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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO CUIDANDO DA PESSOA PORTADORA DE FERIDAS Gabriela Rossi¹ ¹ Doutora em Ciências da Saúde - Ênfase em Imunologia pela Santa Casa BH Ensino e Pesquisa. Mestre em Ciências da Saúde - Ênfase em Imunologia pela Santa Casa BH Ensino e Pesquisa. Especialista em Nefrologia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Especialista em Oncologia pela Santa Casa BH Ensino e Pesquisa. Enfermeira pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Docente em Enfermagem nível Técnico e Superior. Coordenadora de Cursos de Aperfeiçoamento em Enfermagem Rede de Ensino Genoma. capacitacao@redegenoma.com.br SUMÁRIO 1.CONCEITUANDO ESTOMATERAPIA ............................................................................................................... 6 2. ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE ................................................................................................................... 6 2.1.FUNÇÕES .......................................................................................................................................................... 6 2.3.CAMADAS DA PELE ............................................................................................................................................. 6 2.3.1.Epiderme ............................................................................................................................................... 6 2.3.2.Derme .................................................................................................................................................... 7 2.3.3.Hipoderme ............................................................................................................................................. 7 3. PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO DA PELE ......................................................................................................... 7 3.1. COAGULAÇÃO ................................................................................................................................................... 8 3.2. INFLAMAÇÃO .................................................................................................................................................... 8 3.3. PROLIFERAÇÃO ................................................................................................................................................. 8 3.4.CONTRAÇÃO DA FERIDA ...................................................................................................................................... 9 3.5. REMODELAMENTO ............................................................................................................................................ 9 4. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DE FERIDAS ..................................................................................................... 9 4.1. CLASSIFICAÇÃO DAS FERIDAS ............................................................................................................................... 9 4.2. AVALIAÇÃO DAS FERIDAS .................................................................................................................................. 15 5. FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO ...........................................................................................17 6. SUPORTE NUTRICIONAL ..............................................................................................................................19 7.1.LESÃO POR PRESSÃO ......................................................................................................................................... 20 7.1.1.Classificação ........................................................................................................................................ 20 7.2. ÚLCERAS VASCULOGÊNICAS ............................................................................................................................... 22 7.2.1. Úlceras Venosas ................................................................................................................................. 22 7.2.2.Úlcera Arterial ..................................................................................................................................... 24 7.2.3. Úlceras Mistas .................................................................................................................................... 25 7.3. ÚLCERA NEUROTRÓFICA ................................................................................................................................... 25 7.3.1. Pé Diabético ....................................................................................................................................... 26 7.3.2. Úlcera Hansênica ............................................................................................................................... 27 8.COBERTURAS ...............................................................................................................................................29 8.1. SOLUÇÃO FISIOLÓGICA A 0,9% .......................................................................................................................... 29 8.2. CREME DE SULFADIAZINA DE PRATA + NITRATO DE CÉRIO ....................................................................................... 30 8.3. PLACA DE HIDROCOLÓIDE ................................................................................................................................. 30 8.4. ALGINATO DE CÁLCIO ....................................................................................................................................... 31 8.5. FIBRA DE CARBOXIMETILCELULOSE ...................................................................................................................... 32 8.6. ESPUMA DE POLIURETANO COM PRATA ............................................................................................................... 32 8.7 CARVÃO ATIVADO E PRATA ................................................................................................................................ 33 8.8. FILME TRANSPARENTE ...................................................................................................................................... 34 8.9. HIDROGEL AMORFO ......................................................................................................................................... 34 8.10. BOTA DE UNNA ............................................................................................................................................. 35 8.11. COLAGENASE ................................................................................................................................................ 36 8.12. ÁCIDO GRAXO ESSENCIAL ............................................................................................................................... 36 8.13. PAPAÍNA ...................................................................................................................................................... 37 8.14. GAZE DE PETROLATO...................................................................................................................................... 37 8.15. AÇÚCAR ...................................................................................................................................................... 37 8.16. CALÊNDULA .................................................................................................................................................. 38 8.17.MALHA DE ACETATO DE CELULOSE .................................................................................................................... 38 8.18. SOLUÇÃO SURFACTANTE ...............................................................................................................................38 8.19. PROTETOR CUTÂNEO .................................................................................................................................... 39 8.20.PRESSÃO NEGATIVA........................................................................................................................................ 39 8.21.HIPERBÁRICA................................................................................................................................................. 40 9. TÉCNICA BÁSICA DE REALIZAÇÃO DE CURATIVOS .......................................................................................40 9.1.TIPOS DE CURATIVOS ........................................................................................................................................ 40 9.2.LIMPEZA ......................................................................................................................................................... 41 9.3. TÉCNICA DE CURATIVO ..................................................................................................................................... 41 9.4.PRINCIPAIS ERROS COMETIDOS AO SE FAZER UM CURATIVO ..................................................................................... 41 10. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO, RESPIRATÓRIO E URINÁRIO ....................................42 10.1. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO .............................................................................................. 42 10.2.ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO ............................................................................................ 42 10.3. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA URINÁRIO ................................................................................................. 43 11. OSTOMIAS ................................................................................................................................................43 11.1.ESTOMAS DIGESTIVOS ..................................................................................................................................... 43 11.1.1. Gastrostomia .................................................................................................................................... 43 11.1.2. Jejunostomia .................................................................................................................................... 44 11.1.3. Ileostomia ......................................................................................................................................... 44 11.1.4 Colostomia ........................................................................................................................................ 44 11.1.5. Assistência ao Paciente com Estomas Digestivos ........................................................................... 45 11.2.ESTOMA RESPIRATÓRIO ................................................................................................................................... 47 11.2.1.Traqueostomia .................................................................................................................................. 47 11.2.2. Assistência ao Paciente com Estomas Digestivos ........................................................................... 48 11.3.ESTOMA URINÁRIO ........................................................................................................................................ 48 11.3.2. Assistência ao Paciente com Estomas Urinário............................................................................... 49 12. CUIDADOS COM PESSOAS COM DRENOS E CATETERES .............................................................................49 12.1.DRENO LAMINAR ........................................................................................................................................... 50 12.1.1.Penrose .............................................................................................................................................. 50 2.2. DRENO TUBULAR ............................................................................................................................................ 50 12.2.1. Dreno de Tórax ou Selo D´agua ....................................................................................................... 50 12.2.2. Portovac ........................................................................................................................................... 50 12.2.3. Dreno Kher ....................................................................................................................................... 51 12.2.4. Dreno de Mallecot ........................................................................................................................... 51 12.3. CUIDADOS COM OS DRENOS ............................................................................................................................ 51 12.4. CURATIVO DO DRENO .................................................................................................................................... 51 13. CATETER ....................................................................................................................................................52 13.1. CATETER VENOSO PERIFÉRICO ......................................................................................................................... 52 13.2. CATETER VENOSO CENTRAL SEMI-IMPLANTADO DE CURTA PERMANÊNCIA ............................................................... 53 13.3. CATETER VENOSO CENTRAL SEMI-IMPLANTADO DE LONGA PERMANÊNCIA ............................................................... 53 13.3. CATETER VENOSO CENTRAL DE LONGA PERMANÊNCIA TOTALMENTE IMPLANTADO .................................................... 53 13.3. CUIDADOS COM OS CATETERES ........................................................................................................................ 54 13.4. CURATIVO DO CATETER .................................................................................................................................. 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................................55 6 1.CONCEITUANDO ESTOMATERAPIA Ramo da enfermagem que trata de técnicas ou práticas terapêuticas de tratamento, assistência e reabilitação de pacientes com feridas crônicas ou agudas, com ostomias, incontinências (urinária ou anal), com fístulas, drenos e tubos. A Estomaterapia é uma especialidade exclusivamente da prática do enfermeiro, desde 1980 e destina-se a prevenir a perda da integridade da pele, realizar tratamento avançado de pessoas com feridas (agudas e crônicas), reabilitar as pessoas que possuem ostomias e incontinências (urinária ou anal), realizar cuidados com fístulas, cateteres, drenos e tubos. 2. ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE É o maior órgão do organismo, contígua com a mucosa nas aberturas externas. A pele divide-se em três camadas: Epiderme, Derme e Hipoderme. 2.1.Funções A pele exerce função de proteção do organismo contra o meio externo; absorção; regulação da temperatura, condução e evaporação; sensibilidade; participação na ativação de vitamina D e da resposta imunológica (células de Langerhans). 2.3.Camadas da Pele 2.3.1.Epiderme Camada mais externa do tecido epitelial. Composta, predominantemente de queratinócitos, células responsáveis pela produção de queratina, proteína insolúvel que possui a capacidade de repelir patógenos e evitar a perda hídrica excessiva pelo corpo (impermeabilizante); e melanócitos células envolvidas na produção do pigmento melanina, que dá coloração da pele e dos pelos. Constituídapor células vivas, em divisão contínua, cobertas, na sua superfície por células mortas. A epiderme é modificada em diferentes regiões do corpo. A junção da epiderme e derme é uma área de muitas ondulações e sulcos, chamada de Cristas Interpapilares, e permite a livre troca de nutrientes essenciais entre as duas camadas. 7 É substituída a cada 3 a 4 semanas, e composta por três camadas responsáveis pela renovação da pele. • Estrato Córneo – Camada de células mortas, que será eliminada. • Estrato Lúcido – Camada de células vivas, que substituirão as células do estrato córneo. • Estrato Granuloso – Camada de células germinativas, que produzirão um novo estrato lúcido. 2.3.2.Derme Constitui a maior porção da pele, fornece força e estrutura. É composta por duas camadas a Papilar e a Reticular, ambas produzem colágeno, proteína relacionada à elasticidade da pele. A derme também é composta de vasos sanguíneos, linfáticos, raízes pilosas, glândulas sudoríparas e sebáceas. 2.3.3.Hipoderme É a camada mais interna da pele. Constituída principalmente de tecido adiposo, que proporciona acolchoamento entre as camadas cutâneas, músculos e ossos. Ela promove mobilidade da pele, modela os contornos corporais e isola o corpo no aspecto térmico. 3. PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO DA PELE É um processo altamente complexo, sistêmico, caracterizado por uma série de eventos que tem por objetivo restaurar a ferida. A cicatrização de uma ferida consiste em uma perfeita e coordenada cascata de eventos celulares e moleculares, que interagem para que ocorra a repavimentação e a reconstituição do tecido. 8 3.1. Coagulação Inicia-se imediatamente após o surgimento da ferida, é depende da atividade plaquetária e da cascata de coagulação. Ocorre uma complexa liberação de produtos que ditam o desencadeamento de outras fases, essas substâncias são vasoativas, proteínas adesivas e fatores de crescimento. A formação do coágulo serve não apenas para coaptar as bordas da ferida, mas também para cruzar a fibronectina, responsável pela aderência da matriz celular, oferecendo uma matriz provisória, em que os fibroblastos, células endoteliais e queratinócitos possam ingressar na ferida. 3.2. Inflamação Depende, além de inúmeros mediadores químicos, das células inflamatórias, como os leucócitos, os macrófagos e os linfócitos. Os leucócitos chegam no momento da injúria e são responsáveis pela estimulação da fagocitose, através das Linfocinas. O macrófago é a célula inflamatória mais importante nessa fase, fagocita bactérias, desbrida corpos estranhos e direciona o desenvolvimento do tecido de granulação. Esta fase conta com o importante papel da fibronectina que é sintetizada por uma variedade de células como fibroblastos, queratinócitos e células endoteliais. Ela adere, simultaneamente à fibrina, ao colágeno e a outros tipos de células, funcionando como “cola” para consolidar o coágulo de fibrina, as células e os componentes da matriz, além de formar essa base para a matriz extracelular, tem propriedades quimiotáticas e promove a fagocitose de corpos estranhos e bactérias. 3.3. Proliferação Na reepitelização ocorre a migração dos queratinócitos não danificados das bordas da ferida e dos anexos epiteliais. Fatores de crescimento são os prováveis responsáveis pelo aumento das mitoses e hiperplasia do epitélio. O movimento dos queratinócitos migrantes é determinado também pelo conteúdo de água no leito da ferida. 9 Fibroplasia é extremamente importante na formação do tecido de granulação, que é uma coleção de elementos celulares, incluindo fibroblastos, células inflamatórias e componentes neovasculares. A formação do tecido de granulação depende do fibroblasto, que produz colágeno, elastina, fibronectina e proteases, responsáveis pelo desbridamento e remodelamento fisiológico. A angiogênese é essencial para o suprimento de oxigênio e nutrientes para a cicatrização. 3.4.Contração da Ferida É o movimento centrípeto das bordas. 3.5. Remodelamento Ocorre no colágeno e na matriz. Dura meses e é responsável pelo aumento da força de tensão e pela diminuição do tamanho da cicatriz. São eventos que permitem uma conexão que aumenta a força da cicatriz e diminui sua espessura onde há reformulação nas fibras de colágeno, melhoria nos seus componentes e reabsorção de água. A neovasculatura diminui, e tardiamente a cicatriz é considerada avascular. Uma cicatriz normal tem aproximadamente 80% da força de tensão da pele normal, não é volumosa e é plana. 4. CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DE FERIDAS Ferida pode ser conceituada como: “Qualquer ruptura da integridade de um tecido ou órgão, podendo atingir desde a epiderme, até estruturas mais profundas como fáscias, músculos, aponeuroses e órgãos cavitários.” (MENEGHIN, 2003). 4.1. Classificação das Feridas Quanto ao tempo de reparação tissular • Feridas agudas o A reparação ocorre em tempo adequado o Sem complicações • Feridas crônicas o São aquelas que não são reparadas em tempo esperado o Apresentam complicações Quanto à causa • Cirúrgica 10 • Não cirúrgica o Traumáticas o Patológicas Quanto às estruturas comprometidas • Lesão por pressão (estágios) • Úlceras diabéticas (graus) • Queimaduras (graus) Quanto os tipos de comprometimento Escoriações Atrito com superfície áspera que atingem somente a epiderme. Incisas São lineares, produzida por um instrumento afiado, bisturi, navalha e vidro, resultando um corte. Contusas Com bordas irregulares, são produzidas por forças irregulares, não rompe a pele, mas causa dano considerável aos tecidos moles, são geralmente provocadas por forças de compressão ou tensão, envolvendo objetos pouco ou não cortantes como pedras, paus e veículos. Penetrantes Caminham em direção à profundidade, com bordas que variam em forma e tamanho e têm apenas orifício de entrada. São provocadas por objetos perfurantes como projéteis de armas de fogo, punhais e ferros pontiagudos. Perfurantes Têm sempre um orifício de entrada e outro de saída. São provocadas por projéteis de armas de fogo e por armas brancas. 11 Quanto à profundidade Superficial Atinge apenas epiderme com perda parcial, limitada à epiderme e porção superior da derme. Profunda/total Existe destruição de epiderme, derme, tecido subcutâneo, podendo acometer fáscia, músculos, tendões e ossos. Quanto ao conteúdo microbiano Limpa Lesões realizadas por meio de técnica asséptica e fechadas por sutura. Limpa-contaminada Tempo inferior a 6 horas entre o trauma e o atendimento Contaminada Tempo superior a 6 horas entre o trauma e atendimento Infectada Invasão microbiana dos tecidos, sinais flogísticos e pode haver pus. Quanto ao tipo de cicatrização 1ª intenção Este tipo de cicatrização ocorre quando as bordas da ferida são apostas ou aproximadas, ha perda mínima de tecido, ausência de infecção e edema mínimo. Quando as feridas cicatrizam-se por primeira intenção, a formação de tecido de granulação não é visível. 12 2ª intenção As feridas são deixadas propositadamente abertas. A cicatrização é dependente da granulação e contração da ferida para a aproximação das bordas. O processo de reparo é mais complicado e demorado. 3ª intenção São as feridas deixadas abertas inicialmente, por apresentarem contaminação grosseira. A ferida infectada é manejada com debridamento repetidos e antibioticoterapia. Após alguns dias de tratamento local, a ferida é fechada através de sutura, enxertos cutâneos ou retalhos. Quanto à coloração (RYB) • Red o Granulação, sangramento. • Yellow o Necrose branca (esfacelo), presença de pus. • Black o Necrose,escara, chamuscada. 13 Quanto ao exsudato É o conjunto de fluido extravasado dos vasos sanguíneos, secreção proveniente de células de dentro da ferida fatores de crescimento, resíduo proveniente de células mortas e a divisão da matriz extracelular e produtos derivados de microrganismos. Seroso Baixo conteúdo proteico, origina-se do soro sanguíneo e de secreções serosas das células, está presente nas fases de reações inflamatórias. Tem aparência de cor clara, de plasma aguado. Sanguinolento Tem aspecto avermelhado, fluido, pode indicar lesão de vasos sanguíneos ou a construção de novos vasos. Serosanguinolento Tem como aspecto uma cor vermelho pálida aguada. É a mistura de seroso com sanguinolento. Pode ser descrito como padrões que ocorrem em muitas inflamações. Purulento Apresenta-se viscoso com coloração que pode variar do amarelo ao marrom. Relacionado à infecção, pode possuir odor fétido. O exsudato deve ser identificado baseado em sua aparência. Identificar as seguintes características: tipo seroso, serosanguinolento, purulento e sanguinolento; quantidade ausente, 14 mínimo, moderado e grande; cor vermelha, amarelo e esverdeado; odor ausente, leve, moderado e fétido; consistência aquosa e espessa. O transudato é uma substância altamente fluida, que passa através dos vasos com baixíssimo conteúdo de proteínas, células e derivados celulares. Quanto á Identificação do tecido no leito da ferida Necrose É a morte celular. Tecido avascular, insensível, pode apresentar odor, também denominado tecido desvitalizado, morto, inviável. Pode apresentar cor e aspecto variável. Pode ser descrito nos termos escara, necrose seca, dura, de coloração escura e firmemente aderida ao leito da lesão; ou esfacelo, necrose delgada, mucóide, macia, de coloração amarela, bronzeada ou cinza, pode estar firme ou frouxamente aderidos ao leito da lesão. Granulação É tecido conjuntivo intensamente vascularizado, apresenta-se vermelho vivo, brilhante. Reepitelização O tecido epitelial tem cor branca-rosada. 15 Quanto à Margem/Bordas da lesão • Avaliar quanto o Aderência: Plana (nivelada com leito) o Não aderida: descolamento, enrolada p/ baixo, espessa ou macia Quanto à pele peri-ferida • Cor: eritema, azulada ou pálida. • Textura: macerada, endurecida, desidratada, úmida ou com descamações. • Temperatura: quente ou fria. • Integridade 4.2. Avaliação das Feridas A avaliação das feridas está intimamente ligada à fisiologia da cicatrização. Tem como objetivo direcionar o planejamento dos cuidados de enfermagem, implementar a terapia tópica e proporcionar dados para monitorar a trajetória da cicatrização. Esta ferramenta possui dupla função avaliar e documentar de maneira sistematizada a evolução da ferida. Para a o sucesso do tratamento, é necessário saber: tipo de ferida; classificação do grau da lesão; aspecto do leito (pela cor - RYB); localização e posição; tipo de exsudato (aspecto, quantidade, cor e odor); identificação do agente etiológico; dor / desconforto do paciente; alergias e a sensibilidade da pele; tratamento prévio; dimensão (CxLxP) e a condição da pele ao redor; e estado nutricional. Avaliar o comprimento, largura, circunferência e profundidade da lesão. Para maior fidedignidade as medidas devem ser realizadas sempre pela mesma pessoa e com o paciente na mesma posição. Avaliação da localização da ferida As feridas tem maior tendência em se localizar em determinadas áreas do corpo. Parte posterior: região occipital, escapular, lombar e calcâneo; parte lateral: região ilíaca, parte media de pernas e pés; outras regiões: planta e dedos dos pés. 16 Avaliação da extensão da ferida Régua Medir em cm, o maior comprimento e a maior largura da superfície da ferida, multiplicar altura x largura = cm2. Decalque Usar placa de acetato, marcar o contorno da ferida com caneta própria, transferir o desenho para um papel centimetrado para cada cruzamento das linhas, considere 1cm2. Avaliação da profundidade da ferida É determinada por estadiamento (estágios I, II III e IV), pode ser aferida utilizando um swab ou cotonete, útil também, para determinar a profundidade de túneis e solapamentos. Outro método de mensuração da profundidade é injetar soro fisiológico, em seguida aspirar com uma seringa, o resultado se dá em cm3. Estadiamento Estágio I Caracteriza-se pelo comprometimento da epiderme apenas, com formação de eritema em pele íntegra, sem perda tecidual. Estágio II Caracteriza-se por abrasão ou úlcera, ocorre perda tecidual comprometimento da epiderme, derme ou ambas. 17 Estágio III Caracteriza-se por presença de úlcera profunda, comprometimento total da pele, necrose de tecido subcutâneo, não se estende até a fáscia muscular. Estágio IV Caracteriza-se por extensa destruição de tecido, chegando a ocorrer: lesão óssea, muscular e necrose tissular. Estágio V Caracteriza-se por ulceras que não podem ser classificadas, pois o leito da ferida está coberta por necrose, conhecidas também como lesões não classificáveis. 5. FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO Muitas variáveis tanto de ordem geral como de ordem local influenciam esse processo. É fundamental a completa e minuciosa anamnese, para a avaliação de todos os fatores que podem interferir na cicatrização. Infecção A infecção sistêmica está frequentemente associada à pirexia, que causa aumento do ritmo metabólico, fazendo com que a ferida dispute nutrientes, oxigênio e glóbulos brancos com a infecção, desta forma a cicatrização só ocorrera depois que o organismo tiver superado a infecção. Todas as feridas são contaminadas por bactérias, especialmente as abertas, isso não afeta a cicatrização, porém a infecção certamente o faz. A infecção prolonga o estágio inflamatório, inibe a capacidade dos fibroblastos de produzir colágeno, além das bactérias produzirem toxinas que “digerem” os tecidos de cicatrização, aumentando ainda mais a profundidade da ferida. Circulação e Oxigenação O bom fornecimento de sangue e suprimento adequado de oxigênio são partes essenciais da cicatrização. Circulação deficiente reduz a perfusão nos tecidos, desacelera a cicatrização e aumenta o risco de infecções. Nutrição e Hidratação Os nutrientes específicos exigidos estão resumidos da seguinte forma: Carboidratos fornecem energia para as células da cicatrização; Proteínas participam da resposta imunológica, fagocitose, 18 angiogênese, proliferação, síntese de colágeno e remodelagem da ferida; e Gorduras fazem provisão de energia e formação de novas células. Os micronutrientes desempenham papel relevante, como demonstrado na tabela. Higienização A má higiene afeta a cicatrização, aumentando o risco de contaminação da ferida e consequentemente de infecções. Privação do sono Durante o estado de vigília, o corpo se mantém num estado de catabolismo, hormônios, como catecolamina e cortisol, são liberados, e eles estimulam a degradação tecidual. O hormônio do crescimento é segregado pela hipófise anterior durante o sono, portanto a privação do sono pode tornar as pessoas irritadas, provocar prostração e perda da sensação de bem-estar. Idade É comum o aparecimento da disfunção que prejudicam o processo de cicatrização influenciando todos os estágios da cicatrização. O idoso tem o metabolismo mais lento, deficiência do sistema imune, diminuição progressiva do colágeno e diminuição da resposta inflamatória, a pele se torna seca e com baixa capacidade de reepitelização. Doenças As que alteram o fluxo sanguíneo normal podem afetar a distribuição das substâncias corpo para as células, prejudicando a capacidadedo organismo em transportar células de defesa, oxigênio, nutrientes e antibióticos até a ferida. A hipertensão, diabetes Melittus, hepatopatias, nefropatias, neoplasias e vasculopatias são doenças que podem alterar o processo de cicatrização. Micronutriente Função Vitamina C Síntese de colágeno e sistema imunológico (macrófagos e neutrófilos) Vitamina A Síntese do colágeno e glicoproteínas Vitamina E Previne a oxidação celular Complexo B Síntese do colágeno e sistema imunológico Vitamina K Coagulação Zinco Sistema imunológico e previne a oxidação celular Cálcio Importante na remodelagem da ferida Magnésio Relacionado à síntese de DNA Ferro e Cálcio Formação de eritrócitos, proliferação de colágeno e força tensil. Cobre Angiogênese Selênio Previne a oxidação 19 Fármacos Influenciam no processo cicatricial, tendo como exemplo os corticosteroides, quimioterápicos e radioterápicos. O efeito anti-inflamatório retarda e altera a cicatrização, diminui a resposta imune, interfere na síntese proteica ou divisão celular e na síntese de colágeno, aumenta a atividade da colagenase e tornam a cicatriz mais frágil. Tabagismo A nicotina é um vasoconstrictor, levando à isquemia tissular e deficiência imunológica, o monóxido de carbono diminui o transporte e o metabolismo do oxigênio. Clinicamente observa-se cicatrização mais lenta em fumantes. A localização das feridas Cicatrizam mais rapidamente as mais vascularizadas, em áreas de menor mobilidade e tensão e cicatrizam mais lentamente as em áreas menos irrigadas e áreas de maior tensão ou mobilidade. 6. SUPORTE NUTRICIONAL A estabilidade clínica e hemodinâmica do doente é fundamental para otimizar a perfusão e oxigenação tecidual, essenciais para a cicatrização. Critérios de má nutrição estão associados ao aumento da incidência e gravidade das lesões de pele. Recomenda-se dieta geral equilibrada, contemplando todos os grupos de nutrientes, com reforço da ingestão proteica, hiperproteica e aumento das calorias diária, hipercalórica. 20 7.ÚLCERAS CRÔNICAS Úlceras crônicas são frequentes em pessoas com problemas circulatórios graves e diabetes. Se a circulação não é adequada, ocorre comprometimento da irrigação da pele, promovendo hipóxia, levando a formação da ferida, além de dificultar a cicatrização, porque os medicamentos, nutrientes e oxigênio tem dificuldade para até a lesão. Esse tipo de ferida pode demorar mais de dez anos para fechar. 7.1.Lesão por Pressão Lesão localizada na pele, no tecido e estruturas subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea. Resulta de pressão isolada ou de pressão combinada com fricção, a pressão impede que o sangue circule de forma adequada, levando ao quadro de hipóxia, provocando danos aos tecidos e o desenvolvimento da lesão. O alívio da pressão é essencial para o tratamento. 7.1.1.Classificação A classificação da lesão colabora no suporte e gerenciamento, fornece dados consistentes que podem ser avaliados de forma fácil e eficaz. As lesões por pressão são classificadas de acordo com o grau de danos observados nos tecidos 21 Estágio I Uma lesão por pressão categoria I é uma área de eritema que não embranquece, com edema e congestão tecidual, a pele apresenta- se com temperatura elevada devido à vasodilatação aumentada, podendo evoluir para aparência cianótica em consequência da oclusão dos capilares cutâneos. Pode ser de difícil identificação em pacientes com a pele escura, apresentando-se com cor diferente da pele circundante. Estágio II Uma lesão por pressão categoria II apresenta-se como uma ruptura de pele que comete epiderme e derme, onde uma abrasão, flictema ou cratera rasa pode ser notada. Apresenta-se como uma lesão brilhante ou seca sem tecido desvitalizado. Pode apresentar-se como uma bolha, preenchida com exsudato seroso, intacta ou aberta. Estágio III Uma lesão por pressão categoria III estende-se para dentro dos tecidos subcutâneos ou fáscia. O tecido adiposo subcutâneo pode ser visível, mas os ossos, tendões ou músculos não estão expostos. Podem se apresentar em forma cavitária ou fistuladas, sendo que a profundidade irá variar de acordo com a posição anatômica. Na asa do nariz, nas orelhas, e nos maléolos não têm tecido subcutâneo e as lesões podem ser superficiais. Podem também se apresentarem profundas em locais com tecido adiposo abundante. Estágio IV Uma lesão por pressão categoria IV estende-se para dentro das estruturas subjacentes, incluindo o tecido muscular e 22 podendo acometer o tecido ósseo. A lesão na pele pode parecer insignificante e na verdade pode ocultar uma grande área de tecido necrótico. Essas lesões normalmente são cavitárias e fistuladas e em algumas partes do leito da ferida, podem aparecer tecido desvitalizado ou necrose, e, tanto o osso como os tendões são visíveis ou diretamente palpáveis, e possibilita a ocorrência de osteomielite. Estágio V - Úlceras que não podem ser classificadas As lesões por pressão indeterminadas podem ser classificadas entre as não graduáveis e as que apresentam suspeita de lesão nos tecidos profundos. A lesão inclassificável ou não graduável apresenta perda total da espessura dos tecidos e a base da úlcera está coberta por tecido desvitalizado, esfacelo (amarelo, marrom, cinza, esverdeado ou castanho) ou escara (marrom, castanha ou negra), este que até ser removido impede o real estadiamento da lesão. 7.2. Úlceras Vasculogênicas São causadas por insuficiência circulatória ou circulação deficiente. Constituem 70% de todas as úlceras crônicas e são divididas em três tipos principais: úlceras venosas (70%), úlceras arteriais (10%) e úlceras mistas (10-15%). 7.2.1. Úlceras Venosas Recebem também a denominação de úlcera de estase venosa e representam entre 68 a 72% do total das úlceras encontradas nos membros inferiores. É consequência da perda tecidual resultante das alterações do tecido cutâneo e subcutâneo decorrentes da hipertensão venosa e hipóxia. É a manifestação mais avançada do sofrimento tecidual. Provocada pela insuficiência venosa crônica, relacionada principalmente por incompetência do sistema venoso superficial associado ou não à incompetência do sistema venoso profundo, com insuficiências valvulares e obstrução venosa: insuficiência venosa crônica, sequelas de trombose e anomalias vasculares. 23 Os sinais da hipertensão venosa costumam estar presentes, tais como varizes, edema, lipodermatoesclerose, (pele e tecido subcutâneo espessados e endurecidos), hiperpigmentação e inflamação. A região mais acometida é região maleolar interna. . 7.2.1.1.Sintomas Dentre seus sintomas estão extremidades quentes, edema, varizes, inflamação, hiperpigmentação, dor, bordas infiltradas e presença de tecido desvitalizado. 7.2.1.2.Prevenção Dentre as manobras de prevenção podem ser citadas facilitar retorno venoso, hidratar a pele, controlar o edema, controlar a hipertensão arterial, suspender o uso de cigarro e evitar traumas. 7.2.1.3. Diagnóstico Exame clínico sistemático A dor de origem venosa melhora com elevação dos membros inferiores e piorar com o ortostatismo prolongado. Avaliar a existência de dormência, cãibras, edema vespertino e sensação de peso nas pernas. Realizar teste de Holmans e Bandeira. Exames de Imagem Através do Dúplex Scan pode-se analisar todo o sistema venoso superficial e profundo, determinar a origem do refluxo, extensão e existência de trombose venosa. É considerado padrão ouro para o diagnóstico. 24 7.2.1.4.Tratamento O tratamento das origens de uma úlcera venosa é essencial para a cicatrização. A terapia compressiva deve ser empregada para facilitar o retorno venoso.7.2.2.Úlcera Arterial Úlceras arteriais ou isquêmicas são as que se caracterizam por surgirem em consequência de déficit de aporte sanguíneo na extremidade afetada, secundária a doença arterial geralmente crônica. Compreendem de 10 a 25% das úlceras vasculares crônicas de membros inferiores e afetam mais os homens acima de 50 anos, com arteriopatia periférica. Dentre suas causas estão a desnutrição cutânea devido à insuficiência na irrigação tecidual, hipertensão, doença arterial obstrutiva, embolismo arterial, embolismo por colesterol e fistula arteriovenosa. São considerados fatores de risco, que concorrem para aumentar o seu aparecimento o diabetes e o tabagismo. Localizam-se em geral nas porções mais extremas das pernas e no dorso do pé ou dos dedos. 7.2.2.1.Sintomas Dentre seus sintomas estão extremidade fria e escura, palidez, ausência de estase, retardo no retorno da cor quando os membros são elevados, perda de pelos, diminuição ou ausência de pulso pedial e dor. 7.2.2.2.Prevenção Dentre as manobras de prevenção podem ser citadas aumentar o fluxo arterial para a extremidade, promover vasodilatação, prevenir compressão vascular e prevenir traumatismos. 7.2.2.3.Diagnóstico Exame clínico sistemático Avaliar medida da temperatura das extremidades, palpação e ausculta dos pulsos proximais e distais, medida da pressão arterial e índice pressórico. 25 Exames de Imagem Através do Dúplex Scan pode-se analisar todo o sistema vascular superficial e profundo, determinar a origem da isquemia. É considerado padrão ouro para o diagnóstico. 7.2.2.4.Tratamento O tratamento das causas de origem de uma úlcera arterial é essencial para a cicatrização e a terapia compressiva não deve ser empregada. 7.2.3. Úlceras Mistas Em alguns casos, a etiologia da úlcera não é puramente arterial ou venosa, havendo concomitância das situações na mesma pessoa. O tratamento é complexo, devido ao problema ser causado por obstrução ou doença arterial, significa que enquanto não se restaurar a circulação, dificilmente a úlcera se fechará, a prevenção sempre uma melhor alternativa. Deve-se lembrar que a terapia compressiva é contraindicada no tratamento de úlceras arteriais e mistas. 7.3. Úlcera Neurotrófica Esta úlcera é causada por neuropatia periférica, em decorrência de algumas patologias de base, tais como hanseníase e diabetes mellitus. Essas patologias acometem os nervos periféricos, possibilitam maior risco de desenvolver lesões das fibras autonômicas, sensitivas e motoras. As fibras autonômicas são responsáveis pela manutenção das glândulas sebáceas e sudoríparas, quando acometidas, acarretam diminuição da produção de suas secreções, tornando a pele seca e inelástica. As fibras sensitivas, quando acometidas, geram a perda da sensibilidade protetora ou anestesia nas mãos e pés influenciando no surgimento de lesões cutâneas. Leva ao aumento do risco de queimadura, aparecimento de bolhas e calosidades, provenientes de pressão contínua em pontos de apoio. A alteração das fibras motoras, devido à fraqueza e paralisia dos músculos, leva a deformidades e comprometendo a função e aumentando o risco de desencadear essas úlceras. 26 7.3.1. Pé Diabético O pé diabético ocorre pela ação destrutiva, oxidação vascular, do excesso de glicose no sangue, causando endurecimento das paredes dos vasos e oclusão, levando a redução da circulação sanguínea e necrose. As feridas aparecem comumente nas extremidades digitais, tornozelos e pernas, e geralmente apresentam contaminação por bactérias, que retardam a cicatrização, ocorrendo o risco de o pé ser amputado. A neuropatia periférica tende a ser bilateral e simétrica, pode ocorrer dor; parestesias; e alterações sensoriais como diminuição ou ausência da capacidade de percepção de dor, tato, temperatura, traumas sem dor. 7.3.1.1.Sintomas Dentre seus sintomas estão formação de calos ósseos, pigmentação ou manchas escurecidas em volta dos dedos dos pés, rachadura nos pés, pés frios e diminuição da sensibilidade dolorosa. 7.3.1.2.Prevenção Dentre as manobras de prevenção podem ser citadas inspecionar cuidadosamente os pés, massagear os pés com hidratante, usar sapatos adequados e macios, não usar meias compressivas, cortar as unhas em linha reta para não encravar, evitar calor, substâncias químicas e trauma nos pés. 7.3.1.3.Diagnóstico Exame clínico sistemático Avaliação vascular dos pés, presença de dor noturna e/ou do alívio durante o repouso com pendência das pernas, pés frios, empalidecimento à elevação, aparência brilhante da pele, tempo do enchimento capilar no leito ungueal, avaliar pulsos distal e proximal e perda de pelos; e avalição dos fatores de risco, tabagismo e nível de colesterol. 27 Exames de Imagem Através do Dúplex Scan pode-se analisar todo o sistema vascular superficial e profundo. É considerado padrão ouro para o diagnóstico. 7.3.1.4.Tratamento O tratamento e controle do diabetes e de suas complicações vasculares e neurológicas são essenciais para a cicatrização. A terapia compressiva não deve ser empregada. 7.3.2. Úlcera Hansênica As úlceras hansênicas ocorrem por lesão de nervos sensitivos e motores, provocadas pelo Mycobacterium leprae, M. leprae, bacilo álcool ácido resistente, que possui tropismo por nervos periféricos, levando à instalação de deformidades assim como nas úlceras diabéticas. Podem ocorrer nas formas: • Reação Reversa - Ocorre nos indivíduos com a forma Tuberculóide ou Dimorfa da hanseníase, e tendem a surgir mais precocemente, depois de iniciado o tratamento, entre o segundo e o sexto mês. • Eritema Nodoso Hansênico - Aparece na forma Virchowiana da hanseníase e algumas vezes na Dimorfa, e está associada a fatores precipitantes, como infecções, traumatismos, estresse físico ou psíquico, imunizações, gravidez, parto e diminuição da imunidade. 28 7.3.2.1.Sintomas Reação Reversa - tem aparecimento súbito de novas lesões em forma de manchas ou placas infiltradas ou por exacerbação de lesões antigas. As lesões novas podem apresentar eritema, lesões vésico-bolhosas, ulcerações e dor. Já as lesões preexistentes ficam mais sensíveis, salientes, brilhantes e quentes, lembrando erisipela, podendo evoluir para necrose, ulceração e escamação ao involuir. Acomete principalmente nas regiões ulnar e tibial Eritema Nodoso Hansênico - Ocorre infiltração no tecido subcutâneo com presença de pápulas nódulos e nodosidades (hansenomas). O primeiro promove bloqueio dos vasos sanguíneos, podendo obstruí-los parcial ou completamente, gerando isquemia e necrose. O segundo pode variar de poucos a inúmeros, de coloração rósea, que podem evoluir para necrose, acompanhados de linfonomegalia e febre. 7.3.2.2.Prevenção A identificação e o manejo dos pacientes com episódios hansênicos constituem a única forma de prevenção, individualizando os cuidados relacionados à hanseníase e suas complicações: tratar a patologia de base (hanseníase), identificar comprometimento venoso (método compressivo) ou arterial (vasodilatação), avaliação e acompanhamento de comprometimento neurológico, adaptação de calçados e evitar traumas. 7.3.2.3.Diagnóstico Exame clínico sistemático No geral: avaliar vasculatura dos membros acometidos, presença de dor noturna e/ou do alívio durante o repouso com pendência das pernas, pés frios, empalidecimento à elevação, aparência brilhante da pele, tempo do enchimento capilar no leito ungueal, avaliar pulsos distal e proximal e perda de pelos, que indicam comprometimento arterial; avaliar melhora da dor com elevação dos membros inferiores e piorar com o ortostatismo prolongado, cãibras, edema vespertino e sensação de peso nas pernas, que indicam comprometimento venoso; avaliar respostanervosa com testes de sensibilidade; e deformidades nos membros relacionados à lesão das fibras motoras. • Reação Reversa – avaliar presença de manchas ou placas infiltradas. 29 • Eritema Nodoso Hansênico - avaliar presença de infiltração com presença de pápulas nódulos e nodosidades. Exames de Imagem Através do Dúplex Scan pode-se analisar todo o sistema vascular superficial e profundo. É considerado padrão ouro para o diagnóstico das complicações vasculares associadas. 7.3.2.4.Tratamento O tratamento e controle da hanseníase e de suas complicações vasculares e neurológicas são essenciais para a cicatrização. A terapia compressiva ou vasodilatação podem ser empregadas somente após o diagnóstico de comprometimento vascular. Cada caso é um caso e cada pessoa com ferida, um universo único, em que convivem situações clínicas, nutricionais, ambientais, sociais e emocionais únicas, todas elas interagindo entre si e interferindo ativamente no resultado do tratamento e evolução da ferida. 8.COBERTURAS Curativo é o tratamento dado a uma lesão, que tem por finalidade evitar o aparecimento de infecção nas feridas assépticas, proteger contra traumatismos externos, absorver a secreção, facilitar a drenagem e aliviar a dor. O curativo promove a cicatrização estimulando o tecido de granulação São funções das coberturas manter umidade na interface ferida/cobertura; remover o excesso de exsudato; permitir a troca gasosa; promover isolamento térmico; proporcionar proteção contra infecção; ser isento de partículas e contaminantes; permitir a remoção sem causar traumas; prevenção de desidratação do tecido e da morte celular; promover angiogênese e debridamento autolítico, retendo enzimas e água que ajudam na fibrinólise; redução da dor; e manter as células viáveis permitindo que elas liberem fatores de crescimento estimule a proliferação. 8.1. Solução Fisiológica a 0,9% Ação: realiza limpeza da ferida, mantém a umidade, favorece o debridamento autolítico e formação de tecido de granulação. Indicação: limpeza e manutenção da umidade da ferida. 30 Contraindicações: não há. Aplicação: utilizado para limpeza da ferida por meio de irrigação; como cobertura, umedecer as gazes de contato o suficiente para manter o leito da ferida úmida até a próxima troca. Requer cobertura secundária (gazes estéreis). Troca: As trocas deverão ser feitas conforme a saturação das gazes e a umidade da ferida ou no máximo a cada 24 horas. 8.2. Creme de Sulfadiazina de Prata + Nitrato de Cério Ação: atua contra grande variedade de microrganismos, como bactérias Gram negativas e positivas, fungos, vírus e protozoários. Quando associada ao cério, diminui a reação inflamatória. Indicação: queimaduras e feridas com infecção. Contraindicações: presença de hipersensibilidade aos componentes e disfunção renal ou hepática. Reações adversas: raríssimos episódios de aumento da sensibilidade à luz solar. Aplicação: aplicar fina camada do creme sobre o leito da ferida. Requer cobertura secundária (gazes estéreis). Troca: as trocas deverão ser feitas conforme a saturação das gazes ou no período máximo de 24 horas. 8.3. Placa de Hidrocolóide Ação: a interação da cobertura com o exsudato da ferida forma um gel amarelado, viscoso e de odor acentuado, que minimiza as ocorrências de danos ao leito da ferida no momento da remoção, permite a difusão gasosa e evaporação de água e é impermeável a fluídos e microrganismos. Estimula a granulação e a angiogênese; absorve o excesso de exsudato, mantém a umidade e temperatura; 31 promove o debridamento autolítico; e alivia a dor por manter protegidas, úmidas e aquecidas as terminações nervosas. Indicação: feridas com baixa a moderada exsudação, com ou sem tecido necrótico e queimaduras superficiais. Contraindicação: feridas infectadas e altamente exsudativas. Aplicação: pode ser recortada, não precisa de tesoura estéril e deve ser aplicada diretamente sobre a ferida, deixando uma margem de 1 a 2 cm para perfeita aderência à pele íntegra. Troca: deve ser trocada quando ocorrer extravasamento do gel e descolamento das margens da placa, não ultrapassando 7 dias. 8.4. Alginato de Cálcio Ação: através da troca iônica promove a hemostasia, debridamento autolítico, absorve exsudato e forma um gel que mantém a umidade e promove a granulação. Indicação: feridas com ou sem infecção, com exsudação de moderado a intenso, com ou sem tecido necrótico e com ou sem sangramento. Contraindicação: feridas com pouca drenagem de exsudato. Aplicação: pode ser recortado, mas deve utilizar tesoura estéril; manusear com luvas ou pinças estéreis. Placa - deve ser recortado do tamanho certo da ferida, evitando a maceração da pele ao redor; Fita - em feridas cavitárias introduzir a fita preenchendo o espaço parcialmente, deixando fita para fora da superfície para facilitar a retirada. Requer cobertura secundária (gazes estéreis). Troca: a frequência de trocas é de acordo com a quantidade de exsudato presente na ferida podendo ser de até 7 dias. 32 8.5. Fibra de Carboximetilcelulose Ação: Forma um gel coeso, que se adapta a superfície da ferida formando meio úmido, provendo debridamento autolítico e hemostasia. Apresenta-se em forma de fita ou placa, macia e estéril. Tem capacidade de absorver de moderado a intenso exsudato e promove hemostasia. Indicação: ferida com moderada a intensa exsudação, com ou sem infecção, com ou sem sangramento, com ou sem tecido necrótico, feridas cavitárias e queimaduras de 1º e 2º grau. Contraindicação: reações alérgicas ou de sensibilidade aos componentes da cobertura. Aplicação: Placa: aplicar diretamente sobre a ferida, ultrapassando a borda da ferida em pelo menos 1 cm em toda a sua extensão. Fita: em feridas cavitárias, introduzir a fita preenchendo o espaço parcialmente, deixando fita para fora da superfície para facilitar a retirada. Requer cobertura secundária (gazes estéreis). Troca: trocar quando houver saturação da cobertura e extravasamento de exsudato, não ultrapassando 7 dias após a aplicação. 8.6. Espuma de Poliuretano com Prata Ação: a prata é dispensada no leito da ferida quando em contato com o exsudato, pode causar coloração escura no leito da ferida. Proporciona meio úmido e bactericida. Indicação: ferida com moderada a intensa exsudação; com ou sem infecção, prioritariamente com infecção; com ou sem tecido necrótico; e queimaduras de 2º ou 3º grau. Contraindicação: não deve ser utilizado em pacientes com 33 sensibilidade à prata. Aplicação: aplicar diretamente sobre a ferida com o lado liso e sem impressão para baixo, ultrapasse a borda da ferida em pelo menos 2 cm em toda a sua extensão. Troca: trocar quando houver saturação da cobertura e extravasamento do exsudato, não ultrapassando 7 dias após a aplicação. 8.7 Carvão Ativado e Prata Ação: curativo estéril que não deve ser cortado devido à liberação da prata no leito da ferida, que pode ocasionar queimadura dos tecidos e formar granuloma devido aos resíduos do carvão. Possui ação bactericida, favorece debridamento autolítico, mantém umidade e temperatura adequadas à cicatrização e elimina odores desagradáveis. Indicação: feridas com moderada a intensa exsudação, com ou sem infecção, com ou sem tecido necrótico, feridas cavitárias e feridas fétidas. Contraindicação: reações alérgicas ou sensibilidade aos componentes do produto, feridas com pouco exsudato, com presença de sangramento, exposição óssea ou tendinosa e queimaduras. Aplicação: aplicar diretamente sobre a ferida em qualquer uma das faces usando luvas ou materiais estéreis; e em feridas cavitárias unir as 4 pontas da cobertura formando “trouxa” e introduzir na ferida mantendoas pontas para fora da superfície. Requer cobertura secundária. Troca: quando houver saturação da cobertura, não ultrapassando 7 dias após aplicação. 34 8.8. Filme Transparente Ação: é impermeável a água; permite vaporização do exsudato, permeável a gás e vapor; proporciona barreira de projeção contra bactérias e agressões externas; e permite monitorar o processo de cicatrização sem ter que expor a ferida. Indicação: pacientes de alto risco para desenvolvimento de lesão por pressão ou com lesão por pressão em estágio I; e feridas de baixo exsudato, nas quais se deseja a observação e proteção, como queimaduras superficiais, sítios doadores, incisões cirúrgicas, feridas com perda tecidual superficial, fixação de cateteres. É também utilizado como cobertura secundária. Contraindicação: feridas exsudativas e com infecção. Aplicação: abrir o centro do papel de revestimento, expor a superfície do curativo, aplicar a parte central sobre o sítio da ferida, puxar as abas, não esticar o curativo ao posicioná-lo, e remover a moldura de papel. Não distender o curativo durante a aplicação devido à possibilidade de desenvolvimento de traumatismos cutâneos provocados pela tensão. Troca: permanência da cobertura é de até 7 dias, dependendo do volume de exsudato e descolamento do mesmo. 8.9. Hidrogel Amorfo Ação: mantém a umidade, auxilia o debridamento autolítico e não adere ao leito da ferida. 35 Indicação: fornecer umidade ao leito da ferida. Contraindicação; feridas excessivamente exsudativas. Aplicação: Deve ser usado sempre associado a coberturas secundárias. Troca: de acordo com a saturação da cobertura associada ou até 72 horas quando associado a coberturas secundárias. 8.10. Bota de Unna Característica: bandagem de compressão não-elástica que auxilia o retorno venoso, apresenta efeito apenas quando ocorre a contração e relaxamento dos músculos dos membros inferiores. Ação: auxiliar o retorno venoso, diminuir edema, promove proteção e favorece a cicatrização da úlcera. Indicação: úlcera venosa e edema. Recomendado apenas para pacientes que deambulam Contraindicação: úlceras arteriais e mistas, úlcera infectada, insuficiência cardíaca descompensada, sensibilidade aos componentes da pasta e pacientes que não deambulam. Aplicação: se o paciente utiliza outras coberturas, realizar o curativo antes do repouso e aplicação da bota de Unna. Em caso de ataduras secas, umedecer a atadura com a pasta para aplicar, com ataduras impregnadas, somente proceder à aplicação: manter o pé em ângulo de 90º em relação à perna para favorecer a deambulação; iniciar o enfaixamento da região distal do metatarso, incluindo o calcanhar até 3 cm abaixo do joelho; evitar dobras ou rugas na atadura durante o enfaixamento; fazer pressão suficiente para manter o enfaixamento firme, porém sem garrotear o membro; 36 aplicar gaze sobre a primeira bandagem para absorção do excesso de exsudato na região próxima a ferida; aplicar a segunda camada de atadura, observando todos os procedimentos anteriores; e terminar o enfaixamento com atadura sem pasta. Troca: a permanência dependerá da quantidade de exsudato, podendo ficar até 14 dias sendo a média de troca de 7 dias. Suspender o uso da Bota de Unna se: apresentar sinais e sintomas de infecção, intolerância ao produto e sinais e sintomas de insuficiência arterial. 8.11. Colagenase Ação: degrada o colágeno inativo da ferida Indicações: feridas com tecido desvitalizado Contraindicações: feridas com cicatrização por 1° intenção, feridas granuladas e pacientes sensíveis ao produto. Aplicação: aplicar na área a ser desbridada, evitando contato com a pele íntegra. Requer cobertura secundária. Troca: no máximo a cada 72 horas 8.12. Ácido Graxo Essencial Ação: promove angiogênese, mantém o meio úmido, acelera o processo de granulação tecidual e na pele integra hidrata. Indicação: lesões abertas, com ou sem infecção, deiscência de sutura e profilaxia de lesões por pressão. Contraindicação: não relatada Aplicação: pode ser associado com qualquer outro tipo de cobertura, em caso de feridas cavitária preencher o local com gaze embebida em AGE. Troca: a cada 24 horas. 37 8.13. Papaína Ação: Provoca dissociação das moléculas de proteína, resultando em desbridamento químico, bactericida e bacteriostático, estimula a força tensil das cicatrizes e acelera o processo de cicatrização. Indicação: tratamento de feridas abertas e debridamento de tecidos desvitalizados. Contraindicação: pele íntegra, ferida operatória fechada, na presença de tecido de granulação e contato com metais, devido ao poder de oxidação. Troca: a cada 24 horas. 8.14. Gaze de Petrolato Ação; protege a ferida, preserva o tecido de granulação e não adere. Indicação: evitar a aderência do curativo ao leito da ferida, troca sem dor e preservação do tecido. Contraindicação: feridas com secreção purulenta Troca: de 48 a 72 horas 8.15. Açúcar Ação: bactericida, bacteriostático, desbridante e estimula formação de tecido de granulação. Indicações: lesões infectadas, lesões por pressão e deiscência de sutura. Contraindicações: pode se tornar meio de cultura, atrair insetos e provocar dor. Troca: intervalo entre trocas de 4 horas. 38 Observação: há controvérsias com relação ao seu uso, pequeno intervalo entre as trocas e tempo prolongado para realizar o curativo. 8.16. Calêndula Ação: anti-inflamatória, antisséptica, bactericida, calmante e refrescante da pele. Indicações: dermatites de contato, feridas mamárias e queimaduras solares. Contraindicações: reação de hipersensibilidade Troca: diária ou conforme necessidade de manter a umidade 8.17.Malha de Acetato de Celulose Ação: evita aderência do curativo ao leito da ferida. Indicações: feridas como queimaduras de primeiro ou segundo graus, abrasões, enxertos e úlceras venosas. Contraindicações: Lesões com tecido desvitalizado ou inviável. Troca: a cada 24 horas 8.18. Solução Surfactante Ação: Solução de limpeza com ação surfactante para remoção de necroses residuais, debridamento de camadas incrustadas de fibrina, promove descontaminação da ferida, por meio da fragmentação do biofilme, respeitando o tecido de granulação e de reepitelização neoformada, tem ação sobre as bactérias através da interação; diminui o tempo de cicatrização; e auxilia na redução dos odores da ferida. Indicação: remoção de necroses e bactérias/biofilme de feridas agudas ou crônicas, de espessuras parcial ou total, infectadas ou não, com crostas, necroses ou biofilme. Contraindicação: reações alérgicas ou de sensibilidade aos componentes da solução e não deve ser utilizado no primeiro trimestre da gravidez. 39 Troca: contato com a ferida por um período de 10 a 15 minutos. 8.19. Protetor cutâneo Ação: Forma uma película protetora transparente na pele, por ser transparente permite visualização e monitoramento contínuo da pele sob risco. Estica-se com a pele, permitindo a liberdade de movimentos sem a perda da proteção. Indicação: destinado a proteção da pele contra a incontinência urinária, fecal, ostomias e de fitas e curativos adesivos. Pode ser utilizado em lesões de pele no estágio I e em lesões sem exsudação nas feridas de estágio II; previne dermatite associada à incontinência; protege a pele ao redor de fístulas; protege a pele periestomal; e previne maceração nas bordas da ferida. Contraindicação: evitar usar associado a cremes, loções ou pastas, pois podem reduzir significativamente a eficiência da película. Troca: a cada 48 a 72 horas 8.20.Pressão Negativa Ação: Expõem-se a ferida a pressão subatmosférica,valor de pressão negativa é de 125 mmHg, indicado para não ocorrer interrupção do fluxo sanguíneo, por um longo período de tempo, para promover o debridamento e a cicatrização. As feridas são cobertas pelas esponjas e envolvidas com plástico adesivo, que é firmemente fixado à pele saudável ao redor da margem da ferida; e um tubo ligado à rede de vácuo faz a sucção constante, então o líquido aspirado, através da espuma, vai para um reservatório para posterior eliminação. 40 Indicações: feridas traumáticas, deiscências de sutura, lesão por pressão, úlceras venosas e diabéticas e enxertos. Contraindicações: fístulas, tecido necrosado tipo escara, feridas neoplásicas e hemorrágicas. Troca: dois a cinco dias ou quando saturar a esponja 8.21.Hiperbárica Ação: método terapêutico no qual o paciente, no interior de uma câmara hiperbárica, é submetido a uma pressão duas ou três vezes maior, respirando oxigênio puro a 100%, o método provoca aumento da quantidade de oxigênio transportada pelo sangue em 20 vezes. Tem ação sobre infecções bacterianas e fúngicas, potencializa a cicatrização e a ação de alguns antibióticos e neutraliza substâncias tóxicas. Indicações: queimaduras térmicas e elétricas; úlceras de pele; pés diabéticos; lesão por pressão e enxertos de pele. Contraindicações: pneumotórax não tratado; uso de alguns fármacos; infecções das vias aéreas superiores; história de convulsões; enfisema pulmonar com retenção de CO2; febre alta; cirurgia torácica recente não drenada; miopia e catarata; claustrofobia; e gravidez. 9. TÉCNICA BÁSICA DE REALIZAÇÃO DE CURATIVOS Curativo é todo material colocado diretamente por sobre uma ferida, com o objetivo de evitar a contaminação de feridas limpas; facilitar a cicatrização; reduzir a infecção nas lesões contaminadas; absorver secreções; promover a hemostasia, curativos compressivos; manter o contato de medicamentos junto à ferida; e promover conforto ao paciente. 9.1.Tipos de Curativos Os curativos podem ser abertos ou fechados, Os fechados ou oclusivos são subdivididos em secos e úmidos. Os secos tem a função de proteção contra corpos estranhos, enquanto os úmidos tem a função de reduzir o processo inflamatório; limpar a pele dos exsudatos, crostas e escamas; manter a drenagem das áreas infectadas; e promover a cicatrização pela facilitação do movimento das células. 41 9.2.Limpeza Tem como objetivo favorecer o ambiente para a cicatrização, remover tecidos mortos, material estranho, transudato e exsudado inflamatório, porém uma pequena quantidade de transudato favorece a cicatrização e mantém úmida a ferida. O líquido utilizado para a limpeza da ferida deve ser suficiente para arrastar o material ”solto” e deve ser aquecido à temperatura do corpo. 9.3. Técnica de Curativo • Lavar as mãos • Explicar o procedimento ao paciente e familiares, • Reunir o material • Fechar a porta • Colocar o paciente em posição adequada • Manipular o pacote de curativo com técnica asséptica, incluindo a utilização de luvas. • Remover o curativo antigo com pinça dente de rato ou luvas de procedimento. • Fazer a limpeza da incisão com luva estéril ou pinça com gaze umedecida em soro fisiológico, de dentro para fora, sem voltar ao início da incisão. • Secar as laterais da incisão de cima para baixo. • Colocar medicamentos de cima para baixo, nunca voltando a gaze. • Retirar o excesso de medicação • Colocar cobertura secundária • Recolher o material • Lavar as mãos 9.4.Principais Erros Cometidos ao se Fazer um Curativo • Usar curativo em feridas totalmente cicatrizadas • Cobrir o curativo com excesso de esparadrapo • Trocar o curativo em excesso em feridas secas • Demorar a trocar o curativo de feridas secretantes • Esquecer-se de fazer as anotações ou não fazê-las corretamente • Não lavar as mãos entre um curativo e outro • Conversar durante o procedimento • Misturar material de um curativo e outro, em um mesmo paciente. 42 • Não fazer desinfecção do carrinho de um curativo para outro 10. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO, RESPIRATÓRIO E URINÁRIO 10.1. Anatomia e Fisiologia do Sistema Digestório É formado por um longo tubo muscular, ao onde estão associados órgãos e glândulas que participam da digestão. Apresenta as seguintes regiões: boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso e ânus. A boca é a primeira porção do tubo digestivo onde o alimento é triturado através da mastigação, misturando-se com a saliva. A faringe é um canal comum entre a respiração e deglutição, permite a passagem do alimento da boca para o esôfago. O Esôfago é um tubo muscular que comunica a faringe e o estômago, permitindo a passagem do alimento. O Estômago é a dilatação do tubo digestivo, que se inicia após o esôfago, neste órgão os alimentos, principalmente as proteínas e lipídeos tem intensa digestão. O Intestino Delgado mede cerca de 6 a 7metros, é dividido em duodeno, jejuno e íleo, neste órgão é finalizada a digestão de todos os nutrientes realizada a absorção. O Intestino Grosso mede cerca de 1,5 metros, tem como função a absorção de água, formação e eliminação das fezes. 10.2.Anatomia e Fisiologia do Sistema Respiratório O sistema respiratório é constituído por um par de pulmões e por vários órgãos que conduzem o ar para dentro e para fora das cavidades pulmonares, além de órgãos responsáveis pelas trocas gasosas. Esses órgãos são: as fossas nasais, a faringe, a laringe, a traqueia, os brônquios, os bronquíolos e os alvéolos. Ao longo de todo o sistema respiratório há estruturas responsáveis pela filtração e 43 umidificação do ar inspirado, esses mecanismos protegem os pulmões contra patógenos e contra o contato com o ar frio. A hematose, que é o processo de troca gasosa entre o sistema respiratório e o sangue, ocorre nos alvéolos, ultimo segmento do trato respiratório. 10.3. Anatomia e Fisiologia do Sistema Urinário O sistema urinário é formado por dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra. O sistema urinário compreende os órgãos responsáveis pela formação da urina, condução, armazenamento e eliminação da urina. Dentre suas funções estão a eliminação de toxinas do sangue, formação da urina e eliminação do excesso de líquidos, regulação do equilíbrio acidobásico e produção hormônio. Após a formação da urina nos néfrons, ela é conduzida pelas pirâmides renais, cálices maiores, cálices menores e pelve renal. O Ureter tem a função de conduzir a urina até a Bexiga, por sua vez a Bexiga tem como função o armazenamento da urina, tornado à micção intermitente. Já a uretra, que é o último segmento do sistema urinário, se comunica com a bexiga, através do óstio uretral interno, ao meio externo, através do óstio uretral externo. 11. OSTOMIAS Ostomia é um procedimento cirúrgico que consiste na abertura de um órgão oco como algum trecho do tubo digestivo, do aparelho respiratório ou urinário. Este orifício chama-se estoma, e sua função depende de sua localização, podem ser utilizadas para drenagem de urina, drenagem de fezes, entrada de ar e gavagem. O estoma normal é vermelho ou rosa vivo, brilhante e úmido. A pele ao seu redor deve estar lisa, sem vermelhidão, coceiras, feridas e dor. 11.1.Estomas Digestivos 11.1.1. Gastrostomia A gastrostomia é uma abertura feita cirurgicamente no estômago para o 44 meio externo, objetivando facilitar a alimentação enteral para o paciente e administração de líquidos. Indicado quando esta via alternativa necessita ser mantida por mais de um mês. Dentre as principais complicações estão peritonite, hemorragia, infecção da ostomia e irritação da pele. 11.1.2. Jejunostomia Consiste em criar uma abertura no jejuno, primeira porção do intestino delgado, objetivando alimentar o paciente. Dentre as principaiscomplicações estão a deiscência, estenose, hemorragia, diarreia, dor abdominal e irritação na pele. 11.1.3. Ileostomia Numa ileostomia, o orifício situa-se ao nível da porção final do intestino delgado, sendo suprimido o intestino grosso na sua totalidade. Tem como finalidades excreção de fezes e pela ileostomia saem fezes muito líquidas e agressivas (ácidas) para a pele. Dentre as principais complicações estão feridas na pele, irritação cutânea, diarreia e estenose do estoma. 11.1.4 Colostomia A colostomia é definida como a exteriorização do intestino grosso, através da parede abdominal (estoma), objetivando drenar gases e fezes, podendo ser temporário ou permanente. A colostomia é identificada de acordo com a porção do intestino grosso que é exteriorizada, a consistência da evacuação varia também de acordo com a localização da ostomia. São basicamente quatro tipos de colostomia: Colostomia ascendente O estoma é feito na alça ascendente do intestino grosso, no lado direito do abdômen, neste caso, as fezes apresentam consistência semilíquida. Colostomia transversa O estoma é feito no intestino grosso transverso, as fezes apresentam consistência pastosa. 45 Colostomia descendente O estoma é realizado na alça descendente, no lado esquerdo do abdômen, as fezes apresentam consistência semissólida. Colostomia sigmoide O estoma é realizado no cólon sigmoide, as fezes são firmes e sólidas. Dentre as possíveis complicações estão as irritações cutâneas; estenose temporária devido à presença de edema; inflamação que ocorre no cólon exteriorizado; infecção de pele; necrose; e constrição do coto cólico, decorrente de abertura muito estreita na parede abdominal. 11.1.5. Assistência ao Paciente com Estomas Digestivos 11.1.5.1.Cuidados com os Estomas de Drenagem Materiais: gaze ou compressa, tesoura, régua de mensuração de ostomia, sabonete, água morna e bolsa de coleta. Técnica de realização • Higienizar a pele peri-estoma com água morna • Usar sabonete para lavar a pele • Retirar o sabonete com água morna • Secar a pele suavemente • Observar o aspecto do estoma e da pele peri-estoma • Mensurar o estoma com a régua • Encaixar perfeitamente a régua no estoma • Para escolher o diâmetro, deve-se sobrepor o molde do estoma de modo que ele fique totalmente dentro do círculo 46 não ultrapassando o símbolo da tesoura • Desenhar a medida do estoma no papel ou acetato no verso • Recortar no molde marcado • Certificar-se de que o recorte está correto, encaixando a parte recortada no estoma • Retirar o filme e adaptá-la ao estoma. • Fricciona-lo levemente a adesividade • Após devidamente aderido, retirar o filme protetor • Aplicar cuidadosamente o adesivo de modo a não formar rugas • O esvaziamento e a higienização da bolsa coletora podem ser feito pela abertura inferior da bolsa drenável • A base adesiva deve ser trocada quando houver infiltração do efluente sob a resina, a resina estiver deslocando e na rotina de troca. • Retirar a base adesiva utilizando gaze ou compressa umedecida com água morna ou embaixo do chuveiro • Segurar a pele para evitar trauma na retirada na base adesiva 11.1.5.2.Cuidados com os Estomas de Gavagem Materiais: gaze ou compressa, tesoura, sabonete, água morna e esparadrapo. Técnica de realização • Lavagem das mãos • Limpeza do local da gastrostomia com soro fisiológico 0,9% • Secar bem após lavagem 47 • Na residência, poderá ser limpo o sítio da sonda com água morna e sabão neutro • Secando bem após com gaze • Limpeza sempre que houver secreção • Manter sonda fixa na pele com esparadrapo • Não tracionar • Manter sonda sempre fechada enquanto não estiver em uso • Atentar para sinais de vermelhidão, secreção purulenta e dor local • Observar a numeração da sonda • Observar extravasamento de dieta pelo óstio • Fornecer a dieta sempre com cabeceira elevada ou o paciente sentado • Oferecer a dieta em equipo com gotejamento rigoroso • Após a dieta, manter paciente sentado ou com a cabeceira elevada por pelo menos 60 minutos • Diluir bem as medicações antes de administrar • Lavar a sonda com 20 a 50 ml de água filtrada após dietas e/ou medicações 11.2.Estoma Respiratório 11.2.1.Traqueostomia A traqueostomia consiste em um procedimento cirúrgico que objetiva criar uma abertura na parede anterior da traqueia comunicando-se com o meio exterior, sendo mantido aberto com o auxílio de uma cânula. Tem como finalidade respiração quando existe alguma obstrução no trajeto natural, obstrução das vias aéreas 48 superiores e ventilação mecânica. Dentre as principais complicações estão obstrução da cânula por secreções, hemorragia, danos às cordas vocais, infecção, lesão de esôfago e prejuízo à deglutição. 11.2.2. Assistência ao Paciente com Estomas Digestivos 11.2.2.1.Cuidados com os Estoma Respiratório Materiais: gaze ou compressa, tesoura, sabonete, água morna, cadarço. Técnica de realização • Lavagem das mãos • Limpeza com sabonete neutro e água limpa • Hidratação com creme suave, sem perfume. • Utilização de um acolchoado, com duas gazes dobradas, entre a cânula e a pele do pescoço, mantendo-o sempre limpo e seco. • Uso de material macio para o cadarço e não o colocar muito apertado 11.3.Estoma Urinário 11.3.1.Cistostomia Uma cistostomia ou vesicostomia é uma abertura cirúrgica feita acima do osso púbico até a bexiga. Um tubo ou cateter urinário é introduzido na bexiga e mantido no lugar com um balão e/ou suturas. Tem a finalidade de drenagem de urina em situações como estenose de uretra, trauma de Bacia com lesão grave da uretra, cálculo impactado dentro da uretra, próstatas muito volumosas, câncer avançado da próstata e da uretra e infecções graves do pênis e saco escrotal (síndrome de Fournier) Dentre as principais complicações estão dor forte, grande quantidade de sangue na urina, diminuição do volume de urina, corrimento excessivo e malcheiroso ao redor do cateter, deslocamento 49 do cateter do local de inserção e enrubescimento, inchaço ou sensibilidade no local em que o cateter entra na pele. 11.3.2. Assistência ao Paciente com Estomas Urinário 11.3.2.1.Cuidados com os Estoma Urinário Materiais: gaze ou compressa, tesoura, sabonete, água morna e esparadrapo. Técnica de realização • Lavagem das mãos • Limpeza do local da cistostomia com soro fisiológico 0,9%, • Secar bem após lavagem • Na residência, poderá ser limpo o sítio da sonda com água morna e sabão neutro • Secando bem após com gaze • Limpeza sempre que houver secreção • Manter sonda fixa na pele, com esparadrapo • Não tracionar • Atentar para sinais de vermelhidão, secreção purulenta e dor local • Observar a numeração da sonda • Observar extravasamento de urina pelo óstio 12. CUIDADOS COM PESSOAS COM DRENOS E CATETERES Dreno é um tubo mantem a saída de líquidos de uma cavidade interior para o meio externo. A drenagem depende do local de inserção do dreno e do procedimento realizada, e o método de drenagem pode ser classificado como: • Natural - realizado através do dreno e sua exteriorização com o meio externo • Gravitacional - realizado através de coletores com sistema fechado, que devem ser disponibilizado sempre em altura inferior ao da inserção do dreno • Succional - realizado através de coletores com sistema fechado, com capacidade de sucção que devem permanecer na altura da lesão Os drenos podem ser de 3 tipos: laminar, túbulo-laminar e tubulares. Durante as evoluções do paciente é importante sempre mencionar o tipo de dreno, seu posicionamento, aspecto da secreção 50 coletada e volume, além de atentar para a diminuição da drenagem, que pode indicar a retirada