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LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Ana Paola Nunes Ferreira Lucato Editora 1ª Edição | Junho | 2014 Impressão em wwSão Paulo / SP Ana Paola Nunes Ferreira Lucato Le gi sl aç ão A m bi en ta l LEGISLAÇÃO AMBIENTAL A n a Pa o la N u n es F er re ir a Lu ca to Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Ana Paola Nunes Ferreira Lucato Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 Copyright © EaD KnowHow 2011 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Marilia Lopes Revisão Ortográfica Elisete Teixeira 1a Edição: Junho de 2014 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL Uma janela para o mundo. Deve ser uma experiência fascinante olhar o planeta Terra a bordo de uma distante nave espa- cial, encantar-se com sua beleza feita de um azul- -celeste, que se pode empregar tal adjetivo – e, ao mesmo tempo, surpreender-se com a insignificância de seu tamanho ao lado dos demais astros na imen- sidão do Sistema Solar. Das alturas, talvez a Terra se assemelhe a um grão de areia. Em terra firme, entretanto, os senti- dos humanos confirmam sua grandeza sem tama- nho avaliada pelos frequentes e rotineiros sinais de enfado e aborrecimento quando se trata de percorrer as distâncias no momento em que é preciso locomo- ver-se de um lugar para o outro, seja, a pé, por avião ou por qualquer meio qualquer. Mas esse insignificante grão de areia é, talvez, o único lugar onde exista vida, muita vida. Arlindo Philippi Jr. Gilda Collet Bruna (Política e Gestão Ambiental – 2012) * Advogada, Mestre em Direitos Difusos e Coletivos pela Universi- dade Metropolitana de Santos – Unimes – Especialista em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo, professora universitária, autora de obras de direito ambiental brasileiro e direitos humanos. Introdução Iniciamos nossa trajetória pelos estudos do direito ambiental e das políticas e legislações am- bientais no Brasil, citando o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, que nos lembra o porquê de estudarmos o meio ambiente sob a ótica de um direito inserido dentro de uma ordem capitalista e do entendimento de que o direito ambiental é an- tropocêntrico, ou seja, o meio ambiente deve servir, de forma sustentável, às necessidades prementes do ser humano. O homem baseia sua vida em forma de organização social na economia. Não há possibilidade de sobre- vivência do homem sem que sai atividade seja eco- nomicamente orientada. O fato dos recursos neces- sários à sobrevivência humana serem finitos implica uma necessária economia. Houvesse abundância de recursos no mundo, o homem não necessitaria de economia. Essa acaba por ser requisito para a pró- pria manutenção da espécie, à medida que confere uma orientação da atividade humana ante a escassez. (Direito Ambiental Aplicado, pág. 617, Antonio Fer- nando Pinheiro Pedro e Flávia Frangetto, Curso de Gestão Ambiental). A expressão meio ambiente não é utilizada por muitos estudiosos, pois é composta por duas palavras que são sinônimos. Por isso, essa expressão é consi- derada um pleonasmo (figura de linguagem caracteri- zada pela redundância, como a expressão “subir para cima”). A forma correta é utilizar apenas ambiente ou meio. Mesmo incorreta gramaticalmente, essa termi- nologia é muito difundida e considerada clássica, sen- do utilizada por muitos. (Dicionário ilustrado de Meio Ambiente, pág. 410, Ed. Yendis, 2011). De acordo com a resolução CONAMA 306:2002: “Meio Ambiente é o conjunto de condições, leis, in- fluência e interações de ordem física, química, bioló- gica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Encontra-se na ISO 14001:2004 a seguinte de- finição sobre meio ambiente: “circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora fauna, seres humanos e suas inter-relações.” Uma organização é responsável pelo meio am- biente que a cerca, devendo, portanto, respeitá-lo, agir como não poluente e cumprir as legislações e normas pertinentes (ISO 14001). Diante de tantas incertezas, de tanta inseguran- ça, de vivermos um período de instabilidades eco- nômicas, sociais e morais, este estudo visa trazer à reflexão pontos importantes da gestão ambiental como parte de um processo socioeducativo para preservação do meio ambiente para, e principalmen- te, as futuras gerações. Bons estudos! SUMÁRIO Unidade I - Definição de Meio ambiente. 1.2 Das políticas públicas e da legislação para o meio ambiente. 1.3 Dos Princípios que regem o Direito Am- biental Brasileiro. 1.3.1 Princípio da dignidade da pessoa humana 1.3.2 Princípio da Prevenção 1.3.3 Princípio da Precaução 1.3.4 Princípio do Poluidor - Pagador e a res- ponsabilidade ambiental 1.3.5 Princípio da participação 1.3.6 Princípio da Ubiquidade 1.3.7 Princípio da Garantia do Desenvolvimen- to Econômico e Social Ecologicamente Susten- tado e regem o direito ambiental brasileiro. Unidade II – Impacto Ambiental e a obrigação do licenciamento prévio da atividade potencialmente poluidora. Unidade III – O Código Florestal e a proteção do meio ambiente natural. Unidade IV – Educação Ambiental e a preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações. 13 115 143 157 11 UNIDADE I DEFINIÇÃO DE MEIO AMBIENTE Estudando a história da humanidade nos depa- ramos com a constatação óbvia que o homem sem- pre utilizou os recursos naturais do planeta e gerou resíduos com baixíssimo nível de preocupação. Ao longo da trajetória do homem na Terra veri- fica-se que foi, somente, a partir da década de 60 que começou a mudar a percepção do homem quanto aos recursos naturais e seus esgotamentos. Alguns recursos passaram a ser mais valo- rizados com o aumento da população e do con- sumo, visualizando-se o seu esgotamento futuro (petróleo, madeira, água, etc.), e a ocorrência de alguns grandes acidentes alertou a humanidade para a magnitude das agressões à natureza e suas repercussões sobre a vida. (Qualidade Ambiental, Luiz Antonio Abdalla de Moura, Ed. Juarez de Oliveira, pág. 1). Destaca-se na década de 60 a publicação de uma obra que acabou por influenciar o governo america- no de tal sorte que a agência de proteção ambiental dos Estados Unidos fora criada e o uso do DDT proibido. A obra, escrita por Rachel Carson, intitula- da “Silent Spring” (Primavera Silenciosa) relata uma primavera sem o canto dos pássaros, exterminados pelo uso do DDT. 12 Também nessa década a Inglaterra iniciou um processo de descontaminação do rio Tâmisa, além das ações marcantes de controle da poluição do ar de Londres, motivados principalmente pelas mortes causadas na década de 50 pelo smog. No início dos anos 70 ocorreu uma contamina- ção ambiental com sérias repercussões, a qual será relatada em capítulo próprio deste estudo, na Baía de Minamata, no Japão. Despejos de indústrias químicas contendo materiais pesados, em especial o mercúrio, foram absorvidos por ostras e pequenos peixes, que acabaram por contaminar peixes maiores, pescados por seres humanos. O mal de Minamata provocou tonteiras, paralisias, cegueiras, deformações físicas e mortes de familiares de pescadores – total de 50 mortes e cerca de 2000 pessoas oficialmente reco- nhecidas como vítimas de envenenamento. Em 1972, ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Estocolmo, com a participação de 113 países. Nessa conferência evi- denciou-se uma diferença entre ricos e pobres na visão do problema ambiental; os ricos achando que deveriam ser realizados controles internacionais rí- gidos para reduzir a poluição que atingia níveis alar- mantes e os pobres que não aceitando esse controle por interpretá-lo como um freio ao seu desenvol- vimento. (Qualidade Ambiental, Luiz Antonio Ab- dalla de Moura, Ed. Juarez de Oliveira,pág. 3). 13 Foi também nessa década que surgiu o termo “desenvolvimento sustentável” que, como veremos, admite a utilização racional e consciente dos recur- sos naturais, a fim de proporcionar sadia qualidade de vida aos seres humanos, sem esquecer a preserva- ção do meio para as futuras gerações. A década de 80, por sua vez, foi marcada como sendo aquela em que surgiram, em grande parte dos países, leis regulamentadoras da ativida- de industrial potencialmente poluidora. Isso ge- rou a estruturação de um sistema que formaliza a realização dos primeiros Estudos de Impacto ambiental (EIA), com a realização de audiências públicas, licenciamentos, etc. Foi a década de 90, por sua vez, a grande diviso- ra de águas no que tange à conscientização ambien- tal mundial. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no Rio de Janeiro, também conhecida como Cúpula da Terra, Rio 92, ou Eco 92. Essa conferência, que em sua parte oficial teve a participação de 170 países, mos- tro que estava ocorrendo uma mudança generalizada de maior preocupação com o meio ambiente, asso- ciada à aceitação da necessidade de desenvolvimen- to, posição defendida principalmente pelos países do terceiro mundo. Os principais documentos produzidos nesse encontro mundial foram a Agenda 21 e a Declaração 14 do Rio sobre Meio Ambiente, Desenvolvimento e a Convenção sobre o Clima e Biodiversidade. A Agenda 21 é um documento que estabe- lece um programa de ação para implementar as decisões da conferência, sobretudo, com ações de governos. É uma espécie de política pública, uma diretriz mundial que propõe o uso mais racional de matérias primas e de energia para a produção de bens e serviços, a realização de pesquisas sobre novas formas de energia, além de motivar a visão de desenvolvimento sustentável para prevenir as necessidades das gerações do Século 21. Também recomenda a constituição de comis- sões de “desenvolvimento sustentável” para gover- nos dos entes federados – União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente, por sua vez, apresenta uma série de 27 princípios que norteiam as ações de governos para procedimentos recomendáveis na preservação do meio ambiente. Cite-se aqui, como bom exemplo, o princípio de número 14: Os Estados deverão efetivamente cooperar para de- sencorajar ou impedir a relocação ou transferência para outros Estados de quaisquer atividades e subs- tâncias que causem severa degradação ambiental, ou seja, definidas como prejudiciais à saúde humana. 15 Temas como aquecimento global, crescimen- to populacional, esgotamento dos recursos naturais e da capacidade da biosfera em absorver resíduos e poluentes e desigualdades entre ricos e pobres, são recorrentes quando tratamos da questão ambiental mundial. Mas, como podemos definir meio ambiente? Antes de tratarmos de temas tão específicos como a Política Nacional de Meio Ambiente, im- pacto ambiental, poluição, licenciamento, resíduos e políticas urbanas de proteção ao meio ambiente, é importante estudarmos algumas das definições en- contradas na doutrina e na própria legislação pátria. Celso Antonio Pacheco Fiorillo diz, em seu Cur- so de Direito Ambiental Brasileiro, Ed. Saraiva, pág. 17, que ambiente “é tudo aquilo que nos circunda”. A expressão meio ambiente (milieu ambiance) foi utilizada pela primeira vez pelo naturalista fran- cês Geoffrey de Saint-Hilaire em sua obra Études progressives d´um naturaliste, em 1835, onde milieu significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo, e ambiance designa o que rodeia esse ser. Vladimir Passos de Freitas, em sua obra “Di- reito Administrativo e Meio Ambiente”, p. 17, Ed. Juruá, 2001, trata da questão da redundância do termo “meio ambiente”: “A expressão meio ambiente, adotada no Brasil, é criticada pelos estudiosos porque meio e ambiente, no sentido enfocado, significam a mesma coisa. Logo, 16 tal emprego importaria em redundância. Na Itália e em Portugal, usa-se, apenas, a palavra ambiente.” O novo Dicionário da Língua Portuguesa Auré- lio Buarque de Holanda define meio ambiente como lugar onde se vive, com suas características e condicio- namentos geofísicos; ambiente; esfera social ou pro- fissional onde se vive ou trabalha, e ambiente como o conjunto de condições naturais e de influências que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos. Se, de um lado, temos os defensores da sino- nímia entre os termos meio e ambiente, por ou- tro lado, temos aqueles que o defendem o termo “meio ambiente”. Édis Milaré, em sua consagrada obra Direito do Ambiente, Ed. Forense, 2010, pág. 65, ensina que tanto “a palavra meio quanto o vocábulo ambiente passam por conotações, quer na linguagem científi- ca, quer na vulgar. Nenhum destes termos é unívoco (detentor de um significado único), mas ambos são equívocos (mesma palavra com significados diferen- tes). Meio pode significar: aritmeticamente, a metade de um inteiro; um dado contexto físico ou social; um recurso ou insumo para se alcançar ou produzir algo. Já ambiente pode representar um espaço geográfico ou social, físico ou psicológico, natural ou artificial. Não chega, pois, a ser redundante a expressão meio ambiente, embora no sentido vulgar a palavra iden- tifique lugar, o sítio, o recinto, o espaço que envolve 17 os seres vivos e as coisas. De qualquer forma, trata- -se de expressão consagrada na língua portuguesa, pacificamente usada pela doutrina, lei e jurisprudên- cia de nosso país, que amiúde, falam em meio am- biente, em vez de ambiente apenas. O legislador infraconstitucional brasileiro tra- tou por definir meio ambiente, conforme dispõe o artigo 3º, I da Lei 6938/81 (lei esta chamada de Po- lítica Nacional de Meio Ambiente): “é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abrigada e rege a vida em todas as suas formas.” Paulo Affonso Leme Machado, in Direito Ambiental Brasileiro, Ed. Malheiros, Ed. 2010, pág. 76, explica que a referida lei definiu o meio ambiente da forma mais ampla possível, fazendo com que este se estendesse à natureza como um todo de um modo interativo e integrativo. Com isso, a lei finalmente encampou a ideia de ecossis- tema, que é a unidade básica da ecologia, ciência que estuda a relação entre os seres vivos e o seu ambiente, de maneira que cada recurso ambiental passou a ser considerado como parte de um todo indivisível, com o qual interage constantemente e do qual é diretamente dependente. Como nos lembra Celso Fiorillo (ob. cit. pág. 20), “cumpre frisar que é unitário o conceito de meio ambiente, porquanto todo este é regido por inúme- 18 ros princípios, diretrizes e objetivos que compõem a Política Nacional de Meio Ambiente. Isso significa que, apesar de, aparentemente, o conceito legal de meio ambiente, tratar tão somen- te do meio ambiente natural, o meio ambiente está classificado, dividido, para fins didáticos, em virtude da atividade e do bem protegido. Vejamos: • Meio ambiente natural; • Meio ambiente artificial; • Meio ambiente do trabalho; • Patrimônio genético; • Meio ambiente cultural A primeira subclassificação é aquela que trata do meio ambiente natural ou físico, que é composto pelos recursos naturais: água, solo, ar atmosférico, fauna e flora. O artigo 225 da Constituição Federal trata do meio ambiente natural, sendo que sua tutela imedia- ta, no parágrafo I, incisos I e VII do referido artigo: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 19 § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, in- cumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejoecológico das espécies e ecossistemas (...) III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem espe- cialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atri- butos que justifiquem sua proteção. VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou sub- metam os animais a crueldade. O meio ambiente artificial, por sua vez, corres- ponde aos espaços urbanos, incluindo as edificações, como um condomínio residencial e os equipamen- tos públicos urbanos abertos, como uma via pública, uma praça, dentre outros. A base dos estudos do meio ambiente artificial é a cidade, na medida em que no conceito de cida- de está implícita a ideia relativa a espaços habitáveis, como um todo. Além do artigo 225, considerado o mais impor- tante orientador constitucional ambiental, existem 20 também outros importantes dispositivos discipli- nando o tema, como é o caso do Artigo 182, inseri- do no capítulo que trata da política urbana nacional. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo or- denar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Mu- nicipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º - A propriedade urbana cumpre sua função so- cial quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, me- diante lei específica para área incluída no plano dire- tor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamen- to, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos 21 da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegura- dos o valor real da indenização e os juros legais. É importante lembrarmos que o artigo 21, XX, o qual seja objeto de estudo mais aprofundado em capítulo próprio, determina a competência material da União nas diretrizes para o desenvolvimento ur- bano, promovendo a habitação, o saneamento bási- co e o transporte urbano. Art. 21. Compete à União: (...) XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbano. O próprio o artigo 5º, que trata dos direitos e garantias individuais e coletivos, expressa em seu inciso XXIII que toda a propriedade deverá atender à sua função social: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu- rança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; 22 Dentre as leis infraconstitucionais, destacam- -se, em ordem cronológica, a Lei de Parcelamento do Solo Urbano. A Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei n.º 6.766/79), que tem por finalidade disciplinar a ocupação das áreas urbanas, a fim de dar cum- primento às funções sociais da cidade, apresen- tando as diretrizes para as políticas públicas de adequada utilização dos espaços de moradia, la- zer e áreas verdes. Os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, que dispõem sobre a Política Urbana, foram regu- lamentados pela Lei n.º 10.257/01, mais conhecido como o Estatuto da Cidade. O Estatuto das Cidades estabelece diretrizes gerais da política urbana e normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da proprieda- de urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (artigo 1º, parágrafo único). O meio ambiente do trabalho é o local onde ho- mens e mulheres desenvolvem suas atividades laborais. Caracteriza-se pelo complexo de bens imóveis e móveis de uma empresa ou sociedade, objetos subjetivos privados e invioláveis da saúde e da in- tegridade física dos trabalhadores que a frequentam (Franco Giampietro, La responsabilitá per danno all´ambiente, Milano, Giuffrè, 1988, p. 113). 23 Para que o local de labor seja considerado ade- quado para o trabalho, deverá apresentar, além de condições salubres, ausência de agentes que colo- quem em risco o corpo físico e a saúde mental dos trabalhadores. A tutela mediata do meio ambiente do trabalho se encontra no Artigo 225 da Constituição Federal. Já o artigo 200, VIII da Magna Carta, tutela imedia- tamente o meio ambiente do trabalho, ao dispor que compete ao Sistema único de Saúde- SUS, “colabo- rar na proteção do meio ambiente, nele compreendi- do o do trabalho”. Celso Fiorillo, (ob cit. Pág. 23), nos alerta, no entanto, que a proteção conferida pelo meio am- biente do trabalho é diversa da oferecida pelo direito do trabalho. Ao se falar em meio ambiente do traba- lho está se referindo à manutenção da saúde e da se- gurança do trabalhador no local onde trabalha. Já o direito do trabalho protege o trabalhador no sentido de ser um conjunto de normas disciplinadoras entre empregador e empregado. O patrimônio genético está relacionado com a engenharia genética que manipula as moléculas de ADN/ARN recombinante originando a produção de transgênicos (OGM), a fertilização “in vitro”, as células-tronco, etc. Está tutelado imediatamente pelo Artigo 225, V: 24 V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; O patrimônio genético, por sua vez, tem asse- gurada sua proteção infraconstitucional em face do que dispõe a lei 11105/2005, que tutela juridicamente a proteção aos mais importantes materiais genéticos. A que se destacar também a lei 9985/2000 e a Medi- da Provisória n.º 2186-16/2001, que dispõe sobre di- reitos e obrigações relativos ao patrimônio genético existente no Brasil. Assim, tarefa fácil é concluir que o meio ambiente é constitucionalmente classifica- do sob cinco prismas diferenciados, como também pode-se concluir que as disposições ambientais estão presentes em toda a Lei Maior, sendo certo que o Artigo 225, seus parágrafos e incisos constituem o grande paradigma ambiental brasileiro. A Medida Provisória n.º 2186-16/2001 regula- menta o inciso II do § 1o e o § 4o do art. 225 da Constituição, os artigos 1o, 8o, alínea “j”, 10, alínea “c”, 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diver- sidade Biológica, dispõe sobre o acesso ao patrimô- nio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento 25 tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e transferência de tecnologia para sua conservação e utilização. Por fim, classificam previamente o meio am- biente cultural como sendo o patrimônio cultural nacional, incluindo as relações culturais, turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais. Este patrimônio está devidamente protegido constitucionalmente, através dos dispositivos elen- cados nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal: Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercí- cio dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestaçõesculturais. § 1º - O Estado protegerá as manifestações das cul- turas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas come- morativas de alta significação para os diferentes seg- mentos étnicos nacionais. § 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; II produção, promoção e difusão de bens culturais; 26 III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; IV democratização do acesso aos bens de cultura; V valorização da diversidade étnica e regional. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados indivi- dualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos for- madores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológi- co, ecológico e científico. § 1º - O Poder Público, com a colaboração da comu- nidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultu- ral brasileiro, por meio de inventários, registros, vi- gilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. 27 § 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos. § 6 º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributá- ria líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recur- sos no pagamento de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; A Constituição Federal atribuiu como concei- to de patrimônio cultural nacional todos os bens de natureza material e imaterial, tomados individual- mente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, incluindo as for- mas de expressão, os modos de criar, fazer e viver, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, as obras, objetos e documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticas, cultu- rais, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 28 O Brasil é signatário da Convenção para a Pro- teção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, re- alizada em 1972, em Paris. A declaração de um bem como sendo patrimô- nio cultural mundial não atenta contra a soberania nacional, posto que é o país quem tem competên- cia privativa para inscrever o bem na Lista do Pa- trimônio Cultural e Natural Mundial, obedecidos os critérios exigidos pela Convenção de Paris e demais diplomas internacionais concernentes à questão. Para Luís Paulo Sirvinkas, em seu Manual de Direito Ambiental, inserir: um bem como patrimônio mundial tem como obje- tivo chamar a atenção para a sua conservação, pre- servação e restauração. Tal fato é relevante para a promoção do turismo internacional, possibilitando ainda, o recebimento de verba internacional para restauração do patri- mônio da humanidade. Como podem observar, a classificação didática do meio ambiente é importante para a compreensão de todas as suas facetas, conceitos, leis e aplicações. 1.2. Das Políticas Públicas e da Legislação para o Meio Ambiente 29 A Lei n.º 6.938/81 dispõe sobre a Política Na- cional do Meio Ambiente e institui o Sistema Nacio- nal do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formação e aplicação. Conforme se observa de seu texto, que antece- de a própria Constituição Federal, percebemos que as diretrizes por ela traçadas, visam estabelecer toda a sistemática das políticas públicas brasileiras para o meio ambiente. Segundo Luís Paulo Sirvinskas, Manual de Di- reito Ambiental. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, a lei em questão definiu conceitos básicos, como o de meio ambiente, de degradação e de poluição e deter- minou os objetivos, diretrizes e instrumentos, além de ter adotado a teoria da responsabilidade. Vejamos: Em seu artigo 1º. a referida norma estabelece seus objetivos, já que se trata de uma política na- cional, uma diretriz, um caminho, que acabará por influenciar as normas infraconstitucionais, a própria Constituição Federal de 1988 e as normas locais de Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Aliás, aqui abrimos um parêntese para escla- recer que, sendo o meio ambiente ecologicamente equilibrado, um bem difuso, não pertencente a um único ser humano, mas disponível para todos, é da competência de todos os entes federados (União, 30 Estados, Distrito Federal e Municípios) legislar con- correntemente sobre meio ambiente. E mais. É da responsabilidade dos referidos entes federados e de toda a sociedade a salvaguarda dos bens ambientais, a fim de preservá-los e conservá-los para as presen- tes e futuras gerações. Isso significa que a União editará normas de ca- ráter geral sobre meio ambiente, assim como o fez quando da publicação da Política Nacional de Meio Ambiente, e cada Estado e cada Município adequa- rá tais normas gerais à sua realidade local, poden- do editar normas específicas e até mais rígidas a fim de respeitar os ditames da Constituição Federal, das Constituições Federais, das normas federais e espe- cificidades dos bens a serem protegidos. De acordo com Ricardo Carneiro in Direito ambiental: uma abordagem econômica. Rio de Ja- neiro: Forense, 2003, p. 98, a política ambiental é a organização da gestão estatal no que diz respeito ao controle dos recursos ambientais e à determinação de instrumentos econômicos capazes de incentivar as ações produtivas ambientalmente corretas. A Política Nacional do Meio Ambiente pode ser definida como um conjunto de metas e meca- nismos que visam reduzir os impactos negativos da ação humana sobre o meio ambiente. Como toda política, possui justificativa para sua existência, fundamentação teórica, metas e instru- 31 mentos, e prevê penalidades para aqueles que não cumprem as normas estabelecidas. Interfere nas ativi- dades dos agentes econômicos e, portanto, a maneira pela qual é estabelecida influencia as demais políticas públicas, inclusive as políticas industriais e de comér- cio exterior. (LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, CANÉPA, Eugênio Miguel e YOUNG, Carlos Edu- ardo Frickmann, Política Ambiental. MAY, Peter H., LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira e VINHA, Valé- ria da (orgs). Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003, p. 135.) Tratando-se de uma diretriz, uma política na- cional de proteção a um bem difuso, a lei 6938/81, tem como princípios norteadores: I - ação governamental na manutenção do equilí- brio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente asse- gurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recur- sos ambientais; IV - proteção dosecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias 32 orientadas para o uso racional e a proteção dos re- cursos ambientais; VII - acompanhamento do estado da qualidade am- biental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Esses princípios preconizados na Política Na- cional de Meio Ambiente em 1981 foram totalmente recepcionados pela Constituição Federal de 1988. Vejamos. Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecolo- gicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, in- cumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos es- senciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patri- 33 mônio genético do País e fiscalizar as entidades dedi- cadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, es- paços territoriais e seus componentes a serem espe- cialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atribu- tos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significa- tiva degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou sub- metam os animais a crueldade. § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas 34 ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrati- vas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlân- tica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utili- zação far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, in- clusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou ar- recadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º - As usinas que operem com reator nuclear de- verão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. Observem os grifos por nós apontados. Eles servirão de norte para nossos estudos no próximo capítulo e denotam a preocupação da legislação or- dinária na absorção de todos os princípios da Po- lítica Nacional de Meio Ambiente que antecedeu a Constituição Federal de 1988. As leis federais mais importantes de proteção ao meio ambiente, comentadas por Rodrigo Moraes, Mariangela Garcia e Fabio Delmanto, afirmam que a Política Nacional do Meio Ambiente tem como ob- 35 jetivo tornar efetivo o direito de todos ao meio am- biente ecologicamente equilibrado, princípio matriz contido no caput do art. 225 da Constituição Fede- ral. E por meio ambiente ecologicamente equilibra- do se entende a qualidade ambiental propícia à vida das presentes e das futuras gerações. Dentro de uma ordem econômica capitalista como a que vivemos, não podemos distanciar os princípios e objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente do crescimento econômico sustentável. O objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente é viabilizar a compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com a utilização racional dos recur- sos ambientais, fazendo com que a exploração do meio ambiente ocorra em condições propícias à vida e à qualidade de vida. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo geral a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando asse- gurar, no país, condições ao desenvolvimento socio- econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Sendo assim, destacamos os objetivos princi- pais da Política Nacional do Meio Ambiente: Preservação - é procurar manter o estado na- tural dos recursos naturais impedindo a intervenção dos seres humanos. Significa perenizar, perpétua, 36 deixar intocados os recursos ambientais. Melhoramento - é fazer com que a qualidade ambiental se torne progressivamente melhor por meio da intervenção humana, realizando o manejo adequado das espécies animais e vegetais e dos ou- tros recursos ambientais. É a atribuição ao meio am- biente de condições melhores do que ele apresenta. Recuperar - é buscar o status quo ante de uma área degradada por meio da intervenção hu- mana, a fim de fazer com que ela volte a ter as ca- racterísticas ambientais de antes. A recuperação é o objetivo mais difícil, em alguns casos até impos- sível, de ser alcançado, tendo em vista as caracte- rísticas próprias do dano ambiental, sendo mais importante do que a punição de um degradador a imposição da recuperação do que foi degradado quando isso for possível. Há também, inseridos na lei, objetivos mais es- pecíficos, elencados no art. 4º da norma. Vejamos. Art. 4º – A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I – à compatibilização do desenvolvimento econô- mico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; 37 II – à definição de áreas prioritárias de ação go- vernamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III – ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnoló- gicas nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V – à difusão de tecnologias de manejo do meio am- biente, à divulgação de dados e informações ambien- tais e à formação de uma consciência publica sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI – à preservação e restauração dos recursos am- bientais com vistas à utilização racional e disponi- bilidade permanente, concorrendo para a manuten- ção do equilíbrio ecológico propicio à vida; VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos cau- sados, e ao usuário da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Podemos observar que a Política Nacional de Meio Ambiente visa à proteção da vida em todas as 38 suas formas, e não é só o homem que possui vida, então todos que a possuem são tutelados e protegidos pelo direito ambiental, inclusive os bens imateriais. Porém, não devemos esquecer que o direito ambiental é antropocêntrico, ou seja, visa à proteção do ser humano, e tutela dos bens ambientais para a preservação da espécie humana. Isso fica claro quando lemos o Princípio n.º 1 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Am-biente e Desenvolvimento, de 1992: “Os seres humanos estão no centro das pre- ocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza”. Para instrumentalizar os preceitos que com- põem o conceito de meio ambiente e das suas dire- trizes, a Política Nacional do Meio Ambiente dispõe de instrumentos por ela mesma criados, que se con- substanciam em mecanismos utilizados pela Admi- nistração Pública com o intuito de atingir os objeti- vos da Política Nacional do Meio Ambiente. De acordo com Paulo de Bessa Antunes (ob. cit.), os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente encontram fundamento constitucional no art. 225 da Constituição Federal, especialmente no § 1º e seus incisos. Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente estão elencados pela Lei n.º 6.938/81: 39 Art. 9º – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II – o zoneamento ambiental; III – a avaliação de impactos ambientais; IV – o licenciamento e a revisão de atividades efeti- va ou potencialmente poluidoras; V – os incentivos à produção e instalação de equipa- mentos e a criação ou absorção de tecnologia, volta- dos para a melhoria da qualidade ambiental; VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e mu- nicipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental; IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento das medidas necessárias à preser- vação ou correção da degradação ambiental. X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Institu- to Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; XI – a garantia da prestação de informações relati- vas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Públi- co a produzi-las, quando inexistentes; 40 XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades po- tencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos re- cursos ambientais. Observe-se que o primeiro instrumento trazido pela lei é o estabelecimento de padrões de qualidade que nada mais são que as normas estabelecidas pela legislação ambiental federal, estadual ou municipal que se referem aos níveis permitidos de poluição do ar, da água, do solo e dos ruídos. Paulo Affonso Leme Machado (ob. cit.) destaca que os padrões de qualidade ambiental fornecem os va- lores máximos de lançamento de poluentes permitidos. Conforme nos ensina Celso Fiorillo (ob. cit.), o zoneamento constitui uma medida oriunda do poder de polícia, tendo por fundamento a repartição do solo municipal em zonas e a designação de seu uso. Para tanto, o objeto a ser buscado é sempre o inte- resse da coletividade, com o propósito de propor- cionar melhoria da qualidade de vida e, desse modo, garantir a realização do preceito encartado pelo arti- go 225 da Constituição Federal. O estabelecimento de zoneamento urbanístico ou ambiental é comumente feito por meio do Plano Diretor e se define pela delimitação de áreas em que um determinado espaço territorial; é dividido em zo- nas de características comuns e com base nesta divi- 41 são são estabelecidas as áreas previstas nos projetos de expansão econômica ou urbana. A Lei Federal n.º 6803/80 em decorrência do declínio da qualidade de vida nos grandes centros urbanos, acabou por trazer uma nova reestruturação do zoneamento urbano no Brasil, dividindo o solo e criando três espécies básicas de zonas. A primeira delas vem preconizada no artigo 2º da referida lei federal, e são chamadas de zonas de uso estritamente industrial; destinam-se preferencial- mente, à localização de estabelecimentos industriais cujos resíduos sólidos, líquidos e gasosos, ruídos, vi- brações, emanações e radiações possam causar peri- go à saúde, ao bem-estar e à segurança da população, mesmo depois da aplicação de métodos adequados de controle e tratamento de efluentes. É importante destacarmos a vedação, nas zonas de uso estritamente industrial, de quaisquer atividades não essenciais às suas funções básicas, ou capazes de sofrer efeitos danosos em decorrência dessas funções. O artigo 3º do referido diploma legal discipli- na as zonas de uso predominantemente industrial as quais se destinam, preferencialmente, à instalação de indústrias cujos processos, submetidos a métodos adequados de controle e tratamento de efluentes, não causem incômodos sensíveis às demais ativida- des urbanas e nem perturbem o repouso noturno das populações. 42 Estas zonas deverão: I - localizar-se em áreas cujas condições favoreçam a instalação adequada de infra-estrutura de serviços básicos necessária a seu funcionamento e segurança; II - dispor, em seu interior, de áreas de proteção am- biental que minimizem os efeitos da poluição, em relação a outros usos. Por fim, a lei 6803/80 trata das zonas de uso diversificado. Estas destinam-se à localização de es- tabelecimentos industriais, cujo processo produtivo seja complementar das atividades do meio urbano ou rural que se situem, e, com elas, se compatibili- zem, independentemente do uso de métodos espe- ciais de controle da poluição, não ocasionando, em qualquer caso, inconvenientes à saúde, ao bem-estar e à segurança das populações vizinhas. A lei também trata de um tema que vem dis- ciplinado em outros dispositivos legais: as áreas de reserva ambiental. Ressalvada a competência da União, os Estados ouvidos os Municípios interessa- dos, aprovarão padrões de uso e ocupação do solo, bem como de zonas de reserva ambiental, nas quais, por suas características culturais, ecológicas, paisa- gísticas, ou pela necessidade de preservação de ma- 43 nanciais e proteção de áreas especiais, ficará vedada a localização de estabelecimentos industriais. Este tema será novamente abordado quando tratarmos das Unidades de Conservação no Brasil e demais áreas protegidas, na unidade III deste projeto. Voltando à análise dos instrumentos da Políti- ca Nacional de Meio Ambiente, encontramos a ava- liação de impacto ambiental, que é um instrumento de defesa do meio ambiente, constituído por um conjunto de procedimentos técnicos e administra- tivos que visam à realização da análise sistemática dos impactos ambientais da instalação ou operação de uma atividade e suas diversas alternativas, com a finalidade de embasar as decisões quanto ao seu licenciamento. Antônio Inagê de Assis Oliveira, (in: Introdu- ção à legislação ambiental brasileira e licenciamen- to ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005), destaca que é por meio da avaliação de impactos ambientais que os impactos ambientais de uma de- terminada atividade são levantados, de maneira a se apontar a viabilidade ambiental da atividade ou não, visando aumentar os impactos positivos e a diminuir os impactos negativos. A Política Nacional de Meio Ambiente e a Constituição Federal de 1988 exigem a realização de estudos de impacto ambiental e o licenciamento de atividades potencialmente poluidoras, requerendo- 44 -se essa licença ao órgão ambiental federal (IBA- MA), estadual (Secretaria de Meio Ambiente) ou municipal, conforme o caso. Uma série grande de empreendimentos requer essa licença para que pos- sam ser construídas e operadas. A Resolução CONAMA 1, de 1986, em seu ar- tigo 4º., estabelece que: Os órgãos ambientais competentes e os órgãos seto- riais do SISNAMA deverão compatibilizar os proces- sos de licenciamento com as etapas de planejamento e implantação das atividades modificadoras do meio Ambiente, respeitados os critérios e diretrizes estabe- lecidos por esta Resolução e tendo por base a natureza o porte e as peculiaridades de cada atividade. No entendimentode Marcos Destefenni (Di- reito penal e licenciamento ambiental. São Paulo: Memória Jurídica, 2004.) o licenciamento ambiental é o procedimento administrativo que tramita junto aos órgãos ou entidades ambientais competentes e que visa a determinar as condições e exigências para o exercício de uma atividade potencial ou efetiva- mente causadora de impactos ao meio ambiente. Há que se destacar, ainda, alguns instrumentos alocados em legislações esparsas. 45 Para José Afonso da Silva (Direito ambiental constitucional. 4ed. São Paulo: Malheiros, 2003), esses instrumentos estão divididos em três grandes grupos. O primeiro é a intervenção ambiental, que é um conjunto de mecanismos condicionadores das con- dutas e atividades relacionadas ao meio ambiente (incisos I, II, III, IV e VI do art. 9º da citada Lei). O segundo é o controle ambiental, que com- preende uma série medidas tomadas pelo Poder Pú- blico no sentido de verificar se pessoas públicas ou particulares se adequaram às normas e padrões de qualidade ambiental, e que podem ser anteriores, si- multâneas ou posteriores à ação em questão (incisos VII, VIII, X e IV do art. 9º da lei citada). Por fim, o controle repressivo, que se consubs- tancia em medidas sancionatórias aplicáveis à pessoa física ou jurídica (inciso IX da Lei citada). Voltaremos ao tema quando tratarmos dos princí- pios do direito ambiental, no Capítulo IV deste projeto. Ainda de acordo com a Política Nacional de Meio Ambiente, há que se destacar o caput do art. 6º da Lei n.º 6.938/81, que trata do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). O Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA foi instituído pela Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto 99.274, de 06 de junho de 1990, sendo constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, 46 do Distrito Federal, dos Municípios e pelas Funda- ções instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. (http://www.mma.gov.br/port/conama/estr1. cfm) Paulo de Bessa Antunes (ob. cit.) vislumbra a influência da National Environmental Policy Act. sobre esse sistema, que tem como finalidade estabe- lecer uma rede de agências governamentais, nos três níveis da federação, com o objetivo de implementar a Política Nacional do Meio Ambiente. Mas, essa repartição de competências, como já citamos, dá-se, principalmente, porque, a partir da Constituição Federal de 1988, a estrutura política em matéria ambiental passou a ter seus fundamentos fi- xados em dois dispositivos constitucionais apontados no artigo 1º. da Política Nacional de Meio Ambiente: os artigos 23, VI e VII, e 225. (Celso Fiorillo, ob. cit.). No entendimento de Edis Milaré (ob. cit.), o SIS- NAMA é, de fato e de direito, uma estrutura político- -administrativa governamental aberta à participação de instituições não governamentais por meio dos ca- nais competentes, constituindo na verdade o grande arcabouço institucional da gestão ambiental no Brasil. O SISNAMA está situado no âmbito do Poder Executivo da mesma maneira que os demais siste- mas administrativos, como o Sistema Nacional de Educação, o Sistema Nacional de Segurança e o Sis- 47 tema Nacional de Defesa do Consumidor. A atuação do SISNAMA se dará mediante ar- ticulação coordenada dos Órgãos e entidades que o constituem, observado o acesso da opinião pública às informações relativas as agressões ao meio am- biente e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA. José Afonso da Silva (ob. cit.) destaca que o SISNAMA é o conjunto articulado de órgãos, enti- dades, normas e práticas da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público sob a coordenação do CONAMA. Isto porque o artigo 23, incisos VI e VII, assim dispõe: Art. 23. É competência comum da União, dos Esta- dos, do Distrito Federal e dos Municípios: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; Cabe, portanto, aos Estados, ao Distrito Fede- ral e aos Municípios a regionalização das medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e pa- drões supletivos e complementares. 48 A consagração de um sistema único e totalmen- te integrado de atuação dos entes federados em ma- téria de meio ambiente visa, precipuamente: a) identificar a relação entre as partes compo- nentes, b) localizar um padrão que rege as conexões encontradas Para Luís Paulo Sirvinskas (ob. cit.), o objetivo do SISNAMA é tornar realidade o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme está previsto na Constituição Federal e nas normas infraconstitucionais nas diversas esferas da federa- ção. Os tribunais superiores têm decidido de forma inconteste a competência dos órgãos ambientais in- tegrantes do SISNAMA na defesa do meio ambiente no Brasil. Vejam alguns destaques: TRF-2 - AC APELAÇÃO CIVEL AC 201250010036608 (TRF-2) Data de publicação: 25/03/2013 Ementa: ADMINISTRATIVO. PROCESSU- AL CIVIL. AUTO DE INFRAÇÃO. IBAMA. ES- TOCAGEM DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS. LI- CENÇA MUNICIPAL RESTRITA A PRODUTO MINERAL BRUTO. SISNAMA. ATUAÇÃO EM 49 DEFESA DO MEIO AMBIENTE EM REGIME DE COOPERAÇÃO. MULTA MANTIDA. 1. A Licença Ambiental Municipal Simplificada, emitida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vila Velha/ES - SEMMA/PMVV, em nome da impe- trante permite o exercício de atividade em “pátio de estocagem, armazém ou depósito de produtos extra- tivos de origem mineral em bruto.” 2. No entanto, como bem consignou a sentença atacada, a impe- trante “não trouxe elementos documentais capazes de respaldar sua afirmação de que o produto atual- mente retido em seu pátio (Cálcio Amônio Nitrato) e o que seria futuramente armazenado (Cloreto de Potássio Granulado) estão em conformidade com parâmetros contidos na mencionada licença.”. 3. A Lei 6.938/81, ao criar o Sistema Nacional do Meio Ambiente, almejou, em sede de competência admi- nistrativa, assegurar a preservação e proteção ao meio ambiente em todas as esferas, estabelecendo, para tanto, a possibilidade de vários órgãos atua- rem com vistas a promover tais valores. Nesse sen- tido é que estabeleceu a possibilidade de os órgãos componentes do SISNAMA atuarem em regime de cooperação - e não de exclusão - na fiscalização de atividades potencialmente lesivas ao meio am- biente. 4. Descabe ao Poder Judiciário majorar ou reduzir o valor arbitrado pela Administração (salvo se restar caracterizado o seu caráter confiscatório: 50 RE 591969/MG, rel. Min JOAQUIM BARBOSA, DJe 05/03/2009; RE 59068/SC, rela. Min.ºEROS GRAU, DJe 04/02/2009), tendo em vista que sua intervenção está vinculada à análise da legalidade do ato administrativo, sendo certo que a multa arbi- trada em R$ 100.000,00 (cem mil reais) está dentro dos limites legais previstos no art. 66 do Decreto n.º 6.514, de 22 de julho de 2008. 5. Apelação conhecida e desprovida.(g.n) TRF-5 - Apelação Cível AC 492762 CE 0000777-41.2009.4.05.8100 (TRF-5) Data de publicação: 02/06/2010 Ementa: ADMINISTRATIVO. AMBIEN- TAL. INFRAÇÃO. EMPRESA CONSTRUINDO SEM LICENÇA DEVIDA. PODER DE POLÍ- CIA. ORGÃO DO SISNAMA. COMPETÊNCIA DO AGENTE FISCALIZADOR. TÉCNICO AM- BIENTAL. MULTA. ARBITRAMENTO. VALOR NÃO EXCESSIVO. APELO NÃO PROVIDO. 1. Trata-se de Apelação interposta pela CONSTRU- TORA PASSARELLI LTDA. contra sentença pro- latada pelo juízo da 4ª Vara Federal-CE, que julgou improcedente o pedido deduzido na Inicial que ob- jetivava a anulação do auto de infração n.º 342054, lavrado em 20.01.2006. 2. Nas suas razões recursais, o Apelante ratifica as razões da Inicial, aduzindo, em 51 síntese, a nulidade do auto de infração pela incom- petência do Agente que o lavrou, inobservância de elementos e formalidades essenciais, afronta ao prin- cípio da porporcionalidade e ausência de interesse público na sanção. 3. O técnico ambientalque lavrou o Auto de Infração em comento atuou na condição de representante do IBAMA, entidade envolvida com a defesa e preservação do meio ambiente, ga- rantindo-lhe, essencialmente, o exercício do poder de polícia de que esta é detentora. Por sua vez, o STJ já decidiu que: A lei n.º 9.605 /1998 confere a todos os funcionários dos órgãos ambientais inte- grantes do SISNAMA, o poder para lavrar autos de infração e instaurar processos administrativos, desde que designados para as atividades de fiscali- zação, o que para a hipótese, ocorreu com a Portaria n.º 1.273 /1998”. (STJ - REsp- (2008/0103122-2) - Rel. Min.º Francisco Falcão - DJe 18.08.2008 - p. 302/303) 4. Não há que se falar também de inobser- vância de elementos e formalidades essenciais, pela simples ausência do código da categoria do autuado no auto de infração. Tal fato não impediu a identifi- cação do Autuado, já que constava o nome da Em- presa, e seu GCG, não existindo, também, prejuízo para a Apelante. 5. Apesar de a empresa ter procu- rado regularizar a situação, mediante requerimento da licença imediatamente, esta continuou- apesar de devidamente notificada da irregularidade que vinha 52 sendo perpetrada- a construir a torre de controle do aeroporto sem a devida licença. O fato de posterior- mente ter obtido a licença não tem o condão de isen- tar a recorrente da sanção aplicada. Dessa forma, ti- pificada a conduta infratora do art. 44 do Decreto 3.179 /99 e Lei 9.605 /98. 6. No tocante à multa aplicada, de se consignar, inicialmente, que a legis- lação não condiciona a sua aplicação à realização de anterior advertência. No que se refere, porém, ao va- lor fixado no auto de infração, R$ 40.000,00, como bem atentou o magistrado, tal importe se encontra dentro das balizas normativas cabíveis à espécie, ten- do em vista que o Decreto 3.179 /99 determina os limites mínimo e máximo, quais sejam: R$ 500,00 e R$ 10.000.000,00. De se atentar que a dosimetria da pena pecuniária não se deu em valor excessivamen- te superior ao mínimo diante da extensão da multa estabelecida pelo legislador 7. Apelação improvida. Encontrado em: LEG-FED PRT-1273 ANO- 1998 (SISNAMA) LEG-FED LEI- 9605 ANO- 1998 ART- 6 ART- 14 ART- 72 ART- 70 PAR-1 STJ - RECURSO ESPECIAL REsp 114549 PR 1996/0074694-0 (STJ) Data de publicação: 24/11/1997 Ementa: ADMINISTRATIVO. MEIO AMBIEN- TE - OBRA POTENCIALMENTE AGRESSIVA - 53 LICENÇA DO SISNAMA - LEI 6.938 /81, ART. 10 . - EM HAVENDO OBRA POTENCIALMEN- TE OFENSIVA AO MEIO-AMBIENTE, RESER- VA-SE AOS INTEGRANTES DO SISNAMA, A COMPETENCIA PARA AVALIAR O ALEGA- DO POTENCIAL. - ACORDÃO FICANDO NA ASSERTIVA DE QUE A OBRA IMPUGNADA ESTA LIVRE DE AUTORIZAÇÃO DO SISNA- MA, PORQUE LEVA EM CONTA OS CUIDA- DOS EXIGIDOS PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO-AMBIENTE. TAL ARESTO EFETUOU JUÍZO DE VALOR, PENETRANDO A COMPE- TENCIA DO SISNAMA E MALTRATANDO O ARTIGO 10, DA LEI 6.938 /81. TRF-2 - APELAÇÃO EM MANDADO DE SE- GURANÇA AMS 50287 RJ 2002.51.01.000375- 2 (TRF-2) Data de publicação: 05/05/2008 Ementa: TRIBUTÁRIO. TAXA DE FISCA- LIZAÇÃO AMBIENTAL. A questão dos autos gira em torno da constitucionalidade e da legalidade da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA - instituída pela Lei n.º 10.165 /2000. A Constitui- ção Federal reservou um capítulo ao Meio Ambiente (Capítulo VI, do Título VIII, da Ordem Social), e em seu artigo 225. Dando continuidade à implantação 54 da Política Nacional do Meio Ambiente, foi institu- ída a Taxa de Fiscalização Ambiental, pela Lei n.º 9.960, de 28.01.2000, a qual alterou a Lei n.º 6.938 /1981, taxa esta destinada ao financiamento da fisca- lização atribuída ao IBAMA. Porém, os artigos 17-B, 17-C, 17-D, 17-F, 17-G, 17-H, 17- I e 17-J, da Lei n.º 6.938 /1981, introduzidos pelo art. 8º, da referida Lei n.º 9.960 /2000, tiveram sua eficácia suspensa pelo Supremo Tribunal Federal. Visando corrigir os vícios de inconstitucionalidade apontados no julga- mento, foi editada a Lei n.º 10.165, de 27.12.2000, e instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambien- tal (TCFA). Entre as atribuições institucionais do IBAMA está a atividade de fiscalização e controle, objetivando a proteção dos recursos naturais brasi- leiros, garantindo a sua exploração de maneira racio- nal. O IBAMA é o órgão executor do SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente (art. 6º, da Lei n.º 6.938 /81, com as alterações instituídas pela Lei n.º 8.028 /1990). A Lei n.º 10.165 /2000, que também alterou a Lei n.º 6.938 /1981, estabeleceu o fato gerador da TCFA como o exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – Ibama para controle e fiscalização das atividades potencial- mente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais. Cobrança da referida taxa tem suporte no exercício do poder de polícia que foi atribuído ao IBAMA, 55 pela Lei n.º 7.735 /1989 (com as alterações instituí- das pelas Leis n.º 7.804 /1989 e Lei n.º 8.028 /90, e pela MP n.º 2.216-37/01). Conforme o disposto no artigo 145, inciso II, da Constituição Federal... TRF- 4 - APELAÇÃO EM MANDADO DE SE- GURANÇA AMS 1690 SC 2002.72.00.001690- 4 (TRF-4) Data de publicação: 23/02/2005 Ementa: PROCESSUAL CIVIL. ADMINIS- TRATIVO. SISNAMA - COMPETÊNCIA NOR- MATIVA DO CONAMA. VEGETAÇÃO DE RESTINGA - PROTEÇÃO PERMANENTE NUMA FAIXA MÍNIMA DE 300 METROS A CONTAR DA LINHA DE PREAMAR MÁXIMA. PENALIDADES DE EMBARGO DE OBRA E MULTA. 1. Por ordem constitucional, é competên- cia concorrente da União, Estados e Municípios a preservação do meio ambiente (CF, art. 23, VI e VII ). A Lei federal n.º 6.938 /81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, visan- do à organização da atuação das três esferas de go- verno na preservação do meio ambiente. No âm- bito desse sistema, sobressai a figura do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, órgão normativo máximo. 2. A execução de obras parti- 56 culares em locais em que há floresta considerada de preservação permanente é totalmente vedada pelo § 1º do art. 3º da Lei n.º 4.771 /65 (Código Flores- tal ), com a única exceção sendo o caso de obra de utilidade pública ou de interesse social previamente autorizada pelo Poder Executivo Federal. 3. O art. 2º do Código Florestal estabelece como de preser- vação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural nas restingas, como fixadoras de dunas. Na esteira de tal disposição, o art. 3º, inc. VII, da Res. CONAMA n.º 04 /85 estabelece um padrão para a definição de uma vegetação natural de restinga como de preservação permanente, qual seja encontrar-se numa faixa mínima de 300 metros a contar da linha de preamar máxima. 4. A Lei n.º 9.605 /98, em seu art. 72, inc. VII e § 7º, e o Dec. N.º 3.179 /99, em seu art. 2º, determinam a aplicação da penalidade administrativa de embargo às obras que não estiverem obedecendo às prescrições legais ou regulamentares. 5. A Lei n.º 9.605 /98, em seus art. 72, inc. II e III, e art. 75, previu, dentre as penalida- des aplicáveis às infrações de ordem administrativa, as sanções de multa diária e multa simples, relegando à norma regulamentadora a sua fixação, apenas esta- belecendo um valor mínimo e um máximo. A norma regulamentadora viria a ser o Decreto n.º 3.179 /99, que discriminou as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, bem como as sanções aplicáveis. 6. 57 O Decreto n.º 3.179 /99, em seus art. 25 e 37, deter- minam a aplicação da penalidade de multa simples para a hipótese de destruição ou danificação da flo- resta considerada de preservação permanente, mes- mo que em formação, ou utilizá-la com infringên- cia das normas de proteção, bem como para o caso de destruição ou danificação de florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente estruturou o Sistema Nacional doMeio Ambiente com os seguintes órgãos formadores: Art. 3º. O Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municí- pios e pelas fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, tem a seguinte estrutura: I – Órgão Superior: o Conselho de Governo; II – Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); III – Órgão Central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR); IV – Órgão Executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová- veis (IBAMA); 58 V – Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades da Administração Pública Federal direta e indireta, as fundações instituídas pelo Poder Público cujas atividades estejam associadas às de proteção da qualidade ambiental ou àquelas de disciplina- mento do uso de recursos ambientais, bem assim os órgãos e entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; e VI – Órgãos Locais: os órgãos ou entidades muni- cipais responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades referidas no inciso anterior, nas suas res- pectivas jurisdições. Para Vladimir Passos de Freitas (Direito ad- ministrativo e meio ambiente. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2003.), estão fora do Sisnama as pessoas jurídicas que não fazem parte da administração publica, a exemplo das associações e das funda- ções particulares previstas no art. 20 e 24 do Có- digo Civil. Esse entendimento, porém, não merece ser considerado em sua plenitude, já que cabe também à sociedade, pelo que dispõe o artigo 225 da Consti- tuição Federal de 1988, a proteção, guarda e fiscali- zação do meio ambiente. 59 1.3. Dos Princípios que regem o Direito Ambiental Brasileiro. O direito é regido essencialmente por normas, regras, que, na maioria das vezes, estão escritas. Isso não significa, no entanto, que regras impostas pelos costumes, não sejam levadas em conta pelo aplica- dor do direito, em caso de conflito. A todas as regras de conduta da sociedade que se consubstanciam em direitos e obrigações, damos o nome de fontes do direito. As fontes do Direito são todas as circunstâncias ou instituições que exer- cem influência sobre o entendimento dos valores tu- telados por um sistema jurídico. Existem algumas normas que são inseridas nos diplomas legais como verdadeiras diretrizes e ser- vem de sustentação para aplicação e compreensão de inúmeras leis que surgem diariamente no Brasil. A essas normas dá-se o nome de “princípios”. As principais fontes do direito são a lei, os cos- tumes, a jurisprudência, a doutrina, os tratados, con- venções internacionais e os princípios jurídicos. Segundo José Afonso da Silva (ob. cit.), os princípios constitucionais são ordenações que se irradiam e imantam os sistemas de normas. Infor- ma, ainda, que tais princípios podem estar positi- vadamente incorporados, por ser a base de normas jurídicas’, o que os transformaria em normas-prin- 60 cípios constituindo, dessa forma, os preceitos bási- cos da organização constitucional. É importante destacarmos o momento histó- rico em que surgem os primeiros principais consti- tucionais ambientais. Com o final da Segunda Guerra Mundial, sur- giram diversas questões mundiais que começaram a ser pensadas pelos governantes das principais poten- ciais mundiais. A esgotabilidade e escassez dos re- cursos naturais foram algumas dessas preocupações, aliadas à proteção e preservação da vida humana. A explosão da Revolução Industrial, e a consequente aceleração desordenada da produção agrícola e da produção industrial, forçou os governos a buscar um modelo de desenvolvimento que não ameaçasse à sustentabilidade planetária. Diante deste cenário, em junho de 1972, a Or- ganização das Nações Unidas organizou em Esto- colmo, na Suécia, a 1ª Conferência das Nações Uni- das sobre o Meio Ambiente, aprovando ao final a Declaração Universal do Meio Ambiente que decla- rava que os recursos naturais, como a água, o ar, o solo, a flora e a fauna, devem ser conservados em benefício das gerações futuras, cabendo a cada país regulamentar esse princípio em sua legislação de modo que esses bens sejam devidamente tutelados. Os princípios da Política Global de Meio Am- biente foram inicialmente formulados na referida 61 Conferência e ampliados na ECO-92. Conforme nos ensina Celso Fiorillo (ob. cit.) são princípios genéricos e diretores aplicáveis à proteção do meio ambiente. O surgimento de uma norma internacional de proteção ao meio ambiente, impulsionou a elabora- ção de diretrizes nacionais de proteção e em 1981, o Brasil tem seu grande marco do surgimento do Di- reito Ambiental local, com a edição da Lei n.º 6.938, em 31 de agosto de 1981, que dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e que começou a tratar os recursos ambientais de forma integrada, confor- me estudamos no capítulo II deste projeto. A Política Nacional de Meio Ambiente aca- bou por ratificar as diretrizes internacionais dentro do ordenamento jurídico pátrio. Por outro lado, os princípios da referida norma são a implementação dos princípios globais, adaptados à realidade social e cultural brasileira. Antônio Herman de Vasconcellos Benjamin (in Dano ambiental: prevenção, reparação e repressão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, pág. 227), aponta as quatro principais funções dos princípios do Direito Ambiental no que diz respeito a sua com- preensão e aplicação: a) são os princípios que permitem compreen- der a autonomia do Direito Ambiental em face dos outros ramos do Direito; 62 b) são os princípios que auxiliam no enten- dimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que com- põem o sistema legislativo ambiental; c) é dos princípios que se extraem as diretri- zes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na socie- dade; d) e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligên- cia e interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área. O referido autor explica que os princípios do Direito Ambiental, da mesma forma que os demais princípios do Direito Constitucional e do Direito Administrativo, e do Direito Público de uma manei- ra geral, são valores que fundamentam o Estado e incidem sobre a organização política da sociedade. A doutrina diverge sobre quais os princípios ambientais recepcionados pela legislação ambiental do Brasil. De acordo com Paulo de Bessa Antunes (ob. cit.), são de dois tipos os princípios do Direito Ambiental: os explícitos e os implícitos. Os primeiros são aqueles 63 que se encontram positivados nos textos legais e na Constituição Federal, e os segundos são aqueles de- preendidos do ordenamento jurídico constitucional. É claro que tanto os princípios explícitos quando os implícitos encontram aplicabilidade no sistema jurí- dico brasileiro, pois os princípios não precisam estar escritos para serem dotados de positividade. No entendimento de Celso Antônio Pacheco Fiorillo, os princípios do Direito Ambiental são os seguintes: desenvolvimento sustentável, poluidor pagador, prevenção, participação (de acordo com o autor, a informação e a educação ambiental fazem parte deste princípio) e ubiquidade. Luís Paulo Sirvinskas (in Manual de direito ambiental. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 36.) enumera os seguintes princípios do Direito Am- biental: direito humano, desenvolvimento sustentá- vel, democrático, prevenção (precaução ou cautela), equilíbrio, limite, poluidor-pagador e responsabilida- de social. Edis Milaré (ob. cit.) elenca como princípios do Direito Ambiental:meio ambiente ecologica- mente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana, natureza pública da proteção am- biental, controle de poluidor pelo Poder Público, consideração da variável ambiental no processo decisório de políticas de desenvolvimento, partici- pação comunitária, poluidor-pagador, prevenção, 64 função social da propriedade, desenvolvimento sustentável e cooperação entre os povos. Para Rui Piva (Bem ambiental. São Paulo: Max Limonad, 2000, pág. 51.) o Direito Ambiental possui os princípios a saber: participação do Poder Público e da coletividade, obrigatoriedade da inter- venção estatal, prevenção e precaução, informação e notificação ambiental, educação ambiental, res- ponsabilidade das pessoas física e jurídica. Paulo Affonso Leme Machado (ob. cit.) clas- sifica os seguintes princípios do Direito Ambiental: acesso equitativo aos recursos naturais, usuário-pa- gador e poluidor-pagador, precaução, prevenção, re- paração, informação e participação. Toshio Mukai (in Direito ambiental sistemati- zado. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p. 37/40.) trabalha com os seguintes princípios do Direito Ambiental: prevenção, poluidor-pagador ou responsabilização e cooperação. Segundo Paulo de Bessa Antunes (Política Na- cional do Meio Ambiente – PNMA: Comentários à Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 16/37.), os princípios do Direi- to Ambiental são: direito humano fundamental, de- senvolvimento, democrático, precaução, prevenção, equilíbrio, limite, responsabilidade, poluidor-pagador. Já para Cristiane Derani (in Direito ambiental econômico. 2ª ed. São Paulo: Max Limonad, 2001, 65 p. 161/173.) os princípios do Direito Ambiental são os seguintes: cooperação, poluidor-pagador, ônus social e precaução. Marcos Destefenni (in Direito penal e licen- ciamento ambiental. São Paulo: Memória Jurídica, 2004, p. 27/42.) enumera os seguintes princípios do Direito Ambiental: obrigatoriedade da intervenção estatal, prevenção, precaução, usuário e poluidor pagador, ampla responsabilidade da pessoa física e jurídica e desenvolvimento sustentável. Observa-se pela descrição dos princípios dos vários autores aqui elencados, que quase a totali- dade dos princípios de Direito Ambiental trazidos pela Declaração Universal sobre o Meio Ambiente foram recepcionados, explícita ou implicitamente, pela Constituição Federal de 1988 e pela legislação ambiental de uma forma geral. Optamos, apenas como forma de orientação didática aos leitores, pela descrição dos princípios trazida pela obra de Celso Antonio Pacheco Fio- rillo, sem deixar de citar os principais juristas que tratam da matéria. 1.3.1 Princípio da dignidade da pessoa humana Já afirmamos no início dessa obra que o direito ambiental é antropocêntrico, ou seja, visa à proteção 66 e perpetuação da raça humana, através de mecanis- mos de preservação e conservação do meio ambien- te e de suas espécies. Dentro dessa ótica, o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana se destaca como nortea- dor dos demais princípios constitucionais ambientais. A vida humana é um direito fundamental re- conhecido por inúmeros tratados e convenções in- ternacionais, bem como pela própria Constituição Federal de 1988. A Conferência das Nações sobre o Ambiente Hu- mano de 1972 o traz como princípio 1 de seu texto, o qual vem reafirmado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (princípio 1) e pela Carta da Terra de 1997 (princípio 4). Em nossa Constituição Federal Brasileira, apa- rece explicitado no art. 225, caput, que assim dispõe: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologica- mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (g.n) Do princípio da dignidade da pessoa humana, base da nossa Carta Magna, decorrem todos os ou- tros. Por isso, há que se falar em direito à qualidade 67 de vida, direito a uma vida digna, com um meio am- biente ecologicamente equilibrado, levando-se em conta todos os elementos da natureza, como: água, ar, solo, dentre outros. Para Édis Milaré (ob. cit.) “uma extensão do di- reito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência - a qualidade de vida -, que faz com que valha a pena viver”. 1.3.2 Princípio da Prevenção O princípio da prevenção é tratado pelos juris- tas como um dos principais princípios norteadores do direito ambiental brasileiro. Celso Fiorillo lembra que a prevenção é precei- to fundamental, uma vez que os danos ambientais, na maioria das vezes, são irreversíveis e irreparáveis (ob. cit.). Destacamos os 10 maiores desastres ambien- tais registrados na história da humanidade: Three Mile Island Conhecido como “Pesadelo Nuclear” o desas- tre ocorreu em 9 de abril de 1979. O reator da usi- na nuclear “Three Mile Island” na Pensilvânia pas- sou por uma falha mecânica aliada a erro humano 68 e lançou gases e efluentes radioativos em um raio de 16Km. A população não foi informada sobre o acidente, havendo a evacuação da população apenas dois dias após o ocorrido. Não houve mortes rela- cionadas ao acidente. Doença de Minamata Em 1954 em Minamata, uma ilha localizada no sudoeste do Japão os moradores começaram a observar um comportamento estranho nos animais, principalmente os gatos que começavam a ter con- vulsões e saltar no mar, inicialmente foi chamada de “Doença da Dança do Gato”. Em 1956, a doença se manifestou no primeiro humano, sendo conhe- cida como “Doença de Minamata”, causando con- vulsões, perda e descontrole das funções motoras. Dois anos após estudos concluiu que a doença es- tava relacionada ao envenenamento das águas com mercúrio e outros metais pesados, infectando peixes e mariscos que eram a principal fonte de alimentação da população local. Nuvem de Dioxina em Seveso Em 10 de julho de 1976, em Seveso, no nor- te da Itália, houve uma explosão um uma fábrica de produtos químicos, lançando uma espécie de 69 nuvem composta de dioxina, que se estacionou sobre a cidade. Inicialmente a população não deu importância ao efeito. Os primeiros impactos foram observados nos animais que começaram a morrer gradativamen- te. Um agricultor que encontrou seu gato morto, ao ver que em apenas um dia o grau de deterioração do animal estava muito avançado, acionou os órgãos responsáveis que constataram que o gato tinha se desfeito como se tivessem lhe jogado ácido, sobran- do apenas seu crânio. Dois dias após foram relatados efeitos em humanos (feridas na pele, desfiguração, náuseas e visão turva). O Mar de Aral O que já foi o 4º maior lago de água salgada do mundo, localizado na Ásia-Central, hoje é uma espé- cie de ”cemitério de navios”. Devido à crise econô- mica enfrentada pela região, a mesma foi abandona- da, deixando um vasto rastro de impactos, causando a desertificação do lugar. Atualmente o Cazaquistão vem levantando esforços para superar esse desas- tre, mas as expectativas são desanimadoras devido à magnitude da interferência que houve, sendo consi- derado um dos maiores desastres feitos pela ação do homem até hoje. 70 Usina Nuclear de Tokaimura Em 30 de setembro de 1999, no nordeste de Tóquio, em uma usina de processamento de urânio, operários manuseavam uma solução liquida quando ocorreu um acidente expondo centenas de pessoas a diferentes níveis de radiação. Dentro de minutos os operários mais próxi- mos ao local tiveram náuseas, além de terem o rosto, mãos e outras partes do corpo queimados. O Exxon Valdez No dia 24 de março de 1989, o navio petroleiro Exxon Valdez encalhou nas águas do Alasca, despe- jando 10,8 milhões de galões de óleo nas águas, que rapidamente se espalhou por cerca de 500 quilôme- tros, matando milhares de animais. Cerca de