeça, deve se lembrar que não podemos unir as peças arbitrariamente, é preciso buscar aquelas que se encaixam. Assim, como falantes da língua, reconhecemos essas estruturas morfológicas e os seus sentidos, pois, a todo momento estamos aptos a criar novas pala- vras a partir das regras que o sistema linguístico nos oferece. Tornou-se comum, sobretudo nas redes sociais, o surgimento de novos vocábulos a partir de “peças” existentes na língua, algumas misturando termos de outras línguas com morfemas da língua portuguesa para a formação de novas palavras, como: bloguei- ro (blogger), deletar (delete); já algumas palavras ganham novos morfemas e, consequentemente, novas acepções nas redes socias como, por exemplo, biscoi- teiro, termo usado para se referir a pessoas que bus- cam receber elogios nesse ambiente. As peças do quebra-cabeças que formam as pala- vras da língua portuguesa possuem os seguintes nomes: Radical, desinência, vogal temática, afixos, consoantes e vogais de ligação. O radical, também chamado de semantema, é o núcleo da palavra, pois é o detentor do sentido ao qual se anexam os demais morfemas, criando as palavras derivadas. Devido a essa importante característica, o radical é também conhecido como morfema lexical, pois se trata da significação própria dos vocábulos, designando a sua natureza lexical, ou seja, o seu senti- do propriamente dito. Alguns exemplos de radicais: Ex.: pastel – pastelaria – pasteleiro; pedra – pedreiro - pedregulho; Terra – aterrado – enterrado - terreiro. Importante! Palavras da mesma família etimológica, ou seja, que apresentam o mesmo radical e guardam o mesmo valor semântico no radical, são conheci- das como cognatas. Afixos ou Morfemas Derivacionais A partir dos morfemas lexicais, a língua ganha outras formas e sentidos pelos morfemas derivacio- nais, que são assim chamados pois auxiliam no pro- cesso de criação de palavras a partir da derivação, ou seja, a inclusão de prefixos e sufixos no radical dos vocábulos. Vale notar que algumas bancas denominam os afi- xos de infixos. São morfemas derivacionais os afixos, estruturas morfológicas que se anexam ao radical das palavras e auxiliam o processo de formação de novos vocábulos. Os afixos da língua portuguesa são de duas categorias: LÍ N G U A P O RT U G U ES A 35 z Prefixos: afixos que são anexados na parte ante- rior do radical. Exs.: In: infeliz. Anti: antipatia Pós: posterior Bi: bisavô Contra: contradizer z Sufixos: afixos que são anexados na parte poste- rior do radical. Exs.: mente: Felizmente. dada: Lealdade eiro: Blogueiro ista: Dentista gudo: Narigudo É importante destacar que essa pequena amostra, listando alguns sufixos e prefixos da língua portugue- sa, é meramente ilustrativa e serve apenas para que você tenha consciência do quão rico é o processo de formação de palavras por afixos. Além disso, não é interessante que você decore esses morfemas derivacionais, mas que você compreenda o valor semântico que cada um deles estabelece na língua, como os sufixos -eiro e -ista que são usados, comumente, para criar uma relação com o ambiente profissional de alguma área, como: padeiro, costureiro, blogueiro, dentista, escafandrista, equilibrista etc. Os sufixos costumam mudar mais a classes das palavras. Já os prefixos modificam mais o sentido dos vocábulos. Desinências ou Morfemas Flexionais Os morfemas flexionais, mais conhecidos como desinências, são os mais estudados na língua portu- guesa, pois são esses os morfemas que organizam as estruturas no singular e no plural, os verbos em tem- pos e conjugações e as relações de gênero em femini- no e masculino. Para facilitar a compreensão, podemos dividir os morfemas flexionais em: z Aditivos: Adiciona-se ao morfema lexical. Ex.: pro- fessor/professora; livro/livros. z Subtrativos: Elimina-se um elemento do morfema lexical. Ex.: Irmão/irmã; Órfão/órfã. z Nulos: Quando a ausência de uma letra indica uma flexão. Ex.: o singular dos substantivos é mar- cado por essa ausência, como em: mesa (0)1 /mesas Não confunda: Morfema derivacional: afixos (prefixos e sufixos); Morfema flexional: aditivos, subtrativos, nulos; Morfema lexical: radical. Morfema gramatical: significado interno à estrutu- ra gramatical, como artigos, preposições, conjunções etc. Vogais temáticas A vogal temática liga o radical a uma desinência, que estabelece o modo e o tempo da conjugação ver- bal, no caso de verbos, e, nos substantivos, junta-se ao radical para a união de outras desinências. Ex.: Amar e Amor. 1 O morfema flexional nulo é mais conhecido como morfema zero nas gramáticas; sua marcação é feita com a presença do numeral 0 (zero). Nos verbos, a vogal temática marca ainda a conju- gação verbal, indicando se o verbo pertence à 1º, 2º ou 3º conjugação: Exs.: Amar – 1º conjugação; Comer – 2º conjugação; Partir – 3º conjugação. É importante não se confundir: a vogal temática não existe em palavras que apresentam flexão de gênero. Logo, as palavras gato/gato possuem uma desinência e não uma vogal temática! Caso a dúvida persista, faça esse exercício: Igreja (essa palavra existe); “Igrejo” (essa palavra não exis- te), então o -a de igreja é uma vogal temática que irá ligar o vocábulo a desinências, como -inha, -s. Note que as palavras terminadas em vogais tônicas não apresentam vogais temática: Ex.: cajá, Pelé, bobó. Tema O tema é a união do radical com a vogal temática. A partir do exposto no tópico sobre vogal temática, esperamos ter deixado claro que nem toda palavra irá apresentar vogal temática; dessa forma, as palavras que não apresentem vogal temática também não irão possuir tema. Exs.: Vendesse – tema: vende; Mares – tema: mare. Vogais e Consoantes de Ligação As consoantes e vogais de ligação têm uma função eufônica, ou seja, servem para facilitar a pronúncia de palavras. Essa é a principal diferença entre as vogais de ligação e as vogais temáticas, estas unem desinên- cias, aquelas facilitam a pronúncia. Exs.: Gas - ô - metro; Alv - i - negro; Tecn - o - cracia; Pe - z - inho; Cafe - t- eira; Pau - l - ada; Cha - l - eira; Inset - i - cida; Pobre - t- ão; Paris - i - ense; Gira - s - sol; Legal - i - dade. PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS PALAVRAS A partir do conhecimento dos morfemas que auxi- liam o processo de ampliação das palavras da língua, podemos iniciar o estudo sobre os processos de for- mação de palavras. As palavras na língua portuguesa são criadas a partir de dois processos básicos que apresentam clas- ses específicas. O quadro a seguir organiza bem os processos de formação de palavras: 36 FORMAÇÃO DE PALAVRAS DERIVAÇÃO COMPOSIÇÃO z Prefixal z sufixal z Prefixal e sufixal z Parassintética z Regressiva z Imprópria ou conversão z Justaposição z Aglutinação Como é possível notar, os dois processos de formação de palavras são a derivação e a composição. As pala- vras formadas por processos derivativos apresentam mais classes a serem estudas. Vamos conhecê-las agora! PROCESSOS DE DERIVAÇÃO As palavras formadas por processos de derivação são classificadas a partir de seis categorias: z Prefixal ou prefixação; z Sufixal ou sufixação; z Prefixal e sufixal; z Parassintética ou parassíntese; z Regressiva; z Imprópria ou conversão. A seguir, iremos estudar a diferença entre cada uma dessas classes e identificar as peculiaridades de cada uma. Derivação Prefixal Como o próprio nome indica, as palavras forma- das por derivação prefixal são formadas pelo acrésci- mo de um prefixo à estrutura primitiva, como: Pré-vestibular; disposição; deslealdade; super-ho- mem;infeliz; refazer. Pré-vestibular: prefixo pré-; Disposição: prefixo dis-; Deslealdade: prefixo des-; Super-homem: prefixo super; Infeliz: prefixo in-; Refazer: prefixo re-. Derivação Sufixal De maneira comparativa, podemos afirmar que a formação de palavras por derivação sufixal refere- -se ao acréscimo de um sufixo à estrutura primitiva, como em: Lealdade; francesa; belíssimo; inquietude; sofri- mento; harmonizar; gentileza; lotação; assessoria. Lealdade: sufixo -dade; Francesa: sufixo -esa; Belíssimo: sufixo -íssimo; Inquietude: sufixo -tude; Sofrimento: sufixo -mento; Harmonizar: sufixo -izar; Gentileza: sufixo -eza; Lotação: sufixo -ção; Assessoria: sufixo -ria. Derivação Prefixal e Sufixal Nesse caso, juntam-se à palavra primitiva tanto um sufixo quanto um prefixo; vejamos alguns casos: Inquietude (prefiro in- com sufixo -tude); infeliz- mente (prefixo in- com sufixo -mente); ultrapassagem (prefixo ultra- com sufixo -agem); reconsideração (prefixo -re com sufixo -ção). Derivação Parassintética Na derivação parassintética, um acréscimo simul- tâneo de afixos, prefixos e sufixos é realizado a uma estrutura primitiva. É importante não confundir, con- tudo, com o processo de derivação por sufixação e prefixação. Veja: Se, ao retirar os afixos, a palavra perder o senti- do, como em “emagrecer” (sem um dos afixos: “ema- gro-” não existe), basta fazer o seguinte exercício para estabelecer por qual processo a palavra foi formada: retirar o prefixo ou o sufixo da palavra em que paira dúvida. Caso a palavra que restou exista, estaremos diante de um processo por derivação sufixal e prefi- xal; caso contrário, a palavra terá sido formada por derivação parassintética. Ex.: Entristecer, desalmado, espairecer, desgelar, entediar etc. Derivação Regressiva Já na derivação regressiva, a nova palavra será formada pela subtração de um elemento da estrutura primitiva da palavra. Vejamos alguns exemplos: Almoço (almoçar); Ataque (atacar); Amasso (amassar). A derivação regressiva, geralmente, forma subs- tantivos abstratos derivados de verbos. É possível que alguns autores reconheçam esse processo como redução. Derivação Imprópria A derivação imprópria, a partir de seu processo de formação de palavras, provoca a conversão de uma classe gramatical, que pode passar de verbo a subs- tantivo, por exemplo. A seguir, apresentamos alguns processos de con- versão das palavras por derivação imprópria: z Particípio do verbo - substantivo: Teria passado - O passado; z Verbos - substantivos: Almoçar - O almoço; z Substantivos - adjetivos: o gato - mulher gato; z Substantivos comuns - substantivos próprios: leão - Nara Leão; z Substantivos próprios - comuns: Gillete - gilete; Judas - ele é o judas do programa. Sufixos e formação de palavras: Alguns sufixos são mais comuns no processo de formação de deter- minadas classes gramaticais, vejamos: z Sufixos nominais: originam substantivos, adjeti- vos. Ex.: -dor, -ada, -eiro, -oso, -ão, -aço. z Sufixos verbais: originam verbos. Ex.: -ear, -ecer, -izar, -ar. z Sufixos adverbiais: originam advérbios. Ex.: -mente. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 37 LISTA DE RADICAIS E PREFIXOS Apresentamos alguns radicais e prefixos na lista a seguir que podem auxiliar na compreensão do proces- so de formação de palavras. Novamente, alertamos que essa lista não deve ser encarada como uma “tabuada” a ser decorada, mas como um método para apreender o sentido de alguns desses radicais e prefixos. RADICAIS E PREFIXOS GREGOS RADICAL/ PREFIXO SENTIDO EXEMPLO Acro Alto Acrofobia/acrobata Agro Campo Agropecuária Algia Dor Nevralgia Bio Vida Biologia Biblio Livro Biblioteca Crono Tempo Cronologia Caco Mau cacofonia Cali Belo Caligrafia Dromo Local Autódromo Além dos radicais e prefixos gregos, as palavras da língua portuguesa também se aglutinam a radicais e prefixos latinos. RADICAIS E PREFIXO LATINOS RADICAL/PREFIXO SENTIDO EXEMPLO Arbori Árvore Arborizar Beli Guerra Belicoso Cida Que mata Homicida Des- dis Separação Discordar Equi Igual Equivalente Ex- Para fora Exonerar Fide Fé Fidelidade Mater Mãe Materno Processos de Composição As palavras formadas por processos de composi- ção podem ser classificadas em duas categorias: justa- posição e aglutinação. As palavras formadas por qualquer um desses pro- cessos estabelecem um sentido novo na língua, uma vez que nesse processo há a junção de duas palavras que já existem para a formação de um novo termo, com um novo sentido. z Composição por justaposição: nesse processo, as palavras envolvidas conservam sua autonomia morfológica, permanecendo a tonicidade original de cada palavra. Ex.: pé de moleque, dia a dia, faz de conta, navio-escola, malmequer. z Composição por aglutinação: na formação de palavras por aglutinação, há mudanças na toni- cidade dos termos envolvidos, que passam a ser subordinados a uma única tonicidade. Ex.: petró- leo (petra + óleo); aguardente (água + ardente); vinagre (vinho + agre); você (vossa + mercê). Palavras Compostas e Derivadas Agora que já conhecemos os processos de forma- ção de palavras, precisamos identificar as palavras que são compostas e as palavras que são derivadas. z São compostas: planalto, couve-flor, aguardente etc. z São derivadas: pedreiro, floricultura, pedal etc. Palavras derivadas são aquelas formadas a partir de palavras primitivas, ou seja, a partir de palavras que detêm a raiz com sentido lexical independente. São palavras primitivas: porta, livro, pedra etc. A partir das palavras primitivas, o falante pode anexar afixos (sufixos e prefixos), formando as pala- vras derivadas, assim chamadas pois derivam de um dos seis processos derivacionais. Já as palavras compostas guardam a independên- cia semântica e ortográfica, unindo-se a outras pala- vras para a formação de um novo sentido. CLASSES DE PALAVRAS ARTIGOS Os artigos devem concordar em gênero e número com os substantivos. São, por isso, considerados deter- minantes dos substantivos. Essa classe está dividida em artigos definidos e arti- gos indefinidos: os primeiros funcionam como deter- minantes objetivos, individualizando a palavra, já os segundos funcionam como determinantes imprecisos. z Artigos definidos: o, os; a, as. z Artigos indefinidos: um, uns; uma, umas. Os artigos podem ser combinados às preposições: são as chamadas contrações. Algumas contrações comuns na língua são: em + a = na; a + o = ao; a + a = à; de + a = da. Toda palavra determinada por um artigo torna-se um substantivo! Ex.: o não, o porquê, o cuidar etc. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (SCT – 2020) Marque a alternativa cujo período apre- senta apenas artigos indefinidos: a) Uma das vantagens de ser garçonete é que acabo conhecendo todas as pessoas. b) A garota prefere lutar por ele, pois o considera uma boa pessoa. c) A família está em festa com a chegada do bebê. d) Poderia me passar a colher, por favor? e) Mariana é uma mulher com um coração de ouro. Os artigos indefinidos são “um/uma” e suas flexões de plural. A única opção que apresenta somente artigos indefinidos é a e Resposta: Letra E. 38 NUMERAIS Palavra que se relaciona diretamente ao substanti- vo, inferindo ideia de quantidade ou posição. Os numerais podem ser: z Cardinais: indicam quantidade em si. Ex.: dois potes de sorvete; zero coisas a comprar; ambos os meninos eram bons em português. z Ordinais: indicam a ordem de sucessão de uma série. Ex.: foi o segundo colocado do concurso; che- gou em último/penúltimo/antepenúltimo lugar. z Multiplicativos: indicam o aumento proporcio- nal de uma quantidade. Ex.: Ele ganha o triplo no novo emprego. z Fracionários: indicam a diminuição proporcio- nal de uma quantidade. Ex.: Tomou um terço de vinho; o copo estava meio cheio; ele recebeu metade do pagamento. Um numeral ou um artigo? A forma um pode assumir na língua a função de artigo indefinido ou de numeral cardinal; então, como podemos reconhecer cadafunção? É preciso observar o contexto em uso. Durante a votação, houve um deputado que se posicionou contra o projeto. z Durante a votação, apenas um deputado se posi- cionou contra o projeto. Na primeira frase, podemos substituir o termo um por uma, realizando as devidas alterações sintáticas, e o sentido será mantido, pois o que se pretende defen- der é que a espécie do indivíduo que se posicionou contra o projeto é um deputado e não uma deputada, por exemplo. Já na segunda oração, a alteração do gênero não implicaria em mudanças no sentido, pois o que se pretende indicar é que o projeto foi rejeitado por UM deputado, marcando a quantidade. Outra forma de notarmos a diferença é ficarmos atentos com a aparição das expressões adverbiais, o que sempre fará com que a palavra “um” seja numeral. Sobre o numeral milhão/milhares, importa desta- car que sua forma é masculina, logo, o artigo que pre- cede será sempre no masculino z Errado: As milhares de vacinas chegaram hoje. z Correto: Os milhares de vacina chegaram hoje. Dica A forma 14 por extenso apresenta duas for- mas aceitas pela norma gramatical: catorze e quatorze. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (CONSESP – 2018) Analise os itens a seguir: I. A quadragésima quinta Feira do Livro foi um sucesso (45ª). II. Pela milésima vez ele acenou positivamente (1000ª). III. Há uma década que não o vejo (10 anos). Os numerais entre parênteses foram grafados correta- mente, conforme apresentados em destaque, em: a) 1 e 2, apenas. b) 2 e 3, apenas. c) 1 e 3, apenas. d) 1, 2, e 3. Todas as frases colocam adequadamente os nume- rais nas frases, por extenso, e entre parênteses. Res- posta: Letra D. SUBSTANTIVOS Os substantivos classificam os seres em geral. Uma característica básica dessa classe é admitir um deter- minante, artigo, pronome etc. Os substantivos flexio- nam-se em gênero, número e grau. Tipos de Substantivos A classificação dos substantivos admite nove tipos diferentes de substantivos. São eles: z Simples: Formados a partir de um único radical. Ex.: vento, escola; z Composto: Formados pelo processo de justaposi- ção. Ex.: couve-flor, aguardente; z Primitivo: Possibilitam a formação de um novo substantivo. Ex.: pedra, dente; z Derivado: Formados a partir dos primitivos. Ex.: pedreiro, dentista; z Concreto: Designam seres com independência ontológica, ou seja, um ser que existe por si, inde- pendente da sua conotação espiritual ou real. Ex.: Deus, fada, carro; z Abstrato: Indica estado, sentimento, ação, quali- dade. Ex.: coragem, Liberalismo; z Comum: Designam determinados seres e lugares. Ex.: homem, cidade; z Próprio: Designam uma determinada espécie. Ex.: Maria, Fortaleza; z Coletivo: Usados no singular, designam um con- junto de uma mesma espécie. Ex: pinacoteca, manada. É importante destacar que a classificação de um substantivo depende do contexto em que ele está inse- rido. Vejamos: Judas foi um apóstolo (Judas = Próprio). O amigo se mostrou um judas (judas = traidor/ comum). ADJETIVOS Os adjetivos associam-se aos substantivos garan- tindo a estes um significado mais preciso. Os adjetivos podem indicar: z Qualidade: professor chato. z Estado: aluno triste. z Aspecto, aparência: estrada esburacada. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 39 Locuções Adjetivas As locuções adjetivas apresentam o mesmo valor dos adjetivos, indicando as mesmas características deles. Elas são formadas por preposição + substantivo, referindo-se a outro substantivo ou expressão subs- tantivada, atribuindo-lhe o mesmo valor adjetivo. A seguir, colocamos algumas locuções adjetivas com valores diferentes ao lado da forma adjetiva, importantes para seu estudo: z Voo de águia / aquilino; z Poder de aluno / discente; z Cor de chumbo / plúmbeo; z Bodas de cobre / cúprico; z Sangue de baço / esplênico; z Nervo do intestino / celíaco ou entérico; z Noite de inverno / hibernal ou invernal. É importante destacar que mais do que “decorar” formas adjetivas e suas respectivas locuções, é fun- damental reconhecer as principais características de uma locução adjetiva: caracterizar o substantivo e apresentar valor de posse. Ex.: Viu o crime pela aber- tura da porta; A abertura de conta pode ser realiza- da on-line. Quando a locução adjetiva é composta pela pre- posição “de”, ela pode ser confundida com a locução adverbial. Nesse caso, para diferenciá-las, é importan- te perceber que a locução adjetiva apresenta valor de posse, pois, nesse caso, o meio usado pelo sujeito para ver “o crime”, indicado na frase, foi pela abertura da porta. Além disso, a locução destacada está caracteri- zando o substantivo “abertura”. Já na segunda frase, a locução destacada é adver- bial, pois quem sofre a “ação” de ser aberta é a “con- ta”, o que indica o valor de passividade da locução, demonstrando seu caráter adverbial. As locuções adjetivas também desempenham fun- ção de adjetivo e modificam substantivos, pronomes, numerais, oração substantiva. Ex.: amor de mãe, café com açúcar. Já as locuções adverbiais desempenham função de advérbio. Modificam advérbios, verbos, adjetivos, orações adjetivas com esses valores. Ex.: morreu de fome; agiu com rapidez. Adjetivo de Relação No estudo dos adjetivos, é fundamental estudar o aspecto morfológico designado como “adjetivo de relação”, muito cobrado por bancas de concursos. Para identificar um adjetivo de relação, observe as seguintes características: z Seu valor é objetivo, não podendo, portanto, apre- sentar meios de subjetividade. Ex.: Em “Menino bonito”, o adjetivo não é de relação, já que é sub- jetivo, pois a beleza do menino depende dos olhos de quem o descreve. z Posição posterior ao substantivo: os adjetivos de relação sempre são posicionados após o substanti- vo. Ex.: casa paterna. z Derivado do substantivo: derivam-se do substan- tivo por derivação prefixal ou sufixal. z Não admitem variação de grau: os graus compa- rativo e superlativo não são admitidos. Alguns exemplos de adjetivos relativos: Presiden- te americano (não é subjetivo; posicionado após o substantivo; derivado de substantivo; não existe a forma variada em grau “americaníssimo”); platafor- ma petrolífera; economia mundial; vinho francês; roteiro carnavalesco. Variação de Grau O adjetivo pode variar em dois graus: Compara- tivo ou superlativo. Cada um deles apresenta suas respectivas categorias. z Grau comparativo: exprime a característica de um ser, comparando-o com outro da mesma classe nos seguintes sentidos: � Igualdade: igual a, como, tanto quanto, tão quanto; � Superioridade: mais do que; � Inferioridade: menos do que. Ex.: Somos tão complexos quanto simplórios (comparativo de igualdade); O amor é mais suficiente do que o dinheiro (comparativo de superioridade); Homens são menos engajados do que mulhe- res (comparativo de inferioridade). z Grau superlativo: em relação ao grau superlati- vo, é importante considerar que o valor semântico desse grau apresenta variações, podendo indicar: � Característica de um ser elevada ao último grau: Superlativo absoluto, que pode ser analí- tico (associado ao advérbio) ou sintético (asso- ciação de prefixo ou sufixo ao adjetivo); � Característica de um ser relacionada com outros indivíduos da mesma classe: Superla- tivo relativo, que pode ser de superioridade (O mais) ou de inferioridade (O menos) Ex.: O candidato é muito humilde (Superlativo absoluto analítico). O candidato é humílimo (Superlativo absoluto sintético). O candidato é o mais humilde dos concorren- tes? (Superlativo relativo de superioridade). O candidato é o menos preparado entre os con- correntes à prefeitura (Superlativo relativo de inferioridade). Ao compararmos duas qualidades de um mesmo ser, devemos empregar a forma analítica (mais alta, mais magra, mais bonito etc.). Ex.: A modelo é mais alta que magra. Porém, se uma mesma característica se referir a seres diferentes, empregamos a formasintética (melhor, pior, menor etc.). Ex.: Nossa sala é menor que a sala da diretoria. Formação dos Adjetivos Os adjetivos podem ser primitivos, derivados, simples ou compostos. z Primitivos: são os Adjetivos que não derivam de outras palavras e, a partir deles, é possível formar novos termos. Ex.: útil, forte, bom, triste, mau etc. z Derivados: são formados a partir dos adjetivos pri- mitivos. Ex.: bondade, lealdade, mulherengo etc. z Simples: Os adjetivos simples apresentam um único radical. Ex.: português, escuro, honesto etc. 40 z Compostos: são formados a partir da união de dois ou mais radicais. Ex.: verde-escuro, luso-brasileiro, ama- relo-ouro etc. Dica O plural dos adjetivos simples é realizado da mesma forma que o plural dos substantivos. Plural dos adjetivos compostos O plural dos adjetivos compostos segue as seguintes regras: z Invariável: adjetivos compostos como azul-marinho, azul-celeste, azul-ferrete; locuções formadas de cor + de + substantivo, como em cor-de-rosa, cor-de-cáqui; adjetivo + substantivo, como tapetes azul-turquesa, camisas amarelo-ouro. z Varia o último elemento: 1º elemento é palavra invariável, como em mal-educados, recém-formados; adjeti- vo + adjetivo, como em lençóis verde-claros, cabelos castanho-escuros. Adjetivos Pátrios Os adjetivos pátrios também são conhecidos como gentílicos e designam a naturalidade ou nacionalidade dos seres. O sufixo -ense, geralmente, designa a origem de um ser relacionada a um estado brasileiro. Ex.: amazonense, fluminense, cearense. Uma outra curiosidade sobre os adjetivos pátrios diz respeito ao adjetivo brasileiro, formado com o sufixo -eiro, costumeiramente usado para designar profissões. O gentílico que designa nossa nacionalidade teve origem com as pessoas que comercializavam o pau-brasil, esse ofício dava-lhes a alcunha de “brasileiros”, termo que passou a indicar os nascidos em nosso país. Veja abaixo alguns deles: LÍ N G U A P O RT U G U ES A 41 EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FGV – 2017) Há, em língua portuguesa, um grupo de adjetivos chamados “adjetivos de relação”, que possuem marcas diferentes de outros adjetivos, como a de não poder ser empregado antes do substantivo a que se refere, nem receber grau superlativo. Assinale a opção que indica o adjetivo do texto que não está incluído nessa categoria: a) Herói nacional. b) Guerra mundial. c) Diferença social. d) Povo cordial. e) Traço cultural. Como vimos, uma outra característica dos adjetivos de relação é a objetividade. Esses adjetivos não denotam questões subjetivas, tal qual o adjetivo “cordial”, na letra D, a única sem adjetivo de relação. Resposta: Letra D ADVÉRBIOS Advérbios são palavras invariáveis que modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio. Em alguns casos, os advérbios também podem modificar uma frase inteira, indicando circunstância. Os grandes cientistas da gramática da língua portuguesa apresentam uma lista exaustiva com as funções dos advérbios, porém; decorar as funções dos advérbios, além de desgastante, pode não ter o resultado esperado na resolução de questões de concurso. Dessa forma, sugerimos que você fique atento às principais funções designadas por um advérbio e, a partir delas, consiga interpretar a função exercida nos enunciados das questões que tratem dessa classe de palavras. Ainda assim, julgamos pertinente apresentar algumas funções basilares exercidas pelo advérbio: z Dúvida: Talvez, caso, porventura, quiçá etc. z Intensidade: Bastante, bem, mais, pouco etc. z Lugar: Ali, aqui, atrás, lá etc. z Tempo: Jamais, nunca, agora etc. z Modo: Assim, depressa, devagar etc. Novamente, chamamos sua atenção para a função que o advérbio deve exercer na oração. Como dissemos, essas palavras modificam um verbo, um adjetivo ou um outro advérbio; por isso, para identificar com mais pro- priedade a função denotada pelos advérbios, é preciso perguntar: Como? Onde? Como? Por quê? As respostas sempre irão indicar circunstâncias adverbiais expressas por advérbios, locuções adverbiais ou orações adverbiais. Vejamos como podemos identificar a classificação/função adequada dos advérbios: z O homem morreu... de fome (causa); com sua família (companhia); em casa (lugar); envergonhado (modo). z A criança comeu... demais (intensidade); ontem (tempo); com garfo e faca (instrumento); às claras (modo). Locuções dverbiais As locuções adverbiais, como já mostramos anteriormente, são bem semelhantes às locuções adjetivas. É importante saber que as locuções adverbiais apresentam um valor passivo. Ex.: Ameaça de colapso. Nesse exemplo, o termo em negrito é uma locução adverbial, pois o valor é de passividade, ou seja, se inverter- mos a ordem e inserirmos um verbo na voz passiva, a frase manterá seu sentido. Vejamos: Colapso foi ameaçado: essa frase faz sentido e apresenta valor passivo, logo, sem o verbo, a locução destaca- da anteriormente é adverbial. Ainda sobre esse assunto, perceba que em locuções como esta: “Característica da nação”, o termo destacado não terá o mesmo valor passivo, pois não aceitará a inserção de um verbo com essa função: Nação foi característica*: essa frase quebra a estrutura gramatical da língua portuguesa, que não admite voz passiva em termos com função de posse, caso das locuções adjetivas. Isso torna tal estrutura agramatical, por isso, inserimos um asterisco (*) para indicar essa característica. Dica Locuções adverbiais apresentam valor passivo. Locuções adjetivas apresentam valor de posse. Com essa dica, esperamos que você seja capaz de diferenciar essas locuções em questões; ademais, buscamos desenvolver seu aprendizado para que não seja preciso gastar seu valioso tempo decorando listas de locuções adverbiais. Lembre-se: o sentido está no texto. 42 Advérbios Interrogativos Os advérbios interrogativos são, muitas vezes, confundidos com pronomes interrogativos. Para evitar essa confusão, devemos saber que os advérbios interrogativos introduzem uma pergunta, exprimindo ideia de tempo, modo ou causa. Exs.: Como foi a prova? Quando será a prova? Onde será realizada a prova? Por que a prova não foi realizada? De maneira geral, as palavras como, onde, quando e por que são advérbios interrogativos, pois não substi- tuem nenhum nome de ser (vivo), exprimindo ideia de modo, lugar, tempo e causa. Grau do Advérbio Assim como os adjetivos, os advérbios podem ser flexionados nos graus comparativo e superlativo. Vejamos as principais mudanças sofridas pelos advérbios quando flexionados em grau: GRAU COMPARATIVO NORMAL SUPERIORIDADE INFERIORIDADE IGUALDADE Bem Melhor (mais bem*) - Tão bem Mal Pior (mais mal*) - Tão mal Muito Mais - - Pouco menos - - Obs.: As formas “mais bem” e “mais mal” são aceitas quando acompanham o particípio verbal. GRAU SUPERLATIVO NORMAL ABSOLUTO SINTÉTICO ABSOLUTO ANALÍTICO RELATIVO Bem Otimamente Muito bem Inferioridade Mal Pessimamente Muito mal Superioridade Muito Muitíssimo - Superioridade: o mais Pouco Pouquíssimo - Superioridade: o menos Advérbios e Adjetivos O adjetivo é, como vimos, uma classe de palavras variável, porém, quando se refere a um verbo, ele fica inva- riável, confundindo-se com o advérbio. Nesses casos, para ter certeza de qual é classe da palavra, basta tentar colocá-la no feminino ou no plural; caso a palavra aceite uma dessas flexões, será adjetivo. Ex.: A cerveja que desce redondo/ As cervejas que descem redondo. Nesse caso, trata-se de um advérbio. Palavras Denotativas São termos que apresentam semelhança aos advérbios, em alguns casos são até classificados como tal, mas não exercem função modificadora de verbo, adjetivo ou advérbio. Sobre as palavras denotativas, é fundamental que você saiba identificar o sentido a elas atribuído, pois, geral- mente, é isso que as bancas de concurso cobram. z Eis: sentido de designação; z Isto é, por exemplo, ou seja: sentido de explicação; z Ou melhor, aliás, ou antes: sentido de ratificação; z Somente, só, salvo, exceto:sentido de exclusão; z Além disso, inclusive: sentido de inclusão. Além dessas expressões, há, ainda, as partículas expletivas ou de realce, geralmente formadas pela forma ser + que (é que). A principal característica dessas palavras é que podem ser retiradas sem causar prejuízo sintático ou semântico na frase. Ex.: Eu é que faço as regras / Eu faço as regras. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 43 Outras palavras denotativas expletivas são: lá, cá, não, é porque etc. Algumas Observações Interessantes z O adjunto adverbial deve sempre vir posicionado após o verbo ou complemento verbal, caso venha deslocado, em geral, separamos por vírgulas. z Em uma sequência de advérbios terminados com o sufixo -mente, apenas o último elemento recebe a terminação destacada. EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (SCT – 2020) Assinale a opção em que as palavras denotativas não foram bem classificadas: a) A palavra SE, por exemplo, pode ter muitas funções (explicação). b) Todos saíram exceto o vigia (exclusão). c) O pároco, isto é, o vigário da nossa paróquia, esteve aqui (de adição). d) Mesmo eu não sabia de nada (exclusão). e) Ele também participou da homenagem (inclusão). A expressão “isto é” designa explicação, portanto, o item incorreto é a alternativa C. Resposta: Letra C. 2. (FCC – 2018) Julgue o item a seguir: O antônimo de “bem-estar” se constrói com o adjetivo mau. ( ) CERTO ( ) ERRADO O contrário de “bem-estar” é “mal-estar”, admitin- do-se apenas a forma adverbial da palavra. Respos- ta: Errado. PRONOMES Pronomes são palavras que representam ou acom- panham um termo substantivo. Dessa forma, a função dos pronomes é substituir ou determinar uma pala- vra. Os pronomes indicam: pessoas, relações de pos- se, indefinição, quantidade, localização no tempo, no espaço e no meio textual, entre tantas outras funções. Destacamos, ainda, que os pronomes exercem papel importante na análise sintática e também na interpretação textual, pois colaboram para a comple- mentação de sentido de termos essenciais da oração, além de estruturar a organização textual, contribuindo para a coesão e também para a coerência de um texto. Pronomes Pessoais Os pronomes pessoais designam as pessoas do dis- curso; algumas informações relevantes sobre eles são: PESSOAS PRONOMES DO CASO RETO PRONOMES DO CASO OBLÍQUO 1º pessoa do singular EU Me, mim, comigo 2º pessoa do singular TU Te, ti, contigo PESSOAS PRONOMES DO CASO RETO PRONOMES DO CASO OBLÍQUO 3º pessoa do singular ELE/ELA Se, si, consigo, o, a, lhe 1ª pessoa do plural NÓS Nos, conosco. 2º pessoa do plural VÓS Vos, convosco 3º pessoa do plural ELES/ELAS Se, si, consigo, os, as, lhes Os pronomes pessoais do caso reto costumam substituir o sujeito. Ex.: Pedro é bonito / Ele é bonito. Já os pronomes pessoais oblíquos costumam funcio- nar como complemento verbal ou adjunto. Ex.: Eu a vi com o namorado; Maura saiu comigo. z Os pronomes que estarão relacionados ao objeto direto são: O, a, os, as, me, te, se, nos, vos. Ex.: Infor- mei-o sobre todas as questões. z Já os que se relacionam com o objeto indireto são: Lhe, lhes, (me, te, se, nos, vos – complementados por preposição). Ex.: Já lhe disse tudo (disse tudo a ele). Devemos lembrar que todos os pronomes pessoais são pronomes substantivos; além disso, é importan- te saber que eu e tu não podem ser regidos por pre- posição e que os pronomes ele(s), ela (s), nós e vós podem ser retos ou oblíquos, dependendo da função que exercem. Os pronomes oblíquos tônicos são pronunciados com força e precedidos de preposição. Costumam ter função de complemento: z 1ª pessoa: Mim, comigo (singular); nós, conosco (plural). z 2ª pessoa: Ti, contigo (singular); vós, convosco (plural). z 3ª pessoa: Si, consigo (singular ou plural); ele (s), ela (s) Importante lembrar que não devemos usar prono- mes do caso reto como objeto ou complemento ver- bal, como em: “mate ele”. Contudo, o gramático Celso Cunha destaca que é possível usar os pronomes do caso reto como complemento verbal, desde que ante- cedidos pelos vocábulos “todos”, “só”, “apenas” ou “numeral”. Ex.: Encontrei todos eles na festa; Encon- trei apenas ela na festa. Após a preposição “entre”, em estrutura de reci- procidade, devemos usar os pronomes oblíquos tôni- cos. Ex.: Entre mim e ele não há segredos. VERBOS Certamente, a classe de palavras mais complexa e importante dentre as palavras da língua portuguesa é o verbo. A partir dos verbos, são estruturados as ações e os agentes desses atos, além de ser uma importante classe sempre abordada nos editais de concursos; por isso; fique atento às nossas dicas. 44 Os verbos são palavras variáveis que se flexionam em número, pessoa, modo e tempo, além da designação da voz que exprime uma ação, um estado ou um fato. Formas Nominais do Verbo e Locuções Verbais As formas nominais do verbo são as formas infi- nitiva, particípio e gerúndio que eles assumem em determinados contextos. São chamadas nominais pois funcionam como substantivos, adjetivo ou advérbios. z Gerúndio: é marcado pela terminação -NDO, seu valor indica duração de uma ação e, por vezes, pode funcionar como um advérbio ou um adjetivo. Ex.: Olhando para seu povo, o presidente se compadeceu. z Particípio: é marcado pelas terminações -ado, -ido, -do, -to, -go, -so, corresponde nominalmente ao adjetivo, pode flexionar-se, em alguns casos, em número e gênero. Ex.: A Índia foi colonizada pelos ingleses. z Infinitivo: forma verbal que indica a própria ação do verbo, ou o estado, ou, ainda, o fenômeno desig- nado. Pode ser pessoal ou impessoal. � Pessoal: o infinitivo pessoal é passível de con- jugação, pois está ligado às pessoas do discurso. É usado na formação de orações reduzidas. Ex.: Comer eu; Comermos nós; É para aprenderem que ele ensina. � Impessoal: não é passível de flexão. É o nome do verbo, servindo para indicar apenas a con- jugação. Ex.: Estudar - 1ª conjugação; Comer - 2ª conjugação; Partir - 3ª conjugação. O infinitivo impessoal forma locuções verbais ou orações reduzidas. � Locuções verbais: sequência de dois ou mais ver- bos que funcionam como um verbo. Ex.: Ter de + verbo principal no infinitivo: Ter de trabalhar para pagar as contas; Haver de + verbo principal no infinitivo: Havemos de encontrar uma solução. Não confunda locuções verbais com tempos com- postos. O particípio formador de tempo composto na voz ativa não se flexiona. Ex.: O homem teria realiza- do sua missão. Classificação dos Verbos Os verbos são classificados quanto a sua forma de conjugação e podem ser divididos em: regulares, irre- gulares, anômalos, abundantes, defectivos, pronomi- nais, reflexivos, impessoais e os auxiliares, além das formas nominais. Vamos conhecer as particularida- des de cada um a seguir: z Regulares: os verbos regulares são os mais fáceis de compreender, pois apresentam regularidade no uso das desinências, ou seja, as terminações ver- bais. Da mesma forma, os verbos regulares man- têm o paradigma morfológico com o radical, que permanece inalterado. Ex.: Verbo cantar. PRESENTE INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO INDICATIVO Eu canto Cantei Tu cantas Cantaste Ele/ você canta Cantou PRESENTE INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO INDICATIVO Nós cantamos Cantamos Vós cantais Cantastes Eles/ vocês cantam Cantaram z Irregulares: os verbos irregulares apresentam alteração no radical e nas desinências verbais, por isso recebem esse nome, pois sua conjugação ocor- re irregularmente, seguindo um paradigma pró- prio para cada grupo verbal. Perceba como ocorre uma sutil diferença na conjugação do verbo estar que utilizamos como exemplo, isso é importante para não confundir os verbos irregulares com os verbos anômalos. Ex.: Verbo estar. PRESENTE INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO INDICATIVO Eu estou Estive Tu estás Esteves Ele/ você está Esteve Nós estamos Estivemos Vós estais Estiveste Eles/ vocês estão Estiveram z Anômalos: essesverbos apresentam profundas alterações no radical e nas desinências verbais, consideradas anomalias morfológicas, por isso, recebem essa classificação. Um exemplo bem usual de verbos dessa categoria é o verbo ser. Na língua portuguesa, apenas dois verbos são classi- ficados dessa forma, os verbos ser e ir. Vejamos a conjugação do verbo ser: PRESENTE INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO INDICATIVO Eu sou Fui Tu és Foste Ele/ você é Foi Nós somos Fomos Vós sois Fostes Eles/ vocês são Foram Os verbos ser e ir são irregulares, porém, apresen- tam uma forma específica de irregularidade, que oca- siona uma anomalia em sua conjugação, por isso, são classificados como anômalos. z Abundantes: são formas verbais abundantes os verbos que apresentam mais de uma forma de particípio aceitas pela norma culta gramatical. Geralmente, apresentam uma forma de particípio regular e outra irregular; falaremos disso poste- riormente, quando trataremos das formas nomi- nais do verbo. Vejamos alguns verbos abundantes: LÍ N G U A P O RT U G U ES A 45 INFINITIVO PARTICÍPIO REGULAR PARTICÍPIO IRREGULAR Acender Acendido Aceso Afligir Afligido Aflito Corrigir Corrigido Correto Encher Enchido Cheio Fixar Fixado Fixo z Defectivos: são verbos que não apresentam algu- mas pessoas conjugadas em suas formas, gerando um defeito na conjugação, por isso o nome. São defectivos os verbos colorir, precaver, reaver. Esses verbos não são conjugados na primeira pessoa do singular do presente do indicativo. Bem como: Aturdir, exaurir, explodir, esculpir, extorquir, feder, fulgir, delinquir, demolir, puir, ruir, computar, colo- rir, carpir, banir, brandir, bramir, soer. Verbos que expressam onomatopeias ou fenôme- nos temporais também apresentam essa caracte- rística, como latir, bramir, chover. z Pronominais: esses verbos apresentam um pro- nome oblíquo átono integrando sua forma verbal; é importante lembrar que esses pronomes não apresentam função sintática. Predominantemen- te, os verbos pronominas apresentam transitivida- de indireta, ou seja, são VTI. Ex.: Sentar-se PRESENTE INDICATIVO PRETÉRITO PERFEITO INDICATIVO Eu me sento Sentei-me Tu te sentas Sentaste-te Ele/ você se senta Sentou-se Nós nos sentamos Sentamo-nos Vós vos sentais Sentastes-vos Eles/ vocês se sentam Sentaram-se z Reflexivos: são os verbos que apresentam pro- nome oblíquo átono reflexivo, funcionando sinta- ticamente como objeto direto ou indireto. Nesses verbos, o sujeito sofre e pratica a ação verbal ao mesmo tempo. Ex.: Ela se veste mal; Nós nos cum- primentamos friamente. z Impessoais: são verbos que designam fenômenos da natureza, como chover, trovejar, nevar etc. O verbo haver com sentido de existir ou marcando tempo decorrido também será impessoal. Ex.: Havia muitos candidatos e poucas vagas; Há dois anos, fui aprovado em concurso público. Os verbos ser e estar também são verbos impes- soais, quando designam fenômeno climático ou tempo. Ex.: Está muito quente!; Era tarde quando chegamos. O verbo ser para indicar hora, distância ou data concorda com esses elementos. O verbo fazer também poderá ser impessoal, quando indicar tempo decorrido ou tempo climáti- co. Ex.: Faz anos que estudo para concursos; Aqui faz muito calor. Os verbos impessoais não apresentam sujeito; sin- taticamente, classificamos como sujeito inexistente. Dica O verbo ser será impessoal quando o espaço sintático ocupado pelo sujeito não estiver preen- chido: “Já é natal”. Segue o mesmo paradigma do verbo fazer, podendo ser impessoal, tam- bém, o verbo IR: “vai uns bons anos que não vejo Mariana” z Verbos Auxiliares: os verbos auxiliares são empregados nas formas compostas dos verbos e também nas locuções verbais. Os principais verbos auxiliares dos tempos compostos são ter e haver. Nas locuções, os verbos auxiliares determinam a concordância verbal, porém, o verbo principal deter- mina a regência estabelecida na oração. Apresentam forte carga semântica que indica modo e aspecto da oração; tratamos mais desse assun- to no tópico verbos auxiliares no final da gramática. São importantes na formação da voz passiva analítica. z Formas Nominais: na língua portuguesa, usamos três formas nominais dos verbos: � Gerúndio: terminação -NDO. Apresenta valor durativo da ação e equivale a um advérbio ou adjetivo. Ex.: Minha mãe está rezando. � Particípio: terminações: -ADO, -IDO, -DO, -TO, -GO, -SO. Apresenta valor adjetivo e pode ser classificado em particípio regular e irregular, sendo as formas regulares finalizadas em -ADO e -IDO. A norma culta gramatical recomenda o uso do par- ticípio regular com os verbos ter e haver, já com os verbos ser e estar, recomenda-se o uso do particípio irregular. Ex.: Os policiais haviam expulsado os ban- didos / Os traficantes foram expulsos pelos policiais. � Infinitivo: marca as conjugações verbais. AR: verbos que compõem a 1ª conjugação (AmAR, PasseAR); ER: verbos que compõem a 2ª conjugação (ComER, pÔR); IR: verbos que compõem a 3ª conjugação (Par- tIR, SaIR) O verbo pôr corresponde à segunda conjuga- ção, pois origina-se do verbo poer, o mesmo acontece com verbos que deste derivam. Vozes verbais As vozes verbais definem o papel do sujeito na oração, demonstrando se o sujeito é o agente da ação verbal ou se ele recebe a ação verbal. z Ativa: O sujeito é o agente, praticando a ação ver- bal. Ex.: O policial deteve os bandidos. z Passiva: O sujeito é paciente, sofre a ação verbal. Ex.: Os bandidos foram detidos pelo policial – pas- siva analítica; Detiveram-se os criminosos – pas- siva sintética. 46 z Reflexiva: O sujeito é agente e paciente ao mesmo tempo, pois o sujeito pratica e recebe a ação ver- bal. Ex.: Os bandidos se entregaram à polícia. z Recíproca: O sujeito é agente e paciente ao mesmo tempo, porém percebemos que há uma ação com- partilhada entre dois indivíduos. Ex.: Os bandidos se olharam antes do julgamento. A voz passiva é realizada a partir da troca de funções entre sujeito e objeto da voz ativa; falamos melhor desse processo no capítulo funções do SE em verbos transitivos direto. Só podemos transformar uma frase da voz ativa para a voz passiva se o verbo for transitivo direto ou transitivo direto e indireto, logo, só há voz passiva com a presença do objeto direto. A voz reflexiva indica uma ação praticada e rece- bida pelo sujeito ao mesmo tempo; essa relação pode ser alcançada com apenas um indivíduo que pratica e sofre a ação. Ex.: O menino se agrediu. Ou a ação pode ser compartilhada entre dois ou mais indivíduos que praticam e sofrem a ação. Ex.: Apesar do ódio mútuo, os candidatos se cumprimentaram. No último caso, a voz reflexiva é também chamada de recíproca, por isso, fique atento. Não confunda os verbos pronominais com as vozes verbais. Os verbos pronominais que indicam sentimentos, como arrepender-se, queixar-se, dignar- -se, entre outros acompanham um pronome que faz parte integrante do seu significado, diferentemente das vozes verbais que acompanham o pronome SE com função sintática própria. Conjugação de Verbos Derivados Vamos conhecer agora alguns verbos cuja conjuga- ção apresenta paradigma derivado, auxiliando a com- preensão dessas conjugações verbais. O verbo criar é conjugado da mesma forma que os verbos “variar”, “copiar”, “expiar” e todos os demais que terminam em -iar. Os verbos com essa termina- ção são, predominantemente, regulares. PRESENTE - INDICATIVO Eu Crio Tu Crias Ele/Você Cria Nós Criamos Vós Criais Eles/Vocês Criam Os verbos terminados em -ear, por sua vez, geral- mente, são irregulares e apresentam alguma modi- ficação no radical ou nas desinências. Assim como o verbo passear, são derivados dessa terminação os verbos: PRESENTE - INDICATIVO Eu Passeio Tu Passeias Ele/Você Passeia PRESENTE - INDICATIVO Nós Passeamos Vós Passeais Eles/Vocês Passeiam Conjugação de Alguns Verbos Vamos agora conhecer algumas conjugações de verbos irregularesimportantes, que sempre são obje- to de questões em concursos. Fazem paradigma com o verbo aderir, mantendo as mesmas desinências desse verbo, as formas PRESENTE - INDICATIVO Eu Adiro Tu Aderes Ele/Você Adere Nós Aderimos Vós Aderis Eles/Vocês Aderem PRESENTE - INDICATIVO Eu Ponho Tu Pões Ele/Você Põe Nós Pomos Vós Pondes Eles/Vocês Põem São conjugados da mesma forma os verbos: dispor, interpor, sobrepor, compor, opor, repor, transpor, en- trepor, supor. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FCC – 2018) “Uma tendência que já coroava as edi- ções anteriores do prêmio”. O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo do que se encontra acima está sublinhado em: a) Por meio do qual definia uma suposta obra de arte. b) O novo prêmio atenderia o mercado. c) Ou o que o contraria. d) O leitor elegerá títulos apenas entre os finalistas. e) Ele contempla os títulos com mais chance. “Coroava”, assim como “definia”, está conjugado no pretérito imperfeito do indicativo. Resposta: Letra A. PREPOSIÇÕES Conceito São palavras invariáveis que ligam orações ou outras palavras. As preposições apresentam funções importantes tanto no aspecto semântico quanto no aspecto sintático, pois complementam o sentido de LÍ N G U A P O RT U G U ES A 47 verbos e/ou palavras cujo sentido pode ser alterado sem a presença da preposição, modificando a transiti- vidade verbal e colaborando para o preenchimento de sentido de palavras deverbais2. As preposições essenciais são: a, ante, até, após, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, peran- te, por, sem, sob, trás. Existem, ainda, as preposições acidentais, assim chamadas pois pertencem a outras classes gramaticais, mas, ocasionalmente, funcionam como preposições. Eis algumas: afora, conforme (quando equivaler a “de acordo com”), consoante, durante, exceto, salvo, segundo, senão, mediante, que, visto (quando equi- valer a “por causa de”). Locuções Prepositivas São grupos de palavras que equivalem a uma pre- posição. Ex.: Falei sobre o tema da prova; Falei acerca do tema da prova. A locução prepositiva na segunda frase substitui perfeitamente a preposição sobre. As locuções pre- positivas sempre terminam em uma preposição, e há apenas uma exceção: a locução prepositiva com sen- tido concessivo “não obstante”. A seguir, elencamos alguns exemplos de locuções prepositivas: Abaixo de; acerca de; acima de; devido a; a despeito de; adiante de; defronte de; embaixo de; em frente de; graças a; junto de; perto de; por entre; por trás de; quan- to a; a fim de; a respeito de; por meio de; em virtude de. Algumas locuções prepositivas apresentam seme- lhanças morfológicas, mas significados completamen- te diferentes, como: A opinião dos diretores vai ao encontro do pla- nejamento inicial = Concordância. / As decisões do público foram de encontro à proposta do programa = Discordância. Em vez de comer lanches gordurosos, coma frutas = substituição. / Ao invés de chegar molhado, chegou cedo = oposição. Fonte: instagram.com/academiadotexto. Acessado em: 19/11/2020. Combinações e Contrações As preposições podem ser contraídas com outras classes de palavras, veja: z Preposição + artigo: A + a, as, o, os: à, às, ao, aos. De + a, as, o, os, um, uns, uma, umas: da, das, do, dos, dum, duns, duma, dumas. Por + a, as, o, os: pela, pelas, pelo, pelos. Em + a, as, o, os, um, uns, uma, umas: na, nas, no, nos, num, nuns, numa, numas. z Preposição + pronome demonstrativo: A + aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo: àque- le, àqueles, àquela, àquelas, àquilo. Em + este, esta, estes, estas, isto, esse, essa, esses, essas, isso, aquele, aquela, aqueles, aquelas, aqui- lo: neste, nesta, nestes, nestas, nisto, nesse, nes- sa, nesses, nessas, nisso, naquele, naquela, na- queles, naquelas, naquilo. De + este, esta, estes, estas, isto, esse, essa, esses, es- sas, isso, aquele, aquela, aqueles, aquelas, aquilo: deste, desta, destes, destas, disto, desse, dessa, desses, dessas, disso, daquele, daquela, daque- les, daquelas, daquilo. 2 Palavras deverbais são substantivos que expressam, de forma nominal e abstrata, o sentido de um verbo com o qual mantêm relação. Exemplo: A filmagem, O pagamento, A falência etc. Geralmente, os nomes deverbais são acompanhados por preposições e, sintaticamente, o termo que completa o sentido desses nomes é conhecido como complemento nominal. z Preposição + advérbio: De + aqui, ali, além: daqui, dali, dalém. z Preposição + pronomes pessoais: Em + ele, ela, eles, elas: nele, nela, neles, nelas. De + ele, ela, eles, elas: dele, dela, deles, delas. z Preposição + pronome relativo: A + onde: aonde. z Preposição + pronomes indefinidos: De + outro, outras: doutro, doutros, doutra, doutras. Algumas Relações Semânticas Estabelecidas por Preposições É importante ressaltar que as preposições podem apresentar valor relacional ou podem atribuir um valor nocional. As preposições que apresentam um valor relacional cumprem uma relação sintática com verbos ou substantivos, que, em alguns casos, são chamados deverbais, conforme já mencionamos ante- riormente. Essa mesma relação sintática pode ocorrer com adjetivos e advérbios, os quais também apresen- tarão função deverbal. Ex.: Concordo com o advogado (preposição exigida pela regência do verbo concordar). Tenho medo da queda (preposição exigida pelo complemento nominal). Estou desconfiado do funcionário (preposição exi- gida pelo adjetivo). Fui favorável à eleição (preposição exigida pelo advérbio). Em todos esses casos, a preposição mantém uma relação sintática com a classe de palavras a qual se liga, sendo, portanto, obrigatória sua presença na sentença. De modo oposto, as preposições cujo valor nocio- nal é preponderante apresentam uma modificação no sentido da palavra a qual se liga. Elas não são componentes obrigatórios na construção da senten- ça, divergindo das preposições de valor relacional. As preposições de valor nocional estabelecem uma noção de posse, causa, instrumento, matéria, modo etc. Vejamos algumas: VALOR NOCIONAL DAS PREPOSIÇÕES SENTIDO Posse Carro de Marcelo Lugar O cachorro está sob a mesa Modo Votar em branco, chegar aos gritos Causa Preso por estupro Assunto Falar sobre política Origem Descende de família simples Destino Olhe para frente! Iremos a Paris 48 EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FCC – 2018) Observe as seguintes passagens: I. Para o comitê, Brasília era um marco do desenvolvi- mento moderno. II. Mas, para ganhar o título de patrimônio mundial, preci- sava de leis... III. Criadas por Lucio Costa para organizar o sítio urbano... IV. Para muitos, o Plano Piloto lembra um avião. Considerando-se o contexto, o vocábulo para exprime ideia de finalidade em: a) I e III, apenas. b) I, II e IV, apenas. c) III e IV, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II, III e IV. A preposição “para” indicará finalidade quando puder ser substituída pela locução “a fim de”, como ocorre nos itens II e III. Resposta: Letra D. CONJUNÇÕES Assim como as preposições, as conjunções também são invariáveis e também auxiliam na organização das orações, ligando termos e, em alguns casos, ora- ções. Por manterem relação direta com a organização das orações nas sentenças, as conjunções podem ser: coordenativas ou subordinativas. Conjunções Coordenativas As conjunções coordenativas são aquelas que ligam orações coordenadas, ou seja, orações que não fazem parte de uma outra ou, em alguns casos, essas conjunções ligam núcleos de um mesmo termo da ora- ção. As conjunções coordenadas podem ser: z Aditivas: E, nem, bem como, não só, mas também, não apenas, como ainda, senão (após não só). Ex.: Não fiz os exercícios nem revisei. O gato era o pre- ferido, não só da filha, senão de toda família. z Adversativa: Mas, porém, contudo, todavia, entre- tanto, não obstante, senão (equivalente a mas). Ex.: Não tenho um filho, mas dois. A culpa não foi a população, senão dos vereadores (equivale a “mas sim”). � Importante:a conjunção E pode apresentar valor adversativo, principalmente quando é antecedido por vírgula: Estava querendo dor- mir, e o barulho não deixava. z Alternativas: Ou, ou...ou, quer...quer, seja...seja, ora...ora, já...já. Ex.: Estude ou vá para a festa. Seja por bem, seja por mal, vou convencê-la. � Importante: a palavra senão pode funcionar como conjunção alternativa: Saia agora, senão chamarei os guardas! (podemos trocá-la por ou). z Explicativas: Que, porque, pois, (se vier no início da oração), porquanto. Estude, porque a caneta é mais leve que a enxada! � Importante: Pois com sentido explicativo ini- cia uma oração e justifica outra. Ex.: Volte, pois sinto saudades. Pois conclusivo fica após o verbo, deslocado entre vírgulas: Nessa instabilidade, o dólar voltará, pois, a subir. z Conclusiva: Logo, portanto, então, por isso, assim, por conseguinte, destarte, pois (deslocado na fra- se). Ex.: Estava despreparado, por isso, não fui aprovado. As conjunções e, nem não devem ser empregadas juntas (e nem), tendo em vista que ambas indicam a mesma relação aditiva o uso concomitante acarreta em redundância. Conjunções Subordinativas Tal qual as conjunções coordenativas, as subor- dinativas estabelecem uma ligação entre as ideias apresentadas em um texto; porém, diferentemente daquelas, estas ligam ideias apresentadas em orações subordinadas, ou seja, orações que precisam de outra para terem o sentido apreendido. z Causal: Haja vista, que, porque, pois, porquanto, visto que, uma vez que, como (equivale a porque) etc. Ex.: Como não era vaidosa, nunca se arrumava. z Consecutiva: Que (depois de tal, tanto, tão), de modo que, de forma que, de sorte que etc. Ex.: Estudei tanto que fiquei com dor de cabeça. z Comparativa: Como, que nem, que (depois de mais, menos, melhor, pior, maior) etc. Ex.: Corria como um touro. z Conformativa: Conforme, como, segundo, de acordo com, consoante etc. Ex.: Tudo ocorreu con- forme o planejado. z Concessiva: Embora, conquanto, ainda que, mes- mo que, em que pese, posto que etc. Ex.: Teve que aceitar a crítica, conquanto não tivesse gostado. z Condicional: Se, caso, desde que, contanto que, a menos que, somente se etc. Ex.: Se eu quisesse falar com você, teria respondido sua mensagem. z Proporcional: À proporção que, à medida que, quanto mais...mais, quanto menos...menos etc. Ex.: Quanto mais estudo, mais chances tenho de ser aprovado. z Final: Final, para que, a fim de que etc. Ex.: A pro- fessora dá exemplos para que você aprenda! z Temporal: Quando, enquanto, assim que, até que, mal, logo que, desde que etc. Ex.: Quando viajei para Fortaleza, estive na Praia do Futuro. Mal che- guei à cidade, fui assaltado. Os valores semânticos das conjunções não se prendem às formas morfológicas desses elementos. O valor das conjunções é construído contextualmen- te, por isso, é fundamental estar atento aos sentidos estabelecidos no texto. Ex.: Se Mariana gosta de você, por que você não a procura? (SE = causal = já que); Por que ficar preso na cidade, quando existe tanto ar puro no campo. (quando = causal = já que). LÍ N G U A P O RT U G U ES A 49 Conjunções Integrantes As conjunções integrantes fazem parte das orações subordinadas e, na realidade, elas apenas integram uma oração principal à outra, subordinada. Existem apenas dois tipos de conjunções integrantes: que e se. z Quando é possível substituir o que pelo pronome isso, estamos diante de uma conjunção integrante. Ex.: Quero que a prova esteja fácil. Quero = isso. z Sempre haverá conjunção integrante em orações substantivas e, consequentemente, em períodos compostos. Ex.: Perguntei se ele estava em casa. Perguntei = isso. z Nunca devemos inserir uma vírgula entre um ver- bo e uma conjunção integrante. Ex.: Sabe-se, que o Brasil é um país desigual (errado). Sabe-se que o Brasil é um país desigual (certo). EXERCÍCIO COMENTADO 1. (CESPE-CEBRASPE – 2018) O uso da conjunção “embora” pela conjunção “conquanto” prejudicaria o sentido original do texto: ( ) CERTO ( ) ERRADO Nem precisamos ler o texto mencionado pela ques- tão para sabermos que o item está errado, pois conquanto, assim como embora, é uma conjunção concessiva. Resposta: Errado. INTERJEIÇÕES As interjeições também fazem parte do grupo de palavras invariáveis, tal como as preposições e as con- junções. Sua função é expressar estado de espírito e emoções, por isso, apresenta forte conotação semânti- ca; ademais, uma interjeição sozinha pode equivaler a uma frase. Ex.: Tchau! As interjeições, como mencionamos, indicam rela- ções de sentido diversas; a seguir, apresentamos um quadro com os sentimentos e sensações mais expres- sos pelo uso de interjeições: VALOR SEMÂNTICO INTERJEIÇÃO Advertência Cuidado! Devagar! Calma! Alívio Arre! Ufa! Ah! Alegria/satisfação Eba! Oba! Viva! Desejo Oh! Tomara! Oxalá! Repulsa Irra! Fora! Abaixo! Dor/tristeza Ai! Ui! Que pena! Espanto Oh! Ah! Opa! Putz! Saudação Salve! Viva! Adeus! Tchau! Medo Credo! Cruzes! Uh! Oh! É salutar lembrar que o sentido exato de cada interjeição só poderá ser apreendido diante do con- texto; por isso, em questões que abordem essa classe de palavras, o candidato deve reler o trecho em que a interjeição aparece, a fim de se certificar do sentido expresso no texto. Isso acontece pois qualquer expressão exclamati- va que expresse sentimento ou emoção pode funcionar como uma interjeição. Lembrem-se dos palavrões, por exemplo, que são interjeições por excelência, mas, depen- dendo do contexto, podem ter seu sentido alterado. Antes de concluirmos, é importante ressaltar o papel das locuções interjetivas, conjunto de palavras que funciona como uma interjeição, como: Meu Deus! Ora bolas! Valha-me Deus! FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO Ao selecionar palavras, nós as escolhemos entre os grandes grupos de palavras existentes na língua, como verbos, substantivos ou adjetivos. Esses são gru- pos morfológicos. Ao combinar as palavras em frases, nós construímos um painel morfológico. As palavras normalmente recebem uma dupla classificação: a morfológica, que está relacionada à classe gramatical a que pertence, e a sintática, rela- cionada à função específica que assumem em deter- minada frase. Frase Frase é todo enunciado com sentido completo. Pode ser formada por apenas uma palavra ou por um conjunto de palavras. Ex.: Fogo! Silêncio! “A igreja, com este calor, é fornalha...” (Graciliano Ramos) Oração Enunciado que se estrutura em torno de um verbo (explícito, implícito ou subentendido) ou de uma locu- ção verbal. Quanto ao sentido, a oração pode apresen- tá-lo completo ou incompleto. Ex.: Você é um dos que se preocupam com a poluição. “A roda de samba acabou” (Chico Buarque) Período Período é o enunciado constituído de uma ou mais orações. Classifica-se em: z Simples: possui apenas uma oração. Ex.: O sol surgiu radiante. Ninguém viu o acidente. z Composto: possui duas ou mais orações. Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.” (Chico Buarque) Chegou Em Casa E Tomou Banho. 50 TERMOS DA ORAÇÃO Os termos que formam o período simples são dis- tribuídos em: essenciais (Sujeito e Predicado), inte- grantes (complemento verbal, complemento nominal e agente da passiva) e acessórios (adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto). Termos Essenciais da Oração São aqueles indispensáveis para a estrutura básica da oração. Costuma-se associar esses termos a situa- ções analógicas, como um almoço tradicional brasi- leiro constituído basicamente de arroz e feijão, por exemplo. São eles: Sujeito e Predicado. Veremos a seguir cada um deles. SUJEITO É o elemento que faz ou sofre a ação determinada pelo verbo. O sujeito pode ser: z o termo sobre o qual o restante da oração diz algo; z o elemento que pratica ou recebe a ação expressa pelo verbo; z o termo que pode ser substituído por um pronome do caso reto; z o termo com o qual o verbo concorda.Ex.: A população implorou pela compra da vacina da COVID-19. No exemplo anterior a população é: z O elemento sobre o qual se declarou algo (implo- rou pela compra da vacina); z O elemento que pratica a ação de implorar; z O termo com o qual o verbo concorda (o verbo implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular); z O termo que pode ser substituído por um pronome do caso reto. (Ele implorou pela compra da vacina da COVID-19.) Núcleo do sujeito O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal porque é a respeito dela que o predicado diz algo. O núcleo indica a palavra que realmente está exercen- do determinada função sintática, que atua ou sofre a ação. O núcleo do sujeito apresentará um substan- tivo, ou uma palavra com valor de substantivo, ou pronome. z O sujeito simples contém apenas um núcleo. Ex.: O povo pediu providências ao governador. Sujeito: O povo Núcleo do sujeito: povo z Já o sujeito composto, o núcleo será constituído de dois ou mais termos. As luzes e as cores são bem visíveis. Sujeito: As luzes e as cores Núcleo do sujeito: luzes/cores Dica Para determinar o sujeito da oração, colocam-se as expressões interrogativas quem? ou o quê? Antes do verbo. Ex.: A população pediu uma providência ao governador. quem pediu uma providência ao governador? Resposta: A população (sujeito). Ex.: O pêndulo do relógio iria de um lado para o outro. o que iria de um lado para o outro? Resposta: O pêndulo do relógio (sujeito). Tipos de Sujeito Quanto à função na oração, o sujeito classifica-se em: DETERMINADO Simples Composto Elíptico INDETERMINADO Com verbos flexionados na 3ª pessoa do singular Com verbos acompanhados do se (índice de indeterminação do sujeito) INEXISTENTE Usado para fenômenos da natureza ou com verbos impessoais z Determinado: quando se identifica a pessoa, o lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em: � Simples: quando há apenas um núcleo. Ex.: O [aluguel] da casa é caro. Núcleo: aluguel Sujeito simples: O aluguel da casa � Composto: quando há dois núcleos ou mais. Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos. Núcleos: sons, cores. Sujeito composto: Os sons e as cores � Elíptico, oculto ou desinencial: quando não aparece na oração, mas é possível de ser identifi- cado devido à flexão do verbo ao qual se refere. Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito: (Eu) z Indeterminado: quando não é possível identificar o sujeito na oração, mas ainda sim está presente. Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa- do por um índice de indeterminação do sujeito, a partícula “se”. � Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural, não se referindo a nenhuma palavra determi- nada no contexto. Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje. Entende-se que alguém passou cedo. � Colocando-se verbos sem complemento direto (intransitivos, transitivos diretos ou de ligação) na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro- nome se, que atua como índice de indetermina- ção do sujeito. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 51 Ex.: Não se vê com a neblina. Entende-se que ninguém consegue ver nessa condição. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (CONSESP – 2018) Assinale a alternativa em que temos sujeito indeterminado. a) Levaram-me para uma casa velha. b) Era uma tarde maravilhosa. c) Vendem-se espetos de carne aqui. d) Alguns assistiram ao filme até o final. A construção verbal “Levaram-me”, da alternativa A, indica que o sujeito está na 3ª pessoa do plural e é indeterminado porque não se sabe quem levou. Resposta: Letra A. Sujeito Inexistente ou Oração sem Sujeito Esse tipo de situação ocorre quando uma oração não tem sujeito mas tem sentido completo. Os verbos são impessoais e normalmente representam fenôme- nos da natureza. Pode ocorrer também o verbo fazer ou haver no sentido de existir. Geia no Paraná. Fazia um mês que tinha sumido. Basta de confusão. Há dois anos esse restaurante abriu. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FEPESE – 2016) Na oração “Uma partícula extrema- mente quente e pesada começou a se ‘contorcer’”, o núcleo do sujeito é a palavra: a) quente. b) pesada. c) partícula. d) contorcer e) extremamente. “Partícula” corresponde ao termo central do sujei- to “uma partícula extremamente quente e pesada”. Portanto, tem função de núcleo do sujeito. Resposta: Letra C. Classificação do Sujeito Quanto à Voz z Voz ativa (sujeito agente) Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado. Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer- ce a ação na frase. z Voz passiva sintética (sujeito paciente) Ex.: Corta-se cabelo. Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito “cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora da oração. Importante notar que não há preposição entre o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo, “de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal. Precisa-se de cabelo. Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal, e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é indeterminado, marcado pelo índice de indetermina- ção “-se”. z Voz passiva analítica (sujeito paciente) Ex.: A minha saia azul está rasgada. O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen- ça da partícula -se. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FURB – 2019) Assinale a alternativa que contém a classificação correta do sujeito da oração “Neste primeiro momento, foram entregues 30 aparelhos auditivos”. a) Sujeito composto. b) Oração sem sujeito. c) Sujeito oculto (desinencial). d) Sujeito indeterminado. e) Sujeito simples. O sujeito da oração é “30 aparelhos auditivos”. Na ordem direta, a sentença fica: “30 aparelhos audi- tivos foram entregues neste primeiro momento”. Como o sujeito é formado por apenas um núcleo, o sujeito é simples. Resposta: Letra E. PREDICADO É o termo que contém o verbo e informa algo sobre o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter- mos essenciais na oração, há casos em que a oração não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em torno de um verbo e ele está contido no predicado, é impossível existir uma oração sem sujeito. O predicado pode ser: z Aquilo que se declara a respeito do sujeito. Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.” (José de Alencar) Predicado: seguem sua marcha z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei- to (oração sem sujeito): Ex.: Chove pouco nesta época do ano. Predicado: Chove pouco nesta época do ano. Para determinar o predicado, basta separar o sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica- do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita: Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves Dias) Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida. Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias) Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores. 52 Classificação do Predicado A classificação do predicado depende do significa- do e do tipo de verbo que apresenta. z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig- nificativo se concentra em um nome (corresponde a um predicativo do sujeito). O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação. O predicado nominal tem por núcleo um nome (substantivo, adjetivo ou pronome). Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo Mendes) Predicado: são mais bonitas. Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo Bilac) Predicado: estão cheias de calafrios. É importante não confundir: z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação, mas um estado momentâneo ou permanente que relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é o predicativo do sujeito. z Predicativo do sujeito; função exercida por subs- tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri- buem uma condição ou qualidade ao sujeito. Ex.: O garoto está bastante feliz. Verbo de ligação: está. Predicativo do sujeito: bastante feliz. Ex.: Seu batom é muito forte. Verbo de ligação: é. Predicativo do sujeito:muito forte. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (AMEOSC – 2019) “Elas são diferentes uma da outra, [...]”. Na oração, os termos destacados exercem fun- ção sintática de: a) Predicado nominal. b) Predicado verbal. c) Predicado verbo-nominal. d) Predicativo do sujeito. O verbo “são” é de ligação, o que confere uma característica do sujeito com os termos posteriores “diferentes uma da outra”, que são o predicativo do sujeito. Portanto, a alternativa correta é a A, consi- derando que o predicado da oração é nominal. Res- posta: Letra A. Predicado Verbal Ocorre quando há dois núcleos significativos: um verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi- cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os demais termos do predicado. O verbo do predicado pode ser classificado em transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi- tivo direto e indireto ou verbo intransitivo. z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi- ge um complemento não preposicionado, o objeto direto. Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.” Noel Rosa Verbo Transitivo Direto: Fazer. Ex.: Ele trouxe os livros ontem. Verbo Transitivo Direto: trouxe. z Verbo transitivo indireto (VTI): o verbo transiti- vo indireto tem como necessidade o complemen- to acompanhado de uma preposição para fazer sentido. Ex.: Nós acreditamos em você. Verbo transitivo indireto: acreditamos Preposição: em Ex.: Frida obedeceu aos seus pais. Verbo transitivo indireto: obedeceu Preposição: a (a + os) Ex.: Os professores concordaram com isso. Verbo transitivo indireto: concordaram Preposição: com z Verbo transitivo direto e indireto (VTDI): é o verbo de sentido incompleto que exige dois com- plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto indireto (com preposição). Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou- tras.” (Machado de Assis) Verbo transitivo direto e indireto 1: contava Objeto direto 1: anedotas Objeto indireto 1: lhe Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia Objeto direto 2: outras Objeto indireto 2: lhe. z Verbo intransitivo (VI): É aquele capaz de cons- truir sozinho o predicado, que não precisa de com- plementos verbais, sem prejudicar o sentido da oração. Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam. Verbo intransitivo: adormeciam. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (CRESCER CONSULTORIAS – 2019) Ocorre predicado verbal em: a) “O rapaz foi condenado a dez anos de liberdade vigia- da e terapia”. b) “Mesmo se formos todos bem intencionados”. c) “Crianças ricas são mais vulneráveis a problemas de abuso de substâncias”. d) “Filhos de pais ricos não estão necessariamente livres de problemas de adequação”. O predicado “foi condenado a dez anos de liberdade vigiada e terapia” contém um verbo intransitivo dire- to (“foi”) e, consequentemente, um complemento de mesmo valor sintático. Resposta: Letra A Predicado Verbo-Nominal Ocorre quando há dois núcleos significativos: um verbo nocional (intransitivo ou transitivo) e um nome (predicativo do sujeito ou, em caso de verbo transitivo, predicativo do objeto). Ex.: “O homem parou atento.” (Murilo Mendes) Verbo intransitivo: parou Predicativo do sujeito: atento LÍ N G U A P O RT U G U ES A 53 Repare que no primeiro exemplo o termo “atento” está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é considerado predicativo do sujeito. Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo Bilac) Verbo intransitivo: marchou Predicativo do sujeito: desorientado No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi- ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei- to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito. Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha- do de Assis) Verbo transitivo direto: achou Objeto direto: o raciocínio Predicativo do objeto: exato No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza um julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”, que é o objeto direto dessa oração. Com isso, podemos concluir que temos um caso de predicativo do objeto, visto que “exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é o sujeito. O que é o predicativo do objeto? É o termo que confere uma característica, uma qualidade, ao que se refere. A formação do predicativo do objeto se dá por um adjetivo ou por um substantivo. Ex.: Consideramos o filme proveitoso. Predicativo do objeto: proveitoso Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas. Predicativo do objeto: vitoriosa Para facilitar a identificação do predicativo do objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres- centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí- fica é relacionar o predicativo ao nome. O filme foi proveitoso. Ela era vitoriosa. Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre- dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de ligação (foi e era, respectivamente). EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (SERCTAM – 2016) Na oração “Este homem parece uma criança”, o termo destacado é: a) sujeito. b) predicado verbal. c) predicativo do objeto. d) predicado nominal. e) predicado verbo-nominal. O verbo “parece” é transitivo direto, e “uma crian- ça” tanto complementa o sentido do verbo como caracteriza o sujeito “Este homem”. Portanto, o tre- cho “parece uma criança” corresponde a um predi- cado nominal. Resposta: Letra D. 2. (FUMARC – 2012) Há oração sem sujeito em: a) “Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.” b) “Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade [...]” c) “Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa [...]” d) “É muito grave esse processo de abstração da lingua- gem, de sentimentos [...]” Oração sem sujeito acontece quando não há um ele- mento ao qual se atribui o predicado. Ocorre, por exemplo, quando temos o verbo “haver” no sentido de existir, acontecer, pois o mesmo não tem sujeito. Na alternativa B, temos o verbo falar na 3º pessoa do singular + SE, indicando indeterminação do sujeito. Na alternativa C, temos o verbo haver, mas no sen- tido de ter, por isso, o mesmo encontra-se no plural; temos, portanto, Sujeito indeterminado. Na letra D, temos como sujeito “esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos”. Resposta: Letra A. TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO São vocábulos que se agregam a determinadas estruturas para torná-las completas. De acordo com a gramática da língua portuguesa, esses termos são divididos em: Complementos Verbais São termos que completam o sentido de verbos transitivos diretos e transitivos indiretos. z Objeto direto: revela o alvo da ação. Não é acom- panhado de preposição. Ex.: Examinei o relógio de pulso. Gostaria de vê-lo no topo do mundo. O técnico convocou somente os do Brasil. (os = aqueles) Pronomes e sua relação com o objeto direto Além dos pronomes oblíquos o(s), a(s) e suas variações lo(s), la(s), no(s), na(s), “que” quase sem- pre exercem função de objeto direto, os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos também podem exercer essa função sintática. Ex.: Levou-me à sabedoria esta aula. (= “Levaram quem? A minha pessoa”) Nunca vos tomeis como grandes personalidades. (= “Nunca tomeis quem? Vós”) Convidaram-na para o almoço de despedida. (= “Convidaram quem? Ela”) Depois de terem nos recebido, abriram a caixa. (= “Receberam quem? Nós”) Os pronomes demonstrativos o, a, os, as podem ser objetos diretos. Normalmente, aparecem antes do pronome relativo que. Ex.: Escuta o que eu tenho a dizer. (Escuta algo: esse algo é o objeto direto) Observe bem a que ele mostrar. (a = pronome feminino definido) z Objeto direto preposicionado Mesmo que o verbo transitivo direto não exija preposição no seu complemento, algumas palavras requerem o uso da preposição para não perder o sen- tido de “alvo” do sujeito. Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros facultativos. Exemplos com ocorrência obrigatória de preposição: Não entendo nem a ele nem a ti. Respeitava-se aos mais antigos. Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava. Amavam-se um ao outro. “Olho Gabriela como a uma criança, enão mulher feita.” (Ciro dos Anjos) 54 Exemplos com ocorrência facultativa de preposição: Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque- le templo. A escultura atrai a todos os visitantes. Não admito que coloquem a Sua Excelência num pedestal. Ao povo ninguém engana. Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles. No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des- sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre- sente para indicar parte de um todo, quando assim for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa bebeu uma porção da água, e não ela toda. z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência dessa função sintática na mesma oração, a fim de enfatizar um único significado. Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de Andrade) z Objeto direto interno: Representado por palavra que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta mesmo significado. Ex.: Riu um riso aterrador. Dormiu o sono dos justos. Como diferenciar objeto direto de sujeito? Já começaram os jogos da seleção. (sujeito) Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto) O objeto direto pode ser passado para a voz passi- va analítica e se transforma em sujeito. Os jogos da seleção foram ignorados. z Objeto indireto: É complemento verbal regido de preposição obrigatória, que se liga diretamente a verbos transitivos indiretos e diretos. Representa o ser beneficiado ou o alvo de uma ação. Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da casa 260. Gosto de ti, meu nobre. Não troque o certo pelo duvidoso. Vamos insistir em promover o novo romance de ficção. Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais Pode ser representado pelos seguintes pronomes oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro- nomes o, a, os, as não exercerão essa função. Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor. Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim, comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto indireto, já que sempre ocorrem com preposição. Ex.: Você escreveu esta carta para mim? z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida dessa função sintática com o objetivo de enfatizar uma mensagem. Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda. COMPLEMENTO NOMINAL Completa o sentido de substantivos, adjetivos e advérbios. É uma função sintática regida de preposi- ção e com objetivo de completar o sentido de nomes. A presença de um complemento nominal nos contextos de uso é fundamental para o esclarecimento do senti- do do nome. Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado. Estou longe de casa e tão perto do paraíso. Para melhor identificar um complemento nomi- nal, siga a instrução: Nome + preposição + quem ou quê Como diferenciar complemento nominal de com- plemento verbal? Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração. (complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-se diretamente ao verbo “obedecia”) Naquela época, a obediência ao meu coração pre- valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora- ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”). Agente da Passiva É o complemento de um verbo na voz passiva ana- lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais raramente, da preposição de. Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares ser, estar, viver, andar, ficar. Termos Acessórios da Oração Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu- ra básica da oração, são importantes para compreen- são do enunciado porque trazem informações novas. Esses termos são chamados acessórios da oração. Adjunto Adnominal São termos que acompanham o substantivo, núcleo de outra função, para qualificar, quantificar, especificar o elemento representado pelo substantivo. Categorias morfológicas que podem funcionar como adjunto adnominal: z Artigos z Adjetivos z Numerais z Pronomes z Locuções adjetivas Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo ficaram esquecidos no quarto. Iam cheios de si. Estava conquistando o respeito dos seus. O novo regulamento originou a revolta dos funcionários. O doutor possuía mil lembranças de suas viagens. z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes exercem essa função sintática quando assumem valor de pronomes possessivos. Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo). z Como diferenciar adjunto adnominal de com- plemento nominal? Quando o adjunto adnominal for representado por uma locução adjetiva, ele pode ser confundido com complemento nominal. Para diferenciá-los, siga a dica: � Será adjunto adnominal: se o substantivo ao qual se liga for concreto. Ex.: A casa da idosa desapareceu. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 55 Se indicar posse ou o agente daquilo que expressa o substantivo abstrato. Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada. � Será complemento nominal: se indicar o alvo daquilo que expressa o substantivo. Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não foi respeitada. Notava-se o amor pelo seu trabalho. Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio: Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (NOVA CONCURSOS – 2021) Identifique os adjuntos adnominais das orações abaixo. a) Os inscritos atrasados não puderam entrar. b) As consequências serão graves. c) Os alunos calados estiveram atentos. d) Os funcionários da recepção continuaram calados. e) O romance da jovem escritora foi publicado. a) “atrasados”, qualificando o termo “inscritos” b) “As”, artigo relacionado do termo “consequências” d) “calados”, qualificando o termo “alunos” d) “da recepção”, indicando quais são os funcionários e) “da jovem escritora”, indicando de quem é o romance. Resposta. Adjunto Adverbial Termo representado por advérbios, locuções adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio- na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas circunstâncias. z Tempo: Quero que ele venha logo; z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida; z Modo: O dia começou alegremente; z Intensidade: Almoçou pouco; z Causa: Ela tremia de frio; z Companhia: Venha jantar comigo; z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as roupas; z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo; z Finalidade: Vivia para o trabalho; z Meio: Viajou de avião devido à rapidez; z Assunto: Falávamos sobre o aluguel; z Negação: Não permitirei que permaneça aqui; z Afirmação: Sairia sim naquela manhã; z Origem: Descendia de nobres. Não confunda! Para conseguir distinguir adjunto adverbial de adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio- nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que o sentido seja parecido. Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui é um adjunto adnominal) Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um adjunto adverbial) EXERCÍCIO COMENTADO 1. (NOVA CONCURSOS – 2021) O termo grifado em: “Watson estava numa sala ao lado” exerce a função sintática de: a) Adjunto adnominal b) Objeto direto c) Predicativo d) Complemento nominal e) Adjunto adverbial O verbo “estava” é seguido de um adjunto adverbial de lugar; neste caso, temos um adjunto adverbial. Resposta: Letra E. Aposto Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes ou orações. O aposto tem como propósito explicar, identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon- tar algo, alguém ou um fato. Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma bicicleta. Aposto: filha de D. Raimunda Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran- des obras. Aposto: Machado de Assis. Classifica-se nas seguintes categorias: z Explicativo: usado para explicar o termo anterior. Separa-se do substantivo a que se refere por uma pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões ou dois-pontos. Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram ontem, acabaram de voltar de férias. Jéssica uma ótima pessoa, conseguiu apoio de todos. z Enumerativo: usado para desenvolver ideias que foram resumidas ou abreviadas em um termo ante- rior. Mostra os elementos contidos em um só termo. Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e riachos. Apenas trêscoisas me tiravam do sério, a saber, preconceito, antipatia e arrogância. z Recapitulativo ou resumidor: É o termo usado para resumir termos anteriores. É expresso, nor- malmente, por um pronome indefinido. Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos estavam empolgados com a feira. Irei a Macau, Cabo Verde, Angola e Timor-Leste, países africanos onde se fala português. z Comparativo: Estabelece uma comparação implícita. Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem rumo. z Circunstancial: Exprime uma característica circunstancial. Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas apropriadas. z Especificativo: É o aposto que aparece junto a um substantivo de sentido genérico, sem pausa, para especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por substantivos próprios. Exs.: O mês de abril. O rio Amazonas. Meu primo José. 56 z Aposto da oração: É um comentário sobre o fato expresso pela oração, ou uma palavra que condensa. Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua preocupação. O noticiário disse que amanhã fará muito calor – ideia que não me agrada. z Distributivo: Dispõe os elementos equitativamente. Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra para as perguntas. Sua presença era inesperada, o que causou surpresa. Dica z O aposto pode aparecer antes do termo a que se refere, normalmente antes do sujeito. Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton Sen- na marcou uma geração. z Segundo “o gramático” Cegalla, quando o apos- to se refere a um termo preposicionado, pode ele vir igualmente preposicionado. Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de tudo ele tinha medo. z O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial. Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas. (adjetivos, apostos do predicativo do sujeito) Falou comigo deste modo: calma e maliciosa- mente. (advérbios, aposto do adjunto adverbial de modo). z Diferença de aposto especificativo e adjunto adnominal: Normalmente, é possível retirar a preposição que precede o aposto. Caso seja um adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura fica prejudicada. Ex.: A cidade Fortaleza é quente. (aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade) O clima de Fortaleza é quente. (adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?) z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: O aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo adjetivo. Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle. (predicativo do sujeito; núcleo: desesperado – ad- jetivo) Homem desesperado, João sempre perde o con- trole. (aposto; núcleo: homem – substantivo) EXERCÍCIO COMENTADO 1. (CESPE-CEBRASPE – 2014) No trecho, as vírgulas iso- lam segmento – “Sua vocação eminentemente hídrica impõe, ao longo dos séculos, a necessidade do deslo- camento...” com função de aposto explicativo. ( ) CERTO ( ) ERRADO O trecho “ao longo dos séculos” não é um aposto e não sugere explicação. Na verdade, ele é um adjunto adverbial de tempo deslocado na frase, intercalado por vírgulas. Se trouxéssemos esse trecho para o iní- cio do período, ficaria: “Ao longo dos séculos, sua vocação eminentemente hídrica impõe a necessida- de do deslocamento.” Resposta: Errado. Vocativo O vocativo é um termo que não mantém relação sintática com outro termo dentro da oração. Não per- tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese- ja se comunicar. É um termo independente, pois não faz parte da estrutura da oração. Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha consulta. Ela te diz isso desde ontem, Fábio. z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati- vo não se relaciona sintaticamente com nenhum outro termo da oração. Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças. O aposto se relaciona sintaticamente com outro termo da oração. A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é impecável. Sujeito: a cozinha de lufe. Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao sujeito). PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO Observe os exemplos a seguir: A apostila de Português está completa. Um verbo: Uma oração = período simples Português e Matemática são disciplinas essen- ciais para ser aprovado em concursos. Dois verbos: duas orações = período composto O período composto é formado por duas ou mais orações. Num parágrafo, podem aparecer misturado períodos simples e período compostos. PERÍODO SIMPLES PERÍODO COMPOSTO Era dia de eleição O povo levantou-se cedo para evitar aglomeração Para não esquecer: Período simples é aquele formado por uma só oração. Período composto é aquele formado por duas ou mais orações. Classifica-se nas seguintes categorias: z Por coordenação: orações coordenadas assindéticas; � Orações coordenadas sindéticas: aditivas, adver- sativas, alternativas, conclusivas, explicativas. z Por subordinação: � Orações subordinadas substantivas: subjeti- vas, objetivas diretas, objetivas indiretas, com- pletivas nominais, predicativas, apositivas; � Orações subordinadas adjetivas: restritivas, explicativas; � Orações subordinadas adverbiais: causais, comparativas, concessivas, condicionais, con- formativas, consecutivas, finais, proporcionais, temporais. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 57 z Por coordenação e subordinação: orações for- madas por períodos mistos; z Orações reduzidas: de gerúndio e de infinitivo. Período Composto por Coordenação As orações são sintaticamente independentes. Isso significa que uma não possui relação sintática com verbos, nomes ou pronomes das demais orações no período. Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” (Fernando Pessoa) Oração coordenada 1: Deus quer Oração coordenada 2: o homem sonha Oração coordenada 3: a obra nasce. Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (M. de Assis) Oração coordenada assindética: Subi devagarinho Oração coordenada assindética: colei o ouvido à porta da sala de Damasceno Oração coordenada sindética: mas nada ouvi Conjunção adversativa: mas nada Orações Coordenadas Sindéticas As orações coordenadas podem aparecer ligadas às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra- vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome sindética. Veremos agora cada uma delas: z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou simultaneidade. Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam- bém, mas ainda, bem como, como também, se- não também, que (= e). Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos. Os convidados não compareceram nem explica- ram o motivo. z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con- traste ou ressalva em relação ao fato anterior. Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs- tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso. Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas. “A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a morte.” (Laurindo Rabelo) z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou se excluem. Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ... ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez ... talvez). Ex.: Ora responde, ora fica calado. Você quer suco de laranja ou refrigerante? z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica sobre um raciocínio. Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con- seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início de frase). Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima semana. “Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo Mendes Campos) z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem expressa. Conjunções constitutivas: que, porque, porquanto, pois. Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale a “pois”) Vamos almoçar de novo porque ainda estamos com fome. PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO Formado por orações sintaticamente dependentes, considerando a função sintática em relação a um ver- bo, nome ou pronome de outra oração. Tipos de orações subordinadas: z Substantivas; z Adjetivas; z Adverbiais. Orações Subordinadas Substantivas São classificadas nas seguintescategorias: z Orações subordinadas substantivas conectivas: são introduzidas pelas conjunções subordinativas integrantes que e se. Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de impostos. Não sei se poderei sair hoje à noite. z Orações subordinadas substantivas justapos- tas: introduzidas por advérbios ou pronomes interrogativos (onde, como, quando, quanto, quem etc.) z Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias roubadas. Não sei quem lhe disse tamanha mentira. z Orações subordinadas substantivas reduzidas: não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica no infinitivo. Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras. z Orações subordinadas substantivas subjetivas: exercem a função de sujeito. O verbo da oração principal deve vir na voz ativa, passiva analítica ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe- rir a nenhum termo na oração. Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito) Foi importante que você regressasse. (sujeito ora- cional) (or. sub. subst. subje.) z Orações subordinadas substantivas objetivas diretas: exercem a função de objeto direto de um verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi- reto da oração principal. Ex.: Desejo o seu regresso. (OD) Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub. subst. obj. dir.) z Orações subordinadas substantivas completi- vas nominais: exercem a função de complemento nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio da oração principal. Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple- mento nominal) Tenho necessidade de que você me apoie. (com- plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com- pl. nom.) z Orações subordinadas substantivas predicati- vas: funcionam como predicativos do sujeito da oração principal. Sempre figuram após o verbo de ligação ser. 58 Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do sujeito) Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.) z Orações subordinadas substantivas apositivas: funcionam como aposto. Geralmente vêm depois de dois-pontos ou entre vírgulas. Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. (aposto) Só quero uma coisa: que você volte imediata- mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.) z Orações subordinadas adjetivas: desempenham função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais raramente, aposto explicativo). São introduzidas por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As orações subordinadas adjetivas classificam-se em: explicativas e restritivas. z Orações subordinadas adjetivas explicativas: não limitam o termo antecedente, e sim acrescen- tam uma explicação sobre o termo antecedente. São consideradas termo acessório no período, podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola- das por vírgulas. Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos, cria trinta gatos. z Orações subordinadas adjetivas restritivas: especificam ou limitam a significação do termo antecedente, acrescentando-lhe um elemento indis- pensável ao sentido. Não são isoladas por vírgulas. Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é incurável. Dica Como diferenciar as orações subordinadas adje- tivas restritivas das orações subordinadas adjeti- vas explicativas? Ele visitará o irmão que mora em Recife. (restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai visitar apenas o que mora em Recife) Ele visitará o irmão, que mora em Recife. (explicativa, pois ele tem apenas um irmão que mora em Recife) z Orações subordinadas adverbiais: exprimem uma circunstância relativa a um fato expresso em outra oração. Têm função de adjunto adverbial. São introduzidas por conjunções subordinativas (exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin- tes grupos: z Orações subordinadas adverbiais causais: são introduzidas por: como, já que, uma vez que, por- que, visto que etc. Ex.: Caminhamos o restante do caminho a pé por- que ficamos sem gasolina. z Orações subordinadas adverbiais comparati- vas: são introduzidas por: como, assim como, tal qual, como, mais etc. Ex.: A cerveja nacional é menos concentrada (do) que a importada. z Orações subordinadas adverbiais concessivas: indica certo obstáculo em relação ao fato expres- so na outra oração, sem, contudo, impedi-lo. São introduzidas por: embora, ainda que, mesmo que, por mais que, se bem que etc. Ex.: Mesmo que chova, iremos à praia amanhã. z Orações subordinadas adverbiais condicionais: são introduzidas por: se, caso, desde que, salvo se, contanto que, a menos que etc. Ex.: Você terá sucesso desde que se esforce para tal. z Orações subordinadas adverbiais conformati- vas: são introduzidas por: como, conforme, segun- do, consoante. Ex.: Ele deverá agir conforme combinamos. z Orações subordinadas adverbiais consecutivas: são introduzidas por: que (precedido na oração anterior de termos intensivos como tão, tanto, tamanho etc.) de sorte que, de modo que, de forma que, sem que. Ex.: A garota rio tanto, que se engasgou. “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão per- fumadas que me estontearam.” (Cecília Meireles) z Orações subordinadas adverbiais finais: indi- cam um objetivo a ser alcançado. São introduzidas por: para que, a fim de que, porque e que (= para que). Ex.: O pai sempre trabalhou para que os filhos tivessem bom estudo. z Orações subordinadas adverbiais proporcio- nais: são introduzidas por: à medida que, à pro- porção que, quanto mais, quanto menos etc. Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas a aprecio. z Orações subordinadas adverbiais temporais: são introduzidas por: quando, enquanto, logo que, depois que, assim que, sempre que, cada vez que, agora que etc. Ex.: Assim que você sair, feche a porta, por favor. Para separar as orações de um período composto, é necessário atentar-se para dois elementos fundamen- tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos (conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar esses elementos, deve-se contar quantas orações ele representa, a partir da quantidade de verbos ou locu- ções verbais. Exs.: [“A recordação de uns simples olhos basta] – 1ª oração [para fixar outros] – 2ª oração [que os rodeiam] – 3ª oração [e se deleitem com a imaginação deles]. – 4ª ora- ção (M. de Assis) Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo basta, pertencente à 1ª (oração principal). A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração. FUNÇÕES SINTÁTICAS DOS PRONOMES RELATIVOS Uma das classes de pronomes mais complexas, os pronomes relativos têm função muito importante na língua, refletida em assuntos de grande relevância em concursos, como a análise sintática. Dessa forma, é essencial conhecer adequadamente a função desses elementos a fim de saber utilizá-los corretamente. Os pronomes relativos referem-se a um substantivo ou a um pronome substantivo, mencionado anterior- mente. A esse nome (substantivo ou pronome mencio- nado anteriormente) chamamos de antecedente. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 59 São pronomes relativos: z Variáveis: O qual, os quais, cujo, cujos, quanto, quantos / A qual, as quais, cuja, cujas, quanta, quantas. z Invariáveis: Que, quem, onde, como. z Emprego do pronome relativo que: pode ser asso- ciado a pessoas, coisas ou objetos. Ex.: Encontrei o homem que desapareceu; O cachorro que esta- va doente morreu; A caneta que emprestei nunca recebi de volta. Em alguns casos, há a omissão do antecedente do relativo que. Ex.: Não teve que dizer (não teve nada que dizer). z Emprego do relativo quem: seu antecedente deve ser uma pessoa ou objeto personificado. Ex.: Fomos nós quem fizemos o bolo. O pronome relativo quem pode fazer referência a algo subentendido: Quem cala consente (aquele que cala). z Emprego do relativo quanto: seu antecedente deve ser um pronome indefinido ou demonstra- tivo, pode sofrer flexões. Ex.: Esqueci-me de tudo quanto foi me ensinado; Perdi tudo quanto pou- pei a vida inteira. z Emprego do relativo cujo: deve ser empregadopara indicar posse e aparecer relacionando dois termos que devem ser um possuidor e uma coisa possuída. Ex.: A matéria cuja aula faltei foi Língua portuguesa (o relativo cuja está ligando aula (pos- suidor) a matéria (coisa possuída). O relativo cujo deve concordar em gênero e núme- ro com a coisa possuída. Jamais devemos inserir um artigo após o pronome cujo: Cujo o, cuja a Não podemos substituir cujo por outro pronome relativo; O pronome relativo cujo pode ser preposiciona- do. Ex.: Esse é o vilarejo por cujos caminhos percorri. Para encontrar o possuidor faça-se a seguinte per- gunta: “de quem/do que?” Ex.: Vi o filme cujo dire- tor ganhou o Óscar (diretor do que? Do filme.); Vi o rapaz cujas pernas você se referiu (pernas de quem? Do rapaz.) z Emprego do pronome relativo onde: empregado para indicar locais físicos. Ex.: Conheci a cidade onde meu pai nasceu. Em alguns casos, pode ser preposicionado, assumin- do as formas aonde e donde. Ex.: Irei aonde você for. O relativo onde pode ser empregado sem antece- dente. Ex.: O carro atolou onde não havia ninguém. z Emprego de o qual: o pronome relativo o qual e suas variações (os quais, a qual, as quais) é usa- do em substituição a outros pronomes relativos, sobretudo o que, a fim de evitar fenômenos lin- guísticos, como queísmo. Ex.: O Brasil tem um pas- sado do qual (que) ninguém se lembra. O pronome o qual pode auxiliar na compreensão textual, desfazendo estruturas ambíguas. EMPREGO DE NOMES E PRONOMES Vejamos como o emprego de nomes se dá em con- textos de flexão e variação. Flexão de Gênero Os gêneros do substantivo são masculinos e femi- ninos. Porém, alguns admitem apenas uma forma para os dois gêneros, são, por isso, chamados de uni- formes. Os substantivos uniformes podem ser: z Comuns-de-dois-gêneros: designam seres huma- nos e sua diferença é marcada pelo artigo. Ex.: o pianista / a pianista; o gerente / a gerente; o cliente / a cliente; o líder / a líder. z Epicenos: designam animais ou plantas que apre- sentam distinção entre masculino e feminino; a diferença é marcada pelo uso do adjetivo macho ou fêmea. Ex.: cobra macho / cobra fêmea; onça macho / onça fêmea; gambá macho / gambá fêmea; girafa macho / girafa fêmea. z Sobrecomuns: designam seres de forma geral que não são distinguidos por artigo ou adjetivo, o gêne- ro pode ser reconhecido apenas pelo contexto. Ex.: A criança; O monstro; A testemunha; O indivíduo. Os substantivos biformes, como o nome indi- ca, designam os substantivos que apresentam duas formas para os gêneros masculino ou feminino. Ex.: professor/professora. Destacamos que alguns substantivos apresentam formas diferentes nas terminações para designar for- mas diferentes no masculino e no feminino: Ex.: Ator/atriz; Ateu/ ateia; Réu/ré. Outros substantivos modificam o radical para designar formas diferentes no masculino e no femini- no, estes são chamados de substantivos heteroformes: Ex.: Pai/mãe; Boi/vaca; Genro/nora. Gênero e Significação É importante salientar que alguns substantivos uniformes podem aparecer com marcação de gênero diferente, ocasionando uma modificação no sentido. Veja, por exemplo: z A testemunha: pessoa que presenciou um crime; z O testemunho: relato de experiência, associado a religiões. Algumas formas substantivas mantêm o radical, mas a alteração do gênero interfere no significado: z O cabeça: chefe / a cabeça: membro o corpo; z O moral: ânimo / a moral: costumes sociais; z O rádio: aparelho / a rádio: estação de transmissão. Além disso, algumas palavras na língua causam dificuldade na identificação do gênero, pois são usa- das em contextos informais com gêneros diferentes, é o caso de: a alface; a cal; a derme; a libido; a gênese; a omoplata / o guaraná; o catolicismo; o formicida; o telefonema; o trema. 60 Algumas formas que não apresentam, necessaria- mente, relação com o gênero, são admitidas tanto no masculino quanto no feminino: O personagem / a per- sonagem; O laringe / a laringe; O xerox / a xerox. Flexão de Número Os substantivos flexionam-se em gênero, de manei- ra geral, pelo acréscimo do morfema -s: Casa / casas. Porém, podem apresentar outras terminações: males, reais, animais, projéteis etc. Geralmente, devemos acres- centar -es ao singular das formas terminadas em R ou Z, como: flor / flores; paz / pazes. Porém, há exceções, como mal/males. Já os substantivos terminados em AL, EL, OL, UL fazem plural trocando-se o L final por -is. Ex.: coral / corais; papel / papéis; anzol / anzóis. Mas também há exceções. Ex.: a forma mel apresenta duas formas aceitas meles e méis. Geralmente, as palavras terminadas em -ão fazem plural com o acréscimo do -s ou pelo acréscimo de -es. Ex.: capelães, capitães, escrivães. Contudo, há subs- tantivos que admitem até três formas de plural: z Ermitão: ermitãos, ermitões, ermitães. z Ancião: anciãos, anciões, anciães. z Vilão: vilãos, vilões, vilães. Podemos, ainda, associar às palavras paroxítonas que terminam em -ão o acréscimo do -s. Ex.: órgão / órgãos; órfão / órfãos. Plural dos Substantivos Compostos Os substantivos compostos são aqueles formados por justaposição; o plural dessas formas obedece às seguintes regras: z Variam os dois elementos: substantivo + substantivo: Ex.: mestre-sala / mestres-salas; Substantivo + adjetivo: Ex.: guarda-noturno / guardas - noturnos; Adjetivo + substantivo: Ex.: boas-vindas; Numeral + substantivo: Ex.: terça-feira / terças - feiras. z Varia apenas um elemento: Substantivo + preposição + substantivo. Ex.: canas-de-açúcar; Substantivo + substantivo (com função adjetiva). Ex.: navios-escola. Palavra invariável + palavra invariável. Ex.: abaixo-assinados. Verbo + substantivo. Ex.: guarda-roupas. Redução + substantivo. Ex.: bel-prazeres. Destacamos, ainda, que os substantivos compostos formados por verbo + advérbio e verbo + substan- tivo plural ficam invariáveis. Ex.: Os bota-fora; os saca-rolha. Variação de Grau A flexão de grau dos adjetivos exprime a variação de tamanho dos seres, indicando um aumento ou uma diminuição. z Grau aumentativo: quando o acréscimo de sufi- xos aos substantivos indicar um grau aumentativo. Ex.: bocarra, homenzarrão, gatalhão, cabeçorra, fogaréu, boqueirão, poetastro. z Grau diminutivo: quando o acréscimo de sufi- xos aos substantivos indicar um grau diminutivo. Ex.: fontinha, lobacho, casebre, vilarejo, saleta, pequenina, papelucho. Dica O emprego do grau aumentativo ou diminutivo dos substantivos pode alterar o sentido das pala- vras, podendo assumir um valor: Afetivo: filhinha; Pejorativo: mulherzinha / porcalhão. O Novo Acordo Ortográfico e o Uso de Maiúsculas O novo acordo ortográfico estabelece novas regras para o uso de substantivos próprios, exigindo o uso da inicial maiúscula. Dessa forma, devemos usar com letra maiúscula as iniciais das palavras que designam: z Nomes de instituições. Ex.: Embaixada do Brasil; Ministério das Relações Exteriores; Gabinete da Vice-presidência. z Títulos de obras. Ex.: Memórias póstumas de Brás Cubas. Caso a obra apresente em seu título um nome próprio, este também deverá ser escrito com inicial maiúscula. z Nomenclatura legislativa especificada deve ser escrita com inicial maiúscula. Ex.: Lei de Diretri- zes e Bases da Educação (LDB). z Períodos e eventos históricos. Ex.: Revolta da Vacina; Guerra Fria. Em palavras com hífen, podemos optar pelo uso de maiúsculas ou minúsculas, portanto, são aceitas as formas: Vice-Presidente; Vice-presidente e vice-pre- sidente, porém é preciso manter a mesma forma em todo o texto. Já nomes próprios compostos por hífen devem ser escritos com as iniciais maiúsculas: Grã- -Bretanha, Timor-Leste. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FCC – 2018) Julgue o item a seguir: Organiza-se o sentido, nos versos 1 e 3, por meio de sequências verbais, das quais se destaca o uso recor- rente do substantivo “seco” devidamente flexionado. LÍ N G U A P O RT U GU ES A 61 Terra seca árvore seca E a bomba de gasolina Casa seca paiol seco E a bomba de gasolina ( ) CERTO ( ) ERRADO A palavra “seco” no contexto mencionado não é substantivo, e sim funciona como adjetivo. Respos- ta: Errado. Pronomes de Tratamento Os pronomes de tratamento são formas que expres- sam uma hierarquia social institucionalizada linguis- ticamente. As formas de pronomes de tratamento apresentam algumas peculiaridades importantes: z Vossa: designa a pessoa a quem se fala (relativo a 2ª pessoa), apesar disso, os verbos relacionados a esse pronome devem ser flexionados na 3ª pessoa do singular. Ex: Vossa excelência deve conhecer a Constituição. z Sua: designa a pessoa de quem se fala (relativo a 3ª pessoa). Ex.: Sua excelência, o presidente do Supremo Tribunal, fará um pronunciamento hoje à noite. Como mencionamos anteriormente, os pronomes de tratamento estabelecem uma hierarquia social na linguagem, ou seja, a partir das formas usadas, pode- mos reconhecer o nível de discurso e o tipo de poder instituídos pelos falantes. Por isso, é eficaz reconhecer que alguns pronomes de tratamento só devem ser utilizados em contextos cujos interlocutores sejam reconhecidos socialmen- te por suas funções, como juízes, reis, clérigos, entre outras. Dessa forma, apresentamos alguns pronomes de tratamento com as funções sociais que designam: z Vossa Alteza (V. A.): Príncipes, duques, arquidu- ques e seus respectivos femininos; z Vossa Eminência (V. Ema.): Cardeais; z Vossa Excelência (V. Exa.): Autoridades do governo e das Forças Armadas membros do alto escalão; z Vossa Majestade (V. M.): Reis, imperadores e seus respectivos femininos; z Vossa Reverendíssima (V. Rev. Ma.): Sacerdotes; z Vossa Senhoria (V. Sa.): Funcionários públicos gra- duados, oficiais até o posto de coronel, tratamento cerimonioso a comerciantes importantes; z Vossa Santidade (V. S.): Papa; z Vossa Excelência Reverendíssima (V. Exa. Revma.): Bispos. Os exemplos acima fazem referência a pronomes de tratamento e suas respectivas designações sociais conforme indica o Manual de Redação Oficial da Pre- sidência da República; portanto, essas designações devem ser seguidas com atenção quando o gênero textual abordado for um gênero oficial. Sobre o uso das abreviaturas das formas de trata- mento, é importante destacar: O plural de algumas abreviaturas é feito com letras dobradas, como: V. M. / VV. MM.; V. A. / VV. AA. Porém, na maioria das abreviaturas terminadas com a letra a, por exemplo, o plural é feito com o acréscimo do s: V. Exa. / V. Exas.; V. Ema. / V.Emas. O tratamento adequado a Juízes de Direito é Meri- tíssimo Juiz. O tratamento dispensado ao Presidente da República nunca deve ser abreviado. Pronomes Indefinidos Os pronomes indefinidos indicam quantidade de maneira vaga e sempre devem ser utilizados na 3ª pessoa do discurso. Os pronomes indefinidos podem variar e podem ser invariáveis, vejamos: z Variáveis: Algum, Alguma / Alguns, Algumas; Nenhum, Nenhuma / Nenhuns, Nenhumas; Todo, Toda/ Todos, Todas; Outro, Outra / Outros, Outras; Muito, Muita / Muitos, Muitas; Tanto, Tanta / Tan- tos, Tantas; Quanto, Quanta / Quantos, Quantas; Pouco, Pouca / Poucos, Poucas etc. z Invariáveis: Alguém; Ninguém; Tudo; Outrem; Nada; Cada; Quem; Menos; Mais; Que. As palavras certo e bastante serão pronomes indefinidos quando vierem antes do substantivo, e serão adjetivos quando vierem depois. Ex.: Busco cer- to modelo de carro (Pronome indefinido) / Busco o modelo de carro certo (adjetivo). A palavra bastante frequentemente gera dúvida quanto a ser advérbio, adjetivo ou pronome indefini- do, por isso, fique atento: z Bastante (advérbio): será invariável e equivalen- te ao termo “muito”. Ex.: Elas são bastante famosas. z Bastante (adjetivo): será variável e equivalente ao termo “suficiente”. Ex.: A comida e a bebida não foram bastantes para a festa. z Bastante (Pronome indefinido): “Bastantes ban- cos aumentaram os juros” Pronomes Demonstrativos Os pronomes demonstrativos indicam a posição e apontam elementos a que se referem as pessoas do discurso (1ª, 2ª e 3ª). Essa posição pode ser designa- da por eles no tempo, no espaço físico ou no espaço textual. z 1ª pessoa: Este, Estes / Esta, Estas. z 2ª pessoa: Esse, Esses / Essa, Essas. z 3ª pessoa: Aquele, Aqueles / Aquela, Aquelas. z Invariáveis: isto, isso, aquilo. Usamos este, esta, isto para indicar: z Referência ao espaço físico, indicando a proximi- dade de algo ao falante. Ex.: Esta caneta aqui é minha; Entreguei-lhe isto como prova. z Referência ao tempo presente. Ex.: Esta semana começarei a dieta; Neste mês, pagarei a última prestação da casa. z Referência ao espaço textual. Ex.: Encontrei Joana e Carla no shopping, esta procurava um presente para o marido (o pronome refere-se ao último ter- mo mencionado). 62 Usamos esse, essa, isso para indicar: z Referência ao espaço físico, indicando o afasta- mento de algo de quem fala. Ex.: Essa sua gravata combinou muito com você. z Pode indicar distância que se deseja manter. Ex.: Não me fale mais nisso; A população não confia nesses políticos. z Referência ao tempo passado. Ex.: Nessa semana, eu estava doente; Esses dias estive em São Paulo. z Referência a algo já mencionado no texto/ na fala. Ex.: Continuo sem entender o porquê de você ter falado sobre isso; Sinto uma energia negativa nes- sa sua expressão. Usamos aquele, aquela, aquilo para indicar: z Referência ao espaço físico, indicando afastamen- to de quem fala e de quem ouve. Ex.: Margarete, quem é aquele ali perto da porta? z Referência a um tempo muito remoto, um passado muito distante. Ex.: Naquele tempo, podíamos dor- mir com as portas abertas; Bons tempos aqueles! z Referência a um afastamento afetivo. Ex.: Não conheço aquela mulher. z Referência ao espaço textual, indicando o primeiro termo de uma relação expositiva. Ex.: Saí para lan- char com Ana e Beatriz, esta preferiu beber chá, aquela, refrigerante. Dica O pronome “mesmo” não pode ser usado em função demonstrativa referencial, veja: O candidato fez a prova, porém o mesmo esque- ceu de preencher o gabarito. ERRADO. O candidato fez a prova, porém esqueceu de preencher o gabarito. CORRETO. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FCC – 2018) “Tratando do estado de solidão ou da necessidade de convívio, Sêneca vê no estado de soli- dão uma contrapartida da necessidade de convívio, assim como vê na necessidade de convívio uma aber- tura para encontrar satisfação no estado de solidão.” Evitam-se as viciosas repetições do texto acima subs- tituindo-se os elementos grifados, na ordem dada, por: a) naquele – desta – nesta – naquele. b) nisso – daquilo – naquela – deste. c) este – do outro – na primeira – no último. d) nisto – disso – naquela – desse. e) na primeira – do segundo – numa – noutra. Devemos lembrar das regras de proximidade e dis- tância que organizam o uso dos pronomes demons- trativos. Resposta: Letra A. Pronomes Interrogativos São utilizados para introduzir uma pergunta ao tex- to e se apresentam de formas variáveis (Que? Quais? Quanto? Quantos?) e invariáveis (Que? Quem?). Ex.: O que é aquilo? Quem é ela? Qual sua idade? Quantos anos tem seu pai? O ponto de exclamação só é usado nas interrogati- vas diretas. Nas indiretas, aparece apenas a intenção interrogativa, indicada por um verbo como: pergun- tar, indagar etc. Ex.: Indaguei quem era ela. Os pronomes interrogativos que e quem são pro- nomes substantivos. Pronomes Possessivos Os pronomes possessivos referem-se às pessoas do discurso e indicam posse: SINGULAR 1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa Meu, minha, meus, minhas Teu, tua, teus, tuas Seu, sua, seus, suas PLURAL 1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa Nosso, nossa, nossos, nossas Vosso, vossa, vossos, vossas Seu, sua, seus, suas Os pronomes pessoais oblíquos (me, te, se, lhe, o, a, nos, vos) também podem atribuir valor possessivo a uma coisa. Ex.: Apertou-lhea mão (a sua mão). Ain- da que o pronome esteja ligado ao verbo pelo hífen, a relação do pronome é com o objeto da posse. Outras funções dos pronomes possessivos: z Delimitam o substantivo a que se referem; z Concordam com o substantivo que vem depois dele; z Não concordam com o referente; z O pronome possessivo que acompanha o substan- tivo exerce função sintática de adjunto adnominal. EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VERBAIS Tempos O tempo designa o recorte temporal em que a ação verbal foi realizada. Basicamente, podemos indicar o tempo dessa ação no Passado, Presente ou Futuro. Porém, existem ramificações específicas. z Presente: pode expressar não apenas um fato atual, como também uma ação habitual. Ex.: Estudo todos os dias no mesmo horário. Uma ação passada. Ex.: Vargas assume o cargo e instala uma ditadura. Uma ação futura. Ex.: Amanhã, estudo mais! (equivalente a estudarei) z Pretérito perfeito: ação realizada plenamente no passado. Ex.: Estudei até ser aprovado. Pretérito imperfeito: ação inacabada, que pode indicar uma ação frequentativa, vaga ou durativa. Ex.: Estudava todos os dias. Pretérito mais-que-perfeito: ação anterior à ou- tra mais antiga. Ex.: Quando notei, a água já trans- bordara da banheira. z Futuro do presente: indica um fato que deve ser realizado em um momento vindouro. Ex.: Estuda- rei bastante ano que vem. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 63 z Futuro do pretérito: expressa um fato posterior em relação a outro fato já passado. Ex.: Estudaria muito, se tivesse me planejado. A partir dessas informações, podemos também iden- tificar os verbos conjugados nos tempos simples e nos tempos compostos. Os tempos verbais simples são for- mados por uma única palavra, ou verbo, conjugado no presente, passado ou futuro; já os tempos compostos são formados por dois verbos, um auxiliar e um principal, nesse caso, o verbo auxiliar é o único a sofrer flexões. Agora, vamos conhecer as desinências modo-temporais dos tempos simples e compostos, respectivamente: Flexões modo-temporais – tempos simples TEMPO MODO INDICATIVO MODO SUBJUNTIVO Presente * -e(1ªconjugação) e -a ( 2ª e 3ª conjugações) Pretérito perfeito -ra(3ª pessoa do plural) * Pretérito imperfeito -va (1ª conjuga- ção) -ia (2ª e 3ª conjugações) -sse Pretérito mais-que-per- feito -ra * Futuro -rá e -re -r Futuro do pretérito -ria * * Nem todas as formas verbais apresentam desi- nências modo-temporais. Flexões Modo-Temporais – Tempos Compostos (Indicativo) z Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: TER (presente do indicativo) + verbo principal particí- pio. Ex.: Tenho estudado. z Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo auxi- liar: TER (pretérito imperfeito do indicativo) + ver- bo principal no particípio. Ex.: Tinha passado. z Futuro composto: Verbo auxiliar: TER (futuro do indicativo) + verbo principal no particípio. Ex.: Terei saído. z Futuro do pretérito composto: Verbo auxiliar: TER (futuro do pretérito simples) + verbo principal no particípio. Ex.: Teria estudado. Flexões Modo-Temporais – Tempos Compostos (Subjuntivo) z Pretérito perfeito composto: Verbo auxiliar: TER (presente o subjuntivo) + Verbo principal particí- pio. Ex.: (que eu) Tenha estudado. z Pretérito mais-que-perfeito composto: Verbo auxi- liar: TER (pretérito imperfeito do subjuntivo) + verbo principal no particípio. Ex.: (se eu) Tivesse estudado z Futuro composto: Verbo auxiliar: TER (futuro sim- ples do subjuntivo) + verbo principal no particípio. Ex.: (quando eu) tiver estudado. Modos Indica a atitude da ação/sujeito frente a uma rela- ção enunciada pelo verbo. z Indicativo: exprime atitude de certeza. Ex.: Estu- dei muito para ser aprovado. z Subjuntivo: exprime atitude de dúvida, desejo ou possibilidade. Ex.: Se eu estudasse, seria aprovado. z Imperativo: designa ordem, convite, conselho, súpli- ca ou pedido. Ex.: Estuda! Assim, serás aprovado. REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL (CRASE) Regência é a maneira como o nome ou o verbo se relacionam com seus complementos, com ou sem pre- posição. Quando um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) exige complemento preposicionado, esse nome é um termo regente, e seu complemento é um termo regido, pois há uma relação de dependência entre o nome e seu complemento. O nome exige um complemento nominal sempre ini- ciado por preposição, exceto se o complemento vier em forma de pronome oblíquo átono. Ex.: Os discípulos daquele mestre sempre lhe foram leais. Observação: Complemento de “lhe”: predicativo do sujei- to (desprovido de preposição) Pronome oblíquo átono: lhe Foram leais: complemento de “lhe”, predicativo do sujeito (desprovido de preposição). Regência Verbal Relação de dependência entre um verbo e seu complemento. As relações podem ser diretas ou indi- retas, isto é, com ou sem preposição. Há verbos que admitem mais de uma regência sem que o sentido seja alterado. Ex.: Aquela moça não esquecia os favores recebidos. V. T. D: esquecia Objeto direto: os favores recebidos. Aquela moça não se esquecia dos favores recebidos. V. T. I.: se esquecia Objeto indireto: dos favores recebidos. No entanto, na Língua Portuguesa, há verbos que, mudando-se a regência, mudam de sentido, alterando seu significado. Ex.: Neste país aspiramos ar poluídos. (aspiramos = sorvemos) V. T. D.: aspiramos Objeto direto: ar poluídos. Os funcionários aspiram a um mês de férias. (aspiram = almejam) V. T. I.: aspiram 64 Objeto indireto: a um mês de férias A seguir, uma lista dos principais verbos que geram dúvidas quanto à regência: z Abraçar: transitivo direto Ex.: Abraçou a namorada com ternura. O colar abraçava-lhe elegantemente o pescoço z Agradar: transitivo direto; transitivo indireto Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire- to com sentido de “acariciar”) A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto no sentido de “ser agradável a”) z Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto; transitivo direto e indireto Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não personificado) Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto personificado) Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi- reto: refere-se a coisas e pessoas) z Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da preposição a, rege indiferentemente objeto direto e objeto indireto. Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo direto) Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo indireto) Se o infinitivo preposicionado for intransitivo, rege apenas objeto direto: Ajudaram o ladrão a fugir. Não seguido de infinitivo, geralmente rege objeto direto: Ajudei-o muito à noite. z Ansiar: transitivo direto; transitivo indireto Ex.: A falta de espaço ansiava o prisioneiro. (tran- sitivo direto com sentido de “angustiar”) Ansiamos por sua volta. (transitivo indireto com sentido de “desejar muito” – não admite “lhe” como complemento) z Aspirar: transitivo direto; transitivo indireto Ex.: Aspiramos o ar puro das montanhas. (transiti- vo direto com sentido de “respirar”) Sempre aspiraremos a dias melhores. (transitivo indireto no sentido de “desejar”) z Assistir: transitivo direto; transitivo indireto Ex.: - Transitivo direto ou indireto no sentido de “prestar assistência” O médico assistia os acidentados. O médico assistia aos acidentados. - Transitivo direto no sentido de “ver, presenciar” Não assisti ao final da série. O verbo assistir não pode ser empregado no particípio. É incorreta a forma “O jogo foi assistido por milha- res de pessoas.” z Casar: intransitivo; transitivo indireto; transitivo direto e indireto Ex.: Eles casaram na Itália há anos. (intransitivo) A jovem não queria casar com ninguém. (transiti- vo indireto) O pai casou a filha com o vizinho. (transitivo dire- to e indireto) z Chamar: transitivo direto; transitivo seguido de predicativo do objeto Ex.: Chamou o filho para o almoço.(transitivo dire- to com sentido de “convocar”) Chamei-lhe inteligente. (transitivo seguido de pre- dicativo do objeto com sentido de “denominar, qualificar”) z Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi- reto; intransitivo Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo indireto com sentido de “ser difícil”) A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti- vo direto e indireto: sentido de “acarretar”) Este vinho custou trinta reais. (intransitivo) z Esquecer: admite três possibilidades Ex.: Esqueci os acontecimentos. Esqueci-me dos acontecimentos. Esqueceram-me os acontecimentos. z Implicar: transitivo direto; transitivo indireto; transitivo direto e indireto Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria. (transitivo direto com sentido de “acarretar”) Mamãe sempre implicou com meus hábitos. (transitivo indireto com sentido de “mostrar má disposição”) Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo direto e indireto com sentido de envolver-se”) z Informar: transitivo direto e indireto Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à coisa: objeto indireto, com as preposições de ou sobre Informaram o réu de sua condenação. Informaram o réu sobre sua condenação. Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi- sa: objeto indireto, com a preposição a Informaram a condenação ao réu. z Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi- reto, com as preposições em e por Ex.: Ela interessou-se por minha companhia. z Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi- tivo direto e indireto Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran- sitivo com sentido de “cortejar”) Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo indireto com sentido de “desejar muito”) “Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar- ret) (transitivo direto e indireto com sentido de “encantar-se”) z Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito. Não desobedeçam à sinalização de trânsito. z Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi- tivo direto e indireto Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto) Você pagou ao dono do armazém? (transitivo indireto) Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo direto e indireto) z Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto; transitivo direto e indireto Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto) A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto) Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e indireto) LÍ N G U A P O RT U G U ES A 65 z Suceder: intransitivo; transitivo direto Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no sentido de “ocorrer”) A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido de “vir depois”) Regência Nominal Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér- bios) exigem complementos preposicionados, exceto quando vêm em forma de pronome oblíquo átono. Advérbios Terminados em “mente” Os advérbios derivados de adjetivos seguem a regência dos adjetivos: análoga / analogicamente a contrária / contrariamente a compatível / compativelmente com diferente / diferentemente de favorável / favoravelmente a paralela / paralelamente a próxima / proximamente a/de relativa / relativamente a Preposições Prefixos Verbais Alguns nomes regem preposições semelhantes a seus “prefixos”: dependente, dependência de inclusão, inserção em inerente em/a descrente de/em desiludido de/com desesperançado de desapego de/a convívio com convivência com demissão, demitido de encerrado em enfiado em imersão, imergido, imerso em instalação, instalado em interessado, interesse em intercalação, intercalado entre supremacia sobre EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (CEPERJ – 2013) “...não passa de uma manifestação de racismo, do qual, aliás, o brasileiro gosta de decla- rar-se isento”. Nessa oração, o emprego da forma “do qual” está ligado à presença do termo “isento”, que solicita a presença da preposição de. A frase criada apresenta desvio da norma culta nesse mesmo tipo de estrutura em: a) Os assaltos dos quais falam são cotidianos na cidade de São Paulo. b) Os crimes contra os quais lutam os policiais oferecem perigo à sociedade. c) A pesquisa da qual foram submetidos revelou infor- mações novas. d) As objeções contra as quais se levantaram não tinham qualquer fundamento. e) As leis às quais se referem foram julgadas pela pesquisa. O correto é “A pesquisa à qual foram submetidos”, para respeitar a regência do nome “submetidos”. Faz-se a pergunta: “Submetidos a quem ou a quê?”. Resposta: Letra C. 2. (TJ-SC – 201) Analise as proposições sob o aspecto da regência verbal: I. Comunique aos candidatos de que as provas serão realizadas em outro local. II. Fundação, pilares, lajes, vigas, caixas-d’água, escadas em concreto armado devem obedecer às normas da ABNT. III. Essa mudança de percepção dos riscos ambientais implica maior influência da participação popular nos projetos industriais. IV. Esperamos que cheguem logo a nossas mãos os documentos visando a instruir o processo. a) Estão corretas somente as proposições II, III e IV. b) Estão corretas somente as proposições I, II e III. c) Estão corretas somente as proposições I, III e IV. d) Estão corretas somente as proposições I, II e IV. e) Todas as proposições estão corretas. A forma correta de I seria: “Comunique aos candida- tos que as provas serão realizadas em outro local”. O verbo “comunicar” é transitivo direto e indireto, e, no contexto, o objeto direto é a oração subordina- da substantiva “que as provas serão realizadas em outro local”. Resposta: Letra A. USO DA CRASE Outro assunto que causa grande dúvida é o uso da crase, fenômeno gramatical que corresponde à junção da preposição a + artigo feminino definido a, ou da junção da preposição a + os pronomes relativos aque- le, aquela ou aquilo. Representa-se graficamente pela marcação (`) + (a) = (à). Ex.: Entregue o relatório à diretoria. Refiro-me àquele vestido que está na vitrine. Regra geral: haverá crase sempre que o termo antecedente exija a preposição a e o termo conse- quente aceite o artigo a. Ex.: Fui à cidade (a + a = preposição + artigo) Conheço a cidade (verbo transitivo direto: não exi- ge preposição). Vou a Brasília (verbo que exige preposição a + palavra que não aceita artigo). Essas dicas são facilitadoras quanto à orientação no uso da crase, mas existem especificidades que aju- dam no momento de identificação: Casos Convencionados z Locuções adverbiais formadas por palavras femininas: Ex.: Ela foi às pressas para o camarim. Entregou o dinheiro às ocultas para o ministro. Espero vocês à noite na estação de metrô. Estou à beira-mar desde cedo. 66 z Locuções prepositivas formadas por palavras femininas: Ex.: Ficaram à frente do projeto. z Locuções conjuntivas formadas por palavras femininas: Ex.: À medida que o prédio é erguido, os gastos vão aumentando. z Quando indicar marcação de horário, no plural Ex.: Pegaremos o ônibus às oito horas. Fique atento ao seguinte: entre números teremos que de = a / da = à, portanto: Ex.: De 7 as 16 h. De quinta a sexta. (sem crase) Das 7 às 16 h. Da quinta à sexta. (com crase) z Com os pronomes relativos aquele, aquela ou aquilo: Ex.: A lembrança de boas-vindas foi reservada àquele outono. Por favor, entregue as flores àquela moça que está sentada. Dedique-se àquilo que lhe faz bem. z Com o pronome demonstrativo a antes de que ou de: Ex.: Referimo-nos à que está de preto. Referimo-nos à de preto. z Com o pronome relativo a qual, as quais: Ex.: A secretária à qual entreguei o ofício acabou de sair. As alunas às quais atribuí tais atividades estão de férias. Casos Proibitivos Em resumo, seguem-se as dicas abaixo para melhor orientação de quando não usar a crase. z Antes de nomes masculinos Ex.: “O mundo intelectual deleita a poucos, o mate- rial agrada a todos.” (MM) O carro é movido a álcool. Venda a prazo. z Antes de palavras femininas que não aceitamartigos Ex.: Iremos a Portugal. Macete de crase: Se vou a; Volto da = Crase há! Se vou a; Volto de = Crase pra quê? Ex.: Vou à escola / Volto da escola. Vou a Fortaleza / Volto de Fortaleza. z Antes de forma verbal infinitiva Ex.: Os produtos começaram a chegar. “Os homens, dizendo em certos casos que vão falar com franqueza, parecem dar a entender que o fazem por exceção de regra.” (MM) z Antes de expressão de tratamento Ex.: O requerimento foi direcionado a Vossa Excelência. z No a (singular) antes de palavra no plural, quando a regência do verbo exigir preposição Ex.: Durante o filme assistimos a cenas chocantes. z Antes dos pronomes relativos quem e cuja Ex.: Por favor, chame a pessoa a quem entregamos o pacote. Falo de alguém a cuja filha foi entregue o prêmio. z Antes de pronomes indefinidos alguma, nenhu- ma, tanta, certa, qualquer, toda, tamanha Ex.: Direcione o assunto a alguma cláusula do contrato. Não disponibilizaremos verbas a nenhuma ação suspeita de fraude. Eles estavam conservando a certa altura. Faremos a obra a qualquer custo. A campanha será disponibilizada a toda a comunidade. z Antes de demonstrativos Ex.: Não te dirijas a essa pessoa z Antes de nomes próprios, mesmo femininos, de personalidades históricas Ex.: O documentário referia-se a Janis Joplin. z Antes dos pronomes pessoais retos e oblíquos Ex.: Por favor, entregue as frutas a ela. O pacote foi entregue a ti ontem. z Nas expressões tautológicas (face a face, lado a lado) Ex.: Pai e filho ficaram frente a frente no tribunal de justiça. z Antes das palavras casa, Terra ou terra, distância sem determinante Ex.: Precisa chegar a casa antes das 22h. Astronauta volta a Terra em dois meses. Os pesquisadores chegaram a terra depois da expedição marinha. Vocês o observaram a distância. Crase Facultativa Nestes casos, podemos escrever as palavras das duas formas: utilizando ou não a crase. Para entender detalhadamente, observe as seguintes dicas: z Antes de nomes de mulheres comuns ou com quem se tem proximidade Ex.: Ele fez homenagem a/à Bárbara. z Antes de pronomes possessivos no singular Ex.: Iremos a/à sua residência. z Após preposição até, com ideia de limite Ex.: Dirija-se até a/à portaria. “Ouvindo isto, o desembargador comoveu-se até às (ou “as”) lágrimas, e disse com mui estranho afeto.” (CBr. 1, 67) Casos Especiais Veremos a seguir alguns casos que fogem à regra. Quando se relacionar a instrumentos cujos nomes forem femininos, normalmente a crase não será utili- zada. Porém, em alguns casos, utiliza-se a crase para evitar ambiguidades. Ex.: Matar a fome. (Quando “fome” for objeto direto) Matar à fome. (Quando “fome” for advérbio de instrumento) Fechar a chave. (Quando “chave” for objeto direto) Fechar à chave. (Quando “chave” for advérbio de instrumento) Quando Usar ou Não a Crase em Sentenças com Nomes de Lugares z Regidos por preposições de, em, por: não se usa crase Ex.: Fui a Copacabana. (Venho de Copacabana, moro em Copacabana, passo por Copacabana) z Regidos por preposições da, na, pela: usa-se crase Ex.: Fui à Bahia. (Venho da Bahia, moro na Bahia, passo pela Bahia) LÍ N G U A P O RT U G U ES A 67 Macetes z Haverá crase quando o “à” puder ser substituído por ao, da na, pela, para a, sob a, sobre a, contra a, com a, à moda de, durante a; z Quando o de ocorre paralelo ao a, não há crase. Quando o da ocorre paralelo ao à, há crase; z Na indicação de horas, quando o “à uma” puder ser substituído por às duas, há crase. Quando o a uma equivaler a a duas, não ocorre crase; z Usa-se a crase no “a” de àquele(s), àquela(s) e àqui- lo quando tais pronomes puderem ser substituídos por a este, a esta e a isto; z Usa-se crase antes de casa, distância, terra e nomes de cidades quando esses termos estiverem acompanhados de determinantes. Ex.: Estou à dis- tância de 200 metros do pico da montanha. A compreensão da crase vai muito além da estética gramatical, pois serve também para evitar ambigui- dades comuns, como o caso seguinte: Lavando a mão. Nessa ocasião, usa-se a forma “Lavando a mão”, pois “a mão” é o objeto direto, e, portanto, não exi- ge preposição. Usa-se a forma “à mão” em situações como “Pintura feita à mão”, já que “à mão” seria o advérbio de instrumento da ação de pintar. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (TJ-SC – 2010) Quanto ao uso da crase: I. O anúncio foi feito por meio da rede de miniblogs Twirter, à qual ele aderiu duas semanas atrás. II. Estou esperando por você desde às 8 horas da manhã. III. Alguns investigadores preferiram seguir a pista do dinheiro à da honra. IV. Cabe a cada um decidir o rumo que dará à sua vida. a) Somente as proposições II e IV estão corretas. b) Estão corretas somente as proposições I, III e IV. c) Estão corretas somente as proposições II, III e IV. d) Estão corretas somente as proposições I, II e III. e) Todas as proposições estão corretas. Justificativa do erro no item II: a palavra “desde” é uma preposição que “designa o ponto de partida de um movimento ou extensão (no espaço, no tem- po ou numa série), para assinalar especialmente a distância” (ROCHA LIMA, 1997). Portanto, a forma correta é “desde as 8h”.As outras alternativas estão corretas: na I, cabe crase antes do pronome relativo; na III, há paralelismo – no primeiro termo, “a pista” tem artigo, no segundo, deverá ter também, além da preposição a, originando a crase. CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede- cem a alguns princípios: um deles é a concordância. Observe o exemplo: A pequena garota andava sozinha pela cidade. A: Artigo, feminino, singular; Pequena: Adjetivo, feminino, singular; Garota: Substantivo, feminino, singular. Tanto o artigo quanto o adjetivo (ambos adjuntos adnominais) concordam com o gênero (feminino) e o número (singular) do substantivo. Na língua portuguesa, há dois tipos de concordân- cia: verbal e nominal. Concordância Verbal É a adaptação em número – singular ou plural – e pessoa que ocorre entre o verbo e seu respectivo sujeito. “De todos os povos mais plurais culturalmente, o Brasil, mesmo diante de opiniões contrárias, as quais insistem em desmentir que nosso país é cheio de ‘bra- sis’ – digamos assim –, ganha disparando dos outros, pois houve influências de todos os povos aqui: euro- peus, asiáticos e africanos.” Esse período, apesar de extenso, constitui-se de um sujeito simples “o Brasil”, portanto o verbo cor- respondente a esse sujeito, “ganha”, necessita ficar no singular. Destrinchando o período, temos que os termos essenciais da oração (sujeito e predicado) são apenas “[...] o Brasil [...]” – sujeito – e “[...] ganha [...]” – predi- cado verbal. Veja um caso de uso de verbo bitransitivo: Ex.: Prefiro natação a futebol. Verbo bitransitivo: Prefiro Objeto direto: natação Objeto indireto: a futebol Popularmente, usa-se “do que” no lugar de “a”, o que tornaria a oração da seguinte forma: “Prefiro natação do que futebol”. Porém, segundo a norma-pa- drão, a forma correta é como consta no exemplo. Concordância Verbal com o Sujeito Simples Em regra geral, o verbo concorda com o núcleo do sujeito. Ex.: Os jogadores de futebol ganham um salário exorbitante. Diferentes situações: z Quando o núcleo do sujeito for uma palavra de sentido coletivo, o verbo fica no singular. Ex.: A multidão gritou entusiasmada. z Quando o sujeito é o pronome relativo que, o ver- bo posterior ao pronome relativo concorda com o antecedente do relativo. Ex.: Quais os limites do Brasil que se situam mais próximos do Meridiano? z Quando o sujeito é o pronome indefinido quem, o verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós quem resolveu a questão. Por questão de ênfase, o verbo pode também con- cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos nós quem resolvemos a questão. z Quando o sujeito é um pronome interrogativo, demonstrativo ouindefinido no plural + de nós / de vós, o verbo pode concordar com o pronome no plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol- viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos essa questão. 68 z Quando o sujeito é formado por palavras plurali- zadas, normalmente topônimos (Amazonas, férias, Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), se hou- ver artigo definido antes de uma palavra plura- lizada, o verbo fica no plural. Caso não haja esse artigo, o verbo fica no singular. Ex.: Os Estados Unidos continuam uma potência. Estados Unidos continua uma potência. Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida- de de Santos fica em São Paulo.”) Importante! Quando se aplica a nomes de obras artísticas, o verbo fica no singular ou no plural. Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram Camões. z Quando o sujeito é formado pelas expressões mais de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de, obra de etc., o verbo concorda com o numeral. Ex.: Mais de um aluno compareceu à aula. Mais de cinco alunos compareceram à aula. A expressão mais de um tem particularidades: se a frase indica reciprocidade (pronome reflexivo recíproco se), se houver coletivo especificado ou se a expressão vier repetida, o verbo fica no plural. Ex.: Mais de um irmão se abraçaram. Mais de um grupo de crianças veio/vieram à festa. Mais de um aluno, mais de um professor esta- vam presentes. z Quando o sujeito é formado po um número per- centual ou fracionário, o verbo concorda com o numerado ou com o número inteiro, mas pode concordar com o especificador dele. Se o numeral vier precedido de um determinante, o verbo con- cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabe o que é viver bem. Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é viver bem. Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem. Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem. Os 30% da população não sabem o que é viver mal. EXERCÍCIO COMENTADO 1. (FGV – 2008) “... mostram que um terço dos pagamen- tos realizados por intermédio de instituições financei- ras foi tributado apenas por aquela contribuição...” Assinale a alternativa em que, ao se alterar o termo “um terço”, não se tenha mantido a concordância em conformidade com a norma culta. Desconsidere a possibilidade de concordância atrativa. a) mostram que 0,27% dos pagamentos realizados por intermédio de instituições financeiras foi tributado apenas por aquela contribuição. b) mostram que menos de 2% dos pagamentos realiza- dos por intermédio de instituições financeiras foram tributados apenas por aquela contribuição. c) mostram que grande parte dos pagamentos realiza- dos por intermédio de instituições financeiras foi tribu- tado apenas por aquela contribuição. d) mostram que três quartos dos pagamentos realizados por intermédio de instituições financeiras foram tribu- tados apenas por aquela contribuição. e) mostram que 1,6 milhão dos pagamentos realizados por intermédio de instituições financeiras foi tributado apenas por aquela contribuição. Em “grande parte dos pagamentos realizados... foi tributado”, não houve concordância adequada, deveria ser “foi tributada”, para concordar com o núcleo do sujeito, “parte”. Resposta: Letra C. z Os verbos bater, dar e soar concordam com o número de horas ou vezes, exceto se o sujeito for a palavra relógio. Ex.: Deram duas horas, e ela não chegou. (Duas horas deram...) Bateu o sino duas vezes. (O sino bateu) Soaram dez badaladas no relógio da sala. (Dez badaladas soaram) Soou dez badaladas o relógio da escola. (O relógio da escola soou dez badaladas) z Quando o sujeito está em voz passiva sintética, o verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: Ven- dem-se casas de veraneio aqui. Nunca se viu, em parte alguma, pessoa tão interessada. z Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o verbo fica sempre na 3ª pessoa. Ex.: Por que Vossa Majestade está preocupada? Suas Excelências precisam de algo? z Sujeito do verbo viver em orações optativas ou exclamativas. Ex.: Vivam os campeões! Concordância Verbal com o Sujeito Composto z Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama- ticais diferentes Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos. z Núcleos do sujeito ligados pela preposição com Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che- garam ontem. z Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada ou nenhum Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man- ter o espírito esportivo. z Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no singular Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju- davam. (preferencialmente no singular) z Gradação entre os núcleos do sujeito Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para me acalmar. (preferencialmente no singular) z Núcleos do sujeito no infinitivo Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde. z Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu- mitivo (nada, tudo, ninguém) Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu. z Sujeito constituído pelas expressões um e outro, nem um nem outro Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui. z Núcleos do sujeito ligados por nem... nem Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu foco nos estudos. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 69 z Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras como, menos, inclusive, exceto ou as expressões bem como, assim como, tanto quanto Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na final. z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim como; não só... mas também etc.) Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua popularidade em alta. z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni- co núcleo, o verbo fica no singular concordando com o núcleo único. Mas, se houver determinante após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o sujeito passa a ser composto. Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos combustíveis aumentaram. Concordância Verbal do Verbo Ser z Concorda com o sujeito Ex.: Nós somos unha e carne. z Concorda com o sujeito (pessoa) Ex.: Os meninos foram ao supermercado. z Em predicados nominais, quando o sujeito for representado por um dos pronomes tudo, nada, isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor- dará com o predicativo (preferencialmente) ou com o sujeito Ex.: No início, tudo é/são flores. z Concorda com o predicativo quando o sujeito for que ou quem Ex.: Quem foram os classificados? z Em indicações de horas, datas, tempo, distância (predicativo), o verbo concorda com o predicativo Ex.: São nove horas. É frio aqui. Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas? z O verbo fica no singular quando precede termos como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais, menos etc. junto a especificações de preço, peso, quantidade, distância, e também quando seguido do pronome o Ex.: Cem metros é muito para uma criança. Divertimentos é o que não lhe falta. Dez reais é nada diante do que foi gasto. z Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora- ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o verbo concordará com o termo não preposiciona- do entre eles. Ex.: Eles é que sempre chegam cedo. São eles que sempre chegam cedo. É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons- trução adequada) São nessas horas que a gente precisa de ajuda. (construção inadequada) CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL Concordância do Infinitivo z Exemplos com verbos no infinitivo pessoal: Nós lutaremos até vós serdes bem tratados. (sujei- to esclarecido) Está na hora de começarmos o trabalho. (sujeito implícito “nós”) Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site. (dois pronomes implícitos: eu, nós) Até me encontrarem, vocês terão de procurar muito. (preposição no início da oração) Para nós nos precavermos, precisaremos de luz. (verbos pronominais) Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser indicando tempo) Estudo para me consideraremcapaz de aprova- ção. (pretensão de indeterminar o sujeito) Para vocês terem adquirido esse conhecimento, foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com- posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no particípio) z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal: Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu- ção verbal) Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono sendo sujeito do infinitivo) Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”. Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo com valor genérico) São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece- dido de preposição de ou para) Soldados, recuar! (infinitivo com valor de imperativo) z Concordância do verbo parecer Flexiona-se ou não o infinitivo. Pareceu-me estarem os candidatos confiantes. (o equivalente a “Pareceu-me que os candidatos esta- vam confiantes”, portanto o infinitivo é flexionado de acordo com o sujeito, no plural) Eles parecem estudar bastante. (locução verbal, logo o infinitivo será impessoal) z Concordância dos verbos impessoais São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular. Ex.: Havia sérios problemas na cidade. Fazia quinze anos que ele havia se formado. Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo auxiliar fica no singular) Trata-se de problemas psicológicos. Geou muitas horas no sul. z Concordância com sujeito oracional Quando o sujeito é uma oração subordinada, o verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos. Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados. Ficou combinado que sairíamos à tarde. Urge que você estude. Era preciso encontrar a verdade Casos mais frequentes em provas Veja agora uma lista com os casos mais abordados em concursos: z Sujeito posposto distanciado Ex.: Viviam o meio de uma grande floresta tropical brasileira seres estranhos. z Verbos impessoais (haver e fazer) Ex.: Faz dois meses que não pratico esporte. Havia problemas no setor. Obs.: Existiam problemas no setor. (verbo existir vai ter sujeito “problemas”, e vai ser variável) 70 z Verbo na voz passiva sintética Ex.: Criaram-se muitas expectativas para a luta. z Verbo concordando com o antecedente correto do pronome relativo ao qual se liga Ex.: Contratei duas pessoas para a empresa, que tinham experiência. z Sujeito coletivo com especificador plural Ex.: A multidão de torcedores vibrou/vibraram. z Sujeito oracional Ex.: Convém a eles alterar a voz. (verbo no singular) z Núcleo do sujeito no singular seguido de adjun- to ou complemento no plural Ex.: Conversa breve nos corredores pode gerar atrito. (verbo no singular) Casos Facultativos z A multidão de pessoas invadiu/invadiram o estádio. z Aquele comediante foi um dos que mais me fez/ fizeram rir. z Fui eu quem faltou/faltei à aula. z Quais de vós me ajudarão/ajudareis? z “Os Sertões” marcou/marcaram a literatura brasileira. z Somente 1,5% das pessoas domina/dominam a ciência. (1,5% corresponde ao singular) z Chegaram/Chegou João e Maria. z Um e outro / Nem um nem outro já veio/vieram aqui. z Eu, assim como você, odeio/odiamos a política brasileira. z O problema do sistema é/são os impostos. z Hoje é/são 22 de agosto. z Devemos estudar muito para atingir/atingirmos a aprovação. z Deixei os rapazes falar/falarem tudo. Silepse de Número e de Pessoa Conhecida também como “concordância irregular, ideológica ou figurada”. Vejamos os casos: z Silepse de número: usa-se um termo discordando do número da palavra referente, para concordar com o sentido semântico que ela tem. Ex.: Flor tem vida muito curta, logo murcham. (ideia de plurali- dade: todas as flores) z Silepse de pessoa: o autor da frase participa do processo verbal. O verbo fica na 1ª pessoa do plu- ral. Ex.: Os brasileiros, enquanto advindos de diversas etnias, somos multiculturais. Concordância Nominal Define-se como a adaptação em gênero e número que ocorre entre o substantivo (ou equivalente, como o adjetivo) e seus modificadores (artigos, pronomes, adjetivos, numerais). O adjetivo e as palavras adjetivas concordam em gênero e número com o nome a que se referem. Ex.: Parede alta. / Paredes altas. Muro alto. / Muros altos. Casos com adjetivos z Com função de adjunto adnominal: quando o adjetivo funcionar como adjunto adnominal e esti- ver após os substantivos, poderá concordar com as somas desses ou com o elemento mais próximo. Ex.: Encontrei colégios e faculdades ótimas. / Encontrei colégios e faculdades ótimos. Há casos em que o adjetivo concordará apenas com o nome mais próximo, quando a qualidade per- tencer somente a este. Ex.: Saudaram todo o povo e a gente brasileira. Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho Quando o adjetivo funcionar como adjunto adno- minal e estiver antes dos substantivos, poderá con- cordar apenas com o elemento mais próximo. Ex.: Existem complicadas regras e conceitos. Quando houver apenas um substantivo qualifica- do por dois ou mais adjetivos pode-se: Colocar o substantivo no plural e enumerar o ad- jetivo no singular. Ex.: Ele estuda as línguas inglesa, francesa e alemã. Colocar o substantivo no singular e, ao enumerar os adjetivos (também no singular), antepor um artigo a cada um, menos no primeiro deles. Ex.: Ele estuda a língua inglesa, a francesa e a alemã. z Com função de predicativo do sujeito Com o verbo após o sujeito, o adjetivo concordará com a soma dos elementos. Ex.: A casa e o quintal estavam abandonados. Com o verbo antes do sujeito o predicativo do su- jeito acompanhará a concordância do verbo, que por sua vez concordará tanto com a soma dos elementos quanto com o nome mais próximo. Ex.: Estava abandonada a casa e o quintal. / Esta- vam abandonados a casa e o quintal. Como saber quando o adjetivo tem valor de adjun- to adnominal ou predicativo do sujeito? Substitua os substantivos por um pronome: Ex.: Existem conceitos e regras complicados. (substitui-se por “eles”) Fazendo a troca, fica “Eles existem”, e não “Eles existem complicados”. Como o adjetivo desapareceu com a substituição, então é um adjunto adnominal. z Com função de predicativo do objeto Recomenda-se concordar com a soma dos substan- tivos, embora alguns estudiosos admitam a concor- dância com o termo mais próximo. Ex.: Considero os conceitos e as regras complicados. Tenho como irresponsáveis o chefe do setor e seus subordinados. Algumas convenções z Obrigado / próprio / mesmo Ex.: A mulher disse: “Muito obrigada”. A própria enfermeira virá para o debate. Elas mesmas conversaram conosco. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 71 Dica O termo mesmo no sentido de “realmente” será invariável. Ex.: Os alunos resolveram mesmo a situação. z Só / sós Variáveis quando significarem “sozinho” / “sozinhos”. Invariáveis quando significarem “apenas, somente”. Ex.: As garotas só queriam ficar sós. (As garotas apenas queriam ficar sozinhas.) A locução “a sós” é invariável. Ex.: Ela gostava de ficar a sós. / Eles gostavam de ficar a sós. z Quite / anexo / incluso Concordam com os elementos a que se referem. Ex.: Estamos quites com o banco. Seguem anexas as certidões negativas. Inclusos, enviamos os documentos solicitados. z Meio Quando significar “metade”: concordará com o elemento referente. Ex.: Ela estava meio (um pouco) nervosa. Quando significar “um pouco”: será invariável. Ex.: Já era meio-dia e meia (metade da hora). z Grama Quando significar “vegetação”, é feminino; quan- do significar unidade de medida, é masculino. Ex.: Comprei duzentos gramas de farinha. “A grama do vizinho sempre é mais verde.” z É proibido entrada / É proibida a entrada Se o sujeito vier determinado, a concordância do verbo e do predicativo do sujeito será regular, ou seja, tanto o verbo quanto o predicativo concorda- rão com o determinante.Ex.: Caminhada é bom para a saúde. / Esta cami- nhada está boa. É proibido entrada de crianças. / É proibida a entrada de crianças. Pimenta é bom? / A pimenta é boa? z Menos / pseudo São invariáveis. Ex.: Havia menos violência antigamente. Aquelas garotas são pseudoatletas. / Seu argumen- to é pseudo-objetivo. z Muito / bastante Quando modificam o substantivo: concordam com ele. Quando modificam o verbo: invariáveis. Ex.: Muitos deles vieram. / Eles ficaram muito irritados. Bastantes alunos vieram. / Os alunos ficaram bas- tante irritados. Se ambos os termos puderem ser substituídos por “vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi- tuídos por “bem”, ficarão invariáveis. z Tal qual Tal concorda com o substantivo anterior; qual, com o substantivo posterior. Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os pais. Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais quais os pais. Silepse (também chamada concordância figurada) É a que se opera não com o termo expresso, mas o que está subentendido. Ex.: São Paulo é linda! (A cidade de São Paulo é linda!) Estaremos aberto no final de semana. (Estaremos com o estabelecimento aberto no final de semana.) Os brasileiros estamos esperançosos. (Nós, brasi- leiros, estamos esperançosos.) z Possível Concordará com o artigo, em gênero e número, em frases enfáticas com o “mais”, o “menos”, o “pior”. Ex.: Conheci crianças o mais belas possíveis. / Conheci crianças as mais belas possíveis. EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (FAFIPA – 2020) Para que haja concordância, todos os elementos que compõem a oração precisam estar em harmonia. A partir disso, assinale a alternativa em que NÃO há erro de concordância nominal: a) Sempre educada e prestativa, a menina olhou para todos os convidados e disse: “Muito obrigado!” b) As taxas inclusa no pacote de viagem são muito altas. c) Os diretores mesmo realizaram a campanha na escola. d) Bebi meia garrafa de vinho e fiquei meia tonta. e) Gosto muito de ler Clarice Lispector. Na biblioteca há bastantes livros de sua autoria. Na alternativa A, a frase enunciada pela menina deveria flexionar no feminino o adjetivo “obrigada”, portanto está incorreta. Na alternativa B, o adjeti- vo “inclusa” deve concordar em gênero e número, havendo a necessidade do plural, o mesmo ocorre em C, portanto mais duas alternativas incorretas. Na alternativa D a palavra “meia” é um advérbio, pois modifica o adjetivo tonta, sendo, portanto, invariável, acarretando o erro dessa alternativa. Já na alternativa E termos “bastantes” corretamente empregado, pois assume valor de “muitos”. Respos- ta: Letra E 2. (TJ-SC – 2010) Assinale a frase correta em termos de concordância nominal: a) Por essa razão se faz necessária a agilização de pro- cedimentos como a apuração da base de cálculos. b) Julgo procedente em parte os pedidos promovidos por Maria e José. c) As duplicatas apenso não foram resgatadas. d) O veículo estará à sua disposição no local e hora aprazado. e) Embora meia tonta, a moça conseguiu dizer “muito obrigado”. O trecho “[...] se faz necessária a agilização” está correto porque o termo “necessária” concorda com o artigo definido feminino singular “a”. Resposta: Letra A 3. (TJ-SC – 2010) “Ao meio-dia e ____ , encontrando a porta da lancheria _____ aberta, Joana entrou e pediu ____ grama de sal e _____ porção de sanduíche.” O tex- to fica gramaticalmente correto com a inserção de: a) meia – meio – meia – meia b) meio – meia – meio – meia c) meia – meia – meia – meia d) meia – meio – meio – meia e) meio – meio – meio – meio 72 Ao meio-dia e [meia hora], [...] a porta da lancheria [meio = um pouco] aberta, [...] pediu [meio = meta- de do termo masculino grama] grama de sal e meia porção [...]. Resposta: Letra D PLURAL DE COMPOSTOS Substantivos O adjetivo concorda com o substantivo referen- te em gênero e número. Se o termo que funciona como adjetivo for originalmente um substantivo fica invariável. Ex.: Rosas vermelhas e jasmins pérola. (pérola também é um substantivo; mantém-se no singular) Ternos cinza e camisas amarelas. (cinza também é um substantivo; mantém-se no singular) Adjetivos Quando houver adjetivo composto, apenas o últi- mo elemento concordará com o substantivo referente. Os demais ficarão na forma masculina singular. Se um dos elementos for originalmente um subs- tantivo, todo o adjetivo composto ficará invariável. Ex.: Violetas azul-claras com folhas verde-musgo. No termo “azul-claras”, apenas “claras” segue o plural, pois ambos são adjetivos. No termo “verde-musgo”, “musgo” permanece no singular, assim como “verde”, por ser substantivo. Nesse caso, o termo composto não concorda com o plural do substantivo referente, “folhas”. Ex.: Calças rosa-claro e camisas verde-mar. O termo “claro” fica invariável porque “rosa” tam- bém pode ser um substantivo. O termo “mar” fica invariável por seguir a mesma lógica de “musgo” do exemplo anterior. Dica Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual- quer adjetivo composto iniciado por “cor-de” são sempre invariáveis. O adjetivo composto pele-vermelha tem os dois ele- mentos flexionados no plural (peles-vermelhas). Lista de Flexão dos dois elementos z Nos substantivos compostos formados por pala- vras variáveis, especialmente substantivos e adjetivos: segunda-feira – segundas-feiras; matéria-prima – matérias-primas; couve-flor – couves-flores; guarda-noturno – guardas-noturnos; primeira-dama – primeiras-damas. z Nos substantivos compostos formados por temas verbais repetidos: corre-corre – corres-corres; pisca-pisca – piscas-piscas; pula-pula – pulas-pulas. Nestes substantivos também é possível a flexão apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca- -piscas, pula-pulas. Flexão apenas do primeiro elemento z Nos substantivos compostos formados por subs- tantivo + substantivo em que o segundo termo limita o sentido do primeiro termo: decreto-lei – decretos-lei; cidade-satélite – cidades-satélite; público-alvo – públicos-alvo; elemento-chave – elementos-chave. Nestes substantivos também é possível a flexão dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites, públicos-alvos, elementos-chaves. z Nos substantivos compostos preposicionados: cana-de-açúcar – canas-de-açúcar; pôr do sol – pores do sol; fim de semana – fins de semana; pé de moleque – pés de moleque. Flexão apenas do segundo elemento z Nos substantivos compostos formados por tema verbal ou palavra invariável + substantivo ou adjetivo: bate-papo – bate-papos; quebra-cabeça – quebra-cabeças; arranha-céu – arranha-céus; ex-namorado – ex-namorados; vice-presidente – vice-presidentes. z Nos substantivos compostos em que há repeti- ção do primeiro elemento: zum-zum – zum-zuns; tico-tico – tico-ticos; lufa-lufa – lufa-lufas; reco-reco – reco-recos. z Nos substantivos compostos grafados ligada- mente, sem hífen: girassol – girassóis; pontapé – pontapés; mandachuva – mandachuvas; fidalgo – fidalgos. z Nos substantivos compostos formados com grão, grã e bel: grão-duque – grão-duques; grã-fino – grã-finos; bel-prazer – bel-prazeres. Não flexão dos elementos z Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocor- re em frases substantivadas e em substantivos compostos por um tema verbal e uma palavra invariável ou outro tema verbal oposto: o disse me disse – os disse me disse; o leva e traz – os leva e traz; o cola-tudo – os cola-tudo. ORAÇÕES REDUZIDAS Orações Reduzidas z Apresentam o mesmo verbo em uma das formas nominais (gerúndio, particípio e infinitivo); z As que são substantivas e adverbiais: nunca são iniciadas por conjunções; z As que são adjetivas: nunca podem ser iniciadas por pronomes relativos; z Podem ser reescritas (desenvolvidas) com esses conectivos; LÍ N G U A P O RT U G U ES A 73 z Podem ser iniciadas por preposição ou locução prepositiva. Ex.:Terminada a prova, fomos ao restaurante. O. S. Adv. reduzida de particípio: não começa com conjunção Quando terminou a prova, fomos ao restaurante. (desenvolvida) O. S. Adv. Desenvolvida: começa com conjunção Orações Reduzidas de Infinitivo Podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais. Se o infinitivo for pessoal, irá flexionar normalmente. z Substantivas: Ex.: É preciso trabalhar muito. (O. S. substantiva subjetiva reduzida de infinitivo) Deixe o aluno pensar. (O. S. substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo) A melhor política é ser honesto. (O. S. substantiva predicativa reduzida de infinitivo) Este é um difícil livro de se ler. (O. S. substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo) Temos uma missão: subir aquela escada. (O. S. substantiva apositiva reduzida de infinitivo) z Adjetivas: Ex.: João não é homem de meter os pés pelas mãos. O meu manual para fazer bolos certamente vai agradar a todos. z Adverbiais: Ex.: Apesar de estar machucado, continua jogando bola. Sem estudar, não passarão. Ele passou mal, de tanto comer doces. Orações Reduzidas de Gerúndio Podem ser coordenadas aditivas, substantivas apo- sitivas, adjetivas, adverbiais. z Coordenada aditiva: Ex.: Pagou a conta, ficando livre dos juros. z Substantiva apositiva: Ex.: Não mais se vê amigo ajudando um ao outro. (subjetiva) Agora ouvimos artistas cantando no shopping. (objetiva direta) z Adjetiva: Ex.: Criança pedindo esmola dói o coração. z Adverbial: Ex.: Temendo a reação do pai, não contou a verdade. Orações Reduzidas de Particípio Podem ser adjetivas ou adverbiais. z Adjetiva: Ex.: A notícia divulgada pela mídia era falsa. Nosso planeta, ameaçado constantemente por nós mesmos, ainda resiste. z Adverbiais: Ex.: Aceitas as condições, não have- ria problemas. (condicional) Dada a notícia da herança, as brigas começaram. (causal/temporal) Comprada a casa, a família se mudou logo. (temporal) O particípio concorda em gênero e número com os termos referentes. Essas orações reduzidas adverbiais são bem fre- quentes em provas de concurso. COLOCAÇÃO PRONOMINAL Estudo da posição dos pronomes na oração. z Próclise: pronome posicionado antes do verbo. Casos que atraem o pronome para próclise: � Palavras negativas: nunca, jamais, não. Ex.: Não me submeto a essas condições. � Pronomes indefinidos, demonstrativos, rela- tivos. Ex: Foi ela que me colocou nesse papel. � Conjunções subordinativas. Ex.: Embora se apresente como um rico investidor, ele nada tem. � Gerúndio precedido da preposição em. Ex: Em se tratando de futebol, Maradona foi um ídolo. � Infinitivo pessoal preposicionado. Ex.: Na esperança de sermos ouvidos, muito lhe agradecemos. � Orações interrogativas, exclamativas, opta- tivas (exprimem desejo). Ex.: Como te iludes! z Mesóclise: pronome posicionado no meio do verbo. Casos que atraem o pronome para mesóclise: Os pronomes devem ficar no meio dos verbos que estejam conjugados no futuro, caso não haja nenhum motivo para uso da próclise. Ex.: “Dar-te-ei meus bei- jos agora...” z Ênclise: pronome posicionado após o verbo. Casos que atraem o pronome para ênclise: � Início de frase ou período. Ex.: Sinto-me mui- to honrada com esse título. � Imperativo afirmativo. Ex.: Sente-se, por favor. � Advérbio virgulado. Ex.: Talvez, diga-me o quanto sou importante. Casos proibidos: Início de frase: Me dá esse cader- no! (errado) / Dá-me esse caderno! (certo). Depois de ponto e vírgula: Falou pouco; se lembrou de nada (errado) / Falou pouco; lembrou-se de nada (correto). Depois de particípio: Tinha lembrado-se do fato (errado) / Tinha se lembrado do fato (correto). ESTILÍSTICA FIGURAS DE LINGUAGEM Figuras de sintaxe Consistem em modificações da estrutura da oração (ou parte dela) por meio da omissão, inversão ou repe- tição de termos. Nesse caso, essas alterações ocorrem para conferir mais expressividade ao enunciado. 74 z Elipse Utilizada para omitir termos numa oração que não foram mencionados anteriormente, mas que podem ser facilmente identificados pelo interlocutor. Essa omissão pode ser percebida por indícios gramaticais ou dentro do próprio contexto. Ex.: Ana Rita arrumou-se para o trabalho. Estava atrasada. (“elipse sujeito -ela”) Os alunos e as alunas, mãos erguidas contra os políticos, caminhavam pelas ruas. (elipse da preposi- ção – “de mãos erguidas”) z Zeugma Considerado um caso particular de elipse, o zeug- ma consiste omissão em orações seguintes de palavras expressas na oração anterior. Ex.: Eu sou professora; minha amiga, advogada. Desembrulhe essa caixa enquanto eu desembru- lho a outra. z Pleonasmo Consiste na repetição de termos ou ideias com o objetivo de realçá-las, tornando-as mais expressivas. Ex.: “É rir meu riso e derramar meu pranto”. (Viní- cius de Moraes) “Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma.” (Machado de Assis). Dica Existe o pleonasmo literário, que é um recurso estilístico aceitável e muito explorado na litera- tura e na música. O problema é quando o pleo- nasmo se torna vicioso. Expressões como “fatos reais”, “subir para cima”, “ganhar de graça”, “cego dos olhos” e outras constituem um vício de lin- guagem. A repetição da ideia torna-se, portanto, desnecessária, pois não traz nenhum reforço à ideia apresentada. z Polissíndeto Figura que consiste no uso excessivo e repetitivo de conjunções. Ex.: “Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Ola- vo Bilac) “Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira.” (Alberto Oliveira) z Assíndeto É a figura que consiste na omissão reiterada de conjunções. Geralmente a conjunção omitida é a coor- denativa. Essa estratégia torna a leitura do texto mais clara e dinâmica. Ex.: “Pense, fale, compre, beba, leia, vote, não se esqueça.” (Pitty) “Vim, vi, venci.” (Júlio César) z Anáfora Consiste na repetição de palavra ou expressões no início da oração. Esse tipo de recurso é muito comum em textos estruturados em versos consecutivos (poe- mas, músicas, entre outros). O propósito é valorizar a mensagem por meio da ênfase ao elemento repetido. Ex.: “É o pau, é a pedra, é o fim do caminho É um resto de toco, é um pouco sozinho É um caco de vidro, é a vida, é o sol É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol.” (Tom Jobim) “Quando não tinha nada eu quis Quando tudo era ausência, esperei Quando tive frio, tremi Quando tive coragem, liguei”. (Daniela Mercury) z Aliteração Recurso sonoro que consiste na repetição de sons consonantais para intensificar a rima e o ritmo. Ex.: “Chove chuva choverando” (Oswald de Andrade) “Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.” (Cecília Meireles) z Assonância Figura de linguagem que aborda o uso de som em harmonia. Caracterizada pela repetição de vogais. Ex.: “A pálida lágrima de Flávia” – repetição da vogal a. “Amo muito tudo isso” – repetição do som da vogal u. z Onomatopeia Recurso sonoro que procura representar os sons específicos de objetos, animais ou pessoas a partir de uma percepção aproximada da realidade. Ex.: “O tic tac do relógio me deixava mais angus- tiado na prova”. “Psiiiiiu! – Falou o professor no momento da reunião”. z Hipérbato ou Inversão Caracteriza-se pela inversão proposital da ordem direta dos termos da oração. Essa inversão confere maior efeito estilístico na construção do enunciado. Ex.: “Os bons vi sempre passar / no mundo graves tormentos” (Luiz Vaz de Camões) Na ordem direta seria: Eu sempre vi passar os bons no mundo de graves tormentos. z Anástrofe Diferentemente do hipérbato, a anástrofe consiste na inversão mais sutil dos termos da oração, não pre- judicando o entendimento do enunciado. Ex.: “Sabes também quanto é passageira essa desavença Não destrates o amor”. (Jacob do Bandolim) Utilizando a figura de linguagem teríamos: “Sabes também quanto essa desavença é passageira”. z Silepse Consiste na concordânciacom o termo que está subtendido na oração e não com o termo expresso na oração. (Concordância ideológica). Existem três tipos de silepse: LÍ N G U A P O RT U G U ES A 75 � Silepse de Gênero: Há uma discordância entre os gêneros dos artigos, substantivos, prono- mes e adjetivos. Notamos na oração a presen- ça do contraste entre os gêneros masculino e feminino. Ex.: Vossa Excelência é falso. - O pronome de tra- tamento certamente se refere a alguma autoridade do sexo masculino (deputado, prefeito, vereador etc.) � Silepse de Número: Há uma discordância entre o verbo e o sujeito da oração quando ele expressa uma ideia de coletividade. Nesse caso, o verbo concorda com a ideia que nele está contida. Ex.: A turma era barulhenta, falavam alto. (“fala- vam” concorda com “alunos”) � Silepse de Pessoa: Há uma discordância entre o verbo e a pessoa do discurso expressa pelo sujeito da oração. Geralmente o emissor se inclui no sujeito expresso em 3ª pessoa do plural, realizando a flexão verbal na primeira pessoa. Ex.: Dizem que os brasileiros somos amantes do futebol. (brasileiros //3ª p. plural) (somos// 1ª p. plural) z Anacoluto Consiste na quebra ou interrupção da estrutura normal. Um dos termos da oração fica desvinculado do restante da sentença e não estabelece nenhuma ligação sintática com os demais. Ex.: Meu vizinho, ouvi dizer que está muito doente. Figuras de palavras As figuras de palavras estão associadas ao signifi- cado delas. Caracterizam-se por apresentar uma subs- tituição ou transposição do sentido real da palavra para assumir um sentido figurado construído dentro de um contexto. A substituição de uma palavra por outra pode acontecer por uma relação muito próxi- ma (contiguidade) ou por uma comparação/analogia (similaridade). z Comparação Analogia explícita entre dois termos; a principal diferença entre a comparação e a metáfora, que é outro tipo de relação de semelhança, é que a compa- ração se estabelece com o uso de conectivos. Ex.: Minha boca é como um túmulo. A menina é como um doce. Seu sorriso é tal qual um raio de sol numa manhã nublada. z Metáfora Consiste em usar uma palavra ou expressão em lu- gar da outra em razão de algumas semelhanças (ana- logia) conceituais. É recurso que está associado ao em- prego da palavra fora do seu sentido normal. Ex.: O tempo é uma cadeira ao sol, e nada mais. (Carlos Drummond de Andrade) Meu pensamento é um rio subterrâneo. (Fernan- do Pessoa) Observe: Metáfora: relação de semelhança não explícita. O que foi isso, homem? Foi um candidato “ficha suja” que me abraçou... Comparação: relação de semelhança estabele- cida por conectivos. Fonte: instagram.com/academiadotexto. Acesso em: 16/10/2020. z Metonímia Consiste na substituição de um termo pelo outro em virtude de uma relação de proximidade ou conti- nuidade. Essa relação é qualitativa e pode ser realiza- da dos seguintes modos: � A parte pelo todo: Ex.: O brasileiro trabalha muito para garantir o pão aos filhos (O brasileiro trabalha muito para garantir alimento aos filhos). � O autor pela obra: Ex.: Os leitores de Machado de Assis são cultos (Os leitores da obra de Machado de Assis são cultos). � O continente pelo conteúdo: Ex.: A menina bebeu a jarra de suco inteira (A menina bebeu todo o suco da jarra). � A marca pelo produto: Ex.: Minha filha pediu uma Melissa de aniversário (Minha filha pediu uma sandália de aniversário). 76 � Singular pelo plural: Ex.: O cidadão deve cumprir seus deveres legais (Os cidadãos devem cumprir seus deveres legais). � O concreto pelo abstrato: Ex.: A juventude está cada vez mais ansiosa (Os jovens estão cada vez mais ansiosos). � A causa pelo efeito: Ex.: Comprei a casa com o meu suor (Comprei a casa com o meu trabalho). � O instrumento pelo agente: Ex.: O carro atropelou o cachorro (O motorista do veículo atropelou o cachorro). � A coisa pela sua representação: Ex.: O sonho de muitos candidatos é chegar ao Palácio do Planalto (O sonho de muitos candida- tos é chegar à Presidência da República). � O inventor pelo invento: Ex.: Diego comprou um Picasso no museu (Diego comprou uma obra de Picasso no museu). � A matéria pelo objeto: Ex.: Custou-me apenas algumas pratas aque- la mobília. (Custou-me apenas algumas moedas aquela mobília.) � O proprietário pela propriedade Ex.: Vou ao médico buscar meus exames (Vou ao consultório médico buscar meus exames). z Sinédoque Atualmente as gramáticas não realizam distinção entre metonímia e sinédoque; a diferença entre essas figuras é tênue. Na sinédoque, a relação que se estabe- lece entre os termos é quantitativa, ou seja, quando se amplia ou se reduz a significação das palavras. As relações entre os termos são basicamente as seguin- tes: parte pelo todo, singular pelo plural, gênero pela espécie, particular pelo geral (ou vice-versa). Ex.: O homem é um ser mortal (os homens). É preciso pensar na criança (nas crianças). z Antonomásia ou Perífrase A antonomásia é uma figura que consiste na subs- tituição de um nome próprio (de pessoa) por uma ex- pressão que lhe confere alguma característica ou atri- buto que o distingue (epíteto). É a substituição de um nome por outro, o que pode configurar uma espécie de apelido para o ser designado. Ex.: O poeta dos escravos é autor do célebre poema “O navio negreiro”. (Castro Alves) Este aeroporto tem o nome do pai da aviação. (San- tos Dumont) Observação: A antonomásia é uma espécie de perífrase. A diferença é que esta designa um ser (coi- sas, animais ou lugares) por meio de características, atributos ou um fato que o celebrizou. Ex.: Fomos ao zoológico ver o rei da selva. (leão) Adoraria conhecer a cidade luz. (Paris) Qualquer dúvida consulte o pai dos burros. (dicionário) z Sinestesia Consiste no recurso que engloba um conjunto de percepções e sensações interligadas aos processos sensoriais provenientes de diferentes sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato). Na sinestesia, a per- cepção ou sensação de um sentido é atribuída a outro. Ex.: “As falas sentidas, que os olhos falavam.” (Ca- simiro de Abreu) “E o pão preserve aquele branco sabor de alvora- da”. (Ferreira Gullar) Figuras de pensamento Processo expressivo que enfatiza o aspecto semân- tico da linguagem. As figuras de pensamento introdu- zem uma ideia diferente daquela que a palavra em seu sentido real exprime. z Antítese Consiste no emprego de conceitos que se opõem e que podem ocorrer de maneira simultânea em uma mesma oração. Na antítese, os conceitos antônimos não se contradizem e estão relacionados a referentes distintos. Ex.: “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” (Viní- cius de Moraes) “O mito não é nada que é tudo”. (Fernando Pessoa) z Personificação ou Prosopopeia Consiste em atribuir características, sentimentos e comportamentos próprios de seres humanos a seres irracionais ou inanimados. É uma figura muito usada em textos literários, como fábulas e apólogos. Ex.: “O cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada...” (cantiga popular). “As pedras andam vagarosamente”. z Paradoxo Consiste no emprego de conceitos opostos e contra- ditórios na representação de uma ideia. No paradoxo, embora os termos pareçam ilógicos, são perfeitamen- te aceitáveis no campo da literatura, o que confere ao autor uma licença poética. Ex.: “Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre sempre acaba” (Cássia Eller) “Dor, tu és um prazer!” (Castro Alves) z Eufemismo Consiste no emprego de uma palavra ou expressão que serve para amenizar/ suavizar uma informação desagradável ou fatídica. É um recurso essencial para validar a polidez nas relações sociais. Ex.: “Suzanna é uma mulher desprovida de bele- za.” (feia) LÍ N G U A P O RT U G U ES A 77 “Aquele pobre homem entregou a alma a Deus” (morreu) z Hipérbole Uso de expressões intencionalmenteexageradas para dar maior ênfase à mensagem expressa pelo emissor. Ex.: “Amor da minha vida, daqui até a eternidade Nossos destinos foram traçados na maternidade”. (Cazuza) “Vou caçar mais um milhão de vagalumes por aí”. (Pollo) z Ironia Consiste em expressar ideias, pensamentos e julga- mentos com o sentido contrário do que se diz. A ironia tem como objetivo satirizar uma situação desagradá- vel ou depreciar alguém pelo seu comportamento. Ex.: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis...” (Machado de Assis) “Parece um anjinho, briga com todos”. z Gradação Consiste na apresentação de ideias sinônimas (ou não) em uma escala progressiva de maior ou menor intensidade à expressão. Os termos da oração são fru- tos de uma hierarquia e podem ser de ordem crescen- te ou decrescente. Ex.: “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bi- lião, uns cingidos de luz, outros ensanguentados.” (Machado de Assis) “Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” (Montei- ro Lobato) z Apóstrofe Consiste na invocação de alguém ou alguma coisa personificada. Essa figura de linguagem realiza-se por meio de um vocativo. A apóstrofe é um recurso estilís- tico muito utilizado na linguagem informal (cotidia- na), nos textos religiosos, políticos e poéticos. Ex.: “Liberdade, Liberdade! É isso que pretende- mos nessa luta”. “Senhor, tende piedade de nós”. EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (CONSESP – 2018) Assinale a alternativa que apre- senta a figura de linguagem denominada metáfora. a) Vossa excelência é pouco conhecido. b) Meu pensamento é um rio subterrâneo. c) O pé da mesa estava quebrado. d) Um doce abraço ele recebeu da irmã. O item que apresenta uma relação de semelhança sem apresentar elementos conectivos, caracterizan- do o uso da metáfora, é a letra B. Na letra A, há uma silepse de gênero; na letra C, o uso de catacrese, e na letra D, encontramos o uso de sinestesia. Resposta: Letra B. 2. (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO – 2020) A amiza- de é tema recorrente na música popular, e as letras das canções fazem uso, muitas vezes, de recursos da linguagem poética. Há uma hipérbole nos seguintes versos de uma canção: a) “Amigo, você é o mais certo das horas incertas” – Roberto Carlos b) “Você meu amigo de fé, meu irmão, camarada” – Roberto Carlos c) “Quero levar o meu canto amigo a qualquer amigo que precisar” – Roberto Carlos d) “Eu quero ter um milhão de amigos / E bem mais forte poder cantar” – Roberto Carlos. A única opção em que encontramos um exagero no uso da linguagem, característica da hipérbole, é a letra D. Resposta: Letra D. 3. (INAZ DO PARÁ – 2019) Em “a capa verde da mata se espreguiçava ao longo das praias” ocorre uma figura de linguagem denominada: a) Metáfora. b) Prosopopeia. c) Gradação. d) Antítese. A frase destacada pelo enunciado apresenta carac- terísticas de seres animados em seres inanimados, marcando o uso da prosopopeia. Resposta: Letra B. HORA DE PRATICAR! 1. (CRS – 2010) Assinale a alternativa em que todas as palavras acentuadas nos seguintes trechos recebem o acento pela mesma regra: a) Se não é saudável nem prudente apostar na loucura geral, imaginando-se em plena sanidade, há evidên- cias (...) b) ... na era moderna, o domínio da lei, o monopólio do poder coercitivo e a soberania nacional (...). A lei trata as pessoas, se não como iguais, pelo menos sem con- siderar as contingências sociais mais óbvias. c) Alguém já dizia que há método na loucura, mas a des- razão caprichou na metodologia. d) Tal estado de excepcionalidade deságua na prolife- ração legislativa casuística e na ameaça permanente ao caráter abstrato e universal da norma jurídica. A contradição se torna aguda: de um lado, a liberdade dos indivíduos no mercado exige a independência do Judiciário. 2. (CRS – 2015) Na frase “Prefiro o doce a salgado, da mesma forma que prefiro mais o amanhecer ao entar- decer”, é correto dizer, quanto à regência verbal, que o verbo preferir é: a) Somente intransitivo. b) Transitivo direto e indireto. c) Transitivo direto e intransitivo. d) Somente transitivo. 78 3. (CRS – 2017) “Não existem marcas que mostrem a mudança do discurso. Por isso, as falas dos perso- nagens e do narrador – que sabe tudo o que se pas- sa no pensamento dos personagens – podem ser confundidas.” Marque a alternativa que contém o tipo de discurso correto utilizado no excerto apresentado: a) Discurso indireto. b) Discurso indireto livre. c) Discurso direto livre. d) Discurso direto. 4. (CRS – 2013) Observe as palavras sublinhadas: I. Os curta-metragens forma vistos por milhares de pessoas. II. Os micos-leões-dourados estão em extinção. III. Os bota-foras realizaram-se, hoje, na comunidade fluminense. IV. As frutas-pão estavam estragadas. Quanto à pluralização, estão corretas as assertivas: a) I e III. b) II e III. c) II e IV. d) I e IV. 5. (CRS – 2010) Assinale a alternativa que indica corre- tamente a função sintática do pronome relativo subli- nhado no período: a) Cuida-se de examinar as reações aos fatos e avaliar o estado da consciência jurídica que predomina entre os cidadãos deste país. (objeto direto) b) Fico a imaginar como seria a vida dos humanos direi- tos na moderna sociedade capitalista de massas, cri- vada de conflitos e contradições, sem as instituições que garantam os direitos civis, sociais e econômicos conquistados a duras penas. (adjunto adnominal do sujeito) c) O regime nacional-socialista aboliu estas proprieda- des da lei que a tinham elevado acima dos riscos da luta social”. (...) (complemento nominal) d) Junto dois textos que julgo oportuno republicar diante das manifestações – contra, a favor e muito ao contrá- rio – suscitadas pela prisão dos diretores da Camargo Correa e de Eliana Tranchesi. (objeto direto) 6. (CRS – 2013) Assinale a alternativa em que TODAS as palavras foram grafadas CORRETAMENTE: a) intrugice, vicissitude, revezes b) grizar, chale, toesa c) xarque, herege, ascessível d) haurir, rebotalho, buliçoso 7. (CRS – 2017) Escolha a alternativa correta que apre- senta coesão: a) Solange e Ana caminham e conversam. b) Maria estuda. Maria trabalha. Maria dorme. c) Tatisa olha. Tatisa bebe. Tatisa come. d) Batendo as asas cai na escravidão. Perde a liberdade. 8. (CRS – 2015) Quanto ao emprego da vírgula, marque a alternativa CORRETA. a) A maior riqueza do país, eram os poços de petróleo. b) E quando lhe pediram a opinião, disse que o assunto, não era com ele. c) O empregado faz o serviço, e o patrão ganha o reconhecimento. d) Quando nervoso não fale, nem grite, apenas busque manter a calma. 9. (CRS – 2013) Quanto ao uso do pronome relativo, mar- que a alternativa correta. a) Incentivamos a literatura, cuja é importante na absor- ção de conhecimentos. b) Reli o poema de Fernando Pessoa, cujo me emocionou muito. c) Encontrei o estudante que foi aprovado no vestibular 2013. d) Na vida, conhecemos pessoas, de quem não nos lem- bramos os nomes. 10. (CRS – 2018) Passeio noturno Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando impostação de voz, a música quadrifônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala?, pergun- tou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar. Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava apenas. Você não pára de tra- balhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já posso mandar servir o jantar? A copeira servia à francesa, meus filhos tinham cres- cido,eu e a minha mulher estávamos gordos. É aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha mulher nada pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta. Vamos dar uma volta de carro?, convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da nove- la. Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma for- tuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens materiais, minha mulher respondeu. Os carros dos meninos bloqueavam a porta da gara- gem, impedindo que eu tirasse o meu. Tirei os carros dos dois, botei na rua, tirei o meu, botei na rua, colo- quei os dois carros novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um motor poderoso que gerava a sua for- ça em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser LÍ N G U A P O RT U G U ES A 79 uma rua deserta, nesta cidade que tem mais gente do que moscas. Na avenida Brasil, ali não podia ser, mui- to movimento. Cheguei numa rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o lugar ideal. Homem ou mulher? Realmente não fazia grande diferença, mas não apare- cia ninguém em condições, comecei a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava, o alívio era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fos- se menos emocionante, por ser mais fácil. Ela cami- nhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou de quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvo- res na calçada, de vinte em vinte metros, um interes- sante problema a exigir uma grande dose de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som da bor- racha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher acima dos joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda, um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma guinada rápida para a esquerda, passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em nove segundos. Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de subúrbio. Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os pára-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas máquinas. A família estava vendo televisão. Deu a sua voltinha, agora está mais calmo?, perguntou minha mulher, dei- tada no sofá, olhando fixamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para todos, respondi, amanhã vou ter um dia terrível na companhia. (FONSECA, Rubem. Passeio Noturno, in: Contos Reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994) “(...) Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. (...) Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som da borracha dos pneus batendo no meio-fio. (...) ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma gui- nada rápida para a esquerda, passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantan- do, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em nove segundos. (...).” Marque a alternativa CORRETA que corresponda ao momento da narrativa que é evidenciado pelo trecho acima: a) Momento ápice ou clímax da narrativa. b) Momento subsequente ao ápice ou clímax da narrativa. c) Momento do desfecho final da narrativa. d) Momento introdutório da trama da narrativa. 11. (CRS – 2017) Viver em sociedade Dalmo de Abreu Dallari A sociedade humana é um conjunto de pessoas liga- das pela necessidade de se ajudarem umas às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos. Sem vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo. E no mundo moderno, com a grande maioria das pes- soas morando na cidade, com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite dos outros muitas vezes por dia. Mas as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os meios de transportes e os cuida- dos de saúde. Elas são também de ordem espiritual e psicológi- ca. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças. Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma neces- sidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tives- se armazenado grande quantidade de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar ideias, necessitada de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo. Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode satisfazer suas necessida- des, é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida social permita apenas a satisfação de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de apenas algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que se procura fazer com que todas as pessoas possam satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em que todos, desde o momento em que nascem, têm as mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos. Para que essa repartição se faça com justiça, é preci- so que todos procurem conhecer seus direitos e exi- jam que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabili- dades sociais. (Rosenthal, Marcelo et al. Interpretação de textos e semântica para concursos. Rio de Janeiro: Essevier, 2012) A partir do texto lido, podemos afirmar que, para o autor, viver em sociedade é: a) uma condição imprescindível para a sobrevivência, uma vez que o homem não conseguiria viver isolado. b) uma forma que um grupo de pessoas unidas encontra para satisfazer seus interesses pessoais. c) como viver em uma comunidade preparada para o caos futuro. d) uma forma de regressão como ser humano. 80 12. (CRS – 2015) Leia o texto para responder às questões 12 e 13. “Minha empregada é muito abusada” Rosana Pinheiro Machado Esta coluna começou no churrasco de domingo, quan- do, na fila do supermercado, uma mulher disse: “Minha empregada está muito abusada”. Sua interlocutora respondeu: “Nem me fale, a minha também”. Ao longo do almoço, eu e meus amigos tentávamos explicar o que significava a palavra “abusada” para um estrangei- ro. Como fazê-lo entender que, independentemente da eficiência, a maioria das empregadas brasileiras seria, em algum momento, considerada “abusada”? A dificuldade era dimensionar a extensão do conceito. Começamos pela obviedade do significado da palavra “abuso”, que remete a algo de superlativo. Abusar é usar alguma coisa além do limite socialmente espera- do. Por exemplo, quando a empregada é abusada por não subir no elevador de serviço, mas no social. Prossegui, explicando quese a empregada come mui- to, se toma muito refrigerante da geladeira ou come as bolachas de chocolate, ela é abusada. Se ela pede uma roupa emprestada, é abusada. Se ela senta à mesa com a família, é abusada. De todos esses exemplos, ele concluiu que abusada é aquela que quer mais do que lhe foi dado, que cobiça as coisas da patroa. A conversa ficou mais complexa porque tivemos de responder que “não”, que o opos- to também era verdadeiro: uma empregada que quer “de menos” também é abusada. Seguimos explican- do que, se a patroa oferece uma roupa velha, furada e fedida e empregada “tem a au-dá-cia” de não aceitar, ela é abusada. Ele concluiu, então, que uma boa empregada seria, então, aquela que assume “o seu lugar”: não pede muito, mas aceita de bom grado o que lhe é dado. Colocando o pé para fora dessa faixa muito estreita de atuação, ela é abusada. (...) A negação de presentes indignos por parte das empre- gadas traz à tona diversas camadas complexas de significados. A forma desajeitada como as patroas reagem escancara a profunda patologia social de uma classe média presa ao século XVII – provavelmente, em uma época em que ela se imagina numa casa-gran- de, cheia de porcelana inglesa e de escravos à volta, preferencialmente com uma negra para cozinhar. Ou melhor, ela se imagina em uma novela da Rede Globo do século XXI, onde a mulher negra ainda é explorada 24 horas por dia a serviço de suas patroas ricas. Essas patroas esperam empregadas sem agência, sem protagonismo, sem voz, sem vontade e sem opi- nião. (...). Elas esperam seres eternamente gratos por receberem restos. Nessa lógica em que, já diria Marcel Mauss, dar é poder, uma empregada que pede mais dinheiro para lavar a privada suja ou exige seus direi- tos garantidos na Constituição, só pode ser abusada. (...) Por tudo isso, eu penso que não aceitar qualquer pre- sente é um marco muito importante na passagem de uma relação servil para a profissional (...). A negação revela a emergência de uma subjetividade repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho. É da negação que surge uma nova era no Brasil, pois ela quebra o círculo da dádiva e rompe com o poder do doador, estabelecendo uma condição de igualdade baseada na troca de serviços – e não de favores. As transformações recentes da sociedade brasileira indicam um leve rompimento (...) de uma relação tão pessoal quanto doentia entre patroas e empregadas. Indica o fim do ser humano como posse de outro ser humano. E isso, é claro, causa desespero, lamentação, recalque e conflitos. Ainda tem muito a ser feito e conquistado. Muito mes- mo. Espero que chegue o dia em que eu não precise explicar o sentido da palavra “abusada”. Neste dia, perder-se-á também alguma flexibilidade do modelo de empregadas dentro de casa. Será preciso se acos- tumar a ouvir “não, obrigada” e aprender a curtir genui- namente as fotos postadas daquela viagem. Neste dia, o serviço da limpeza será mais custoso, mas não há saída: esse é o preço de nosso desenvolvimento e de nossa liberdade enquanto nação. (Disponível em: h ttp://www.cartacapital.com. br/sociedade/201cminha-empregada-e-muito- abusada201d-7617.html - Acessado em 14/05/2014 - Texto adaptado) “Espero que chegue o dia em que eu não precise expli- car o sentido da palavra “abusada”. Neste dia, per- der-se-á também alguma flexibilidade do modelo de empregadas dentro de casa. Será preciso se acostu- mar a ouvir “não, obrigada” e aprender a curtir genuina- mente as fotos postadas daquela viagem. Neste dia, o serviço da limpeza será mais custoso (...)”. De acordo com o trecho, podemos afirmar que: a) O serviço de limpeza será devidamente valorizado. b) A tendência é que o serviço de limpeza seja menos custoso. c) Haverá maior flexibilidade do modelo de atuação das empregadas. d) As empregadas não mais serão chamadas de abusadas. 13. (CRS – 2015) “A negação revela a emergência de uma subjetividade repleta de vontades que se impõem na esfera do trabalho”. De acordo com o trecho, é correto afirmar que: a) A negação e a subjetividade devem sempre se impor às relações trabalhistas. b) A negação é prejudicial às relações trabalhistas. c) A subjetividade é prejudicial às relações trabalhistas. d) A subjetividade e a vontade são essenciais nas rela- ções trabalhistas. 14. (CRS – 2015) Leia o texto para responder às questões 14 e 15. Corda sensível Um fardão de coronel estava enfiado sobre o espaldar da cadeira de balanço, e a pequena Maria, apertando na mão uma fatia de pão com manteiga, olhava exta- siada. A cor azul escura da casimira, sob a claridade noturna que enchia a sala, modelava macieza de velu- do e fingia reflexos de roxo. Nas ombreiras do fardão poisavam as dragonas maciças, de grande gala, com o seu chuveiro de torçais de ouro; e na frente o papo LÍ N G U A P O RT U G U ES A 81 se escancarava, deixando ver a tela de croché, com que se costuma proteger as mobílias. A um lado cor- riam-lhe os oito botões, cada um crescido como um olho-de-boi... Mas, quando a pequena deu com o empastamento de condecorações que encobria lado a lado o peito ao fardão, não pôde resistir ao chamariz, e pondo um joe- lho à beira do assento e com os bracinhos estirados agarrando-se aos braços da cadeira, subiu, apesar do balanço. As mangas da farda começaram então um movimento de pêndulo, roçando no tapete os canhões encastoados pelas pesadas divisas de coronel. O amor ao equilíbrio forçou a pequena Maria a ir com a mão ao tope da cadeira, e aí, olha lá manteiga pelas abas. Acode naquela cabecinha castanha uma ligeira idéia de remorso, e o que há de mais simples é deixar as coisas como estavam. A esse tempo brilhavam no escuro da rua, à altura do peitoril da janela, os olhos da filha do cabo de ordens, que espiava para dentro, pode ser que arrastada pelo cheiro da ceia, cujos tirlintintins se ouvia. Que ótimo desvio! E as duas começaram a conversar-se na janela, como pessoas sisudas; bem entendido, a pequena do cabo de ordens comendo o enfastiado pão com manteiga, a célebre fatia. No dia seguinte, quando a criada veio sacudir os móveis, caiu das nuvens, coitada! Cada rombo deste tamanho, afora uma porção de relidinhas, na casimira do fardão, de modo que a intertela e os recheios do peitilho estava tudo estripado e esbrugado. Conse- qüência: um ódio entranhado aos ratos. Os cantos da casa povoaram-se de ratoeiras. Era um nunca acabar. Pois, senhores, roerem a mais linda, a mais garbosa, a mais rica, a mais nobre farda da província?! Ah! se o coronel pudesse estrepar toda a ratagem unânime das nações na ponta de seu gládio! Em um amanhecer de abril, sofrivelmente belo, a cria- da, deixando para mais tarde a visita às ratoeiras, acon- teceu que ajuntaram-se à pequena Maria o pequeno Manuel e o caçula, e foram despescar, por sua conta e risco, as da despensa. O cabeça do motim, que todos sabem ser a senhora dona Maria, como lhe chama a mãe quando se enfeza, não teve mais o que fazer, e, cercada pelos dois bargados consócios, assentou-se no chão, depondo a ratoeira sobre o pano do vestido que se fazia entre as duas perninhas abertas. A ratoeira não era mais de que uma cúpula de arame cozida a uma rodelazinha de pinho. Dentro, porém, havia era um bicho cinzento e uma porção de bichi- nhos vermelhos, da cor dos dedinhos do caçula: fenômeno raro, que provocou uma gritaria hilariante, aliás inconveniente, porque atrás acudiram a criada, a mamãe e até o coronel, a ver o que fazia aquela troça de quenquéns. Maria estava metendo a mão para abocanhar a bicha- rada – em tempo de ser mordida! – e o Manuel procu- rava também se havia outro buraco onde ele pudesse meter a dele. Virgem Maria! – vozeava a criada. Isto é o diabo! – roncava o coronel. Recuaram todas as mãos, e a curiosidade das crianci- nhas foi achar nos olhos delas o desejado e inviolável refúgio. A mamãe, porém, encarando o caso, juntou as mãos enternecidamente,e, cobrindo o marido e os três filhinhos com um daqueles olhares que só em mulhe- res se depara, exclamou cheia de profundo sentimento materno: Espera, que é uma ratinha que deu à luz na ratoeira! O duro militar ficou basbaque. Enquanto a rata puérpe- ra, impunemente, pacatamente, com o salvo-conduto de sua boa estrela de mãe, Saia, como um anão no meio de enormes gigantes de conto de fada, e galgava novamente as prateleiras prenhes de queijo. A ninha- da se amontoava no regaço da pequena Maria, - uma porção de bichinhos vermelhos, da cor das carnes ten- ras do caçula, cujo corpinho nu estava ali acocorado, a alma de criança aberta nuns olhos admirativos, excla- mando com jubilosa admiração: Uói! - apontando para os ratinhos com o dedinho vermelho. (PAIVA, Manoel de Oliveira. Corda Sensível. Rio de Janeiro: Graphia, 1993. Disponível em: h ttp://www. literaturabrasileira.ufsc.br/documentos. Acessado em 30/10/2014) Acerca da identificação da personagem protagonista da história, marque a alternativa correta a) A mãe da menina Maria é a protagonista da história. b) A criada é a protagonista da história. c) A menina Maria é a protagonista da história. d) O coronel é o protagonista da história. 15. (CRS – 2015) Marque a alternativa correta que corres- ponda à comparação entre os ratos recém-nascidos e a criança caçula da família: a) Os ratos não eram vermelhos e suas carnes eram dife- rentes das carnes duras do caçula. b) Os ratos possuíam a carne de cor azulada como a cor das carnes velhas do caçula. c) Os ratos eram vermelhos como a carne delicada do caçula. d) Os ratos não possuíam a carne de cor semelhante à vermelha, diferente da carne tenra do caçula. 16. (CRS – 2013) Assinale a alternativa correta quanto às regras de concordância: a) Manoel e Jordana comprometeram-se cedo: um por dinheiro, a outra, por amor. b) Suas pernas estavam todo enlameadas. c) Estas são fatalidades que não adiantam ocultar. d) Bem haja os colaboradores dessa festa! 17. (CRS – 2013) Quanto à estrutura das palavras, marque a alternativa CORRETA: a) No vocábulo “rodovia” há ausência de vogal de ligação. b) Na palavra “amavas” o item “-s” é desinência nominal de número. c) No vocábulo “exorbitar” há apenas um afixo. d) Na palavra “internacional” há dois afixos. 18. (CRS – 2013) Marque a alternativa correta que apre- senta um exemplo de metonímia: a) João se alimenta como um pássaro. b) As fêmeas cassam para o rei dos animais. c) Gosto de ler Machado à noite. d) Antônio foi um burro. 82 19. (CRS – 2018) Quanto ao emprego de pronomes, mar- que a alternativa correta. a) Os pneus, troquei-os logo após o passeio noturno. b) Me espantei com a potência do motor e a rigidez dos parachoques. c) Não maltratei-a, apenas acelerei até deixar ela caída em meio a poeira. d) Depois, me encaminhei para casa eufórico e feliz. 20. (CRS – 2013) Quanto ao emprego dos pronomes, segundo o padrão culto, marque a alternativa correta: a) Jean, nós queremos falar consigo. b) Com nós outros tal problema não acontece. c) Havia pouco o que reduzir. d) Na árvore, para lá da montanha, houve uma reunião de tropeiros, que fui convidado. 9 GABARITO 1 B 2 B 3 B 4 C 5 D 6 D 7 A 8 C 9 C 10 A 11 A 12 D 13 C 14 C 15 C 16 B 17 D 18 C 19 A 20 B ANOTAÇÕES D IR EI TO P EN A L 83 DIREITO PENAL CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: PARTE GERAL - APLICAÇÃO DA LEI PENAL Vamos, agora, responder a três perguntas sobre a lei penal: z Quando ela se aplica? z Onde ela se aplica? z Em face de quem ela se aplica (ou não se aplica)? z Ou seja, o nosso estudo da eficácia da lei penal, se dará sob três aspectos: z Ao tempo (a lei penal não tem eficácia permanen- te; entra em vigor em determinado momento e não é eterna); z Ao espaço (não vige em tudo o mundo; não é uni- versal); e z Às funções exercidas por certas e determinadas pessoas (muito embora o ordenamento jurídico afirme que todos são iguais perante a lei, existem determinadas funções que concedem prerrogati- vas a determinadas pessoas frente à aplicação da lei penal., como por exemplo, os parlamentares, conforme veremos mais adiante). Assim sendo, nossos próximos passos serão estu- dar a eficácia da lei penal no tempo e no espaço. Nas próximas páginas conhecer os princípios que regem a aplicação da lei penal nestas duas dimensões: Quanto ao lugar (espaço), veremos que ser aplica o princípio da ubiquidade; em relação ao tempo, o princípio da atividade. Um mnemônico que resume os dois princí- pios que iremos estudar: L. U. T. A. (Lugar, Ubiquida- de, Tempo, Atividade). A LEI PENAL NO TEMPO Eficácia da Lei Penal no Tempo A lei penal nasce (é sancionada, promulgada e publicada), tem seu tempo de vida (vigência) e morre (é revogada). A revogação pode ser expressa (quan- do lei posterior textualmente afirma que a lei ante- rior não mais produz efeitos) ou tácita (quando não há revogação expressa, mas a nova lei é incompatível com a anterior ou regula totalmente a matéria que constava na lei mais antiga). A regra é que a lei regula todas as situações ocor- ridas entre a sua entrada em vigor e sua revogação (tempus regit actum). Esse fenômeno jurídico é cha- mado de atividade. Se, excepcionalmente, a lei regula situações fora de seu período de vigência, temos o fenômeno da extratividade. A extratividade se dá de duas formas: quando a lei regula situações ocorridas antes de sua vigên- cia (passado), chamamos a extratividade de retroa- tividade. Se, por outro lado, a lei se aplica mesmo depois de cessada sua vigência (futuro), temos a ultratividade. Importante! A regra é a atividade da lei penal, ou seja, sua aplicação somente durante seu período de vigência. Como exceção, temos a extratividade da lei penal mais benéfica, ou seja, sua aplicação para regular situações passadas (retroatividade) ou futuras (ultratividade) Observe o art. 2º do Código Penal: Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sen- tença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos ante- riores, ainda que decididos por sentença condena- tória transitada em julgado. O art. 2º refere-se apenas à retroatividade, uma vez que está analisando a aplicação da lei penal tomando por base a data do fato delituoso. Assim, temos duas situações: z Ou se aplica regra do tempus regit actum, se for mais benéfico; ou z Se aplica a lei posterior (aquela que entra em vigor após outra) se esta for mais benigna (retroa- tividade). A lei posterior mais benéfica é chamada também de lex mitior. Observe as duas situações no Fluxograma a seguir: Fato LEI “A” Se esta for mais benéfica adota-se a regra da Atividade (tempus regit actum) LEI “B” Se esta for mais favorável, usa-se Retroatividade Benéfica Nova lei em vigor Retroativida de Benéfica Sentença Vejamos um exemplo para melhor fixar o expos- to anteriormente: imagine que um indivíduo pratica um fato delituoso em 10 de fevereiro de 2021. Naquela data, encontra-se em vigor a Lei “A”, que prevê a pena mínima de 4 anos de reclusão para o crime. No entan- to, em 10 de março do mesmo ano, entra em vigor a Lei “B”, que comina a pena mínima de 2 anos de reclusão para o mesmo delito. Qual delas deve o juiz utilizar ao proferir a sentença? Neste caso, o magistrado deve aplicar a Lei “B”, por ser mais favorável ao réu (a Lei “B”, embora não estivesse em vigor na data do fato, volta no tempo, retroagindo para beneficiar o agente). Observe que, no exemplo acima, a lei posterior (Lei “B” é mais favorável ao agente). No entanto, lei posterior pode entrar em conflito com a anterior de maneiras diferentes, gerando situações diversas. Para 84 solucionar cada uma delas, o CP aponta regras que são aplicadas conjuntamente com os princípios constitu- cionais que vimos anteriormente.São quatro diferen- tes situações: z Abolitio criminis ou Novatio Legis ou Lei supressiva de incriminações: a lei nova suprime deixa de considerar como infração um fato que era anteriormente punido (passa a ser considera- do atípico). Tem como consequências: por força da retroatividade (art. 5º, XL, CF e art. 2º, caput, CP) aplica-se a lei nova. Ocorre a extinção da punibili- dade (é, pois, causa extintiva da punibilidade, con- forme o art. 107, III, CP). Os agentes que estiverem sendo processados, terão seus processos extintos, já os que não tiverem ainda sido denunciados, terão seus inquéritos trancados. Com a abolitio cri- minis, cessam os “efeitos penais da sentença con- denatória”. Não cessam os efeitos civis (quanto aos efeitos, veremos mais adiante quando tratarmos de efeitos da condenação. z Novatio legis in mellius: é a lei nova (novatio legis) que, sem excluir a incriminação, ou seja, sem constituir abolitio criminis, é mais favorável ao agente (in mellius). Por exemplo quando comi- na pena mais branda, inclui atenuantes, permite a obtenção de benefícios como a sursis e o livramen- to condicional, entre outros. Tem como consequên- cias: de acordo com o art. 5º, XL, CF e art. 2º, caput, CP, retroage para favorecer o agente, aplicando-se aos fatos anteriores “ainda que decididos por sen- tença condenatória transitada em julgado”. z Novatio legis in pejus: Ocorre quando a lei pos- terior, sem criar novo tipo incriminador, de qual- quer modo agrava a situação do agente (in pejus). Por exemplo, aumenta a pena, ou impõe uma forma de execução mais severa (hipoteticamente instituindo o mesmo rigor inicial da reclusão ao cumprimento dos crimes apenados com detenção) Nesta hipótese, a lei melhor (lex mitior) passa a ser a lei anterior. A lei mais severa recebe o nome de lex gravior (lei mais grave). Tem como consequên- cias: em relação à lei nova, aplica-se os princípios da irretroatividade da lei mais severa. Quanto à lei antiga, mais benéfica, aplica-se a ultratividade. z Novatio legis incriminadora: se dá quando a lei nova cria um tipo incriminador, consideran- do infração uma conduta considerada irrelevante pela lei anterior. Por exemplo, a Lei nº 10.224/01, introduziu no Código Penal o art. 216-A, e criou o tipo de assédio sexual no ordenamento jurídico brasileiro. Tem como consequências: a nova lei gravosa é irretroativa (art. 1º, CP). Veja que o texto do Código Penal não menciona a ultratividade, ou seja, a possibilidade do o juiz apli- car uma lei já revogada. No entanto, essa aplicação pode ocorrer na sentença, se esta for mais benéfica e vigente à época do fato criminoso. Veja o seguinte exemplo: em 10 de fevereiro de 2021 encontra-se em vigor a Lei “A”, que prevê a pena mínima de 2 anos de reclusão para determinado crime; em 10 de março do mesmo ano, entra em vigor a Lei “B”, que comina a pena mínima de 4 anos de reclusão para o mesmo delito. Em 10 de agosto, ao sentenciar, o juiz deve uti- lizar a Lei “A”, já revogada, mas vez que mais benéfica torna-se ultrativa. Observe tal fenômeno no Fluxogra- ma a seguir: Fato LEI “A” Revogada. Se esta for mais benéfica adota-se a regra da ultratividade LEI “B” Se esta for mais favo- rável, aplica-se na sentença a regra geral (tempus regit actum) Nova lei em vigor Ultratividade Sentença Note que, diferentemente do primeiro esquema, neste o foco está na sentença e não no fato. É uma questão de perspectiva. De quem é a competência para aplicar a lei poste- rior favorável? Antes do juiz proferir a sentença, não há dificuldade: cabe ao juiz de 1º grau sua aplicação; em grau de recurso, a competência é do Tribunal; e se já transitada em julgado a sentença, a competência é do juiz da execução penal, de acordo com o art. 66, I da Lei de Execução Penal (LEP). Este é o posicionamento majoritário da doutrina e jurisprudência (Súmula 611 do STF). Todas as situações que vimos acima podem ser resolvidas pela seguinte regra: A Lei só Retroage para Beneficiar o Sujeito. No entanto, como saber qual das leis em conflito é a mais favorável ao agente? Para avaliar a mais benéfica, o juiz deve sempre apre- ciar o caso concreto sob a eficácia de cada uma das leis em com conflito, comparando o resultado: o que mais favorecer o agente deve prevalecer. Lei intermediária O que acontece se houver uma lei intermediária, ou seja, que entrou em vigor depois da data do fato e foi revogada antes da sentença? Neste caso, deve ser aplicada em favor do réu a mais favorável delas, mesmo que for a intermediária (também chamada de intermédia) e não a última. Combinação de Leis O que acontece se houverem várias leis sucessivas e cada uma delas tem uma parte, um aspecto mais favorável ao sujeito. É possível combinar várias leis, criando uma “terceira lei” para beneficiar o agente? Segundo a maior parte da doutrina, não, por violar o princípio da legalidade. Essa é a posição do STJ e do STF. Leis temporárias e excepcionais A regra da retroatividade benéfica não se aplica no caso das chamadas leis intermitentes (leis tem- porárias e leis excepcionais). Veja o art. 3º, CP: Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. D IR EI TO P EN A L 85 z Lei Excepcional: é aquela feita para vigorar em épocas especiais, como guerra, calamidade etc. É aprovada para vigorar enquanto perdurar o perío- do excepcional. São facilmente identificáveis por expressões como “esta lei terá vigência enquanto durar o estado de calamidade pública”. z Lei Temporária: é aquela feita para vigorar por determinado tempo, estabelecido previamente na própria lei. Assim, a lei traz em seu texto a data de cessação de sua vigência. Um exemplo de lei tem- porária é a Lei nº 12.663/12, denominada Lei Geral da Copa, que criou tipos penais que duraram até o dia 31 de dezembro de 2014. Posto isso, rege o art. 3º do Código Penal que, mes- mo cessadas as circunstâncias que a determinaram (lei excepcional) ou decorrido o período de sua dura- ção (lei temporária), é possível aplica-las aos fatos pra- ticados durante sua vigência. Desta forma, são leis ultra-ativas, isso porque regulam atos praticados durante sua vigência, mesmo após sua revogação. Importante! Ultratividade: as leis de vigência temporária (excepcionais e temporárias) são ultra-ativas, no sentido de continuarem a ser aplicadas aos fatos praticados durante a sua vigência mesmo depois de sua auto revogação. Normas penais em branco e direito intertemporal Questão interessante que diz respeito à alteração do complemento da norma penal em branco. Primeiro vamos entender o que é norma penal em branco e ver algumas particularidades a ela rela- cionadas para depois vermos sua relação com o fator “tempo”. Norma penal em branco ou cega pode ser defi- nida como uma lei penal incriminadora que possui um elemento indeterminado no que diz respeito à descrição da conduta. Lembre-se que a norma penal incriminadora estabelece uma conduta (uma ação ou omissão) em seu preceito primário e uma sanção penal em seu preceito secundário. Quando um tipo penal traz seu preceito primário incompleto, preci- sando ser complementado por outra norma, estamos diante de uma norma penal em branco ou cega. Vamos ver dois exemplos de norma penal em bran- co, o primeiro constante no art. 237 do Código Penal e o outro no art. 33 da Lei de Drogas: Conhecimento prévio de impedimento Art. 237 Contrair casamento, conhecendo a existên- cia de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano. Neste caso, o dispositivo penal não esclarece o que é “impedimento que lhe cause nulidade absolu- ta”. O complemento, neste caso, deve ser buscado em fonte legislativa de igual hierarquia (Lei): o branco do art. 237, CP é complementado pelas hipóteses de impedimento tratadas pelo CódigoCivil, em seu art. 1521. Este caso é o que se chama de norma penal em branco em sentido lato ou imprópria ou homogê- nea: a complementação do preceito primário se faz com auxílio de uma lei. Norma penal em branco é um assunto dos mais cobrados em concursos. É importante guardar não só suas relações com o direito temporal, mas também suas classificações. Assim, vamos incluir mais três em nosso vocabulário jurídico-penal: z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Homo- vitelina: o complemento se encontra no mesmo diploma legal da norma incompleta (exemplo: vários tipos do Código Penal tratam de crimes cometidos por funcionário público; o conceito de funcionário público é encontrado no artigo 327 do próprio CP) z Norma Penal em Branco em Sentido Lato Hete- rovitelina: o complemento está em diploma legal diferente do da norma incompleta (exemplo: o art. 237, CP fala em impedimento que cause a nulidade absoluta do casamento; o complemento encontra- -se no Código Civil (CC). z Quando o complemento é dado por uma norma constante da CF, temos a chamada norma penal em branco de fundo constitucional (exemplo: o art. 246 do CP que fala em “idade escolar”; tal con- ceito encontra-se no art. 208, I, CF). Agora veja o caso da Lei 11.343/06 (Lei de Drogas): Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro- duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe- recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e qui- nhentos) dias-multa. No caso do art. 33 da Lei de 11.346/06, o dispositivo não define o que são “drogas”, nem o que seja “sem autorização legal ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. A definição de quais substân- cias são ilícitas é encontrada em Portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que, por ser fonte legislativa hierarquicamente inferior, é denomi- nada norma penal em branco em sentido estrito ou própria ou heterogênea. Por outro lado, temos a chamada norma penal em branco ao revés ou invertida ou inversa ou ao avesso quando o complemento necessário se refere à sanção (preceito secundário). Um exemplo de norma penal em branco ao revés é o tipo do crime de geno- cídio, previsto na Lei nº 2.889/56, que apresenta um branco em relação à pena, sendo necessário recorrer a outras leis para completar tal branco. Pode aconte- cer de o próprio complemento da norma incompleta necessitar de outro complemento, ou seja, é preciso uma dupla complementação. Neste acaso, temos o que se usa chamar de normal penal em branco ao quadrado. Ainda em relação às normas penais em branco, vale a pena lembrar que é importante saber diferen- ciá-las dos tipos penais abertos. O tipo penal aber- to, assim como na norma em branco, é uma norma incompleta que necessita de complementação. A 86 diferença, no entanto, é que no tipo penal aberto a complementação é feita por meio de um juízo de valo- ração realizado pelo juiz, isto é, o complemento vem da valoração feita pelo magistrado e não de uma outra norma. Agora que já vimos o conceito de norma penal em branco e suas particularidades, vamos fazer uma rela- ção dela com a questão do direito no tempo. Vamos voltar ao exemplo do art. 33 da Lei nº 11.343/06 (tráfico ilícito de drogas). O que ocorreria, por exemplo, se houvesse a retirada de certa substân- cia psicoativa da portaria da ANVISA, que define as drogas para efeito da Lei nº 11.343? Imagine um sujei- to que é pego vendendo a droga “X”, que consta na Portaria, e passa a responder pelo crime de tráfico de drogas. Com a retirada da substância da norma com- plementar, como ficaria a situação do agente? Neste caso, acontecerá a retroatividade benéfica, descriminalizando o comportamento, por força da abolitio criminis. Veja que o fato passa a ser atípico não pela revogação da Lei que considerava o fato típi- co, mas sim de seu complemento. Tal foi o que ocorreu no caso do art. 237 do CP. O Código Civil de 1916, em seu art. 183, VII, previa que um dos impedimentos absolutamente dirimentes era o casamento do cônjuge adúltero com o corréu conde- nado por tal crime. No entanto, o Código Civil de 2002 não trouxe tal impedimento, ocorrendo, pois, abolitio criminis, que retroagiu em favor de eventuais réus. A retroação benéfica, por outro lado, não ocor- re quando se tratar de complementos que tenham caráter excepcional ou temporário, como foi o caso, por exemplo, da Lei nº 1.521/51, a Lei de Crimes Contra a Economia Popular: o comerciante que fosse flagrado vendendo produto com preço acima do que constasse em tabela oficial respondia pelo ato, ainda que o congelamento, com a respetiva revogação da tabela, se encerrasse antes da conclusão do inquérito policial ou do processo penal. Do tempo do crime Como vimos anteriormente, logo em seus primei- ros artigos, o Código Penal se preocupa em tratar da aplicação da lei penal no tempo. Mas qual a importân- cia de se conhecer o tempo do crime? Determinar o tempo do crime é essencial, em pri- meiro lugar, para saber que lei será aplicada no caso concreto. Da mesma forma, é imprescindível para verificar a imputabilidade do agente (que pode ser menor de 18 no momento da conduta), fixar as circunstâncias do tipo penal, verificar a prescri- ção, dentre outros aspectos. Existem três teorias que podem ser consideradas para se determinar o tempo do crime: TEORIA DA ATIVIDADE Considera-se praticado o crime no momento da conduta. TEORIA DO RESULTADO Considera-se praticado o crime no momento do resultado. TEORIA MISTA OU DA UBIQUIDADE Considera-se praticado o cri- me tanto no momento da con- duta quanto no momento do resultado. O Direito Penal brasileiro adotou, em relação ao tempo do crime, a teoria da Atividade, por isso, considera-se praticado o crime no momento da conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o momento do resultado (art. 4º, CP). Ilustrando: no caso de um homicídio, é essencial que se determine o instante da ação (momento dos tiros, por exemplo) e não o momento do resultado (morte) pois, se o autor for menor de 18 anos à época dos tiros, ainda que a vítima morra depois do atirador ter completado a maioridade penal, ele não pode res- ponder criminalmente pelo ato. A teoria adotada pelo CP em seu art. 4º, em relação ao tempo do crime, é a teoria da ATIVIDADE. Leva- -se em conta, pois, o momento da conduta (ação ou omissão), pouco importando o instante do resultado. Veja o esquema a seguir como exemplo: Sentença Conduta Resultado Considera-se praticado no tempo da conduta (Teoria da Atividade, art. 4º) Vítima hospitalizada Tempo do Crime (Art. 4º) Morte da Vítima É na data da conduta, portanto, que: z Se verifica a imputabilidade penal: no nosso exemplo, o fato de ser o autor, maior ou menor de 18 anos; z Se fixam as circunstâncias do crime: qualifica- doras, causas de aumento ou diminuição de pena, agravantes ou atenuantes (como, por exemplo, ser a vítima criança ou maior de 60 anos, que contam como agravantes; ou ser o autor menor de 21 anos, o que vai servir como atenuante). Tempo do crime nas infrações permanentes e continuadas Nestes casos, será aplicada regra especial, que consta na Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo pela vontade do sujeito ativo como, por exemplo, no caso de um sequestro. Neste caso, é considerado tempo do crime todo o período em que se desenrolar a atividade criminosa. Assim sen- do, se um sequestrador, menor de 18 anos quando do início da prática do crime atinge a maioridade ainda com o delito emcurso, é considerado imputável para os fins penais. Por sua vez, crime continuado é uma ficção jurí- dica criada para beneficiar o réu, prevista no art. 71 do CP e será estudado mais adiante. Por enquanto, basta saber que o crime continuado ocorre quando o agente pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, D IR EI TO P EN A L 87 mediante duas ou mais condutas, sendo que, pelas condições de tempo, lugar, modo de execução, são tidos uns como continuação dos outros. Por exemplo, um empregado de uma loja de fer- ramentas visando subtrair um kit de ferramentas do estabelecimento, resolve furtar uma ferramenta por dia, até ter em suas mãos o kit completo. 60 dias depois, o sujeito vai conseguir completar o conjunto e vai ter cometido 60 furtos! Não fosse a regra benéfica do art. 71 do CP, a pena mínima neste caso somaria 120 anos de reclusão! Reconhecendo-se a ocorrência de crime continuado, ocorrerá a chamada exasperação: no nosso exemplo específico, será aplicada ao agente a pena de um só dos furtos aumentadas de 1/6 até 2/3. No entanto, não nos interessa, neste momento, ingres- sar no tema do crime continuado, nos basta apenas a noção do fenômeno para que possamos discutir a questão do tempo do crime quando de sua ocorrência. Assim sendo, temos que a mesma regra aplicá- vel ao crime permanente (Súmula 711 do STF) deve ser aplicada ao crime continuado, com uma ressalva quanto às condutas praticadas pelos menores de 18 anos, por força do artigo 228 da CF que determina sua inimputabilidade: na hipótese de um sujeito cometer quatro furtos, possuindo 17 anos quando do come- timento dos dois primeiros, e já 18, no momento da prática dos dois últimos, somente estes dois é que ser- virão para constituir o crime continuado. Tempo do Crime e conflito aparente de normas O conflito aparente de normas (ou concurso apa- rente de normas) se estabelece quando duas ou mais normas aparentemente parecem ser aplicáveis ao mesmo fato. Por exemplo: um sujeito resolve importar, via cor- reio, uma determinada substância entorpecente. Num primeiro momento, pode parecer que se aplique ao caso o previsto no art. 334 do Código Penal, que trata do crime de contrabando. Ocorre que o mesmo fato está previsto no art. 33 da Lei de Drogas. Parece, pois, que as duas normas parecem ser aplicáveis ao mes- mo fato. No entanto o conflito é apenas aparente, uma vez que a própria lei apresenta mecanismos para sua solução: no caso do nosso exemplo, aplica-se o art. 33 da Lei de Drogas (tráfico ilícito de drogas), por se tra- tar de lei especial (o tráfico internacional de drogas se distingue do contrabando porque se refere, especifi- camente, a um determinado tipo de mercadoria proi- bida, a droga. O mesmo ocorre com o tráfico de armas, previsto no Estatuto do Desarmamento). Note, o conflito é apenas aparente, pois somente uma delas acaba regulamentando o fato, afastan- do as demais. Para que ocorra o conflito aparente de normas, devem estar presentes dois pressupostos: z Unidade de fato, ou seja, a existência de uma única infração penal (por exemplo: uma morte); z Pluralidade de normas identificando o mesmo fato como delituoso, isto é, duas ou mais normas pre- tensamente regulando o mesmo fato criminoso. A solução se dá pela aplicação de alguns princí- pios que vamos ver a seguir (chamados de princípios que solucionam o conflito aparente de normas). São quatro os princípios que solucionam o con- flito aparente de normas: z Especialidade; z Subsidiariedade; z Consunção (ou absorção); z Alternatividade (este último não é unânime entre os autores, conforme veremos ao estuda-lo). Antes de verificar se há leis concorrentes, deve- -se analisar se não é o caso da ocorrência de suces- são temporal de leis. Ou seja, a primeira “peneira” a ser feita, é verificar se não se trata de conflito de leis no tempo, que são solucionados pelo princípio de que lei posterior revoga lei anterior (lex posterior derogat priori). Por exemplo, a Lei “A” regra determi- nada situação; Lei “B”, posterior, revogando a lei mais antiga, passa a viger tratando do mesmo conteúdo; neste caso não há conflito aparente de normas, mas sim aplicação das regras relativas à lei penal no tempo vistas anteriormente. Uma corrente minoritária de autores inclui a sucessão temporal de leis como um princípio de solu- ção do conflito aparente de normas (como é caso do Prof. Guilherme Nucci, que o apresenta como “critério da sucessividade”). Vamos agora, analisar detalhadamente cada um deles. Princípio da Especialidade Lei especial afasta a aplicação de lei geral (lex spe- cialis derogat generali), como, a propósito, encontra-se previsto no art. 12 do Código Penal: Art. 12 As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso Uma norma penal incriminadora (que descreve crimes e comina penas) é especial em relação a outra quando: z Possui em sua definição legal todos os elementos típicos que constam na geral; e z Apresenta mais alguns elementos (de natureza objetiva ou subjetiva), chamados de especializan- tes, que a tornam mais ou menos severa do que a geral. Vamos exemplificar. O tipo penal do homicídio simples, descrito abaixo, é lei geral: Homicídio simples Art. 121 Matar alguém. Compare com o tipo penal do infanticídio, outro dos crimes contra a vida: Infanticídio Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerpe- ral, o próprio filho, durante o parto ou logo após. O infanticídio (crime específico) é lei especial em relação ao homicídio (crime genérico), uma vez que contém mais elementos: z Sob a influência do estado puerperal, z O próprio filho, z Durante o parto ou logo após 88 Assim, estando presentes as especializantes, o tipo genérico é preterido pelo especial, a fim de que se evite a dupla punição (bis in idem). Em outras palavras, no conflito aparente entre norma geral e norma especial, afasta-se a geral e aplica-se a especial. Note que no exemplo colocado acima, ambos dis- positivos se encontram dispostos na mesma lei (CP). Pode ocorrer, no entanto, de estarem contidas em leis distintas, como nos exemplos abaixo. Observe, res- pectivamente os tipos penais do homicídio culposo, previsto no Código Penal, e o homicídio culposo na direção de veículo automotor, que consta do Código de Trânsito Brasileiro (CTB): Art. 121 Matar alguém: [...] Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo (Vide Lei nº 4.611, de 1965) Pena – detenção, de um a três anos. Art. 302 Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor. Pode ocorrer também, que a relação entre norma geral e especial ocorra “dentro” de determinados cri- mes que apresentem um tipo simples e formas típicas qualificadas ou privilegiadas. Assim, o tipo funda- mental é excluído pelo qualificado ou privilegiado, que deriva daquele. Nesses termos, o furto simples (art. 155, caput) é excluído pelo privilegiado (art. 155, § 2o); o estelionato simples (art. 171, caput) é excluído pelo qualificado (art. 171, § 3o) etc. Princípio da Subsidiariedade (Tipo de Reserva) Uma norma é considerada subsidiária em relação a outra quando a conduta nela prevista (de menor gravidade) integra o tipo da principal (que descreve o fato de forma mais abrangente). Neste caso, a lei prin- cipal afasta a aplicação de lei secundária (lex primaria derogat subsidiariae), justamente porque esta última cabe dentro dela. Ou seja, a figura típica subsidiária (chamada pelo grande penalista brasileiro Nelson Hungria, de “sol- dado de reserva”) é parte da principal, estando nela contida. Observe que não se trata de ser especial, mas sim mais ampla. Veja os exemplos abaixo: z O crime de ameaça (art. 147, CP) é subsidiá- rio (“cabe”) no delito de constrangimento ilegal mediante ameaça (art.146). Este, por sua vez, é subsidiário ao crime de extorsão (art. 158. CP); z O crime de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei nº 10.826/03)se encaixa no crime de homicídio cometido com disparo de arma de fogo (art. 121, CP) Veja que há um só fato. No exemplo da morte cau- sada por disparo de arma de fogo, o fato (disparo que acaba matando) é maior do que a norma subsidiara (mero disparo), só podendo, portanto, se encaixar na norma principal (mais ampla). A subsidiariedade se apresenta nas seguintes formas: z Expressa ou explícita: ocorre quando a própria norma indica expressamente em seu texto seu caráter subsidiário, ou seja, afirma que só vai ser aplicada se não for o caso da aplicação de outra, de maior gravidade. Esta é mais simples de ser identificada, sendo reconhecida por expressões tais como “se o fato não constituir crime mais gra- ve”. Um exemplo é o delito de perigo para a vida ou saúde de outrem: o art. 132 do CP descreve em seu preceito secundário a pena de detenção, de três meses a um ano, “se o fato não constitui crime mais grave”. Ou seja, a lei explicitamente indica que o art. 132 só é aplicável se o fato não constituir crime mais grave, como a tentativa de homicídio, o perigo de contágio de moléstia grave e o abandono de incapaz, entre outros. São outros exemplos de subsidiariedade expressa os arts. 129, § 3º, 238, 239 e 307, todos do CP e os arts. 21, 29 e 46 da Lei de Contravenções Penais (LCP). z Tácita ou implícita: neste caso, a norma nada fala. No entanto, o fato incriminado na norma subsidiá- ria serve como elemento componente ou agravan- te especial da norma principal, como, por exemplo, no caso do estupro (norma principal) que contém o constrangimento ilegal (norma subsidiária) e do furto qualificado pelo arrombamento, que contém o dano (o constrangimento ilegal é subsidiário de todos os crimes que têm como meio de execução a violência física ou a grave ameaça; o dano, por sua vez funciona como circunstância qualificadora do furto). Outro exemplo é a omissão de socorro (art. 135, CP) que serve como qualificadora do homicí- dio culposo (art. 121, § 4º, CP). Na prática, o princípio da subsidiariedade acaba por gerar os mesmos resultados do princípio da espe- cialidade. No entanto, trata-se de institutos diferentes. A distinção pode ser feita de duas maneiras: z Na especialidade: há relação entre o fato descrito pela norma genérica e o estabelecido pela especial (relação de gênero e espécie); na subsidiariedade não existe essa relação; z Na subsidiariedade: quando se afasta a incidên- cia da norma primária a pena do tipo subsidiário pode ser aplicada, como um ‘soldado de reserva’ e aplicar-se pelo residuum. Para fixar o entendimento, vamos ilustrar o princí- pio da subsidiariedade: z Lei principal (é o todo) � Ex.: Extorsão mediante sequestro (art. 159) z Lei subsidiária (é parte) � Ex.: Sequestro e cárcere privado (art. 148) Princípio da Consunção ou absorção Trata-se do princípio segundo o qual o fato previs- to por uma lei está, igualmente, contido em outra de maior amplitude, aplicando-se somente esta última. Os fatos menos amplos e menos graves servem como preparação ou execução ou mero exaurimento. Ou seja, ocorre a consunção ou absorção, quando: z Um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime; z Quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática relativa ao crime que absorve. D IR EI TO P EN A L 89 A consunção tem várias aplicações: a tentativa é absorvida pela consumação; a participação pela coau- toria; e o porte de arma é absorvido no homicídio quanto a arma é adquirida e portada com a finalida- de de matar a vítima. É utilizada, também, no crime progressivo (aquele no qual o agente possui um só desígnio, mas, para alcançar o resultado mais grave, passa pelo menos grave. Em outras palavras, é quan- do o agente desde o início quer alcançar o resultado mais grave, e o busca, por meio de atos sucessivos e crescentes, como por exemplo no caso do homicida que deseja matar a vítima cortando as partes do cor- po: embora cometa várias ações, sua intenção é matar a vítima e, assim, reponde por um único crime de homicídio qualificado. Outra aplicação da consunção se dá na progres- são criminosa, ou seja, quando o agente possui um dolo inicial e, no mesmo contexto fático, resolve subs- tituir o desígnio, como, por exemplo, quando o sujeito, desejando causar lesões à vítima, corta seus dedos. No entanto, no mesmo momento, muda de ideia e resolve matar o ofendido com um tiro na cabeça. Neste caso, o agente responde pelo homicídio, ficando as lesões cor- porais absorvidas (se não fossem no mesmo contexto fático, como por exemplo no caso do agente que mata a vítima um mês após causar-lhe lesões, haveria, por outro lado, concurso de crimes, respondendo o agente pelos dois delitos). Duas outras aplicações do princípio se dão nos chamados ante factum impunível e no post factum impunível. No primeiro caso, podemos citar, como exemplo, o agente que toca o corpo da vítima e, na mesma linha de desdobramento, praticar a conjun- ção carnal: responde pelo estupro, ficando os toques absorvidos. Já no caso do fato posterior não punível, o exemplo clássico é o do sujeito que furta determinada coisa e em seguida a destrói: vai responder somente pelo furto. Em relação ao princípio da consunção, duas ques- tões são recorrentes em concursos: z A primeira diz respeito ao porte ilegal de arma de fogo, disparo de arma de fogo e homicídio doloso: se tudo ocorreu no mesmo contexto fático (mesmo desdobramento, ou seja, o agente só por- tou irregularmente a arma e a disparou pois tinha a intenção de matar alguém) o homicídio absorve os anteriores; e z A segunda é relacionada aos crimes de falsida- de e estelionato: neste caso, basta observar o que dispõe a Súmula 17 do STJ: quando o sujeito falsifi- ca documento para aplicar um golpe, o estelionato (crime-fim) absorve o falso (crime-meio). E lembre-se: em qualquer situação, para que haja consunção é imprescindível que os fatos de deem den- tro do mesmo contexto. A figura utilizada para fazer referência ao prin- cípio da consunção é da de um peixão, que engole um peixinho que engole o girino: isto é, o homicídio absorve as lesões graves, que absorvem as lesões leves que, por sua vez, absorvem as vias de fato. Princípio da Alternatividade O último dos princípios é do da alternatividade e é aplicado quando há a prática, no mesmo contexto fáti- co, dos crimes de conteúdo múltiplo ou variado ou plurinuclear, que são os crimes que descrevem várias condutas no mesmo artigo, ou seja, contém vários ver- bos como núcleos do tipo. Um exemplo desse tipo de crime encontra-se no art. 33, caput, da Lei de Drogas: Art. 33 Importar, exportar, remeter, preparar, pro- duzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, ofe- recer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Note que são dezessete verbos (núcleos diferen- tes): pelo princípio da alternatividade, se o agente pratica mais de um verbo, no mesmo contexto fático, só responderá por um único crime (por exemplo, se o sujeito oferece e ministra). A LEI PENAL NO ESPAÇO Ao estudar, nos arts. 5º a 8º do CP, a aplicação da lei penal no espaço vamos tratar do lugar de incidên- cia da legislação penal brasileira, ou seja, ONDE ela é aplicada. Não vamos ver, neste momento, regras de competência, que se encontram nos arts. 70 e seguin- tes do Código de Processo Penal (CPP). Territorialidade O princípio adotado para tratar do âmbito da apli- cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri- torialidade, que se encontra disposto no art. 5º do CP: Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacio- nal, ao crime cometido no território nacional. O princípio da territorialidadesignifica que a lei penal de um país só é aplicável no território do Estado que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima). O princípio da territorialidade pode se dar de duas formas: z De forma absoluta (princípio da territorialidade absoluta) quando somente a lei penal do país é aplicável aos crimes cometidos em seu território nacional; e z De forma temperada, relativizada ou mitigada (princípio da territorialidade temperada) quan- do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao crime cometido no território nacional, mas, excep- cionalmente, por força de tratados e convenções internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli- tos praticados em território nacional. Como regra, o Brasil adota o princípio da territoria- lidade temperada e 4 outros princípios como exceção: z Real ou de proteção ou da defesa: art. 7º, I e § 3º, CP (exceção: extrataterritorialidade). A lei penal leva em conta a nacionalidade do bem jurídico lesado pelo delito, sem se importar com local de sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo. z Justiça penal universal ou princípio universal ou da universalidade da justiça cosmopolita, ou da jurisdição mundial ou da repressão uni- versal ou da universalidade do direito de punir: art. 7º, II, a (exceção: extrataterritorialidade). Cada Estado tem o poder de punir qualquer crime, inde- pendentemente da nacionalidade do autor ou da vítima ou, ainda, do local da sua prática. Basta que o criminoso esteja dentro do território do país. 90 z Nacionalidade ativa ou princípio da personali- dade: art. 7º, II, b (exceção: extrataterritorialida- de). Segundo o princípio da nacionalidade, a lei penal do Estado se aplica a seus cidadãos onde quer que se encontrem. O Brasil adota a naciona- lidade ativa, que impõe a aplicação da lei nacional ao cidadão que comete crime no estrangeiro não importando a nacionalidade da vítima. z Representação ou pavilhão ou bandeira: art. 7º, II, c (exceção: extrataterritorialidade). Ficam sujei- tos à lei do Brasil os delitos cometidos em aerona- ves e embarcações privadas, quando ocorridos no estrangeiro e aí não venham lá a ser julgados. Território nacional O texto do art. 5º fala em território. O território que nos interessa é o território jurídico, ou seja, o espaço em que o Estado exerce sua soberania. O território nacional é composto pelas seguintes partes: z o solo; z o subsolo; z o espaço aéreo correspondente; z os cursos d’água internos (rios, lagos, mares inte- riores); e z o mar territorial, assim entendido como a faixa de mar exterior que compreende as 12 milhas marítimas medidas a partir da linha do baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro, de acor- do com as referências contidas nas cartas náuticas brasileiras (art. 1º da Lei nº 8.617/93). Em relação aos rios internacionais que constituem limites entre dois países, normalmente existe tratado sobre o tema que ou determina que a divisa se encontra na linha mediana do leito do rio ou que a divisa acom- panhe a linha de maior profundidade da corrente. Se o rio não for divisa, mas sucessivo, como o Amazonas, é indiviso, e cada Estado exerce soberania sobre ele. No caso dos lagos, salvo acordo em contrário, o limi- te é fixado pela linha da meia distância entre as mar- gens do lago ou lagoa, que separa dois ou mais Estados. Dica Por se relacionarem aos assuntos que estamos vendo, vale a pena estudar as hipóteses de não incidência da lei a fatos cometidos no Brasil: a) as imunidades diplomáticas; b) as imunidades parlamentares; e c) a inviolabilidade do advogado. Esses assuntos são tratados em Direito Consti- tucional, Direito Processual Penal e no estudo do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. Território por extensão De acordo com o § 1º do art. 5º do Código Penal, para fins penais, é considerado território por extensão: z As embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasilei- ro onde quer que se encontrem; e z As aeronaves e as embarcações brasileiras, mer- cantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo corresponden- te ou em alto-mar. Vale notar que embaixada estrangeira, localizada no Brasil, constitui território brasileiro para efeito de incidência da Lei penal brasileira. Lugar do crime O CP trata do lugar do crime no art. 6º: Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em par- te, bem como onde se produziu ou deveria produzir- -se o resultado. Conforme já vimos antes, não se trata de fixar nor- mas de competência (medida de jurisdição) uma vez que tais normas são cuidadas pelos arts. 70 e seguin- tes do CPP. O disposto no art. 6º, CP destina-se aos chamados crimes à distância, isto é, aqueles delitos em que a ação ou a omissão ocorre em um país e o resultado, em outro. Em relação ao local do crime, o CP adota o princípio da ubiquidade. Vamos exemplificar: na divisa Brasil-Paraguai, um cidadão brasileiro, que se encontra em Foz do Iguaçu, atira em uma pessoa, que se encontra no Paraguai, vin- do esta a falecer. Ou ainda, um indivíduo envia uma carta-bomba do Chile para o Brasil, que ao ser aberta em São Paulo, mata a vítima. Quem vai punir os auto- res? Para solucionar tais situações, existem três teorias: Extraterritorialidade Extraterritorialidade é a aplicação da lei brasilei- ra aos crimes cometidos fora do Brasil. Sua sistema- tização se encontra nos arts. 7º e 8º do CP. Tal fenômeno se justifica por dois motivos: z Para proteger certos bens jurídicos (como, por exemplo, o patrimônio público); z Para impedir que certos delitos fiquem sem res- posta da lei penal. Não se aplica a extraterrito- rialidade a todas as infrações penais (crimes e contravenções): de acordo com o art. 2º da Lei de Contravenções Penais, não se aplica a lei brasileira às contravenções ocorridas fora do território nacional. Ou seja, não há extraterrito- rialidade de contravenção. A aplicação da lei brasileira no estrangeiro pode ser dar sem que seja necessária qualquer condi- ção, recebendo o nome de extraterritorialidade incondicionada: z Hipóteses do art. 7, I, do CP: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de eco- nomia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; [grifos nossos] D IR EI TO P EN A L 91 Nestes casos, aplica-se a lei penal brasileira ainda que o crime tenha sido julgado no estrangeiro e independentemente de o agente entrar no Brasil. Se preenchidas certas condições indicadas na lei, teremos a extraterritorialidade condicionada: z Hipóteses do art. 7, II, do CP: art. 7º, II, ‘a’ e ‘b’ + requisitos do art. 7º, § 2º; art. 7º, II, ‘c’, do CP + requisitos do art. 7º, § 2º+ 7º, II, ‘c’ in fine (não ter sido julgado no estrangeiro); art. 7º, § 3º, do CP + requisitos do art. 7º, § 2º + requisitos do § 3º (não ter sido pedida ou ter sido negada a extradição) + requisição do Ministro da Justiça. Pena cumprida no estrangeiro Art. 8º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Quando se fala em extraterritorialidade condicio- nada, uma vez tendo sido cumprida a pena no estran- geiro, desaparece o interesse do Brasil em punir o delinquente. Por outro lado, nos casos de extraterritorialidade incondicionada, se o sujeito ativo entra em território brasileiro, estará sujeito à punição, independente- mente de já ter sido condenado ou absolvido no exte- rior. Nesta hipótese, se aplicaria a fórmula do art. 8º, CP. No entanto, tal dispositivo éinconstitucional, por ir contra a garantia constitucional de que ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato, constan- te da Convenção Americana dos Direitos Humanos, em vigor no Brasil. Eficácia da Sentença Penal Estrangeira O art. 9º do CP trata dos efeitos da sentença penal estrangeira. De acordo com o disposto, somente pode ser homologada para produzir os seguintes efeitos: z Obrigar o condenado à reparação do dano (art. 9º I, CP); e z Sujeitar o condenado à medida de segurança (art. 9º II, CP). A homologação é feita por meio de sentença pelo STJ (art. 105, I, ‘i’, da CF). No caso art. 9º, I, CP depende de pedido da parte interessada; já na hipótese do 9º II, CP, depende da existência de tratado de extradição com o país respectivo ou, na fala de ratado, de requisi- ção do Ministro da Justiça. Prazo Penal Antes de finalizar a chamada teoria da norma e ingressar na teoria do crime, falta falar brevemente sobre o prazo penal, estabelecido no art. 10, CP. O prazo penal e o prazo, processual são contados de maneiras diferentes: z Prazo penal (regra art. 10, CP): inclui-se o primei- ro dia, despreza-se o último; z Prazo processual penal (regra art. 798, § 1º, CPP): despreza-se o primeiro dia, conta-se o último; z Frações de penas: não são computadas as horas nas penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, nem os centavos na pena pecuniária. Importante! Para fins de prescrição e decadência, os prazos são contados de acordo com a regra do art. 10, CP. EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (CESPE-CEBRASPE – 2019) Considerando esse dispo- sitivo legal, bem como os princípios e as repercussões jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue. O presidente da República, em caso de extrema rele- vância e urgência, pode editar medida provisória para agravar a pena de determinado crime, desde que a aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação da medida pelo Congresso Nacional. ( ) CERTO ( ) ERRADO O princípio da legalidade veda a edição de medida provisória em matéria de Direito Penal. De acordo com o texto constitucional: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Pre- sidente da República poderá adotar medidas pro- visórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: b) direito penal, processual penal e processual civil (...) Resposta: Errado. 2. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue o item subsequen- te, relativo à aplicação da lei penal e seus princípios. No que diz respeito ao tema lei penal no tempo, a regra é a aplicação da lei apenas durante o seu período de vigência; a exceção é a extra-atividade da lei penal mais benéfica, que comporta duas espécies: a retroa- tividade e a ultra-atividade. ( ) CERTO ( ) ERRADO Sobre a lei penal no tempo, temos a regra da Ativi- dade: fatos praticados durante sua vigência da lei. Porém, há exceção: a extratividade que se divide em retroatividade e ultratividade. Na retroativi- dade a lei mais nova e benéfica retroage aos fatos antes da entrada em vigor. E na ultratividade, a lei mais benéfica, quando revogada, continua a reger os fatos durante vigência. Resposta: Certo. 3. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin- tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e à pena cumprida no estrangeiro. A lei penal que, de qualquer modo, beneficia o agen- te tem, em regra, efeito extra-ativo, ou seja, pode retroagir ou avançar no tempo e, assim, aplicar-se ao fato praticado antes de sua entrada em vigor, como também seguir regulando, embora revogada, o fato praticado no período em que ainda estava vigente. A única exceção a essa regra é a lei penal excepcional 92 ou temporária que, sendo favorável ao acusado, terá somente efeito retroativo. ( ) CERTO ( ) ERRADO A regra no Direito Penal é de que Leis Excepcionais não possuem efeito retroativo, apenas ultra ativo. Vejamos o texto do art. 3º, do CP: Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Resposta: Errado. 4. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin- tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e à pena cumprida no estrangeiro. A bordo de um avião da Força Aérea Brasileira, em sobrevoo pelo território argentino, Andrés, cidadão guatemalteco, disparou dois tiros contra Daniel, cida- dão uruguaio, no decorrer de uma discussão. Contu- do, em virtude da inabilidade de Andrés no manejo da arma, os tiros atingiram Hernando, cidadão venezue- lano que também estava a bordo. Nessa situação, em decorrência do princípio da territorialidade, aplicar-se- -á a lei penal brasileira. ( ) CERTO ( ) ERRADO Encontramos a resposta da questão no Princípio da Territorialidade. Vejamos o texto do art. 5º, do CP: Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacio- nal, ao crime cometido no território nacional. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a ser- viço do governo brasileiro onde quer que se encon- trem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. Resposta: Certo. 5. (CESPE-CEBRASPE – 2013) Julgue os itens seguin- tes, relativos à teoria da norma penal, sua aplicação temporal e espacial, ao conflito aparente de normas e à pena cumprida no estrangeiro. Jurandir, cidadão brasileiro, foi processado e conde- nado no exterior por ter praticado tráfico internacional de drogas, e ali cumpriu seis anos de pena privativa de liberdade. Pelo mesmo crime, também foi condenado, no Brasil, a pena privativa de liberdade igual a dez anos e dois meses. Nessa situação hipotética, de acordo com o Código Penal, a pena privativa de liberdade a ser cumprida por Jurandir, no Brasil, não poderá ser maior que quatro anos e dois meses. ( ) CERTO ( ) ERRADO Nessa questão, devemos saber conhecer a Extrater- ritorialidade: condicionada e incondicionada. Na extraterritorialidade condicionada: z o agente deve entrar em território brasileiro, z o fato deve ser punível em ambos territórios, z o crime deve estar incluído entre aqueles pelos quais o Brasil autoriza a extradição. Não há o que se falar em cumprir no Brasil nas seguintes hipóteses: z se o agente cumpriu a pena no exterior; z se o agente for absolvido ou perdoado no estrangeiro; z não estar extinta a punibilidade. Na extraterritorialidade incondicionada o indiví- duo é condenado no Brasil, mesmo que tenha sido absolvido ou condenado no estrangeiro. Resposta: Errado. TÍTULO II: DO CRIME Nomenclatura A doutrina brasileira utiliza o termo Infração de forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e as contravenções. O Código Penal não utiliza em seu texto a expres- são delito, optando por utilizar as expressões infra- ção, crime e contravenção, sendo que estas duas últimas estão incluídas na primeira No Código de Processo Penal há certa confusão: algumas vezes usa o termo infração, de forma genéri- ca, incluindo os crimes (ou delitos) e as contravenções (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77 etc.). Em outras situações, emprega a expressão delitos como sinônimo de infração (por exemplo, conforme consta nos arts. 301 e 302, CPP). Para os fins do nosso estudo temos, então que infração penal pode significarcrime (ou delito) e contravenção penal. As diferenças entre crime e contravenção serão vistas mais adiante. Conceito de crime O conceito de crime não é natural e sim algo arti- ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes- ses da sociedade. Mas o que é crime? Podemos responder esta pergunta de três dife- rentes formas, olhando para o crime sob diferentes aspectos: material, formal e analítico. Vamos ver o conceito de crime de acordo com cada um desses pontos de vista: z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie- dade tem sobre o que pode e deve ser proibido por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse aspecto, o conceito material de crime consiste na conduta que ofende um bem juridicamen- te tutelado (bem juridicamente considerado essencial para a existência da própria sociedade e manutenção da paz social); z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi- to. Assim, o conceito formal de crime constitui uma conduta proibida por lei, que se realizada, resulta na aplicação de uma pena. Considera-se crime, dessa forma, o que o legislador apontar como tal; D IR EI TO P EN A L 93 z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu- dos: sob o aspecto analítico, se procura apontar, estabelecer os elementos estruturais do crime. Vejamos: Conceito analítico de crime Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado- res enxergam o crime de formas diferentes. Existem várias correntes, mas as principais são duas: z A que entende que o crime é Fato Típico + Anti- jurídico (concepção bipartida), sendo a culpabi- lidade pressuposto de aplicação da pena (entre eles René Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de Jesus, Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson); e z A que concebe o crime como um Fato Típico + Antijurídico + Culpável (concepção tripartida ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto aqueles que adotam a teoria da conduta finalista (como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni, Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques, Aníbal Bruno e Magalhães Noronha). Diferença entre crime e contravenção Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte- ressante fazer a distinção entre crime e contravenção penal (também chamada de crime anão ou delito Lili- putiano ou crime vagabundo ou delitti nani). Existem países que utilizam a classificação tripar- tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven- ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou delitos) e contravenções. Não existe um dado único que faça a distinção entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes quanto as contravenções configuram comportamen- tos que violam mandamentos legais que possuem como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis- tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê tais condutas. No entanto existem outros elementos que ajudam na distinção. Em relação às penas: os crimes são punidos com penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção), restritivas de direitos e multa; já as contravenções são punidas com prisão simples e/ou multa. Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade. Por último, é possível a tentativa nos crimes, enquanto ela é incabível nas contravenções. Sujeitos do crime Antes de analisarmos os elementos do crime é importante fixar alguns conceitos sobre os sujeitos do crime. Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito na nor- ma penal incriminadora. O crime é uma ação huma- na, sendo que apenas o ser humano pode delinquir. Animais e entes inanimados não possuem capacidade penal (conjunto de condições necessárias para que um sujeito possa ser titular de direitos e obrigações na esfera penal). Importante! A Constituição Federal prevê nos arts. 173, § 5º, e 225, § 3º, que a legislação ordinária estabeleça a punição da pessoa jurídica nos atos cometidos contra a economia popular, a ordem econômica e financeira e o meio ambiente. Atualmente ape- nas a Lei nº 9.605/98, Lei de Proteção Ambiental prevê essa responsabilidade. Ou seja, a pessoa jurídica responde por crime ambientais. Existem várias nomenclaturas em lei para se refe- rir ao sujeito ativo: “agente” (por exemplo, nos arts. 14, II; 15; 18, I e II; 19; 20, § 3º; 21, parágrafo único; 23, caput e parágrafo único; 26, caput e parágrafo único, todos do CP); “indiciado”, na fase do inquérito; acusado, denunciado, réu durante a fase processual; “sentenciado”, “preso”, “condenado”, “detento” ou “recluso”, para aqueles que já foram condenados. Usa-se, ainda, sob o ponto de vista biopsíquico, as expressões “criminoso” ou “delinquente”. Por outro lado, sujeito passivo é entendido como o titular do bem jurídico cuja ofensa fundamenta o crime. Existem duas espécies: z Sujeito passivo formal ou constante ou geral ou genérico: é o Estado; z Sujeito passivo material ou eventual ou particu- lar ou acidental: o titular do interesse protegido penalmente (pode ser o ser humano, pessoa jurídi- ca, a coletividade ou o Estado). É importante salientar que pessoa incapaz pode ser sujeito passivo do crime (recém-nascido, menor em idade escolar, portador de deficiência mental etc.). É possível ser sujeito passivo mesmo antes de nascer, pois o feto tem direito à vida, bem jurídico protegido pela punição do aborto (arts. 124, 125 e 126, CP). Pes- soa morta e animais não podem ser sujeitos passivo, pois não são titulares de direitos (podem ser objetos materiais; a titularidade é de outros: família, coletivi- dade etc.). Aproveitando que mencionamos objeto do crime, guarde: z Objeto jurídico consiste no bem ou interesse tute- lado pela norma penal (como vida, patrimônio, honra etc.); e z Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa (por exemplo a coisa móvel, no furto). Classificação dos crimes Qualificação é o nome que se dá ao fato ou a infra- ção, seja pela doutrina ou pela lei. Assim temos: z É o nome que a lei dá (nomen juris). Por exem- plo, “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem” é chamada pelo art. 129, CP de “lesão corporal”. z Que são os nomes dados pela doutrina aos fatos criminosos. Por exemplo: crime de mera conduta, crime permanente, crime próprio etc.) 94 z É o nome dado à modalidade a que o fato pertence: crime ou contravenção. Por exemplo, “homicídio” é crime, enquanto o “jogo do bicho” é contravenção. A classificação doutrinária dos crimes serve para facilitar o estudo e o entendimento dos tipos penais incriminadores. No entanto, existem muitos nomes, ficando difícil fazer uma classificação defini- tiva, uma vez que os estudiosos do Direito Penal ao sistematizarem a matéria, acabam por criar novas nomenclaturas. As principais são: Crimes comuns e especiais São os definidos no Direito Penal Comum; os espe- ciais, são os descritos no Direito Penal Especial. Crimes comuns (quanto ao agente) e próprios Crime comum é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa (furto, homicídio etc.). Crime próprio é o que só pode ser cometido por um agente com qualida- des especiais (uma condição jurídica, como ser funcioná- rio público; de parentesco, como mãe, filho; profissional, como médico; ou natural, como no caso da gestante. Dentro do contexto dos crimes próprios há uma categoria chamada crimes de mão própria ou de atuação pessoal, que são os que só podem ser cometi- dos pelo agente em pessoa, de forma direta, como por exemplo no caso de falso testemunho (a testemunha não pode mentir por meio de outro sujeito). O crime de mão própria admite participação, mas não coautoria. Crimes de dano e de perigo Crime de dano é o que apenas se consuma quando ocorre a efetiva lesão ao bem jurídico (como no homi- cídio, nas lesões corporais). Crime de perigo são os que se consumam com a mera possibilidade do dano