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ORATÓRIA E RETÓRICA
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Neivor Schuck
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
 Prof.ª Tathyane Lucas Simão
 Prof. Ivan Tesck
Revisão de Conteúdo: Welder Lancieri Marchini
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
 808.025
 S383o Schuck, Neivor
Oratória e retórica / Neivor Schuck. Indaial: UNIASSELVI, 
2018.
119 p. : il.
 
ISBN 978-85-69910-92-3
1.Retórica - Técnicas.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
Neivor Schuck
Doutor em Ciências da Religião pela PUC/
SP, Mestre em Ciêcias da Religião) pela PUC/
SP. Pós Graduado em Psicopedagogia pelo Centro 
Universitario São Camilo. Graduado em Filosofia 
pelo Centro Universitário São Camilo. Professor de 
Filosofia, atuando principalmente nos seguintes 
temas: ética, política, educação, língua alemã, 
pesquisa, espiritualidade, saúde e religião.
Sumário
APRESENTAÇÃO ....................................................................01
CAPÍTULO 1
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória ..................9
CAPÍTULO 2
A Retórica e a Oratória ........................................................49
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
A Arte de Argumentar ..........................................................85
Implicações da Retórica .....................................................101
APRESENTAÇÃO
Entendemos a necessidade do estudo da oratória e da retórica para os 
estudantes de teologia devido às particularidades conceituais envolvidas. Para 
podermos construir bons argumentos precisamos entender como estes são 
produzidos e expostos. E é neste momento que a disciplina de oratória e retórica 
merece ser apresentada como uma maneira fundamental de entender os conceitos 
teológicos estudados. 
Na disciplina de oratória e retórica o estudante pode desenvolver seu 
entendimento das diferentes formas de argumentar e constitui uma ideia. É no 
curso desta que o estudante poderá ampliar suas capacidades argumentativas de 
construção e explicação de um argumento. 
Neste sentido, esperamos que o estudante desenvolva essas capacidades.
CAPÍTULO 1
Introdução ao Estudo da 
Retórica e Oratória
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Compreender a concepção da retórica e sua finalidade, identificando suas 
funções e características.
� Identificar as fontes da retórica grega e a discussão com perspectiva platônica.
� Analisar as relações interpessoais e reconhecer as diferentes definições de 
retórica e oratória.
10
 Oratória e Retórica
11
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Contextualização
O contexto do estudo da oratória e da retórica no mundo contemporâneo é 
bastante amplo. Nesta disciplina queremos enfatizar a construção e exposição 
dos argumentos para que possamos transmitir uma mensagem de qualidade. 
Vejamos como se considerava a arte retórica na antiguidade. 
Havia-se deixado de lado, até aqui, um ponto importante sobre 
o escopo da arte retórica. Por vezes, a retórica foi e ainda é 
apresentada como a arte de proferir discursos eloquentes. De 
fato, muitos são os que associam uma boa retórica a um discurso 
bem elaborado, destacado por diversos recursos de linguagem, 
enfim, ornamentado. Essa definição guarda correspondência 
com os primeiros discursos dos sofistas – portanto, anteriores ao 
aparecimento do tratado de Aristóteles sobre a retórica – mas que 
atingiu destaque e refinamento com a obra de Isócrates (436-338 
a.C.), hábil e longevo retor, que se destacou pelo seu programa 
de ensino baseado nas artes humanas, predominantemente 
literárias (o Paideia). Isócrates se destacou por atacar tanto os 
que praticavam e ensinavam a dialética erística (aqueles que 
se propunham às disputas, a partir de posições antagônicas de 
mundo, objetivando chegar a uma pretensão de descoberta, 
a qual refletiria as formas particulares da leitura da natureza e/
ou que fossem capazes de chegar a uma verdade) quanto os 
sofistas, que ensinavam a arte dos discursos políticos aos nobres. 
Isócrates não acreditava que, da dialética erística, pudesse 
emergir um conhecimento diferente dos demais, ou que o simples 
fato de se arrebatar o maior número possível de seguidores fosse 
um medidor da correção de um dado conhecimento. Tampouco, 
poder-se-ia fazer qualquer juízo positivo da arte dos sofistas de 
ensinar discursos políticos mecanicamente, já que as condições 
para a descoberta da Verdade jamais teriam ali algum papel a 
desempenhar (GILL, 1994 apud VIEIRA, 2012, p. 8).
Estudar oratória e retórica pode parecer um tanto distante da realidade em 
que estamos inseridos, mas se observarmos o cotidiano, perceberemos que 
estamos permeados de argumentos retóricos, apresentando cada qual um tipo 
de oratória. A você, estudante desta disciplina, convidamos para seguir conosco 
neste caminho de descobertas. 
Conceito de Retórica e Oratória
A retórica no conhecimento humano, especificamente na 
filosofia, é uma forma de expressão de exposição de ideias utilizada 
pelos sofistas. Segundo este grupo de pensadores gregos da 
antiguidade, não existe uma verdade, o que há é apenas uma boa 
forma de argumentar ou uma forma ruim de argumentar.
12
 Oratória e Retórica
Ao iniciarmos a discussão sobre a retórica, queremos expor quais são suas 
características fundamentais e como estas características se relacionam com o 
modo com o qual nos expressamos. 
A vitalidade dos estudos retóricos até os nossos dias foi o que 
levou à organização de um curso que levantasse os principais 
problemas com que a Retórica se tem havido ao longo de 
sua história, cheia de pontos altos, mas também de crises e 
questionamentos. A bem dizer, é esta mesma dialética que está 
no bojo de sua própria natureza, que implica em controvérsia, 
discussão e, consequentemente, em influência e formação de 
opinião. De fato, a Retórica tem sido colocada à prova pelos 
mesmos princípios que a norteiam internamente e que fazem 
com que ela refloresça sempre: aceitação da mudança, o 
respeito à alteridade, a consideração da língua como lugar de 
confronto das subjetividades. Partindo-se do princípio de que a 
argumentatividade está presente em toda e qualquer atividade 
discursiva, tem-se também como básico o fato de que argumentar 
significa considerar o outro como capaz de reagir e de interagir 
diante das propostas e teses que lhe são apresentadas. Equivale, 
portanto, a conferir-lhe status e a qualificá-lo para o exercício da 
discussão e do entendimento, através do diálogo. Na verdade, 
o envolvimento não é unilateral, tendo-se uma verdadeira arena 
em que os interesses se entrechocam, quando o clima é de 
negociação, e em que prevalece o anseio de influência e de 
poder (MOSCA, 2001, p. 16).
Quando falamos do movimento sofista da filosofia grega antiga, apontamos 
para alguns autores deste período que representam muito bem a figura de um 
retórico. Nesse sentido, merece destaque o filósofo Górgias, que muito bem 
definiu o não ser. Podemos citar ainda o filósofo Protágoras de Abdera, que com 
seu pensamento defendeu o relativismo na Antiguidade.
A nossa discussão sobre a retórica e o papel da oratória na 
formulação e na exposição de argumentos passará necessariamente 
por Platão e Aristóteles. Estes dois filósofos da Antiguidade 
escreveram textos que detalham muito bem a arte retórica ou do bem 
dizer, seassim quisermos. De acordo com estes dois filósofos e com 
os sofistas, devemos estar atentos para a boa formulação retórica de 
um argumento e a boa oratória de exposição do mesmo. Na disciplina 
de Oratória e Retórica queremos lembrar a você, estudante, que a 
forma de bem dizer as palavras ou a boa formulação de um discurso 
é fundamental para que possamos entender, expor e transmitir uma 
mensagem.
Podemos observar isso na discussão da Antiguidade desenvolvida por 
Sócrates. Platão, ao expor e escrever as ideias socráticas, nos passa a mensagem 
de que Sócrates foi um homem comprometido com a moral e com a verdade. Já 
alguns sofistas, como Sófocles, apresentam Sócrates como amigo dos sofistas e 
Na disciplina de 
Oratória e Retórica 
queremos lembrar 
a você, estudante, 
que a forma de bem 
dizer as palavras ou 
a boa formulação 
de um discurso é 
fundamental para 
que possamos 
entender, expor 
e transmitir uma 
mensagem.
13
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
um retórico. Isso significa que o modo como apresentamos uma ideia ou expomos 
um pensamento produz um determinado efeito naquele que ouve. 
O surgimento da Retórica na Grécia antiga prende-se à luta 
reivindicatória de defesa de terras na Sicília, que haviam 
caído em poder de usurpadores. Esse caráter prático, aliado 
à eficácia, esteve sempre presente nas finalidades da Retórica 
e é o que modernamente a situa junto à Pragmática. De fato, 
para se decidir em que medida um discurso visa persuadir 
e como o faz, há que levar em conta as características 
fundamentais da situação em que ele se dá e as relações de 
intersubjetividade dos interlocutores. Os efeitos perseguidos 
pelos discursos persuasivos são produtos não de um simples 
ato ilocutório, como também de elementos extraídos da 
força ilocucionária da situação. Cabe ainda lembrar que o 
ato de informar não existe em estado puro e serve antes a 
convencer e persuadir do que por si próprio. Assim é que 
discursos que se têm como informativos, tais como o científico 
e o jornalístico, são o exemplo disso, uma vez que existem 
em função de determinada finalidade prática a ser atingida. 
Por esse motivo, coloca-se em questão a tradicional divisão 
das modalidades dos gêneros jornalísticos em informativos, 
interpretativos e opinativos, que, na realidade, serve apenas 
para balizar a práxis jornalística, quando não mesmo para 
despistar um leitor desavisado (MOSCA, 2001, p. 26). 
Segundo Platão, a retórica é uma técnica indispensável para quem quisesse 
governar a cidade, porque quem rege deve saber falar e dominar a exposição 
de um argumento. Essa capacidade do governante impediria a manipulação e 
o controle por outros membros do governo. Contudo, Platão coloca a retórica 
abaixo da filosofia, e no diálogo Górgias expõe que o bem falar é uma arte de 
convencimento independentemente do conteúdo, e por isso está abaixo do 
conhecimento verdadeiro e rigoroso que é o filosófico.
Podemos entender que esta discussão é muito importante para as pessoas 
que desejam lidar com o público em geral, pois há sempre uma escolha a ser 
feita quando falamos aos outros: devemos falar bem e transmitir aquilo que os 
interlocutores querem, sem se preocupar com a verdade, ou falamos bem e 
transmitimos a verdade quer agrade ou não aos interlocutores. Este dilema 
aparece toda vez que precisamos estabelecer um diálogo ou expressar uma ideia 
em público. Neste sentido, o estudante de Oratória e Retórica precisa conhecer os 
tipos, formas e métodos empregados pela retórica para formular um argumento, e 
da oratória para expor o mesmo.
Outro filósofo já citado, Aristóteles, desenvolveu uma teoria acerca do que 
seria a retórica. De acordo com ele, a retórica é uma arte empírica e cotidiana. 
Neste sentido, precisamos almejar a verdade quando nos dedicamos a um 
discurso. Neste aspecto a retórica não é pura transmissão da verdade através da 
oratória, ela envolve diferentes aspectos do ser humano, de sua personalidade e 
14
 Oratória e Retórica
ambiente. Para Aristóteles, devemos considerar a personalidade do ouvinte para 
expor um pensamento, pois se tivermos uma boa técnica, poderemos transmitir a 
mensagem que queremos com mais facilidade. 
Além disso, Aristóteles desenvolveu profundamente as características e 
a forma de refutação e confirmação de um argumento. Seguindo essa linha de 
raciocínio, podemos concluir que Aristóteles quis estabelecer uma clara finalidade 
ao empregarmos a retórica. Ela serve tanto ao indivíduo que quer discutir assuntos 
morais, quanto ao orador que quer falar de seus pensamentos na cidade. Em 
outras palavras, a retórica deve ser útil ao cidadão.
Segundo Aristóteles, devemos organizar nosso modo de pensar e se 
expressar de maneira a permitir que sejamos claros em nossas ideias. Neste 
sentido, a retórica contribui para aperfeiçoar a qualidade, e a oratória é a 
exposição de um argumento.
Aristóteles foi o primeiro a desenvolver uma organização 
detalhada desta ferramenta do saber humano. Inicialmente 
precisamos entender que todos nós fazemos uso da retórica e da 
oratória, pois são formas de nos expressarmos. Para Aristóteles, 
convencer o outro é a essência de toda discussão sobre retórica. Ao 
estabelecer formas de comportamento para o orador, modelos de 
raciocínio, tipos de premissas e a divisão desta ferramenta, o filósofo 
classifica e padroniza a retórica. A divisão apresentada por Aristóteles 
é exórdio, construção, refutação e epílogo. Em alguns momentos o 
filósofo coloca a narração após o exórdio.
Ao contrapor a dialética com a retórica, Aristóteles configurou a ela elementos 
e características que estavam dispersos.
Após a elaboração aristotélica, a retórica e a oratória foram 
desenvolvidas por diferentes grupos de pensadores. Mencionamos 
aqui os estoicos, os empíricos e a tradição romana de filósofo. 
Diógenes, filósofo estoico grego, entendia que a retórica dialética 
é parte da lógica, neste sentido, retórica significa bem falar e dialética é a arte 
de bem raciocinar. Isso significa que a retórica é a invenção de argumentos e 
desdobra-se em oratória quando expressamos esses em palavras ou discursos 
organizados a um grupo de ouvintes. Para este grupo de filósofos, a retórica 
se ocupa da forma de um argumento, enquanto que a dialética deve se ater à 
veracidade ou à falsidade de um argumento.
Retórica significa 
bem falar e dialética 
é a arte de bem 
raciocinar.
15
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
O grupo de pensadores empíricos pode ser representado pelo epicurismo, 
que entende a retórica como argumentos possíveis derivados de signos. Segundo 
este, o método utilizado é a conjetura. Dito de outro modo, a retórica é uma ciência 
que se opõe às ciências exatas, isto é, para bem falarmos e bem construirmos um 
argumento, devemos seguir regras que provêm da experiência, como o objetivo 
de considerar vários graus de probabilidade. De acordo com esses filósofos, 
devemos considerar que para bem expressarmos nossas ideias devemos tomar 
cuidado nos argumentos emotivos e, ao mesmo tempo, não cairmos no simplismo 
do cotidiano. Por exemplo, em debates com amigos geralmente usamos lágrimas 
e dramas para convencer o outro.
Entre os romanos destacamos Cícero, que entendia a retórica 
e a oratória como algo fruto de muito conhecimento filosófico, 
artístico e da ciência. Para ele, sem o saber aprofundado, a retórica 
se transforma em pura e simples maneira de verbalismo (Verborum 
volubilidas Inanes at que inridenda est (Cicero, de oratóre, I, 17).
Para ser um bom orador, devemos conhecer todos os grandes problemas 
filosóficos, científicos e artísticos. Devemos pensar com sabedoria e é nisto que a 
retórica consiste para Cícero. O sábio consegue desenvolver bem a arte retórica 
se ater-se aos grandes problemas sem negligenciar as grandes questões. Cícero 
entende que a técnica da retórica deve produzir não só belos textos ebelas 
oratórias, mas também sábios justos.
Depois de apresentarmos alguns aspectos de pensadores da retórica antiga, 
passamos agora a expor algumas características do desenvolvimento da retórica 
no período chamado de Idade Média. Neste período o Trivium, a partir do século 
IX, constituiu a fonte para estruturar as chamadas artes liberais, nesta época a 
retórica era entendida como arte do discurso. Destacamos que a constituição dos 
argumentos não era puramente literária, havia uma preocupação com todas as 
áreas de conhecimento para expor e defender os argumentos.
O desenvolvimento da retórica medieval encontrou amparo em grandes 
teólogos e filósofos. Destacamos Santo Agostinho ao recuperar a tradição 
platônica articulando as suas ideias com a de Cícero e outros retóricos romanos. 
Retomou também a tradição aristotélica da lógica para discutir os grandes 
problemas nesta área de conhecimento. 
16
 Oratória e Retórica
No movimento renascentista percebemos uma reelaboração dos problemas 
retóricos baseados na eloquência ou no bem falar, remetendo à iluminação do 
intelecto, satisfação da imaginação, desencadear as paixões e, por último, evocar 
a vontade. Este processo culminou na completa distinção entre filosofia e retórica. 
Se em Platão e Aristóteles, filosofia, oratória e retórica caminham juntas no início 
da modernidade, elas se separaram, constituindo campos de saber distintos 
dentro de um espaço geral de conhecimento.
Para explicarmos de maneira detalhada o que é retórica 
evocamos o pensador Reboul, que define o termo: retórica é “a 
arte de persuadir pelo discurso. Por discurso entendemos toda a 
produção verbal, escrita ou oral constituída por uma frase ou uma 
sequência de frases, que tenha começo e fim e apresente certa 
ordem de sentido. De fato, um discurso incoerente, feito por um 
bêbado ou por um louco, são vários discursos tomados por um só” 
(REBOUL, 2004, p. 14).
Para este autor, só podemos chamar de retóricos aqueles 
discursos que querem persuadir os ouvintes. Citamos alguns 
exemplos: “pleito advocatício, alocução, política, sermão, folheto, 
cartaz de publicidade, panfleto, fábula, petição, ensaio, tratado de 
filosofia, de teologia ou de ciências humanas. Acrescenta-se a isso 
o trama e o romance deste de que de tese e o poema satírico ou 
laudatório“ (REBOUL, 2004, p. 14).
De acordo com Reboul (2004), a retórica sempre procura persuadir 
seus interlocutores pela oratória de algo. Neste sentido, queremos 
fazer uma distinção entre convencer alguém a crer em nós e convencer 
alguém a fazer algo. Do ponto de vista estritamente retórico, queremos 
deixar claro que convencer o outro a acreditar em nós é o núcleo da 
retórica enquanto arte de persuasão. Neste aspecto, levar alguém a 
fazer algo já é um passo além. Pascal (apud Reboul, 2004) destaca que podemos 
usar elementos, como o dinheiro, para persuadir os outros de que nossa causa é 
justa, mas isso não é um convencimento retórico, pois os argumentos não foram 
contrapostos e não houve sequer uma argumentação. 
Lembremos que a técnica retórica é ambígua, pois pode representar uma 
habilidade espontânea ou uma capacidade adquirida. Se considerarmos a retórica 
espontânea como forma de convencimento dos outros, precisamos entender que 
De acordo com 
Reboul (2004), a 
retórica sempre 
procura persuadir 
seus interlocutores 
pela oratória de algo.
17
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
sem a técnica adquirida, com o tempo não conseguiremos ter êxito em nossa 
tarefa. Segundo Reboul, “o verdadeiro orador é um artista no sentido de descobrir 
argumentos mais eficazes do que se esperava, figuras de que ninguém teria ideia 
e que se mostram ajudadas; artistas cujos desempenhos não são programáveis e 
que só se fazem sentir posteriormente” (REBOUL, 2004, p. 16).
Neste sentido, a constituição de um argumento retórico e a expressão 
deste por um orador dependem da escolha que este fizer. Tudo isso implica em 
considerar a finalidade da retórica. Queremos convencer ou enganar?
Como vimos, a persuasão é a forma de convencer a todo custo 
um interlocutor utilizando os modelos de argumentos disponíveis. 
Persuadir não é a mesma coisa que enganar. Existe uma sutil 
diferença, mas que é substancial, enganar implica em usar argumentos 
falsos e persuadir é convencer utilizando os argumentos disponíveis. 
Para começarmos a responder a este questionamento, explicaremos o que 
significa a arte da persuasão. Eis, pois, a mais antiga definição de retórica que 
conhecemos, ou seja, a arte de persuadir. Neste sentido, vale lembrar que é 
importante distinguir o que é argumentação e oratória.
A competência racional dos argumentos pode ser dividida 
em duas partes: os que são componentes silogísticos e os que 
se apoiam em exemplos. Neste sentido vale lembrar que, para 
Aristóteles, a competência afetiva de um argumento é mais eficiente 
que o silogismo. Isso significa que um silogismo, encadeamento 
lógico de raciocínios, é destinado a um grupo técnico de ouvintes, 
por exemplo, um júri, enquanto que um exemplo argumentativo se 
destina ao grande público. 
Segundo Reboul (2004), no que tange à afetividade, podemos distinguir o 
caráter do ethos, em português caráter ético do orador, que procura convencer 
os interlocutores, e o pathos, em português a paixão ou compaixão gerada pelo 
discurso, cujo orador pode tirar proveito caso perceba como reage seu público. 
18
 Oratória e Retórica
Podemos entender que o modo persuasivo de um discurso se compõe de duas 
partes: o argumentativo e o oratório. Assim, quando um orador se expressa, ele 
está no modo oratório, neste sentido, metáforas e hipérboles constituem artifícios 
retóricos, e são argumentativas quando condensam um argumento. 
Hermenêutica 
Passaremos agora ao modelo hermenêutico. Quando expressamos um 
discurso, ele nunca está só, sempre está em diálogo com outros oradores, se 
antepõe a este e dialoga com os mesmos.
Para convencer um interlocutor é preciso entender o argumento do outro 
antepondo-o e persuadindo-o de modo a atingir o objetivo. Este processo só é 
possível por causa da possibilidade de interpretação que possuímos. Neste 
sentido, a arte de interpretar textos, chamada de hermenêutica, é fundamental ao 
orador que quer ser compreendido. 
Heurística
Outra característica é a heurística, que significa encontrar algo remetendo ao 
grego euro, ou eureka, ambas indicando a capacidade de descoberta do ser humano. 
Não nos referimos diretamente à ciência, falamos do ponto de vista da pergunta sobre 
qualquer assunto. Neste aspecto a heurística contribui para o confronto de ideias, na 
demonstração delas e na descoberta de coisas que não sabemos. 
Ainda merece menção a função pedagógica da retórica, que constitui um 
caminho que engloba várias áreas de saber. De acordo com Reboul (2004, p. 22):
[...] no fim do século XIX a retórica foi abolida do ensino francês 
e o próprio termo foi riscado dos programas. Todavia, como em 
geral acontece no ensino, em se apagando a palavra não se 
suprimiu a coisa. A retórica permaneceu, só que desarticulada, 
privada de sua unidade interna e de sua coerência; em todo 
caso, os professores, quase sempre sem saber, fazem retórica.
 
Assim, a função pedagógica da retórica e o estilo das construções verbais 
permaneceram, mesmo que com dificuldades. Neste sentido, entendemos 
que para bem dizer precisamos também aprender a ser, visto que aqueles que 
formulam frases equivocadas e sem sentido falam de si e de seu próprio estado 
confuso da existência.
19
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Para Que Serve a Retórica?
Você, aluno de Oratória e Retórica, pode se aprofundar no significado e na 
serventia da retórica se observar o seu cotidiano. A retórica e a oratória podem 
servir a diferentes fins. Destacamos alguns: servem para persuadir interlocutores 
em debates filosóficos, religiosos, acadêmicosou em outros ambientes sociais. 
Na filosofia costumamos entender a retórica como o modo de formular bons 
argumentos, para posteriormente, pela oratória, expô-los de modo a convencer 
a maior parte dos sujeitos que quisermos. Na religião costuma-se usar a oratória 
para desenvolver argumentos e convencer os fiéis daquelas verdades eternas 
reveladas nas escrituras.
 Assim, os religiosos utilizam a retórica com a finalidade de explicar as 
questões controversas e, consequentemente, elucidar as dificuldades dos fiéis. Já 
os acadêmicos utilizam métodos de retórica para convencer seus pares de suas 
habilidades e qualidades para conseguirem títulos, promoções e debater ideias no 
âmbito da conjetura intelectual. Destacamos ainda o uso da retórica e oratória no 
meio social, no cotidiano das nossas existências, falamos da família, do círculo de 
amigos e da convivência em nossos locais de trabalho.
Algumas pessoas pensam que argumentar é apenas expor os 
seus preconceitos de uma forma nova. É por isso que muita gente 
considera que argumentar é desagradável e inútil, confundindo 
argumentar com discutir. Dizemos por vezes que discutir é 
uma espécie de luta verbal. Contudo, argumentar não é nada 
disso. [...] «argumentar» quer dizer oferecer um conjunto de 
razões a favor de uma conclusão ou oferecer dados favoráveis 
a uma conclusão. [...] argumentar não é apenas a afirmação de 
determinado ponto de vista, nem uma discussão. Os argumentos 
são tentativas de sustentar certos pontos de vista com razões. 
Neste sentido, os argumentos não são inúteis; na verdade, são 
essenciais. Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, 
porque constituem uma forma de tentarmos descobrir quais 
os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista 
são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com 
boas razões e outras com razões menos boas. No entanto, 
não sabemos, na maioria das vezes, quais são as melhores 
conclusões. Precisamos, por isso, apresentar argumentos 
para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais 
argumentos para ver se são realmente bons. Neste sentido, 
um argumento é uma forma de investigação. Alguns filósofos 
e ativistas argumentaram, por exemplo, que criar animais só 
para produzir carne causa um sofrimento imenso aos animais 
e que, portanto, é injustificado e imoral. Será que têm razão? 
Não podemos decidir consultando os nossos preconceitos. 
Estão envolvidas muitas questões. Por exemplo; temos 
obrigações morais para com outras espécies ou o sofrimento 
humano é o único realmente mau? Podem os seres humanos 
viver realmente bem sem carne? Alguns vegetarianos vivem 
até idades muito avançadas. Será que este fato mostra que as 
dietas vegetarianas são mais saudáveis? Ou será irrelevante, 
20
 Oratória e Retórica
tendo em conta que alguns não vegetarianos também vivem 
até idades muito avançadas? (É melhor perguntarmos se há 
uma percentagem mais elevada de vegetarianos que vivem até 
idades avançadas). Terão as pessoas mais saudáveis tendência 
para se tornarem vegetarianas, ao contrário das outras? Todas 
estas questões têm de ser apreciadas cuidadosamente, e as 
respostas não são a partida óbvia (WESTON, 1996, p. 5). 
A arte retórica e a oratória são elementos do ser humano que 
bem utilizados podem produzir resultados plausíveis no que se refere 
à arguição e exposição de ideias. A finalidade da retórica e da oratória 
consiste, justamente, na tentativa do convencimento alheio para 
podermos transmitir um pensamento, uma convicção ou um projeto. Este 
método de persuasão pode ser usado com a finalidade de promover 
o desenvolvimento do ser humano em suas várias especificidades ou 
pode servir para enganar, ludibriar e prejudicar outras pessoas.
Na tentativa de suprimir os perigos do mau uso da retórica e da oratória, 
Platão e Aristóteles, cada qual ao seu modo, procuraram estabelecer critérios ou 
maneiras para evitarmos destruir a existência alheia. Platão, no diálogo Górgias, 
inquiriu o mesmo sobre a implicação moral de determinadas posturas retóricas. 
Assim, a arte da persuasão não é um vale-tudo, mas um conjunto organizado 
de regras para bem expormos as questões que queremos discutir. Aristóteles 
defendeu uma separação entre retórica e oratória para que ficasse claro qual 
estilo de argumentação o indivíduo estava praticando. Deste modo, a retórica 
serviria para desenvolvermos raciocínios claros e silogísticos sobre um assunto 
específico, enquanto que a oratória serviria para expormos poesias e formas 
literárias de estilo próprio. 
Assim, conforme aponta Platão no diálogo Górgias, devemos considerar em 
que consiste e para que serve a arte retórica. 
A finalidade da 
retórica e da oratória 
consiste, justamente, 
na tentativa do 
convencimento 
alheio para 
podermos transmitir 
um pensamento, 
uma convicção ou 
um projeto.
A QUE SE REFERE UM DISCURSO – TRECHO DE PLATÃO
Sócrates — Então, diz a respeito de quê. A que classe de coisas 
se referem os discursos de que se vale a retórica? 
Górgias — Aos negócios humanos, Sócrates, e os mais 
importantes. 
Sócrates — Mas isso, Górgias, também é ambíguo e nada 
preciso. Creio que já ouviste os comensais entoar nos banquetes 
aquela cantilena em que fazem a enumeração dos bens e dizer que 
21
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
o melhor bem é a saúde; o segundo, ser belo; e o terceiro, conforme 
se exprime o poeta da cantilena, enriquecer sem fraude. 
Górgias — Já ouvi; mas, a que vem isso? 
Sócrates — É que poderias ser assaltado agora mesmo pelos 
profissionais dessas coisas elogiadas pelo autor da cantilena, a 
saber, o médico, o pedótriba e o economista, e falasse em primeiro 
lugar o médico: Sócrates, Górgias te engana; não é sua arte que se 
ocupa com o melhor bem para os homens, porém a minha. E se eu 
lhe perguntasse: Quem és, para falares dessa maneira? Sem dúvida 
responderia que era médico. Queres dizer com isso que o produto 
de tua arte é o melhor dos bens? Como poderia, Sócrates, deixar 
de sê-lo, se se trata da saúde? Haverá maior bem para os homens 
do que a saúde? E se, depois dele, por sua vez, falasse o pedótriba: 
Muito me admiraria, também, Sócrates, se Górgias pudesse mostrar 
algum bem da sua arte maior do que eu da minha. A esse, do meu 
lado, eu perguntara: Quem és, homem, e com que te ocupas? Sou 
professor de ginástica, me diria, e minha atividade consiste em deixar 
os homens com o corpo belo e robusto. Depois do pedótriba, falaria o 
economista, quero crer, num tom depreciativo para os dois primeiros: 
Considera bem, Sócrates, se podes encontrar algum bem maior 
do que a riqueza, tanto na atividade de Górgias como na de quem 
quer que seja. Como! Decerto lhe perguntáramos: és fabricante de 
riqueza? Responderia que sim. Quem és, então? Sou economista. E 
achas que para os homens o maior bem seja a riqueza? Voltaríamos 
a falar-lhe. Como não! me responderia. No entanto, lhe diríamos, o 
nosso Górgias sustenta que a arte dele produz um bem muito mais 
importante do que a tua. É fora de dúvida que, a seguir, ele me 
perguntaria: Que espécie de bem é esse? Górgias que o diga. Ora 
bem, Górgias; imagina que tanto ele como eu te formulamos essa 
pergunta, e responde-nos em que consiste o que dizes ser para os 
homens o maior bem de que sejas o autor. 
Górgias — Que é, de fato, o maior bem, Sócrates, e a causa 
não apenas de deixar livres os homens em suas próprias pessoas, 
como também de torná-los aptos para dominar os outros em suas 
respectivas cidades. 
Sócrates — Que queres dizer com isso? 
Górgias — O fato de, por meio da palavra, poder convencer 
os juízes no tribunal, os senadores no conselho e os cidadãos nas 
22
 Oratória e Retórica
assembleias ou em toda e qualquer reunião política. Com semelhante 
poder, farás do médico teu escravo, e do pedótriba teu escravo, 
tornando-se manifesto que o tal economista não acumula riqueza 
para si próprio, mas para ti, que sabes.
Fonte: Platão(2005, p. 6-7).
A serventia do pensamento retórico e da oratória também varia conforme o 
repertório do sujeito que se dispõe a praticar tal arte. Se considerarmos um sujeito 
de aptidões variadas e qualidades profissionais e acadêmicas bem desenvolvidas, 
a arte de argumentar bem pode servir para diversos momentos da sua existência. 
Por outro lado, se considerarmos um sujeito que possui restrições intelectuais 
e profissionais, não poderemos concluir a mesma coisa. Lembremos que não 
estamos falando de condições sociais, nos referimos ao interesse profissional e 
acadêmico de cada indivíduo. 
Por isso a retórica serve a diversos fins, dependendo, como já disseram os 
filósofos relativistas gregos, do contexto em que está inserida. Conforme aponta 
Protágoras: “o homem é a medida de todas as coisas”, a retórica e a oratória 
são artes distintas que servem conforme a conveniência humana. Este modo de 
pensar é atual e está presente em nosso cotidiano porque queremos desenvolver 
nossas habilidades e não nos preocupamos com os problemas alheios. 
Não é de hoje a presença da retórica entre nós no cotidiano. 
Na Antiguidade observamos argumentações públicas, debates e 
relações costumeiras do dia a dia que envolviam argumentos ou 
explicitações.
No período chamado de Idade Média a retórica foi usada como método de 
interpretação dos textos sagrados, seguindo a tradição platônica em Agostinho, 
e aristotélica em Tomás de Aquino. A apropriação desta arte no pensamento 
medieval cedeu devido à necessidade de impor e apresentar o meio de 
interpretação dos textos sagrados, visto que a comunidade estava imersa na 
visão de mundo do catolicismo. 
23
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Ao retomarem as ideias platônicas, os exegetas do período chamado 
primeira Idade Média, até o século IX, desenvolveram métodos e sugestões de 
interpretação fundados na ideia de convencimento alheio. Configura-se neste 
período uma grande ênfase na retórica argumentativa, que quer persuadir o outro 
sobre uma verdade que está sendo transmitida. 
Já os seguidores da tradição aristotélica desenvolveram uma retórica e uma 
oratória mais sofisticadas, com diferentes gêneros e estruturas formais. Tomás 
de Aquino desenvolveu todo o seu pensamento teológico utilizando o princípio da 
refutação de provas fundado por Aristóteles, bem como seguiu a divisão proposta 
por Aristóteles. 
Percebemos neste período que a retórica e a oratória encontram-se 
submersas em meio a toda a discussão teológica e o seu desenvolvimento 
ocorreu nos debates e pregações dentro das igrejas. 
Este processo, comumente chamado de adoção da retórica pela cristandade, 
remonta ao livro da criação, pois é no livro dos Gêneses, 2,17 que Deus faz uma 
pregação: “porque no dia em que comeres do fruto proibido certamente morrerás”, 
isso significa que também o Criador utilizou de argumentos retóricos para explicar 
a sua criação para suas criaturas. Assim, a retórica e a oratória, no período 
chamado de medieval, estão embebidas por conteúdos religiosos.
Verificamos pregações por todo esse período, desde Agostinho (354-430 
d.C.) até o século XV. Esse período é claramente marcado pela eloquência, fervor 
e tentativa de persuasão que resultou na expansão do modelo de religião por 
grande parte do mundo conhecido. Podemos atribuir a retórica da predicação 
a Agostinho e organização do Trivium, grupo de textos que deve ser lido para 
entender e discutir um assunto com propriedade, como constituintes da estrutura 
da retórica. Também os seguidores de Aristóteles desencadearam classificações 
e tipificações para os estudos bíblicos. A principal mudança que esses fizeram 
foi adaptar o princípio do verossímil transformando de uma possibilidade para 
uma verdade última e dogmas. Merece destaque o teólogo Isidoro (560-636), que 
dividiu a retórica em: exórdio, narração, argumentação e, por último, conclusão. 
Esta divisão didática da retórica serve para fins de entendimento da interpretação 
dos diferentes pensadores sobre o problema da separação das partes da retórica. 
Muitos são os autores que nesta época configuraram uma retórica cristã. 
O que podemos entender é que há uma imensa variedade de soluções para 
problemas teológicos apresentados durante a chamada Idade Média. Assim, 
percebemos que a adoção de princípios platônico-aristotélicos configurou por 
volta do século XIII a retórica comumente usada nos sermões. Essa nova oratória 
servia muito bem para convencer os corações dos fiéis e lhes trazer o conforto 
24
 Oratória e Retórica
religioso. Neste período se incluíram fábulas ou pequenas histórias durante o 
sermão para que os fiéis, geralmente leigos, pudessem compreender as escrituras 
de maneira mais viva e objetiva. 
A função desta formulação retórica pode ser resumida em três partes: 1) 
ler o texto; 2) discutir o texto; e 3) fazer uma pregação. Esta divisão serve até 
nossos dias para todos aqueles que frequentarem a disciplina de Oratória e 
Retórica em uma faculdade de Teologia. Os sermões mais elaborados ocorriam 
nas universidades medievais, mas nas igrejas, especialmente nos finais de 
semana, podíamos observar pregações com organização e estrutura retórica. Um 
exemplo é o estudo bíblico, em que se pode utilizar deste método retórico para se 
aprofundar no entendimento das camadas do texto. 
Neste sentido, a retórica clássica se expandiu na chamada Idade Média e 
configurou um imenso campo de discussão que outrora estava restrito à Grécia 
ou a Roma.
A serventia da retórica se justifica por três aspectos. Veja a seguir: 
1. Transmitir uma mensagem: nesta perspectiva a retórica serve aos 
indivíduos para podermos formular argumentos que expressam nossas 
ideias de modo que os demais consigam entendê-las.
2. Persuadir os interlocutores: neste quesito a retórica praticamente 
não se modificou desde Platão, em seu diálogo Górgias é que se 
encontra esta definição.
3. Finalidade: este aspecto pode ser encontrado em Aristóteles, que com 
sua classificação entendia que um discurso deve ter um propósito, um fim, 
portanto ela serve àquilo que tivermos como fim.
A retórica em nosso meio serve a diversas finalidades, mas nem sempre 
percebemos. Quando temos uma enfermidade e consultamos um médico, temos 
que convencê-lo, através de palavras e explicações, de que sofremos de uma 
moléstia. Caso nossa moléstia não seja aparente, então fica ainda mais difícil, 
pois ele precisa acreditar nos argumentos retóricos que nós propusemos para que 
continue a consulta e nos traga uma solução para a moléstia. 
Este exemplo deixa claro como a retórica e a oratória estão presentes em 
nosso meio sem ao menos percebermos, por isso sua finalidade vai além da 
produção e configuração de discursos, argumentos e debates. 
Se considerarmos a retórica como parte do nosso meio, perceberemos a 
importância do estudo e da dedicação a tal arte do bem falar, proporcionando aos 
interlocutores, e a nós, maior qualidade e eficácia na transmissão de ideias.
A serventia da 
retórica se justifica 
por três aspectos:
1. Transmitir uma 
mensagem.
2. Persuadir os 
interlocutores.
3. Finalidade.
25
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Se retomarmos o pensamento da retórica clássica, isto é, da Antiguidade, 
notaremos que quando organizamos um raciocínio, conforme aponta Aristóteles, 
estamos organizando também nossas próprias ideias, visto que, em geral, nós 
temos ideias desarticuladas, e é pelo exercício da retórica que conseguimos 
contrapor ideias e contribuímos para o método dialético que opõe verdades. Deste 
modo, retirarmos algo provisório para montarmos nosso raciocínio. 
Sob esta ótica, precisamos entender o que são silogismos. Aristóteles 
explica que silogismos retóricos e dialéticos são os que existem em nossa 
mente sob diferentes assuntos, contudo um silogismo organizado deve passar 
pelo crivo específico da razão, do contrário serão somente ideiasdesconexas. 
Os raciocínios silogísticos, antes de qualquer coisa, devem versar sobre algum 
assunto particular, distinguindo-se lugares, espécies, gêneros e formas. Para 
entendermos isto, precisamos saber quais são os gêneros da retórica, segundo 
Aristóteles. Este assunto é um dos constituintes mais importantes da arte retórica, 
de modo que os elementos que compõem o gênero retórico são: 1) O orador; 2) 
o assunto; 3) o ouvinte. Sem estes elementos não se faz a arte retórica, portanto 
o orador deve expor o seu discurso, precisa estar atento ao seu assunto, e os 
interlocutores precisam ouvir e, por conseguinte, saber distinguir as diversas 
finalidades de um discurso.
Características da Arte de Falar Bem
 
As características para desenvolvermos uma boa retórica e uma boa oratória 
podem ser resumidas em três aspectos fundamentais: 1) conteúdo do discurso; 2) 
forma do discurso; 3) objetivo do discurso.
 
• No primeiro elemento, denominado conteúdo do discurso, o orador 
deve estar atento à formulação retórica dos argumentos. Neste sentido, o 
conteúdo deve abranger aquilo a que ele se propõe e expor sem dificuldades 
e correções ou ambiguidades.
• A segunda característica é a forma do discurso, que deve deixar claro se 
os argumentos retóricos elencados pelo orador são narrativos, metafóricos, 
parábolas ou explicações científicas, como silogismos lógicos. Isto significa 
que antes de começarmos um discurso e expor a forma que iremos usar, 
pode ser falada qual é a forma ou durante a apresentação expor esta forma.
• A terceira característica de uma boa formulação retórica é o objetivo de um 
discurso. Devemos considerar para quem falamos e o que queremos falar 
sobre um determinado assunto para conseguirmos transmitir a mensagem a 
qual nos propomos.
26
 Oratória e Retórica
Dito isso, seguimos a esteira dos passos iniciais da retórica inaugurada pelos 
sofistas na Grécia antiga para entendermos como esse discurso persuasivo pode 
nos ajudar no cotidiano. É no pensamento sofístico que encontramos esboço 
de gramática, formas de prosa, tanto ornada como erudita. Segundo esses 
filósofos, não há transmissão da possibilidade da verdade em um debate, isto é, 
completamente contrário ao ideal socrático, que sempre está em busca de uma 
verdade. 
Esses pensadores desenvolveram características que a partir do Kairós, 
tempo oportuno, possibilitaram entender que uma discussão sempre está tentando 
evitar a fuga das coisas, ela se agarra à oportunidade de uma réplica, eis que há 
elementos substanciais para formulação posterior da retórica aristotélica. 
Os sofistas constituíram o fundamento da retórica ocidental, sob a ideia da 
controvérsia entre as diferentes verdades contrapostas nas discussões. O mundo 
desses filósofos sofistas não tem realidade objetiva, muito menos verdade, para 
eles a única coisa viável é o discurso, ou seja, a retórica. Neste sentido, dizer que 
um discurso é verdadeiro ou verossímil é só um artifício retórico para calar a boca 
de alguém.
 A retórica inaugurada pelos sofistas não está abaixo do saber, seu objetivo é 
o poder; em outras palavras, os sofistas como pedagogos podem ser entendidos 
como aqueles que ensinam “a governar bem suas casas e suas cidades” 
(REBOUL, 2004, p. 10). Isso significa que o que importa é servir o poder.
Sob esta perspectiva, podemos entender que a retórica satisfez à 
necessidade técnica jurídica, bem como a prova literária à filosofia e ao ensino na 
Grécia antiga. Isócrates, pensador grego, desenvolveu uma retórica que abrange 
esses aspectos mencionados. Em sua longa vida de 99 anos, Isócrates (436-
338 a.C.) libertou a retórica da sofística grega, ele contribuiu para desenvolver 
e ampliar as características da arte retórica. Após sofrer um processo fiscal que 
lhe custou a casa, tendo ele escrito sua própria defesa, resolveu publicar o texto 
intitulado “A troca”, foi assim que aos 80 anos de idade tornou-se um grande 
professor de retórica. 
Seu método de ensino partia da reflexão dos alunos, com os quais ele 
sentava e discutia as questões, corrigindo em conjunto os problemas de seus 
discursos e argumentos. Segundo ele, não são todas as pessoas que podem 
praticar a boa oratória, deve haver algumas condições para que o sujeito possa 
desenvolver esta arte. 
Para ele, é necessário aptidão natural, prática constante e ensino sistemático 
para que se configure um bom orador. Há uma clara discordância entre ele e os 
27
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
sofistas, pois para Isócrates não se pode criar um bom orador, apenas se pode 
aperfeiçoar alguém com aptidão para tal arte. De acordo com Reboul, Isócrates 
queria um modelo de retórica “sóbria, clara, precisa, isenta de termos raros, de 
neologismos, de metáforas brilhantes, de ritmos marcados, mas sutilmente bela e 
profundamente harmoniosa” (REBOUL, 2004, p. 11). 
Isso implica em diferenciar-se da postura sofista que era submissa ao poder 
e ignorava o saber. Isócrates afirma que a retórica deve seguir uma causa honesta 
e nobre. Para ele, as pessoas são livres para bem usar os artifícios retóricos, mas 
devemos estar preocupados com a formação moral e literária dos oradores para 
que estes não caiam no acaso, logo estaremos ensinando um estilo de vida e 
um modo de governar os excessos de nossa existência. Segundo ele, o que nos 
distingue dos animais é a palavra, e essa característica deve ser usada para o 
bom desenvolvimento entre os humanos. Neste sentido, é a língua e a cultura 
humana que podem nos fazer renunciar às guerras.
A retórica é um instrumento que se bem usado propicia ao orador uma 
condição de linguagem e arguição persuasiva frente aos seus interlocutores. 
O orador pode falar de virtudes, paixões e outros assuntos com qualidade e 
precisão, caso saiba estruturar o seu discurso. 
A razão de ser da retórica, que constitui uma das suas principais características, 
é justamente o fato de ela querer convencer alguém, logo, ela aborda elementos 
que são comuns e sobre os quais pesa mais de uma possibilidade. O orador deve 
saber formular silogismos, que são raciocínios lógicos, sobre as provas empíricas 
que ele escolher. Um bom silogismo deve conter premissas plausíveis, sendo que 
não pode haver confusão entre as partes descritas.
Um bom orador estabelece as características mais prováveis para um 
acontecimento, seu raciocínio sempre considera probabilidades e não descarta 
sob nenhum aspecto as possibilidades que existem. Ele deve considerar todas as 
situações viáveis, e por eliminação e contradição, sustentar aquela que melhor se 
constituir como elemento fundamental e demonstrável.
Para entendermos como se configurou a retórica moderna, devemos 
entender como se deu o processo de assimilação durante o período medieval, 
pois este período herdou todo o modo de argumentar da Antiguidade Clássica. De 
acordo com Costa (2008):
Diretamente herdeira da Retórica clássica, a Retórica medieval 
desenvolveu seu manancial a partir basicamente de três fontes: 
a Retórica a Herênio, a Doutrina oratória (Institutio oratória, de 
Quintiliano [35-95]) e a tradição cristã (desde São Jerônimo 
[340-420] até Santo Agostinho [354-430]). 
28
 Oratória e Retórica
Um dos manuais de Retórica mais estimados na Idade Média 
foi a Retórica a Herênio (Rethorica ad Herennium), texto então 
atribuído a Cícero (106-43 a.C.), mas, na verdade, de autor 
desconhecido. Escrito no século I antes de Cristo, em meio à 
crise da República romana, o tratado não deixava de destacar as 
técnicas para se obter a docilidade e a benevolência dos ouvintes 
– como é típico dos tópicos da Retórica –, mas as fundamentava 
no conceito de justiça e, especialmente, na diferença entre o 
bem e o mal, como se depreende nessa passagem:
Convém que todo o discurso daqueles que sustentam um 
parecer tenha a utilidade como meta, de modo que o plano 
inteiro de seu discurso venha a contemplá-la. No debate político 
a utilidadedivide-se em duas partes: a segura e a honesta [...] 
A matéria honesta divide-se em reto e louvável. Reto é o que 
se faz com virtude e dever. Subdivide-se em prudência, justiça, 
coragem e modéstia. Prudência é a destreza que pode, com 
certo método, discernir o bem e o mal [...].
Esse sólido alicerce ético exposto na Retórica a Herênio tem, 
por sua vez, raiz em Aristóteles (384-322 a.C.). Em sua Retórica, 
o Estagirita sustentou as bases filosóficas da virtude, da justiça, 
do bem e da verdade como alicerces da verdadeira Retórica: 
[...] os homens têm uma inclinação natural para a verdade e a 
maior parte das vezes alcançam-na. E, por isso, ser capaz de 
discernir sobre o plausível é ser igualmente capaz de discernir 
sobre a verdade. [...] Mas a retórica é útil porque a verdade e a 
justiça são por natureza mais fortes que os seus contrários. De 
sorte que se os juízos se não fizerem como convém, a verdade e 
a justiça serão necessariamente vencidas pelos seus contrários, 
e isso é digno de censura (COSTA, 2008, p. 31).
 
Essa assimilação da retórica no período medieval permitiu que ela fosse 
adotada para o âmbito religioso. As exegeses e sermões começaram a conter 
elementos da forma grega de argumentar. Depois de algum tempo já havia 
sistemas estruturados de interpretação dos textos que permitiam análises e 
explicações detalhadas das escrituras sagradas. 
Um bom argumento deve conter raciocínios irrefutáveis, pois, do contrário, 
não chegaremos a uma conclusão viável. 
Entre as características da retórica, gostaríamos de fazer uma pequena 
distinção entre a função teológica e a função filosófica da retórica. Para a filosofia, 
a retórica deve elucidar argumentos filosóficos e o conteúdo de seus conceitos, 
permitindo ao público e ao estudante desta arte uma compreensão clara e distinta 
acerca dos problemas da filosofia. 
Na filosofia, a arte da persuasão deve servir à elucidação dos grandes 
problemas teóricos e para exposição de argumentos para formular um debate 
entre diferentes ideais. Os primeiros manuais de retórica publicados por Córax e 
Tísias, por volta do século V a.C., formularam os elementos para tais exposições. 
Já Górgias (483-380 a.C.) valorizou o significado da palavra como fundadora, 
pois para este é a palavra que comanda um exército, faz um porto ou determina 
29
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
a natureza de um Estado. Durante este período, inúmeras caracterizações 
diferenciaram a retórica, mas em geral todas concordam que uma boa retórica 
proporcionará uma possibilidade de se formar um orador. Neste sentido, 
distinguimos a característica da retórica de formular discursos da oratória que 
definimos pela arte de se expressar em público. 
Na teologia a retórica e a oratória assumiram características de eloquência 
nos sermões e nos debates teológicos. Destacamos que os principais motivos 
desta formulação remetem à tentativa de converter os infiéis e produzir uma 
interpretação bíblica.
De modo resumido, podemos dizer que os modos de persuasão ajudam os 
indivíduos em um debate para que estes possam formular pela retórica e expor 
pela oratória as suas verdades. Se na Idade Média o Trivium e o Quadrivium 
eram as constituintes da formação humana, na Modernidade percebemos uma 
pulverização destas artes e uma constante divisão que gerou uma técnica distinta 
do conteúdo da retórica. 
Os significados de Trivium e Quadrivium são, respectivamente: 
Os três caminhos que levam ao homem a eloquência: 1) gramática; 
2) retórica; 3) lógica; Quadrivium: Os quatro caminhos para a 
sabedoria do homem, que são: 1) aritmética; 2) música; 3) geometria; 
4) astronomia.
Neste sentido, se na Antiguidade e na Idade Média, retórica e oratória se 
articulavam e completavam-se formando uma área de saber, na Idade Moderna 
ocorreu o processo de tecnificação, que resultou em uma retórica específica para 
profissão. 
Embora a Retórica de Aristóteles tenha sido pouco lida, o fato é 
que a tradição grega contrária aos sofistas elevou a Retórica à 
categoria de valor. Mesmo Platão (c. 429-347 a.C.), tão avesso 
à Retórica em sua República ideal, fez Sócrates afirmar que ela, 
para deixar de ser uma adulação, deveria estar a serviço da 
filosofia da educação, como “arte de guiar a alma por meio de 
raciocínios (Fedro, 261a) para se chegar à verdade, à justiça e ao 
bem”. Assim, desde a filosofia de Platão, a verdadeira finalidade 
da Retórica não deveria ser o ato de agradar aos homens, como 
defendiam os sofistas, mas agradar a Deus (Fedro, 273e). 
30
 Oratória e Retórica
Em outras palavras, a tradição clássica grega legou aos 
romanos a noção de que a verdadeira Retórica deveria estar 
a serviço da ética, e que o verdadeiro estadista e o verdadeiro 
retórico deveriam escolher bem suas palavras e praticar suas 
ações com o intuito de infundir a justiça nas almas dos cidadãos, 
fazendo com que neles reinassem a prudência, a moderação, e, 
sobretudo, desaparecesse o destempero: todas as energias do 
Estado e do indivíduo deveriam, portanto, dedicar-se à busca 
do bem, não à satisfação dos desejos. Esses pressupostos 
estão muito presentes em Quintiliano, afamadíssimo professor 
de Retórica do primeiro século de nossa era. Ao escrever 
sua obra-prima em 95 d.C., a Doutrina oratória, este romano-
espanhol de Calahorra não teve qualquer receio em seguir a 
tradição de Catão (234-149 a.C.) e definir, em seu Livro XII, 
o orador ideal como um homem perito na arte do bem dizer, 
mas, sobretudo, um homem bom (“vir bonus, dicendi peritus”), 
particularmente por seus costumes. Todo esse manancial ético 
clássico que norteou a Retórica foi generosamente sorvido 
pela tradição cristã, especialmente através de São Jerônimo 
(c. 340-420) e Santo Agostinho (354-430), que a retransmitiram 
aos medievais (Jerônimo através de suas cartas e Agostinho 
em suas Confissões). Isidoro de Sevilha (560-636), por fim, 
fortaleceu a ponte entre os dois mundos, e dedicou um livro de 
suas Etimologias (Livro II) à Retórica e à Dialética. Nele, o bispo 
realizou uma importante compilação de excertos e circunscreveu 
a Retórica ao discurso forense, sem, contudo, abandonar seu 
cariz ético: “Retórica é a ciência do bem dizer nos assuntos 
civis, com a eloquência própria para persuadir o justo e o bom”. 
Sua obra foi muito difundida e consultada ao longo de toda a 
Idade Média. A partir de então, o estudo da Retórica ficou 
restrito ao universo monástico, ou seja, tanto educandos quanto 
educadores, salvo raríssimas exceções, não a colocavam em 
prática. Isso só ocorreria a partir do século XI, quando a Retórica 
passou a ser utilizada na composição de cartas e documentos, e 
tornou-se uma epistolografia: era o nascimento da ars dictaminis 
(ou dictandi). E foi dessa época a defesa acadêmica da Retórica 
feita por Gilberto de la Porrée e João de Salisbury contra os 
cornificianos (COSTA, 2008, p. 32).
Essa fragmentação da retórica após o século XVII (Idade Moderna), 
conforme aponta Reboul (2004), Introdução à Retórica, praticamente fez 
desaparecer do meio acadêmico a disciplina de Retórica. Depois da metade do 
século XX a retórica se recuperou gradativamente, mas o processo começou pelo 
âmbito do marketing. Aos poucos, e de fora para dentro, o debate sobre a retórica 
recomeçou, e em nossos dias já temos algumas instituições de Ensino Superior 
que retomaram essa disciplina, contudo no ensino básico simplesmente se ignora 
o papel da retórica e da oratória.
Retórica e Oratória em Nosso Meio
Passamos agora a discutir um pouco o problema da retórica em nosso 
meio para entendermos que ela não é uma coisa distante e sem sentido, que foi 
esquecida por ser sem utilidade. Para Duran (2009, p. 9):
31
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Três autores estiveram diretamente empenhados no estudo 
da retórica e da eloquência no Brasil do século XIX: Roberto 
de Oliveira Brandão, com seus estudos sobre os manuaisde 
retórica e poética brasileiros do século XIX (1972), Roberto 
Acízelo de Souza, com o livro O Império da Eloquência: Retórica 
e Poética no Brasil Oitocentista (1999), e Eduardo Vieira 
Martins, com a Fonte subterrânea (2005). Roberto de Oliveira 
Brandão selecionou os manuais e compêndios de retórica e 
poética, publicados ao longo do século XIX, como seus objetos 
de estudo. Sua preocupação foi definir qual estrutura textual se 
oferecia nesses livros para a literatura nacional. Em trabalhos 
posteriores, como no texto Os manuais de retórica brasileiros 
do século XIX (1988), o autor apresentou avanços acerca dessa 
temática, abordando a função e a permanência da retórica e da 
eloquência na educação nacional. Roberto Acízelo de Souza, 
por sua vez, estudou a retórica e a poética por meio dos planos 
de ensino da segunda metade do século XIX no Colégio Pedro 
II. Souza esforçou-se ainda por comprovar a continuidade do 
uso da disciplina no cotidiano do carioca letrado, tendo em vista 
algumas orações da época e as práticas educativas de então. 
Eduardo Vieira Martins delimitou seus estudos à mudança 
estrutural da disciplina que, em meados de 1830, deixou de ter 
as obras de Quintiliano ou Cicero como referência e passou a 
ser balizada pelas regras forjadas por Hugh Blair. A permanência 
da retórica e da eloquência na cultura brasileira também foi 
abordada nesta pesquisa, a partir das obras de Francisco Freire 
de Carvalho e José de Alencar. Em seus trabalhos, esses três 
autores referiram-se à segunda metade do século XIX, quando 
a disciplina já possuía certa uniformidade. Entre suas fontes 
se pode encontrar manuais, compêndios, planos de ensino, 
registros de aulas, decisões e ordens do Estado brasileiro, fontes 
que lhes serviram como referência para localizar a contribuição 
que a retórica e a eloquência forneceram à educação. Quanto 
à formação de um discurso brasileiro, senão de uma literatura 
nacional, um deles recorreu a um literato da época, José de 
Alencar, enquanto os demais mantiveram-se atentos à produção 
de uma literatura didática ou pedagógica. Excetuando a distinção 
de gênero, pode-se afirmar que ambas possuíam uma unidade 
prescritiva de caráter edificante.
 
Neste aspecto, pensar a retórica em nossas terras é importante para 
sabermos como o processo de esquecimento da disciplina no meio acadêmico 
se manifestou, ficando à literatura o papel de preservar sua existência de modo 
a garantir uma continuidade da arte de falar em nosso meio. Em alguns lugares 
do país foram os jornais e os folhetos que preservaram esta arte de construir e 
defender argumentos. 
A longevidade da retórica e da eloquência na cultura local foi 
garantida por meio dos periódicos cariocas que, a partir de 
1822, tornaram-se cada vez mais numerosos e empenhados em 
“arrogar no coração do povo aquele bem entendido e luminoso 
entusiasmo, aquela zelosa energia, que constituem verdadeiro 
mérito moral e político e acrisola decidido patriotismo” (JORNAL 
SCIENTÍFICO, ECONOMICO E LITERÁRIO, 1826, NÚMERO 
1: MAIO, p. 81). Regrada pela retórica, a comunicação dos 
cariocas do primeiro quartel do século XIX modelou uma 
32
 Oratória e Retórica
eloquência que gradativamente ganhou ares de naturalidade e 
forneceu todo um universo vocabular, formal e temático para a 
invenção de uma literatura nacional e, paralelamente, de uma 
identidade brasileira (DURAN, 2009, p. 9).
Os jesuítas contribuíram de modo muito importante sobre a preservação 
e difusão da arte retórica, sobretudo no meio religioso. Seus textos exegéticos 
foram fundamentais para que as vertentes de retórica e oratória se espalhassem 
no meio literário brasileiro.
Foi publicado, em 23 de dezembro de 1770, o Compêndio 
histórico do Estado da Universidade de Coimbra no tempo da 
Invasão dos denominados jesuítas, no Palácio Nossa Senhora 
da Ajuda, em Lisboa. O opúsculo dava notícia de aspectos do 
método de ensino dos jesuítas durante o século XVIII nos cursos 
de Teologia, Cânones, Leis e Medicina da Universidade de 
Coimbra, apresentando as matérias conforme a sucessão das 
aulas durante a semana. Prima, Terça e Véspera eram aulas 
permanentes que aconteciam, respectivamente, às segundas, 
terças e quartas-feiras, certamente muito importantes, a julgar 
pelo maior honorário pago aos mestres. As quintas-feiras 
eram livres, como na França, e os domingos, reservados para 
o descanso e a missa. Um dia por semana servia para que o 
aluno estudasse por si mesmo os temas nos quais encontrasse 
dificuldades, geralmente as sextas-feiras, quando se realizava 
a Noa. Nas Catedrilhas, Institutas ou Avicena, que se seguiam 
irregularmente durante a semana, realizava-se a revisão dos 
temas já estudados ou a leitura dos textos das próximas aulas 
de Prima, Terça ou Véspera. Dedicadas a rememorar os temas 
já discutidos, tanto a Noa quanto as Catedrilhas eram aulas de 
passar a matéria, e o mestre dessas disciplinas ficou conhecido 
como passante. O passante era, na maioria dos casos, um aluno 
que se destacava dos demais por seu brilhantismo e eficiência, 
ou, ainda, um jovem recém-formado com as mesmas qualidades. 
Além do passante, havia o lente, um tipo de mestre responsável 
pela leitura dos livros do curso realizada nas aulas de Véspera, 
antecedendo a explicação do mestre titular da cadeira nas aulas 
de Prima e Terça. A relevância dos lentes e passantes estava 
no estabelecimento de um exercício contínuo de memorização 
da matéria, pois a intenção era que os estudantes chegassem 
a decorar os textos de maior importância, fato que, num mundo 
de poucos impressos, era um traço distintivo de inteligência. 
Em todas as matérias o estudo era guiado por uma obra de 
referência, impreterivelmente em latim. A predominância do 
latim justificava-se porque os textos escritos ou traduzidos nessa 
língua eram considerados os mais importantes e aprofundados. 
Soma-se a isso a crença de que o estudo da obra original, das 
ideias tais como foram escritas pelo seu primeiro autor, tinha 
maior mérito, por constituírem um conhecimento puro, capaz de 
sustentar um saber genuíno (DURAN, 2009, p. 15).
 
Além desse caráter de decorar um assunto, o ensinamento de um argumento 
possibilita aos indivíduos uma capacidade de memorização que os distingue dos 
demais, visto que há poucos textos escritos nessa época e a eloquência com que se 
elencava um argumento fazia toda a diferença quando se queria convencer alguém. 
33
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Segundo Duran (2009), para alguns pensadores do final do século XVIII não 
era mais possível seguir sem a disciplina de retórica em nossos bancos escolares, 
e propuseram uma reforma no sistema de ensino para permitir aos estudantes 
uma maior polidez e qualidade em suas ideias.
No sistema criado por Verney, as matérias História, Geografia 
e Gramática deveriam ser acompanhadas da Retórica, depois 
disso, Grego e mais História deveriam ser as matérias dos 
anos subsequentes. A Retórica alinhavava esses saberes, 
disponibilizando diversos tipos de discurso com os quais 
poder-se-iam expressar opiniões acerca das matérias 
estudadas. [O mestre de Retórica] Logo mandará compor 
alguma coisa em Português, começando por assuntos breves 
nos três gêneros de Eloquência. Começará, primeiro, pelas 
cartas portuguesas, dando somente aos rapazes o argumento 
delas, e emendando-lhe ao depois os defeitos que pode fazer 
contra a sua própria língua e contra a Gramática. E por esta 
razão é supérfluo neste ano ler mais autores portugueses, 
porque esta composição é o melhor estudo que se pode fazer 
da língua portuguesa. Depois, passará ao estilo histórico, e 
tirará algum argumento da mesma História que se explica pela 
manhã, para que os estudantes a dilatem, escrevendo o dito 
caso mui circunstanciado, e variando isto segundo o arbítrio 
do Mestre, ou também a descrição de um lugar e de uma 
pessoa, ou coisa semelhante. Em terceiro, lugar, segue-se dar-
lhe algumargumento declamatório, mas breve. Para facilitar 
isto, o melhor meio é este: Quando o mestre propõe algum 
argumento que se deve provar, perguntará ao rapaz que razões 
ele dá sobre aquele ponto. Ouça as que ele dá, e ajude-o a 
produzi-las, pois desta sorte acostuma-se a responder de 
repente e escrever com facilidade (VERNEY, 1952, p. 63). 
Para Verney, o exercício repetido da comunicação era propício 
para incrementar a agilidade e autonomia do pensamento do 
discípulo. Esse, agora, não era mais um escolhido entre os 
iniciados e sua fala não se destinava somente aos grandes, 
nem deveria seguir os padrões de apenas um único modelo; 
por isso, estudariam os discursos deliberativo, demonstrativo 
e judicial, e [...] quando o estudante tiver bastante notícia dos 
três gêneros de Eloquência, em tal caso pode empregar-se em 
compor Latim, e isto pelo mesmo método que o fez em Vulgar. 
Nesta composição latina, não terá dificuldade alguma, visto ter 
vencido todas na composição portuguesa; somente lhe faltarão 
as palavras latinas e frases particulares da língua, ao que deve 
acudir e suprir o Mestre, emendando-as ou sugerindo-as. 
Encomende também aos rapazes que leiam muito as orações 
de Cícero; não digo as Verrinas, que são enfadonhas e só se 
podem ler salteadas, mas as outras mais fáceis e breves, das 
quais com facilidade se passa para as outras. E esta classe é 
necessário que frequentem todos os que estudam Latinidade; 
porque, sem ela, nenhum pode entender e escrever bem 
Latim; e com ela pode saber muita coisa útil para todos os 
exercícios da vida, e, principalmente, para toda a sorte de 
estudos (VERNEY, 1952 apud DURAN, 2009, p. 15). 
O retorno da retórica aos âmbitos escolares como disciplina parece 
fundamental para que os indivíduos pudessem se expressar sem as amarras 
da linguagem embotada em elementos físicos e materiais. Com a retomada 
34
 Oratória e Retórica
da retórica temos também o retorno de figuras de linguagem, comparações e 
estruturas mais rebuscadas. 
Platão e Aristóteles
Segundo Platão, a retórica se caracteriza pela capacidade de persuasão dos 
interlocutores, essa capacidade nos traz a atualidade do diálogo em Górgias de 
Platão acerca de uma educação retórica. Embora estejamos enfeitiçados pela 
tecnologia, quando encontramos alguém que sabe se expressar muito bem, 
percebemos quão importante é saber falar e organizar as ideias. 
No diálogo Górgias, Calicles e Sócrates iniciam a discussão 
sobre alguns conceitos antigos sobre a guerra, e ao incorporarem 
Querefonte na discussão, Calicles propõe ouvirmos o que Górgias 
pensa sobre o ato de dialogar. Neste sentido, Sócrates apresenta o 
problema do que seria esta arte de argumentar, convidando todos ali 
presentes a perguntar algo e a se manifestar. Górgias se dispõe a 
responder todas as perguntas, gabando-se de que ninguém havia o 
pego desprevenido.
Em determinado momento do diálogo, Sócrates inquire Górgias para que 
este explique de que se trata sua arte e quais as consequências desta, pois 
para Sócrates existe uma diferença entre oratória e diálogo, sendo a oratória 
instrumento dos falaciosos. Segundo Górgias, “me prezo de ser” um bom orador 
(PLATÃO, 1970, p. 52). Ao se considerar como tal, Górgias assume que é 
capaz de formar bons oradores em qualquer parte do mundo. Na sequência do 
diálogo, Sócrates pede para que Górgias exponha sua arte de maneira clara e 
concisa. Górgias concorda em expor esta oratória de que tanto se fala e compara 
concordando com Sócrates, com a tecelagem e a música.
 Ao responder a Sócrates, Górgias afirma que sua arte consiste em organizar e 
dispor palavras de modo a formular belos discursos e a distingue das demais artes, 
por exemplo, a medicina, pois a oratória não trata de todas as palavras. Segundo 
Górgias, seguindo Sócrates a oratória capacita as pessoas e as torna capaz de falar 
bem. E aparece assim a primeira contradição de Górgias, que dissera há pouco, no 
diálogo com Sócrates, que a oratória não tem nada a ver com a medicina, mas agora, 
quando Sócrates reformula a questão, Górgias concorda que a medicina reflete sobre 
35
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
as doenças e, por conseguinte, usa a palavra. Ao falarmos de moléstias, segundo 
Sócrates, utilizamos palavras, também faz uso de palavras a ginástica que se refere 
ao corpo, logo concluímos que, seguindo o raciocínio socrático, todas as demais artes 
utilizam palavras para se expressar, e surge a principal questão até o momento: “por 
que não dar o nome de oratória às demais artes?” (PLATÃO, 1970, p. 54). A resposta 
de Górgias é que as demais artes trabalham com as mãos, enquanto a oratória é 
a arte da palavra, isto é, “sua atividade e operação se realizam todas por meio de 
palavras” (PLATÃO, 1970, p. 54).
Na sequência do diálogo a discussão se encaminha para artes que usam 
as palavras, sendo que a oratória não abarca estas atividades. Neste sentido 
podemos ainda falar da geometria e da aritmética, que usam termos, palavras 
e sinais na escrita, mas em nenhum momento se expressam, sendo que a estas 
também não chamamos de oratória, logo, a oratória é a mais importante das 
atividades e que opera por meio de palavras.
Devemos questionar agora se a oratória possui realmente este poder de 
persuasão defendido por Platão na obra que estamos utilizando para aplicar o 
debate. Para Górgias, a palavra é uma das formas que pode congregar cidadãos 
e colocar todos os demais que não dominam esta arte sob seus pés. É a arte 
retórica, do uso das palavras, que pode convencer as massas. “Com ênfase 
exalta Górgias a sua arte! Na apologia, Sócrates conta como saíra a interrogar 
os homens que passavam por sábios: políticos, poetas, artífices; cada qual por 
entender bem de sua especialidade se imaginava sapientíssimo nos demais 
domínios” (PLATÃO, 1970, p. 59). Aqui a palavra massa não tem nenhuma 
referência moderna. É uma referência à assembleia grega. 
Neste sentido, a retórica é um modo de persuasão que cria convicções nos 
interlocutores. Queremos saber agora em que consiste esta arte da persuasão. 
A persuasão, que é uma consequência da oratória, é o convencimento por meio 
de bons argumentos retóricos e o bom uso da oratória. No diálogo, Sócrates quer 
saber como distinguir um bom pintor de um pintor ruim, e mais, se a arte pode 
produzir uma persuasão parecida ou igual à da retórica. Antes de continuar esta 
reflexão sobre a persuasão, precisamos explicar que existe uma diferença entre 
persuasão didática e persuasão patética. A didática se refere ao convencimento 
do intelecto, enquanto a patética indica um convencimento mediante as emoções. 
Seguindo a linha de raciocínio de Sócrates no diálogo com Górgias, 
entendemos que outras artes também produzem o convencimento, cabe agora 
sabermos que tipo de convencimento a retórica produz. Para responder a isso, 
Górgias diz que a persuasão produzida pela oratória é aquela que se refere ao 
justo e ao injusto.
Percebemos que a oratória referida por Górgias é aquela jurídica e que está 
restrita aos tribunais. Sócrates distingue dois tipos de persuasão: 1) a crença sem 
36
 Oratória e Retórica
o saber; e 2) a ciência, logo conclui-se que o orador fala da crença e não da 
ciência, visto que no tribunal ele não expõe o que é justo e injusto, simplesmente 
quer convencer os interlocutores. 
Neste sentido devemos indagar, assim como Sócrates indagou Górgias: 
que proveito há em estudar esta arte retórica? A resposta a esta pergunta é a 
seguinte: quando queremos uma resposta e desejamos a cura de um paciente, 
procuramos um profissional médico, quando queremos falar bem, procuramos 
um especialista em oratória. Assim, quem aprende uma habilidade como esta, ou 
seja, a arte retórica, está habilitado a discutir com qualquer pessoa, pois domina 
os conceitos. Deste modo, cabe ao sujeito que aprendeu esta arte fazer uso dela 
para o bem da polis. 
Até agora a exposição da arte retóricae o modelo de oratória em Platão 
situaram o problema da qualidade e da objetividade de um discurso, de modo 
a permitir que o estudante entenda a retórica como uma forma de construção 
de argumentos e a retórica como um modo de persuasão dos interlocutores. O 
diálogo platônico Górgias trouxe a discussão para o patamar da escolha individual 
de cada indivíduo, assim, é o sujeito quem escolhe entre falar a verdade ou 
convencer a todo custo.
Seguindo o diálogo platônico, Sócrates retoma a questão que propusera 
acerca da capacidade de se fazer um orador. Nesta perspectiva, Górgias 
concorda em retomar o problema e reconsiderar sua posição. O diálogo se inclina 
agora para a discussão da capacidade das demais artes de debater um tema 
com a mesma eloquência de um orador. Neste aspecto, Sócrates pede a Górgias 
que exponha mais detalhadamente o que vem a ser a oratória. Górgias concorda 
seguindo em tudo o que Sócrates diz a respeito do conhecimento de um orador. 
Concluindo este raciocínio, Sócrates e Górgias concordam que a oratória é um 
tipo de arte injusta.
No pensamento platônico, o debate acerca da retórica e da 
oratória remete ao diálogo Górgias apontando na direção estética 
e literária. “Nascido por volta do ano 485 a.C., Górgias viveu 109 
anos, sobrevivendo, pois, a Sócrates. Também siciliano e discípulo 
de Empédocles, em 427 a.C. foi para Atenas numa embaixada, 
diz-se que ali sua eloquência encantou os atenienses a tal ponto 
que ele teve de prometer-lhes que voltaria” (REBOUL, 2004, p. 4). 
Percebemos aqui como a arte retórica ganhou força a partir dos 
textos e argumentações neste período citado. Até então, na Grécia, 
literatura e poesia eram consideradas idênticas. Por sua vez, a prosa 
procurava organizar e transcrever a linguagem oral.
37
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Górgias criou o discurso epidictieo, que significa um elogio público, também 
desenvolveu uma prosa eloquente que, com suas rimas, metáforas e perífrases, 
formula um modelo que captura os espectadores. Citamos um exemplo de tamanha 
eloquência: o Elogio de Helena, que era uma mulher perfeita, bela, esposa de 
Menelau, que permitiu ser capturada por Páris, lançando os gregos em uma guerra 
de uma década. Górgias expõe a beleza de Helena em um discurso proferido ao 
público na época da guerra, no texto Górgias dá as justificativas pelas quais Helena 
permitiu ser raptada. Dentre elas, destacamos algumas: foi um decreto dos deuses, 
ou foi o destino; teria ela sido levada à força? Ou convencida por belas palavras? E, 
ainda, o desejo a teria dominado a ponto de se juntar aos troianos?
Para Górgias, Helena foi convencida pela arguição de um belo discurso, e 
como tal não é culpada. Górgias defende Helena como pretexto para defender 
a retórica. “O discurso é um tirano poderosíssimo; esse elemento de pequenez 
extrema e totalmente invisível alça à plenitude as obras divinas: porque a palavra 
pode pôr fim ao medo, disse para a tristeza estimular a alegria, aumentar a 
piedade (GÓRGIAS apud REBOUL, 2004, p. 5). 
Para Górgias, Helena é inocente, pois ela não pode ter decidido livremente 
juntar-se aos troianos, logo, para Górgias, a argumentação sofística de que um 
ato involuntário não implica em culpa. Assim, a arte retórica expressa na oratória 
de Górgias passou a ser chamada de sofista. 
Eis aí um dos momentos marcantes da retórica antiga, pois surge a figura 
do professor que viaja de cidade em cidade vendendo sua eloquência e sua 
arte de convencimento. Inaugura-se neste período um modo de educação 
intelectual profundo que não tem a ver com uma profissão ou religião, pois era o 
conhecimento pelo conhecimento; em outras palavras, Górgias deu à retórica a 
capacidade de falar do belo. 
Além do debate entre Platão e Górgias protagonizado por Sócrates e seus 
interlocutores, temos outros pré-socráticos que desenvolveram a retórica como a 
arte de argumentar. Destacamos a figura de Protágoras de Abdera (486-410 a.C.) 
como um destes representantes, que, além de defender o agnosticismo, formulou 
a famosa máxima retórica em relação à moral: “o homem é a medida de todas 
as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”. No 
que se refere aos seres sagrados ou deuses, Protágoras formulou: “quanto aos 
deuses, não estou em condição de saber se existem ou não existem, nem mesmo 
o que são” (REBOUL, 2004, p. 7). Este pensamento retórico lhe custou a pena de 
morte, mas como tinha medo da morte, fugiu. 
Quanto à oratória e à retórica, a principal preocupação de Protágoras era 
com os substantivos, suas formas e variações. Também desenvolveu uma nova 
gramática e fundou a erística, que significa a contraposição de ideias, resultando, 
tempos depois, na dialética. Por éris Protágoras entendeu que uma boa discussão 
38
 Oratória e Retórica
deve conter ideias contraditórias, visto que em grego a palavra erística vem de 
éris, que significa controversa. Desta maneira, segundo Protágoras, qualquer 
argumento pode ser refutado ou sustentando, eis que esta é a condição da técnica 
erística, ou seja, os modos e formas para vencer um debate. A discussão e a 
controvérsia, mediante o uso da retórica e da oratória, é que conferem a condição 
de um debate. 
Estas características que elencamos até agora representam a propedêutica 
ou preparação para iniciar a discussão acerca do fundamento da retórica e da 
oratória. Em Aristóteles, a retórica se configura em diálogo com a dialética. Neste 
sentido, ela aparece com diferentes aspectos de estrutura e significado. 
No pensamento retórico aristotélico há uma distinção entre saber como arte 
e conhecimento como ciência. No desenvolvimento da retórica, desde Aristóteles 
até nossos dias, ocorreu uma transformação desta que passou da arte persuasiva 
para uma hermenêutica interpretativa.
Retomamos o cuidado com o significado da retórica e da oratória em nossos 
tempos. Em Aristóteles, a retórica não é simplesmente persuadir ou convencer os 
outros, ela é também fruto da experiência de vários oradores que desenvolvem 
técnicas para melhorar e exercitar esta arte. A tradição grega, desde Homero, sempre 
se preocupou em formular bons argumentos retóricos e excelentes oradores, assim, 
além de agir heroicamente, as personagens gregas deviam falar bem.
Inúmeros são os exemplos na história grega que relatam estes 
acontecimentos. Todo o processo de transformação da oratória grega passa 
basicamente por Platão, Isócrates e Aristóteles, chegando às legiões romanas 
através de Cícero, que, com seus discursos e pronunciamentos no Senado 
Romano, imortalizou a retórica no meio latino. De acordo com Lausberg (1960), 
nunca houve um sistema retórico clássico, isso implica na necessidade de 
estarmos atentos ao modo como cada um dos indivíduos e pensadores organizou 
as ideias acerca da arte retórica e da oratória.
Para explicarmos de maneira resumida as definições de retórica, elencaremos 
algumas que facilitam o nosso entendimento, mas todas essas definições 
concordam em um ponto: a retórica possui fins persuasivos.
a) A definição de Córax, Tisias, Górgias, Platão: segundo estes, a 
retórica é geradora de persuasão. 
b) Aristóteles: é capaz de descobrir as formas de persuasão sobre um 
assunto.
39
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
c) Hermágoras: é a forma de bem falar no que tange aos assuntos 
públicos.
d) Quintiliano, retóricos estoicos, que significa a ciência de falar bem.
Essas definições partem do princípio de que retórica é um corpo 
de conhecimento ou método para se expressar bem; assim como 
pensamos a retórica, devemos levar em conta os seus usos. No que 
tange à finalidade de um discurso, não há muita diferença entre o 
âmbito teórico e prático da eloquência.
Queremos deixar claro que retórica e oratória são formas de 
comunicação que compartilham técnicas, mas se distinguem enquanto 
execução. À retórica cabe a elaboração e à oratóriaa apresentação de 
um argumento. Desta maneira, a formulação e a exposição caminham 
juntas.
Passamos agora ao entendimento de retórica segundo Aristóteles, que 
escreveu em seu livro Retórica sobre os fins persuasivos desta arte, e no livro 
Poética defende a evocação imaginária para discursos poéticos e literários. Faz, 
assim, uma distinção fundamental entre o caráter retórico e o poético. 
Percebemos aqui uma severa crítica de Aristóteles para os seus antecessores, 
que mantinham unidas dimensões tão distintas. A novidade apresentada por 
Aristóteles é a presença do argumento lógico, logo, há uma relação entre prova, 
raciocínio, silogismo e argumentação persuasiva. Este método serve tanto às 
ciências empíricas quanto à filosofia, e, além disso, pode ser usado também para 
interpretar textos.
Aristóteles dividiu a retórica em sete partes: 1) A distinção de 
duas categorias formais de persuasão: provas técnicas e não 
técnicas; 2) Identificação de três meios de prova [...]: a lógica 
do assunto, o caráter do orador e a emoção dos ouvintes; 3) 
A distinção de três espécies de retórica: judicial, deliberativa 
e epidíctica; 4) A formulação de duas categorias retóricas: 
entimema, prova dedutiva; o exemplo usado na argumentação 
indutiva [...]; 5) A concepção e o uso de várias categorias de 
tópicos na construção dos argumentos: tópicos de cada gênero 
de discurso, tópicos aplicáveis a todos os gêneros e tópicos 
de estratégias de argumentação; 6) concepção de normas 
básicas de estilo e composição, nomeadamente de clareza 
à compreensão de diferentes tipos de linguagem e estrutura 
formal e a explicação do papel da metáfora; 7) a classificação 
e ordenação das várias partes do discurso (ARISTÓTELES, 
2005, p. 35).
 
Queremos deixar 
claro que retórica e 
oratória são formas 
de comunicação 
que compartilham 
técnicas, mas se 
distinguem enquanto 
execução. À retórica 
cabe a elaboração 
e à oratória a 
apresentação de 
um argumento. 
Desta maneira, 
a formulação 
e a exposição 
caminham juntas.
40
 Oratória e Retórica
A classificação proposta por Aristóteles permite entendermos como se 
organiza um discurso para diferentes finalidades.
A sistematização de regras do discurso, observando ao mesmo 
tempo as interações necessárias aos três elementos envolvidos: 
o orador, o ouvinte e o objeto do discurso, teve por finalidade dar 
consistência a essa técnica, inserindo-a no campo das artes. Esse 
era, sem dúvida, o objetivo de Aristóteles no seu tratado sobre a arte 
retórica e a arte poética: retirar das sombras essa parte da dialética – 
como o autor considerava a retórica – neutralizando, de certo modo, 
algumas acusações como as de Platão, sobre o alcance do discurso 
persuasivo (VIEIRA, 2012, p. 7).
 Se quisermos falar a um público ou a um grupo seleto de pessoas, devemos 
escolher o método apropriado e o estilo conforme a classificação aristotélica indica. 
Para o pensador grego, retórica e oratória se complementam, mas são distintas 
enquanto sua finalidade, pois a retórica serve para a boa formulação de raciocínio e 
a oratória possui uma finalidade literária que implica na beleza do discurso. 
Atividades de Estudos:
 1) Leia o texto indicado a seguir e responda às questões:
 Artigo: Retórica e nova retórica: a tradição grega e a teoria da 
argumentação, de Chaim Perelman. Disponível em: <http://www.egov.
ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/25334-25336-1-PB.pdf>.
 a) O que é retórica?
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
 b) Para que serve a retórica?
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
41
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
 c) O que é oratória?
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
 d) Para que serve a oratória?
 ____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
O Bem Falar e a Verdade 
Falar bem sempre foi visto como uma característica humana que diferencia 
pessoas de qualidade daquelas com outras aptidões. A retórica e a oratória ensinam 
o ser humano a pensar e se expressar bem, e por isso merecem a nossa atenção. 
Ao falar temos diferentes opções para nos expressarmos, podemos optar 
pelo cinismo, pelo relativismo, pela tentativa de transmitir uma verdade ou pela 
simples e velha atitude dogmática. A escolha que fizermos implicará em um modo 
de exposição dos argumentos e justificação das ideias e, consequentemente, em 
implicações morais. 
Conforme já apontamos, a retórica e a oratória não possuem, 
necessariamente, um compromisso com a verdade, pois são uma arte formal que 
para alguns se confundem e para outros se distinguem. A transmissão de uma 
mensagem através de argumentos ou pela exposição lógica de ideias pode levar 
em conta uma verdade, por exemplo, como ocorre com Platão, que tem em vista 
uma verdade última que se encontra no mundo perfeito que ele chama de mundo 
das ideias. Por outro lado, falar bem pode simplesmente ignorar toda e qualquer 
referência à verdade, conforme aponta Protágoras. Para este filósofo grego, a 
verdade é inatingível e por isso não existe nada a ser transmitido neste sentido, o 
que há é a formalidade do discurso e a qualidade dos argumentos expostos. 
A verdade e a retórica não andam juntas o tempo todo, às vezes elas se 
aproximam e às vezes elas se distanciam. Neste sentido, somos impelidos pela 
curiosidade a tentar descobrir quais os elementos que as aproximam e quais os 
elementos que as distanciam. 
No âmbito cotidiano, a retórica e a oratória estão em constante relação com a 
verdade, mas geralmente passam desapercebidas. Quando estamos no trabalho 
42
 Oratória e Retórica
ou em um convívio social de lazer, somos inquiridos e formulamos respostas, nem 
percebemos que este exercício é o mesmo que, em pequena escala, um modo de 
fazer retórica e oratória. Por exemplo, você quer convencer seu chefe de que um 
projeto seu é bom para a empresa, você usará argumentos retóricos e a forma 
como os apresentar será a sua oratória. 
É Aristóteles quem define a retórica com mais modéstia do que Platão e os 
sofistas, reabilitando assim uma visão sistemática que se incorpora no mundo. 
Aristóteles dividiu a retórica em quatro partes, a primeira parte chamou de 
invenção, a segunda denominou de disposição, à terceira parte deu o nome de 
elocução e à quarta denominou de ação. Esta divisão permaneceu válida até 
nossos dias e foi acompanhada subsequentemente por autores posteriores. 
Passamos agora a considerar cada uma destas quatro partes:
• A invenção, do grego se chama de heurésis, é o modo como o orador articula 
a persuasão, como o tema do discurso, aspectos, são os meios de persuasão 
presentes no tema que irão contribuir para a organização do discurso.
• A disposição, em grego taxis, é o modo como se organizam estes argumentos, 
ou o plano interno do discurso. Nesta parte há uma necessidade de organização 
para que possamos perceber a sequência dos argumentos.
• A elocução, do grego lexisé, o estilo do discurso. Posteriormente, alguns autores 
chamaram estas formas de expressão de um discurso de figuras de estilo. 
• Por fim, a ação, do grego hypocrisis, é a expressão do discurso pela voz com 
gestos ou mímicas. Lembramos que no período romano acresceu-se a memória. 
Para o indivíduo que deseja formular um bom discurso de retórica e oratória 
lembramosque, caso negligencie um destes elementos, sua retórica e oratória 
será inaudível, mal escrita ou vazia. No cotidiano chamamos isso de opiniões de 
senso comum, que são desarticuladas e sem sentido. 
Quando falamos em verdade e retórica, devemos lembrar 
que para Aristóteles a retórica é parecida ou ao menos comparada 
com a dialética. Usamos a definição de dialética expressa no coro 
grego que canta uma estrofe e, na sequência, ouve a antístrofe 
(ARISTÓTELES, 2005, p. 36).
43
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
É na contraposição de verdades que a retórica adquire sua utilidade, segundo 
Aristóteles. A utilidade da retórica se dá justamente por causa da sua capacidade 
argumentativa. Por isso, um orador deve saber contrapor os argumentos para 
desenvolver bem um debate, visto que temos que considerar as evidências e os 
meios de persuasão. Para determinar a natureza da retórica, Aristóteles afirma: 
[...] a retórica é a outra face da dialética, pois ambas se 
ocupam de questões mais ou menos ligadas ao conhecimento 
comum e não correspondem a nenhuma ciência em particular. 
De fato, todas as pessoas de alguma maneira participam de 
uma ou de outra, pois todas elas tentam em certa medida 
questionar e sustentar um argumento, defender-se ou acusar 
(ARISTÓTELES, 2005, p. 89).
 
Assim, as pessoas praticam a retórica com o resultado do hábito no cotidiano, 
sem se dar conta do óbvio. 
Queremos esclarecer que aqui falamos da retórica e da oratória como um 
método para elaboração, estruturação e exposição de argumentos, mas algo que 
valorize a experiência prática do indivíduo. Segundo Aristóteles:
[...] os que até hoje compuseram tratados de retórica ocuparam-
se apenas de uma parte desta arte, pois só os argumentos 
retóricos são próprios dela e todo o resto é acessório. Eles, 
porém, nada dizem dos entimemas, que são afinal o corpo da 
prova, antes dedicam maior parte de seus tratados a questões 
exteriores ao assunto; porque o ataque verbal, a compaixão, a 
ira e outras paixões da alma semelhantes a estas não afetam o 
assunto, mas sim o juiz (ARISTÓTELES, 2005, p. 90).
 
Ao expor esta dificuldade, Aristóteles chama a atenção para a necessidade 
de procurarmos elementos que nos ajudem a contrapor as verdades para, por 
intermédio da retórica, esclarecer os problemas de argumentação retórica, pois 
verdade e justiça são mais fortes que seus opostos. 
Quando afirmamos que o relativismo defendido por Protágoras coloca 
a verdade em segundo plano e eleva a arte retórica a um patamar superior, 
queremos apresentar um dos grandes dilemas de que utilizam a retórica e a 
oratória no seu cotidiano, a saber: devemos nos preocupar em transmitir a 
verdade aos interlocutores ou é mais pertinente a beleza de um discurso?
Evidentemente que Aristóteles responderia que devemos utilizar a retórica 
em consonância com a dialética para evitarmos a postura relativista. Na prática, 
esta escolha metodológica implica que os indivíduos devem conhecer, além 
da estrutura gramatical e lógica de um argumento, a finalidade, o conteúdo e a 
estrutura interna deste para poder formular uma oratória condizente.
44
 Oratória e Retórica
Ao contrapormos o relativismo com o aristotelismo, pretendemos esclarecer 
que, dependendo da escolha que fizermos, o bem falar e o bem argumentar terão 
implicações que precisam ser conhecidas. Se optarmos pela forma em detrimento 
do conteúdo de um argumento, colocaremos em risco a transmissão da verdade. 
Por outro lado, se preferirmos e valorizarmos mais a verdade que a forma, 
teremos dificuldades em ser ouvidos, devido à robustez e falta de polimento de 
uma argumentação. É por isso que Aristóteles, ao dividir e organizar a retórica, 
defende um equilíbrio entre as partes, pois sem este equilíbrio estaremos em 
algum exagero.
É sabido que no mundo contemporâneo ocorrem diversos exageros no que 
se refere à retórica e oratória praticadas em diferentes âmbitos da sociedade. 
Citamos como exemplo os políticos, que utilizam vários tipos de sofismas, 
argumentos falsos, para poder convencer seus eleitores e, posteriormente, uma 
vez eleitos, esquecer e até desmentir o que prometeram. Se pensarmos esta 
realidade no meio grego, especialmente no período de Aristóteles, teríamos sérias 
dificuldades em considerar plausível tal atitude.
De acordo com Aristóteles, argumentar persuasivamente é condição 
necessária para que os indivíduos possam fazer bom uso da arte retórica e, por 
conseguinte, se evite a imoralidade. Devemos estar atentos para que ninguém 
argumente contra a justiça, pois se alguém o fizer, devemos estar atentos para 
refutar o indivíduo. São entimemas, ou seja, silogismos, que nos permitem 
desenvolver argumentos antepondo contrários para permitir o bom uso da retórica 
para Aristóteles. 
É neste ponto, ou seja, na contraposição de ideias, que retórica e dialética 
se aproximam. A retórica é útil aos indivíduos porque permite esclarecer quais 
são os meios de persuasão utilizados em uma disputa, logo, a retórica é a forma 
de descobrir o que é adequado para se persuadir em uma determinada situação.
Platão também se preocupou em demasia com a necessidade 
de uma definição acabada do que viria a ser a retórica, e não a 
encontrando clara (a não ser pela sua associação com a persuasão), 
alimentou alguns preconceitos. Em Aristóteles, por outro lado, nota-se 
maior preocupação em demarcar os limites e o alcance da arte retórica 
na obra que leva esse mesmo nome, ao estabelecer as bases para o 
uso e a compreensão dessa arte. Associando a retórica a um saber 
prático, ou técnica, que se diferenciaria de muitas ciências e mesmo de 
outras artes por não se concentrar em algum objeto em si, Aristóteles 
45
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
disse que a retórica seria “a faculdade de ver teoricamente o que, 
em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasão, [...] descobrir o 
que é próprio para persuadir. Por isso [...] ela não aplica suas regras 
a um gênero próprio e determinado” (ARISTÓTELES, 2005, p. 33). 
Para esse autor, a retórica se utilizaria de figuras de linguagem como 
recurso para a conquista do público (o uso das metáforas, por exemplo, 
foi tratado formalmente nessa obra). Apontando para todo esse 
conjunto de regras, explicitamente, Aristóteles demarcou os elementos 
principais do discurso persuasivo dividindo-os em três gêneros: o 
deliberativo, o demonstrativo e o judiciário, os quais teriam finalidades 
diferentes. Assim sendo, seriam variados os tipos de argumentos 
válidos para a conversação e também as reações esperadas dos 
ouvintes e os efeitos despertados nestes. Nessa clássica obra de 
Aristóteles sobre a retórica, o autor apresentou uma longa discussão 
destinada a demonstrar os meios de se provar uma tese, as ocasiões 
e os objetos que deveriam ser reunidos, a forma de apresentá-los ao 
público etc. (VIEIRA, 2012, p. 6).
Nisto a retórica difere das demais artes, pois ela abrange todas as demais 
no que tange à instrução e à persuasão. Ainda merece destaque a necessidade 
de encontrarmos provas de persuasão próprias da retórica. Algumas estão no 
caráter do orador, outras no ouvinte e, por último, temos aquelas presentes nos 
discursos. É importante salientar que explicaremos cada uma das formas das 
provas de persuasão:
• A persuasão pelo caráter ocorre quando o orador é digno de fé. Isso ocorre 
porque temos mais facilidade em acreditar em pessoas honestas do que nas 
demais. Esse meio é o modo mais importante de persuasão, faz com que os 
indivíduos ignorem os argumentos e se concentrem na probidade do sujeito.
• Passamos agora para aquela vontade dos ouvintes em acreditar em um 
discurso proferido devido à emoção que sentem durante o mesmo. Neste 
aspecto, quando estamos sob efeito de emoções, temos mais facilidade em 
acreditar, especialmente se o orador explorar as paixões do público.
• Por último, precisamos falar daqueles quese convencem pelo conteúdo do 
discurso, pois aquilo que está sendo dito parece verdadeiro se comparado 
aos fatos. Parece que a retórica é um ramo da dialética e que deságua na 
política, entendendo esta última como a busca pelo bem da polis.
46
 Oratória e Retórica
Para Aristóteles, “[...] a retórica é uma parte da dialética e a ela se assemelha, 
como dizemos no princípio; pois nenhuma das duas é ciência de definição de 
um assunto específico, mas mera faculdade de proporcionar razões para os 
argumentos” (ARISTÓTELES, 2005, p. 97).
 
Segundo Aristóteles, estruturar um argumento leva em conta a retórica, 
porque é através dela que se constituirá uma argumentação detalhada e se fará o 
exame das provas. Aristóteles inaugurou um modelo de verificação de argumento 
que vigorou na história da filosofia até o pensamento moderno. Somente com 
Immanuel Kant é que se distinguiu prova de demonstração. Desde então, 
sabemos que prova é algo rigoroso quando estamos argumentando, enquanto 
que demonstração é algo mais racional e sem verificação empírica. 
A retórica é a ciência da construção de bons argumentos, enquanto a oratória 
é a exposição destes. Um argumento forte deve estar fundamentado em prova e 
não somente em demonstrações lógicas. Mesmo sendo difícil distinguirmos uma 
prova de uma demonstração, precisamos nos esforçar para que formulemos uma 
argumentação convincente. 
Costumamos dizer que em filosofia e sobretudo na retórica filosófica, um 
argumento deve ser curto e claro, isto é, deve ser objetivo e abranger a maior 
quantidade de fenômenos possíveis sem ambiguidades. No âmbito da linguagem 
humana, expressar tais ideias nem sempre é fácil, pois toda a nossa linguagem 
possui ambiguidades.
A tarefa de um bom orador é proporcionar uma clareza em sua 
exposição e dominar os conteúdos aos quais se refere. Ele pode fazer 
uso de ambiguidades, mas estar ciente de como e quando pode citar 
tais exemplos. Assim, se em Platão convencer com bons argumentos 
era o objetivo da retórica, para os sofistas todo o resto acerca da 
verdade não importa, por isso devemos convencer a todo custo. 
Enquanto isso, a retórica em Aristóteles ganhou ares de disciplina organizada em 
vista de um bem na polis e uma classificação para uso dos acadêmicos. Já em 
Roma, os oradores, como Sêneca, por exemplo, se preocupavam em fazer bons 
discursos porque acreditavam que a palavra poderia transformar a realidade em 
que viviam. 
No processo de assimilação da retórica pela cristandade notamos que 
Agostinho, e posteriormente Tomás de Aquino, desenvolveram a exegese e a 
interpretação dos textos sagrados seguindo as orientações das propostas da 
retórica platônica e aristotélica, respectivamente. 
Após desenvolver e assumir um estatuto de disciplina dentro da cristandade, 
a retórica e a oratória passaram por um período de dificuldades no início 
da Modernidade e ganharam ares profissionais, ficando em segundo plano. 
A tarefa de um 
bom orador é 
proporcionar uma 
clareza em sua 
exposição e dominar 
os conteúdos aos 
quais se refere.
47
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Observamos que para iniciarmos um estudo aprofundado da arte retórica 
precisamos retomar as propostas da Antiguidade, visto que no século XX a 
retórica quase desapareceu do âmbito do debate acadêmico. 
Por isso destacamos aqui quatro pontos importantes para o estudo e a 
pesquisa em retórica e oratória, para conseguirmos refletir de maneira adequada 
sobre este assunto:
• Primeiro: entre os filósofos pré-socráticos e os sofistas, a retórica e a oratória 
assumiram um caráter de ensinamento de qualquer um que quisesse aprendê-
las, sem distinção, exceto pela possibilidade de pagar pelas aulas. 
• Segundo: para Platão e Aristóteles a retórica e a oratória possuem características 
que devem ajudar o ser humano a encontrar o bem e a boa prática da justiça.
• Terceiro: a retórica e a oratória medieval possuem particularidades que não 
podem ser resumidas pelo estudo do Trivium e do Quadrivium, logo, os autores 
deste período utilizaram de modo genuíno os elementos propostos por Platão e 
Aristóteles para fazer suas reflexões religiosas, bem como para estruturar suas 
doutrinas. 
• Quarto: a retórica e a oratória passaram por períodos de esquecimento na 
Modernidade até o início do século XX, sendo reincorporadas de modo incipiente 
por causa da influência do marketing nos E.U.A. após os anos de 1950.
Pretendemos deixar claro que estes quatro pontos configuram um 
apontamento didático para o estudante de Oratória e Retórica construir o seu 
mapa de estudo sem se perder pelo caminho da diversidade de correntes retóricas 
que encontramos no mundo contemporâneo.
Algumas Considerações
Este capítulo abordou a história da retórica e da oratória para distinguir 
algumas características. Deste modo, argumentar bem não significa enganar o 
interlocutor, é, antes de tudo, saber escolher a estratégia adequada, como nos 
ensinam Platão, Sócrates, Aristóteles e os outros autores referidos no texto.
 
Por isso cabe a você, estudante de Oratória e Retórica, escolher quais os 
caminhos seguir para transmitir uma mensagem de qualidade mediante as 
ferramentas disponíveis. 
48
 Oratória e Retórica
Referências
ARISTÓTELES. Arte Poética e Arte Retórica. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005. 
COSTA, R. A Educação na Idade Média: a Retórica Nova (1301) de Ramon Llull. 
Notandum ESDC. Porto. 2008.
DURAN, M. R. da C. Retórica e eloquência no Rio de Janeiro: 1759-1834. 
Franca: UNESP, 2009.
LAUSBERG, H. Handbuch der literarischen Rhetorik München. Max Hüber. 1960.
MOSCA, L. L. S. Retóricas de Ontem e de Hoje. Velhas e novas retóricas: 
convergências e desdobramentos. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 2001.
PLATÃO. Górgias ou a Retórica. São Paulo: Difel, 1970.
PLATÃO. Fedro. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2005. 
REBOUL, O. Introdução à Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
VIEIRA, J. G. S. A retórica como a arte da persuasão pelo discurso. Curitiba, 
2012.
WESTON, A. A arte de argumentar. Lisboa: Gradiva, 1996. 
CAPÍTULO 2
A Retórica e a Oratória
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Apresentar as formas de se expressar.
� Conhecer os modos de formulação de um argumento, estrutura e modelo.
� Aprender maneiras de utilizar bem os argumentos.
� Averiguar as diferentes formas de convencimento e construção de discursos.
50
 Oratória e Retórica
51
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
Contextualização
Neste capítulo destacamos a formulação e exposição de um argumento. 
Partimos da noção e conceituação grega, pois retórica e oratória não nasceram na 
modernidade, e nos colocamos no caminho dos grandes sábios e pensadores que 
refletiram sobre o problema. Convidamos o estudante desta disciplina a seguir 
este caminho maravilhoso conosco para que possamos realizar as descobertas 
que tanto almejamos. 
O Que é Argumentar Bem?
A retórica e a oratória entendidas como a arte de construir bons 
argumentos e a arte de expor bem estes argumentos é a temática deste 
capítulo, que quer esclarecer ao estudante sobre as particularidades de 
ambas. Queremos expor neste capítulo de modo mais detalhado cada 
parte da construção e exposição de um bom argumento.
Um bom orador deve conhecer a estrutura e a formação dos modos 
de falar, para tanto deve conhecer um pouco a formação histórica da 
retórica no Ocidente. Diferentemente do que muitos podem pensar, 
a retórica e a oratória não são jovens e não começaram ontem, há 
um longo caminho para chegarmos às formas atuais de exposição e 
construção de argumentos. 
Consideremos a possibilidade de construir uma retórica de boa qualidade para 
podermos expor as ideias que temos vontade de compartilhar. O conhecimento da 
retórica e do modo de pensamento dos antigos nos inspira e evita que sejamos 
ignorantes sobre estetema de extrema importância. 
A retórica e a oratória 
entendidas como 
a arte de construir 
bons argumentos e 
a arte de expor bem 
estes argumentos 
é a temática deste 
capítulo, que quer 
esclarecer ao 
estudante sobre as 
particularidades de 
ambas. Queremos 
expor neste capítulo 
de modo mais 
detalhado cada 
parte da construção 
e exposição de um 
bom argumento.
A FORMAÇÃO EDUCACIONAL DO ORADOR E A RETÓRICA 
COMO SEU INSTRUMENTO DE AÇÃO NO PRINCIPADO
[...] a retórica só apareceu em Roma, em sua forma latina, por 
volta do século I a.C. A primeira escola de retóricos latinos foi aberta 
em 93 a.C. por L. Plócio Galo, um cliente de Caio Mário, sendo 
fechada no ano seguinte pelos cônsules Cneu Domício Ahenobarbo 
e Lúcio Licínio Crasso, por ser considerada uma transgressão 
aos costumes ancestrais. Essa primeira iniciativa, relevando as 
hostilidades políticas contra a sua intenção, foi a primeira a propor um 
52
 Oratória e Retórica
tipo “moderno” de retórica, oposto em certo grau à retórica clássica 
das escolas gregas. 
Apesar de influenciada por fundamentos da retórica grega, a 
obra Retórica dedicada a Herênio, composta por um aluno desta 
escola, reage contra a acumulação de regras e defende um ensino 
aproximado da prática e da vida. Questões da política contemporânea 
passam a ser incluídas. Essa medida repressora fez com que o 
ensino da eloquência só se elevasse novamente com Cícero, em 
finais do século I a.C., momento no qual optimates e populares 
discutem no Senado. 
Deixando por um momento as condições do ensino da retórica 
em Roma, iremos falar do desenvolvimento da gramática antiga e 
de sua evolução. Se existe já na Antiguidade uma reflexão sobre a 
relação entre as palavras e as coisas, desse interesse vemos que os 
primeiros estudiosos da linguagem, como Platão em Crátilo, tentaram 
realizar, mediante uma análise das correlações possíveis entre forma 
e sentido das palavras, o encontro de uma forma supostamente 
“verdadeira”, o acerto entre o nome e a coisa representada. 
Já por volta do século II a.C, uma nova questão entrará em pauta 
associada às perspectivas do primeiro debate. Passou-se a discutir 
se havia ou não uma regularidade que regia tanto o funcionamento 
quanto as mudanças de significados das palavras ao longo do 
tempo. O embate passa a discorrer em torno da regularidade e da 
irregularidade, na analogia e anomalia. 
Os analogistas procuravam a regularidade em paradigmas 
formais, significando que palavras de uma mesma categoria 
gramatical tinham idênticas terminações e semelhante estrutura 
prosódica, podendo ser autocomparáveis, enquanto os anomalistas 
procuravam valorizar tudo aquilo que fosse “natural”. A língua para 
estes, devido as suas raízes, deveria ser encarada tal qual era 
apresentada, mesmo que parecesse irracional. 
A clássica definição de gramática remonta a Dionísio Trácio. 
Representante da escola alexandrina, este definiria a disciplina 
como o conhecimento prático do uso linguístico comum a poetas e 
prosadores. A arte de escrever bem se tornaria mais tarde também a 
arte de falar corretamente. À gramática caberia determinar quais os 
usos que seriam corretos e legítimos, enquanto à retórica caberia a 
atualização, num discurso, de determinados usos com vistas a torná-
lo eficiente e persuasivo. 
53
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
Retornando ao panorama latino, sem deixar de dar 
prosseguimento ao desenvolvimento da gramática, Varão de Reate 
propõe o respeito ao latim padrão em detrimento do latim vulgar, 
falado pelo populus na República e no Principado. Em sua obra, 
de língua latina, ele propõe a divisão da gramática em morfologia, 
sintaxe e etimologia, que não chegaram a ser aplicadas. 
Com Prisciano e Donato, aplica-se um aprofundamento da 
sintaxe, que em definição seria “[...] assim como a palavra é a unidade 
mínima da estrutura da frase, esta é a expressão de um pensamento 
completo (dictio est pars minima orationas constructae, oratio est 
ordinatio dictionum congrua, sententiam perfectam demonstratus)”. 
Dentro do quadro da educação aplicada ao cidadão romano, como 
foi dito um pouco acima, no ensino superior, trata-se em primeiro 
lugar do ensino da retórica. Sabendo que a possibilidade de ingresso 
nesta etapa do ensino era restrita a uma parcela muito reduzida da 
sociedade romana, vemos que o ensino da arte oratória é confiado a 
um mestre especializado, o rhetor. 
Numa hierarquia de valores, o rhetor ocupa um posto mais 
elevado em relação aos seus colegas, o magister ludi e o grammatici, 
responsáveis pelo ensino primário e secundário, respectivamente. 
Ensinando à sombra dos pórticos dos foros, tinha a sua disposição 
salas arranjadas como pequenos teatros, abertas ao fundo dos 
pórticos. O ensino do rhetorlatinus tinha como objetivo o domínio da 
arte oratória, a princípio assegurada na técnica tradicional, o sistema 
complexo das regras, procedimentos e normas estabelecidos pela 
escola grega: ensino formal de comunicar as regras e habituar o 
aluno a se utilizar delas. 
Para Marrou, não há retórica propriamente latina: esta arte teria 
sido inventada, elaborada e aperfeiçoada pelos gregos. O trabalho 
dos rhetores latini consistia em apenas transmitir o vocabulário 
dos gregos, transcrevendo pacientemente cada palavra para seu 
sinônimo em latim. A retórica latina permanece, durante todo o 
Império, em contato muito estreito com a retórica grega. 
Se os romanos demoraram a se interessar pela teoria da arte do 
falar, jamais desconheceram a força poderosa e sedutora da palavra, 
pois oradores são conhecidos desde os primórdios da história de 
Roma. Embora os contatos com o mundo grego tenham existido 
desde períodos sem relatos, as relações entre as duas civilizações 
começaram a ganhar força a partir do século III a.C. O domínio 
político de Roma sobre a Grécia e o Oriente abriu as portas para 
o surgimento de uma cultura híbrida, helenizada e de bilinguismo, 
54
 Oratória e Retórica
fazendo aportar entre a aristocracia os pensamentos e ideias da 
Grécia, e depois do helenismo. 
Uma clara verificação disso foi o surgimento do ideal romano 
e do culto da humanitas, através de homens cultos da aristocracia, 
que assimilaram certos aspectos da cultura grega e ajudaram a 
montar as bases de uma estrutura original entre as duas culturas. O 
Círculo dos Cipiões, cujos conhecimentos marcados por uma linha 
de pensamento baseado em preceitos do estoicismo, forneceu base 
teórica grega ao ideal da virtus romana. 
Efetivamente, humanitas deriva de humanus, que por sua 
vez relaciona-se a homo (o homem) e humus (a terra): existe 
a probabilidade da noção de um “ser terreno”, ligado a modos de 
comportamento que lhe são próprios, incluindo o comportamento e a 
natureza dos homens. Certos exemplos de Cícero indicam também 
outras variantes complementares deste termo: 
Quem poderá chamar corretamente homem o que 
se nega a ter com os seus concidadãos, como todo 
o gênero humano, qualquer comunidade jurídica, 
solidariedade humana (humanitas societas)? 
A essas obras de arte, não as compreendia o famoso 
Cipião, homem tão instruído e culto (humanissimus). E 
tu, que não tens saber, nem humanitas, nem talento, 
nem letras, é que as compreende e avalias!
Nestes extratos, vemos que Cícero emprega humanitas como 
termo de acumulação de civilidade, doutrina, saber; humanitas é 
aquilo que torna o homem profundamente homem, e se perpetua 
mesmo com a expiração do ser. Humanitas torna o homem digno, 
fazendo-o humanus e politus, ajustando este conceito as suas 
gravitas, auctoritas e dignitas, atitudes de caráter romano. 
Ferrenho opositor a essa assimilação foi, dentre muitos, Marco 
Pórcio Catão, cuja facção senatorial tentou impedir a invasão maciça 
da cultura e costumes gregos, que somada às mudanças políticas 
inevitáveis da expansão imperialista, poderia corroer as bases ético-
políticas do Estado romano, e de seu regime autocrático. 
A influênciade Catão no século II a.C foi a última defesa 
da sobrevivência da retórica nos moldes clássicos, que eram 
caracterizados por uma linguagem agressiva, robusta, direta, 
desprovida de ornamentos; o tom grave e distinto que aparentava a 
simplicidade direta e firme da linguagem arcaica. 
55
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
De Catão podemos extrair a máxima que define o caráter do 
orador nos moldes da retórica clássica: “Vir bônus peritus dicendi”. 
O homem nobre, hábil no falar. E também diz respeito a uma visão 
pragmática, e de certa forma, desintelectualizada do discurso, uma 
genuína retórica romana. Na passagem do século II para o século 
I a.C, dois oradores são lembrados: Marco Antônio e Lúcio Licínio 
Crasso. Dois optimates, que divergiam quanto à maneira de abordar 
a importância da matéria do discurso, ou da técnica de elocução: a 
persuasão.
Fonte: Campos (2008, p. 4-6).
Por isso, conhecer estas divergências expostas no texto entre retórica e oratória 
permite ao estudante da disciplina pensar de modo a se organizar e entender que 
ele não é o primeiro a se deparar com o problema de montar e expor um discurso. 
Isso lhe ajuda a pensar e organizar melhor suas ideias e argumentos. Conforme 
aponta Campos (2008), em seu artigo acadêmico, a retórica romana assumiu 
muitos elementos da retórica grega na questão da estrutura e, ao mesmo tempo, 
assumiu características novas devido ao meio romano na qual estava imersa. 
Embora saibamos que a essência da retórica e da oratória não se altera 
com o passar do tempo, é importante entendermos que a forma está sempre em 
desenvolvimento. Este modo de exposição das nossas ideias constitui a vida da 
oratória, ela se adapta e se molda de acordo com o meio em que está sendo 
produzida. 
Este processo de desenvolvimento da retórica, mesmo em Roma (sec. I a.C., 
sec. I d.C.), não foi tranquilo e sem problemas. Segundo Silveira (2012), existiram 
muitas crises e dificuldades na formação da oratória e da retórica romanas. 
O crescimento da cidade de Roma, sua organização e suas 
conquistas, que fizeram desta uma das cidades mais importantes 
da antiguidade, não foi algo que se deu da noite para o dia. Seu 
crescimento, enquanto Império, deu-se principalmente pela 
organização de seu comércio, suas instituições, seu exército e, 
sobretudo, pelo corpo social forte e unido, chamado Nobilitas 
(ALFOLDY, 1975, p. 59). Lembrando que a formação do 
Império Romano foi um longo processo, podemos, no entanto, 
destacar três fases que fizeram parte deste imperialismo. Na 
primeira fase, conhecida como “Guerra de Defesa”, Roma não 
promove ataques, mas se defende daqueles que, atraídos pelo 
seu crescimento, resolvem atacá-la. É importante destacarmos 
que, ao se defender dos ataques e invasões, Roma anexa as 
cidades vencidas: a região da “Salina”, a mais próxima, foi a 
primeira região conquistada. Mais tarde, em 273 a.C., teremos 
56
 Oratória e Retórica
a conquista das cidades da Magna-Grécia; estas cidades se 
encontravam enfraquecidas devido a conflitos internos. Após 
ter conquistado toda a península itálica, Roma dá início à 
conquista do Império Cartaginês, o qual possuía a hegemonia 
da região da Sicília. Esta fase é conhecida como Guerra de 
expansão hegemônica ou “Guerras Púnicas”: esta culminará 
com a destruição da cidade de Cartago, no norte da África. 
Quanto à terceira fase, esta tem início em 133 a.C., quando, 
financiado por aristocratas e comerciantes que formavam a 
sociedade dos republicanos, Roma inicia a chamada “Guerra 
de Expansão Econômica”, passando, assim, de Cidade-
Estado a Cosmo-Pólis, dominando todo o mundo conhecido. É 
importante destacarmos que o Senado Romano se encontrava 
fortalecido, devido ao seu poder que foi aumentado, bem como 
seu aparelho militar, o qual se encontrava mais organizado 
e poderoso, contando com generais de renome, vistos 
muitas vezes como deuses. Com a entrada em Roma de 
grande quantidade de tributos, derivado de suas conquistas, 
esta conhece um período de inflações: seu custo de vida é 
aumentado, o que irá gerar mudanças nas formas de produção 
(SILVEIRA, 2012, p. 2-3). 
 
Estes caminhos antigos da retórica e da oratória nos permitem entender 
como podemos convencer alguém sobre as mensagens que queremos passar 
em uma época como a atual. A dinâmica das relações de trabalho no mundo 
contemporâneo se modifica rapidamente, mas os elementos substanciais dos 
oradores antigos são os mesmos até hoje.
 
A moral de orador, a sua eloquência, a credibilidade etc., nada disso pode ser 
dispensado em um mundo como o nosso. E você, estudante de oratória e retórica, 
precisa destes compromissos para poder falar e escrever bem. 
Se observarmos pessoas que se dedicam especificamente a essa arte de 
falar bem, percebemos que elas destacam algumas características que devem 
estar presentes nas pessoas que querem seguir estes passos.
Assim, saiba que você só conseguirá convencer ou persuadir 
se transmitir credibilidade em sua maneira de falar. Fica 
evidente que a credibilidade é um dos fatores fundamentais 
para o sucesso da comunicação. Por isso, é importante saber 
quais os requisitos para conquistar a confiança das pessoas, 
construir sua reputação como orador que inspire respeito, 
credibilidade e fazer com que a mensagem seja aceita sem 
resistências. Para que você conquiste credibilidade, falando 
dentro ou fora dos parlatórios, precisará de pelo menos seis 
requisitos fundamentais: Naturalidade: a mais importante 
qualidade da oratória. Não existe técnica em comunicação – por 
mais elaborada que seja – mais relevante que a naturalidade. 
Você precisa ser um orador natural e espontâneo. Agora, 
veja: ser natural, no entanto, não significa, por exemplo, levar 
para o auditório os erros e as negligências da comunicação 
deficiente, como a pronúncia incorreta das palavras. Emoção 
e envolvimento: além da naturalidade, você precisa falar com 
disposição, com energia, com envolvimento, com emoção. 
57
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
Como convencerá o público se nem mesmo você mostrar 
interesse no que diz? Revele sua emoção no entusiasmo com 
que abraça o seu discurso. Gerry Spence, advogado americano, 
que em mais de 40 anos nunca perdeu uma única causa 
criminal, diz em sua obra Como argumentar e vencer sempre 
(1995) o seguinte: “Concentradas em seus sentimentos, as 
pessoas que estão dizendo a verdade falam com o coração, 
que é incapaz de compor precisamente o raciocínio linear 
de um cérebro laborioso. E ao ouvir o que é expresso pelo 
coração, o ouvinte também é levado a ouvir com o coração”. 
Imagem bem construída: na política pode haver a possibilidade 
de uma gama de marqueteiros trabalhando para a construção 
da imagem do político perante a sociedade. O orador, por 
sua vez, deve estar ciente de que, independentemente de 
marqueteiros, ele tem que gerenciar seu próprio marketing 
pessoal, construindo e preservando a boa imagem, ancorada 
na honestidade, na justiça, no respeito, na honra, na ética, 
bem como em todos os bons valores sociais e individuais. 
Conhecimento e autoridade sobre o assunto: a sua credibilidade 
como orador está intimamente relacionada ao conhecimento 
que você demonstra ter sobre o assunto pela forma como se 
expressa. Empenhe-se para ter muito mais informações do 
que aquelas que você necessitará em sua exposição. Leia, 
estude, pesquise, se possível, entreviste outras pessoas mais 
experientes que já tratam do tema de sua exposição. Prepare-
se com antecedência e durante o maior tempo possível sobre a 
ideia que irá defender em seu discurso. Prepare-se da melhor 
maneira que puder para fazer a apresentação. Ensaie todos 
os detalhes, teste os equipamentos que pretende utilizar, 
enfim, não deixe nada ao acaso. Confiança: a confiança em 
si mesmo instala-se quando superamos a barreira do medo. 
De acordo com Lena Souza (2011), “a fisiologia do medo é 
caracterizada por uma descarga de adrenalinaque pode fazer 
as pernas tremerem, as mãos suarem, o coração bater mais 
forte etc.”. E diz ainda que: “ninguém perde o medo e, sim, 
o vence. E o medo é como o sal, na dose certa, ele nos é 
muito importante, inclusive essa adrenalina do medo pode ser 
convertida em favor do orador” (SILVA, 2012, p. 8-9). 
 
Estas indicações não são prontas a você, estudante de oratória e retórica, 
na verdade são indicações para que você possa trabalhar suas dificuldades 
e vencer seus problemas como as pessoas capazes de se expressar bem 
também são. Lembre-se: ninguém nasceu com todos os conhecimentos, se você 
quiser melhorar, deve seguir a trilha daqueles que conseguiram superar suas 
dificuldades.
Antes de entrarmos na definição de retórica e oratória, queremos 
esclarecer uma questão fundamental ao estudante. Na academia não podemos 
simplesmente emitir opiniões, pois conforme ensina Platão, a doxa, opinião, não é 
o conhecimento, ela é o ponto de partida de uma tentativa de conhecer. Portanto, 
doxa, opinião, não é conhecimento, episteme. Conhecimento é o resultado de 
uma reflexão racional, que em filosofia sempre pode ser repensado, de forma 
minuciosa e profunda (Platão). O conhecimento é algo minimamente seguro para 
58
 Oratória e Retórica
se dizer que temos um conceito. Sem um conceito não podemos fazer academia. 
Deste modo, propomos a você, estudante de oratória e retórica, um pequeno 
exercício que pode contribuir no entendimento deste problema. 
Atividade de Estudos:
 1) Leia o texto disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-
americo-persuasao-0.pdf>, página 77 a 79, e identifique, de 
acordo com o texto, quando opinião é diferente de conhecimento, 
e explique o que você entendeu sobre este problema. Como se 
entende o papel da retórica?
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Agora que você já sabe que o conhecimento acadêmico não é uma mera 
opinião de qualquer pessoa, passamos ao entendimento da arte retórica e da 
oratória como formas de compreensão da expressão do intelecto humano de 
maneira mais clara e distinta. 
Neste sentido, um estudo aprofundado sobre a retórica é importante para 
desenvolver uma maneira de argumentação e construção de argumentos. De 
acordo com Platão, a retórica serve basicamente para o convencimento e para 
a persuasão dos interlocutores. Para sofistas como Isócrates e Protágoras, a 
retórica serve para produzir uma boa reflexão, um modo de defender uma hipótese 
sem se preocupar com a verdade. No caso de Aristóteles, a retórica serve para 
uma forma mais prática e se aproxima da dialética, oposição de conceitos, para 
produzir um debate. 
Ao pensarmos a retórica como sendo uma atividade pela qual 
o ser humano tenta, através de seu discurso, levar o ouvinte 
a crer nas ideias ali defendidas, nos deparamos com uma 
prática tão antiga quanto difícil de estabelecer o seu início na 
humanidade. A retórica não é um privilégio reservado aos povos 
antigos e, nos dias de hoje, ela continua envidada na política, 
nas campanhas publicitárias, em mensagens midiáticas, no 
comércio e em tantas outras relações que nos circundam. 
É nesse sentido que Halliday (1990, p. 26), professora de 
59
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
Comunicação Pública que realizou pesquisas sobre a retórica, 
afirma que todos nós agimos retoricamente, partindo do 
princípio de que isso significa “[...] usar a linguagem como um 
meio de fazer as pessoas entenderem o que desejamos que 
elas entendam”. Essa autora também tem em vista que cada 
indivíduo pode fazer uso da persuasão para convencer a si 
próprio sobre alguma ideia, haja vista que “a consciência é o 
primeiro público”, e cita o eufemismo como um dos alicerces 
importantes e sutis nessa arte. Embora a prática persuasiva 
tenha historicamente existido em culturas diversas, o estudo 
dessa arte recebeu significativa atenção de antigos filósofos 
gregos, entre os quais destacamos Aristóteles (384 – 322 
a.C.), pensador que escreveu a obra Retórica, sendo esta aqui 
demarcada como o foco principal deste trabalho. Aristóteles 
viveu em uma época de fortes transformações e agitações 
sociais na antiga Grécia. O ceticismo se expandia, com cada 
indivíduo querendo viver para os seus próprios negócios e, 
principalmente em Atenas, uma cidade que servira como 
referência intelectual e política, havia uma carência do espírito 
coletivo, assim como de orientações que conquistassem a 
confiança dos cidadãos para guiá-los no campo discursivo 
da verossimilhança. Diante de uma sociedade ameaçada por 
posturas egoístas e confusas, e do risco da desarticulação 
extrema das inter-relações sociais, o filósofo de Estagira 
percebeu a importância de ordenar a construção dos discursos 
a serem proferidos em ambientes diversos (jurídicos, fúnebres, 
deliberativos etc.). A arte retórica ganha, com Aristóteles, o 
sentido de faculdade de descobrir em todo assunto o que é 
capaz de gerar a persuasão; o exame acurado das formas 
que compõem o discurso (ou rethón), levando em conta cada 
situação social; de acordo com o momento, o ambiente, a 
cultura e as pessoas envolvidas. Diante dessa concepção 
aristotélica, a presente investigação procura responder ao 
seguinte questionamento: é possível identificar conexões 
entre a Retórica de Aristóteles e o que este filósofo idealiza 
para o exercício das inter-relações sociais na pólis grega? 
Adiantamos, nesse momento, que concebemos uma resposta 
positiva para esta primeira pergunta (LIMA, 2011, p. 14-15).
 
Logo, definimos, de acordo com Reboul (2004), a retórica como a arte de 
construir bem um argumento e a oratória como a arte de expor com qualidade e 
técnica este argumento. 
Isso significa que a construção da arte retórica envolve tanto o convencimento 
por intermédio do texto escrito quanto pelo convencimento oral. Por ter estas 
diferentes dimensões é que se costuma separar retórica de oratória. Retórica 
escrita e elaborada metodicamente e oratória oral com uma conotação mais 
apaixonada. 
O termo arte, techné em grego, é visto por Reboul (2004, p. XVI) 
como detentor de uma ambiguidade, sendo “até duplamente 
ambíguo”. O autor ressalta que o termo faz referência tanto a 
uma habilidade espontânea quanto ao que é adquirido por meio 
do ensino. Ora traduz o sentido de uma simples técnica, ora, ao 
contrário, “[...] o que na criação ultrapassa a técnica e pertence 
60
 Oratória e Retórica
somente ao ‘gênio’ do criador. Em qual ou em quais desses 
sentidos se está pensando quando se diz que a retórica é uma 
arte? Em todos”. Cabe aqui perguntarmos: qual é o sentido de 
techné concebido por Aristóteles? Para este filósofo, a techné 
é um saber fazer bem feito o que se faz, seja na construção 
de um artefato ou de um discurso; um fazer com arte cujo 
sentido é o de produzir tecnicamente bem, com habilidade, o 
que o indivíduo se propõe a produzir. Isto fica claro na Ética a 
Nicômaco (ARISTÓTELES, VI, 5, 1140b), assim como o caráter 
imitativo da arte frente à natureza. Porém, tal imitação não 
significa copiar, pois na visão aristotélica a imitação artística 
metamorfoseia reproduzindo, como nos lembra Stirn (1999, 
p. 65) em sua obra Compreender Aristóteles. Sendo assim, 
o artista não está limitado a copiar mecanicamente o que vê, 
havendo uma abertura para a transformação e a criatividade. 
Isso também ocorre na proposta aristotélica de Retórica. Ao 
defini-la como “a faculdade de ver teoricamente o que, em cada 
caso, pode ser capaz de gerar a persuasão”, Aristóteles (Ret., 
I, II, 1) não exclui o caráter de a retórica ser uma arte, mesmo 
estando presente a palavra faculdade em vez de arte. Pois, 
logo em seguida, ele acrescenta: “Nenhuma outra arte possui 
esta função, porque as demais artes têm, sobre oobjeto que 
lhes é próprio, a possibilidade de instruir e de persuadir”. Com 
isso, deixa implícito que a retórica também é uma arte entre as 
demais por ele observadas. Na Retórica, embora o retor conte 
com uma estrutura discursiva geral pré-organizada, não é raro 
ele se deparar com aspectos imprevisíveis da vida prática e do 
mundo das opiniões. Frente a estes, o Estagirita situa a arte 
retórica também como uma sabedoria do lidar com as surpresas 
(discursivas e sociais), e de possivelmente transformar (ou 
manter) situações práticas a partir do discurso persuasivo. 
É aqui que a ideia aristotélica de thechné nos permite uma 
aproximação do sentido de “’gênio’ criador” citado por Reboul. 
A arte retórica requer (do retor) conhecimento e criatividade, 
pois não basta copiar e decorar fórmulas quando a vida prática 
tem sua margem de mistério e de imprevisibilidade; fatores 
estes que exigem mais do que a mera cópia de um modelo de 
discurso. Afinal, pela retórica aristotélica, aquele que discursa 
busca persuadir o ouvinte, e não necessariamente copiar para 
persuadir (LIMA, 2011, p. 24-25).
 
Neste sentido, o modo de construção de uma argumentação está diretamente 
relacionado ao modelo de expressão de cada indivíduo que se propõe a um 
discurso público. Não basta, como afirma Lima (2011), copiar fórmulas para 
construir discursos, é preciso construir um modo de escrever e falar. Ao citar 
Reboul, Lima (2011) esclarece que para explicar a questão da persuasão 
precisamos dois cenários: 
Reboul (2004, p. XV), ao procurar esclarecer o sentido de 
persuasão, utiliza dois exemplos, são eles: “1) Pedro persuadiu-
me de que sua causa era justa. 2) Pedro persuadiu-me a 
defender sua causa”. Vejamos a distinção feita pelo autor (id., 
ibid., p. XV) a fim de identificar em qual dos dois encontra-se 
a persuasão: [...] em (1) Pedro conseguiu levar-me a acreditar 
em alguma coisa, enquanto em (2) ele conseguiu levar-me a 
fazer alguma coisa, não se sabendo se acredito nela ou não. A 
nosso ver, a persuasão retórica consiste em (1), sem redundar 
61
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
necessariamente no levar a fazer (2). Diferentemente de 
Reboul, Perelmam (2004, p. 58), filósofo do direito cujos estudos 
de retórica recebem fortes influências aristotélicas, destaca a 
ação (o fazer) como sendo essencial à persuasão: Para quem 
se preocupa sobretudo com o resultado, persuadir é mais do 
que convencer: a persuasão acrescentaria à convicção a força 
necessária que é a única que conduzirá à ação. Abramos a 
enciclopédia espanhola. Dir-nos-ão que convencer é apenas a 
primeira fase – o essencial é persuadir, ou seja, abalar a alma 
para que o ouvinte aja em conformidade com a convicção 
que lhe foi comunicada. Por outro lado, Reboul (2004, p. XIV) 
critica aqueles que distinguem rigorosamente “persuadir” de 
“convencer”, afirmando que tal distinção se fundamenta numa 
filosofia – ou mesmo ideologia – exageradamente dualista, 
“[...] visto que opõe no homem o ser de crença e sentimento ao 
ser de inteligência e razão, e postula ademais que o segundo 
pode afirmar-se sem o primeiro, ou mesmo contra o primeiro”. 
Entretanto, vale observar que Perelman não joga o ser de 
razão contra o ser de sentimento, e nem postula que o segundo 
possa afirmar-se sem o primeiro, ele apenas põe o primeiro 
como uma fase de apoio ao desenvolvimento do segundo. Por 
tal característica (entre outras), as ideias de Perelman estão 
em afinidade com a Retórica aristotélica, como já percebera 
Guimarães (2004, p. 145), em seu artigo Figuras de Retórica e 
Argumentação: “Assim, modernamente, a obra de C. Perelman, 
autor belga, diligencia reabilitar uma teoria da argumentação 
que reencontre a tradição aristotélica” (LIMA, 2011, p. 30-31).
 
Para entendermos essa dinâmica de formação de um modo próprio de 
expressão de nossas ideias através de argumentos, propomos um exercício 
de entendimento do desenvolvimento da retórica antiga. Sabemos que 
para convencermos alguém temos que usar de eloquência, precisamos ser 
convincentes. Entre os gregos, a retórica e a oratória ganharam força quando se 
desenvolveram técnicas de argumentação e estruturação de discursos.
Atividade de Estudos:
 1) Sabemos que a retórica surge entre os gregos antigos. Leia 
o texto disponível em <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-americo-
persuasao-0.pdf>, páginas 5 a 8, e explique o que você entende 
dessa leitura proposta.
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62
 Oratória e Retórica
Ora, o modo de eloquência se relacionava diretamente com a honestidade, 
com o compromisso com a verdadeira filosofia. Evidentemente que na história 
posterior da filosofia se desenvolveram ideias totalmente nominalistas que 
enfatizam a forma e não o conteúdo do discurso. Nos regimes democráticos o 
nominalismo assumiu papel central para sustentar a democracia moderna, 
pois sem a retórica sofística a democracia não se sustentaria. É a rejeição da 
verdade na antiguidade que transformou a retórica em modo sagaz 
de convencimento. Neste sentido, podemos falar em um triunfo dos 
sofistas em relação a Platão, uma vez que para o autor dos Diálogos 
platônicos a retórica e a verdade se mantinham unidas. 
Essa separação entre retórica e verdade resultou na modernidade 
no aparecimento de outra divisão fundamental. É Maquiavel que 
constatou que política e ética não pertenciam mais ao mesmo espectro. 
Deste modo, a retórica no Ocidente se desenvolveu de modo a permitir 
uma arte da persuasão sem compromisso com a verdade. 
A boa argumentação se apoia em três aspectos fundamentais, de 
acordo com Platão. Primeiro é preciso articular bem a verdade com o 
discurso que se profere. Observamos isso no diálogo Górgias, de Platão, 
que estabelece as bases do pensar e falar bem na filosofia ocidental. 
Segundo, devemos estar atentos à forma do discurso. Se for uma forma de 
explanação ao público em geral ou se é um discurso particular. E terceiro, a 
quem se dirige o discurso, se é uma plateia que possui um repertório amplo 
ou restrito de conhecimento sobre o assunto a ser elaborado. 
Por isso, falar bem implica, antes de tudo, saber como montar um 
discurso e qual a finalidade de um discurso. Esse entendimento permite 
ao estudante de oratória e retórica desenvolver o entendimento de que 
pensar e falar bem estão diretamente articulados.
Atividade de Estudos:
 1) Leia o texto disponível em <http://repositorio.ul.pt/
bitstream/10451/18457/3/ulfl183093_tm_3.pdf>, páginas 3 a 5, e 
responda: Como você entende esse desenvolvimento da retórica?
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A boa argumentação 
se apoia em 
três aspectos 
fundamentais, de 
acordo com Platão. 
Primeiro é preciso 
articular bem a 
verdade com o 
discurso que se 
profere. Segundo, 
devemos estar 
atentos à forma do 
discurso.
Por isso, falar bem 
implica, antes de 
tudo, saber como 
montar um discurso 
e qual a finalidade 
de um discurso. 
Esse entendimento 
permite ao 
estudante de 
oratória e retórica 
desenvolver o 
entendimento 
de que pensar e 
falar bem estão 
diretamente 
articulados.
63
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
Quando estamos diante de um texto religioso, por exemplo, devemos estar 
atentos ao processo hermenêutico, ou seja, de interpretação para posteriormente 
montarmos um discurso que repita simplesmente o texto lido. É por isso que 
para se desenvolver uma boa oratória e uma boa retórica, o estudante deve se 
preocupar em entender bem e saber estudar um texto. É condição prévia para se 
montar um bom discurso saberinterpretar um texto, dominar a língua em que se 
escreve e fundamentar bem suas posições nos autores escolhidos. 
Deste modo, argumentar bem significa pensar de acordo com o que se quer 
expor de modo claro e distinto, conforme aponta Descartes em seu discurso do 
Método, pois algo confuso e misturado não pode transmitir uma mensagem clara 
aos interlocutores. 
A mensagem precisa ser a mais direta e livre de ambiguidades possível, 
pois permite ao interlocutor entender e discordar se assim o quiser, visto que 
a oratória e a retórica não visam somente ao convencimento dos outros. Ela 
procura transmitir uma mensagem que pode ser debatida, visto que vivemos em 
um mundo plural. Ninguém precisa concordar com o orador somente por ele ter 
palavras ardilosas e sedutoras. Evidentemente que se o orador for sedutor e ao 
mesmo tempo transmitir uma mensagem que seja do agrado dos interlocutores, 
podemos entender que se produz um efeito mais desejado em relação aos 
argumentos enunciados. 
De modo a permitir que uma mensagem tenha um alcance maior, podemos 
utilizar alguns artifícios retóricos que nos ajudam a convencer os interlocutores. 
Esses artifícios variam de acordo com o interesse e o comprometimento do orador 
com a verdade. Conforme defende o sofista Górgias no diálogo platônico, é o 
orador que escolhe como e de que modo quer convencer. Evidentemente que 
Platão, por ter um compromisso maior com a verdade, não concorda com isso. 
Por isso falamos, no início deste capítulo, que depende do compromisso com a 
verdade que nós temos para debater um assunto e da escolha que fizermos para 
sabermos se um argumento é de fato verdadeiro e bem exposto. 
Uma boa exposição de ideias e de argumentos pode produzir os efeitos 
esperados dentro de um ambiente e produzir um efeito oposto em outros 
ambientes. Deste modo, cabe ao orador saber o que deve ser exposto em um 
determinado ambiente e medir as consequências de suas afirmações. Lembremos 
também que, de acordo com Reboul (2004), o estilo de discurso deve estar em 
consonância com o orador e o público a que se expõe os argumentos. 
Logo, a arte de falar bem não é exata, como as pessoas que não estudam 
a área pensam, emitindo opiniões vazias. Devemos evitar generalidades, ensina 
o grande retórico antigo Aristóteles em seu texto chamado posteriormente de 
Metafísica, pois elas produzem efeitos contraditórios e enganosos. 
64
 Oratória e Retórica
Desta maneira, falar bem é consequência direta da boa construção 
e exposição de argumentos. Se bem formularmos um argumento, 
poderemos apresentar bem a mensagem que queremos transmitir.
Neste sentido, falar bem é aprender a pensar bem, escrever bem 
e expor bem um determinado argumento. Se não formos capazes de 
explicar um argumento, não podemos dizer que falamos bem, pois 
falar bem implica em se fazer entender e transmitir a mensagem que 
nós queremos passar.
A Construção do Argumento
A construção de um argumento se processa de maneira muito 
detalhada e existe a necessidade de construirmos uma base sólida 
para expor o que queremos.
Inicialmente, para se fazer e expor um bom argumento é preciso 
escolher o estilo a ser utilizado na exposição deste. Depois precisamos 
escolher o modo como se fará esta exposição. É claro que supomos 
uma determinada mensagem que já foi escolhida para ser transmitida. Logo, para 
se construir um bom argumento é preciso ter um assunto a ser transmitido, um 
estilo de exposição, um modo pelo qual o orador irá se manifestar e um plano 
lógico para executar todo o processo de transmissão da mensagem. 
Como podemos escolher um tema para expor? Ora, se estamos 
interessados em apresentar um argumento, é porque temos interesse 
que os outros saibam o que nós queremos expor. Se existe esta 
motivação interior, ela deve ser elaborada, pois nossa vontade de 
querer dizer aos outros aquilo que estamos vivenciando ou sentindo 
precisa de esmero. É neste momento que a retórica e a oratória podem 
ajudar você a se manifestar de maneira clara e eloquente.
Para construir um argumento, segundo Platão, precisamos 
dominar com absoluta clareza o que queremos expor. Se soubermos, 
por exemplo, um determinado argumento e dominamos suas variações, 
estamos aptos a expô-lo. 
Com efeito, o conhecimento de um determinado argumento permite 
calcular o alcance de nossa exposição, de nossa argumentação. Se 
dominamos, por exemplo, o argumento da lei da gravidade, ou seja, todos 
os objetos sobre a superfície da Terra caem à mesma velocidade devido 
Desta maneira, 
falar bem é 
consequência direta 
da boa construção 
e exposição de 
argumentos. Se 
bem formularmos 
um argumento, 
poderemos 
apresentar bem 
a mensagem que 
queremos transmitir.
A construção de 
um argumento se 
processa de maneira 
muito detalhada e 
existe a necessidade 
de construirmos 
uma base sólida 
para expor o que 
queremos.
Ora, se estamos 
interessados em 
apresentar um 
argumento, é porque 
temos interesse que 
os outros saibam o 
que nós queremos 
expor.
Com efeito, o 
conhecimento de 
um determinado 
argumento permite 
calcular o alcance de 
nossa exposição, de 
nossa argumentação. 
Se dominamos, 
por exemplo, o 
argumento da lei da 
gravidade,
65
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
à lei da gravidade, podemos explicar isso aos outros, bem como suas variações. 
Agora, se temos dúvidas e não sabemos qual é a lei da gravidade universal, não 
conseguiremos expor e explicar as particularidades do argumento. Deste modo 
devemos, antes de tudo, averiguar se realmente sabemos um argumento de 
maneira a podermos expor o mesmo com qualidade. Conforme ensina Sócrates 
referido por Luz (2010, p. 49-50):
[...] em vez de censurar, o que é preciso é desculpar os que, 
por desconhecimento da dialética, não estão em condições de 
definir o que seja retórica. Com toda sua ignorância, por haverem 
encontrado casualmente uns poucos conhecimentos, pensam 
que descobriram a retórica, e pelo fato de transmitirem a outras 
pessoas essas mesmas noções, estão convencidas de que lhes 
ensinaram a arte de bem falar. A dialética é o caminho da alma 
para que se possa alcançar a beleza e a justiça, base para todo 
ensino verdadeiramente filosófico – conhecimento da alma e 
amor à verdade, na busca dos princípios eternos. Ao passar 
por todas estas definições ambicionadas a colocar a retórica 
a serviço do conhecimento filosófico e verdadeiro, Platão – 
utilizando-se do discurso socrático –, parte do divino para dirigir 
o debate para um campo epistemológico e ético, opondo-se 
aos oradores de sua época. A retórica, portanto, depende da 
dialética, que por se esforçar em atingir o verdadeiro, depende 
do verossímil procurado por ela, que depende “diretamente” 
de valores que são da ordem do inteligível (levando em 
consideração que o homem não é a medida de todas as 
coisas). Ao longo de suas obras, Platão define a retórica sofista 
como um longo discurso contínuo, que visa persuadir os seus 
ouvintes por meio de vários procedimentos que se sustentam 
uns aos outros, fazendo com que o retórico impressione pelo 
conjunto da obra, mais do que pela solidez de cada argumento 
explicitado. Entretanto, quando em vista do método dialético, 
cada raciocínio se desenvolve pouco a pouco, sendo cada 
passo testado e confirmado pela concordância do interlocutor, 
só havendo uma passagem para a “tese seguinte”, para uma 
segunda argumentação, quando a primeira for apreendida 
corretamente; quando a adesão daquele a quem se dirige 
garante a verdade de cada elo da argumentação. No caso do 
diálogo erístico, há uma preocupação única em se vencer o 
adversário, o que implicaria numa total indiferença em relação 
à verdade. Tal retórico é motivado pelo desejo de vencer, de 
deixar o interlocutor embaraçado, fazendo com que o seu 
ponto de vista pessoal injustificado, e não a verdade, triunfe. 
Predigo-te que este jovem, seja qual for a sua resposta, será 
obrigado a contradizer-se. O diálogo crítico,característica 
eminente do discurso socrático, o interlocutor trata-se de testar 
uma tese, na tentativa de demonstrar a sua incompatibilidade 
com as outras argumentações formuladas por ele. A coerência 
interna do discurso é que fornece o critério para investigação, 
ou ainda, interrogação crítica, que serve de alicerce para se 
testar a compatibilidade argumentativa. Quando o diálogo 
deixa de ser crítico para adentrar no caráter verdadeiramente 
filosófico – adquirindo um interesse construtivo para além da 
coerência interna do discurso –, os interlocutores procuram 
entrar num consenso conceitual sobre aquilo que de antemão 
foi considerado dialeticamente verdadeiro. O diálogo 
filosófico é impreterivelmente dialético, é ele que determina 
66
 Oratória e Retórica
as características do método dialético – “nele a concordância 
dos interlocutores poderia servir de ponto de partida para 
argumentação, não porque se trataria de um concurso de duas 
opiniões divergentes, mas porque essa concordância seria a 
expressão de uma adesão generalizada às preposições em 
questão”. O método dialético é o método de toda filosofia que 
pretende dar conta das considerações inesgotáveis do saber 
filosófico. 
 
Ora, embora a retórica e a dialética sejam distintas, há uma relação que 
permite ao orador formular argumentos retóricos para ser um bom debatedor. 
Neste sentido, a retórica é um modo para se buscar a verdade. 
Quando falamos de leis da física parece um tanto mais distinto e direto, agora 
quando falamos de argumentos filosóficos e teológicos, a situação é um pouco 
mais complicada. Como a filosofia e a teologia se utilizam da hermenêutica, ou 
seja, a interpretação de textos, o argumento, muitas vezes, é confundido com a 
interpretação. 
Cabe a você, estudante de retórica e oratória, distinguir um argumento de 
uma interpretação. Um argumento é sempre a exposição lógica de uma ideia, por 
exemplo, “Deus é o ser do qual não podemos pensar nada maior” (ANSELMO, 
1991) e a interpretação que você faz dessa frase do pensador Anselmo.
Este argumento é chamado de argumento ontológico, pois 
independentemente do lugar onde se aplique, Deus sempre será, para 
Santo Anselmo, o maior de todos os seres que podem ser pensados. 
São várias as formas como você entende este argumento. E, mesmo sendo 
lógico e formalmente irrefutável, você pode ignorá-lo, logo, a interpretação é 
sempre um movimento subjetivo e introspectivo. Mesmo com método determinado 
e um argumento, é a mensagem lógica que se passa por intermédio da linguagem. 
Os Gêneros do Discurso
Um gênero de discurso é, antes de tudo, a opção que o orador faz para expor 
seu argumento e seu modo de pensar. O pensar pode ser exposto de diferentes 
modos, podemos fazer textos, construir esculturas, montar peças de teatro, pintar 
quadros, fazer gestos e muito mais.
67
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
Aristóteles nos fornece uma classificação dos gêneros retóricos que 
praticamente não mudou em mais de dois mil anos. De acordo com Lima (2011), 
ao citar Artistóteles:
Aristóteles (Ret. I, III, 11), uma vez tendo considerado que cada 
gênero retórico – deliberativo, judiciário e epidítico - deve ser 
baseado numa demonstração (éntechnos), tem em vista que a 
retórica deve se desenvolver a partir do método das evidências 
e, sendo a demonstração uma evidência, afirma: “pois que a 
nossa confiança é tanto mais firme quanto mais convencidos 
estivermos de ter obtido uma demonstração”. A evidência 
retórica, conforme Aristóteles, é caracterizada pela aplicação 
do entimema, ou seja, pelo uso de um raciocínio que não tem 
o mesmo grau de certeza daquele normalmente apresentado 
pelo silogismo, mas que busca ser evidente. O silogismo deriva 
de premissas lógicas, enquanto o entimema tem origem nas 
premissas retóricas (LIMA, 2011, p. 48).
 
Na retórica e na oratória se configuram gêneros de um discurso, as maneiras 
que escolhemos desde a antiguidade para nos expressarmos. Platão e Aristóteles 
fizeram uma classificação dos gêneros de um discurso conforme apontamos no 
capítulo primeiro do texto.
O Tratado do Amor de Lísias começa pelo fim; pela conclusão 
a que o orador chegou e pretende que todos cheguem – como o 
amante deve se portar com seu amado – fazendo com que as outras 
partes do discurso se desenvolvam “numa grande emburrilhada”. 
A crítica socrática consiste na dificuldade do sofista em discorrer 
longamente sobre um determinado assunto e ao talento em 
conseguir falar de uma mesma ideia de diferentes formas. Enfatiza 
que a carta está calcada nos saberes não filosóficos, sendo uma 
peça bem trabalhada, mas carente de um nexo causal entre as 
partes constituintes – poderiam ser encaixadas em quaisquer esferas 
do discurso. Segundo Sócrates, esta deveria ser constituída por 
um todo artisticamente considerado, no qual as partes estejam em 
perfeita sincronia com a ideia do conjunto. [...] todo discurso precisa 
ser construído como um organismo vivo, com um corpo que lhe seja 
próprio, de forma que não se apresente sem cabeça nem pés, porém 
com uma parte mediana e extremidades bem relacionadas entre si 
e com o todo. A fim de não mais aborrecer Fedro, através da crítica 
ferrenha à construção do discurso de seu adorado Lísias, o diálogo 
socrático passa à análise da arte da eloquência, tendo em vista 
que os dois argumentos explicitados sobre a relação entre amado 
e amante – em que “um pretende que só deve ceder às instâncias 
68
 Oratória e Retórica
do indivíduo que ama, e o outro, às de quem não revele amor” (265 
a) – se contradizem reciprocamente, fazendo com que Sócrates 
retomasse a ideia das Manias Divinas e, principalmente, aquela 
referida ao amor.
Fonte: Luz (2010, p. 47).
Para retomarmos à discussão, lembramos ao estudante de retórica e oratória 
estes gêneros de discurso. Em Platão há um compromisso com as premissas e 
com a verdade. Há uma divisão entre verdade e forma de um discurso:
Platão, por sua vez, pretendeu ao longo de suas obras 
contextualizar e estabelecer a essência e o valor de verdade 
da retórica (dita como tal) instituída pelos sofistas. O filósofo 
afirmava, ainda, que a retórica deveria ser considerada 
segundo razões de todo análogas àquelas pelas quais a arte 
deve ser condenada. A retórica é a contrafação da verdade. Tal 
como a arte tem a pretensão de retratar as coisas sem delas 
ter verdadeiro conhecimento, imitando puramente as suas 
aparências, a retórica, através do método persuasivo, pretende 
convencer o homem acerca de tudo, sem ter conhecimento 
algum. A retórica cria crenças ilusórias. O retórico é aquele 
que, devido a sua habilidade persuasiva, joga com o discurso 
que encontra-se calcado nas aparências da verdade, em 
verossimilhanças e não na verdade em si mesma. Tanto 
quanto acontece na arte, a retórica se dirige à pior parte da 
alma, àquela que é crédula e instável, suscetível de emoção 
e sensível ao prazer. Pode-se dizer que o retórico lida com 
o falso para além do artista, tendo em vista que esse último 
ao menos representa as aparências do verdadeiro, enquanto 
que o retórico tem a malícia do conhecimento calcado num 
falso saber. A filosofia dialética deve corromper e substituir a 
retórica, no que diz respeito ao seu caráter de verdade. No 
Fedro, Platão explicita que na arte dos discursos, enquanto 
retórica, é reconhecido um direito à existência, entretanto, sob 
a condição de que se submeta à verdade e, por conseguinte, 
à filosofia. E para alcançar a verdade, pela qual a retórica 
teria de se submeter, se faz necessária a aprendizagem da 
doutrina das Ideias e a dialética – “seja no seu momento 
ascendente que leva do múltiplo ao uno, seja no seu momento 
descendente e diairético que ensina a dividir as Ideias segundo 
as articulações que lhe são próprias”, e conhecer a alma, visto 
que a arte da persuasão se dirige necessariamente à alma. 
Só se pode construir uma arte verdadeira de persuadir por 
discursos, conhecendoa natureza das coisas e a natureza 
da alma humana. A escritura só faz aumentar a aparência 
(doxa) do saber não fortalecendo a memória, mas oferecendo 
meios para trazer à memória aquilo que de antemão já era 
conhecido pela alma. O escrito é sem alma, sendo incapaz 
de defender-se sozinho contra críticas, exigindo sempre 
a intervenção constante do seu autor. O discurso oral, e só 
ele, é capaz de penetrar na alma daquele que o apreende, 
sendo o discurso escrito apenas uma imagem daquele que 
69
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
se encontra na dimensão da oralidade. Para ser conduzido, 
segundo as regras da arte, o escrito implica no conhecimento 
da verdade dialeticamente fundada e, por conseguinte, implica 
no conhecimento da alma daquele ao qual se dirige – há um 
jogo metódico pelo qual quem escreve deve se submeter. Por 
definição, a palavra é um aspecto da realidade, é uma palavra 
eficaz. No entanto, a potência da palavra não se encontra 
apenas orientada para o real, ela se mostra, da mesma forma, 
irrevogavelmente tal como uma potência sobre o outro. Logo, 
a potência da palavra se mostra perigosa, visto que pode ser 
tomada como a ilusão do real. Ou seja, a sedução da palavra é 
tal que pode se fazer passar pela realidade; o logos pode impor 
objetos que se assemelhem à realidade confundindo-se com 
ela, sendo, entretanto, não mais do que uma imagem vã. Este 
fato levanta uma nova questão, traz um problema fundamental 
pertinente à relação entre palavra e verdade. A ambiguidade 
da palavra, então, torna-se polo de reflexão sobre a linguagem 
tal como instrumento do pensamento racional, onde há, por um 
lado, o problema da potência da palavra sobre a realidade e, 
por outro lado, o problema da potência da palavra sobre o outro 
– perspectiva fundamental no desvelamento retórico e sofístico 
(LUZ, 2010, p. 43-44). 
 
Ainda de acordo com Platão, um discurso deve ser entendido como um 
modo de produção de conhecimento no qual as almas se relacionam para se 
aprimorarem, de modo a se voltarem para a verdade que se encontra no mundo 
perfeito ou mundo das ideias, que para Platão é o único mundo real. 
Sabemos que Platão (428-7 – 348-7 a. C) considerava que os 
sofistas eram habilidosos praticantes da erística, e comumente 
capazes de defender e atacar uma mesma questão, conforme 
o que lhes era mais conveniente a cada debate. Isso fica 
claro nos diálogos platônicos Górgias e Eutidemo, nos quais 
o filósofo procura mostrar que a retórica não é uma ciência e 
nem uma verdadeira arte, pois, pelo que consta no Górgias 
(465 a), ela é somente uma empeiria, ou seja, uma habilidade 
prática decorrente da experiência. A negação dessa prática 
como ciência não é novidade naquele contexto social, pois na 
tradição retórica, dos pitagóricos a Górgias, como concorda 
Plebe (1978), a retórica era situada no mundo da doxa (opinião), 
e não da ciência. Entretanto, Platão acrescenta uma provocação 
ao afirmar que a retórica também não é uma arte, ou seja, não 
é thécnerhetoriké como defendia Górgias, considerando-a 
apenas como habilidade. Este filósofo está mais interessado 
na dialética, a qual é vista por ele como uma arte que se volta 
tanto para a forma quanto o conteúdo. Entretanto, ele (Platão) 
discute sobre a retórica por reconhecer que tal atividade, tendo o 
caráter de experiência tecno-prática, não seria de todo inútil. Na 
visão platônica, portanto, a retórica seria diferente da dialética 
e também da sofística, como pode ser constatado no Górgias 
(465), no qual a sofística aparece como contrafação da arte de 
legislar (nomothetiké), e a retórica como contrafação da arte de 
administrar a justiça (dikaiosyne) (LIMA, 2011, p. 43).
Ainda seguindo a definição precisa apresentada por Platão, as fontes das 
habilidades devem ser distinguidas.
70
 Oratória e Retórica
Platão considera que essas duas formas de habilidades 
são contrafações de um gênero de habilidade que não é 
arte, o qual ele denomina kolakeía (adulação), mas admite 
que tal gênero é contrafação da arte. Em resumo, embora 
reconheça que os sofistas são dotados de um espírito ousado 
e imaginativo, a filosofia platônica vê a retórica como discurso 
vazio de conteúdo. Já na sua maturidade, Platão passa a 
considerar a retórica como sendo uma versão disparatada e 
distorcida da dialética, conforme consta em seu diálogo Fedro, 
e, por outro lado, a idealizar a existência de uma verdadeira 
retórica, a qual ele identifica com a própria dialética. Assim, 
Platão equipara a falsa dialética com a retórica, ao mesmo 
tempo em que identifica a retórica verdadeira com a dialética, 
tornando a retórica reprovável somente quando esta última 
não se identifica com a primeira. Por conseguinte, segundo 
Platão, qualquer sofista, uma vez não praticante da dialética, 
da orientação das paixões ao aprimoramento da eupraxia, 
não merece confiança, por maior que seja a sua habilidade 
oratória. Nesse sentido, em um trecho do Fedro (LII, 268 b-c), 
ele faz uma comparação entre as características da retórica 
e o perfil de um falso médico. Descreve que o suposto doutor 
alega conhecer os modos de deixar o corpo quente ou frio, de 
provocar vômitos ou evacuações, entre outros efeitos, e que o 
mesmo acrescenta: “E porque sei tudo isso tenho-me na conta 
de médico e também com a capacidade de fazer um médico da 
pessoa a quem eu transmitir esses conhecimentos ........”. Esse 
trecho é seguido imediatamente pela citação que registramos 
adiante: Sócrates – Como imaginas que lhe responderia quem 
o ouvir expressar-se dessa maneira? Fedro – Que mais poderia 
fazer, a não ser perguntar se também sabia a quem aplicar 
tudo aquilo, o tempo certo e a dose para cada caso? Sócrates 
– E se ele contestasse: Dessas coisas não entendo patavinas; 
porém suponho que quem aprender comigo aquilo tudo, ficará 
em condições de responder a tais perguntas. Fedro – Diriam, 
segundo penso: Este homem é louco! Só porque leu um livro, 
ou porque encontrou casualmente alguns remédios, considera-
se médico, ainda que nada entenda de tal arte. Ao considerar 
o praticante da retórica como alguém cujo conhecimento não 
é confiável, Platão (opus cit., LVII, 272 d-e) afirma que “Nos 
tribunais, por exemplo, ninguém se preocupa no mínimo com a 
verdade, só se esforçando por persuadir”, e que toda a arte da 
oratória consiste em manter a verossimilhança do início ao fim 
do discurso. Portanto, esse pensador tem em vista que todo 
filósofo deve manter como seu objetivo a plena busca pela 
verdade, ao invés de priorizar as aparências dos discursos só 
para persuadir a qualquer custo. Por outro lado, embora tenha 
feito tantas críticas à retórica, o citado filósofo reconhece a 
importância de se identificar os diferentes tipos de auditórios 
que podem inspirar construções oratórias distintas entre si - 
mantendo em comum a busca pela verdade -, e, sendo assim, 
já prepara, de certo modo, o caminho para a sistematização 
aristotélica da retórica que virá logo depois. Tanto é assim que 
alguns aspectos, que serão valorizados por Aristóteles em sua 
obra Retórica, já constam nas seguintes palavras de Platão 
(Ibid., LVIII, 273d-274a): [...] quem não fizer a enumeração 
exata da natureza dos ouvintes nem distribuir os objetos de 
acordo com as respectivas espécies e não souber reduzir a 
uma ideia única todas as ideias particulares, jamais dominará 
a arte da oratória, dentro das possibilidades humanas. Mas, 
sem trabalho ninguém consegue chegar a esse ponto. Não 
71
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
é para falar com os homens nem para tratar com eles que o 
sábio despende tanto esforço, mas para falar o que agrade aos 
deuses e também para lhes comprazer com suas ações, na 
medida do possível. Porque o homem de senso [...] não deverá 
esforçar-se para agradar seus companheiros de escravidão; 
pelo menos não porá nisso o principal intento, nem o fará de 
ligeiro, porém a bons mestres e de boa origem. Eis que ficaclara a preocupação de Platão em estabelecer parâmetros 
éticos para a prática da oratória, e, nesse sentido, veremos, 
após alguns parágrafos adiante, que a mesma preocupação 
pode ser identificada em Aristóteles no que concerne a sua 
sistematização (LIMA, 2011, p. 44).
 
Segundo Aristóteles, a exposição de um argumento se divide em invenção, 
disposição, elocução e ação. 
Deste modo, a invenção consiste na escolha do material para se formular 
um argumento. Nesta etapa o retórico ou orador se atém aos elementos dispersos 
e reúne aqueles que ele considerar adequados.
Na disposição o retórico ou orador se preocupará em organizar os elementos 
argumentativos encontrados para poder construir um determinado argumento de 
modo a escrever bem seu discurso. 
Na elocução o sujeito que pretende argumentar bem desenvolve seu 
argumento e escreve o texto a ser exposto de modo a concatenar as falas para 
não cair em contradição e se perder na execução do discurso. 
Já a ação consiste em expor de maneira oral tudo o que foi preparado nos 
três aspectos anteriores, de maneira a permitir aos interlocutores o entendimento 
da mensagem que se quer transmitir. Neste momento, o orador usa de todas as 
capacidades que a sua voz lhe permite e de todas as habilidades adquiridas ou 
naturais que possui. 
Desta maneira, Aristóteles difere de Platão, por entender que a retórica 
e a oratória são importantes para o debate, não só para o convencimento dos 
interlocutores. Conforme confirma Lima (2011, p. 47):
Aristóteles, diferentemente de Platão, vê a retórica como algo 
que normalmente faz parte da vida social e política, como uma 
arte importante para o desenvolvimento dessas áreas. Tal 
pensador tem em vista que a distinção conceitual, envolvendo 
o estudo dos termos e como estes podem contribuir para 
a composição lógica e persuasiva dos argumentos, é 
fundamental para que o ser humano possa clarificar suas 
ideias e comunicá-las socialmente. É nessa perspectiva que 
ele propõe a formação de um retor que saiba identificar as 
vantagens e (ou) desvantagens persuasivas na construção de 
cada discurso, visando estabelecer, conforme suas próprias 
palavras, “[...] quase por completo os fundamentos sobre os 
quais devemos basear os nossos argumentos, quando falamos 
a favor ou contra uma proposta”. 
72
 Oratória e Retórica
 Logo, em Aristóteles existe uma mudança da retórica, que passa a ser 
um instrumento mais cotidiano para ser usado em argumentações políticas, 
jurídicas e dos problemas mais simples da existência humana. Conforme aponta 
Lima (2011), ao orador cabe discernir com qual plateia e para quem ele deva falar 
acerca de um determinado tema:
O Estagirita, pensando na vida prática, situações reais do 
dia a dia em que, geralmente, não se dispõe de muito tempo 
para os encontros discursivos, tem em vista a importância 
de o retor saber ajuntar os entimemas de modo que o 
ouvinte compreenda o raciocínio do orador com tão pouca 
demora. Mas ele também alerta para que não se cometa 
excessos no uso dos entimemas: Não se deve também, a 
propósito de toda e qualquer questão, procurar empregar os 
entimemas, pois nesse caso chegaríeis ao mesmo resultado 
que certos filósofos que demonstram, por meio de silogismos, 
proposições mais conhecidas e mais persuasivas do que 
aquelas donde deduzem seus raciocínios. (Ret., III, XVII, 
7) Os lugares comuns, de entimemas demonstrativos e 
refutativos, compõem uma ampla variedade de argumentos 
que são estudados, enumerados e tipificados por Aristóteles, 
hierarquizados segundo a eficácia de persuasão. Os lugares 
comuns são assim chamados por serem linhas de argumentos 
de interesses das partes envolvidas na discussão. Vejamos, 
por exemplo, o seguinte tópoi (lugar) que consta no Livro II 
da Retórica de Aristóteles (XXIII,1): Primeiramente há um lugar 
para os entimemas demonstrativos: aquele que se tira dos 
contrários. Com efeito, importa examinar se o contrário está 
contido no contrário; se não está compreendido, refutaremos 
o adversário; se está compreendido, estabeleceremos nossa 
própria tese; por exemplo, defenderemos que ser temperante 
é bom, porque viver na licenciosidade é nocivo. Ou então, 
como no discurso sobre Messênia: “Visto a guerra ser a causa 
dos males atuais, é pela paz que devemos remediá-los”. Em 
mais um exemplo, Aristóteles (Ret., II, 23, 4) apresenta, entre 
outros entimemas, o seguinte: “se os deuses não sabem tudo, 
muito menos os homens”. E logo em seguida ele afirma que 
esse entimema corresponde ao seguinte tópoi: “se um atributo 
não pertence a um sujeito, ao qual mais deveria pertencer, 
evidentemente que também não pertence ao sujeito, ao qual 
deveria pertencer menos”. E também é do Estagirita (ibid., II, 
XXIII, 7) o seguinte trecho: “Um outro lugar tira-se das palavras 
contra nós e que voltamos contra o adversário. Este lugar é 
excelente [...]” (LIMA, 2011, p. 50-51).
Em Aristóteles a retórica assumiu uma conotação prática, ou seja, ela deve 
servir ao homem para argumentar na resolução de problemas do cotidiano. Assim, 
a retórica passa a ser uma ferramenta acessível a todos os sujeitos que queiram 
pleitear algo. 
Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles (I, 8, 1099 a) considera 
a finalidade da vida política como o melhor dos fins, e que 
“o principal empenho dessa ciência é fazer com que os 
cidadãos sejam bons e capazes de nobres ações”. Tal nobreza 
inclui a observação de que embora já seja desejável o bem 
73
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
para um só indivíduo, é mais nobre e mais divino alcançar o 
bem para uma nação ou para as cidades-Estado (opus cit., 
I, 1094 b). Para o Estagirita (id.,ibid.), a ciência política é a 
mais prestigiosa de todas, visto que a ciência política utiliza as 
demais ciências e, ainda, legisla sobre o que devemos fazer 
e sobre o que devemos nos abster, a finalidade dessa ciência 
deve necessariamente abranger a finalidade das outras, 
de maneira que essa finalidade deverá ser o bem humano. 
“A cosmologia de Aristóteles coloca certo número de seres 
superinteligentes, as inteligências que governam as estrelas e 
os planetas, acima do Homem na escala do ser, assim como 
Deus, o Movimentador Imóvel” (LIMA, 2011, p. 53). 
 
Neste caso, o homem que se dedica à prática retórica é capaz de resolver os 
problemas da vida cotidiana, pois consegue argumentar melhor para reivindicar 
seus pleitos. Sendo o retórico e o orador um sujeito que possui responsabilidades 
com aquilo que se está transmitindo, é importante mencionar o significado da 
honestidade do orador na construção e exposição dos argumentos, para que os 
sujeitos interlocutores se convençam da mensagem.
Atividade de Estudos: 
 1) Explique, com suas palavras, por que é importante a 
honestidade retórica? Leia o texto para poder entender melhor o 
problema.
LIBERDADE OU MANIPULAÇÃO?
 É por isso que este mesmo autor, considerando que a 
característica da boa argumentação não é suprimir o aspecto 
retórico, pois em nenhum caso uma argumentação inexpressiva 
se torna, só por isso, obrigatoriamente mais honesta – adianta 
dois critérios gerais a que se deve submeter a boa retórica: 
 1. Critério da transparência: que o ouvinte fique consciente, ao 
máximo, dos meios pelos quais a crença está a ser modificada. 
 
 2. Critério de reciprocidade: que a relação entre o orador e o 
auditório não seja assimétrica, para que fique assegurado o 
direito de resposta. 
 Respeitados tais critérios, Reboul considera que a argumentação 
não se torna por isso menos retórica, e sim mais honesta. Mas 
parece evidente que, sem pôr em causa a eficácia destes dois 
74
 Oratória e Retórica
critérios, o fato deles conterem os conceitos indeterminados que 
o ouvinte fique consciente ao máximo e não seja assimétrica 
sempre introduz uma significativa ambiguidade no momento da 
sua concretização. Por outro lado, pode acontecer também que 
a incompetência argumentativa do auditório crie a ilusãode uma 
relação retórica desigual e leve a que se veja manipulação no 
orador quando, na realidade, essa desigualdade se fica a dever 
à insuficiente capacidade crítica revelada por aqueles a quem se 
dirige.
Fonte: Sousa (2000, p. 96).
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Ethos, Pathos, Logos
Neste texto utilizamos ethos com o sentido de ética, pathos no 
sentido de paixão e logos no sentido de discurso. 
Passamos agora à discussão de aspectos da estrutura do conteúdo dos 
argumentos e a forma como são usados para expor determinados discursos. 
O ethos da retórica está ligado inteiramente ao modo como expressamos um 
discurso. O ethos do comportamento humano, para Reboul (2004), passa em sua 
grande maioria pela necessidade de pensar o ser humano e seu modo de falar. 
Segundo Aristóteles, podemos construir uma parte do ethos, mas a outra 
parte é totalmente natural. Por isso, precisamos nos dedicar e desenvolver a parte 
que nos cabe. 
75
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
As virtudes dianoéticas, entre as quais a sapiência (shofia) 
é tida como a mais importante, são vistas por Aristóteles 
como mais elevadas do que as virtudes éticas, pois lidam 
com a captação intuitiva de princípios por meio do intelecto, 
coincidindo com as ciências teoréticas (principalmente com 
a metafísica). Por outro lado, as virtudes éticas lidam com 
o contingente e o variável no humano, apoiando-se numa 
prudência (phrónesis) que é razão prática. Na abertura do livro 
II (opus cit.), Aristóteles observa que as virtudes intelectuais 
são geradas e crescem, em grande parte, em decorrência do 
ensino, e por isso precisam de experiência e tempo, enquanto 
as virtudes éticas são adquiridas em resultado do hábito. Esse 
termo – hábito – decorre da tradução de uma das formas de 
escrita da palavra grega ethos (de onde veio ethiké), palavra 
que também pode significar costume (LIMA, 2011, p. 71).
 
Um ethos no debate é um modo de se expressar, é a maneira com a qual 
nos expressamos. Saber se expressar é uma condição necessária para sermos 
verdadeiramente humanos. 
No início de sua Retórica (2007, I, 1, p.19), Aristóteles 
estabelece que “os modos de persuasão são as únicas 
verdades constituintes dessa arte, tudo o mais é mero 
acessório”. Diante de tais palavras, poderíamos imaginar a 
possibilidade de um leitor pensar que esse autor teria elaborado 
um sistema de ideias destituído de propostas éticas, ou seja, 
meramente instrumental, sem necessariamente manifestar um 
vínculo efetivo com a busca pelo bem comum, pela justiça, 
pela cidadania, entre outros valores significativos e atrelados 
ao desenvolvimento social. Entretanto, podemos identificar 
que Aristóteles assume, em vários momentos de sua Retórica, 
um discurso que procura nortear os comportamentos morais 
e posicionar a ética em sintonia com um exercício de livre 
escolha de ideias. Em vários trechos (opus cit.), o Estagirita 
elege determinados modelos morais como os mais dignos de 
serem vividos e compartilhados em sociedade, e não o faz 
por considerar tais preceitos como meros acessórios, pois em 
vez disso, procura mostrar que um homem de boa formação 
moral tem, no seu próprio caráter, um referencial em que pode 
alicerçar o seu discurso. Sendo assim, como bem esclarece 
o autor, a consistência moral do orador também deve compor 
o modo pelo qual o ouvinte é persuadido. Aristóteles toma o 
cuidado de firmar a arte retórica em uma responsabilidade 
social, propondo uma produção discursiva que possa participar 
da construção moral do homem e, por conseguinte, da sua 
condição política (Ret.,2007, p. 23) (LIMA, 2011, p. 74).
O homem, ao se apresentar como um ser que escreve e fala, precisa dominar 
estes dois modos de se apresentar. Por isso, um hábito de falar bem e escrever 
bem produz uma mensagem de boa qualidade. 
O ethos do discurso versa sobre como podemos organizar e dar um estilo ao 
modo como nós falamos. 
76
 Oratória e Retórica
A primeira questão tratada é que para se realizar um discurso é 
preciso ter conhecimento sobre aquilo que está sendo dito, em prol 
de sua autenticidade enquanto verdade. Os sofistas se servem da 
persuasão, utilizando o domínio que têm sobre a linguagem para 
discursar sobre uma mesma coisa, com uma mesma ênfase ou 
intensidade – não se baseiam num conhecimento verdadeiro, mas 
no senso comum. “A perversão da retórica transforma a escrita em 
técnica de simulação e converte a habilidade oratória em exploração 
verbal e persuasiva do verossímil”. Através de uma lógica da 
ambiguidade, contrariam o que deveria ser indissociável no interior 
de um discurso, a ligação entre dizer, pensar e ser – limitam-se a 
uma tautologia do logos, que é voltado sobre si mesmo. A eficácia 
alcançada pelo discurso, entretanto, não significa que tais “retóricos” 
tinham o conhecimento real do assunto que tratavam, eles não tinham 
a preocupação de se interrogar sobre suas referências – calcavam-
se na probabilidade, no verossímil para o estabelecimento de suas 
conclusões que, de antemão, eram estabelecidas – utilizando-se 
da potência da palavra como uma arma para persuadir pessoas 
tão ignorantes quanto eles. “O estatuto da verdade se transfigura e 
se perde em sua migração da enunciação para o enunciado” (LUZ, 
2010, p. 45). 
Neste sentido, retórica e oratória são elementos do ser humano 
que se articulam na existência e o ajudam a expor seu sentido na 
linguagem. O ethos da oratória e da retórica é uma forma, é a maneira 
de dizermos os modos de se apresentar. A linguagem escrita e falada é 
uma das melhores ferramentas para dizermos o que pensamos. 
Ainda de acordo com Reboul (2004), o conhecimento do ethos de 
um determinado grupo de pessoas nos permite moldar o discurso para 
sabermos o que realmente queremos falar.
Ao falarmos de pathos, ou afetamento de um discurso, podemos 
entender que quando nos referimos a um determinado grupo de 
pessoas nós despertamos as paixões destas pessoas e também 
estamos implicados no discurso. O nível do pathos é um aspecto de 
pura paixão que nos envolve ou dispersa em um determinado discurso.
Ao falarmos 
de pathos, ou 
afetamento de um 
discurso, podemos 
entender que quando 
nos referimos a 
um determinado 
grupo de pessoas 
nós despertamos 
as paixões destas 
pessoas e também 
estamos implicados 
no discurso. O nível 
do pathos é um 
aspecto de pura 
paixão que nos 
envolve ou dispersa 
em um determinado 
discurso.
77
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
Por isso, ao escolhermos as palavras que usamos em um texto ou em uma 
fala, estamos optando em ser ou não apaixonantes em nossa exposição escrita 
ou oral. É no pathos de um discurso, ou seja, na paixão, que se irá prender ou 
não os interlocutores. As belas palavras podem levar os sujeitos às mais absurdas 
atitudes ou simplesmente não significar nada aos ouvintes. Tudo depende do 
modo com o qual, você que se expressa, o faz. 
O pathos de um discurso é determinante em relação à longevidade de uma 
mensagem. Por exemplo, Cristo e seu modo apaixonado de falar e fazer tudo 
deixou marcas profundas na vida das pessoas, seu modo de ser serve de conduta 
religiosa, moral e ética para todas as épocas. 
Deste modo, é a forma de se expressar em uma linguagem clara, 
direta e concisa que permite ao orador apresentar seus argumentos e 
transmitir sua mensagem de modo a alcançar seu objetivo. 
O logos, o discurso propriamente dito, precisa de um ritmo, de 
uma forma, de um modo e de uma estrutura. O logos de um argumento 
procura convencer ou transmitir a mensagem para um determinado 
público.
De acordo com Reboul (2004), um discurso é uma tentativa de se transmitir uma 
determinada mensagem. É a mensagem bem transmitida que pode produziro resultado 
esperado em um discurso. Se soubermos transmitir a mensagem, poderemos alcançar 
maior êxito em nossas intenções. Fica evidente que, mesmo quando não queremos 
dizer algo relevante, sempre há um sentido no discurso proferido. 
Estamos falando de transmissão de conteúdos através da linguagem, mas 
antes de seguirmos para os elementos do discurso, precisamos esclarecer o que 
é a verossimilhança, pois sem entender isso não podemos entender por que a 
retórica e a oratória estão em constante tensão com a verdade. 
O logos, o discurso 
propriamente dito, 
precisa de um ritmo, 
de uma forma, de 
um modo e de uma 
estrutura. O logos 
de um argumento 
procura convencer 
ou transmitir a 
mensagem para um 
determinado público.
Atividade de Estudos: 
 1) Explique o que você entende por verossimilhança. 
 Leia o artigo disponível em: <https://repositorio.ufrn.br/jspui/
bitstream/123456789/16482/2/MarcosAL_DISSERT_PARCIAL.
pdf> para lhe ajudar a responder.
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 Oratória e Retórica
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Disposição, Elocução, Ação e 
Invenção
Já nos referimos à invenção, que é a escolha dos argumentos pelo orador. 
Passamos agora para a disposição, que de acordo com Reboul (2004), é a 
maneira como organizamos os argumentos em nossa escrita ou fala. É a retórica 
da organização formal de um discurso, seu plano de execução. 
A elocução, de acordo com Reboul (2004), é o estilo escrito do 
texto, é a redação do discurso através de frases e palavras, conferindo 
um modo ou estilo de argumentação. Por isso, esta parte não se refere 
à fase oral do discurso, como muita gente pode pensar.
Para Aristóteles, a retórica assume uma dimensão de amor à 
sabedoria. É o amor à sabedoria que permite à retórica se aproximar 
da dialética, pois é a oposição de argumentos que produz um 
desenvolvimento da discussão. 
Assim, o saber ordenar o discurso coaduna-se com o saber 
conhecer a realidade social sobre a qual se debruça o retor. As 
práticas sociais podem ser melhor ordenadas na medida em 
que o ser humano desenvolve uma boa construção oratória, ou 
seja, sabendo lidar equilibradamente com o mundo das opiniões, 
e também com as opiniões sobre o mundo. Por conseguinte, a 
retórica é pensada por Aristóteles como uma manifestação de 
amor à sabedoria, e esta podendo elevar o homem a sua meta 
de felicidade, inclusive com o aprimoramento do próprio saber 
exposto nesse jogo social que é a arte retórica. Pelas razões acima 
citadas, Reboul (2004, p. 40) compara a retórica de Aristóteles 
com a de Isócrates: A retórica de Aristóteles está bem próxima 
da retórica de Isócrates em termos de conteúdo. A diferença é 
que em Aristóteles a retórica é uma arte situada bem abaixo da 
filosofia e das ciências exatas. Estas, “demonstrativas”, atingem 
verdades “necessárias”, que, como os teoremas, só podem ser 
o que são, possibilitando compreender e prever. A retórica, por 
sua vez, só atinge o verossímil, aquilo que acontece no mais das 
vezes, mas que poderia acontecer de outra forma. Como caminho 
que pode conduzir o homem em sua busca por sabedoria, a 
retórica se insere em um devir educativo que envolve cada orador 
em uma dinâmica social de desenvolvimento de seus respectivos 
potenciais e, ao mesmo tempo, do aprimoramento de suas leis e 
costumes. Creio não ser exagero afirmar que, em Aristóteles, a 
retórica pode ser vista como uma arte de construir pontes textuais 
A elocução, de 
acordo com Reboul 
(2004), é o estilo 
escrito do texto, é a 
redação do discurso 
através de frases e 
palavras, conferindo 
um modo ou estilo 
de argumentação. 
Por isso, esta parte 
não se refere à fase 
oral do discurso, 
como muita gente 
pode pensar.
79
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
que liguem o homem às soluções de seus problemas pessoais 
e coletivos e às melhores opções para a educação dos jovens. 
Essa arte também é compromisso em educar para a sabedoria 
e, nesse sentido, cada cidadão necessita orientar e harmonizar a 
partir de seu intelecto, os seus sentimentos, desejos, ambições, 
não esquecendo o bem da sociedade, em busca da eudaimonia 
(felicidade) (LIMA, 2011, p. 80).
 
A ação em um discurso consiste na exposição dos argumentos que 
queremos apresentar. Neste ponto se adicionam ao desempenho do 
orador, bem como gestos, mímicas e outros modos de expressão oral. 
É a execução final do discurso que foi planejado de modo a se expor o 
que se quer. 
Quando a ação retórica se manifesta por intermédio de um 
discurso, destacamos que depende da habilidade e da confiabilidade 
do sujeito na execução daquilo que se propõe a fazer. Neste sentido, 
Aristóteles destaca na antiguidade que o sujeito que não transmitir 
confiabilidade em seu discurso não convence ninguém. 
Diante de ideias conflitantes entre si, é comum as pessoas buscarem 
identificar as propostas que sejam mais confiáveis, merecedoras 
de crédito. Nessa perspectiva, os encontros sociais entre retores 
podem ser bastante úteis como oportunidades para tal busca e, 
na medida em que cada qual encontra a resposta que melhor 
lhe apraz, surge um sentimento de grandeza da própria razão 
naquele que acredita ter explicado o que antes parecia inexplicável, 
compreendido o que antes parecia fora de seu alcance intelectivo. 
É esse o sentimento denominado de sublime, ou sublimidade. Para 
melhor compreendermos o sentimento do sublime, recapitulemos 
que a verossimilhança é caracterizada por conflitos de ideias e 
incertezas que não possibilitam respostas irrefutáveis, e que não 
é raro o homem sentir-se constrangido, inseguro e com medo, 
diante do que é apenas verossímil, ou seja, do que não lhe oferece 
a garantia de uma resposta seguramente irrefutável. Visto por esse 
lado, o que pomos em foco não é o constrangimento diante de 
forças fenomênicas de uma natureza ameaçadora e externa ao ser 
humano (como vendavais, tempestades, maremotos, terremotos 
etc.), pois numa abordagem mais voltada para a produção dos 
discursos em um contexto social e cotidiano, em muitos casos, o 
homem pode sentir-se humilhado e inseguro quando não encontra, 
por exemplo, respostas suficientemente confiáveis proferidas por 
oradores que atuam no campo da verossimilhança. A superação 
desse momento de constrangimento, a “volta por cima” através do 
intelecto que identifica qual é o melhor discurso, a vitória de uma 
racionalidade que consegue reconhecer os melhores argumentos 
persuasivos, eis o que provoca o sentimento de sublimidade 
da razão, gerando um alívio pela suposta segurança diante da 
diversidade de ideias antagônicas entre si. Em Aristóteles, o ato 
de expressar as ideias - inclusive as situadas na verossimilhança - 
deve ser decorrência direta da atitude genuína de um ser que busca 
clarificar a verdade (no sentido de a ideia mais confiável possível) e, 
nesse encaminhamento, o faz sob o predomínio da parte intelectiva 
da alma (a racionalidade), que seria, segundo o Estagirita, a 
melhor parte do homem (conforme já vimos anteriormente). Nessa 
A ação em um discurso 
consiste na exposição 
dos argumentos 
que queremos 
apresentar. Neste 
ponto se adicionam 
ao desempenho do 
orador, bem como 
gestos, mímicas e 
outros modos de 
expressão oral. É 
a execução final 
do discurso que foi 
planejado de modo a 
se expor o que se quer.
80
 Oratória e Retórica
perspectiva, revisemos que o ser humano precisa saber pesar os 
argumentos a fim de diferenciar não só entre o que é o bem do 
que é o seu extremo contrário, mas também distinguir o que é um 
bem maior diante de um bem menor, escolhendo pelo primeiro a 
fim de se realizar como ser ético, além da importância de saber 
defender as suas escolhas publicamente.Eis que o sentimento 
do sublime, nos termos aqui propostos, aparece quando a razão 
humana se depara com o verossímil em busca da superação 
do constrangimento inicial rumo ao possível sentimento de 
superioridade da razão. A insegurança argumentativa, que levaria 
a um não saber identificar uma resposta confiável, como costuma 
ocorrer na verossimilhança, seria algo análogo ao que ocorre 
quando o homem sente medo diante da grandeza estética de 
algum fenômeno da natureza. Neste último caso, o sentimento do 
sublime é tido quando o homem consegue explicar racionalmente 
os porquês de existirem os fenômenos ameaçadores (como 
tempestades, maremotos, vendavais, etc.) cuja grandiosidade 
estética constrange inicialmente o ser humano. Em se tratando 
da retórica, o sublime pode vir quando a racionalidade humana 
adentra o mundo das opiniões e encontra formas de identificar 
quais são as ideias mais confiáveis entre tantas que se oferecem 
para crédito. Portanto, em Aristóteles, na sua obra Retórica, o 
homem é idealizado como aquele cuja determinação e coragem 
devem servir para a busca da superação do constrangimento inicial 
frente à verossimilhança. Nesta, o ser humano sente-se humilhado 
diante das próprias incertezas e das “verdades” oferecidas por 
discursos diversos que o circundam, não sabendo em qual delas - 
as supostas “verdades” – acreditar, mas transformando em ato as 
suas potencialidades intelectivas voltadas para o aperfeiçoamento 
dos discursos (LIMA, 2011, p. 104-105). 
Caso o homem consiga superar de fato o problema da verossimilhança, 
poderá desenvolver uma retórica de boa qualidade, que não se confunde com 
aquilo que parece ser a verdade, mas não é a verdade lógica. 
Atividade de Estudos:
 1) Leia o texto sobre o problema da presunção, antever um 
argumento, disponível em <http://w3.ufsm.br/ppgf/wp-content/
uploads/2011/10/PERELMAN.pdf>, página 35 e 36, e construa 
um argumento referente ao assunto que melhor lhe agradar. Por 
exemplo, o seu trabalho, seu lazer etc. O texto é inspiração para 
a construção do argumento.
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81
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
O desenvolvimento da retórica através dos séculos proporcionou 
um grande ganho na forma como expressamos nossas ideias em 
nossa época atual, por causa das diferentes formas de discurso que 
podemos expor e apresentar de modo a permitir grande alcance a 
nossa mensagem.
Transmitir bem uma mensagem vai além de construir bons 
argumentos e expor estes bem, contudo é condição necessária para um 
bom orador dominar seu tema para poder transmitir essa mensagem. 
Sem dominar bem o tema é impossível ao orador mensurar e demonstrar 
suas qualidades como retórico. Por isso, antes de querer expor um 
argumento, você, estudante, precisa dominar o conteúdo a ser exposto, 
de modo a permitir que não seja enganado pela própria linguagem.
Este capítulo é fundamental a você, estudante, para saber como a 
história da retórica trabalhou o problema da formulação, estruturação e 
divisão dos discursos. Lembre-se, você não é o primeiro a querer expor 
uma ideia, um argumento, por isso não se engane, seus interlocutores 
entendem ou não o que você quer expor, na medida em que você se coloca 
de modo claro e distinto. Se sua linguagem não for adaptada ao local em 
que você fala, sua mensagem não será transmitida como você quer. 
BRISSON, Luc. Leituras de Platão. Trad. Sônia Maria Maciel. 
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. 
BRUNSCHWIG, J. Diccionaire Critique: Le Savoir Grecce. 
Org. Geossvey Lloyd. Paris: Flammarion, 1996. 
CLAÏM PERELMAN. Retóricas. Trad. Maria Ermantina Galvão 
G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
DELEUZE, G. Lógica dos Sentidos. Trad. Luiz Roberto Salinas 
Fontes. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2000.
DERRIDA, Jacques. A Farmácia de Platão. Trad. Rogério da 
Costa. 3. ed. São Paulo: Iluminuras, 2005. 
GOLDSCHMIDT, V. Os Diálogos de Platão: Estrutura e Método 
Dialético. Trad. Dion Davi Macedo. São Paulo: Loyola, 2002. 
Transmitir bem 
uma mensagem vai 
além de construir 
bons argumentos 
e expor estes bem, 
contudo é condição 
necessária para 
um bom orador 
dominar seu tema 
para poder transmitir 
essa mensagem. 
Sem dominar bem 
o tema é impossível 
ao orador mensurar 
e demonstrar 
suas qualidades 
como retórico. 
Por isso, antes de 
querer expor um 
argumento, você, 
estudante, precisa 
dominar o conteúdo 
a ser exposto, de 
modo a permitir que 
não seja enganado 
pela própria 
linguagem.
82
 Oratória e Retórica
MARCUSE, H. Eros e Civilização. Trad. Álvaro Cabral. 4. ed. 
Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969. 
MORAES, J. Q. Epicuro: as luzes da ética. São Paulo: Ed. 
Moderna, 1998.
NIETZSCHE, F. O Nascimento da Tragédia. Trad. J. Guinsburg. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 
PERINE, M. (Org.). Estudos Platônicos. Sobre o ser e o 
aparecer, o belo e o bem. Coleção Estudos Platônicos. São Paulo: 
Edições Loyola, 2009. 
Algumas Considerações
A história da oratória e da retórica permite o entendimento de como somos 
capazes de organizar e exprimir uma ideia. Desta maneira, um discurso bem 
feito e bem apresentado depende do esforço do estudante que escolhe bem os 
elementos argumentativos e os dispõe de modo adequado. 
Com efeito, este capítulo se empenhou em apresentar uma parte da história 
da retórica para deixar você, estudante, em condições de escolher bem suas 
formas de argumentar. 
Referências
ANSELMO. Monológio. São Paulo: Victor Civita, 1991.
CAMPOS, R. C. A Formação Educacional do Orador e a Retórica como seu 
Instrumento de Ação no Principado. Fênix – Revista de História e Estudos 
Culturais. Janeiro/Fevereiro/Março de 2008, v. 5, Ano V, n. 1. Disponível em: 
<www.revistafenix.pro.br>. Acesso em: 26 maio 2017. 
SOUSA, A. de. A Persuasão - Estratégias da comunicação influente. 2000. 
Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-americo-persuasao-0.pdf>. 
Acesso em: 22 maio 2017. 
83
A Retórica e a Oratória Capítulo 2 
LIMA, M. A. A retórica em Aristóteles: da orientação das paixões ao 
aprimoramento da eupraxia. Natal: IFRN, 2011.
LUZ, A. R. L. Ensaios Filosóficos. V. 1, outubro/2010. Disponível em: <http://
www.ensaiosfilosoficos.com.br/Artigos/Artigo2/Ana_Rosa.pdf>. Acesso em: 27 
maio 2017.
REBOUL, O. Introdução à retórica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
SILVA, R. Curso de Oratória A Arte de Falar em Público ou a Habilidade de 
Falar em Público? 2012. Disponível em: <http://consulpam.com.br/wp-content/
uploads/2013/08/4-Orat%C3%B3ria.pdf>. Acesso em: 26 maio 2017.
SILVEIRA, Cássio Rodrigo Paula. Relendo Cícero: A formação do orador e sua 
inserção na política romana (Século I a C). 2012.
84
 Oratória e Retórica
CAPÍTULO 3
A Arte de Argumentar
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Apontar as diferentes formas de argumentos.
� Apresentar as implicações de um argumento. Compromisso com a verdade ou 
com a forma.
� Fazer um argumento, suas fragilidades e pontos fortes.
� Convencer ou defender a verdade.
86
 Oratória e Retórica
87
A Arte de Argumentar Capítulo 3 
Contextualização
Este capítulo se destina a apresentar a você, estudante, uma perspectiva 
filosófica com desdobramentos teológicos para a construção e exposição de 
argumentos. Destacaremos brevemente a sutil conexão com a lógica, sobretudo a 
silogística, concatenação em sequência de premissas para formular um argumento. 
Oratória e Retórica Filosófica
 
Na filosofia, a oratória e retórica cumprem um papel substancial, pois é por 
intermédio dos argumentos e da exposição destes argumentos que se transmitem 
as mensagens e as verdades. Observamos que nas maiores universidades da 
Europaa retórica e a oratória perderam muito espaço no ambiente acadêmico. 
A Retórica como disciplina curricular eclipsou-se nas instituições 
europeias de ensino, ao contrário do que aconteceu nos 
Estados Unidos da América. Embora tenham surgido na Europa 
algumas revistas, sociedades de Retórica, reimpressões de 
textos clássicos e se tenham publicado séries de estudos sobre 
Retórica em editoriais de renome, é impossível hoje qualquer 
consenso quanto à asserção de M. Capella sobre a Retórica 
como «potens rerum omnium regina» ou quanto à promoção 
da Retórica a «rainha antiga e nova das ciências» assinada pelo 
professor de Retórica de Tuebingen W. Jens, que antecipou 
a visão utópica da Retórica como «uma ciência do futuro», 
proposta por J. Dubois. Porém, o fim da Retórica como disciplina 
ou «Rhetoricadocens» não coincide com o desaparecimento 
da práxis retórica (Rhetoricautens, Oratoria, Eloquentia), 
tampouco com a extinção da sua existência residual em teorias 
de composição literária, em regras de comportamento, em 
expressões do discurso pragmático nem com a cessação da 
sua eficácia histórica na tipologia variada da história das ideias 
e da cultura. É sobretudo a teoria retórica do texto e a sua 
influência histórica, a que o Ocidente se expôs, que merecem 
uma particular atenção, dadas as suas estreitas relações com a 
Hermenêutica e a Filosofia (PEREIRA, 1994, p. 6).
 
Mesmo que em muitas universidades pelo mundo a retórica e a oratória são 
consideradas subáreas de conhecimento filosófico, entendemos que para discutir 
bem o problema da argumentação precisamos de uma discussão profunda e 
adequada para deixar bem explicado o valor da retórica no debate de ideias. 
A história da Retórica foi de fato a de uma «restrição generalizada», 
na expressão de G. Genette, ou de uma «extinção progressiva» 
segundo R. Barthes, até se confundir com uma teoria dos tropos, 
se recordarmos que a queda da cidade democrática arrastou 
consigo a morte da intervenção política da Retórica e forçou o 
seu exílio estético, de cuja impotência brotou a figura de uma 
«eloquentia tacens», embora no tribunal e na festa prosseguisse 
a Retórica judiciária e epidíctica, respectivamente. Expressões 
88
 Oratória e Retórica
como «renascimento» ou «reabilitação da Retórica», «Rhetorica 
rediviva», «Rhetoric revalued», «return of Rhetoric», «Rhetoric 
resituated» etc., não só repõem a Retórica na raiz histórica de 
muitas disciplinas modernas, mas fazem dela um «potencial 
sugestivo» para a reformulação da problemática do homem 
contemporâneo, embora se reconheça com P. Ricoeur que a 
sua existência como disciplina se finou quando deixou de figurar 
no cursus studiorum dos colégios em meados do séc. XIX. A 
Retórica de Aristóteles foi uma teoria da argumentação, que se 
articulava com a sua vizinha lógica da demonstração e com a 
filosofia, uma teoria da elocução e uma teoria da composição do 
discurso. Com a sua redução tradicional a uma simples teoria da 
elocução e depois a uma teoria dos tropos, a Retórica perdeu o 
laço que a prendia à Filosofia e tornou-se «uma disciplina errática 
e fútil». O esquema da Retórica de Aristóteles representou a 
racionalização de uma disciplina, que se propusera reger todos 
os usos da palavra pública, sobretudo o seu poder de decisão 
e o seu domínio no tribunal, na assembleia política, no elogio 
e no panegírio. O poder de dispor dos homens mediante o 
domínio das palavras divorciadas das coisas acompanhou de 
sedução e mentira a história do discurso humano. A lógica da 
verossimilhança aparecia como uma solução de recurso para 
uma Retórica ferida de substancial ambiguidade. As suas provas 
não se regem pela lógica da necessidade, mas do verossímil e 
do contingente, porque os problemas humanos decididos nos 
tribunais e nas assembleias não obedecem aos quadros rígidos 
de uma axiomática dogmática. O grande mérito de Aristóteles foi 
ter elaborado o laço entre o conceito retórico de persuasão e o 
conceito lógico de verossímil e ter construído sobre esta relação o 
edifício inteiro de uma Retórica filosófica (PEREIRA, 1994, p. 7).
Assim, a retórica permaneceu viva mesmo sendo desprezada por muito 
tempo. Ao retomarmos o estudo dos gregos, percebemos o grande valor desta na 
construção dos argumentos filosóficos.
Deste modo, a oratória grega surge como um modo de exposição de conceitos 
e definições que permitem o entendimento das grandes questões filosóficas e dos 
grandes problemas com uma clareza e profundidade absolutamente confiáveis. 
Sabemos que a discussão filosófica somente é possível se considerarmos 
a existência de uma forma de expor e explicar bem as nossas ideias. Eis que 
a retórica para você, estudante, é uma das ferramentas mais importantes a ser 
considerada se você quiser transmitir com qualidade a sua mensagem. Por isso, 
a importância da retórica é substancial na organização e difusão de um discurso 
elaborado e de boa qualidade. 
A Retórica partilha com a Poética e a Hermenêutica o terreno 
do discurso articulado em configurações mais extensas do que 
a frase ou unidade mínima em que alguém diz algo a alguém 
sobre alguma coisa, realizando a tríplice mediação entre homem 
e mundo, homem e outro homem e homem e si-mesmo. O 
discurso retórico é o mais antigo discurso racional hiperfrástico 
do Ocidente, nascido ao mesmo tempo que a Filosofia no séc. 
VI a.C., mas dominado pela ambição de cobrir o campo inteiro 
89
A Arte de Argumentar Capítulo 3 
do uso discursivo da linguagem. Por isso, o modelo retórico de 
argumentação pretendeu apoderar-se de toda a esfera da razão 
prática (moral, direito, política) e do campo inteiro da Filosofia. 
Orientada para o ouvinte, a argumentação retórica é uma técnica 
de persuasão em que dizer é fazer, é conquistar o assentimento do 
auditório e, por isso, o discurso retórico é ilocutório e perlocutório. 
Neste caso, a argumentação não inova, porque o orador se adapta 
à temática das ideias admitidas, limitando-se a transferir para as 
conclusões a adesão concedida às premissas e desenvolvendo 
técnicas intermediárias sempre em função da adesão efetiva ou 
presumida do auditório. A vulnerabilidade do discurso retórico 
está patente: pode deslizar da arte de persuadir para a arte 
de enganar, do acordo prévio sobre ideias admitidas para a 
trivialidade dos preconceitos, da arte de agradar para a arte de 
seduzir, do discurso da constituição imaginária da sociedade e da 
sua identidade para a perversão do discurso ideológico. No início 
da década de 80, falava-se da marcha imparável da Retórica, que 
invadia a Estilística Estrutural, a Teoria do Texto e da Literatura e a 
Semântica Linguística, enquanto as Ciências Sociais e Humanas 
vinham registrando intramuros influências marcantes da Retórica, 
regressada para os mais entusiastas do exílio após a calúnia, de 
que teria sido vítima (PEREIRA, 1994, p. 8).
 
Embora muitos pensadores queiram desmerecer o papel da retórica e da 
oratória, existem outros tantos que reconhecem seu caráter imprescindível na 
elaboração e exposição de textos filosóficos e teológicos. Ao estudante de oratória 
e retórica deve ficar bem explicado que há um método que pode ser muito bem 
usado para construir e expor seus argumentos. 
O relativismo influenciou de modo muito forte as formulações retóricas de 
todo o pensamento ocidental. Pereira (1994) reconhece essa influência e explica 
o problema de maneira bastante detalhada.
A filosofia de Protágoras é uma fundamentação da Retórica, 
pois o «homo mensura» enquanto «homo loquens» condensa a 
Antropologia da Retórica em que o acordo é realizado no e pelo 
discurso no interesse de possibilidades práticas de cooperação 
e de socialização, porque faltam no ponto de vista biológico 
«regulações prévias» e «estruturas de adaptação», e esta falha 
não pode ser compensada com êxito por evidências teóricas e 
normativas nem por mecanismos de coação política. A Sofística 
como resposta à crise provocadapela perda de crença nas 
grandes narrações coletivas tentou criar uma comunidade de 
consenso gerado na comunicação linguística, sem qualquer 
referente real, mas com poder de decidir do sentido da realidade. 
Com o abandono do absolutismo da verdade e do valor, deixou 
a Retórica de emprestar roupagens a verdades nuas para se 
tornar uma forma de racionalidade inultrapassável e jamais 
definitiva, mas sempre convencional e provisória. Com o 
«linguisticturn» proveniente da Filosofia Analítica da Linguagem 
e sobretudo desde o Tractatus Logico-Philosophicus de L. 
Wittgenstein, a linguagem deixou de ser mera expressão da 
consciência, mas o acontecimento da própria consciência, cuja 
estruturação linguística se tornou objeto da reflexão filosófica. 
Enquanto J. Habermas só no começo dos anos 80 realizou a sua 
viragem linguística, tomando por modelo de ação comunicativa 
90
 Oratória e Retórica
a concepção de linguagem de K. Buehler, os estudos realizados 
por K. O. Apel nos anos 50 prepararam já a transformação 
linguístico-hermenêutica do Kantismo e a sua tese de habilitação 
intitulada A Ideia de Linguagem na Tradição do Humanismo de 
Dante até Vico (1960) realizava apenas uma parte de um projeto 
mais amplo concebido em 1953 sobre a ideia de linguagem no 
pensamento moderno. A Filosofia da Linguagem tornou-se a 
nova «Prima Philosophia», que substituía a velha Ontologia, por 
ser a radicalização da crítica kantiana do conhecimento e a sua 
transformação em crítica da linguagem, que é uma grandeza 
transcendental cimentadora de uma comunidade ideal de 
comunicação sem exclusões nem repressões. A valorização da 
Sofística e da Retórica não reprimiu a consciência dos perigos 
dos equívocos históricos do discurso retórico e, por isso, K. 
O. Apel distingue da Retórica da persuasão psicológica a 
Retórica da convicção, cuja lógica de argumentação pragmática 
permite reconstruir idealmente as condições de um consenso 
verdadeiro e universalizável ou do auditório universal, segundo 
a terminologia de Ch. Perelman. Na comunicação argumentativa 
de J. Habermas é indissolúvel a vinculação de teoria e práxis, 
pois a ciência não é neutra, mas orientada por determinados 
interesses, que são as suas condições transcendentais de 
possibilidade. J. Habermas apropriou-se de uma divisão do 
saber, que em 1929 Max E. Scheler propusera na sua obra Visão 
Filosófica de Mundo: «saber de domínio», «saber formativo» e 
«saber salvador» (PEREIRA, 1994, p. 50-51).
O caminho percorrido pela retórica referenciado anteriormente mostra as 
variações entre teoria e prática ao longo dos séculos no Ocidente. Com efeito, as 
variações apresentadas podem nos trazer elementos de entendimento sobre os 
problemas concernentes à argumentação. 
Oratória e Retórica Teológica
A retórica e a oratória teológica não são muito diferentes da retórica e oratória 
filosófica, mas o objetivo é outro. Se a retórica filosófica se propõe ao debate de 
ideias e sua contraposição para produzir um debate e uma estrutura dialética, a 
oratória e a retórica teológica procuram transmitir uma mensagem coesa e direta 
que produza no sujeito um efeito de convencimento. Para construir um argumento 
que convença a plateia, o orador deve observar alguns critérios. Reboul (apud 
SEGUNDO, 2006, p. 75):
[...] pontua as cinco características que diferenciam 
fundamentalmente a demonstração da argumentação:
1. nesta, o discurso sempre se dirige a um auditório, que, para 
Reboul, é sempre particular, de modo que o auditório universal 
se constitui apenas em uma pretensão, abstração ou ideal 
argumentativo; 
2. além disso, a argumentação expressa-se em língua natural, 
sofrendo as consequências de sua opacidade; 
91
A Arte de Argumentar Capítulo 3 
3. por trabalhar com o verossímil, as premissas argumentativas 
nunca são verdades propriamente ditas, o que demanda uma 
relação interpessoal de confiança, atenção e reconhecimento 
de autoridade da parte do auditório em relação ao orador;
 4. nesse sentido, a progressão dos argumentos depende 
do orador, que procurará ordená-los de modo a satisfazer as 
condições de persuasão projetadas por ele acerca daquele 
auditório; 
5. por conseguinte, as conclusões tornam-se sempre 
contestáveis, já que o auditório pode rejeitá-las ou aceitá-
las mediante seu julgamento. Consequentemente, não cabe 
na argumentação isolar razão e emoção. As duas caminham 
necessariamente juntas, na medida em que crenças são 
intrinsecamente afetivas e afetarão o julgamento e a conclusão, 
independentemente do caminho racional da disposição 
argumentativa apresentada (SEGUNDO, 2006, p. 75). 
Desta maneira, a principal diferença presente no modo de expor um 
argumento na filosofia e na teologia permite ao orador usar de maneira mais 
eloquente a ferramenta para poder convencer o outro das verdades teológicas 
em questão. Por isso, a verdade teológica transmitida pela chamada oratória e 
retórica teológica deve levar o interlocutor ao convencimento. Neste aspecto, o 
conhecimento da mensagem a ser transmitida pelo dirigente religioso deve ser 
profundo para permitir o esclarecimento e a objetividade da mensagem. 
A você, estudante da disciplina de Oratória e Retórica, deve ficar claro que na 
teologia não podem ser produzidas questões que colocam o sujeito crente frente 
a dilemas humanos sem solução. Cabe ao dirigente religioso ser suficientemente 
capaz e claro em suas exposições sobre aquilo que a dimensão teológica abarca 
e o que escapa a este modo de pensar. Citamos na sequência um exemplo 
de discurso para que você, estudante de Oratória e Retórica, entenda como 
podemos interpretar os diversos significados. A discussão toda gira em torno da 
possibilidade da vida em Marte. 
Figura 1 – Exemplo de discurso: tirinha Mafalda
Fonte: Disponível em: <http://astropt.org/blog/wp-content/uploads/2012/01/Mafalda1.jpg>. 
Acesso em: 10 jul. 2017.
92
 Oratória e Retórica
Observamos que a discussão não possui nenhum argumento empírico que 
sustente a possibilidade evocada, mas mesmo assim os interlocutores se debatem 
no tema com todo o ardor. 
Na teologia observamos uma terminologia própria que o indivíduo que quer 
discutir ou construir um texto precisa conhecer, vejamos um exemplo.
Ao ser interpelado por este homem versado na Lei mosaica, 
Jesus lhe responde com outra pergunta: “Que está escrito 
na Lei? Como interpretas?” - que, embora de forma implícita, 
estabelece que sua mensagem aderia estritamente aos princípios 
da sagrada Lei de Deus. Inquirido, o intérprete da Lei respondeu: 
“Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a 
tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento; 
e a teu próximo como a ti mesmo”. A resposta evidencia uma 
correlação de dois textos mosaicos: Deuteronômio 6, 5 e 
Levítico 19, 18. Utilizados assim, permitem ao intérprete da Lei 
estabelecer corretamente o amor como a verdadeira essência 
de toda a religião. Ao findar o primeiro instante do debate, 
Jesus respondeu, de maneira notável, à pergunta inicial de seu 
inquisidor ao afirmar: “Respondeste corretamente; faze isto e 
viverás”. O verbo grego ποιέω, comumente traduzido por “fazer”, 
“praticar”, encontra-se, nesse versículo, no particípio imperfeito 
ποίει, expressando, dessa forma, uma ideia de ação constante, 
de prática vitalícia. Com efeito, a resposta de Jesus instaura uma 
necessidade latente de se estabelecer uma convergência entre 
ortodoxia e ortopraxia. A premissa teológica do doutor da Lei 
estava de acordo com o ensino mosaico e, concomitantemente, 
com o evangelho de Jesus. Entretanto, o cerne da questão era: 
Será que este intérprete da Lei estava disposto a vivenciar o que 
de fato estava propondo? A disposição cognitiva deste doutor era 
excelente; no entanto, seu desempenho ainda era questionável. 
Ao analisar essa parábola, Joachim Jeremias afirma: O fato de 
Jesus surpreendentemente remetê-lo ao agir como sendo a vida 
para a vida, deve se entender apartir igualmente desta situação 
concreta: todo o conhecimento teológico de nada serve, se 
o amor para com Deus e para com o próximo não determinar 
a direção da vida. A proposta filosófica da ética da alteridade 
encontra profundas raízes nesta premissa teológica. É inevitável a 
identificação do projeto filosófico levinasiano com a Lei de Moisés, 
uma vez que Levinas fora instruído em um contexto marcado por 
um profundo espírito de dedicação à Lei. Nilo Ribeiro Júnior, ao 
descrever a relação entre Levinas e as Escrituras, sublinha que “o 
ponto de partida do pensamento filosófico levinasiano é a Escritura 
considerada como fonte não filosófica da filosofia”. Emmanuel 
Levinas compreendeu a filosofia como testemunho profético de 
amor a Deus e ao próximo. Essa nova concepção da tarefa da 
filosofia rompeu com a clássica definição da filosofia, enquanto 
“amor à sabedoria”, estabelecendo-a como “sabedoria de amar”. 
Em Levinas, a verdadeira sabedoria não consiste em uma reflexão 
teorética, ou mesmo em um vil conhecimento científico que tende 
a reduzir os sujeitos a objetos, mas consiste em uma vivência de 
amor compassivo, que se faz responsabilidade pelo outro como 
expressão radical do amor a Deus e escopo do ser humano. 
Dessa forma, toda a reflexão levinasiana é um postulado do amor, 
proposto pela Lei mosaica, interpelando o logos proposto pela 
filosofia grega (CHACON; ALMEIDA, 2016, p. 51-52). 
93
A Arte de Argumentar Capítulo 3 
Deste modo, o teólogo articula uma sequência teológica de argumentos com 
um pensamento filosófico de um autor contemporâneo, tomando o cuidado de 
complementar as ideias. 
Por isso, a oratória e a retórica teológica possuem forte inclinação ao 
convencimento e à persuasão que dependem, sobretudo, do caráter e da 
formação do dirigente religioso para que produza um efeito desejado sem produzir 
radicalismos ou mal-entendidos. Em outras palavras, a formação moral dos 
dirigentes religiosos, padres, pastores, e outros, precisa ser muito bem estruturada 
e com enfoque na qualidade moral do sujeito. 
Moral e Retórica: Aspectos 
Fundamentais
A relação entre moral e retórica é uma das questões muito importantes 
para você, estudante de Oratória e Retórica, pois é uma questão que implica 
na exposição dos argumentos. Antes de detalharmos o problema da moral, 
precisamos entender como passamos da busca da verdade na linguagem para a 
explicação de fenômenos e de seus signos e representações. 
Das narrações míticas chegaram-nos as metáforas da morada 
e do caminho, da retidão da vida e da errância, e foi ainda em 
termos de êxodo que I. Kant definiu a Aufklaerung como ruptura 
inauguradora de uma nova época da razão: «Aufklaerung é a 
saída do homem da sua menoridade culpável». Esta libertação 
da casa-prisão da razão menor teve uma provocante tradução 
na secularização dos quatro sentidos da Escritura: em vez do 
sentido literal ou histórico da realidade, a posição transcendental 
constituinte de objetos para nós com a suspensão da inatingível 
coisa-em-si; em vez do sentido tropológico ou moral inseparável 
da teologia, a pergunta ética racional pelo que eu devo fazer; 
em vez do sentido alegórico ou simbólico, a pergunta da razão 
pelo que se pode humanamente conhecer; em vez do sentido 
anagógico ou místico, a pergunta racional pelo que se pode 
esperar. A maioridade da razão está na redução de todas as 
perguntas à pergunta pelo homem e, consequentemente, de 
todas as respostas a proposições racionais dentro dos limites 
humanos do conhecer, do agir e do esperar. Após a eliminação 
kantiana do referente sob o nome de coisa-em-si e a exploração, 
dentro da filosofia da vida, da linguagem enquanto notificadora de 
vivências do sujeito, G. Frege distinguiu em 1892 na concepção 
global de sentido dois momentos, o do sentido propriamente 
dito e o da relação às coisas, que a versão francesa traduziu 
por «denotação» e a inglesa por «referência». À distinção 
entre a realidade material e as dimensões psicológica, lógica 
e referencial do signo, G. Frege acrescentou que não é o ato 
do intelecto, mas o signo, que, pelo sentido e pela referência, 
realiza a verdade como adequação ou trânsito do sentido para 
a referência modelarmente realizado pelas ciências (PEREIRA, 
1994, p. 23).
94
 Oratória e Retórica
O conhecimento da impossibilidade do conhecimento da verdade em si (Kant) 
das coisas permitiu ao homem ser mais modesto nas expectativas em relação à 
linguagem e o alcance de seus discursos retóricos. Conforme entende Reboul 
(2004), a retórica e a oratória possuem estilos estabelecidos na antiguidade 
grega que sofreram apenas variações, não há evolução no pensamento filosófico 
retórico. É a moral do orador que continua a valer para se expor bem um 
argumento. 
Neste sentido, a moral (Kant) do orador, ou seja, as virtudes morais do orador, 
são importantes para que se possa produzir um modo de exposição adequado 
das ideias ou argumentos. 
A questão da autoridade moral ligada à pessoa do orador se 
recoloca: em um primeiro sentido, trata-se realmente dos seus 
caracteres reais. Assim, Bourdaloue afirma que “1. o orador 
convencerá por argumentos, se, para bem dizer, ele começar 
por pensar bem. 2. Ele agradará pelos seus modos, se, para, 
pensar bem, ele começar por bem viver”. Bernard Lamy fala das 
qualidades que devem possuir aqueles que querem ganhar os 
espíritos. No entanto, Le Guern retoma as teorias desenvolvidas 
pelas retóricas de Gibert, de Crevier e de outros, para mostrar 
que a questão da moralidade não elidia nos clássicos a ideia 
de uma construção do orador pelo seu discurso. É o sentido 
dos “caracteres oratórios” ou imagem produzida pelo discurso, 
a ser distinguido dos caracteres reais. Distinguimos caracteres 
oratórios de caracteres reais. Isso não apresenta dificuldades, 
pois, quer alguém efetivamente honesto, quer seja piedoso, 
religioso, modesto, justo, fácil no convívio com o mundo, ou, ao 
contrário, quer seja corrompido, [...], aqui está o que chamamos 
caracteres reais. Mas um homem parecer isso ou aquilo pelo 
discurso, isso se chama caracteres oratórios, quer ele seja tal 
como pareça ser, quer pareça mesmo sem o ser. Pois pode-
se mostrar algo sem sê-lo; e pode-se não parecer tal, e ainda 
assim o ser; pois isso depende da maneira como se fala. A 
preocupação com a moral impede a dissociação clara dos 
dois planos assim distinguidos. Gibert nota que os caracteres 
“marcados e difundidos na maneira como se fala fazem que 
o discurso seja como que um espelho que reflete o orador...”. 
Le Guern conclui de seu percurso pelos manuais clássicos 
que a eficácia do discurso deriva claramente dos caracteres 
oratórios e não dos caracteres reais. É interessante notar que 
ele se refere aos trabalhos de Kerbrat-Orecchioni sobre a 
subjetividade para assinalar a que ponto o estudo das marcas 
discursivas do locutor convida a uma análise do ethos definido 
como a construção de uma imagem de si correspondente à 
finalidade do discurso (AMOSSY, 2005, p. 18). 
Com efeito, a moral do orador ou da retórica não é regra aplicada aos outros, 
mas a você que deseja ser um bom expositor de pensamentos. É fundamental 
a intenção do orador, se sua intenção é ludibriar, convencer a qualquer custo o 
interlocutor ou tentar transmitir uma mensagem com responsabilidade e limites 
com certos valores fundamentais. Na retórica de nossos dias, muitos defenderam 
a necessidade de uma teoria do ethos para produzir uma reflexão mais profunda. 
95
A Arte de Argumentar Capítulo 3 
Uma teoria do ethos, fundada na união entre a retórica e a 
narratologia, foi igualmente desenvolvida pelo canadense 
Albert W. Halsal para a “narrativa pragmática”. Ela se funda no 
exame da concepção aristotélica de autoridade aplicada a uma 
questão frequentemente debatida na poética da narrativa: a da 
credibilidade do narrador. A escola americana do “ponto de vista”, 
iniciada por Percy Lubbock, a narratologiade Käte Hamburguer e 
de Doritt Cohn, as taxionomias de Gérard Genette e de Mieke Bal 
fornecem noções (como a voz e o modo narrativos, a focalização) 
e as distinções (entre autor/narrador/personagem, e também 
entre diferentes tipos de narradores) que permitem estudar a 
questão da imagem do locutor no quadro específico da narração. 
Halsall combina esses dados com os fornecidos não só pela 
Retórica, mas também pela Poética de Aristóteles, para ver como 
e em que condições o enunciador parece confiável aos olhos do 
leitor. Ao fazê-lo, Halsall reformula a problemática do “narrador 
digno de confiança” em termos greimasianos de “contrato 
fiduciário”. Toda comunicação está fundada em uma confiança 
mínima entre os protagonistas, e cabe a uma retórica narrativa, 
segundo o autor, determinar como “a enunciação contribui 
para criar, no enunciatário, uma relação de confiança fundada 
na autoridade que o enunciador deve se conferir caso deseje 
convencer”. O interesse pela narrativa provém, segundo Halsall, 
da complexidade e, frequentemente, da ambiguidade produzidas 
pelas perspectivas narrativas. De fato, o ponto de vista e a voz 
do personagem não remetem necessariamente aos do narrador 
homo ou heterodiegético. A autoridade acordada a um ou a outro 
não é natural e deve ser negociada. As diferentes possibilidades 
são o apanágio do narrador que se mantém fora da diegese 
(ele pode se dirigir diretamente ao leitor virtual, por exemplo) e 
do narrador intradiegético (ele pode utilizar as figuras do logos 
para se justificar). Entretanto, a narrativa pode apresentar um 
narrador que se engana ou que gostaria de enganar, oferecendo, 
assim, numerosos casos de indefinição acerca da confiabilidade 
do enunciador e, consequentemente, do sentido do enunciado. 
A narrativa pragmática que visa a persuadir tende a reduzir ao 
máximo as ambiguidades que impedem os eleitores de chegarem 
a um consenso. Nessa ótica, Halsall examina as diferentes figuras 
que a retórica coloca à disposição da narração para assegurar a 
autoridade do narrador. O autor as divide, seguindo Aristóteles, 
em dois grupos: o dos argumentos exteriores provenientes 
de testemunhos, e o dos argumentos internos ao discurso. Na 
primeira categoria, ele agrupa o apelo aos princípios atestados, 
ou apodeixis (a nota aforística), o provérbio ou a sentença, o 
apelo à própria experiência ou martyria, as figuras de apelo 
intertextual que mobilizam uma autoridade exterior etc. A segunda 
categoria compreende o panegírico dos ouvintes (comprobatio), 
a declaração de boas intenções (eucharistie) etc. Outras figuras 
pertencem ao pathos: a simulação de submissão (philophronèse) 
e o eulogie ou bênção. A autoridade do narrador depende de sua 
maneira de manipular essas figuras e de adaptá-las às estratégias 
narrativas. Halsall o demonstra em diversas narrativas literárias, 
entre as quais O último dia de um condenado, de Victor Hugo 
(AMOSSY, 2005, p. 20-22).
Essa teoria que une a retórica com a narrativa permite entender porque 
o homem precisa de um discurso para expor suas ideias de maneira coesa e 
articulada. Não basta um modelo estilístico, é preciso construir uma narrativa que 
configure um sentido para as ideias a serem apresentadas. 
96
 Oratória e Retórica
Atividade de Estudos:
 1) Leia o texto disponível em: <https://www.ufmg.br/online/
arquivos/anexos/Livro_trecho.pdf>, página 25 a 26, e explique o 
que você entende sobre a possibilidade de uma retórica integrada 
à linguística. Explique com suas palavras.
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Argumentação Pedagógica, 
Filosófica
A argumentação retórica pode ser pedagógica ou filosófica. Uma 
argumentação pedagógica é aquela que produz um efeito educativo, quer 
constranger o outro indivíduo a seguir aquilo que está sendo exposto ou enunciado 
em um determinado argumento (SOUKI, 2012). Já a argumentação filosófica é 
aquela em que se prioriza a exposição de ideias e que implica, necessariamente, 
em um debate ou na exposição linear e concatenada de argumentos. 
Uma argumentação pedagógica pode produzir resultados esperados desde 
que o orador domine os aspectos estruturais de tal arte. Com efeito, para falarmos 
de uma retórica e de uma oratória pedagógica, precisamos entender o significado 
de cada uma destas estruturas argumentativas. 
A Pedagogia Retórica, por conseguinte, ressaltou, especialmente, 
o estudo dos discursos e dos escritos dos melhores autores. Por 
essa razão, era, por natureza, canônica. Segundo Burton (1994, 
p. 96), a Pedagogia Retórica repousa numa íntima relação entre 
leitura/escrita e observação/composição. Divide-se em dois 
tipos de atividade hierarquicamente situadas: análise (dirigida 
pelo rector em uma verdadeira dissecação do texto modelo, 
praelectio) e gênese. A observação de sucessivos discursos e 
textos precede e aperfeiçoa a fala e a escrita. Assim, o incentivo à 
leitura não se deve somente à busca do conteúdo, mas, também, 
à busca de técnicas e estratégias úteis. Tais técnicas podem 
ser adaptadas e adotadas para aprimorar a fala e a escrita dos 
aprendizes, através de vários tipos de exercícios de imitação – 
97
A Arte de Argumentar Capítulo 3 
Imitatio. Esse termo imitatio/mímesis (imitação), em sua origem, 
refere-se à ação ou faculdade de imitar, de copiar, de reproduzir 
ou representar a natureza, o que, para Aristóteles, é o fundamento 
da arte. Entretanto, a imitatio não é exclusividade da gênese 
da arte. Toda ação humana inclui procedimentos miméticos, 
a aptidão do ser humano de aprender tem muito a ver com a 
imitação. Desse modo, Aristóteles defendia que é a mímesis 
que distingue o ser humano dos animais (ARISTÓTELES, 
Poética, 1, IV). Portanto, a imitatio é, sem dúvida, o maior pilar 
da Pedagogia Retórica. Outra concepção basilar para a Retórica 
é a divisão entre “o que é” comunicado por meio da linguagem e 
“como” isso é comunicado: a distinção entre forma e conteúdo – 
para Aristóteles, logos e lexis; res e verba para Quintiliano, bem 
como para Erasmus de Rotterdamm e Juan Luís Vives. Essa 
divisão, embora questionável e questionada – já que se defende 
hoje a natureza fundamentalmente indivisível da expressão 
verbal e das ideias –, é muito útil se entendida como um artifício 
para facilitar a aprendizagem e foi muito utilizada na Pedagogia 
Retórica na qual a prática da imitatio era a que mais exigia dos 
estudantes analisarem forma e conteúdo (SOUKI, 2012, p. 2). 
Nesse sentido, o sujeito que utiliza da argumentação pedagógica sempre 
se preocupa em expor um argumento para alguém e, como consequência, quer 
convencer ou ensinar algo para este interlocutor.
Se a opção do orador for utilizar argumentação filosófica, deve ficar claro 
que o sujeito supõe uma oposição de argumentos ou uma exposição com 
sequência lógica e com uma finalidade de expor as ideias, não necessariamente 
o convencimento. 
Isso significa que a estrutura argumentativa escolhida implica nos resultados 
finais de uma exposição de argumentos. Você, estudante de Oratória e 
Retórica, deve ter em mente essa distinção para escolher o modo adequado de 
argumentação. 
É importante recordar alguns pontos fundamentais da retórica e da oratória 
para que o estudante tenha em mente o papel e o significado desta arte em sua 
vida, bem como os caminhos que quer escolher ao se utilizar dela. 
Embora se deva a Hermágoras o mais antigo tratamento dos 
estudos retóricos, foi Cícero que, efetivamente, legou para a 
posteridade essa divisão dos estudos retóricos, como os Cânones 
da Retórica (Cícero, De Inuentione, 1.7, Cícero, De Oratore, 1.31-
142; Quintiliano, Institutio Oratoria, 3.3). Foram organizados em 
cinco categorias: invenção (Inuentio); arranjo (Dispositio); estilo 
(Elocutio);memória (Memoria); e apresentação/performance 
(Pronuntiatio). Esses tratados serviam de alicerce e suporte 
para a crítica do discurso e, portanto, se configuravam em um 
padrão para a educação retórica e para o ensino da gênese 
dos discursos. Particularmente, o cânone heuresis/inuentio, 
que significa descoberta de fontes para a persuasão discursiva, 
está latente em todo problema retórico. O próprio termo latino 
98
 Oratória e Retórica
inuentio, do grego heuresis, em português significa invenção ou 
descoberta. Esse cânone foi, na antiguidade, um dos processos 
mais teorizados por estudiosos retóricos da época, principalmente 
por Aristóteles, que definia a Retórica como invenção. Por isso, a 
categoria invenção está relacionada à essência da persuasão e 
argumentação dessa arte milenar. Para ele, a Retórica era uma 
das melhores formas de persuasão (ARISTÓTELES, Retórica, I, 
2). A Retórica pode ser considerada uma disciplina prática cujos 
preceitos se dão a partir de ferramentas a serem aplicadas na 
prática. E como a Retórica, na antiguidade, não dispunha de 
uma matéria própria, os oradores tinham, como mérito, poder 
falar sobre qualquer assunto. Na prática, entretanto, os discursos 
eram para os oradores um desafio. Isso na medida em que era 
necessário propor argumentos apoiados em pontos de vista que 
se queriam defender. Como preconizava Cícero, além do gênio 
inato, era necessário ao orador o método, isto é, a Retórica, 
para então buscar os melhores argumentos. Ele defendia que o 
orador que tivesse o dom da Retórica já estaria em vantagem, e 
que, na falta dele, era imperioso ao orador buscar artifícios para 
descobrir argumentos. Nesse caso, a invenção, ou heuresis/
inuentio, era o método para demarcar a descoberta desses 
argumentos. Dessa maneira, é fundamental, nesta parte, 
salientar os dois grandes tipos de argumentos, de acordo com 
Aristóteles. São os seguintes: os não retóricos e os retóricos. 
Os primeiros não faziam parte da Retórica, eram argumentos 
externos à arte. Os oradores, ao utilizá-los, não necessitavam 
inventá-los, descobri-los. Dessa maneira, precisavam apenas 
localizá-los e adequá-los ao discurso. Acontece, entre outros 
processos, por meio do raciocínio lógico... Por sua vez, ocorre 
por indução ou dedução. Cabe enfatizar que registramos aqui 
essa categoria de argumentação, ou seja, a utilização dos 
argumentos não retóricos, já que se faz importante conhecê-los, 
compreendê-los e, então, utilizá-los adequadamente, quando 
conveniente (SOUKI, 2012, p. 4).
 
Esse caminho de busca dos melhores argumentos para se expor um 
pensamento é a capacidade que irá distinguir um bom estudante e orador de um 
simples cumpridor de tarefas diante de um público. Desta maneira, conforme já 
apontou Sócrates, devemos distinguir discursos verdadeiros de discursos falsos 
mediante a análise dos argumentos. 
A parte do diálogo platônico apresentada na sequência permite a você, 
estudante, um entendimento e uma aproximação detalhada de um discurso 
retórico refinado. 
Estrangeiro — Logo, se há discurso verdadeiro e discurso falso, 
e o pensamento se nos revelou como conversação da alma 
consigo mesma, e opinião como a conclusão do pensamento, 
vindo a ser o que designamos pela expressão, imagino, uma 
mistura de sensação e opinião, forçoso é que algumas sejam 
falsas, dadas suas afinidades com o discurso.
Teeteto — Sem dúvida.
Estrangeiro — Como já percebeste, apanhamos mais depressa 
do que esperávamos a falsa opinião e o falso discurso, pois, 
não faz muito, tínhamos receio de haver empreendido com 
semelhante pesquisa uma tarefa irrealizável.
99
A Arte de Argumentar Capítulo 3 
Teeteto — Já percebi, realmente.
XLVIII — Estrangeiro — Por isso, não desanimemos ante o que 
ainda nos falta realizar; e já que conseguimos chegar até aqui, 
voltemos a tratar de nosso processo de divisão.
Teeteto — Que divisão?
Estrangeiro — Distinguimos duas classes na arte de fazer 
imagens: a da cópia e a dos simulacros.
Teeteto — Certo.
Estrangeiro — E também nos confessamos em dificuldade 
para incluir o sofista numa delas.
Teeteto — Isso mesmo.
Estrangeiro — E no auge de nossa confusão, trevas ainda mais 
densas nos envolveram, com apresentar-se-nos o argumento 
de contestação universal, de que não existe absolutamente 
nem cópia nem simulacro, visto não ser possível haver, seja 
onde for, qualquer espécie de falsidade.
Teeteto — Falaste com muito acerto.
Estrangeiro — Porém, uma vez provada a existência de falsos 
discursos e de opiniões falsas, é possível que haja imitação 
dos seres, e que dessa disposição do espírito nasça uma arte 
da falsidade.
Teeteto — É possível (PLATÃO, 1980a, p. 66).
Cabe ao estudante de Oratória e Retórica escolher o argumento apropriado 
que mais se adapte ao seu caráter e a suas convicções pessoais para explicar e 
expor uma mensagem teológica, filosófica ou de outra ordem. 
Figuras de Pensamento e Figuras de 
Construção
As figuras argumentativas podem variar de modo a produzir diversos efeitos 
em seus interlocutores (REBOUL, 2004). Desta maneira, podemos falar de simples 
comparações que são simplesmente cotidianas em nossos argumentos. Podemos 
falar também de argumentos que utilizam alegorias elaboradas que são muito 
comuns em meios jurídicos para suavizar determinados atos. Merecem menção 
ainda os eufemismos linguísticos que querem suavizar uma situação insuportável. 
Entre outros, podemos falar ainda de argumentos comparativos, indicativos, 
ambíguos, literais e implícitos.
De acordo com a escolha que o sujeito fizer quando enunciar um argumento, 
o efeito resultante será condicionado à amplitude da possibilidade que este tiver. 
Por exemplo, para convencer um determinado público, o orador escolhe um 
argumento indicativo e direto. O resultado está condicionado ao nível da plateia 
e ao tipo de argumento que ele escolheu. Evidente que o estilo do orador pode 
contribuir ou não no convencimento, mas o tipo do argumento é o principal 
determinante. 
100
 Oratória e Retórica
Agumas Considerações
Os aspectos argumentativos expostos permitem um entendimento de como 
a retórica e a oratória, no decorrer da história do conceito, se desenvolveram. 
E conforme aponta Reboul (2004), não existe uma evolução positivista na 
construção dos argumentos.
 
Podemos entender que existem muitas idas e vindas do uso da retórica e da 
oratória, com períodos de destaque e outros de esquecimento. Deve ficar claro 
que tanto a retórica, construção de argumentos, quanto a oratória, exposição 
destes, são componentes do cotidiano de nossas existências. 
Referências
AMOSSY, Ruth. Da noção retórica de ethos à análise do discurso. Imagens 
de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto, p. 9-28, 2005. 
Disponível em: <https://www.ufmg.br/online/arquivos/anexos/Livro_trecho.pdf>. 
Acesso em: 12 jun. 2017.
CHACON; Almeida. Deus no Outro: a noção cristã de espiritualidade e sua 
interface com a ética da alteridade. Revista Eletrônica Espaço Teológico. Vol. 
10, n. 18, jul/dez, 2016, p. 48-60. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.
php/reveleteo>. Acesso em: 15 jun. 2017.
PLATÃO. Fedro. Pará: Universidade Federal do Pará, 1980a. 
_______. Górgias. Pará: Universidade Federal do Pará, 1980b. 
REBOUL, O. Introdução à retórica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
PEREIRA, M. P. Retórica, hermenêutica e filosofia. Revista filosófica de 
Coimbra. n. 5, v. 3, 1994. pp. 5-70. Disponível em: <http://www.uc.pt/fluc/dfci/
publicacoes/retorica__hermeneutica_e_filosofia>. Acesso em: 10 jun. 2017.
SEGUNDO, P. R. G. Resenha de Olivier Reboul. Introdução à Retórica. 2. ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 2006.
SOUKI, J. D. O. Argumentação: a pedagogia retórica como uma das 
possibilidades de ensino e de aprendizagem dessa modalidade discursiva. 
2012. Disponível em: <http://revistaarnaldo.costatecs.com.br/index.php/
faculdadedireitoarnaldo/article/download/20/14>. Acesso em: 13 jun. 2017.
CAPÍTULO4
Implicações da Retórica
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Escolher argumentos e formas de oratória para alguns grupos de pessoas.
� Diferenciar as hipóteses de teses e posturas retóricas acerca de um tema.
� Construir um argumento retórico que convença.
� Formular uma oratória para um determinado público.
102
 Oratória e Retórica
103
Implicações da Retórica Capítulo 4 
Contextualização
Neste capítulo procuramos apresentar a você, estudante de oratória e 
retórica, uma reflexão sobre as implicações das escolhas de determinados 
argumentos e as devidas consequências destas escolhas. 
Implicações do Argumento
Quando enunciamos um argumento, devemos saber quais as devidas 
implicações do que estamos expondo. Ao apresentarmos um determinado 
argumento, devemos saber de suas fontes, se ele tem ou não alguma relação 
com a verdade, no sentido platônico que remete à epistemologia dos fatos ou se é 
uma mera suposição do intelecto que produz determinadas situações como fruto 
de nossa imaginação.
Um argumento precisa ter uma sequência lógica de raciocínios, 
ele não pode ser um enunciado vazio sem coerência interna. Para que 
você, estudante de oratória e retórica, entenda o que está sendo dito, 
daremos alguns exemplos. 
Exemplo: (a) Sócrates é homem. Todos os homens são 
mortais. Logo, Sócrates é mortal. (b) Vovó se chama Ana. 
Vovô se chama Lúcio. Consequentemente, eu me chamo Ana 
Lúcia. (c) Há exatamente 136 caixas de laranja no depósito. 
Cada caixa contém pelo menos 140 laranjas. Nenhuma caixa 
contém mais do que 166 laranjas. Deste modo, no depósito 
estão pelo menos seis caixas contendo o mesmo número de 
laranjas (VIANA, 2012, p. 4).
 
Não queremos entrar em detalhes lógicos formais dos argumentos, pois o 
estudante de oratória e retórica não precisa de formalidades filosóficas com 
detalhamentos matemáticos. Ele deve ter em mente que para fazer um bom 
argumento precisa dominar o tema, os estilos e a finalidade de seu argumento. 
Deste modo, as implicações de um determinado argumento são mensuráveis, 
ou seja, calculáveis. Com efeito, você, estudante de oratória e retórica, fique 
atento a isso para saber o momento de enunciar um argumento e o momento 
de aguardar o devido silêncio. Em muitos momentos da convivência humana, 
argumentar significa admitir a incapacidade de transmitir a mensagem desejada, 
logo o silêncio também é um argumento, saber o que ele significa e para quais 
momentos deve ser usado, por isso citamos um texto jurídico para o aluno 
distinguir do de teologia. 
Um argumento 
precisa ter uma 
sequência lógica 
de raciocínios, ele 
não pode ser um 
enunciado vazio sem 
coerência interna.
104
 Oratória e Retórica
Argumentar é o ato de produzir argumentos. Produzir um 
argumento é apresentar razões em defesa de uma conclusão. 
Essa não é a única definição possível do ato de argumentar. 
Por exemplo, há quem prefira entender argumentos como 
diálogos, isto é, como séries (mais ou menos longas) de 
afirmações, objeções e réplicas. Essa concepção – que 
poderia ser descrita como “dialógica” – não está errada. Ela 
é útil em certos contextos e para certos propósitos; mas ela 
não parece particularmente útil para explicar a interlocução 
jurídica. Devemos adotar uma noção de argumento que seja 
capaz de representar o aspecto competitivo e conflituoso 
da argumentação jurídica. Argumentar não é exatamente 
um ato privado ou monológico (afinal, argumentos jurídicos 
são produzidos caracteristicamente no contexto de debates 
públicos), mas cada argumentador é responsável por seus 
próprios argumentos. Cada argumentador, ao produzir um 
argumento, apresenta as suas razões em defesa da sua 
conclusão. Isso não quer dizer que argumentação jurídica seja 
sempre competitiva ou conflituosa. No ambiente acadêmico, 
por exemplo, há muito espaço para a colaboração intelectual 
(SCHECAIRA, 2012, p. 1).
 
Por isso, saber o alcance de um argumento e as devidas 
consequências é uma forma de o orador saber o que está fazendo. 
Não basta falar e expor bem um argumento, é preciso saber se é o 
local e o momento adequado. Atenção: calcular as consequências 
de seus argumentos não é somente considerar matematicamente as 
probabilidades e determinar uma relação utilitária, é, antes de tudo, ter 
a sensibilidade de saber o que, quando e para que serve o que estamos 
expondo. Percebemos estas dificuldades em situações extremas, por 
exemplo, quando há uma tragédia, ou quando há uma enfermidade 
grave em nosso meio. Quantas vezes queremos confortar os outros 
falando e argumentando, sendo que naquele momento ninguém tem 
condições emocionais de escutar um argumento. Consequentemente, acabamos 
por falar em um momento em que as palavras não são o mais importante. O 
contrário também é verdadeiro. Quantas vezes já nos chamaram a expor um 
argumento e preferimos nos esconder em nossas dificuldades e nos omitimos. 
Os elementos que formam um argumento são proposições. 
Segundo uma compreensão clássica, proposições podem ser 
verdadeiras ou falsas, segundo corretamente expressem, ou 
não, aquilo que “corresponde aos fatos”. Já os argumentos, 
sendo estruturas de proposições, não são passíveis de verdade 
ou falsidade. [...] O seu “valor” epistêmico se expressa pelas 
noções de validade e relevância. Um argumento será válido 
se, e somente se, for impossível que sua conclusão seja falsa 
quando se assume que todas as premissas são verdadeiras. 
Com essa caracterização, fica claro que somente argumentos 
do tipo lógico podem, estritamente, ser válidos. Nos outros tipos, 
deve-se adotar um padrão [...] mais fraco de exigência para a 
avaliação do argumento. Assim, muitos filósofos propuseram 
critérios variados pelos quais argumentos indutivos e abdutivos 
poderiam ser classificados em melhores ou piores, ou seja, 
capazes, em maior ou menor grau, de conferir plausibilidade 
Saber o alcance 
de um argumento 
e as devidas 
consequências é 
uma forma de o 
orador saber o que 
está fazendo. Não 
basta falar e expor 
bem um argumento, 
é preciso saber se é 
o local e o momento 
adequado.
105
Implicações da Retórica Capítulo 4 
a suas conclusões, quando se assume que suas premissas 
são verdadeiras. Um argumento será dito relevante se, e 
somente se, além de válido, todas as suas premissas forem, de 
fato, verdadeiras. Se contiver ao menos uma premissa falsa, 
será irrelevante, porque a existência de falsidade entre suas 
premissas faz com que se perca a garantia de que a conclusão 
é de fato verdadeira, mesmo o argumento sendo válido. 
(Um argumento válido “transmite” a verdade das premissas 
para a conclusão; se entre as premissas houver alguma que 
seja falsa, sua falsidade poderá (mas não necessariamente) 
“passar” para a conclusão.) (CHIBENI, s.d., p. 2).
 
Logo, identificar a estrutura e a falsidade de uma premissa irá contribuir para 
que o estudante de oratória e retórica se organize, e conforme entende Reboul 
(2004), saiba escolher o tipo de argumento que deve usar para cada circunstância. 
Atividade de Estudos:
 1) Indique o que você entendeu do texto a seguir sobre o 
esquecimento da retórica. Explique com suas palavras!
 Se a retórica, com a revolução romântica, entrou em descrédito, 
rejeitada em nome de uma pretensa espontaneidade e sinceridade 
poéticas, se os estudos retóricos foram, depois, perdendo 
importância, sobretudo nas escolas da Europa continental, tal 
fato não significou, como muitos pensaram e alguns desejaram, a 
morte de uma arte transmitida ao longo de mais de 25 séculos, 
nem a sua exclusão, pelas forças criadoras do gênio, para o limbo 
das coisas inúteis. 
 Ao contrário do que se poderia supor, foi a retórica, em tempos de 
fascínio pela utilidade imediata dos saberes e técnicas, de entre as 
artes da palavra, aquela que veio a revelar-se o instrumento mais 
necessário e eficaz nas sociedades que,ao longo do século XX, 
sofreram e se beneficiaram dos efeitos da aceleração histórica. 
 Com efeito, se a comunicação, no passado, era naturalmente 
limitada pelo espaço – do tribunal, da assembleia, da igreja, da 
praça pública –, por não haver maneira de propagar mais além a 
voz humana, no nosso tempo, instrumentos e técnicas cada vez 
mais aperfeiçoadas permitiram dar à palavra força incoercível e 
eficácia inaudita.
 É verdade que há muito o homem vencera as barreiras do tempo, 
por meio da escrita, e lograra a propagação do discurso através 
106
 Oratória e Retórica
do livro impresso: a retórica constitui-se como arte na Grécia 
do século V a. C., quando se expande o conhecimento e uso 
da escrita; a retórica renasce na Itália do Quattrocento, quando 
se beneficia das possibilidades oferecidas pelo invento de 
Guttenberg; com a imprensa, a retórica pôde transformar-se em 
retórica literária. Mas esse era um tempo diferido, que alterava as 
condições da situação comunicacional, e quando, em diferentes 
momentos e por razões várias, a retórica é reduzida à técnica 
de análise e composição, perde a sua dinâmica; padecendo de 
letteraturazione, deleita, talvez ensine, deixa porém de impelir 
à ação: a distância entre orador e ouvinte dificulta o ofício de 
persuadir. Esse foi o tempo da retórica senza microfono. 
 O século passado viu nascer a comunicação de massas, a 
difusão do discurso, escrito e oral, à escala planetária, mercê 
de poderosos meios de amplificação da voz humana; o meio frio 
da galáxia de Guttenberg, rapidamente substituído pelos canais 
quentes da era de McLuhan; mas viu também como tamanho 
poder perverte a verdadeira comunicação; na pólis deste nosso 
tempo, saturado de discurso e informação, de novo manda a 
palavra por limitada que seja a isegoria (Calboli 1983: 23-56 e 
Verdelho 1986: 139-156). 
 [...] Na Europa a recuperação da retórica processou-se sobretudo a 
dois níveis, no plano filosófico e no campo dos estudos linguísticos 
e literários. A filosofia há muito tempo que excomungara a 
retórica; Descartes e Kant prolongaram a seu modo a atitude 
antirretórica que desde Platão marcava o pensamento filosófico. A 
reabilitação da retórica neste domínio inicia-se em 1952, quando 
Chaim Perelman e Olbrechts-Tyteca publicam uma coletânea 
de artigos sob o título Rhétorique et Philosophie; aí proclamam 
o seu propósito de estudar «les moyens d’argumentation, autres 
que ceux relevant de la logique formelle, qui permettent d’obtenir 
ou d’accroître l’adhésion d’autrui aux thèses qu’on propose à son 
assentiment» (Lempereur 1990: 117). Em 1958 sistematizam essa 
teoria no Traité de l’argumentation que apresentam como nouvelle 
rhétorique. Para resolver o velho dissídio entre retórica e filosofia, 
Perelman regressa à tradição clássica elegendo como texto 
fundacional a Retórica de Aristóteles (SOARES, 2011, p. 19-22).
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107
Implicações da Retórica Capítulo 4 
Os Sofistas e a Retórica de Hoje
O nascimento da retórica no Ocidente se relaciona de modo substancial com 
um movimento filosófico antigo que foi contemporâneo ao pensamento platônico 
por volta do século IV a.C., que foi chamado de sofista. Os sofistas são um grupo 
de pensadores da época de Platão e que não acreditavam na possibilidade de 
se transmitir a verdade pelo discurso. Logo, surgiu a contenda em que Platão 
os acusou de vendedores de discursos sem compromisso com a verdade. A 
disputa entre Sócrates e os sofistas, descrita por Platão, visto que Sócrates nada 
escreveu, mostra este problema da discussão sobre a elaboração de um discurso 
presente entre os gregos. Passamos agora para alguns trechos do diálogo 
Sofista de Platão, para evitarmos a falsa impressão de que a retórica e a oratória 
evoluíram. O diálogo começa com Sócrates e Teodoro, um amigo da época. 
I — Teodoro — Fiéis, Sócrates, a nossa combinação de 
ontem, aqui estamos na melhor ordem. Trouxemos conosco 
este Estrangeiro, natural de Eleia; é amigo dos discípulos de 
Parmênides e de Zenão, e filósofo de grande merecimento.
Sócrates — Não se dará o caso, Teodoro, de, sem o saberes, 
teres trazido um dos deuses em vez de um Estrangeiro, 
segundo aquilo de Homero, quando diz que, de regra, os 
deuses, e particularmente o que preside à hospitalidade, 
acompanham os cultores da justiça, para observarem o orgulho 
ou a equidade dos homens? Quem sabe se não veio contigo 
uma dessas divindades, para surpreender-nos e refutar-nos 
argumentadores tão fracos todos nós algum deus disputador?
Teodoro — Não, Sócrates; não é do caráter do nosso 
Estrangeiro; ele é mais modesto do que todos esses amantes 
de discussões. Não acho, absolutamente, que o homem seja 
alguma divindade. Porém divino terá de ser, sem dúvida; não é 
outro o qualificativo que costumo dar aos filósofos.
Sócrates — E com razão, amigo. Porém talvez a raça dos 
filósofos não seja, por assim dizer, muito mais fácil de conhecer 
do que a dos deuses. Em virtude da ignorância da maioria, 
esses varões percorrem as cidades sob as mais variadas 
aparências, contemplando, sobranceiros, a vida cá de baixo. 
Não me refiro aos pretensos filósofos, porém aos de verdade. 
Aos olhos de algumas pessoas, eles carecem em absoluto de 
merecimento; para outros, são dignos de toda a consideração. 
Ora se apresentam como políticos, ora como sofistas, havendo, 
até, quem dê a impressão de ser completamente louco. Por 
isso mesmo, gostaria de perguntar ao nosso Estrangeiro, caso 
nada tenha a opor, como pensam a esse respeito lá por suas 
bandas e como os denominam (PLATÃO, 1980, p. 2-3).
Este movimento se difundiu por todo o pensamento grego e ganhou força 
sob a fundamentação retórica do relativismo e das correntes filosóficas que se 
apoiam nele. Embora a maior parte dos sofistas se preocupasse em dar aulas e 
vender seus ensinamentos para sobreviver, inaugurando a profissão de professor 
ambulante, seu modo de argumentar preciso e belo se difundiu com grande 
velocidade, suplantando a busca da verdade da filosofia socrático-platônica. 
108
 Oratória e Retórica
E para irmos ao cerne do problema, nos referimos à definição dada 
por Sócrates no texto escrito por Platão sobre os sofistas e seus estilos de 
argumentação em defesa da não existência da verdade. 
III — Estrangeiro — Belas palavras; porém sobre isso tu mesmo 
resolverás no decorrer de nossa discussão. No momento, o que 
importa é te associares comigo para darmos início ao nosso estudo, a 
começar, segundo penso, pelo sofista; investiguemo-lo e mostremos 
com nossa análise o que ele venha a ser. Por enquanto, eu e tu 
apenas num ponto estamos de acordo: o nome. Mas, quanto à coisa 
designada por esse nome, talvez cada um de nós faça ideia diferente. 
Porém, em toda discussão o que importa, antes de tudo, é ficar em 
concordância com relação à própria coisa, por meio da explicação 
adequada, não apenas a respeito do nome, sem aquela explicação. A 
tribo dos sofistas que nos dispomos a investigar não é fácil de definir. 
Mas para levar a bom termo empresas grandes, segundo preceito 
antigo de aceitação geral, só será de vantagem experimentar antes as 
forças em temas menores e mais fáceis, e só depois passar para os 
maiores. Por isso, Teeteto, o que na presente situação sugiro para nós 
dois, já que reconhecemos ser difícil e trabalhosa a raça dos sofistas, 
é nos exercitarmos primeiro nalgum tema simples, a menos que te 
ocorra indicar um caminho mais cômodo.
Teeteto – Não; nada me ocorre nesse sentido. Estrangeiro — 
Concordas, então, em escolhermos um exemplo singelo e apresentá-
lo como modelo para o maior?
Teeteto — Concordo.
Estrangeiro — Que assunto, pois, escolheremos, simples, a um tempo, 
e fácil de conhecer, mascuja explicação não exija menor número de 
características do que temas importantes? O do pescador, talvez? Não 
é assunto bastante conhecido e não nos merece a maior atenção?
Teeteto – Isso mesmo.
Estrangeiro – Espero que nos aponte o caminho procurado e propicie 
a definição mais condizente com o nosso intento.
Teeteto – Seria ótimo.
IV — Estrangeiro — Pois então comecemos por aí. Dizei-me uma 
coisa: como devemos concebê-lo: é artista ou sujeito carecente de 
arte, porém dotado de alguma outra capacidade?
Teeteto – De jeito nenhum poderá ser carecente de arte.
Estrangeiro – Mas todas as artes se reduzem a duas espécies.
Teeteto – Como assim?
Estrangeiro – A agricultura e tudo o que trata do corpo mortal; depois, 
tudo o que se relaciona com os objetos compostos e manipulados, a 
que damos o nome de utensílios; e, por último, a imitação: não será 
justo designar tudo isso por um único nome?
Teeteto – Como assim, e que nome será?
Estrangeiro – Damos o nome de produtor a quem traz para a existência 
o que antes não existia, denominamos produto o que passa a existir 
em cada caso particular.
Teeteto – Certo.
Estrangeiro – Então, designemos tudo aquilo por um nome único: 
serão as artes produtivas.
Teeteto – Seja.
Estrangeiro – Depois dessas, vem a classe inteira das artes da 
aprendizagem e do conhecimento, as do ganho, a da luta e a da caça, 
as quais nada fabricam, mas que, por meio da palavra ou da ação, 
procuram apropriar-se do que existe ou foi produzido, ou impedir que 
outros se apropriem. O nome genérico mais indicado para todas essas 
atividades seria o de arte aquisitiva (PLATÃO, 1980, p. 5-6).
 
109
Implicações da Retórica Capítulo 4 
Neste sentido, os sofistas e sua arte de argumentar bem venceram o 
embate com a filosofia da busca da verdade fundada em Platão e Aristóteles. 
Isso não significa em superação, pois em filosofia não existe conhecimento 
retórico ultrapassado. Você, estudante de oratória e retórica, deve saber disso, 
não há conhecimento superado em filosofia. Deste modo, você pode optar entre 
as diferentes correntes de pensamento e escolher o seu modelo retórico mais 
adequado.
Precisamos mencionar neste capítulo que a passagem da arte da enganação, 
como era conhecida a retórica e a oratória entre os gregos, para a arte do falar 
bem, envolve uma dinâmica que implica em evolução. O que ocorreu é uma 
retomada da perspectiva dos sofistas da época platônica, pois embora Platão os 
combatesse, valorizava a arte retórica destes. 
Houve tempos em que a retórica foi tratada como sinônimo 
de enganação. A leitura do diálogo Górgias de Platão deixa 
evidente que a dupla serventia da persuasão – ora podendo 
estar a serviço do bem, ora do mal - acabou lhe deixando uma 
marca pesada demais para carregar. O ensino e o uso da 
retórica e da oratória para fins políticos também contribuíram 
para o seu afastamento do elenco dos métodos científicos. 
Mas foi o racionalismo o verdadeiro divisor de águas que 
marcou o momento em que a retórica caiu no esquecimento. 
Por isso mesmo, na esteira das contestações pragmática 
e behaviorista, no século XX, abriu-se caminho para o 
ressurgimento da retórica. A retórica não se trata, portanto, 
de uma corrente de pensamento, mas sim de um instrumento. 
E não é correto também ligar esse instrumento com alguma 
corrente de pensamento específica, como alguns críticos já o 
fizeram no Brasil, ao atacarem os seguidores da retórica, em 
diversos momentos, como sendo difusores de instrumentos a 
serviço do neoliberalismo. O objetivo do projeto retórico é o 
estudo pormenorizado do alcance da técnica. E é justamente 
por isso que o estudo da retórica enquanto técnica de persuasão 
deveria ser estimulado entre os estudantes e profissionais da 
área da economia, a fim de permitir uma melhor leitura do que 
se passa nesse ramo do conhecimento em cada momento 
do tempo. Os trabalhos de Arida e McCloskey chamam a 
atenção para a necessidade de se dar valor ao pluralismo 
metodológico em detrimento da unicidade de método; alertam 
para a necessidade de não se jogar fora o contraditório, de 
evitar reduzir tudo ao formalismo frio e às tratativas impessoais 
tão presentes no hardcore neoclássico. Chamam ainda a 
atenção para a necessidade de facilitar a comunicação entre 
os economistas e de se dar voz para aqueles que desejam 
falar (VIEIRA, 2016, p. 17).
 
É importante mencionar que as técnicas retóricas formais de construção de 
um argumento podem ser incrementadas com tecnologia e efeitos especiais, mas 
em nenhum momento podemos falar de progresso positivo. A filosofia e a retórica 
filosófica funcionam com a contraposição das ideias e não com descobertas 
científicas. Deste modo, a filosofia e sua subárea, a retórica, são maneiras de 
110
 Oratória e Retórica
pensar que permitem ao homem, desde seus modelos conhecidos na Grécia e em 
outros lugares, se debruçar sobre o mundo ao seu redor sem cair na armadilha do 
positivismo como algo melhor. Os sofistas em geral eram professores ambulantes 
que de maneira itinerante levavam a arte de falar bem aos diversos povos da 
Grécia e arredores. 
Caracterizar os sofistas a partir de sua atividade profissional 
como professores de retórica parece ser a maneira menos 
controversa de defini-los. Eles supriram a demanda por 
uma educação juvenil destinada a formar homens capazes 
de distinguirem-se dos demais nos assuntos públicos e 
privados. Vistos positivamente, eles eram “os transmissores 
de competências valorizadas no seu tempo como instrumentos 
decisivos do sucesso na carreira política e, de um modo geral, 
nos êxitos mundanos” (SOUSA; PINTO, 2002, p. 13-14). Seu 
ensino era pago e eram procurados, principalmente, por jovens 
de famílias abastadas que pretendiam alcançar poder político 
através do domínio das técnicas do discurso persuasivo. 
Que alguns desses jovens fossem mal-intencionados e 
utilizassem, futuramente, os ensinamentos sofísticos com fins 
inescrupulosos era um risco da profissão e algo pelo qual os 
sofistas foram muitas vezes responsabilizados. O estudo da 
retórica orientado pelos sofistas incluía desde o conhecimento 
de pequenos detalhes gramaticais até a discussão de assuntos 
de composição, estrutura e argumentação. O objetivo destes 
estudos era a construção do discurso não apenas mais 
adequado e convincente, mas do melhor e mais envolvente. 
Suas práticas pretendiam o aprimoramento no uso de 
técnicas discursivas tais como: o uso do argumento provável 
ou verossimilhante; contra-argumentação e justaposição de 
argumentos contrários; adequação à ocasião (causa, público, 
situação etc.); figuras de linguagem, efeitos causados sobre o 
público etc. (PREZOTTO, 2008, p. 242). 
 
Depois deste detalhamento importante, queremos apontar como a 
modernidade se desenvolveu sobre a definição sofística de que não existe a 
verdade. O homem moderno resultado do desenvolvimento científico chegou a 
acreditar em uma máxima relativista elencada por Protágoras, sofista grego, “o 
homem é a medida de todas as coisas”, de modo a excluir qualquer possibilidade 
da busca da verdade. 
De um modo geral, alguns professores esclarecidos da geração 
anterior assemelhavam-se aos sofistas, como os preceptores 
de Péricles, que ensinavam sobre astronomia, geografia e física 
e mantinham com seus alunos discussões dialéticas acerca de 
problemas diversos. No entanto, embora partilhassem com seus 
predecessores o ofício de treinar os jovens para os deveres, 
as atribuições e os acontecimentos da vida adulta, privada ou 
pública, os sofistas distinguiram-se [...] por trazer à tarefa uma 
gama maior de conhecimento, com uma maior multiplicidade de 
tópicos científicos e outros - não só poderes mais impressionantes 
de composição e discurso, servindo como um exemplo pessoal 
ao aluno, mas também uma compreensão dos elementos da boa 
oratória, para poder transmitir os preceitos conducentes àquela 
realização - um tesouro considerável de pensamento acumulado 
111Implicações da Retórica Capítulo 4 
em moral e assuntos políticos, destinado a tornar sua conversa 
instrutiva - e discursos prontos, sobre temas gerais ou ‘lugares 
comuns’, para que os alunos aprendessem de cor (GROTE, 1907, 
p. 317). Acreditar que os sofistas transmitissem apenas técnicas 
e aptidões específicas é simplificar o escopo de sua atuação. 
Influenciados pela filosofia jônica, os sofistas são racionalistas e 
inquiridores. As explicações ‘naturais’, de Anaximandro em diante, 
para a origem da vida e da sociedade abriram caminho para o 
tratamento dos eventos como problemas perscrutáveis, não 
mais como mistérios intangíveis em que os papéis fundamentais 
eram representados pelos deuses. O contato com outros povos, 
a percepção da relatividade dos valores morais, dos costumes, 
da religião, foi outro fator que contribuiu para a formação da 
nova geração de pensadores relativistas e humanistas. Outra 
característica dos sofistas é a de serem itinerantes assim como 
os antigos aedos. Viajavam pelo mundo grego, visitando várias 
cidades, transmitindo os seus conhecimentos em palestras a 
pequenos grupos, em conferências maiores ou em epídeixeis. 
Também se apresentaram em festivais e em outras ocasiões 
públicas. Dos sofistas mais famosos desta época, apenas Antífon 
parece ter sido ateniense; Protágoras era de Abdera (na costa da 
Trácia), Górgias de Leontinos (na Sicília), Pródico de Céos (em 
território jônico) e Hípias de Élis (nordeste do Peloponeso). Todos 
eles estiveram, em algum ou vários momentos de suas vidas, 
em Atenas, pois “Atenas, por uns 60 anos, na segunda metade 
do século V a. C., era o verdadeiro centro do movimento sofista. 
De fato, tanto isso é verdade que, sem Atenas, é provável que o 
movimento dificilmente teria vindo a existir (PREZOTTO, 2008, p. 
243-244).
 
Este movimento se desenvolveu e se espalhou pelo Ocidente e na 
modernidade procura explicar coisas para as quais não pode dar uma resposta 
definitiva, ou ainda atribui à ciência essa tarefa que não pode ser cumprida, pois 
à ciência compete investigar fenômenos e não coisas em si, conforme ensinou o 
filósofo alemão Immanuel Kant (2005). 
Todas as características do movimento sofista até aqui expostas 
suscitam tanto admiração como repulsa. A nova educação 
que promove é satirizada por Aristófanes em As Nuvens. 
Os sofistas foram acusados de venderem um conhecimento 
imoral e pernicioso, ensinando os jovens a justificarem más 
ações com argumentos retóricos, livrando-se assim de suas 
consequências. Os ricos e conservadores consideravam-nos 
uma ameaça pelas mudanças e discussões que incitavam; 
os mais pobres, que não tinham acesso ao seu ensino, viam-
nos com preconceito, como os detratores dos bons e velhos 
costumes. Neste ambiente hostil, ‘sofista’ passa a ser um título 
depreciativo, usado para intelectuais, adivinhos, pedantes, 
ateus, físicos, filósofos etc., implicando charlatanismo e 
velhacaria ou astúcia, esperteza em sentido pejorativo. A má 
reputação dos sofistas foi perpetuada pelo menosprezo de 
Platão, cuja opinião continua, ainda hoje, a influenciar a visão 
que se tem do período sofístico. Apenas a partir do séc. XIX é 
que se começa a desvincular o estudo do movimento sofista da 
visão legada por Platão. A crítica platônica, em linhas gerais, 
recai sob duas acusações: 1) os sofistas não são pensadores 
sérios e 2) eles são indivíduos imorais. A primeira acusação diz 
respeito ao empreendimento platônico que busca ridicularizar 
112
 Oratória e Retórica
as proposições ou as possíveis conclusões advindas da 
reflexão sofista, negando às doutrinas sofísticas valor filosófico. 
A energia gasta por Platão neste empreendimento, por si só, já 
é indício da influência exercida por estes pensadores. Grosso 
modo, os sofistas difundiam uma concepção relativista aplicada 
aos níveis ontológico e epistemológico, e à questão da verdade, 
e foram considerados rivais por Platão, que desenvolvia uma 
filosofia essencialmente ‘absolutista’. Embora Platão tenha 
tratado Protágoras e Górgias com respeito, diferenciando-
os dos homens medíocres ligados mais tardiamente ao 
movimento, ele transmite um entendimento fundamentalmente 
errôneo (ou conscientemente distorcido) do pensamento 
sofista (PREZOTTO, 2008, p. 245).
 
No âmbito da retórica e da oratória, a tentativa de negar a possibilidade 
de se buscar a verdade produziu inúmeras tentativas de reduzir tudo ao 
modelo relativista e produziu consequências morais devastadoras na 
construção e exposição de argumentos. Podemos observar bem esse 
problema na modernidade, no âmbito do direito e da religião. Devemos 
mencionar outra acusação grave aos sofistas, a de que restringiram o papel 
da educação, retirando dela a condição do ensino da Arete, virtude. 
A segunda acusação envolve as críticas direcionadas à 
atividade profissional dos sofistas, visando desmerecer o valor da 
educação que ofereciam. São caracterizados, no diálogo sofista, 
como caçadores de jovens ricos e comerciantes do ensino. Como 
Kerferd (2003, p. 47-49) elucidou, para entender esta crítica é 
necessário considerar a oposição conservadora a que qualquer um 
tenha acesso à formação política simplesmente pagando. Como dito 
anteriormente, até este momento a educação juvenil era restrita aos 
membros das famílias nobres e acontecia numa relação de amizade 
entre o jovem e seu mestre. Que a instrução estivesse acessível 
a todos que pudessem pagar por ela forçava a reconsideração de 
estruturas internas da sociedade. O ambiente da pólis democrática 
era propício a tais questionamentos, mas a polêmica foi grande e 
deu origem a um dos grandes debates da época: saber se aretē 
pode ou não ser ensinada. Tradicionalmente, aretē era palavra 
usada para referir-se à qualidade inata dos grandes homens, os 
que se destacaram historicamente pela coragem, força, valentia, 
sabedoria, liderança; mas também havia um outro uso desta palavra, 
que denotava a excelência em uma tarefa ou função específica, e 
relaciona-se ao domínio de uma técnica, téchnē, termo comumente 
traduzido por arte. No diálogo Protágoras, Platão apresenta Sócrates 
e Protágoras debatendo esta questão. Ao afirmar que ensina téchnē 
No âmbito da 
retórica e da oratória, 
a tentativa de negar 
a possibilidade de 
se buscar a verdade 
produziu inúmeras 
tentativas de reduzir 
tudo ao modelo 
relativista e produziu 
consequências 
morais devastadoras 
na construção 
e exposição de 
argumentos.
113
Implicações da Retórica Capítulo 4 
política (319a), Protágoras é confrontado com dois argumentos 
socráticos que pretendem demonstrar que ‘essa’ aretē não é um 
conhecimento que possa ser transmitido. Os argumentos socráticos 
são: 1) em questões técnicas os atenienses consultam especialistas, 
já em questões políticas, qualquer um pode opinar, ninguém se opõe 
a isto acreditando que é preciso ter estudado ou frequentado um 
professor (319b-d); 2) os melhores e mais sábios cidadãos não foram 
capazes de transmitir sua aretē a outros, cita Péricles (319e-320b). 
Protágoras expõe sua opinião através de um mito e conclui que todos 
os homens são dotados de qualidades que os tornam capazes de 
participar da téchnē política: justiça e respeito, díkē e aidōs – apenas 
por possuírem todos estas qualidades é que a vida em sociedade é 
possível (320d-323c).
Fonte: Prezotto (2008, p. 246).
No período final da Idade Média temos um desenvolvimento de características 
que podemos denominar de incorporadas aos estudos das áreas de filosofia e 
teologia. Em seguida, nos séculos XVII e XVIII, é esquecida. 
Na historiografia do século XVI, as narrativas marítimas de 
países desconhecidos, de fenômenos naturais, de paragens de 
outras latitudes e climas, manifestam, de par com a presença 
do maravilhoso, a importância que assume a experiência, a 
componente realista e empírica. São frequentes as marcas da 
enunciação ‘eu vi’, ‘eu ouvi’, que servem no discurso do narradorpara dar maior credibilidade aos factos, que apontam para uma 
história contemporânea, baseada nos pressupostos teóricos 
de Tucídides. Além disso, a verdade factual, nutrida por estas 
marcas de enunciação é a cada passo confrontada com os relatos 
míticos de um Heródoto, com a Cosmografia de um Ptolomeu, a 
Geografia de um Estrabão, ou a ciência de um Pompónio Mela ou 
de uma História Natural de Plínio. As crônicas de João de Barros, 
de Castanheda, de Diogo do Couto, ou de forma mais evidente 
o Roteiro de Lisboa a Goa e o Tratado de Esfera de D. João de 
Castro, as obras de Garcia de Orta, de Duarte Pacheco Pereira, 
de Pedro Nunes, dão-nos a cada passo exemplos significativos. 
Poderemos concluir que, na época do Renascimento, a história, 
além de se afirmar como gênero literário, que se impõe pela arte 
da escrita, como opus oratorium, é disciplina formativa do carácter 
em repositório de paradigmas, é manancial de exempla que 
informam a tradição retórica, é ponto de referência da exaltação 
épica das glórias nacionais, é suporte de novos modelos 
ideológicos e de formulação política em termos modernos, é 
fundamento de novos horizontes culturais e científicos (SOARES, 
2011, p. 146-147). 
 
114
 Oratória e Retórica
Se na Idade Média ocorreu uma valorização e desenvolvimento da retórica, 
no início da modernidade ela foi deixada de lado e até demonizada por diversos 
autores. 
Produziu-se uma total confusão de pensamento que em muitos casos deixou 
de lado até mesmo as convicções doutrinais tanto do direito quanto da religião. 
Com isso, temos inúmeros argumentos artificiais que simulam determinadas 
situações apenas para efeito performático. 
Atividade de Estudos: 
 1) Leia o texto e explique o que você entendeu sobre a arte das 
disputas, a erística e a importância da purificação da linguagem. 
Explique com suas palavras.
 Estrangeiro — Isso mesmo. Conforme já vimos, é do gênero 
lucrativo, da arte erística, da arte de disputas, das controvérsias, 
da arte do combate, da arte da luta e do ganho, segundo neste 
momento provou nossa argumentação, que o sofista provém.
 Teeteto — Nada mais verdadeiro.
 XIII — Estrangeiro — Como vês, é muito acertado dizer-se que se 
trata de um animal de múltiplas facetas. Daí, confirmar-se o dito, 
de que nem tudo se pode pegar só com uma das mãos.
 Teeteto — Pois empreguemos duas.
 Estrangeiro — Sim, é o que precisaremos fazer, empenhando 
nisso todos os nossos recursos, a fim de acompanhar-lhe o 
rastro. Dize-me o seguinte: não temos designações especiais 
para determinadas ocupações servis?
 Teeteto — Muitas, até; porém, no meio de tantas, a quais 
particularmente te referes?
 Estrangeiro — Penso nas seguintes: coar, peneirar, joeirar, 
debulhar.
 Teeteto — E daí?
115
Implicações da Retórica Capítulo 4 
 Estrangeiro — E também: cardar, fiar, urdir e mil outras de 
emprego corrente em ocupações congêneres, não é isso mesmo?
 Teeteto — Onde queres chegar com tais exemplos e para que 
tantas perguntas?
 Estrangeiro — De modo geral, todos esses vocábulos exprimem 
a ideia de separação.
 Teeteto — Certo.
 Estrangeiro — Ora, de acordo com o meu raciocínio, se uma arte, 
apenas, abrange todas essas ocupações, teremos de atribuir-lhe 
um único nome.
 Teeteto — E como a denominaremos?
 Estrangeiro — Arte de separar.
 Teeteto — Que seja.
 Estrangeiro — Considera agora se nos será possível distinguir 
duas espécies.
 Teeteto — Impõe-me uma tarefa muito rápida.
 Estrangeiro — Porém nas distinções por nós feitas, já se tratou 
da separação entre o pior e o melhor, e também entre semelhante 
e dessemelhante.
 Teeteto — Dita dessa maneira, parece-me bastante clara.
 Estrangeiro — Não conheço o nome geralmente aplicado a esta 
última separação; porém sei o que dão à outra, a que retém o 
melhor e rejeita o pior.
 Teeteto — Dize qual seja.
 Estrangeiro — No meu entender, todas as separações desse tipo 
são geralmente chamadas purificação.
 Teeteto — Com efeito; é como as denominam.
116
 Oratória e Retórica
 Estrangeiro — E todo o mundo não perceberá que há duas 
espécies de purificação?
 Teeteto — Depois de refletir, é possível; eu, pelo menos, não 
percebo purificação alguma ...
 Estrangeiro — Primeiro, as dos seres vivos, que operam no interior 
do corpo, graças a uma discriminação exata pela ginástica e a 
medicina, como a purificação externa, de designação corriqueira, 
alcançada pela arte do banho; depois, a dos corpos inanimados, 
que compreende a arte do pisoeiro e a dos adornos em geral, de 
infinitas modalidades, cujos nomes são considerados ridículos.
 Teeteto — É muito certo.
 Estrangeiro — Certo, não, Teeteto: certíssimo. Mas o método 
argumentativo não dá maior nem menor importância à purificação 
por meio da esponja do que à obtida com poções medicamentosas, 
jamais perguntando se os benefícios de uma são mais ou menos 
relevantes do que os da outra. Para alcançar o conhecimento é 
que ela se esforça por observar as afinidades ou dissemelhanças 
entre as artes, honrando a todas igualmente, e quando chega a 
compará-las, não conclui que uma seja mais ridícula do que a 
outra. Não considera, ainda, mais importante quem ilustra a arte 
da caça com o exemplo do estratego do que com o do matador 
de pulgas, porém mais pretensioso. Do mesmo modo, agora, no 
que entende com o nome para designar o conjunto das forças 
purificadoras dos corpos, quer sejam animados quer não sejam, 
não se preocupa no mínimo de saber que nome é de aparência 
mais distinta. Limitar-se-á a separar a purificação da alma, 
deixando num único feixe as outras purificações, sem indagar 
do objeto sobre que se exercem. Seu intento exclusivo consiste 
nisto, precisamente: separar das demais purificações a que tem 
por objetivo a alma, se é que compreendemos... (PLATÃO, 1980, 
p. 16-17).
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Implicações da Retórica Capítulo 4 
Verdade e Verossimilhança de Um 
Argumento
A verdade e a verossimilhança merecem destaque por que você, estudante 
de oratória e retórica, precisa entender quando um argumento é verossimilhante e 
quando ele é verdadeiro. 
Platão, ao discutir os gêneros e os tipos de virtudes desenvolvidas pelos 
sofistas, já levantou o problema que continua a nos desafiar diariamente. Deste 
modo, o problema da verdade de um discurso não fica somente na elaboração 
formal e acadêmica de um debate, mas envolve também a vida cotidiana dos 
sujeitos. Para entendermos a diferença entre aquilo que parece ser verdade e 
aquilo que é verdade de fato em um discurso. Vejamos a polêmica suscitada no 
diálogo Sofista e até hoje sem solução:
LII — Estrangeiro — Onde iremos, então, buscar a designação 
apropriada para cada um? Evidentemente, é tarefa por demais 
árdua, porque nisso de dividir os gêneros em espécies, parece 
que os antigos sofriam de uma velha e inexplicável indolência 
que nunca os levou pelo menos a tentá-la; dar essa carência 
tão acentuada de nomes. De um jeito ou de outro, e embora se 
no afigure um tanto forte a expressão, para melhor diferençá-la 
daremos o nome de doxomimética à imitação que se baseia na 
opinião, e a que se funda no conhecimento, mimética histórica 
ou erudita.
Teeteto — Isso mesmo.
Estrangeiro — Vamos ocupar-nos com a primeira; o sofista não 
se inclui no número dos que sabem, mas no dos que imitam.
Teeteto — Perfeitamente.
Estrangeiro — Examinemos, então, o imitador que se apoia 
na opinião, como o faríamos com um fragmento de ferro, para 
vermos se se trata de uma peça uniforme ou se nalgum ponto 
revela defeito de estrutura.
Teeteto — Sim, examinemo-lo.
Estrangeiro — Pois em verdade aqui está ele, e bem patente. 
Entre essestais, há o tipo ingênuo que acredita saber o que 
apenas imagina; o outro, pelo contrário, que se deixa arrastar 
por seus próprios argumentos, não esconde a suspeita e 
o receio de ignorar o que diante de terceiros ele procura 
aparentar que sabe.
Teeteto — Sem dúvida, há esses dois tipos que acabaste de 
descrever.
Estrangeiro — Ao primeiro, então, daremos o nome de imitador 
simples, e ao outro, o de imitador dissimulado?
Teeteto — Seria de toda a conveniência.
Estrangeiro — E este último gênero, diremos que é simples ou 
duplo?
Teeteto — Examina-o tu mesmo.
Estrangeiro — Examino e creio perceber dois gêneros. 
No primeiro, distingo o indivíduo capaz de dissimular em 
público com discursos prolixos; no outro, o que em círculos 
mais restritos, com sentenças curtas leva seu interlocutor a 
contradizer-se.
Teeteto — É muito certo o que dizes.
118
 Oratória e Retórica
Estrangeiro — E o homem dos discursos longos, como o 
designaremos? É estadista ou orador popular?
Teeteto — Orador popular.
Estrangeiro — E o outro, que denominação lhe cabe à justa: 
sábio ou sofista?
Teeteto — Sábio, não é possível, pois já provamos que ele é 
ignorante. Mas, por ser imitador do sábio, é fora de dúvida que 
alguma coisa do nome deste há de passar para ele. E agora 
me ocorre que de um tipo assim é que podemos dizer com toda 
a segurança: um sofista acabado! 
Estrangeiro — Nesse caso, fixemos aqui mesmo seu nome, 
como fizemos antes, entrelaçando-o de ponta a ponta em 
todos os seus elementos? 
Teeteto — Perfeitamente. 
Estrangeiro — Sendo assim, a espécie imitativa e suscitadora 
de contradições da parte dissimuladora da arte baseada na 
opinião, pertencente ao gênero imaginário que se prende à 
arte ilusória da produção de imagens, criação humana, não 
divina, desse malabarismo ilusório com palavras: quem afirmar 
que é de semelhante sangue e dessa estirpe que provém o 
verdadeiro sofista, só dirá, como parece, a pura verdade 
(PLATÃO, 1980, p. 69-71). 
 
Com efeito, ao deixar a questão em aberto no final do diálogo, Platão nos dá 
um apontamento para uma aproximação da identidade do sofista. No entanto, nos 
deixa um grande ensinamento, as opiniões são diferentes dos discursos sobre 
a verdade. Os discursos sobre a verdade são de natureza nobre e as opiniões 
sobre um assunto não são conhecimento. 
E essa diferença nem sempre é clara como parece ser. Com isso, em muitos 
momentos de nossa existência pensamos que algo é verdadeiro simplesmente por 
parecer, e na realidade estamos atribuindo verdade a algo verossimilhante, aquilo 
que parece ser verdadeiro, mas se olharmos mais de perto não é, só parece ser. 
Outro problema muito aparente na modernidade é a generalização de 
argumentos que produz efeitos catastróficos em muitos segmentos da existência 
humana. Por exemplo, escutamos por vezes vários argumentos deste tipo, “todo 
homem é machista”, “todo político é ladrão”, “os padres são imorais”; todos esses 
argumentos possuem falsas associações grotescas, atribuem a todo um grupo de 
pessoas o comportamento de uma minoria. Isso significa que sequer argumentos 
são, podemos chamá-los de enunciados vazios, mas que são muito populares em 
nosso cotidiano. 
Portanto, a verdade de um argumento não está somente em sua forma, 
ou somente em seu conteúdo, mas na combinação da disposição de ambas 
as características que, ao se combinarem, produzem uma estrutura sólida na 
exposição de um pensamento (MOSCA, 2004). 
Com efeito, cabe aos estudantes de oratória e retórica saberem construir um 
argumento coeso e fundamentado para expor um pensamento com qualidade. 
Não existe uma forma definitiva para se fazer um bom argumento. Antes disso há 
119
Implicações da Retórica Capítulo 4 
uma necessidade constante de conhecimento do meio em que se está inserido 
para poder convencer. 
Algumas Considerações
Agora você, estudante de oratória e retórica está pronto para seguir seu 
caminho, escolhendo seus argumentos de modo adequado a cada situação para 
expor suas ideias com clareza e objetividade. 
A construção e exposição de argumentos com qualidade implica em 
considerar as habilidades de cada um, o material disponível e a plateia para a qual 
o indivíduo irá se dirigir. Neste capítulo destacamos as implicações das escolhas 
argumentativas que fizemos. 
Referências
CHIBENI, S. S. Notas sobre tipos de argumentos. [s.d.]. Disponível em: <www.unicamp.
br/~chibeni/textosdidaticos/argumentos.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2017. 
MOSCA, L. do L. S. (Org.). Retóricas de ontem e de hoje. 3. ed. São Paulo: Associação 
Editorial Humanitas, 2004.
PLATÃO, Sofista. Brasília: UFB, 1980. 
PREZOTTO, J. Protágoras, Górgias, os Dissoi Logoi e a possibilidade do ensino de 
aretē. Anais XXIII SEC, Araraquara, p. 241-250, 2008. Disponível em: <http://portal.fclar.
unesp.br/ec/BANCO%20DE%20DADOS/XXIII%20SEC/TEXTOS/ARTIGOS%20PDF/
prezotto.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2017.
REBOUL, O. Introdução à retórica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
SCHECAIRA, F. Argumentação: noções básicas. 2012. Disponível em: <https://fabios
hecaira.wikispaces.com/file/view/Introdu%C3%A7%C3%A3o+%C3%A0+argumenta 
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SOARES, N. C. A retórica e a construção da cidade na Idade Média e no 
Renascimento: homo eloquens homo politicus. Coimbra: Coimbra University Press, 2011.
VIANA, P. Validade, Forma e Conteúdo de Argumentos. 2012. Disponível em: <http://
www.uff.br/grupodelogica/textos/Via.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2017. 
VIEIRA, José Guilherme Silva. A retórica como a arte da persuasão pelo discurso. 2016.

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