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. Segundo o livro de patologia básica do Robbins, 4 doenças compõem o escopo das doenças obstrutivas – enfisema, bronquite crônica, asma e bronquiectasia -. Dessas, a asma e a bronquiectasia não fazem parte do escopo da DPOC (vide guideline) a asma por ser de característica REVERSÍVEL. É importante reconhecer que a definição de enfisema é morfológica, enquanto a de bronquite crônica é definida com base nas características clínicas, como a presença de tosse recorrente e crônica com excessiva secreção de muco. Além disso, a distribuição anatômica é parcialmente diferente; enquanto o enfisema acomete o ácino, a bronquite crônica envolve inicialmente as vias aéreas maiores. Entre os fatores de risco para as doenças pulmonares obstrutivas crônicas estão: (a) tabagismo, incluindo fumo passivo; (b) poluição indoor – principalmente a partir de combustíveis da biomassa- e outdoor – (c) alérgenos variados, (d) agentes ocupacionais... Bronquite crônica Como o tabagismo é o fator etiológico mais importante para o desenvolvimento tanto da bronquite crônica como do enfisema, muitos pacientes apresentam sobreposição das duas doenças, com predomínio ora do componente inflamatório das vias aéreas (bronquite/bronquiolite), ora de destruição do parênquima pulmonar (enfisema). Na prática médica, essas duas entidades são agrupadas sob a denominação doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Nesta, a obstrução ao fluxo é em geral progressiva, embora parcialmente reversível, e pode se acompanhar de hiper-reatividade das vias aéreas. A bronquite causa estreitamento e obstrução da luz de pequenas vias aéreas, enquanto o enfisema é responsável por destruição de septos alveolares e perda do recolhimento elástico pulmonar. A consequência funcional em ambas as doenças é, pois, limitação ao fluxo aéreo. A asma caracteriza-se por obstrução brônquica reversível associada a inflamação e hiper- reatividade das vias aéreas a diferentes estímulos. Bronquite crônica é definida clinicamente como tosse persistente com produção excessiva de muco na maioria dos dias de um período de três meses, por pelo menos dois anos consecutivos. Tosse e expectoração são caracteristicamente mais intensas pela manhã e nos meses de inverno. Indivíduos com tosse produtiva sem sinais de obstrução ao fluxo aéreo apresentam bronquite crônica simples. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Cerca de 20% dos fumantes desenvolvem obstrução crônica ao fluxo aéreo, geralmente com evidências de enfisema associado, caracterizando a bronquite crônica obstrutiva. Etiopatogênese A doença é causada pela exposição prolongada a agentes irritantes inalados, sobretudo produtos do tabaco (a grande maioria dos bronquíticos crônicos é fumante), além de poluentes atmosféricos. Inflamação das vias aéreas e do parênquima pulmonar secundária a esses agentes é a grande responsável pelas alterações estruturais, clínicas e funcionais observadas nos doentes. Os principais achados que caracterizam o processo inflamatório na bronquite crônica são descritos a seguir. Linfócitos Nas vias aéreas centrais, a limitação ao fluxo aéreo está associada a aumento do número de linfócitos T na parede brônquica e de neutrófilos na luz das vias aéreas. Predominam linfócitos T CD8+ (supressores) sobre os linfócitos TCD4+ (auxiliares). Na DPOC, linfócitos T CD8+ infiltram as grandes e as pequenas vias aéreas e o parênquima pulmonar. Há ainda aumento do número de células que expressam o receptor de IL-2 (marcador de ativação celular recente) e de células que expressam o antígeno de ativação tardia-1, ou AAT-1 (marcador de ativação celular crônica). A presença simultânea desses dois marcadores sugere que linfócitos T estão em diferentes estágios de ativação na bronquite crônica. Acredita-se que os linfócitos T CD8+ estejam implicados na lesão do parênquima pulmonar e no recrutamento de neutrófilos. As pequenas vias aéreas são um importante local de obstrução na DPOC. Nos pacientes com bronquite crônica, o número de linfócitos T CD8+ nas vias aéreas mostra relação inversa com o FEV1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo). Macrófagos. Os macrófagos estão aumentados em número tanto nas vias aéreas (grandes e pequenas) como no especialmente nas áreas onde há destruição da parede alveolar. Os macrófagos participam do processo inflamatório por meio da liberação de mediadores, como TNF-α, IL-8 e LTB4, que promovem quimiotaxia de neutrófilos. Neutrófilos Na DPOC existe ambiente de citocinas propício ao acúmulo de neutrófilos na luz brônquica, como aumento de IL-8, TNF-α e decréscimo de IL- 10 (citocina anti-inflamatória). Existe aumento ainda da expressão de E-seletina e ICAM-1 (moléculas de adesão) nos vasos submucosos e no epitélio brônquico, as quais favorecem o acúmulo de neutrófilos na luz das vias aéreas. Há ainda aumento do número de neutrófilos nas glândulas submucosas de pacientes com DPOC. Elastase de neutrófilos é um potente secretagogo, podendo contribuir para a hipersecreção brônquica. Aumento do número de neutrófilos nas vias aéreas parece relacionado à gravidade da doença. Células epiteliais As células do revestimento brônquico também são fonte de mediadores inflamatórios na DPOC, incluindo eicosanoides, citocinas e moléculas de adesão, entre elas E-selectina, envolvida no recrutamento e na adesão de neutrófilos. Além dos já descritos, uma série de outros mediadores inflamatórios podem participar na patogênese da DPOC. (a) proteína quimiotática para macrófagos (MCP-1) e proteína 1β inflamatória macrofágica (MIP- 1β), envolvidas no recrutamento de macrófagos; (b) fator estimulador de colônias DESCRIÇÃO DA IMAGEM: (Bronquite crônica. Brônquio de grande calibre apresentando acúmulo de secreção na luz (*). Notar ainda bolhas de enfisema.) de granulócitos e macrófagos (GM-CSF), citocina importante para aumentar a sobrevida neutrofílica; (c) TGF-β e EGF, que parecem envolvidos no remodelamento das vias aéreas. Macroscopicamente, há espessamento da parede da árvore brônquica e acúmulo de secreção esbranquiçada, por vezes com aspecto purulento. Histologicamente, as grandes vias aéreas apresentam hipersecreção de muco, hipertrofia das glândulas submucosas, aumento do número de células caliciformes e acúmulo de secreção. Enfisema É caracterizado por dilatação anormal e permanente das vias aéreas distais aos bronquíolos terminais, acompanhada por destruição de suas paredes na AUSÊNCIA de fibrose significativa. A exposição a substâncias tóxicas, como a fumaça do tabaco e poluentes inalados, induz inflamação ativa com acúmulo de neutrófilos, macrófagos e linfócitos no pulmão. Elastases, citocinas (incluindo IL-8) e oxidantes são liberados, causando lesão epitelial e proteólise da matriz extracelular (MEC). Os produtos da degradação da elastina perpetuam a inflamação. O ciclo inflamatório e proteolítico continua a menos que antielastases (p.ex., alfa 1- antitripsina). No enfisema há perda de não somente células epiteliais e endoteliais, mas também das células mesenquimais, levando à perda da matriz extracelular, considerada o arcabouço no qual as células epiteliais deveriam crescer. Portanto, o enfisema pode ser considerado o resultado de um reparo INSUFICIENTE. Do outro lado do mapa, pacientes com doença pulmonar fibrosante apresentam EXCESSIVA RESPOSTA MIOFIBROBLÁSTICA ou fibroblástica à lesão, levando à cicatrização não controlada. O exame histológico revela destruição das paredes alveolares e aumento dos espaços aéreos na ausência de fibrose. Além da perda alveolar, há também diminuição do NÚMERO de capilares alveolares. De acordo com a distribuição anatômica das lesões, o enfisema é classificado em quatro tipos: centroacinar ou centrolobular, pan- acinar ou panlobular, parasseptal e irregular. Como já comentado, o ácinopulmonar, que compreende a porção de parênquima distal a um bronquíolo terminal, é constituído pelo bronquíolo respiratório, ductos e sacos alveolares e alvéolos. O conjunto de três a cinco bronquíolos terminais e seus ácinos constitui o lóbulo pulmonar. No enfisema centroacinar ou centrolobular, comumente associado ao hábito de fumar e à bronquite crônica, a porção central do ácino pulmonar, junto ao bronquíolo respiratório, está acometida, poupando os alvéolos distais. As lesões usualmente contêm grande quantidade de pigmento antracótico. Na fase avançada, todo o lóbulo pode estar acometido, dificultando a distinção com o enfisema panlobular. O enfisema centrolobular acomete preferencialmente os lobos superiores. No enfisema pan-acinar ou panlobular, geralmente relacionado à deficiência da α1- antitriprisina, todo o ácino está aumentado, tornando difícil a distinção entre alvéolos e ductos alveolares. As lesões são mais graves nas bases pulmonares. O enfisema parasseptal ou acinar distal acomete a porção distal do ácino, nas regiões adjacentes à pleura e ao longo dos septos interlobulares. Caracteristicamente, é mais comum nas regiões superiores do pulmão e surge em áreas adjacentes a fibrose, cicatrizes ou atelectasia. Este enfisema é causa frequente de pneumotórax espontâneo em indivíduos jovens. O enfisema irregular ou paracicatricial, muitas vezes assintomático, envolve o ácino de forma irregular e está associado a cicatrizes de processos inflamatórios antigos. Bronquiectasia Bronquiectasia é a doença caracterizada por dilatação permanente dos brônquios, provocada em geral por infecção e enfraquecimento da parede brônquica ou por defeito na sua formação. Muitos pacientes com bronquiectasia relatam história de doença pulmonar na infância, em geral de etiologia viral, complicada ou não por infecção bacteriana. Outros apresentam certas condições predisponentes, como fibrose cística, anormalidades dos batimentos ciliares ou malformações do sistema respiratório. A etiopatogênese da bronquiectasia não é totalmente conhecida. Na maioria dos casos, as lesões parecem resultar de infecção e obstrução dos brônquios, por fatores diversos. A propósito, entre as inúmeras classificações de bronquiectasias a mais útil parece ser a etiológica, isto é, a que classifica a doença nos tipos obstrutiva e não obstrutiva. A bronquiectasia obstrutiva segue-se a obstrução, por qualquer causa, de um segmento da árvore brônquica. Com isso, ocorre retenção de secreções no segmento distal à obstrução, favorecendo infecções. Infecção repetida resulta em lesão e enfraquecimento da parede brônquica, levando a sua dilatação. No caso, a bronquiectasia localiza-se no segmento pulmonar obstruído. Muitas condições causam obstrução brônquica e bronquiectasia. É o caso de tumores de crescimento lento, como carcinoide brônquico, condroma e papiloma. Linfonodos hilares aumentados, como acontece classicamente na tuberculose, também podem obstruir brônquios. O lobo médio, por ter luz brônquica mais estreita do que outros segmentos pulmonares, está mais sujeito a obstrução. Nesses casos, o quadro é conhecido como síndrome do lobo médio. Em crianças, bronquiectasia pode se seguir a obstrução brônquica por aspiração de corpo estranho, em geral localizada no lobo inferior direito ou no segmento posterior do lobo superior direito.